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VICTOR MELO
VICTOR MELO
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Chegamos a mais um fim de ano. Tenho a felicidade e honra de escrever o último post de 2021 de nosso blog História(s) do Sport. Estamos no ar desde meados de 2012, há quase 10 anos, portanto. Nesse tempo, foram mais de 680 publicações, tratando dos assuntos mais diversos, escritas por mais de 35 autores, colegas que merecem toda gratidão, sem os quais não teríamos alcançado esse belo resultado. Já recebemos mais de 580.000 acessos, oriundos de 155 países. Uma alegria! Em geral, meus posts são oriundos dos projetos de pesquisa que estou desenvolvendo. Neste, contudo, sem me descolar totalmente desse procedimento, preferi fazer uma reflexão sobre um assunto que me encanta: a constituição de uma história social do esporte. Não tem a pretensão de ser um artigo ou algo muito aprofundado. Trata-se de um breve olhar.
João Havelange, Maria Lenk e Abrahão Saliture – duas gerações de nadadores brasileiros. Gênero, etarismo e imigração (os três eram oriundos de famílias de estrangeiros) são assuntos possíveis de serem abordados a partir da História Social. Imagens disponíveis em O Jornal, 3 abr. 1936, p. 15 e A Noite, 6 abr. 1936, p. 16.
A História do Esporte – um campo de investigação, uma subdisciplina da História – é filha da História Cultural. Foi a ênfase nas práticas e representações que estimulou e em certa medida legitimou uma atenção mais denotada dedicada ás diversas práticas corporais institucionalizadas que se conformaram no decorrer do tempo. São inegáveis as contribuições dessa proposta metodológica para a História do Esporte. Nunca me pareceu, contudo, prudente ficarmos apenas nesse terreno, algo que, ainda que não exclusivamente, no meu ponto de vista, tem levado a uma repetição de olhares e conclusões, mesmo que os temas variem. Os olhares da História Social podem ser alvissareiros para pensarmos a sequência do processo de consolidação da História do Esporte. Do que se trataria tal método? Para resumir um debate profícuo no
âmbito da Historiografia, vou ter em conta um artigo que gosto muito, escrito por meu estimado colega José Assunção (“A História Social: seus significados e seus caminhos”, acesse ele aqui), que lembra as notáveis influências tanto das Escola dos Annales quanto dos marxistas na definição dos rumos e delineamento das propostas da História Social.
À esquerda, imagem de 1914, Clube de Regatas Jardinense, formado por operários ligados à Fábrica Corcovado. À direita, imagem de 1896, Clube de Regatas do Flamengo, formado por gente de estratos médios e altos. Classe social e industrialização são também assuntos que podem ser abordados a partir da História Social do Esporte. Imagens disponíveis em Careta, 24 já. 1914, p. 35 e https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Clube_de_Regatas_do_Flamengo

Podemos usar o termo para fazer referência a uma abordagem específica que procura dar conta da materialidade das mais distintas relações sociais. Assim, há que se atentar ao que tange tanto às tensões e alianças entre grupos quanto à articulação dessa movimentação com os aspectos econômicos. Obviamente que, como estamos tratando de conflitos e disputas, as questões políticas também merecem atenção. Até mesmo por essa amplitude, uma segunda acepção do termo é a que considera a História Social como uma abordagem que engloba e articula todas as outras, uma espécie de projeto de história total. Para o colega Assunção, se tivermos em conta a ideia de que a História Social é uma abordagem específica, os objetos mais evidentes são: “os modos e mecanismos de organização social, as classes sociais e outros tipos de argumentos, as relações sociais (entre esses grupos e entre indivíduos no seu interior) e por fim os processos de transformação da sociedade”. Perceba-se como isso nos aproxima ainda mais do tema “esporte”, especialmente em função do associativismo ser uma marca central na estruturação do campo.

