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Edição:


BRAGANÇA

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA ou Repositório amplo de notícias corográficas, hidro-orográficas, geológicas, mineralógicas, hidrológicas, biobibliográficas, heráldicas, etimológicas, industriais e estatísticas interessantes tanto à história profana como eclesiástica do distrito de Bragança

OS NOTÁVEIS

POR

FRANCISCO MANUEL ALVES, ABADE DE BAÇAL

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TÍTULO: MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA TOMO VII - OS NOTÁVEIS AUTOR: FRANCISCO MANUEL ALVES, ABADE DE BAÇAL COORDENAÇÃO GERAL DA EDIÇÃO: GASPAR MARTINS PEREIRA REVISÃO DESTE VOLUME: MARIA DA CONCEIÇÃO MEIRELES PEREIRA UNIFORMIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: MARIA SARMENTO DE CASTRO EDIÇÃO: CÂMARA MUNICIPAL DE BRAGANÇA/INSTITUTO PORTUGUÊS DE MUSEUS – MUSEU DO ABADE DE BAÇAL EXECUÇÃO GRÁFICA: RAINHO & NEVES, LDA./SANTA MARIA DA FEIRA ISBN: 972-95125-8-2 DEPÓSITO LEGAL: 152080/00 OBRA CO-FINANCIADA PELO PRONORTE, SUBPROGRAMA C JUNHO DE 2000


INTRODUÇÃO MARIA DA CONCEIÇÃO MEIRELES PEREIRA No volume dedicado aos Notáveis, o Abade de Baçal compilou referências biográficas e bibliográficas (impressos e manuscritos) dos mais ilustres e destacados naturais do distrito de Bragança, e daqueles que, tendo outras proveniências geográficas, na região exerceram alguma actividade de relevo ou sobre ela produziram algum tipo de estudo. Esta resenha abarca um longo período cronológico, desde os finais da Idade Média à contemporaneidade, reportando-se a maioria dos registos a esta última e à epoca moderna, como facilmente se compreende. Os Notáveis englobam assim uma grande variedade de indivíduos, aristocratas e artistas, militares e eclesiásticos, membros das profissões liberais e escritores, políticos e cientistas, santos e empresários. De uma forma geral, são as elites locais que predominam neste volume que é simultaneamente um dicionário dos brigantinos ilustres e um repositório de informes de carácter histórico, bibliográfico, patrimonial, económico, político, científico, eclesiástico, heráldico-genealógico, etnográfico, e até anedótico. A incidência bio-bibliográfica prepondera nesta obra cuja maioria das entradas, ordenadas por ordem alfabética, remete para o nome dos biografados; todavia, as entradas onomásticas alternam pontualmente com outras de índole temática (exemplos: deputados, governadores civis, governadores das armas, seda). Esta vertente torna-se ainda mais nítida no Suplemento que, além de acrescentar informações omissas nas entradas da 1ª parte e incluir outras de tipo onomástico, recorre com alguma frequência a extensas entradas temáticas (exemplos: Grande Guerra, judeus, manuscritos) e toponímicas que permitem ao autor abordar os mais variados assuntos. A preocupação dominante parece ser a acumulação de informação, alcançada através de uma pluralidade de fontes escritas mas também orais, secundarizando-se o suporte metodológico.


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INTRODUÇÃO

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Assim, não surpreende que neste «caldeirão» informativo sejam constantes as remissões aos volumes anteriores e, por outro lado, o leitor que consultar Os Notáveis deve fazer tentativas sucessivas e cruzadas no sentido de encontrar respostas mais satisfatórias para a sua pesquisa. À fragilidade metodológica na selecção das entradas, aliam-se outras: na mesma entrada são abordados assuntos muito diversos, raramente bem articulados sob os pontos de vista temático e cronológico; proliferam transcrições, frequentemente longas, de textos de natureza variada; certos assuntos são largamente tratados a par de outros parcamente mencionados. A objectividade na apresentação de determinados temas e a neutralidade no seu tratamento são prejudicadas por recorrentes juízos de valor pois o autor não se coíbe de opinar ora sobre indivíduos que conhece pessoalmente, ora sobre questões em que tomou parte mais ou menos activa. Paralelamente, transparece a sua ideologia monárquico-clerical, abertamente anti-republicana. Tendo em consideração a abordagem de temas tão heterogéneos plasmada numa obra que pretende ser um dicionário bio-bibliográfico e uma enciclopédia, embora limitada, de temas históricos regionais, apresentar uma bibliografia adequada torna-se tarefa complicada. Há uma panóplia de dicionários e enciclopédias nacionais que são necessariamente instrumentos complementares e de actualização de Os Notáveis do Abade de Baçal. Seguindo o enfoque regional, deve referir-se a obra de Barroso da Fonte, Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses, Guimarães, 1998. Algumas achegas bibliográficas sobre a região são fornecidas nas recolhas de Nuno Canavez, Subsídios para uma bibliografia sobre Trás-os-Montes e Alto Douro, Porto, 1994 e de Hirondino da Paixão Fernandes, Bibliografia do Distrito de Bragança, 1993. As sugestões seguintes remetem fundamentalmente para o âmbito de metodologias sectoriais. No tocante ao estudo específico da biografia podem referir-se as obras: Daniel Madelénat, La Biographie, Paris, 1984; Jean Pennef, La Méthode Biographique, Paris, 1990; Problèmes et méthodes de la Biographie – Actes du Colloque, Paris, Publications de la Sorbonne, 1985; ou ainda Prosopographie des élites françaises (XVIe-XXe siècles) – Guide de recherche, Paris, CNRS, 1980. Já para a história das elites pontificam algumas colectâneas de estudos como a encabeçada por Guy ChaussinandNogaret, Histoire des élites en France du XVIe au XXe siècle, Paris, Tallandier, 1991, ou ainda a dirigida por Jürgen Kocka, Les Bourgeoisies Européennes au XIXeme siècle, Eds. Belin, 1996. Para a metodologia da história oral, podem avançar-se duas obras: Philippe Joutard, Ces voix qui nous viennent du passé, Paris, Hachette, 1983, e Paul Thompson, The voice of the past. Oral history, 2ª ed., Oxford, Oxford University Press, 1992.

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AOS EX.MOS SNRS.

DR. ANTÓNIO AUGUSTO PIRES QUINTELA DR. ANTÓNIO FRANCISCO DE MENEZES CORDEIRO JOSÉ ANTÓNIO FURTADO MONTANHA DR. JOSÉ VAZ DE SOUSA PEREIRA PINTO GUEDES BACELAR DR. RAUL MANUEL TEIXEIRA DR. VÍTOR MARIA TEIXEIRA

O. D. C. O AUTOR

PADRE FRANCISCO MANUEL ALVES


PREÂMBULO Apesar de ser incontestável a mediocridade da obra que não desperta o escoucinhar dos zoilos, contudo é mister grã coragem para voltar já com outro volume, sem primeiro rir com as diatribes contra Os Fidalgos, soltas pelo sr. V., porque lhe truncamos a ascendência e apenas consagramos três linhas à sua pessoa em vez de cinco, pelo menos, por tantas havermos dedicado à irmã e marido; para tomar a sério as objurgatórias esvurmadas pelo sr. L., por mencionarmos a irmã morganática como sobrinha de um homem categorizado socialmente, em vez de lhe apontar o pai, que, apesar de bom homem, não atingia aquela craveira; para levar com paciência os constantes remoques do sr. C., incansável em salientar, com ar compassivo, o dislate de darmos dois irmãos, ou coisa parecida, casados um com outro, no intuito inconfessável de exautorar factos menos agradáveis que apresentamos, adindo-lhe, de passo, um ou outro equívoco em apontarmos como solteiro um viúvo, um jurista como formado em medicina e coisas semelhantes; para sofrermos as impertinências do sr. A., todo abespinhado porque lhe omitimos a sua árvore de costado. E então a chiadeira dos altos empregados públicos, tanto civis como militares; dos filhos das casas ricas, por não verem memorada a sua ascendência!?... Parvajolas! Ignoram que esses cargos nem sempre representam fidalguia e até nem mesmo competência mental e moral; desconhecem o prolóquio de mamonae iniquitatis. De maneira que a irritar-se não foram só os zoilos e os pseudo-aristarcos, incapazes de coisa alguma profícua, que, azedos, abocanham quem trabalha, procurando ávidos defeitos – como se pudesse haver obra humana sem eles – onde extravasar a bílis que os corrói; agregaram-se-lhe também os que se julgavam com direitos nobiliárquicos, os que lhes desagradou uma ou outra ponta do véu ancestral posto a descoberto, que, feridos nas suas prosápias, avolumaram pequenas faltas, inevitáveis aliás em obras destas –


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quando que bonus Humerus dornnital – para desafrontar os caros penates gravemente ofendidos, por não mencionarmos todas as donas Felizardas e Joãozinhos genealógicos. «Mais vale cuidar seriamente em alguma coisa, embora resulte medíocre, do que sonhar eternamente com a perfeição». Não estava mal governada a nossa vida se os atendêssemos! Como os descendentes de um casal aos duzentos anos podem orçar por seis mil e no livro tratamos de mais de setecentas famílias, algumas de quatrocentos e quinhentos anos de antiguidade, nada menos que seis mil a doze mil volumes, iguais ao que escrevemos, eram precisos para os contentar a todos, sob condição, porém, de não exceder as cinco linhas para cada um que o sr. V. achava indispensáveis. Ingratatões! Tirámo-los do esquecimento, descobrimos no pó dos arquivos quantidade enorme de documentos inéditos, que eles ignoravam, reconstituímos-lhes a genealogia, percorremos o distrito de Bragança de rés a lés em todos os sentidos à cata de notícias, revolvendo pedregulhos, montanhas, vales, planícies e locais assinalados por civilizações extintas; escrevemos quinhentas e tal cartas a pedir informações e... pagam-nos intrigando, mexericando, agatanhando-nos escondidamente por trás das costas! Na verdade É grande trabalho Escrever de gerações! Nem todos são Cipiões, E podem cheirar ao alho Ricos homens e infanções. (1) Ingratatões! Ides ver como se vinga o plebeu chapado, que, fiel ao lema adoptado «a minha terra amei e a minha gente», segue impávido a peregrinação em que anda desde que se entende sem ouvir o coaxar das rãs no pélago. Cortava-nos os fios da alma quando víamos o Hagiológio Lusitano, o Ano Histórico, as crónicas monásticas, a Biblioteca Lusitana, o Dicionário Bibliográfico, o Dicionário Popular, a Enciclopédia Portuguesa e outras obras da especialidade tão escassas em notícias referentes a trasmontanos, em contraposição às das outras províncias, além de erróneas muitas vezes, e indignavamo-nos quando víamos homens como Camilo Castelo Branco dizer mal das nossas coisas, desconhecendo-nos até como portugueses (2)! Perdíamos a paciência quando os altos dignatários eclesiásticos e burocráticos que o poder central para aqui nos exporta cheios de pruridos inova(1) MIRANDA, Sá de – Poesias, p. 524. (2) CASTELO BRANCO, Camilo – Agostinho de Ceuta, 2.ª edição, e A queda de um Anjo.

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dores, como se isto de Trás-os-Montes, a julgar pelo nome, tivesse algo de sertão africano, a preconizar novos processos de formação espiritual, de que nem sequer fazíamos ideia, gemiam eles; novinhos métodos de piedade amaneiradinha; novas teorias de fomento económico-agrícolo-social, sem primeiro curarem de os modelar pela feição étnica regional, dando em resultado ficarmos pior que dantes. Daqui o génesis deste volume. A nada nos poupámos para que fosse completo, e se mais o não é, a culpa provém dos biografados, a quem pedimos informações, escrevendo passante de seiscentas cartas, chegando a dizer, por último, aos renitentes: «Por amor de Deus, ou pelo amor ao nosso distrito de Bragança ou por comiseração e caridade para com um pobre velho, regionalista crónico, que está gastando em correspondência o que tanto precisa para mantença da vida – não direi por dever de cortesia – faça favor, pela boa memória dos seus maiores, pela saúde e prosperidade sua e de quem mais deseja, de responder às minhas cartas, fornecendo-me as informações que peço». Pois nem assim instados responderam alguns, e outros prometeram informes que nunca mandaram! Por modéstia sincera? Não; antes pelo orgulho requintado dos que, julgando-se super-homens, entendem que a sua memória gira pelos quatro cantos do universo, esquecendo que, mesmo neste caso, os tratadistas procuram obter notícias inéditas pessoais; esquecendo as boas praxes que impõem uma resposta, mesmo às cartas dos humildes. Por modéstia sincera? Não, repetimos; antes por essa falsa e enganosa modéstia característica dos orgulhosos de via reduzida, sem bases de sólido apoio. É que já o cronista escrevia em 1450: «De eu não saber perfeitamente a verdade das cousas tenho três razões para minha escusa...... a terceira é o pouco cuidado que alguns queriam ter em me dizerem as cousas que sabiam, e tais requeria eu que pero lhes mostrasse mandado de el-rei meu senhor não me faziam menos aguardar à sua porta, que se eu por ventura principalmente vivera por sua benfeitoria, outras vezes me davam suas escusas, alegando excusações as quais conhecidamente eram mais por tomarem semelhança de estado, que por nenhuma outra necessidade»(3). Pinheiro Chagas (4), em nossos dias, lamenta o mesmo abandono e diz que estas queixas são frequentes no seu Dicionário, no de Inocêncio Francisco da Silva e nos outros e frisa a circunstância de ver passar três vezes na sua obra, que levou oito anos a publicar-se, a oportunidade de mencionar a (3) AZURARA, Gomes – Crónica de el-rei D. João I, 1899-1900, (Biblioteca de Clássicos Portugueses; v. 10), p. 52. (4) CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular, artigo «Pereira de Melo (João de Fontes)».

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biografia desejada, tendo, por último, de a apontar incompleta, porque as informações pedidas nunca chegaram. No VI tomo destas Memórias tivemos nós de tratar em quatro locais de uma família à espera das informações prometidas, que afinal não vieram ou já não chegaram a tempo, mas apenas o livro entrou em circulação veio logo uma carta agridoce, apontando-nos o erro de dar uma senhora casada com seu tio, e de outros vieram censurixas idênticas, como a de dar por natural de Deus-me-dê-paciência um nado em Lá-iremos et reliqua ejusdem fusfuris. Foi nossa intenção mencionar os homens notáveis do distrito de Bragança, os que dele trataram ou nele se destacaram pela sua categoria social (bispos, governadores das armas, governadores civis, deputados, senadores, etc.), pela virtude, pelas letras, armas, artes, benemerência e mesmo pelo crime. Na secção «Letras» incluímos os fundadores de jornais, os que tinham publicado qualquer livro, embora pequeno, e não os de mera colaboração em periódicos, nem os de teses manuscritas ou dactilografadas. Não desconhecemos a diferença que há entre doutor e bacharel, mas damos a todos estes aquele título em harmonia com a voz pública que assim os menciona, estendendo-o também, pela mesma razão, aos diplomados pelas escolas médicas, agronómicas, veterinárias, superiores, etc., se é que não existe, ao contrário do que supomos, uma disposição legal que autoriza tal classificação. Os entendidos verão logo pelo contexto da respectiva biografia quais são os doutores na acepção primitiva do termo e quais os bacharéis, e nós ficamos assim dispensados de repetir esta palavra que nos soa mal e nunca seríamos capaz de a aplicar a alguns membros da classe que muito prezamos. Como os apontamentos aproveitados neste volume remontam alguns para além de quarenta anos, e muitos deles foram tomados só para nosso estudo particular, sem intenção de os publicar, é possível que apareçam plágios, crime de que pedimos perdão, pois nos falece tempo para fazer as devidas confrontações. Baçal, rua do Pacio, na cortinha pegada à minha casa de habitação, sentado num grande seixo que trouxe às costas desde Lamelas, termo de Rabal, a mais de três quilómetros de distância, encostado ao pombal, a fim de descansar um pouco do meio cento de pés de videira que já hoje espoldrei, para logo, em me aborrecendo de escrever, continuar na mesma labuta, enquanto o Prinze, filho adoptivo do saudoso Lafrau, dorme estirado na relva que cobre a sepultura do pai e a Muxeninha saltita, acompanhada de um filhinho, de videira em videira, e a Chibeca, desmentindo a voracidade do dente fatal às couves e à vinha, aguarda pacientemente que lhe dê ordem de retouçar as ervas daninhas, 27 de Outubro de 1930.

Padre Francisco Manuel Alves MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


ABREU

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A ABREU (Alípio Albano de) – Nasceu em Parâmio, concelho de Bragança, a 5 de Abril de 1890, filho de Manuel António de Abreu e de D. Carolina de Jesus Camelo, de Sambade, e aquele de Parâmio. Doutor em medicina pela Universidade do Porto, onde concluiu o curso em 1918 e o liceal na mesma cidade e em Bragança; subinspector de saúde do concelho de Bragança, onde reside, e director do Dispensário de Assistência Nacional aos Tuberculosos. Escreveu: Sífilis em Ginecologia (breves considerações). Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina do Porto. Tip. Central, Porto, 1919. 8.° de 83 págs. ABREU (Fr. Fernando de) – Natural do Porto, dominicano, sócio da Academia Real de História, consultor do Santo Ofício, desembargador da Relação Eclesiástica Patriarcal, deputado da Junta das Missões. Morreu em 8 de Março de 1727. Escreveu: Catálogo dos Bispos de Miranda. Lisboa, 1721, fólio. Saiu nas Memórias da Academia Real da História Portuguesa. A Academia Real de História encarregou de escrever a História do Bispado de Miranda a Frei Bartolomeu de Vasconcelos, em latim, e a Frei Fernando de Abreu, em português. Estes trabalhos não chegaram a publicar-se, diz Barbosa; apenas o primeiro autor publicou, como Contas dos seus estudos na Colecção de Documentos da Academia de História, tomo I, algumas bibliografias avulsas de bispos; e o segundo ibidem o Catálogo dos Bispos de Miranda (5). Estes trabalhos têm pouco valor (6). ABREU AFONSO (António Vicente de) – Oficial de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida quando do desastre em 1810 (7). AFONSO (Manuel) – De Formentãos, concelho de Bragança, entalhador, que em 1796 justou para fazer o retábulo do altar-mor de Santulhão, concelho do Vimioso, por 70$000 réis e oito alqueires de pão. O mesmo fez a

(5) Sumário da Biblioteca Lusitana, Lisboa, 1787. Frei Lucas de Santa Catarina, no Apêndice à 4.ª Parte da História de S. Domingos, diz que Frei Fernando não continuou esta obra por a morte o surpreender. (6) VASCONCELOS, José Leite de – Estudos de Filologia Mirandesa, vol. I, em nota à p. 135. (7) Ver tomo I, p. 166, destas Memórias Arqueológico-Históricas.

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urna (em que se guarda o Santíssimo Sacramento em Quinta-Feira Santa, quando há Endoenças) da igreja da Paradinha por 8$000 réis e em 1798 a de Santulhão por 12$000 réis (8). AGUIAR (Gonçalo de) – Mestre de obras que arrematou a reedificação da ponte do Caril e calçada contígua, junto a Freixo de Espada à Cinta. Eis o documento: «Eu el Rey faço saber a vos corregedor e provedor da comarca da Torre de Memcorvo, que avemdo respeito a ymformação que me emviastes acerca da licemça que os officiaes da camara da villa de Freixo de Espada Simta me emviarão pedir lhe comcedesse para poderem redeficar a pomte que esta yumto da dita villa que se chama do Caril, e h~ ua calçada que da dita pomte se comtinua, por o caminho estar muito trabalhoso, de maneira que se não pode passar por elle, e como polla dita ymformação consta que amdamdo a obra da dita pomte e calçada em pregão todo o tempo necessario, não ouve nenhum lanço menor que de hum comto cemto simcoenta mil rs, e que neste preço se rematou a dita obra a Gonçalo de Aguiar, mestre dobras, ey por bem… … Lixboa 22 de novembro de 1609». Este mesmo Gonçalo de Aguiar arrematou por 2500 cruzados a ponte sobre o rio na vila da Torre de Dona Chama, como se vê da provisão de el-rei D. Filipe III, de 4 de Janeiro de 1635, que manda lançar finta para esta ponte (9). AIRES (Rodrigo) – «Bedor» (inspector, mestre-de-obras?) das fortificações de Bragança pelos anos de 1508 (10). ALARCÃO (Rui de Figueiredo de) – Fronteiro-mor e governador das armas da província de Trás-os-Montes, no tempo da Guerra da Aclamação. Escreveu: Relação do sucesso que Rui de Figueiredo, fronteiro da raia de Trás-os-Montes, teve na entrada que fez no reino de Galiza. Lisboa, 1641. 8.° de 7 págs. É datado de Chaves aos 3 de Agosto. Segunda Relação verdadeira de alguns sucessos venturosos, que teve Rui de Figueiredo, fronteiro-mor da vila de Chaves, na entrada que fez e ordenou em

(8) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (9) VITERBO, Sousa – Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos… artigo «Aguiar (Gonçalo de)». (10) Ver tomo III, p. 160, destas Memórias.

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alguns lugares do reino de Galiza, nos últimos dias de Agosto, até se recolher à dita vila. Lisboa, 1641, 4.° de 8 págs. Nas duas últimas páginas deste vem uma curiosa lista dos lugares que os habitantes de Vinhais, juntamente com duas companhias de Moimenta, invadiram, arrasaram e queimaram no condado de Monterrei, tanto pela veiga de Chaves como pela parte de Montalegre, de Monforte e Vinhais. Os lugares queimados foram em número de cinquenta e três e eram povoados por três mil novecentos e noventa e cinco habitantes, muitos dos quais ficaram mortos. Terceira Relação do sucesso que teve Rui de Figueiredo de Alarcão, nas fronteiras de Chaves, Montalegre e Monforte, segunda-feira 9 de Setembro de 1641, de que é General e Fronteiro-mor, tirada da carta que escreveu a Sua Majestade. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs. Quarta Relação verdadeira da Vitória que o Fronteiro-mor de Trás-os-Montes, Rui de Figueiredo de Alarcão, ouve na sua fronteira, cinco léguas de Miranda, em Brandelhanes, terra de Castela. Lisboa, 1641. 4.° de 6 págs. Relação da insigne vitória que do castelhano alcançou em Brandillena o capitão-mor e superintendente das armas de Miranda, Pedro de Melo, em companhia do Fronteiro-mor Rui de Figueiredo aos 2 de Outubro. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs. inumeradas. Relação da insigne vitória que do castelhano alcançou em Brandillena o capitão-mor e superintendente das armas de Miranda, Pedro de Melo... aos 25 de Outubro. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs. inumeradas. Tratado das vitórias que alcançou Simão Pita de Ortigueira, governador dos Presídios de Moimenta, e Mofreita, à ordem do Fronteiro-mor Rui de Figueiredo de Alarcão, com uma Relação do assalto que deu António de Queirós Mascarenhas, capitão-mor da Vila de Valadares em alguns lugares da Galiza, até Abril deste ano de 1642. Lisboa, 1642. 4.° de 7 págs. inumeradas. Relação da vitória que o Conde de Atouguia, governador das armas na Província de Trás-os-Montes, teve na campanha de Chaves, contra os castelhanos. Lisboa, 1650. 4.° de 8 págs. (11) Relação das notícias que se tiveram das Províncias de Trás-os-Montes, e Alentejo, e Madrid. Publicada em 14 de Fevereiro. Lisboa, 1711. 4.° de 12 págs.

(11) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, artigo «Alarcão», e tomo XVIII, p. 175, 176, 177, 196 e 204. Ver também estas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, tomo I, p. 84, 90 e 92; tomo IV, p. 541, 542 e 544.

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Rui de Figueiredo de Alarcão era filho de Jorge de Figueiredo e de D. Maria da Silva. Casou com D. Maria de Meneses, filha de Pedro Álvares Cabral, senhor de Azurara, alcaide-mor de Belmonte, e de D. Leonor de Meneses. Rui de Alarcão, governador das armas da província de Trás-os-Montes, por ordem régia de 3 de Fevereiro de 1641, continuou em Chaves e Bragança, assim como nos lugares mais perigosos da raia, o levantamento das trincheiras, trabalho já começado pelo seu antecessor. Com ele vieram, ou já cá estavam, seus irmãos Henrique de Figueiredo, que teve o governo de Bragança, e Luís Gomes de Figueiredo. O que ele fez, como governador, pode ver-se nas Guerras da Aclamação de 1640. Em 1643 foi-lhe tirado o governo por injustas queixas que os povos faziam contra seus irmãos (12), mas voltou, segunda vez, como governador das armas da província de Trás-os-Montes em 1646. Foi durante este seu segundo governo que os espanhóis apanharam uma lição mestra no porto das Areias, no rio Sabor, por cima da ponte de Parada, onde Achim de Tamericurt caiu de improviso sobre o seu acampamento e o destroçou. A ousadia deste golpe de mão é um dos feitos mais importantes desta longa guerra nos nossos sítios (13). Durante algum tempo que este governador esteve em Lisboa ficou-o substituindo Francisco de Sampaio, governador da Torre de Moncorvo (14). Como se vê de Manuel Gomes de Lima Bezerra, Os Estrangeiros no Lima, tomo I, Diálogo 6, pág. 391, este Figueiredo não se fixou em Bragança nem aí fundou casa. Julgamos a propósito reunir aqui a bibliografia que, dum modo especial, diz respeito às Guerras da Aclamação no distrito de Bragança. Além do já mencionado, temos mais: Mercúrio português com as novas do mês de Outubro de 1663. Lisboa, 1663. 4.° de 19 págs. inumeradas. Contém: Relação da guerra que o conde de S. João, Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes fez por aquela Província em Galiza, até Castela-a-Velha, entrando, saqueando e destruindo por muitos dias, e muitas léguas de terra, mais de cento e setenta vilas e lugares do inimigo, sem lho impedir o exército de El-Rei de Castela, e socorro com que o mesmo conde passou logo ao Minho (15). Mercúrio português, do mês de Outubro do ano de 1664. Lisboa. 4.° de 12 págs. inumeradas. Além do mais, contém a relação «da grande, e notavel

(12) MENESES, D. Luís de – Portugal Restaurado, parte 1, livro VI, p. 372. (13) Ibidem, parte 1, livro IX. (14) Ibidem, livro X, p. 130. (15) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, tomo XVIII, p. 221, 223, 225 e 229.

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destruição, que o conde de S. João, governador das armas da Provincia de Traz-os-Montes, fez no reino de Galliza, entrando, e saqueando mais de trinta villas, e lugares, de que se tirarão despojos riquissimos, e ficou arruinada toda aquella parte». Mercúrio português, com as novas do mês de Novembro do ano de 1665. 4.° de 15 págs. inumeradas. Também menciona alguns sucessos que dizem respeito à província trasmontana. Compêndio panegírico da vida e acções de Luís Alvarez de Távora, conde de S. João, etc., escrito por D. Luís de Meneses, conde da Ericeira, etc. Lisboa, 1674. 4.° de 195 págs. Nesta obra se mencionam os feitos gloriosos que o conde de S. João praticou na província de Trás-os-Montes e distrito de Bragança (16). «Deão, Dignidades e Conegos do Cabido da Sé de Miranda, Eu El-Rey vos envio muito saudar. Tenho entendido, que Manoel Antunes de Paiva Conego nessa see escreveo em Dezembro passado a hum irmão seu Prior na cidade de Elvas, que em hum lugar desse bispado, a que chamão Milhão, ha hum menino, que sendo de idade de seis annos para sete nunca falou, e somente na ocazião de minha acclamação soltou a voz, e disse, com todos os mais, que vivesse El-Rey Dom João o 4.°. E ficou falando desde intão sem impedimento algum. E porque este caso he misterioso e digno de se justificar, vos encomendo e encarrego muito, que em recebendo esta, vos informeis particular e exatamente, se succedeo na forma referida, e fazendo de tudo hum auto de testemunhas com as solemnidades de direito, mo envieis, quanto antes for possivel, entendendo que volo aggradecerei muito; escripta em Lix.ª a 12 de Fevereiro de 1642. REY» (17). O cabido mandou proceder às diligências necessárias a 17 de Março de 1642, incumbindo delas o seu Provisor Vicente Lopes de Moura, cónego doutoral, o chantre Belchior de Macedo da Silva, licenciado, e o guardião do convento de S. Francisco de Bragança, Frei João da Purificação, e nomeando para escrivão do processo o padre Domingos Diegues. O menino chamava-se Francisco e tinha de idade quatro para cinco anos; era filho de Francisco Rodrigues, lavrador, por alcunha o Carrasqueiro, e de Isabel Rodrigues. O caso da exclamação sucedeu na véspera de Reis (5 de Janeiro) de 1641, uma ou duas horas depois de anoitecer, estando o menino com seu pai na cozinha, ao lume, e vindo sua mãe de fora disse (16) Ibidem, p. 221, 223, 225 e 229. (17) Carta original existente no Museu Regional de Bragança.

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para ela: Mãe, viva El Rei João. Nunca falara, e depois apenas repetiu estas palavras algumas vezes, mas poucas, e não dizia mais nada. No processo, além de várias testemunhas, incluindo os pais da criança, depuseram: António da Costa, licenciado, médico de Bragança, que declarou: visto ter vindo no dia 5 de Janeiro, em que o caso se deu, ao lugar de Milhão uma companhia de soldados soltando vivas a El-Rei D. João, que bem podia a criança «perceber e aprender as ditas palavras e naturalmente dizellas sem nisso aver milagre algum». Mas Melchior Pires Nunes, médico de Bragança, também inquirido, disse: «que não duvida que Deus Nosso Senhor quizesse que este menino manifestasse o bem e mercê que tinha feito a este Reino em lhe dar Rey e Senhor natural». Junto ao processo há outra carta de el-rei D. João agradecendo ao cabido a boa diligência no caso. A 22 de Setembro de 1667, Manuel de Azevedo da Nóbrega, abade de Meixedo, participava ao cabido de Miranda que no dia 12 desse mês, segundo lhe comunicara Domingos Pires, cura de Sacoias (então anexa de Meixedo e hoje de Baçal, concelho de Bragança), o sino da igreja tocara espontaneamente, caso, ao parecer, miraculoso e como tal digno de investigação. O cabido incumbiu o chantre Afonso de Morais Colmieiro e o doutor Martim Pegado, cónego magistral, de levantarem o respectivo auto, nomeando para escrivão o mestre (organista) António Aires Ferreira. Sebastião Centeno, de Roxas, confirmado de Baçal, testemunha inquirida no processo por estar na igreja de Sacoias assistindo a um ofício quando o toque se deu, além de confirmar o caso, afirmou «que se dezia que no principio da Feliz restauração deste Reino se tangerão os signos da mesma Igreja [de Sacoias] por si de que ouvio dizer se fizerão autos e tirarão testemunhas judicialmente pello Reverendo Vicente Lopez de Moura, Provisor deste Bispado e conego Doutoral da See de Miranda». Domingos Pires, cura de Sacoias, que também assistia ao ofício quando o sino tocou, além de asseverar a veracidade do facto, disse: «que dera volta á igreja e não vira pessoa, nem indicio algum de o toque não ser expontaneo; que não podia ser senão tanger o signo por si como já em outra hocasião no mez de maio ou junho, ou o que na verdade se achar, que constará dos autos que disso se tirarão feitos pello R.do Doutor Vicente Lopes de Moura, vindo elle testemunha com os homens Baltezar Gonçalves e João Pires, ambos do lugar de Gimonde, antes do meio dia pouco mais ou menos, o que na verdade se achar, e estando fazendo Oração ella testemunha ha porta travessa da dita igreja da Senhora e os sobreditos homes ha fresta da dita igreja, ouvira tocar o sino e se levantara logo e fora fallar com os ditos homes e lhe perguntara para que tangião, elles disserão que elles MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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não tangerão e forão todos tres perguntar ao home que estava de sentinella que hera Simão Rodrigues do dito lugar de Sacoias se sabia quem tangera o dito signo e elle dissera que não sabia quem; mas antes que mais vezes o ouvira tanger e não sabia quem. E do mais do tanger antigo se reportava ao que já tinha testemunhado» (18). Ver artigo «Manuscritos», Livro de Rezam do Padre Pascoal Ferreira. Porque de alguma forma se ligam com o assunto, damos aqui os seguintes documentos: «Corpo de Exercito de Operações de Portugal Soldados. Hides entrar em Portugal, em um paiz desgraçado, que soffrendo os horrores da guerra civil necessita do auxilio das Nações amigas; vossa missão é nobre; unidos os Hespanhoes e Portuguezes temos combatido pela independencia da Peninsula, juntos temos pelejado pela nossa Rainha, justo e generoso é que reunidos deffendamos o Throno Constitucional de D. Maria da Gloria. Conhecedor das virtudes do Exercito, e testemunha da vossa subordinação e distincto comportamento, tenho assegurado ao Governo de Sua Magestade que no Reino visinho vos fareis merecedores, como em Castella, do apreço e moderação, que em todos os tempos se tem tributado aos Soldados Hespanhoes. Soldados: tende em consideração o pacifico habitante, respeitae suas propriedades, pessoas e costumes, de modo que só vejam en nós seus amigos, seus irmãos. Fazei-o assim, e quando voltardes a pizar o solo hespanhol, deixareis em Portugal recordações gratas; seus filhos todos reconhecerão que seus melhores alliados são e serão sempre os Hespanhoes. Isto quer o Governo de Sua Magestade, isto convém á independencia de ambos os paizes, e o Exercito o fará porque assim cumpre ao seu dever, á sua honra e á sua gloria. Soldados: se a necessidade nos obrigar a fazer uso das armas, sêde generosos com os vencidos, e que a victoria, de que todos estamos seguros, se obtenha sempre ao grito de Viva a RAINHA! Quartel General de Zamora, aos 9 de Junho de 1847. Vosso General em Chefe. Manoel de la Concha.

(18) O processo existe no Museu Regional de Bragança, mas só o respeitante ao tanger do sino em 1667.

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(Esta proclamação do Ex.mo General Concha foi vertida do hespanhol). Typografia de Bragança. 1847» (19). As tropas espanholas do general Concha entraram em Bragança a 16 de Junho de 1847 (20). «Habitantes do districto de Bragança! Alguns centenares de portuguezes, infelizmente illudidos e rebeldes contra o Throno de nossa Adorada Rainha e Senhora D. Maria 2.ª, invadiram á pouco vossas habitações para estenderem a guerra civil, e a anarchia a um paiz jamais manchado com a nodoa de infedilidade a seus Augustos Soberanos; e para vos constrangerem a concorrer com as producções de vossas fadigas, e com vossos dinheiros, á causa iniqua em que seguem obstinados. Hoje porêm sois livres. Com as tropas leaes do digno Commando do Ex.mo e benemerito Barão de Vinhaes, Commandante interino da 5.ª Divisão Militar, eis-me outra vez entre vós, para libertar-vos do flagelo que vos opprimia, e para vos restituir a paz, o imperio da lei, e a segurança que vieis tão comprometida, de vossas pessoas e de vossas cousas. Habitantes do districto de Bragança, exultai! A guerra civil vai tocar seu termo com o triunfo completo da causa da legalidade e da ordem, e das instituições liberaes consignadas na Carta Constitucional da Monarchia. As forças navaes de Suas Magestades Britanica e Catholica fizeram já prisioneira a maior parte da tropa dos sublevados; e um respeitavel Corpo de Exercito hespanhol entra hoje por esta fronteira para coadjuvar as tropas leaes até á inteira submissão dos rebeldes ás Ordens da nossa Augusta Soberana. Habitantes do districto de Bragança! Continuai a permanecer tranquillos; abraçae como amigos e alliados os subditos da Nação hespanhola, que tão generosamente nos vem auxiliar a esmagar a hydra revolucionaria, e não desmintaes os nobres sentimentos e o caracter transmontano. Bragança, 11 de Junho de 1847. O Governador Civil – Francisco Xavier de Moraes Pinto» (21). «Habitantes do Districto de Bragança! Honrado por Sua Magestade com a nomeação, por mim nem sollicitada, nem merecida, de vosso Gover-

(19) Copiado de uma folha avulsa e impressa, pertencente a Júlio de Lemos, empregado da Câmara Municipal de Bragança. (20) Almanaque do Exército para 1895, p. 11. (21) Impressa em folha avulsa, sem indicar lugar de impressão nem tipografia, mas provavelmente Bragança, pertencente ao já mencionado Júlio de Lemos.

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nador Civil, eu venho ser entre vós, o interprete fiel, o executor leal e zeloso, das benevolas e maternaes intenções da mesma Augusta Senhora, e dos principios da ordem, legalidade, tolerancia, e reconciliação, proclamados, d’accordo com elles, pelo seu governo. Parco e difficil em promessas, porque pontual em cumprir o prometido, eu não pretendo captar simpathyas, nem seduzir credulidades, com os brilhantes atractivos de seductoras esperanças, e de pomposas promessas, tão faceis de proferir, como difficeis, senão impossiveis, de realizar; mas, emquanto vosso chefe administrativo, eu não faltarei ao que meu cargo, e a Lei, m’incumbem, estudando, propondo e promovendo, todos os melhoramentos realizaveis, em qualquer das fontes da vossa prosperidade. Habitantes do Districto de Bragança! a primeira, a mais instante necessidade, vossa, e de todos os Portuguezes, depois de tantos embates, e oscilações politicas, é a ordem, a segurança, e a tranquilidade; sem ordem não ha sociedade; sem sociedade e ordem, não ha nem segurança, nem tranquilidade; e sem tranquilidade, e segurança, não ha nem vida, nem propriedade! mas para que tudo isto exista, cumpre, e é indispensável, que as opiniões se tolerem; que os partidos se contenham, e se dispam do egoismo, do rancor, e intolerancia das facções; que as Leis sejam obedecidas; as authoridades respeitadas; e que os depositarios do Poder nem abusem, nem preveriquem. Eis o maior, o mais ardente desejo de nossa Augusta Soberana; eis o desejo mais saliente, e pronunciado de todos os seus Subditos, que nem especulam, nem medram, na desordem; eis o voto, e a politica do Govêrno; e por consequencia, eis o voto, e dever de todos os seus Delegados que não sabem trahir o amor á Patria, e a lealdade ao Throno. Habitantes do Districto de Bragança! conheceis já os meus principios, contae com sua fiel execução, bem como eu conto com vossa sisudez, subordinação, e amor ao Throno, e á Carta Constitucional. Ricos ou pobres, sabios ou ignorantes, achareis o vosso Governador Civil sempre prompto a receber-vos, e a ouvir-vos; sempre imparcial, e circumspecto; mas persistente e inexoravel, em reprimir e castigar, a desordem, a insubordinação, a violencia, o abuso, e a prevericação, aonde quer que se apresente: assim possa elle merecer as vossas bençãos, assim possa a sua administração dar-vos mais um motivo para poder dizer com enthusiasmo, e reconhecimento Viva Sua Magestade a nossa Augusta Rainha. Viva Sua Magestade El-Rei, seu Augusto Esposo. Viva sua Real Dynastia. Viva a Carta Constitucional da Monarchia. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Bragança, 3 de Dezembro de 1847. O Governador Civil Antonio Julio Taveira Pinto Pizarro. Typographia de Bragança. 1847» (22). ALBUQUERQUE (Francisco de Almeida Cardoso e) – Conselheiro, par do reino electivo por Viseu, deputado, director-geral das contribuições directas e ex-director-geral dos próprios nacionais, cargo que abandonou a seu pedido, e conde de Mangualde, doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso aos dezanove anos de idade. Nasceu em Mesquitela, concelho de Mangualde, e era filho do antigo juiz de fora e corregedor de Tomar, Tiago da Silva Albuquerque e Amaral. Faleceu em Mangualde a 26 de Junho de 1921. Foi agente do Ministério Público na comarca de Mangualde, cargo que abandonou para exercer o de administrador do concelho de Oliveira de Frades, de onde passou para o da Guarda; presidente da Câmara Municipal de Mangualde desde 1874 a 1878 e depois secretário-geral do governo civil dos distritos de Faro e de Santarém. Foi também governador civil do distrito de Castelo Branco, de onde, por decreto de 31 de Agosto de 1868, veio transferido para o de Bragança, e depois dos da Guarda, Viseu e Santarém. Foi este governador civil que em Bragança proibiu o antigo costume de sair em dia de Cinza a Morte, isto é, um homem mascarado, vestido de fato horrendo, com trejeitos funambulescos à pancadaria nos garotos que o seguiam com algazarras; divertimento tosco mas muito do agrado do povo bragançano. ALCOFORADO (Francisco Joaquim de Sousa) – Capitão de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida quando se deu o desastre em 1810 (23). ALMEIDA (António Caetano de) – Por alcunha o Retórico, em alusão ao seu muito saber. Morreu em Bragança, onde era professor do liceu, a 29 de Dezembro de 1865. Ignoramos as demais circunstâncias pessoais. Ainda hoje vive na lenda a sua memória aureolada de profundo saber e de não menos profunda excentricidade. A sua indumentária era esfarrapada e sebenta, virgem de consertos e de lavagens, mesmo a roupa branca, até que caía a pedaços, povoada de parasitas, que extraía dos sovacos e castigava quando exorbitavam mandibulamente, entre a unha e a mesa da cátedra – intra vestibulum et altare, na frase (22) Copiada de uma folha avulsa impressa, pertencente a Júlio de Lemos, empregado da Câmara Municipal de Bragança. (23) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias.

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bíblica ou sobre a própria ara, como dizia o célebre grego, mui naturalmente em frente dos alunos. Estava hospedado na taberna da Xoana da Stalage (espanhola), uma das mais ordinárias de Bragança, e no Verão, dentro de casa, andava in naturalibus, apenas com uma leve tanga sobre as partes pudendas, e assim aparecia aos que o procuravam e se sentava à mesa para comer, na qual tinha um vaso de cama, que muitas vezes servia ao mesmo tempo de suporte a pratos de mantimento, e assim aparecia na taberna a impor silêncio quando os ralhos da tia Xoana, com algum freguês renitente ao pagamento do quartilho, excediam a marca. E realmente, disse-nos quem o conheceu, peludo como um carneiro e naquela postura não havia resistir-lhe. Não fumava nem cheirava, mas apanhava pelas ruas pontas de charutos, que queimava na braseira, porque, dizia ele, só assim exalavam o cheiro agradabilíssimo especial que tinham. Os seus amigos, únicas pessoas com quem convivia, eram escolhidos entre os seus alunos, a quem ensinava passeando com eles e explicando-lhes as maiores dificuldades, mas só aos amigos, pois na aula as passava em claro ante o resto do curso. Ordenou-se de presbítero aos sessenta e tal anos, mas só dizia missa ajudado pelos estudantes amigos e à porta fechada. Uma vez que lhe objectaram ter-se enganado ao dar ite, missa est, não permitido pelo rito na missa daquele dia, deitou logo a seguir, rapidamente: Requiescaut in pace – benedicamus Domino – isto é, tudo o mais que podia ser, para, caso não servisse um, servisse o outro. Não respondia às consultas que lhe faziam os estranhos, a não ser os alunos amigos; limitava-se a citar os livros onde se encontravam resolvidas ou melhor tratadas essas consultas, e quando raras vezes respondia, se via que iam percebendo, dava tal jeito à explicação que embrulhava e obscurecia tudo, impossibilitando a percepção. Se os consulentes tinham obrigação de saber, então metia peta acintosamente, e se lhe iam à mão, fingindo-se sorna, emendava: «há! é isso, é; estava distraído». Assim é que uma vez, diante de letrados, dava Tito Lívio por modelo de concisão enérgica, e de elegância redundante Tácito. Quando José Joaquim de Oliveira Mós, mais tarde cónego da Sé de Bragança (que fora um dos seus discípulos estimados), notável latinista, como não vimos outro que tão rápida e correctamente lesse esta língua e a traduzisse à primeira vista, foi frequentar a Universidade, quis o Retórico acompanhá-lo para lhe dar as últimas instruções e recomendá-lo aos lentes, entre os quais era muito considerado. Saíram de Bragança uma tarde, como quem vai dar um passeio até MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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detrás do Forte, e deu com ele em Coimbra, mais morto que vivo, pois teve de jornadear a pé, ouvindo ao mesmo tempo as larguíssimas instruções e prelecções do Mestre. Era profundamente irónico, sob uma aparência sorna de bonomia descuidosa, expressa em trocadilhos. Passando um dia de passeio com o seu selecto grupo em frente de uma taberna, contígua às casas do visconde de Ervedosa, na rua Abílio Beça, em Bragança, reconstruídas a fundamentis nos fins do século passado pelo Machaca, ouviu as altercações dos fregueses salpicadas de invectivas obscenas, e, chegando um pouco adiante, disse para um dos discípulos: – Senhor padre Sebastião, se é que o é, mas deixemos isso (era de Soeira e só tinha ordens menores, portanto nem era nem deixava de ser clérigo): de quem é essa casa aí atrás? – É do senhor visconde, informou o interrogado. – Deixemos coisas tão altas – tornou ele – digo aqueloutra pegada? – É a taberna do Paradinha. – Uma taberna?!... – disse ele, admirado. – Eu supunha que fosse um botequim, pois tudo era dizerem: a su caralo, a su caralo... António Caetano de Almeida morreu, e só pelo seu insignificante espólio soubemos que era doutor, coisa que nunca dissera a ninguém e constava da sua carta de formatura guardada no fundo da mala, tendo por cima, à laia de pisa-papéis, a pata de um burro ainda com a respectiva ferradura. Não nos consta que deixasse publicações. ALMEIDA (António da Cunha e) – Reitor do Pombal, concelho de Carrazeda de Ansiães. Nasceu no Amieiro, distrito de Vila Real, a 8 de Fevereiro de 1817 e faleceu no Pombal, onde estabeleceu residência e passou grande parte da sua vida, a 13 de Junho de 1888. Foram sobrinhos deste ilustrado sacerdote os doutores António Luís de Freitas, juiz de direito, e João de Freitas, professor do liceu de Braga, ao primeiro dos quais devemos muitas e interessantes notícias que nos forneceu para esta obra. Exerceram ambos o cargo de governador civil do distrito de Bragança. O padre Cunha e Almeida escreveu: Relação Nominal de todas as freguesias do Concelho de Carrazeda de Ansiães, respectivos oragos, número aproximado de fogos e notabilidades de algumas em satisfação do pedido de um ilustre escritor, a fim de publicar uma estatística das freguesias do reino. Porto, tip. de A Palavra. 1887. 8.° pequeno de 37 págs. ALMEIDA (António Maria Pereira de) – Natural de Macedo de Cavaleiros, onde também faleceu. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Escreveu: A Talassoterapia e a Tuberculose – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Famalicão, 1903. 8.° de 129+2 (inumeradas) págs. ALMEIDA (Humberto de) – Tenente de infantaria, natural de Bragança. Nasceu a 28 de Janeiro de 1895; filho de Carlos Alberto de Lima Almeida e de D. Elisa Augusta de Morais. Escreveu: Memórias dum Expedicionário a França (com a 2.ª Brigada de infantaria), 1917-1918. Porto, 1919. 8.° pequeno de 184 págs. ALMEIDA (Ricardo Rafael de) – Natural de Vila Flor; nasceu a 16 de Janeiro de 1871 e faleceu em Alfândega da Fé, onde era médico municipal (cargo que exerceu desde que se formou), a 5 de Fevereiro de 1923, deixando viúva a ex.ma sr.a D. Etelvina de Almeida, natural do Porto, e três filhos. Estudou preparatórios num colégio particular de Lamego; em 1886 veio frequentar teologia no Seminário de Bragança, e concluído aí em 1889 o curso para a carreira eclesiástica, chegando até a tomar ordens menores, voltou a leccionar algumas disciplinas para o colégio de Lamego, ao passo que repetia no liceu os preparatórios para o curso de medicina, por ele preferido à carreira eclesiástica. Em 1893-94 frequentou a Academia Politécnica do Porto, obtendo a classificação de distinto nas cadeiras de física e química. Ricardo Rafael de Almeida deveu à sua rara inteligência e inquebrantável força de vontade, que se retemperava nas contrariedades da vida, a posição que desfrutou, porque, faltando-lhe seu pai em 1886 e ficando sem recursos para prosseguir nos seus estudos, pode, pelo seu muito trabalho de leccionação, fazer face às despesas na frequência da Academia Politécnica e Escola Médica do Porto. Escreveu: Ligeira contribuição para o estudo das Febres Palustres na Vilariça – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, tip. a vapor da Real Oficina de S. José, 1900. 8.° grande de 95 págs. É um trabalho notável, novo pela especialidade de que trata, onde se mostra o fino tacto observador do seu autor, que deixa bem antever quão profícua seria a sua competência clínica. Desde estudante em Bragança, Ricardo de Almeida começou a distinguir-se em artigos publicados em O Nordeste, escrevendo depois em vários outros jornais artigos que se tornaram notáveis pela feição regionalista que lhes imprimia, advogando fervorosamente os interesses da sua terra. ALORNA (Marquês de) – Tenente-general, ex-governador da província MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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do Alentejo, foi nomeado inspector-geral e comandante das tropas portuguesas de todas as armas estacionadas nas províncias de Trás-os-Montes, Beira e Estremadura por decreto de Junot de 22 de Dezembro de 1807 (24). ALPOIM (Francisco Xavier Borges) – Alferes de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida quando se deu o desastre de 1810 (25). ALVAREDO (António Bernardo Gonçalves) – Natural de Gostei, bacharel em cânones, vigário de S. Miguel da Pena, comarca de Vila Real, aí pelos anos de 1769, comissário do Santo Ofício, provido em 1770 na reitoria de Soeira e em 1784 na de Paçó, concelho de Vinhais (26). ALVAREDO (Francisco José Gonçalves) – Natural de Gostei, abade reservatário de Medrões, cavaleiro professo na ordem de Cristo, arcediago de Bragança, serviu em 1804 de testemunha nos autos de Alexandre Pinto de Sousa Coutinho, que obtivera 100$000 réis de pensão na abadia de Quirás. ÁLVARES (Padre Bartolomeu) – Jesuíta, natural de Parâmio, concelho de Bragança. Havia ido juntamente com os padres Manuel de Abreu, natural de Sampaio de Fornos, concelho de Paiva, bispado de Lamego, Vicente da Cunha, natural de Lisboa, e João Gaspar Gratz, natural de Marco Duro, no Palatinado, todos jesuítas, pregar a lei de Cristo ao reino de Tonquim, na China. Foram presos, carregados de cadeias e por último sentenciados à morte, «por terem a ousadia de entrar no Celeste Imperio contra os decretos reaes a pregar a lei de Christo», e depois de nove meses de penoso cárcere foram degolados em teatro público aos 12 de Janeiro de 1737 (27). Na casa da família Lousada (Alferes), de Parâmio, há um quadro grosseiramente pintado representando uma cabeça degolada e a escorrer san-

(24) CHABY – Excertos históricos, parte III, vol. VI, p. 19. (25) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (26) Ibidem, tomo VI, p. 202 e 631. (27) SANTA MARIA, Francisco de, Frei – Ano Histórico, vol. I, p. 88. CONCEIÇÃO, Cláudio da, Frei – Gabinete Histórico, vol. XI, p. 315. Relação da prisão e morte dos quatro veneráveis padres da Companhia, Bartolomeu Álvares, Manuel de Abreu, Vicente da Cunha (portugueses), e João Gaspar Gratz (alemão), mortos em ódio da fé, na corte de Tonkim, aos 12 de Janeiro de 1737. Com uma breve suma do princípio desta perseguição e do seu primeiro efeito que foi a prisão e morte dos outros dois padres da Companhia italiana, … Lisboa, 1738. Folheto.

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gue, com a seguinte legenda: «Pe. Bartholo Alves morreu na mourama a pregar a palavra de Deus anno 1755». Este quadro foi pintado por um dos irmãos Pereiras, menos que medíocres artistas, que deixaram esparsa a sua obra de pintura em muitos painéis, quadros e abóbadas de capelas-mores das igrejas do bispado de Bragança, tais como: França, Rabal, etc. Eram dois irmãos: Luís António Pereira, que morreu em Izeda, concelho de Bragança, onde casou pelos anos de 1885, e Caetano Pereira, que morreu também em Bragança, de onde eram naturais, pelos anos de 1863. Por isso, vivendo já bastante distante dos acontecimentos, não admira que errassem o nome do glorioso defensor da fé e o ano verdadeiro do seu passamento. ALVES (António Carlos) – Juiz de direito, antigo administrador do concelho de Miranda do Douro, presidente da câmara municipal da mesma cidade em 1899 e governador civil do distrito de Bragança. Nasceu em Vila Chã de Braciosa, concelho de Miranda do Douro, a 24 de Dezembro de 1874; filho de Manuel Inácio Alves e de D. Maria Felícia Gil. Concluídos os estudos liceais, matriculou-se em 1891 na faculdade de direito da Universidade de Coimbra, cuja formatura terminou em 1896, vindo seguidamente exercer a advocacia para Miranda do Douro, onde fundou o «Externato Mirandês», que dirigiu e onde foi professor, entrando em 1901 na magistratura judicial. Como vogal do Conselho Distrital de Agricultura apresentou vários relatórios que foram publicados na imprensa. Tem colaborado nos seguintes periódicos: O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, Diário de Notícias, de Lisboa, Portugália, Ilustração Trasmontana, Distrito de Bragança, O Século (onde inseriu um estudo sobre aproveitamento das águas do rio Douro como força motriz), Correio Brigantino e outros. Tem escrito: A propaganda sobre o Caminho-de-Ferro do Pocinho a Miranda do Douro. Porto, 1902. Tip. a vapor de Artur José de Sousa & Irmão. 8.° pequeno de 130 págs. Saiu anónimo. Miranda do Douro – Sua história, costumes e importância agrícola. Saiu no Correio Brigantino, semanário de Bragança, desde 21 de Setembro a 2 de Novembro de 1905. Propaganda Regional do Distrito de Bragança. 1920. Tip. Adriano Rodrigues. Bragança. 8.° de XVII-107 págs., com mais 3 (inumeradas) de erratas e índice. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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ALVES (Francisco Manuel) – Nasceu em Baçal, concelho de Bragança, a 9 de Abril de 1865; filho de Francisco Alves Barnabé e de Francisca Vicente Esteves, lavradores, naturais de Baçal. Estudou preparatórios no Liceu e no Seminário de Bragança, onde também concluiu o curso teológico em Junho de 1889, ordenando-se de presbítero no dia 13 do mesmo mês e ano. Por decreto régio de 11 de Fevereiro de 1893 foi provido com o título de reitor na igreja de Mairos, concelho de Chaves, para a qual havia feito concurso de provas públicas em 11 e 12 de Novembro de 1892 e onde era já pároco encomendado por carta do Prelado Diocesano de 7 de Dezembro de 1889. Por decreto régio de 16 de Agosto de 1895 foi provido na igreja de Baçal, terra de sua naturalidade, da qual tomou posse a 26 de Junho do ano seguinte. É sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses; do Instituto de Coimbra; da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos; da Academia de Ciências de Lisboa; antigo presidente do Instituto Científico-Literário de Trás-os-Montes; comendador da antiga, nobilíssima e esclarecida Ordem de S. Tiago da Espada do Mérito Científico, Literário e Artístico; diploma de Menção Honrosa na Exposição Biblio-Iconográfica Comemorativa de 1910, Primeiro Centenário da Guerra Peninsular; antigo vereador da Câmara Municipal de Bragança; antigo vogal à Junta Geral do Distrito de Bragança; distinguido com um cálix, uma pena de ouro e um tinteiro de prata, tudo de alto valor artístico, oferecido por subscrição pública do distrito de Bragança em homenagem aos seus trabalhos de investigação histórica em prol do mesmo; antigo vogal pelo clero de Bragança aos Congressos Eclesiásticos de Braga e de Coimbra e director do Museu Regional de Bragança. Colaborou nos seguintes jornais: A Palavra; O Comércio de Chaves; Revista Católica; Distrito de Bragança; Alerta; Pirilampo; O Comércio do Porto; Gazeta de Bragança; Jornal de Bragança; O Trasmontano, de Carrazeda de Ansiães; Notícias de Bragança; O Lavrador Trasmontano, de Mirandela; A Torre D. Chama; Legionário Trasmontano, de Bragança; Diário de Notícias, de Lisboa; O Bragançano; O Leste Trasmontano, de Bragança; A Voz, de Lisboa; Agenda Brigantina e O Primeiro de Janeiro. Colaborou igualmente nas seguintes revistas: O Arqueólogo Português; Portugal Agrícola; A Ilustração Trasmontana, do Porto; O Instituto, de Coimbra; Revista de História; Dionisos; Livro de Portugal, monografia da província de Trás-os-Montes para a Exposição de Sevilha em 1929, e tem escrito muitas representações, memoriais, prólogos de livros, de teses, etc. Os seus artigos de polémica na Gazeta de Bragança, a propósito da questão do Bispo D. José Alves de Mariz, agitaram fortemente a opinião pública MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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e tiveram eco na imprensa tanto portuguesa como estrangeira em artigos de jornais, folhetos e livros. Cooperou valiosamente para o engrandecimento do Museu Municipal de Bragança logo desde a sua fundação em 1896 (28) com ofertas de valor máximo, principalmente em epigrafia, numismática e cerâmica. Foi no Portugal Agrícola, 1892, pág. 75, que Francisco Manuel Alves levantou pela primeira vez em Portugal a questão sobre a hipofagia, uso de largo alcance económico que teve certa importância na imprensa e muito devia atenuar as crises económicas que tanto nos assoberbam. Só em 1928 é que pela primeira vez em Portugal se pôs à venda carne de cavalo. As questões cívicas e económicas mereceram-lhe sempre especial cuidado sendo notável o que já desde 1902 vinha escrevendo, tendente a comemorar em Bragança o centenário da Guerra Peninsular na pessoa do herói regional, general Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, seguramente o primeiro brado que em Portugal se soltou em prol desse centenário, depois pomposamente celebrado em 1908, e a grande quantidade de artigos que publicou respeitantes ao engrandecimento material, industrial e mental de Bragança e distrito, entre os quais se destacam os referentes ao canal de irrigação colhido no rio Douro pela altura da cidade de Miranda, obra que, a realizar-se, centuplicaria o valor produtivo da província. Fez parte da comissão que, segundo o disposto no decreto de 30 de Dezembro de 1890, devia proceder às novas lotações das freguesias que no concelho de Chaves pertencem à diocese de Bragança. Sugestionado pela poesia das ruínas luso-romanas de Castro de Sacoias, anexa da sua freguesia de Baçal, para melhor as conservar e tornar conhecidas, conseguiu que aí se erguesse a fundamentis a capela de Nossa Senhora, cuja inauguração solene teve lugar a 4 de Junho de 1905 e já hoje é muito concorrida de romeiros, sendo que em 1893, quando pároco de Mairos, havia feito o mesmo com a capela do Senhor dos Aflitos em umas ruínas romanas do termo de Travancas, então anexa de Mairos (29). Da sua isenção dão prova os seguintes factos: houve duas pessoas da sua freguesia, sem ascendentes, nem descendentes directos, que o deixaram herdeiro de suas fortunas superiores a uma dezena de contos de réis de que (28) Veja-se O Arqueólogo Português, volume III, p. 53 e volume IV, p. 155; o Norte Trasmontano de 8 de Janeiro e 12 de Fevereiro de 1897; o Nordeste de 6 de Dezembro de 1899; a Gazeta de Bragança de 29 de Janeiro e 5 de Março de 1905 e LOPO, Albino – Bragança e Benquerença, p. 81 em nota. (29) O Arqueólogo Português, volume XII, p. 252, onde se aponta a larga bibliografia do Castro de Sacoias.

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Francisco Manuel Alves nada aceitou, cedendo tudo em favor dos parentes colaterais das ditas pessoas. Foi por diversas vezes escolhido pelos bispos de Bragança para serviços de superior responsabilidade. Fez parte de várias comissões organizadas em Bragança, tendentes ao engrandecimento da região, e em 1915 redigiu o memorial para o ministro do Fomento, dr. Manuel Monteiro, assinado pela elite da mentalidade bragançana, no sentido de obter do governo um subsídio para restauração dos antigos paços municipais, veneranda relíquia românica intramuros da cidadela, o qual concedeu três contos de réis. Aos seus estudos de arqueologia e investigações históricas fazem referências obras de primacial valor, não só portuguesas, mas também espanholas, francesas e alemãs. Além da colaboração indicada, deixa impressas as seguintes obras: O caso de Bragança e resposta aos críticos – Mensagens e adesões do clero da Diocese de Bragança ao seu Prelado. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1905. 8.° de 118 págs. (Neste opúsculo pertence-lhe só a parte que vai desde págs. 38 a 70, a qual foi muito elogiada na imprensa – Correio Nacional, etc., e transcrita na Gazeta de Bragança; no Conimbricense e noutros jornais). Notas biográficas do Ex.mo e Rev.mo Sr. D. José Alves de Mariz, Bispo de Bragança, tributo de admiração no 21.° aniversário da sua eleição e confirmação episcopal. Porto, Tip. a vapor da Real Oficina de S. José, 1906. 8.° de 67 págs. com o retrato do Prelado. Este opúsculo, largamente comentado na imprensa nacional e até na estrangeira, como os Ecos de Roma, etc., ou simplesmente visado com alusões envenenadas, bem como o seu autor, levantou celeuma enorme em que a paixão pró e contra teve largo quinhão. Para o refutar, apareceu à luz a Autópsia às notas biográficas do Ex.mo e Rev.mo Sr. D. José Alves de Mariz, Bispo de Bragança, por I. X. Porto, Tip. da Viúva de J. S. Mendonça, 1908. 8.° de X-117 págs. Moncorvo – Subsídios para a sua história, ou notas extraídas de documentos inéditos respeitantes a esta importante vila trasmontana. Porto, 1910. 4.° de 55 págs. com 26 fotogravuras de monumentos referentes a Moncorvo. Castro de Avelãs, mosteiro Beneditino. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1910. 8.° de 171 págs. Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança ou repositório amplo de notícias corográficas, hidro-orográficas, geológicas, mineralógicas, hidrológicas, biobibliográficas, heráldicas, etimológicas, industriais e estatísticas, interessantes tanto à história profana como eclesiástica do Distrito de BraMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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gança. Porto, Tip. a vapor da Empresa Guedes, 1909. 8.° de X-401 págs., 1 de erratas e vários mapas desdobráveis; II tomo na mesma tipografia, 1910-1913. 8.° de 509 págs., 1 de erratas e 1 de registo; III tomo na mesma tipografia, 1910-1911. 8.° de 459 págs., com uma fotogravura; IV tomo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1911-1918. 8.° de 704 págs.; V tomo, Bragança, Tip. Geraldo da Assunção, 1925. 8.° de CXIV-210 págs.; VI tomo, Porto, Tip. Empresa Guedes, 1928. 8.° de XV-808 págs. Só os artigos que publicou nos jornais em que colaborou, artigos que cortou à tesoura e colou em livros em branco, enchem dois volumes grandes de papel de trinta e cinco linhas. A sua biografia encontra-se na Bibliografia Nobiliárquica Portuguesa, por Eduardo de Campos de Castro de Azevedo Soares (Carcavelos), 1916, tomo I, pág. 157. Em O Arqueólogo Português, tomo XXII, vem uma resenha bibliográfica das obras que publicou, e na Ilustração Trasmontana, do Porto, 1909, tomo II, e também no tomo III o seu retrato. Falando deste escritor diz o sábio doutor José Leite de Vasconcelos, depois de apontar as suas obras: «Em todas elas, bem como em artigos dispersos em revistas e jornais (O Arqueólogo, Revista de História, Diário de Notícias, etc.) revela o autor sempre tão sólidos conhecimentos e tanto critério – méritos realçados de mais a mais por virtuosa modéstia –, que ninguém que trate de perto com as obras do abade de Baçal poderá deixar de o admirar e lhe querer bem. Para os bragançanos é ele, com justificada razão, um ídolo» (30). Tem manuscrita uma monografia sobre o concelho de Carrazeda de Ansiães, de quase duzentos fólios, que fez a pedido do doutor Raul Manuel Teixeira, quando juiz daquela comarca, e está hoje, ao que nos dizem, em poder do jornalista e escritor doutor Manuel Múrias, natural da mesma vila, residente em Lisboa, e um estudo de mais de duzentos fólios intitulado: O Padre?!… Eis o inimigo – Razões históricas do ódio votado a esta classe. Começou a sair no Legionário Trasmontano, semanário de Bragança, desde 2 de Julho de 1914 a Fevereiro de 1916. Trás-os-Montes, monografia a sair em O Livro de Portugal, publicado pelo Comissariado de Portugal na Exposição Ibero-Americana de Sevilha. ALVOR (Bernardo Filipe Neri de Távora, 2.° conde de) – Nascido em 1681 e falecido a 27 de Abril de 1744; foi nomeado em 1703 governador das armas da província de Trás-os-Montes.

(30) Dr. José Leite de Vasconcelos, lente da Universidade de Lisboa, De terra em terra. Lisboa, 1927, vol. I, p. 120.

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AMADO

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Parece que em 1711 era governador das armas desta província D. João Manuel de Noronha, que se assinalou pela tomada de Miranda do Douro, em poder dos castelhanos desde 1710, devido à traição infame do seu governador Carlos Pimentel, que se vendeu ao inimigo por seis mil dobrões (31). ALVOR (Francisco de Távora, 1.° conde de) – Foi governador das armas da província de Trás-os-Montes na guerra de 1704 e no ano de 1707 da província do Alentejo. Faleceu em 1710 (32). AMADO (Adrião Martins) – Presbítero. Nasceu em Argozelo, concelho do Vimioso, a 7 de Outubro de 1874; filho de José Raimundo Martins Amado e de D. Maria Joaquina Alves (33). Antigo reitor do Liceu Nacional de Bragança, do qual foi professor provisório, passou a efectivo, precedendo concurso, por decreto de 18 de Outubro de 1904. Em 18 de Janeiro de 1900 foi despachado escrivão do Juízo Apostólico da diocese de Bragança. Antes da vida do magistério e logo após a sua ordenação de presbítero exerceu a paroquialidade em Rio Frio e em Milhão. Tem escrito: Injustiças do Bispo de Bragança. Tip. da Viúva de J. S. Mendonça, 1908. 8.° gr. de X-115 págs. e 1 de índice. Anuário do Liceu Nacional de Bragança – Ano escolar de 1907-1908. Imp. na citada tip. 1908. 8.° de 61 págs. Diz respeito à sua gerência de reitor. Anuário, etc. – Ano escolar de 1908-1909. Idem. 8.° de 80 págs. Idem. Ficaram célebres as lutas que Adrião Martins Amado sustentou com o bispo desta diocese, D. José Alves de Mariz, por o haver suspendido temporariamente do cargo de escrivão do Juízo Apostólico em 19 de Outubro de 1906, e depois, por tempo indeterminado, em 14 de Dezembro de 1907, de que interpôs recurso para o poder temporal, tanto de um como de outro despacho. A 28 de Maio de 1907 e a 9 de Fevereiro de 1909 pronunciou-se sobre estes recursos a Relação do Porto. Estas lutas fizeram também com que o padre Amado fosse pronunciado pelo poder judicial a 1 de Junho de 1907, de cuja pronúncia interpôs

(31) CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal, vol. VI, p. 190, 219 e 220. Portugal: Dicionário histórico, biográfico…, artigo «Alvor». (32) SOUSA, António Caetano de – História Genealógica, tomo V, livro VI, cap. VI, p. 216 e 229. (33) Ver tomo VI, p. 997, destas Memórias.

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recurso para a Relação do Porto e depois para o Supremo Tribunal de Justiça, onde alfim foi despronunciado por acórdão de 6 de Dezembro de 1907. AMARANTE (Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, 1.° conde de) – Tenente-general, comendador de Santa Marinha de Rio Frio de Carragosa, governador das armas da província de Trás-os-Montes. Tomou parte notável nas lutas contra os franceses e nas constitucionais (34). Sucedeu no governo das armas da província a Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda. Nasceu na vila de Canelas a 1 de Setembro de 1763 e faleceu em Vila Real a 27 de Maio de 1821. AMARANTE (Manuel da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira [conde de] depois 1.° marquês de Chaves) – Tomou parte nas lutas constitucionais (35). AMENO (Francisco Luís) – Nasceu em Argozelo, concelho do Vimioso, a 10 de Março de 1713 e faleceu em Lisboa em 1793. Filho de António Português e de D. Isabel Luís. Matriculou-se em 1727 na faculdade de cânones na Universidade de Coimbra, cujo curso não levou a cabo, pois abandonou os estudos e foi para Lisboa, onde ensinou primeiras letras e gramática latina. Pelos anos de 1748 fundou a «Typographia Patriarchal», uma das melhores de Lisboa, como se vê pelas muitas obras literárias que aí se imprimiram por espaço de cinquenta anos. Era incansável em aperfeiçoar a sua tipografia, que dirigia com muita competência. Ali se imprimiram muitas obras de música, principalmente livros de cantochão e libretos de óperas, tendo todas a indicação em italiano Nella Stamperia Ameniana. Foi Francisco Ameno o primeiro que empreendeu a publicação dos Almanaques de Lisboa. Traduziu três óperas, que se cantaram no teatro dos Paços da Ribeira. Escreveu: Colecção de algumas obras póstumas, que em prosa e verso deixou José de Sousa, cego desde o berço, por... etc. Lisboa, 1746. 8.° Índice geral de todos os apelidos, e coisas notáveis que se compreendem nos 19 tomos da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Lisboa, 1749. Fólio. Escola Nova, cristã e política, na qual se ensinam os primeiros rudimentos (34) Ver Memórias Arqueológicas…, tomo I, p. 140, 168 e 171. (35) Ibidem, p. 172, 175 e 176.

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que deve saber o menino cristão, e se lhe dão regras para com facilidade aprender a ler, escrever e contar. Lisboa, 1756. Esta publicação apareceu debaixo do nome de D. Leonor Tomásia de Sousa e Silva. Publicou-se segunda edição em 1813. Novenas de Santa Inês, Santa Águeda, da Maternidade de Maria Santíssima, da Fugida da Senhora, da Pureza da mesma, de Santa Isabel, S. Camilo de Lelis, e S. Vicente de Paula. Saíram todas anónimas, insertas nos tomos I e III do Novenário geral, publicado por Ameno, em 1751-1752. Aquiles em Siro, ópera composta em italiano por Pedro Metastásio, e traduzida em português, etc. Lisboa, 1755. Alexandre na Índia, ópera composta por Metastásio, traduzida em português. Lisboa, 1755. Zenóbia em Arménia, ópera, etc., traduzida... Lisboa, 1755. A Clemência de Tito, ópera, etc., traduzida... Lisboa, 1755. Demofonte em Trácia, ópera, etc., traduzida... Lisboa, 1755. Antígona em Tessalónica, ópera, etc., traduzida... Lisboa, 1755. Destas seis peças, a primeira saiu em verso e anónima. Ignoramos se pertence realmente a Ameno. As outras, em prosa, foram publicadas sob o pseudónimo de Fernando Lucas Alvim. Horas da Semana Santa, oferecidas à Senhora D. Maria Pacheco da Cruz. Lisboa, 1784. 8.° Consolação de aflitos e alívio de lastimados – Diálogo entre dois filósofos, Vacrísio e Pontónio. Lisboa, 1742. 8.° Semiramis reconhecida: ópera do abade Pedro Metastásio, traduzida..., etc. Lisboa, 1755. 8.° de 93 págs. Farnace em Eraclea: ópera traduzida do italiano. 1760. 8.° de 75 págs. Vologeso e Berenice: ópera traduzida do italiano. 1761. 8.° de 75 págs. Temistócles: ópera de Metastásio, traduzida... Sem data. 8.° de 160 págs. Todas estas quatro óperas são em prosa com as árias em verso. Manual Cronológico, que contém as principais épocas da história de cada um dos povos. Lisboa, 1758. Saiu com o nome de Lucas Moniz Cerafino, anagrama do seu nome. De XII (inumeradas)-474 págs. Parabéns ao Ser.mo Príncipe da Beira pelo seu faustíssimo nascimento (36). O Sumário da Biblioteca Lusitana menciona mais, como sendo deste autor, o seguinte: Notícias dos descobrimentos dos portugueses no Novo Mundo. Manuscrito.

(36) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico e no Suplemento, tomo IX.

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AMORIM

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Exercício da missa. Manuscrito. Com inveja se vencem fortunas. Comédia tirada do castelhano. Ameno também usou o pseudónimo de Nicolau Framez Scom. AMORIM (João Lopes de) – Arquitecto, residente em Guimarães, pelos anos de 1630. É interessante o seguinte documento referente à ponte de Mirandela, que lembra o seu nome e predicados: «Eu El Rei faço saber a vos, provedor da comarca da villa da Torre de Moncorvo, que havendo respeito a informação que me enviastes sobre a obra da ponte do rio Tua (?) para que os officiaes da camara da villa de Mirandella me enviarão pedir por sua carta provisão de finta pella necessidade que havia de se fazer com toda a brevidade e visto constar pella dita informação como a dita ponte era muito antiga e em si muito grande e de grande fabrica, e mais necessaria por ser passagem para muitas partes deste reino e estrada para todo Emtre Douro e Minho e Tras os Montes e reinos de Galliza e Castella e como avia nove annos pouco mais ou menos que comessara arruinar e fazendosse finta de nove mil cruzados e sendo rematada a obra a hum mestre por nome Pero da Fonseca, o quoal indo continuando com ella viera a fallecer, tendo elle já a maior parte do dinheiro cobrado, com o que ficara a obra por acabar athe que este prezente anno arruinara, não só pella parte que dantes estava, mas ainda por outras, de maneira que toda tinha necessidade de se refazer, antes que de todo viesse a cair, e visto outro ssi constar pela dita informação que andando esta obra em pregão todo o tempo necessario e não haver lanço mais seguro que de doze mil e quinhentos cruzados, em que foi arrematada ao mestre João Lopes de Morim. Hey por bem e me praz que da dita contia de doze mil e quinhentos cruzados façais logo lançar finta… … Lixboa a vinte e quatro de novembro de mil e seis centos e trinta e coatro» (37). AMORIM (João Pinheiro de) – Há dele uma tese sobre direito canónico, defendida no quarto ano do seu curso, em Coimbra, dedicada à Santíssima Virgem do Socorro (sem mais indicação de lugar), impressa de frente em três planas, em véu de cálix, seda vermelha. Conimbricæ. ex Typograp. in Collegio Artium Societatis Jesu, Año Dñi 1711. Depois da dedicação à Virgem, que ocupa três linhas, segue uma ode latina em vinte e quatro versos, vindo seguidamente a tese.

(37) Filipe III, Doações, livro XXIX, fl. 254, in Dicionário dos Arquitectos, vol. II, p. 80.

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AMORIM

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Pertence à nossa colecção, que oferecemos ao Museu Regional de Bragança (38). ANDRADE (André Manuel Freire de) – Tese de direito canónico e civil, defendida no seu quinto ano de direito. Conimbricæ Ex Archytypographia Academia Regia Anno Domini 1765 Sup. Facultate. Esta tese, impressa em véu de cálix de seda, existe na capela dos Pimentéis da Bemposta (39). Ver Pimentel (Domingos de Morais). ANDRADE (Domingos Teixeira de) – Brigadeiro e governador das armas da província de Trás-os-Montes, pelos anos de 1743 a 1750, que muito se distinguiu durante o cerco de Miranda em 1711 (40). ANDRADE (Eugénio Guedes de) – Doutor em direito, conservador do registo predial em Mirandela, notável apicultor e caricaturista, onde nasceu pelos anos de 1864-1865, filho de José António Nunes de Andrade e de D. Maria Emília da Fontoura. Escreveu: Os i i sem os pontos, jornal de caricaturas, publicado desde 1881 a 1888, deveras interessante. Tem publicado vários opúsculos ilustrados sobre apicultura, de que é tratador apaixonado. ANDRADE (Jacinto Freire de) – Nasceu em Beja em 1597 e faleceu em Lisboa a 14 de Maio de 1667. Era formado em cânones pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1618, vindo em seguida paroquiar a igreja de Sambade, concelho de Alfândega da Fé. Foi depois abade de Chãs de Tavares, concelho de Mangualde. Deste notável clássico da literatura portuguesa, de que apenas fazemos menção pelo facto de ter sido pároco no distrito de Bragança, nada mais

(38) Chamo véus de cálix a uns rectângulos de 0,55mx0,65m plus minus de seda, pelo geral das cores litúrgicas – branca, vermelha, verde e roxa ou cambiantes delas – onde estão impressas teses defendidas pelos alunos das Universidades nos actos dos seus estudos e dedicadas, pelo geral, à Virgem Maria, sob alguma das suas multíplices invocações – do Socorro, do Rosário, da Assunção, do Loreto, etc., etc., pelo geral venerada na povoação natal dos autores. É certo que nem todos estes panos serviram de véus de cálix, se bem que pelo geral podiam facilmente adaptar-se a isso, pois grande parte se destinaria a ofertas particulares de amigos, como se faz hoje em dia com as suas sucedâneas, impressas em papel. Algumas são notáveis, como documentação gráfica, pela elegância ornamental das letras capitais e das largas tarjas que as orlam. (39) Ao doutor Casimiro Henrique de Morais Machado, distinto advogado no Mogadouro, sua terra natal, agradecemos as notícias referentes a este véu de cálix. (40) Memórias biográficas do Il.mo e Ex.mo Sr. Manuel Pinto Bacelar, Visconde de Montalegre. Tomo I, p. 121, destas Memórias.

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diremos, porque a sua biobibliografia se encontra a cada passo largamente tratada em qualquer obra da especialidade. ANDRADE (Matias de) – Frade da congregação do oratório, natural da vila do Freixo de Espada à Cinta. Escreveu: Viva Jesus. Salamanca. 1731 (41). ANDRADE (Olímpio Guedes de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra e advogado em Mirandela. Escreveu: Minuta do Agravo de Injusta Pronúncia interposta por José António Esteves, João José Caseiro e José Maria Pires no processo instaurado na comarca de Mirandela pelos crimes de falsificação e subtracção de documentos, em processos de execuções fiscais, e em que é querelante João Baptista Botelho. Bragança, Tip. de O Nordeste, 1892. 8.° de 38 pág. ANHAIA (João de Ordaz) – De Miranda do Douro, provido na abadia de Penhas Juntas em 1714, era filho de Diogo de Ordaz Anhaia, de Miranda, e de D. Isabel de Aragão, de Castro Vicente; neto paterno de Luís de Ordaz Torres, de Miranda, e de D. Leonor de Anhaia e Guilhem, natural de Zamora (Espanha), e materno de Bernardo Cabral, de Miranda, e de D. Damiana de Morais, de Castro Vicente. Houve suas dúvidas, ao proverem o abade em Penhas Juntas, por causa de haverem lançado setenta mil réis de condenação a D. Leonor de Valença, bisavó paterna do citado abade, mulher do licenciado João de Ordaz Torres, motivadas na suposição de que aquele lançamento fora motivado pelo facto de ser judia. Afinal, nas inquirições a que se procedeu em Zamora e Valença, não se apurou que tal fosse. ANTAS (António Raimundo de Morais) – Capitão de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida aquando do desastre em 1810 (42). ANTAS (Miguel de Morais) – De Bragança, cavaleiro da Ordem de Cristo e abade de Gondesende, falecido em 1831, grandemente vexado pelas perseguições políticas (43).

(41) SILVA, Inocêncio – Dicionário Bibliográfico, tomo XVII, p. 14. (42) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (43) Ibidem, p. 181.

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ANTUNES

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APOLINÁRIO

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ANTUNES (Manuel) – Porteiro da câmara de Vinhais, que se distinguiu na defesa da vila durante o cerco posto por Pantoja em 1666 (44). APOLINÁRIO (São) – Eis o que a propósito deste santo, cujo corpo jaz em Urros, concelho de Moncorvo, diz D. Rodrigo da Cunha: «O licenciado Gaspar Alvares Louzada, teve para si que este bispo fora frances e entre outras memorias que deixou na Torre do Tombo se achou o seguinte: – Santo Apolinario, bispo frances, tem seu corpo ou a maior parte dele enterrado em um lugar que chamam Urros, junto do Douro, termo da vila de Moncorvo, reino de Portugal, arcebispado de Braga (45). Achou esta memoria na Torre do Tombo, João de Melo Feo, abade de Urros, entre outros papeis que buscava para uma Igreja do padroado real sobre que andava em requerimentos. Juliano, arcipreste de Toledo, teve para si que fora este Santo aquele insigne escritor Sidonio Apolinar, bispo Arvense, em França, cuja vida depois de Gregorio Turunense, Gennadio, Belarmino e outros escreve Baronio no VI tomo dos Anaes, onde dá relação de seu ilustre nascimento, dos oficios e magistrados que ocupou, das obras que compoz, da caridade que com os pobres usou e finalmente da Santidade com que acabou a vida; floreceu pelos annos de quatro centos e oitenta. Á margem cita Juliano in adver, pg. 43 – Baronio – Annaes, anno 472 pg. 302 e anno 484, pg. 426. Vindo Juliano a Braga com o Arcebispo de Toledo D. Bernardo, no tempo que visitou esta provincia, como legado que era da Sé Apostolica teve noticia do Santo e o visitou e achou que era Sidonio Apollinar, cuja festa celebra a Egreja a 23 de agosto e que alli fora trazida grande parte das suas reliquias assim o testemunhou com as palavras seguintes: et rediens ad Castellam in itinere andivi corpus esse S. Apollinaris, et doctum fuisse percepi Sidonium Apollinarem Episcopum Arvernensem, cujus festum agitur 23 augusti, cujus bona pars corporis illuc adlata est. A tradicção antiga do logar e de toda a commarca tem que foi este Santo frances de nação, bispo e juntamente martyr e conta que veio de uma povoação que esta da outra parte do Douro e se chamou antigamente Calabria e hoje Calavre no limite da villa de Almendra, onde se veem muitos vestigios de antiguidades, desta povoação onde costumava pregar veio

(44) Ibidem, p. 108. (45) Sobre o crédito que merece o licenciado Gaspar Álvares Lousada, fica dito no tomo I, p. 12, destas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança e também de Juliano, arcipreste de Toledo, dois falsários.

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APOLINÁRIO

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fugindo aos infieis que o perseguiam para o logar de Urros. Para prova da sua fé e confusão dos que nella não queriam acreditar batteu o Santo com o seu bordão no chão e logo como se fora uma planta verde pegou e lançou raizes, floreceu e se fez arvore. Ao pé della arrebentou uma fonte clara cujas aguas imitavam em tudo as do Douro, porque vindo elle turbo, turbas se punham ellas e acclaravam quando aquelle. Os tormentos que o Santo padeceu se veem pintados no retabulo da capella onde esta. No painel da parte direita se mostra o Santo lançado no chão atado pelos pés a dous touros bravos para o arrastarem á vista do tyrano e elles perdida a sua braveza natural se mostram tão mansos que nem forças teem para o arrastar. Da parte esquerda está o Santo assentado á porta de uma Egreja, vestido de pontifical e dous touros ajuelhados beijando-lhe a mão. Ve-se em outro painel pregar o Santo aos gentios, arrimado aos muros de um templo ou casa antiga e dentro e fora della muita gente vestida de roupas largas ao parecer magistrados. No ultimo painel esta o Santo posto em oração com mitra na cabeça, junto á arvore em que se converteu o seu bordão e detraz delle o algoz com um alfange na mão com que lhe tirou a vida. Ao lado esquerdo do altar na parte da epistola está o sepulchro do Santo levantado sobre quatro leões de pedra com o seu retrato aberto na lagea que cobre o tumulo com capa, baculo e breviario. Fica debaixo delle a sepultura antiga do mesmo Santo tosca e sem nenhum artificio. Os milagres que elle opera são infinitos. Sendo abbade daquella Egreja um João Piz (Pires) foi a ella certo visitador do arcebispado que desconfiando de estarem alli as reliquias do Santo quiz fazer a experiencia do que havia na sepultura, procurou abrila, ficou cego mas por intercessão do Santo recuperou a vista. Um moço por nome Francisco da villa de Ranhados aleijado de uma perna que trazia sobre uma moleta, ficou sarado por intercessão do Santo. Um homem de Riba de Coa levava um menino filho seu de romaria ao Santo para lhe pedir saude na infermidade que padecia. Morreu a criança no caminho porem o pai não deixou de continuar a romaria e offerecendo ao Santo o menino morto este lh’o recessitou com admiração de todos. Levando um lavrador uma pedra para a sepultura do Santo quando de novo se fazia querendo metter dentro da Egreja os bois se detiveram primeiro ajoelhando primeiro ambos, se levantaram e foram caminhando com a pedra, venerando assim a santidade do logar onde jaziam as reliquias de tão grande martyr. D. Fr. Bartholomeu dos Martyres quando visitava a parochia de Urros ia sempre em romaria á capella do Santo Apollinario e alli com o peito em MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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terra venerava suas reliquias e dizia: que ainda que não fossem de algum dos Santos Apollinares de que se tinha noticia podiam ser de outro do mesmo nome e de igual santidade, como bem mostravam os milagres que Deus por ele fazia. Não sabemos ao certo o tempo em que este Santo floreceu, lançamol-o neste lugar correndo o anno quatro centos e oitenta por cair nelle o pontificado de Sidonio Apolinar» (46). O Portugal Antigo e Moderno, no artigo «Almendra», vila da Beira Baixa[1], a dezoito quilómetros de Pinhel e doze de Castelo Rodrigo, diz que no termo de Almendra, a dois quilómetros da vila, há um grande cabeço chamado «Calabré», com restos desmantelados de fortificações antigas, que abrangem um circuito que levará quarenta alqueires de semeadura, e, segundo a lenda, era ali a cidade romana de Ravena onde episcopou São Apolinário. O mesmo Portugal Antigo e Moderno, no artigo «Caliabria», atribui o martírio do Santo aos mouros e coloca-o no ano de 716. E no volume XI, pág. 1184, em nota, artigo «Vilar de Amargo», diz que Caliabria ficava junto da foz da Ribeira de Aguiar. Relativamente aos que dizem ser aqui a cidade romana de Ravena e como se enganam, ver Florez, España Sagrada, tomo XIV, págs. 36 e 364 e mapa que vem no princípio desse volume. São Apolinário ainda hoje é venerado em Urros mui solenemente e a crença piedosa entende que o seu corpo jaz na sua igreja. ARAGÃO (Alexandre Manuel Ferreira Álvares Pereira de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 5 de Julho de 1862; fidalgo-cavaleiro em 21 de Maio de 1863 e cavaleiro da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa em 11 de Outubro de 1863. Nasceu a 23 de Março de 1837 em Parada de Pinhão e casou em Vila Flor, onde viveu, com D. Felicidade Amália Pinto de Lemos, filha de Manuel António Pinto de Lemos e sobrinha do tenente-general visconde de Lemos. Era filho de Manuel António Ferreira de Aragão, marechal-de-campo. Foi eleito deputado na legislatura de 1879 pelo distrito de Bragança (47).

(46) CUNHA, Rodrigo da – História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, 1634, parte I, capítulo LXIII. MARIANA, Juan de – Historia de España, livro V, capítulo VI, nota 4. VITERBO – Elucidário, artigo «Caliabria». (47) Ver tomo VI, p. 503, destas Memórias.

