TFG - Espaço Bem Viver, uma proposta de lazer e integração do idoso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

LIANA LEAL LIMA

FORTALEZA 2017



LIANA LEAL LIMA

Trabalho Final de Graduação apresentado à Banca Examinadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito para a obtenção do grau de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo Orientadora: Profa. Dra. Zilsa Maria Pinto Santiago

FORTALEZA 2017


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

L698e

Lima, Liana Leal. Espaço Bem Viver : uma proposta de lazer e integração do idoso / Liana Leal Lima. – 2017. 122 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2017. Orientação: Prof. Dr. Zilsa Maria Pinto Santiago. 1. Idoso. 2. Lazer. 3. Acessibilidade. 4. Desenho Universal. I. Título. CDD 720


LIANA LEAL LIMA

ESPAÇO BEM VIVER Uma proposta de lazer e integração do idoso

BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Profa. Dra. Zilsa Maria Pinto Santiago(Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Profa. Dra. Tania de Freitas Vasconcelos Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Arq. Joel de Lima Castro Filho Convidado

FORTALEZA 21 de Dezembro de 2017



Dedico este trabalho a meus avĂłs Lourdinha e Leal, a minha famĂ­lia e amigos.


agradecimentos À Deus, por nunca me abandonar e me manter sã nos momentos mais adversos. Por se mostrar rotineiramente em pessoas e momentos. Aos meus pais, por serem quem são. Por criarem em mim eterna gratidão a todos valores passados com tanto amor, cuidado e dedicação. Serei sempre agradecida a Deus por ter nascido nessa família. Sem duvida, aos responsáveis pela escolha desse tema, meus avós! Vovó Lourdinha e vovô Leal, vocês são pra mim o maior exemplo de ternura, amor e companheirismo. Agradeço a Deus pelas suas vidas! Obrigada por sempre me amarem com tanto carinho! Foi pensando em vocês que desenvolvi cada espaço desse projeto. Agradeço aos meus irmãos, Elias e Isaías, por animarem minha infância com brincadeiras e brigas, por serem sempre um ombro amigo. Ao Edgard, por me apoiar com muito amor e por acreditar em mim. Por ser exemplo de força e dedicação em suas lutas, e apesar de toda adversidade, exercer sua profissão com uma empolgação e um compromiso admiráveis. Sou grata a todos meus colegas de faculdade, à toda minha turma e aos colegas de outros semestres, vocês foram fundamentais em todos os momentos do curso. Em especial, Amanda, Carol, Debora, Lívia e Yanna, obrigada por serem tão companheiras, por partilharem os aperreios do curso e da vida. Vocês são presentes que a faculdade me trouxe. Ás minhas grandes amigas do colégio e as que foram chegando depois, obrigada pela amizade incondicional, pelo apoio e pela presença em todos os momentos! Á Zilsa, minha orientadora e amiga, que, mesmo em meio à tantas tarefas, sempre me atendia em sua casa com muita calma e sabedoria. Fez com que eu admirasse mais ainda seu trabalho como professora, arquiteta, pesquisadora e escritora. Graças a ela, passei a ver de modo diferente não só a acessibilidade e o desenho universal, mas também o fazer arquitetura. Coragem e valores que como arquitetos devemos ter, mesmo diante de um mercado tão repetitivo. Muito obrigada! Sou grata também a todos que foram meus professores na escola, por todo conhecimento passado. Além de todos os funcionario da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFC.


Agradeço a todos que de alguma maneira me ensinaram. Aos arquitetos dos escritórios em que estagiei. Em especial ao meu padrinho, Júlio Barreira, que me proporcionou uma primeira experiência em escritório quando eu ainda estava entrando na faculdade. Agradeço também ao arquiteto Newton Becker, pelo apoio enquanto bolsita da UFC INFRA, por me fazer ver o paisagismo de uma forma diferente. Também sou agradecida à todos os arquitetos e funcionários da Superintendência de Infraestrutura da UFC, por me proporcionarem um ambiente tao agradável de se trabalhar. Por ultimo, aos arquitetos Paulo Arraes e Samuel Golveia, por me proporcionarem uma oportunidade enriquecedora de aprender mais sobre a profissão que logo exercerei. Aos membros da banca: Ao professor Joel de Lima Catro Filho e à professora Tania de Freitas Vasconcelos , pela disponibilidade em participar da banca e pela atenção dispensada. À todos que de alguma forma me ajudaram e apoiaram em toda minha vida e principalmente nessas ultimas semanas: Aos meus primos e tios, tia Neide, à família Gondim Carlos. Essa vitória também é de todos vocês.


lista de figuras Imagem 1 - Evolução das Leis relacionadas ao idoso p10 FONTE: Elaborado pela autora Imagem 4 - Pirâmides etárias dos anos 1980, 1991, 2020 e 2050 p14 FONTE: IBGE, editado pela autora Imagem 5 - Aumento do número de idosos entres os anos de 1950 3 2006 p15 FONTE: IBGE e ONU, esquema criado pela autora Imagem 6 - Estados com maior número de idosos p15 FONTE: IBGE e ONU, esquema criado pela autora Imagem 7 - Expectativa de vida entres 1980 e 2050 p17 FONTE: IBGE e ONU, esquema criado pela autora Imagem 9 - Comparativo de idades por sexo p18 FONTE: IBGE – Editado pela autora Imagem 10 - População idosa participante do ENEM p18 FONTE: http://www.ivanfilmagempb.com/2017/11/idoso-que-sonha-ser-engenheiro-fara.html Imagem 11 - Sinalização tátil mal executada p22 FONTE: http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2016/09/moradores-reclamam-de-postes-no-meio-deruas-e-calcadas-de-palmas.html Imagem 12 - Dificuldades encontradas pelos cadeirantes p22 FONTE: https://bahianoar.com/cadeirante-denuncia-obra-irregular-e-dificuldades-de-acesso-emcamacari/ Imagem 13 - Falta de rampa para cadeirantes p22 FONTE: http://opiniao-zeh.blogspot.com.br/2012/02/cidadania-falta-de-acessibilidade-e.html Imagem 14 - Sinalização tátil com obstáculos - mal executada p22 FONTE: http://www.acessibilidadenapratica.com.br/tag/mobiliario-urbano/ Imagem 15 - Vaga exclusivas mal executadas e sem rampa de acesso p22 FONTE: https://pbsembarreiras.wordpress.com/category/acessibilidade/page/5/ Imagem 16 - Vagas especiais sendo mal utilizadas p22 FONTE: https://www.samservicos.com.br/cet-vai-multar-quem-estacionar-em-vagas-de-idosos-edeficientes-em-shoppings-de-sp/ Imagem 17 - Dificuldades enfrentadas pelos idosos p26


FONTE: https://cidadeape.org/2017/05/04/em-sao-paulo-978-dos-idosos-nao-conseguem-atravessar-arua-no-tempo-dos-semaforos/ Imagem 18 - Tapetes e pisos representam risco para quedas p27 FONTE: https://pbsembarreiras.wordpress.com/category/acessibilidade/page/2/ Imagem 19 - Calçadas com pisos solto p27 FONTE: https://vidamaislivre.com.br/2014/05/26/cadeirantes-tem-dificuldades-com-falta-deacessibilidade-em-juiz-de-fora-mg/ Imagem 21 - Benefícios da atividade física p29 FONTE: https://equilibrese.catracalivre.com.br/geral/qualidade-de-vida/indicacao/conheca-7-atividadesfisicas-altamente-recomendadas-para-idosos/ Imagem 22 - “Las Ramblas” – Barcelona p33 FONTE: https://www.vice.com/pt/article/mbbbkn/agora-las-ramblas-mais-nossa-que-nunca Imagem 23 - Galeria Vitoria Emanuele em Milão p33 FONTE: http://www.oguiademilao.com/galleria-vittorio-emanuele-em-milao-7-curiosidades/ Imagem 24 - Palmares Open Mall, Mendonza – Argentina p35 FONTE: https://www.mendozacitytour.com/pt/city-tour.html Imagem 25 - Atual Jardins Open Mall p39 FONTE: http://www.jardinsopenmall.com.br/galeria Imagem 26 - Jardins Open Mall p39 FONTE: http://www.jardinsopenmall.com.br/galeria Imagem 27 - Jardins Open Mall p40 FONTE: http://www.jardinsopenmall.com.br/galeria Imagem 28 - Jardins Open Mall p40 FONTE: http://www.jardinsopenmall.com.br/galeria Imagem 29 - Jardins Open Mall p41 FONTE: http://www.jardinsopenmall.com.br/galeria Imagem 30 - Distrito de Luxo p43 FONTE: http://www.viajarhei.com/2015/05/como-e-o-shopping-parque-arauco.html Imagem 31 - Bouolevard Parque Arauco p43 FONTE: http://www.viajarhei.com/2015/05/como-e-o-shopping-parque-arauco.html Imagem 32 - Boulevard Parque Arauco p44 FONTE: http://www.viajarhei.com/2015/05/como-e-o-shopping-parque-arauco.html Imagem 33 - Parque Araucano p45


FONTE: http://www.viajarhei.com/2015/05/como-e-o-shopping-parque-arauco.html Imagem 34 - Parque Araucano p45 FONTE: http://www.viajarhei.com/2015/05/como-e-o-shopping-parque-arauco.html Imagem 35 - Espaços zoneados por cores p47 FONTE: https://www.archdaily.com/24725/santa-rita-geriatric-center-manuel-ocana Imagem 36 - Jardim central p47 FONTE: https://www.archdaily.com/24725/santa-rita-geriatric-center-manuel-ocana Imagem 37 - Área de piscina p48 FONTE: https://www.archdaily.com/24725/santa-rita-geriatric-center-manuel-ocana Imagem 38 - Sala de descanso p48 FONTE: https://www.archdaily.com/24725/santa-rita-geriatric-center-manuel-ocana Imagem 39 - Acesso dos quartos à pátio central p49 FONTE: https://www.archdaily.com/24725/santa-rita-geriatric-center-manuel-ocana Imagem 40 - Kueve 7 - áreas de passagem cobertas p51 FONTE: https://www.archdaily.com/644945/kurve-7-stu-d-o-architects Imagem 41 - Kurve 7, vista frontal p52 FONTE: https://www.archdaily.com/644945/kurve-7-stu-d-o-architects Imagem 42 - Espaços verdes e de estar p52 FONTE: https://www.archdaily.com/644945/kurve-7-stu-d-o-architects Imagem 43 - Áreas sombreadas p53 FONTE: https://www.archdaily.com/644945/kurve-7-stu-d-o-architects Imagem 44 - Utilização de materiais simples p54 FONTE: https://www.archdaily.com/644945/kurve-7-stu-d-o-architects Imagem 45 - Terreno do projeto atualmente murado p60 FONTE: Foto tirada pela autora Imagem 46 - Vista do terreno do projeto p61 FONTE: Foto tirada pela autora Imagem 47 - Praça Pelotas p61 FONTE: Foto tirada pela autora Imagem 48 - Vista interna do terreno p63 FONTE: Foto tirada pela autora Imagem 49 - Vista interna do terreno p63