À esquerda, Luiz Simões Villas-Boas, presidente do Ciclo Suburbano Clube, agremiação ciclística de Madureira que nos jornais, entre outras coisas, era reconhecida por ter atletas “coloureds”. À direita, imagem da equipe em 1938. As questões raciais são outro tema de grande importância que pode ser abordado a partir da História Social. Imagens disponíveis em Jornal do Brasil, 16 jun. 1934, p. 22 e Sport Ilustrado, 5 out. 1938, p. 28.
Além disso, aproximaria o tema da História Social sua articulação com os mais diversos processos, como infere o colega Assunção uma noção que se refere à industrialização, modernização, urbanização, colonização, entre outras. Poder-se-ia argumentar que muitos são os assuntos que se articulam com essas ocorrências. É verdade. Mas também o é a importância desempenhada nesses cenários pelo esporte, por ser tão relevante e presente na construção do ideário, imaginário e experiências da modernidade, no forjar desse mundo que começa a se delinear no século XVIII e segue em constituição até os dias atuais. Tenho sempre argumentado que o esporte é um excelente fenômeno para discutirmos os mais diversos temas num certo tempo e espaço. Ao seu redor, podemos ver os mais diversos grupos sociais em movimento – desvendando as dinâmicas inter e intra grupos, acessando-os em seu cotidiano, percebendo como no dia a dia se manifestam as questões econômicas, políticas e culturais. Percebamos a peculiaridade – enquanto abordagem específica o que desejamos com a História Social é discutir como esses aspectos incidem na vida concreta e materializada dos mais diversos coletivos, interferem na sua composição, nos seus conflitos, nas suas alianças.

Selos portugueses representando o cricket e o golfe, duas modalidades esportivas importantes em uma de suas colônias/províncias ultramarinas, Cabo Verde. A História Social também pode nos permitir lançar olhares para os processos de colonização. Série Postal “Modalidades Desportivas” (1962).
Ao mesmo tempo em que deveríamos seguir na busca por uma história social do esporte a partir dessa ideia de abordagem específica, por que abrir mão de pensar uma história social do esporte que busque de forma mais ambiciosa uma visão mais total, mais sintética de todas as abordagens? Aqui gostaria de chamar a atenção para as potencialidades de estabelecimento de diálogos disciplinares. Trata-se de algo que particularmente aprecio e que tem me permitido lançar olhares distintos para o tema. Recentemente, tem me parecido muito produtivo dialogar com a Arqueologia, ressaltando a importância da cultura material, e notadamente com a Geografia, com a qual tenho transitado mais amiúde, atento à relevância nem sempre suficientemente abordada da espacialidade na conformação do fenômeno e do campo esportivo.

Time de voleibol que disputou torneio promovido pelo Atlàntico Club (de Copacabana). Recentemente, o mundo do voleibol brasileiro foi sacudido por diversos conflitos e debates relacionados à orientação sexual de atletas, outro tema relevante que pode ser abordado a partir da História Social. Imagem disponível em Beira-Mar, 22 jan. 1927, p. 2.
Por fim, recupero mais um debate entabulado pelo colega Assunção, a ideia de que nem toda história é necessariamente social. Como ele escreveu: “Se é possível elaborar uma História Social das Ideias ou uma História Social da Arte, é também possível elaborar uma História das Ideias ou uma História da Arte que se restrinjam a discutir obras do pensamento ou da criação artística sem reestruturá-las dentro de seu ambiente social mais amplo”. Aqui recupero um debate que já entabulei algumas vezes, o que chamo de “duplo compromisso da história do esporte”: aquele que tem em conta suas potenciais contribuições para o entendimento da prática em si e aquele que encara o fenômeno como indicador de determinados temas a serem discutidos no tempo e no espaço. As duas abordagens são relevantes e merecem nossos esforços de investigação, inclusive porque podem ser mais ou menos úteis para os interesses distintos dos envolvidos com o campo.
À esquerda, sede do Fluminense Yacht Club, atual Iate Clube do Rio de Janeiro, início dos anos 1940. À direita, sede do Carioca Iate Clube, 1946. Um dos clubes se encontra numa praia da Zona Sul que foi aterrada e pela agremiação ocupada e fechada para o acesso do grande público. O outro se instalou na Praia de Ramos, subúrbio do Rio de Janeiro, quando ainda era um lugar bucólico. A urbanização é um dos assuntos mais importantes que podemos tratar a partir da abordagem da História Social.
Para além disso, obviamente que não foi intuito desta breve reflexão desautorizar ou desestimular esforços ligados à História Cultural, Política ou Econômica do Esporte (notadamente dessa última que ainda parece