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ARAGÃO (José António Ferreira de) – Tenente de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida em 1810 quando esta foi pelos ares (48). ARAGÃO (Manuel António de) – Oficial de infantaria n.° 24, que estava em Almeida quando em 1810 se deu o desastre desta praça (49). ARAÚJO (Abel de Mendonça Machado de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra e professor da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra. Nasceu a 10 de Novembro de 1879 (50). Escreveu: Dr. António Cardoso de Meneses – Bosquejo duma vida modelo. Lido na sessão de homenagem prestada pela Escola Nacional de Agricultura de Coimbra a 26 de Outubro de 1924. Com o retrato do doutor Cardoso de Meneses. Porto, 1924. 8.° de 72 págs. ARAÚJO (Álvaro de Mendonça Machado de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, nasceu em Abreiro, concelho de Mirandela, a 21 de Março de 1850 e morreu em Braga a 11 de Dezembro de 1916, vindo a enterrar em Abreiro. Foi governador civil do distrito de Bragança. Para a sua biografia ver o tomo VI, págs. 1 e 3, destas Memórias. Escreveu: Regulamento para a Cobrança e Fiscalização dos Impostos Indirectos Municipais do Concelho de Bragança. Porto, 1889. 8.° de 75 págs. e mais 5 folhas de modelos. Foi aprovado em sessão da câmara de 9 de Março de 1889. Guia das Juntas de Paróquia ou Instruções por onde se devem regular as Corporações Paroquiais no desempenho de suas funções. Porto, 1889. 8.° de 191 págs., 1 modelo de contas paroquiais e 1 de erratas. Código de Posturas Municipais do Concelho de Bragança. Bragança, Tip. Bragança, rua Direita, 1891. 4.° de 167 págs. Colaborou na Gazeta de Direito Administrativo; Agricultura Trasmontana (foi redactor de ambos); Nordeste, que fundou, bem como o Progresso do Algarve; em vários outros jornais e na República Portuguesa, semanário de Coimbra redigido por Alves da Veiga, quando estudante. Deixou manuscrito um livro sobre a morigeração das classes populares. ARAÚJO (Padre Miguel de) – Jesuíta, natural de Lamalonga, concelho de Macedo de Cavaleiros; faleceu na Baía. Era filho de Baltasar Fernandes de (48) Ibidem, tomo I, p. 165. (49) Ibidem, p. 166. (50) Ibidem, tomo VI, p. 4

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Araújo e de D. Madalena Gonçalves. Noviciou em Coimbra a 17 de Janeiro de 1598, partindo depois para a Baía. Escreveu: Cartas Anuais do Brasil de 31 de Dezembro de 1621. Foram traduzidas em italiano e publicadas em Roma. 1627 (51). ARCAS (Francisco de Assis Pereira do Lago, visconde das) – Antigo deputado da nação, governador civil do distrito de Bragança, por decreto de 25 de Fevereiro de 1886, de que tomou posse a 11 de Março seguinte; segunda vez por outro de 11 de Fevereiro de 1897, tomando posse no dia 20. Morreu nas Arcas a 2 de Fevereiro de 1915 (52). ARES (António Nunes) – Capitão, que muito se distinguiu em 1664 nas Guerras da Aclamação (53). ATALAIA (D. João Manuel de Noronha, conde de) – Mestre-de-campo-general, que retomou em 1711 Miranda aos espanhóis (54). ATOUGUIA (João Gonçalves de Ataíde, conde de) – Pai de D. Luís de Ataíde, conde de Atouguia, senhor de Vinhais (55). D. Jerónimo de Ataíde, conde de Atouguia, foi governador das armas da província de Trás-os-Montes desde 1649 a 1652 (56). Os condes de Atouguia eram senhores das vilas de Paçó, Vinhais, Vilar Seco de Lomba, no distrito de Bragança, e Monforte de Rio Livre, no de Vila Real. AVINTES (D. António de Almeida, 2.° conde de) – Tenente-general de cavalaria do Algarve na Guerra da Aclamação e depois governador das armas da província de Trás-os-Montes (57). AZEVEDO (Belchior Leite de) – Abade de Espinhosela; fez testamento em 1703, deixando por herdeiros os jesuítas de Bragança, «com obrigação de administrar e pôr em dia e acabala a sua capella de Sam Caetano sitta no dito lugar de Espinhosella com sua sacristia, caixões e mais ornatos e guisamentos necessarios», pondo-lhe um capelão que dissesse as missas que ele (51) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Araújo». (52) Ver tomo VI, p. 17, destas Memórias. (53) Ibidem, tomo I, p. 68. (54) Ibidem, p. 118. (55) Ibidem, p. 102. (56) Ibidem, p. 84 e 91. (57) SOUSA, António Caetano de – História Genealógica, tomo X, p. 840, e tomo XII, p. 133

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indicava por sua alma, «reservando sempre que não será capellão nenhum clerigo de Bragança». Os jesuítas, administradores dos bens, seriam mais obrigados «a dar tres mil cruzados de dote para suas filhas Dona Mariana Leite de Azevedo e D. Rosa de Santa Maria chegando a professar em o mosteiro de S. Bento de Bragança, e não querendo professar no ditto mosteiro passarão os dittos dotes a seu sobrinho Luiz Lourenço Mendes de Carvalho, fidalgo da casa de Sua Magestade». Deixou mais às ditas suas filhas, além de várias alfaias, «toda a sua louça de estanho», dois castiçais de prata com tesoura do mesmo metal, e ao referido sobrinho o seu casal de Quirás, uma bacia, gomil, vinte colheres, vinte garfos, salva e púcaro, dois saleiros grandes, tudo de prata, seis copos e duas galhetas com seus pratos, dois bacamartes, duas clavinas e duas espingardas e o seu cavalo selado e enfreado com suas pistolas. Deixava forra a sua negra (escrava). Tinha várias quantias e diversas pratas empenhadas, que seus herdeiros entregariam aos donos logo que as desempenhassem (58). Belchior Leite de Azevedo era natural de São Martinho de Recesinhos, concelho de Penafiel, bispado do Porto, e foi apresentado abade de Espinhosela em 1678. AZEVEDO (José Alves Pinto de) – Nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes a 23 de Outubro de 1809 e faleceu em Bragança, sendo comandante da subdivisão militar de Chaves, a 2 de Fevereiro de 1877. Assentou praça no batalhão de caçadores n.° 10 em 1828, e dando-se logo nesse ano a revolução de 16 de Maio no Porto, tomou parte nos combates da Cruz de Merouços e Ponte do Vouga, emigrando depois com a divisão constitucional para a Galiza e daí para Inglaterra, donde voltou com ela; foi um dos 7500 liberais que desembarcaram nas praias do Mindelo. Assistiu a quase todos os combates dados por aquela divisão, sendo ferido gravemente no Porto a 27 de Novembro de 1832 e na batalha da Asseiceira, merecendo pelo seu bom porte ascender ao posto de alferes e depois ao de tenente. Terminada a guerra civil pela convenção de Évora-Monte, pouco tempo teve de descanso, pois marchou para Espanha fazendo parte da Divisão Auxiliar e com ela combateu em Balmaceda, Arlaban e Arminen, merecendo pelo modo como se comportou neste último ser condecorado com o hábito de São Fernando. Voltando ao país em 1837, foi mandado para o Algarve contra o célebre guerrilheiro Remexido, na perseguição e extinção do qual esteve ocupado até 1842, ano em que foi promovido a capitão e em 1873 a general de brigada. (58) Museu Regional de Bragança, maço Testamentos.

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Foi por muitos anos comandante do Batalhão de Caçadores n.° 3 de Bragança, de cujo distrito foi também governador civil interino desde Janeiro a Julho de 1868, sendo por decreto de 13 de Março deste ano nomeado conselheiro (59). O general Pinto de Azevedo, cuja memória ainda hoje em Bragança é muito lembrada pela sua bondade, deixou aí família, sendo sua filha D. Maria Inês de Novais Pinto de Azevedo Real, casada com o major Luís Ferreira Real, já falecidos, que nos cargos de presidente do senado bragançano, administrador do concelho e provedor da Misericórdia deu sobejas provas da sua competência. AZEVEDO (José Velho de) – Serviu desde Setembro de 1683 até Janeiro de 1693 nas províncias da Beira e Trás-os-Montes, indo às praças de Bragança e Montalegre «a uer as suas fortificaçoens em resão das ruinas que lhe sobreuieram» (60). AZEVEDO (Manuel António de) – Cabe aqui uma referência à memória deste prestante cidadão, que se tornou credor do respeito da posteridade como benfeitor. Nasceu na freguesia de Roios, concelho de Vila Flor, a 9 de Setembro de 1820 e faleceu no Porto a 27 de Março de 1893; era filho de Manuel Bernardo de Azevedo e de D. Maria José. Aos dezoito anos de idade foi viver com um tio na cidade de Caxias, Brasil, de onde só voltou a Portugal em 1862 com avultada fortuna; depois de passar algum tempo na sua terra natal, foi morar para o Porto. As suas benemerências ressaltam da seguinte disposição do seu testamento, aprovado em 1890: «Deixo mais a quantia de 3:500$000 reis para a construção de uma casa em Villa Flôr nas condições proprias e exclusivamente para escola de meninas; bem assim mais a quantia de 4:500$00 reis para a construção de outra casa na povoação de Santa Comba (Villariça), naturalidade do finado meu pae, nas condições de servir para rapazes e raparigas... Deixo mais a quantia de 1:200$000 reis para a mobilia d’aquellas três escolas». Contemplou ainda com 5000$000 réis o «Asilo de Raparigas Abandonadas, o mais pobre que existir na cidade de Lisboa», e com legados menores diversas pessoas e institutos de caridade. Do remanescente da sua herança deixou usufrutuários seus sobrinhos Pedro Alberto Machado e esposa, de Roios, e proprietários em partes iguais os filhos legítimos destes. (59) Diário do Governo de 30 de Julho de 1868; O Primeiro de Janeiro de 27 de Novembro de 1904 e O Nordeste de 30 do mesmo mês e ano. (60) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos, tomo III, p. 173.

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As casas escolares constantes do testamento acima foram principiadas a construir em 1895 e entregues à autoridade competente em 1896. Nas fachadas, em letras douradas, tem o nome do doador, de quem também se vê o retrato a óleo na escola de Vila Flor. Ao largo fronteiro desta última foi dado pela câmara o nome de «Largo de Manuel Antonio d’Azevedo». Diz assim o letreiro que está na fachada da Escola Primária Feminina de Vila Flor, em uma lápide de mármore: LEGADO DE MANOEL ANTONIO DE AZEVEDO

1895.

B BAÇAL (concelho de Bragança) – Encontro menção nos documentos de um artista desta povoação só com a notícia de «Vidraceiro de Baçal», indicativa da arte que exercia, sem infelizmente lhe apontarem o nome. Este artista fez em 1798 a vidraça da capela-mor de Quintanilha e a da sacristia da igreja paroquial do Castro de Avelãs «que levou dezoito vidros com os ferros e rêde de arame por 5$140 reis». Estas vidraças eram de caixilhos de ferro forjado, tendo por isso certo valor artístico (61). BACELAR (António Vaz Pereira) – Doutor em cânones. Há dele uma tese de direito canónico dedicada a Nossa Senhora do Rosário, defendida no 5.° ano do seu curso, impressa em três planas em seda cor-de-rosa, servindo de véu de cálix. Conimbricæ Typographia e Academico-Regiae, Anno Domini 1705. Pertence à colecção do erudito abade de Carviçais, concelho de Moncorvo, que diz ser Bacelar, natural de Felgar, no mesmo concelho. BACELAR (Fernão Pinto) – Capitão de cavalaria, que muito se distinguiu durante as Guerras da Aclamação (1640-1668) (62). BACELAR (José Vaz de Sousa Pereira Pinto Guedes) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra. Nasceu a 27 de Setembro de 1880, na casa de Vale Melhorado, freguesia de Santa Maria Alta do Pombeiro Riba Vizela, concelho de Felgueiras. Reside na Bouça, concelho de Mirandela, onde con(61) Ver tomo IV, p. 559, destas Memórias. (62) Ver tomo I, p. 94, e tomo VI, p. 164, destas Memórias.

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tinua as tradições da sua fidalga família, uma das mais importantes do distrito de Bragança, como representante de seus tios, o visconde da Bouça e o visconde de Mirandela (63). É um dos seis beneméritos regionalistas que concorreram para a publicação do V tomo destas Memórias. Escreveu, além de ter colaborado em vários jornais: Ao Visconde da Bouça (Manuel Pinto Vaz Guedes Bacelar), folheto. BACELAR (Manuel Pinto) – Para a sua biografia, ver tomo I, pág. 131 e tomo VI, pág. 163 e seguintes, destas Memórias. Cópia de uma carta de agradecimento que lord Wellington lhe enviou por ocasião da definitiva expulsão dos franceses de Portugal: «Ill.mo e Ex.mo Snr. – Rogo a V. Ex.cia que ponha em execução a disposição feita a respeito da divisão do commando do coronel Wilson, e a que igualmente respeita á mudança do quartel general de V. Ex.cia, as quaes verbalmente communiquei esta manhã a V. Ex.cia Devo-me approveitar d’esta opportunidade para congratular a V. Ex.cia, em razão da evacuação que o inimigo acaba de fazer d’este paiz, e ao mesmo tempo dar a V. Ex.cia os agradecimentos pela ajuda e cooperação que hei recebido de V. Ex.cia nas operações que se hão dirigido durante o anno, e que hão sido trazidas ao presente resultado. Igualmente peço a V. Ex.cia que transmitta os meus agradecimentos ao general Silveira, coronel Trant e Wilson, pela ajuda que hei recebido de cada um d’elles, e pelo zelo que hão manifestado na causa, e habilidade com que se tem conduzido nas differentes situações em que individualmente hão sido postos. Também peço a V. Ex.cia que da minha parte transmitta á officialidade, e officiaes inferiores e soldados que tem servido debaixo da direcção de V. Ex.cia e immediato commando do general Silveira, coronel Trant e Wilson, as expressões do alto apreço que entretenho da sua bizarria e disciplina, quanto a soldados, e do seu patriotismo e lealdade para com o seu soberano; e das minhas asseverações de confiança no ultimo e feliz resultado da causa por que tão justamente contendemos, se acaso elles e todos os mais em iguaes circunstancias continuarem a fazer os mesmos esforços e a conduzirem-se por maneira digna da antiga reputação d’este paiz. – Quartel general de Villar Formoso, 10 de abril de 1811». «Na verdade, Manuel Pinto Bacellar era bem digno dos agradecimentos que lord Wellington e o marechal Beresford lhe dirigiram; era um dos dignos portuguezes daquele tempo. Prestou relevantes serviços durante a (63) Ver tomo VI, p. 27, 165, 524, 733 e 781, destas Memórias.

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invasão franceza em 1810, operando acertadamente na rectaguarda e flanco direito do exercito de Massena com todas as milicias do norte de Portugal, de que fora nomeado commandante em chefe, tendo por isso debaixo das suas ordens a divisão do general Silveira, a do brigadeiro Miller e as dos coroneis Trant e Wilson. Iguais serviços prestou como general das armas da provincia da Beira, na retirada do mesmo Massena em 1811. De resto, portou-se sempre briosamente em toda a sua longa carreira militar. Por decreto de 23 de março de 1789 foi Bacellar promovido a tenente coronel do seu dito regimento e a coronel por decreto de 26 de novembro de 1796. Em 1801 por occasião da nossa guerra com a Hespanha quando o marechal de campo Gomes Freire de Andrade, quartel mestre general do exercito do norte, emprehendeu com as tropas do commando do tenente general D. Manuel José Lobo o ataque de Monte Rei, distinguio-se brilhantemente o coronel Bacellar, cobrindo com a maior bravura a precipitada retirada das sobreditas tropas, salvando-as assim de uma completa ruina. O tratado de Badajoz de 6 de junho de 1801 poz termo a esta guerra e em 14 de outubro de 1802 Bacellar foi promovido a brigadeiro de cavallaria. O patriotico coração de Bacellar vendo Portugal assolado pelos francezes, os campos talados, os cidadãos trucidados em barbaras carnagens, a desolação e a dor assentadas onde quer que chegavam os soldados de Junot, não lhe permittiu ficar indiferente ao grito da revolução contra os francezes que rebentara em Bragança no dia 11 de junho de 1808. O general Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, alma deste movimento, nomeou-o commandante das tropas do districto do Douro, posto que a junta do sopremo governo do Porto lhe confirmou em portaria de 1 de Julho do dito anno. Em 18 do mesmo mez, foi nomeado general da provincia da Beira, onde tambem rebentara a revolução contra os francezes. Em 22 do já citado mez a referida junta deu uma nova organização ás tropas de que dispunha; foram dividas em tres corpos, o segundo dos quaes, chamado Exercito de Observação nas Provincias da Beira e Traz-os-Montes, foi confiado a Bacellar, era composto de dois batalhões do regimento n.° 23, do primeiro de caçadores da Beira, dos regimentos de milicias de Bragança, Miranda, Moncorvo, Chaves, Villa Real, Trancoso, Vizeu, Lamego, primeiro e segundo da Guarda, e do de Castello Branco, bem como do do regimento de cavallaria n.° 11 com o respectivo trem de artilheria» (64).

(64) SORIANO, Simão José da Luz – História da Guerra Civil, vol. I, cap. V, p. 342.

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«Ao tempo em que o outro corpo, isto é o primeiro, chamado Exercito de Operações da Extremadura, commandado por Bernardim Freire de Andrade se dirigia de Coimbra para Leiria, Bacellar aproximava-se de Castello Branco, combinando as suas estações e marchas com as dos exercitos de Bernardim e sir Arthur Wellesley. Occupando a margem direita do Tejo, quasi na sua confluência com o rio Zezere, Bacellar fez destacar de Abrantes uma partida forte sobre a villa de Constança onde fez uma grande e rica preza ao inimigo. De Abrantes foi para Santarem, onde apprehendeu ao inimigo grandes armazens e depositos. Marchando em seguida por Villa Franca dirigiu-se a Santo Antonio do Tojal afim de se encorporar ao exercito de Bernardim Freire estacionado em Mafra, e como recebessem ordem do governo para se apresentarem em Lisboa logo que fizessem desfilar as suas respectivas tropas para os seus antigos quarteis, para lá partiram e n’esta occasião por decreto de 30 de setembro de 1808 foi-lhe conferida a patente de marechal de campo. Por aviso de 7 de dezembro seguinte foi mandado tomar o commando do corpo de Observações, destinado ás provincias da Beira e Traz-os-Montes, de que resultou dirigir-se para Villa Real d’onde marchou com o seu dito corpo para a cidade da Guarda, onde em harmonia com as instrucções recebidas occupou as posições que julgou convenientes entre aquella cidade e a de Castello Branco e ahi pode illudir as tentativas do general Lapisse, que procurava entrar no paiz pela Beira Baixa, auxiliando assim as operações do marechal Soult, durante a sua invasão nas provincias do norte do reino. Quando sir Arthur Wellesley marchou sobre o Porto, Bacellar teve ordem, em data de 4 de Maio de 1809, para com os regimentos de infanteria 9 e 11 e a competente artilheria se dirigir a Lamego, onde chegou no dia 8, indo depois atravessar o Douro no sitio da Regua com 300 soldados á vista do inimigo, o qual depois de haver ganhado a ponte de Amarante fora acampar nas alturas de Fontellas. No dia 9 recebeu ordem do marechal Beresford para cortar a serra do Marão e seguir a estrada de Mondim de Basto para Chaves, o que elle cumpriu, indo todo o exercito inimigo entrar em Ginço na Galliza. Expulsas assim as tropas do marechal Soult do territorio portuguez, foi então Bacellar promovido a tenente-general por proposta do marechal Beresford em aviso da secretaria da guerra de 15 de Setembro de 1809. Beresford, vendo quanta era a confiança que podia depositar em Bacellar, por officio de 24 de Junho de 1810, estando este por governador da Beira, o encarregou do commando das milicias das três provincias do norte e partido do Porto, combinando os seus esforços com os que se podessem esperar das ordenanças d’aquellas provincias e estabelecendo por centro de MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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unidade o seu quartel general em Lamego, onde, devido ao seu zelo e actividade, conseguiu reunir um respeitavel exercito miliciano, na força de 10:000 homens, tendo debaixo das suas ordens o general Silveira, o coronel Nicolau Trant e João Wilson, bem como o brigadeiro Miller. Foi assim prevenido que o veio achar a terceira invasão franceza em Agosto de 1810 commandada por Massena, que no dia 9 de Outubro estava defronte das celebradas linhas de Torres Vedras, onde se recolhera o exercito Luso-britanico e muita gente do reino, maxime do Alentejo, tendo primeiro destruido os fructos por ordem de Wellington. Não podia Massena, em similhante situação, emprehender operação alguma militar pela sua rectaguarda que Bacellar o não prevenisse, passando para tal fim de Vizeu a estabelecer o seu quartel general em Coimbra, onde prestou serviços de tal ordem que Wellington lh’os agradeceu. Nenhumas tropas francezas entraram mais em Portugal até ao tempo em que o general Claparede, marchando com um corpo de 7 a 8:000 homens de Pinhel a Lamego, onde chegou no dia 14 de Janeiro de 1811, tendo batido Silveira na ponte do Abbade, do lado de Trancoso, obrigando-o a atravessar o Douro no dia 13 do citado mez de Janeiro. Ao mesmo tempo o general francez Drouet, tendo penetrado na comarca de Arganil, obrigara Bacellar a ir defender aquelles povos, postando-se na margem direita do rio Alva; mas sabendo da marcha de Claparede correu sobre Lamego com as mesmas duas divisões com que na comarca de Arganil batera Drouet, ordenando a Silveira que cobrisse Coimbra e entretivesse o inimigo até elle chegar. Claparede, constando-lhe a approximação de Bacellar abandonou Lamego. Em 5 de Março de 1811 principiou Massena a sua retirada de Portugal, dirigindo-se para Hespanha pela margem esquerda do Mondego; Bacellar immediatamente se destinou a persegui-lo, marchando com as suas duas divisões pela margem direita d’aquelle rio, parallelamente ao inimigo e tão perto que algumas vezes apenas d’elle o separava o mesmo rio. Restringindo-lhe assim o seu flanco esquerdo, conseguiu proteger todos os povos da margem direita de serem novamente saqueados e perseguidos pelos francezes. Voltando para Lamego logo que Massena abandonou Portugal, deu ordens tendentes ao recrutamento das milicias, procurando ao mesmo tempo reparar os damnos causados pelos francezes. Attendendo, pois, aos seus bons serviços, houve por bem o principe regente agracial-o com o titulo de visconde de Monte Alegre no dia 17 de Dezembro de 1811. Ainda em 1812, quando o marechal Marmont se dirigiu sobre Cidade Rodrigo para fazer diversão aos movimentos do exercito luso-britanico que atacava a praça de Badajoz, o visconde de Monte Alegre immediatamente marchou para o alto Mondego, estabelecendo o seu quartel general na Lagiosa, junto a Celorico, esperando ahi pelos regimentos MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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que formavam as divisões milicianas do Minho e partido do Porto; mas durante esta demora o general Brenier entrou em Portugal á frente de um corpo de infanteria com alguma cavallaria devastando terrivelmente ao oriente da serra da Estrella: Cuvilhã, Fundão, Belmonte e Castello Branco. Nem de outro modo procedeu Marmont, marchando do Sabugal sobre a Guarda, até que, retirando-se para as cercanias de Selamanca, deu aso ao visconde de Monte Alegre a ir estabelecer o seu quartel general em Lamego, pois que pela desigualdade das suas forças com as do inimigo não lhe podera evitar as incursões, tendo de se retirar em frente da cavallaria inimiga, ao principio com regularidade, que depois não conservou como se vê da ordem do dia de Beresford de 7 de Maio de 1812. Foi n’este anno que terminaram as fadigas bellicas do visconde de Monte Alegre, entregando-se apenas tranquillamente ao desempenho das suas funcções de general das armas da provincia da Beira. Acomettido de uma febre grave em Lamego, onde tinha o seu quartel general, ainda convalescente passou a Vizeu, por causa do serviço, onde uma recahida o atacou de novo e d’ella veio a fallecer em 1 de Maio de 1816. Foi enterrado na cathedral d’aquella cidade. Bacellar era affavel e officioso no seu trato para com os seus inferiores, polido e attencioso para com os iguais, respeitoso e obedientissimo para com os superiores, podendo portanto olhar-se como modelo de bom general, de bom cidadão e de bom subdito» (65). BANDEIRA (Manuel António Leitão) – Inocêncio Francisco da Silva menciona este escritor no seu Dicionário Bibliográfico com a nota de ignorar a sua naturalidade e nascimento. A conjecturar pelo apelido, supomos que será natural de Bragança, da família de Tomás Luís António Leitão Bandeira, mencionado no tomo VI, págs. 43, 143, 452 e 681, destas Memórias. Era doutor em direito pela Universidade de Coimbra. Depois de exercer em Portugal diversos cargos da magistratura, foi despachado corregedor, provedor e ouvidor para o Maranhão em 1785, para aí sustentar as regalias da coroa contra o bispo D. Frei António de Pádua e Belas, que se viu obrigado a resignar. Neste novo cargo prestou serviços por muito tempo, per-

(65) Extracto das Memórias biográficas do visconde de Monte Alegre, citadas por SORIANO, Luz na História da Guerra Civil – Segunda época – Guerra da Península, tomo III, capítulo V, em nota à p. 446. Nos Excertos históricos pelo capitão Cláudio de Chaby, parte III, p. 324, vem um extracto destas mesmas Memórias. Eis como o Dicionário Bibliográfico descreve este livro: Memórias do Il.mo e Ex.mo Sr. Manuel Pinto Bacelar, Visconde de Monte Alegre. Impressão régia, 1811. O autor do Dicionário atrás citado dá esta obra como sendo do doutor Fortunato de S. Boaventura. A Ilustração Trasmontana, Porto, 1910, p. 66, publicou o retrato de Manuel Pinto Bacelar acompanhado de notas biográficas.

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BANDEIRA | BAPTISTA | BARBOSA | BARREIRA

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dendo, por último, a vista. Parece que ainda vivia em 1818, segundo se deduz do opúsculo Memória histórico-apologética da conduta do bacharel Manuel António Leitão Bandeira. Escreveu: Epistola historico-politica de origine Societatis civilis, de ejus nexu et de Juribus Magestaticis. Lisboa, 1779. 8.° (66). BANDEIRA (Paulo da Costa) – Oficial de infantaria n.° 24 pertencente à guarnição de Bragança e que estava na praça de Almeida em 1810 quando esta foi pelos ares (67). BAPTISTA (Álvaro) – Proprietário na povoação da Cabreira, concelho de Alfândega da Fé. Era natural de Eucísia, do referido concelho, filho de humildes negociantes; fez a fortuna no Brasil, para onde se retirou ultimamente, e lá faleceu. Em 1909 tinha quarenta e seis anos de idade. Torna-se digno de louvor o procedimento deste benemérito da instrução, que a expensas suas fez construir uma escola para o sexo masculino na freguesia de Eucísia, concelho de Alfândega da Fé, com habitação para o professor, em excelentes condições higiénicas e pedagógicas, custeando além disso as despesas com a mesma escola desde Maio de 1898 até Outubro de 1900, pelo que foi louvado em portaria de 23 de Fevereiro de 1904, na qual se manda que em todos os documentos oficiais esta escola seja denominada «Escola Álvaro Baptista» (68). BARBOSA (André Pinto) – Governador de Miranda em 1659 (69). BARBOSA (Diogo de Caldas) – Mestre-de-campo da guarnição de Bragança, que se distinguiu nas Guerras da Aclamação em 1666 (70). BARREIRA (António Joaquim da Veiga) – Doutor, que se notabilizou pela aura popular como deputado no barulho das eleições de Santalha. Era natural de Quirás (71).

(66) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico. (67) Ver tomo 1, p. 166, destas Memórias. (68) Diário do Governo de 28 de Janeiro de 1904. (69) Ver tomo I, p. 96, destas Memórias. (70) Ibidem, p. 98. (71) Ibidem, tomo 1, p. 223 e 227, e tomo VI, p. 395.

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BARROS (António Augusto de) – Cirurgião-médico pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Nasceu em Bragança a 12 de Fevereiro de 1836. Publicou a sua tese intitulada Reunião Imediata e suas vantagens. Porto, 1864 (72). BARROS (Bento José de Sousa Brito de) – Nasceu em Braga a 7 de Dezembro de 1840; filho de Custódio José de Barros e D. Ana Maria de Sousa Brito de Barros. Vivia no Porto ainda em 1908. Escreveu: Farpões. Porto, Imprensa Civilização – Santos e Lemos, 1885. 8.° de 118 págs. e 1 de índice. É a 2.ª edição. Farpões. Tomo II. Porto, Imprensa Civilização, 1886. 8.° de 126 páginas e 1 de índice. Depois, continuando a paginação do livro, há mais 20 páginas onde se transcrevem apreciações das obras do autor, vindo portanto este tomo a conter 147 páginas. Esta obra contém uma carga violentíssima em João José Pereira Charula e nos doutores José António Franco, Joaquim Guilherme Cardoso de Sá e noutros indivíduos em evidência no meio bragançano, de alguns dos quais nos ocupamos nesta obra, a propósito do Banco de Bragança. Pandemónio (8.° de 18 páginas). É o título de um opúsculo onde se coligem as apreciações dos Farpões pela imprensa. BARROS (Guilhermino Augusto de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, deputado, par do reino, governador civil de Lisboa e de outros distritos, director-geral dos correios e telégrafos e depois do comércio e indústria. Apresentado governador civil do distrito de Bragança por decreto de 8 de Agosto de 1860, lugar de que tomou posse a 7 do mês seguinte. Nasceu no Peso da Régua em 1835 e faleceu em Lisboa a 16 de Abril de 1900. Correm dele algumas obras impressas. O Portugal – Dicionário histórico, artigo «Barros (Guilhermino Augusto de)», traz o seu retrato acompanhado de dados biográficos. BARROS (João de) – Doutor em leis, escrivão da câmara de el-rei D. João III. Era natural do Porto. Escreveu, além de outras obras impressas: Antiguidades de Entre Douro e Minho ou Breve suma de Geografia da Comarca de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes. Manuscrito da Biblioteca Municipal do Porto. Este interessante códice, escrito em 1549, foi publicado em 1919 por aquela Biblioteca (72) Portugal: Dicionário histórico, biográfico…, artigo «Barros».

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com o título de Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes na Colecção de Manuscritos inéditos agora dados à Estampa pela mesma benemérita Biblioteca. Compreende XIX + 5 (inumeradas) + 128 págs., seguidas de 17 de índice + 1 de registo (inumeradas), em formato de 8.° BARROS (Manuel Luís Correia de) – Era escrivão e tabelião em Mirandela, para onde fora despachado em 22 de Março de 1847, embora o decreto seja de 15 de Maio de 1848. Ignoramos a sua naturalidade. Era solteiro e faleceu em Mirandela em 1876 com setenta e quatro anos de idade. Escreveu: A Carneirada. Poema em um canto. Por * * *. Tip. da Malhada, o número não vale nada, 1855. Correia de Barros zurze impiedosamente neste poema o administrador do concelho de Mirandela, Manuel António Carneiro da Fonseca e Silva; foi publicado sem nome do autor e consta de 14 págs. in-8.° BARROS (Paulo de) – Engenheiro, deputado às cortes, director das obras públicas do distrito de Coimbra e inspector de obras públicas. Era natural de Vila Real e faleceu em Coimbra a 25 de Novembro de 1919. Escreveu, além de outras obras: Evolução social – Discurso pronunciado no «Grémio de Instrução e Recreio» de Bragança, na noite do dia 26 de Maio de 1881. Porto, Real Tip. Lusitana, 1881. 8.° de 48 págs. BARRASSA ou BARROS (Diogo) – Judeu, natural de Vila Flor; médico e astrólogo. Escreveu: Prognóstico Lunário do ano de 1635, tirado do arábigo, que traduziu do siríaco de Jonathas Abenizel Rabbi Israel de UImasia. Sevilha, 1630. 4.° Raro (73). BEÇA (Abílio Augusto de Madureira) – Nasceu em Vinhais a 20 de Agosto de 1856; filho de José António de Madureira Beça e D. Maria Augusta de Madureira Beça. Casou em 1882 com D. Ana Clotilde de Sá Machado Leitão Bandeira Beça, filha de João Carlos Leitão Bandeira, por diversas vezes administrador do concelho de Bragança, natural de São Pedro dos Sarracenos, e de D. Leopoldina Carolina Pavão de Sá Machado, que faleceu em São Pedro dos Sarracenos a 15 de Maio de 1895. Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1880, sendo pouco depois nomeado professor do Seminário e do Liceu de Bragança. (73) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vila Flor».

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Em 1888 tomou a direcção de O Brigantino, e acabado este fundou em 1892 a Gazeta de Bragança, semanário regenerador que manteve até que faleceu a 27 de Abril de 1910. Em 1893 foi eleito presidente da comissão distrital e deputado pela primeira vez em 1894, fazendo a sua estreia como orador parlamentar na sessão de 11 de Outubro de 1894. Em 1896 foi eleito presidente da Câmara Municipal de Bragança, de que não chegou a tomar posse por incompatibilidade com outro cargo que exercia ao tempo. Nesse mesmo ano fez parte da câmara dos deputados, onde pronunciou discursos vigorosos em prol da viação ordinária e acelerada no distrito de Bragança, nas sessões de 17 e 29 de Fevereiro de 1896 (74). Em 26 de Novembro de 1899 foi, pela terceira vez, eleito deputado pela oposição. O decreto de 7 de Setembro de 1899, no intuito de reorganizar o exército, havia tirado a Bragança o batalhão de caçadores n.° 3, o regimento de cavalaria n.° 7 e o distrito de recrutamento de reservas, que nesta cidade existia desde a sua criação, e por este decreto foi transferido para Mirandela. Reivindicando estas espoliações, pronunciou Abílio Beça um veemente e notável discurso, que mereceu o aplauso da câmara e grandes louvores da imprensa (75). Igualmente nessa legislatura, pugnando pelos interesses de Bragança, verberou o procedimento do governo que, pela portaria de 24 de Dezembro de 1898, transferira a delegação aduaneira de Bragança para Quintanilha (76). Em 6 de Julho de 1900 foi nomeado governador civil de Bragança, lugar de que tomou posse a 16 do mesmo mês, sendo exonerado a seu pedido a 9 de Julho de 1904. Em Outubro de 1901 foi agraciado com a carta de conselheiro. A reforma de saúde e beneficência, publicada em Dezembro de 1901, acabou com o subsídio aos hospitais, uma calamidade para o de Bragança, que não tinha meios próprios para ocorrer às necessidades da pobreza; no intuito de obviar a tais inconvenientes, Abílio Beça conseguiu que por despacho ministerial de 17 de Março de 1902 fosse autorizada a continuação do subsídio que o governo lhe havia concedido em 1892 para tratamento das mulheres toleradas (77).

(74) Gazeta de Bragança de 1, 8 e 29 de Março de 1896, onde podem ver-se esses discursos. (75) Esse discurso, além do Diário das Câmaras, pode ver-se na Gazeta de Bragança de 8 de Abril de 1900. (76) Vem também esse discurso, pronunciado na sessão de 4 de Abril, na Gazeta de Bragança de 27 de Maio de 1900. (77) Gazeta de Bragança de 23 de Março de 1902.

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O decreto de 10 de Março de 1901 e sua portaria elucidativa de 12 do mesmo mês, suprimiu em Portugal várias casas religiosas, e em harmonia com estas disposições, os Recolhimentos da Mofreita e Fornos de Ledra viram-se ameaçados de igual sorte, o que seria muito para lamentar, atento o grande serviço que eles prestavam à educação da juventude feminina e moralidade dos povos, valendo-lhe Abílio Beça que, em ordem à sua conservação, informou o governo. Devido às suas informações como governador civil, foram criadas no distrito escolas de instrução primária para o sexo feminino em Vilarinho da Castanheira, Vilarelhos, Freixeda, Vale de Gouvinhas, Parâmio, Alvites, Vale de Torno, Vilarinho de Cova de Lua, São Salvador, Pereiro, Samões, Linhares, Caçarelhos, Baçal, Bornes, Varge e Benlhevai, e para o sexo masculino em Riba Longa, Paramos, Travanca, Vale de Gouvinhas, Remondes, Cabeça Boa, Edral, Talhas, Guide, Pinhal do Norte, Belver, Saldonha e Larinho. Igualmente a instrução lhe deve também a criação das seguintes escolas mistas: em Selores, Codeçais, Múrias, Limãos, Brinço, Vilar de Rei, Burga, Ferradosa, Talhinhas, Eucísia, Vale da Sancha, Gimonde e Bouça; desdobrou em duas a escola elementar de Mós, concelho de Moncorvo, sendo uma para o sexo masculino e outra para o feminino; converteu em mista a de Conlelas e à de igual classificação do Larinho deu categoria de escola para o sexo feminino, criando de novo outra para o masculino. Cooperou eficazmente para a construção dos seguintes edifícios escolares: em Alfândega da Fé e Outeiro, arrematados em 7 e 10 de Dezembro de 1903 (com capacidade para os dois sexos) (78); Macedo de Cavaleiros, S. Pedro dos Sarracenos, Rabal, Izeda, Serapicos e Bragança, na cerca do extinto convento de Santa Clara (onde se começou a construir a praça do mercado), com destino às duas escolas femininas da cidade (79). Também neste mesmo ano obteve que o ministro do reino aprovasse o projecto, com o respectivo orçamento, para reparações e ampliação da casa escolar de Meixedo e a de outro para a construção de uma escola primária na vila de Mirandela, na importância de 6238$000 réis (80). Obteve a criação do Ginásio, estabelecido na cerca do Liceu de Bragança, que começou a funcionar no ano lectivo de 1904-1905; a criação da Escola de Habilitação ao Magistério Primário de Bragança em 1896 e a construção em 1903 do apeadeiro da Ribeirinha, na linha do Tua, obra de

(78) Gazeta de Bragança de 29 de Novembro de 1903. (79) Ibidem, de 6 de Dezembro de 1903. (80) Ibidem, de 15 de Março e de 3 de Maio de 1903 e 2, 9, 16 e 23 de Outubro de 1904.

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grande importância para muitas povoações dos concelhos de Vila Flor e Mirandela. Cooperou proficuamente para que se construísse a ponte do Pinheiro, no concelho de Vinhais, arrematada em Outubro de 1903 pela quantia de 1290$000 réis por Agostinho Pires, de Seixas, obra que beneficiou singularmente muitas povoações do extinto concelho de Vilar Seco de Lomba, hoje incorporado no de Vinhais (81). Igualmente cooperou para que se publicasse o decreto de 24 de Dezembro de 1903 e a portaria de 31 de Janeiro de 1904, pelos quais se mandava construir, juntamente com o governo espanhol, uma ponte internacional sobre o rio Maçãs, próxima da capela da Senhora da Ribeira, termo de Quintanilha. Esta ponte estabelece comunicações entre o nosso país e o vizinho, naquele ponto, onde entronca à estrada de Alcanices, em Espanha, e a ele deve ir dar um ramal que, partindo da estrada real n.° 37 de Bragança a Miranda, pouco adiante de Milhão, vá ligar com a de Alcanices sobre aquela ponte (82). A ponte seria construída pelo governo espanhol, pagando o governo português metade das despesas, orçadas em 186.497,11 pesetas, para cuja soma Portugal devia concorrer com 93.248,55 pesetas (83). Os subsídios que obteve do governo para a reparação e construção de estradas no distrito, durante a sua gerência de governador civil, nem antes nem depois foram excedidos. Em 1887 elaborou, como relator, na reunião da Junta Geral do Distrito de Bragança, a informação sobre a construção das novas estradas de Milhão a Vimioso; de Bragança a Izeda e ponte de Remondes; de Nogueira à Torre de Dona Chama; de Bragança a Portelo, por Rabal e França. Estas construções começaram logo, mas em 1891, por medida económica geral, foram rescindidos os contratos que autorizavam essas e outras empreitadas. No entanto, em 1894, sendo deputado, conseguiu fazer subsistir as empreitadas referentes às duas últimas, chegando a concluir-se no fim de três anos a de Bragança a Portelo e em pouco menos a de Nogueira à Torre de Dona Chama. Também em 1896, 1900 e 1901 conseguiu obter do governo valiosos subsídios que muito adiantaram as construções das duas primeiras. Igualmente pelos anos de 1884 (?), juntamente com João António Pires Vilar e Trajano Augusto de Oliveira, constituiu a comissão executiva da (81) Gazeta de Bragança de 25 de Outubro e 16 de Novembro de 1903. (82) Ibidem, de 25 de Outubro e 27 de Dezembro de 1903 e 21 de Fevereiro de 1904. (83) Ibidem, de 13 de Março de 1904.

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Junta Geral, que mandou realizar a construção do palacete para funcionamento da mesma corporação. Pela supressão das juntas gerais ficou este palacete servindo para funcionamento da repartição do governo civil e necessárias dependências, gabinete do governador civil, etc. Nos baixos deste palacete está hoje o comissariado de polícia. A fachada, muito mais elegante do que a primitiva marcava, é devida a modificações do engenheiro José Beça, que, incumbido pelo prestante membro da comissão Abílio Beça, lhe deu gratuitamente nova traça. Também como membro da mesma comissão executiva conseguiu que a mesa da irmandade de S. Bento cedesse, gratuitamente, metade do coro da igreja do mesmo orago, dispensável pela sua grande extensão, a fim de ser demolido para alargar o parque da Junta Geral, de maneira a ficar desafrontada a frontaria do novo edifício. A cedência, como já dissemos, foi gratuita, sendo feita por conta dos fundos da Junta Geral a fachada lateral da igreja que lança sobre o parque. Além disto, a Junta Geral do Distrito de Bragança havia contraído dívidas antigas, no montante de cem contos de réis, para ocorrer a várias despesas de viação, como a construção da estrada de Bragança às Cabanas e o ramal de Mogadouro e outras, de que pagava, de juros, sete contos de réis anualmente; Abílio Beça, porém, conseguiu realizar a conversão dessa dívida com a Companhia de Crédito Predial em condições tais que, passados trinta anos, só com a paga dos ditos sete contos fica a dívida extinta. Esta conversão deixou ainda à Junta Geral alguns contos de réis, com os quais Abílio Beça tencionava que se construísse uma escola normal ao lado do parque do governo civil, chegando para ela a fazer a planta e orçamento o engenheiro José Beça; mas, sucedendo no governo, a 17 de Fevereiro de 1892, um ministério presidido por José Dias Ferreira, com o fim de realizar economias acabou com as escolas normais distritais, o que motivou a não criação desta. Com a verba destinada para ela, pode João António Pires Vilar mandar comprar a luxuosa mobília que hoje se encontra no governo civil e mandar construir no pinheiral Trás-dos-Fortes de S. João de Deus a casa do posto hípico, melhoramento de grande alcance para o progresso económico da região, se bem que muito desvalorizado pelas péssimas condições do seu local (84). Abílio Beça tinha a religião do civismo e a intuição clara dos melhoramentos que a podem afervorar; político de largas vistas, não sacrifi-

(84) Para tudo o que levamos dito, ver Gazeta de Bragança de 15 de Setembro de 1901.

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cava a essa veleidade estólida, que tanto mal tem feito à nossa terra, levando os seus homens em evidência a contrariar sempre as iniciativas, embora louváveis, contanto que partam do campo adverso. Se o seu partido estava no poder era incansável em promover o engrandecimento desta região; se na oposição... não contrariava, como soi fazer-se, mas coadjuvava quanto podia as tentativas dos outros, sendo o primeiro na vanguarda a sugerir o que convinha: haja vista a campanha em favor dos reparos nesse vetusto monumento arquitectónico, chamado Castelo de Bragança (85), e a ideia duma avenida ligando a estação da linha férrea com a cidade. Quanto ele trabalhou para a consecução do novo caminho-de-ferro já noutra parte o dissemos. BEÇA (Adriano) – General de infantaria, comandante da companhia normal de instrução na Escola Prática de Mafra. Morador e criado em Bragança, nasceu em Vinhais a 18 de Novembro de 1857 e faleceu em Miranda do Douro a 12 de Outubro de 1923; filho de José António Ferro de Madureira Beça e de D. Maria Augusta de Madureira Beça. Foi secretário da Escola do Exército. Escreveu: Formações Novas a propósito da Revisão da Ordenança de Infantaria. Lisboa, 1895. 16.° pequeno, de VII-105 págs. Na Revista do Exército e da Armada, de Outubro de 1895, pág. 251, veio uma apreciação deste livro, que o acha «escripto com notavel clareza e elegancia, embora despretenciosamente, e inspirado nas publicações dos mais notaveis escriptores modernos, e que pode prestar um importante concurso para o fim a que é destinado» e que não pode deixar de impor-se à atenção «dos dedicados a estes assumptos». A Revista Militar, n.° 17, de 15 de Setembro de 1895, pág. 540, diz que: «o autor é já assaz vantajosamente conhecido como um dos oficiaes que, entre nós, mais se tem consagrado ao estudo da tactica da infanteria e que este livro, com cuja leitura lucrarão os officiaes, que queiram pôr-se ao corrente das mais importantes questões da tactica de infanteria, presentemente debatidas no estrangeiro, formula um systema completo de formações e evoluções de notavel originalidade». A Revue Militaire Belge, treizième année (1888) – tomo IV, Bruxelas, 1888, pág. 205 – aprecia muito honrosamente para o nosso patrício a série de artigos por ele publicados no jornal O Exército Português em 1888, sendo então tenente-ajudante do Regimento de Caçadores n.° 3. (85) Gazeta de Bragança de 9 de Julho de 1905.

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Passados sete anos depois da aparição do livro do nosso distinto oficial, um espanhol publicou um livro, muito apreciado, onde propugna por igual sistema de táctica ao já preconizado pelo nosso inteligente oficial. São os Nuevos métodos de combate. Proyecto de reglamento tactico para infanteria por el comandante Ricardo Burguet. Cristóvão Aires fez desta obra uma apreciação no Jornal do Comércio de 24 de Junho e 2 e 8 de Julho de 1902, onde reconhece a prioridade do capitão Beça relativamente às doutrinas expostas pelo oficial espanhol, que tanto barulho fizeram em Espanha. A imprensa portuguesa também se referiu honrosamente a esta publicação, devendo citar-se especialmente os seguintes: O Século de 7 de Outubro, Jornal de Notícias de 22 de Outubro, Gazeta Militar de 25 de Agosto e O Primeiro de Janeiro de 4 de Outubro, todos do dito ano de 1895. O General Silveira – A sua acção militar na guerra da península – Comemoração do 1.° centenário da Guerra Peninsular. Lisboa, 1909. Tip. Universal. 8.° de 65 págs. e 1 de índice (inumerada), com três gravuras e uma vista. O Oficial nos Exércitos Modernos, a sua preparação e a sua missão educadora – Conferência premiada pelo Ministério da Guerra por ter sido classificada em primeiro lugar na arma de infantaria em 1908. Lisboa, Tip. da Cooperativa Militar, 1909. 8.° de 57 págs. A Evolução da Táctica de Infantaria. Foi publicado na Revista de Infantaria em 1905-906 e obteve o 1.° prémio no concurso aberto na dita Revista entre os oficiais da arma. Lições da Grande Guerra. Lisboa, Tip. da Empresa Diário de Notícias, 1922. 8.° gr. de 288 págs. e mais 3 inumeradas. BEÇA (Alberto Augusto Ferro de) – Doutor pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, nasceu em Moncorvo a 14 de Abril de 1875; filho de Carlos Alberto Madureira Beça, de Outeiro, concelho de Bragança, e de D. Maria Alves, de Chacim. Fez os preparatórios liceais em Bragança, Vila Real e Braga e o curso de medicina no Porto, concluindo-o em 1904. Escreveu: Epitelioma da glândula submaxilar (caso clínico). Dissertação inaugural. Porto, Tip. da Empresa Literária e Tipográfica, 1904. 8.° de 70-5 págs., com duas fotogravuras. BEÇA (Carlos Augusto Ferro de Madureira) – Professor das Escolas Móveis (em Montesinho) pelo método de João de Deus; nasceu em Outeiro, concelho de Bragança, a 17 de Dezembro de 1891; filho de António José Ferro de Madureira Beça, antigo administrador do concelho de Bragança, e de D. Ana Maria Martins, de Paçó de Outeiro. Fez o curso liceal até ao sexto ano em Bragança, Lamego e Coimbra. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Tem colaborado nos seguintes periódicos: Ecos do Mondego; Bragançano; Colegial (de Lamego) e Povo de Mirandela. Escreveu: Canteiro de Flores. Porto, J. Maria da Costa, Suc., editor, 1920. 16.° de 98 págs. com o retrato do autor. Compreende noventa trovas em redondilha no sabor popular. BEÇA (Desidério Augusto Ferro de) – Major de infantaria; nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 28 de Novembro de 1866 (mas criou-se em Bragança) e faleceu em Vila Real, onde fora assistir ao Congresso Trasmontano, a 11 de Setembro de 1920. Pertencia ao estado-maior da arma de infantaria. Foi chefe da 3.ª secção da 3.ª repartição da 1.ª divisão-geral do Ministério da Guerra, e ao tempo do seu falecimento era director dos serviços gráficos do exército e senador pelo círculo de Vila Real. Foi governador civil de Bragança, onde jaz sepultado. Escreveu: Congresso Nacional de Mutualidade, Tese XVI da mutualidade militar – Vantagem do seu estabelecimento no exército português. 1911. 8.° de 8 págs. O Estado, a Família e as Sociedades de Instrução Militar Preparatória – Palestra na Sociedade n.° 9, em 8 de Dezembro de 1912. Lisboa, 1913. Papelaria Fernandes & C.ª Folheto de 34 págs. I. M. P. (Instrução Militar Preparatória) – Desenvolvimento da comunicação apresentada ao I Congresso de Educação Física, promovido pelo Ginásio Club Português. Lisboa. Papelaria e Tipografia Fernandes & C.ª Sem data (1916 ?). 8.° de LXIII-151 págs. e 1 de erratas. A Festa da Árvore e o Exército Português – Conferência realizada na sessão solene de 27 de Fevereiro de 1916, com assistência de S. Ex.ª o Presidente da República, pelo Delegado do Ministério da Guerra. Lisboa, 1917. Tip. La Bécane. Folheto de 10 págs. BEÇA (Humberto) – Nasceu em Bragança (freguesia de Santa Maria) a 10 de Setembro de 1878 e faleceu no Porto a 27 de Julho de 1924; filho de Carlos Augusto Salgueiro e de D. Ernestina Adelaide Ferro de Madureira Beça; neto paterno de Pedro dos Santos Salgueiro e materno de António Ferro de Beça. Fez os estudos liceais em Aveiro e no liceu Rodrigues de Freitas, do Porto, concluindo-os em 1893. De 1896 a 1899 frequentou o Instituto Industrial e Comercial do Porto e depois a Escola do Exército, no curso da administração militar. Assentou praça em 2 de Agosto de 1895; sendo promovido a aspirante a oficial em 4 de Novembro de 1900, por haver terminado o respectivo curso. Por motivo de incapacidade física, resultante de desastre em serviço, foi afastado da actividade em Maio de 1902. Casou a 11 de Abril de 1904 com D. Maria José Gomes de Brito e Beça. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Entrou pouco depois no jornalismo como redactor do Jornal da Murtosa, e, terminado este, teve a direcção de O Murtosa, semanário ilustrado que apenas durou seis meses, seguindo-se-lhe O Povo da Murtosa, de que também teve a direcção, juntamente com o dr. Carlos Alberto Barbosa, colaborando ao mesmo tempo em O Século e no Campeão das Províncias, de Aveiro. Colaborou depois em O Cunha, almanaque que se publicou no Porto; na Gazeta das Aldeias; na Foto-Revista; Diário de Notícias, de Lisboa; O Norte, do Porto; Gazeta de Bragança; Pátria Nova, de Bragança; Democrata, de Aveiro; A Capital, de Lisboa; A Imprensa Portuguesa, idem; O Primeiro de Janeiro, do Porto; O Norte, 2.ª série, idem; A Montanha, idem; O Correio da Feira; Correio do Minho, etc. De Novembro de 1910 a 1912 foi director da revista técnica O Guarda-Livros. Foi guarda-livros no Porto, e em 1912 teve a direcção da Escola Secundária de Comércio, da qual foi fundador. Por decreto de 26 de Outubro de 1920 foi nomeado professor do Instituto Comercial do Porto. Escreveu: A Tomada de Chaves – A propósito do primeiro centenário da Guerra Peninsular. Poemeto de 8 págs., papel couché. Tip. Beleza. Porto, 1909. Justiça de Castela, sobre a morte de Ferrer. 1909. Tip. Peninsular, Porto. Poemeto de 12 págs. Sonhos de Alma (versos). Tip. Universal. Porto, 1910. 60 págs. (ilustradas). Capa também ilustrada. Tiraram-se cem exemplares em papel couché. A Bandeira Portuguesa – Polémica em verso com a poetisa D. Luthgarda de Caires. Porto, 1911. Tip. Universal. Capa ilustrada. Tiraram-se cinquenta exemplares em papel couché e vinte e cinco em papel cromo. 160 págs. Azulejos (versos). Porto, Tip. da Escola Raul Dória, 1912. Texto e capa ilustrados. 110 págs. Tiraram-se trinta e seis exemplares em papel couché e catorze em papel cromo. Excertos da juventude (versos). 128 págs., ilustradas e capa ornamentada. 1917. Porto, Tip. Costa Carregal. Tiraram-se quinze exemplares em papel cromo. É dedicado a sua esposa. Sob a Metralha – Episódios da Grande Guerra. 1919. Tip. Minerva, Famalicão. 192 págs., com o retrato do autor. Capa ilustrada. Todas estas obras são em oitavo, sendo as quatro primeiras oblongas. Noções de Comércio (1 vol.). Porto, Tip. Empresa Guedes, 1913. «Colecção de Ensino Comercial». 8.° gr. 120 págs. Prática de Escrituração Comercial (1 vol.). Porto, Tip. Artes e Letras, 1913. 32 págs. Idem. Teve 2.ª edição em 1921. Noções de Aritmética. Porto, 1914. Sem indicação de tipografia. 160 págs. Idem. 8.° gr. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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BEÇA

TOMO VII

Noções de Comércio (II vol.). Porto, Tip. Artes e Letras, 1917. 215 págs. Idem. 8.° gr. Prática de Escrituração Comercial (II vol.). Porto, Tip. Artes e Letras, 1917. 8.° gr. 32 págs. O Ensino Comercial em Portugal. Porto, 1918, Tip. Artes e Letras, 52 págs. 8.º gr. Correspondência Comercial. «Colecção de Ensino Comercial». Porto, 1921. Tip. Artes e Letras, 144 págs. 8.° gr. Castelos de Portugal – Os Castelos das Beiras. Tese apresentada ao Congresso das Beiras em Viseu. Porto, 1921, Tip. Artes e Letras. Ilustrado; desenhos e fotografias do autor. 64 págs. BEÇA (José António Ferro de Madureira) – Engenheiro e deputado pelo círculo de Bragança, nas legislaturas de 1900 e 1901. Nasceu em Vinhais a 10 de Março de 1859 e faleceu em Lisboa a 26 de Dezembro de 1902, às 4 horas da manhã, vitimado por um aneurisma; filho de José António Ferro de Madureira Beça e de D. Maria Augusta Ferro de Madureira Beça. Concluindo o curso matemático em Coimbra com distinção, que lhe valeu ser classificado para a arma de engenharia, foi completar o curso na Escola do Exército. Pouco depois de concluído o curso de engenharia civil, entrou para o serviço da Companhia Nacional dos Caminhos-de-Ferro, onde serviu desde 1884 a 1886, tendo exercido o cargo de chefe da repartição técnica da direcção em Lisboa e o de subdirector da construção da linha de Foz Tua a Mirandela, com residência nesta vila. Fez também os reconhecimentos da linha de Mirandela a Bragança, na direcção de Alcaniças, e de Arganil à Covilhã, de colaboração com outros engenheiros, e elaborou o projecto dos esgotos de Coimbra, trabalho que obteve o primeiro prémio no concurso aberto para aquele fim. Em 1886 entrou para o cargo de engenheiro de obras públicas, passando depois a fazer serviço na Direcção-Geral de Estatística, onde lhe foi cometida a secção do censo da população, lugar em que se encontrava à data do seu falecimento. O último censo da população, realizado em 1900, foi organizado sob a sua direcção. Ao engenheiro José Beça se devem os maiores esforços para a construção da linha férrea de Mirandela a Bragança (86). Corre dele impresso: Orçamento do Ministério das Obras Públicas – Discurso proferido na Câmara dos Senhores Deputados em sessão de 22 de Março de 1902 – Caminho-de-Ferro de Bragança – Considerações feitas na sessão de (86) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Beça». A Revista de Obras Públicas e Minas, de 1903, inseriu o seu necrológio.

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BEÇA

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BERNARDO LUÍS XAVIER

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BORGES

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24 de Abril de 1902 e parecer sobre a proposta do governo relativa aos caminhos-de-ferro transmontanos. Lisboa, 1902, Imprensa Nacional. 8.° de 21 págs. BEÇA (Sebastião António Ferro de) – Quartel-mestre de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida aquando do desastre em 1810 (87). Todos os Beças, atrás referidos, pertencem à mesma família, residente em Bragança, e são primos, irmãos ou sobrinhos uns dos outros. BERNARDO LUÍS XAVIER – Serviu por quase três anos nas praças de Trás-os-Montes em trabalhos de fortificações e também tirou as plantas das fortalezas desta província. Por carta régia de 5 de Fevereiro de 1716 foi nomeado capitão-engenheiro da capitania da Paraíba, no Brasil, onde devia «assestir continuamente ás obras das fortificações della» por nele «concorrerem os requisitos de se achar com a pratica e experiencia das guerras preteritas por haver servido de ajudante engenheiro na praça de Tras os Montes dous annos outo mezes e vinte e um dias effectivos e no refferido tempo assestir á fortificação da praça de Puebla de Senabria, na de Miranda, na da brecha de Monte Alegrete (sic)». Assim se expressa a carta régia da sua nomeação (88). BORGES (Padre Bartolomeu de Castro) – Natural de Moncorvo. Escreveu: Sermões Vários. Manuscrito in 4.°; Rimas Sacras, profanas e jocosas. Manuscrito. Teve estas obras seu sobrinho, capitão-mor de Freixiel e Abreiro (89). B ORGES (José Cardoso) – Sargento-mor de Bragança, escrivão da câmara municipal da mesma cidade, fidalgo da casa real e escritor genealógico «dos mais veridicos do reino», segundo diz João Leite Teixeira Chaves, na sua obra O Livro de Miranda. Nasceu em Miranda do Douro e não em Bragança, como muitos apontam, e faleceu em Bragança a 26 de Janeiro de 1745; era filho de Francisco Borges Barreiros e de D. Ana Rodrigues. Casou em Bragança com D. Clara Maria de Figueiredo Sarmento, filha legitimada de António Figueiredo Sarmento, governador de Bragança, fundador em 5 de Novembro de 1706 do vínculo do morgadio da capela de Santo António do Toural, em Bragança.

(87) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (88) VITERBO, Sousa – Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, 1899, artigo «Bernardo Luís Xavier». (89) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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BORGES

TOMO VII

Escreveu em 1740: Árvore Genealógica da Família dos Figueiredos da Quinta de Arufe. Fólio máximo de oito folhas, existente em Bragança em poder do escrivão-notário José Júlio Chaves de Lemos (90). O título acima encontra-se por fora, na lombada do volume, mas de letra mais moderna e diversa da do texto principal da obra; o verdadeiro seria Árvore Genealógica da Família dos Figueiredos de Bragança, pois é da genealogia desta família que exclusivamente trata a Árvore, como se declara na certidão final; as outras notícias que contém foram inseridas posteriormente, talvez pelo visconde de Ervedosa, António Correia de Castro e Sepúlveda, ou por alguém da sua família, nas costaneiras e páginas em branco do livro, como evidentemente se conclui da diversidade de letra. O primeiro fólio e verso contém a genealogia de António Correia de Castro e Sepúlveda, 1.° visconde de Ervedosa, filho do tenente-general Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda. Nos cinco seguintes vem a árvore genealógica dos Figueiredos, com desenvolvimento de notas relativamente aos cargos públicos e ramificações da família, e termina por uma certidão passada a 12 de Abril de 1740 por José Cardoso Borges, na qual jura aos Santos Evangelhos que a dita Árvore e notas respectivas são autênticas e conformes aos autores genealógicos. Segue ainda outra certidão de Frei António Rousado passada em Lisboa a 14 de Fevereiro de 1749, na qual jura o mesmo. Seguem depois dois fólios em branco: num está colada uma cópia da Árvore Genealógica dos Costados impressa em Lisboa ano de 1829 (é a genealogia do visconde de Ervedosa). Ainda no verso deste está colada uma folha do Farol Trasmontano, primeiro periódico publicado em Bragança, que contém um artigo de Francisco Xavier Gomes de Sepúlveda, abade de Rebordãos, intitulado: «Breve notícia genealógica da família dos Morais». No outro fólio está colada uma genealogia de Salvador Correia de Sá, alcaide-mor do Rio de Janeiro, sogro do tenente-general Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, e no verso deste uma notícia referente ao falecimento de D. Maria Josefa, viscondessa de Ervedosa, ocorrido em Arufe a 7 de Dezembro de 1859. Vêm ainda apensos a este volume três fólios pequenos de papel grosso, letra antiga, que contém uma genealogia do desembargador Francisco Jorge e de sua mulher D. Isabel Borges, da cidade de Bragança, que em 1550 instituíram um morgadio com capela na igreja do convento de São Francisco desta cidade, com obrigação de seus administradores usarem o apelido «Jorge».

(90) Ver tomo VI, p. 113, 121, 136, 137, 197 e 678, destas Memórias.

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BORGES

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Este morgadio entrou na família dos Figueiredos em Lázaro de Figueiredo Sarmento, alcaide-mor de Bragança, terceiro neto do instituidor, falecido em 1713. Ver tomo VI, pág. 107, destas Memórias. Escreveu mais: Notícias de Bragança. Fólio manuscrito (91). Hübner (92) aponta-lhe assim o título: Memórias de Bragança e diz que no fim do século XIX existia este manuscrito na biblioteca de José Freire de Montarroio Mascarenhas, onde Carnide o consultou, mas que ele não o pode encontrar entre os manuscritos deste escritor tanto em Madrid como em Lisboa. Ver tomo VI, pág. 197, onde fizemos a sua descrição sob o título Descrição topográfica e histórica da cidade de Bragança, que é o seu verdadeiro nome. Esta obra foi escrita ou contém as notícias pedidas e mandadas à Academia. Ver Abreu (Frei Fernando). BORGES (Manuel) – Sargento, que muito se distinguiu na Guerra Peninsular (1808-1815). Ver tomo I, págs. 159 e 161, destas Memórias. BORGES (Manuel de Morais Magalhães) – Nasceu em Parambos, concelho de Ansiães (não declara o dia, mês e ano) e foi baptizado em casa, por necessidade, a 7 de Outubro de 1696; vereador da câmara municipal de Ansiães em 1734; escudeiro-fidalgo da casa real com moradia de 450 réis por mês, elevado a cavaleiro-fidalgo, com 300 réis mais de moradia por mês e um alqueire de cevada por dia para o cavalo, por alvará de 26 de Julho de 1723, assente em 30 do mesmo mês e ano; filho de António de Magalhães e Sousa, natural de Parambos (e falecido em Marzagão a 7 de Janeiro de 1739), escudeiro-fidalgo da casa real, elevado igualmente a cavaleiro-fidalgo, por alvará de 10 de Maio de 1723, e de D. Maria de Morais de Mesquita, natural da Brunheda, freguesia do Pinhal, que faleceu também em Marzagão a 16 de Março de 1730. Ainda estava solteiro em 1734, mas tinha uma filha natural chamada Bernarda de Morais, que nasceu em Marzagão em 1721. Que se dedicava a assuntos genealógicos, pelo menos os respeitantes à sua família, vê-se dos fólios 174 e 203 v. do Livro Genealógico adiante citado, onde se transcreve um largo estudo feito por Manuel de Morais Magalhães Borges, de que damos notícia ao fazer a descrição bibliográfica deste códice. Era irmão de António Sousa Pinto e Magalhães, que também nasceu em Parambos, onde foi baptizado em 2 de Maio de 1692 (não indica o dia, mês (91) Sumário da Biblioteca Lusitana. (92) HÜBNER, Emilio – Notícias Arqueológicas de Portugal, p. 87. Sobre este escritor ver um artigo de Francisco de Moura Coutinho, publicado na Pátria Nova de 1 de Outubro de 1911.

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BORGES

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BOUÇA

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BUSTAMONTE

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e ano do nascimento), mas viveu em Marzagão, e por isso se diz António de Sousa Pinto e Magalhães, de Marzagão, um dos autores das Memórias de Ansiães. Porque algo faz ao seu elogio, transcrevemos o seguinte período: «He este dito Manoel de Moraes Magalhaes Borges, aquelle mesmo grande homem que se atreveo, para bem do concelho, andar em Demanda com o Senhor D. Gaspar, Arcebispo de Braga, e tirar-lhe os Votos, que recebia no mesmo concelho de Anciaens». Parece-nos que desta Bernarda de Morais, filha ilegítima de Manuel de Morais Magalhães Borges, nasceu o doutor António de Sousa Pinto Magalhães, de Marzagão, que, segundo se lê na Prefação das Memórias Etimológicas e históricas do concelho de Ansiães, publicadas em 1857, foi quem emprestou o manuscrito das Notabilidades Antigas e Modernas da Vila de Ansiães, que serviu de texto para as referidas Memórias. E do doutor António Magalhães é filha Antónia de Magalhães Barros, que ainda vivia em Marzagão, em 1924, nas casas que foram do doutor António de Sousa Pinto, reitor de Marzagão em 1765, e irmão de Manuel de Morais Magalhães Borges (93). Escreveu: Notabilidades Antigas e Modernas da Vila de Ansiães. Uma cópia deste manuscrito encontra-se nos fólios 251 a 272 do Livro Genealógico Primeiro e Segundo Tomos Ano 1804 (94), pertencente à família Aragão Lobo, de Freixiel. A este manuscrito se refere o Portugal Antigo e Moderno, no artigo «Vila Real». BOUÇA (Manuel Pinto Guedes Bacelar Sarmento, 2.° visconde da) – Por decreto de 13 de Setembro de 1906 foi nomeado governador civil do distrito de Bragança, cargo de que tomou posse no dia 20 do mesmo mês (95). BUSTAMONTE (João Rodrigues) – Declara a 6 de Março de 1768 em Bragança ter recebido, para entregar a seu pai, Damião Rodrigues Bustamonte, dezoito moedas de ouro de quatro mil e oitocentos réis cada uma, «preço por que foi justa a obra do douramento do retabulo de Argozelo que se acha já feita e acabada» (96). No artigo «Velasques» falamos de Catarina de Bustamonte, mulher do arquitecto Júlio Simão. Haveria entre ela e o nosso dourador alguma relação de parentesco? Ver tomo VI, págs. 199 e 200, destas Memórias. (93) Livro Genealógico – Primeiro e Segundo Tomos Ano 1804. Tomo I, fólios 174, 181, 185 e 203. (94) Ver Sousa (Padre Frei Manuel Bernardo de Magalhães e), e tomo VI, p. 229 e 712, destas Memórias. (95) Ver a sua biografia no tomo VI, p. 28, destas Memórias. (96) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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BOTELHO

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BRAGA

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BOTELHO (Bernardo de Brito) – Natural de Miranda do Douro (onde foi juiz dos órfãos); era doutor formado em cânones. Escreveu: História breve de Coimbra, sua fundação, Armas, Igrejas, Colégios, Conventos e Universidade. Lisboa, 1732 (97). B OTELHO (Manuel de Matos) – Abade de Duas Igrejas, diocese de Miranda do Douro, académico provincial da Academia Real de História. Entre o número dos académicos provinciais desta corporação, que era muito restrito, pois contava apenas dezoito, distingue-se o nosso distrito com dois membros ilustres (98). Ver Manuel de Sousa Moreira, abade de Sambade, e tomo VI, pág. 108, destas Memórias. BRAGA (António Augusto Gonçalves) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1888, e o liceal nesta cidade e em Bragança. Nasceu em Bragança (Sé), a 18 de Dezembro de 1864; filho de José Joaquim Gonçalves Braga e de D. Joana dos Prazeres Rodrigues, irmã do doutor António Augusto Rodrigues, antigo governador do bispado de Bragança, de quem falamos no artigo respectivo. Professor do Liceu de Bragança, precedendo concurso de provas públicas, por decreto de 30 de Outubro de 1888, e nesse ano facultativo municipal da mesma cidade; delegado de saúde do distrito de Bragança em 1900; guarda-mor de saúde do porto de Lisboa, por decreto de 16 de Outubro de 1905, sendo no ano seguinte transferido para professor do Liceu, hoje chamado de Pedro Nunes, de Lisboa, do qual é reitor desde 1919 até hoje. O lugar de guarda-mor de saúde é hoje chamado subinspector da sanidade marítima de Lisboa, e em Dezembro de 1927 foi nomeado adjunto do inspector-chefe da sanidade marítima e internacional. Foi deputado por Bragança em 1899. Tem exercido várias comissões de serviços públicos com notável competência; e, entre outras, a de delegado do governo português na Conferência Sanitária Internacional, realizada em Paris desde 7 de Novembro de 1911 a 17 de Janeiro de 1912, de que fez um relatório publicado nos Arquivos do Instituto Central de Higiene, vol. II, do qual a Direcção-Geral de Saúde mandou fazer uma separata. Tem feito vários outros relatórios, mas estão manuscritos. Colaborou no Norte Trasmontano, Distrito de Bragança e Nordeste, semanários de Bragança.

(97) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Brito Botelho». (98) História da Academia Real da História Portuguesa, 1727, p. 59. Estudos de Filologia Mirandesa, vol. I, p. 143 e 150, e Silva Mirandesa, pelo mesmo autor, p. 9.

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BRAGA

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BRAGANÇA

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BRITO

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CABRAL

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BRAGA (Miguel Tobim de Sequeira) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, delegado. Natural de Bragança (pelo menos seus pais), podendo ter nascido, acidentalmente, noutra parte. Nasceu a 19 de Outubro de 1878 e faleceu a 23 de Dezembro de 1917. Filho do conselheiro António Augusto Fernandes Braga e de D. Maria da Glória Pessanha de Sequeira, naturais de Bragança. Escreveu: Por Bem Fazer mal haver... Acção ordinária para pagamento de honorários clínicos em que são A. o Dr. António Baptista Leite de Faria. R. R. José Maria Leite Júnior e esposa D. Bernardina Leite Machado. Alegações finais do A. Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães. Lisboa, 1917. 8.° de 31 págs. BRAGANÇA (Padre Bartolomeu de) – Franciscano capucho da província da Piedade, natural de Bragança. As suas singulares virtudes mereceram que a crónica da sua ordem consagrasse à sua memória lugar especial com grande desenvolvimento (99). Também a História seráfica cronológica da Ordem de S. Francisco na província de Portugal, por Frei Fernando da Soledade (100), trata não menos largamente dos méritos deste filho de bargança (sic). BRITO (Pedro de Sousa) – Alcaide-mor de Bragança no século XVII. Escreveu: Tratado de todas as famílias de Portugal. Manuscrito (101).

C CABRAL (Francisco António da Veiga) – Visconde de Mirandela. Em 1793 era tenente-general e exercia, na Índia, o lugar de comandante das tropas militares, sendo depois governador da Índia até 1815. Pinheiro Chagas (102) diz que «nunca houve governador que fizesse mais triste figura. Umas poucas de vezes os inglezes occuparam militarmente os fortes de Goa, a pretexto de os guardar contra os franceses, e Veiga Cabral, completa-

(99) MONFORTE, Manuel de, Frei – Crónica da Província da Piedade, primeira capucha de toda a Ordem, 1751, tomo I, p. 430. (100) Ibidem, tomo IV, p. 721. (101) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Sousa Brito». (102) CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular, artigo «Cabral (Francisco António da Veiga)».

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CABRAL

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mente annullado pelo chefe militar que o marquez Wellesley meteo na praça portugueza, consolava-se com as honras militares que as tropas inglezas lhe prestavam e resignou-se ao papel humilhante que lhe impunham». Devemos lamentar esta situação, mas a verdade é que os ingleses mandavam então como senhores em todo o reino, donde a injustiça da acusação de Pinheiro Chagas; e tanto o governo estava de acordo que Veiga Cabral foi depois agraciado com a honra de visconde de Mirandela. Ver tomo VI, pág. 162, n.° 1, destas Memórias. CABRAL (Francisco Xavier da Veiga) – Governador das armas da província de Trás-os-Montes. Faleceu a 18 de Dezembro de 1761 (103). CABRAL (Francisco da Veiga) – Brigadeiro, que muito se distinguiu durante o cerco de Miranda em 1711. Ver tomo I, págs. 118 e 339, destas Memórias. CABRAL (José Marcelino da Rocha) – Doutor em leis pela Universidade de Coimbra; nasceu em Olmos, concelho de Macedo de Cavaleiros, e não em Peredo ou Penedo (!), como dizem alguns escritores, a 17 de Agosto de 1806 e faleceu no Rio de Janeiro (Brasil) em 1852, vitimado pela febre amarela. Era filho de Raimundo da Rocha e de D. Teresa Luís da Ponte, naturais de Olmos. Foi para o Brasil em Dezembro de 1831, como ele declara num dos seus opúsculos abaixo citados. Eis o que a seu respeito diz a Revista Trimensal do Instituto, vol. XV, pág. 524: «Aquelle homem, que escreveu um jornal destinado a promover os progressos da agricultura no Rio Grande; aquelle advogado honrado que se arruinou com a creação do Despertador; o muito grave e respeitavel José Marcellino da Rocha Cabral, foi um dos estrangeiros mais uteis, que tem vivido no Brazil. Foi elle o fundador do Gabinete Portuguez de Leitura, que tanto honra esta cidade (a do Rio de Janeiro), e foi elle o que fez a nossa imprensa política, e os nossos jornaes subirem a uma escala superior. O Despertador foi um diario monumental na historia da nossa imprensa». Antes de fundar a empresa do Despertador, foi em 1833 redactor do Propagador da Indústria Rio Grandense. Publicou também: Colecção de alguns artigos escritos e publicados no Brasil por...; seguida de documentos e de observações em refutação às calúnias e convícios contra ele publicados. Rio de Janeiro, 1839. 8.° gr. de 48 págs. (104).

(103) Ver tomo VI, p. 689, destas Memórias. (104) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico, tomo V.

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CABRAL

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Relatório motivado sobre a estatística da província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, dirigido ao Ex.mo Sr. presidente da mesma província em conselho, pelo encarregado daquela comissão. Rio de Janeiro, 1836. 8.° gr. de 28 págs. Foi vice-cônsul de Portugal no Rio de Janeiro; fundou em 1837 o Gabinete Português de Leitura, santuário espiritual, factor máximo educativo e propagador da vitalidade portuguesa, onde, em 1904 foi colocada uma lápide de mármore que diz: «1837 / HOMENAGEM DO GABINETE PORTUGUEZ DE LEITURA / AOS SEUS FUNDADORES / DRS. JOSÉ MARCELINO DA ROCHA CABRAL / E MANUEL COELHO LOUZADA». Preparado o pão espiritual para a colónia portuguesa, lançou olhos para o pão material, e em 1840 funda a Sociedade Portuguesa de Beneficência, destinada a procurar trabalho aos que o não tivessem, a sustentar os indigentes e a educar e instruir a mocidade desvalida. Para comemorar o facto, foi colocado em 1886 o busto em mármore de Rocha Cabral e em 1910 uma placa também de mármore, que diz: «AO DR. JOSÉ MARCELINO DA ROCHA CABRAL INICIADOR DA FUNDAÇÃO DA SOCIEDADE PORTUGUEZA DE BENEFICENCIA

1840. GRATIDÃO DA REAL E BENEMERITA SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICENCIA / 1910» (105).

EM

CABRAL (Manuel Inácio Pereira) – Natural de Alvites e filho do doutor Manuel Pereira Cabral e de D. Maria da Costa. Fidalgo da casa real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo. Foi juiz de fora no Vimioso e chegou a corregedor do crime da corte. Tendo a câmara de Mirandela resolvido festejar o triunfo das armas portuguesas e a queda de Napoleão, festejos que se realizaram ali nos dias 13, 14 e 15 de Agosto de 1814, recitou no último dia um discurso, que corre impresso, com o título: Discurso pronunciado na Câmara da vila de Mirandela pelo Desembargador M. I. Pereira Cabral no dia 15 de Agosto de 1814 por ocasião das festividades que ali se fizeram em acção de graças pela feliz pacificação da Europa. Lisboa, 1814. Estivera na Baía, onde lhe nasceu seu filho Manuel Inácio Pereira de Morais Cabral. CABRAL (Sebastião da Veiga) – Em Março de 1698 era fidalgo da casa de sua majestade, mestre-de-campo de infantaria, comendador das comendas de Nossa Senhora da Assunção de Deilão e S. Bartolomeu de Rabal e governador da cidade de Bragança (106). Teve um filho do seu mesmo nome que foi escritor. Ver este nome.

(105) Ver Ilustração Trasmontana, Porto, 1910, p. 89, onde publicámos a biografia deste benemérito bragançano de abençoada memória. (106) Registo Maior n.° l da Câmara Municipal de Bragança, fl. 54. Tomos I, p. 97 e VI, p. 161 e 705, destas Memórias.

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CABRAL

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CACHAPUZ

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CAGIGAL

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Era casado com D. Maria de Castro e foi sepultado junto aos degraus do altar-mor da igreja de S. João, debaixo duma lápide, com letras, onde já fora enterrada sua mulher, como se vê por um requerimento feito por ele ao bispo D. Frei José de Lencastre, já então eleito de Leiria, pedindo que lhe concedesse ser propriamente sua para si e herdeiros essa sepultura onde estava sua mulher. O bispo assim o permitiu por despacho de 12 de Outubro de 1663, derrogando para isso as determinações do seu antecessor que proibia os enterramentos dentro do referido templo (107). Neste requerimento vem mencionado o requerente Sebastião da Veiga Cabral com o título de governador das armas da província de Trás-os-Montes. CABRAL (Sebastião da Veiga) – Natural de Bragança; faleceu em Lisboa, no castelo de S. Jorge, a 18 de Janeiro de 1730. Era filho ilegítimo de Sebastião da Veiga Cabral, mestre-de-campo general e governador das armas da província de Trás-os-Montes. «Foi profundo filosofo, conceituado poeta, geografo e grande matematico». Governou a colónia do Sacramento, na América, e voltando ao reino foi governador das praças de Abrantes e Alcântara com a patente de sargento-mor de batalha. Voltou depois ao Brasil, onde foi preso por caluniosas acusações que lhe fizeram, sendo enviado para Lisboa onde morreu na prisão. Deixou manuscritas as seguintes obras: Descrição da Colónia do Sacramento e Exercício Militar, dois tomos, in-4.° (108). CACHAPUZ – Distinguiu-se nas lutas constitucionais como guerrilheiro. Ver tomo I, págs. 188 e 199, destas Memórias. CAGIGAL (António Olímpio) – Licenciado na Faculdade de Medicina e doutor formado em filosofia pela Universidade de Coimbra; delegado de saúde no concelho de Bragança, onde tem vivido desde criança, embora nascesse em Macedo de Cavaleiros a 1 de Fevereiro de 1867. Antigo reitor do Liceu Nacional de Bragança e professor provisório do mesmo desde 1909. Tem colaborado largamente na imprensa, nomeadamente nos periódicos de Bragança.

(107) Tomo de Nossa Senhora da Consolação, manuscrito in-fólio pequeno que possuímos, fl. 27 e v. Tábua Velha da Igreja de S. João (manuscrito), fl. 13 e seguintes. (108) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Cabral (Sebastião da Veiga)». Sumário da Biblioteca Lusitana. CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular.

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CAGIGAL

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CALADO

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Escreveu: Apontamentos e breves considerações sobre a meningite cérebro-espinhal epidémica no concelho de Bragança. Separata da Revista Portuguesa de Medicina e Cirurgia Práticas. Lisboa, 1902, Tip. de O Dia. 1 vol. 8.° Um caso de gastrite crónica e arteriosclerose, com modificações nervosas periféricas. Coimbra, 1898, Imp. da Universidade. 1 vol. 8.° De colaboração com Charles Lepierre escreveu: A doença do sono e seu bacilo. Separata da Coimbra Médica. Coimbra, 1897, Imp. da Universidade. 1 vol. 8.° gr. CALADO (Joaquim Ferreira Pina) – Conselheiro, natural de Teixoso, comarca da Covilhã; nasceu a 29 de Setembro de 1853. Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1874. Governador civil do distrito de Bragança por decreto de 13 de Novembro de 1890, lugar de que tomou posse no dia 28; idêntico cargo exerceu nos distritos de Viseu, Portalegre e Porto. Pina Calado, entrando na magistratura em 1875, serviu como delegado do procurador régio nas comarcas da Sertã, Fronteira, Castelo Branco, Silves e Torres Novas, e depois como juiz nesta última e nas de Portimão, Mirandela, Fafe e Lisboa, sendo em 8 de Julho de 1899 despachado juiz do 1.° distrito criminal desta, na vaga do conselheiro José Gonçalves da Costa Ventura, que segue. Por despacho de 10 de Março de 1910 foi promovido à 2.ª instância e colocado na Relação dos Açores e em 1913 na de Lisboa, onde faleceu na Travessa dos Brunos, n.° 1, à Pampulha, a 16 de Julho de 1922. CALAÍNHO (D. Alexandrina Augusta Ferreira Sarmento de Lousada Pimentel) – Nasceu em Bragança a 30 de Agosto de 1856; filha do general de cavalaria João Ferreira Sarmento de Lousada Pimentel Calaínho, morgado da casa dos Calaínhos, em Bragança, e de D. Alexandrina Augusta de Macedo Gouveia e Vasconcelos, dos morgados Pimentéis de Castelo Branco, concelho do Mogadouro. Faleceu em Algoso, em Dezembro de 1930. Ver tomo VI, pág. 702, destas Memórias. Colaborou nas seguintes publicações: Jornal das Senhoras; A Palavra; Grito do Povo; O Comércio do Porto; Elegância e Bom Gosto, que dirigiu enquanto existiu (era apenso ao Petardo); Gazeta de Bragança e Legionário Trasmontano. Apresentou tese ao congresso operário do Porto sobre a «Aprendizagem dos menores», que foi publicada nas actas do mesmo; e outra num congresso de Braga sobre o «Poder social da mulher portugueza na actualidade». Foi secretária de uma Conferência de S. Vicente de Paulo durante dez anos e tesoureira do Dispensário da Rainha D. Maria Amélia MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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enquanto a condessa de Samodães foi presidente. Também tem produções em verso. Escreveu: Novena e Missa ao Divino Espírito Santo, por Alex. Sarmento. Porto, 1898, Tip. Ocidental. 16.° de 10 (inumeradas)-128 págs. e mais 2 de índice e 1 de erratas. Com as aprovações dos bispos do Porto, Lisboa, Braga e Bragança. CÂMARA (D. António Luís da Veiga Cabral e) – 27.° bispo de Miranda e 3.° de Bragança. Entre os papéis do falecido cónego da Sé de Bragança, Manuel António Pires, de quem falamos no artigo respectivo, apareceram os seguintes (109) «Capitulos Da Visita á Diocese mandada fazer pelo Bispo D. Antonio da Veiga no anno de 1795. João Ignacio P.ra Reitor de Soeira e Visitador neste Districto por S. Ex.a ma R. etc. Faço saber que visitando pessoalmente esta Egreja parochial..... depois de feita visita no Espiritual me pareceu prover na forma seguinte. 1.° S. Ex.a R.ma determina que todos os Parochos dêem dos Ordinandos das suas freguezias, quando lhes fôr pedida uma informação exacta, fiel e desenteressada não só da sua capacidade, mas tambem e m.to principalmente da sua virtude, e piedade; isto debaixo da pena de suspensão..... Não admitirão a funções funebres estudantes, que não tenham recebido ao menos – Prima Tonsura. Os Capitulos seguintes manda S. Ex.a R.ma que se transcrevam em todos os livros de Visita para que em todas as Parochias fiquem em perpetua observancia. 2.° Nenhum Ecclesiastico deve ignorar a obrigação que lhe incumbe de trazer sem intermissão alguma habito talar cerrado na conformidade do 4.° Conc. Lateran. cuja determinação é = Habitu talari tum domo tum foras utentur =: e esta obrigação urge em todo o logar e tempo segundos os Concilios..... e outros muitos cuja determinação é = Undique clausa deferant vestimenta tam retro quam a lateribus et ante = Nem era precisa esta Nossa providencia se a ignorancia – Mater omnium errorum – Segundo a mente do 4.° Conc. de Toledo não occasionasse a postergação de tantos e tão gravemente sancionados preceitos de 13 Concilios Eccumenicos, 18 Papas, 15 Concilios provinciaes, 300 e tantos Diocesanos, cujas Sanções não é da (109) Ver tomo II, p. 75, destas Memórias, onde largamente tratámos deste bispo.