FONTE: Foto tirada pela autora Imagem 50 - Recorte foto Mercado dos Pinhões p64 FONTE: http://www.anuariodoceara.com.br/bens-tombados-em-nivel-municipal-em-fortaleza/ Imagem 51 - Imagem representativa da intervenção p71 FONTE: Criado pela autora Imagem 52 - Esquemas mostrando as escolhas formais p70 FONTE: Criado pela autora Imagem 53 - Bloco Exercitar p74 FONTE: Criado pela autora Imagem 54 - Bloco Ateliê p75 FONTE: Criado pela autora Imagem 55 - Bloco 1 Térreo p76 FONTE: Criado pela autora Imagem 56 - Bloco 1 Pav. Superior p77 FONTE: Criado pela autora Imagem 57 - Bloco 2 p78 FONTE: Criado pela autora Imagem 58 - Perspectiva com Mercado e Bloco 1 a vista p97 FONTE: Criado pela autora Imagem 59 - Perspectiva da área central do equipamento p99 FONTE: Criado pela autora Imagem 60 - Perspectiva área coberta entre Blocos 1 e 2 p98 FONTE: Criado pela autora Imagem 61 - Perspectiva área Bloco 1 p100 FONTE: Criado pela autora Imagem 62 - Perspectiva Bloco Exercitar e Ateliê p102 FONTE: Criado pela autora Imagem 63 - Perspectiva Bloco Exercitar e Ateliê vendo da varanda do Restaurante p103 FONTE: Criado pela autora Imagem 64 - Perspectiva Bloco 1 p104 FONTE: Criado pela autora Imagem 65 - Perspectiva Bloco 2 p106


FONTE: Criado pela autora Imagem 66 - Perspectiva Sala de Fisioterapia p108 FONTE: Criado pela autora Imagem 67 - Perspectiva Hidroginástica p108 FONTE: Criado pela autora Imagem 68 - Perspectiva Hidroginástica p109 FONTE: Criado pela autora Imagem 69 - Perspectiva Sala de Pilates p109 FONTE: Criado pela autora Imagem 70 - Perspectiva Sala de Pintura p110 FONTE: Criado pela autora Imagem 71 - Perspectiva Restaurante p110 FONTE: Criado pela autora Imagem 72 - Perspectiva Sala de Música p111 FONTE: Criado pela autora Imagem 73 - Esquemas camadas coberta verde p113 FONTE: http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/16/1-telhado-verde-cobertura-deedificacoes-com-vegetacao-requer-260593-1.aspx Imagem 74 - Peças metálicas utilizadas nas fachadas – sustentação p115 FONTE: Criado pela autora Imagem 75 - Detalhe do engaste das Peça metálica dos guarda corpos p115 FONTE: Criado pela autora Imagem 76 - Peça metálica utilizada nos guarda corpos p115 FONTE: Criado pela autora

lista de mapas Mapa 1 – Bairros para análise p56 FONTE: Desenvolvido pela autora Mapa 2 - Porcentagem de idoso nos bairros p58 FONTE: populacao.net.br – Editado pela autora Mapa 3 – Praças existentes nos bairros p58


FONTE: Google maps – Editado pela autora Mapa 4 – Centros Comerciais nos Bairros p59 FONTE: Google maps – Editado pela autora Mapa 5 – Hierarquia viária p60 FONTE: Sefin 2015 – Editado pela autora Mapa 6 – Mapa de usos p62 FONTE: Sefin 2015 – Editado pela autora

lista de tabelas Tabela 1 – Áreas Exercitar FONTE: Elaborado pela autora Tabela 2 – Áreas Atliê p74 FONTE: Elaborado pela autora Tabela 3 – Áreas Bloco 1 térreo p75 FONTE: Elaborado pela autora Tabela 4 - Áreas Bloco 1 pav. Superior p76 FONTE: Elaborado pela autora Tabela 5 – Áreas Bloco 2 p77 FONTE: Elaborado pela autora



“Acima de tudo, nunca perca a vontade de caminhar. Todos os dias, eu caminho até alcançar um estado de bem-estar e me afasto de qualquer doença. Caminho em direção aos meus melhores pensamentos e não conheço pensamento algum que, por mais difícil que pareça, não possa ser afastado ao caminhar” (Filósofo Soren Aabye)


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Apresentação

O idoso e a cidade

o3 o4

1.1. Introdução 1.2. Justificativa 1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivos gerais 1.3.2. Objetivos específicos 1.4. Metodologia

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2.1. Quem é o idoso? 2.2. Vivacidade 2.3. O envelhecimento da população 2.4. Para uma cidade acessível 2.4.1. Acessibilidade e o desenho universal 2.4.2. Barreiras 2.4.3. Aplicação do desenho universal 2.5. Leis 2.6. Uma cidade acessível 2.6.1. Cidade acessível 2.6.2. A calçada 2.6.3. A queda 2.7. Lazer na terceira idade 2.7.1. Manter-se ativo 2.7.2. Um direito

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3.1. Open Mall, uma proposta de lazer 3.1.1. O open mall 3.1.2. Uma proposta de lazer para todos

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4.1. Jardins Open Mall 4.2. Parque Arauco 4.3. Centro Geriátrico Santa Rita 4.4. Kurve 7

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Proposta

Referências arquitetônicas


00 o5 o6 o7 o8 o9 O lugar

Partido

sumário

5.1. Os bairros 5.1.1. O Centro da cidade 5.1.2. O bairro da Aldeota 5.1.3. O bairro do Meireles 5.1.4. A Praia de Iracema 5.2. Justificativa da localização 5.3. O Mercado dos Pinhões

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6.1. Memorial justificativos, desafios e premissas 6.2. Espaço compartilhado 6.3. Integração 6.4. Open mall 6.5 Forma e implantação

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7.1. Exercitar 7.2. Ateliê 7.3. Bloco 1 7.4. Bloco 2

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8.1. O projeto (desenhos técnicos) 8.2. Perspectivas 8.3. Sistema estrutural e construtivo 8.4. Condicionamento ambiental 8.5. Materiais

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Considerações finais

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Programa

Proposta arquitetônica

Considerações finais Referências bibliográficas

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Apresentação

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1.1. Introdução O crescimento da população idosa é uma realidade na maioria dos países. Esse aumento vem sendo observado há um certo tempo, no entanto, pouco tem sido feito para responder às necessidades dessa futura maioria; nossa sociedade ainda é carente de Políticas Públicas e Espaços pensadas para essa faixa etária. Observando os espaços públicos existentes em nossa cidade, percebemos que são, em sua maioria, excludentes e nem um pouco convidativos a algumas parcelas da sociedade. Tomando como público alvo o idoso, percebe-se que estão cada vez mais resguardados em suas residências, em Centros Dias, ou Casas de Repouso; muitas vezes com mentalidades jovens e animadas, pessoas na terceira idade encontram-se segregadas da sociedade, algumas até destinadas a relacionarem-se, em seu dia a dia, apenas com cuidadores ou outros idosos. Pessoas com mais de 60 anos, ativas, que ainda trabalham e dirigem, não encontram, em suas próprias cidades, espaços nem estrutura para exercer sua vitalidade, podendo desenvolver meios de retardar ou evitar o estado de exclusão. 4

Em resumo, a cidade não tem sido produtora de espaços inclusivos, acessíveis e convidativos, evidenciando-se grande necessidade de criação de novos espaços, públicos com estas características. 1.2. Justificativa Independentemente de ser considerado idoso pela sociedade, as pessoas com mais de 60 anos estão cada vez mais ativas, prolongando, inclusive, suas vidas laborais. No entanto, quando aposentadas, estas pessoas necessitam manter-se ativas, seja através de atividades físicas, seja por meio de cursos ou passeios. O lazer é um direito reconhecido por lei a todo cidadão. Desta maneira, todo equipamento ou espaço com este fim deve ser acessível e livre de qualquer tipo de barreira. A produção desses lugares universais só se dá a partir do conhecimento das necessidades da população, para posteriormente aplicar, em projeto, a solução de cada dificuldade, seja ela física ou sensorial. O crescimento do número de idosos e o processo de mudança do perfil de uma sociedade anteriormente considerada jovem para uma de mais idade fez surgir novas necessidades


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não apenas de acesso, mas também de espaços. Surge, portanto, a necessidade de suprir estas novas demandas espaciais na cidade. A população idosa acaba buscando em equipamentos privados o que não encontra em suas cidades: espaços de lazer e estar para uma vivência e convivência seguras Em verdade, nota-se o surgimento de equipamentos exclusivos para os mais velhos, onde lá moram ou passam o dia; sem dúvida, assim, pode-se garantir a autonomia e segurança nas atividades diárias dos usuários. Contudo, uma grande parte menos favorecida economicamente não tem acesso a esses equipamentos. Além disso, tirar os mais velhos do convívio, segregando-os, é um paliativo, não solução, pois os espaços públicos na cidade continuam a ser produzidos sem pensar nessa população. Sem dúvidas, a solução não é segregar, criando-se espaços exclusivos, mas sim, espaços universais, onde jovens e idosos, pessoas com limitações físicas e sensoriais possam acessá-los e utilizá-los com a mesma facilidade. 1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivo geral Criar o projeto arquitetônico de um Open Mall - Espaço Bem Viver, constituído por áreas livres, serviços, comércios e restaurantes, compondo de forma inovadora uma tipologia já conhecida de centro comercial, com soluções acessíveis para todo tipo de público, inclusive pessoas idosas. Além de criar uma relação harmônica com o Mercado dos Pinhões, a partir de um espaço compartilhado e de livre caminhabilidade. 1.3.2. Objetivos específicos • Requalificar aquela área, proporcionando novas atividades e o convite a novos públicos. • Com o projeto do Espaço Bem Viver, proporcionar ao Centro da cidade, além de um espaço inclusivo, uma proposta diferenciada de centro comercial. • Criar uma opção de lazer, entretenimento e atividade física para a população do bairro, principalmente a idosa, que representa em média 12% dos moradores dos quatro bairros dentro do raio considerado.

