Contato Imediato

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Contato Imediato

Elle S.

- Sente-se aqui, Thomas. Ele sentou-se no pequeno tronco na frente dela e fechou os olhos já antecipando a dor que sentiria. Ela passou o algodão por cima de seu corte, com todo o cuidado e ele gemeu baixo, rangendo os dentes numa tentativa de segurar qualquer demonstração de dor. Ele era bem capaz de arrancar a mão dela a dentadas, mas não fez isso. Simplesmente ficou lá rangendo os dentes enquanto ela começava a dar alguns pontos em seu supercílio, com todo o cuidado. Thomas apertava as beiradas do tronco com força, mas não soltou mais nenhuma interjeição que pudesse ser considerada de dor. Ele não queria parecer fraco diante de nós. Mais uma mostra do quão convencido ele podia ser. - Quer ajuda com essa fogueira? - Harold me perguntou, sentando-se ao meu lado e separando alguns dos gravetos que estavam mais molhados sem nem ao menos esperar minha resposta. Ergui os olhos para ele, que me olhou intensamente com os mesmos olhos chocolates e dessa vez fora diferente. Os olhos de Harold eram mais doces, mais como chocolate mesmo. Se fossemos comparar realmente os olhos de Harold e Thomas a chocolates, os de Thomas seriam algo como chocolate amargo. Aqueles que a gente adora comer, mas que dá uma vontade absurda de beber água depois. Os de Harold seriam o chocolate ao leite. Doces, suave e que derretem facilmente. Sorri para Harold não sabendo o que falar a ele e lancei um olhar para onde Adelle e Thomas estavam. Ele já estava com um grande curativo na sobrancelha e no momento ela dava dolorosos pontos no corte que ele tinha no braço, já limpo devidamente por Adelle. Meus olhos foram atraídos pelas grandes orbes chocolates de Thomas como se estes possuíssem imas. Ele me olhou de volta tão fixamente que era como se ele pudesse ler qualquer coisa que eu estava pensando, como se ele conhecesse o que havia dentro de mim. Ou talvez, como outra coisa. Como se ele quisesse se comunicar comigo pela minha mente. Abaixei a cabeça, me virando novamente para os galhos no chão à minha frente tentando desesperadamente quebrar aquele contato. Thomas conseguia nublar minha mente sempre tão racional. Em anos ninguém nunca tivera o poder de me desarmar apenas com o olhar. E Thomas conseguia isso. Ele parecia poder ler meus pensamentos, apenas fixando os olhos dele nos meus, era como se ele soubesse exatamente o que se passava pela minha cabeça. Soubesse o que eu precisava, o que eu queria. Irritada com o mixer de sensação que vinha em minha mente quando nossos olhos se encontravam, virei para Harold que também me encarava, dessa vez de uma maneira menos intensa do que Thomas encarava normalmente. Harold sorria para mim com uma expressão divertida no rosto, virou-se para Thomas em seguida, deu uma risadinha e continuou a separar os galhos. Continuei mexendo nos galhos sem realmente vê-los até Harold rir um pouquinho mais alto. Virei-me para ele com minha raiva contida e perguntei entre os dentes: - Qual o problema com ele, hein? - Está molhado. - Harold respondeu erguendo o graveto que ele iria separar, achando que eu estava falando sobre isso. Mas logo percebeu o real assunto. Achei na verdade que ele só estava tentando ganhar tempo antes de dizer o

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