Este trabalho objetiva discutir os interstícios presentes nos discursos elaborados pela imprensa e pelo poder público acerca da cidade de Belém, na virada do século XIX para o XX, período em que a cidade viveu sob os impactos do incremento da economia de exportação da borracha.Nesse sentido, com fulcro nos pressupostos da história social, privilegia-se a análise dos discursos formulados pelos jornais diários belenenses e pela legislação municipal acerca de trabalhadores pobres e moradores de cortiços, estâncias, vilas e fréges; contrapondo-se os sentidos dessas formulações intelectivas e práticas políticas decorrentes, às marcas e signos deixados por tais moradores em fotografias, ocorrências policiais e processos criminais. Ao final, conclui-se que a cidade não constituía um mosaico de espaços sociais geograficamente afastados entre si, mas era em verdade, um tecido social flúido, emaranhado por múltiplas territorialidades e vivências, que co-existiam na capital paraora.