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• A partir da criação de um projeto convidativo, valorizar o Mercado dos Pinhões, buscando sempre agregar valor ao bem. • Criar um projeto que possa contribuir para a melhoraria da qualidade de vida dos idosos daquela região e das imediações, com equipamentos que possam ajudar a retardar o envelhecimento mental, motor e físico por meio de atividades físicas prazerosas, proporcionando também o desenvolvimento ou aprimoramento artístico dos usuários. • A partir de um projeto acessível, de fácil acesso e convidativo, transmitir aos usuários segurança. • Com a criação de espaços compartilhados agradáveis e seguros, proporcionar a interação entre todas as faixas etárias, convidando-os a vivenciar espaços para além da sua casa. 1.4. Metodologia

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A definição do tema se deu a partir do conhecimento geral de problemáticas envolvendo o idoso. A partir de então, buscou-se descobrir, por meio de conversas com pessoas dessa faixa etária, as carências que sentiam em suas cidades. Após definido a problemática a ser tratada e o público alvo, partiu-se para o estudo mais aprofundado do tema, envolvendo principalmente as questões relativas ao idoso, à acessibilidade e ao desenho universal. Após finalizar grande parte da pesquisa e de desenvolver todo o embasamento teórico, partiu-se para as definições projetuais. Para concretizar essa trajetória, esse trabalho sintetiza um pouco de todo aprendizado e apresenta o projeto realizado pela autora. Dividido em nove capítulos, o trabalho dispõe inicialmente dessa apresentação, que propõe de maneira sucinta esclarecer sobre o que tratará o trabalho. Em seguida, no segundo capítulo, discorre-se sobre os temas envolvidos, criando uma aproximação do leitor com o tema, além fundamentar a justificativa do projeto. Posteriormente, no terceiro capítulo, aborda-se um pouco sobre a temática do Open Mall como uma proposta de espaço de serviço, comércio e lazer.


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No quarto capítulo, faz-se referência a projetos arquitetônicos existentes que de alguma maneira influenciaram a autora nas escolhas projetuais. No quinto capítulo, realiza-se um diagnóstico da região do terreno escolhido, apontando as características, potenciais e a justificativa da escolha. O sexto capítulo, presenta o projeto arquitetônico. Começando com o partido, onde são expostos os desafios, premissas e escolhas relativas a forma e implantação. No sétimo capítulo é exposto o programa de necessidades do projeto, juntamente com as áreas respectivas de cada espaço. O programa é apresentado por blocos (Exercitar, Ateliê, Bloco 1 e 2), representados de maneira esquemática para que seja clara a denominação e localização de cada um no projeto. No sétimo capítulo encontra-se a proposta arquitetônica. Demonstrada a partir de desenhos técnicos, perspectivas e definições relativas ao sistema estrutural e construtivo, condicionamento ambiental e escolha de materiais. No último capítulo são expostas as considerações finais e em seguida todas as referências bibliográficas e consultadas 7


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O idoso e a cidade

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2.1. Quem é o idoso? Apesar da população idosa vir crescendo há muito tempo, foi apenas a partir das duas últimas décadas que ela começou a ganhar mais importância e cuidado; as limitações vindas com a velhice eram simplesmente ignoradas e excluídas da maioria das políticas públicas e sociais. Em 1960, essas necessidades eram conhecidas, mas eram postas em segundo plano como se observa em ofício dirigido pelo antigo Instituto Nacional da Previdência Social à Associação Brasileira Gerontologia. Veja-se: “Dada a predominância marcante de pessoas jovens em nossa população, a elevada taxa de fecundidade, a baixa expectativa de vida, a pequena renda média per capita e a alta incidência de doenças de massa - os programas de saúde devem, necessariamente, concentrar seus recursos no atendimento das doenças da infância e dos adultos jovens. A assistência ao velho, é forçoso reconhecer, deve aguardar melhores dias” (Fiizzola, 1972, p72; apud Peixoto p 58)

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Aos poucos, essa realidade foi mudando; com a promulgação da Constituição Federal de 1988, assegurou-se o direito de igualdade a toda a sociedade, mas foi somente a partir de 1994, com a promulgação da Lei n° 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, que tivemos alguns avanços. Os avanços, contudo, ocorreram lentamente; apenas em 01 de Outubro de 2003, com a promulgação da lei n° 10.741, instituiu-se o Estatuto do Idoso. Imagem 1 Evolução das Leis relacionadas ao idoso Constituição Brasileira de 1988 assegura o direito de igualdade a toda sociedade sem discriminação

Lei 8.842 Política Nacional do Idoso

Lei 10.741 Estatuto do Idoso

Segundo a legislação brasileira, o idoso é definido como uma pessoa com 60 anos ou mais. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2002), define o idoso a partir do nível socioeconômico do pais. Assim, para países em desenvolvimento, o idoso é aquele com 60 anos ou mais; já nos países desenvolvidos, aquele com 65 anos ou mais. No entanto, sabe-se que cada ser humano é único; a partir da vida que teve, do trabalho que realizou, da carga genética que carrega, é que se pode definir sua própria idade cronológica, seu próprio processo de envelhecimento, de modo que pessoas da mesma idade possuem níveis de envelhecimento e de dependência diferentes.


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2.2. A vivacidade A verdade é que, na maioria dos países, muitas das pessoas com mais de 60 anos continuam representando um elemento de vital importância na integração das famílias e da sociedade, trabalhando e provendo renda. No entanto, para que essa realidade continue, as políticas públicas em prol do idoso e programas de envelhecimento ativo são necessários; tais ações retardam uma possível situação de dependência desses idosos. Sabe-se que o envelhecimento de cada pessoa decorre, também, de eventos ao longo de sua vida; assim, uma melhor qualidade de vida, proporcionada por políticas públicas que previnam a ocorrência de certos eventos prejudiciais, podem acarretar um envelhecimento com qualidade de vida. Considera-se, então, que idade avançada não implica em dependência.

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Segundo a OMS, o envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Aumenta-se, com este processo, a expectativa de uma vida saudável e mais qualitativa para todos que estão envelhecendo, inclusive as pessoas que são mais frágeis, que requerem cuidados ou possuem limitações físicas. A OMS considera que o termo “saúde” se refere ao bem-estar físico, mental e social; assim, em um projeto de envelhecimento ativo, as políticas e programas que promovem saúde mental e relações sociais são tão importantes quanto aquelas que melhoram as condições de saúde física. Nesse sentido, é importante que as políticas direcionadas ao idoso abranjam as mais diversas cronologias, considerando que são muito diversas; algumas pessoas com 80 anos podem apresentar capacidade física e mental comparável à de jovens de 30, enquanto outras de 60 podem necessitar de suporte para realizar tarefas simples do dia a dia. Apesar da conscientização sobre processo de envelhecimento e embora não exista um idoso “modelo”, estereótipos são criados promovendo a discriminação com base na idade. Surge, então, a chamada discriminação etária; por falta de conhecimento, muitos enxergam os idosos como fardos e “drenos” na economia. Diferente do que se possa pensar, a terceira idade pode representar a melhor fase da vida de uma pessoa, e, portanto, deve ser valorizada. É justo nesta fase da vida que esse cidadão, depois de anos trabalhando, contribuindo e gerando renda, possa curtir a vida sem tantas


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obrigações. Nesse sentido, em matéria publicada no site da revista EXAME, afirmou-se o seguinte: “Segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), seis de cada dez idosos entrevistados afirmam que aproveitar a vida é prioridade - e quase metade não se preocupa em poupar dinheiro. Para 46% dos entrevistados, as atividades de lazer se tornaram mais frequentes com a chegada da terceira idade. Um dos principais gastos, por exemplo, é com viagens - cerca de um quinto investe mais em turismo hoje do que quando era jovem.”

No mesmo caminho, uma pesquisa realizada pela mesma revista em 2015 mostrou que “mais idosos estão aproveitando a velhice para voltar a estudar, investir em lazer ou voltar para o mercado de trabalho.” A partir de dados como esses, percebe-se a importância do idoso em diversas áreas da economia. Além disso, nota-se que, por possuírem mais tempo livre, equipamentos de lazer e consumo convidativos e acessíveis a esta parcela da população seriam muito utilizados. 2.3. O envelhecimento da população - Brasil e mundo Segundo artigo da OMS, “Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde”, constatou-se o seguinte: “em todo o mundo a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária. Entre 1970 e 2025, espera-se um crescimento de 223%, ou em torno de 694 milhões, no número de pessoas mais velhas. Em 2025, existirá um total de aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos. Até 2050 haverá dois bilhões, sendo 80% nos países em desenvolvimento.”

O crescimento da população idosa é uma realidade encontrada em todo o mundo, gerado pela diminuição da taxa de fecundidade e pelo aumento da expectativa de vida. Esse crescimento vem ocorrendo de maneira mais perceptível nos países em desenvolvimento, ainda que os países desenvolvidos tenham números bem mais altos. Na Europa, cerca de 1/5 da população total é composta por idosos. Tais mudanças podem ser observadas, inclusive, através da pirâmide etária; à medida que a população idosa aumenta a forma da pirâmide passa de triangular(1980) para cilíndrica (2050).

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Imagem 4 Pirâmides etárias dos anos 1980, 1991, 2020 e 2050

1980

1991

2020

2050 legenda

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Ainda segundo artigo da OMS, até 2025, os indivíduos com 60 anos ou mais irão formar aproximadamente um terço da população de países como Japão, Alemanha e Itália, seguidos de perto por outros países europeus. No Brasil, o envelhecimento da população vem ocorrendo de maneira rápida e expressiva, diferente dos países desenvolvidos que vem sofrendo essa mudança demográfica lentamente, por décadas. Outra diferença é que, no Brasil, esse envelhecimento vem ocorrendo independente da economia e sem qualquer melhoria política ou social. Por aqui, a população idosa aumentou 6% entre os anos de 1950 (4,2%) e 2006 (10,2%); um crescimento aparentemente lento, mas que começa a ganhar expressividade por volta do ano de 2001. Imagem 5 Aumento do número de idosos entres os anos de 1950 3 2006


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Segundo o IBGE, até 2055, o número de pessoas com mais de 60 anos superará o de brasileiros com até 29 anos. O Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de brasileiros nessa faixa etária: Imagem 6 Estados com maior número de idosos

Em 2015, a expectativa de vida do brasileiro era 74,9 anos; segundo a ONU, essa faixa etária subirá para 81,2 anos até 2050.

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De acordo com o relatório de qualidade de vida para idosos do Global Age Watch 2014, o Brasil ocupa a 58º dentre 96 países. Levando em consideração fatores como expectativa de vida, bem-estar psicológico, renda, transporte e segurança.

expectativa de vida

ano

Imagem 7 Expectativa de vida entres 1980 e 2050


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E ainda, algumas realidades a serem consideradas: Inseridos nos mercado de trabalho Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, 7,2% dos idosos mantem-se no mercado de trabalho; em quase 10 anos, essa participação aumentou 35,8%. Feminização da velhice Em 2006, na faixa dos 60 anos, existiam, em média, 79 homens para cada 100 mulheres, fator que se exacerba em idades mais avançadas; na faixa dos 75 anos ou mais, existiam em média 72 homens para cada 100 mulheres. Expectativa de vida de mulheres x homens entre os anos de 1960 e 2013: anos

anos 16

Imagem 9 Comparativo de idades por sexo

Escolaridade: Em 2006, observa-se que um terço da população idosa fazia parte da categoria “sem instrução ou com menos de um ano de estudo”, no entanto, saindo de uma época em que o ensino formal era privilégio, para tempos em que a educação é mais acessível, observamos a diminuição dessa realidade; o número de idosos com formação acadêmica crescerá a cada ano. Em 2014, por exemplo, mais de 15,5 mil idosos inscreveram-se no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um aumento de 70% em relação aos cinco anos anteriores.


