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ETNOGRAFIA

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tema condenatório, epigramas deste teor: Siquis dixerit hominem transientem per viam faciendo pum, pum-pum, vel terrum-tum-tum, cagator non esse anathema sit. Siquis dixerît puelam calcamtem chanelam, saiotem marelum, retro respiciens, si feceritis ilam, psiu, psiu, meretricem non esse, anathema sit. Diz a anedota que o marquês de Pombal, em visita à indumentária litúrgica da Patriarcal, foi assediado por um sacristão pernóstico, que na ânsia de multiplicar serviços ia explicando: isto é uma casula, isto é uma dalmática, isto é, é, é...... Pombal, conhecedor, como era, do assunto e aborrecido com a seca do ignaro cicerone, soltou retumbantemente os gases abdominais represados, acrescentando: e isto é um peido. Talvez alguém estranhe o emprego das palavras malcheirosas e menos protocolares acima escritas, mas elas aparecem nos clássicos fidalgáceos, como é, por exemplo, O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, e Filinto Elísio abona-se no emprego que faz delas com a autoridade de La Fontaine (418). E, já que estamos com a mão na massa, vá de aditar mais o seguinte, dada a importância que seu protagonista e colegas — pulga e carrapato — têm na lenda e cancioneiro popular. O piolho goza de imerecida reputação de ascoroso, quando, afinal, tem merecido carinhosos afectos a celebridades mundiais. Do imperador Juliano, «o Apóstata» (361-363), que possuía muitas qualidades boas, diz Cantu (419): «na sua comprida barba abrigavam-se hóspedes que ele não queria incomodar». Ou, então, como escreve Misopogon (420), «deixei crescer esta barba espessa para abrigar os insectos que nela travam batalhas entre si, como em uma jaula de feras». O famoso general grego Aristides, arrancando do peito o piolho que lhe mordia, quando sacrificava aos deuses e exclamando: o inimigo mata-se mesmo sobre a ara do altar, não cultivava menos os insectos julianos. O feroz Sila, aborrecido pelas impertinências dos que estranhavam tão sanguinárias proscrições, contou-lhes um dia no senado a seguinte alegoria: «Um homem, atormentado de comichão, tirou o fato e matou a bicharia, que lhe caiu na mão; como ela de novo se pôs a mordê-lo, matou muita mais do que da primeira vez. Sentindo por fim uma comichão ainda mais forte, lançou no fogo com seu vestuário todos os insectos incómodos. Acautelai-vos para que vos não suceda outro tanto» (421). (418) (419) (420) (421)

NASCIMENTO, Francisco Manuel — Fábulas escolhidas..., tomo I, p. 61 e 193. CANTU — História Universal, vol. IV, p. 30. Ibidem. Ibidem, vol. II, p. 303.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS

DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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