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Nossa competencia alterar: conformando-nos a ellas como devemos, só accrescentamos para lhes facilitar a observancia – Que todo o clerigo d’Ordens Sacras, ou de Menores tendo pensão ou Beneficio, que desde a data, ou promulgação desta em diante constar haver largado, ainda por breve intervalo o supra mencionado habito que lhe é proprio; Pela primeira vez será recluso em religião para nella fazer por tempo d’um mez Exercicios Espirituaes; Pela segunda fara nella por dous mezes os mesmos Exercicios; E pela terceira será mais severamente punido; porquanto as disposições de Dir.to fulminam Censuras, e ainda degradação a este respeito. 3.° Acerca da ignorancia, e indiscripção que alguns ecclesiasticos praticam a respeito da frequente Communhão bastará transcrever as seguintes auctoridades. = O Cathecismo do Conc. Trid part. 2.ª P. 63. – Parochi parati erunt, fideles exhortari, ut quemadmodum corpori in singulos dies alimentum subministrare necessarium putant; ita etiam quotidée hoc Sacramento alenda et nutriendœ animœ curam non abjiciont. Neque enim minus spirituali eibo animam, quam naturali corpus indigere perspicuum est vehementer autem per loco proderint maxima illa Divina Beneficia, quœ, ut demonstratum est, ex Eucharistiœ Sacramentali communione consequimur, illa etiam figura erit addenda, cum singulis diebus corporis vires manna reficere opportebat. Item que Sanctorum Patruum auctoritates, quae frequentum hujus Sacramenti perceptionem magnopere Commendant. Neque enim est unius Sancti Patris Augustini = quotidie peccas, quotidie summe =, sed, siquis diligenter attenderit eundem omnium Patruum, qui de hoc reseripserunt, fuisse sensum facile comperiet. S. Carlos Borromeo no 3.° Concilio Mediolanense. = Ad saluberrimum illum sacrae Eucharistiae summendi frequenter usum, Parochi, ut 1.° provinciali Concilio jussum est, et concionatores item quam sepissime populum Cohortentur, docentes Ecclesiae institutis atque exemplis et gravissimorum Patruum vocibus, et de uberrimo hoc ipso genere Cathecismi Romani doctrina et sententia, denique Tridentina Synodus, quae optaret quidem fideles insigrulis missis non solum spirituali effectu, secl etiam sacramentali Eucharistiae perceptione communicarent; Quod siquis concionator regularis aliquid contra indirecte, directeve, dixerit aut concionatus sit, Episcopus in cujus urbe Diœcesive hoc ille admiserit, ei, tamquam scandalum seminanti, de Tridentini quidem Synodi auctoritate interdicat predicationi Verbi Dei, ad cujus predicationis munus nequidem restituatur, nisi primum eidem satisfecerit, eo ipso loco, ubi in reca scandallum et offensionem prœburat; item pro ratione culpae corripeantur, et corrijantur, et satisfacere quoque compellantur, quicumque, vel sermonem havendo, vel colloquendo hoc in genere offenderit. = MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Benedicto 11.° na sua Bulla – Certiores. = Nihil quando quidem certius Ecclesiae praxi et disciplina, juxta quam fideles missis adstantes participare possim, atque in publicis conventiculis solebant sacrosanctum sacrificium, institutione et exemplo Christi Domini omnimodo convenire. Verba ejusdem Conc. eo ipso spiritu, quo ab eodem prolata sunt, iteramus «Optaret Sanctus Synodu ut in singulis missis fideles adstantes non soleim spirituali affectu, sed et Sacramentali etiam Eucaristiae perceptione communicarent, quo ad eos sanctissimi hujus Sacrificii fructus uberior perveniret: utinam autem eo ipso christianœ pictatis fervore, quo primorum seculorum fideles exar debant, nostrorum quoque temporum homines inflamati, avide ad publicam sacram mensam advolarent. Sanctorum quoque mysteriorum solemnitati non adesse tantum, sed religiose eorumdem participationem captare conspirentur =. Nulla certe res est, qua utilius Episcopi, Parochi, Confessarii studium suum omne impedire valeant, quam in excitandis fidelibus, ad eam mentis puritatem sectandam, unde digni reddentur frequenti ad sacram mensam..... O que se segue está inintilligivel por falta de termos. A sagrada Congregação do Conc. Tridentino Obstat Concilium Tridentinum Episcopo Volenti praescribere certa tempora, veluti dies, Dominicos, quartam et sextam feriam, quibus tantum liceal veris taicis, conjugatis Santissimam Eucharistiam sumere ob irriveventiam...... O Papa Innocencio 11.° no seu Decreto, que principia — Cum ad nos. In hoc igitur Pastorum diligentia potissimum invigilaverit non ut afrequente, aut quotidiana sacrae communionis sumptione, unica percepti formula, aliqui deterreuntur, aut sumendi dies generaliter constituatur, sed magis quod singulis permitundum, per se, aut parochos, confessarios sibi discernendum putet, illudque omnino provideat, ut nemo a Sacro Convivio seu frequenter, seu quotidie accesserit repetatur. Episcopi autem quorum diœcesibus viget hujusmodi devotio erga Sanctissimum Sacramentum, pro illa gratias agant, eam que ipsi, adhibito prudentiae et judicii temperamento, alere debebunt. Temos a Egreja admoestando os parochos que é do seu officio exortar frequentemente os povos á frequencia mesma quotidiana da Comunhão. Declarando que esta doutrina é estabelecida e auctorizada pelo unanime consenso do SS. PP. Temos o Concilio de S. Carlos Borromeu decretando que sejam punidos pelo Ordinario como semeadores d’escandalos aquelles que directa ou MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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indirectamente a impugnarem. A mente deste Decreto é pôr em execução o do Conc. Trident. na Ses. 4.ª..... onde determina que sejam punidos pelo Ordinario aquelles que ousarem interpretar a Sagrada Escriptura contra o unanime consenso dos Santos Padres. Temos o grande Benedicto 14.° não só reproduzindo os desejos do Concilio Trid., de que os fieis commungassem sacramentalmente sempre que assistissem á missa, e anhelando áquelle primitivo fervor, que os attrahia á sagrada meza, mas tambem declarando que certamente em nenhuma cousa os Bispos, Parochos e confessores podem empregar todo o seu disvelo mais utilmente do que em excitar os fieis a adquirirem a disposição necessaria para conseguir aquella frequencia, intimando que a Egreja increparia aquelles sacerdotes, que por culpa ou negligencia a embaraçassem. Temos a Sagrada Congregação interpretando o Concilio Trid., declarando que, nem os Bispos podem taxar dias para Communhão, por ser isso contrario ao Decreto expresso; e que não só é lícito aos leigos commungar quotidianamente, mas se devem exortar a que assim o pratiquem. Temos o Papa Innocencio 11.° decretando que a deligencia dos Pastores proveja que nenhuma pessoa seja apartada da sagrada meza, ou chegue a ella frequente ou quotidianamente, e que os Bispos, em cujas Dioceses se achar estabelecida esta louvavel devoção deem graças a Deus por isso, e a promovam. Finalmente não se devem perder de vista as palavras de Santo Ambrosio, das quaes se formou o Canon – Si quotiescumque – Dist. 11.ª De Consecratione, que são os seguintes – Si quotiescumque effunditur Sanguis Christi, inremissionem peccatorum effunditur; debeo illum semper accipere, ut mihi peccato dimitantur, qui semper pecco, debeo semper habere medecinam. Nenhum Ecclesiastico pode ignorar a praxe dos mais florentes seculos da Egreja, em que não só todos os fieis commungavam todos os dias, mas chegou a ser uma questão entre os Theologos, como refere Bened. 14.° lib. 7.° cap. 19 num. 11. – Se a Communhão quotidiana era de preceito ecclesiastico, ou se ella se praticava só pelo fervor da caridade e portanto conhecendo os ecclesiasticos a sã doutrina e a sua obrigação n’esta materia, procurem religiosamente instruir os povos e preparal-os para tão salutifera devoção, propondo-lhe os exercicios da Oração mental, e todos os mais de piedade, mortificação, e os de todas as virtudes; mas, se algum, o que Deus não permitta, se constituir a este respeito semeador d’escandalos, segundo a expressão de São Carlos Borromeu, serão castigados como elle mesmo determina. 4.° O abuso a que o Papa Benedicto 14.° De Synodo Diœcesano lib. 11 cap. 3 chama detestando e restos de superstição pagã, o de se empregar em bailes, cantilenas e pandorgas os dias festivos deveria não só absolutamente exterminar-se, mas até nem ao menos, como São Paulo recommenda em semelhantes materias, nomear-se entre christãos. Nec nominetur invobis. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Innumeraveis Concilios, formidaveis clamores dos Santos Padres, gravissimas doutrinas de todos os sãos theologos tem unanimamente execrado e proscripto tão perniciosa e nefanda corruptella. Os Padres Africanos estabeleceram requerer uma lei imperial para reprimir taes profanações... O Concilio de Toledo, referido por Gratianno dist. 3.ª..… Semelhantemente decreta que se devia intrepor a auctoridade do Rei Recaredo para se exterminar d’Hispanha aquella peste esterminanda et omnino irreligiosa consuetudo, quam vulgus per Sanctorum solemnitates agere consuevit, ut populi, qui debent officia divina attendere, saltationibus, et turpibus invigillent canticis. Hoc enim, ut ab omne Hispania depelatur, Sacerdotum et judicum a Concilio Sanctae curae committitur. Semelhantemente decretou o Concilio Geral de Constança. = Cum Magistratu agant Parochi, ut diebus Dominicis et festivis lubrica spectacula choreae et saltationes non permittantur. O Concilio chamado intruzo declara que condemna e bane as danças publicas das mulheres, como arrastando apoz de si muitos males, e a perda d’um grande numero d’almas….. – Publicas mulierum saltationes, muttam noxam, exitiumque afferentes condemnamus et expellimus. O Concilio Romano celebrado em 826. ... Can. 35 queixa-se de que ha pessoas, especialmente mulheres que vão ás festas, não com os Santos e retas intenções com que deviam, mas para dançar e cantar canções vergonhosas. Se as pessoas, que se conduzem assim (accrescenta o Concilio) teem vindo á solemnidade com menores peccados voltam com elles muito maiores: que os sacerdotes tenham cuidado de advertir o povo, que senão deve accudir ás festas, senão para o serviço de Deus. O Concilio de Proven., celebrado em 1311, se exprime assim = Nos conhecemos e esperemintamos quanto são grandes os artificios do diabo para substituir o culto dado a Deus, e o dos Santos nas festas solemnes. Fazem-se feiras, mercados publicos pelos quaes este espirito de malicia desencaminha o povo de frequentar as Egrejas, de assistir aos exercicios Santos e á pregação da palavra de Deus, no que se tem achado meio de introduzir muitos enganos, fraudes, perjuros, blasphemias, ultrajes, injurias feitas ao proximo, jogos obscuros e torpes. Que naquelles dias as glotonarias tem tomado o logar das esmolas, as danças o da oração, as chocarrices o das pregações que se deveriam ir ouvir. = Diabulus eleemosynas vertit in crapulam, orationes in choreas, et contionem in scorrilitatem. Depois de lamentar estes desconcertos, o Concilio accrescenta = Nós condemnamos e reprovamos as embriaguezes, as disputas os máus e deshonestos jogos e divertimentos, as danças como sendo cheias de loucura e as más cantigas; em uma palavra tudo o que move á impureza: egualmente toda a profanação dos dias Santos. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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O Concilio de..... celebrado no anno de 1585 prohibe taes profanações, e em particular as danças debaixo da pena de Excommunhão; e recommenda aos parochos que denunciem ao Bispo aquelles que delinquirem contra aquella disposição canonica, afim de que os Bispos pronunciem contra elles nomeadamente sentença d’Excommunhão; e o mesmo Concilio dá esta razão – E’ um absurdo que, em dias destinados a aplacar a ira de Deus, os fieis deixando-se enganar pelos artificiosos attractivos do diabo, se retiram dos divinos officios e dos exercicios de devoção, com os quaes deviam facilitar o perdão de seus peccados. = O Concilio d’Acre, celebrado em 1525 faz as mesmas prohibições debaixo da mesma pena de excommunhão. Similhantes prohibições decretaram os Concilios – de Par. tido em 1583, o de Avinhão em 1514, o de Aquitania em 1596, o de Nabona em 1609, o de Bordeau em 1624, o terceiro de Milão e outros muito. Os Santos Padres deploram amargamente e reprehendem com a maior efficacia todas estas corruptellas e dissoluções. Eis aqui as expressões do Auctor do Sermão 205 – De tempore – num. 4.° entre as obras de S. Agostinho titulo 5.° p. 2.ª collecção 167. Isti infelices et miseri homines, qui choreas (substituo eu pela expressão balationes que parece ler-se no texto copiado) et saltationes ante ipsas basilicas Sanctorum exercere nec omitunt, nec erubescunt, etsi christiani ad Ecclesiam veniunt, pagani de Ecclesia revertuntur, quia ista consutudo de paganorum obsevatione remansit. Que mais se pode dizer do que = Aquelle que vae á festa christão d’ella sai pagão? = porque este costume de baillar ficou da observancia dos pagãos. Por não estender mais este capitulo produzindo copiosos testemunhos, limitar-nos-hemos a referir só um de São Basilio —Homll. in ebriosos, lib. 2.° pag. 117 = Esquecendo o temor de Deus, diz este Santo Doutor, despresando o inferno, em logar de se conservarem em suas cazas, lembrando-se d’aquelle dia terrivel, em que os Ceus se abrirão, e o Juiz severo de vivos e mortos descerá para retribuir a cada um, segundo suas obras; em logar de que elles deveriam applicar-se em purificar seus corações de todo o mau pensamento, lavar com suas lagrimas os peccados que tem commettido, e preparar-se assim para o grande dia da verdade do Senhor, mas sacudindo de si o jugo de Jesus Christo, e tirando de cima de suas cabeças o veu de que a honestidade pedia estivessem cobertas, expondo-se assim sem pejo aos olhos dos homens, ellas mesmas teem um olhar despejado. Ellas se entregam a risos immoderados e se agitam em suas danças, como pessoas que estão em transportes de frenesi ou de furor. Ellas accendem assim a paixão dos moços – omnium Juvenum libidinem in se ipsas provocantes – em fim fazendo estas danças até por todos os logares onde os Santos são honrados, e fazendo d’estes logares Santos uma officina da sua obsceniMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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dade – Choreas constituentes, loca Sancta officinam obscenitatis sua effecerunt. Se algum delinquir nesta materia dos jogos e illicitos devertimentos, o Rd.° Parocho, pena de mil e duzentos reis, que pagará da sua bolsa dentro em 20 dias depois de commettidos os taes crimes, dará parte ao Rd.° Promotor com o transumpto d’este capitulo para proceder judicialmente contra os que derem casa, chamarem tocador ou d’outra maneira incitarem, com a pena de quatro mil reis, e contra cada um dos espectadores com a de mil e seiscentos reis. 5.° O Rd.° Abbade presidirá como lhe está determinado, ao menos uma vez na semana, á Palestra, á qual deverão concorrer não só os Rd.os Ecclesiasticos d’esta freguezia, mas tambem os das freguezias de Fornos de Pinhal e de Barreiros, e remetterá relação dos que tiverem faltas illegitimamente attendiveis. O mesmo Rd.°Abbade terá cuidado executar melindrosamente as rubricas nas funcções da sua Egreja, e recommendará aos concurrentes ás suas Palestras as leam com frequencia, pois nenhum d’elles deve ignorar que obrigam em consciencia, e semilhantemente lhes recommendará, estudem Theologia Moral pelos livros que S. Ex.a R.ma insinua na sua Pastoral de 21 de Março de 1794; e Mystica pelas Obras de Santa Thereza de Jesus, S. João da Cruz, S. Francisco de Salles, Imitação de Christo e outros. N. B. Os seguintes capitulos d’esta visita determinam os diversos reparos e concertos que manda fazer na Egreja e Capellas da freguezia, nas roupas e paramentos sagrados e outras utilissimas disposições que dizem respeito á doutrina e á disciplina ecclesiastica, concluidos os quaes faz o encerramento do modo seguinte: Estas e as mais determinações, que se não acharem legitimamente revogadas, se cumpram e guardem inteiramente como nellas se contem. O Rd.° Parocho as publicará á estação da Missa Parochial de trez dias festivos, do que, aqui mesmo passará certidão. Dado em visitação na freguezia de... ... sob meu Signal e Sello de S. Ex.a R.ma aos 17 de Fevereiro de 1795. Eu P.e Francisco José Pires, Secretario o escrevi. O Visitador João Ignacio Pereira». No Museu Regional de Bragança há várias Pastorais (manuscritas) e outros trabalhos deste bispo, que apontamos à curiosidade dos seus admiradores, ainda hoje numerosos. Cópia de outra carta (que não vimos) do sr. padre Domingos Afonso Parra à mesma sr.ª D. Libânia do Carmo (110): (110) Esta D. Libânia do Carmo era filha de José Carlos Lopes de Andrade, quartel-mestre, e de D. Eulália Maria, naturais de Chaves, onde nasceu em 1816 e foi regente do convento de Fornos de Ledra.

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«Lisboa 7/12/1877. – Carissima Irmã D. Libania e Snra. Regente. – ..... a respeito da causa beatificativa do nosso Pae fundador (111) que me diz se vae tractar, muito prazer tenho nisso, porem não será na nossa vida por muitos motivos que seria longo descrever, e eu sei melhor do que V. Caridade o estado em que isso está; mesmo para o participar ao Rd.° Conego Pires, que de certo pelo pouco tempo que esteve em Roma pouco poderia saber sobre isso, = o que sei é que na vida do meu sempre lembrado Thio = Pe. Francisco Parra, de Fr. Antonio de Jesus, e Frei Simão da Rainha Santa muito trabalharam sobre essa Santa causa em colligir todos os actos heroicos, ou virtudes, e athe milagres desse Santo Bispo, porque se investigou tudo minuciosamente; os documentos de suas virtudes formam um grande maço de papeis; e depois de formado o processo, e tudo nos seus logares, partio Fr. Simão para Roma para tractar da causa; e passadas semanas ou mezes que levou a traducção do processo, que, segundo ouvi a meu Thio bastante o alterou, do que meu Thio nada gustou, porque Fr. Antonio melhor sabia do que elle, mas afinal foi apresentado ao S.to Padre, que respondeu = o examinaria. Fr. Simão foi alguas vezes ao Vaticano, e por ultimo recebeu do S.to Padre a agradavel noticia = que tinha examinado ainda que por alto, porque o tempo não lhe permittia examinal-o minuciosamente, mas que lhe parecia poderia ter logar tractar-se a causa (isto é pouco mais ou menos o que respondeu) e que o deixasse ficar, para em tempo opportuno ser examinado pelos Cardeaes, e Congregações a que taes negocios pertencem. Fr. Simão em logar de ficar em Roma para adiantar a causa porque lá estimado pelos Franciscanos de toda a ordem, que pela sua volubilidade percorreu quasi todos os conventos, mudando-se d’uns para outros (eu creio piamente que está no Céu porque era um Santo Frade, mas sabemos, ou sei que o conheci tanto de perto, que não tinha permanencia em parte algua apezar de sempre estimado: e já o Snr. Bispo de Bragança (112), quando formou a sua Congregação foi um d’elles, mas, ora sahia, ora voltava, e como era muito bom era sempre bem recebido, mas elle Bispo e Padres gracejavam com elle = então Fr. Simão agora fica, agora não nos deixa, etc., etc.? mas qual permanencia! passados mezes eis que Fr. Simão pela porta fora. Era a sua maneira (ou seu fraco), e por isso logo que ouvio o S.to Padre, em logar de ficar em Roma para continuar a tractar da causa eilo apparece em Lisboa, sem nada dizer que vinha, percorrendo varias partes e casas de Fidalgos, aonde eu o visitei, muitas vezes, e ulti(111) Refere-se ao bispo D. António da Veiga Cabral e Câmara, fundador dos conventos de Mofreita e Loreto, depois transferido para Fornos de Ledra. (112) D. António da Veiga.

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mamente parte para esses sitios, aonde eu tambem o visitei, aonde morreu, ficando tudo em Roma paralizado athe agora; e morto á falta de piloto: Deus queira que surja algum promotor valente e habil para promover tão Santa causa para honra e gloria de Deus e do seu Servo, porem duvido que seja no nosso tempo; estas e muitas mais cousas ouvi a meu Thio, a D. Ursula, companheira e discipula de D. Domingas que falleceu pouco antes de eu vir para Lisboa, e a D. Maria Luiza e outras pessoas, porque muitas vezes, a vida do nosso Pae e familia era objecto do nosso recreio. Seria mais extenso se os meus attaques m’o permittissem, bem desejava que o Rd.° Snr. Conego Pires soubesse o estado do processo que acima disse para informar o seu correspondente em Roma, visto ser elle quem tem fallado nisto, podem athe mostrar-lhe esta carta ..... – Domingos Bento Affonso Parra» (113). Carta de Domingas de Jesus Vaz, primeira superiora do Recolhimento do Loreto em Bragança, fundado pelo bispo D. António da Veiga, e da sua companheira Maria de Jesus, a D. Maria Comba, sua sucessora na regência do mesmo recolhimento, copiada de uma cópia encontrada entre os manuscritos do cónego da Sé de Bragança, Manuel António Pires, que se conservam no arquivo capitular em Bragança. Sobre Domingas de Jesus Vaz e Maria Comba ver o Monumento à Memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, bispo de Bragança. Porto, 1889, págs. 175 e 188. «Carissima Irmãsinha da minha alma, do meu coração, toda minha, e eu toda tua. Não te posso expressar quanto me roubas o coração, signal de grande affecto. Quando recebo as tuas cartas as faces e os olhos se me enchem d’agua, e quando veio a ultima ambas choramos muito e muito. Sim, minha querida Irmanzinha (114), estou bem conhecida do teu amor interior e exteriormente. O nosso amado Jesus te recompense em tudo a tua permanencia no mesmo: fidelidade e constancia. O Divino Espirito te encha dos seus Dons, em recompensa do muito que repartes com quem nada te merece. Pois que, como eu te assignalaste debaixo das bandeiras de Jesus Christo, e tomaste a teus hombros a sua Santissima Cruz, leva-a athe ao Calvario, porque o mesmo Senhor diz = Aquelle que lança

(113) Cópia da carta original encontrada entre os manuscritos do cónego penitenciário da Sé de Bragança, Manuel António Pires, que tirou essa cópia em 1878. (114) Era este o tratamento que as religiosas do Recolhimento se davam entre si e o de Pai ao bispo fundador D. António Luís da Veiga.

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mão ao arado e olha para traz, não he apto para o reino do Céu; e aquelle que não levar a Cruz athe ao Calvario não será salvo, e o que a levar será salvo. Depois do inverno segue o verão. Vive sempre alegre, firme e constante, communicando tuas paixões só a Deus, que he quem remedeia tudo. Visitas á Maria Joaquina e não ha agora tempo para mais. Coimbra 27 de agosto-1790. Domingas de Jesus Vaz e Maria de Jesus». Em seguida à carta anterior continua o já citado cónego Manuel António Pires: «Desde 1790 até 1822 não me consta que a illustrada e virtuosa Domingas (de Jesus Vaz) escrevesse alguma cousa: nesta ultima epocha começou ella a dirigir as suas instruções ás superioras dos Recolhimentos do Loreto e Mofreita, que lhe mereceram os titulos de Fundadora e Mãe, com que as Oblatas do Menino Jesus ainda hoje a honram. Pois não foi nas masmorras das prisões de Coimbra e do Castello de S. Jorge com que foi attribulada desde 1790 até 1807, que ella aprendeu a celestial doutrina, com que em admiravel clareza e simplicidade instrue, edifica e afervora as piedozas donzellas, mas sim na escholla do Santo Fundador, sendo entre todas a que mais approveitou». Eis as Instruções dirigidas à superiora D. Francisca Maria Xavier: «A verdadeira Religiosa deve ser devota e procurar uma grande promptidão e fervor. Seis cousas são precisas: 1.ª limpar a consciencia. 2.ª desviar tudo o que possa servir de laço a nossa alma. 3.ª pedir a Deus esta promptidão. 4.ª praticar todos os dias alguma acção particular com este intento. 5.ª não se deixar cahir em melancolia, e muito menos mostral-a ás pessoas com quem tractar, antes consolar a todos. 6.ª procurar espirito de doçura, alegria e humildade. Emquanto á qualidade de superiora tens obrigação de procurar o bem de todas as tuas irmãs, isto he reformar seus costumes e toda a caza. Para fazer reforma, o modo he, no principio tornar-te doce, graciosa e alegre; reprehender os costumes velhos, não de palavras, mas com o exemplo, mostrar o contrario aos antigos costumes, com a vida e conversação, fazendo uma particular amizade com as fervorozas, não deixando de acariciar as outras para as ganhar para o mesmo caminho: he preciso MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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evitar todas as conversações mundanas, quanto seja possivel, não se falando senão em cousas de Virtude, desviando sempre toda a outra conversação. Procurar sempre a devida modestia na meza, lendo sempre alguma lição escolhida. He preciso servir das irmãs para o governo temporal, afim de mais desembaraçadamente te applicar ás cousas do espirito. He preciso saber que sem muito trabalho e muito soffrimento nunca se reformou caza alguma. Com successo algum, por mais adverso que seja, nunca deves perder a paz interior. Todos os pontos da Regra deves tu primeiro que ninguem observar á letra; e em particular a docilidade e obediencia. Em se praticando estes dous artigos por toda a communidade está reformada. As penitencias que se devem pôr, sempre mostrando nisso repugnancia, devem ser ordinariamente para as mais fervorozas e humildes; as fracas com geito e brandura; as soberbas convem algumas vezes humilhal-as para exemplo. Enfim a prudencia e experiencia devem regular tudo com os olhos em Deus, e d’elle esperar tudo. Sem um total desapego de tudo o que existe na terra, não se pode caminhar á perfeição, he preciso procurar esta virtude em todas quanto seja possivel segundo a disposição de cada uma. Assistir na communidade o mais que fôr possivel, e vigiar sempre não só sobre todas em geral, mas sobre cada uma em particular; sobre a sua conducta e espirito: observar o natural e a graça com que cada uma he assistida para a dirigir e governar melhor». Em outra ocasião enviou à mesma superiora as Instruções seguintes: «A consideravel falta de esmolla com 7 ou 8 mezes d’atrazo da mezada, ainda que deixe julgar ser permissão da Santa Providencia para prova de fidelidade e augmento de merecimento das pessoas ahi existentes, que continuam a ser fieis, e obedientes, observando gostosa e pontualmente os ensinamentos que o Fundador e eu lhe deixei para seu regulamento espiritual, contudo muitas pessoas virtuosas e prudentes não deixam de se lembrar que seja em castigo das que talvez por sua infelicidade estejam ahi fazendo o papel do Propheta Jonas, que desobediente ás Ordens de Deus, que o mandava á cidade de Ninivi, pelo mar tomou outra viagem, que terminou por ser engolido por uma monstruosa baleia. Se pois alguma ou algumas por sua miseria se acham representando a pessoa do sobredito Jonas, incursas e comprehendidas no horroroso crime MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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de infedilidade e desobediencia temam, e tremam, não venham por sua infelicidade a ser lançadas ao tempestuoso mar d’esse mundo e devoradas pela baleia infernal. Não quero ficar responsavel diante de Deus, de, em ponto tão importante e de tanta consideração, não zelar e promover o bem espiritual, e por isso quero trazer á memoria aquelles felizes tempos do Loreto, onde as graças do Céu choviam sobre os que não cuidavam senão em cumprir á risca a doutrina e santos conselhos dados e estabelecidos pelo Fundador tão grande servo de Deus: os quaes não he razão pôl-os em esquecimento, antes fazer toda a diligencia para que se renovem em todo o sentido, não só por ti e pelas mais que gostaram a divina uncção e primeiro modo de vida, senão por todas que compoem essa corporação. Não he justo que tão bella instituição, em tão breve tempo se veja decahida: e aquella que para isso tende por ser omissa, desde já a chamo para o tribunal Divino: pois o Divino lavrador não quer no seu campo arvores infructuosas. Ouvi, carissimas filhas, com gosto a doutrina que deixou ahi estabelecida aquelle grande Servo do Senhor: a vós que desprezando os prazeres do mundo determinastes combater por Jesus Christo, Senhor verdadeiro, he que dirijo estas palavras: = Despertae do somno, porque são horas de levantar: abri os olhos á luz Divina; não queiraes endurecer os vossos corações como os Israelitas no deserto: se quereis vida verdadeira, e ver dias bons, diz o Senhor, fazei o bem e desviai-vos do mal, procurae a paz». (Não encontrei o resto). Na dedicatória da sua tese que fez a este bispo Frei José de S. Bernardo Mondim lê-se: «A D. Antonio Luiz da Veiga Cabral e Camara Regiae Magestatis consiliario/prudentissimo/ecclesiae brigantinae/pontifici piissimo/Franciscanae familiae/fauctori/devotissimo/qua litteris, qua mansuctudine/caeterisque virtutibus/praestantissimo/ad perpet. gratitudinis tes ti mon./ac acternum servitutis/clientelae que monumentum/dovotus nominis, virtuti que ejus/D. Fr. Josephus A. D. Bernardo Mondim/in ordine Sancti Francisci/provinciae Portugaliae professus». O objecto desta dedicação é uma tese teológica defendida em Coimbra no doutoramento do oferecente, constante de 21 págs., impressa na Imprensa Académica de Coimbra em 1794. A sua certidão de óbito diz: «Faço certo, e se he necessario juro in sacris eu abaixo assignado Parocho Confirmado deste lugar de Sam Salvador, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


CÂMARA

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CAMELO

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annexo da villa de Mirandella Bispado de Miranda e Bragança: em como o Ex.mo R.mo Snr. D. Antonio Luiz da Veiga Cabral e Camara Bispo destas ditas Dioceses, faleceo da vida prezente, neste dito lugar, aos trese dias do Mes de Junho do prezente anno; pellas duas horas da manhã; não recebeo os Sacramentos, instituidos para aquella hora; ignoro a causa, a qual poderam dizer os Reverendos Capellains do sobredito Ex.mo Snr. porque eu não tinha entrada, senão nas conferencias publicas, como os mais individuos. E por ser tudo na verdade passo a prezente, por me ser pedida. Sam Salvador, e Junho 16 de 1819. Pe. José Vicente de Miranda» (115). Segue o reconhecimento feito a 18 de Julho de 1819 em Mirandela, pelo tabelião José Luís Cordeiro de Sousa. CAMELO (Padre Alípio Albano) – Natural de Bragança, freguesia da Sé; nasceu a 25 de Julho de 1867, filho de José António Camelo, natural de Sambade, concelho de Alfândega da Fé, e de D. Constança de Jesus, natural de Ousilhão, concelho de Vinhais. Concluídos os preparatórios e curso teológico no Seminário de Bragança em 1889, cursou em Coimbra a Faculdade de Direito, onde foi aluno distinto. Fez concurso para a cadeira liceal de história e geografia e tem ensinado essas disciplinas em diversos liceus, tais como: Aveiro, Amarante, Leiria (?) e ultimamente no Central de Lisboa. Foi deputado, prior de uma freguesia importante em Lisboa e distinto advogado nos auditórios dessa cidade. Tem desempenhado diversas comissões importantes, sendo, por mais de uma vez, vogal dos concursos de instrução secundária. Por decreto de 19 de Setembro de 1902 foi nomeado vogal da «Commissão technica permanente com o fim de examinar e apreciar os livros destinados ao ensino primario e normal» (116). Como deputado fez a sua estreia parlamentar na sessão de 15 de Abril de 1902, defendendo a criação do chamado Novo Liceu Nacional, em Lisboa. O seu temperamento impulsivo levou-o logo a fundas e violentas desinteligências com o deputado Oliveira Matos, a ponto de quase chegarem a vias de facto, o que foi muito comentado pela imprensa desse tempo em sueltos epigramático-humorísticos. Escreveu, de colaboração com Abel de Andrade, hoje lente da Universidade: Apontamentos de Algumas Prelecções do Dr. Emídio Garcia, no Curso de Ciência Política Direito Político coligidos pelos alunos do mesmo curso, etc. Coimbra, Tip. de Luís Cardoso. Sofia, 1893. 8.° de 64 págs. (115) Documento existente no Museu Regional de Bragança, maço Para a História da Diocese. (116) Os trabalhos desta comissão podem ver-se no Boletim da Direcção-Geral de Instrução Pública, 1904, p. 36 e seguintes.

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CAMELO

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CAMÕES

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CAMPILHO

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CAMELO (António Moreira, e não Carneiro, como erradamente se lê no Catálogo da Academia) – Natural de Moncorvo. Era formado em cânones pela Universidade de Coimbra, licenciado em teologia, e foi abade da igreja de S. Salvador de Penedono. Faleceu em 1675. Escreveu: Pároco perfeito, deduzido do texto santo e Sagrados Doutores, para a prática de reger e curar almas. Lisboa, 1675, fol. de XL-375 págs. Pouco vulgar (117). O Sumário da Biblioteca Lusitana menciona mais deste autor: Prontuário de Exorcismos, etc. Manuscrito. Armas e Famílias de toda a Espanha, com os escudos iluminados pela sua mão. Manuscrito. Brasonário das Insígnias dos Reinos, etc. 1641. Tratado da Família dos Mascarenhas. Estava na casa dos condes de Sabugal. É manuscrito. CAMELO (Manuel) – A 18 de Março de 1591, em escritura lavrada por tabelião público, declarou Manuel Camelo «que elle tibera per comtrato da mão do Senhor dom amtonio pinheiro bispo que foi deste bispado..... e dos senhores do cabido da Santa se desta dita cidade ha obra da Sé delle per comtratos e escreturas acerca da maneira que havia de proseguir e acabar francisco belasque mestre que foi da dita hobra defunto como dos ditos comtratos constaria por bem dos quoais ele dito manoel camelo fizera muita parte da dita hobra de camtaria e alvenaria e telhados do que a elle hera debido». Manuel Camelo era «cidadão desta cidade [Miranda do Douro] e nela morador» (118). CAMÕES (João da Fontoura) – De Chaves, licenciado, provido em 1631 na reitoria de Rabal. CAMPILHO (Pedro Vicente da Silva Barreto de Morais Sarmento) – Nasceu em Sobreiro de Cima, concelho de Vinhais, a 22 de Janeiro de 1825 e faleceu na sua casa de Vinhais a 14 de Maio de 1908. Estava aparentado com as famílias mais distintas do distrito de Bragança: Pavões, Pessoas, Pessanhas, Lagos, Morais Sarmentos, Pimentéis, Figueiredos e Montalvões. Por mais de meio século foi o árbitro da política progressista no concelho de Vinhais, onde chegou a conquistar e a manter um prestígio e força política inabalável, que orçava pelas raias do fanatismo. Iniciou a sua vida (117) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico. (118) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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CAMPILHO

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CAMPOS

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CANAVARRO

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CARDIM

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pública como segundo oficial do governo civil de Bragança. Exerceu por várias vezes o cargo de presidente da câmara e administrador do concelho de Vinhais, procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança e deputado às cortes na legislatura de 1858. O Nordeste de 22 de Maio de 1908, descrevendo os seus funerais, insere também um longo artigo necrológico-biográfico a respeito deste homem que se tornou notável e lendário (119). CAMPOS (Joaquim José de) – Pelos seus actos beneméritos tem direito a ser mencionado honrosamente nestas páginas. Faleceu no Porto a 14 de Janeiro de 1861 e deixou, entre outros legados, cinco mil libras em fundos ingleses à Misericórdia desta cidade para administrar o seu rendimento e entregar anualmente ao pároco do Vimioso, distrito de Bragança, 300$000 réis para a sustentação do Lausperene que o mesmo capitalista instituíra na igreja do Vimioso em Agosto de 1860 (120). CANAVARRO – Marechal-de-campo absolutista, governador da praça de Miranda do Douro, que traiçoeiramente a entregou aos liberais em 1834. Ver tomo I, pág. 196, e artigo Pimentel (Carlos). CARDIM (Padre João) – Jesuíta, natural de Moncorvo, onde nasceu em 1586; filho do doutor Jorge Cardim Fróis, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação de Lisboa (ao tempo do nascimento daquele), provedor da comarca de Moncorvo, natural da vila de Viana do Alentejo, e de D. Catarina de Andrade, natural da vila de Campo Maior, pais de seis filhas, todas entradas em ordens religiosas, menos uma que casou ilustremente, e quatro filhos igualmente entrados em religiões. O primeiro destes foi o nosso biografado, que aos vinte e seis anos de idade, sendo já sacerdote e opositor ao Colégio Real de S. Paulo, na Universidade de Coimbra, professou na Companhia de Jesus, em cujo colégio de Braga faleceu a 18 de Fevereiro de 1615. O Hagiológio Lusitano celebra como suas virtudes mais notáveis a humildade, a modéstia, a caridade e compaixão para com os pobres, o fervor na oração e trato com Deus, a penitência e mortificação e a obediência. A fama dos seus milagres correu por toda a parte, e D. Gabriel, bispo de Fez, titular de Évora, formou deles processo canónico. «As Universidades de Coimbra e Evora; os magistrados de Lisboa, Braga e Coimbra; muitos prelados e titulares de Portugal e alguns soberanos e grandes da Europa, escreveram ao Papa em ordem a se lhe dar culto (119) Ver tomo I, p. 223 e tomo VI, p. 397 e 617, destas Memórias. (120) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vimioso».

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CARDIM

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CARDOSO

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publico; e com authoridade da Sé Apostolica se fizeram processos authenticos nas principaes cidades e povos de Portugal em ordem á sua canonização no anno de 1643» (121). Está na Biblioteca Pública de Évora, secção dos «Reservados», Gab. E. 7-C. 4 n.° 20 (816). O padre Filipe Alegambe, jesuíta, escreveu e publicou a vida deste virtuoso moncorvense em Roma no ano de 1635, que depois foi traduzida em italiano e francês (122). Na Biblioteca Pública de Évora, secção dos «Reservados», Gab. E. 7-C. 3 d. n.° 56 (795), conserva-se a obra rara escrita por Sebastião de Abreu, intitulada Vida e virtudes do admirável padre João Cardim da Companhia de Jesus português natural de Viana do Alentejo. Évora, na oficina da Universidade, 1569. 4.° de 438 págs. CARDOSO (Acácio António Camacho Lopes) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1903; natural de Moncorvo, terra de seu pai, embora acidentalmente nascesse no Funchal, comarca de Santa Cruz (Madeira), onde seu pai era delegado do procurador régio, a 7 de Julho de 1879. Faleceu a 13 de Abril de 1925, deixando numerosa prole. Era filho do doutor Júlio César Lopes Cardoso, natural de Moncorvo, e de D. Maria Georgina Camacho Lopes Cardoso, natural do Funchal (Madeira). Foi subdelegado do procurador régio em Moncorvo e delegado em Vila Franca do Campo, Ribeira Grande, Vila Nova de Ourém, Carrazeda de Ansiães, Vila Nova de Famalicão e Lisboa. Como deputado, fez parte de diversas comissões desempenhadas com muita competência. Tornou-se notável como polemista e colaborou nos seguintes jornais: Gazeta de Bragança; Nordeste; Norte Trasmontano; Vila Realense; Comércio de Guimarães; Jornal de Moncorvo; O Independente do Norte, jornal de Moncorvo, de que foi chefe de redacção; Flor do Tâmega, de Amarante; Flor do Mondego, jornal de Coimbra; O 31 de Janeiro; Marselhesa; e fundou O Trasmontano. CARDOSO (Amadeu Américo de Magalhães) – Doutor em medicina pela Faculdade do Porto. Nasceu em Cotas, concelho de Alijó a 13 de Fevereiro de 1873; filho de José Etienne de Barros Cardoso e de D. Maria do Carmo Magalhães. Concluiu o curso liceal e o de medicina no Porto em 1896. Casou em Macedo de Cavaleiros, onde é médico municipal e subdelegado de saúde. Escreveu: A atrepsia nos recém-nascidos. Porto, 1898. 8.° de 150 págs.

(121) Ano Histórico, vol. I, p. 296. (122) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 18 de Fevereiro. COSTA, Carvalho da – Corografia Portuguesa. CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II – Santos Portugueses, p. 154.

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CARDOSO

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CARDOSO (Artur Alberto Camacho Lopes) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1907, juiz de direito de 1.ª classe, deputado, chefe do partido nacionalista no distrito de Bragança, sub-leader do mesmo nas câmaras e vogal do directório; natural de Moncorvo, terra de seu pai e avós paternos, embora acidentalmente nascesse em Fafe (onde seu pai exercia a magistratura) a 17 de Janeiro de 1881, sendo baptizado na Póvoa de Varzim. É filho do doutor Júlio César Lopes Cardoso, delegado do procurador régio, natural de Moncorvo, e de D. Maria Georgina Camacho Lopes Cardoso, natural do Funchal (Madeira). Casou com D. Adelaide de Castro Pereira (ver tomo VI, pág. 778, destas Memórias), tendo numerosa prole. Foi subdelegado do procurador régio em Moncorvo e delegado em Carrazeda de Ansiães, Macedo de Cavaleiros e Bragança; auditor administrativo no Funchal e Bragança; auditor do Tribunal do Contencioso Fiscal junto da Alfândega de Lisboa e actualmente é juiz de direito de 1.ª classe, exercendo todavia aquele cargo. Durante a sua auditoria administrativa em Bragança foi provedor da Misericórdia e presidente da Junta Patriótica durante a Grande Guerra, cargos em que se houve brilhantemente. A sua acção como deputado ficou marcada por notáveis trabalhos nas comissões a que pertenceu e pelo modo brilhante como os sustentou nas discussões da câmara. Foi ministro da Justiça por três vezes, com pequenos intervalos, desde 29 de Junho de 1919 a 18 de Dezembro de 1923, assinalando a sua passagem pelos seguintes projectos de lei: reorganização dos quadros do Tribunal do Comércio do Porto; tabelas dos salários judiciais; reorganização dos serviços do governo civil; regulamento e legislação sobre registo predial; criação da Colónia Correccional de Izeda, concelho de Bragança, por decreto de 20 de Setembro de 1919, adjudicando-lhe os bens confiscados pelo governo na mesma povoação às congregações religiosas; reorganização dos serviços de protecção aos menores, notável diploma sob o ponto de vista da reorganização disciplinar, pedagógica e profissional. Pode bem dizer-se que com o decreto de 27 de Maio de 1911, elaborado pelo padre António de Oliveira (123), famoso preceptor dos menores delinquentes, constituem a base do que se tem feito de melhor no assunto, mesmo fora de Portugal. Evidentemente que é este diploma o mais virente florão da coroa de glória do doutor Lopes Cardoso. Ao doutor Lopes Cardoso deve o distrito de Bragança a fundação da actual Escola Industrial de Bragança; a de Artes e Ofícios de Miranda do Douro, chamada de «Lopes Cardoso» por portaria de 7 de Janeiro de 1920; (123) A casa de Caxias é chamada «Reformatório Central de Lisboa Padre António de Oliveira» em memória do benemérito sacerdote.

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outra em Freixo de Espada à Cinta; Escola Infantil de Bragança; Posto Agrário de Bragança, que esteve na quinta da Tereiginha, da família Vargas; escolas primárias superiores de Moncorvo e Macedo de Cavaleiros (extintas depois). E mais lhe deve valiosas dotações para as estradas do distrito e para as misericórdias de Moncorvo, Miranda, Vila Flor e Bragança. Em 1915 cooperou proficuamente na obtenção da dotação para restauro da Domus Municipalis de Bragança e plano reconstrutivo pelo arquitecto Adães Bermudes, o que então não teve efeito, e só em 1928, devido à dotação do ministro da Instrução, doutor Alfredo de Magalhães e plano reconstrutivo do arquitecto Baltasar de Castro, convindo salientar o muito que trabalharam para conseguir tal desideratum os doutores António Augusto Pires Quintela, Raul Manuel Teixeira, José António Furtado Montanha e Tomás Augusto Salgueiro Fragoso, governador civil do distrito. Ver Pereira (José António de Castro). CARDOSO (Henrique José dos Santos) – Nasceu em Santa Comba, concelho de Vila Flor, a 21 de Abril de 1842 e faleceu na cidade do Porto em 1899; filho de João José dos Santos Cardoso e D. Teresa de Jesus, proprietários, naturais de Castro, concelho de Chaves (124). Viveu no Porto antes da revolta de 31 de Janeiro de 1891, e depois em Lisboa donde foi a águas para Vizela já doente e lá faleceu. Foi a figura principal daquele movimento. Era o braço direito de Alves da Veiga. Estas asserções são do promotor da justiça no seu julgamento e do depoimento da testemunha, tenente Homem Cristo. Ver O Primeiro de Janeiro de 1891. Foi redactor e fundador de A Justiça Portuguesa. Parece que Santos Cardoso, filho de pais pouco abastados, exerceu a profissão de barbeiro na sua terra natal, nos seus princípios antes de ir para o Porto. Escreveu: Verdades de Sangue, com dois juízos críticos pelos Ex.mos Srs. Drs. Alves da Veiga e Pedro Amorim Viana. Porto, Tip. Ocidental, 1877. 8.° pequeno de XXXV-92 págs., uma de índice e outra de erratas. Traz o retrato do autor. O segundo vol. desta obra intitulou-se: Verdades de Sangue – Escândalo Bancário, história dos acontecimentos da crise monetária e bancária de 1875 a 1877. Porto, Tip. de Alexandre da Fonseca Vasconcelos, 1878. 8.° pequeno de XIV-128 págs. No fim promete ainda um 3.° vol. que não vi. É uma obra de combate, que tem a rara coragem de estigmatizar a corrupção duma sociedade opressora em linguagem cortante, vibrante de indignação, despida de considerações pessoais, dura como a rocha trasmontana, inflexível como o roble das nossas serras. Vítor Hugo, Emílio Castelar e Garibaldi elogiaram-na. (124) O Portugal: Dicionário histórico, artigo «Santos Cardoso», diz que nasceu em 1842 e que faleceu em Vizela a 5 de Agosto de 1899.

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A hercúlea corpulência de Santos Cardoso, as suas barbas infinitamente compridas, o seu grosso bengalão e, sobretudo, a virulência dos seus escritos, trouxeram por muito tempo aterrada a cidade do Porto, donde provieram depois as referências azedas que lhe fizeram quando preso nos conselhos de guerra. Em Os Acontecimentos de 31 de Janeiro e a minha prisão, por Francisco Homem Cristo, Lisboa, 1891, diz este escritor, apreciando Santos Cardoso e Alves da Veiga, dois bragançanos, figuras primaciais na revolta de 31 de Janeiro: «Santos Cardoso..... possuia uma reputação de tal ordem, que eu julgava indigno de mim apertar a mão de tal homem (pág. 80...). O Alves da Veiga é outro homem. Mas tambem não gosa, ultimamente, de grande credito, que em todo o caso, não tem dado provas, nestas coisas, de maior senso pratico do que Santos Cardoso» (pág. 81...). Na pág. 84 descrevendo Santos Cardoso diz: «Eu nunca tinha visto o homem. Mas a figura não desmereceu o conceito. Um cabo d’esquadra de boa raça, dos de velhas tradicções. Bruto como todos elles, grosso, alentado, ensoberbecido da grande pera e da voz de trovão que possuia, e pela pera e pela voz aquilatando o mundo». «..... Os trabalhos republicanos de Alves da Veiga nada valeram e que apenas se reduziram á triste acquisição d’uns pobres lunaticos, muito boas pessoas, mas de fraco juizo (pág. 91...). Alves da Veiga, todavia, ou pela indole sebastianista de esperar todos os dias a salvação da patria d’um acaso, ou por uma leviandade sem limites, ou porque o movesse um grande interesse pessoal, ou por tudo junto, contava, contava sempre com tudo e com todos (pág. 95...). Pois um homem que, como Alves da Veiga, tão facilmente acreditou em tudo, que, com tanta simplicidade, deixou de contar com as terriveis contigencias de negocios tão graves, que, tão ingenuamente, confiou nas pataratices dos barbeiros, dos bachareis insignificantes, dos estudantes exaltados e sargentos ambiciosos..... pois Alves da Veiga pode ser, porventura, tomado a serio como homem politico e chefe revolucionario? De maneira nenhuma (pág. 111...). Santos Cardoso e Alves da Veiga, que tanto impunham d’arrojados e decedidos nos preleminares d’aquella triste aventura, foram durante ella, d’uma fraqueza extrema. Na vespora da revolta, tanto um como o outro andavam, por assim dizer, desvairados. Faltou-lhe completamente o pouco tino que lhes restava. E d’esse pavor proveio toda a reluctancia que á ultima hora experimentaram (pág. 113...). A conduta de Santos Cardoso (durante a prisão e processo) essa então, sob todos os pontos de vista, foi o cumulo da desfarçatez e da vergonha. Não houve expediente de que aquelle homem não se soccorresse para se libertar de culpas. Ajoelhava aos pés do commissario geral de policia, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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beijava-o, abraçava-o, pedindo que lhe valesse. Negava terminantemente que houvesse alliciado sargentos, ou de qualquer forma preparado a revolta. Forjava a toda a hora planos de evasão, tão falhos de tino como os seus planos revolucionarios..... Não conseguindo os seus fins por esse meio, promettia, invocando um artigo do Codigo Penal que aproveita aos denunciantes, dizer tudo se o posessem na fronteira. E tudo teria denunciado se o commissario de policia, talvez para evitar compromettimentos escusados, se não apressasse a declarar-lhe que o tal artigo lhe não aproveitava. Não obstante algumas denuncias fez alem da minha (pág. 167...). Alves da Veiga e Santos Cardoso, segundo as confissões mais unanimes dos presos mais involvidos nos mysterios da conspiração, assustaram-se com a obra no momento de a executar. Ao mesmo tempo que pareciam confiar, em absoluto, no successo feliz dos trabalhos, andavam cheios de medo e de pavor. Ambos mostraram a maior imcompetencia na hora solemne. Alves da Veiga desde a manhã de 30 que não sabia o que fazia. Nada dispoz nada previu..... Alves da Veiga tudo abandonou. Consultado não sabia responder. Instigado a proceder, ficava-se tresloucado, meio tonto, sem ouvir muitas vezes o que lhe diziam (pág. 184...). Pelas leviandades de Alves da Veiga, leviandades que esmagam a vida politica deste homem (pág. 194...)». Nas págs. 198, 199 e seguintes apresenta Alves da Veiga e Santos Cardoso ridículos após o desastre. «Mais tarde, um dos meus collegas no Directorio, correspondeu a essa lealdade, comprimentando affectuosamente Santos Cardoso no “Vasco da Gama”, nas minhas próprias barbas, quando o Directorio visitava oficialmente os presos politicos, dignos de consideração, que tinham chegado ao Tejo (pág. 217...)». Tanto era o rancor, que nem tolerava que outros pensassem diversamente!!! É que atribuía a Santos Cardoso a denúncia para ele ser preso (pág. 60) e pensava que este e Alves da Veiga lhe moviam guerra sem tréguas (pág. 92, inde irae!). Toda a gente sabe que Homem Cristo tem passado a vida a dizer mal de meio mundo e a ameaçar a outra metade; com razão ou sem ela? Pouco importa; a biliosa soberbia que o tortura é que manda, agora, porém, lá lhe escapou o motivo – eram seus inimigos – e até talvez o das arremetidas contra o resto da humanidade, que supõe igualmente sua inimiga, pois, na pág. 221, declara que quando foi absolvido (ele Homem Cristo), em quase todos os centros republicanos se exclamava: «Que pena aquele maroto não ter ido para a Africa!». Noutra parte diz: «Ora eu era revolucionário, era trabalhador e energico, mas, sem ter nenhuma qualidade intelectual, não era precisamente tolo». Fica-lhe bem esta confissão. Tolos eram só os outros: se trabalhaMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


CARDOSO

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CARMONA

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CARNEIRO

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vam como Alves da Veiga e Santos Cardoso, era ineptamente, imprevidentemente; se não trabalhavam, como Elias Garcia, não estavam à altura da missão que se lhes confiou! Foi bom declarar que não era tolo, pois, a fazer juízo pelo seu livro, todos os mais aliam a esse predicado o de ingénuos, simplórios, levianos, imprevidentes, velhacos, ladrões, brutos e imorais... Santos Cardoso foi preso em consequência da revolta de 31 de Janeiro, julgado nos tribunais marciais de Leixões e condenado a prisão maior celular por quatro anos, seguida de degredo, que não cumpriu integralmente por ser amnistiado. O seu retrato e biografia encontram-se na Enciclopédia Portuguesa, do doutor Maximiano de Lemos. CARDOSO (José Silvério Rodrigues) – Farmacêutico; sócio da Sociedade Farmacêutica Lusitana. Nasceu em Mirandela a 9 de Abril de 1815 e aí faleceu a 13 de Janeiro de 1888; filho de António Silvério Rodrigues e de D. Antónia Luísa Cardoso. Escreveu: Apontamentos sobre a topografia médico-farmacêutica da vila de Mirandela. Porto, 1860. 8.° gr. de 39 págs. Esta obra representa a colecção de vários artigos publicados pelo autor no Boletim de Farmácia e Ciências Acessórias, tomo II, 1860, do qual foi colaborador (125). CARMONA (José António de Lima) – Capitão, senhor da quinta da Rica Fé, junto a Bragança, que muito se distinguiu durante as lutas constitucionais. Ver tomo I, pág. 210, e tomo VI, pág. 127, destas Memórias. CARNEIRO (Domingos Augusto) – Nasceu em Paranhos, freguesia do Porto, a 12 de Dezembro de 1906, filho de Carolino Augusto Carneiro e de D. Maria da Silva, oriundos do distrito de Bragança. Carneiro veio estabelecer residência em Bragança, onde se tem distinguido como caricaturista, sendo muito admirados os seus trabalhos na exposição que realizou no salão da escola industrial no estio de 1928. CARNEIRO (José Paulino de Sá) – General de divisão reformado, ajudante de campo honorário de el-rei D. Luís, deputado em várias legislaturas, par do reino em 1887, director do Real Colégio Militar, nasceu em Bragança a 24 de Julho de 1808 e faleceu em Lisboa a 4 de Setembro de 1891. Era filho de António de Sá Carneiro e de D. Maria do Ó Ferreira. Assentou praça em infantaria n.° 24 da guarnição de Bragança em 1824; emigrou

(125) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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CARNEIRO

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com a divisão constitucional para a Galiza em 1828; esteve na ilha Terceira, onde entrou em alguns combates que ali se deram; fez parte da Divisão Auxiliar à Espanha em 1835, onde se houve com bravura, bem como nas lutas constitucionais de 1833; exerceu com brilho várias comissões de alta responsabilidade e teve grande preponderância política; foi escolhido por aquele monarca para a honrosa comissão de levar a espada de honra que, em 1885, ofereceu ao imperador Guilherme, da Alemanha. Era grã-cruz da ordem da Torre e Espada e da de Avis, comendador da de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e da de Cristo, cavaleiro da Legião de Honra de França e da de Isabel, a Católica, de Espanha e possuía as medalhas das campanhas da Liberdade e da Divisão Auxiliar à Espanha. Escreveu: Breves observações acerca do que do exército, e particularmente da arma de artilharia, disse na câmara dos senhores deputados o sr. deputado José Paulino de Sá Carneiro, coronel do 7.° regimento de infantaria. Lisboa, 1866. Resumo histórico dos progressos da arte militar desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, com as aplicações nos diferentes casos da guerra, tirados dos feitos de armas e das campanhas os mais célebres, servindo de base a um curso prático de táctica, para uso dos oficiais inferiores, e dos alunos das escolas regimentais, por Mr. Ph. Fons Colombe, antigo oficial de cavalaria, traduzido do francês com muitas notas. Porto, 1857, com catorze estampas explicativas desdobráveis e uma introdução pelo tradutor. Ao patriotismo do povo. Lisboa, 1868. 8.° de 12 págs. A Guerra nos Estados Unidos da América. Saiu na Revolução de Setembro de 1869. Considerações militares. Saiu no Jornal do Comércio de 1867. Colaborou na Revista Militar, Jornal do Comércio, Novidades, etc. Seu pai fez parte da Legião Portuguesa ao serviço de Napoleão em 1808 e parece que não voltou a Portugal, sendo capitão da guarnição de Perpignan em 1828 (126). Na sessão da câmara dos deputados de 9 de Abril de 1867 foi apresentado o processo do juiz de direito do 2.° distrito criminal contra José Paulino de Sá Carneiro, coronel de infantaria n.° 7, então deputado, e outro colega, por haverem sido testemunhas no desgraçado duelo em que (126) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Sá Carneiro», onde vem o seu retrato. SILVA, Inocêncio – Dicionário Bibliográfico, tomos V e XIII. Foi criado cavaleiro da ordem de Nossa Senhora da Conceição, por decreto de 10 de Março de 1841, in Diário do Governo de 19 de Agosto seguinte. Diário Ilustrado de 19 de Janeiro de 1866, onde vem a sua biografia. Tomo VI, p. 686, destas Memórias. Crónica Constitucional de 3 de Agosto de 1833, onde se refere à coragem com que se distinguiu no ataque das linhas do Porto em 25 de Julho de 1833 pelos constitucionais.

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CARNEIRO

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foi morto por Miguel de Sá Nogueira, com um tiro de pistola, o malogrado deputado José Júlio Pinto. As sessões desse tempo, onde sobre o caso houve acalorada discussão, encerram pormenores muito curiosos acerca do trágico acontecimento, motivado por uns insultos recíprocos dirigidos em discussão nas câmaras (127). CARNEIRO (Pedro da Fontoura) – Abade de Bouçoães. Faleceu em Arçadegos, povoação na raia da Galiza a confinar com a de Mairos no concelho de Chaves, a 15 de Fevereiro de 1752 e no dia 17 do mesmo mês e ano foi sepultado na capela de Santa Maria Madalena de Bouçoães, onde se encontra o seu assento de óbito e juntamente uma extensa cópia do seu testamento. A 16 de Junho de 1715 tomou posse deste benefício, segundo se vê pela seguinte nota que se encontra num livro do registo do mesmo: «Eu Pedro da Fontoura Carneiro, Comissario do Santo Officio, e da Bulla da Cruzada na villa e comarca de Chaves, e della natural tomey posse deste Benefficio (para onde fui comuttado do de Covello por El Rey Dom João quinto) em dia de Nossa Senhora do Carmo desaseis de julho do anno de 1715 e para constar em todo sempre este termo assiney..... Eu Pedro da Fontoura Carneiro, Comissario do Santo Officio e abbade de Bouçoães». João Carneiro de Morais Fontoura (irmão do abade), natural da vila de Chaves, era filho de Francisco Carneiro de Fontoura e de D. Filipa de Campilho; neto paterno de Pedro da Fontoura Carneiro e de D. Violante Teixeira de Queiroga, de Chaves, e materno de Gonçalo de Fontes Sampaio, morgado de Vila Verde de Oura, e de D. Maria de Morais. Casou com D. Angélica Sebastiana de Figueiredo Sarmento, da vila de Vinhais, filha de Jácome de Morais Sarmento, natural de Quintela de Paçó, termo de Vinhais, e de D. Joana Figueiredo Sarmento, neta paterna de Jácome de Morais Sarmento e de D. Ana de Morais Madureira e materna de Francisco da Silva Barreto, de Quintela, e de D. Perpétua da Rocha de Figueiredo. D. Mariana de Morais Carneiro, irmã do mencionado abade, casou também em Bouçoães, a 15 de Julho de 1738, com Francisco Xavier de Morais Sarmento, natural de Vinhais, fidalgo da casa real, cavaleiro professo da ordem de Cristo, sargento-mor de Miranda e viúvo de D. Maria Ferreira.

(127) Ver CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal Popular e Ilustrada, vol. XII, p. 278.

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CARNEIRO

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CARVALHAIS

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D. Francisca de Morais Carneiro, filha de Pedro Morais Carneiro e de D. Violante Teixeira; neta paterna de Francisco Morais Henriques, natural de Caparica, mestre-de-campo, comendador da ordem de Cristo, administrador da comenda de Oliveira de Azeméis, e de D. Eugénia Carneiro de Chaves, casou também em Bouçoães, a 30 de Julho de 1732, com Jácome José de Morais Sarmento, de Quintela de Paçó, termo de Vinhais, neto paterno de outro do mesmo nome e de D. Ana de Morais Madureira e materno de Francisco Carneiro da Fontoura, de Chaves, e de D. Filipa de Campilho Sampaio, natural de Vila Verde de Oura. Ao actual abade de Bouçoães, João da Cruz Teixeira, agradecemos a benevolência das informações para este artigo. Pedro da Fontoura Carneiro escreveu: Notícias da Vila de Chaves. 1721. Encontram-se manuscritas no códice n.° 221 (A. 6-7), fólio 130, na Biblioteca Nacional de Lisboa. Hübner, Notícias Arqueológicas de Portugal, pág. 87, adscreve este trabalho ao irmão do abade, João Carneiro de Morais Fontoura, a quem dá mais o apelido de Castro, no que parece haver engano quanto ao trabalho que lhe adjudica. Também no mesmo códice, que tem por título Notícias geográficas e históricas da Província de Trás-os-Montes, se encontram, entre outras, cartas e notas remetidas a D. Jerónimo Contador de Argot, a D. Manuel Caetano de Sousa e a outros por Tomé de Távora e Abreu, algumas no fólio 137, deste abade. CARVALHAIS (Rodrigo Pinto Pizarro Pimentel de Almeida) – Nasceu em Vilar de Maçada, concelho de Alijó, a 30 de Março de 1788, onde também faleceu a 8 de Abril de 1841. Foi feito 1.° barão da Ribeira de Sabrosa a 22 de Setembro de 1835. Era brigadeiro do exército. Tornou-se célebre pelo que escreveu e pela luta sustentada contra el-rei D. Pedro IV. Presidente do ministério desde 18 de Abril a 26 de Novembro de 1839, tendo ao mesmo tempo a pasta da Guerra e interinas da Marinha e Estrangeiros. Em 1838 foi nomeado administrador geral de Bragança, onde apenas se demorou quinze dias, ficando António Rodrigues Sampaio a exercer as suas funções (128) enquanto ele ia tomar assento na Câmara (pois fora eleito senador pelos círculos de Bragança e Guimarães); já a gente da revolução de 9 de Setembro de 1836 o nomeara também administrador-geral de Bragança. Para a sua biografia ver o Diário do Governo de 13 de Maio de 1841, As Memórias do Conservatório, tomo II, onde vem o seu elogio histórico por Almeida Garrett, e também o Dicionário Bibliográfico, de Inocêncio Francisco da Silva. (128) Notícias dos Ministérios e Secretários de Estado, etc., p. 2. VASCONCELOS, A. A. Teixeira de – O Sampaio da Revolução…, 1859, p. 61.

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CARVALHO

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CARVALHO (A. Luciano de) – Será dele, pelo menos aparece sob o seu nome, o Caminho-de-Ferro de Mirandela e ramal de Viseu? Estudo especial publicado de páginas 41 a 46 do Portugal – Contingente da associação dos engenheiros civis portugueses. Catálogo descritivo da colecção de álbuns, memórias e desenhos expostos pelo sócio A. Luciano de Carvalho. Lisboa, 1896 (129). CARVALHO (Adriano Acácio de Morais) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, comissário de polícia no Porto. Nasceu em Bragança a 28 de Março de 1848 e faleceu no Porto a 25 de Agosto de 1907. Era filho do doutor José Morais de Faria de Carvalho, senhor da nobre casa da Rapadoura, antigo deputado da nação. Concluída a sua formatura com muita distinção em 1870, foi em 2 de Agosto desse ano despachado administrador do concelho de Vila Nova de Famalicão, donde foi transferido para o de Fafe em 1877, não chegando, porém, a tomar posse por ter sido eleito procurador à Junta do distrito de Braga pelos concelhos de Famalicão e Guimarães. Em Fevereiro de 1878 voltou a ser administrador do referido concelho de Famalicão, deixando nesse mesmo ano o cargo por ser despachado primeiro-oficial do governo civil de Vila Real. Ainda nesse ano de 1878 foi nomeado comissário da 3.ª divisão policial do Porto, tomando posse em 21 de Junho, e sendo em 1882 promovido a comissário-geral. Casou em Braga com D. Maria Zulmira de Araújo. A 11 de Janeiro de 1894 teve o grau de cavaleiro e oficial da ordem da Torre e Espada; era cavaleiro e comendador da ordem da Rosa do Brasil, comendador das de Carlos III e de Isabel, a Católica, de Espanha, e cavaleiro da Legião de Honra, de França (130). CARVALHO (Alberto de Morais Faria de) – Nasceu em Bragança em 1846; filho do doutor José de Morais Faria de Carvalho (ver este nome), do Vimioso, casou com D. Maria José Manuel de Vilhena, neta paterna do marquês de Pombal. É general reformado de cavalaria e vive em Lisboa. Foi governador de Damão pelos anos de 1887, comandante da Escola Prática em Vila Viçosa e acompanhou como ajudante o conde de S. Januário à Índia. Escreveu: Reminiscências do Oriente (Apontamentos de viagem). Lisboa, 1914. 8.° de 79+3 (inumeradas) págs. A propósito da nobreza de carácter, coragem e valentia deste ilustre bragançano, ver Tomás Ribeiro, Entre Palmeiras, onde é cognominado «Espada», e Albino J. de Morais Ferreira, Dialecto Mirandês, pág. XXXIV. (129) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico, tomo 17, p. 380. (130) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Morais Carvalho».

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CARVALHO

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CARVALHO (Alfredo de Morais) – Engenheiro de minas de notáveis qualidades de inteligência, de trabalho e de modéstia, natural de Bragança, filho do doutor José de Morais Faria de Carvalho, do Vimioso. Fez parte da expedição científica à serra da Estrela em 1881, enviada pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Morreu de um desastre de automóvel em Paços de Ferreira a 29 de Março de 1910. Era irmão dos dois anteriores, de Albano de Morais Carvalho, oficial da armada, e de Abílio de Morais Carvalho, que foi amigo particular de el-rei D. Carlos e cunhado do conde de Lumbrales. Ver tomo VI, pág. 571, destas Memórias. CARVALHO (António José Fernandes de) – Nasceu no Mogadouro a 29 de Agosto de 1847; filho de Cláudio José Fernandes, escrivão de direito, e de D. Teresa de Jesus. Concluídos os estudos preparatórios no Liceu Nacional de Bragança e o curso de teologia no Seminário de Braga, fez ainda exame de subdiácono, mas desistiu da recepção das ordens sacras, dedicando-se ao ensino livre em sua casa particular e no Colégio do Espírito Santo, em Braga, onde faleceu a 5 de Janeiro de 1926. Escreveu: Horas de Saudosas Meditações com aprovação do Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Primaz oferecidas e dedicadas a Nossa Senhora do Caminho que se venera na vila de Mogadouro. Braga. Sem indicar ano de impressão. 16.° (?) de 52 págs., compreendendo prosa e versos em honra da Virgem, donde respira a funda piedade do autor. Também sabemos ser deste autor uma folha avulsa de mimosas quadras, assinadas por «Um mogadourense», epigrafadas Louvores a Nossa Senhora do Caminho (Agosto de 1903). Dicionário das instituições, usos e costumes dos romanos à face de muitas e variadas frases para interpretação dos autores latinos. Braga, 1904. 8.° O Franco-Mação da Virgem. Tradução. 2.ª edição, Braga, 1904. Com gravuras. 8.° de 192 págs. com sete fotogravuras. Selecta da Juventude dividida em três partes precedidas respectivamente de noções de sintaxe e versificação estilística e géneros de composição literária para uso dos que estudam português e literatura. Braga, 1905. 8.° pequeno de 508 págs. A Doutrina Cristã e Princípios de Moral ensinados às crianças. Braga, 1906. 8.° pequeno de 63 págs. Foi aprovada oficialmente para uso das escolas primárias. Selecta das Crianças coleccionada por..., etc. Braga, 1903. 8.° de 2 (inumeradas)-335 págs. mais 64 de poesias, 1 de erratas e 5 de índice. CARVALHO (António Veloso de) – Foi o encarregado em 1721 pela Câmara Municipal de Moncorvo de organizar as notícias respeitantes à vila MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


CARVALHO

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e termo que se haviam de mandar à Academia. O manuscrito original, intitulado Memória da Torre de Moncorvo, existe na Biblioteca Nacional de Lisboa, no fólio 128, códice A-6-8 n.° 222. CARVALHO (Bernardo José Henriques de) – Escreveu: Tese no seu quinto ano de direito canónico. Conimbricœ ex typ. Ludovici Secco Ferreira. Anno Domini MDCCLIII. Super pre. Existe impressa em três planas de seda branca na sacristia da igreja paroquial de Quintela de Lampaças, a servir de véu de cálix. Não declara a naturalidade do autor nem o santo a que era dedicada. CARVALHO (Caetano Henrique de) – Escreveu: Tese no seu quinto ano de direito canónico. Conimbricœ ex typ. in Regali Artium Collegio Societate Jesu. Anno Domini 1740 cum facultate superum. Existe impressa em três planas de seda amarela na sacristia da igreja de Quintela de Lampaças servindo de véu de cálix. CARVALHO (Constâncio Arnaldo de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, conservador do registo predial no Porto, onde faleceu em 1928, tendo nascido em Moncorvo a 16 de Novembro de 1876; filho de António Silva. Foi advogado em Moncorvo durante mais de vinte anos, presidente da câmara da mesma vila, que lhe deve a inclusão da serra de Roboredo no regime florestal, conservador do registo predial, deputado e governador civil do distrito de Bragança. Na Agenda Brigantina, 1928, mês de Setembro, vem uma interessante descrição em verso feita pelo doutor Constâncio Arnaldo de Carvalho de uma excursão ao lago de Sanábria e por outras publicações deixou esparsa vária colaboração em prosa e verso. CARVALHO (Diogo) – Jesuíta do colégio de Bragança, onde faleceu a 5 de Junho de 1585. As suas virtudes mereceram-lhe especial comemoração no Hagiológio, que registou a sua fama de santo entre os povos, para os quais era extremamente caridoso e compassivo (131). Ignora-se a terra da sua naturalidade. CARVALHO (Gonçalo Vaz de) – e Domingos da Silva, mestres-construtores das pontes de Marzagão e Selores, concelho de Ansiães, hoje Carrazeda de Ansiães, em 1697. Ver tomo IV, pág. 351, destas Memórias. CARVALHO (José de Morais Faria de) – Senhor da nobre casa de Rapadoura, na vila do Vimioso, onde nasceu em 1815, falecendo em Braga, onde (131) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 5 de Junho.

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CARVALHO

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era juiz de direito. Foi deputado às cortes em várias legislaturas; casou em Bragança e durante a revolução da Patuleia serviu de ajudante-de-campo do general Jorge de Avilez. Ver tomo VI, pág. 571, destas Memórias. CARVALHO (Manuel de) – De Bragança, capitão, filho de António Carvalho, a quem el-rei fez mercê de 40$000 réis de tença em razão dos seus feitos militares no ataque das praças de Alcântara, Cidade Rodrigo e outras, prestados desde 1700 a 1719. Ver tomo VI, pág. 137, destas Memórias. CARVALHO (Manuel António de, 1.° barão de Chanceleiros) – Natural de Carvalhais, concelho de Mirandela. Nasceu a 31 de Maio de 1785 e faleceu na sua casa no Rossio de Alenquer a 18 de Dezembro de 1858. Frequentava com distinção a Universidade de Coimbra, quando os franceses invadiram Portugal, e aderindo ao movimento patriótico alistou-se no batalhão académico. Seu irmão primogénito era nesse tempo o chefe do comissariado geral. Terminada a campanha, dedicou-se à magistratura, para que fora habilitado pelo Tribunal do Desembargo do Paço em 1813 e foi despachado juiz de fora de Vila de Conde, «cargo que desempenhou com tanto amor da justiça e tanto a contento dos povos, que ficou por assim dizer lendária a sua memoria no espírito daquela boa gente marítima, que ainda hoje mostra a casa onde residiu, como se fosse um santuario ou um monumento». Foi deputado às cortes constituintes de 1821, onde logo se distinguiu. Em 1823, sendo ministro seu irmão Sebastião José de Carvalho, foi nomeado membro duma regência que devia ir ao Brasil sustentar a causa de Portugal, onde a revolta da independência lavrava, mas não chegou a partir porque os acontecimentos se precipitaram e aquele Estado se emancipou da mãe-pátria. Em 17 de Junho de 1827 foi nomeado ministro e secretário de estado dos Negócios da Fazenda, em cujo cargo deu provas de firmeza e integridade. Em 1835 era presidente da câmara dos deputados e em 27 de Maio desse ano foi nomeado ministro da Justiça, onde esteve até 15 de Julho. Desde 17 de Abril de 1838 a 26 de Novembro exerceu o cargo de ministro da Fazenda (132). Escreveu: Relatório apresentado na câmara dos senhores deputados da (132) Ver tomo VI, p. 211, destas Memórias e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Chanceleiros». Notícia dos Ministros e Secretários de Estado do Regime Constitucional nos 41 anos decorridos da Regência instalada na ilha Terceira em 15 de Março de 1833 até 1871.

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CASADO

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CASTELO

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nação portuguesa, em 11 de Fevereiro de 1828, pelo ministro e secretário de estado dos negócios da fazenda, etc. Lisboa, 1828. 1 vol. de XVIII-62-2 págs. CARVALHO (Norberto Augusto de) – Doutor, magistrado judicial, criador do posto antropométrico da cadeia civil de Bragança em 1903. Ver tomo I, pág. 254, e tomo VI, pág. 215, n.° 1, destas Memórias. CASADO (José Faria) – Doutor formado em direito pela Universidade de Coimbra e presbítero secular. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 22 de Agosto de 1699 e faleceu em 1754. Filho de Cosme de Faria e de D. Catarina Álvares Casado. Deu mostras de tão precoce inteligência que, aos treze anos, teve carta para leccionar gramática. Depois da sua formatura foi advogar para Miranda do Douro e seguidamente para Lisboa, onde se ordenou de presbítero. Obteve em 1738 o priorado da colegiada de S. Mamede de Mogadouro. Deixou impressas muitas alegações jurídicas e manuscritas algumas obras de direito canónico (133). CASTELO (Pedro Vaz), ou Castilho, como dizem outros – Natural de Bragança, professor de medicina em Tolosa, «onde adquiriu a mais elevada reputação». Escreveu: Exercitationis Midicinalis ad omnes Thoracis a defectus, etc. Tolosa, 1616. 4.° (134). CASTELO BRANCO (Jacinto de Oliveira) – Juiz de fora da vila de Algoso, concelho do Vimioso. Eis o que a respeito deste digno magistrado se lê na Enciclopédia das Famílias: «Fez-se digno de honrosa memoria pela sua repugnancia ás ordens do governo intruso; por continuar debaixo delle a usar do nome de S. A. R. em alguns processos, por conservar as armas reaes no pelourinho e na casa da Camara daquella villa e por outras acções igualmente sublimes e arriscadas. Jantando em sua casa varias auctoridades portuguezas que o increparam de não cumprir as ordens relativas á contribuição de guerra, respondeu-lhes lançando mão a um copo e levantando um brinde á familia

(133) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Faria Casado (José)». CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular. (134) Sumário da Biblioteca Lusitana. CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular.

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CASTELO BRANCO

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CASTELO MELHOR (D. João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° conde de) – Foi governador das armas da província de Trás-os-Montes e do Minho. Nasceu em 1593 e faleceu a 13 de Novembro de 1658 (136).

(*) Ver tomo VI, p. 243, destas Memórias.

Navarro (António José Antunes) (*)

real portugueza. Vendo porem que era necessario dar alguns passos sobre este objecto para não aggravar os males dos povos, principiou a dal-os lentamente só em maio. Já a este tempo se tinham feito contra elle representações a Junot e baixaram conseguintemente ordens ao corregedor da comarca para se enformar dos factos, suspendel-o e prendel-o se fossem verdadeiros. A grande distância de Lisboa e o estado em que tinha ficado a provincia de Traz-os-Montes, sem tropas nem auctoridades francezas, valeu-lhe chegarem as ordens quando as provincias do norte ja se remechiam para sacudirem o jugo; e o saber-se este magistrado livrar do perigo, até que rebentou o vulcão em Bragança» (135).

CASTRO (António de) – Natural de Bragança, mestre dos moços fidalgos e do duque D. Teodósio II. Faleceu em 1603. Escreveu: Tractatus de Conchiliis. Manuscrito. – Tractatus de Vino myrrhato Cristo Domini a Judeais in Cruce propinato (137). CASTRO (António de) – Natural de Sampaio, concelho de Vila Flor; mestre pintor, que arrematou em 1768 o douramento do retábulo do altar-mor da igreja paroquial da Castanheira, termo de Penas Roias. Também concorreu a essa arrematação Domingos Fernandes Rebouta, pintor, natural de Felgar, concelho de Moncorvo. CASTRO (António Manuel de Carvalho e) – Coronel de milícias de Miranda, que se distinguiu em 1808 nas lutas contra os franceses. Ver tomo I, pág. 131, destas Memórias. CASTRO (Columbano Pinto Ribeiro de) – Juiz demarcante da província de Trás-os-Montes em 1796. Escreveu: Descrição da Província de Trás-os-Montes, suas comarcas e população, feita no ano de 1796. Fólio, manuscrito, existente na Biblioteca Municipal do Porto. Este códice foi publicado pela primeira vez na Ilustração Trasmontana, Porto, 1908, págs. 181 e seguintes, e depois em volume (135) Enciclopédia das Famílias, Revista de Instrução e Recreio, n.° 71 (1893) p. 644. (136) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Castelo Melhor». (137) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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pela Biblioteca Municipal do Porto. É interessantíssimo para a história da província de Trás-os-Montes, pelas notícias corográficas, demográficas, comerciais, industriais e estatísticas que fornece. CASTRO (Isaac Oróbio de) – Notável escritor judeu, nascido em Bragança em 1620. Ver tomo V, pág. XCIV, destas Memórias. CASTRO (João Baptista de) – Natural de Alfândega da Fé, juiz de direito aposentado; faleceu em Lisboa, com setenta e cinco anos de idade, a 21 de Março de 1920. Foi administrador do concelho de Pampilhosa da Serra, conservador do registo predial em Mangualde, juiz auditor do tribunal administrativo em Bragança, juiz das execuções fiscais na Moita, Setúbal e Horta e juiz da 1.ª vara em Lisboa. Escreveu várias obras e, entre elas: Actos comerciais e jurisdição mercantil. Era pai da ilustre escritora D. Ana de Castro Osório, do doutor Alberto de Castro Osório, do tenente-coronel Jerónimo de Castro Osório e de João de Castro Osório. No Diário de Noticias de 22 de Março de 1920 vem o seu retrato acompanhado de notas biográficas. CASTRO (João Ferreira de) – Natural do Vimioso. Viveu em 1752. Deste escritor nada mais sabemos, senão que deixou o seguinte manuscrito, que possuímos: Rethorices Compendium a Joanne Ferreira de Castro et ad ejus usum scriptum. Vimioso ano ab incarnatione Domini 1752. 4.° de 42 págs. e mais 4 com uma série de frases em português e respectiva tradução na língua latina, sob o título Purioris Eloquentiœ amenissinum viridarium ad recreationem periter et ad utilitatem. Este segundo trabalho, que ia disposto por ordem alfabética, não está concluído, nem mesmo a letra A. Certamente para ele estavam destinadas as muitas folhas a seguir que o códice tem em branco. Exemplar de óptima caligrafia, muito deteriorado por água que nele caiu, ou humidade, mas sem prejuízo do texto que ainda assim é de embaraçada leitura por estar muito apagada a tinta. É escrito em latim. Será este escritor o autor do códice «Tronco de Ferreiros e Castros do Vimioso», que descrevemos no tomo VI, pág. 536, destas Memórias? Talvez o n.° 1, da pág. 539? Ou este códice será de António Ferreira de Castro, memorado na pág. 734 do mesmo volume? CASTRO (D. Jorge de) – Natural de Moncorvo, frade da ordem dos Pregadores; leu na Universidade as cadeiras de artes e teologia, na última das MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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quais tomou o grau de doutor e mestre da província; foi provincial e muitos anos deputado da Inquisição de Lisboa. Faleceu a 21 de Setembro de 1685 (138). CASTRO (Padre José António de) – Nasceu em Bragança (Sé) a 15 de Fevereiro de 1886; filho de António Augusto de Castro e de D. Maria da Conceição, proprietários, de Bragança. Estudou preparatórios e teologia no Seminário Diocesano de Bragança; foi pároco de Gimonde e comissário da Ordem Terceira de S. Francisco de Bragança. Sendo preso por conspirador monárquico após a proclamação da República em 1910, foi, logo que obteve a liberdade, para o Brasil, onde se tem notabilizado como orador sagrado, jornalista, escritor e sacerdote exemplar, merecendo por isso a grande cotação que goza tanto nas altas esferas eclesiásticas como seculares. Escreveu: A Roma e à Terra Santa (Crónicas de Viagem). Rio de Janeiro, 1925. 8.° de 464 págs., profusamente ilustradas. É a reunião dos artigos que, na viagem em peregrinação brasileira à Terra Santa, ia mandando para o Jornal do Brasil. Pela Santa Casa. Rio de Janeiro, 1925. 8.° de 19 págs. É uma conferência que o autor fez no Brasil em prol da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, e bem sucedida foi, porque os donativos montaram a cinco contos. São Francisco de Assis (segunda edição). Rio de Janeiro, 1926. 8.° de 266 págs., muito ilustradas. A primeira edição esgotou-se em pouco tempo. Terras de São Francisco (Crónicas de Viagem). Rio de Janeiro, 1928. 8.° de 515 págs. muito ilustradas. Contam-se por milhares e milhares os exemplares das edições dos livros do padre Castro e rapidamente esgotadas. E a um homem destes, escritor e jornalista dos mais pujantes, cheio de serviços à Igreja, abençoados e louvados pelo Papa, benquisto e considerado pelos cardeais, pelos altos dignatários eclesiásticos brasileiros; um homem que tem sido recebido oficialmente com toda a solenidade protocolar por representantes do governo e do episcopado brasileiro, após o regresso das suas excursões pela Europa, Ásia e África; um homem destes – dizíamos – foi suspenso do exercício das suas ordens pelo bispo de Bragança, quando veio à terra abraçar seus pais, após catorze anos de ausência, pelo inaudito crime de não ir, primeiro, beijar-lhe o anel e sujeitar-se às jurisdições às pinguinhas!... E o padre Castro é de tanta virtude e tem tal noção da obediência, que deixou o bispo na faina de excogitar cânones para o purificar no bendito fogo inquisitorial, e (138) Memórias da Academia Real de História, tomo I, in fine.

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regressou ao Rio de Janeiro, onde foi recebido protocolarmente, segundo fica dito, e o piedoso bispo de Bragança, D. José Lopes Leite de Faria, cá se ficou a ruminar, a ruminar cânones e mais cânones, até que morreu fulminado por uma indigestão deles, sempre com o padre Castro atrancado nos dentes! E o padre Castro nunca soltou uma queixa contra o seu perseguidor nem contra o doutor Guilhermino Alves, seu secretário, nem contra o abade da Sé, actual vigário capitular, talvez mais culpado no caso do que ele, bispo!!! Só de um santo!... Tem colaborado no Legionário Trasmontano e outros jornais de Bragança; Alerta, da Guarda; Liberdade, de Lisboa; Jornal do Brasil, etc. CASTRO (Júlio Pires de) – Nasceu em Babe, concelho de Bragança, a 11 de Novembro de 1814 (no assento do baptismo tem só o nome de Júlio); filho ilegítimo de Mariana Pires, natural da Mofreita, moradora em Babe; neto de José Pires Charro, natural da Mofreita, e de D. Maria José, natural de Bragança. Faleceu nesta cidade (Sé), a 16 de Abril de 1899. Em sessão da Câmara Municipal de Bragança de 20 de Março de 1851 foi provido na escola de ensino primário, criada pela mesma câmara na povoação de Parada (139). Escreveu: Os Efeitos do Pecado Original em Meditações Cristãs – Obra utilíssima a todo o verdadeiro cristão. Porto, 1865, Tip. de José Ferreira da Silva e filho. 8.° pequeno de 141 págs. A Confraria do Senhor Jesus de Cabeça Boa. Braga, 1872, Tip. Lusitana. 8.° de 32 págs., com uma estampa representando o Senhor Jesus de Cabeça Boa, e no fim uma ode sáfica em latim com a sua versão em quadras portuguesas. (Este folheto, que tem por objecto a história do santuário do Senhor Jesus de Cabeça Boa, apesar de anónimo, supômo-lo obra de Júlio Pires de Castro). Diálogos Morais e Instrutivos entre um pároco e um freguês, divididos em IX conferências, compostos por um freguês católico. A. R. Com um apêndice de alguns textos da escritura e sentenças dos SS. Padres. Tip. de Bragança, 1862. 8.° pequeno de 72 págs. Nesta mesma tipografia foi impresso em 1847 o Agostinho de Ceuta, drama em quatro partes, de Camilo Castelo Branco. Júlio Pires de Castro foi, enquanto viveu, leccionista de latim em Bragança, com grandes créditos de competência. Havia estudado esta disciplina com o padre Luís Bernardo Pires, natural de Montesinho, professor dele no Seminário, tio do meu saudoso amigo Avelino António Pires, que (139) Livro de Registo da Câmara de Bragança, fl. 109.

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morreu sendo pároco de Rabal a 7 de Outubro de 1905, nascido em Montesinho a 15 de Fevereiro de 1841. CASTRO (D. Rodrigo de) – Governador das armas da província de Trás-os-Montes pelos anos de 1658. Ver tomo I, pág. 95, destas Memórias. CEIA (Frei António de) – Natural do Mogadouro; foi geral de São Bento em Espanha em 1574. Escreveu: Crónica do Convento de Monserrate (140). CERQUEIRA (Bernardo do Carmo Borges de) – Coronel de milícias de Moncorvo, que militou na revolta contra os franceses em 1808, em Bragança. Ver tomo I, pág. 131, destas Memórias. CHAGAS (Frei António das) – Arrábido, natural de Freixiel, concelho de Vila Flor; nasceu em 1558 e faleceu pouco depois da meia noite que ia para 3 de Agosto de 1648. O Portugal Antigo e Moderno, artigo «Freixiel», dá como natural desta povoação Frei António das Chagas, provincial dos Arrábidos, a quem chama célebre orador sagrado no seu tempo e escritor místico, mas enganou-se; este de que fala era natural de Lisboa e faleceu aí por 1642, como se vê na Crónica donde tirámos estes apontamentos, no fim citada, parte II, livro I. Frei António das Chagas, de quem aqui falamos, não foi escritor nem orador. Era filho de Lopo Álvares Borges e de D. Brites Coelho, nobres pela sua ascendência, que também tiveram outro filho de nome Diogo da Piedade, igualmente frade professo na ordem da Arrábida, memorado com fama de virtuoso nas Crónicas, bem como seu tio, Frei Francisco de Santo António, ministro provincial na mesma ordem. Estudou gramática em Braga e foi depois moço de câmara de el-rei D. Sebastião. Havendo desaparecido este monarca em Alcácer-Quibir, desenganado das vaidades do mundo e aconselhado pelo provincial, seu tio, entrou na ordem em 1585. Em 1584, Gonzaga, geral dos Capuchos, erigiu a custódia do Brasil com o título de Santo António, que depois se dividiu em duas províncias, tendo a segunda o nome de Conceição; mas como a messe era grande e os operários poucos, obtiveram do Papa Xisto V a faculdade de poderem receber frades de todas as ordens que quisessem alistar-se para a conversão daquela gentilidade; para lá partiu, pois, Frei António em 1590, deixando o convento de Alferrara, onde se encontrava ao tempo, aportou a Pernam(140) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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buco onde foi ordenado de presbítero e exerceu o ofício de porteiro no convento das Neves e depois o de presidente nos vários conventos da custódia de Santo António. Residiu, durante cinco anos, no convento de S. Francisco da vila da Vitória, onde também foi guardião. Durante este tempo teve a seu cargo o culto da capela de Nossa Senhora da Penha, fundada por Frei Pedro Palácios (141) num rochedo que domina a barra daquela capitania. Em 1604, deixada a guardiania do convento de S. Francisco da Vitória, voltou para a sua província de Portugal, embarcando num navio holandês aportando a Faro, no Algarve, por ser o seu navio abordado e roubado por uns piratas ingleses, que ainda o feriram, e foi depois para o convento de Santa Catarina de Ribamar, para o de Alcobaça, para o de Vale da Figueira e S. José de Ribamar, ocupando as prelazias destes dois últimos; mas os restantes vinte anos da sua vida passou-os no primeiro, sendo os doze derradeiros completamente cego. Foi sepultado na capela-mor, defronte do altar de Nossa Senhora da Tocha, em um carneiro que por acaso se descobriu quando andavam abrindo a sepultura; mas depois, por causa de obras que ali se fizeram, destruiu-se o carneiro e dispersaram-se os seus ossos. A Crónica encarece muito as suas grandes virtudes e os transportes com que promovia o culto da Virgem, diante da qual bailava, cantava e tocava em arroubos e colóquios místicos; reconhece-lhe o dom profético e o dos milagres, muitos dos quais cita sucedidos com a gente mais luzida do reino, máxime a da corte, que tinha grande veneração pelo nosso frade. A rainha D. Luísa mereceu mesmo que ele lhe sarasse miraculosamente o infeliz D. Afonso VI, mais tarde rei. Mas a coisa melhor que fez neste género foi com o prestígio do seu dom profético animar D. António Mascarenhas e D. Miguel de Almeida, que estavam vacilantes, a entrarem na conspiração de 1640, vaticinando-lhe o bom êxito dela. Pelo que toca à sua humildade, eis como a Crónica a põe em relevo: «Todas as noites, diz ella, examinava a consciência e se achava ter comettido alguma impaciencia se arguia e castigava a si proprio, dizendo: – anda asno, não queres ter paciencia, hoje agastaste-te tantas vezes e já que protestas a emenda e a não tens apanha esta bofetada, para que te lembre, e assim de cada falta dava sua bofetada» (142).