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Imagem 10 População idosa participante do ENEM

Idosos residentes da região metropolitana: Os idosos vivem, em sua maioria, nos grandes centros urbanos.

Assim, “Duas de nossas ‘marcas identitárias’ tradicionais – País agrário e jovem cederam lugar a outras: industrializado, urbanizado que que apresenta quedas importantes nas taxas de natalidade e de mortalidade, além do aumento da expectativa de vida ao nascer e os 60 anos” (ALMEIDA PRADO, 2010, p59)

2.4. Para uma cidade acessível e universal 2.4.1. Acessibilidade e desenho universal O interesse pela acessibilidade surgiu principalmente após a Segunda Guerra, a fim de melhorar a locomoção de ex-combatentes mutilados; naquela época, a palavra acessibilidade tomou uma ideia de liberar obstáculos as pessoas com deficiência, de modo que não fosse o ambiente o fator que lhes limitava o acesso. Durante muitos anos os conceitos relacionados à acessibilidade e ao desenho universal foram sendo aprimorados. Assim, Desenho Universal pôde atingir, na prática, o seu real significado: universal, para todos, sem restrições. O conceito de Desenho Universal foi essencialmente desenvolvido pelo arquiteto norte americano Ron Mace, por volta de 1985. Mace desconsiderava ideias como a elaboração de “projetos especiais” ou “adaptações” para suprir necessidades “não usuais”. Ele levava em conta, desde o início do projeto, as necessidades das pessoas.

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“A transformação decisiva de conceitos envolvendo a acessibilidade aconteceu quando se tomou consciência de que as tentativas para tornar os espaços sem barreiras resultavam em soluções muito diferenciadas para uma mesma função – como por exemplo o emprego de rampas ou elevadores restritos a um acesso secundário e que na prática não representavam uma alternativa de igual valor de uso que uma escadaria principal empregada pela maioria das pessoas. Este foi um dos fatores que desencadearam na busca de um desenho que pudesse de fato ser “universal”, que realizasse na prática tanto quanto possível, o ideal de uma acessibilidade para todas as pessoas.” (SANTOS FILHO, 2010 , P38)

Surgiu ai a noção de que a implementação do Desenho Universal e das escolhas acessíveis deveriam estar nas ideias iniciais, projetando espaços sem barreiras desde o começo do processo de criação. Enquanto esses novos conceitos tornavam-se premissas e preocupações reais dos projetistas, aumentava-se consideravelmente a expectativa de vida devido aos avanços da medicina. Assim, as vantagens da utilização de um Desenho Universal atingem não apenas os que sofrem de alguma limitação física, mas toda a sociedade em algum momento ou situação da vida. Corroborando tal afirmação, Gildo Magalhães Santos Filho exemplifica que as rampas “acabam ajudando pais com carrinhos de bebê, carrinhos de compra e outros casos”. 18

Busca-se assim soluções que atendam a maior parte possível da população, sem segregar, de modo que se permita o uso por qualquer pessoa, mesmo aquelas portadoras de limitações físicas ou cognitivas. “Logo, bons exemplos de Desenho Universal não são discriminatórios, beneficiando todas as pessoas.” (DISCHINGER, ELY, PIARDI, 2012, Promovendo acessibilidade espacial nos edifícios públicos p16)

Assim, segundo Juncá, acessibilidade é a capacidade do ambiente construído oferecer segurança e autonomia a qualquer pessoa que o utilize, independentemente de suas limitações. Aprofundando os estudos relacionados a acessibilidade, Cristiane Rose e Regina Cohen desenvolveram o conceito de “Acessibilidade Plena”, que vai além de apenas remover as barreiras físicas ou de criar possibilidades de acesso aos deficientes e idosos. “Significa considerar mais do que apenas a acessibilidade em sua vertente física e prima pela adoção de aspectos emocionais, afetivos e intelectuais indispensáveis para gerar a capacidade do Lugar de acolher seus visitantes e de criar aptidão no local para desenvolver empatia e afeto em seus usuários” (DUARTE, COHEN, 2012, p21)


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Estar dentro do padrão de normas técnicas não basta se o espaço proporciona ao usuário rotas muito longas, cansativas, sem um entorno agradável. Mesmo que as rampas possuam inclinação e sinalização corretas, sem o bem estar, deixam de ser convidativas, deixam de ser utilizadas, retornando-se, assim, à estaca zero, onde as pessoas continuam isoladas em suas residências por não se sentirem seguras nesses equipamentos. Na “Acessibilidade Plena”, prima-se por percursos agradáveis, convidativos, de encontro e convivência com o outro. Muitas vezes, percursos de rampas ou caminhos táteis são criados como rotas alternativas, isolando os usuários, sem dar o mesmo cuidado no que diz respeito ao ambiente, distrações e estímulos sensoriais que se é dado em rotas “principais”, deixando, assim, de ser um Desenho Universal. Obviamente que não é fácil traduzir, em projeto, as necessidades individuais de todas as pessoas com dificuldades motoras, sensoriais, intelectuais ou cognitivas, pelo fato de cada uma ter suas particularidades no que diz respeito ás limitações; muitas vezes, o que funciona para uma, pode não ser indicado para o uso de outra, cabendo ao profissional discernir as melhores soluções, partindo do conhecimento de cada necessidade. 20

Daí poder-se afirmar que é a falta desse conhecimento que impede o profissional de colocar em prática as soluções técnicas normatizadas e de desenvolver soluções para carências ainda não postas em norma. Segundo Duarte e Cohen, o meio deve adaptar-se à diversidade; ele, sim, é o deficiente “ao não se adaptar ao conjunto de pessoas com suas diversas diferenças”.

“Pensar em um desenho universal e em um planejamento urbano mais inclusivo pode representar a independência e autonomia buscadas pelas pessoas com deficiência nos seus percursos pela cidade.” Realidade constatada no Rio de Janeiro, mas que é facilmente encontrada e identificada nas grandes cidades brasileiras, incluindo Fortaleza: “Ao andar pelas ruas do Rio de Janeiro, é possível perceber as dificuldades de transitar livremente de um ponto ao outro da cidade e chegar são e salvo. Isso já ocorre para quem não possui nenhuma deficiência de locomoção [...] é possível perceber que ainda são muitas as barreiras de acessibilidade existente. A falta de manutenção das calçadas de pedra portuguesa, que antes eram convidativas ao passeio, faz com que já não sejam mais tão atraentes, pois qualquer caminhada é, na verdade, uma grande aventura que se tenta passar ileso.” (DUARTE, COHEN, 2012, p23)


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2.4.2. Barreiras Diferente do que se possa pensar, ou do que se considerava após a Segunda Guerra, as barreiras que impedem o uso adequado dos espaços por todos não são apenas as físicas. A falta de informações/sinalizações visuais e sensitivas pode ser considerada uma barreira aos usuários, dificultando ou impedindo o entendimento e a perfeita locomoção. Outra barreira é aquela imposta pela própria sociedade, ao excluir parcelas dela; muitas vezes, idosos, deficientes ou crianças, são desconsiderados pela população e pelo poder público, deixados de fora de eventos, espaços e até políticas públicas. Por último, uma barreira muito comum nas cidades é a gerada por atitudes inadequadas, podendo impedir que outras pessoas utilizem determinado espaço de forma segura. Neste sentido, vê-se, por exemplo, motoristas estacionando em vagas preferenciais, outros estacionando seus veículos em calçadas, impedindo o trânsito de pessoas; não raro, ocupam-se passagens e áreas comuns com vasos e estátuas, dificultando a locomoção segura de algumas pessoas. 2.4.3. Aplicação do desenho universal Para o desenvolvimento de um projeto de acordo com os princípios do desenho universal, muito deve ser considerado, desde as necessidades físicas e sensoriais da população e as normas técnicas, até as barreiras que podem limitar os acessos e usos, sejam físicas ou não. Assim, por ser um processo complexo, é necessária uma equipe com profissionais de diferentes áreas de atuação que trabalhem de maneira integrada, para que se tenha um entendimento amplo e que o resultado final seja favorável. Como é especificado no livro “Promovendo acessibilidade espacial nos edifícios públicos”: “[...] é importante reconhecer que a eliminação de barreiras e a solução dos problemas de acessibilidade dependem de diferentes âmbitos de atuação - projeto, execução e fiscalização – e que exigem a respectiva capacitação profissional. Os profissionais responsáveis pelo projeto devem saber identificar os problemas existentes e desenvolver soluções técnicas adequadas. Na execução de novos projetos e reformas, devem ser mantidas as especificações técnicas estabelecidas. Por último, os responsáveis por ações de fiscalização, a partir do conhecimento detalhado da legislação, devem ser capazes de avaliar a adequação das soluções implementadas. O conjunto dessas ações pressupõe, necessariamente, a integração de profissionais e equipes diversas, muitas vezes pertencentes

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a diferentes órgãos públicos ou entidades privadas” (DISCHINGER, ELY, PIARDI, 2012, p14)

Assim, mesmo com o aumento da preocupação com a acessibilidade, muito ainda não deixou de ser teoria; muitos conceitos continuam sem uma real aplicação por parte dos profissionais responsáveis pelos projetos dos espaços das cidades. Confirmando tal realidade Cristiate Rose Duarte e Regina Cohen afirmam: “No Brasil, há leis e normas que buscam regulamentar medidas de acessibilidade. Essas normas são consideradas avançadas e fazem jus à qualificação dos especialistas que as desenvolveram. No entanto, um dos problemas que se apresenta, a aplicação das normas vigentes, é o fato de nem sempre os profissionais ligados ao planejamento do espaço urbano estarem aptos a reconhecer quando o local é acessível de fato. Muitos ainda pensam que a simples colocação de uma rampa seria suficiente para permitir o acesso de idosos ou de pessoas com deficiência sensorial, física ou intelectual.” (DUARTE, COHEN, 2012, p19)

É obrigação do Estado garantir a inclusão, que ocorre por meio de mudanças culturais e de atitude, além de ações políticas e mudanças nos ambientes físicos da cidade.

