Biologia Celular e Molecular (5ª Edição)

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16 COMPLEXO DE GOLGI E LISOSSOMAS Henrique Almeida e Alexandre Lobo-da-Cunha O complexo de Golgi é um organelo de disposição paranuclear, composto por cisternas sobrepostas, algumas das quais exibem prolongamentos tubulares que se ligam a outros complexos de Golgi; inclui ainda uma variedade de vesículas, revestidas ou não. Razões anatómicas e funcionais conduziram à identificação de duas faces principais, cis e trans. Este organelo tem um papel fulcral na secreção celular, ao processar proteínas recebidas do retículo endoplasmático rugoso no interior de vesículas de transporte. No percurso entre cis e trans, proteínas e lípidos são glicosilados, transportados noutras vesículas e, por fim, endereçados consoante a sua natureza: podem destinar-se aos lisossomas, à membrana citoplasmática, ou podem ser exocitadas para o meio externo ou para a circulação, onde se tornarão ativas. Dentro do processo secretor, é também muito importante a sua intervenção na biogénese e renovação de membranas. Outras intervenções do organelo serão relatadas no texto. Os lisossomas são organelos limitados por uma membrana, contendo mais de 50 hidrolases ácidas que permitem digerir os diversos tipos de macromoléculas. De acordo com a origem das substâncias que digerem, podem classificar-se em autolisossomas e heterolisossomas. Nos primeiros, são digeridos materiais da própria célula (autofagia), enquanto os segundos digerem substâncias exógenas (heterofagia), que entram na célula por endocitose ou fagocitose. A formação de lisossomas é um processo complexo envolvendo a endocitose e o complexo de Golgi. As proteínas específicas chegam aos lisossomas por via direta e indireta. No primeiro caso, as vesículas golgianas fundem-se com endossomas, que contêm substâncias capturadas no exterior da célula. Na via indireta, as proteínas lisossómicas são primeiro inseridas na membrana celular e depois conduzidas aos endossomas por vesículas de endocitose. Os endossomas sofrem uma maturação para originar lisossomas e podem também fundir-se com lissosomas preexistentes. São referidas algumas patologias relacionadas com deficiências do complexo de Golgi e lisossomas.

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INTRODUÇÃO O complexo de Golgi (CG) é uma estrutura citoplasmática das células eucariotas, que se observa desde os seres unicelulares mais simples até aos organismos mais complexos, incluindo as plantas angiospérmicas e os mamíferos. Após a sua descoberta no século xix e até ao presente, o CG tem fascinado os investigadores pela diversidade e versatilidade estruturais, e pela sua importância funcional ao realizar o acabamento de glicoproteínas essenciais e gerir fluxos de membranas em direção ao exterior e dele para o interior. O CG despertou paixões científicas, como as dos anos 50 do século xx que motivaram a afirmação e a negação da sua existência como organelo independente.

Ao longo de três décadas, gerou grande entusiasmo o estudo do seu papel fulcral na secreção celular, em especial o processo de maturação glicoproteica; no contexto do processo secretor, paralelamente, iniciou o debate acerca do mecanismo de transporte de moléculas no seu seio. Um e outro se mantêm na atualidade. Na última década, ganhou importância a intervenção do CG na sinalização celular, na organização microtubular durante a interfase e em mecanismos do ciclo celular, circunstâncias que recolocam o CG ainda mais no centro de processos integrados do citoplasma. Os lisossomas foram descobertos nos primeiros anos da década de 1950 e podem ser observados no citoplasma de uma enorme variedade de células eucariotas. São caracterizados, principalmente, pela presença de uma grande


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