(141) JESUS MARIA, José de, Frei – Crónica da Santa Província de Santa Maria da Arrábida…, tomo I, n.° 612. Devia ser homem mui grande no género fradesco, pois a Crónica lhe consagra nada menos que trinta e cinco páginas in-fólio, a duas colunas, e, em câmbio, ao grande escritor clássico Frei Heitor Pinto, que vem no mesmo tomo, menos de duas páginas!!! (142) Ibidem, tomo I, parte II, livro II, caps. IV a X.

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CHAGAS (Maria das) – Natural de Estremoz, religiosa professa no convento da Esperança, em Vila Viçosa, donde passou a reformadora e abadessa no convento de Santa Clara de Bragança, onde faleceu a 11 de Maio de 1631 com oitenta e oito anos de idade e sessenta e um de religiosa. Floresceu em virtudes, fama de santidade e milagres, de que se formou processo jurídico em ordem à sua canonização (143). CHAMIÇO (Francisco de Oliveira) – e Henrique Sergan, escreveram: Relatório sobre as minas de estanho de Montesinho. Lisboa, 1865, Tip. da Sociedade Tipográfica Franco-Portuguesa. 1 vol. 8.° CHARULA (João José Pereira) – Nasceu em 1843 e era filho de Francisco Xavier Fernandes Charula e de D. Ana Maria Lopes Pereira, ambos do Vimioso. Foi governador civil substituto de Bragança, deputado nas legislaturas de Outubro de 1894 a Março de 1895 e de Fevereiro de 1896 a 8 de Fevereiro de 1897; rico proprietário nos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros. Casou com D. Margarida de Almeida Morais Pessanha, irmã do capelão militar João Manuel de Almeida Morais Pessanha. Faleceu em 1898. Escreveu: Minuta de Agravo – Agravante, João José Pereira Charula, de Macedo de Cavaleiros. Porto, 1893. 8.° de 23 págs. João José Pereira Charula residia nos Arcos, concelho de Macedo de Cavaleiros, quando foi preso em 1872 pelas questões eleitorais nesse tempo muito agitadas naquele concelho. Ver tomo I, pág. 219, e tomo VI, pág. 383, destas Memórias e neste volume os artigos Barros e Pessanha (José Benedito). CHAVES (José Manuel) – Natural de Vale de Telhas, concelho de Mirandela, formado em medicina pela Universidade de Coimbra. Nasceu pelos anos de 1746. Exerceu a medicina em Condeixa e outros lugares e ultimamente como médico do partido municipal na vila de Grândola, onde supomos que faleceu em 1821 ou 1822. Escreveu: Fabriologia, onde se descrevem o carácter, as causas e as espécies das febres intermitentes, malignas e inflamatórias, etc. Conforme a fiel observação de vinte anos de prática do autor. Lisboa, 1790. 4.° Elementos de medicina prática de Cullen, traduzidos da quarta edição inglesa com notas de Bosquillon. Lisboa, 1790 a 1794. 8.° Sete tomos. Obra de todo esquecida como outras do mesmo género.

(143) Ano Histórico, vol. II, p. 67.

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Também publicou alguns artigos sobre medicina no Jornal de Coimbra. Mais «deu á luz poucos annos antes de morrer, dous alcunhados poemas; ou falando mais exactamente, dous monstros inclassificaveis, apenas conhecidos hoje de alguns curiosos que costumam colligir estas aberrações da razão humana, e se divertem ás vezes contemplando os desvarios que de si pode dar um espirito alienado pela mania da metrificação!». Eis os títulos destes abortos: Europa roubada, gritos de seu povo. Poema dividido em seis partes; 1.ª – Alexandre na França. 2.ª – Lágrimas de Napoleão. 3.ª – Lágrimas de Maria Luísa de Áustria. 4.ª – Napoleão em Portugal, hoc est, a guerra do velhaco. 5.ª – Napoleão em delírios, hoc est, a casa dos orates. 6.ª – Derrota final de Napoleão em Jocosério: que aos portugueses expõe em oitavas, etc. Lisboa, 1817. 8.° de VIII-118 págs. Diz-se que os parentes do autor, por consideração para com o seu crédito, inutilizaram todos os exemplares que puderam. Para confirmação da sua crítica, o autor que vamos seguindo traz três estâncias do poema. Nova Ester em Portugal: Poema, que à rainha Santa Isabel, mulher do senhor rei D. Dinis, fundadora do ducado de Bragança, protectora do reino português, primeira fundadora e comendadeira da respeitável ordem de Jesus Cristo nosso senhor e salvador; defensora de Coimbra na funesta invasão dos franceses em 1808-1811; mãe dos pobres; madrinha dos aflitos; amparo dos desgraçados (cujo corpo certamente está inteiro no real convento de Santa Clara de Coimbra há 471 anos), canta, etc. Lisboa, 1819. 8.° gr. de 132 págs. Esta produção é algo superior à antecedente (144). CICOURO (Manuel José Fernandes) – Doutor em cânones e lente da Universidade de Coimbra, comendador da ordem de S. Bento de Avis, cavaleiro da ordem de Cristo, chantre da Sé Patriarcal e provisor e vigário-geral do patriarcado. Nasceu em Penas Roias, concelho do Mogadouro, a 10 de Novembro de 1789 e faleceu a 14 de Dezembro de 1879; filho de Francisco Fernandes Cicouro e de Maria Fernandes, lavradores, moradores em Penas Roias. Frequentou o que hoje chamamos preparatórios em Bragança, onde se habilitou para ordens menores, que foi receber a Astorga, Espanha, em 1 de Abril de 1808. A invasão francesa, que nesse ano teve lugar, impediu-o de continuar seus estudos, o que só pode fazer em 1812, indo para Coimbra, onde concluiu preparatórios, matriculando-se em 1814 no primeiro ano de teologia, faculdade em que tomou o grau de bacharel a 20 de Maio de 1818, havendo entretanto a 23 de Março de 1816 recebido a ordem de presbítero. (144) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico.

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Em 26 de Julho de 1818 foi nomeado professor proprietário da cadeira de filosofia, retórica e geometria na vila de Arganil. Em 9 de Julho de 1819 concluiu a sua formatura, doutorando-se em cânones a 7 de Janeiro de 1821. Em 1822 foi provido numa beca da ordem de Avis, no colégio das Ordens Militares da Universidade, de que tomou posse e fez profissão solene de freire conventual a 16 de Julho. Em 1823 foi nomeado membro da comissão da fazenda da Universidade, e em conselho de decanos de 4 de Novembro de 1825 promotor fiscal do estado e fazenda da mesma Universidade. Por régia resolução de 29 de Setembro de 1826 foi nomeado, deputado da junta da directoria geral dos estudos, e por decreto de 6 de Julho de 1827 apresentado num benefício da colegiada de Santa Eufémia de Penela, da ordem de Avis. Exercendo o magistério na Universidade desde 1822, em 1834, com a implantação do regime constitucional, viu-se envolvido na medida geral, que o dispensava desse serviço por seguir o partido de D. Miguel, o que também lhe motivou a desistência da vice-reitoria da ordem de Avis. Retirado assim à vida privada, foi viver para casa do seu amigo e condiscípulo doutor José Vaz Correia de Seabra e Silva, em Lurosa da Trapa, junto a S. Pedro do Sul, onde esteve até 1836. Desejando então o patriarca D. Frei Francisco de S. Luís reorganizar um colégio de estudos preparatórios para o estado eclesiástico, confiou essa missão ao doutor Cicouro, que conseguiu levar a cabo abrindo-o em Outubro de 1839 no palácio do marquês de Tancos, a S. Cristóvão, o qual, em homenagem ao seu fundador, se ficou chamando «Colégio do Doutor Cicouro», e em breve se tornou notável pela competência do seu corpo docente, entre o qual sobressaía o nosso biografado, que por muito tempo ali ensinou gratuitamente. Em 21 de Junho de 1842, por ausência do arcebispo de Évora, D. Frei Fortunato de S. Boaventura, foi nomeado vigário-geral apostólico desta diocese. Em 1 de Julho de 1847 foi, pelo patriarca D. Guilherme I, nomeado desembargador ordinário da relação e cúria patriarcal, em cuja Sé, a 2 de Novembro desse ano, foi provido num canonicato, passando em 31 de Agosto de 1852 a ter nela a dignidade de chantre, tendo por mais de uma vez o cargo do governo da diocese na ausência dos prelados. Também desde 1848 a 1853, como o seminário patriarcal não estava reorganizado, regeu gratuitamente em Lisboa uma aula de direito eclesiástico. Fundou e redigiu o Portugal Velho, onde se tornou notável um seu estudo sobre forais, publicado nesse jornal em 1839 com o título Cartas de um Provinciano a outro Deputado em Cortes, ou observações ao Projecto de Lei que pelo Relator da Comissão especial de Forais foi apresentado à Câmara dos Srs. Deputados, em sessão de 10 de Abril de 1839. Colaborou na Revista MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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de Lisboa e Amigo da Religião. Era grande anotador e colector da história e do direito canónico e deixou manuscritos importantes. O seu retrato encontra-se na História de Portugal, popular e ilustrada, de Pinheiro Chagas, vol. X, pág. 121. Escreveu: Observações acerca da suspensão que o eminentíssimo e reverendíssimo senhor Cardeal Patriarca mandou intimar ao Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo de Mitilene, oferecidas ao público pelo seu autor. Lisboa, 1856. 8.° de 36 págs. Esta publicação, de grande importância pelo assunto jurídico-canónico que versa, fez época, agitando fortemente os espíritos a ponto de motivar o aparecimento de outros opúsculos sobre o assunto e dentro de poucos meses dela se fizeram duas edições. As publicações que motivou são: Longa cadeia de delitos eclesiásticos ou a história da ordenação de Ricardo Nunes Soares. Lisboa, 1856. Resposta ao folheto publicado pelo Cónego da Sé Patriarcal de Lisboa – o Dr. Manuel José Fernandes Cicouro em relação à suspensão do Ex.mo e Rev.mo Arcebispo de Mitilene imposta pelo Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, por Carlos Eduardo do Amaral Bravo. Lisboa, 1856. Extracto do processo da ordenação do familiar de Sua Eminência, Ricardo Nunes Soares. Lisboa, 1856. A suspensão do Ex.mo Arcebispo de Mitilene, ou defesa do primado de Sua Santidade, resposta ao Dr. Cicouro pelo Dr. Levy Maria Jordão. Lisboa, 1856. Folheto de 52 págs. Petição de recurso à coroa interposto pelo Ex.mo e Rev.mo Arcebispo de Mitilene. Lisboa, 1856. Resposta à petição de recurso à coroa que contra o Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal Patriarca, levou perante a Relação de Lisboa o Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo de Mitilene. Lisboa, 1856. Refutação do relatório da comissão de inquérito nomeada por decreto patriarcal de 22 de Julho de 1856. Lisboa, 1856. O arcebispo de Mitilene, de quem aqui se trata, era D. Domingos José de Sousa Magalhães, doutor em cânones, lente da Universidade de Coimbra, que por esta questão endoideceu e faleceu em 1872 em Vila Pouca de Aguiar, sua terra natal, havendo ensandecido em 1858, quando contava quarenta e nove anos de idade. Nesta questão do arcebispo tomaram parte homens de notável competência, entre outros o visconde de Paiva Manso, o cónego João de Deus Antunes Pinto e o académico Francisco Recreio. Camilo Castelo Branco dá nas Noites de Insónia (Maio e Dezembro de 1874) largas transcrições de escritos que o arcebispo de Mitilene compôs MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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durante o período da loucura, que passava escrevendo vertiginosamente, e mostram o desarranjo daquele cérebro, um dos mais esclarecidos do seu tempo de saúde. Circular do provisor interino do patriarcado de Lisboa ao clero e aos fiéis do mesmo patriarcado e das prelazias anexas, por ocasião da prematura morte do Ex.mo e Rev.mo Sr. Cardeal Patriarca D. Guilherme I. 1858. 8.° gr. de 20 págs. Exortação pastoral aos Reverendos Párocos do Arcebispado de Évora. Lisboa, Imprensa Nacional, 1844. 1 vol. in-4.° Traduziu: Pastoral do Bispo de Troyes, sobre a impressão dos maus livros, e nomeadamente sobre a nova edição das obras completas de Voltaire e Rousseau. 1823. Pastoral do Rev.mo e Ex.mo Sr. arcebispo de Paris, Augusto Maria Domingos Sibour, para explicar e confirmar o decreto do concílio de Paris de 1851 contra os erros que subvertem os fundamentos da justiça e da caridade, traduzida em português e anotada por um presbítero do patriarcado de Lisboa. 1852. 4.° gr. de 46 págs. Elogio histórico de Madame Elisabete Filipina Maria, de França, irmã dos Reis Luís XVI, Luís XVIII e Carlos X. 1854 (145). CIRNE (Manuel António de Madureira) – Abade de Carrazedo, concelho de Bragança, onde foi provido em 1779. Nasceu em Bragança (Santa Maria) a 11 de Abril de 1755; filho de António Peres de Sousa, capitão, natural de Nozedo, concelho de Vinhais, e de D. Francisca Doroteia de Madureira, de Bragança; neto paterno de Domingos Pires, de Aguieiras, e de D. Comba Gonçalves, de Nozedo, e materno de António Mendes Madureira e de D. Joana Maria, de Bragança. No seu assento de óbito, sucedido a 23 de Dezembro de 1833, que se encontra nos livros de registo da freguesia de Carrazedo, vem com o nome de Manuel António de Sousa Madureira e Cirne, mas em 1823 foi vigário capitular (ver tomo IV, pág. 598, destas Memórias) e nos documentos assina Manuel António de Madureira Cirne. Era graduado em cânones e protonotário apostólico. Supomos que é dele, ou pelo menos inspirou, a Relação Fiel, e exacta do Princípio da Revolução de Bragança e consequentemente de Portugal. Folha

(145) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Fernandes Cicouro». Veja-se também Apontamentos para a biografia do Ex.mo e Rev.mo Sr. Dr. Manuel José Fernandes Cicouro, coligidos por A. O. C. S. (António Osório de Campos e Silva), Lisboa, 1871. SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico, tomo XVI.

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avulsa, que depois saiu in-4.°, onde se reivindica para Manuel Cirne a glória de ser ele o primeiro que em Bragança levantou o grito contra os franceses em 1808, como de facto assim foi. A este propósito é sobremodo honroso para ele o seguinte documento: «MANUEL JORGE GOMES DE SEPULVEDA, commendador da Ordem de Christo, Fidalgo da Casa Real, alcaide-mór do Castello e Villa de Trancoso, Tenente-general e effectivo dos Reaes exercitos e Governador das armas da provincia de Traz-os-Montes, etc. Attesto em como o Reverendo Manuel Antonio de Madureira Cirne, Proto-Notario Apostolico de Sua Santidade, abbade de Carrazedo, examinador Synodal no bispado de Bragança e natural d’esta cidade, é um parocho de distinta consideração, que exercita ha trinta annos o dito ministerio, no qual tem merecido aos seus prelados a particular contemplação de ser, como tem sido, repetidas vezes nomeado visitador d’aquella diocese, por cujas circunstancias, e não menos pela sua intelligencia, honra e prestimo foi eleito como Representante do Clero e Membro da Junta Provisoria do Supremo Governo da Provincia de Trás-os-Montes, instituida debaixo da minha presidencia, pelo urgente motivo da feliz e gloriosa revolução deste reino contra o governo francez, a qual principiou e fez romper no sempre memoravel dia 11 de Junho proximo passado na dita cidade, aonde eu como general o mais antigo d’este reino e governador das armas da dita provincia, fui proclamado chefe d’esta nobre empreza, de que o sobre dito foi autor e o primeiro insurgente, dando em tudo evidentes provas da maior fidelidade e patriotismo. Passa o referido na verdade; e para que conste, etc. Quartel general do Porto 30 de Setembro de 1808» (146). COELHO (Agostinho Lopes) – Doutor formado em matemática, engenheiro, director das obras públicas do distrito de Bragança, governador civil do mesmo, grande benemérito, rico proprietário e senhor das importantes águas medicinais de S. Vicente (Entre-os-Rios). Nasceu na casa de Lamego, freguesia de S. Vicente do Pinheiro, concelho de Penafiel, a 27 de Outubro de 1870 e aí faleceu a 16 de Maio de 1925, deixando viúva D. Laurinda Pinto Lopes de Amorim com três filhos menores de oito anos.

(146) FERREIRA, José António – Defesa dos Direitos Nacionais e Reais da Monarquia Portuguesa, tomo I, p. 312, Adição às provas 11. Ver também Sepúlveda Patenteado…, p. 6, e tomo I, p. 129, 139 e 143, tomo IV, p. 598, e tomo VI, p. 209, destas Memórias.

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COELHO (Artur Pinheiro) – Major de infantaria, governador civil substituto do distrito de Bragança; nasceu na cidade de Castelo Branco (mas criou-se em Bragança) a 22 de Novembro de 1882. Filho de Bartolomeu Gonçalves Coelho (ver o respectivo artigo), e de D. Maria Júlia Rodrigues Pinheiro. COELHO (Bartolomeu Gonçalves) – Major de cavalaria, reformado. Natural de Proença-a-Velha, concelho de Idanha-a-Nova. Nasceu a 14 de Abril de 1839 e faleceu em Bragança a 6 de Março de 1914. Filho de Manuel Gonçalves Coelho e de D. Filipa Augusta de Ordaz Coelho. Assentou praça em cavalaria a 12 de Novembro de 1860, sendo promovido a alferes a 15 de Novembro de 1876 e reformado em major a 31 de Dezembro de 1895, fixando residência em Bragança, onde deixou família. Não tendo requerido qualquer condecoração, embora com direito a elas, possuía apenas a de comportamento exemplar. Escreveu: Discursos Oratórios de Eloquência Sagrada – O Calvário, a Soledade e a Ressurreição. Bragança, tip. Brigantina, 1898. 4.° de 16 pags. Vimos mais em poder do autor o seguinte: Um amigo exemplar e a mulher imaculada. Drama em três actos, extraído do romance A Pecadora Imaculada. Ms. Fólio peq. de 66 págs. O Barão de Espinhosela. Comédia em um acto. Ms. Fólio peq. de 17 págs. O doutor Cataplasma, o seu específico e o aproveitamento das calvas. Monólogo. Ms. Fólio peq. de 4 págs. Os dois caturras – Casa de hóspedes na Mealhada. Entre-acto cómico. Ms. Fólio peq. de 8 págs. Amor abençoado. Drama em três actos. Fólio peq. de 34 págs. e no fim quatro quintilhas. Tudo isto reunido num volume encadernado. Também o mesmo major Coelho nos mostrou outro fólio peq. de 293 págs., que contém variados escritos em prosa e verso, tudo de sua lavra, como pode ver-se pelo enunciado do seu índice, cuja parte principal é como segue: A mãe – Aos Expedicionários de caçadores 3 de Bragança – Soneto a Proença-a-Velha – Discursos sobre a criação do homem – Mater Dolorosa – O Sacramento – O Calvário – A Soledade – Conceição de Maria – A S. José – A Caridade (sonetos) – Sermões sobre Santa Maria Madalena e Ressurreição – Modo de rezar às Ave-Marias e adorar a Hóstia e o Cálix à missa e de rezar ao deitar. Discursos sobre o dia de finados. – A bebedeira. – Um tollo onde se lê este pensamento «na comedia do mundo, o tollo não necessita pedir; se MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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sabe representar bem o seu papel, é o que sahe melhor e mais aplaudido». – A Gramática Parda pelo bacharel Canta Claro, dividida em 15 lições, as quais são regras fixas para qualquer viver sem necessidade de trabalhar – Publicada por Ramon Lopez. 1833. Tradução de Bartolomeu Gonçalves Coelho. Compreende os fols. 119 a 227. Compêndio de Moral teórico-prático para uso das escolas. Bragança, Tip. Minerva, 1912. 8.° de 19 págs. e uma de observações. COELHO (Eduardo José) – Nasceu em Redeal, concelho de Chaves, em 1836 e faleceu em Lisboa a 5 de Abril de 1913. Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde se formou em 1861. Seguindo a magistratura, foi promovido em 1883 a juiz de primeira classe e em 1886 a juiz da 1.ª vara cível da comarca de Lisboa, tendo sido anteriormente governador civil de Bragança, lugar para que foi nomeado por decreto de 9 de Junho de 1879, tomando posse a 7 do mês seguinte. Foi ministro das Obras Públicas por decreto de 23 de Fevereiro de 1890 e eleito par do reino em Março de 1898. Segunda vez ministro das Obras Públicas, donde passou em Maio de 1905 para a pasta do reino (147). Foi também deputado em várias legislaturas, representando círculos eleitorais do distrito de Bragança. Casou com D. Carolina de Almeida Pessanha, irmã de Carolino de Almeida Pessanha, deputado em várias legislaturas, e sobrinha de João Pedro de Almeida Pessanha, par do reino (148). Eduardo Coelho foi eleito deputado por Bragança nas legislaturas de 1884, 1886, 1889, 1890, 1893, 1894 e 1897. Além de outras publicações, corre dele impressa a seguinte atinente à nossa região: O Caminho-de-Ferro de Bragança – Discurso pronunciado na Câmara dos dignos pares do reino na sessão de 18 de Maio de 1899 por... ministro de Estado honorário, publicação feita pela redacção de «O Nordeste» como homenagem prestada ao ilustre e digníssimo chefe do partido progressista do distrito de Bragança. Bragança, Tip. Brigantina, 1899. 8.° de 15 págs. COELHO (João Baptista Ribeiro) – Prior de Santos-o-Velho, de Lisboa, doutor em direito pela Universidade de Coimbra, advogado e antigo deputado da nação; sócio do Instituto de Coimbra desde 1888; examinador prósinodal e desembargador da Relação e Cúria Patriarcal. Nasceu em Lamas de Orelhão, concelho de Mirandela, a 3 de Janeiro de 1858 e faleceu em Lis(147) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Coelho (Eduardo José)». (148) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vilela do Tâmega», e tomo VI, p. 384, destas Memórias.

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boa a 15 de Dezembro de 1928; filho de José Joaquim Ribeiro Coelho e de D. Benedita de Jesus, naturais de Lamas de Orelhão. Concluído o curso de preparatórios nos liceus nacionais de Bragança, Braga e Seminário Diocesano desta última, onde também seguiu o curso teológico, que terminou em 1880; ordenando-se logo de presbítero foi, em Outubro de 1885, cursar em Coimbra a faculdade de direito, que terminou em 1890. Ribeiro Coelho obteve sempre em todos os seus cursos as melhores classificações. Para custear as despesas próprias, a educação de seus irmãos e prover às necessidades de seus pais, falhos de meios, desde logo começou a dedicar-se à leccionação e, em Coimbra, à elaboração da sebenta, na aula mais importante de cada ano. Durante a frequência do curso teológico regeu uma cadeira de literatura no colégio de S. Luís Gonzaga, em Braga, e outra de latim, e desde 1881 a 1885 professou aquela disciplina no do Espírito Santo, da mesma cidade. Desde 1890 a 1895 regeu no Real Colégio Militar de Lisboa as disciplinas de filosofia, história e geografia com notável apreço de colegas, discípulos e directores. Prior de Santos-o-Velho, de Lisboa, por carta régia de 9 de Fevereiro de 1899, de que tomou posse a 26 do mesmo mês, foi logo nomeado examinador pró-sinodal e, em Julho de 1907, desembargador efectivo da Relação e Cúria Patriarcal. Foi deputado por Chaves na legislatura de 1897 a 1900 e por Bragança na de 1905 a 1906. Escreveu: Um desengano – O tio Libório. 1883. 8.° de XII-211 págs. Saíra primitivamente em jornais de que o autor era colaborador. O Beneplácito. Braga, Tip. Lusitana, 1884. 8.° de 156 págs. e mais 3 inumeradas. Saiu primeiro em artigos de polémica no Comércio do Minho a propósito da censura do ministro da Justiça ao Bispo da Guarda, por ter publicado a encíclica Humanum Genus, sem beneplácito régio. Ensaio académico sobre a teoria do Imposto – Dissertação para a cadeira de ciência e legislação financeira na faculdade de direito. Coimbra, 1889. Imprensa da Universidade. 1 vol. 8.° de XVI-99 págs. Saiu primeiro em O Instituto. Discurso pronunciado na sessão de 24 de Janeiro de 1898, na Câmara dos Senhores Deputados. Lisboa, Imprensa Nacional, 1898. 8.° de 15 págs. Discursos sobre a actual lei de instrução secundária, proferidos na Câmara dos Deputados nas sessões de 10 de Maio e 10 de Junho de 1898. Lisboa. 8.° de 25 págs. Discurso pronunciado na sessão de 10 de Junho de 1899. Braga, 1900. 8.° de 14 págs. Em 1902 pronunciou na Sé Patriarcal o discurso do 1.° de Dezembro, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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que depois foi impresso em folheto de 22 págs., e publicou também muitos de processos jurídicos importantes. Tem trabalhos jurídicos e discursos religiosos em preparação para serem publicados. A Sicília e a Calábria – Discurso proferido na Basílica da Estrela, em 12 de Fevereiro de 1909. Braga, 1909. 8.° de 14 págs. José Luciano de Castro – Discurso pronunciado nas exéquias celebradas na igreja da Encarnação, de Lisboa, em 11 de Maio de 1914. Lisboa. 8.° de 28 págs. Correm também impressos os discursos que pronunciou nas sessões da Câmara dos Deputados de 15 e 16 de Março de 1898 sobre liberdade de imprensa, que abrangem 26 págs. in-8.° Colaborou nos seguintes periódicos: Correio da Noite, Correio Nacional, Amigo da Religião, Norte Transmontano, Círculo das Caldas, Mundo Legal e Judiciário e em diversos números únicos de publicações extraordinárias. Pouco depois da sua ordenação de presbítero foi encarregado da direcção do Comércio do Minho, à frente do qual se conservou até 1885, dirigindo e redigindo também nesse tempo a Semana Religiosa e a União. COELHO (José Francisco Trindade) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu a sua formatura em 1885. Nasceu no Mogadouro a 18 de Junho de 1861, sendo filho de João Trindade, comerciante. Suicidou-se em Lisboa a 9 de Agosto de 1908, parece que por desgostos políticos. Um ano antes havia ele pedido a demissão do cargo de procurador régio, como protesto contra a ditadura de João Franco e um pouco, também, para captar as fáceis lisonjas que a imprensa exaltada teceria à sua isenção de proceder, isenção que, explorada para os efeitos de combate de alguns dias, logo foi esquecida, deixando-se entregue aos próprios recursos quem tão custosamente comprara essa fementida aura popular. A esta fase política correspondeu na ordem moral o que o levou a produzir o Manual Político do Cidadão Português. Entrou na magistratura, sendo em 1886 nomeado delegado da comarca do Sabugal, graças à interferência do grande escritor Camilo Castelo Branco que, sem o conhecer pessoalmente, pediu ao ministro o seu despacho, tanto, já então, lhe apraziam as suas qualidades literárias. Foi transferido para Portalegre por decreto de 9 de Abril desse ano e depois para Ovar por decreto de 19 de Fevereiro de 1890; nomeado para exercer as funções do Ministério Público perante o juiz auxiliar do 2.° distrito criminal da comarca de Lisboa por decreto de 20 de Setembro seguinte. Extinto este tribunal, por decreto de 15 de Setembro de 1892, ficou adido à magistratura do Ministério Público. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Por decreto do Ministério da Fazenda de 16 de Março de 1893 foi encarregado de exercer provisoriamente as funções de agente do Ministério Público nos processos de execuções fiscais administrativas do 1.° bairro de Lisboa. Nomeado delegado do procurador régio na comarca de Sintra, por decreto de 25 de Abril de 1895, foi transferido depois para a 3.ª vara da comarca de Lisboa, por decreto de 31 de Outubro do referido ano (149). O seu retrato vem na 3.ª edição de Os Meus Amores, e também em O Recreio, número correspondente a 8 de Janeiro de 1894, acompanhado de alguns dados biográficos, e no Portugal – Dicionário histórico, artigo «Trindade Coelho» acompanhado de notas biográficas. A resenha das obras deste ilustre bragançano, honra da nossa terra, é numerosa. Eis as de que temos notícia: Os Meus Amores. Contos e Baladas. 3.ª edição muito aumentada. Paris, Livraria Aillaud & C.ª, 1901. 4.° de 423 págs. compreendendo as apreciações de diversos críticos feitas à obra. É um monumento literário eminentemente nacional, o que é raro encontrar-se na nossa estrangeirada literatura. As tradições do distrito de Bragança, o modo de ser psicológico e etnográfico de seus habitantes, que são os amores do autor, constituem o assunto da obra, superior, talvez, em seu género a todas as da península. Acha-se traduzida em espanhol e francês. Mãe. Um conto, edição em benefício dos pobres. Campo de Flores, por João de Deus. Exame da chamada edição autêntica e definitiva, com Alfredo Cunha. Dezoito anos em África – Notas e documentos para a biografia do conselheiro José de Almeida. Lisboa, 1898. 8.° de XIV-539 págs. e retrato de José de Almeida. Saiu anónimo. Recursos em Processo Criminal das decisões finais e das interlocutórias. 2.ª edição, aumentada do livro «Recursos Finais em Processo Criminal». Coimbra, 1901. 1 vol. 8.° Incidentes em Processo Civil – Explicação prática dos artigos 292.° a 356.° do Código do Processo Civil, seguido de um formulário. 300 págs. Paris, Livraria Aillaud & C.ª, 1903. 1 vol. 8.° Lisboa. Anotações ao Código Penal e à Legislação Penal em vigor, compreendendo os casos julgados e os artigos doutrinários que depois da nova reforma penal de 14 de Junho de 1884 figuram em todos os jornais jurídicos do país. Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1903. 8.° de 517 págs.

(149) Diário do Governo de 30 de Agosto de 1902.

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Código do Processo Penal (proposta e relatório) com o conselheiro Francisco Maria Veiga. Apresentado à Câmara dos Deputados na sessão de 6 de Março de 1899. Regulamento do Ministério Público (por incumbência e em poder do Governo). Direito Romano – Resumo das doutrinas de Waldeck. Roteiro dos processos especiais – Exposição prática dos artigos 406.° a 776.° do Código do Processo Civil. Em apêndice: Os decretos sobre acções de pequeno valor e despejo dos prédios rústicos e urbanos. Coimbra, 1907. 1 vol. 8.° O Marquês de Pombal – Discurso proferido no comício antijesuítico no Teatro Académico de Coimbra no dia 7 de Maio de 1882. À beira da campa de António de Pina Calado, terceiranista de direito (discurso). Parábola dos sete vimes na qual figura um pai com seus sete filhos seguida de conselhos úteis. Lisboa, Livraria Moderna,1900. 4.° de 11 págs. Este opúsculo é o primeiro duma série de «Folhetos para o Povo» escritos pelo autor no intuito altamente humanitário e patriótico de ilustrar os seus conterrâneos do distrito de Bragança, fazendo-os entrar no conhecimento dos seus interesses e modo de os realizar. Rimas à Nossa Terra – Versos oferecidos aos que foram vereadores da Câmara Municipal de Mogadouro, extinta por decreto de 12 de Novembro de 1900. É o segundo da série. Remédio contra a Usura ou Conselhos aos habitantes de Mogadouro para que fundem uma Caixa Económica. Lisboa, Livraria Moderna, Editora, 1901. 19 págs. É o terceiro da série. Loas à Cidade de Bragança para que não entregue o seu mando senão aos seus filhos. Lisboa, Livraria Moderna, Editora. 7 págs. Todos estes folhetos eram distribuídos gratuitamente pelo benemérito autor. Cartilha do Povo ou Breve compêndio dos seus direitos e obrigações para uso dos habitantes do concelho de Mogadouro e de todo o distrito de Bragança. Livraria Aillaud & C.ª, Paris-Lisboa, 1901. 16.° de 31 págs. A Minha Candidatura por Mogadouro (Costumes Políticos em Portugal). Lisboa, Tip. A. de Mendonça, 1901. 8.° de 134 págs. e mais 3 inumeradas. A Cartilha Maternal e a Crítica, por João de Deus. (Prefácio). Toireiros e Toiradas, por José Pampilho. (Prefácio). Pécheur d’Island, de Pierre Loti. (Tradução). In illo tempore, Estudantes, Lentes e Futricas. Paris-Lisboa, 1902. 8.° de 422 págs. com 97 fotogravuras. É um primoroso livro material e intelectualmente bem feito, onde a vida académica de Coimbra se encontra belamente retratada na enérgica prosa dum artista de génio. Os desenhos das MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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estampas são de António Augusto Gonçalves e representam plantas e vistas de Coimbra, tipos de habitantes, usanças, costumes e trajes da Universidade e objectos que lhe dizem respeito. Referente a este livro apareceu: «Notas críticas ao “In illo tempore” de Trindade Coelho», por J. de M. F. F. N. Porto, 1910. 76 págs. O Senhor Sete – Tradições populares da terra do autor (em via de preparação). As Terras de Bragança (em preparação). Liberdade de Imprensa – Proposições apresentadas ao Congresso da União Internacional de Direito Penal. Estatutos da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras de Lisboa. Lei de 21 de Julho de 1899 – Sobre editores de jornais e respectivo relatório. Manual Público do Cidadão Português. 1906. A primeira edição esgotou-se logo e na seguinte traz o título: «Manual Político do Cidadão Português», 2.ª edição actualizada e muito aumentada, prefácio de Alberto de Oliveira, ministro de Portugal na Suíça. Porto, Tip. a vapor da Empresa Literária e Tipográfica, 1908. 8.° de XVI-720 págs. Este livro provocou «À Cabra Cega» em lugar de um livro por um homem atarefado demais para o fazer, crítica alegre ao cartapácio «Manual Político» do sr. doutor Trindade Coelho, por Venceslau Policarpo Banana, pseudónimo do doutor Artur Bivar. Guarda, Casa Editora Católica «Veritas», 1906. 8.° peq. de 122 págs. e uma inumerada. Fundou os seguintes jornais: A Porta Férrea, de Coimbra; Panorama contemporâneo, idem; Correspondência de Portalegre, de Portalegre; Gazeta de Portalegre, idem; Revista Nova, de Lisboa (com Alfredo da Cunha); A Tribuna, de Lisboa (com Pires Avelanoso e Silva Cordeiro); Revista de Direito e Jurisprudência, de Lisboa (com o doutor Francisco Maria Veiga); Boletim Parlamentar do Distrito de Bragança, de Lisboa. Era mensal e saía nos primeiros dias de cada mês. Começou em Fevereiro de 1901. Tinha por fim referir tudo quanto os deputados pelo distrito de Bragança fizessem no Parlamento a favor do nosso distrito, emolando-os assim a tratarem a valer das nossas coisas. Teve redacção literária efectiva nos seguintes: O Progressista, de Coimbra; O Imparcial de Coimbra, idem; O Portugal, de Lisboa; O Repórter, idem; Novidades, idem; Pontos nos i i, idem. E colaborou nos seguintes: Jornal da Manhã, do Porto (Cartas de Coimbra); Folha da Tarde, de Lisboa (Crónica de Coimbra); Diário Ilustrado, idem (Crónicas de Coimbra e Cartas alentejanas); Revista do Foro Português, do Porto; Instituto, de Coimbra; Revista Ilustrada, de Lisboa; Revista Ilustrada, de Paris; A Alvorada, de Vila Nova de Famalicão; A Nova MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Alvorada, idem; A Leitura, de Lisboa; Branco e Negro, idem; Correio da Noite, idem; A Tradição, de Serpa; Tirocínio, Beira e Douro, e colaboração avulsa em muitos jornais e revistas, de Lisboa e províncias; arte e crítica literária. Terra Mater (brinde do Diário de Notícias, n.° 32). Lisboa, 1906. 1 vol. 8.° A B C do Povo (com desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro). Livraria Aillaud, Lisboa, 1901. 8.° de 70-16 págs. Neste sistema de ensino do A B C, as crianças fixam as letras naturalmente com o auxílio duma mnemónica, composta de figuras de objectos e animais à primeira vista conhecidos por elas, cujos nomes correspondem ao som de cada letra. Teve 2.ª edição em 1902. Guilherme Augusto Candeias, professor da escola oficial da freguesia de S. Nicolau, no Porto, e, mais tarde, subinspector primário em Bragança, publicou em a Educação Nacional daquela cidade uma severa crítica a este sistema de ensino que dizia ser inferior ao Método Português de António Feliciano de Castilho com o qual tem certas relações, unicamente por recorrerem ambos a processos mnemónicos. Esta crítica corre numa separata in-4.° com 8 págs. Pão Nosso ou leituras elementares e enciclopédicas para uso do povo. Aillaud & C.ª, editores, Paris-Lisboa, 1904. 8.° peq. de VI-511 págs. com muitas gravuras intercaladas no texto. O Primeiro Livro de Leitura, Paris, Aillaud & C.ª, 8.° de 136 págs. É destinado às crianças da 1.ª classe das escolas primárias. O Segundo Livro de Leitura. 8.° de 200 págs. É destinado às crianças das 2.ª e 3ª classes. Mesma casa editora e ano. O Terceiro Livro de Leitura. 8.° de 300 págs. Para as crianças da 4.ª classe. Mesma casa editora, 1903. Estes livros formam uma espécie de enciclopédia tendente a ministrar às crianças, por forma simples e acessível, noções elementares dos mais variados conhecimentos científicos, ao mesmo tempo que o fim educativo moral é atingido sob a forma atraente e engenhosa de pequenos contos. São completamente originais do autor e não colecções de trechos, como geralmente costuma fazer-se em obras deste género; além disso a nitidez da impressão, o bem acabado das gravuras, representando «as nossas construções e respectivo mobiliário caseiro, as nossas alfaias agrícolas, os instrumentos das nossas artes e ofícios, os nossos animais e os nossos vegetais e até os nossos trajes e costumes populares de várias regiões e scenas da vida agrícola, rural e marítima do país e das ilhas», tornam-nos recomendáveis pela inspiração patriótica que sugerem e intensamente aptos para despertar nas crianças o gosto pelo estudo e desejo de saber. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Com tais requisitos, sendo a obra de Trindade Coelho genuinamente portuguesa de lei por tudo, parece que devia satisfazer as condições do «Anuncio do concurso de livros para o ensino primário e normal de 29 de Outubro de 1902», na parte que lhes dizia respeito; no entanto, a «Commissão technica permanente», encarregada de examinar os diversos livros apresentados a esse concurso (de que era vogal o nosso condiscípulo e amigo padre Alípio Albano Camelo, doutor em direito, professor do Liceu Central de Lisboa, cargo para que fora nomeado por decreto de 19 de Setembro de 1902), em seu parecer de 27 de Julho de 1903, rejeitou-a. Sobre os motivos em que se fundamentou, veja-se o Boletim da Direcção-Geral de Instrução Pública, Março 1904, págs. 37, 59 e 63. Primeiras Noções de Educação Cívica. Adoptado oficialmente no ensino primário. Paris-Lisboa, 1906, Livraria Aillaud & C.ª, 8.° peq. de 63 págs. Exposição dirigida ao Conselho Superior de Instrução Pública para os efeitos da 2.ª alínea do n.° 9 do artigo 6.° do Decreto de 24 de Dezembro de 1901. Lisboa, Tip. de M. A. Brandão & C.ª, Aillaud & C.ª, editores, 1903. 1 vol. 4.° Recurso interposto nos termos e para os efeitos do § 3.° do artigo 350.° do Regulamento de instrução primária de 19 de Dezembro de 1902. Lisboa, 1903. 1 vol. 4.° A 14 de Maio de 1911 a Câmara Municipal do Mogadouro, com assistência do doutor João de Freitas, governador civil do distrito de Bragança e do doutor Henrique Trindade Coelho, filho do escritor, fez colocar na casa onde nasceu Trindade Coelho, rua do Largo de S. Sebastião, que passou a denominar-se largo Trindade Coelho, uma lápide de mármore em que se lê a seguinte inscrição:

A

CASA ONDE NASCEU, 18 DE JUNHO DE 1861,

O GRANDE ESCRIPTOR E MAGISTRADO JOSÉ FRANCISCO TRINDADE COELHO FALLECIDO EM LISBOA A

9-8-1908. A Maçonaria portuguesa, principalmente o Grémio Solidariedade, de que Trindade Coelho foi o fundador, promoveu durante alguns anos uma manifestação de homenagem ao coval onde ele repousa no cemitério dos Prazeres a que presidiu, algumas vezes, Magalhães Lima, grão-mestre da Maçonaria, chegando na de 10 de Agosto de 1913 a lançar a primeira pedra no monumento sepulcral a erigir-lhe, do que de tudo deu minuciosa resenha o Diário de Notícias de 12 de Agosto de 1912. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Há quem acuse Trindade Coelho de filho menos grato, por cortar as relações com seu pai, que muito se sacrificou para lhe dar posição, após a frequência do primeiro ano de direito e por casar poucos meses depois da sua morte. Na sua Autobiografia, publicada depois do seu falecimento, no Diário de Notícias de Setembro de 1908, declara que foi reprovado no primeiro ano de direito e que seu pai nas férias «quási lhe não falou durante dois mezes, e no fim não lhe deu a mezada para voltar para Coimbra», tendo portanto de viver lá à custa do seu trabalho de leccionações, «pois não quiz aceitar mais a mesada paterna». Trindade Coelho era pai do doutor Henrique Trindade Coelho, nascido já fora do distrito de Bragança, notável escritor, autor das seguintes publicações: Carvões, Amores Novos, Ferro em Brasa e actual representante de Portugal junto do governo italiano. COMBA (SANTA) e LEONARDO (SÃO) – Eram irmãos, naturais de Lamas de Orelhão, concelho de Mirandela, filhos de um pobre lavrador e ocupavam-se em guardar o gado de seu pai. Comba era formosa e levava após de si os olhos e o coração de quantos a viam, diz o autor que vamos seguindo. Viveram na época em que os mouros dominavam a província de Trás-os-Montes, e o chefe que a senhoreava mal teve conhecimento da peregrina beleza de Comba quis havê-la para o seu harém; debalde, porém, esgotou promessas e rogos e as diligências que fez para a encontrar, pois se lhe escondia sempre. Alfim, viu-a um dia, andando à caça; correu sobre ela e, quando ia prestes a lançar-lhe a mão, um rochedo se abriu miraculosamente e a escondeu em seu seio. Furioso por ver frustrados os seus planos, descarregou uma lançada sobre o fragueiro, onde misteriosamente ficou impressa e se vê ainda hoje, segundo a crença popular aponta, e matou Leonardo. Comemorando o facto, há em Lamas de Orelhão uma capela dedicada a Santa Comba, e no monte, onde sucedeu o milagre, nasceu logo uma fonte «em testemunho e prova dele, cujas aguas são tão saudaveis que se chama commummente a Fonte Santa». A capela é muito concorrida de romeiros. António Ferreira cantou elegantemente o milagre e conclui: Senhores conto o que meus olhos viram, Vi os sinais da pedra milagrosa, Bebi a Santa Água; e outros, que o sentiram, Água Santa lhe chamam, e preciosa, Isto os vivos aos pais, e avós ouviram História divina é, não fabulosa, Os templos, e os altares dão boa prova. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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E com milagres mil o Céu o aprova. Ali vem mil cruzes, ali vem mil votos Chuva ora levam, ora o Céu sereno, Não espanta a alta serra os seus devotos, Nem cansa o velho, nem o moço pequeno. Dos vizinhos lugares, e remotos. Vêm os pastores pedir água, e feno Ali oferecer vêm brancas pombas Os moços Leonardos, moças Combas. E a fértil, e chã terra, que ocupava Aquele monstruoso, e cruel pagão, Que outros claros senhores esperava, Inda se chama Lamas de Orelhão. Ditosa terra, que Santos criava, E ditosos também seus povos são. ............................................................................. ............................................................................. Ó maravilha grande! abriu-se a pedra. Obedeceu à Santa a rocha dura, Obedeceu à Santa, e abriu-se a pedra, E defendeu-a da cruel ventura. Também a lança do mouro abriu a pedra, Ao pé fica assinada a ferradura, Ao pé da rocha, onde hoje inda parece E na pedra a lançada se conhece. O tempo e descuido dos antepassados, diz o autor que vamos seguindo, nos encobriu o ano em que sucedeu esta maravilha. Damos-lhe este lugar (pela entrada dos mouros), enquanto lhe não descobrimos outro (150). A lenda da Santa, que se esconde no penhasco, e da fonte santa vai filiar-se na supervivência do antigo culto dos montes e fontes de que falamos

(150) CUNHA, Rodrigo da – História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, 1634, parte I, cap. LXIIl. Para a bibliografia de Santa Comba e de seu irmão, ver: VASCONCELOS, Padre – Descrição de Portugal, p. 451; ANJOS, Luís dos, Frei – Jardim de Portugal, p. 131; CASTILHO – Almanaque, 1864, p. 263; Enciclopédia das Famílias, n.° 72, p. 722, onde lhe dá o nome de Santa Comba dos Vales; SALAZAR, João Tamaio – Martirol. Hisp., tomo IV, p. 183; Poemas Lusitanos do Doutor António Ferreira, 2.ª edição, 1771, tomo I, p. 221; CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal Ilustrada, vol. VII, p. 618, onde se equivocou tomando esta pela Santa Comba de Coimbra; VASCONCELOS, José Leite de – Religiões da Lusitânia, vol. I, p. 382.

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noutro lugar, bem como dos sinais da lançada equivalentes no simbolismo às pegadas, sinais de ferraduras, etc. As pegadas, ferraduras e outros sinais que se encontram nas fragas, diz José Leite de Vasconcelos no lugar atrás citado, têm certo simbolismo religioso difícil de compreender e já existiam nos tempos pré-históricos. A propósito lembra-nos que o jesuíta Manuel de Nóbrega dá notícia de pegadas que existiam em fragas no Brasil, e que, segundo a lenda indígena, eram de S. Tomé, evangelizador daquelas terras, onde as deixou impressas quando fugia aos naturais que o queriam matar. Como alguns escritores confundem Santa Comba de Lamas de Orelhão com a de Coimbra, damos aqui alguns traços da lenda desta. Próximo do convento de Celas, diz Pinho Leal, concelho de Coimbra, há uma capela construída, segundo refere a tradição, no local onde foi martirizada a virgem Comba. Consta que fugiu para aqui, porque um poderoso mouro a pretendia violar, depois de se lhe andar escondendo de serra em serra, e, como resistisse a todas as suas propostas, matou-a. Os restos mortais da Santa estiveram por muitos anos no local do martírio, mas pelos anos de 1130 foram levados para a igreja de Santa Justa (Coimbra). Em 1207 foram trasladados para a igreja do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra pelo prior D. Miguel, da qual era cónego. A 20 de Julho de cada ano se lhe celebra a festa principal, que é muito concorrida de romeiros (151). CONCEIÇÃO (Leocádia da) – Religiosa franciscana. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta em 1596 e faleceu, com fama de santidade, no convento de Monchique, freguesia de Miragaia, Porto, pelas oito horas da noite do dia 1 de Dezembro de 1686. Nuno Barreto Fuseiro escreveu a vida desta serva de Deus, obra que ofereceu a el-rei D. Pedro II, mas que ignoramos se chegou a imprimir-se. O franciscano padre Francisco de Aracoeli, na sua Norma viva de religiosas (Lisboa, 1708), descreve a vida e acções da madre Leocádia da Conceição. Também modernamente se publicou a Vida, milagres, profecias e visões da Madre Leocádia da Conceição, por uma religiosa que foi do mesmo convento (Porto, 1870), obra começada a escrever ainda em vida da biografada (152). CONCEIÇÃO (Luís Carlos da) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra; nasceu em Algoso, concelho do Vimioso (mas criou-se em

(151) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Comba de Celas (Santa)», onde, para mais esclarecimentos, remete o leitor para a Crónica dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, livro VII, cap. XVIIl, p. 2. (152) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Miragaia – Convento de Monchique».

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Bragança, onde sua família se estabeleceu), a 29 de Dezembro de 1899; filho de Henrique da Conceição e de D. Elisa de Jesus Macedo de Vasconcelos. Fez o curso liceal em Bragança e o da especialidade em Coimbra, onde concluiu o curso em 1925. Escreveu: Contribuição para o estudo da Auto-Hemoterapia – Tese de doutoramento em medicina e cirurgia, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, 1926. 8.° de XVI-37+1 de índice (inumerada) págs. CONSTANTIM – Em 1774, Manuel Leonardo Lopes, vigário-geral da diocese de Bragança, apresentou na capela da Santíssima Trindade, de Constantim, instituída por Francisco da Ponte Rual e sua mulher Maria Galega, por capelão a José Cavaleiro, vigário de Constantim, visto não haver sacerdote parente dos instituidores a quem iria a capelania, caso o houvesse, segundo as cláusulas da instituição. CONSTANTINO (José Marques de Sampaio e Melo) – ou, melhor, Constantino, o «Rei dos Floristas», como é geralmente conhecido. Célebre artista; nasceu em Moncorvo a 18 de Agosto de 1802 e faleceu em França, na sua quinta de Tercy, junto a Paris, a 14 de Janeiro de 1873. Era filho bastardo de boa família que, para encobrir o seu nascimento, o mandou criar na povoação do Larinho, concelho de Moncorvo, indo depois passar a adolescência na vila da Alfândega da Fé, em casa do tendeiro António José Cândido, voltando em seguida para Moncorvo como criado grave para casa nobre. Foi um ano noviço no convento de S. Francisco de Moncorvo. Em 1820 assentou praça em caçadores n.° 5, que então estava em Viseu, chegou a cabo de esquadra e foi com o seu batalhão para as ilhas dos Açores, onde aprendeu a fazer flores, casou e teve baixa do serviço. Em 1828, entrando as tropas liberais nos Açores, veio para Portugal e assentou praça no batalhão de voluntários realistas de Vila Flor, sendo este o motivo porque alguns o fazem natural desta vila. Esteve no cerco do Porto em 1832 com o seu batalhão, sendo já primeiro sargento, promovido a porta-bandeira por distinção no combate de 29 de Setembro desse ano. Em 1833 foi com o seu batalhão para o cerco de Lisboa e, seguindo todas as fases da luta fratricida até à convenção de Évora-Monte, marchou com o seu rei para o estrangeiro, aportando a Génova (Itália) a 5 de Junho de 1834, onde se aperfeiçoou na factura das flores e aprendeu os segredos da confecção das tintas no estabelecimento de madame Vieillard. Partiu depois para Paris, aspiração dos seus sonhos de artista, onde chegou a 13 de Dezembro de 1834, tendo visitado na jornada as fábricas de flores de Turim e Lyon. Mr. Flamet, célebre florista, em casa de quem se MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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apresentou com uma carta recomendatária de madame Vieillard, para o experimentar, mandou-lhe fazer um ramo de flores de penas, que a Guarda Nacional comprou por quinhentos francos (90$000 réis) para o oferecer à rainha D. Amélia, esposa de D. Luís Filipe, que ficou encantada. «Desde então a fama de Constantino foi universal e com razão; imitava pasmosamente as flores naturais, tanto na flexibilidade, cor, aromas e frescura, como em todos os mais acidentes da natureza». Quando, em 1844, casou a princesa D. Clementina, sua mãe, a rainha D. Maria Amélia, esposa de D. Luís Filipe, encomendou-lhe a coroa de laranjeiras. Constantino levou-lhe duas, uma artificial e outra de flores naturais, pedindo à rainha que escolhesse; e como esta estava perplexa, deixou-lhas ambas, dizendo que no dia seguinte iria buscar a rejeitada; mas quando voltou, a rainha diz-lhe estas palavras que os jornais repetiram por todo o mundo: «As suas flores teem apenas uma diferença das naturais: é que estas murcham e as suas não». «A sua gloriosa alcunha nasceu no dia em que no Palais Royal se realizou uma kermesse promovida pela rainha. Perante as flores que Constantino offerecera, a côrte teve exclamações de enthusiasmo: Vive Constantin! Vive le roi des floristes! Foi uma acclamação solemne». Associou-se em Paris com Mr. Isidore, e à sua fábrica, um dos mais famosos estabelecimentos dessa cidade, encomendavam flores as principais casas e cortes da Europa e algumas da América. As camélias de penas de aves feitas por Constantino foram consideradas verdadeiras maravilhas. Na exposição de 1844 obteve o primeiro prémio e o seu nome foi um dos primeiros proclamados por D. Luís Filipe, sendo depois condecorado com a Legião de Honra. Tão estrondosos aplausos não lhe amorteciam o amor pátrio, que o levava a colocar sempre nas exposições universais de Londres e Paris as suas manufacturas na secção portuguesa. Em 1850 veio a Portugal, onde teve recepção estrondosa promovida pelos nossos escritores e artistas, que lhe deram um jantar no hotel de Itália, levantando à sua saúde um caloroso brinde o visconde de Almeida Garrett. No Porto e outras terras, que visitou, foi muito festejado. Regressando a Paris, voltou a Portugal em 1854 à procura de ares pátrios receitados pelos médicos à sua saúde deteriorada, e no ano seguinte estava já novamente naquela cidade, mas a guerra franco-prussiana e a Comuna, causando-lhe graves prejuízos, apressaram-lhe o termo da vida (153).

(153) Almanaque luso-brasileiro para 1852; idem, para 1905, p. 229. PIMENTEL, Alberto – Diário Ilustrado, num dos números de Abril de 1896. Portugal: Dicionário histórico, artigo «Sampaio e Melo».

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Há quem diga em Alfândega da Fé que Constantino nasceu nesta vila; fundando-se em que o respectivo município subsidiou a sua criação, quando pequeno (subsídio de lactação), o que só era concedido às crianças nascidas no concelho, filhas de pais incógnitos. Parece-nos de pequeno peso este argumento, pois muitos meios havia de o sofismar e até razões para o transgredir. A CONSTANTINO REI DOS FLORISTAS Ergue a fronte altiva e nobre Ergue a fronte, oh génio-rei A ti sim, a ti me curvo A ti só me curvarei. Que m’importam reis da terra, Debatendo-se na guerra Das mais túrbidas paixões? Podem outros dar-lhes cantos, Eu, por mim, maldigo quantos Rojam vis adulações. O poeta nasceu livre Como é livre o imenso mar; Os cantos da minha lira Não os sei mercadejar. – À sob’rana inteligência, À sã virtude na essência, Só meus cultos prestarei. Constantino! A ti um brado, A ti meu canto enlevado, A ti sim, oh génio-rei. Rival de Deus sobre a terra, Quem te nega adoração, Quando a França te saúda – Novo rei da criação?! Quando a Europa d’espantada Curva a fronte laureada Ante o teu génio imortal?! Quando colhes d’entre os louros O mais rico dos tesouros: – Um triunfo a Portugal?! MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Constantino! Como é grande O teu génio criador, Quando vertes o perfume No cálix da TUA flor! Quando imitas a beleza Da risonha natureza Com teu mágico pincel!... Quem ao ver tão belas flores Não as crê próprios verdores Do mais ameno vergel? No tapete d’esmeraldas, Que alcatifa o TEU jardim, Brinca meiga a branda aragem Embalando alvo jasmim, Fascinada a mariposa Lá doudeja em torno à rosa, Nela poisa, mas em vão; Na seiva o gozo procura, Não a encontra... e na tortura Morre, ali duma ilusão! Constantino! A ti me curvo, A ti só me curvarei, És um astro luminoso, És do mundo o génio-rei! Quando a Europa os seus primores, Variados de mil cores, Na Bretanha apresentou, Quis a França disputar-nos Alta glória; – quis roubar-nos O teu nome que assombrou... Mas tu d’altivo bradaste: «Sou filho de Portugal! Embora eu viva na França, É minha terra natal». Oh! bem haja o homem nobre, Que ama ainda a pátria pobre Rica outrora tanta vez... Bem haja o filho valente Nesta acção de português! MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Constantino! Vinga a pátria Que foi grande entre as nações; Enobrece-a enobrecendo Mais e mais os teus brasões: Génio raro! Ergue-te ovante! O teu futuro é brilhante; Será teu nome imortal! Viverás na lusa história, Qual lá vive inda a memória Do nome de Portugal! Porto, 25 de Novembro de 1851 ANTÓNIO PINHEIRO CALDAS

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Portugal! Portugal que de grandezas não procria o teu âmbito apertado! Que musa excede as musas portuguesas? Qual deu pelo orbe mais faustoso brado? Aos teus heróis de máximas empresas tinha-os de palmas teu Camões coroado; às belas tuas e às do mundo, agora cinge teu Constantino os dons de Flora. Antes de Constantino só Favónio Cibele e Febo produziram flores, Constantino as produz não menos belas e de mais viço e de mais vida que elas (154). Sobre este nosso conterrâneo ilustre imprimiu-se em Paris um grosso volume intitulado Mémoires Historiques, Généalogiques et Chronologiques, concernant les ascendances de Constantino José Marques Monteiro Lopes Banha de Melo Sequeira Sampaio Coutinho Freire Manuel Borges da Costa de Araújo Pereira Bacelar Teixeira Pinto de Magalhães e Lacerda. Paris, 1854. Parece que usava de todos estes nomes, e em harmonia com eles mandou compor um brasão de armas. Na Ilustração Trasmontana, 1908, (154) De um poema laudatório A Constantino, Rei dos Floristas, por António Feliciano de Castilho, Paris, 1866, folheto.

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pág. 161, vem um longo artigo, acompanhado de fotogravuras, referente a Constantino, e outro na Ilustração Portuguesa, n.° 183, relativo a 23 de Agosto de 1909, também acompanhado de muitas fotogravuras alusivas ao Rei dos Floristas e passagens da sua vida. O jardim público do novo bairro da Estefânia, em Lisboa, tem o nome de «Jardim de Constantino», em memória deste célebre trasmontano. A propósito deste ilustre trasmontano, diz ironicamente o visconde de Santarém: «Para me consolar da ausencia delle [refere-se a um amigo], inventou o celebre Constantino um jantar para Domingo, mas o estado da minha saude por uma parte, e a inferioridade da minha posição e qualidade, á que elle se dá agora, tendo-se declarado descendente dos Imperadores Romanos, não me permittio acceitar o seu convite. Já não é Constantino de Marialva, isso era do rocócó, agora nos convites saio-se com os appellidos de Sam Payo, e Mello, e diz em alto e bom som a quem mo contou que a sua família é mais antiga do que a de todas as Casas Reinantes, pois descende dos Imperadores Romanos, cuido que de Heliogabalo, que foi o mais docil de todos. Se elle tal disse não sei como o Porteiro da Casa dos Orates o deixou andar por fóra!» (155). Em 1853, António Bernardo de Morais Leal, como procurador de Constantino José Marques de Marialva e Melo Pinto Sequeira de Lacerda, residente em Paris, requereu ao vigário-geral de Pinhel que lhe mandasse passar certidão de idade de sua mãe D. Vicência Vitorina de Melo Banha, filha de José Bernardo de Melo Banha e Sequeira e de D. Ana Luísa Joaquina de Araújo Teixeira Bacelar e Lacerda, natural de Moncorvo e baptizada na Póvoa do Concelho, termo de Pinhel, a 7 de Setembro de 1773; neta paterna do comendador Francisco Banha Sequeira Coutinho, fidalgo da casa real, e de D. Josefa Antónia de Melo Freire e Sampaio, da Póvoa do Concelho, e materna de Narciso Borges de Araújo Bacelar, cavaleiro professo na ordem de Cristo, de Refóios de Cima, e de D. Antónia Josefa Teixeira de Magalhães e Lacerda, de Moncorvo. A certidão de idade, que diz ser extraída do fólio 186 de um livro do arquivo paroquial de Moncorvo por despacho do vigário-geral da comarca, diz: «Constantino, filho de José Joaquim Marques Moutinho Lopes, natural da villa de Moncorvo [outros documentos dizem nascido em Lodões, concelho de Vila Flor], e D. Vicencia Victorina Banha de Mello Sequeira Sampaio Coutinho Freire Manoel Borges da Costa de Araujo Pereira Bacellar Teixeira Pinto de Magalhães, natural da Povoa do Concelho, comarca de Trancoso; neto pela parte paterna de José Luiz Marcos, da freguezia de For(155) Correspondência do Segundo Visconde de Santarém, 1919, VII vol., p. 469. Carta datada de Paris a 29 de Outubro de 1853 do visconde de Santarém para António de Lencastre.

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nos, monteiro-mór da villa da Torre de Moncorvo, e de D. Ignacia Maria Moutinho Lopes, da freguezia de Lodoens, concelho de Villa Flor; e pela parte materna, neto de José Bernardo de Melo Sequeira Sampaio Banha Coutinho Freire Manoel, fidalgo cavaleiro da Caza Real, natural da Povoa do Concelho, e de D. Ana Luiza Antonia Izabel Joana de Araujo Borges da Costa Pereira Bacelar Teixeira Pinto de Magalhães e Lacerda, natural de Moncorvo, nasceu na mesma villa de Moncorvo aos dezoito dias do mez de Agosto, do ano de 1802: e foi baptizado em Alfandega da Fé aos 28 dias do mesmo mes, pelo Rd.° Padre Francisco José Villares Ribeiro, e foi seu padrinho Manoel Antonio Aleixo, capitão mór de Murça». Tanto o requerimento como a certidão são cópia de documentos autênticos pertencentes à Ex.ma Sr.a Doutora D. Regina Quintanilha, a quem agradecemos a fineza destas informações, e respeitam a uma habilitação de génere, espécie de investigação de paternidade, feita pelo Rei dos Floristas pelos anos de 1853, quando os mesmos eram já falecidos. À mesma colecção de documentos pertence uma árvore genealógica que alcança até aos quartos avós, tanto maternos como paternos, de Constantino, organizada em face de certidões extraídas dos livros do registo paroquial de Moncorvo e das mais terras respectivas. É possível que todos estes documentos representem a verdade; mas, organizados meio século depois do facto do nascimento de Constantino, sobre o depoimento de testemunhas que não podiam certificar positivamente mas apenas pela tradição, na qual certamente influiria a evidente megalomania do Rei dos Floristas, o seu prestígio e o desejo de o lisonjear, carecem da solidez incontestada que deve haver nestas coisas. No Museu Regional de Bragança há, por oferta do doutor Raul Manuel Teixeira, alma artística do mesmo, um amor perfeito de Constantino, que, apesar dos anos, bem inculca o brilhante talento artístico do autor (156). CONTINS – Em 1620 representaram a el-rei os moradores de Contins, termo da vila de Mirandela, dizendo que a sua igreja matriz estava arruinada e prestes a cair e, como eram pobres e não tinham recursos, pediam para cultivar o prado da Coutada, sito no limite de Contins, indo para a Senhora do Viso, a fim de, com o seu produto, procederem às obras de reparação na dita igreja. El-rei permitiu-lhe o usufruto do prado mencionado durante seis anos (157).

(156) A Ilustração Trasmontana, Porto, 1908, p. 167, publicou o seu retrato acompanhado de interessantes notas biográficas e de uma carta autógrafa de Constantino. (157) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, tomo III, p. 457.

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CORDEIRO (António Francisco de Meneses) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em Junho de 1904. Nasceu em Vale Pereiro, concelho de Alfândega da Fé, a 20 de Fevereiro de 1876; filho de Manuel Francisco Cordeiro e de D. Maria da Conceição Reimão de Meneses. Ver tomo VI, pág. 412, destas Memórias. O doutor Cordeiro, devotado regionalista, um dos promotores desta publicação, tem-se afastado um pouco das letras e do foro, onde era figura de relevo, e vive entregue ao granjeio da sua enorme casa agrícola, introduzindo nesta especialidade os modernos processos científicos, com grande proveito educativo do povo bragançano, muito precisado de tais exemplos, e da economia nacional, não menos necessitada destas iniciativas, sendo, portanto, um autêntico benemérito. CORDEIRO (Domingos José Afonso) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Natural de Meirinhos, concelho de Mogadouro, onde nasceu a 20 de Setembro de 1856; filho de Francisco Xavier Afonso e de D. Maria Angélica Cordeiro. Fez o curso liceal em Braga. Foi subdelegado de saúde, médico do Hospital de Santa Violante em Matosinhos e presidente da câmara deste concelho, onde faleceu a 4 de Janeiro de 1926. Foi também deputado e senador e grande propagandista republicano durante a monarquia, tendo sido o chefe desse partido em Matosinhos. Escreveu: O sonambolismo provocado – Dissertação inaugural apresentada e defendida na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, Tip. Ocidental, 1882. 8.° de XXX-114 págs. Colaborou em diferentes jornais, dos quais citaremos: Comércio do Porto, O Debate, de Matosinhos, Primeiro de Janeiro, A Águia e Monitor. Afonso Cordeiro foi um acérrimo propagandista das grandes obras do porto de Leixões (transformação em porto comercial). A essas obras referiu-se, em 3 de Outubro de 1915, num «Aforismo» publicado em O Comércio do Porto, intitulado «A agonia de Leça», o sr. Agostinho de Campos (que assinava com o pseudónimo de Diógenes): «Agora está sendo assassinada pelos industriaes e negociantes portuenses, emprehendedores e activos, que juraram transformar em docas e caes, em armazens e em vias ferreas – os rios, estuarios, braços de mar, areaes e praias, estradas e ruellas, da linda povoação... Leça, a Morta – Appetece chamar-lhe assim, quando se pensa que a querem transformar n’uma especie de Antuerpia ou de Hamburgo... Á linda borboleta de poesia e sonho vae suceder em breve o empório do commercio e do transito – a pesada lagarta util e prática». Sobre as obras do porto de Leixões escreveu Afonso Cordeiro longos e numerosos artigos nas gazetas, aos quais aludiu pitorescamente numa MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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«Carta a Diógenes» (158) em resposta ao artigo de Agostinho de Campos, acima citado, o meu falecido professor e amigo sr. Joaquim Aroso (159), filho ilustre de Matosinhos. Recordo alguns passos da aludida carta, que ficou inédita: «Leça não agonisa, transforma-se. Vai desaparecendo a Leça idilica, a Leça arcadica dos inglezes e dos poetas, mas surge uma nova Leça com fabricas e pescarias e grandes docas em perspectiva, que um nosso amigo (160) quer com capacidade para transatlânticos de trinta mil toneladas e vias férreas que a liguem ràpida e directamente com Calcutá e Pekim... Estranho destino o desta terra: dever o seu impulso progressivo menos aos seus próprios filhos do que aos adoptivos. É a um dêstes últimos que eu devo a fé inquebrantável que hoje tenho na conclusão do pôrto de Leixões e na subsequente grandeza de Leça. As circunstâncias em que essa fé me foi inculcada tornaram-na indelével. Foi ha cinco anos, numa tarde de inverno. Eram quatro horas. A criada acabava de me dizer que a sopa estava na mesa, quando ouvi bater à porta. Era o moço da farmácia visinha que me vinha chamar do mando de X, grande sonhador perante o Eterno (161). Objectei timidamente que ia jantar. O rapaz retirou-se, mas voltou pouco depois com nova mensagem: – Que era coisa de cinco minutos. Resignei-me, e, sem mudar de calçado, atravessei a rua e entrei na farmácia. Começavam a cair as primeiras gotas e o cariz do ceu ameaçava um tremendo aguaceiro. X esperava-me com um maço de linguados na mão. Ao vê-los tive o pressentimento dum cataclismo inevitável. – Sente-se aí, ordenou êle imperiosamente, e ouça. Ia-me ler a história do pôrto de Leixões...... E começou a leitura, ao som duma formidável bátega de água, que a breve trecho convertia a estreita rua num ribeiro impetuoso e principiava a inundar a farmácia. Ao fim de uma hora de leitura, quando o erudito discurso atingia as alturas do jurássico,…… a nossa posição, sentados nas cadeiras, era insustentável: a farmácia já tinha um palmo de água. X poz-se em pé sôbre a cadeira e, impavidum ferient ruinae, continuou a leitura. E eu imitei-o. Ás oito horas da noite tinha chegado ao fim do plioceno – época crítica para o antropoide... Não vinha longe a história do pôrto de Leixões, quando o far(158) A carta não chegou a ser publicada. Encontrei-a entre os numerosos manuscritos deixados por Joaquim Aroso – diz-nos o nosso informador doutor Hernâni Monteiro, lente da Faculdade de Medicina do Porto, a quem agradecemos a sábia gentileza com que nos atendeu. (159) Vid. Hernâni Monteiro – Joaquim Aroso (Brotéria, Fevereiro 1927). (160) Joaquim Aroso refere-se ao doutor Cordeiro, de quem era amigo. (161) Referência ao doutor Afonso Cordeiro. A cena descrita por Joaquim Aroso, com marcados traços caricaturais é verdadeira. Várias vezes lha ouvi contar – diz-nos mais na sua informação o doutor Hernâni Monteiro.

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macêutico insinuou que eram dez horas da noite, hora de fechar a farmácia. X então dobrou os linguados restantes e pediu mais uns minutos para resumir o resto. E no menor número de palavras possivel traçou diante dos meus olhos deslumbrados o quadro grandioso da futura transformação de Leça, graças à conclusão do pôrto de Leixões. Quando terminou, era perto da meia-noite. O farmacêutico fechou as portas. Separamo-nos. E ao entrar em casa, com a barriga a dar horas, eu dizia comigo mesmo, profundamente convicto: – Leça é grande e X é o seu profeta!». Os artigos que o doutor Cordeiro escreveu sobre o porto de Leixões e publicados em Janeiro, Fevereiro e Março de 1910, no jornal de Matosinhos o Debate, foram coligidos em volume, com uma carta-prefácio do conselheiro Adolfo Loureiro, engenheiro e autor do projecto para a construção do porto comercial. O opúsculo, de 68 páginas (Porto, Tip. Peninsular de Monteiro & Gonçalves, rua dos Mercadores, 171), foi editado pela Associação Comercial e Industrial de Matosinhos, de que era presidente da direcção José da Fonseca Menéres e intitula-se O porto de Leixões e sua rede ferroviária. Nele se inclui, em folha avulsa, uma gravura representando o «Projecto de melhoramento do porto de abrigo e da construcção de um porto commercial pelo conselheiro Adolpho Loureiro». Na referida carta-prefácio lê-se: «...... Por esta forma viria o Porto a tornar-se em pouco tempo um verdadeiro emporio commercial. Urgia, portanto, não demorar a realisação d’esse grande melhoramento, que muito desenvolveria a riqueza publica e transformaria completamente essa predestinada localidade de Leça e Mattosinhos, fazendo expandir até ali a cidade do Porto, creando novas industrias, desenvolvendo extraordinariamente outras e tornando-se um centro de grandissima vida e actividade commercial e industrial». E mais adiante: «É da construcção do novo porto de Leixões, com todos os accessorios e a rêde de vias-ferreas que deve dar-lhe serviço, que muito superiormente tratou nos seus artigos o snr. Dr. Afonso Cordeiro». O retrato do doutor Cordeiro está em lugar de honra na secretaria do Hospital de Matosinhos, do qual foi grande benemérito. O Comércio de Leixões de 10 de Janeiro de 1926 é consagrado ao prestante cidadão, inserindo o seu retrato, e no número do mesmo jornal relativo ao dia 17 do referido mês vêm reproduzidos os discursos pronunciados por diferentes amigos à beira da sua sepultura. O doutor Afonso Cordeiro foi um grande trasmontano, que muito honrou a nossa terra, a quem segundo refere O Primeiro de Janeiro de 11 de Setembro de 1928, vai ser levantado, por subscrição pública, um monumento. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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CORDEIRO (Luciano) – ou Luciano Baptista Cordeiro de Sousa, ou ainda Luciano Cordeiro de Sousa. Natural de Mirandela, onde nasceu a 21 de Junho de 1844 (162) e faleceu às primeiras horas do dia 24 de Dezembro de 1900 em Lisboa, sendo sepultado no dia 26; filho de Luciano José Cordeiro de Sousa e de D. Leopoldina Cândida Álvares Ferreira Cordeiro de Sousa. «Todo o jornalismo portuguez lhe dedicou extensas noticias; em muitas das mais notaveis publicações scientificas do estrangeiro appareceram artigos a seu respeito». Era secretário perpétuo da Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual foi o fundador em 1875. Nesta, em sessão especial, fez o seu elogio histórico o notável professor Consiglieri Pedroso a 4 de Fevereiro de 1901, e noutra sessão votou-se a proposta, para que o seu busto fosse colocado no átrio do edifício da Sociedade, o que teve lugar a 24 de Dezembro de 1901. Esse busto, obra-prima de Moreira Rato, tem a seguinte legenda: «A Luciano Cordeiro, a Sociedade de Geografia de Lisboa». À beira da sua sepultura orou Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, presidente da mesma sociedade, a qual tanto concorreu para afirmar os direitos de prioridade de Portugal a alguns territórios de além-mar contestados por outras nações. Era chefe de repartição da Direcção-Geral de Instrução Pública. Concorreu poderosamente para a celebração do tricentenário de Camões, avigorando assim o sentimento patriótico nacional, e para a do centenário da descoberta da Índia. Foi deputado na legislatura de 1882 a 1884 pelo Mogadouro e era conselheiro de Estado. Cordeiro fez os seus estudos em Lisboa e no Funchal. Entrou na marinha como aspirante em 1862, mas pouco depois deixou a vida naval, indo de 1865 a 1867 frequentar o Curso Superior de Letras. Regeu a cadeira de filosofia e literatura no Colégio Militar desde 1871 a 1873 ou 1874. Concorreu em 1872 à cadeira de literatura moderna do Curso Superior de Letras, sendo aprovado em mérito absoluto. Por decreto de Dezembro de 1882, precedendo concurso de provas públicas, foi nomeado primeiro oficial do Ministério do Reino. Como deputado sustentou na câmara vigorosamente a defesa dos direitos de Portugal em África, escrevendo diversos folhetos, no intuito de mostrar às potências estrangeiras a justiça das nossas pretensões, que igualmente sustentou em 1884 na conferência de Berlim, onde foi comissionado pelo governo português. Em 10 de Novembro de 1875 foi nomeado vogal e secretário da comissão (162) O Dicionário Bibliográfico, tomo XIII, diz que nasceu a 21 de Julho e a mesma data aponta o Portugal: Dicionário histórico, artigo «Sousa (Luciano Baptista Cordeiro de)», onde se publica o seu retrato.

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encarregada de estudar e projectar a reforma do ensino artístico, conservação de monumentos históricos e formação dos museus nacionais do reino; em 1876, da comissão central de geografia, de que foi nomeado vice-secretário por uma portaria do mesmo ano; em 1878, foi eleito procurador à junta geral do distrito de Lisboa pela respectiva câmara municipal, sendo em seguida eleito membro da mesma junta; nesse mesmo ano foi nomeado delegado português ao congresso internacional de geografia comercial de Paris; em 1881, foi nomeado também delegado português ao congresso internacional de ciências geográficas de Veneza; em 1882 para a comissão encarregada de premiar e dirigir a festividade cívica do centenário do marquês de Pombal; em 1881, delegado-técnico de Portugal na conferência internacional africana de Berlim. Nomeado chefe interino da repartição da administração política por portaria de 30 de Outubro de 1883; chefe interino da repartição da administração civil em 1883; chefe interino da repartição de polícia e segurança pública em 1884; chefe interino da repartição superior em 29 de Agosto de 1883 a 1885; chefe da 1.ª secção de estatística do Ministério do Reino em Dezembro de 1883. Era oficial da ordem de S. Tiago, de instrução pública de França e comendador da Legião de Honra. Era membro benemérito da Associação Central Emancipadora do Rio de Janeiro, do Clube dos Libertos contra a escravidão, membro do Instituto de Coimbra, Sociedade de Geografia de Dresden, Sociedade Antropológica Espanhola, Sociedade de Infância, Sociedade de Geografia Comercial de Paris, Real Sociedade Belga de Geografia, Sociedade Geográfica de Madrid, Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, membro efectivo da Real Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses, membro honorário do Instituto Real e Grão-ducal de Luxemburgo, Associação dos Guarda-Livros do Rio de Janeiro, Sociedade Húngara de Geografia, Sociedade de Geografia Romaica, Liceu Português do Rio de Janeiro, Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, da Academia de Belas-Artes de Sevilha, da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, da Academia Monte Real de Toulouse, etc. Escreveu: Livro de crítica: Arte e Literatura Portuguesa de Hoje. Porto, 1868-1869. 1 vol. com o retrato do autor, 8.° de 319 págs. Segundo livro de crítica: Arte e Literatura Portuguesa de Hoje («Livros, Quadros e Palcos»). Porto, 1871. 1 vol. 8.° XIII-342 págs. Da Literatura como Revelação Social – Tese apresentada no concurso para a 8.ª cadeira (literatura moderna da Europa e especialmente portuguesa). 1 folheto, 8.° de 24 págs. O concurso no Curso Superior de Letras – Curiosidades: A questão juríMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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dica das admissões. 1 folh., 8.° de 8 págs. Lisboa? Sem frontispício, sem data, nem nome do autor. Publicado em 1872, por ocasião do concurso à cadeira do Curso Superior de Letras. Estros e palcos. Lisboa, 1874. 1 vol., 8.° pequeno de 190 págs. Viagens – Espanha e França. Lisboa, 1874. 1 vol., 8.° de 240 págs. Viagens – França, Baviera, Áustria e Itália. Lisboa, 1875. 1 vol., 8.° de 264 págs. Tesouros de Arte – Relances de um viajante. Lisboa, 1875. 1 vol., 8.° de 80 págs. Biblioteca Contemporânea: D. João Valera – Pepita Jimenez. Tradução. Lisboa, 1875. 1 vol. (ilustrado), 8.° de 315 págs. Conferências Científicas Literárias – Da Arte Nacional. Lisboa, 1876. 1 folh., 8.° de 20 págs. Ideias e concursos – Palestras críticas: O monumento da independência – O monumento do Duque da Terceira – Bustos Brasileiros. Lisboa, 1876. 1 folh., 8.° de 45 págs. Relatório dirigido ao Il.mo e Ex.mo Sr. ministro e secretário de estado dos Negócios do Reino – Pela comissão nomeada por decreto de 10 de Novembro de 1875 para propor a reforma do ensino artístico e a organização do serviço dos museus, monumentos históricos e arqueológicos. Lisboa, 1876. I parte, XLI-46 págs.; II parte, 77 págs. Comissão Central de Homenagem a Fontes Pereira de Melo – «O concurso dos projectos para o monumento, parecer da subcomissão nomeada pela comissão executiva». Relator, Luciano Cordeiro. Lisboa, 1888. 1 folh., 8.° de 34 págs. Soror Mariana – A freira portuguesa. Lisboa, 1888. 1. vol. de 335 págs. Fez-se segunda edição do mesmo em 1891, em 8.° de 349 págs. com o retrato do autor. Serões Manuelinos – A Senhora Duquesa. Lisboa, 1889. 1 vol., 8.° de XIV-345 págs. Serões Manuelinos – II – A segunda Duquesa. Lisboa, 1892. 1 vol. de 262 págs. Vésperas do Centenário – «O tesouro do Rei Fernando», «História anedótica de um tratado inédito» (1369-1398). Lisboa, 1895. 1 vol., 8.° grande de 72 págs. Vésperas do Centenário – As obras dos Jerónimos. Parecer apresentado à Comissão dos Monumentos Nacionais em sessão de 7 de Novembro de 1895, pelo seu vice-presidente Luciano Cordeiro. Lisboa, 1895. 1 folh. de 27 págs. Folhetim da voz académica – Delenda Thibur. Primeira aos homens da cigarra e do ermo. Lisboa. Sem data nem nome do autor. 8.° de 8 págs. Muito raro. Pertence à bibliografia da «Questão coimbrã». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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QUESTÕES COLONIAIS, ECONÓMICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

Sim. «Resposta aos que nos perguntam se queremos continuar a ser portugueses». Opúsculo anti-ibérico. Lisboa, 1865. 1 folh., 8.° de 78 págs. A ciência dos pequeninos – A carteira de um pai. Lisboa. 1 vol., 8.° de 10195-IV págs. (163) O Real Colégio Militar – Apontamentos para a história deste instituto. Plano de estudos. Lisboa, Imp. Nacional, 1873. Folheto. 8.° de 53 págs. A ordem do dia (Aos parlamentares futuros). Lisboa, 1868. 1 vol., 8.° grande de 108 págs. Ciência e Consciência – Discurso pronunciado na sessão solene da entrega das cartas do curso geral do Real Colégio Militar, na sala dos actos solenes do mesmo colégio, em Mafra, no dia 13 de Julho de 1871. Porto, 1871. 1 folh. de 16 págs. À hora da féria – Discurso pronunciado na sessão solene da entrega das cartas gerais aos alunos do 6.° ano do Real Colégio Militar, em 15 de Julho de 1872. Lisboa, 1872. 1 folh., 8.° de 10 págs. O casamento dos padres – «A propósito da carta do padre Jacinto Loyson». Lisboa, 1872. 1 folh. de 19 págs. Da Revolução – Conferência feita na Federação Académica. Lisboa, 1873. 1 folh., 8.º de 16 págs. Dos Bancos portugueses – «A questão do privilégio do Banco de Portugal». Lisboa, 1873. 1 vol., 8.° de 269 págs. Os Bancos e os seus Directores. Lisboa, 1877. 1 folheto de 49 págs. A crise e os Bancos – I: «A crise em Maio». Lisboa, 1877. 1 vol., 8.° de 105 págs. A questão dos talhos. Lisboa, 1877. 1 vol., 8.° peq. de 60 págs. Primeira Exposição Portuguesa no Rio de Janeiro em 1879 – Discurso inaugural por Luciano Cordeiro, director-geral da mesma exposição. Rio de Janeiro, 1879. 1 folh. de 11 págs. Ministério da Marinha e Ultramar – «Primeiro relatório apresentado à Comissão de Missões do Ultramar, sobre os documentos enviados pela Direcção-Geral do Ultramar, de 9 a 18 de Outubro de 1880». Lisboa, 1880. 1 folh. de 36 págs. – «Segundo relatório apresentado à Comissão de Missões do Ultramar, sobre os documentos enviados pela Direcção-Geral do Ultramar e pelo vice-presidente da Comissão, de 19 a 26 de Outubro de 1880». Lisboa, 1880. 1 folh. 8.° de 29 págs. (163) Este livro foi premiado com uma medalha no congresso da Sociedade Protectora da Infância de França (Marselha).

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Ministério dos Negócios do Reino – «Emigração, relatório e projecto de regulamento». Lisboa, 1888. 1 vol., 8.° grande de 107 págs. Marinha e Colónias – «Estudo sobre a sua administração e reforma». Lisboa, 1888. 1 vol., 8.° gr. de 160 págs. Instruções contra a peste no século XV – Reedição de um opúsculo raríssimo da Biblioteca de Évora. Lisboa, 1899. 1 folheto de 10 págs. O centenário de Camões. Lisboa. 1 folh. de 22 págs. Descobertas e Descobridores – De como e quando foi feito conde Vasco da Gama. «Memória apresentada à 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas». Lisboa, 1892. 1 folh., 8.° grande de 53 págs. Portugueses fora de Portugal – Berengela e Leonor, Rainhas da Dinamarca – Com uma carta histórica de C. Brunn, director da Biblioteca de Copenhaga. Lisboa, 1893. 1 folh., de 76-1 págs. Batalhas da Companhia de Jesus na sua gloriosa província do Japão, pelo padre António Francisco Cardim, da mesma Companhia de Jesus, natural de Viana do Alentejo, inédito destinado à 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa, 1894. 1 vol., 8.° de 293 págs. Portugal fora de Portugal – «Uma sobrinha do Infante, Imperatriz da Alemanha e Rainha da Hungria» – Trabalho comemorativo do 5.° centenário do Infante D. Henrique. Lisboa, 1894. 1 vol. de 221 págs. e uma estampa. Vésperas do Centenário da Índia – Inscrições portuguesas. Lisboa, 1895. 1 folh., 8.° de 50 págs. Vésperas do Centenário – A igreja de Santa Ana e a sepultura de Camões. Lisboa, 1897. 1 folh., 8.° gr. de 28 págs. Biblioteca de Clássicos Portugueses – «Em comemoração do 4.° Centenário da Descoberta da Índia – Dois capitães da Índia» – Documentos inéditos, entre os quais diversas certidões autógrafas de Diogo do Couto. Lisboa, 1898. 1 vol. 8.° de 148 págs. Centenário da Índia – Os primeiros Gamas. Lisboa, 1898. 1 vol. de 142 págs. Cartas de História Portuguesa – A condessa Mahaut. Lisboa, 1899. 1 vol., 8.° peq. de 249 págs. Anotações Históricas – Factos e Traduções. 1 fólio de 15 págs. sem data. Pepita Jimenez. (Versão). Prefácio de Júlio César Machado. Ilustrações de Júlio Pimentel e Rafael Bordalo Pinheiro. Lisboa, 1875. 1 vol., 8.° de 315 págs. Tradução da obra do mesmo título de D. Juan Valera, diplomata espanhol.