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Imagem 11 Sinalização tátil mal executada

Imagem 12 Dificuldades encontradas pelos cadeirantes

Imagem 13 Falta de rampa para cadeirantes

Imagem 14 Sinalização tátil com obstáculos mal executada

Imagem 15 Vaga exclusivas mal executadas e sem rampa de acesso

Imagem 16 Vagas especiais sendo mal utilizadas


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2.5. Leis Em 2016, entrou em vigor a Lei n° 13.146, que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência, representando um avanço para o país. Antes dela, vigorava o Estatuto do Portador de Necessidades Especiais, de 2003. A nova lei traz alguns conceitos como os de acessibilidade, desenho universal, barreiras, pessoa com mobilidade reduzida, entre outros. Veja-se: “Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;” “II desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva;” “V barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros, classificadas em: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo; b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados; c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes; d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação; e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas; f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias;”

As normas e leis relacionadas a acessibilidade atingem, não apenas os portadores de deficiência, mas também os idosos, assim como toda população que tenha algum tipo de mobilidade reduzida temporária. Assim, de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão, tudo que nele está contido faz referência também a pessoa idosa.

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“Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;” “Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.” “Art. 111. O art. 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR)”

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Além de leis relacionadas aos direitos e deveres, normas vem sendo desenvolvidas e aprimoradas para melhorar a execução de projetos acessíveis. Em 1985, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) lançou a primeira norma relacionada às questões de acessibilidade no espaço construído, a NBR 9050 “Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaço mobiliário e equipamentos Urbanos”. Com o passar dos anos e o aprimoramento do conhecimento das necessidades, essa norma vem sendo objeto de modificações e atualizações, tendo a última ocorrido em 2015. 2.6. Cidade acessível - segurança 2.6.1. A cidade acessível Mesmo considerando mudanças ocorridas nas últimas três décadas no Brasil, no que se refere ao reconhecimento das necessidades do idoso e na aplicação de escolhas projetuais acessíveis, na prática, quando se analisa criticamente as cidades, observa-se ainda precariedade nas adequações espaciais e nas condições de vida de grande parte dos idosos brasileiros. Quando jovens, diversas atividades “obrigatórias” preenchem o dia do ser humano e os mantém ativos, socializando, interagindo e exercitando a mente. Com o envelhecer, estas atividades vão tornando-se menos rotineiras; o convívio diário ou constante com grupos de amigos e o trabalho vão diminuindo ou cessam em definitivo, causando, muitas vezes, o isolamento.


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Como visto, a população brasileira segue envelhecendo e as cidades devem estar preparadas para atender as necessidades dessa nova maioria. A cidade tem o “poder” de incentivar e criar condições para que os idosos vivam melhor, influenciando a realização de atividades fora de casa, melhorando a autoestima e, assim, a qualidade de vida. Nesse sentido, constata Adriana Almeida Prado: “As pessoas percebem que a cidade é hostil quando começam a apresentar perdas físicas e sensoriais ou, simplesmente, quando começam a envelhecer” (ALMEIDA PRADO, 2010, Desenho Universal: caminhos da acessibilidade no Brasil, p61)

Uma escada, que antes era apenas parte do caminho, torna-se um obstáculo, ou até um impedimento para continuar o percurso; elementos do espaço urbano que passam despercebido por grande parte das pessoas, podem ser uma grande restrição à locomoção de outras. Desta forma, é imprescindível que a cidade proporcione a toda população, em especial ao idoso, autonomia e segurança. Apenas a partir do entendimento das reais necessidades do idoso, de suas perdas sensoriais e motoras vindas com o envelhecimento, é que se pode projetar um ambiente compatível com sua realidade. Muito da diversidade e individualidade de cada pessoa quando envelhece advém do ambiente físico em que vivem, podendo assim afetar a saúde, impor dificuldades e influenciar decisões, escolhas e comportamentos.

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Imagem 17 Dificuldades enfrentadas pelos idosos


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2.6.2. A calçada Tome-se a calçada irregular como uma “vilã” da autonomia e segurança dos idosos nos percursos pela cidade. Por serem o único caminho para pedestres irem de um lugar a outro, dever-se-ia dar maior importância a elas. No entanto, observa-se, em Fortaleza, calçadas com desníveis irregulares, as vezes vencidos por degraus, rampas de acesso a garagens no lugar de passagens niveladas, pisos escorregadios ou mal executados, alguns soltos formando buracos, ou, ainda, passeios, já estreitos, ocupados por postes, lixeiras e telefones públicos. Em resumo, muitas irregularidades são observadas nas calçadas de nossa cidade. Como foi dito anteriormente, os passeios podem também representar barreiras à população, em especial a idosa, que necessita de segurança ao caminhar, principalmente porque o perigo de quedas é um dos seus maiores medos. 2.6.3. A queda

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Na vida de uma pessoa com idade avançada, uma queda pode ser o início de perdas de funções motoras ou surgimento de doenças. Seja por conta de um buraco ou um piso “em falso”, esse movimento brusco e inesperado pode causar impactos perigosos. Dependendo da saúde do idoso, a queda pode causar fraturas, uma vez que grande parte possui deficiência de cálcio devido ao avançar da idade. Aumenta-se, assim, o risco de morte precoce e principalmente o de institucionalização, levando o idoso a uma vida dependente. As deficiências causadas podem não ser apenas físicas, mas também psicológicas. Sobre o assunto, alguns autores entendem que a queda pode ser causada por fatores intrínsecos, ou seja, relacionados ao indivíduo, devido a doenças, por exemplo, ou extrínsecos, relacionados ao espaço. O papel dos gestores municipais e dos arquitetos e urbanistas, bem como profissionais que lidam com o espaço e a paisagem urbana, nesta linha de pensamento, é evitar ao máximo a existência de fatores extrínsecos, eliminando-se as dificuldades e os riscos, a partir da criação de espaços seguros, tanto nas residências como nos espaços públicos e coletivos da cidade. Viver com o medo de cair faz com que muitas pessoas mais velhas deixem de realizar atividades diárias que seriam boas para sua saúde; acostumam-se a ter vidas sedentárias, reduzindo a mobilidade e assim aumentando risco de quedas – um fator leva a outro.


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No entanto, tal realidade muda quando se garante segurança e autonomia nos ambientes urbanos. O objetivo, pois, deve ser garantir a extinção de quedas por fatores extrínsecos na cidade.

Imagem 18 Tapetes e pisos representam risco para quedas

Imagem 19 Calçadas com pisos solto

2.7. Lazer na terceira idade 2.7.1. Manter-se ativo A prática de atividades físicas proporciona bens e sua importância já é conhecida para pessoas de qualquer idade. Nos mais velhos, essa atividade pode ser realizada como lazer; simples tarefas e práticas podem revelar grandes benefícios à saúde. Manter uma rotina ativa, com atividades leves, caminhadas, jardinagem, uma ida à feira, hidroginástica, atividades em grupo, interação social e até mesmo uma boa leitura. Tudo isso pode manter o ser humano vivo, ativo e saudável. Para o idoso em especial, atividades de lazer melhoram sua vida em diversos quesitos. Em relação ao corpo, mantê-lo em movimento proporciona o fortalecimento do sistema imunológico, além de melhorar mobilidade, flexibilidade, equilíbrio e força, deixando-o mais seguro e capaz. No que diz respeito ao psicológico, a memória melhora, o raciocínio e o cérebro em geral mantém-se em bom funcionamento. Além disso, diminuem tendências de isolamento e propensão ao desenvolvimento de depressão, muito comum na terceira idade; manter-se ativo fisicamente e mentalmente é imprescindível para a saúde.

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2.7.2. Um direito Como foi dito antes, a cidade tem a capacidade de proporcionar ao idoso uma melhor qualidade de vida. Ela deve prover os bairros com espaços em que a interação social e a realização de atividades, das mais diversas, possam ser realizadas, garantindo sempre a segurança, para que o idoso sinta-se convidado e parte da sociedade, sabendo que aquele espaço também foi pensado para ele. Além de ter o poder, o Estado tem obrigação de promover lazer a essa parcela da sociedade, tal como previsto na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que abrange, também, a pessoa idosa. Veja-se a literalidade de alguns dos seus dispositivos:

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“Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: [...] § 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Art. 43. O poder público deve promover a participação da pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais, culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu protagonismo, devendo: [...] III – assegurar a participação da pessoa com deficiência em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de condições com as demais pessoas.”

Imagem 20 Turismo na 3a idade


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benefícios físicos e mentais: fortalecimento do sistema imunilógico mobilidade flexibilidade equilíbrio força segurança memória raciocínio Imagem 21 Benefícios da atividade física

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proposta

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3.1. Open Mall, uma proposta de lazer 3.1.1. O Open Mall O conceito de Open Mall surgiu nos Estados Unidos, nos anos 80, como uma recriação dos tradicionais centros comerciais fechados e murados. Este estilo de shopping representa um espaço de compras e oferecimento de serviços a céu aberto. Com o projeto paisagístico, normalmente, é proporcionado aos consumidores ambientes mais agradáveis, sombreados e até um contato com a natureza. Seu formato lembra praças, pois normalmente seu acesso é livre, sem que haja qualquer controle de quem entra ou sai, representando um espaço público privado, composto por uma área livre, aberta e de livre acesso e passagem, por lojas e equipamentos privados que proporcionam serviços pagos à sociedade. Suas áreas livres normalmente são bastante arborizadas, proporcionando a sensação de estar em uma praça ou até mesmo num parque, e não em um shopping (fechado). 32

Aliado à sustentabilidade, o paisagismo cria espaços de estar e de passagem agradáveis, convidando os consumidores a utilizarem aqueles espaços e, como consequência, usufruírem dos serviços pagos. Encontra-se muito, na Itália e na Espanha, um tipo de comércio com pontos semelhantes ao conceito de Open Mall, ainda que possua um formato diferente. Lá, ruas para pedestres e Galerias funcionam como comércio durante todo o dia; a noite, quando as lojas fecham, os bares e restaurantes continuam a dar vida à essa parte da cidade. Nesses países, espaços abertos e convidativos fazem parte das cidades; muitos desses espaços estão localizados em seus centros históricos. Exemplo disso é a rua “Las Ramblas”, em Barcelona, e a Galeria Vitoria Emanuele, em Milão; neste segundo, a Galeria coberta é uma criação anterior bem aos shoppings, onde a existência dessa proteção no espaço público tornou um complexo de espaço público-privado e de aberto-fechado.


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Imagem 23 Galeria Vitoria Emanuele em Milão

Imagem 22 “Las Ramblas” Barcelona

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3.1.2. Uma proposta de lazer para todos Assim, após tudo que foi estudado, observou-se que, como objeto de lazer, e com serviços predeterminados, o Open Mall poderia representar uma ótima opção para a integração do idoso na sociedade e na cidade. Funcionando como um espaço para a prática de atividades físicas, para exercitar a mente, aprender instrumentos, fazer compras, ir a restaurantes, além de proporcionar às pessoas em geral o poder de usufruir de áreas livres de qualidade, seguras em relação à mobilidade e acessibilidade, sombreadas e bem arborizadas. Para o idoso, tudo o que remete à natureza tem grande valor, no geral, ele se sentir bem em ambientes que remetam ao seu passado, a suas memórias, ou simplesmente onde possam passear, fazer atividades, comer bem e encontrar os amigos, se sentindo seguro e autônomo.