nossa maior deficiência). Trata-se apenas de chamar a atenção para as possibilidades de aprofundamento dos diálogos e utilização da História Social nas suas duas acepções. A meu ver, deve continuar sendo incessante a busca por uma história social do esporte. Um 2022 muito supimpa para todos nós! Mais do que nunca, que seja um ano marcado pela retomada do sonho, da esperança, da utopia.
PARAIBANENSE VAI DISPUTAR A 96ª CORRIDA DE SÃO SILVESTRE-SP ESTAMPANDO O NOME DA CIDADE NO UNIFORME
LEO LASAN Paraibano News — Publicações | Facebook
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Wener Sandro de Sá Soares disputará pela quarta vez a maior competição de corrida de rua da América Latina sempre levando o nome de Paraibano como singela homenagem à cidade natal. Wener de Sá, 45 anos, é natural de Paraibano-MA. e apaixonado por esportes desde criança, quando jogava nos campinhos de terra na cidade. A família mudou-se para São Paulo há anos, e lá Wener fez teste para jogador de futebol profissional na base do Corinthians em 1988 e 1993. O amor pelos esportes sempre esteve no sangue desde quando corria da cidade para o Baixão do Gongó, manguezal localizado no começo da serra da Cana-Brava e depois voltava lambuzado de fiapos de manga para tomar banho no açude de baixo lá perto da antiga Lavanderia. Dizem que quem come manga do Gongó sempre volta à Paraibano... Ele diz que vai voltar. Mas esse gosto pela fruta foi demonstrada com maior paixão em 2017 quando levou estampado no seu uniforme de corredor da São Silvestre, uma placa com o nome de Paraibano e as cores da Escola de Samba da Mangueira do Rio de Janeiro- “Eu costumo dizer que fui criado debaixo de um pé de manga.” disse Wener para o Paraibanonews. É verdade a casa em Paraibano onde morou na infância, pertencia ao mestre pedreiro Cazuza (meu pai) e tinha um pé de manga rosa, no quintal. Wener é descendente da família Rodrigues de Sá Oliveira de Santana, do povoado Contendas município de São João dos Patos. Para ele a emoção em cada prova da São Silvestre é uma forma de homenagear os atletas do interior do Maranhão e neste ano na 96ª Corrida Internacional de São Silvestre espera melhorar sua participação na categoria acima de 40 anos e elevar o nome desses municípios para investimento no esporte. Em 2019, Wener ficou entre os 3 mil de sua faixa etária, lembrando que foram inscritos mais de 30 mil corredores. Em 2020 devido a pandemia de Covid-19 a corrida foi cancelada, retornando esse ano de 2021 com todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde. A Corrida de São Silvestre é considerada um dos principais eventos de corrida de rua da América Latina e, em 2019, atingiu novamente o seu limite de 35 mil participantes, confirmando a sua força no calendário nacional. O evento fechará o ano esportivo e reunirá atletas de todo o país – e também do exterior. Pela frente, o desafio de 15 km por ruas e avenidas da capital paulista. A largada será na Avenida Paulista, altura da Rua Frei Caneca, com chegada em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero. Wener Sá, retirou seu kit de corrida ontem, segunda-feira, 27, e fez questão de enviar fotos comprovando o nome de Paraibano na camiseta. No dia da prova 31 de dezembro, sexta-feira, Wener pede a nossa torcida maranhense vibrações para que melhore ainda mais a sua marca na maior corrida de rua do continente, levando o nome do Maranhão cada vez mais longe no esporte. Reportagem Leo Lasan-Paraibanonews. Nesta sexta-feira, o Paraibanonews estará publicando mais detalhes da história desse Contador e Advogado, que não esquece suas raízes e nos honra ao lembrar de nossa cidade.