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QUESTÕES GEOGRÁFICAS EM GERAL – QUESTÕES AFRICANAS

De la part prise par les Portugais dans la découverte de l’Amérique, lettre au Congrés International des Americanistes. Lisbonne, 1875. 1 vol., 8.° gr. de 86 pág. Portugal e o movimento geográfico moderno – Relatório lido na 1.ª sessão solene anual da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, 1877. 1 folh., 8.° de 42 págs. Notícia do Cunene – Extracto de uma comunicação feita à Sociedade de Geografia de Lisboa em sessão de 30 de Julho de 1877. Lisboa, 1878. 1 folh., 8.° de 15 págs. L’Hydrographie Africaine au XVI.e siècle, d’aprés les premières explorations portugaises – Lettre a M. le président de la Société de Geographie de Lyon. Lisbonne, 1878. 1 folh., 8.° gr. de 72 págs. Questões africanas – Representação ao Governo Português pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Lisboa, 1880. 1 folheto, 8.° de 32 págs. Memórias do Ultramar – Viagens, explorações e conquistas dos portugueses, colecção de documentos, etc. 1574-1620. «Da Mura ao Cabo Negro, segundo Garcia Mendes Castelo Branco». Lisboa, 1881. 1 folh., 4.° de 33 págs. – 1593-1631 – «Terras e minas africanas, segundo Baltasar Rebelo de Aragão». Lisboa, 1881. 1 folh., 4.° peq. de 33 págs. – 1617-1622 – «Benguela e seu sertão», por um anónimo. Lisboa, 1881. 1 folh., 4.° de 22 págs. – 1607 – «Estabelecimentos e resgates portugueses na costa Ocidental de África», por um anónimo. 1 folh., 4.° de 24 págs. – 1620-1629 – «Produções, comércio e governo de Angola, segundo Manuel Vogado Sottomayor, António Dinis, Bento Banha Cardoso e António Bezerra Fajardo». Lisboa, 1881. 1 folh., 4.° de 26 págs. – 1516-1619 – «Escravos e minas de África, segundo diversos». Lisboa, 1881. 1 folh., 4.° de 28 págs. – «Stanley and the Slave Trade». Lisbon, 1883. 1 folh., 8.° de 9 págs. Ministério da Marinha e Ultramar – «Direitos do Padroado de Portugal em África – Memoranda». Lisboa, 1883. 1 folh., 8.° de 51 págs. Ministère de la Marine et des Colonies – «Droits de Patronage du Portugal en Afrique – Memoranda». Lisbonne, 1883. 1 folh., 8.° de 54 págs. Portugal and the Congo: a Statement prepared by the African Committee of the Lisbon Geographical Society, with maps and introduction. London, 1883. 1 vol. de 104 págs. A questão do Zaire – Direitos de Portugal. Memorandum. Lisboa, 1883. A mesma em francês. Lisbonne, 1883. 1 folh. de 79 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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A questão do Zaire – Portugal e a escravatura – «Carta da comissão nacional africana da Sociedade de Geografia de Lisboa a todos os institutos e sociedades em relação com esta». Lisboa, 1883. 1 folh., 8.° de 24 págs. A mesma em francês. Lisbonne, 1883. 1 folh., 8.° de 30 págs. La question du Zaire – Seum Cuique – Lettre a M. Behaghel, redacteur du journal international Le Nord, etc. Lisbonne, 1883. 1 folh., 8.° de 9 págs. Relatório da Comissão dos Negócios Externos acerca da ratificação do tratado do Zaire – Extracto do «Diário da Câmara dos Deputados». Lisboa. 1 folh., 4.° de 15 págs. A questão do Zaire – Discursos proferidos na Câmara dos Senhores Deputados nas sessões de 11, 15 e 16 de Junho de 1885, etc. Lisboa, 1885. 1 folh., 8.° de 92 págs. Silva Porto – Lisboa, 1891. 1 folh., 8.° de 34 págs. Segunda edição do mesmo, 1891. (Idem). Descobertas e descobridores – Diogo de Azambuja – Memória apresentada à 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa, 1892. 1 folh., 8.° de 85 págs. Diogo Cão – Memória apresentada à 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas, etc. Lisboa, 1892. 1 folh., de 79 págs. e 12 estampas. Vésperas do Centenário – «O ultimo padrão de Diogo Cão». Lisboa, 1896. 1 folh., de 14 págs. e 8 gravuras. Exploração do Cunene – Memória e proposta. Lisboa, 1877. 1 folh., 8.° de 30 págs. African Committee – From the Financial and Mercantil Gazette of Lisbon we extract the following – The Geographical Society of Lisbon and Mr. Stanley. Lisbon, 1878. 1 folh., 16.° de 12 págs. Projecto de uma Companhia Agrícola e Comercial Africana, por J. da Graça; relator, Luciano Cordeiro. 2.ª edição. Lisboa, 1879. 1 folh., 8.° de 35 págs. Colónias portuguesas em países estrangeiros – Ofício a S. Ex.ª o Ministro dos Negócios Estrangeiros e questionário inicial sobre o assunto. Lisboa, 1880. 1 folh., 8.° de 16 págs. O caminho-de-ferro de Lourenço Marques – Parecer da comissão africana e informações apresentadas pelo vogal Joaquim J. Machado; relator, Luciano Cordeiro. Lisboa, 1882. 1 folh., 8.° de 19 págs. Melhoramentos do porto de Lisboa – Subcomissão Central – Parecer apresentado à comissão especial da Sociedade. Lisboa, 1884. 1 folh., 8.° de 46 págs. Parecer – À direcção da Sociedade foi presente a proposta do nosso ex.mo MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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consócio – Regulamento das sessões; relator, Luciano Cordeiro. Lisboa, 1884. 1 folh., 8.° de 4 págs. Parecer sobre a proposta para a admissão de indígenas das possessões ultramarinas em vários estabelecimentos de instrução e ofícios. 1 folh., 8.° de 3 págs. Projecto do Regulamento Interno das Sessões – Lisboa. 1 folh., 8.° de 7 págs. Delegados da Sociedade – Proposta e projecto; relator, Luciano Cordeiro. Lisboa, 1889. 1 folh., 8.° de 7 págs. Congresso Nacional de Instrução Pública e Ciências – Parecer da comissão especial. Lisboa, 1888. 1 folh., 8.° de 6 págs. Representação Portuguesa no Pacífico e na África Austral – Parecer; relator, Luciano Cordeiro. Lisboa, 1889. 8.° de 9 págs. Catálogos e índices – As publicações. Lisboa, 1889. 1 vol. de 148 págs. Museu Colonial e Etnográfico da Sociedade de Geografia – «Índices iniciais para catalogação». Lisboa, 1896. 1 folh., 8.° de 47 págs. Além destas publicações, há dele uma quantidade enorme de trabalhos publicados no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Foi director, com Rodrigo Afonso Pequito, da Revista Portugal e Brasil, fundada em 1872; e só ele do Comércio Português, do Porto; Jornal da Noite e Jornal do Comércio; e colaborou nos seguintes: Revolução de Setembro; País; Actualidade; Comércio de Lisboa; Diário de Notícias; Comércio do Porto; Correio Médico; Século; Ocidente; República; Diário Ilustrado; A Tarde e Voz Académica (164). CORREIA (António de Sousa) – Uma ordem do cabido de Miranda ao seu tesoureiro para que dê 1170$600 réis a António de Sousa Correia «que tanto he o importe dos seus castiçais que fez para o altar-mór» (165). A ordem de pagamento tem a data de 24 de Fevereiro de 1759. CORREIA (Francisco António) – Nasceu em 9 de Novembro de 1877 em Foz do Sabor, freguesia de Cabeça Boa, concelho de Moncorvo. É filho de Francisco Correia e de D. Maria dos Prazeres Morais de Sampaio e Melo. Tem o diploma do curso superior do comércio. É actualmente chefe de serviço das alfândegas, professor catedrático do Instituto Superior de Comércio de Lisboa e seu director, lugar este para que foi nomeado em 10 de (164) Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 18.ª série, n° 12, correspondente a Dezembro de 1900, onde podem ver-se muitas outras notícias interessantes que lhe dizem respeito. SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico, tomo XIII, que trata muito desenvolvidamente da sua biografia. (165) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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Agosto de 1917. Foi nomeado professor do Instituto em 3 de Julho de 1913. Em 1920 foi ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo exercido uma acção deveras notável, e em 1921 foi ministro das Finanças. Em 1922 fez parte da missão que acompanhou o presidente da República na sua viagem ao Brasil. Em 1923 foi incumbido das negociações para a realização de um modus vivendi com a França. Em 1927 esteve em Genebra como delegado de Portugal à Conferência Económica Internacional, promovida pela Sociedade das Nações. Faz parte: do Conselho Superior de Ensino Industrial e Comercial, tendo sido eleito vice-presidente da secção comercial do mesmo conselho; da Comissão Executiva da Conferência da Paz; da Comissão de Estudos Luso-Hispânico-Americanos; da Conferência Luso-Espanhola; do Conselho da Ordem Civil do Mérito Industrial e Agrícola, e de muitas outras comissões de serviço público. Foi eleito em 1927 presidente da Associação Comercial de Lisboa, lugar de que não quis tomar posse. É sócio da Academia das Ciências de Lisboa e do Instituto de Coimbra. Foi agraciado com a grã-cruz da ordem militar de Cristo e com o grande-oficialato da ordem civil do Mérito Industrial e Agrícola. Tem escrito: Elementos de Direito Fiscal. Lisboa, 1913. 240 págs. Função económica de ensino comercial superior – Conferência realizada na Sociedade de Geografia em 2 de Fevereiro de 1918. Lisboa, 1918. 45 págs. Para que servem as Alfândegas. n° 27 da colecção «Os livros do Povo» da Livraria Profissional. Lisboa. 59 págs. O problema comercial – Conferência realizada na Academia das Ciências, em 13 de Março de 1920. 48 págs. L’enseignement commercial supérieur (nécessité de l’intensifiér). Rapport présenté à la Conférence Parlementaire Internationale du Commerce à Lisbonne (Mai 1921). Lisbonne, 1921. 6 págs. Política económica internacional. Lisboa, 1922. 240 págs. Aproximação económica entre Portugal e o Brasil – Conferência realizada na Associação Comercial do Rio de Janeiro em 22 de Setembro de 1922. Lisboa, 1923. 39 págs. Relações comerciais entre Portugal e a França. Relatório apresentado ao ministério dos Negócios Estrangeiros. Lisboa, 1923. 65 págs. Pautas aduaneiras. Relações entre a metrópole e as colónias entre si. Tese aprovada no 2.° Congresso Colonial Nacional, realizado em Maio de 1924 na Sociedade de Geografia de Lisboa. Lisboa, 1924. Relatório e projecto de Estatuto de Protecção às Indústrias, organizado com a colaboração do doutor António Maria Marques da Costa. Lisboa, 1924. 24 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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O ensino técnico e a sua influência no nosso ressurgimento económico – Discurso proferido na sessão solene inaugural do ano lectivo de 1924-1925 das escolas técnicas de Lisboa, realizada no Instituto Superior de Comércio em 26 de Outubro de 1924. Lisboa, 1924. 30 págs. Política internacional e os nacionalismos económicos – Conferência realizada na Universidade de Coimbra em 28 de Junho de 1925, por ocasião do Congresso Misto das Associações Espanhola e Portuguesa para o Progresso das Ciências. Madrid, 1925. 12 págs. Sisas e alcavalas. Influência destes impostos no atraso comercial da península – Comunicação apresentada ao Congresso Misto das Associações Espanhola e Portuguesa para o Progresso das Ciências em 1925 (publicada na «Revista do Instituto Superior de Comércio», n° XIII). A evolução económica e a crise social – Conferência realizada na Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra no dia 10 de Março de 1927. 37 págs. Esboço de um programa de diplomacia económica – Memória apresentada à Conferência Económica Internacional realizada em Genebra em Maio de 1927, publicada na «Revista do Instituto Superior de Comércio de Lisboa», n° XVII, e no Rapport et Actes de la Conférence Économique Internationale tenue à Genève du 4 au 23 mai 1927. Genève, 1927, volume I, págs. 253-254, e volume II, pág. 95. L’enseignement commercial au Portugal na Revue International pour l’enseignement commercial (número de Abril de 1928). Zurich. L’Afrique portugaise (Angola) no Bulletin de la Société belge d’études et d’exposicion, n° 47 de Outubro de 1924. Prefácio do livro Interesses económicos luso-brasileiro, do tenente Ribeiro Salgado (Lisboa, 1927). O professor Correia colaborou nos Serões (n° 45 de Março – A morte de barqueiro); na Revista de Comércio (Política económica, no n° 2; O lucro na indústria, no n° 5; Armazéns gerais e portos francos, no n° 9; Imposto de fabricação e consumo, no n° 29); no Jornal do Comércio e das Colónias; no Século; no Despacho; no Fomento; no Boletim da Associação dos Comercialistas; Psicologia do Comerciante (nos n.os 1 e 2); Internacionalização da indústria e o «dumping» (no n° 3,1915-1916). Na Revista das Alfândegas Portuguesas, de que Francisco Correia foi redactor principal e se publicou desde 5 de Agosto de 1909 a 20 de Maio de 1914, publicou os seguintes artigos: No 1.° ano: Elementos de direito aduaneiro (nos n.os 1, 2, 3, 5, 9 a 20 e 22). Fisco, sua etimologia (no n° 9). A reforma tributária na Inglaterra (no n° 9). As finanças das grandes potências (no n° 11). O proteccionismo na França e na Bélgica (no n° 21). No 2.° ano: O real de água e a contribuição de rendas de casas (no n° 28). MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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A reforma das alfândegas (no n° 36). A balança do comércio e a estatística aduaneira (no n° 39). Reforma das alfândegas (no n° 45). No 3.° ano: O descaminho de direitos e as empresas de transportes (no n° 50). O proteccionismo em França (no n° 52). Zona livre (nos n.os 54, 55 e 56). Elementos de direito Aduaneiro (nos n.os 58 e 59). Elementos de direito fiscal (no n° 63). O nosso regime pautal (no n° 64). Tratados de comércio e a cláusula de nação mais favorecida (no n° 66). Regimes aduaneiros das colónias (idem). Resinas e seus derivados (nos n.os 66, 67 e 68). Prémios de exportação e seus efeitos económicos (no n° 67). Modificação das taxas pautais (no n° 68). Importação temporária (no n° 69). Óleos minerais (no n° 70). Classificação dos impostos (nos n.os 71 e 72). Ligas metálicas (no n° 71). Direitos aduaneiros (no n° 72). No 4.° ano: O tratado com o Brasil (no n° 73). O imposto de consumo em Lisboa (no n° 75). O imposto de fabricação e consumo (idem). A transgressão dos regulamentos fiscais (no n° 82). A indústria madeirense dos bordados (no n° 87). Funcionários aduaneiros (nos n.os 89 e 90). No 5.° ano: Curso aduaneiro (no n° 110). Publicou os seguintes programas dos seus cursos no Instituto Superior de Comércio. Projecto de programa da 19.ª cadeira – «Contabilidade Industrial, Contabilidade de Estado». Lisboa, 1914. Programa da 5.ª cadeira «Matérias-primas». Lisboa, 1916. 12.ª cadeira «Regimes Aduaneiros – Programa». Lisboa, 1924. 13.ª cadeira «Política Económica Internacional – Regimes Aduaneiros – Programa. Ano lectivo de 1927-1928». Lisboa, 1927. O professor Correia é um dos mais distintos economistas portugueses da actualidade. Os seus trabalhos são notáveis pela erudição e brilho com que estão escritos. O ramo de estudos económicos a que se dedicou era pouco conhecido e tratado em Portugal. Foi ele, pode dizer-se, o iniciador dos estudos científicos das relações económicas internacionais. Os seus trabalhos científicos abriram novas possibilidades de estudo e de investigação científica. A ciência económica e a política comercial – Comunicação à Academia das Ciências de Lisboa, feita em 22 de Março de 1928 (publicada na «Revista do Instituto Superior de Comércio», n° XVIII). Além destas publicações, há a acrescentar os relatórios anuais do Instituto Superior de Comércio de Lisboa desde 1917 a 1927 e artigos em vários jornais do país e do estrangeiro (166).

(166) Ver Revista do Instituto Superior de Comércio de Lisboa, 1928, p. 109.

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CORREIA (Maximino José de Morais) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra e lente da mesma. Nasceu em Vila Flor a 14 de Maio de 1893; filho de António Augusto Correia e de D. Ernestina de Morais Correia. Fez os estudos liceais em Coimbra. Doutorou-se em 1919, sendo que já desde 1913, logo que fez exame de anatomia, foi chamado pelo professor doutor Basílio Freire para segundo assistente provisório dessa cadeira, passando em 1919 a segundo assistente definitivo e a primeiro em 1922. Eis o que a seu respeito diz o Diário do Governo: «Foi dispensado das provas públicas o doutor Maximino José de Morais Correia, único candidato ao concurso de primeiro assistente de anatomia e histologia, da Faculdade de Coimbra, segundo a lei de então, constante no artigo 38.° do decreto de 12 de Julho de 1918. Esta nomeação foi de harmonia com a proposta da Faculdade de Medicina em atenção a ser o único concorrente; ser o estudante mais distinto e classificado dos seus contemporâneos na faculdade com prémios de 18, 19 e 20 valores; ser um dos mais laureados estudantes do liceu com 18 e 19 valores, prémio Lima Duque no 6.° ano; ter “executado muitos originais de investigação scientifica, sendo, entre todos, notável o que aproveitou para a sua tese de doutoramento. Neste trabalho, que conta trinta e três preparações anatómicas sôbre as origens e terminação do canal torácico no homem, que conseguiu injectar ao mesmo tempo que os vasos aferentes e eferentes, realisou êle, à custa de paciência, sagacidade e habilidade maximas, o que nunca se conseguira em várias tentativas de sucessivos anos, demonstrando pontos de vista novos, que modificam notávelmente as ideias clássicas sôbre o assunto”. Este trabalho mereceu ser publicado em uma grande revista estrangeira da especialidade; ter executado muitos trabalhos de dissecação bastante originaes; ter o tirocínio de oito anos de assistência na cadeira de anatomia em que se tornou notável; ser um prelector primoroso, muito lúcido e sugestivo, em várias conferências que tem realizado» (167). Escreveu: Abcesso biloculado do hemisfério cerebral esquerdo. Saiu nos «Arquivos do Instituto de Anatomia Patológica da Universidade de Coimbra», vol. II, 1914. O canal torácico do homem. «É um trabalho original que revela as melhores qualidades de consciencioso investigador científico». Foi apresentado como tese de doutoramento, 230 págs. Sob o título Le canal thoracique chez l’homme foi publicado um resumo da tese anterior nas Folia Anatomica Universitatis Conimbrigensis, vol. I, n° 1. (167) Diário do Governo de 10 de Março de 1922, 2.ª série, n° 56.

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Sobre a medicina dos Lusíadas. É um opúsculo de perto de 50 páginas que reproduz a conferência pelo autor realizada na Associação dos Médicos do Centro de Portugal em 25 de Junho de 1920. Coimbra (sem data de impressão). 8.° de 46 págs. Doutor Joaquim Martins Teixeira de Carvalho (In memoriam). Saiu no Arquivo de Anatomia e Antropologia, do Instituto de Anatomia de Lisboa, vol. VII, págs. 122-130. Esboço da história da anatomia em Coimbra. Separata do Jornal das Ciências Médicas, de Lisboa, tomo LXXXVIII, 1924. Sobre localizações cerebrais. Saiu no Instituto de Coimbra. Uma invaginação intestinal. Saiu nos «Arquivos do Instituto de Anatomia Patologia e do de Patologia Geral», de Coimbra, vol. XIII, 1925. Sobre os nervos da órbita e o gânglio ciliar. Sobre o sinal de Virchow-Troisier. Dois pequenos trabalhos que saíram no «Arquivo de Anatomia e Antropologia», de Lisboa, vol. IX, 1925. Un cas de agénésie partielle du grand pectoral et totale du petit pectoral. Sur un cas de hypertrophie des mamelles chez l’homme. Duas notas publicadas nas Folia Anatomica Universitatis Conimbrigensis, vol. I. Estudos da inversão visceral total. Topografia dos núcleos opto-estriados e dos ventrículos cerebrais (168). COSTA (André Dias de Oliveira da) – Cavaleiro professo na ordem de Cristo, capitão de infantaria de um regimento de Bragança, natural desta cidade; filho de André Dias de Oliveira, natural de Meilhe, termo de Bragança, tenente-coronel do regimento de infantaria de Chaves, e de D. Maria da Costa, de Bragança; neto paterno de Francisco Dias de Oliveira, natural de Meilhe, e de D. Maria Pires, de Soutelo da Pena Mourisca, concelho de Bragança, e materno de Domingos da Costa e de D. Teresa de Morais, ambos de Bragança, teve carta de brasão de armas de nobreza e fidalguia a 30 de Dezembro de 1771. Escudo partido em pala: na 1.ª, as armas dos Oliveiras; na 2.ª, as dos Costas. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre o dos Oliveiras, que é a oliveira das armas, e por diferença uma brica com um A de prata (169).

(168) Diário do Governo de 25 de Agosto de 1927, 2.ª série, n° 189. (169) Esta carta de nobreza em quatro fólios de pergaminho, tendo o primeiro tarja e letra capital iluminado, e o 3.° o escudo igualmente iluminado, encontra-se em Coimbra em poder do ex.mo sr. conde da Costa Lobo (doutor Francisco Miranda da Costa Lobo), lente da Faculdade de Matemática, ainda aparentado com a família do agraciado, de quem falamos no respectivo artigo.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


COSTA

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COSTA (António Maria da) – Natural de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros, filho de Francisco da Costa. Deve ter nascido pelos anos de 1840 a 1844, mas não encontrámos o seu assento nos livros de registo. Foi desde os doze anos de idade para o Brasil, onde, pelo seu inteligente trabalho, granjeou avultada fortuna, que louvavelmente despendeu em melhoramentos dignos de memória, dando-lha por isso imperecedoura a ele. Em 1899 dotou a sua terra natal, Chacim, com uma escola primária para os dois sexos, no que despendeu 4147$000 réis. É um belo edifício bem situado, construído pelo sistema Bermudes. Na fachada, a letras douradas, em placa de mármore, lê-se a inscrição: «Escolas António Maria da Costa». O retrato deste benemérito encontra-se na sala da aula. Dotou esta com rica mobília, como talvez não haja igual nas aulas do distrito, e com a avenida junta, que muito concorre para aformosear a povoação, podendo ao mesmo tempo ressaltar a elegância do edifício. Despendeu em obras na igreja matriz 1700$000 réis e 500$000 réis em calcetamentos de ruas na povoação. Estabeleceu mesadas fixas a diversos pobres da terra, e todos os anos dava 30$000 réis para a compra de livros, papel e outros aprestes dos meninos e meninas pobres que frequentavam a escola. COSTA (Augusto Correia Godinho Ferreira da) – Governador civil do distrito de Bragança por decreto de 17 de Junho de 1869. O Nordeste de 20 de Março de 1908 traz uma lista dos nossos governadores civis e, relativamente a este, diz que tomou posse a 30 de Março de 1869, engano evidente, como pode ver-se no Diário do Governo de 28 de Junho de 1869 e no «Livro dos Autos de Posse» existente no governo civil de Bragança. COSTA (Bibiano e Carlos) – Solteiros, naturais de Santander, reino de Espanha, fundidores de sinos, por incumbência do cabido da Sé de Bragança obrigaram-se a 26 de Janeiro de 1894 a fundir o sino do relógio da mesma Sé, que estava quebrado, «dando-lhe a mesma forma e espessura na camisa e pezo do velho» (170), pela quantia de 215$000 réis. O sino estava concluído em Maio do mesmo ano. COSTA (Domingos Teixeira de Lemos) – e seus irmãos António de Lemos, Francisco de Lemos e José de Lemos, filhos do capitão-mor António Bernardo de Lemos Costa e de D. Ana Luísa de Morais, neto paterno de Francisco de Lemos Costa, dos Cortiços, e de D. Bernarda Teixeira, de

(170) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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Vinhas, e materno de André Soares de Madureira Feijó, de Rebordãos, e de D. Mariana Josefa de Morais, de Bragança, requereram em 1802 para ordens menores. COSTA (Francisco de Lemos da) – Tenente de infantaria n° 24, que estava na praça de Almeida quando se deu o desastre em 1810. Ver tomo I, pág. 165, destas Memórias. COSTA (Francisco Xavier da) – Doutor formado em cânones, natural de Bragança. Foi apresentado pelo bispo do Porto D. Frei Aleixo de Miranda Henriques a 30 de Setembro de 1770 e colado a 30 do mês seguinte na abadia de Miragaia, no Porto (171). COSTA (Gaspar Gonçalves da) – Natural de Grijó de Vale Benfeito. Há dele na igreja desta povoação uma tese de direito canónico impressa em seda amarela de véu de cálix, numa plana, com larga tarja de flores e vasos com as mesmas, dedicada a Santa Maria Madalena, padroeira da terra natal do autor, defendida em Salamanca em 26 de Fevereiro de 1739. Salmanticae; ex Officina Typographica Antonii Josephi Villar Gordo. COSTA (Joana da) – Torna-se digna de menção nestas páginas esta benemérita bragançana, que faleceu em Gradíssimo, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 9 de Janeiro de 1904 e deixou em seu testamento a verba de 10000$000 réis para a fundação de um hospital naquela vila (172). COSTA (Padre José Gomes da) – Natural de Moncorvo, falecido em 1725. Foi o fundador em Portugal da Congregação das Missões de São Vicente de Paulo em 1713 por breve do papa Clemente XI dirigido a el-rei D. João V (173). COSTA (Manuel de Novais da) – Escreveu: Tese impressa em três planas, em véu de cálix, de seda branca, defendida no quinto ano do seu curso de direito civil e dedicada a Santo António do Toural (Bragança). Conimbricae ex nova Typographie Academico Regie. Anno Doñi 1761. Cum facult. Sup. Este véu de cálix, que vimos em 1927 muito bem conservado, está na casa da Rica Fé, subúrbios de Bragança, e pertence à capela da referida casa. (171) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Miragaia». (172) Gazeta de Bragança de 17 de Janeiro de 1904. (173) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Tojal, freguesia da Estremadura».

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Havia na mesma capela mais telas impressas pelo teor desta, mas desapareceram. COSTA (Manuel Pereira da) – Natural de Moncorvo. Nasceu a 3 de Abril de 1697 e faleceu depois do ano de 1768. Estudou humanidades e latim no colégio de Santo Antão, da Companhia de Jesus, e foi professor de gramática e língua latina em Lisboa. Era filho de Manuel Pereira da Costa e de D. Ana de Gouveia. Escreveu: História romana por perguntas e respostas, desde a fundação de Roma até o presente, traduzida do francês. Parte I. Lisboa, 1743. 8.° Teve 2.ª edição em 1746. Calíope sacra, em doze sonetos, à real fundação do convento de Mafra. Lisboa, 1753. 4.° de 12 págs. Aplauso harmonioso com que se celebram algumas acções dos progenitores da Ex.ma Casa de Abranches. Lisboa, por Francisco Luís Ameno, 1750. 4.° São 16 sonetos. Aquiles em Siro – Ópera de Pedro Metastásio, traduzida em verso português. Lisboa (pelo mesmo), 1755. 8.° de VI-73 págs. Anónima. Ver o artigo respeitante a «Francisco Luís Ameno». Elevações a Deus, traduzidas do francês de Bossuet. Genethliacon, sive Carmen natalitium, quo Beriae Principis natalis dies a Lusitania celebratur. Olisipone, Tip. Patr. Francisci Ludovici Ameno, 1761. Folh. de 7 págs. Resposta à Carta que o dr. Francisco da Silva Mascarenhas escreveu ao autor desta, pedindo-lhe dissesse o conceito que fazia dos Exercícios da língua latina portuguesa, que deu à luz o P. António Pereira. Lisboa, 1768. 4.° de 7 págs. Há dele um Romance em louvor do autor da Biblioteca Lusitana, no tomo I desta obra; uma carta ao conde do Vimioso e dois sonetos, que andam na Vida do Infante D. Luís, pelo dito conde; alguns versos à morte da infanta D. Francisca na colecção Sentimentos métricos; e uma censura a um soneto nas Observações sobre a ortografia latina do P. António Pereira de Figueiredo (174). COSTA (Miguel Bernardo Rodrigues da) – Secretário da Câmara Municipal de Bragança, recebedor em Rio Tinto, distrito do Porto; natural de Sarzeda, concelho de Bragança, nasceu a 14 de Abril de 1878; filho de

(174) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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COSTA

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COTRIM

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COUTO

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COUTINHO

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Manuel Ramos Rodrigues da Costa (irmão do falecido abade de Rebordãos, Francisco Joaquim Rodrigues da Costa) e de D. Francisca da Cruz Sena, também pais do actual abade de Rebordãos, João Inácio Rodrigues da Costa. Escreveu: A Verdade – Resposta ao Sr. José Valentim Carneiro. Tip. de Ferreira Soeiro, Bragança, 1908. 8.° de VI-90 págs. Opúsculo violento relativo a questões da administração municipal de Bragança. História de uma perseguição – Confissão geral de um criminoso político. Bragança, 1912, Tip. de Adriano Rodrigues. 8.° de 159 págs. COSTA (Tomás Gomes da) – Natural de Lisboa; foi abade de Guide e, depois, de Sobreiró, no bispado de Miranda. Era muito versado em teologia moral e cerimónias. Escreveu: Cerimonial da Semana Santa. Lisboa, 1740. 1 vol. de 264 págs., e deixou manuscrito: Obrigações do Pároco. COTRIM (João) – «Beedor» (inspector, mestre-de-obras?) da obra do castelo de Bragança em 1434. Ver tomo III, pág. 154, destas Memórias. COUTO (António Rodrigues) – Vedor das obras das fortificações de Vinhais nas guerras da Aclamação (1640-1668). Ver tomo I, pág. 104, destas Memórias. COUTINHO (António Xavier Pereira) – Agrónomo, que esteve encarregado da Quinta Distrital de Bragança pelos anos de 1875. Escreveu: A Quinta Distrital de Bragança no ano agrícola de 1875 a 1876 – Relatório apresentado ao Il.mo e Ex.mo Sr. Adriano José de Carvalho e Melo, digníssimo governador civil, pelo agrónomo do distrito...... Porto, Tip. do Jornal do Porto, 1877. 1 vol., 4.° de LVI págs. COUTINHO (Augusto Maria da Fonseca) – Governador civil do distrito de Bragança por decreto de 5 de Novembro de 1885, lugar de que tomou posse dia 21, vindo transferido de idêntico cargo no de Angra do Heroísmo. COUTINHO (Diogo de Brito) – Mestre-de-campo-general, governador das armas da província de Trás-os-Montes. Ver tomo I, pág. 198, destas Memórias. COUTINHO (D. Francisco Inocêncio de Sousa) – Foi governador militar e capitão-general da província de Trás-os-Montes, donde passou para o MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


COUTINHO

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CRECENTE

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CRUZ

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governo de Angola. Foi enviado em missão extraordinária junto à corte de Madrid. Faleceu em 1778. COUTINHO (Francisco de Moura) – O seu nome todo é: Francisco de Moura Coutinho e Paiva Cardoso de Almeida de Eça, director da agência do Banco de Portugal em Bragança; nasceu em Estarreja, distrito de Aveiro, a 4 de Outubro de 1869. Filho do doutor José Maria Cardoso de Lima (nascido em Coimbra a 9 de Junho de 1838 e falecido, em 1881, nas Caldas da Rainha, onde era juiz de direito) e de D. Maria Francisca de Moura Coutinho e Paiva Cardoso, nascida no Porto a 8 de Julho de 1842; neto paterno de António José Cardoso, de Guimarães, cavaleiro da ordem de Cristo, abastado proprietário em Coimbra, onde exerceu importantes cargos públicos, e de D. Antónia Albina de Paiva e Lima Cardoso, e materno de Francisco de Moura Coutinho de Almeida de Eça, antigo oficial de D. Miguel, fidalgo da casa real, senhor da casa de Tarria, em Vila Nova de Famalicão, e de sua primeira mulher D. Inês Francisca de Solho Paiva de Sousa e Brito. Pela linha paterna, descende Francisco de Moura Coutinho dos Peixotos da casa da Pougada, em Guimarães, e pela materna pertence a casa dos Mouras Coutinhos, de Esgueira (Aveiro), que descendem dos Mouras Coutinhos, de Basto; Limas, da Trofa; Almeidas, Silveiras de Eça, de Esgueira, etc., etc. Não tem publicado em livros os seus trabalhos sobre história, genealogia e arte, mas tem dado à luz em jornais e revistas muitos artigos sobre estas especialidades. Conserva manuscritos e inéditos largos estudos sobre genealogia e muitos trabalhos de investigação histórica. Gostosamente fixamos nestas páginas o nome de Francisco de Moura Coutinho, pelas muitas informações que lhe devemos para estas Memórias. Em 18 de Julho de 1917 foi transferido da agência do Banco de Portugal de Bragança para Santarém, e agora (1927) está na de Viseu. CRECENTE (Mosee) – Espingardeiro e fabricante de pólvora real em Bragança pelos anos de 1486. Ver tomo I, pág. 264, destas Memórias. CRUZ (João Baptista da) – Professor da Escola Primária Superior de Mirandela. Nasceu em Bragança (Santa Maria) a 3 de Abril de 1863; filho de António dos Santos e de D. Matilde Joaquina Rodrigues. Foi um dos fundadores de A Luz, semanário de Bragança, redactor principal de O Bragançano, de O Leste Transmontano e do Terras de Bragança, periódicos publicados nesta cidade. Tem colaborado no Diário de Lisboa e na Pátria Nova. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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CRUZ

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CRUZ (Frei Luís da) – Franciscano, natural de Bragança, onde nasceu em 1566, falecendo em Saragoça, no convento da sua ordem, em 1633, com cinquenta anos de hábito monástico, aos 9 de Maio, e não em 1623, como alguns escritores dizem. Havia professado na ordem dos menores franciscanos na observante província de S. Gabriel, em Castela, na qual ensinou teologia e filosofia. Era de notável austeridade e penitência, muito aplicado aos exercícios espirituais e de humildade e gozou na sua ordem e fora dela de notável fama de letrado e santidade. Foi a Roma como secretário de Frei João Baptista Mole, que ali ia por comissário-geral de toda a ordem no ano de 1600, onde ficou a pedido de alguns cardeais e padres da ordem, que, conhecedores das suas brilhantes qualidades, o nomearam prelado do insigne convento (imediato ao ministro geral) de Santa Clara de Nápoles, e duas vezes Provincial Terrae-Laboris na Campânia, em cujos governos deu mostras de suma prudência e exemplar conduta, e por isso o papa Gregório XV o nomeou vigário-geral dos Reformados, servindo ao mesmo tempo em Nápoles de conselheiro dos vice-reis, por ordem de Espanha, e em Roma por muitos anos presidente de São João de Latrão. Veio em 1633 ao capítulo geral da sua ordem celebrado em Toledo e, adoecendo em Saragoça, aí faleceu. «Era um homem de bellissima estatura, grande de corpo, alegre de rosto, olhos de aguia, em seus procedimentos, e vida integerrimo, estudioso sobremaneira, honra da sua geração, e credito da sua patria, dignissimo que a sua memoria se conserve sempre fresca entre os varões illustres de Portugal, pois se conserva tão viva em toda a Italia» (175). Fazem honrosa menção deste ilustre bragançano Frei João da Trindade na Crónica da Província de São Gabriel; Frei Manuel da Esperança na História Seráfica, tomo I, liv. 1, cap. V; Wadding nos Escritores da Ordem; Frei Gaspar de la Fuente na História do capítulo geral do ano de 1633; Frei Francisco de Santa Maria no Ano Histórico; João Baptista de Castro no Mapa de Portugal, tomo II, pág. 155, e o Portugal – Dicionário histórico. Escreveu doutamente na língua latina: Disput: moralis in Bullas Cruciat. Defunct. et Composit. 1634, in-4.° – In Bullam Caena D. – Tracta. de piis legatis relictis pratrib. – minorib. Dubia Moralia. Manuscrito. – Tract. de Jubileu. idem (176). CRUZ (Inácio Vaz da) – De Bragança, caixeiro-viajante. Escreveu: Andorinhas (versos), 1923. (175) Frei Simão de Lisboa, capucho e pregador da província de Génova. (176) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 9 de Maio. Sumário da Biblioteca Lusitana. CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular.

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CRUZ

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CUNHA

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CRUZ (João Lopes da) – Escreveu: Construção do caminho-de-ferro de Mirandela a Bragança – Como a vaidade, egoísmo e ambição dos Directores da Companhia Nacional dos Caminhos-de-Ferro acarreta a ruína ao empreiteiro-geral deixando-o reduzido à miséria – Justificação dos meus actos e apelo aos dignos accionistas da Companhia. Lisboa, 1906. 8.° de 41 págs. CUNHA (António Malheiro da) – Governador do forte de Bragança, falecido em 1731. Ver tomo I, pág. 327, destas Memórias. CUNHA (José Maria da) – Doutor em teologia pela Universidade de Coimbra, em cuja cidade nasceu a 24 de Novembro de 1843; filho de José da Cunha Leitão e D. Ana Maria das Neves. Faleceu em Coimbra em meados de 1924. Concluída a sua formatura em 19 de Junho de 1869, veio para Bragança como secretário do bispo Feijó, em cuja cidade fez juntamente com ele entrada solene a 29 de Outubro de 1871. Nomeado professor de ciências eclesiásticas do seminário de Bragança a 30 de Agosto de 1872, neste cargo se conservou até que, com a proclamação da República em 1910, retirou para Coimbra. Ver tomo IV, págs. 603 e 672, destas Memórias. Escreveu: Oração de Sapiência que na solene abertura das aulas do Seminário Diocesano de Bragança no dia 15 de Outubro de 1891 proferiu o Professor José Maria da Cunha. Bragança, Tip. Bragança, rua Direita. 4.° de 12 págs. Oração de Sapiência que na solene abertura das aulas do Seminário de S. José de Bragança em 15 de Outubro de 1904 proferiu o Professor José Maria da Cunha, bacharel formado em teologia. Fólio pequeno de 32 págs. Manuscrito. O doutor Cunha era o tipo desses cristãos pautadinhos, regradinhos, amaneiradinhos; untuosinhos, melifluosinhos, gravesinhos, no falar, olhar, vestir, andar e exterior devoto; cristãos conservadores, respeitadores, cumprimentadores, todos atentos às praxes, às fórmulas protocolares, às etiquetas, que põem todo o tento nas longas rezas cheias da multidão das palavras e que das autênticas virtudes conhecem a fé e a esperança e pouco da principal – a caridade, justiça, fortaleza, prudência e temperança. Pregam a castidade e observam-na talvez, mas pelam-se por palestrar com pessoas de outro sexo, nunca perdendo ocasião de deambular em ranchos delas e de as acompanhar. Parecem santinhos capazes de pôr no altar, mas, se alguém os belisca, pouco que seja, vai tudo raso e, pela sua elástica moral, justificam tudo em ordem aos seus interesses pessoais. O doutor Cunha veio para Bragança como fâmulo do bispo Feijó que, à semelhança de seus antecessores, saltando mesmo por cima da Justiça, o meteu abade de Santavalha, um dos melhores benefícios da diocese, onde MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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CUNHA

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DANTAS

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DENTE DE OURO

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nunca residiu, contra a expressa determinação dos cânones, limitando-se a comer no seminário de Bragança os rendimentos do mesmo, acumulados aos de professor. À morte do bispo em 1874, o governo insinuou-o para vigário capitular, mas o cabido, escudado no seu direito, elegeu o cónego Mós, donde resultou a célebre questão largamente debatida na imprensa que, sob o ponto de vista das leis da Igreja, aniquilou moralmente o doutor Cunha, e, no entanto, impávido, peleja por manter a todo o transe a vigairice. Ver tomo IV, págs. 603 e 672, destas Memórias. Em 1910 veio a República; estancaram os rendimentos do seminário e o abadezinho de Santavalha e competentezinho professor, esgotada a mina, foi-se para a sua casa de Coimbra, onde expirou na Santa paz do Senhor e na tranquilidade da sua consciência, consoladinho de triliões e triliões, elevados ao cubo de Padre Nossinhos que tinha mastigado. Nada nos incomodariam as espertezas videirinhas do doutor Cunha, e até lhe acharíamos graça se se apresentasse como tal; mas exteriorizar tantas piedades canónicas e proceder de modo contrário, é intolerável. O iníquo, que se apresenta sem rebuço, é bem mais digno de respeito do que o seu colega enroupado em virtudes.

D DANTAS (António) – Morador em Brunhosinho. Arrematou em 1699 a ponte do rio Zebres, perto de Gralhós, concelho de Bragança, que devia constar de dois arcos, por 700$000 réis (177). DENTE DE OURO – Abel Olímpio, por alcunha o Dente de Ouro, cabo de artilharia n° 2470 do corpo de marinheiros da Armada, foi julgado e condenado em Março de 1923 pela parte preponderante, no dizer da acusação, que tomou na «Revolução de 19 de Outubro de 1921», em que foram barbaramente assassinados o doutor António Granjo, ministro de Estado, oriundo de Carção, concelho do Vimioso; Carlos da Maia, comandante; Botelho de Vasconcelos, coronel; e Machado Santos, almirante e fundador da República, como geralmente era conhecido, e outros. Abel Olímpio, filho de Francisco António Carviçais, e de Rosa Maria, nasceu nos Estevais, concelho de Moncorvo, a 31 de Dezembro de 1891.

(177) Ver tomo IV, p. 351, destas Memórias.

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DENTE DE DOURO

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DEPUTADOS

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Sobre novas declarações que fez continuando preso em Coimbra em 1928, ver A Voz, diário de Lisboa, de 11, 13, 14, 15, 17 a 21 de Dezembro de 1928. Dente de Ouro e Buiça (ver tomo VI, pág. 583, destas Memórias) são os dois maiores criminosos políticos da história portuguesa e ambos naturais do distrito de Bragança. Os jornais da época fizeram largo relato da Revolução de 19 de Outubro e do julgamento dos implicados nela. DEPUTADOS ELEITOS PELO DISTRITO DE BRAGANÇA ÀS CORTES EM DIVERSAS – João Rodrigues e Estêvão Pires, procuradores (deputados) por Bragança às cortes de Santarém no tempo de el-rei D. Afonso IV (178). Gonçalo Rodrigues de Morais, procurador por Bragança às cortes de Lisboa em 1439 (179). Vasco Martins, procurador por Moncorvo às cortes de 1482 (180). Bernal Afonso, procurador por Miranda às cortes de Évora de 1490 (181). Gregório de Morais e Leonis de Oliveira, procuradores por Bragança às cortes de Almeirim de 1544 (182). Doutor Afonso Salgado, procurador por Bragança às cortes de Évora de 1535 (183). Pero de Monforte, procurador por Freixo de Espada à Cinta às mesmas. Paulo Couraça, procurador por Moncorvo às mesmas. Manuel de Madureira e Manuel Gomes (licenciado), procuradores por Bragança às cortes de Tomar em 1581 para o juramento de Filipe I. Gaspar Buiça e António Pegas, procuradores por Miranda às mesmas cortes de 1581. Pedro Carneiro de Meireles e Luís de Madureira, procuradores por Moncorvo às mesmas cortes de 1581. Gaspar de Sá Souto Maior e Luís Camelo, procuradores por Freixo de Espada à Cinta às mesmas cortes de 1581 (184). Diogo Vaz Pinto e Álvaro de Morais Sarmento, procuradores por Bragança às cortes de Lisboa de 1583 (185). ÉPOCAS

(178) Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, tomo VI, p. 145. (179) Ibidem, p. 333, 598. (180) Ibidem, tomo IV, p. 199 e 294. (181) Ibidem. (182) Consta de uma carta régia transcrita no «Livro das actas da câmara de Bragança». (183) O Panorama, 1844, p. 370. (184) Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, tomo VI, p. 578. (185) Revista de História, 1923, p. 37.

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DEPUTADOS

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Henrique Pimenta e Pedro Malho, procuradores por Miranda às mesmas cortes de 1583 (186). Doutor Luís de Madureira e Martins Ribeiro, procuradores por Moncorvo às mesmas cortes de 1583 (187). Luís Camelo de Távora e Pedro Varejão de Castro, procuradores por Feixo de Espada à Cinta às mesmas cortes de 1583 (188). Pedro Aires Soares e Gaspar de Oliveira, procuradores por Bragança às cortes de 1641 (189). Belchior de Faria e Rodrigo de Figueiredo, procuradores por Bragança às cortes de Lisboa de 1642 (190). DEPUTADOS ELEITOS PELA PROVÍNCIA DE TRÁS-OS-MONTES AO CONGRESSO CONSTITUINTE EM 1820 – António José Ferreira de Sousa, António José de Morais Pimentel, António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, António Pinheiro de Azevedo e Silva, Bernardo Correia de Castro e Sepúlveda, Domingos Alves Lobo, Francisco António de Almeida Morais Pessanha, Manuel Gonçalves de Miranda e Tomé Rodrigues Sobral. Substitutos – Inocêncio António de Miranda, António Pereira Carneiro Canavarro e José Manuel Afonso Freire. Estes deputados eram eleitos para preparar as sessões preparatórias das cortes ordinárias, e para estas foram eleitos por Bragança: Francisco António de Almeida Morais Pessanha, Raimundo André Vaz de Quina, Pedro Álvares Gato e Manuel de Castro Correia de Lacerda. Substitutos – António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, Alexandre José Gonçalves Ramos, Manuel Gonçalves de Miranda e António Seabra da Mota e Silva (191).

Legislatura de 1826-1828 Deputados eleitos pela província de Trás-os-Montes: Alexandre Tomás de Morais Sarmento (depois 1.° visconde do Banho) (192), António José Clau-

(186) Ibidem. (187) Ibidem. (188) Ibidem. (189) Documentos da Câmara Municipal de Bragança. (190) Ibidem. (191) Documentos para a História das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, tomo I, p. 128 e 485. ALBUQUERQUE, António Tavares de – Índice dos Trabalhos Parlamentares, 1901, tomo I, p. 6 e 10. (192) Ver tomo VI, p. 312, destas Memórias.

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DEPUTADOS

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dino de Oliveira Pimentel, António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão (depois 1.° visconde de Vilarinho de S. Romão), António Pinto Alves Pereira, Francisco António de Almeida Morais Pessanha, Francisco Inácio Ferreira Pereira de Cerqueira Ferraz, João António Ferreira de Moura (depois 1.° barão do Mogadouro) (193), José Alves Pinto Vilar, José Camilo Ferreira Botelho Sampaio, José Pimentel Freire (depois 1.° visconde de Gouveia) e Manuel Gonçalves de Miranda (194). Foram dissolvidas estas cortes por decreto do infante D. Miguel, como príncipe regente, de 13 de Março de 1828 (195) e convocados os antigos Estados da nação – clero, nobreza e povo – para novas cortes por decreto de 30 de Junho de 1828. Os representantes do povo foram os seguintes: Por Bragança – António Ferreira de Castro Figueiredo e José Inácio de Morais. Por Moncorvo – Bernardo Tomás de Gouveia Vasconcelos (que mandou como seu representante, por estar impedido, a Francisco de Assis da Fonseca). Por Freixo de Espada à Cinta – Bernardo José de Sousa da Fonseca (196). Os representantes das outras terras do distrito de Bragança, que tinham assento nas câmaras, não os vimos mencionados no documento citado.

Legislatura de 1834-1836 Deputados eleitos pela província de Trás-os-Montes: Alexandre José Gonçalves Ramos, António Luís de Seabra (197), António Pereira Carneiro Canavarro, António Pinto Álvares Pereira, barão de Rendufe, barão de Ribeira de Sabrosa, Francisco António de Almeida Morais Pessanha, Jerónimo José de Meireles Guerra, João Ferreira Sarmento Pimentel, Joaquim de Sousa Quevedo Pizarro, José Marcelino de Sá Vargas e Manuel Gonçalves de Miranda (198). Esta legislatura começou em 15 de Agosto e findou, por dissolução, a 4 de Junho de 1836.

(193) Ver tomo VI, p. 287, destas Memórias. (194) Documentos para a História das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, tomo II, p. 365. ALBUQUERQUE, António Tavares de – Índice dos Trabalhos Parlamentares, tomo II, p. 6. (195) Ibidem, tomo IV, p. 452, onde vem novamente a lista dos deputados. (196) Ibidem, p. 797. (197) Ver tomo VI, p. 516, destas Memórias. (198) ALBUQUERQUE, António Tavares de – Índice dos Trabalhos Parlamentares, tomo III, p. 6.

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Legislatura de 1837 Deputados eleitos em 31 de Julho de 1836 pela mesma província: José Camilo Botelho Ferreira de Sampaio, João Ferreira Sarmento Pimentel, Francisco de Almeida Morais Pessanha, Simão da Costa Pessoa, Bento Ferreira Cabral, António José Meireles Guerra, Rodrigo de Sousa Machado, António Luís de Seabra (199), Frederico da Gama, Paulo Leite Velho e José Marcelino de Sá Vargas (200). Estes deputados não chegaram a tomar assento na respectiva câmara por causa da revolta de 10 de Setembro desse ano. Legislatura de 1840 José Marcelino de Sá Vargas, Alexandre José Gonçalves Ramos, Gaspar Teixeira de Sousa Guedes, José António Ferreira de Lima, José Pinto Soares, António Fernandes Coelho (eleito também por Guimarães), Dionísio António Pinto de Lemos, Francisco António Pereira de Lemos (morgado de Vilarelhos) (201), Jerónimo José de Meireles Guerra e João Pedro de Almeida Pessanha. Esta legislatura principiou a 25 de Maio de 1840 e findou, por dissolução, a 10 de Fevereiro de 1842. Legislatura de 1842 Principiou a 10 de Julho de 1842 e findou a 30 de Abril de 1845. O documento que consultámos não discrimina os círculos por onde foram eleitos os deputados. Legislatura de 1845 A 3 de Agosto de 1845 fizeram-se as eleições dos colégios eleitorais para estes, por seu turno, elegerem os deputados, acto que se realizou a 24 do mesmo mês, saindo eleitos pela província de Trás-os-Montes: Agostinho Albano da Silveira Pinto, António Felisberto da Silva e Cunha, António Pinto de Lemos, Aires Augusto Pinto de Gouveia, Francisco Cabral Teixeira de Morais, Francisco Xavier de Morais Pinto, Henrique da Cunha Gama, Henrique Manuel Ferreira Botelho, João Pedro de Almeida Pessanha e José Cabral Teixeira de Morais (202).

(199) Ver tomo VI, p. 516, destas Memórias. (200) ALBUQUERQUE, António Tavares de – Índice dos Trabalhos Parlamentares, tomo IV, p. 5. (201) Ver tomo VI, p. 526, destas Memórias. (202) Diário do Governo de 26 de Agosto de 1845.

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Legislatura de 1846 Principiou a 2 de Janeiro de 1846 e findou, por dissolução, a 23 de Maio seguinte. Legislatura de 1848 Deputados eleitos pela província de Trás-os-Montes: Agostinho Albano da Silveira Pinto, António Felisberto da Silva Cunha Leite, Eusébio Dias Possas Falcão (foi nomeado em 1850 governador civil de Ponta Delgada) (203), José Bernardo da Silva Cabral, João Pedro de Almeida Pessanha, José Marcelino de Sá Vargas e Rodrigo José de Morais Soares (204). A nossa província dava então onze deputados. Esta legislatura começou em Janeiro e findou, por dissolução, a 25 de Maio de 1851. Legislatura de 1851 Deputados eleitos: Por Bragança – António de Azevedo Melo e Carvalho, Manuel de Almeida Pessanha e José Marcelino Ferreira. Por Moncorvo – Joaquim Rodrigues Ferreira Pontes e João Pedro de Almeida Pessanha. Por Vila Real – José Marcelino de Sá Vargas e outros (205). Legislatura de 1852 Em 12 de Dezembro de 1852 houve eleições e foi então que, pela primeira vez, os votantes elegeram directamente os deputados em harmonia com a lei de 30 de Setembro desse ano. Até ali, nomeavam-se os colégios eleitorais e estes os deputados. Havia neste distrito dois círculos eleitorais: Bragança e Moncorvo, dando aquele três deputados e este dois. O círculo de Bragança era composto do concelho deste nome e dos de Chacim, Cortiços, Izeda, Miranda, Mogadouro, Outeiro, Santalha, Torre de Dona Chama, Vimioso e Vinhais, e o de Moncorvo dos concelhos de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Lamas de Orelhão, Mirandela, Moncorvo, Vila Flor e Vilarinha da Castanheira. Esta legislatura começou em Janeiro de 1853 e findou a 20 de Julho de 1856. (203) Ver tomo I, p. 215, destas Memórias. (204) Diário do Governo de 17 de Janeiro de 1848. (205) Ibidem de 27 de Novembro de 1851.

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DEPUTADOS

TOMO VII

Os deputados eleitos foram os seguintes: Por Bragança – José de Almeida Morais Pessanha, José de Morais Faria e Carvalho e José Xavier de Morais Pinto. Por Moncorvo – João Pedro de Almeida Morais Pessanha e Joaquim Rodrigues Ferreira Pontes (206). Legislatura de 1856 Bragança – José Maria Delorne Colaço, João Pedro de Almeida Pessanha e Manuel Guerra Tenreiro. Moncorvo – Julião António de Sampaio e Melo e José Marcelino de Sá Vargas. Fora primeiro eleito Francisco de Sousa Rebelo Pavão, mas, não sendo julgada válida a sua eleição, procedeu-se a outra, sendo eleito Sá Vargas (207). Esta legislatura começou em Janeiro de 1857 e findou, por dissolução, a 26 de Março de 1858. Legislatura de 1858 Bragança – João Pedro de Almeida Pessanha, Joaquim José da Costa e Simas e Pedro Vicente de Morais Campilho (208). Moncorvo – Julião António de Sampaio e Melo e Manuel Guerra Tenreiro. Esta legislatura principiou a 7 de Janeiro e findou, por dissolução, a 23 de Novembro de 1859. Legislatura de 1860 Bragança – José Marcelino de Sá Vargas. Vinhais – Augusto Carlos Cardoso Bacelar de Sousa Azevedo. Mirandela – João Pedro de Almeida Pessanha. Vila Flor – António Joaquim Ferreira Pontes. Moncorvo – Francisco Diogo de Sá (209). Esta legislatura começou a 26 de Janeiro de 1860 e findou, por dissolução, a 27 de Março de 1861.

(206) Diário do Governo de 29 de Dezembro de 1852. (207) Ibidem de 13 de Outubro de 1857 e de 15 de Dezembro de 1856. (208) Ver tomo I, p. 224, e tomo VI, p. 678, destas Memórias. (209) Diário do Governo de 24 de Janeiro de 1860.

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DEPUTADOS

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Legislatura de 1861 Bragança – Joaquim José da Costa Simas. Vinhais – Agostinho José da Fonseca Pinto (210). Mirandela – João Pedro de Almeida Pessanha. Vila Flor – António Joaquim Ferreira Pontes. Moncorvo – Francisco Diogo de Sá. Mogadouro – José Luís Alves Feijó (que nessa legislatura fez parte da comissão eclesiástica e mais tarde foi bispo de Bragança) (211).

Legislatura de 1864 Bragança – Gaspar Pereira da Silva, ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos. Foi também eleito por outro círculo. Vinhais – Albino Augusto Garcia de Lima, auditor militar (212). Mirandela – Carolino de Almeida Pessanha. Vila Flor – José Maria do Casal Ribeiro. Moncorvo – Francisco Diogo de Sá. Mogadouro – José de Almeida Pessanha (213). Esta legislatura principiou a 2 de Janeiro de 1865 e findou, por dissolução, a 15 de Maio do mesmo ano.

Legislatura de 1865 Bragança – José de Morais Faria e Carvalho. Vinhais – Augusto César Falcão da Fonseca. Mirandela – Carolino de Almeida Pessanha. Vila Flor – Lourenço António de Carvalho. Moncorvo – Manuel Guerra Tenreiro. Mogadouro – Manuel Paulo de Sousa (214). Faleceu na sua casa em Miranda do Douro, vitimado por uma lesão cardíaca, no dia 27 de Janeiro

(210) Ver tomo VI, p. 139, destas Memórias. (211) Diário do Governo de 20 de Maio e 22 de Julho de 1861. (212) Na sessão da câmara dos deputados de 18 de Março de 1867 (in Diário do Governo), foi apresentado um parecer relativo à eleição deste deputado. (213) Na sessão da mesma câmara de 17 de Fevereiro de 1864 (in Diário de Lisboa do dia 19), D. José Luís Alves Feijó, já então eleito bispo de Macau, apresentou o seu diploma de deputado eleito pelo círculo do Mogadouro, Diário de Lisboa de 9 de Novembro de 1864. (214) Diário de Lisboa de 29 de Julho de 1865.

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de 1889. Era coronel reformado do Estado-maior (engenharia) e director das obras públicas do distrito de Bragança. Esteve na acção de Valpaços, onde se portou valentemente e foi ferido. Foi chefe de secção na construção da estrada real de Vila Real a Bragança. O Brigantino de 6 de Fevereiro seguinte publica o seu necrológio. Esta legislatura começou a 30 de Julho de 1865. Legislatura de 1868 Bragança – José Ildefonso Pereira de Carvalho. Vinhais – Francisco Pinto Coelho de Ataíde. Esta eleição foi anulada depois (215). Mirandela – Matias de Carvalho e Vasconcelos. Vila Flor – António Joaquim Ferreira Pontes. Moncorvo – Jerónimo José de Meireles Guerra. Mogadouro – António Luís de Seabra Júnior (216). As eleições realizaram-se a 22 de Março. Legislatura de 1869 Bragança – António Joaquim da Veiga Barreira (217). Macedo de Cavaleiros – Matias de Carvalho e Vasconcelos. Mirandela – Casimiro António Ribeiro da Silva. Moncorvo – Francisco Diogo de Sá (218). Por decreto de 20 de Janeiro de 1870 foram dissolvidas estas cortes e convocadas câmaras gerais para 31 de Março seguinte (219). Legislatura de 1870 Bragança – Augusto Ernesto de Castilho e Melo. Macedo de Cavaleiros – Augusto Maria da Costa Sousa Lobo. Mirandela – Jorge Leite Pereira (220). Moncorvo – José de Melo Gouveia, ministro da Marinha, e Inácio Francisco Silveira da Mota.

(215) Ver tomo I, p. 223, destas Memórias. (216) Diário do Governo de 15 de Abril de 1868. (217) Ver tomo VI, p. 395, destas Memórias. (218) Diário do Governo de 26 de Abril de 1869. (219) Ibidem n° 16, de 1870. (220) Ver tomo VI, p. 517, destas Memórias.

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Esta legislatura começou a 31 de Março de 1870 e foi dissolvida por decreto de 21 de Julho seguinte, sendo convocadas novas cortes para 3 de Novembro desse ano (221). Segunda legislatura de 1870 No Diário do Governo de 11 de Outubro de 1870 vem a relação dos deputados para a legislatura que devia começar em 15 desse mês e ano. São eles: Por Bragança – António Joaquim da Veiga Barreira (222). Por Macedo de Cavaleiros – Francisco de Assis Pereira do Lago e Matias de Carvalho e Vasconcelos. Por Mirandela – António Teixeira Alves Martins e Casimiro António Ribeiro da Silva. Por Moncorvo – Doutor António Maria Esteves Freire Falcão e Francisco Diogo de Sá. Por decreto de 3 de Junho de 1871 foram também dissolvidas estas câmaras e convocadas outras para 22 de Julho seguinte (223). Legislatura de 1872 (segunda sessão) Bragança – José Marcelino de Sá Vargas, juiz do Supremo Tribunal de Justiça Cível. Macedo de Cavaleiros – Guilherme Augusto de Macedo, capitão de artilharia. Mirandela – Visconde de Arriaga, vogal da Junta Consultiva do Ultramar. Moncorvo – António José de Barros e Sá, juiz relator do Conselho Militar. Legislatura de 1875 Bragança – Tomás António Ribeiro Ferreira, director-geral dos Negócios da Justiça. Macedo de Cavaleiros – Marçal de Azevedo Pacheco, advogado. Mirandela – Visconde de Arriaga, vogal da Junta Consultiva do Ultramar.

(221) Diário do Governo n° 161, de 1870. Lista existente na câmara dos deputados. (222) Ver tomo VI, p. 395, destas Memórias. (223) Diário do Governo n° 126, de 1871. Lista existente na câmara dos deputados.

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Moncorvo – Manuel da Assunção, advogado. Na legislatura de 1877 foram eleitos os mesmos. Primeira legislatura de 1879 Macedo de Cavaleiros – Firmino João Lopes. Mirandela – Francisco Rebelo de Sousa Pavão (224). Mogadouro – Eduardo Augusto da Costa Morais. Moncorvo – Casimiro Ribeiro da Silva. Primeira legislatura de 1880 Bragança – João António Pires Vilar, professor e reitor do Liceu de Bragança. Macedo de Cavaleiros – Abílio Guerra Junqueiro, secretário-geral do governo civil de Viana do Castelo. Mirandela – Alexandre Manuel Álvares Pereira de Aragão, proprietário (225). Mogadouro – Albino Vaz das Neves, médico (226). Moncorvo – João José Dias Galas, advogado. Na segunda legislatura de 1881 foram eleitos os mesmos. Legislatura de 1882 Bragança – Augusto Trajano de Oliveira. Mirandela – Manuel Pinto Vaz Guedes Bacelar (227). Mogadouro – Luciano Baptista de Sousa Cordeiro. Moncorvo – Firmino João Lopes. Segunda legislatura de 1883 Moncorvo – Inácio Francisco Silvério da Mota. Pelos outros círculos foram eleitos os mesmos. Terceira legislatura de 1884 Macedo de Cavaleiros – Firmino João Lopes. Nos outros círculos os mesmos.

(224) Ver tomo VI, p. 368, destas Memórias. (225) Ibidem, p. 503. (226) Ibidem, p. 383. (227) Ver tomo VI, p. 166, destas Memórias.

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Legislatura de 1885-86 Bragança – António Maria de Morais Machado, Eduardo José Coelho e Firmino João Lopes (eleito também por Chaves). Mirandela – António de Sousa de Ataíde Pavão (228). Mogadouro – António Xavier de Almeida Pinheiro. Moncorvo – Inácio Francisco Silveira da Mota. Legislatura de 1887 Bragança – Conde de Vila Real, Firmino João Lopes e Eduardo José Coelho. Mirandela – Júlio Cardoso de Abreu e Sousa. Mogadouro – Ernesto Madeira Pinto. Moncorvo – João José Dias Galas. Na legislatura seguinte (1888-89) foram os mesmos. Legislatura de 1890 Bragança – João António Pires Vilar e Álvaro de Mendonça Machado Araújo. Legislatura de 1891 Bragança – António José Lopes Navarro, chefe da repartição da Caixa Geral de Depósitos; Eduardo José Coelho, juiz da 2.ª vara; e Luís Virgílio Teixeira, 2.° oficial do ministério dos Estrangeiros. Mirandela – João Lobo Santiago Gouveia. Mogadouro – António Eduardo Vilaça, chefe do Estado-maior de engenharia e lente da Escola do Exército. Moncorvo – José Joaquim de Sousa Cavaleiro, 1.° oficial. Na legislatura seguinte (1892) foram os mesmos. Legislatura de 1893 Bragança – Eduardo José Coelho, João de Sousa Calvet de Magalhães e José de Sousa Lobo Lamare. Mogadouro – Júlio Augusto de Oliveira Pires. Moncorvo – Álvaro Mendonça Machado Araújo e António José Lopes Navarro (229).

(228) Ver tomo VI, p. 368, destas Memórias. (229) Ver tomo VI, p. 243, destas Memórias.

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TOMO VII

Legislatura de 1894 Bragança – Doutor Abílio Augusto de Madureira Beça, Eduardo José Coelho e João José Pereira Charula. Mirandela – José Benedito de Almeida Pessanha. Mogadouro – José Joaquim Dias Galas. Moncorvo – Joaquim do Espírito Santo Lima. Esta legislatura começou em Outubro de 1894 e findou em Março de 1895. Legislatura de 1895 Em 17 de Novembro de 1895 houve eleições de deputados e pelo distrito de Bragança foram eleitos os seguintes: Doutor António José Lopes Navarro (no ano anterior havia sido eleito par do reino por este distrito), doutor Abílio Augusto de Madureira Beça, João José Pereira Charula e doutor José Joaquim Dias Galas. Esta legislatura começou em Janeiro de 1896 e findou em Fevereiro de 1897. Nestas eleições, o doutor José Marcelino de Sá Vargas, filho do doutor Albino de Sá Vargas, governador civil de Bragança, e sobrinho do ministro da Justiça José Marcelino de Sá Vargas, foi eleito deputado por Aveiro. Legislatura de 1899 Em 26 de Novembro de 1899 fizeram-se eleições de deputados, sendo eleitos pelo distrito de Bragança: Doutor Paulo Cancela (progressista), por Macedo de Cavaleiros; Carlos Pessanha (idem), por Mirandela; doutor Luciano Monteiro (regenerador), pelo Mogadouro; doutor Júlio de Araújo (progressista) por Moncorvo (230); e doutor Abílio Augusto de Madureira Beça (regenerador), por Bragança. Estava ao tempo no poder o partido progressista. Legislatura de 1900 Por decreto de 25 de Junho de 1900 foi Hintze Ribeiro nomeado presidente do ministério e a 25 de Novembro desse ano fizeram-se as eleições para deputados, sendo eleitos pelo distrito de Bragança: Carlos de Almeida Pessanha, tenente do exército (progressista), por Mirandela; José António de Madureira Beça, engenheiro, por Bragança; doutor António Alberto (230) Esta eleição foi anulada; e, procedendo-se a outra, saiu eleito, depois de tenaz luta, o doutor António Joaquim Ferreira Margarido.

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Charula Pessanha, por Macedo de Cavaleiros; doutor José Joaquim Galas, pelo Mogadouro; e doutor António José Lopes Navarro, por Moncorvo (estes regeneradores). Legislatura de 1901 A 6 de Outubro de 1901 houve eleições de deputados e pelo distrito de Bragança foram eleitos: Carlos de Almeida Pessanha, capitão de cavalaria (progressista), por Mirandela; doutor António Joaquim Ferreira Margarido, por Moncorvo; doutor António Alberto Charula Pessanha, por Macedo de Cavaleiros; José António de Madureira Beça, engenheiro, por Bragança; e doutor José Joaquim Dias Galas, pelo Mogadouro (estes regeneradores). O último faleceu, sendo deputado, em Miranda do Douro (de cuja câmara foi presidente muitas vezes), a 23 de Agosto de 1902. Legislatura de 1903 Bragança – Joaquim Basílio de Cerveira e Sousa de Albuquerque e Castro. Moncorvo – João Pedro de Almeida Pessanha. Legislatura de 1904 Por decreto de 20 de Abril de 1904 foi dissolvida a câmara dos deputados e procedeu-se a novas eleições a 26 de Junho desse ano, saindo eleitos pelo distrito de Bragança: Doutor António José Lopes Navarro, doutor António Alberto Charula Pessanha, Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda, que havia sido governador civil deste distrito, doutor António Sérgio da Silva e Castro e Carlos de Almeida Pessanha. Nestas eleições foi o doutor Abílio Augusto de Madureira Beça, que acabava de servir de governador civil de Bragança, eleito deputado por Viseu, e o doutor Alípio Albano Camelo, natural de Bragança, por Leiria, voltando a ser eleito por ali em 1910. Legislatura de 1905 A 12 de Fevereiro de 1905 fizeram os progressistas as eleições de deputados e pelo distrito de Bragança foram eleitos: Francisco de Assis Pereira do Lago, visconde das Arcas (231); António de Sousa Ataíde Pavão (232); doutor

(231) Ver tomo VI, p. 17, destas Memórias. (232) Ibidem, p. 368.

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João Baptista Ribeiro Coelho (natural de Lamas de Orelhão), prior numa freguesia de Lisboa; doutor Augusto de Castro Sampaio Corte Real, jornalista e literato, estes progressistas; e doutor António Alberto Charula Pessanha, regenerador. Legislatura de 1906 A 19 de Março de 1906 caiu o ministério presidido por José Luciano de Castro, subindo ao poder outro da presidência de Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro. Fizeram-se as eleições a 29 de Abril seguinte e foram eleitos pelo distrito de Bragança: conselheiro doutor Abílio Augusto de Madureira Beça, doutor António Alberto Charula Pessanha, doutor António José Lopes Navarro, doutor Arsénio Guilherme Botelho de Sousa e conselheiro Júlio Augusto Petra Viana, todos regeneradores. A 17 de Maio desse ano deixou o poder o ministério Hintze Ribeiro, que foi substituído por outro presidido por João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco. Fizeram-se as eleições a 19 de Agosto, sendo eleitos por este distrito: Adriano Acácio de Madureira Beça, major de infantaria; Carlos Augusto Pinto Garcia, médico; conselheiro José Matias Nunes, ministro de Estado honorário; e Fernando de Carvalho Morais de Almeida, engenheiro. Estes pela maioria do governo franquista, que se uniu ao partido progressista para fazer as eleições, e pela oposição regeneradora foi eleito o conselheiro Anselmo de Assis de Andrade. Legislatura de 1908 Em consequência do regicídio perpetrado por Buiça a 1 de Fevereiro de 1908, caiu o ministério de João Franco seguindo-se-lhe outro sob a presidência do almirante Ferreira do Amaral. As eleições fizeram-se a 5 de Abril, sendo eleitos pelo círculo de Bragança: doutor Abílio Augusto de Madureira Beça, doutor António Alberto Charula Pessanha, José António da Rocha Sousa, proprietário, doutor António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, lente da Universidade de Coimbra, e Francisco Xavier Correia Mendes, major do serviço do Estado-Maior. Legislatura de 1910 A 28 de Agosto de 1910, sendo presidente no ministério António Teixeira de Sousa, houve eleições de deputados e pelo círculo de Bragança foram eleitos: doutor António Joaquim Ferreira Margarido, médico; Abílio de Lobão Soeiro (natural da Laguação), administrador de quase todos os MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


DEPUTADOS

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concelhos do distrito de Bragança, secretário-geral do governo civil do mesmo distrito, antigo deputado e, ao tempo, governador civil de Évora; doutor António Alberto Charula Pessanha, proprietário e capitalista, antigo deputado, director do Banco de Bragança; Júlio Augusto Petra Viana, capitalista e antigo deputado (estes regeneradores), e José Benedito de Almeida Pessanha (progressista), pela minoria. Legislatura de 1911 Bragança – Doutor António Alberto Charula Pessanha, António Carvalho Mourão e Francisco António Chôa, juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Moncorvo – António Bernardino Roque, major-médico reformado do Ultramar; Ernesto da Cunha Macedo, capitão de infantaria; Sebastião Pires Rodrigues, médico da armada, e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães, oficial da Administração militar. Na legislatura de 1914 foram os mesmos. Legislatura de 1915 Bragança – Doutor António Alberto Charula Pessanha, Armando da Gama Chôa e José de Barros Mendes de Abreu. Moncorvo – António Maria Malva do Vale, doutor Domingos Frias de Sampaio e Melo e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães. Legislatura de 1918 Bragança – Eduardo Dário da Costa Cabral, doutor Francisco Miranda da Costa Lobo, lente da Universidade de Coimbra, e doutor-padre José Eugénio Teixeira. Moncorvo – Adriano Marcelino de Almeida Pires e Francisco José Lemos de Mendonça. Legislatura de 1919 Bragança – Doutor António Alberto Charula Pessanha, doutor Artur Lopes Cardoso (depois ministro da Justiça) e Eduardo Alfredo de Sousa. Moncorvo – Doutor Acácio Lopes Cardoso, doutor Francisco Morgado e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães. Legislatura de 1921 Bragança – Doutores Álvaro Xavier de Castro, António Augusto Pires Quintela e Artur Lopes Cardoso. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Moncorvo – Doutor João Carlos de Noronha, Júlio Henrique de Abreu e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães. Legislatura de 1922 Bragança – Doutor Artur Lopes Cardoso, doutor e padre Valentim Guerra e João Pedro de Almeida Pessanha. Moncorvo – João Pereira Bastos, Júlio Henrique de Abreu e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães. Legislatura de 1925 Bragança – Doutores Artur Lopes Cardoso, Diogo Albino de Sá Vargas e Valentim Guerra. Moncorvo – Doutor Álvaro da Cunha Ferreira Leite, Henrique Maria Pais Cabral e Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães. DEUSDADO (Manuel Ferreira) – Diplomado pelo Curso Superior de Letras, de Lisboa; professor liceal de história, geografia e filosofia; antigo membro do Conselho Superior de Instrução Pública; doutor honoris causa em filosofia e letras pela Universidade de Lovaina; membro da Academia Real das Ciências de Lisboa; da Real Academia de História de Madrid; decorado com medalha de prata de Mérito, Filantropia e Generosidade; delegado de Portugal ao Congresso Penitenciário Internacional de S. Petersburgo, ao Congresso Antropológico de Bruxelas, ao Congresso da Associação Francesa para o Adiantamento das Ciências, de Limoges; comendador e grande-oficial da ordem imperial de S. Estanislau da Rússia; gentil-homem da corte imperial russa; comendador da real ordem de Isabel, a Católica, e reitor do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo. Nasceu em Rio Frio de Outeiro, concelho de Bragança, a 7 de Abril de 1858 (233) e faleceu em Lisboa a 21 de Dezembro de 1918. Era filho de José António e de D. Florência Ferreira; neto paterno de António José Ferreira e de D. Maria Fernandes, naturais de Genízio, concelho de Miranda do Douro, e materno de António Ferreira e de D. Luísa Cavaleiro. Pelo lado materno, tinha o doutor Deusdado como trisavó D. Maria de Miranda, irmã do célebre intendente Manuel Gonçalves de Miranda, de onde provem o criptónimo Cavaleiro de Miranda, com que assinou algumas produções, em artigos de jornais, principalmente. Sobre o apelido Deusdado, que (233) Alguns escritores dão-lhe outra terra de origem e diversa data de nascimento, no que há engano, como vimos do próprio assento de baptismo do qual temos presente certidão autêntica.

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usou, ver os seus Escorços Trasmontanos, pág. 227, em nota. Adiante nos referiremos ao pseudónimo de Visconde de Alvaredos, de que também fez uso. Estudou preparatórios em Bragança e concluiu em 1884 o curso superior de letras, sendo em 1886 nomeado membro do Conselho Superior de Instrução Pública. Por despacho ministerial de 28 de Abril de 1887 substituiu interinamente Pinheiro Chagas, ao tempo ministro da Marinha, na regência da sua cadeira no Curso Superior de Letras. Em 1890 fez concurso para uma cadeira liceal e, ficando aprovado, foi, por decreto de 6 de Fevereiro desse ano, nomeado para o liceu de Braga, de onde pouco depois foi transferido para o de Lisboa; e por decreto de 4 de Maio de 1901 para o de Angra do Heroísmo, onde se conservou até falecer. Para a sua vaga na cadeira do liceu de Lisboa foi outro bragançano ilustre, o padre-doutor Alípio Albano Camelo, condiscípulo do autor destas linhas. Não vem a propósito examinar a inanidade da acusação feita a Ferreira Deusdado, que alguém poderá supor determinante da sua transferência do liceu de Lisboa para o de Angra do Heroísmo; basta, porém, saber-se que o conselho liceal, reunido para averiguar da veracidade dos factos incriminados, se pronunciou unanimemente pela inocência do acusado. A sua competência profissional impunha-se; e bem o mostrou a manifestação solene que os alunos do liceu de Angra – à qual se associaram todos os professores daquele estabelecimento de ensino em doce convívio de festa – lhe fizeram quando viram desmentida a notícia da sua transferência para o liceu de Ponta Delgada (234), e a colocação, igualmente solene, do seu retrato na sala nobre do mesmo liceu em 1904. Foi Deusdado o fundador em Portugal do moderno ensino da filosofia, segundo o critério psicológico-histórico. Em 1890 representou ele Portugal no Congresso da Associação Francesa para o Adiantamento das Ciências, reunido em Limoges, e no ano seguinte no Congresso Penitenciário de S. Petersburgo, de que teve a presidência de honra, bem como no Antropológico de Bruxelas em 1894, de que também teve a presidência de honra. Em 1891, seguidamente ao Congresso Penitenciário Internacional de S. Petersburgo, Alexandre III, da Rússia, agraciou-o com a comenda e o grande oficialato da ordem imperial de S. Estanislau, além do foro de gentil-homem da corte imperial.

(234) Veja-se a descrição desta ovação no Peregrino de Lourdes ou a sua transcrição no Nordeste de 4 de Dezembro de 1901.

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Em 1894 foi, por um decreto do governo, incumbido do projecto da reforma da Casa de Correcção de Lisboa e de estabelecer o ensino carcereiro no país, no que se houve por tal forma que foi louvado em portaria publicada no Diário do Governo. Em 1895 foi eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, por proposta de Pinheiro Chagas, sendo Tomás Ribeiro relator do parecer. Em 3 de Março de 1897 a Universidade de Lovaina proclamou-o doutor honoris causa em filosofia e letras, distinção raríssima em Portugal. Em 1899 a Real Academia de História, de Madrid, por proposta do célebre orador Emílio Castelar, elegeu-o sócio. E em 1900 foi nomeado comendador da real ordem de Isabel, a Católica, de Espanha. Deusdado era o tipo do verdadeiro trasmontano – corpulento, robusto, generoso, franco e bom. Eis como a Estrela de Alva descreve um rasgo da sua acção, que exemplifica algumas destas qualidades: «Tinha o Dr. Ferreira Deusdado feito convite à 4.ª e 5.ª classes do liceu (curso de 1913-1914) [de Angra do Heroísmo] para uma excursão de estudo ou aula-passeio pela costa fragosa da freguezia de Sam Mateus da Calheta, da Ilha Terceira, quando, chegados a um lugar denominado Aberta, foi visto um homem abraçado a um cachopo, lutando desesperadamente com o mar. O ilustre professor, sem dar tempo a mais, desfez-se do casaco e colete, lançando-se a nado em socorro do infeliz, de nome Francisco Videira, voltando passado pouco tempo, entre o pasmo dos assistentes, trazendo o homem agarrado. Era o tempo dos marraxos (espécie de tubarão que infesta o mar dos Açores)» (235). Em reconhecimento deste heróico acto, por decreto de 14 de Abril de 1916, foi-lhe pelo governo concedida a medalha de prata de Mérito, Filantropia e Generosidade. José Pinto Soares, diplomado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e professor efectivo do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, publicou em 1914, sob o título Um rasgo de benemerência, um folheto, no qual se acham reunidas as notícias e documentos em louvor do heroísmo do nosso biografado. O doutor Ferreira Deusdado colaborou largamente na imprensa, e entre outros jornais lembram-nos os seguintes: Norte Trasmontano, Nordeste, Correio dos Açores, São Miguel e Correio Nacional. Fundou em 1885 a (235) Estrela de Alva de 28 de Outubro de 1916. Ver também a Ilustração Católica de 29 de Agosto de 1914.

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Revista de Educação e Ensino, da qual foi director e principal colaborador durante dezasseis anos, publicando quinze volumes de mais de quinhentas páginas cada um. Encontram-se dados biográficos relativos ao doutor Ferreira Deusdado nas seguintes publicações: Mala da Europa, de 5 de Abril de 1897, onde vem o seu retrato; O Nordeste, de 24 de Janeiro de 1900 e 4 de Dezembro de 1901; Estrela de Alva, de 28 de Outubro de 1916; Portugal – Dicionário histórico, artigo «Ferreira Deusdado»; Comércio de Portugal, de 25 de Maio de 1888; Um filósofo português no século XIX, por J. Bettencourt Ferreira, Lisboa, 1902; Dicionário Bibliográfico, tomo XVI, págs. 210 e 404; no Esboço duma apreciação ou o Dr. Ferreira Deusdado – Educador, Filósofo e Escritor, pelo padre Ernesto Ferreira, Ponta Delgada, 1919, 8.° de 57 págs.; e em O Instituto, 1919, págs. 571 e segs. Também na Revista de Educação e Ensino, por todos os seus volumes, mormente no correspondente a Janeiro de 1898, se encontram, transcritas de vários jornais e revistas nacionais e estrangeiras, apreciações lisonjeiras de seus trabalhos. O doutor Manuel António Ferreira Deusdado deixou publicadas as seguintes obras: Ensaios de filosofia actual. Lisboa, 1888, Tip. de Eduardo Rosa. 8.° peq. de 286 págs. e duas de índice. Estudos sobre criminalidade e educação («Filosofia e antropologia»). Lisboa, 1889, Imp. de Lucas Evangelista Torres. 8.° grande de 212 págs. e duas de índice e erratas. O ensino carcereiro e o Congresso Penitenciário Internacional de São Petersburgo. Lisboa, 1891, Imp. Nacional. 8.° gr. de XV-325 págs., com gravuras. Elementos de geografia geral. Lisboa, Imp. Nacional, 1891. 8.° de XII-558 págs., com gravuras intercaladas no texto. Essais de Psychologie criminelle – Rapport présenté au Congrès Pénitenciaire International de Saint-Petersburg. Lisbonne, Imprimerie Nationale, 1890. 8.° gr. de 41 págs. Ideias sobre educação correccional. Lisboa, 1890, Guillard, Aillaud & C.ª 8.° gr. de 31 págs. Plano de uma Escola Colonial Portuguesa. Lisboa, 1890, Minerva, Avenida da Liberdade, 79. 8.° gr. de 12 págs. O Recolhimento da Mofreita e o espírito das ordens religiosas. Lisboa, Imp. de Lucas Evangelista Torres, 1892. 8.° de 24 págs. Saiu primeiro na Revista de Educação e Ensino correspondente a Dezembro de 1891. Psicologia aplicada à educação – «Lição de abertura exposta no Curso Superior de Letras de Lisboa em 1891-92». Lisboa, Imp. de Lucas Evangelista Torres, 1892. 8.° gr. de 24 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Corografia de Portugal, ilustrada. Guillard, Aillaud & C.ª Lisboa, 1893. Fólio de V-55 págs., com 50 gravuras e 20 mapas a cores. É um livro bem feito, como até ao tempo não aparecera outro em Portugal sobre esta especialidade. Contém cartas geográficas e gravuras de tipos, costumes, monumentos das diversas faunas e floras de Portugal e suas colónias, de que dá abundantes notícias linguísticas, etnográficas, sociais, morais, comerciais, industriais e religiosas. A forma como este livro moderníssimo se nos apresenta mostra bem a funda concepção dos processos cientificamente educativos de seu autor, a quem esta obra bastaria para assinalar um grande renome. A antropologia criminal e o Congresso de Bruxelas. Lisboa, Imp. Nacional, 1894. 8.° gr. de XXVII-302 págs., com um «Juízo crítico da imprensa estrangeira e nacional acerca dos escritos penitenciários e criminais do autor». Por aqui se vê quanto as obras do nosso distinto conterrâneo são apreciadas pelo mundo sábio. Rapport sur les moyens preventifs et questions relatives à l’enfance et aux mineurs – Cinquième Congrès Pénintentiaire International. Melun – Imprimerie Administrative, 1895. 8.° gr. de 6+3+8 págs. A reforma do ensino geográfico. Lisboa, Imp. Lucas, 1896. 8.° gr. de 87 págs. e mais duas (inumeradas) de índice e erratas. A literatura grega e latina – «Lição exposta no Curso Superior de Letras no ano lectivo de 1886-87». 2.ª edição. Lisboa, Imp. Lucas, 1889. 8.° gr. de 44 págs. Princípios gerais de filosofia por J. M. da Cunha Seixas – Obra póstuma precedida de um esboço histórico de filosofia em Portugal no século XIX e de uma notícia biográfica do autor. Lisboa, Imp. Lucas, 1898. 8.° gr. de XLVII-186 págs. A sugestão hipnótica na educação. Foi escrita de colaboração com J. Bettencourt Ferreira. Lisboa, Imp. Lucas, 1898. 8.° gr. de 109 págs. La philosophie thomiste en Portugal. Extrait de la «Revue Néo-Scolastique». Lovaina, 1898. 8.° gr. de 49 págs. Este trabalho, que foi muito elogiado pelas revistas filosóficas de França, Itália, Alemanha, Bélgica, etc., mereceu a seu autor o grau de doutor honoris causa pela Universidade de Lovaina (236). Elogio histórico do Dr. José Augusto Nogueira Sampaio, reitor e professor do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, proferido na sessão solene de 16 de Junho de 1902. Angra do Heroísmo, Imp. Municipal, 1902. 8.° gr. de 29 págs. (236) Veja-se a honrosa apreciação que desta notável obra de crítica histórico-filosófica fez o ilustre lente doutor Francisco Martins em artigo transcrito em O Nordeste de 24 de Janeiro de 1900.

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Pensamentos. Angra do Heroísmo, 1903. 16.° de 32 págs. É uma colecção de pensamentos e conceitos sentenciosos extraídos das obras do doutor Deusdado. Carta aberta ao Senhor D. Miguel de Bragança, pelo visconde de Alvaredos. Angra do Heroísmo, 1904, Tip. Sousa & Andrade. 8.° de 23 págs. Ignoramos a razão do pseudónimo «Visconde de Alvaredos». Portugal e Miguel Ângelo Buonarroti – Interpretação de um grupo do Juízo Final na capela Sistina. Lisboa, Tip. Lallemant, 1906. 8.° de 112 págs. com uma fotogravura. Parece-nos que esta obra é de Deusdado, embora venha firmada com o nome de A. de Sousa Silva Costa Lobo. O sobrinho do doutor Deusdado supõe que não é dele. Quadros açóricos – Lendas cronográficas. Angra do Heroísmo, 1907, Imp. Municipal. 8.° de XIX-300 págs. Os alunos do liceu de Angra reuniram depois em volume as apreciações que a imprensa periódica do país fez a esta obra. Esse volume tem por título: «Os quadros açóricos e a crítica – Homenagem dos alunos do Liceu de Angra do Heroísmo ao seu ilustre Professor Sr. Dr. Manuel Ferreira Deusdado». Angra do Heroísmo, 1908, Minerva Cunha. 8.° de 58 págs. Edição numerada, em papel especial, com o retrato do homenageado. O Diário dos Açores de 19 de Abril de 1909 e o Correio dos Açores de 28 do mesmo mês e ano anunciaram a tradução para espanhol dos Quadros açóricos sob o título Leyendas de las Islas de los Azores. Discurso da abertura solene recitado pelo reitor interino... na sessão pública de 15 de Outubro de 1907 [do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo] e relatório referente ao ano escolar de 1906-1907. Publicação oficial. Angra do Heroísmo, 1907, Imp. Municipal. 8.° de 58 págs. Bosquejo histórico de puericultura – «Educadores portugueses». Angra, 1909, Minerva Cunha. 8.° de XXIV-539 págs. e 5 (inumeradas) de índice. Liceu Nacional de Angra do Heroísmo – Discurso inaugural proferido na sessão pública de 17 de Outubro de 1910 pelo Reitor Dr. Ferreira Deusdado. Angra do Heroísmo, 1910, Tip. Sousa e Andrade. 8.° gr. de 87 págs. Perfil do Conselheiro Teixeira de Sousa, por C. de M. Separata do periódico O Regenerador. Angra, 1910, Tip. Sousa e Andrade. 8.° de 23 págs. com o retrato do perfilado. As iniciais C. de M. dizem «Cavaleiro de Miranda», pseudónimo usado pelo doutor Manuel Ferreira Deusdado. Escorços trasmontanos. Angra do Heroísmo, 1912, Tip. Sousa e Andrade. 8.° de 354 págs. O Senhor D. Manuel V, Bispo de Angra. Separata do Almanaque Açores para o ano de 1916. 8.° de 8 págs. com o retrato do bispo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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DELGADO

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Notas dum viajante no império russo. 2.ª edição, 1916. Separata do diário A Verdade. 8.° de 71 págs. A 1.ª edição é de 1890. A crise do Ideal na Arte. Lisboa, 1917, Livraria Editora Andrade, Angra do Heroísmo. 8.° de 190 págs. e duas de índice. DELGADO (Joaquim Filipe Neri da Encarnação) – General de divisão, reformado, engenheiro-inspector da comissão do serviço geológico. Nasceu em Elvas a 26 de Maio de 1835 e faleceu em 1908 ou 1909. Escreveu, além de outras obras: Reconhecimento científico dos jazigos de mármore e de alabastro de Santo Adrião e das grutas compreendidas nos mesmos jazigos. Lisboa, 1886. 8.° de 11 págs. e 4 planas. Saiu nas «Comunicações da Comissão dos Trabalhos Geológicos de Portugal». Lisboa, 1888-1892, tomo II, pág. 45, e também na Revista de Obras Públicas, números de Março e Abril de 1888. A propósito destes jazigos ver apelido «Serrão». DIAS (António Augusto de Oliveira) – Cirurgião-médico pela Escola de Lisboa. Nasceu em Bragança a 8 de Dezembro de 1836, onde também faleceu a 21 de Março de 1904. Reformou-se no posto de coronel-médico, com trinta anos de serviço, a 7 de Novembro de 1891. Era condecorado com a Cruz de Avis e tinha as mais medalhas militares inerentes ao seu posto. Frequentou a Escola Médico-Cirúrgica do Porto e concluiu a sua formatura em Lisboa. Escreveu: Considerações sobre o crup e seu tratamento. Tese ou dissertação apresentada à Escola de Lisboa (237). Olímpio de Oliveira Dias, director da Escola de Habilitação ao Magistério Primário em Bragança, filho do biografado, disse-nos que seu pai prestara bons serviços em Freixo de Espada à Cinta em 1866, quando aí apareceu o cólera, sendo um dos médicos que se aguentaram no seu posto, e que como recompensa de tal proceder o governo o quis condecorar, mercê que ele recusou. O Diário de Lisboa de 5 e 8 de Janeiro de 1866 celebra a coragem do médico municipal do Mogadouro, doutor Manuel Águedo de Miranda que correu em socorro dos de Freixo, e nada diz de Oliveira Dias, se bem que, em nosso entender, este silêncio nada depõe contra ele. DIAS (Estêvão) – Jesuíta, que faleceu a 29 de Março de 1583 no Colégio da Companhia em Bragança, cujas virtudes mereceram especial

(237) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, tomo VIII, p. 88.