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Imagem 24 Palmares Open Mall, Mendonza Argentina

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Referências arquitetônicas

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3.1. Jardins Open Mall, Fortaleza, CE, Brasil. Data:1986 Reinauguração: 2000 Área de Intervenção: 2.148m² Profissionais(reinauguração): Arquitetura e Urbanismo: André Sá Paisagismo: Sérgio Santana, DW Santana O Jardins Open Mall localiza-se no bairro da Aldeota, em Fortaleza. Possui 28 lojas e 3 restaurantes. Por ter em seu entorno e proximidades uma série de shoppings convencionais, funciona como elo de ligação entre eles. Inaugurado em 1998 como Shopping Aldeota Expansão, só em 2000, após reformas, foi reinaugurado e seu nome modificado para Jardins Open Mall. Além das lojas e restaurantes, o espaço possui um riacho que segue de uma ponta a outra da quadra; as passagens são feitas em pedras que, apesar de muito bonitas e agradáveis, não são acessíveis. 38

As árvores são das mais diversas espécies (ex.: Palmeira Jerivá, Tamareira, Palmeira Leque da China, Estrelítza e Helicônias) e estão em todo o espaço do Open Mall, nas calçadas e entre as lojas e restaurantes, tornando o espaço bastante sombreado e agradável. A relação entre a vegetação e o que é construído é algo que serve de referência para a criação do projeto do Espaço Bem Viver. Principalmente o corredor interno do Jardins Open Mall que funciona como passagem mas também como espaço de estar composto por muitas árvores gerando áreas muito sombreadas.


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Imagem 25 Antigo Shopping Aldeota ExpansĂŁo Imagem 26 Atual Jardins Open Mall

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Imagem 26 Jardins Open Mall

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Imagem 27 Jardins Open Mall


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Imagem 28 Jardins Open Mall

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Imagem 29 Jardins Open Mall


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3.2. Parque Arauco, Santiago, Chile Data:1982 Ampliação e reinauguração: 2007 Arquitetura e Urbanismo: BMA Arquitectos Asociados e Cristian Fernandez Arquitectos O Parque Arauco, é um enorme complexo de comércios e serviços localizado em Santiago, ao lado do Parque Araucano, um dos espaços verdes maiores e mais bonitos de Santiago. Além de lojas de diversas especialidades (infantil, adulto, acessórios, decoração, eletrônicos) e para os mais diversos públicos, o Parque Arauco conta com serviços como restaurantes, agências de viagens, bancos, cinema e teatro. O espaço é bem diverso, uma composição de áreas livres e fechadas. São eles: • Shopping Parque Arauco, com uma conformação física de shopping comum, fechado e climatizado; • Distrito de Luxo, uma parte do shopping reservada para grifes mais caras; 42

• Boulevard Parque Arauco, um enorme Open Mall, com lojas e restaurantes, um espaço aberto com programações de música ao ar livre e exposições na galeria de arte. A integração de áreas livres e de serviços diversos observada no Parque Arauco foi um ponto levado em consideração no desenvolvimento do projeto do Espaço Bem Viver. Assim como a livre caminhabilidade entre o que é construído, organizado por setores, unidos por áreas de passagem e de estar que fogem da monotonia, sempre proporcionando estímulos visuais.


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Imagem 31 Bouolevard Parque Arauco

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Imagem 32 Boulevard Parque Arauco


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Imagem 33 Parque Araucano

45 Imagem 34 Parque Araucano


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3.3. Centro Geriátrico Santa Rita, Ciutadella de Menorca, Ilhas Baleares, Espanha Data: 2003 Área de Intervenção: 5.990 m² + 6.200 m² de jardins Arquitetura: Manuel Ocaña Paisagismo: Teresa Galí Levando em consideração que em pouco tempo metade da população do sul da Europa terá mais de 65 anos, chegou-se à conclusão que os espaços destinados aos idosos deveriam ser repensados. Partiu-se então de premissas como mobilidade e doenças relacionadas a idade. A intenção do arquiteto de Manuel Ocaña foi de criar um espaço onde os idosos pudessem passar seus últimos anos e meses de vida com otimismo, primando por um tempo livre de qualidade. Busca-se proporcionar comodidade, trazendo a ideia de lar aos residentes. O projeto se estabelece todo em um só piso, evitando deslocamentos verticais, eliminando assim barreiras para os idosos. 46

Fugindo da característica de hospital, todos os 68 quartos tem acesso direto a um jardim central que funciona como “lobby”. Todo quarto tem duplo acesso, proporcionando autonomia, privacidade e segurança aos moradores. A forma com que estão dispostos os quartos determina a forma do projeto e os caminhos a serem percorridos ate cada outra unidade para realização de atividades diárias (piscina, sala de descanso, copa, oficinas, entre outros). Cores, formas e caminhos são criados de maneira a evitar desorientação; determinadas cores são utilizadas em determinadas salas de atividades e de acordo com a localização no terreno. Assim, os residentes fazem a ligação mental da cor com a atividade, decidindo facilmente para onde desejam ir. Essa forma de identificação além de forçar o trabalho da mente, ativa os sentidos e afasta os moradores do tédio visual. O projeto do Centro Geriatrico analisado serviu de referência principalmente pelas escolhas projetuais baseadas nos estímulos visuais e sensoriais. Além disso, a interação dos espaços internos com o externo, acontecendo entre os quartos e o lobby central que também é jardim e área de passeio.


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Imagem 35 Espaรงos zoneados por cores

Imagem 36 Jardim central


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Imagem 37 Área de piscina

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Imagem 38 Sala de descanso


Imagem| 03 39 proposta

Acesso dos quartos Ă pĂĄtio central

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3.4. Kurve 7, Bancoque, Tailândia Data: 2014 Área de Intervenção: 6.000 m² Arquitetura: Stu/D/O Arquitetos Paisagismo: Teerachai Tharawongthawat Kurve 7 é um centro comercial localizado em uma área primordialmente residencial de Bang Kapi, na Tailândia. Por ser um Open Mall, o shopping interage muito bem com o espaço público. Seus jardins são extensões dos passeios, convidando os pedestres a caminhar pelo equipamento. O projeto é dividido em nove blocos comercias separados e organizados em duas fileiras com um passeio curvo entre eles. Cobrindo todos os blocos, uma coberta curva os conecta. A utilização dos materiais é algo a ser considerado; são simples, mas unidos, proporcionando bem estar e comodidade aos usuários do espaço.

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Entre os materiais, está a madeira, o vidro, o metal e o concreto aparente. Além disso, outro ponto importante no projeto é a preservação das árvores existentes. O projeto Kurve 7 sintetiza muitas das premissas arquitetônicas do projeto do Espaço Bem Viver. A composição das lojas e restaurantes com os espaços do estar proporciona aos frequentadores uma ambiência agradável. A disposição das árvores com os espaços cobertos cria áreas de estar sombredas. Além disso, serviu de referência a utilização de varandas como uma forma de extensão de espaços internos também funcinando como contemplação do que está no térreo.


Imagem 40 Kueve 7 - รกreas de passagem cobertas

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Imagem 41 Kurve 7, vista frontal

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Imagem 42 Espaços verdes e de estar


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Imagem 43 Áreas sombreadas

Imagem 44 Utilização de materiais simples

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O lugar

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O espaço escolhido para a implantação do projeto do Open Mall fica localizado no Centro, próximo ao limite com os bairros Praia de Iracema, Aldeota e Meireles. Representa uma área de transição entre eles, contendo muitas características das três áreas vizinhas, daí por que é importante considerar as características gerais dos bairros em questão.

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4.1. Os bairros 4.1.1. O Centro da cidade Segundo o Plano Diretor de Fortaleza, o Centro encontra-se na Zona de Ocupação Preferencial 1, caracterizando-a pela “disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos e pela presença de imóveis não utilizados e subutilizados; destinando-se à intensificação e dinamização do uso e ocupação do solo. ”

Mapa 1 Bairros para análise


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Segundo censo de 2010, o centro possuía população de 28.538 habitantes, sendo 10.8% idosos. Representa um bairro pouco residencial em sua maior parte. A área em estudo, por estar muito próxima da Aldeota, apresenta um misto de funções, ainda com muitos comércios e serviços, muito característicos do Centro, mas também com muitas residências. 4.1.2. O bairro da Aldeota O bairro da Aldeota, localizado à sudeste da área de estudo, apresenta características variadas de uso, muitos prédios residenciais e comerciais, serviços em geral, hospitais, clínicas, além de ainda encontrar-se muitas unidades unifamiliares. Segundo o censo do IBGE de 2010, a Aldeota possuía o maior índice de idosos de Fortaleza, representando quase 13% de seus moradores. 4.1.3. O bairro do Meireles O Meireles encontra-se a nordeste do terreno em estudo e, assim como a Aldeota, exerce forte influência sobre nosso equipamento, uma vez que, além de estar também muito próximo, representa o segundo bairro com mais idosos da cidade, 12,5% da população nele residente. A variedade nos serviços e usos também é uma característica e os moradores possuem, em sua maioria, um alto poder aquisitivo. Segundo a Secretaria Executiva da Regional II o IDH do bairro é de 0,916, maior que o dos Estados Unidos. Apesar de haver muitos shoppings e serviços no bairro, a maior parte dele não é servido por nenhum equipamento público de lazer, representando uma grande carência, uma vez que o bairro é amplamente adensado. 4.1.4. A Praia de Iracema A Praia de Iracema encontra-se ao Norte do terreno em estudo. É um bairro pequeno, com pouco mais de 3 mil habitantes, sendo 11% destes idosos Apesar de ser um bairro pouco residencial, gera forte influência sobre o projeto, pois representa um bairro boêmio, com forte apelo turístico e cultural, gerando assim fluxo de pessoas na região.

