Migracoes e outros deslocamentos na amazonia ocidental

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58 Luciana Marino do Nascimento

[...] Os alemães continuavam a dominar a Polônia. Aí, ficaram quatro anos, até conseguirmos nossa independência. Neste período as crianças judias já podiam frequentar as escolas mistas, porque os alemães tinham abolido a proibição e a discriminação. Mesmo assim, o anti-semitismo continuava e éramos sempre vítimas de insultos e ameaças. (KNOPF, 1978, p. 21 e 26)

De acordo com Perrone-Moisés, “a literatura nasce de uma dupla falta: uma falta sentida no mundo, que se pretende suprir pela linguagem”, (2006, p. 103) e, nesse sentido, podemos observar que na escrita memorialística, a linguagem torna-se oportunidade para que o sujeito transborde uma falta, sem dar conta de uma vivência na sua totalidade: Um homem para evocar seu próprio passado, tem frequentemente necessidade de fazer apelo às lembranças dos outros. [...] Não é menos verdade que não nos lembramos senão do que vimos, fizemos, sentimos, pensamos num momento do tempo, isto é, que nossa memória não se confunde com a dos outros. Ela é limitada muito estreitamente no espaço e no tempo. A memória coletiva o é também: mas esses limites não são os mesmos. Eles podem ser mais restritos, bem mais remotos também. A lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e, além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada. (HALBWACHS, 1990, p. 54 e 71)

Ao chegar ao Rio de Janeiro, Sally Knopf produziu o Brasil como paraíso natural, onde convivia a possibilidade de dias melhores, mas ao mesmo tempo, era o lócus da incerteza e do desconhecido: Ao entrar na Baía de Guanabara senti-me emocionada com a visão daquela cidade imensa banhada pelo sol e por um mar azul. Foi como se eu tivesse nascido naquela hora. Senti um bem-estar de liberdade. Nunca mais ouviria a palavra “judia suja’. [...] Ao ver aquela gente queimada de sol, disse para comigo mesma: é um povo feliz. Só pode ser feliz quem mora num país como este, com um sol tão lindo! Por um segundo pensei na Polônia que eu tinha deixado tão longe e que, naquela mesma época estava coberta de neve. [...] Fiquei apreensiva. Que fazer e para onde ir? [...] Pareceu-me tão difícil que pensei nunca chegar a compreender o português. (KNOPF, 1978, p. 31)


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