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comemoração a Jorge Cardoso no Hagiológio Lusitano referente ao dia 29 de Março. DIAS (Frei Filipe) – Natural de Bragança; franciscano, definidor da sua ordem. Faleceu em Salamanca e foi sepultado no convento de S. Francisco daquela cidade aos 9 de Abril de 1600 ou 1601, não há certeza absoluta. El Gran Diccionario de Moreri e o Hagiológio Lusitano dizem que foi em 1600; mas o Sumário da Biblioteca Lusitana e o Mapa de Portugal trazem 1601. A sua pátria e claras virtudes constam dos seguintes versos publicados no Hagiológio de Jorge Cardoso: Loete Brigantinos Salmantica sucipe fructus Quos hoec terra tuo lacte rigata tulit. Hinc modo surrexit doctissimus autor in omni Scriptura, et legis doctor Apostolicœ. De Bragança foi estudar teologia a Salamanca, professando depois no convento franciscano dessa cidade, onde se notabilizou como pregador verdadeiramente apostólico, sendo o mais famoso do seu tempo e geralmente considerado como o primeiro eclesiástico dessa época. «Tinha – diz Jorge Cardoso – singular efficacia no persuadir, não lhe faltando abundancia de conceitos e flores oratorias, com que delectava os engenhos dos doctos, e recreava os ouvidos dos indoctos... e talvez parecia que falava nelle o Spirito Sancto, pelo abalo grande que faziam suas reprehensões». Era tal o prestígio do seu nome e a eficácia salutar do seu exemplo, que ausentando-se para Compostela, logo o bispo de Salamanca, D. Jerónimo Manrique de Lara, reclamou o seu regresso, onde se lhe tornava indispensável para moralização da juventude universitária. Foi de notável humildade e contínuo estudo, que só interrompia para pregar ou orar (238). «Philippus Diaz – diz Wadding – Sanctæ Theologiæ apud Salmantinenses Professor, vir vere pius, vere doctus, salutis animarum constanter sitibundus, indeffessus verbi divini minister... Abhorruit supra modum Ordinis officia, neque ullis volevat implicari negottiis, quæ a verbi divini semine spargendo, ex quo uberrimam colligebat messem potuissent impedire. Totus erat in scribendo, vel in orando occupotus».

(238) CARDOSO, Jorge – Hagiológico Lusitano, referente ao dia 9 de Abril. MORERI, artigo «Diaz». CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II, Escritores, p. 303.

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DINE

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Escreveu: Conciones quadruplices, etc. Salmanticæ, 1583 até 1602. Venete, 1586 até 1591. Colon. Agrip., 1604. 4 tomos in-4.° Lugd., 1586 e 1676. 4.° Venete, 1587. 4.° Colon. Agrip.,1604. 4 tomos e Lugd., 1586 e 1676. 4.° Venete, 1587. 4.° Col. Agrip., 1604. 6 tomos in-4.° Summa predicantium. Venete, 1586-1591-1595-1596. Salmante, 1598. 2 tomos in-4.° Marial, etc. Barcelona, 1597 (foi traduzida em italiano). Venete, 1607. 4.° e em latim. Venete, 1605. 8.° Quinze tratados de considerações, etc. Salamanca, 1597, 4.°, e 1602, 4.° e em latim. Veneto, 1595 (239). DINE (Agostinho José Lopes) – Nasceu em Santa Maria (Bragança) a 4 de Maio de 1817; filho de Jacinto José Dine e de Joana Rosa. Casou em 1842 com D. Mariana Cândida de Lima da Fonseca Pinto, filha do doutor em cânones Agostinho José da Fonseca, professor-proprietário da cadeira régia de filosofia em Bragança, natural de Faria, termo de Barcelos, e de D. Mariana Albina de Lima Pinto, do Porto, filha de Miguel José Pinto Castelinho, capitão-director do trem do ouro das obras militares da cidade do Porto, natural da vila de Alfândega da Fé, e de D. Inácia Margarida de Lima, do Porto (240). Eis o que lemos a propósito deste artista: «Com summo prazer satisfazemos aqui um desejo, que ha muito nos assistia – o dirigirmos duas palavras de louvor, e fazermos conhecido fóra desta cidade um jovem artista, por muitos títulos digno de admiração: queremos falar do snr. Agostinho José Lopes Dine, filho de um marceneiro d’esta cidade, e que apoz da sua instrucção primaria não recebeu outra eduçação artistica mais do que a do officio que seu pae exercia. O snr. Dine porém, sem cursar estudos regulares, sem frequentar e praticar com os mestres, unicamente pela força do seu genio, tem desempenhado obras de grande vulto, com assás perfeição e facilidade. O mesmo é apresentar-lhe qualquer producto das artes, e dispôr-se elle a fazel-o, que vê-o logo executado, por complicado e difficil que seja. Eis os factos; e elles falarão por nós e pelo artista. Quiz fazer um piano – e fez um piano: senão perfeitissimo, comtudo melhor do que muitos, que temos visto, vindos de paizes estrangeiros: hoje trabalha em apromptar segundo mais perfeito. Pediram-lhe obras de

(239) O Sumário da Biblioteca Lusitana, Wadding no Annal Seraph. ad an. 1600 e Gil Gonçalves na Hist. Salmant., livro III, cap. III, fazem menção honrosa deste ilustre bragançano, bem como Frei Manuel da Esperança na História Seráfica, tomo I, liv. 1, cap. V. (240) Ver tomo VI, p. 139, destas Memórias.

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DINIS

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talha em gravura, e para mostrar de quanto elle é capaz, para revelar os milagres do seu genio, lá estão – o altar e ornatos de uma capella em Arguzello e outro em Chacim; uma pedra d’armas na villa dos Cortiços e outra no cemiterio d’esta cidade; uma imagem de um Santo Christo em meia grandeza natural na egreja de Carragoza; e as differentes estampas, que tem apparecido n’este jornal (primeira obra sua n’este genero de gravura em madeira), e uma vista da cidade de Bragança, que ainda não sahiu a publico. A maior parte dos desenhos d’estas e d’outras obras são tambem feitos pelo snr. Dine. A madeira, a pedra, o metal, tudo obedece ao magico poder do seu genio; para elle não ha difficuldades! O que seria o snr. Dine se a arte lhe ouvera revelado os seus processos, os seus segredos e todos os meios de que ela dispõe?! Em outro paiz, o snr. Dine teria admiradores, teria protectores, teria a riqueza e gloria... gloria para elle e para a sua patria: em Portugal vive pobre, desconhecido, ou menospresado!...» (241). No cemitério público em Bragança há um escudo gravado numa pedra mole (talco) embutida noutra de granito em uma sepultura (já publicado sob o número 32 no VI vol. destas Memórias), que tem este letreiro: «DINNE EXCULPIO», a documentar o trabalho deste artista. Pelo mesmo teor há outro escudo numa casa da rua de Trás (hoje rua Conselheiro Abílio Beça), que deve também ser obra de Dine, mas não está assinado. Nos quatro lados da pedra em que está esculpido o escudo há uma inscrição ilegível por estar coberta de cal. DINIS (José Caetano Teixeira) – Doutor. Há dele uma tese de direito canónico, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, defendida no seu doutoramento, impressa em três planas em seda vermelha, servindo de véu de cálix. Não indica ano nem lugar de impressão. Pertence à colecção do ilustrado abade de Carviçais, José Augusto Tavares, que diz ser José Caetano Dinis, natural do Felgar. DINIS (S. Nicolau) – Jesuíta, natural de Bragança. Em 1569 partiu do Brasil para Roma, Inácio de Azevedo a tratar de certos negócios concernentes à Ordem, e Francisco de Borja, geral dela, hoje canonizado, atendendo à falta de missionários que tinha o Brasil, deu-lhe licença para levar alguns da província de Portugal. Conseguiu juntar trinta e nove e partiu em 1570 com a frota que naquele ano ia para o Brasil com o governador D. Luís de Vasconcelos. Os jesuítas iam na nau Santiago, que Inácio de Azevedo fretara a meias na cidade do Porto. Chegados às ilhas da Madeira deteve-se alguns (241) O Farol Trasmontano, n° 12, correspondente a Agosto de 1845.

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dias o governador, esperando tempo próprio, por recear as calmarias da Guiné; mas Inácio, com a nau já citada, pediu licença para chegar à ilha da Palma, uma das Canárias; o governador deu-lhe a licença a custo, com receio dos corsários que infestavam aqueles mares. Todavia, Inácio parte, e no mesmo porto da ilha de Palma é surpreendido pelo corsário huguenote Jacques Saria, um dos mais temíveis daquele tempo, que vingava o massacre de São Bartolomeu, trucidando os cristãos que encontrava. À vista do perigo, a nau Santiago procurou defender-se, vendendo os seus tripulantes caras as vidas, mas foi rendida e os quarenta jesuítas mortos, sendo o primeiro Inácio de Azevedo. Bento de Castro, natural de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros foi o segundo. No primeiro ataque dos inimigos, despedindo-se dos demais irmãos, esforçadamente se foi meter entre os que brigavam, empunhando uma cruz para assim dar claro testemunho da fé que professava, animando em alta voz os seus companheiros a que pelejassem pela igreja romana, desenganando ao mesmo tempo os hereges da sua cegueira. Foi passado com três arcabuzadas, e não sendo estas bastantes para que caísse, lhe deram mais sete punhaladas, «dadas à mão tente». Abraçado à cruz, protestando a fé católica em que morria, Bento de Castro caiu desmaiado, e meio-vivo foi lançado ao mar, onde se afogou. Tinha vinte sete anos de idade e havia nove que entrara na Ordem. Exercia na nau o ofício de mestre de noviços e era insigne em virtudes, principalmente na caridade. Contra os demais jesuítas que iam na nau decretou Jacques Saria sentença de morte, por irem – dizia ele – ao Brasil pregar falsa doutrina; e assim se cumpriu, porém com esta diferença: os que tinham coroa aberta foram primeiro apunhalados e depois lançados ao mar; e os que a não tinham sofriam somente o último suplício. Deste número fazia parte o irmão Nicolau Dinis, natural de Bragança, de dezassete anos de idade e professo no Colégio da Companhia da mesma cidade. «Sendo ainda estudante de fora – diz a “Crónica” – dizia muitas vezes seu mestre que o coração lhe adivinhava que havia de ser martyr. Emquanto esperava no colégio de Bragança recado do padre Inácio de Azevedo para a viagem, concertado entrou na casa onde fazia seu officio o irmão dispenseiro e o achou rebentando de prazer e como alienado de si de pura alegria e preguntado pela causa disse: que naquella hora lhe tinha revelado o Senhor que dahi a pouco tempo havia de ser martyr. Viram os de Bragança a certeza do que elle lhes disse. Chegaram estas novas áquella cidade a tempo que nella assestia o bispo D. Antonio Pinheiro o qual prégando ao povo, depois de dar graças a Deus, disse: O nosso Nicolau que aqui vistes andar pelas ruas de Bragança é martyr glorioso de Christo com grande corôa de gloria para sempre, e eu bispo não sei se me heide salvar». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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DOUTEL

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O martírio destes quarenta jesuítas teve lugar a 15 de Julho de 1570. Santa Teresa de Jesus diz que os viu entrar no céu com a auréola do martírio, e conheceu até um que era seu parente, como diz Frei Diogo de Yepes, bispo de Tarragona, na vida desta santa (242). Posteriormente foram canonizados todos estes quarenta mártires com Santo Inácio de Azevedo, seu chefe, e na diocese de Bragança, da qual dois eram naturais, têm estes reza especial a 15 ou 20 de Julho. Na diocese de Bragança reza-se de muitos santos, que supusemos, por esse motivo, seriam dela naturais; afinal, depois de largas pesquisas que muito trabalho nos deram, chegando mesmo a ver os processos da canonização de muitos, arquivados em Roma, na biblioteca da respectiva congregação, vimos que nem sempre é esse o motivo, pois há inúmeras cidades e lugares «que rezão de diversos santos que não forão seus naturaes; ou por gozarem de suas reliquias; ou por algum favor, e mercê, que do ceo por seo meio recebessem; ou também por serem avogados de particulares necessidades» (243) e ainda para o prelado diocesano comprazer a Roma em ordem a conveniências pessoais. DOMINGOS JOSÉ – Sargento, que se distinguiu no ataque de Puebla de Sanábria em 1810 contra os franceses (244). DOUTEL (António José) – Alferes, que igualmente muito se distinguiu nas lutas contra os franceses e nas constitucionais (245). D OUTEL DE ALMEIDA (António Venceslau) – Fidalgo da casa real, que muito se distinguiu também nas guerras contra os franceses (246). DOUTEL DE ALMEIDA (Bernardo) – Primeiro barão de Portela por decreto de 26 de Outubro de 1823, moço-fidalgo com exercício, comendador da ordem de Avis, cavaleiro da Torre e Espada, da Legião de Honra de França, condecorado com a cruz de ouro de seis campanhas da guerra peninsular, marechal-de-campo reformado, alcaide-mor de Alcobaça e comandante da guarda real da polícia em 1823. Nasceu a 22 de Janeiro de 1789 e faleceu em Aldeia Galega da Merceana a 25 de Agosto de 1876; era filho de Antó(242) VASCONCELOS, Simão de – Crónica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil, livro IV, n.os 37, 52, 68 e 93. (243) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, 1652, tomo I, p. 224, referente ao dia 22 de Janeiro. (244) Ver tomo I, p. 159 e 161, destas Memórias. (245) Ibidem, p. 165 e 196. (246) Ibidem, p. 131.

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DOUTEL

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D. DUARTE

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EBEN

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ESCOBAR

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ESPÍRITO SANTO

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nio Venceslau Doutel de Almeida Machado e Vasconcelos, senhor de vários morgados em Bragança e Eixes, concelho de Mirandela, fidalgo da casa real, coronel de cavalaria e governador de Chaves, e de D. Maria Joaquina Madureira de Morais Sarmento (247). DOUTEL (João José) – Alferes de infantaria n° 24, que estava na praça de Almeida em 1810 quando se deu a explosão (248). DOUTEL DE FIGUEIREDO SARMENTO (Manuel) – Das Aguieiras, quinta dos Chairos, onde nasceu em 1801; filho de Miguel Pires e de D. Maria Josefa Doutel; neto paterno de Domingos Rodrigues e de D. Isabel Pires, das referidas povoação e quinta, e materno de António Venceslau e de D. Maria de Almeida, ambos de Bragança. Foi provido em 1820 no canonicato que nele resignou seu tio Manuel Doutel de Almeida, fidalgo da casa real e cavaleiro da ordem de Cristo, natural de Bragança (249). D. DUARTE – Senhor de Bragança pelos anos de 1439. Ver tomo I, pág. 285, destas Memórias.

E E BEN (Barão de) – Foi nomeado em 1813 governador das armas da província de Trás-os-Montes em substituição do general conde de Amarante (250). ESCOBAR (Manuel de) – Presbítero-jesuíta. Nasceu em Celorico da Beira em 1587 e faleceu no colégio de Coimbra a 18 de Novembro de 1652. Além de outras obras, deixou o seguinte manuscrito, que está na Biblioteca de Évora: Relação dos Jesuítas mortos desde 1568 até 1616 em Bragança. Cabo Verde, Guiné, etc. (251). ESPÍRITO SANTO (Jordão do) – Natural de Ovelha, segundo a Corografia Portuguesa, ou de Teixeira, junto a Mesão Frio, no dizer do Hagiológio Lusitano; foi o fundador da ermida de Nossa Senhora da Teixeira no termo da (247) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Portela». (248) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (249) Museu Regional de Bragança, maço n° 1, Cónegos. (250) CHABY – Excertos históricos, parte III, vol. IV, p. 684. (251) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Escobar (padre Manuel de)».

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ESPÍRITO SANTO

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ESTEVES

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FABIÃO

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FÁBIO

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sua naturalidade e não junto a Moncorvo, como quer a mesma Corografia. Faleceu a 21 de Fevereiro de 1510 (252). ESTEVES (João Baptista Fernandes) – Na Paradinha, concelho de Bragança, havia dele um véu de cálix (agora em poder do padre Albano de Jesus Falcão, de Bragança), de seda cor de laranja, com umas teses físico-médico-cirúrgicas, dedicadas a Nossa Senhora das Neves e por ele defendidas em Salamanca a 13 de Maio de 1756 e impressas na mesma cidade apud Garcia de Honorato, Tip. Universitat. É dos véus mais ornamentados que temos visto; infelizmente, porém, está muito manchado e dilacerado com prejuízo do texto. A tese está envolta por larga tarja rectangular, formada por rosas e cravos em cuja semente debicam aves e pousam mariposas. Em volta desta tarja há uma outra formada de vários ornatos: sol, lua em campo estrelado e vasos com enormes ramos de flores.

F FABIÃO (Francisco António) – Presbítero, natural de Castro Vicente, onde nasceu a 20 de Março de 1836; era filho de João Manuel Fabião e de D. Luísa de Barbosa. Estudou e ordenou-se de presbítero em Braga. Pelos anos de 1892 a 1896 foi pároco encomendado na freguesia da Sé em Bragança e depois na de Mascarenhas, concelho de Mirandela. Faleceu em Peredo, concelho de Macedo de Cavaleiros, quando se retirava de pároco de Mascarenhas para a sua terra natal, às sete horas da noite de 6 de Janeiro de 1903, indo o seu cadáver a sepultar a Castro Vicente. Escreveu: Bosquejos de recordações do passado ou a Infância e a Cruz. Braga, 1871, Tip. Lealdade. 8.° de 141 págs. Também colaborou em A Palavra e outros jornais. O padre Fabião era filho de pais pobres, mas graças à generosa protecção de seu tio Manuel António Fernandes e à boa vontade do arcebispo de Braga D. José Joaquim de Azevedo e Moura, natural de Alfândega da Fé, quase seu vizinho, conseguiu ordenar-se de presbítero, cargo que honrou com a sua muita virtude. FÁBIO (António do Nascimento Rodrigues) – Natural de Bragança, onde nasceu a 7 de Abril de 1886 e suicidou-se, desfechando um tiro de revólver nos miolos, a 29 de Abril de 1905.

(252) CARDOSO, Jorge – Hagiológico Lusitano, referente ao dia 21 de Fevereiro.

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FÁBIO

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FALCÃO

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FARIA

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Escreveu: O Helicon. Bragança, Tip. de Ferreira Soeiro, 1904. 4.° de 67 págs. Deixou também alguma colaboração em prosa e verso nos jornais de Bragança. FALCÃO (Antero) e também Antero Falcão Leite de Seabra – Juiz de direito aposentado, residente no Porto (253). Escreveu: Breves apontamentos para a história genealógica de algumas famílias da província. Saíram na Enciclopédia das Famílias (1903 e 1904). FALCÃO (Manuel Machado) – Alferes, que muito se distinguiu durante a guerra peninsular (1808-1815). Ver o tomo I, págs. 159 e 161, destas Memórias, onde saiu com o apelido errado de Talião em vez de Falcão. FARIA (Eduardo Ernesto de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Miranda do Douro a 16 de Abril de 1871; filho do doutor Francisco Inácio Rebelo de Faria e de D. Quitéria Margarida Pinto. Concluída a sua formatura em 1895, foi para o Mogadouro exercer a advocacia, onde também serviu como administrador e conservador. Em 1900 veio para Bragança, continuando no exercício da advocacia e no cargo de escrivão-notário, que exerceu durante dois anos. Em 1905 fez concurso para uma cadeira liceal, sendo provido no Liceu Nacional de Bragança por decreto de 9 de Fevereiro de 1906. Escreveu: Minuta de Agravo e Acórdão da Relação do Porto, proferido sobre um despacho que anulou os termos duma apelação interposta em processo crime por transgressão da lei reguladora da liberdade de imprensa, de que era acusado o Reverendo Padre José Cardoso Figueira. Coimbra, Imp. Académica, 1900. 8.° fr. de 30 págs. FARIA (João de) – Natural de Miranda do Douro. Escreveu: Calendário dos tempos do ano de 1611 e outro do ano de 1616 com uma paroganação dos varões ilustres antigos com os de Portugal. Lisboa. 8.° Prognóstico, Lunário e Calendário dos tempos deste ano de 1612 que é bissexto ao meridiano de Lisboa. Relata-se no fim uma relação curiosa dos Arcebispos, Bispos, Duques, Marqueses e Condes que há em Portugal. Lisboa. 8.° Ambos estes opúsculos são muito raros (254).

(253) Ver tomo VI, p. 517, destas Memórias. (254) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico e Sumário da Biblioteca Lusitana.

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FARIA

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FAYA

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FEIJÓ

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FARIA (Manuel Severim de) – Chantre e cónego da Sé de Évora. Escreveu, além de outras importantes obras: Itinerário que fez o Sr. Manuel Severim de Faria, chantre e cónego da Sé de Évora, a Miranda no ano de 1609. Manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa. Em 1897 tinha ali a seguinte marcação: Y – 2 – 55. Severim de Faria viera comissionado pelo cabido de Évora felicitar o bispo D. Diogo de Sousa, eleito para aquela Sé. As impressões da região, com algumas antiguidades, constituem o objecto da obra, da qual José Leite de Vasconcelos fez extractos nos seus Estudos de Filologia Mirandesa e Religiões da Lusitânia. O Sumário da Biblioteca Lusitana dá notícia de outro manuscrito de Manuel Severim, intitulado: Relação de outra jornada que fez em 1625. FAYA (Pero de la) – Foi o arquitecto ou mestre-de-obras da actual Sé Catedral de Bragança e Seminário, cujas obras estavam concluídas, ou pelo menos muito adiantadas, em 30 de Maio de 1545. Também arrematou a construção da ponte do Jorge na mesma cidade, obra que não realizou por se encontrar doente, e trabalhou na Sé de Miranda do Douro. Faleceu em Bragança e foi sepultado na antiga igreja matriz de S. João, onde hoje se encontra o edifício da agência do Banco de Portugal. Nas colunas e escadaria do claustro da mesma Sé também trabalhou um outro arquitecto de nome Fernão Pires (255). Deixou família em Bragança, pois no livro dos óbitos da freguesia de Santa Maria, ano de 1660, encontra-se o assento de «António de Lafaia, mercador». FEIJÓ (Padre João de Morais Madureira) – Jesuíta egresso, bacharel em teologia pela Universidade de Coimbra e prior na vila de Ançã, bispado de Coimbra. Era natural de Parada dos Infanções, concelho de Bragança, onde nasceu a 21 de Março de 1688, falecendo na vila de Ançã a 29 de Outubro de 1741. Pertencia à nobilíssima família dos Madureiras Feijós, fidalgos de solar (256). Escreveu: Arte explicada – Parte I – Princípios. Contém todos os nominativos, linguagens, rudimentos, géneros, pretéritos e declinações dos latinos e gregos, etc. Lisboa, 1735. 4.° Parte II – Sintaxe. Lisboa, 1730. 4.° – Coimbra, 1739. 4.° de 455 págs. e 14 inumeradas. Apêndice da sintaxe perfeita, e segundo tomo da segunda parte. Escólios de nomes e verbos. Lisboa, 1732. 4.° – Coimbra, 1739. 4.° (255) Ver: tomo II, p. 280, tomo III, p. 233, e tomo IV, p. 522 e 613, destas Memórias. (256) Ver tomo VI, p. 356, destas Memórias.

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Parte III – Tomo IV – Sintaxe figurada, sílaba e versos, com a medição. Lisboa, 1732. 4.° de 214 págs. – Coimbra, 1739. 4.° Ortografia, ou arte de pronunciar com acerto a língua portuguesa. Dividida em três partes. A 1.ª, de cada uma das letras, e da sua pronunciação; das vogais e ditongos, dos acentos, ou tons da pronunciação. A 2.ª, de como se dividem as palavras; da pontuação; algumas abreviaturas, conta dos romanos, e latinos, Calendas, Nonas e Idos. A 3.ª, dos erros do vulgo, emendas de ortografia no escrever e pronunciar toda a língua portuguesa. Verbos irregulares, palavras dúbias, e as suas significações. Uma breve instrução para os mestres das escolas. Lisboa, 1734. Segunda edição. Coimbra, 1739. 4.° de VIII-548 págs. «A décima edição d’esta obra – diz Inocêncio F. da Silva – sahiu em 1824, e depois d’esta teem sahido não sei quantas; uma que tenho presente é de Lisboa de 1836 (4.°) e tudo se tem exgotado a ponto de se pensar em nova edição». Depois, Brito Aranha, continuador de Inocêncio (Dicionário Bibliográfico, tomo X), torna a falar deste escritor, dando o título desta obra um tanto modificado, e aconselha que a respeito dela se consultem a Lira Poética, 2.ª série, tomo I, pág. XIV, as notas do mesmo tomo, pág. 111, o artigo inserto no referido Dicionário relativo a José Barbosa Leão e a controvérsia a que deu lugar o seu sistema ortográfico, na qual interveio a Academia Real das Ciências. As obras acima mencionadas foram escritas para instrução do duque de Lafões, D. Pedro de Sousa Tavares, discípulo do autor. O padre Madureira Feijó é considerado como o melhor comentador do método gramatical do jesuíta Manuel Álvares, então adoptado em todo o país. «Vê-se, pois – continua Inocêncio – que não obstante a censura do padre José Freire, que, nas suas Reflexões sobre a lingua Portugueza, chama ao Madureira “cego fautor da orthografia portugueza, sempre encostada á latina, sustentando opiniões que os criticos não quizeram adoptar, e que o uso ainda reprova”, a sua Orthografia ha sido sempre a mais seguida e geral entre nós. Não conseguiram ainda desapossal-o de todo da supremacia que uma vez tomou, tantas e tão repetidas tentativas, quaes foram as dos orthographos, que no passado e no presente seculos emprehenderam introduzir systemas inteiramente diversos, ou modificar o methodo adoptado á vontade de cada qual, apoiando-se para esse effeito em razões mais ou menos plausiveis, e em casos especiosos. Nenhum d’elles pode alcançar para si o triumpho a que aspirava; e o mais que obtiveram todos juntos com as suas regras e doutrinas encontradas e contradictorias, foi reduzir-nos ao estado anarchico a que chegamos... Ninguem ha que o não lamente, e não deseje vel-o remediado: mas os alvitres até agora propostos, inefficazes uns, inadmissiveis outros, teem augmentado o mal, enredando cada vez mais o negocio. E MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


FEIJÓ

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FEIO

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assim continuaremos talvez por muito tempo na situação excepcional de sermos, creio, a nação unica da Europa que ainda não pôde fixar a sua orthografia». O professor António Félix Mendes, sob o pseudónimo de «João Pedro do Vale», nas suas Memórias para a história literária de Portugal, a pág. 5, esforçou-se por mostrar a inutilidade da Arte de Madureira e os males que causou ao estudo da boa latinidade (257). O marquês de Pombal, ansioso de extinguir tudo quanto cheirasse a jesuíta, por alvará de 28 de Junho de 1759, diz, no n° 8.° relativamente aos professores de gramática latina: «Prohibo que nas classes de latim se use dos commentarios de Manuel Alvares, como Antonio Franco, João Nunes Freire, José Soares e em especial de Madureira, mais extenso e mais inutil». Este juízo do jesuitófobo Pombal em nada desfalca os créditos do padre Madureira Feijó; quem inspirou e patrocinou a Dedução Cronológica e Analítica, o Compêndio histórico do estado da Universidade de Coimbra e similares, não tem autoridade bastante para acoimar de «inútil» a obra de Madureira. Mas Pombal era assim! «João Pedro Ribeiro nos conta que um dos collaboradores da parte do mesmo Compendio historico relativa ás sciencias naturaes, confessara a tortura em que se achou, vendo-se na necessidade de imputar aos jesuitas tambem a corrupção entre nós da chymica!» (258) É certo que as desastrosas consequências de Alcácer Quibir, a sujeição de sessenta anos à Espanha e logo em seguida a porfiada guerra de vinte e oito anos que com esta nação mantivemos, mais que os jesuítas precipitaram a decadência dos estudos em Portugal. A despeito destas perseguições, a competência do padre Madureira passou à literatura. Nicolau Tolentino diz-nos: Com o Madureira na mão Revelaram altos segredos D’advérbio e conjunção. Escreveu mais: Explicate in omnes partes Arti Pe. Alvares. Ulissip., 1724. 4.° – Dissidium de primatu inter insulas, vulgo dos Açores. Tragédia. Verior Ganimedis raptus (259). FEIO (Luís António) – Oficial de infantaria n° 24, que estava na praça de Almeida em 1810 quando ela foi pelos ares (260).

(257) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico… (258) Ibidem, Dicionário Bibliográfico, artigo «Compêndio histórico», etc. (259) Sumário da Biblioteca Lusitana. (260) Ver tomo I, p. 166, destas Memórias.

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FELGUEIRAS JÚNIOR

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FÉLIX

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FERNANDES

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FELGUEIRAS JÚNIOR (Francisco do Patrocínio) – Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária, intendente de pecuária do distrito de Bragança. Nasceu nesta cidade (Santa Maria) a 6 de Agosto de 1893; filho de Francisco do Patrocínio Felgueiras e de D. Adelina Augusta Ramires Lobo. Fez os preparatórios liceais em Bragança e Lisboa, concluindo o curso da especialidade em 1920. Foi presidente da Junta Geral do distrito de Bragança, administrador deste concelho e professor provisório do nosso liceu. Escreveu: Considerações sobre o gado caprino do distrito de Bragança – Tese de doutorado. Bragança, 1919, Tip. Adriano Rodrigues, rua Direita, 171. 8.° de 57 + 2 (inumeradas) págs. Do leite para consumo no distrito de Bragança. Tip. Académica, Bragança, 1928. 8.° de 12 págs. Agenda Brigantina para 1927. Idem, para 1928. Estas Agendas, espécies de almanaques de perto de 300 págs., em formato de 20.°, com esplêndidas gravuras de monumentos do distrito de Bragança, acompanhadas de artigos de arte, história, etnografia, folclore, arqueologia, etc., de diversos autores, referentes ao mesmo distrito, são essencialmente regionais e deveras interessantes como demonstração de arte, como factor educativo e económico, pelos muitos anúncios comerciais e industriais que encerram e que hão-de certamente ter importância enorme no futuro, pela fixação do nosso património artístico. Que Felgueiras Júnior não esmoreça e que os bragançanos lhe compreendam o plano benemerente e o auxiliem. Francisco Felgueiras tem escrito algumas peças dramáticas de costumes locais, como a Calaiolândia, de colaboração com Luís de Portugal da Fonseca e Melo, professor da Escola Industrial de Bragança, e que foram representadas no teatro desta cidade com grande êxito. Escreveu mais: Bragança, região de carbúnculo. Tip. Académica, Bragança, 1929. 8.° de 16 págs. A raiva. Mesma tip., 1929. 8.° de 12 págs. Tem em preparação a Profilaxia das doenças rubras. Estes opúsculos pertencem à colecção Leituras do Lavrador, fundada pelo autor no louvável intuito de promover a instrução e progresso agrícolas. FÉLIX (Francisco) – Pintor, de Pinelo, concelho do Vimioso, que viveu pelos anos de 1853. Ver Pereira (Caetano Joaquim). FERNANDES (Albino Manuel) – Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária. Nasceu em Angueira, concelho do Vimioso, a 5 de Junho de 1893; filho de Domingos José Fernandes e de D. Emerência Porto FernanMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


FERNANDES

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des. Em Setembro de 1920 foi nomeado veterinário do quadro da província de Moçambique e actualmente é director do posto zootécnico do distrito de Inhambane. Escreveu: Melhoramento do bovino mirandês e sua exploração – Dissertação inaugural. Lisboa, 1919. 8.° de 56 págs. FERNANDES (António) – Em 1569 era ele o mestre da obra que se fazia no castelo de Freixo de Espada à Cinta. Eis a respectiva carta régia: «Eu el Rey faço saber aos que este alvará virem que eu ey por bem e me praz, que em quanto durarem as obras que tenho mandado fazer no castelo da vylla de Freyxo despada cinta, de que he mestre Antonio Fernandez, os bois de caro e bestas do dito Antonio Fernandez, que servirem nas ditas obras, possão beber em quaes quer augoas que ouver no termo e lemite da dita vylla e asy posão amdar e pastar em quaes quer lugares defezos e coymeiros e nas coutadas da dita vylla, tiramdo a coutada dos prados de sememteira dos lavradores, em que não pastarão, e em todas as outras poderão amdar e pastar, como dito he, sem por yso pagarem coyma algûa e fazendo perda ou dano em pam, vinho, azeyte, ortas ou arvores de fruyto, ele Antonio Fernandez o pagara, segundo for alvidrada e estimada por pesoas que ho entendão, e asy ey por bem que os caros que servirem na dita obra posão pasar por quaes quer teras e erdades, não sendo tapadas, sem pagarem coyma, pagando a seus donos a perda que com yso fizerem, e asy me praz que ele posa pera a dita obra apanhar e cavar area homde quer que se achar sem por yso se pagar coyma e fazemdo se pera yso algûa cova ou covas quem as fizer as tapara as fara tapar a sua custa tanto que darea delas não ouver necesydade pera a dita obra, e porem as ditas covas se não farão em parte que faça dano a algûas arvores de fruyto nem em teras que estiverem semeadas ou alquevadas pera semear ou tapadas pera se nelas pramtarem vynhas, e este se comprira em quanto as ditas obras durarem ou eu não mandar o contrario ........... Baltezar Feraz o fez en Almeyrin a 5 de Março de 1569 ............... » (261). «Antonio Fernandes. Mestre de cantaria que por 8:000 cruzados acceitou fazer calçadas e cinco olhaes de pontes e outras obras em Villarinho da Castanheira. Eis o alvará d’onde isto consta, passado por el-rei Filippe 2.°: Eu el Rey faço saber a vos, provedor da villa da Torre de Memcorvo, que avendo respeito ao que os officiaes da câmara da villa de Vilarinho da Cas(261) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, artigo «Fernandes (António) 1.°».

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tanheira me enviarão dizer pella sua carta aqui junta, e vistas as enformações que sobre isso me forão dadas pelo licenceado Antonio Veloso, servindo de provedor dessa comarca; ey por bem e vos mando que torneis a por em preguão as obras e redeficação da calçada e cinco olhaes de pontes que se hão de fazer nos cinco ribeiros, de que na dita carta fazem menção, e as arematareis a pesoa que nellas fizer o mais baixo e seguro lanço, não passando de conthia de oito mil cruzados, que nas ditas obras ja lançou Antonio Fernandez, mestre de cantaria, o que assy fareis pella traça e apontamentos de que com este vos será o treslado asynado por João da Costa, meu escrivã da camara, e da contia em que assy forem arrematadas as ditas obras, fareis lançar finta pellos moradores das comarcas de Coimbra, Guarda, Vizeu, Torre de Mencorvo, Miranda, e Chaves com declarações que no lançamento da dita finta se tera respeito ao grande rendimento que acrece á barca do concelho da dita villa de Villarinho com as ditas obras se fazerem, para conforme a isso se lançar a ella a mais na dita finta, qual se lançara conforme a ordenação, e o dinheiro della se não podera despender em outra algûa cousa mais que nas ditas obras para se poderem fazer e acabar com a brevidade e deligencia que é necesaria...... e na repartição da dita contia tereis tal advertencia que as comarcas que tiverem mais continua pasagem pellas ditas calçadas e pontes paguem mais que os que tiverem menos pasagem ..................... Sebastião Pereira o fez em Lixboa a XX de Setembro de 1611» (262). No mesmo Dicionário faz-se menção de outro António Fernandes, mestre de pontes e de obras de cantaria, morador na Torre de Moncorvo, que por ordem régia de 10 de Fevereiro de 1612 foi incumbido de construir uma ponte sobre o rio Côa, na vila de Longroiva, cuja obra arrematara por 12000 cruzados. Para os gastos dela concorreram, além de outras comarcas: Miranda, Bragança e Torre de Moncorvo. Talvez este mesmo fosse o que construiu a ponte sobre o rio Quintela, entre a vila de Mós e Freixo de Espada à Cinta, como se vê do seguinte documento: «Eu el Rey faço saber a vos provedor da comarca da villa da Torre de Moncorvo que os officiaes da camara e moradores da villa de Mos me enviarão diser que polla grande necessydade que avia de se fazer hûa pomte de pedraria no rio que se chama Quintella emtre a dita villa e de Freixo despada simta me pedião ouvese por bem que assy se ordenasse, ...... e como foi arrematada em quatro centos mil rs., que foy o menor lamço que nella

(262) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, artigo «Fernandes (António) 2.°».

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fez Antonio Fernandez, mestre de obras, de que se tem emtemdido que a fara bem e com toda a seguramça que comvem para ficar segura, ey por bem e vos mando que façaes logo lamçar finta da dita comtia dos 400:000 rs. pollos moradores dessa comarqua e das comarcas de Miranda, Lamego e Pinhel, que pareceo que avião de pagar para esta pomte......................... Lixboa a 24 de Outubro de 1608» (263). Depois, o autor no Suplemento menciona ainda outro António Fernandes, mestre da obra do castelo da vila da Torre de Moncorvo, em 1556, a quem el-rei perdoou por haver vendido duzentos alqueires de trigo a 110 e 115 réis o alqueire, pois mostrou que o recebera em paga de serviços da sua arte e não o havia comprado para revender. FERNANDES (António Manuel) – Doutor pela Faculdade de Medicina do Porto; natural de Moimenta, concelho de Vinhais, onde nasceu a 29 de Outubro de 1892, filho de Francisco Fernandes e de D. Maria do Carmo Fernandes. Exerce a clínica em Vinhais e foi membro da Junta Geral do distrito. Escreveu: Cura radical do cancro do pénis – Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina do Porto. Fevereiro de 1921. Porto, 1921. 8.° de 47 págs. FERNANDES (Padre João Domingos) – Natural de Varge, freguesia de Aveleda, concelho de Bragança, onde nasceu a 14 de Setembro de 1844; filho de Pedro Fernandes, de Deilão, e de Ana Afonso, da Varge; neto paterno de André Fernandes e de Domingas Baçala, de Varge, e materno de Manuel Afonso, de Varge, e de Cecília Palmeira, de Sacoias. Faleceu em Varge a 26 de Novembro de 1910. Logo que se ordenou de presbítero foi nomeado professor de latim para o Colégio das Missões Ultramarinas em Cernache do Bonjardim e lá se conservou sempre com grande fama de virtude e de saber, até que em 1886, por falta de saúde, veio para o Seminário de Bragança, onde regeu as cadeiras de aritmética e geometria, servindo ao mesmo tempo de secretário do estabelecimento e de director da disciplina interna. O padre João Domingos Fernandes era um dos sacerdotes mais distintos do clero bragançano, pela sua muita virtude e profundeza de conhecimentos; redigiu em latim muitas mensagens que da diocese de Bragança foram enviadas ao Sumo Pontífice por ocasião de faustosos acontecimentos e passava por competentíssimo nesta língua e na portuguesa, sendo para lamentar que nada publicasse. (263) Ibidem, artigo «Fernandes (António) 2.°».

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FERNANDES (José Agostinho) – Mestre-de-obras, natural de Coelhoso. Em 1788 arrematou as obras de carpinteiro e pedreiro da capela-mor e sacristia da igreja matriz da Paradinha Nova, concelho de Bragança, por 370$000 réis (264). É possível que fosse mestre-pedreiro, porque a parte de carpinteiro da mesma obra foi adjudicada ao mestre João Tomé de Morais, de Parada. FERNANDES (Pedro) – Entalhador. Foi eleito tesoureiro da Câmara Municipal de Bragança para servir no ano de 1636 (265). FERREIRA (Agostinho de Bem) – Formado em direito canónico pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Maçores, concelho de Moncorvo, a 3 de Agosto de 1681 e vivia ainda em 1759; filho de Apolinário Francisco e Catarina Esteves. Estudou direito pontifício na Universidade de Salamanca, passando em 1703 a Coimbra, onde recebeu o grau de bacharel a 17 de Junho de 1704, doutorando-se a 27 de Maio de 1710. Depois de ler no Desembargo do Paço, com o maior aplauso, foi eleito juiz de fora para Trancoso, lugar que não aceitou, continuando a exercer a advocacia, em Lisboa por mais de vinte e seis anos. Escreveu: Suma da Instituta, com remissões ao Direito de que se deduz, Ordenações com que se conforma, e doutrina prática. Obra utilíssima para estudantes e políticos de lição. Lisboa, 1739. Quatro tomos em 4.° Teve segunda edição em 1746. Lisboa; dois tomos, fol. Comment. ao Tit. D. De Reg. J. Lisboa, 1740. 4.° (266). F ERREIRA (Albino José de Morais) – Foi funcionário adjunto do comissariado de Instrução Primária de Lisboa, director do «Instituto João de Deus» e professor de instrução primária, em Freixo de Espada à Cinta. Era natural de Bragança, onde nasceu pelos anos de 1845; filho de Firmino de Morais e de D. Ana Ferreira. Faleceu em Lisboa a 21 de Dezembro de 1919. Escreveu: Dialecto mirandês. Lisboa, 1898, Imp. de Libânio da Silva. 8.° de LXXXIV págs., onde vem compreendida a «Gramática mirandesa» e 108 págs. com o Dialecto. Contém ainda o retrato do autor, um mapa a cores da região mirandesa onde se fala este dialecto e gravuras da Senhora do

(264) Ver tomo IV, p. 203, destas Memórias. (265) Documento existente no arquivo da mesma câmara. (266) SILVA, Inocêncio F. da – Dic. Bibliográfico; Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Bem Ferreira», e Sumário da Biblioteca Lusitana.

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Naso, do castelo de Miranda do Douro, da Sé Catedral, costumes mirandeses, dança mirandesa dos «Paulitos» e suas notas musicais, com a competente descrição histórica referente a todos estes assuntos. José Leite de Vasconcelos, nos seus Estudos de filologia mirandesa, vol. I, pág. XII, faz mui desfavorável apreciação do Dialecto mirandês, criticando severamente o seu autor. Albino de Morais traduziu para espanhol a Cartilha maternal de João de Deus, propagando-a largamente pelo país vizinho, merecendo o seu trabalho grandes louvores e larga apreciação de quase toda a imprensa portuguesa. FERREIRA (António) – Marido de D. Helena de Nóvoa, pessoas nobres, ambos de Vinhais, fundadores do convento de freiras de Santa Clara da mesma vila (267). FERREIRA (António Joaquim) – Doutor pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto; natural de Moncorvo. Foi médico no ultramar. Escreveu: Peletierina – Dissertação inaugural apresentada e defendida na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, Tip. Ocidental, 1881. 8.° de 53 págs. FERREIRA (Duarte) – Governador de Vinhais (268). FERREIRA (João) – Capitão, que muito se distinguiu durante o cerco de Vinhais, em 1666, pelo general Pantoja (269). FERREIRA (João) – Mestre-de-obras, de Parada, concelho de Bragança, que arrematou em 1788 por 70$000 réis a pintura da capela-mor e sacristia da igreja matriz da Paradinha Nova, concelho de Bragança (270). FERREIRA (Padre José Maria) e também José Maria Ferreira de Gouveia Pimentel – Nasceu em Pombares, concelho de Bragança, a 14 de Dezembro de 1864; filho de Manuel António Ferreira e de D. Vitorina do Espírito Santo Domingues Ferreira. Concluídos os estudos preparatórios e teológicos no liceu e seminário de Bragança, ordenou-se de presbítero em 1888. Foi pároco em Pombares e Rebordainhos e apresentado em 28 de Dezem-

(267) Ver tomo I, p. 102, destas Memórias. (268) Ver tomo I, p. 103, destas Memórias. (269) Ibidem, p. 104. (270) Ibidem, tomo IV, p. 208.

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bro de 1899 num canonicato da Sé de Bragança com ónus de ensino, regendo desde então, com muita competência, algumas cadeiras de ciências eclesiásticas no seminário da mesma diocese até à proclamação da República em 1910, retirando nessa data para Alvites, concelho de Mirandela, onde reside. Goza merecidamente de créditos de distinto orador sagrado (271), é pregador honorário da capela real e arcipreste do distrito eclesiástico de Rebordãos desde 1896. Escreveu: Pró-Pátria – IV Centenário da descoberta da Índia. Oração gratulatória recitada por ocasião do solene Te-Deum celebrado na Sé Catedral de Bragança no dia 20 de Maio de 1898. Coimbra, Imprensa Académica, 1898. 8.° francês de 28 págs. É dedicada ao bispo da diocese D. José Alves de Mariz. FERREIRA (D. Maria Ermelinda) – Professora primária de Babe, concelho de Bragança, por despacho de 26 de Dezembro de 1894 e provida definitivamente em 1898. Nasceu em Palácios, concelho de Bragança, a 13 de Junho de 1874; filha de Manuel António Ferreira, sobrinho do cónego da Sé de Bragança, doutor Francisco António Ferreira (272), e de D. Ana Maria Fernandes Barreira. Tem colaborado na Gazeta de Bragança, Trás-os-Montes, Civilização Popular, Revista do Bem, Escola Trasmontana, Revista das Escolas, Legionário Trasmontano e noutros, tendo em preparação um livro de versos, onde saem muitos dos belíssimos sonetos que tem publicado em diversos jornais. A Revista do Bem, quinzenário de Lisboa, de 15 de Dezembro de 1906, publicou o seu retrato acompanhado de justas e elogiosas referências e de dados biográficos. FERREIRA (Miguel) – Presbítero de Babe, concelho de Bragança, instituiu uma capela na mesma povoação dedicada a Nossa Senhora de Setembro, com vínculo de morgadio, da qual era administrador em 1732 seu sobrinho padre Francisco Ferreira, de Babe (273). FERREIRA (Pascoal) – Ver artigo Manuscritos.

(271) Veja-se O Nordeste de 18 de Dezembro de 1894, 13 de Julho de 1898 e 10 de Setembro de 1902 e a Gazeta de Bragança de 17 de Setembro de 1899. (272) Ver tomo VI, p. 643, destas Memórias. (273) Museu Regional de Bragança, maço Capelas.

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FIGUEIRA (Padre José Cardoso) – Secretário da Câmara Eclesiástica da diocese de Bragança, abade de Espinhosela e depois de Samil. Nasceu em Ílhavo, diocese de Coimbra (donde veio como secretário do bispo D. José Alves de Mariz), a 21 de Agosto de 1864; filho de Luís Cardoso Figueira e de D. Joana Maria de Oliveira. Escreveu: O programa de «O Baixo Clero». 8.° de 13 págs. 1899. Sem nome de autor nem tipografia. Depois, na Gazeta de Bragança de 24 de Fevereiro de 1907, o padre Cardoso Figueira declarou ser de sua autoria. Este opúsculo é um desforço contra o periódico O Baixo Clero, cujo proprietário era «José Joaquim Garcia Rodrigues, genro do reverendo capellão militar João Manuel d’Almeida Pessanha», redactor daquele periódico. João Pessanha conseguiu que Figueira, logo desde o princípio indigitado como autor do opúsculo, fosse chamado aos tribunais, mas ficou absolvido. Ver Faria (Eduardo Ernesto de). FIGUEIREDO (António Esteves Pinheiro de) – Natural de Rabal, concelho de Bragança; doutor em direito pela Universidade de Coimbra, cavaleiro professo da ordem da Milícia Dourada do Sacro Palácio Pontifício, desembargador da Mesa Episcopal do Despacho, examinador sinodal e abade de Podence, diocese de Bragança, tio do doutor em leis António José Pinheiro de Figueiredo Sarmento, juiz de fora da capitania de Benguela, bisneto de Pedro Esteves, sexto avô materno do autor destas linhas (274). A 8 de Janeiro de 1759, data em que foi provido na abadia de Podence pelo bispo D. Frei Aleixo Miranda Henriques, era mestre de cerimónias e capelão do mesmo bispo. No arquivo da igreja de Podence há um livro que contém os autos de posse dos abades da mesma desde 1631 e diz a parte respectiva: «Antonio Esteves Pinheiro de Figueiredo, natural de Rabal, foi provido em concurso, pelo Ex.mo e Rd.mo Sr. Bispo, D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, no ano de 1759, falecendo a 27 de abril de 1782. Tomou posse da igreja a 10 de janeiro de 1759». Na referida igreja de Podence, lado do Evangelho, há um lindo altar em talha dourada, onde agora (1927) se venera a imagem do Coração de Jesus, mandado fazer por este abade, como se vê da seguinte inscrição que nele está: «Este altar de S. João o mandou fazer o Rd.o Abb.e D.or Antonio Esteves Pinheiro de Figueiredo. No anno de 1781». Ainda na mesma igreja, lado da Epístola, no altar da Senhora das Dores, há um pequeno painel, onde se vê, mal pintada, uma figura que o artista

(274) Ver tomo IV, p. 662, destas Memórias.

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quis fazer do abade no leito da agonia, onde se lê o seguinte: «milagre evidentissimo q. fes nossa senhora das dores no Rd.o Antonio Esteves Pinheiro e Figueiredo abb.e de Podence o qual stando por instantes sofocandose d’uma apostema que de repente lhe sobrebeu na garganta; por intermedio da divina senhora em menos de meia hora se viu libre do dito perigo socedeu amanhecendo ao dia 6 de dezembro, 1775». Em 1759 fundou o padre Pinheiro de Figueiredo, na mesma igreja de Podence, a confraria de Nossa Senhora das Dores, da qual ainda se conserva no arquivo paroquial a respectiva bula, concedida pelo geral dos dominicanos em Roma, bem como os estatutos por ele redigidos (275). Temos deste escritor uma tese de direito canónico, que depositamos nos caixões das vestes sagradas da igreja paroquial de Baçal, defendida no quinto ano do seu curso em Coimbra, dedicada a Maria Santíssima sob os títulos de Senhora da Assunção, do Salvador e do Loreto e a sua mãe Santa Ana (sem indicação do lugar onde era venerada), impressa de frente em três planas, em véu de cálix, em seda vermelha. Conimbricæ: Ex Typ. in Regio Artium Collegio Societ. Jesu Anno Domini 1742 (276). FIGUEIREDO (António Lopes de) – Cónego da Sé de Bragança. Escreveu: Notícia histórica das cidades, vilas e casas ilustres da província do Minho. Braga, Tip. Lusitana, 1873. 8.° gr. de 153 págs. e mais 5 de índice. FIGUEIREDO SARMENTO (Bento José de) – Cónego da Sé de Bragança, em cuja cidade muito se distinguiu em 1808 por ocasião da invasão francesa (277). FIGUEIREDO SARMENTO (Bernardo de) – Capitão, que igualmente muito se distinguiu em Bragança aquando daquela invasão (278). FIGUEIREDO SARMENTO (Domingos António Gil de) – Proprietário da quinta da Rica Fé, subúrbios de Bragança, que muito se distinguiu nas lutas liberais (279). Não confundir com «Domingos António Gil», tenente, que, como aquele, muito se salientou nas referidas lutas (280).

(275) Ao actual abade de Podence, reverendo Vicente Carneiro, agradecemos as valiosas informações que nos forneceu referentes a este seu antecessor. (276) Ver tomo IV, p. 622, e tomo VI, p. 404, destas Memórias. (277) Ver tomo I, p. 130 e 143, destas Memórias. (278) Ibidem, p. 130 e 139. (279) Ibidem, p. 165 e 168. (280) Ibidem, p. 165, e tomo VI, p. 680.

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FIGUEIREDO (Eduardo Augusto de) – Nasceu no Fiolhal, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 27 de Julho de 1843; filho de Manuel dos Anjos de Figueiredo e de Ana Delfina. Estudadas as disciplinas de latim e francês com o virtuoso e sábio abade de Soutelo, como declara nos Mistérios de Ansiães, foi para Coimbra cursar o resto dos preparatórios; mas, além de outras contrariedades, a morte da mãe, vitimada a 22 de Setembro de 1863 por uma lesão cardíaca nas caldas de Moledo, quando ele apenas contava vinte anos de idade, fizeram-lhe interromper os estudos que já via com aborrecimento, enlevado como então estava pela leitura das obras literárias. Viveu durante alguns anos na terra natal administrando os bens da sua casa e desde 1878 a 1886 teve a seu cargo a administração de uma grande casa, pertença de um fidalgo, a doze quilómetros do Fiolhal. Por decreto de 23 de Setembro de 1887 foi nomeado subdelegado do procurador régio para a comarca de Carrazeda de Ansiães, servindo depois na do Vimioso. Faleceu na referida povoação de Fiolhal a 31 de Março de 1912. Escreveu: Mistérios de Ansiães – Romance original. Porto, Tip. de António José da Silva, 1872. 8.° de 218 págs. e uma de erratas. A obra devia constar de três volumes, que o autor tinha prontos, mas apenas se imprimiu o primeiro. Colaborou em O Nacional e em A Agricultura do Norte de Portugal. FIGUEIREDO SARMENTO (Francisco de) – Sargento-mor, que se distinguiu contra os franceses em Bragança em 1808 (281). FIGUEIREDO SARMENTO (José de) – Sargento-mor, que, como o anterior, se salientou em Bragança contra os franceses naquela data (282). FIGUEIREDO SARMENTO (José António de) – Governador do forte de São João de Deus, de Bragança, falecido em 1733 (283). FIGUEIREDO SARMENTO (Lázaro de) – Alcaide-mor de Bragança pelos anos de 1708 (284).

(281) Ver tomo I, p. 130, destas Memórias. (282) Ibidem. (283) Ibidem, p. 327. (284) Ibidem, tomo I, p. 117, 262 e 326, e tomo VI, p. 679 e 680.

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FIGUEIREDO (Manuel José Doutel de) – General; filho de Miguel Doutel de Figueiredo Sarmento e de D. Maria José de Almeida, de Bragança. O general era natural das Aguieiras (quinta dos Chairos), concelho de Mirandela, casado com D. Maria José Torres Portocarreiro. Tiveram os seguintes filhos: Manuel Duarte de Figueiredo Sarmento, Bernardo Doutel de Figueiredo Sarmento e D. Maria Miquelina Doutel, que casou com António Augusto de Sampaio e Melo. FIGUEIREDO (D. Miquelina Adelaide Ferreira de Castro e) – Assim vem mencionada no livro do «Registo da cadeia de Bragança», aparecendo contudo em outros documentos (tomo VI, págs. 110 e 540, destas Memórias) com apelidos e sobrenomes diferentes, o que não admira, porque os fidalgos tinham muitos. Era natural de Rio de Fornos, concelho de Vinhais, casada e residente na Paradinha Velha, concelho de Bragança, filha de José Ferreira de Castro, natural de Vale das Fontes, concelho de Vinhais; tinha de altura «sessenta polegadas, rosto comprido, claro e corada, sinais de barba», trinta anos de idade, vestido cor de pinhão e era proprietária quando foi presa na sua casa da Paradinha Velha, na noite de 8 de Outubro de 1840 «por lhe ser encontrado em sua casa o cadaver de Maria Magdalena, solteira, da dita povoação» (285). Quando procedíamos a investigações nos livros do «Registo da cadeia de Bragança» encontrámos notícias de crimes bastante repugnantes – patricídios, infanticídios, fratricídios, assassinatos em condições tragicamente emocionantes, mulheres que matam os maridos à pancada, com veneno, etc., etc., isto no século XIX (não há livros anteriores referentes a estes registos). Vimos a descrição de crimes que sensibilizaram a opinião pública, ecoando ao longe como o de D. Maria Bernarda, de Rebordelo, e outras que matam uma mulher; como outra mulher de Vale das Fontes acusada de assassinar o marido; como o de Maria Gonçalves do Vale, de Rebordãos, filha de Francisco Gonçalves do Vale e de Teresa de Morais, presa em 1875 por infligir maus tratos a um galego (parece que o queixoso se gabava de proezas cupidíneas que não fazia, donde a irritação das raparigas de Rebordãos que, em legítimo desforço, o castraram – daí o apodo popular capadeiras de Rebordãos, segundo presumimos) (286); como o assassínio do coronel António de Figueiredo Sepúlveda, de Bragança, praticado pela sua cri-

(285) Livro do «Registo da cadeia de Bragança» de 1836 a 1840, fl. 24 v. Estes livros não alcançam além do século XIX, e ainda deste faltam alguns registos. (286) A origem do apodo não foi motivada por este facto, mas sim por outro mais antigo, praticado nas mesmas circunstâncias.

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ada Regina Rodrigues, de Rio Frio de Carregosa (287), e António Joaquim em 1883. Conhecemos o caso de Frei Miguel, conterrâneo de Bragança, famoso contrabandista de sedas e sabões no primeiro quartel do século XIX, quando essa vida exigia audácia enorme pelas tremendas responsabilidades que acarretava, principalmente na larga escala em que ele a praticava, chegando a passar carros e carros desses géneros, que exportava mesmo para o Porto, juntando a isto a substituição de éguas e cavalos bons das caudelarias nacionais (durante o tempo que os mandavam a pastagens na primavera para os baldios das aldeias), por alimárias inferiores, embolsando o excesso, acrescido de largas vigarices de dinheiros apanhados a diversos indivíduos. Explorado convenientemente o meio ou, talvez, julgado acanhado para a sua faina de contrabandista, desapareceu daqui e surgiu na Índia, onde professou num convento franciscano; passados anos veio para o da mesma ordem em Bragança, chegando alfim a comissário das esmolas e a recebedor das anatas dos confrades, andando para esse fim em constantes peregrinações e pregações (era também apreciável orador) de terra em terra. Bom Deus, o que foi essa vida em intrujices, simonias, fornícios et reliqua ejusdem furfuris até que a ordem o castigou!!! (O respectivo processo está no Museu Regional de Bragança). Conhecemos também o caso de Domingos Lopes da Silva, de Bragança (avô do abade de Lamalonga, também do mesmo nome, falecido pelos anos de 1919, com sobrinhos residentes em Bragança), que, colhido de surpresa pelo feroz assassino e ladrão Diogo Alves em 1838, no Aqueduto das Águas Livres de Lisboa (onde exercia as suas proezas, precipitando depois as vítimas daquela enorme altura, dando aspecto de suicídio a informe massa a que ficava reduzida o cadáver, donde a sua impunidade durante anos, até que foi executado a 15 de Julho de 1840), lhe entregou seis pintos que levava e que ele lhe exigiu; mas, refeito do imprevisto choque, estendeu o bandido com um valente soco, dizendo-lhe ao mesmo tempo: «e, agora, ahí vai mais um murro á trasmontana». Francisco António Martins Rebelo publicou em 1841, em folheto de cordel, a vida do terrível bandido e alude ao facto referido, omitindo porém o episódio do murro, ainda hoje memorado em Bragança. (287) A musa popular suspirava: Ó Regina, ó Regina, Ó Regina cruel enganadora; Matastes o Figueiredo Como uma fera traidora.

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Conhecemos o caso do Canedo, notável brigão, natural de Santulhão, concelho do Vimioso, que alfim foi vítima das tempestades semeadas, sendo morto num motim, em 1902, na romaria de Santo Antão da Barca, concelho de Alfândega da Fé (288); conhecemos mais o caso do morgado da Junqueira (289); o do dentista de Moncorvo, notável aventureiro, que, prevalecendo-se da audácia e aproveitando a ingenuidade de uma menina de fortuna daquela vila, esteve prestes a raptá-la, se o não mata um tal Pimpim (290). Conhecemos igualmente o caso de José Jorge (ver o artigo respectivo); finalmente, conhecemos vários outros crimes que emocionaram a lira popular, levando-a a fixá-los nesse género de literatura chamada ironicamente literatura de cordel, sem nos lembrarmos de que ela é a base da sólida literatura clássica autêntica, a qual os perpetuou também na lenda, na tradição, no relato curioso transmitida de pais a filhos nas longas noites de inverno à lareira, ao crepitar do brasaredo, enquanto se comem os bilhós e o pichel gira de mão em mão, no folheto impresso vendido a tostão nas feiras. Mas o caso da Miquelina é dos mais falados, a não ser o de José Jorge, pela auréola de que anda revestido. Ainda hoje se refere que ela matou a criada lançando-lhe em cima a tampa de uma tulha donde estava tirando pão e arrancando-lhe os olhos apresentou-os depois na mesa de jantar ao marido, só por lhos ouvir gabar de lindos; ainda se fala no garbo com que atravessou as ruas de Bragança no meio da escolta militar que a conduzia à Relação do Porto, montada em fogoso cavalo, de charuto na boca, sobranceiramente indiferente à pasmaceira que, embasbacada, a admirava; ainda se comenta a indiferença do marido que, horrorizado, a abandonou e, comendo, bebendo e dormindo em seráfica beatitude, atirava para o fundo

(288) A lira popular entoava: Já mataram o Canedo Mas não foi na sua terra; Foi no Santo Antão da Barca Desviado da capela. (289) Ver tomo VI, p. 239, destas Memórias. (290) Este crime deu origem às seguintes quadras, cantadas pelo nosso povo: O dentista de Moncorvo Queria ser um figurão, Carregadinho de pistolas Coberto c’um cobrejão. O dentista de Moncorvo Tem um lenço de cambraia Que lho deu Dona Perpétua Das barras da sua saia.

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de um poço, como pitorescamente dizia, com todos os cuidados e na semcerimónia de um procurador de causas perdidas, de apelido Rebelo, que lhe encampou os direitos conjugais, obtendo-lhe a liberdade, evidente isenção da forca e o contubérnio doméstico. A Miquelina veio depois a falecer no concelho de Bragança pelos anos de 1875, arrependida e confessada à hora da morte dos crimes praticados, que, segundo a tradição, não se limitaram à morte da criada. O seu feito parece inspirado na tragédia grega ou shakesperiana. FIGUEIROA (D. Maria de) – Comendadora de Santa Maria de Bragança e sua anexa de Baçal, terceira mulher de Sebastião da Veiga Cabral, falecida em 1747 (291). FONSECA (António Manuel da) – Ajudante de infantaria, que estava na praça de Almeida aquando do desastre em 1810 (292). FONSECA (Bernardo Baptista da) – Barão de Santa Bárbara, natural de Bragança, que militou nas lutas constitucionais (293). FONSECA E SOUSA DE SÁ MORAIS (Bernardo Baptista da) – Militou também nas lutas constitucionais (294). FONSECA (João Ribeiro da) – Doutor em direito civil, lente da Universidade de Coimbra, desembargador da Relação do Porto e da Casa da Suplicação. Filho de Francisco Morais Mesquita e de D. Maria de Castro Osório, ambos de famílias nobres. Foi lente de Instituta em 1690, do Código em 1695, dos Três Livros em 1698, de Véspora em 1704 e de Prima em 1707. Tomou posse do lugar de desembargador da Casa da Suplicação em 11 de Outubro de 1708. Nasceu em Moncorvo e faleceu em Sernancelhe a 12 de Setembro de 1715, quando estava despachado conselheiro da Fazenda. Escreveu: Duas postilhas de direito e várias poesias castelhanas (295). FONSECA (Martim Velho da) – Sargento-mor de Viana. Logo que se deu o grito da emancipação em 1640, foram nomeados governadores para as

(291) Ver tomo I, p. 117, destas Memórias. (292) Ibidem, p. 166. (293) Ibidem, tomo I, p. 195, e tomo VI, p. 139. (294) Ibidem, tomo I, p. 130, e tomo VI, p. 139. (295) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Fonseca», e Sumário da Biblioteca Lusitana.

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FONTES BARROSAS

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FONTOURA

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províncias, e como a nossa ficava tão afastada, enquanto não chegava o nomeado em Lisboa pediram os trasmontanos ao governador da Beira que nomeasse Martim Velho para esse cargo, o qual veio logo, tomando imediatamente as providências mais acertadas concernentes à defesa da província, mandando levantar trincheiras e guarnecendo-as de tropas. Durou o seu governo até 3 de Fevereiro de 1641, sendo substituído nesta data por Rodrigo de Figueiro de Alarcão, em virtude de uma ordem régia (296). FONSECA (Sebastião Gomes da) – Há dele uma tese de direito canónico, defendida no sexto ano do seu curso em Coimbra, dedicada à Senhora do Rosário (sem indicação de lugar), impressa de frente em três planas, em véu de cálix. Está em Espinhosela, na capela de Nossa Senhora do Rosário. É possível que Sebastião Gomes da Fonseca pertencesse à família Fonseca Porto, importantes lavradores da mesma povoação. FONTES BARROSAS – Pelos anos de 1701 os moradores de Fontes Barrosas, concelho de Bragança, fizeram uma capela ou, melhor dizendo, igreja, dentro da povoação para administração dos Sacramentos, por a igreja matriz estar em lugar ermo e despovoado (297). FONTOURA (Francisco Carneiro) – Capitão durante as guerras da Aclamação. (Ver tomo I, pág. 98, destas Memórias.) FONTOURA (Manuel de Queiroga Correia Carneiro de) – Nasceu na Granja, freguesia de Jou, concelho de Chaves, a 1 de Abril de 1784 e faleceu, sendo reitor de Lamas de Orelhão, a 20 de Novembro de 1856. Era filho de Carlos António Queiroga Teixeira e de D. Maria José Carneiro de Fontoura, casados em 30 de Novembro de 1870; neto paterno de Francisco de Queiroga Teixeira e de D. Ana Maria de Sá Carneiro, de Lamas de Orelhão, e sobrinho do padre João Manuel de Queiroga, reitor da vila do Franco, falecido em 1828. Ou por todos os ramos, ou só por alguns deles, Manuel de Queiroga Correia Carneiro de Fontoura era de descendência nobre, fidalgo por linhagem, como ele próprio se intitula nas suas «Memórias». Ordenou-se de presbítero em Braga, e parece ter vindo logo para Lamas de Orelhão, onde tinha família, e foi pároco encomendado desde 1810. Em 1816 foi feito cavaleiro da ordem de Cristo.

(296) MENESES, Luís de, Conde da Ericeira – Portugal Restaurado, ano 1641, parte I, livro IV, p. 217. (297) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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FONTOURA

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FRAGOSO

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Escreveu: Memória genealógica, ou Aparato para o tratado das genealogias da província de Trás-os-Montes, tirado dos melhores genealógicos e dos cartórios e documentos autênticos, assim antigos como modernos, procurados para este fim por Manuel de Queiroga Correia Carneiro de Fontoura, fidalgo por linhagem, cavaleiro da Ordem de Cristo, natural da freguesia de Jou, concelho de Chaves, e morador na vila de Lamas de Orelhão neste presente ano de 1816. Fólio de 272 folhas manuscritas. Este livro foi ter à mão do doutor Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia, no Porto, numa excursão que fez em Trás-os-Montes à procura de elementos para a obra O Portugal antigo e moderno, por ele continuada, que o ofereceu à Biblioteca Municipal do Porto. Deste manuscrito, com consentimento do referido abade, tirou uma cópia o notável bibliófilo padre Manuel Joaquim da Silva Machado, reitor de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar. Aparato de antiguidades romanas. Fólio de 437 págs., manuscrito. É a primeira parte; a segunda, que vem junta a esta, tem por título: Aparato de antiguidades romanas explicadas e colecção de regras, exemplos e observações teóricas e práticas, tão indispensáveis, para interpretação e perfeito conhecimento dos clássicos latinos, gramáticos, retóricos, históricos, cronológicos, poéticos, medalhas e antigas inscrições, etc., etc., como necessária para completa instrução da mocidade estudiosa. Fólio de 146 págs., manuscrito, com três estampas. Esta obra também foi oferecida à Biblioteca Municipal do Porto pelo já mencionado benemérito abade de Miragaia. Instrução de numismática, para uso da mocidade estudiosa e dos curiosos em gabinete de medalhas antigas. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1844. Folheto in-8.° de 40 págs. com uma estampa. Escreveu também um artigo a propósito da inscrição dos Banienses, encontrada em Moncorvo (298). FRAGOSO (Tomás Augusto Salgueiro) – Nasceu a 20 de Outubro de 1891 em Santa Maria dos Anjos, concelho de Valença do Minho; filho de José Francisco de Almeida Fragoso e de D. Rosa de São José Salgueiro Fragoso. Capitão de cavalaria, governador civil de Bragança, cargo de que tomou posse a 17 de Junho de 1926. Fez o curso liceal no antigo Real Colégio Militar, o de matemática na Universidade de Coimbra e o da arma de cavalaria, que concluiu em 1913, na Escola do Exército.

(298) MENESES, José Leite de – em O Arqueólogo Português, vol. VII, p. 1, faz honrosas referências a este arqueólogo trasmontano. Ver tomo VI, p. 280, destas Memórias.

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Colaborou na Voz Pública sobre assuntos da sua especialidade. De A Voz, jornal de Lisboa, de 29 de Maio de 1928, recortámos o que segue: «Ás instâncias reiteradas do sr. capitão Tomás Fragoso, sempre de perto acompanhando todas as reclamações do distrito e a defeza dos interesses mais legítimos dos seus naturais, correspondeu o govêrno concedendo edifícios e subsídios importantes, que montam a 2:500 contos. Entre todos, avultam: a concessão de 1:000.000$00 para a conclusão da estrada Miranda-Mogadouro; de 30.000$00 para a reparação do caminho de Vimioso a Miranda; de 100.000$00, distribuidos pelos diversos concelhos do distrito, para construção dos cemitérios das povoações, onde os enterramentos se faziam nas igrejas; 50.000$00 para a instalação, em casa própria, da Escola Industrial Emídio Navarro; 41.000$00 Escs. para obras de remodelação e reparações no Liceu Emidio Garcia; 20.000$00 para a construção da escola de Paçó do Outeiro; 10.000$00 para a conclusão do edifício da escola primária de Sendim, de Miranda; 10.000$00 para a conclusão do edifício da escola de Vila Chã de Barciosa (estes dois últimos edifícios estavam ha muito tempo por concluir e ameaçavam ruina); 20.000$00 para a restauração da Domus Monicipalis; 26.000$00 para reparação de uma parte da Sé de Miranda, ha muito declarada, e justamente, monumento nacional; 15.000$00 para auxiliar a construção da escola de Carrazeda de Anciães; 5.000$00 para a construção da escola de Duas Igrejas, de Miranda do Douro; e 10.000$00 para reparação da escola Conde de Ferreira, de Vimioso. Em favor de Bragança concedeu ainda o govêrno: o antigo edifício do quartel de Metralhadoras para alargamento do Liceu; a conversão do Posto Agrário de Mirandela em Escola Móvel; autorização para a Farmácia Central do Exército, na cidade de Bragança, fornecer medicamentos no posto de socorros da Associação Artística, antiga aspiração da mesma sociedade; criação dum posto dermo-sifiligráfico na Santa Casa da Misericórdia de Bragança; criação de prémios pecuniários para alunos de liceu, filhos de artistas pobres, à razão de 100$00 Escs. mensais; organização de todas as comissões de assistência que, pelo facto de se não organizarem, deixaram de receber mais de 100.000$00; organização imediata do orçamento para a restauração da igreja do Santo Cristo do Outeiro, declarada monumento nacional; reorganização da Polícia Cívica do distrito, com inteira observância dos regulamentos em vigor; e liquidação de todas as contas relativas à verba – Subsídios concedidos para atenuar a crise de trabalho – e que ha seis anos carecia de justificação».

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«OS SUBSÍDIOS CONCEDIDOS PELA JUNTA GERAL DO DISTRITO Entre outras verbas de menor importância que, somadas, dão uma importância elevada, dispendeu a Junta Geral em benefício do distrito as seguintes: 6.000$00 Escs. para auxiliar a construção do hospital de Carrazeda de Anciães; 3.000$00 para a construção da ponte da ribeira de Vilariça; 2.500$00 para reparações da Escola Emídio Navarro; 15.850$00 para construção de fontes e canalização de águas; e 11.000$00 para construção e reparação de cemitérios». «A OBRA DAS COMISSÕES ADMINISTRATIVAS Por sua vez, as Comissões Administratrivas dos municípios, dentro da exiguidade dos seus orçamentos, realizaram as seguintes obras: No concelho de Bragança – Continuação dos trabalhos de captação, depósito e canalização de águas para abastecimento da cidade, em que se dispenderam 162.000$00 Escs.; reparação, que importou em 12.500$00, das escolas de Bragança, Donai, Parada, Deilão e Meixêdo; reparação do Matadouro Municipal e algumas ruas da cidade, que custou 9.000$00; aquisição de uma casa para os magistrados judiciais, no valor de 26.000$00. Concedeu 7.000$00 Escs. para auxilio a doentes e a pobres tratados nos hospitais do Porto, Lisboa e Coimbra e 11.000$00 para a compra de material oferecido à Escola Emídio Navarro e auxílio a estudantes pobres. No concelho de Carrazeda de Anciães – Dispenderam-se Escs. 113.000$00 nas obras de reparações de ruas, praças, águas, arborização e iluminação da vila e 44.000$00 em obras com águas públicas, cemitérios, caminhos e ruas de diversas povoações do concelho. No concelho de Freixo de Espada-à-Cinta – Reparações dos caminhos vicinais, que importou em 9.000$00 Escs.; 6.500$00 para reparação da rede eléctrica; e 7.000$00 para reparações nas calçadas. No concelho de Macedo de Cavaleiros – Concluiram-se os projectos para melhoramentos importantes, como luz eléctrica, construção de uma escola primária, casa para os magistrados judiciais, construção da Avenida dos Combatentes e outras obras de saneamento da mesma vila e criaram-se as receitas indispensáveis para efectivar esses melhoramentos. No concelho de Miranda do Douro – Dispenderam-se 113.000$00 Escs. em reparações de caminhos, de edifícios municipais, Sé Catedral e mobiliário para a casa dos magistrados. No concelho de Mirandela – Dispenderam-se 397.000$00 Escs., dos quais ha apenas o deficit de 76.000$00, satisfazendo-se encargos de outras vereaMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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ções e realizando-se obras e reparações importantes em edifícios, estradas e caminhos municipais. No concelho de Moncorvo – Satisfez-se o encargo de 50.000$00 Escs. legado pelas anteriores vereações e dispenderam-se 150.000$00 na construção de uma ponte na ribeira de Vilariça e em obras de iluminação e limpeza da vila e de diversas povoações do concelho. No concelho de Vila Flor – Levou-se a efeito o calcetamento de duas ruas da vila e reparou-se o edifício da escola primária. No concelho de Vimioso – Produziram-se melhoramentos locais, dispendendo-se 77.000$00 Escs. na reparação e calcetamento das ruas, cemitério e reparação dos Paços do Concelho. No concelho de Vinhais – Fez-se a reparação do edifício da cadeia civil, instalação da secretaria judicial e comprou-se a mobília para o tribunal, fazendo-se também a reparação do Adro da vila». «AS IMPORTANTES OBRAS QUE É PRECISO REALIZAR O que está feito, sendo muito, comparado com o que se fez em trinta ou quarenta anos de política, é pouco para o que é necessário. Impõe-se quanto antes a construção da estrada de Freixo de Espada-à-Cinta à estação do mesmo nome; de Macedo de Cavaleiros à Vilariça; a conclusão dos trabalhos ha longos anos abandonados da estrada de Izêda a Ponte de Remondes; a conclusão do caminho de ferro de Miranda do Douro e a construção da estrada de Vinhais ao antigo concelho da Lomba. Impõe-se, e desde já, a conciliação dos interesses das indústrias agrícola e pecuária nos concelhos especialmente do alto distrito, que por vezes e freqùentemente se entrechocam por falta, sobretudo, de regulamentação local, o que influi como primeiro coeficiente nas estatísticas criminais do mesmo distrito. Este problema está intimamente relacionado com o da arborização e irrigação do mesmo distrito, que é preciso colocar quanto antes, para se começar a resolver segundo as possibilidades futuras». FRANCO (José António) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde fez também o 1.° e 2.° anos da faculdade de teologia, cónego da Sé de Bragança e distinto advogado; regeu várias cadeiras no Seminário de Bragança, como francês, teologia dogmática, filosofia aquinatense, etc. Nasceu em Bragança, freguesia da Sé, a 22 de Agosto de 1833 e na mesma cidade e freguesia faleceu a 2 de Outubro de 1890. Filho de António José Ribeiro Franco e de D. Carolina Júlia Franco. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1856 na faculdade de direito, em cujo ano obteve a classificação de prémio (299). Concluiu a sua formatura em 1861, obtendo o 1.° accessit no seu quinto ano de direito (300). Em Coimbra teve como condiscípulos Manuel Emídio Garcia e Manuel Paulino de Oliveira, ambos de Bragança, e nestas Memórias mencionados, que depois ficaram lentes da Universidade. José A. Franco não teve classificações inferiores a estes; mas era... padre e não convinha à faculdade de direito. Por decreto de 19 de Junho de 1861 foi apresentado pároco na abadia de Vinhais (301). Eis os termos desse decreto, sobremodo honrosos para a memória do agraciado: «Attendendo ao seu bom comportamento, intelligencia de que tem dado seguras provas na regencia da cadeira de francez no Seminario Diocesano de Bragança, alem de ser bacharel em direito pela Universidade de Coimbra, onde obteve ser premiado e de ter feito com aproveitamento o 1.° e 2.° anos da faculdade de theologia em Coimbra», etc. Em 1871 foi apresentado na Sé de Bragança, em virtude da troca feita com o cónego da mesma Luís Baptista Montes (302), que passou a ser abade de Vinhais. Em 30 de Agosto de 1872 foi nomeado professor de ciências eclesiásticas no Seminário de Bragança, e no ensino dessas disciplinas continuou sempre com muita competência até à sua morte. Escreveu: Minuta oferecida pelo ex-Vigário Capitular da Diocese de Bragança no Agravo de injusta pronúncia interposto para a Relação do Porto. Porto, Tip. de Bartolomeu H. de Morais, 1875. 8.° de 14 págs. Versa sobre o caso da insinuação régia feita ao bacharel José Maria da Cunha para vigário capitular à morte do bispo D. José Luís Alves Feijó. O cabido, no uso dum seu direito, elegeu o cónego José Joaquim de Oliveira Mós, que, por aceitar, foi pronunciado, mas obteve despacho despronunciativo (303). Minuta de Agravo de injusta pronúncia interposto por Bernardo Figueiredo Sarmento e Francisca Augusta no processo instaurado na comarca de Bragança pelos crimes de homicídio e roubo perpetrados na pessoa do tenente-

(299) Diário do Governo de 17 de Dezembro de 1857. Para a sua sustentação em Coimbra recebia do cofre da Bula da Cruzada a mensalidade de 8$000 réis. Ver o mesmo Diário de 5 de Março de 1857 e 4 de Maio de 1860. (300) Diário de Lisboa de 28 de Janeiro de 1862. (301) Diário do Governo de 4 de Julho de 1861. (302) Ver adiante este nome. (303) Veja-se sobre o caso O Amigo da Religião de 18 de Março de 1892 e Correio Nacional de 24 de Dezembro de 1901.

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coronel António de Figueiredo Sepúlveda. Coimbra, Tip. de M. C. da Silva, 1885. 8.° de 21 págs. Também supomos que seja deste autor o Manifesto do cabido da Sé de Bragança. Porto, 1875. 4.° de 23 págs. Ver Barros (Bento José de Sousa Brito de). Vimos muitas vezes diversas folhas soltas, em prosa e verso, profusamente espalhadas por mandado de um condenado em África, devido ao proceder desleal, como advogado, do doutor José António Franco. Essa propaganda era feita no dia aniversário da condenação. Isto durou muitos anos, provavelmente toda a vida do queixoso, que era um padre, portanto mais sentido por se tratar de colega no sacerdócio. Tratava-se de António Manuel Alves, reitor de Rebordainhos, concelho de Bragança, filho de António José Alves e de Maria Joaquina, naturais de Nogueirinha, concelho de Macedo de Cavaleiros, de quarenta e três anos de idade, condenado em 1874 por ferimentos em José Bernardo Pereira, de Arufe, em defesa própria. FRAZEZ (Simão) – Era governador das armas da província de Trás-osMontes em 1771, e como tal é nomeado na carta-patente de capitão-mor das ordenanças de Castro Vicente, passada a Alexandre José Ferreira de Aragão Cabral (304). FREITAS (António Luís de) – Irmão do primeiro governador civil do distrito de Bragança nomeado pela República, doutor João José de Freitas; nasceu em Misquel, freguesia de Parambos, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 10 de Janeiro de 1855 e faleceu em Coimbra (sendo sepultado no Pombal, do mesmo concelho de Carrazeda, onde residia), a 5 de Abril de 1926; filho de Manuel José de Freitas e de D. Carlota da Cunha Almeida. Concluídos os estudos liceais em Vila Real em 1875, matriculou-se nas faculdades de teologia e direito da Universidade de Coimbra em 1875, optando depois só pela de direito, que terminou em 1880, indo seguidamente advogar em Valpaços. Sendo administrador do concelho de Vila Pouca de Aguiar desde 1884 a 1885, entrou na magistratura neste mesmo ano como delegado, servindo sucessivamente nas comarcas de S. João da Pesqueira, Póvoa de Varzim e Vila Nova de Portimão. Promovido a juiz por decreto de 27 de Outubro de 1898, serviu nas comarcas da ilha de S. Jorge, Vimioso, Vila Flor, Vila Pouca de Aguiar, Idanha-a-Nova, Moncorvo e Lamego, passando a juiz de 1.ª classe por decreto de 9 de Fevereiro de 1912. Foi nomeado governador civil de Bragança por decreto de 20 e tantos de Junho de 1911, cargo que exerceu até 14 de Outubro do mesmo ano. Em (304) Ver tomo VI, p. 730, destas Memórias.

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FREITAS

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FREIXO

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Dezembro de 1885 casou com D. Sofia Cândida Ribeiro da Silveira, filha do doutor Casimiro Ribeiro, antigo governador civil de Bragança. FREITAS (João José de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso com distinção em 1895, professor liceal. Nasceu em Misquel, freguesia de Parambos, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 28 de Maio de 1873; filho de Manuel José de Freitas e de D. Carlota da Cunha Almeida. Concluiu os estudos liceais no Porto em 1889, com distinção em quase todas as disciplinas. Advogado nos auditórios do Porto e leccionista em colégios da mesma cidade, concorreu em 1896 ao grupo liceal de geografia e história, sendo o terceiro classificado entre vinte e dois concorrentes; mas, devido às suas ideias republicanas, não foi despachado. No mesmo ano fez concurso à cadeira de economia política da Academia do Porto, e, posto que fosse o primeiro classificado em mérito absoluto, foi-lhe preferido em mérito relativo Bento Carqueja. Desgostoso com esta injustiça, foi advogar para Luanda e depois para S. Tomé em 1898, de onde regressou para reger uma cadeira do liceu de Braga, em que foi provido por decreto de 9 de Fevereiro de 1906. Candidato a deputado por Lisboa e Bragança nos anos de 1906 a 1910, não conseguiu vencer, sendo, logo que se proclamou a República, o primeiro governador civil que estas novas instituições nomearam para o distrito de Bragança, onde esteve até Junho de 1911. Deputado às Constituintes pelo distrito de Braga, terminadas estas foi eleito senador. Finalmente, por decreto de 14 de Abril de 1911 foi transferido para o liceu Rodrigues de Freitas, do Porto. Casou em 2 de Outubro de 1909 com D. Berta de Azevedo Albuquerque, filha do lente de matemática da Academia do Porto, doutor Joaquim de Azevedo Albuquerque. Escreveu: A revisão da Lei da Separação do Estado das Igrejas – «Proposta a apresentar à Comissão de Cultos do Senado». Porto, 1913. 8.° de 7 págs. E colaborou na República do Norte, do Porto; Mundo e Luta, de Lisboa, e Resistência, de Coimbra. Foi assassinado no Entroncamento (estação da Barquinha), perto de Lisboa, no dia 17 de Maio de 1915, após haver disparado quatro tiros em João Chagas, presidente do ministério nomeado pela revolução de 14 desse mesmo mês e ano. FREIXO (Jerónimo Delfim de Gouveia Gama) – Escreveu: Folhas soltas – Em benefício da Misericórdia de Bragança. Évora, 1893. 8.° de 9 págs. É oferecido ao governador civil de Bragança, Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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G GAIA (Martim Rodrigues de) – Prateiro, de Zamora, que se obrigou, por escritura pública lavrada por tabelião em Miranda do Douro a 20 de Julho de 1621, a fazer uma custódia para a Sé da mesma cidade, do peso de vinte marcos de prata, «antes menos que mais» (305). GALAS (João José Dias) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1865, sendo eleito deputado mais tarde. Nasceu em Ligares, concelho de Freixo de Espada à Cinta, casando ali, in articulo mortis, com a doméstica D. Maria, hoje casada com Acácio Santiago, da rica família Santiago, de Sendim da Serra, concelho de Alfândega da Fé, e faleceu na sua importante quinta de Crestelos, que deixou à viúva, herdada de seu tio materno doutor António Joaquim Ferreira Pontes pelos anos de 1902, pouco depois de seu irmão doutor José Joaquim Dias Galas, e foi sepultado em Ligares no jazigo de sua família. A esta família Galas pertenceram os seguintes indivíduos: padre João José Dias Galas, doutor em direito, desembargador da Relação Eclesiástica de Braga; José Joaquim Gabriel Dias Galas, alferes; Venceslau Gabriel Dias Galas, abade no Minho, professor no Seminário de Braga e ultimamente pároco de Vilarinho da Castanheira, concelho de Carrazeda de Ansiães, há pouco falecido, tio do doutor Galas, acima mencionado. GALAS (José Joaquim Dias) – Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1866, deputado e chefe do partido regenerador em Mirando do Douro, onde exerceu a advocacia e casou com D. Ana Faria, irmã do doutor Faria, de quem falamos noutro lugar, e onde faleceu a 23 de Agosto de 1902, indo a sepultar a Ligares, concelho de Freixo de Espada à Cinta, sua terra natal. Era filho de João Marcelino Dias Galas, de Ligares, e de D. Maria Caetana Ferreira Pontes, de Peredo dos Castelhanos, irmã do doutor António Joaquim Ferreira Pontes. GALEGO (Domingos da Ponte) – Nasceu na freguesia de Pinheiros, concelho de Monção. Fugiu ainda criança da casa paterna, e depois de várias aventuras foi ter à Alemanha, onde serviu num regimento de couraceiros, do qual era coronel o infante D. Duarte, irmão de el-rei D. João IV, e chegou ao posto de alferes por se distinguir em alguns combates. Aclamado D.