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Mapa 2 Porcentagem de idoso nos bairros

Mapa 3 Praças existentes nos bairros


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Por ser uma área que sofre influência dos outros três bairros vizinhos, e para uma melhor analise da influência do que já existe, consideramos uma poligonal de entorno independente dos limites do Centro da Cidade, bairro onde está localizado o terreno do projeto. A nova poligonal é margeada pela Av. Heráclito Graça, Av. Dom Manuel e Av. Rui Barbosa, até a Rua dos Tabajaras e Av. Historiador Raimundo Girão, no limite com a praia. No mapa anterior, observamos as praças existentes nos quatro bairros e percebemos que apenas uma encontra-se dentro dessa poligonal, demonstrando assim a carência da região. Em relação aos centros comerciais, no mapa a seguir, observamos que apenas a Av. Monsenhor Tabosa, conhecida por ser uma rua de comércios, entra na poligonal. Ainda que a região seja muito bem servida de comércios independentes, super mercados, farmácias, entre outros, eles estão espalhados pelos bairros, não existe um centro comercial próximo ao terreno. Sombreado no mapa está representado no Centro a região de comércio mais ativo, onde existem diversos centros comerciais muito próximos uns dos outros. 59

Mapa 4 Centros Comerciais nos bairros


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Imagem 45 Terreno do projeto atualmente murado

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Mapa 5 Hierarquia viária


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Imagem 46 Vista do terreno do projeto

Imagem 47 Praรงa Pelotas

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4.2. Justificativa da localização A área escolhida mostrou-se a mais adequada para a implantação do equipamento. Após a constatação da necessidade desse tipo de espaço em Fortaleza, buscou-se os bairros com maior número de idosos residentes e carentes de espaços livres, chegando-se, assim, à região do terreno escolhido. A localização do terreno encontra-se numa região de transição entre o Centro e os outros bairros de Fortaleza; é também uma área de passagem para diversos percursos dentro do bairro e das proximidades. Considerou-se, ademais, a proximidade com a Av. Monsenhor Tabosa e com a parte mais comercial do Centro, que geram fluxo intenso de pessoas. No entanto, em primeiro plano, deve-se reconhecer a importância da proximidade do Mercado dos Pinhões para o projeto. A partir de análise do entorno, orbserva-se uma predominância de lotes ocupados por residências, em segundo lugar percebemos pequenos comércios, 62

Mapa 6 Mapa de usos


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Imagem 48 Vista interna do terreno

Imagem 49 Vista interna do terreno

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4.3. Mercado dos Pinhões Sabe-se que o Mercado dos Pinhões é um polo gerador de atividades e de pessoas. Lá, as atividades são realizadas durante toda a semana, desde uma ampla programação cultural até as feiras de frutas, verduras, roupas, acessórios, dentre outras. A importância desse Mercado para a cidade de Fortaleza é indiscutível, pois faz parte da sua história e cultura. O que se conhece hoje como Mercado dos Pinhões fez parte do antigo Mercado da Carne, inaugurado em 1897 na praça Waldemar Falcão. Possui uma estrutura metálica pré-fabricada, de fácil montagem e desmontagem. Em 1938, a estrutura foi desmontada, e dividia em duas; uma parte encontra-se montada hoje no bairro da Aerolândia, à margem da BR-116; a outra foi levada para a Praça dos Pinhões ou praça Pelotas, onde hoje funciona com ampla programação

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O Mercado dos Pinhões é um equipamento tombado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza por meio do Decreto Municipal 11.962 de 2006. Portanto, assim como normas para a manutenção do bem tombado, existem também normas para o entorno, tal como aquelas previstas na Lei nº 9.347, de 11 de março de 2008 que dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico-cultural e natural do município de Fortaleza , mais especificamente em seu art. 8°, caput e parágrafos primeiro e segundo, transcritos a seguir:


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“Art. 8° - No tombamento dos bens imóveis será determinado, no seu entorno, a área de proteção que garanta sua visibilidade, ambiência e integração. 1º - Qualquer alteração física, de mobiliário, de uso ou de iluminação de bem imóvel somente se dará após prévia autorização da Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural da Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR). 2º - Não serão permitidos no entorno do bem tombado quaisquer tipos de uso ou ocupação que possam ameaçar, causar danos ou prejudicar a harmonia arquitetônica e urbanística do bem tombado” (Lei Nº 9.347, 2008)

Assim, por estar dentro do entorno considerado pelo Mercado dos Pinhões, buscou-se sempre a integração do projeto com o bem tombado. Aumentando sua visibilidade pelas ruas adjacentes, melhora-se o acesso ao Mercado, tornando-o mais convidativo. Desta forma, o projeto põe-se a agregar maior valor ao bem, uma vez que o exalta e cria caminhos e espaços de estar para serem utilizados principalmente pelos frequentadores do Mercado.

Imagem 50 Recorte foto Mercado dos Pinhões

Levando-se em consideração a movimentada agenda cultural e de feiras do Mercado dos Pinhões, não há dúvidas de que o Espaço Bem Viver dá suporte a tais atividades, na medida em que conta com um Desenho Universal, que induz e convida o uso por toda a população, além de servir como um espaço de lazer permanente para a vizinhança, ampliando a área existente, uma vez que não existe nenhuma praça nas proximidades.

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Partido

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5.1. Memorial justificativo, desafios e premissas A partir do estudo e do reconhecimento de uma problemática real, da consideração da existência de necessidades individuais e do conhecimento adquirido em relação ao Desenho Universal, criou-se o projeto do Espaço Bem Viver com intuito de ser acessível a todas as necessidades. Seguindo as normas da ABNT referentes à acessibilidade, buscou-se criar espaços e serviços atrativos e agradáveis, com o intuito de gerar interação entre pessoas de todas as idades, criar espaços de estar e encontro, ampliando as opções de lugares com estas características na nossa cidade. Sem dúvida, um dos principais desafios foi o de criar um equipamento dentro de uma área entorno de patrimônio que pudesse, ao mesmo tempo, se relacionar de maneira harmônica com o Mercado e suprir uma necessidade da população local.

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Além disso, uma das premissas foi a criação de espaços para serviços que pudessem viabilizar o empreendimento, tornando o Espaço Bem Viver uma proposta real de um Open Mall, Um outra premissa foi o de desenvolver um projeto com espaços compartilhados, onde as pessoas tivessem áreas de livre caminhabilidade. Após constatada a importância do equipamento para a sociedade e listado os desafios e premissas, buscam-se soluções projetuais a fim de atingir os objetivos do trabalho. 5.2. Espaço compartilhado O terreno escolhido para o projeto do Espaço Bem Viver ocupa quase metade de uma quadra, dando acesso a três ruas. A rua lateral ao terreno, que também dá acesso ao Mercado dos Pinhões representa uma rua local, de pouco fluxo de veículos. Dessa maneira, para criar uma maior integração do Mercado e da pequena praça existente com o projeto, é transformado esse trecho em uma via compartilhada, fazendo com que os carros trafeguem em baixa velocidade, priorizando o pedestre, proporcionando maior segurança aos usuários dos equipamentos e livrando-os de qualquer barreira. Com essa rua compartilhada, amplia-se a área de caminhabilidade dos usuários e pedestres. Além disso, o espaço compartilhado funciona como uma extensão dos três locais (Mercado dos Pinhões, pequena praça existente e Espaço Bem Viver), conectando-os e criando nos


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usuários o senso de pertencimento; em consequência disso, o espaço se torna mais utilizado e bem cuidado. 5.3. Integração A pequena praça localizada a frente do Mercado é incluída no projeto, de modo que, juntamente ao espaço compartilhado, interaja com ele. Além disso, aplicou-se a mesma linguagem paisagística e urbanística do Espaço Bem Viver, com canteiros e mobiliários correspondentes.

Imagem 51 Imagem representativa da intervenção

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5.4. Open Mall O projeto do Open Mall é constituído em três blocos; cada um foi feito pensando na integração com o Mercado dos Pinhões e o público que já o frequenta. Desta maneira, a implantação foi sendo desenvolvida de modo que essa integração fosse sutil, mas que as pessoas se sentissem convidadas a também passear pelo equipamento projetado. Ademais, os planos e a separação dos blocos foram feitas de modo a valorizar a ventilação, para que, valendo-se da proximidade com o litoral, o equipamento pudesse ser o mais agradável possível, agregando maior área de ventilação às sombras das árvores. O equipamento representa um misto de gastronomia, serviços, lazer e comércio. No bloco a frente, mais próximo do Mercado, no piso inferior, encontra-se uma Lanchonete para lanches saudáveis e lojas. Já no piso superior, privilegiado pela vista para o Mercado e para o resto da praça, encontra-se uma Pizzaria e um Restaurante de comidas tradicionais cearenses. 70

No segundo bloco, em uma só planta, encontra-se uma Padaria, lojas e banheiros públicos. Mais ao final do terreno, encontram-se os serviços: a academia Exercitar, composta de térreo e um pavimento superior, oferece serviços de fisioterapia, pilates e hidroginástica. Agregado a ela, encontra-se o Ateliê, em uma só planta, onde as pessoas podem realizar cursos de música, pintura e costura. Os espaços livres entre os blocos foram pensados também em pessoas que iriam para o equipamento apenas para passear; então, criou-se áreas bastante arborizadas compostas por áreas de estar com mobiliário urbano adequado.


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5.5. Implantação e forma Após definidas as premissas e reconhecidos os desafios, buscou-se uma forma que pudesse suprir todos esses pontos considerados. A ideia sempre partiu de criar volumes separados, com intuito de obter um espaço fluido e com vários acessos, podendo-se visualizar o Mercado independente de onde o usuário estivesse. Essa fluidez acontece quando se abre o terreno para as ruas laterais, criando espaços livres e abertos para a circulação de qualquer pessoa, seja para utilizar algum dos serviços oferecidos pelo equipamento, seja apenas para servir de atalho ou mesmo como mais espaço de passeio. Os blocos tiveram suas formas desenvolvidas como num sistema de montagem; utilizou-se faces paralelas, fazendo com que um bloco complemente o outro. A angulação foi desenvolvida a partir da direção da ventilação, buscando aproveitá-la ao máximo. Assim, o equipamento é composto por três blocos, sendo apenas um deles completamente térreo. Esse jogo de volumes foi obtido visando uma melhor visualização do mercado e de todos os blocos por parte das pessoas que seguem no sentido da rua Gonçalves Ledo, para que pudessem visualizar o todo sem que um bloco sobrepusesse por completo outro. Além disso, as faces e os volumes criam um espaço entre eles que foge da monotonia de percursos retos, proporcionando caminhos agradáveis e convidativos; tenta-se, assim, fazer com que, mesmo as pessoas que só estejam de passagem, se interessem por fazer essa travessia caminhando por dentro do equipamento, passando então pelas lojas e restaurantes e, consequentemente, tornando o espaço mais conhecido e frequentado.

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Imagem 52 Esquemas mostrando as escolhas formais


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Programa

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Imagem 53 Bloco Exercitar

Tabela 1 Áreas Exercitar

O Exercitar reúne atividades físicas muito procuradas pelos idosos, ainda que praticadas por pessoas de todas as idades. A intenção é reunir diferentes faixas etárias, gerando interação, encontros e trocas de experiências.


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Tabela 2 Áreas Ateliê

A intenção do Ateliê é manter a mente dos idosos sempre ativa, fazendo-os aprimorar capacidades que já tem, ou até mesmo desenvolver novas habilidades e hobbies. Assim como o exercitar, buscou-se cursos também procurados por pessoas de outras idades.

