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entrevista

quebrando tudo A filósofa Marcia Tiburi senta a pua no que identifica como males de nossos tempos: o pavor generalizado de dar opinião, a caretice moralista. "As pessoas têm medo de falar o que pensam." Sobre os tempos do Saia Justa, dispara: "A Luana Piovani era uma bobinha do mal. A Maitê Proença é a Luana vezes dois. Era de lascar"

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aúcha, a filósofa Marcia Tiburi é discreta e calma, dedicada aos amigos e à filha adolescente, Maria Luiza. Quando não está escrevendo ou pintando em casa, divide seu tempo entre palestras Brasil afora com as aulas na Universidade Mackenzie, em São Paulo, onde é professora do programa de pós-graduação em arte, educação e história da cultura. Mas favor não confundir esse perfil centrado com uma personalidade anódina, insossinha. Marcia se transformou em uma filósofa pop, capaz de atrair audiências maiores do que seu nicho de atuação, porque opina, mas opina mesmo. Já era assim em 2005, quando aceitou o convite do canal por assinatura GNT para participar do programa Saia Justa. “Foi tão maluco quanto alguém hoje me chamar para andar de skate ou aprender surfe”, conta, divertindo-se. “Não tenho nenhum prazer em ver televisão, não gosto do barulho.” Ela sacou que a empreitada podia ser importante e lá se foi. A experiência diante das câmeras – e justo num programa com um quê teste-

munhal, em que as participantes vão dando opiniões e, de lambuja, falando de suas vidas – durou cinco anos. Tempo suficiente para ela lapidar uma reflexão sobre o papel da TV na sociedade brasileira. O resultado está no livro Olho de Vidro: A Televisão e o Estado de Exceção da Imagem (Record, 352 págs., R$ 42,90), um estudo que vai da análise da experiência visual a questões como alienação e hiperexposição na mídia. Marcia afirma que o tempo de convivência com as outras participantes do programa a ajudou também a desenvolver uma concepção de feminismo “por solidariedade”, como diz. “Percebi que as próprias mulheres denigrem as mulheres”, afirma, emendando críticas às demais participantes. “Nem todo mundo ali sabia o que significava o debate. A Maitê Proença é a Luana Piovani vezes dois. Era insuportável. A Betty Lago era divertida, mas uma bobalhona”, dispara. Nesta entrevista, concedida em seu apartamento, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, Marcia fala também sobre redes sociais e a “moralina”, a droga da moral. “Estamos dopados”, diz.

beleza JÔ Castro/Capa mgt; assistente de foto Gabriel Bertoncel

POR_carol vaisman • fotos_Tim Fahlbusch


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