(305) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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GALEGO

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João IV, regressou a Portugal e fez com bravura toda essa longa Guerra da Aclamação, merecendo a patente de general de cavalaria na província de Trás-os-Montes e como galardão o título de fidalgo da casa real, comendador da Ordem de Cristo e governador das armas da província de Trás-os-Montes (306). GALVÃO (Joaquim de Santo Agostinho de Brito França) – Eremita calçado de Santo Agostinho, licenciado em teologia pela Universidade de Coimbra, sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, professor de retórica no colégio da Graça em Coimbra e de direito natural no Seminário Patriarcal de Santarém, prelado doméstico de Sua Santidade, comendador da ordem de S. Bento de Avis, abade de Lustosa (nome porque é mais conhecido), concelho de Barrosas, e vigário apostólico do bispo de Bragança. Nasceu em Tavira a 1 de Julho de 1767 e faleceu em Lustosa, de uma pneumonia, a 5 de Junho de 1845. Fora provido nessa abadia em 1800. Foi encarregado pela Academia Real das Ciências da revisão dos cartórios do sul do país, com o que prestou valiosos serviços às letras e ao Estado. Foi secretário do exército do norte na guerra da restauração contra os franceses. Em 1815 foi nomeado vigário apostólico do bispado de Bragança (307). Esta data, apontada por Gama Barros, não é exacta, pois França Galvão foi nomeado por breve de Roma de 18 de Março de 1817 e tomou posse a 13 de Maio do mesmo ano, como se vê do arquivo do cabido, onde tudo foi registado (308). Em 1822 ou 23 foi nomeado para fazer parte da comissão encarregada da publicação das actas das cortes antigas (309). Para os seus escritos ver Memórias da literatura portuguesa, publicadas pela Academia Real das Ciências de Lisboa, tomo I, de págs. 344 a 432; Inocêncio Francisco da Silva, Dicionário Bibliográfico, vol. IV, pág. 57, e vol. XII, pág. 147. Para os que dizem respeito ao bispado de Bragança, consultem-se o tomo II, págs. 80 e 181, e tomo IV, pág. 569, destas Memórias.

(306) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Ponte», e tomo I, p. 84, 92, 96 e 97, e tomo VI, p. 68, destas Memórias. (307) Diário do Governo de 18 de Junho de 1845 e O Arqueólogo Português, vol. VIII, p. 159, onde vem o extracto dum trabalho numismático de França Galvão. (308) BARROS, Gama – História da administração pública em Portugal, vol. I, p. 567, em nota. (309) SEPÚLVEDA, Francisco Xavier Gomes de – Memórias…; do bispo D. António, cap. XII.

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GARCIA (António Augusto) – Nasceu em Moncorvo a 5 de Fevereiro de 1876 e aí faleceu a 19 de Fevereiro de 1901; filho de Manuel Joaquim Garcia, natural de Itália, e de D. Maria Adelaide de Campos, de Moncorvo. Escreveu: À Sombra. Lisboa, 1838 (?). 90 págs. Colaborou em jornais de Bragança, Lamego, Vila Real e Moncorvo e no Almanaque Luso-Brasileiro. GARCIA (Claudino Augusto César) – Ignoramos as suas circunstâncias pessoais, embora nos pareça natural de Bragança. Escreveu: O juramento – Drama em nove quadros reduzido por... Tip. de Bragança, 1851. 8.° de 135 págs. GARCIA (Diogo) – Natural de Bragança. Escreveu: Coplas hechas por Diego Garcia, natural de la ciudad de Berganza, con unos amores de un caballero y una doncella, con las maldiciones de Salaya. As coplas são apenas conhecidas pela publicação que delas fez Duran no seu «Catálogo» n.os 61 e 126 (310). GARCIA (Manuel Emídio) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra e lente catedrático da sua faculdade. Nasceu em Bragança a 6 de Outubro, ou 6 de Janeiro (como dizem outros escritores) de 1838 e faleceu em Lisboa a 15 de Outubro de 1904; filho de Leonardo Manuel Garcia e de D. Maria Emília Fortunato de Oliveira. Depois de estudar alguns preparatórios em Bragança, ensinados por seu pai, e de fazer os respectivos exames, matriculou-se em Coimbra em Outubro de 1856, onde obteve honrosas classificações: accessit e prémios pecuniários (311). Defendeu tese em 17 de Julho de 1862, fez exame privado em 24, recebendo o grau de doutor no dia 27, em cuja cerimónia teve por padrinho o bispo-conde D. José Manuel de Lemos, que já o havia sido de Bragança, onde ao doutorando ensinara grego. Em Outubro de 1864 foi nomeado lente substituto extraordinário da faculdade de direito, no ano seguinte substituto ordinário e em 1871 lente catedrático. As ideias positivistas de Manuel Garcia, que o tornaram fanático propugnador da filosofia de Augusto Comte; o seu aberto ateísmo, que o levou

(310) VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de – Estudos sobre o Romanceiro Peninsular, 1907-1909, p. 200, 279 e 293, em que declara ser este autor da cidade de Bragança em Trás-os-Montes. (311) Diário do Governo de 17 de Dezembro de 1857 e 7 de Dezembro de 1860.

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a pronunciar por ocasião das exéquias de Herculano, na igreja dos Congregados, do Porto, um irreverente discurso; e a sua inclinação por tudo quanto mostrasse espírito de novidade, de onde a divulgação nas prelecções da cátedra das teorias de Emílio Girardin, Quételet, Mandsley e outros, determinaram grande agitação em volta do seu nome, que se traduziu por largas polémicas. Foi ele o iniciador e renovador do moderno movimento científico da ciência da criminalidade e direito penal entre nós. Escreveu: Theses ex universo jure selectœ. Conimbriçoe, 1862. 8.° de 20 págs. Estudo sobre a legislação das águas – Dissertação inaugural para o acto de conclusões magnas. Coimbra, 1862. 8.° de 239 págs. Beneficência pública; a roda dos expostos – Parecer e projecto de reforma apresentados à Junta Geral do distrito de Coimbra. Coimbra, 1871. 8.° de 16 págs. Relatório e parecer apresentado ao claustro pleno da Universidade pela comissão encarregada de estudar as reformas de instrução superior, e responder às questões indicadas na portaria do ministério do Reino de 6 de Julho de 1866. Coimbra, 1867. 4.° de 40 págs. Foi reimpresso em 1882. Regulamento para o Hospício dos abandonados e providências relativas aos expostos do distrito de Coimbra. Coimbra, 1872. 8.° de 23 págs. Organização do curso administrativo – Relatório e voto especial do Dr. Manuel Emídio Garcia, membro da comissão encarregada pela faculdade de Direito de redigir o projecto de resposta aos quesitos pertencentes à mesma faculdade, indicados na portaria do ministério do Reino de 6 de Julho de 1866. Coimbra, 1867. 4.° de 23 págs. Estudos crítico-históricos: I – O marquês de Pombal. «Lance de olhos sobre a sua ciência política e sistema de administração; ideias liberais que o dominaram; plano e primeiras tentativas democráticas». Coimbra, 1869. 8.° de 55 págs. [Há outra edição de 1905, 4.°, com o retrato e biografia do autor, impressa em Lisboa]. Faculdade de Direito – Programa da quarta cadeira para o ano respectivo ao ano lectivo de 1885-86. Coimbra, 1885. 8.° de 45 págs. Veja-se, a pág. 73, o artigo Camelo (Alípio Albano). No livro Estudo sociológico, feito por uma comissão de estudantes do terceiro ano de direito, discípulos de Manuel Garcia, impresso em Coimbra em 1880, é também deste lente a carta de apresentação e a introdução. Discurso acerca de Luís de Camões – Recitado na sala dos actos grandes da Universidade. Saiu no Instituto, vol. XVII, pág. 585. Importância dos estudos históricos nas ciências jurídico-sociais e o ensino da história em Portugal. Saiu na mesma revista, vol. XIX. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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O que foi a revolução de 1820. Saiu na Discussão, do Porto, de 24 de Agosto de 1884. Teoria dos partidos políticos. Saiu no Século, jornal de Coimbra, 1877. A instrução secundária em Portugal. Saiu no Positivismo, do Porto, Agosto a Novembro de 1880. Biografia do Dr. Augusto Maria Alves da Veiga. Saiu na Galeria Republicana, n.° 14, publicada em Lisboa em 1882. As comemorações cívicas em honra e para glória da humanidade. Saiu no Álbum Literário, do Porto, em 1880, por ocasião das festas do tricentenário de Camões. O marquês de Pombal e a liberdade do ensino. Saiu na Evolução, de Coimbra, 1882. O marquês de Pombal. Lisboa, 1905. 8.° de 11-80 págs. e uma tira de erratas. O marquês de Pombal vem a págs. 111 da II parte do livro intitulado O marquês de Pombal – «Obra comemorativa do centenário da sua morte, mandada publicar pelo Club de Regatas Guanabarense do Rio de Janeiro». Lisboa, 1885. Fundou em 1870 o Trabalho – Semanário democrático, que foi o primeiro jornal francamente republicano que se publicou em Coimbra (312). Colaborou nas seguintes publicações: Prelúdios literários, Correspondência de Coimbra, Partido do Povo, Positivismo, Comércio Português (onde saiu o «Elogio de Alexandre Herculano», pronunciado na Igreja dos Congregados do Porto), O Defensor do Povo, Mundo Legal e Judiciário, A Gazeta do Notariado, A Vanguarda, A Discussão, Revolução de Janeiro, A Tribuna, A Actualidade, O Berço da Monarquia, O Instituto, O Século, Evolução, Revista Científica e Literária, Boletim da Associação dos Empregados de Contabilidade, A Batalha (onde saiu o seu retrato), etc., etc. GARRIDO (Aires Guedes Coutinho) – Conselheiro, doutor em direito pela Universidade de Coimbra; nasceu na quinta da Bouça, concelho de Penela, a 31 de Agosto de 1805 e faleceu em Lisboa a 23 de Novembro de 1874. Governador civil do distrito de Bragança por decreto de 26 de Setembro de 1865, de que tomou posse a 28 do seguinte, vindo de idêntico cargo no de Aveiro.

(312) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Garcia», e Dicionário Bibliográfico, tomo XVI, onde se mencionam muitas particularidades da vida deste fecundo escritor e notável filho de Bragança.

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GATO

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GIL

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Por decreto de 8 de Maio de 1866, in Diário de Lisboa de 23 de Junho seguinte, foi o conselheiro Luís Teixeira de Sampaio, governador civil de Faro, transferido para este cargo no de Bragança, sendo ao mesmo tempo Coutinho Garrido nomeado para Faro. De Teixeira Sampaio não há memória em Bragança. Aires Garrido foi o último administrador dos morgados da Bouça e de Miranda do Corvo, capitão-mor de Penela e governador civil dos distritos de Aveiro, Guarda, Portalegre, Castelo Branco, Beja e Faro, além do de Bragança. Era filho de José Guedes Coutinho Garrido, superintendente das três comarcas, e de D. Tomásia Adelaide da Fonseca Cabral. GATO (Pedro Álvares) – Doutor, grande auxiliar da revolta de 1808 em Bragança contra os franceses. Faleceu nesta cidade a 4 de Maio de 1825 (313). GIL (Cristóvão) – Jesuíta, natural de Bragança, onde nasceu em 1555 e faleceu em 7 de Janeiro de 1608 no colégio que a Companhia tinha em Coimbra. Foi considerado como um dos maiores teólogos do seu tempo. Era doutor em teologia e lente desta ciência nas universidades de Évora e Coimbra, onde foi substituto de prima do grande Suárez. O seu grande merecimento deduz-se do conceito que dele formava o distinto Suárez, pois ouvindo-o argumentar uma vez, declarou «que Christovão Gil era na theologia escolastica o credito não só de Portugal mas do mundo todo». Bernardo de Madureira (314), lente da Universidade de Coimbra, cita frequentes vezes com elogio as obras deste sábio jesuíta, e Rebelo da Silva aponta-o como um dos varões distintos e dignos de louvor do século XVII (315). Jorge Cardoso (316) tece grandes elogios às suas claras virtudes, que salienta na pureza e na humildade. Quanto à primeira, supõe que nunca perdeu a graça baptismal, e relativamente à segunda, afirma que quem o não conhecesse facilmente o tomaria por idiota, em tão pouco se tinha o grande homem de ciência. Por ocasião da sua morte desejou que fossem queimadas as suas produções bibliográficas, que são: Commentariorum Theologicorum de Sacra Doctrina et Essentia atque Virtute Dei. Dois vols. in-fólio. Lugdon., 1610. Colon., 1610, 1619 e 1641. Comment. Theolog. de

(313) Ver tomo I, p. 131 e 143, e tomo VI, p. 680, destas Memórias. (314) MADUREIRA, Bernardo Augusto de – Institutiones Theologiœ Dogmatico-Polimicœ. Coimbra, 1890. (315) SILVA, Luís Augusto Rebelo da – História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, livro VIII, cap. IV, p. 280. (316) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano. Lisboa, 1652, referente ao dia 7 de Janeiro.

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attributis, de Divina perfectione, de proedestinatione, de incarnatione, de legibus, de visione beata, de sacramentis, de macrimonio. = Adversaria in 3. D. Thomea. M. S., que estavam no colégio da Companhia de Jesus em Coimbra (317). Fazem menção honrosa deste jesuíta, além de outros: Franco, Annal. Glorios. Soc. Jesu., pág. 9. Fonseca, Évora Gloriosa, pág. 428. Nicol. António, Bibliot. Hispan., tomo I, pág. 187. Ano Histórico, tomo I, pág. 56. João Baptista de Castro, Mapa de Portugal. Paulo Perestrelo Câmara, Dicion. Geograf. vol. II, pág. 273. O padre Paulo de Carvalho, jesuíta, falecido a 15 de Maio de 1621, deixou manuscrita a vida de Cristóvão Gil, segundo se lê no dicionário Portugal, artigo «Carvalho (padre Paulo de)». Na Biblioteca Nacional de Lisboa, secção XIII – Manuscritos –, sob o n.° 174 (A. 4-42), a folh. 167, encontra-se uma carta do padre Cristóvão Gil, datada de Roma a 1 de Abril de 1604, na qual ele refere as grandes tempestades desse inverno, dizendo terem morrido os frades todos de um convento, falando em doenças, etc., etc., e que o rei de França protegia os jesuítas. GOMES (Jorge) – A existência deste artista é evidenciada por duas cartas do bispo de Miranda, D. Julião de Alva, e deveu ser o mestre das obras daquela Sé. Ainda assim o autor que as publicou diz que não se abalança a afirmar que Gomes fosse o mestre das referidas obras. Eis as cartas dirigidas pelo bispo a el-rei: «Senhor – O Dayam e cabido e eu beijamos as mãos de V. A. por se lembrar das obras desta Sé, a qual todos desejamos ver começada e viver tanto que a vejamos acabada, tudo pode fazer Deus: a elle praza dar tanta saude e vida a V. A. como deseja, pera que sempre faça merce a todos e a nossos socesores: Jorge Gomes com os mestres de pedra e cal e cavouqueiros, que V. A. mandou vir, cheguaram aqui, e loguo os mandei aguasalhar, e o coregedor e eu fomos a ver as pedreyras, e trabalharam nelas dous dias e pareceme que acharam em abastança, e loguo pedi ao coregedor quisese ir com elles quinta-feira proxima passada loguo pella menhãa a ver as caleiras pera lhes fazer as entradas e saidas chaãs e de paz, oferecendome a ir na companhia, e socedeo com que eu não pude ir, e mandey dous homes honrrados dos de minha pobre familia praticos na terra com elles e fezse tudo bem, e asi me mandaram dizer que estavam muito contentes do aparelho pera a cal: do que soceder avisarey. De Miranda 18 de março de 1548. O bispo de Miranda». (317) Sumário da Biblioteca Lusitana. Lisboa, 1787.

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«Senhor – Porque Jorge Gomez he o portador que sabera muy bem dar conta de todo o deca e especialmente das achegas pera a obra da Se, de que leva apontamentos, por onde craramente se entendera tudo o que se a feyto em que se fez toda a delegencia posybel, nan terey eu em que me deter nesta. Ao esprivam e pagador que eu pus nan lhes synaley nem dey cousa algûa, por que quando mays tempo ouverem servido, dando V. A. pera yso licença, lhes mandarey dar algûa pouca cousa, porque eu desejo por bom recado nas rendas da fabrica. Acabados de pagar todos os encaregos do deposyto daquelle anno escrevyre a V. A. ho que fica. Beyjarey as mãos a V. A. que com brevydade seja servydo mandar que a obra vaya adiante, e pois ja se a tomado esperiencia do custo das achegas podiase entender per os mestres das obras de V. A. em quanto e como se deve dar de empleytada e elles conheceram as pesoas ou pesoa a que se deva dar e eu seria muy consolado que a mays tardar se começase por todo febereiro. E V. A. fara merce ao cabydo e a mym em dar licença que peçamos ao Papa indulgencias para todos que fizerem esmola a esta see pera as obras della e juntamente nos de cartas de favor e senam for pera todos os do renho seja pera os deste bispado e pera fora deles ate XIII leguas de Miranda, e se peço muyto peço perdão e dando V. A. esta licença e com o petitorio que avera no bispado desque a obra se começar e com o rendimento da fabrica e com nos fazer V. A. merce da sua terça, se diso for servido, avera dinero pera que a obra creça e vaya muy avante e se acabe em breve tempo. Jorge Gomes a dado en esta deligencia que V. A. lhe mandou fazer mostras de homem de bem e muy bom servydor e fiel; elle a servido muy bem, e sem escandalisar, e porem convem que ora se de a obra de empreytada, ora de outra maneyra que V. A. mande pasar provysiones muy fortes pera que se dem todas as cousas necesarias porque nan faltan tres ou quatro o cinco poderosos segundo a calidade da terra que por seos interesses e porque comem dos labradores os faram amotinar deytando a pedra e escondendo a mam e nunca acabaram, como fizeram em Lampazes aos dos botos: cuytados delles que agora lhes manda ca listo pedir dinheiro e o labrador e caro e jumento gue merecer XX farlheam que nam o faça por – R – (quarenta). Jorge Gomes entemdeo bem ysto. Deos todo poderoso tenha a V. A. sempre com sua mão piadosa pera que em tudo lhe faça a vontade amen. De Myranda 28 de agosto de 1548. O bispo de Myranda». A propósito da Sé de Miranda leiam-se os artigos adiante insertos, consagrados a Torralva (Diogo) e Velasques (318).

(318) VITERBO, Sousa – Dic. dos Arquitectos…, artigo «Gomes (Jorge)».

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GOMES (Violante) – Chamada pelo povo a Pelicana, célebre na história pela sua formosura e por ser mãe do Prior do Crato, D. António, que ainda chegou a ser aclamado rei de Portugal em Lisboa e Santarém. O apelido de Pelicana provir-lhe-ia da beleza empolgante que todos lhe reconheciam, como querem alguns escritores, ou derivaria naturalmente do amor com que enfeitiçou o régio príncipe D. Luís, despertando assim a ideia de buscar-lho em heráldica, onde o símbolo dos Gomes é um pelicano, que significa extremos de amor... paterno. Segundo Vilhena Barbosa (319) e o Portugal Antigo e Moderno, a Pelicana era natural de Moncorvo, judia de origem, qualidade que geralmente lhe reconhecem todos os escritores, mas Camilo Castelo Branco (320) pretende concluir do facto de Diogo Carlos, frade franciscano, doutor em teologia, lente da sua ordem, que acompanhou seu primo D. António a Paris e lhe escreveu o testamento em 1595 e filho duma tal Clara, irmã da Pelicana e de seu marido Francisco Carlos, que não proviriam de família judaica por causa das dificuldades na habilitação de genere para a recepção de ordens e ingresso em religião. Não nos parece razão aceitável, atenta a preponderância da família, ao tempo; a trivialidade do facto de que há muitos exemplos ainda hoje, e que no tempo passado assim foi, vê-se pelos muitos presbíteros que nas listas das diversas inquisições de Portugal aparecem condenados por judaísmo. Ignoramos de onde consta originariamente a notícia que adscreve a Moncorvo a naturalidade da Pelicana (321); o mesmo Camilo, lugar citado, diz que Pero Gomes, pai da Pelicana, que, além da anteriormente já nomeada, também o devia ser de Guiomar Gomes, casada com António Carlos (322) , se estas duas não são uma e a mesma, como parece, residia em Évora pelos anos de 1544. Segundo a tradição, ainda hoje muito viva em Moncorvo, onde ainda há uma rua chamada do Prior do Crato e nela se mostram as casas que dizem haver sido habitadas por sua mãe, o duque de Beja, D. Luís, filho de el-rei D. Manuel, em excursão pelo reino, viu numa dessas célebres feiras, que ao tempo se faziam naquela rica vila bragançana, a deslumbrante Pelicana; ficou preso de tantos prodígios de graça sedutora e... do casamento secreto, verdadeiro ou simulado, como insinua Camilo, lugar citado, ou do simples concubinato, resultou o infeliz pretendente ao trono de Portugal, D. Antó(319) BARBOSA, Vilhena – Cidades e vilas que têm brasão de armas. (320) CASTELO BRANCO, Camilo – D. Luís de Portugal, neto do Prior do Crato. Porto, 1883, p. 143. (321) Corografia Portuguesa, tomo I, p. 424, diz: «Ha tradição bem fundada, que foi natural d’esta villa (Moncorvo) a mãy do senhor D. António». (322) CRUZ, Bernardo, Frei – Crónica de El-Rei D. Sebastião, p. 429.

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nio, Prior do Crato, que nasceu em 1531, segundo querem muitos escritores, ou 1529, no parecer de outros, mas mais provavelmente em 1534 (323). Violante Gomes recolheu-se depois da sua separação do infante D. Luís a Vairão, de onde passou ao mosteiro de Almoster e lá faleceu a 16 de Julho de 1569 (324). D. António, para mais justificar as suas pretensões à coroa, tratou de mostrar ser filho legítimo do infante D. Luís; mas sabendo que esta pretensão não agradava ao cardeal-rei nem ao duque de Bragança, fez correr o processo de justificação secretamente diante de Manuel de Melo, clérigo da Ordem de S. João, como lhe facultava a qualidade de Prior do Crato e profissão na mesma ordem, o qual pronunciou a sentença seguinte: «Christo nomine invocato. Vistos estes autos, etc. Perante a Commissão de minha jurdição, que me foi solemnemente commettida no capitulo provincial ácerca dos negocios e das pessoas, que podem gozar dos privilegios da Ordem de S. João, e como o Senhor D. Antonio é uma dellas, e bem assim vista a procuração de sua excellencia, que por mim foi recebida, prova dada, assim de testemunhas, como de outros documentos, mostra-se que o infante D. Luiz, sendo mancebo e em idade florente se namorara de Violante Gomes, donzella muito fermosa, honesta e de grande graça e descrição, e por seus amores fazer muitos extremos publicos, de muitas invenções, musicas, motes, e cantigas; e como se prova ser tão afeiçoado á dita Violante Gomes, que, forçado do amor que lhe tinha, a recebeu por mulher por doutra maneira não poder conseguir o effeito de seus amores, por a muita resistencia que achou da muita virtude assim na dita donzella, como em sua mãe, e tanto que a recebeu por mulher, logo mandar-lhe chamar Dona Violante; e assim, visto como se prova, que, depois do dito senhor infante ser cazado com a dita senhora dona Violante lhe sahiram muitos casamentos, sem nunca querer acceitar nenhum delles, nem o reino de Inglaterra, que se lhe offerecia, com a rainha Maria, antes dizia que não podia cazar nem ter outro reino, mais que uma cella, em que ao tal tempo estava; e bem assim visto como se prova o dito senhor infante mandar tratar a dita senhora Violante como sua mulher, depois que a recebeu, com vestidos e com joias, e assim no mosteiro lhe mandar tudo de sua caza, e fazer o que ella mandasse, no alto e no baixo, sem ter com ella conta, e assim mandar ao senhor dom Antonio seu filho lhe obedecesse como filho conforme a lei divina e homana, e que nunca pôz os olhos em outra mulher,

(323) CASTELO BRANCO, Camilo – D. Luís de Portugal…, p. 161. (324) Idem e BARBOSA, Vilhena – Cidades e vilas…

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depois que conheceu e recebeu esta senhora; e outro sim, visto como se prova em seu testamento nomear ao senhor dom Antonio por filho seu simplesmente, sem addição, nem accrescentar natural, e alem disso o instituir por seu herdeiro de toda sua fazenda o que, conforme o direito civil e canonico bastava para se provar, como de feito basta, para ser havido por legitimo; quanto mais que se prova El-Rei e a rainha que estão em gloria, confessaram que o infante recebera a dita senhora dona Violante, e como seu filho legitimo trataram o senhor dom Antonio, nas honras secretas e publicas, e dizerem que não era necessario publicar que era legitimo, pois havia de ser clerigo, e tambem se prova a dita senhora rainha tratar a dita senhora Violante, no mosteiro de Almoster, onde a viu, de tal maneira, que logo pareceu, nas honras que lhe fez, que era mulher do infante, e assim o disseram logo as donas que com ella foram, o que não fizera a dita senhora rainha se ella senhora dona Violante não fora mulher do infante, e fallando-lhe a camareira-mór, dona Joanna de Sá, sobre as ditas honras, respondeu, que tudo merecia, por ser mãe do senhor dom Antonio, e o mais que ela camareira-mór sabia, que era ser mulher do infante, como as testemunhas declaram, e assim visto, como se prova a dita senhora rainha o confessar e dizer, e o tratamento que sempre fez ao senhor dom Antonio ser avantajado do que fazia ao senhor dom Duarte; e outro sim, visto o regimento que o dito senhor infante deu a Sua Excellencia, de como havia de escrever aos fidalgos e senhores, e que ao senhor dom Duarte não puzesse no sobrescrito meu senhor, nem aos duques beijo as mãos, e assim visto como el-rei seu tio se prova lhe dar as armas de seu pae sem labéu de bastardia, o que tudo se não fizera se legitimo não fora; e visto, outro sim, como se trata perante mim nestes autos de legitimidade, no qual caso o direito se contenta com muito menos prova, que tratando-se do casamento, ainda que seja em prejuizo de terceiro; e como se prova as principaes testemunhas de vista não poderem testemunhar e estarem impedidas por quem lho podia defender defeito, com o mais, que se pelos autos mostra, julgo e declaro, pela auctoridade a mim commettida, o dito senhor dom Antonio ser filho legitimo do dito senhor infante dom Luiz e da dita senhora dona Violante, nascido de legitimo matrimonio. E mando se lhe passem do processo as sentenças que pedir. A vinte e tres de Março de mil quinhentos e setenta e nove annos. = Frei Manuel de Mello» (325).

(325) CRUZ, Bernardo da, Frei – Crónica de El-Rei D. Sebastião, escrita pelos anos de 1586 mas só publicada em 1837 por Alexandre Herculano, p. 390.

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O cardeal-rei não levou a bem estas pretensões, e para as inutilizar obteve do papa Gregório XVI uma bula de motu proprio com comissão para ser juiz da causa da legitimidade de D. António e poder revogar a sentença retro, que tinha por sub-reptícia. A sua execução foi cometida aos prelados e desembargadores: D. Jorge de Almeida, arcebispo de Lisboa; D. Jorge de Ataíde, capelão-mor, bispo de Viseu; D. António Pinheiro, bispo de Miranda; e doutores Paulo Afonso, Pero Barbosa, Jerónimo Pereira de Sá e Heitor Pinto. A sentença julgava D. António como filho natural, não legítimo, do infante D. Luís (326). Não entraria por muito nesta sentença a má vontade do cardeal-rei, facto bem assente na história (327), para com o justificante? Ainda que não queiramos meter em linha de conta o palacianismo dos juízes; excluída mesmo a nota de suspeição pelo lado destes e qualquer tentativa de suborno por parte do monarca, sempre houve muita gente pronta a tudo sacrificar à vontade régia. Rebelo da Silva (328) acha pouco concludentes as provas apresentadas por D. António, que já tinha cinquenta anos quando foi da justificação (329), «e a nota de illegitimo – diz ele – é quasi certa»; e acrescenta quanto às testemunhas: «D. Antonio apresentou testemunhas complacentes achadas entre os da sua familia, que não hesitaram em depôr o que se lhes ensinou, mas interrogadas depois com serenidade pelos ministros do Cardeal D. Henrique, confessaram o perjuro, desmentindo-se. É curiosa e romanesca a pretendida história d’este casamento. D. Luiz deslumbrado pela belleza da Pelicana baqueia perante a sua inabalavel virtude, que não cede senão sanctificada a sua juncção perante os altares». O seguinte facto é por si só bastante para determinar nos espíritos fortes motivos de dúvida às afirmativas dos que nos dão D. António como ilegítimo. Na História Genealógica da Casa Real Portuguesa (330) vem transcrita a sentença atrás referida, e a «Prova 80» do mesmo livro dá na íntegra o testamento do infante D. Luís, pai do Prior do Crato, e na nota que ao mesmo pôs o autor, pág. 521, diz que esta cópia não é autêntica e que foi tirada duma outra existente no arquivo da casa de Bragança, porque o original desaparecera da Torre do Tombo no tempo da administração de Castela. Camilo Castelo Branco (331) transcreve o assento dum baptismo de uma (326) CRUZ, Bernardo da – Crónica d’El Rei D. Sebastião, p. 433, onde vem por extenso. (327) SILVA, Rebelo da – História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, vol. I, «Introdução», (328) Ibidem, «Introdução», p. 305 e 335. (329) CRUZ, Bernardo da – Crónica de El-Rei D. Sebastião…, p. 433. (330) Livro 4, provas 82 a 87. (331) CASTELO BRANCO, Camilo – D. Luís de Portugal…, p. 143.

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das freguesias de Évora, onde se lê: «Em 15 de Julho de 1544, baptizou o bacharel d’ella (da paróquia), o padre Diogo Vidal, a Luiz filho de uma escrava de Pero Gomes, sogro do infante D. Luiz», o qual também se encontra copiado na Biblioteca de Évora, códice CIII 1, 17, fl. 56. Este documento constituirá uma prova esmagadora a favor da legitimidade de D. António, se realmente não foi forjado a fim de reforçar as pretensões do Prior do Crato ao trono português. GONÇALVES (Afonso e António) – Arquitectos, que fizeram o convento e igreja de Santa Clara de Bragança, e Jerónimo Gonçalves, Pero Gonçalves e Tomás Pires a obra de carpintaria do mesmo. Vieram pelos anos de 1596 (332). Seriam simplesmente mestres-de-obras? GONÇALVES (Diogo) – «Theor da obra de Bragança», isto é, da sua torre de menagem, vulgarmente chamada castelo de Bragança, pelos anos de 1434 (333). Teor corresponderá a arquitecto, mestre-de-obras? GONÇALVES (Garcia) – Benemérito jesuíta do colégio de Bragança, falecido em 1559, que se distinguiu pela caridade e coragem com que socorreu os pobres e doentes durante uma epidemia mortífera (334). GONÇALVES (Padre Garcia) – Jesuíta, cuja pátria se ignora, mas que faleceu no colégio da Companhia em Bragança a 24 de Março de 1599. O Hagiológio celebra as virtudes notáveis deste varão na caridade, compaixão dos trabalhos alheios, fervoroso e incansável em lhe procurar pronto remédio, o que lhe mereceu o título de pai dos pobres, «occasionando-se-lhe a morte do immenso trabalho que tomou em lhes acudir, e remediar em uma grande fome, que ouve em seu tempo, de que caiam os homens mortos pelas ruas, praças e campos, sem aver quem lhes acudisse, andando elle de continuo buscando-lhes esmolas e desencovando-as para os soccorrer com ellas» (335). GONÇALVES (Horácio de Assis) – Tenente de infantaria, antigo combatente da Grande Guerra. Nasceu em Vinhais a 29 de Junho de 1880; filho de João Manuel Afonso Gonçalves e de D. Teresa de Jesus Fernandes. É director da revista A Guerra e secretário particular do actual ministro das

(332) Ver tomo III, p. 222, destas Memórias. (333) Ibidem, tomo I, p. 260. (334) Ibidem, p. 285. (335) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano referente ao dia 24 de Março.

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Finanças, doutor Oliveira Salazar, desde 1928. Fez os estudos secundários no Seminário Diocesano de Bragança, onde chegou ao 2.° ano de teologia, e no liceu da mesma cidade, e os estudos militares em Lisboa e Coimbra. É oficial da Ordem de Cristo, Cruz de Guerra e cavaleiro da Ordem de Avis, tendo sido louvado várias vezes em ordens de batalhão, de regimento, de divisão, de corpo de exército e do exército. Tem colaborado em diferentes jornais e publicou: Portugal na Guerra – «O batalhão expedicionário de infantaria n.° 12 na Flandres (1917-1919)». Porto, sem ano de impressão. 8.° pequeno de 540 págs. e 10 gravuras. Na Cepelândia («Retalhos da Grande Guerra»). Porto, sem ano de impressão. 8.° de 439 págs. com 25 gravuras. Necessidade da força armada. Porto, 1921. 8.° de 99 págs. A infantaria na Flandres e na História. Guarda, sem ano de impressão. 8.° de 46 págs. com uma gravura. Pátria e Exército («Alocuções militares»). Porto, 1923. 8.° de 168 págs. No combate – «Ligações entre a infantaria e a artilharia, segundo as lições da Grande Guerra». Porto, sem ano de impressão. 8.° de 127 págs. e duas inumeradas. Chama da Pátria – «Esforço de Portugal na Grande Guerra». Coimbra, 1924. 8.° de 47 págs. e 4 gravuras. O «Vinte e três» – «Efemérides biográfico-sintéticas deste regimento desde a sua origem (1806) até aos nossos dias (1922)». Porto, 1926. 8.° de 276 págs. e 5 gravuras. Rescaldo da Flandres («O meu último depoimento para a história do C. E. P.»). Porto, sem indicar ano de impressão. 120+2 (inumeradas) págs. e 3 gravuras. Comunicações em campanha (está a imprimir-se). Portugal nas guerras da Europa. Separata da Revista Militar. Tem colaborado em prosa e verso nos seguintes periódicos: Legionário Trasmontano; A Ordem; A Liberdade: Revista Católica; O Pinheirense; A Guarda; O Combate, da Guarda; O Setubalense; O Correio de Coimbra; A Gazeta, de Coimbra; A Voz de Coimbra; O Trás-os-Montes; Revista Militar e A Guerra, de que é director. GONÇALVES (João) – Pedreiro da comarca da Torre; mas, pelo contexto do documento que a seguir se reproduz, vê-se que deve ser Torre de Moncorvo, que, sem dúvida por esquecimento, não especificaram. Em 1611 arrematou ele a construção de uma ponte sobre o rio Sabor. Eis o documento: «Eu El Rey faço saber aos que este alvara virem que avendo respeito ao

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que polla petição atras escrita me enviarão pedir os officiaes da camara da villa do Mogadouro, e vista a ymformação que se ouve do provedor da comarca da cidade de Miranda, porque constou que, pomdosse em pregão de novo a obra da pomte que se hade fazer no rio Sabor, não ouve quem o quizesse aceitar nem lamçar nela em menos comtia que doze mil cruzados, que sam mais tres mil dos nove em que polla mynha provisão, que para ysso mandey passar a vinte e seis de outubro do anno de mil e quinhentos noventa e hum, foi arrematada a officiaes que sam já falecidos, sem ategora se por em effeyto a obra da dita pomte, semdo tão necessaria, e que os ditos tres mil cruzados que acrecião da dita arrematação dos nove mil fora por se acresemtar mais do que estava na traça antiga, que os talhamares fossem mais largos, todos de camtaria, não semdo damtes mais que as quinas delles e o arco mayor assy o anel como a volta toda de camtaria, e que este lanço fizera João Gonçalves, da comarca da Torre, a que a obra fora arrematada, ey por bem e me praz que pollos apomtamentos que amtigamente se fizerão da dita obra, pollo que mais acrescentou nelles o dito João Gonçalves, se faça e ponha em effeito a obra da dita pomte e se lamcem mais para ella os ditos tres mil cruzados pollas comarcas da Guarda, Coymbra, Esgueira e Viseu e os nove mil pollas de Miranda, Torre de Moncorvo, Guimaraaes, Porto, Lameguo, conforme a dita provisao......... Lixboa 2 de Setembro de 1611» (336). GONÇALVES (José) – Mestre canteiro, natural da freguesia de Santa Maria de Âncora, termo da vila de Viana, arcebispado de Braga, Manuel Fernandes, mestre carpinteiro, do lugar de Palaçoulo, termo de Miranda, e Manuel Afonso, da vila de Outeiro, arremataram em 1787 as obras de pedreiro e carpinteiro da capela-mor da igreja de S. Joanico, anexa de Caçarelhos. A comissão para mandar proceder ao auto de arrematação foi passada ao doutor Francisco José da Serra, abade de Cicouro. A obra de talha da mesma capela-mor foi arrematada por José Fernandes, mestre entalhador, de S. Martinho, termo de Miranda, pela quantia de cento e dez mil réis, que era muito capaz, segundo se mostrava, «nas muitas obras que tem feito nesta terra». As condições da obra, no respeitante a canteiros, são, com pequena diferença, as já apontadas em obras desta especialidade. Notemos apenas que os alicerces das paredes teriam seis palmos de fundura e que «levarão estas paredes sua faxa ou soco de cantaria á roda, de tres palmos de alto». Entendemos que esta faixa seria ao nível do terreno. Nas condições de carpintaria declara-se que toda a capela-mor seria (336) VITERBO, Sousa – Dic. dos Arquitectos…, artigo «Gonçalves (João) 4.°».

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«forrada toscamente e por baixo apainelada até o retabulo com seis caixilhos de molduras e suas rosetas nos cantos de cada hum. Levará suas quartelas nos frisos resaltiadas com sua cornige e levarão as quartelas sua talha com largura que avulte... e forrará a mesma sacristia lizamente na forma chamada escama de peixe com seu frizosinho á roda». As condições da obra de talha eram: «Levará sobre o altar sua banqueta proporcionada e sobre ela seu banquo entalhado, e goarnecido com suas molduras correspondentes. Levará quatro colunas, duas por banda com seus capiteis entalhados, e targe. Levará seu caixilho goarnecendo a boca da tribuna. Levará seu pilar entalhado pela boca da mesma tribuna. O soco das colunas subirá acima a despedir goarnecido com sua moldura que facei com o tecto. Levará sua sanefa faciando toda a obra. Levará seu esplendor no remate da obra. Passará a cornige de toda a obra em volta com seu ressalto meyo. Fará a tribuna com tres bojos na forma ordinaria». José Gonçalves arrematou também em 1787 a obra da capela-mor da igreja matriz da Granja de S. Pedro, anexa de S. Pedro da Silva, e foi também ele que fez a desta povoação (337). GONÇALVES (Manuel) – A capela-mor da igreja paroquial de Avelanoso, concelho de Vimioso, foi arrematada a 22 de Junho de 1752 por Manuel Gonçalves, «mestre canteiro da provincia do Minho», por 430$000 réis. A obra era a fundamentis, isto é, toda de raiz. No acto da arrematação o porteiro gritou «em vos alta e intelegivel quem quer fazer a obra da capela mor da Igreja de Avelanoso que se remata logo doulhe huma doulhe duas doulhe tres outra mais pequinina e por ter lançado na dita obra Manuel Gonçalves» foi-lhe adjudicada (338). Segundo as condições do contrato, a capela «terá de comprimento pella parte de dentro vinte e seis palmos, de largo vinte e dous, e de alto dezanove, tudo por dentro. O arco cruzeiro terá de alto dezanove palmos no pé direito e de largo quatorze, com sua sepa em lugar de vara, e imposta em lugar de capitel, e esta caminhará pellos lados para arancar a abobeda. O mesmo arco será apilarado pella frente. As paredes dos lados sairáo de seis palmos, e meyo cinco emthe a gola da terra, e ahi serão cortadas pella parte de fora, e serão de cinco palmos, e meyo dahi para cima. A emperia dos cortes será de tres palmos, e meyo, e a do arco será de tres palmos, e todas as paredes referidas serão asentadas em fraga. (337) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (338) A arrematação era feita ante a autoridade eclesiástica, que mandava afixar anúncios nos lugares costumados, e o pregoeiro era o meirinho da mesma autoridade.

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Levará seus cunhaes de pico apilarados nos cortes; estes não terão vara nem capitel, subirão na altura necessaria para dar corrente ao telhado, que hade ser asente sobre a abobeda entulhada de mescla, e pedra, e correrá a sua cornija de meya cana, e levará quatro piramides nos cunhais; e os dous cunhaes da parte do arco sairão; o que descobrirem do corpo da Igreja. Levará duas cruzes nas empenas com seus pedestraes. As paredes serão de masacote a saber cinco partes de barro, e tres de cal, e serão feitas de boa pedra e bem tramadas. Da parte da Epistola terá sua fresta de seis palmos de alto na luz, e dous de largo, com suas fachas por dentro, e por fora. Terá seu degrau com seu bucel ao arco cruzeiro, e será toda lageada, e muito bem ajustada, e a cantaria bem lavrada. O altar terá tres degraus de cantaria bem lavrada, e com seu bucel; os dous primeiros correrão de parte a parte, e o terceiro terá tres entradas... o telhado será dobrado e muito bem embocado de cal e area na forma que está o de Santa Cruz desta cidade [Miranda do Douro]. As piramides serão de sepa, golla e espigão com sua bola em cima. As aduellas do arco cruzeiro não terão menos de palmo, e quarto na cabeça lavrada e metade della he por conta do povo». No final do maço destes documentos vem uma certidão de Francisco Martins Parreira, cura de Avelanoso, datada de 8 de Junho de 1753, onde declara que a obra está concluída «e vista examinada pello mestre que fez os apontamentos», ou sejam as condições artísticas a que a obra tinha de obedecer, a qual corria por conta do cabido de Miranda, por ser quem recebia os dízimos de Avelanoso. No acto de arrematar a construção da igreja de Vale de Lamas, concelho de Bragança, em 1788, «principiou o pregoeiro Romão Luiz a dizer quem quer lançar na obra da capella mayor de Val de Lamas pertencente a pedraria e entre varios lances que houve o menor foi o que deo Antonio Fernandes, de Cabeça Boa, em oitenta e nove mil e quinhentos reis e por não haver quem por menos a fizesse elle dito senhor Menistro [a arrematação era feita em auto público na Câmara Eclesiástica de Bragança, ante o provisor do bispado – Ministro – como diz o documento] a mandou aprontar e satisfeito pelo pregoeiro dizendo na praça o acho na praça o arremato porque mais não acho doulhe huma doulhe duas doulhe huma mais pequenina e e quem a faça por menos senão dou o Ramo e por não haver quem por menos a fizesse lhe mandou dar o Ramo que elle arrematante aceitou e se obrigou a fazer a dita obra na forma dos apontamentos que lhe forão mostrados antes de se fazer a rematação» (339).

(339) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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GOUVEIA

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GOUVEIA (Miguel Augusto) – Natural de Bragança; capitão, governador do distrito de Tete; viúvo, de trinta e oito anos de idade, filho de Francisco Maria de Gouveia; morreu barbaramente assassinado em Tete, distrito de Quelimane, África Oriental, a 6 de Julho de 1867, pela gente de António Vicente da Cruz, chamado em língua cafre Bonga, que quer dizer Gato do mato. As causas desta guerra de Tete ou, melhor, da Zambézia, eram: o Bonga, negro poderoso e cruel, haver atacado «as propriedades de colonos de prasos da corôa, e as terras de outros potentados indígenas, seus visinhos, roubando-os e matando gente ou escravisando-a» e sacrificar os indivíduos que supunha feiticeiros e aos quais atribuía malefícios recebidos. No intuito de o prender, partiu Miguel Gouveia à frente de sessenta praças regulares, cinco oficiais e setecentos a oitocentos indígenas auxiliares armados de espingardas ou de arcos e flechas. A notícia do desastre só chegou a Lisboa a 20 de Novembro de 1867. O governador e os oficiais que o acompanhavam foram mutilados e mortos depois de lhe infligirem cruéis tormentos. Sobre os motivos que levaram Gouveia a empreender esta expedição correram diferentes versões: diziam uns que o governador, «attrahido por negocios commerciaes que tinha com o Bonga, fizera aquella infeliz guerra de que fôra victima; outros que o Bonga, tendo-lhe fugido muitos pretos e pretas para Tete, em consequencia dos flagicios que lhes dava, fizera guerra aos moradores de Tete, devastando tudo quanto ficava fora da fortaleza; d’ahi a necessidade de o combater; e ainda outros: que ficando o Bonga na margem direita do rio Zambeze, margem aonde fica Tete, e que sendo aquelle um obstaculo poderoso para o concurso entre o mar, Quelimane e o sertão, todos os moradores estavam assustados, porque o Bonga lhes roubava todas as fazendas que iam rio acima, rio abaixo», sendo este o motivo da expedição. A versão de que Gouveia fora levado a empreender a campanha contra o Bonga «por motivos menos nobres e legitimos, já de indisposição pessoal que tinha com o Bonga, já de obter d’elle o pagamento de sommas que lhe devia», correu também na Zambézia, e o governador de Quelimane transmitiu-a ao governador geral da província, Canto e Castro, e este ao governo de Portugal; mas depois reconheceu-se, por informações insuspeitas, que tal suposição era destituída de fundamento e injusta para a memória dum oficial que sempre gozou dos melhores créditos. Ocupando-se do caso na câmara dos deputados, disse Joaquim Pinto de Magalhães, eleito então por Moçambique: «Devo dizer, em abono da justiça, que quando estive em Moçambique como governador geral desde 1851 a 1854 conheci Miguel Augusto Gouveia e posso affirmar que era um dos officiaes mais honrados, mais disciplinadores e mais valentes que havia na província; era um official honrado e brioso. E até o ultimo governador de Quelimane, Delfim José d’Oliveira, official intelligentissimo e insuspeito, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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GOUVEIA

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que acaba de chegar á Europa, tambem diz que não foram os maus motivos que obrigaram aquelle governador a fazer a guerra, mas sim os bons, porque queria livrar o sultão de um regulo que lhe era tão nefasto» (340). Na freguesia da Sé, em Bragança, encontra-se o assento de casamento de uma, ao que supomos, irmã de Miguel Gouveia, celebrado em 1852, e por ele se vê que era filho de Francisco Xavier de Gouveia e de D. Maria Madalena, naturais de Bragança. À margem do assento há uma nota do pároco em que declara ter passado certidão desse termo para fins dos interessados se habilitarem à herança de onze contos e tantos réis depositada no ministério da Marinha e pertencente ao espólio de Miguel Augusto Gouveia, falecido no ultramar. No jazigo de mármore que a sua família (Gouveia) lhe mandou erigir no cemitério público de Bragança lê-se o seguinte: Meu Deus, meu Deus / Porque me desamparastes. Eis como um contemporâneo narra o facto: «O Bonga sabe diariamente o que se passa em Tete, sabe que o governador (capitão Gouveia) se aproxima. Abandona a aringa. Os de Tete tomam posse d’ella. Contentamento geral. Comem e bebem talvez demasiadamente. Ao mesmo tempo annuncia-se a chegada do auxilio de duzentos pretos que o Belchior do Nascimento, capitão-mór do Guengue, havia prometido. Entraram. Mas, desgraçadamente, é a temivel guerrilha, que não foi reconhecida. Em ocasião propria, que não tardou, lança-se aos de Tete, cortando-os a golpes de faca e machadinha. Não escapou um official, morador ou soldado europeu. Escaparam muitos pretos. É conservada a vida ao governador. Depois de o martirisarem durante alguns dias, cortam-lhe as orelhas e concedem-lhe a liberdade, liberdade que elle recusa aceitar. Então o Bonga, lançando mão de uma espingarda caçadeira de dois canos, dispara á queima-roupa sobre o desgraçado» (341). No primeiro arruamento, à esquerda de quem entra, do cemitério público de Bragança há uma sepultura pelo sistema de vaso, formado por guarnição rectangular de granito, cheio de terra para plantação de flores, sobre o qual se eleva uma coluna cilíndrica de mármore encimada por uma cruz assente sobre plinto do mesmo material, com talvez três metros de altura, no todo. Numa faixa que envolve a coluna ostenta-se uma coroa de carvalho (?) em relevo, atravessada por uma espada e por cima desta a legenda: Meu Deus /porque / me desamparaste. (340) Sessão da câmara dos deputados de 6 de Maio de 1868, in Diário do Governo do dia 8 seguinte. (341) Delfim José de Oliveira, tenente-coronel, ex-governador de Tete, Apontamentos sobre o Bonga, 1868.

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GOUVEIA

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GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA

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Na face sul do plinto lê-se: Aqui jaz / D. Maria Magdalena / da Veiga Cabral de Gouvea / a sua saudosa memoria / alevantarão esta pedra / seus extremosos filhos / Miguel Augusto de Gouvea / Carlos Luiz de Gouvea / Christina Carolina de Gouvea / Anna Carolina de Gouvea / Anno de 1868. No lado oposto havia a inscrição referente ao trucidado Miguel Augusto Gouveia, que há pouco apagaram cobrindo-a de cimento (!!), no intuito provável de ali gravarem o epitáfio de outro personagem, o que ainda não fizeram, limitando-se a mandar pintar a tinta de óleo os seguintes dizeres: Jazigo da / Família Gouveia N.° 65. Que tristeza!... A própria família a tentar apagar a memória do seu representante máximo, a memória de quem foi alguém na Pátria!!!... GOVERNADORES CIVIS DO DISTRITO DE BRAGANÇA – Os supremos magistrados chamados governadores civis tiveram no princípio as designações de «Prefeitos provinciais» e «Administradores gerais». A instalação do governo civil de Bragança teve lugar a 28 de Setembro de 1835. A lista dos governadores civis deste distrito que damos a seguir encontra-se no «Livro das Actas de Posse» dos mesmos, existente no governo civil desta cidade, que começa na segunda gerência de João Manuel de Almeida Morais Pessanha. Os seus antecessores vêm mencionados numa folha avulsa, dactilografada, existente no mesmo edifício, a qual foi publicada em O Nordeste de 20 de Março de 1908. Também nos extractos da sessão da câmara dos deputados de 19 de Maio de 1866 publicou o Diário respectivo uma lista dos governadores civis de Bragança, por sinal muito incompleta. Não mencionamos aqui os nomes desses magistrados que serviram interinamente; e dos substitutos mui excepcionalmente referimos alguns. Segue a lista: Venâncio Bernardino Ochoa. Manuel de Castro Pereira de Mesquita Pimentel Cardoso e Sousa. António Rodrigues Sampaio (substituto). Rodrigo Pinto Pizarro Pimentel de Almeida Carvalhais. Joaquim Ferreira Real. João Manuel de Almeida Morais Pessanha. Júlio do Carvalhal de Sousa Teles. Francisco Xavier de Morais Pinto. António Júlio Taveira Pinto Pizarro. António José de Miranda. Manuel de Almeida Pessanha. Joaquim Xavier Pinto da Silva. Alexandre Pinto da Fonseca Vaz. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA

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Guilhermino Augusto de Barros. Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima. Cláudio Mesquita da Rosa. António Joaquim Ferreira Pontes. Aires Guedes Coutinho Garrido. José Alves Pinto de Azevedo. Jacinto António Perdigão. Francisco de Almeida Cardoso e Albuquerque. Augusto Correia Godinho Ferreira da Costa. Carolino de Almeida Pessanha. Diogo Albino de Sá Vargas. Tomás António Ribeiro Ferreira. Adriano José de Carvalho e Melo. António Maria de Morais Machado. Eduardo José Coelho. José Tibério de Reboredo Sampaio e Melo. Casimiro António Ribeiro da Silva. Doutor João José de Freitas; tomou posse em 8 de Outubro de 1910. Doutor Domingos Frias de Sampaio e Melo (substituto); tomou posse em 2 de Novembro seguinte. Doutor António Luís de Freitas, em 20 de Junho de 1911. José Maria Quirino Pacheco de Sousa, em 16 de Outubro seguinte. Luís da Costa Amorim, em 24 de Fevereiro de 1912. Doutor Agostinho Lopes Coelho (substituto), em 12 de Abril seguinte. Custódio José Ribeiro, em 23 de Janeiro de 1913. Doutor António Avelino Joice, em 31 de Março de 1914. Custódio José Ribeiro, em 15 de Janeiro de 1915. Doutor Alfredo Monteiro de Carvalho, em 23 de Fevereiro seguinte. Doutor António Avelino Joice, em 31 de Maio, idem. Doutor Constâncio Arnaldo de Carvalho, em 7 de Novembro de 1917. António Augusto Teixeira (substituto), idem. Ernesto Pinto Emílio de Oliveira, em 11 de Dezembro de 1917. António Amorim de Carvalho, em 20 de Dezembro, idem. Eduardo Ferreira de Almeida, em 19 de Fevereiro de 1918. Doutor Luís António Rodrigues Lobo, em 30 de Março, idem. Carlos António Leitão Bandeira, em 21 de Janeiro de 1919. Carlos Augusto Vergueiro, em 24 de Janeiro, idem. Desidério Augusto Ferro de Beça, em 21 de Fevereiro, idem. António Bastos Pereira (substituto), em 10 de Abril, idem. Doutor António Carlos Alves, em 12 de Junho, idem. Custódio José Ribeiro, em 22 de Abril de 1920. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


GOVERNADORES DAS ARMAS DE TRÁS-OS-MONTES

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António de Moura Pegado, em 19 de Outubro, idem. Doutor Agostinho Lopes Coelho, em 10 de Junho de 1921. Acácio Augusto Mariano (substituto), em 18 de Julho, idem. Teodorico Ferreira dos Santos, em 30 de Novembro, idem. Adrião Martins Amado (substituto). Doutor Álvaro da Cunha Ferreira Leite, em 21 de Novembro de 1923. José Monteiro Cabral de Vasconcelos, em 4 de Janeiro de 1924. Benjamim dos Anjos Jerónimo, em 13 de Fevereiro de 1924. Doutor Alfredo Rodrigues dos Santos, em 19 de Abril, idem. Adrião Martins Amado, em 19 de Setembro, idem. Coronel José Anastácio Leite Falé, em 30 de Maio de 1926. Tomás Augusto Salgueiro Fragoso, em 17 de Junho, idem. João Baptista Lopes Monteiro (substituto), idem, idem. Artur Pinheiro Coelho (idem), em 15 de Outubro, idem. GOVERNADORES DAS ARMAS DA PROVÍNCIA DE TRÁS-OS-MONTES Martim Velho da Fonseca, 1640. Rodrigo (ou Rui) de Figueiredo Alarcão, 1641 e, segunda vez, 1646. D. João de Sousa da Silveira, 1643. D. Jerónimo de Ataíde, conde de Atouguia (senhor de Vinhais), 1649. Joane Mendes de Vasconcelos, 1655. António Jaques de Paiva, 1656. D. Rodrigo de Castro, conde de Mesquitela, 1659. D. João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° conde de Castelo Melhor. Conde do Prado, 1663. D. António de Almeida, 2.° conde de Avintes. Sebastião da Veiga Cabral, 1698. D. António Salgado. Bernardo Filipe Neri de Távora, 2.° conde de Alvor, 1703. Francisco de Távora, 1.° conde de Alvor, 1704. Domingos Teixeira de Andrade, 1743. Francisco Xavier da Veiga Cabral, 1761. Simão Frazer, 1771. D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho. Roberto Wrey, 1783. Conde de Sampaio, 1793. Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, 1793 e, segunda vez, 1810. Marquês de Alorna, 1807. Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, 1.° conde de Amarante. Barão de Eben, 1813. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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GOVERNADORES DAS ARMAS DE TRÁS-OS-MONTES

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GRANDAIS

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Baía, 1817. Amaro Vicente Pavão. Gaspar Teixeira, 1823. Francisco António Pamplona. Luís do Rego Barreto, 1.° visconde de Geraz de Lima. António Claudino de Oliveira Pimentel. José Correia de Melo, 1826. Luís Carlos de Ordaz Sarmento Anhaz e Vasconcelos. Marquês de Valença, 1827. Visconde de Canelas. José António Botelho e Vasconcelos, 1827. Visconde do Peso da Régua, 1828. Visconde de S. João da Pesqueira, 1830. Gregório de Castro e Morais [2]. GRANDAIS (António José Pires) – Capitalista, natural de Baçal, concelho de Bragança; filho de Manuel Afonso Grandais, natural de Vale de Lamas, da mesma freguesia, que faleceu a 1 de Agosto de 1797, e de Maria José Pires, natural e moradora que foi em Baçal. Nasceu a 12 de Agosto de 1785 e faleceu em Lisboa no prédio n.° 14 da rua dos Navegantes, freguesia da Lapa, pelas três horas da manhã do dia 18 de Julho de 1860. Deixou universais herdeiros da sua grande fortuna, depois de satisfeitos os legados pios abaixo mencionados, que lhe constituem o título de benemerência porque entra nestas páginas, seus sobrinhos José António Vicente e Maria Teresa Pires, avó materna do autor destas linhas. Desde 1845 até à época da sua morte, António José Pires Grandais figura dum modo evidente na finança portuguesa, prestando, numa devoção cívica digna de louvor, o concurso do seu crédito nas dificuldades pecuniárias do Estado, nesses tempos de geral retraimento e crises omnímodas, concorrendo deste modo para restabelecer a confiança pública. Em 1846 (342) aparece entre os capitalistas habilitados na conformidade do artigo 3.° da carta de lei de 8 de Junho de 1843 para votarem e serem votados na eleição a que se ia proceder de dois membros efectivos e dois substitutos para a Junta de Crédito Público. Julgavam-se habilitados, no sentido da carta de lei anterior, os indivíduos que recebiam montante superior a 500$000 réis, provenientes de juros de títulos da dívida pública fundada averbados, há mais de um ano, em seus nomes, como se vê pelo Diário do Governo de 30 de Maio de 1848, que, entre a relação dos ditos, menciona Pires Grandais. Em 1851 entrou para a direcção do Banco de Portugal na qualidade de (342) Diário do Governo de 21 de Maio desse ano e 28 de Setembro de 1852.

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GRANDAIS

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substituto, eleito nas sessões de 21 e 31 de Janeiro e 8 de Fevereiro desse ano e novamente no ano seguinte, cargo em que se conservou por muito tempo (343). Nada mais explícito do que o seguinte trecho para avaliarmos o civismo dos que, como Pires Grandais, nessa época de desconfiança valiam aos apuros do governo, empregando os seus capitais em títulos da dívida pública: «Repentinamente – diz Barbosa Colen – desapparecera da circulação toda a moeda-metal; o credito até para os estabelecimentos mais solidos era recusado; as fabricas suspenderam os trabalhos; as companhias acabaram as suas transacções. O governo não sabia como vencer todas estas dificuldades. Na secretaria do ministério da Fazenda realizavam-se, pois, contínuas conferencias do ministro com os directores e com os principaes accionistas do Banco e da Companhia Confiança; com os grandes proprietarios e com os mais abastados capitalistas. Como fazer desapparecer promptamente a crise? Como conseguir baixar o agio das notas do Banco? O expediente para vencer esta ultima difficuldade afigurou-se... ser a creação do que se chamou a Caixa da Prata. Depois resolveu-se fazer a juncção do Banco de Lisboa com a Companhia Confiança, creando-se o Banco de Portugal (1846) – expediente de que resultou... juntar-se a fome com a vontade de comer. O governo, de tudo isso, o que alcançara de tangivel – fôra um esprestimo... de trezentos contos. Era uma gotta d’agua no oceano das despezas! Assim, o que houve tambem desde logo a fazer, foi suspender o pagamento dos juros do semestre da divida publica. O ministerio publicou a promessa de pagar... no anno proximo. Com isto e com o decreto que mandava receber as notas nos pagamentos pelo seu valor nominal, imagine-se como se accrescentariam as difficuldades da existencia e cresceria o descontentamento geral!» (344). Mas vejamos a parte notável do testamento de Pires Grandais, feito por mão própria a 7 de Fevereiro de 1856 e aprovado no dia seguinte pelo escrivão José Esperidião de Barros: «Deixo a cada uma das religiosas do mosteiro do Santissimo Sacramento da Ordem de S. Domingos, em Alcantara, d’esta cidade, a esmolla de 9$000 reis. Deixo a cada uma das religiosas do convento de Santo Alberto, ás Janelas Verdes, d’esta cidade, a esmolla de 9$000 reis, por uma só vez. Deixo a cada uma das religiosas do Real Convento do Sancto Cruci(343) Diário do Governo de 14 de Fevereiro de 1851, 11-2-1852 e 24-2-1855. (344) CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal Popular e ilustrada, vol. XI, p. 171, e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Pires Grandais».

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GRANDAIS

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GUARDIOLA

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fixo, na calçada da Estrella, também d’esta cidade, a esmolla de 9$000 rs. por uma só vez. Deixo a quantia de 200$000 rs. para ser distribuida pelas familias mais necessitadas e residentes n’esta freguezia de Nossa Senhora da Lapa, por uma só vez. Deixo ao Azilo de Mendicidade, d’esta cidade, para ajuda do sustento dos pobres do mesmo Azilo, a quantia de 100$000 rs. por uma só vez». No Diário do Governo de 12 de Novembro de 1851 lá vemos o seu nome entre os dos subscritores para socorrer os habitantes de Cabo Verde e igualmente no de 4 de Agosto do ano seguinte para o Asilo de Mendicidade. GUARDIOLA (D. Maria Baptista dos Santos) – Licenciada em ciências matemáticas pela Universidade de Coimbra. Escreveu: O ensino da aritmética nos liceus – Dissertação para o exame de estado apresentada à Escola Normal Superior de Coimbra. «Secção de ciências matemáticas do curso do Magistério Liceal». Coimbra, sem ano de impressão. 8.° de 89 págs. Ver o artigo respectivo no Suplemento. GUERRA (Padre Adriano Augusto) – Professor de ensino livre. Nasceu em Felgar, concelho de Moncorvo, a 21 de Março de 1862; filho de Jerónimo Maximino Guerra, subinspector escolar, e de D. Carmelina da Conceição Pereira e Castro. Fez os estudos preparatórios em Braga e Bragança e nas mesmas cidades o curso teológico, que terminou em 1885. Em Outubro desse ano, já ordenado de presbítero, foi para o colégio da Formiga, no Porto, leccionar francês e latim, onde se conservou até 1888, ano em que fundou o colégio de Santo António de Moncorvo, que chegou a contar setenta e tantos alunos internos, aos quais ensinava as disciplinas liceais. Este colégio funcionou até 1895, sempre dirigido pelo seu fundador, encerrando-se então por completo porque o meio não se prestava e desgostos de diversas naturezas caíram sobre o seu director, que, em Outubro desse ano, partiu para Lisboa a assumir a subdirecção do colégio Arriaga, um dos melhores da capital, onde ainda em 1908 se conservava como professor. Em 25 de Outubro de 1891 fundou o Moncorvense e, já em Lisboa, o Moncorvo a 28 de Março de 1897. Também fundou em 1898 a Enciclopédia Católica, de que só saiu o primeiro volume, e foi redactor da Verdade, jornal do Marco de Canaveses, de camaradagem com o doutor António Cabral, depois conselheiro e ministro das Obras Públicas. O padre Adriano Augusto Guerra faleceu em Lisboa, freguesia de Alcântara, a 30 de Abril de 1918. GUERRA (Aleixo) – Doutor em medicina. Nasceu em Sendim de Miranda, concelho de Vimioso, a 29 de Junho de 1872; filho de Valentim MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Guerra e de D. Baltasara Ramos. Fez os estudos liceais em Bragança, com distinção, e o curso de medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, terminando-o em 1899 com a alta distinção de 1.° accessit e prémio. Por decreto de 4 de Janeiro de 1906 foi nomeado inspector sanitário junto do liceu Alexandre Herculano do Porto, cargo que exerceu até 1910. Escreveu: A lepra em Portugal – Tese de doutoramento. Crioscopia médica – Tese apresentada em 1902 ao concurso de lente da Escola Médica do Porto (secção cirúrgica), do qual foi excluído, tendo porém sido aprovado em mérito absoluto. GUERRA (António Emídio) – Médico, irmão do doutor Ramiro Máximo Guerra, adiante mencionado; nasceu no Felgar a 3 de Novembro de 1867. Não nos foi possível obter informações referentes à tese de doutoramento que escreveu. GUERRA (Augusto Sebastião) – Doutor em medicina pela Escola do Porto. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 1 de Maio de 1840. Escreveu: Algumas considerações sobre o tifo traumático ou podridão do hospital (tese). Porto, 1864 (345). Relativamente às referências que fizemos a este médico no vol. VI destas Memórias, pág. 233, eis o que o seu parente Alfredo Guerra, tenente de artilharia e presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, nos informou por intermédio do nosso amigo João José Vaz de Morais, tenente de infantaria: «Posto que a referência seja baseada em documentos insufismáveis, não fugiu de Freixo, como se diz; mas recebendo a notícia, dada por sua esposa que vivia em Vila Nova de Gaia, de que um seu filho estava gravemente doente com o garrotilho, com o pedido instante de que o fosse ver ainda com vida, foi, demorando-se alguns dias. Morto o filho, voltou a Freixo, encontrando-se demitido do lugar de médico municipal, para que havia sido nomeado contra qualquer indicação política, creio. Tempo depois (ignoro ao certo quando), o doutor Guerra Tenreiro, irmão do médico, eleito deputado, fazia em pleno parlamento a sua rehabilitação, sendo natural que essa rehabilitação provocasse a rectificação no Diário do Governo do desprimoroso despacho de 11 de Janeiro de 1866. Mais tarde (ignoro datas), havendo-se declarado uma epidemia em Lagoaça, o mesmo médico, já com clínica estabelecida no Pôrto, ofereceu-se para vir tratar os doentes, oferecimento que foi aceito, tendo sido louvado no mesmo Diário pelos (345) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, tomo VIII, p. 347.

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serviços prestados. Foi consideradíssimo no Pôrto, onde, além da larga clínica prestada, teve uma casa de saúde (ruas do Rosário e do Triunfo), onde praticou inúmeras operações (cujo quadro procuro obter para ser também enviado), algumas de imensa responsabilidade e valor». GUERRA (Doutor Francisco) – Nasceu em Sendim, concelho de Miranda do Douro, a 12 de Outubro de 1876; filho de Valentim Guerra, grande proprietário e industrial, e de D. Baltasara Ramos Puente, residentes em Sendim mas naturais de Espanha. Fez o curso liceal em Bragança e o de direito em Coimbra. Foi administrador de concelho por várias vezes, substituto do juiz de direito, conservador do registo predial em Miranda do Douro, onde foi advogado e chefe político, vivendo ao presente em Vila Flor, onde casou. Escreveu: Desagravo dum colega. Porto, 1910, Tip. Boa União. 8.° de 20 págs. GUERRA (Padre Henrique Daniel Saraiva da) – Nasceu em Carviçais, concelho de Moncorvo, a 18 de Janeiro de 1826 e faleceu (doido) no hospital do Conde de Ferreira, no Porto, em Fevereiro de 1883. Era filho de António José Pinto Daniel e de D. Maria José da Guerra. Fez o curso teológico em Braga. Foi pároco de Maçores e depois de Poiares, concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde se notabilizou pela coragem e dedicação com que assistiu aos atacados da cólera nessa povoação em 1865, merecendo em recompensa ser agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa e com a medalha de prata concedida por el-rei D. Pedro V. Foi depois prior de Alfama, em Lisboa, e por último abade de Benavente. Escreveu: Oração fúnebre – Pregada na igreja de Moncorvo nas exéquias de D. Ana Emília de Castro Leite Pereira, primeira esposa do visconde de Marmeleiro. Lisboa, 1863. Sermão da comunhão dos meninos – Pregado na igreja do SS. Sacramento de Lisboa, no dia 17 de Maio de 1863. Lisboa. GUERRA (Ramiro Máximo) – Filho de Jerónimo Máximo Guerra (subinspector escolar), natural do Felgar, concelho de Moncorvo, e de D. Carmelina da Conceição Pereira e Castro Valente. Nasceu em Felgar a 28 de Maio de 1865. Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde terminou o curso em 1896. Fez serviço durante largo tempo em vários pontos da África e exerceu depois os cargos de médico municipal e subdelegado de saúde em Moncorvo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Escreveu: Casamentos consanguíneos (Tese). Porto, Tip. da Empresa Literária e Tipográfica, 1896. 8.° gr. de 101 págs. e mais uma de proposições (346). GUERRA (Padre Valentim) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Sendim, concelho de Miranda do Douro, a 14 de Novembro de 1878; filho de Valentim Guerra e de D. Baltasara Ramos. Tem exercido os cargos de administrador do concelho, presidente da câmara e provedor da misericórdia de Miranda do Douro, onde é advogado e notário. Já foi duas vezes eleito deputado, defendendo nas câmaras com vivo interesse o prolongamento da via-férrea na directriz do seu concelho e outros melhoramentos de interesse regional. GUERREIRO (João António) – Há dele uma tese na igreja de Maçores, concelho de Moncorvo, impressa em véu de cálix, seda branca, sem indicar ano de impressão. Ver artigo Padrão (João Manuel).

H HENRIQUES (D. Frei Aleixo de Miranda) – Além do que já dissemos deste bispo de Miranda (347), damos mais os seguintes documentos: CARTA AO ABADE DE PENHAS JUNTAS

«Grande beneficio, senhor Abbade, he o que fez o Ceo a um Bispo de poucas lettras, dar-lhe um Parocho cheio de tantas, que o illustre, e ensine a conhecer os seus erros, e precavelo para não continualos. Mas porque devemos dar resposta ao nosso illustre Mestre, lha vamos offerecendo por numeros e paragraphos. 1.° Pergunta-me Vm.cê que devem responder dois Parochos inferiores a um Penitente, que dispensado pelo Bispo, duvida da validade do matrimonio. Resposta. Devem os dois Parochos dizer ao Penitente que de logo, sem demora algua, viva separado da consorte e recorra á Sagrada Penitencia para que lhe revalide o Sacramento.

(346) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, tomo XVIII. (347) Ver tomo II, p. 66 e 168, destas Memórias, onde demos a sua biobibliografia, e tomo IV, p. 566 e 664, idem.

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2.° Pergunta Vm.cê se as muitas ou poucas dispensações Matrimoniaes, que temos concedido, nascem de previlegio Apostolico que nos fosse concedido. Respondemos = que o nosso Abbade se avançou aqui demasiadamente a nosso respeito; pois para entrar na primeira parte da sua Expotetica, devia primeiro apresentar-nos o Breve, que o constitue Procurador da Teara. 3.° Pergunta o nosso Abbade se a auctoridade com que havemos procedido ás sobreditas dispensações, se funda no presumpto consenso do Summo Pontifice, alegado na resolução de alguns Autores condemnada por falsa e temeraria pela Congregação do Concilio e Inquisição alegada pelo Summo Pontifice Benedicto XIV no seu Sinodo Diocesano. Esta litteraria baforada do nosso muito Abbade de Penhas Juntas o deixou summamente satisfeito, e cheio de vaidade. Não pretendemos tirar-lha, porque essa – est dificile mobilis – mas devemos proceder sobre as inquirencias do Mestre. Diga-nos, senhor Abbade, o senhor Benedicto XIV, á imitação do senhor Benedicto XIII, fez algum Sinodo Diocesano, sendo Summo Pontifice? Certamente não. Sendo Bispo de Ancona, e logo Metropolitano de Bolonha, sua Patria, imprimio um Directorio para uso e acerto do Sinodo Diocesano, a que Vm.cê accrescenta mais um livro com capitulos e numeros; pois constando de oito livros só o do Prospero Lambertini, Vc.cê o cita no livro 9. c. 2. v. 3. He certo que o mesmo Cardeal-Bispo no livro 7 do seo referido Sinodo Diocesano refere estar declarada pela Congregação do Concilio e Inquisição de Roma falsa e temeraria a autoridade que se arrogavão os Bispos para dispensarem no impedimento dirimente publico do Matrimonio, antes de contrahir-se, posto que se desse urgente necessidade. Mas a que Bispos encaminhou elle esta sua Sentença tão douta e admiravel, como sua? Aos de França, em cujo christianissimo reino se notavão alguns Bispos de similhante roubo feito á auctoridade Apostolica, sem dar-se impedimento algum para recorrerem a ella, que promptamente lhes daria a faculdade para as dispensações, se lha pedissem. Estas são as vozes do mesmo Ex.mo Prospero, e com que elle acaba no seu referido L. 7. cap. 3. Quare si aliquis Antistites ob nimiam suae Diœcesis ab Urbe distantiam, aliamve legitimam causam necessariam sibi reputet authoritatem in uno aut pluribus impedimentis Matrimonium dirimentibus, eam exposcat a Romano Pontifice, qui eam petentibus impertiri non renuet, etc. Faça porem o senhor Abbade ainda em uma resolução tão seria, verdadeira, e tão douta como estranha totalmente ao assumpto do nosso caso uma bem devida reflexão; e he – que sendo esta irrefragavel sentença do MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Ex.mo Lambertini, depois de ser Santissimo Padre Benedicto XIV, e encher quatro tomos das suas Decretaes, não auctorizou em Bulla do Papa esta mesma sua sentença de Bispo. Vamos porem, meu Abbade, ao novo assumpto, e ao nosso caso sem perdermos mais tempo nesta resposta. Diga-me por sua vida o nosso Abbade. O recurso das nossas ovelhas a Roma he facil ou he difficil? He possivel, ou impraticavel? Podemos consentir que as almas das nossas ovelhas, de que devemos dar conta, se condemnem sem lhe acudirmos com o remedio, que Jesus Christo Nosso Senhor fiou da nossa mão? Podemos deixar de intender, que o Summo Pontifice em tão apertadas circumstancias quer que as suas ovelhas se salvem, não se cuarctando a auctoridade ao Bispo, e muito mais ao de Miranda, tão attento á Auctoridade Apostolica, que nenhum dispensou, sem juramento de recorrerem ao Papa facultado o recurso? Este, meu Abbade, e não o de Lambertini he o caso, em que nos vemos, e de que fallam ad litteram os auctores que a grande litteratura de Vm. cê reproba, abraçando como falsa e temeraria a sua tão douta como santa resolução: porem, amigo, o certo he, que assim como a muita luz produz cegueira, a muita sciencia gera ignorancia, donde veio dizer o Apostolo: oportet non plus sapere, no sapere ad sobrietatem. Enfim, amigo, se Vm.cê fingio o caso para nos dar a doutrina ahi vae a resposta; se o caso he verdadeiro, ou recorram, como dissemos, similhantes penitentes á Apostolica Sé pela Sagrada Penitencia, separados desde já, como advertimos, pois que não se descobre outro meio na supposição de ter-se por invalida a dispensação do Bispo; ou sem demora algua venham expor a este os fundamentos, que motivão o seu escrupulo sobre a invalidade da dispensação concedida. Deus Guarde a Vm.cê e o conserve com vida ao menos emquanto durar a nossa, para nosso tão douto como estimavel Decurião. Bragança, 20 de Outubro de 1766. A.o V.or de V. M. – Fr. A. Bispo de Miranda». Esta carta é trasladada fielmente de outra cópia existente no Museu Regional de Bragança, mandada fazer pelo cónego da Sé desta cidade Manuel Augusto Pires, por ocasião da publicação do Monumento à memória do bispo de Bragança D. António da Veiga Cabral e Câmara (348), certamente para remeter a algum dos colaboradores desse livro, como se deduz das explicações que vêm em seguida à carta e nos abstemos de transcrever. (348) Ver o referido Monumento…, p. 338.

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Como se vê da carta, o abade de Penhas Juntas, ou de verdade ou fingidamente, apresentou ao bispo um corripo a propósito das dispensas matrimoniais que concedia sem recurso a Roma. O bispo, grande ratão eivado do regalismo pombalino (era criatura do marquês de Pombal e seu colaborador na Dedução Cronológica e mais escritos contra os jesuítas), responde bem, mas em tom irónico, apesar de haver fortes motivos para duvidar da sua sinceridade, sendo todavia certo que, a esse tempo, estavam interrompidas as relações do nosso governo com Roma e portanto não havia fácil recurso ao Papa. E já que estamos em maré de sinceridade, vem de molde observar que também não parece grande a do Papa Bento XIV, que não manteve como Pontífice o que afirmara como bispo. Segundo averiguações a que procedemos no Museu Regional de Bragança (maço Párocos das freguesias), o abade de Penhas Juntas, a quem a carta foi dirigida, devia ser o doutor Francisco Barroso, natural de Cedães, concelho de Mirandela, que se colou em Penhas Juntas em 1757 e faleceu em 1779, ano em que lhe sucedeu no cargo Inácio Martins dos Santos, doutor em cânones, natural de São Cibraínho. Por ser extremamente rara, transcrevemos esta Pastoral de D. Frei Aleixo de Miranda Henriques contra os jesuítas: «D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, da Ordem dos Pregadores, por mercê de Deus, e da Santa Sé Apostolica Bispo de Miranda, e do Conselho de Sua Magestade Fidelissima, etc. A todos os nossos subditos Ecclesiasticos e seculares espirito de paz, sugeição, e verdadeira fidelidade. Fazemos saber que El-Rey Nosso Senhor, conhecendo haveremse feito insofriveis, não só a seus Reynos, e Dominios, mas á sua mesma Real e Sagrada Pessoa os Padres da Companhia denominada de Jesus: e determinando, que por hum tão justo e necessario motivo fossem expulsos, e lançados fora de todos os seus Estados; que pela boca do Rey Profeta o estavam pedindo assim ao mesmo Rey e ao mesmo Senhor: se dignou participar-nos esta noticia por carta assinada de seu Real punho em tres de Setembro deste presente anno, cuja he a seguinte copia: Reverendo Bispo de Miranda Amigo: Eu El-Rey vos envio muito saudar. Por haver considerado que ainda em hum caso tão horroroso, tão insolito, e tão urgente, como o que constituio a Decizão da Sentença, que a Junta da Inconfidencia proferio nesta Corte em doze de Janeiro deste presente anno, não podia haver attenção, que fosse demasiada a respeito do Pay commum da parte de hum filho que, como Eu, teve sempre por inviolaveis principios a veneração, e a defensa da Authoridade da Cabeça Vizivel da Igreja Catholica; mandei suspender com os regulares da Companhia MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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denominada de Jesus, comprehendidos naquelle infame, e escandaloso attentado, não só as demonstraçoens, a que como Rey (que no temporal não deve reconhecer, nem reconhece na terra superior) me achava necessitado assim pelos Direitos Divino, Natural e das Gentes, como pelos exemplos dos Monarcas mais pios da Europa, e dos Senhores Reys meus religiosissimos Predecessores; mas também ordenei, que ao mesmo tempo fossem sobstados até aquelles mesmos procedimentos, de que se não devem dispensar, nem ainda os mesmos Particulares, que são Pays de Familias para expulsarem fora das suas cazas todos aquelles, que perturbão o socego, e a economia dos moradores dellas. Em effeito desta minha obsequiosa condescendencia, e Filial veneração diriji ao Santissimo Padre Clemente XIII, ora Presidente na Universal Igreja de Deus, a carta firmada pela minha Real Mão em vinte de Abril proximo precedente, e a Deducção, e Papeis, que forão com esta para informar o Santissimo Padre ao dito respeito, emquanto aquelle urgentissimo negocio se achava re integra. Depois de se haverem expedido para Roma aquellas minhas condescendentes Informações, acrescerão ainda no meu conhecimento os mais fortes motivos, que podião concorrer para Eu (não só como Monarca, duas vezes responsavel a Deos, pelo Decoro da Magestade, que de mim confiou, e pela conservação da paz publica em que devo manter os meus Reynos; mas também como Pay, e como indefectivel Protector dos meus fieis vassallos) antepozesse a toda, e qualquer outra contemplação a das indispensaveis urgencias, que tão apertadamente me instavão para effectivamente cohibir tantas atrocidades inauditas, e nunca até agora esperadas, quantas forão, e são ainda hoje as maquinaçoens temerarias, e as sacrilegas calumnias, que desde o referido mez de Abril até agora se forão accumulando contra a minha Real autoridade na Curia de Roma e em outras muitas cidades da Italia, pelos ditos Regulares da Companhia com tal desenvoltura, como até pelos Papeis publicos tem sido manifesto em todas as Partes da Europa. Nada bastou contudo para que Eu permittisse, que fosse alterada a suspensão dos justos, e necessarios procedimentos, que tinha ordenado, emquanto não soubesse com inteira certeza, que as minhas sobreditas Informaçoens haviam effectivamente chegado á Presença de Sua Santidade: E que nella se tinha consumada pelo conhecimento do Santissimo Padre o meu exuberante, e reverente obsequio. Agora porém, que pela certeza de haver cumprido com aquella minha Filial, e reverente attenção na Presenca de Sua Santidade, tem cessado o justo motivo da dita Suspensão, se faz indispensavel, que Eu não dilate por mais tempo a indefectivel defeza, com que devo sustentar o meu Real Decoro; a Autoridade da minha Coroa; e a segurança dos meus Reynos, e Vassallos, contra as intoleraveis lezoens, que lhes tem inferido, e cada vez MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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procurão inferir com mais façanhosa ouzadia em causa commum com os ditos regulares. Quando os das Provincias destes Reynos se achavão mais sedentos de beneficios, e das honras que tinhão recebido, e estavão profuzamente recebendo da munificencia dos Senhores Reys, meus gloriosissimos Predecessores, e da minha Real Benignidade; se achavão arbitros da educação dos meus Vassallos; se achavão directores geraes das suas consciências; e se achavão mais obrigados ao Meu Regio Throno, do que quaesquer outros religiosos; então he que maquinarão as clandestinas e violentas uzurpaçoens, que tinhão feito no Norte, e no Sul do Brazil, não só dos meus Dominios, mas também da liberdade e da honra, e fazenda dos Habitantes delles. Quando virão, que as ditas uzurpaçoens não podião deixar de ser descubertas pela execução do Tratado de Limites, passarão logo para invalidallo, e se manterem a si nas mesmas uzurpaçoens, a animar contra a minha Real Pessoa, e Governo, alguns Principes Soberanos com quem Eu sempre havia conservado a mais cordeal intelligencia, e a mais firme, e sincera amizade. Quando estes reciprocos affectos desconcertarão aquelle insignissimo projecto de discordia externa, passarão os mesmos Regulares a declararem-me nos meus mesmos Dominios Ultramarinos a dura, e aleivosa guerra, que tem cheio de escandalo, e de horror a todo o Universo. Quando souberão, que havião sido em grande parte derrotados os Exercitos, e os Tumultos de Indios enganados, que na America tinhão soblevado com rebellião, e superstição abominaveis; passarão a suscitar dentro no meu Reyno sedições intestinas, e a armarem por ellas contra Mim os meus mesmos Vassallos em quem acharão disposiçoens para os corromperem, até os precipitarem no horroroso absurdo, com que na noite de tres de Setembro do ano proximo passado attentarão contra a minha Real Pessoa, com infedilidade, e infamia nunca imaginada entre Portuguezes. Quando finalmente errarão aquele abominavel golpe contra a minha Real vida, que a Divina Providencia preservou com tantos, e tão dicizivos milagres; não lhes restando já outra barbaridade, a que a cegueira da sua cruel, e insaciavel cobiça podesse recorrer; passarão a attentar contra a minha Alta Reputação a cara descoberta; maquinando, e diffundindo os Jesuitas Romanos e os seus Adherentes, e fazendo espalhar por toda a Italia, para fazerem odioso o meu Real Nome, os infames aggregados de disformes e manifestas imposturas, que contra os mesmos perniciosos Regulares tem retorquido a universal indignação de toda a Europa: Vendo o crime descarado na presença da justiça fallar tão livre, e sacrilegamente: vendo a calumnia sem pejo, e sem achar a menor verosimilidade para disfarçar as suas imposturas, blasfemando contra as verdades mais authentiMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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camente publicas e notorias: vendo o respeito devido ás Potencias soberanas, barbaramente violado sem acordo, e sem medida por huns Homens, que tiverão, e devem ter por Instituto e por unica força a Santa Humildade: E vendo finalmente assim excedidos pelos Jesuitas Romanos todos os execrandos attentados dos Jesuitas Portuguezes: pois que havendo estes conspirado contra os meus Estados, e contra a minha Real vida; passarão aquelles a attentar tão disformemente contra a minha Real Reputação, em que consiste a Alma vivificante de toda a Monarquia, que a mesma Divina Providencia me devolveo para conservar indemne, e illeza a Authoridade, que he inseparavel da sua Soberania. Nestas indispensaveis circunstancias tenho pois determinado que os sobreditos Regulares corrompidos, deploravelmente alienados do seu Santo Instituto, e manifestamente indispostos por tantos, tão abominaveis e tão inveterados vicios, para voltarem á observancia delle; como notorios Rebeldes, Traidores, Adversarios, e Aggressores, que teem sido, e são actualmente da minha Real Pessoa, e Estados, e da paz publica, e bem commum dos meus fieis Vassallos; sejão prompta, e effectivamente exterminados, desnaturalizados, proscriptos e expulsos de todos os meus Reynos, e Dominios, para nelles não mais poderem entrar: ordenando, que debaixo de pena de morte natural e irremissivel, nenhuma Pessoa de qualquer Estado, e condição, que seja lhe dê entrada nos meus Reynos, e Dominios, ou com elles tenha qualquer correspondencia, ou communicação verbal, ou por escrito, ainda que aos mesmos Reynos, e Dominios venhão em habitos diversos, e que hajão passado a qualquer outra ordem Religiosa; a menos que para isso não tenhão immediata, e especial licença minha os que assim os admittirem ou praticarem. O que me pareceo participar-vos, afim de que exhorteis os vossos subditos do Estado Ecclesiastico, para que como taes Ecclesiasticos, a quem o Senhor tem confiado a guarda dos seus respectivos Rebanhos não só fação arrancar do meio delles as raizes dos vicios acima declarados, mas também guial-os para a observancia das virtudes Religiosas, e Christãas, entre as quaes se faz tão indispensavelmente necessaria a da sogeição, respeito, e obediência aos Soberanos naturaes, ordenada pelos Direitos Divino, Natural e das Gentes, em beneficio e conservação da mesma Igreja e das Monarquias: E para que, como bons e leaes Vassallos hajão de dar exemplos de Fidelidade, e de zelo aos seculares; para a melhor, e mais exata observancia da minha sobredita Determinação indispensavel, e da providencia que com ella tenho tomado ao socego publico dos meus Reynos, e Dominios, e ao Repouzo commum dos Povos, que Deus entregou á minha Administração, pela total reparação do Commercio e das correspondencias dos mesmos pervertidos, e incorrigiveis Regulares. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Escripta no Palacio de Nossa Senhora da Ajuda a tres de Setembro de mil setecentes e cincoenta e nove. Rey». «E não obstante, que (como a Nós) a todos os nossos Subditos farão destillar o coração pelos olhos as sentidas expressoens de nosso Clementissimo, e offendido Soberano; comtudo por conta não só do fino amor de fiel Vassallo, mas tambem da apertada obrigação de nosso Pastoral Officio; a todos lembramos a pena, que lhes haviamos imposto na Pastoral que assignamos a dezasseis de Fevereiro deste presente anno; e que correndo toda esta nossa Diocese em letra de mão, se lhe communicaria (como as mais nossas) dada tambem ao prelo, se os exemplares, que mandamos imprimir em Lisboa, chegassem á nossa mão, e não padecessem desvio. E porque a dita pena era a de Excommunhão maior latœ Sententiœ a Nós tão somente reservada, esta renovamos agora, e outra vez impomos a qualquer dos nossos subditos, que por palavra, escripto, ou interposta pessoa tiver alguma communicação com os Jesuitas, que existião nos Estados Portugueses; e agora por sua obstinação, e malicia forão expulsos dos mesmos estados. Mas porque devemos instruir os nossos subditos, e leval-os ao caminho do Céo pelo prompto cumprimento das leis Divinas, e humanas; a todos particularmente lembramos a exata obediencia que devem praticar, com os que decem do Throno, e firma o seu proprio Soberano; pois na voz, e penna do Espirito Santo são as leys Regias huns como Divinos Oraculos: porque aos Reys, que são tão pios, e justos, como o que devemos a Deos (e sem duvida não mereciamos) assiste o mesmo Senhor com luz muito particular para o acerto de seus Decretos, e Reaes Resoluções. E he bem claro, que, assim no Decreto dissipativo dos Jesuitas expulsos; como no castigo executado nos Vassallos infieis (ultimos, e mais fortes instrumentos da malicia e traição dos mesmos Jesuitas) nos deo o Céo huma evidente prova, não só de firmar a El-Rey, que Deos nos guarde, o Throno; mas do muito, que he o mesmo Soberano em seus Decretos Rey sabio. Posto, porem, que não o fora, e lhe faltarão aquelles altos attributos de razão, prudencia, justiça, e piedade, que em sua Magestade admira o mundo todo, e Nos experimentamos; bastava o ser Rey, e Senhor Nosso para o prompto exercicio do nosso devido temor, sugeição, e obediência, que devem praticar não só com as determinaçoens do mesmo Soberano; mas com as execuçoens dos seus ministros, encaminhadas ao castigo dos máos, e ao premio dos bons, por ser esta a declarada, e expressa vontade de Deos. E porque a maldade dos referidos Traidores, como abortos indignos de huma Religião tão Santa, douta, e benemerita da Militante Igreja, não podendo conspirar, como effectivamente pertenderão, contra a vida do seu MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Monarcha procurão agora não só por si, mas tambem por seus impios adherentes, denigrir-lhe o credito, e opinião, que suas generosas, pias, e catholicas acções lhe hão estabelecido em todas as quatro partes do Mundo; e com que ha firmado o Luzitano Cetro em clemencia, e verdade, attributos, que no mesmo Senhor são natureza, sempre delle inseparaveis: para afugentarmos de nossos Subditos tão pestifero, e mortifero contagio, fazemos saber a todos, que não distinguindo o Espirito Santo o respeito, e temor, que devemos ter a Deos, do respeito e temor, que devemos ter ao Rey, falla com cada hum dos mesmos subditos nossos, e filhos seus, por graça, e lhes diz que de nenhuma sorte se misturem com os detractores, e infamadores do Rei; porque do Céo lhe virá, quando menos o esperarem, a sua total ruina. Enfim he o Rey huma viva imagem de Deos na terra e se Deos castigaria hum pensamento nosso, ou a mais oculta palavra, que fará á Divindade injuria, como abominavel blasfemia; tal he o respeito, e decoro, que o mesmo Senhor quer se observe com a Magestade, que expressamente nos manda respeitar o Rey, que nos deu, e em que se retratou, não somente nas nossas mais escondidas palavras, mas até em todos os nossos mais occultos pensamentos, que o Céo lhe fará saber para a penna do delicto, e justa execução da primitiva sentença. Mas como não só a procurada diminuição dos adquiridos Estados na Colonia, Pará, Maranhão, e mais America, que he outro genero de ignominia feita ao proprio Soberano; mas o tremendissimo attentado de se pretender tirar com a sabida traição ao mesmo Natural Senhor violentamente a vida, que era, e he toda a alma da sua Coroa; perturba o socego dos mesmos Estados e interior paz do Reyno, que, como bem adverte o Cicero do Vaticano, por sedição de muito menos pezo se perturba: mandamos a todos os sacerdotes nossos subditos, que no Sacrificio da Missa, pelas orações, que no fim do Missal se apontam Pro quacumque necessitate, peção a Deos assistencia, e benção, que totalmente, como até agora, dissipe os malevolos intentos que pretendem perturbar-nos. E para que venha á noticia de todos, será esta publicada na nossa Sé, e mais Igrejas de todo o nosso Bispado, fixando-se nos lugares do costume. Dada sob nosso signal, e sello no Paço da nossa residencia em Bragança aos 15 de Dezembro de 1759. Alcoforado. Por mandado de V. Excellencia Reverendissima José Luiz de Oliveira secretario a escrevi». (Não tem assinatura do bispo). Esta Pastoral do bispo D. Frei Aleixo de Miranda Henriques é raríssima e não se encontra registada nos muitos arquivos paroquiais que consultámos, como dizemos no tomo II, pág. 70, destas Memórias Arqueológico-Históricas. Esta cópia foi-nos mandada pelo ilustrado prior de Argozelo, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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padre José Manuel Miranda Lopes, que teve a felicidade de a encontrar registada no arquivo da sua freguesia ou na de Santulhão, e, porque tem valor histórico, aqui a exaramos. Igualmente não encontramos a Pastoral de 16 de Fevereiro de 1759, memorada na anterior, e, pelos mesmos motivos, a publicamos a seguir, transcrita da obra adiante citada. «D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, da Ordem dos Pregadores e por mercê de Deus e da Santa Sé Apostolica bispo de Miranda e do Conselho de Sua Magestade Fidelissima, etc. Por quanto além de outros instrumentos do 3.° e 4.° §§ da sentença que foi proferida contra os traidores e parricidas ou que o pretenderam ser, procurando tirar a vida preciosissima do rei, nosso Senhor, que Deus guarde, se mostra, infernal e nunca imaginavel intenção concorrendo com o conselho, abono, falsas doutrinas e mais maquiavelicas diligencias, para o mencionado regicidio e parricidio; por que se fazem não só abominaveis a toda a nação portugueza, sempre fiel a seu rei e adorado soberano; E porque, outro sim, devemos separar de nossos subditos não só todo o perigo de serem contaminados com vicio tão horroroso, mas também evitando toda a occasião de poder dar-se suspeita de que pelo commercio e trato com os sobreditos religiosos foram cumplices do seu abominavel delicto; Porque finalmente com toda a nossa possivel vigilancia devemos acautelar nossas innocentes ovelhas de tão vorazes e sanguinolentos lobos: emquanto por nossos peccados forem vistos e não forem lançados como seres insofriveis, traidores e destruidores destes reinos; Mandamos a todos sobre que exercemos nossa pastoral jurisdição, de qualquer estado que sejam, assim ecclesiasticos como seculares com pena de excomunhão maior ipso facto incorrenda a nós tão somente reservada, que nenhum por palavra escripta ou recado tenha tracto ou commercio com religioso algum da Companhia, tão somente excepto aquelles servidores que lhe forem permittidos pelos magistrados ou ministros de sua magestade que Deus guarde; E posto que logo que tomamos posse deste nosso bispado, proibimos aos sobreditos padres da Companhia de confessar e prégar nelle pelo pleno conhecimento que sempre tivemos, em todas as quatro partes do descoberto mundo por que andamos, de suas proscriptas, falsas e erroneas doutrinas, porque até nos mesmos padres, não sem fundamento, desconfiamos de sincero exercicio: defendemos e proibimos a todos os nossos subditos de ouvirem missa nas suas Igrejas em que já de antes haviamos proibido aos clerigos seculares ouvirem de confissão nellas, informados de que os padres sobreditos os chamavam para esse ministerio;

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E discorrendo que os mesmos que os traziam aos seus confessionarios também os instruiam em seus perniciosos dictames com irreparavel detrimento das almas, de que devemos dar conta. E o nosso reverendo provisor fará logo tirar transsuntos deste nosso decreto, ficando este primeiro na nossa Sé, para os remetter ao seu destino. Dada em Miranda aos 16 de Fevereiro de 1759. Frei Aleixo, Bispo de Miranda» (349). Damos mais as seguintes cartas do mesmo bispo dirigidas ao marquês de Pombal: «Illustrissimo e Excellentissimo Senhor: Por escrito do correio ordinario desta Bragança recebi o maço dos indices respectivos aos dous tomos da Deducção Chronologica, obra verdadeiramente aurea, e digna de seu Autor, cujas duas partes se ficam já encadernando na conformidade da ordem ultima que Vossa Excellencia se dignou mandar-me, para fechar-se no cofre das tres chaves, em que a todo o tempo se acharão juntos todos os papeis, que eu pude conseguir, e dizem rellaçam á companhia daquelles roubadores do Universo que athé se atreveram sacrilegos a roubarem para si o nome de Jesus. Por esta occaziam de por-me por carta aos pés de Vossa Excellencia (visto que a minha molestia me impedio fazelo em propria pessoa), ponho na sua presença haver sahido sentença, que na forma do Concilio Tridentino priva da cadeira Doutoral o conego Antonio Rodrigues de Araujo, mandado por hum nullo cabbido Procurador seu a essa Corte afim de não mudar-se para Bragança a Sé, como Sua Magestade dispunha no seu Real Decreto. Ignorava ser alias ignorava eu ser em Coimbra formado o Padre José Manoel Magalhaens cappellão de Vossa Excellencia, e meu subdito. Com esta noticia, que agora me foi participada por hum familiar meu e seu patricio, e a de ser elle natural de Bragança, offereço para o mesmo a Provizam incluza, no caso de Vossa Excellencia, e o Excellentissimo Senhor Paulo de Carvalho seus amos e meus serem servidos despachalo com ella. Fico também esperando o provimento da Abbadia da Bemposta para collar logo nella seu irmão, que sei ter outra capacidade, que não se acha no Tigre, presentado pelo Senhor Juiz da Inconfidencia, com grande pezar meu; como avisei ao mesmo Senhor em carta que fui entregar na sua pro(349) AZEVEDO, Luís Gonzaga de, Padre – O Jesuíta: fases duma lenda. Bruxelas, 1913, tomo II, p. 79.