Imagem 54 Bloco Ateliê


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Tabela 3 Áreas Bloco 1 Térreo

No bloco 1, iniciando os serviços gastronômicos do Espaço Bem Viver, o Comer Bem, proporciona aos usuários lanches rápidos e saudáveis. No estilo fast food e atendimento no caixa, foi locado no terreno de maneira a servir também ao público dos eventos realizados no Mercado dos Pinhões. Vizinho a ele encontramos lojas proporcionando aos usuários comércios como farmácias, mercadinhos, produtos naturais, dentre outros. Imagem 55 Bloco 1 Térreo


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Tabela 4 Áreas Bloco 1 Pav. Superior

No piso superior do Bloco 1, encontramos a Pizzaria e o Restaurante do equipamento. Locados ali para uma melhor contemplação do Mercado dos Pinhões e do Espaço. Possui uma varanda comum aos dois, onde os usuários podem fazer suas refeições ao ar livre. Além disso, os serviços são compartilhados e é acessado através de um elevador de serviço também comum.

Imagem 56 Bloco 1 Pav. Superior


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Imagem 57 Bloco 2

Tabela 5 Áreas Bloco 2

No Bloco 2, em apenas uma planta, encontramos a padaria, cinco lojas e banheiros públicos, esse ultimo como uma forma de gentileza aos usuários dos equipamentos proprostos, do espaço público e dos frequentadores do Mercado.


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O Espaço Bem Viver funciona numa sistemática de condomínio. Cada equipamento, restaurante ou loja, tem sua parcela de contribuição para o manutenção do espaço, de acordo com a área ocupada no terreno. Dessa maneira, os espaços em comum são mantidos limpos, iluminados e seguros. Assim, as pessoas se sentem sempre convidadas a frequentarem os espaços e, consequentemente, utilizarem os serviços.

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Proposta arquitetônica

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8.2. Perspectivas

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Imagem 58 Perspectiva com Mercado e Bloco 1 a vista

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Imagem 59 Perspectiva da área central do equipamento

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Imagem 60 Perspectiva área coberta entre Blocos 1 e 2


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Imagem 61 proposta arquitetônica | 08 Perspectiva área Bloco 1

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Imagem 63 Perspectiva Bloco Exercitar e Ateliê vendo da varanda do Restaurante


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Imagem 62 Perspectiva Bloco Exercitar e AteliĂŞ

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Espaço Bem Imagem 64Viver | uma proposta de lazer e integração do idoso

Perspectiva Bloco 1

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Imagem 65 Perspectiva Bloco 2


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Imagem 66 Perspectiva Sala de Fisioterapia

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Imagem 67 Perspectiva Hidroginástica


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Imagem 68 Perspectiva HidroginĂĄstica

Imagem 69 Perspectiva Sala de Pilates

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Imagem 71 Perspectiva Restaurante


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Imagem 70 Perspectiva Sala de Pintura

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Imagem 72 Perspectiva Sala de MĂşsica


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7.3. Sistema estrutural e construtivo O sistema estrutural escolhido foi o de pilares e vigas de concreto armado, possibilitando vãos maiores. Além disso, na maioria dos casos, buscou-se utilizar vigas tri-apoiadas. As lajes utilizadas são maciças com altura de 25cm, que foi obtida levando em consideração as situações em que se utilizam lajes em balanço. Por não possuir gabarito elevado e por se tratar de edificações sem muitas inovações técnicas no que se refere à construção, sua estrutura é simples. As lajes são impermeabilizadas e nas edificações com apenas um pavimento, foi empregado o sistema construtivo de coberta verde sobre elas. Dentre as diversas vantagens da utilização desta técnica, no projeto ela foi utilizada com intuito de melhorar a ambiência de quem se encontra no pavimento superior e consegue visualizar diretamente essas cobertas. Além disso, é importante salientar a utilização de elevadores sem casa de máquina, de maneira que faz-se necessário um pé direito maior no piso superior. 112

7.3.1 Coberta verde Conhecido também como jardim suspenso, o telhado verde é um sistema construtivo formado por uma cobertura vegetal instalada em lajes ou em telhas. O telhado verde não representa uma técnica nova; é uma prática realizada há muitos anos. Lembre-se, por exemplo, dos famosos Jardins Suspensos da Babilônia e posteriormente do Terraço Jardim, fundamento da arquitetura de Le Corbusier e um de seus “Cinco Pontos da Nova Arquitetura”. Atualmente, a técnica tem sido utilizada de maneira que se cobre amplamente com vegetação a coberta. A montagem do sistema é feita diretamente sobre uma cobertura impermeabilizada que suporte tal sistema. Dependendo do porte da vegetação desejada, o aumento de carga sobre a estrutura pode ser significativo, devendo ser considerado e, em edificações já existentes, a estrutura deve ser analisada para verificar se suporta ou não a aplicação dessa camada de vegetação. Além disso, dependendo da edificação, se existe inclinação na coberta ou não, verifica-se a necessidade de barreiras para conter o fluxo de água.


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No projeto, foi utilizada vegetação rasteira e de pequeno porte, não gerando cargas que modifiquem o sistema estrutural. Trabalhou-se, ademais, com o ângulo de inclinação das lajes nulo, facilitando a instalação do sistema. As técnicas e os tipos de materiais utilizados na montagem de uma coberta verde podem variar de acordo com o sistema utilizado e a vegetação a ser aplicada. Uma técnica típica é feita aplicando-se as camadas na seguinte ordem sobre a laje: LEGENDA Camada impermeabilizante: feita com mantas sintéticas protegendo a laje contra infiltrações Camada drenante: drena filtra a água. Pode ser feita de brita, seixos, argila expandida ou com mantas drenantes de poliestireno Camada filtrante: retém partículas e pode ser feita com um geotêxtil

Imagem 73 Esquemas camadas coberta verde

Membrana de proteção contra raízes: controla o crescimento de raízes da vegetação Solo e vegetação.

Como foi dito, o tipo de vegetação a ser utilizado é algo muito importante e deve ser predeterminado. Desta maneira, segundo a International Green Roof Association (Igra), os telhados verdes podem ser de três tipos: A. extensivo: configurando um jardim, com plantas rasteiras de pequeno porte. B. semi-intensivo: composto por vegetação de porte médio C. intensivo: composto de plantas de porte médio a grande No projeto, utilizou-se plantas rasteiras de pequeno porte, configurando um sistema de coberta verde extensivo. Assim, foi aplicado a grama, indicada pela sua durabilidade e também por ser uma planta local, resistente e que exige pouca rega e poda, facilitando a manutenção. Os benefícios resultantes com a utilização da coberta verde são muitos. Além do fator visual, os telhados verdes funcionam como isolantes térmicos nas coberturas das edificações. Numa cidade como Fortaleza, conhecida por seu clima quente, esse sistema diminui a temperatura interna da edificação em que é aplicado, absorvendo até 90% a mais de calor que

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os sistemas convencionais de coberta. Consequentemente, utiliza-se menos ar condicionado, reduzindo o consumo de energia e melhorando a eficiência; contribui-se, igualmente, para a melhoria da qualidade do ar, regulando a umidade no entorno da edificação. O sistema funciona também como isolante acústico, proporcionando aos espaços internos menos impactos auditivos. 7.4. Condicionamento ambiental Desde o início do projeto, houve preocupação com a orientação dos blocos, a fim de melhor aproveitar tanto a iluminação como a ventilação natural, sempre com a intensão de criar espaços agradáveis entre as edificações. A forma de cada bloco e a angulação das fachadas foram pensadas principalmente de acordo com a direção do vento, para que ele pudesse criar uma circulação de ar entre os blocos por todo terreno. 114

Além disso, as lajes em balanço criam áreas de sombra diminuindo a incidência de calor nos ambientes internos e criando espaços de estar sombreados. Por ser avarandada, a área do restaurante e da pizzaria fica mais protegida da radiação solar direta. Vale ressaltar, nesse tocante, que a orientação para o nascente possibilita a utilização da varanda pelos clientes como uma extensão de seus salões, podendo assim contemplar o Mercado de uma altura privilegiada. Por último, é importante lembrar o papel fundamental da vegetação nesse projeto. Com efeito, o sistema de cobertas verdes, utilizado em duas lajes do projeto, diminui significativamente a absorção de calor, diminuindo a temperatura interna das edificações. Ademais, as áreas de jardins espalhadas pelo terreno abrigam árvores de médio e grande porte, a fim de tornar o espaço agradável, ventilado e sombreado. 7.5. Materiais Considerando a importância do Mercado dos Pinhões para aquela região, bem como sua qualidade de linguagem plástica, foi primordial na escolha dos materiais a intenção de manter uma relação harmônica com o bem tombado. As premissas para a escolha dos materiais seguem o mesmo padrão das utilizadas na


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definição da forma. Buscou-se não “imitar” cores ou texturas; a intensão não é recriar nada parecido, e sim, considerar a temporalidade de cada projeto, tendo sempre em mente que o Espaço Bem Viver, visualmente falando, seria “plano de fundo” do Mercado. A intenção, portanto, é ter o cuidado de estar no seu entorno abrindo perspectivas visuais de modo a exaltá-lo. Dessa maneira, optou-se pela utilização de peças metálicas, criando uma relação discreta, mas harmoniosa, com o Mercado. Funcionando como revestimento de fachada, as peças utilizadas no Ateliê e no Exercitar seguem um padrão, sendo utilizadas também em outros locais do projeto com outras funções. Além disso, buscou-se aplicar materiais tradicionalmente utilizados na região, como o tijolinho, criando uma boa relação com as edificações vizinhas, sem destoar do que ali já existe.

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Imagem 74 Peças metálicas utilizadas nas fachadas - sustentação

Imagem 76 Peça metálica utilizada nos guarda corpos

Imagem 75 Detalhe do engaste das Peça metálica dos guarda corpos


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Considerações finais

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Considerações finais Com o aumento da expectativa de vida, surgiu a preocupação com a qualidade do envelhecimento da população. A partir de atividades simples de lazer, as pessoas idosas podem se manter ativas, retardando ou até mesmo, evitando diversas doenças. O trabalho tenta demonstrar que através da construção de espaços seguros e convidativos é possível proporcionar áreas de lazer aos idosos, integrando-os com a sociedade. Além disso, a cidade deve ser a produtora principal de espaços com desenho universal. Podendo criar na população a consciência da importância de projetos acessíveis. Foi primordial para a decisão do tema e do terreno saber onde residiam o maior número de idosos de Fortaleza. A partir dai, pode-se, através de analises do entorno criar um projeto que se comunicasse com a vizinhança e que trouxesse valorização a uma área entorno de patrimônio. 118

As pesquisas realizadas sobre o tema foram engrandecedoras, proporcionando conhecimentos principalmente sobre acessibilidade e desenho universal até então desconhecido por mim. Dessa forma, o trabalho exposto pretende atender aos idosos da região, mas também a população de todas as idades. A intenção é que seja convidativo a todos, para que haja a interação entre diferentes faixas etárias.


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Diagramação e rendering por Liana Leal Lima



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