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pria mão em Oeiras, de que não consegui resposta. He certo que o tal Antonio Rodrigues de Araujo depois de Appellar para Braga aggravou para a Coroa no juizo do Porto, mas se Sua Magestade prestar seu Real consenso ao provido José Manoel Magalhaens, se findará logo a demanda, como se findou a do conego Coelho por mim provido e dado a este o Real consenso por Sua Magestade, e isto não obstante ter conseguido sentença no juizo da Coroa, seu contendor Miguel Luiz Teixeira circunstancia que no actual provimento não ocorre, nem podia ocorrer, levando eu a justiça desta causa á presença do Excellentissimo Senhor João de Almada e Mello Regedor das Justiças no mesmo Porto. Faça-me Vossa Excellencia a de conhecer e não duvidar ser seu mais fiel e amante criado. Frei Aleixo, Bispo de Miranda. Bragança 17 de Julho de 1768». Com a mesma data dirigiu o bispo D. Frei Aleixo de Miranda Henriques outra carta ao «Doutor e Abbade José Manoel Magalhaens», dizendo-lhe: que a pedido de Estêvão Pinto, oriundo da província de Trás-os-Montes, secretário do Desembargador do Paço, passara provisão da cadeira doutoral de que fora privado «no mez passado» o cónego António Rodrigues de Araújo, a favor de um filho do dito Pinto, aluno da Universidade de Coimbra; que em atenção a «seus amos e meus na inclusa para o Excellentissimo Senhor Francisco Xavier de Mendonça Furtado remetto Provisão para ser vocemecê conego Doutoral da minha Sé, pela vacatura, e sentença privativa do sobredito António Rodrigues de Araujo»; que emendaria assim o outro despacho feito a favor do filho do Pinto; que «não tema a demanda e fazendo que Sua Magestade lhe preste o seu Real consenso, venha logo collar-se, e verá acabada a demanda, assim como se vio extinta a do conego Coelho que actualmente he Doutoral na mesma Sé, e por mim provido, não obstante haver dado o juizo da Coroa sentença contra elle, a favor do seu contendor Miguel Luiz Teixeira, pois que acabou tudo assim que foi notificado o consenso Regio; e porque vocemecê o tem tanto de caza, devo dizer-lhe que não perca huma tam prompta, util, e tão honrada ocazião. Estou prompto para collar tambem seu irmão na Abbadia da Bemposta, que por elle está esperando com bons quatro centos mil reis, se lha derem. Agradeço a vocemecê o muito que tem favorecido o meu estribeiro; porem peço-lhe queira por mim interceder a Sua Excellencia para que me despache o Reverendo Beneficiado João Baptista com a licença de poder lançar a primeira pedra do novo Edificio desta Sé». Estas duas cartas encontram-se no Museu Regional de Bragança, maço Cónegos, no provimento referente a José Manuel de Magalhães. Do respecMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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tivo processo consta que o cónego António Rodrigues de Araújo, natural de São Félix da Marinha, comarca da Feira, bispado do Porto, morreu em Bragança a 2 de Maio de 1771. Apesar de tantas pressas, o doutor em cânones José Manuel de Magalhães, natural de Bragança, abade reservatário de Santa Maria de Louredo e comissário do Santo Ofício, só veio a colar-se em Podence (onde o bispo estava de visita na residência paroquial do abade doutor António Esteves Pinheiro de Figueiredo, ascendente colateral do autor destas linhas) em 1777, sendo já bispo da diocese D. Bernardo Pinto Ribeiro Seixas. Ignoramos os motivos da demora. HENRIQUES (Francisco da Fonseca) – Conhecido pelo apelido de Doutor Mirandela, por haver nascido nesta vila a 6 de Outubro de 1665. Filho de Gabriel Pereira e de D. Grácia Mendes. Era doutor em medicina pela Universidade de Coimbra e foi médico de el-rei D. João V. Faleceu em Lisboa a 17 de Abril de 1731. Escreveu: Tratado único do uso e administração do azougue, nos casos em que é proibido. Lisboa, 1708. Vem incorporado também na seguinte: Medicina Lusitana – Socorro Délfico aos clamores da natureza humana para total profligação de seus males. Dividido em três partes, etc. Amsterdão, 1710. A segunda edição, mais correcta e aumentada, fez-se também em Amesterdão em 1731. Fol. de XXVIII-851 págs. e traz no fim a Dissertação dos humores naturais do corpo humano. Parece haver ainda outra edição impressa no Porto em 1750. Âncora medicinal para conservar a vida com saúde, etc. Lisboa, 1721, 8.°. Outra edição em Lisboa, 1731, 4.°, e ainda uma terceira na mesma cidade e ano em 8.° de XVI-536 págs. Inocêncio Francisco da Silva diz que esta obra está hoje esquecida e que tem pouco valor. É certo que a ciência tem progredido muito desde que o autor a escreveu, o que não obsta a que o consideremos como homem notável e distinto no seu tempo. José de Arriaga fala elogiosamente deste médico e da sua obra, exprimindo-se assim: «O celebre medico de D. João V, Francisco da Fonseca Henriques, foi o unico dos antigos, bem como o doutor Antonio Ribeiro Sanchez que deixou trabalhos sobre hygiene que mereçam menção» (350). Aquilégio medicinal, em que se dá notícia das águas de caldas, de fontes, rios, poços e cisternas do reino de Portugal e dos Algarves... dignos de particular memória. Lisboa, 1726. 8.° de XIV-288 págs. Esta obra é ainda hoje estimada e procurada, diz Inocêncio, e todos os seus escritos são reputados (350) ARRIAGA, José de – História da Revolução Portugueza de 1820. Porto, 1886, vol. I, p. 324.

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clássicos em linguagem, principalmente nas vozes facultativas da ciência. Foi Francisco Henriques, no seu tempo, um médico muito distinto e erudito e mereceu grande estimação dos contemporâneos, sendo ainda hoje respeitada a sua memória (351). A propósito da Medicina Lusitana de Francisco Henriques escreveu Arnaldo Gama, em nota que se lê num dos seus romances históricos: «Este é um dos especimens mais curiosos que nos legou o seculo passado, do estado em que se achava a medicina em Portugal, antes da reforma da Universidade de Coimbra. É um composto extravagante de absurdos e abusoes plebeas, e ao mesmo tempo dos mais adeantados conhecimentos anatomicos e pathologicos, que a época possuia. Fonseca Henriques era medico de D. João V. E por isso de crêr que fosse um dos mais abalizados medicos de Lisboa. Pelo seu livro pode portanto fazer-se ideia exacta do estado em que a medicina estava então entre nós. Para o apreciar basta saber que o medico de el-rei trata com a maior seriedade do quebranto ou mal de olhada, das febres frias, e da razão porque os filhos uns são mais humilhantes aos paes outros ás mães; explica o motivo porque algumas mulheres põem ovos e os chocam como gallinhas; prova que ha mulheres que teem trinta e mais filhos d’um ventre; discorre sobre os Sciopedes, que são homens d’uma só perna, com tão grande pé, que lhes faz sombra a todo o corpo; dá a razão porque as mãos da rapoza penduradas ao pescoço preservam do quebranto; explica a relação que há entre os rins do homem e o signo de leão, e entre as tibias e o signo aquario, e ensina até os remedios para tirar dentes sem dôr. O compridissimo receituario para este fim termina da maneira seguinte: A agua de sal ammoniaco, destillada por alambique de vidro faz cahir os dentes sem nenhuma dôr; a mesma virtude tem o coral vermelho feito em pó e mettido na cavidade do dente; e o dente de um defuncto que morresse de pura velhice, sem doença alguma, tocando com elle o dente que se quer tirar, porque o faz cahir sem violencia, como escreveu Hortemanio e Curvo» (352). O Sumário da Biblioteca Lusitana ainda menciona como deste autor as seguintes obras: Pleuricologia. Lisboa, 1701; 4.°

(351) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico. (352) CORDEIRO, António Xavier de Sousa – Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para 1899, p. 222.

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HOMEM

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HORTA

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Apiarium Medico-Chymicum, etc. Amsterdão, 1711; 8.° Método de curar o morbogálico, etc. Lisboa, 1715; folh. Ilustrissimo Principi D. D. Tomé de Almeida Panegyris. Ulyssip, 1717; 8.° António de Paiva e Pona, no «Prólogo» da sua Orfanologia Prática, chama a este escritor «insigne medico transmontano». HENRIQUES (Francisco de Morais) – Mestre-de-campo durante as Guerras da Aclamação – 1640-1668 (353). HENRIQUES (Luís) – Natural de Bragança; médico e professor de filosofia na Universidade de Valladolid. Escreveu: Medicina prática (manuscrito) e Tratado da Esfera (354). HENRIQUES (Manuel de Miranda) – Bravo comandante da coluna que em 1646 livrou Bragança da invasão castelhana pela vitória da batalha de Porto das Areias, nas margens do Sabor, termo de Grijó de Parada, perto de Bragança (355). HOMEM (António Leitão) – Natural de Bragança; lente de prima de cânones na Universidade de Coimbra, inquisidor do Santo Ofício, desembargador do Paço e cónego da Sé de Miranda. Faleceu a 4 de Novembro de 1659. Escreveu: Dez postilhas de direito (manuscrito) (356). O lente António Leitão Homem havia-se jubilado em 4 de Julho de l659 e obtivera o primeiro despacho para uma catedrilha na Universidade de Coimbra por provisão de 2 de Outubro de 1629. No Arquivo Nacional da Torre do Tombo, «Processos do Santo Ofício», maço 6, diligência 247, encontram-se vários elementos biográficos referentes a este bragançano ilustre. HORTA (Urgel) – Natural do Felgar, concelho de Moncorvo, «justamente apreciado por Pinheiro Chagas, roubado ás letras na flor dos anos». Apesar de assim dele escrever na Torre de Moncorvo de 12 de Junho de 1904 o ilustrado abade de Carviçais, reverendo José Augusto Tavares, nenhuns dados biográficos pudemos obter.

(353) Ver tomo I, p. 58, destas Memórias. (354) Sumário da Biblioteca Lusitana. (355) Ver tomo I, p. 91, destas Memórias. (356) Sumário da Biblioteca Lusitana; Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Homem (António)», e tomo II, p. 299, destas Memórias.

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HORTA

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HORTELÃO

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HORTA (Urgel Júlio) – Doutor em medicina pela Universidade do Porto; nasceu no Felgar, concelho de Moncorvo, a 17 de Junho de 1896, filho de Manuel António Horta (professor do Felgar) e de D. Amélia Horta. Fez os estudos liceais e de medicina no Porto, cujo curso concluiu com distinção em 1920, exercendo presentemente naquela cidade clínica especializada em doenças de olhos, que estudou em Paris com o grande professor Felix Lagrange, praticando nos hospitais da capital francesa e no de Saint André, de Bordéus. Escreveu: Feridas do recto por armas de fogo – Tese de doutoramento. Porto, 1920. HORTELÃO (João) – ou da Horta (357), como lhe chama O Ano Histórico. Natural de Valverde, concelho de Alfândega da Fé. Morto seu pai em Ledesma, serviu na sua juventude de pastor de gado, na respectiva terra natal, e a fim de ouvir missa, de que era grandemente devoto, passava em barca o rio Sabor, indo assim a ela à igreja de Zacarias, tendo para isso de deixar o gado só no campo; e como o amo não gostasse, por temer algum dano dos lobos, pediu ao barqueiro que não o passasse, como fez na primeira ocasião que se lhe apresentou. Vendo isto, o servo de Deus, confiado na omnipotência divina, estendeu a sua capa sobre o rio, dando-lhe assim passagem para a outra banda. Maravilhados – amo e barqueiro – com tal facto, não mais tolheram tal devoção, segundo diz a lenda. Professou depois no convento franciscano de Santa Marina, junto ao Douro, perto da Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta, mas no termo de Espanha, mudando o nome de Pascoal, que até ali usara, no de João Hortelão, apelido (ao que parece) do ministério que sempre exerceu. Diz a lenda que, como frade, deixava os pássaros fechados para que lhe não danificassem a horta enquanto ia assistir às missas, e depois, quando vinha, os soltava, mandando-os ir ganhar a vida. Do convento de Santa Marina passou para o de Salamanca, onde granjeou esmolas com que mandou edificar a igreja da Anunciada na sua pátria, que é ainda hoje a matriz da freguesia, onde se conserva uma formosa cruz de prata, dádiva sua. João Hortelão era de notável penitência, constante na oração, sendo visto muitas vezes em êxtase; gozou de ciência infusa e espírito profético, e com fama de santidade faleceu no convento de Salamanca, onde jaz, a 11 (357) Os franciscanos costumavam muito tomar o apelido das terras de onde eram naturais, como informa Jorge Cardoso no Hagiológio Lusitano, tomo II, p. 452 e 653 (referente aos dias 6 e 20 de Abril), tomo III, p. 353 e 628 (referente aos dias 21 de Maio e 10 de Junho).

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HORTELÃO

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ÍNSULA

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de Janeiro de 1499, e não 1500 ou 1501 como se lê nas crónicas, conforme se evidencia do seu epitáfio que diz: Aqui jaze el padre de sancta memoria F. João Hortelano, el qual perseveró en esta religion, y casa con sancto exemplo de vida, mas de quarenta años. Fallecio en el año 1499 (358).

I ÍNSULA (Frei Bartolomeu) – Franciscano, natural de Miranda; faleceu em Viana de Caminha, no convento de S. Francisco do Monte, a 10 de Fevereiro de 1557 e não 46 ou 47, como dizem alguns autores. O Hagiológio Lusitano conjectura provir-lhe o apelido de haver tomado o hábito no oratório da Ínsula, no tempo que obedecia à província de Portugal. Foi o primeiro guardião da casa de Nossa Senhora do Amparo, que a ordem tem junto a Alverca, termo de Lisboa, e o mesmo cargo exerceu na de Viseu. O seu nome anda na Árvore dos Santos da sua ordem com o título de «Beato». O citado Hagiológio diz que foi «dotado de heroicas virtudes, incredivel penitencia, profunda humildade, estremada abstinencia, frequente oração, abrazada caridade, e as mais que a estas acompanham... que nunca gostou de carne, peixe, nem vinho, mais que hervas e legumes; andando sempre descalço... quando esteve em Lisboa gastava todo o tempo em assestir aos leprosos... procurando-lhes mimos e esmolas, que cada dia lhes levava» (359). Tratam deste virtuoso bragançano os seguintes autores: Wadding, tomo IV, adan. 1392; Gonzaga, III part., Provin. S. Ant. conv. 14; Barrezo, Crón. Min., IV part., livr. III; Rapinaoes in Hist. Generali, Decad. 8, part. I, e outros.

(358) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 11 de Janeiro. Tratam ainda deste virtuoso bragançano os seguintes escritores: GONZAGA, III parte, tit. prov. S. Tiago; NATIVIDADE, João, Frei – Chronic.; MARIETA no Flos Sanctorum; GONÇALVES, Gil – História de Salamanca; O Martirológio, 8; Ano Histórico, referente ao dia 11 de Janeiro; CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II, p. 125, e a História Seráfica Cronológica da Ordem de S. Francisco na província de Portugal, vol. IV, p. 5. (359) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 10 de Fevereiro.

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JAQUES

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JERÓNIMO

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JESUS

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J JAQUES (António) – «Mestre de campo em esta provincia e governador della e desta praça de Bragança», casado com D. Eugénia pelos anos de 1651 (360). JERÓNIMO – Padre e frade dos Capuchos de Santo António, natural de Moncorvo, filho de Cristóvão de Gouveia e de D. Ana Botelho. Faleceu pelos anos de 1645 e está sepultado no convento da Carnota. As muitas virtudes que praticou durante a sua longa permanência na ordem que professara granjearam-lhe a fama de «varão perfeito», e o título de venerável, merecendo a sua memória honrosa menção na crónica da ordem (361). JERÓNIMO (Benjamim dos Anjos) – Diplomado com o curso colonial, secretário do Conselho Superior de Instrução Pública, chefe de secção de instrução do ministério das Colónias, professor da Casa Pia de Lisboa e governador civil do distrito de Bragança. Filho de Manuel Inácio Jerónimo e de D. Conceição da Costa; nasceu em Carção, concelho do Vimioso, a 10 de Dezembro de 1887 e faleceu em Bragança a 25 de Fevereiro de 1924. Era casado com D. Adozinda Dias, professora primária, natural de Bragança, e como escritor usou do pseudónimo de Frei Fradinho. Escreveu: Estudos coloniais (110 págs.) e deixou em manuscrito: Geografia e Tecnologia Comercial e Industrial. Fundou a Evolução, periódico académico de Bragança, e colaborou na Gazeta de Bragança, em O Tempo, no Jornal da Tarde, no Diário de Notícias e em A República. JESUS (Frei António de) – Nasceu na aldeia de Lama, freguesia de Parada, concelho de Coura, em 1774 e faleceu no recolhimento da Mofreita, concelho de Vinhais, a 20 de Outubro de 1841; filho de Francisco Fernandes e de Maria Josefa de Araújo. Em 1789 entrou para o convento de Vinhais, onde se distinguiu pela aplicação ao estudo e prática da virtude, merecendo por isso ser nomeado guardião do convento. Foi depois residir para Lisboa, chamado, ao que se conjectura, pelo bispo de Bragança D. António da Veiga, à memória do qual dedicou depois uma das suas obras, e daqui partiu para Roma em 1816, (360) Ver tomo VI, p. 680, destas Memórias. (361) COSTA, António Carvalho da, Padre – Corografia Portuguesa. Braga, 1868.

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onde obteve do papa Leão XII o breve, que só mais tarde recebeu, para a fundação de um convento de missionários na província de Entre Douro e Minho, a que deu começo, na serra da Falperra, em 1826. Como sempre, não faltaram inimigos ou invejosos, que nada fazem, achando ao mesmo tempo mau quanto produzem os outros, os quais, sob falsas razões religiosas, contrariaram a nova construção, prevenindo contra ela o Núncio. Frei António teve de ir a Lisboa dizer da sua razão, e aquela autoridade eclesiástica, ouvindo-o, reconheceu a pureza de suas intenções e zelo religioso. Estava já para partir para a Falperra quando, segundo dizem, a instâncias do duque de Cadaval, da marquesa de Abrantes e de outros fidalgos, teve de espaçar a sua partida «com o piedoso intento de levar algumas consolações e allivios aos presos politicos que jaziam nas masmorras da Torre de S. Julião da Barra. Houve-se n’este negocio com prudencia e moderação, confessadas por João Baptista da Silva Lopes, na sua Historia do Captiveiro dos mesmos presos; porém, quando se empenhava n’estas diligências, novas intrigas e desgostos se lhe suscitaram, de sorte que deixou Lisboa em Abril de 1833» (362). As comoções políticas de 1833 e o denominado «cisma» que se lhe seguiu puseram em destaque a personalidade deste frade, tornado célebre pelo muito que escreveu contra o governo liberal «quanto á sua ingerencia no ecclesiastico», de cujas prerrogativas se mostrou zeloso defensor, animando-o ainda mais à luta o facto de Gregório XVI o nomear em 1838 administrador ou vigário apostólico do arcebispado de Braga. Esta atitude, além de grandes sacrifícios seus e dos afeiçoados para imprimir os seus livros, trouxe-lhe graves desgostos e perseguições, que o obrigaram a viver refugiado em diversos esconderijos, vindo afinal a colhê-lo a morte no recolhimento da Mofreita, como acima fica dito, onde se encontrava como capelão. O Eco da Religião e do Império, periódico de Pernambuco, n.° 164, de 21 de Janeiro de 1842, publicou a respeito de Frei António de Jesus um extenso necrológio, depois transcrito, parte dele, no Periódico dos Pobres, do Porto. No Progresso Católico de 15 de Fevereiro de 1887 o padre João Vieira Neves Castro e Cruz dedicou a este frade um extenso artigo. Frei António de Jesus era muito versado nas línguas portuguesa, francesa, inglesa, italiana, espanhola, hebraica, grega e latina. Escreveu: O letrado velho. Inocêncio F. da Silva diz que não lhe «ha sido possivel

(362) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico…, vol. VIII, p. 173.

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descobrir se esta obra se chegou a imprimir ou se correu simplesmente manuscripta». A voz da Igreja, ou decisões da Santa Sé Apostólica sobre a comunicação ‘in divinis’ com os tolerados cismáticos ou hereges, traduzidas fielmente dos originais e esclarecidas com notas oportunas para sua inteligência. Porto, na Imprensa de M. J. A. Franco, 1837. 8.° com 86 págs. Segunda edição, acrescentada com algumas decisões, a sua defensão e um apêndice. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1838. 8.° de V-III (inumeradas)-115 págs. e mais duas de erratas. Esta edição não tem o nome do autor. Regras católicas para os lugares e tempos de cisma, recolhidas das pontifícias decisões, dos Padres da Igreja e teólogos puros. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1837. 8.° de 60 págs. Saiu anónimo, porque o autor, como diz no «Prólogo», estava então oculto. Advertências mais precisas ao Clero que deseja trilhar as verdades ortodoxas, conforme a teológica católica, e as apostólicas decisões, por * * * «presbítero católico romano, cuja doutrina consta ser aceita na Santa Sé de Roma». Porto, Tip. Comercial Portuense, 1838. 8.° de VI-18 págs. Saiu igualmente anónimo. Os clamores e providências do Pastor Supremo, Gregório XVI, às ovelhas lusitanas levadas aos ouvidos de todos, com reflexões necessárias e oportunas, por * * *, Delegado da Sé Apostólica. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1838. 8.° de 102 págs. e mais duas inumeradas, no fim. Também saiu anónimo. Exposição da Fé que professam e da disciplina eclesiástica que abraçam os párocos e presbíteros ortodoxos do reino de Portugal, por os mesmos dirigida ao Santíssimo Padre Gregório XVI em 23 de Junho de 1839. E a resposta do mesmo Santíssimo Padre, acompanhada da verdadeira interpretação, conforme o sentir dos D. D. católicos romanos. Pernambuco, Tip. Imparcial de L. J. R. Roma, 1841. 4.° de 48 págs. É dedicada à memória e ortodoxia do Ex.mo e Rev.mo Sr. D. António da Veiga, bispo de Bragança, cujo retrato, aberto em chapa de cobre, acompanha a obra. A Exposição vem em latim de um lado com a tradução portuguesa do outro. A págs. 25 começa, sob novo rosto, a Resposta de Sua Santidade Gregório XVI aos padres ortodoxos lusitanos, dividida em artigos, com esclarecimentos conformes ao sentir dos doutores católicos romanos, etc., etc. Depois da morte de Frei António, os seus discípulos e amigos mandaram imprimir os seguintes escritos que ele deixara manuscritos: Reddite...... quœ sunt Dei Deo: se quereis que sua espada se recolha na bainha. «O Direito natural, público e divino da Igreja – Sua violação a fonte dos males que nos afligem – Ao Clero e povo que deseja ser ortodoxo, e ver a paz de Deus na terra», por Fr. António de Jesus, missionário MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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apostólico e fundador do Seminário de N. S.ª da Conceição do Monte da Madalena no ano de 1829. Braga, Tip. Bracarense, 1847. 4.° de IV (inumeradas)-VI-198 págs. Em seguida à pág. 146 vem um Apêndice de verdades católicas a respeito da Igreja e do Papa e da Sé de Roma, com prólogo e cinco capítulos. Análise da Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa, decretada e dada por D. Pedro, Imperador do Brasil, aos 29 de Abril de 1826, nos artigos que tocam à religião. Braga, Tip. União, 1863. 8.° de VIII-461 págs. e mais uma de erratas. Publicou-se por diligências de Frei João Baptista de Jesus, amigo do autor e religioso que foi do mesmo Seminário de Nossa Senhora do Monte da Falperra. O clamor e petição do povo fiel e pio, desejoso da tranquilidade do altar e do trono, aos Príncipes católicos – Obra inédita de Fr. António de Jesus, etc., dada à luz por Fr. João Baptista de Jesus, etc. Braga, Tip. do Seminário dos Órfãos, 1865. 8.° de VIII-482 págs. e no fim como apêndice: «Doutrina da Igreja Galicana sobre o cisma». História abreviada da decadência e queda da Igreja Lusitana, com os meios de a levantar e restabelecer – «Em que se recordam os princípios genuínos de direito público eclesiástico, se referem suas violações, deduzindo delas a presente ruína, deixando já entender o que devem ou não fazer, se querem religião e felicidade as potestades do mundo». Publicada por A. S. P. M. F. Braga, Tip. Lusitana, 1863. 8.° de 292 págs. e 4 de índice e erratas. No «Preâmbulo» há algumas notícias a respeito do autor. Frei António de Jesus também colaborou no Escudo da Religião Católica (363). Pedro Augusto Ferreira, em o Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vinhais», dá conhecimento de outra obra manuscrita deste autor existente em poder de Frei José da Santíssima Trindade, professo no convento da Falperra e morador em Vila Flor, distrito de Bragança, que ainda vivia em 1885, cuja obra tem por título: Narração abreviada dos padecimentos que viu e como pode aliviou Fr. António de Jesus, Missionário Apostólico do Seminário do Monte, nas prisões da Torre de S. Julião da Barra em Dezembro de 1832, Janeiro, Fevereiro e Março de 1833... e outros acontecimentos posteriores escritos por ele mesmo. «N’esta obra conta Fr. Antonio em resumo e com a autoridade que lhe é propria os relevantes serviços que prestou com a maior dedicação e abnegação e com risco da propria vida aos presos politicos liberaes que pejavam a Torre de S. Julião, indo espontaneamente viver com elles, suavisando-lhes o rigor do captiveiro, transferindo a muitos das prisões mais lobregas para (363) SILVA, Inocêncio F. da –Dic. Bibliográfico…, tomo VIII, p. 173.

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outras com luz e ar, confortando-os a todos, repartindo com todos os seus poucos recursos e esmolando pelas ruas de Lisboa e pelas casas das suas relações para valer-lhes em tão negra conjuntura. Com magua tambem conta por ultimo as perseguições que soffreram elle, o seu convento e os seus seminaristas, depois da extincção das ordens religiosas, sem que lhes valessem, como bem podiam e por gratidão deviam, muitos dos liberaes que elle tanto beneficiou no carcere?!......» (364). É interessante o modo como João Baptista da Silva Lopes se refere a este frade. «Na tarde de 25 de Dezembro de 1833 – escreve Lopes – é que Fr. Antonio de Jesus appareceu nas prisões de S. Julião da Barra, a consolar os prisioneiros politicos, acompanhado do donato Fr. Augusto de Nossa Senhora da Conceição, filho do medico João Nepomoceno, de Alfândega da Fé» (365). O autor que, apesar de não ver com bons olhos Frei António e o seu companheiro, desconfiava de tudo e de todos «não se admirará que não me fie de pessoa alguma, temendo alguma fera cilada» (366) a cada passo, entre o seu azedume contra os frades, que todos reputava ferrenhamente perseguidores dos constitucionais, pecha velha da paixão clerófoba, pois tinha muitos companheiros de prisão pertencentes à classe sacerdotal, deixa respirar as benemerências de Frei António pelos esforços empregados para minorar os padecimentos dos presos. «Voltaram de tarde os missionarios (Frei António e o donato) e como por experiencia já iamos gosando alguns beneficios (devidos a elles) fez-se-lhe toda a sorte de agasalho» (367). E noutra parte: «Notava-se nos officiaes (que superintendiam sobre os presos) desde que os frades tinham tido entrada franca nas prisões, certo ar de moderação em suas maneiras de tratar» (368). Na página 123 do mesmo volume confessa que, por intervenção de Frei António, um preso recluso no segredo por castigo, fora dele retirado. Quando Frei António se retirou das prisões, onde durante três meses deu largas ao seu zelo caritativo, os infelizes ali enclausurados agrade(364) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vinhais». Ver também SEPÚLVEDA – Apêndice ao exame crítico, p. 41, onde se faz uma pouco lisonjeira apreciação de Frei António de Jesus, e Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Jesus (Fr. António de)». (365) LOPES, João Baptista da Silva – História do cativeiro dos presos de estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa durante a desastrosa época da usurpação do legítimo governo constitucional deste reino de Portugal, 1833, tomo III, p. 91. (366) LOPES, João – História do cativeiro dos presos de estado na Torre de S. Julião da Barra…, Documentos ilustrativos – Documento n.° 8. (367) Ibidem, tomo III, p. 104. (368) Ibidem, p. 113.

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cem-lhe em carta que vem transcrita na mesma obra e na qual se lê: «Os prezos da prizão grande do revelim da Torre de S. Julião da Barra, por extremo penhorados das attenções e consoladoras maneiras e termos com que V. Reverencia os tem tratado nos tres mezes da sua residencia na mesma Torre, durante os quaes teem experimentado consideravel allivio em seus males, não podiam tomar sem desprazer a noticia da sua ausencia» (369). Frei José da Santíssima Trindade, morador em Vila Flor, o bondoso frade que ainda em vida deu as próprias casas para um hospital, ainda vivia em 1885 e possuía o manuscrito referido, mas à sua morte desapareceu e não se sabe dele, como nos informa o reverendo António José de Morais, actual pároco da mesma vila. JESUS (Frei Diogo de) – Natural de Ansiães. Deu a vida pela fé de Jesus Cristo (370). JESUS (Francisco de) – Eis o que a propósito deste virtuoso homem diz a Corografia Portuguesa: «Foi natural de Vella, termo da cidade da Guarda, filho de Antão Fernandes e Maria de Proença. Aos nove annos de idade foi para a Guarda a estudar e servir a André de Araujo deão na Sé d’aquela cidade. Á morte d’este contando então dezesete annos de idade passou a Roma e d’ahi veio a Castella onde recebeu o habito dos Eremitas de S. Paulo na serra de Cordova, onde esteve tres annos; veio depois á Guarda e voltou a Castella, onde assistio alguns annos na comarca de Ciudade Rodrigo nas Batoecas, d’ahi (dizem que com desejo de martyrio) vestiu o habito franciscano em ordem ás missões de Africa, e porque cessaram de noviciado, voltou aos desertos de Cordova, donde passado algum tempo com o mesmo impulso se embarcou para a America, mas arribando a náo tornou para o seu ermo em que por causa de achaques, havido conselho dos medicos, passou a Portugal e fez assistencia em uma Ermida do termo de Villa Flor, no Alemtejo, depois mudou para outra no logar de Cafedo, junto a Castello Branco do Tejo; de ambas o expulsou a ambição de alguns visinhos, até que veio a parar na serra junto ao logar de Cabeça Boa, termo de Moncorvo, onde residiu quatro annos; tambem pelas mesmas razões foi expulso e foi para a serra de Roboredo, junto a Moncorvo, onde viveu em pequena choça cinco annos, sempre tido por bom varão, continuo no retiro, abstinencia; zeloso da honra de Deus, desprezador do mundo, casto, (369) LOPES, João – História do cativeiro dos presos de estado na Torre de S. Julião da Barra… Documentos ilustrados – Documento n.° 14. (370) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Carrazeda de Ansiães».

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humilde, caritativo, paciente e finalmente nos olhos de todos julgado por santo» (371). As acções virtuosas de Francisco de Jesus forneceram a Camilo Castelo Branco o título do seu romance O Santo da Montanha, onde entretece, com o enredo da obra que muito prende com personagens do distrito de Bragança, a vida acima referida do anacoreta que faleceu a 13 de Outubro de 1665. JOAQUIM (Manuel) – De Parada, concelho de Bragança, pintor que pintou o retábulo do altar de Paradinha em 1790 por 65$000 réis e em 1795 dourou o altar da capela-mor da igreja de Paçó do Outeiro por 100$000 réis. Em 1756 dourou por 90$000 réis o retábulo do altar-mor da igreja de Quintanilha (372). JORGE (José), como é mais conhecido, ou José Jorge de Figueiredo, como se vê numa carta que adiante se reproduz – Natural de Maçainhas, concelho de Belmonte, distrito de Castelo Branco; filho de Manuel Jorge de Figueiredo. Fez parte da Divisão Auxiliar à Espanha e depois ficou pertencendo ao batalhão de caçadores n.° 3 em Bragança. Desertando por uma falta leve do serviço militar, viveu no Alentejo do produto do seu trabalho de campo. Ultimamente, estando a servir em casa de José Rebelo em Vila Boim, próximo de Elvas, este, desconfiando que Jorge mantinha relações ilícitas com uma pessoa de sua família, levou-o enganado a casa do administrador ou regedor da vila, mandando, entretanto, a um seu amigo que juntasse gente e o prendesse. Jorge, vendo a atitude do povo e receando que o quisessem prender como desertor, deitou a fugir, ao mesmo tempo que Rebelo gritava sobre ele: «Agarra esse homem, que é o José da Gama», indivíduo a quem aquele povo imputava vários crimes como guerrilheiro. Foi preso e testemunhas falsas, angariadas pelo Rebelo, acusaram-no de grandes crimes, como a fuga dos presos da cadeia de Almeida e outros, pelo que foi condenado à morte na forca e executado no campo de Santo António de Bragança, vulgarmente chamado Toural, a 3 de Abril de 1843. Talvez devesse ser executado na terra da sua naturalidade ou onde se dizia cometera os crimes, mas para que o facto tivesse menos eco, a pretexto de que fora soldado do batalhão de Bragança, aqui veio ser justiçado.

(371) COSTA, António Carvalho da, Padre – Corografia portuguesa. Braga, 1868. Vol. I, livro II, p. 366. (372) Ver tomo IV, p. 558, destas Memórias.

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O povo de Bragança e arredores até bem longínquos tem este justiçado como vítima inocente da malvadez humana e venera-o como santo e mártir, depositando na sua sepultura cera, azeite, dinheiro e outras dádivas, em cumprimento de votos e petições cujo bom despacho atribui à intercessão deste padecente. Com o produto destas esmolas já se lhe erigiu no cemitério público uma capelazinha sobre o local que se julga ser a sua sepultura, fazendo-se-lhe muitos sufrágios no aniversário da sua morte. Nesta capela arde permanentemente uma lâmpada e, além de muitas esmolas, há viçosas flores carinhosamente renovadas. A autoridade eclesiástica ainda não se pronunciou sobre este facto, pelo que nada podemos dizer sobre ele; no entanto informaremos que gente muito ilustrada (373), além da do povo, sente unanimemente sobre a santidade do malogrado José Jorge. Esta crença geral, que poderia ter sua razão de ser como protesto contra as prepotências dos grandes e natural sentimentalismo pelos oprimidos logo em seguida ao facto, mal se explica hoje, passados oitenta e seis anos, espaço longo de mais para um povo impressionável como o nosso, mas que esquece facilmente essas impressões, persistir no mesmo pensar, a não haver um quid venerável que o justifique. Demais, a 19 de Setembro de 1845 foi enforcado em Chaves José Maria, por alcunha o Calças, natural de Faiões, junto a essa vila (374); pois a memória deste homem, o último justiçado civil no norte de Portugal, desapareceu com as suas cinzas, bem como a de Francisco Mendes, de Carção, de quem falamos adiante. Este facto, dada a proximidade de Chaves e Bragança e afinidade étnica entre um e outro povo, depõe grandemente sobre os méritos de José Jorge. No «Livro dos óbitos da freguesia de Santa Maria da cidade de Bragança» há os seguintes trechos que lhe dizem respeito: «José Jorge de Figueiredo, filho de Manuel Jorge de Figueiredo, natural de Maçainhas de Belmonte do concelho da Guarda, soldado que foi de caçadores n.° 3. Morreu na forca no campo de Santo Antonio desta cidade depois de ter recebido todos os sacramentos espirituaes no dia 3 de abril de 1843, tendo feito hua carta que escreveu Luís Teixeira capellão do dito corpo na qual pede a seu pae e mais vezinhos perdão das offensas e lhe roga que elle deixa tudo a seus sobrinhos, no caso de elle ser morto assim como lhe digão por sua alma seis Missas, e que repartam hua moeda pellos pobres mais necessitados do lugar.

(373) Veja-se O Distrito de Bragança de 28 de Março de 1902. (374) Diário do Governo de 30 de Setembro de 1845, onde vêm todos os pormenores referentes ao caso.

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Em ultimo lugar e já no cimo do Pativolo depois de ter feito hua exhortação moral a seus camaradas e a todo o povo a quem declarou a sua innocencia, entregou o papel ao capellão de São Bento, o Reverendo Manuel Annes, que contem o seguinte conforme se acha escrito no Periodico dos Pobres do Porto d’este anno n.° 94: “José Jorge de Figueiredo padecente que estou para ser enforcado em onra do meu porte melitar e cevil, tenho a declarar o seguinte: Digo não sei a razão porque fui exauturado das honras melitares tendo eu sido soldado fiel desde que assentei praça; andei no Exercito de Espanha athé que tive hua simples desserção que pratiquei por temer o castigo de certa cousa leve que me impotarão, e tendo depois como dessertor procurado viver por casa de patrões no Alemtejo, sustentando-me do meu jornal de travalhador de campo fui exautorado das ditas honras tendo outros cometido varias desserções rouvos e asacinos, morrem como melitares e não como paisanos, como aconteceo á pouco em Chaves. Em onra do meu porte cevil e religioso, confesso que sempre fui temente a Deus e ás Justiças d’este mundo, e que a morte que me impoem só ma podiam empor por eu andar a servir quando desertor em Villaboim ó pé de Elvas, em casa de José Rebelo, que tendo este desconfianças de que eu tinha amizade illicita com familia de sua casa me levou enganado a casa do Regedor da dita Villa ou Administrador e nontanto mandou outro seu amigo a convidar gente para me prenderem e eu que vi tal gente, desconfiando que quizessem prender-me por desertor cuidei em fugir e logo então o dito Rebello gritou: agarrem esse que é o José da Gama homem a quem aquelle povo impotava varios crimes como guerrilheiro e assim fui eu prezo dizendo que era o tal Gama e logo tratou o dito Rebello de me imputar grandes crimes: como a fuga dos presos d’Almeida etc. etc. mas infelizmente só pode arranjar testemunhas falsas que me impuzessem a morte porque vou padecer innocentemente, mas o meu sangue um dia pedirá justiça no devino tribunal visto que pelos homens sou tão barbaramente condemnado e por isso perdoo a todos os que esta me tramarão para que Deus me perdoe a mim e agradeço a todo o povo de Bragança a parte do sentimento que toma na minha morte, que só Deus lh’o gratifica; e espero das auctoridades que esta minha confissão a façam publica. Campo de Santo Antonio 3 d’Abril de 1843. José Jorge”. E não continha mais. E para constar me assigno dia, mez era ut supra. O Prior, Innocencio Antonio de Miranda» (375).

(375) Falaremos deste prior no artigo respectivo.

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Segue a cópia da carta que José Jorge dirigiu ao pai e que foi escrita pelo então capelão do batalhão de caçadores n.° 3, reverendo Luís Teixeira (está no mesmo «Livro dos óbitos» da citada igreja de Santa Maria de Bragança): «Meu querido Pai. Saude e venturas é o que lhe desejo i a toda a nossa familia a quem muito me recommendo. Meu Pai. No fim de todos os meus trabalhos estou reduzido á ultima mizeria, em summa chigou a confirmação da minha sentença dia tres deste, vou padecer e espiar a culpa dos meus crimes a unica coiza que lhe peso he que logo que esta receba se lembre da minha alma. A saber no caso de meu Pai ser morto deixo tudo o que me pertence a meus sobrinhos para que encommendem a minha alma a Deus e hua moeda de ouro para ser repartida aos pobres mais necessitados do logar i seis missas por minha alma i peço-lhe que me perdoem pello amor de Deus i a meus yrmãos da mesma sorte i adeus até o dia de juizo digo mais a todos os meus parentes amigos i conhecidos peso perdão que reprehendão os seus filhos para que não cheguem á minha desgraça i a todos peso me encomendem a Deus. Bragança 1 de abril de 1843. Deste seu filho obediente – José Jorge Figueiredo». «Entrou na Cadeia Civil desta cidade por ordem do Snr. Juiz ordinario deste julgado o prezo José Jorge solteiro natural de Maçainhas julgado de Belmonte da Beira Alta filho de Manuel Jorge do dito lugar tera o mesmo de altura cecenta e tres polgadas rosto redondo cor clara com hum risco na face esquerda barba cerrada olhos castanhos escuros, cavello da mesma cor vestido Jaqueta e calça de caragoça sem collete, disse ter de idade vinte oito annos ocupação que tinha sido soldado de caçadores numero tres athe ao dia nove do corrente mez que pello seu commandante do dito corpo foi mandado entregar á authoridade civil deste julgado para delle tomar conta por assim ser julgado no Supremo Tribunal do concelho de Guerra pelo crime de omecidio em que tinha sido acusado no concelho de guerra a que tinha ja respondido eu que este mandei fazer e subscrevi aos nove de março de mil oitocentos e quarenta e tres. O Carcereiro Agustinho José». (De letra diversa segue a seguinte nota:) «Declaro que este Reo foi no ditho Supremo Tribunal condemnado a pena ultima». (À margem há mais estoutra nota:) «Foi inforcado no campo de Santo Antonio em dia 3 de abril de 1843. Bragança 19 de agosto de 1845. Pinto» (376). (376) Copiado fielmente do «Livro de Registo da Cadeia de Bragança».

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Depois de 1834 foram justiçados no norte de Portugal (na área da Relação do Porto) catorze indivíduos, sendo quatro no Porto e dez em diferentes pontos, o último dos quais foi o Calças, em Chaves, em 1845, de quem se encontra o processo com todas as horripilantes circunstâncias do enforcamento no Museu Regional de Bragança. Nos Contos de Afonso Botelho, Lisboa, Livraria de António Maria Pereira, 1894, desde págs. 63 a 83, deixou-nos este escritor (irmão do doutor António Botelho Sarmento, que vivia, casado, em Alvites, concelho de Mirandela), um interessante conto, que diz em nota ser «fundado n’uma tradição popular de Bragança». Segundo se depreende do referido conto, José Jorge (dá-lhe simplesmente este nome) mantinha amores com uma tal Miquelina, do Pinheiro Velho, concelho de Vinhais. Foi visitá-la em três dias de licença na festa do dia de Natal, e um indivíduo, em companhia de quem fez parte da viagem (ao qual, numa expansão de amante feliz, contara a sua vida), aproveitou-se da escuridão da madrugada em que José Jorge dela se despediu para se lhe introduzir no quarto e fazer-lhe as suas exigências torpes, às quais a moça não acedeu, e, como gritasse por socorro, matou-a e ao pai e mãe que vinham em seu auxílio, evadindo-se depois sem que ninguém suspeitasse do crime, imputando-se as responsabilidades a José Jorge, donde resultou ser preso e julgado, mas absolvido por falta de provas. Voltou ao serviço militar para caçadores n.° 3 em Bragança, de onde depois desertou, indo para o Alentejo como trabalhador de campo para casa de uma mulher casada que mantinha relações ilícitas com um primo. Como tivesse conhecimento dessas relações despediu-se, suspeitando a adúltera que Jorge descobrira a sua maldade; não deu, porém, mostras disso e muito afável deu-lhe até um farnel com merenda para o caminho, escondendo juntamente com ela algumas pratas da casa; auxiliado pelo amante, o marido imputa as culpas a José Jorge, após de quem fez correr gente, conseguindo prendê-lo, fazê-lo julgar e condenar. Termina Botelho por dizer que mais tarde se vieram a descobrir os verdadeiros autores tanto deste crime do Alentejo como do de Pinheiro Velho. Nunca ouvimos as espécies referentes ao caso do Pinheiro Velho, não obstando, porém, isso nada relativamente à sua veracidade; contudo achamos inverosímil – ainda mesmo atenta a circunstância de conto – que sendo José Jorge admitido à convivência da família de Miquelina, a ponto de cear com ela intimamente na clássica noite da consoada, como um membro que brevemente seria legítimo, se despedir assim em latim, como amante criminoso que tem todo o cuidado em ocultar as suas vistas. Além disso, pelos documentos que deixamos reproduzidos vemos como as coisas se passaram. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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A odisseia de José Jorge foi posta em drama pelo capitão de infantaria António Joaquim Pereira Trancoso, de Bragança, e tem sido representada várias vezes no teatro desta cidade, sempre com enorme êxito. «Despezas que se fizerão para a construção da forca em que sofreu a pena capital José Jorge soldado que foi do Batalham n.° 3 de Caçadores: 21 taboas de choupo de J.° Ferz. carpinteiro a 160 cada uma. . . . 6 páos de castanho de Fran.co Glz. de Formil a 200 cada um . . . . Outro dito de cast.o de Magdalena de Formil . . . . . . . . . . . . . . . . Outro d.o de Rosa Afonso de Formil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 centos de pregos que se comprarão a Fran.co Joaq.m . . . . . . . . . . Duas barrumas ao m.mo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Duas d.as mais pequenas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quatro cavilhotes que fez Estevão Serralheiro. . . . . . . . . . . . . . . . Hûa corda que se comprou a Manuel Antonio Pizarro . . . . . . . . 4 geiras de carpinteiro a M.el Gama e M.el Parada a 240 cada uma Hum páo grande a J.e Villa Nova. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Outro d.o de M.el Melides Per.a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Soma total 11:680 rs.» (377).

3:360 1:200 200 200 660 60 40 190 810 960 2:000 2:000

JOSÉ (Maria) – Do Penso, concelho de Vinhais, teve artes de se registar civilmente em casamento com Francisco Barreira, rico proprietário da Moimenta, no mesmo concelho, em 1927, sem este nada saber, apresentando no acto do casamento em Vinhais um comparsa que se fez passar pelo Barreira. A imprensa da época, nomeadamente A Voz de 19, 20, 21, 23, 27 e 31 de Julho daquele ano, referiu-se largamente ao caso. Já era precisa audácia para subornar o comparsa e não recear que o regedor, que passou o atestado de estado livre e residência, o empregado do registo civil que procedeu ao acto e as testemunhas que abonaram a identidade dos cônjuges dessem pela trapaça! A justiça tomou conta da aventureira (378). JUNQUEIRO (Abílio Manuel Guerra) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1873, deputado, escritor e poeta. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 17 de Setembro de 1850 e

(377) Governo Civil [de Bragança] — Correspondência, n.os 630 e 658. Este códice está agora depositado no Museu Regional de Bragança, graças à inteligente solicitude do secretário-geral doutor Raul Manuel Teixeira, a quem agradecemos a indicação desta particularidade referente ao infeliz José Jorge. (378) Ver tomo VI, p. 396, destas Memórias.

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faleceu em Lisboa, rua Silva Carvalho, a 6 de Julho de 1923. Era filho de José António Junqueiro Júnior e de D. Ana Guerra. Foi secretário-geral do governo civil de Angra do Heroísmo e Viana do Castelo, deputado em 1898 pelo círculo de Macedo de Cavaleiros, duas vezes pelo de Viana do Castelo e ainda outra vez por um dos círculos da África. Em 1911 foi pelo governo da República nomeado nosso ministro plenipotenciário na Suíça. Escreveu: Duas páginas dos catorze anos – Poesia. Coimbra, Tip. da Universidade, 1864. 1 vol. 8.° Mysticae, mysticae – Poemeto. Coimbra, 1866, Imp. da Universidade. 1 vol. 8.° Vozes sem eco – Poesia. Coimbra, 1867. 8.° de 125-2 págs. Baptismo de amor. Porto, 1867, com um preâmbulo de Camilo C. Branco. 2.ª edição, Porto, 1885, Livraria Cruz Coutinho, Editora. 8.° de 32 págs. A vitória da França – 4 de Setembro de 1870. Porto, 1870 e, 2.ª edição, Coimbra, 1873. 3.ª ed., Porto, 1905. 8.° peq. de 20 págs. A Espanha livre – Poemeto. Coimbra, 1873. 8.° de 15 págs. A morte de D. João – Poema em verso. Porto, 1874. Os homens de maior vulto na imprensa portuguesa referiram-se elogiosamente a esta obra. A 3.ª edição, emendada, foi impressa em Lisboa em 1882. Livraria António Maria Pereira. 8.° de XXIII-323 págs. O crime – Poemeto (a propósito do assassínio do alferes Palma de Brito). Porto, 1875, Tip. B. M. Morais. O exemplar que possuímos é: O crime (a propósito do assassinato do alferes Brito). Porto, 1875, Livraria Internacional de Ernesto Chardron e Eugenio Chardron, Braga. 8.° peq. de 30 págs. Aos Veteranos da Liberdade – Poesia. Lisboa, 1878, Tip. Universal. 8.° de 6 págs. Contos para a infância – Escolhidos dos melhores autores. 4.ª edição aumentada e adornada de gravuras e aprovada pelo Conselho de Instrução Pública para uso das escolas. Lisboa, 1905, Parceria António Maria Pereira. 8.° de 216 págs. A 1.ª edição é de 1877. Fiel – Poemeto. Saiu no «Brinde» do Diário de Notícias do ano de 1875. Na feira da Ladra – Poemeto. Idem do ano de 1877. A fome no Ceará. Lisboa, 1877. David Corazzi. 8.° de 13-1 págs. Tragédia infantil. Lisboa, 1877. 8.° de 13-1 págs. A musa em férias – Idílios e sátiras – 1879, onde estão reunidas uma grande parte das composições deste notabilíssimo bragançano. Tem 3.ª edição. Lisboa, 1893, Livraria de António Maria Pereira. 8.° de 235 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


JUNQUEIRO

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O melro (que depois foi incluído na Velhice do Padre Eterno). 1879. 8.° de 19 págs. A Velhice do Padre Eterno. Porto-S. Paulo, 1885. 8.° gr. de 211 págs. e uma de índice e outra de erratas. Esta obra ímpia despertou grande celeuma por parte da imprensa católica, onde se distinguiu o cónego Sena Freitas que, em A autópsia da «Velhice do Padre Eterno», mostrou como Junqueiro era colossal no génio poético, mas pigmeu insciente em conhecimentos científicos. Apareceu também: Refutações em verso a todo o livro de Guerra Junqueiro intitulado «Velhice do Padre Eterno», por Teles do Vale. 1887. O século – Baptismo de Amor. Com uma apreciação de Camilo Castelo Branco. 2.ª edição. Porto, Tip. do Jornal do Porto, 1885. 1 vol. 4.° A 3.ª edição, 8.° de 32 págs., é da mesma cidade. A lágrima. Porto, 1888. Tip. Ocidental. 4.° de 12 págs. inumeradas. Edição de luxo, com o texto emoldurado em tarja profusamente ornamentada. O produto da venda desta poesia destinava-se às vítimas do incêndio do teatro Baquet. Finis Patriæ – Poemeto a propósito do ultimatum inglês de 11 de Janeiro de 1890. 3.ª edição. Porto, Livraria Chardron, 1905. 8.° de XII-62 págs. Canção do ódio – Poemeto sobre o mesmo assunto. Não será, antes, o seguinte: Marcha do ódio – Música de Miguel Ângelo; desenhos de Bordalo Pinheiro? Porto, Tip. Elzeviriana, sem data (1890). 8.° gr. de 13 págs. e mais 4 de música. Pátria – Poema. 2.ª edição. Porto, 1896. 8.° de 232 págs. Os simples. Porto, Tip. Ocidental, 1892. 8.° peq. de 126 págs. e duas de índice. Oração ao pão – Poema. Porto, Liv. Chardron, 1902. 8.° de 19 págs. Oração à luz – Poema. Porto, Livraria Chardron, 1904. 8.° gr. de 32 págs. Ensaios espirituais – «Oração ao raio... que o parta» (Para alívio de tristes e consolação de aflitos). Folheto de cordel, a 40 réis cada exemplar. É uma paródia à Oração da luz de Junqueiro. Porto, 1904. 1 folh. 8.° Ladrão... do milho. Paródia à Oração do pão, do grande poeta Guerra Junqueiro, por José Branquinho. Porto, 1902. Tip. Universal. A. Figueirinhas, edit. 1 folh. 8.° Guerra Junqueiro colaborou na Folha, jornal fundado e dirigido pelo poeta João Penha, e em outros jornais políticos e artísticos, como a Lanterna Mágica, etc., e no diário francês Revue um interessante artigo sobre o «Radium e radiação universal», em 1904. Também há dele preâmbulos em obras alheias, como o que acompanha o livro de Luís de Andrade Caricaturas em prosa – Viagem à roda da Parvónia, de colaboração com Guilherme de Azevedo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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JUNQUEIRO

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Muitas das obras deste brilhante génio estão traduzidas em espanhol, inglês, francês e italiano e há apreciações críticas delas em diversas revistas estrangeiras, da máxima competência, como na Alemanha, França, etc., sendo de lamentar que um talento tão universalmente apreciado se deixasse obscurecer algumas vezes por composições ímpias como as do mais vulgar e nulo candidato à fácil popularidade das turbas ignaras, que vêem simplesmente no desbragamento da adjectivação a característica do génio. Ou será que esta popularidade lhe resulta em parte muito sensível desta mesma razão? Seja como for, Junqueiro é uma glória da terra que o viu nascer. A Velhice do Padre Eterno motivou as seguintes obras críticas: Impressões da leitura da «Velhice do Padre Eterno» – Poema natural do poeta Guerra Junqueiro. Viagem ao Parnaso, por Frei Ugedio. Santarém, 1885. 8.° Autópsia da «Velhice do Padre Eterno». Nova edição. Porto, 1888. 8.° de 99 págs. (Cremos, porém, que esta é já a 2.ª edição). «A Velhice do Padre Eterno» pelo sr. Guerra Junqueiro – (Ensaios de crítica), por Cirilo Machado. Lisboa, 1886. 61 págs. Guerra a Guerra Junqueiro em poesia sobre a «Velhice do Padre Eterno», pelo padre José Soares Teles do Vale, pároco na cidade do Piranga, em Minas Gerais no Brasil. Rio de Janeiro, 1887. 12.° de VI-120 págs. A Velhice da Madre Eterna – «Paródia excêntrica e humorística à Velhice do Padre Eterno de Guerra Junqueiro, por três cabeças distintas e futuros sócios de várias academias e filarmónicas (Marraschino & C.ª)». Rio de Janeiro, 1885. 8.°, ilustrado, de 175 págs. Cirileida – «Análise dum ensaio de crítica à Velhice do Padre Eterno», por Augusto de Lacerda. 8.° Desarmonias líricas ou a Velhice do Padre Eterno – Poema de Guerra Junqueiro, por António Pedro Barreiros de Magalhães. S. L. (Rio de Janeiro?) 1890. 8.° de 188 págs. e duas (inum.) de erratas. A vida de seu Juca – Paródia à Morte de D. João, de Guerra Junqueiro, por Valentim de Magalhães e António Henrique de Magalhães. Rio de Janeiro, 1880. 8.° de IX-296 págs. e uma de índice. Em O Instituto, revista de Coimbra, 1927, págs. 134, 274 e 640 e 228, 316 a 468 fez Vieira de Almeida larga apreciação de A obra de Guerra Junqueiro, em que os créditos literários e artísticos do grande poeta ficam mal colocados. O grande jornalista Emídio Navarro analisou e apreciou pelo mesmo teor e arte a vida pública de Junqueiro quando este publicou a Pátria. Toda a imprensa portuguesa se referiu dolorosamente à morte de Guerra Junqueiro, classificando-a de «perda nacional», bem como muita estrangeira da melhor cotada. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


LACERDA

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LAMADEITA

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L LACERDA (Manuel Bernardo Pinheiro de) – Doutor, falecido em Bragança (Santa Maria) a 25 de Junho de 1858. Tomou parte em Bragança nas lutas constitucionais e da Maria da Fonte (379). LAMADEITA (Francisco Gil) – Natural da Moimenta, concelho de Vinhais. Foi abade de Meixedo, concelho de Bragança, onde faleceu a 17 de Outubro de 1739, como se vê do respectivo assento de óbito nos livros da mesma freguesia, e fez testamento nas notas do escrivão de Baçal. Os livros do registo paroquial de Meixedo fazem menção dele como abade desde 1717, e nos assentos assina indistintamente Francisco Gil, como o menciona o Sumário da Biblioteca Lusitana, ou Francisco Gil Lamadeita. A sua sepultura está na capela-mor da matriz de Meixedo em granito, com esta inscrição: Memento / mei Deus / quia ven / tus est vi / ta mea, / S.a do D.or Fr.co / Gil Lam.ta n.l / da Muim.ta abde / de Meixedo. M. 17 dout. 1739. A propósito da família Lamadeita, ver tomo VI, pág. 289, destas Memórias. O abade Lamadeita escreveu: Estudo curioso – Livro de teologia moral. Lisboa, 1734. 4.° de 394 págs. Na censura do padre-mestre Teodósio de Santa Maria Teixeira, lente jubilado na sagrada teologia, que vem apensa a esta obra, lê-se o seguinte, que alguma luz lança sobre a vida do escritor: «Muitos são os Qualificadores, que falam (do autor) não só nesta côrte, o que lhe ouviram na Aula publica (vulgarmente Palestra) em que ensinou vinte annos esta faculdade, mas em todo este reino, os que conservãm, como estimavel joia o resumo de suas obras, fazendo outros todo o apreço pelas conseguir. E altercando-se questões entre elles, que involvem a recta ordem das consciencias, os doutos suspendem os discursos, os menos sabios param no timido de seus escrupulos em se mostrando que o diz o Mestre Gil». Parece, pois, que foi professor de teologia e gozou de grandes créditos. Inocêncio F. da Silva não faz dele menção no seu Dicionário. O Portugal – Dicionário histórico, artigo «Gil», diz que este ilustrado bragançano foi provido em 1730 na abadia de Meixedo, no que há engano, como dissemos. No livro do Provimento dos benefícios, que se conserva no arquivo da Câmara Eclesiástica em Bragança, vem o auto da sua colação na referida abadia a 23 de Dezembro de 1717, e nele se diz que é natural da

(379) Ver tomo I, p. 169 e 212, destas Memórias.

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LAMADEITA

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LEAL JÚNIOR

TOMO VII

Moimenta e presbítero do hábito de S. Pedro. Vem só com o nome de Francisco Gil. LEAL JÚNIOR (António Bernardo de Morais) – Nasceu em Moncorvo a 8 de Junho de 1836; filho natural de D. Guilhermina Clotilde de Morais e do padre António Bernardo de Morais Leal, doutor em direito e teologia e advogado em Moncorvo. Faleceu em Lisboa em Maio de 1899. Leal Júnior pode conseguir em 1861 que D. Pedro V o tomasse sob a sua protecção, mandando-o frequentar a Universidade de Coimbra; morrendo, porém, logo este monarca, seu irmão D. Luís continuou custeando-lhe as despesas universitárias. Escreveu: Uma página Académica – «Opúsculo crítico-histórico, em que é imparcialmente julgada a Academia de 1863 e 1864 sobre a petição do perdão dacto, e consequências da má interpretação da Portaria do Ministério do Reino de 25 de Abril do ano corrente», por A. B. de Morais Leal Júnior (caloiro), prestacionado de S. M. El-Rei. Coimbra na Imprensa da Universidade, 1864. 8.° gr. de XVI-368 págs. Esta obra levantou grande celeuma e atraiu sobre o seu autor o ódio de muitos que nela eram julgados pouco benevolamente, tendo por isso de interromper os seus estudos. A imprensa política discutiu-a largamente; até Pinheiro Chagas escreveu sobre ela uma carta na Gazeta de Portugal n.° 545 de 15 de Setembro de 1864. Gazeta Lisbonense. Publicação semanal, literária, noticiosa, crítica e recreativa. Lisboa, Tip. do Futuro, 1865. 4.° gr. Saíram doze números: o primeiro a 10 de Março e o último a 27 de Maio. Contêm ao todo 96 págs. O Espectador Imparcial – Jornal, de que se publicaram vários números. O Mosquito – Periódico satírico, político, literário, noticioso e recreativo. Lisboa, Tip. do Futuro, 1867. Saiu o primeiro número a 24 de Março. Colaborou em diversos jornais da província, como Jornal do Porto, Bracarense, Independente, Pensamento, Justiça, etc. Borregos e salafrários no concelho e comarca de Moncorvo – Com vista à «Actualidade», jornal portuense. Lisboa, Tip. Portuguesa, 1885. 8.° de 30 págs. Neste opúsculo declara o autor que é redactor do Mosquito e do Archote e que colaborou no Distrito de Faro. O opúsculo contém uma carga violenta e verrineira sobre os homens mais em evidência ao tempo em Moncorvo. No «Prólogo» da Página Académica alude o autor à protecção que, em hora de desdita, encontrou em Alexandre Herculano. Eis a carta que este lhe deu em Outubro de 1863 para José da Silva Mendes Leal, então ministro da Marinha: MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


LEAL JÚNIOR

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«Ex.mo Amigo e Senhor – O portador é um rapaz de Trás-os-Montes, de quem poderá fazer conceito ouvindo-o. Elle lhe contará a sua historia. Estava á entrada do paço para falar a el-rei; pretenção ambiciosa de mais para a obscuridade desvalida, e que os cortezãos baixos para dentro e altivos para fora, sabem reprimir. Viu-me e lembrou-se de falar comigo. A minha opinião foi que recorresse ao unico homem de poder que comprehenda o que ha legitimo nas suas aspirações e doloroso na sua situação. Tal conselho impunha-me o dever d’esta carta. Ella e elle ahi vão. Lea-a, e ouça-o. De V. Ex.cia amigo e creado – Alexandre Herculano» (380). LEAL (António dos Santos) – Abade de Quinchães, concelho de Fafe, desembargador da Relação Eclesiástica de Braga, deputado suplente às cortes de 1822 e governador do bispado de Pinhel, onde faleceu. Era natural de Moncorvo e formado pela Universidade de Coimbra, mas ignoramos em que faculdade. Escreveu: História fiel muito conscienciosa da revolução de Trás-os-Montes e da divisão do Silveira, desde o seu pronunciamento em Vila Real no dia 23 de Fevereiro de 1823, até que regressou de Espanha. Manuscrito in-fólio de boa caligrafia, luxuosamente encadernado em marroquim. Dá notícia deste manuscrito o doutor Pedro Augusto Ferreira no Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vilar de Ossos», e deve parar hoje na Biblioteca Municipal do Porto, à qual o mesmo, com outros códices, fez doação. Contém este códice notícias muito interessantes e ignoradas para a história dos acontecimentos de que trata, acompanhadas de severas apreciações sobre as intrigas dos oficiais superiores que faziam parte da divisão. Segundo Pedro A. Ferreira, o referido António dos Santos Leal era muito ilustrado, tendo acompanhado a divisão do general Silveira, de quem foi secretário particular, como adido ao estado-maior, e escreveu diferentes proclamações que ao tempo se distribuíram. Secretariou também D. José Luís de Sousa, morgado de Mateus e depois conde de Vila Real, quando este foi enviado por Silveira, de quem era coronel-ajudante, como parlamentar ao comandante-em-chefe das tropas francesas realistas que em 1823 entraram em Espanha. LEAL (José António Ferreira) – Natural de Sacoias, anexa da freguesia de Baçal, concelho de Bragança. Faleceu em Sacoias a 1 de Maio de 1825, sendo professor de filosofia em Bragança. Foi também professor de retórica em Castelo Branco, como se vê pelos assentos de casamento da fre(380) SILVA, Inocêncio F. da – Dic. Bibliográfico…, tomo VIII, p. 104.

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LEAL

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LEITÃO

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LEITE

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guesia de Sacoias relativos ao ano de 1809, fólio 18, onde serviu como testemunha. Era casado com D. Maria Emília do Carmo, natural de Bragança (381). No «Livro de matrícula do Seminário de S. José de Miranda», que principiou em 1759 e se encontra na biblioteca do Seminário de Bragança, vê-se a matrícula de José António Leal, de Sacoias, feita a 21 de Outubro de 1794 e tem a nota de que «frequentava de manhã a aula de mystica e de tarde a de moral com aproveitamento». Nada conhecemos que Ferreira Leal deixasse escrito; no entanto, deve ter sido homem de merecimento, já pelas qualidades dos padrinhos, já porque a fama da sua enorme sabedoria ainda hoje vive na lenda popular da povoação de Sacoias e circunvizinhas. A seguinte anedota, que explica talvez os seus estudos, ainda hoje é contada nestes sítios com assombro: um irmão do doutor – como lhe chamava o povo – malhou o pão num dia que ele não queria e, por isso, zangou-se a valer; e para mais arrelia sua, a meio da tarde desencadeia-se tal trovoada com tanta água que varreu todo o cereal debulhado, de onde veio dizer o povo que armava trovoadas e fazia chover. Nós ainda vimos numa janela da sua casa de habitação em Sacoias traçadas nas pedras aparelhadas, que serviam de verga, peitoril e fitos, diversas figuras de geometria, que davam ideia de um brasão de nova espécie – o de um sábio. LEITÃO (João Baptista) – Oficial de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida em 1810 quando se deu o desastre (382). LEITE (Álvaro da Cunha Ferreira) – Doutor pela Faculdade de Medicina do Porto. Nasceu acidentalmente no Rio de Janeiro a 25 de Outubro de 1880; filho de João da Cunha Ferreira Leite e de D. Ermelinda Rossi. Fez o curso liceal em Caminha, o de preparatórios médicos em Coimbra e o de medicina no Porto, concluindo-o em 1907. É médico municipal em Vinhais e subinspector de saúde e foi deputado por Moncorvo e governador civil do distrito de Bragança.

(381) Assento de baptismo de seu filho José António, nascido em 1822, de sua filha Josefa, nascida a 18 de Fevereiro de 1825, e de seu filho António, nascido a 7 de Abril de 1818, do qual foi padrinho, por procuração, D. João António Barreto Oincio, bispo de Lamego, que já havia sido padrinho, também por procuração, de outro filho do mesmo, de nome João, baptizado em Sande, bispado de Lamego, a 4 de Maio de 1815 e cujos assentos se acham exarados no respectivo livro dos baptizados da igreja de Sacoias. (382) Ver tomo I, p. 166, destas Memórias.

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LEITE

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LEITE VELHO

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Escreveu: Entero-nevrose muco-membranosa – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1907. 8.° de 66 págs. e uma de «Proposições». LEITE VELHO (Bernardo Teixeira de Morais) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1846, advogado no Rio de Janeiro. Nasceu no Mogadouro a 25 de Julho de 1824; filho de Joaquim José Teixeira, comandante da companhia de voluntários do Mogadouro (que muito se distinguiu por serviços à causa liberal, derrotando em Maio de 1834 a guerrilha do Cachapuz (383), que infestava o lugar de Lagoaça), e de D. Ana Luísa de Morais Leite Velho. Desde 1846 a 1851 foi vereador e administrador do concelho do Mogadouro, exercendo também a advocacia. Em 1853 partiu para o Rio de Janeiro, onde casou e fixou residência, sempre entregue à faina das letras e da sua profissão, falecendo há poucos anos. Escreveu: Trás-os-Montes – Estudo estatístico. Lisboa, 1869. 8.° de 34 págs. Monografia das execuções de sentença em processo civil. Rio de Janeiro, 1885. Adições à Monografia das Execuções – Contendo as reformas da lei de 5 de Outubro de 1885 e decreto de 25 de Janeiro de 1886, e a Sinopse, em forma de código, de todo o processo das execuções hipotecárias e pignoratícias. Rio de Janeiro, 1889. 8.° pequeno. Estudo histórico das relações diplomáticas e políticas entre a França e Portugal desde a constituição da monarquia portuguesa até à queda de Napoleão Bonaparte. Lisboa, 1896. 8.° de 454 págs. e mais uma (inumerada) de erratas. Espanha e Portugal – 1640-1668 – A revolução e a paz. Rio de Janeiro, 1902. 8.° de 32 págs. Lopes Velho fundou a Crónica do Foro, de que foi redactor único, e colaborou na União Portuguesa, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e no Jornal do Comércio. Obteve medalha de menção honrosa na Exposição Internacional de Trabalhos Jurídicos do Rio de Janeiro, foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e colaborador da Revista (órgão da mesma), do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico do Estado do Ceará (384).

(383) Ver tomo IV, p. 578, destas Memórias. (384) Ver a Ilustração Trasmontana, Porto, 1909, p. 183, onde se encontra o seu retrato acompanhado de notas biográficas, bem como a União Portuguesa de 3 de Janeiro de 1897.

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LEITE VELHO

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LEMOS

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Acácio Vidal, parente por afinidade de Leite Velho, possui vários apontamentos que este escreveu sobre a sua terra natal e que publicaremos no volume referente ao Mogadouro. LEMOS (António Pinto de Seixas Pereira de) – Coronel de cavalaria em 1837. Entrou nas campanhas da Guerra Peninsular desde 1812 a 1814, emigrou em 1829, fez parte da divisão do Mindelo, esteve no cerco do Porto, incorporou-se na divisão auxiliar à Espanha e bateu-se na batalha de Ponte Ferreira em 23 de Julho de 1832, na das linhas do Porto a 29 de Setembro de 1832, na tomada das linhas de S. Sebastião e nas acções de Harmani, Criamende, Fonte Ruvia e Irun em Espanha, merecendo ser recomendado ao rei desse país pelo duque da Vitória, general em chefe do exército atacante (385). LEMOS (Armando Augusto Chaves de) – Doutor em medicina veterinária, inspector do Matadouro Municipal do Porto. Nasceu em Vinhais a 1 de Março de 1871, mas criou-se em Bragança; filho de José Júlio Chaves de Lemos, escrivão, natural de Bragança, e de D. Rosalina Cândida Teixeira e Faro, natural de Vilar do Monte, concelho de Chaves, casados em Bragança; neto materno de Sancho José Teixeira e Faro e de D. Teresa de Jesus Teixeira, naturais de Vilar do Monte. Em 1903 era médico e tenente do corpo de veterinários militares. Escreveu: O cavalo – «Estudo elementar de zoologia, zootecnia, higiene e terapêutica». Porto, 1903. 8.° de VI-637+2 (inumeradas) págs. O autor obteve «Prémio honorífico» pelo Instituto de Agronomia e Veterinária de Lisboa na sessão de 11 de Agosto de 1892, no ano lectivo de 1891-1892. LEMOS (João de Brito) – Natural de Bragança. Escreveu: Abecedário militar – «Do que o soldado deve fazer até chegar a capitão e sargento-mor, e para cada um deles in solidum e todos juntos saberem a obrigação de seus cargos». Lisboa, 1631, 4.° É considerado clássico em atenção aos termos de guerra (386). LEMOS (Padres João de) e José Manuel Vilares Borges de Campos – Os pequenos elementos biográficos que conhecemos destes dois sacerdotes resultam do seguinte: o padre José Luís Cordeiro, escrivão interino do Juízo Apostólico em Bragança, natural de Alfândega da Fé, que faleceu em Calabor, Espanha, onde fora a banhos, a 12 de Agosto de 1900, tinha um manus(385) Ver tomo VI, p. 510, destas Memórias. (386) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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LEMOS

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crito in-8.° pequeno, encadernado, que depois passou para Abílio de Lobão Soeiro, ao tempo secretário-geral do Governo Civil de Bragança, e deste para o actual possuidor (1 de Julho de 1921) doutor António Manuel Santiago, do concelho de Alfândega da Fé, cónego da Sé de Bragança e empregado do citado governo civil. O dito manuscrito começa assim: «Este Caderno hera do Pe. António Nunes, de Frechas que me prestou seu sobrinho e depois de o ter por meu lhe juntei o retrato e a mais adição a folh. 62 tirada do original e as notas de March e Ferraris. José Manuel Villares Borges de Campos». Este Caderno é paginado de frente e contém setenta e três fólios, não contando o índice. Até ao fólio 61, verso, prope fine, compreende um tratado de moral que aí termina e começa a parte verdadeiramente curiosa do manuscrito, que exara um Retrato ou Descrição de Si Mesmo, feita pelo reitor de Sambade, concelho de Alfândega da Fé, reverendo Joaquim Ferreira Portugal, que veio para reitor de Sambade em 1796 e aí faleceu a 11 de Dezembro de 1820, segundo se diz numa nota apensa do mesmo Retrato ou Descrição. Refere essa nota que o dito reitor – foi inimigo dos clérigos e morreu em o auge da intriga, que foi um famoso pregador, mui político, tinha porém génio fogoso, amigo de aplausos, elevado em autoridade. Jaz na sepultura 1.ª da parte da epístola onde se tinha sepultado o seu antecessor Francisco Lopes de Azevedo, o príncipe dos párocos, foi rijo, invenável, virtuoso, abominou a lisonja, amou a virtude. O Retrato, conforme se lê no manuscrito, foi copiado do original em Lodões aos 27 de Maio de 1819 (pelo padre José Manuel Vilares Borges de Campos?). À margem encontram-se notas crítico-humorísticas tiradas de Cícero, Ferraris, Bocage e outros autores atinentes à estultícia das coisas humanas e à vaidade do dito reitor de Sambade, Joaquim Ferreira Portugal, autor do Retrato de Si Mesmo. A primeira nota, parafraseando a célebre sentença de Cícero, respeitante a não haver absurdo que os filósofos não tenham sustentado, diz: Miror an fieri possit ut aliquis ex rectoribus sit salvus. Às prosápias do autor do Retrato dedicou um anónimo, que na cópia se diz ser o padre João de Lemos, de Sambade, acima referido, que «bem conhecia o autor e seus sistemas políticos», as seguintes décimas: Do teu amigo a pintura (387) Vi, pelo mesmo pintada De mil enfeites ornada

(387) O reitor Joaquim Ferreira Portugal diz que fizera o seu Retrato a pedido de um amigo.

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LEMOS

TOMO VII

Desmentindo a figura Toda a sua formosura, Era engano formado Era lobo disfarçado Em pele d’ovelha metido Era o homem fingido O teu amigo pintado. A tua cautela seja Do rato com a doninha Pois nem tudo é farinha Quanto lá n’arca branqueja Tu, cá de fora festeja, Essa figura distinta Dir-lhe-ás que bela tinta! Gastou na sua pintura Mas o corpo da figura Não é tal como se pinta. O autor do Retrato – continua o manuscrito – saiu com este soneto tirado adulterinamente de Bocage para invadir o amigo (a pedido de quem fez o Retrato) e o anónimo (o autor das duas décimas acima transcritas): Não sou como tu vil Ascarino Traidor, cruel, sacrílego, blasfemo Um Deus adoro, a eternidade temo Conheço que há vontade e não destino. Ao saber e à virtude a fronte inclino Se chora e geme o triste, eu choro eu gemo Chamo à beneficência um dom supremo Julgo a doce amizade um bem divino. Amo a todos, amo as leis precisos laços Que mantêm dos mortais a convivência E não temo teus rudes ameaços. Nutre embora tua voraz maledicência Que eu folgo, eu durmo nos teus abraços Amigo da razão, pura inocência. Resposta do anónimo (padre João de Lemos): MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


LEMOS

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Em vão se louva o fariseu ferino De não ser cruel, nem blasfemo De pagar a um Deus supremo Décimas que requer o poder divino. Chora o publicano de contínuo Pequei, contra Deus, por isso gemo A vista do juiz severo tremo Qual será minha sorte, meu destino. O soberbo levanta seus braços A Deus quer tirar a proeminência Sem temer os terríveis ameaços O humilde faz dos crimes penitência Das ninfas deixa enganosos regaços Sem afectar pura inocência. Segue um outro soneto de um segundo anónimo, que na cópia não se declara quem seja, e depois diz: «De Bocage ao A.»: Tu maligno dragão, cruel harpia, Monstro dos monstros, fúria dos infernos Que em vil murmuração, ralhos eternos Estragas sem descanso noite e dia. Tu que nas horas em que o mocho pia, Caluniaste meus suspiros ternos: Sacode a carga de noventa invernos Nas descarnadas mãos da morte fria. Cai de chofre no báratro profundo Cai nas entranhas da voraz fornalha Deixa em sossego o miserável mundo, E entre a maldita o réprobo canalha Lá bem longe de nós, lá bem no fundo Arde, murmura, amaldiçoa e ralha. Há mais três décimas do primeiro anónimo, padre João de Lemos, que dizem: Debruaste o teu retrato Tão belo, tão excelente Sem temer ouvir um mente Sofrer um vil desacato

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LEMOS

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Foste um louco mentecapto Fizeste uma grande asneira: Querias pela dianteira A todo o mundo iludir E não pudeste encobrir Os defeitos da traseira. Borra esse teu retrato Não penses é excelente Causa riso a toda a gente Tratam-te com desacato: Chamam louco, mentecapto Ao pintor de tal asneira: Como caiu nesta tonteira Isto é próprio de rapaz Ser o diabo por trás Anjo pela dianteira. Se você ‘sô’ mentecapto Por quatro vinténs comprasse Um espelho em que mirasse Da sua cabeça o caco: Veria que o seu retrato Era uma árvore sem pé, Cozinha sem chaminé Fidalgo sem ter brasão Cavalheiro de leilão, Sapato para todo o pé. Toda esta altercação termina assim, no dito manuscrito: «Fim da contenda e analyse do homem que prevê futuros e que quer arrogar tanta espiritualidade que todos lhe denegam». LEMOS (Luís Manuel de) – Alferes de infantaria n.° 24, que estava na praça de Almeida em 1810 quando da terrível explosão (388). LEMOS (Manuel Parreira de) – Natural de S. Pedro da Silva. Escreveu: Epítome do Triunfo Teológico do Infante D. José no seu doutoramento, etc. Évora, 1733. Fólio (389). (388) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (389) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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LEMOS

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LEVITA

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LEMOS (Mário Miler Pinto de) – Doutor pelo Instituto de Agronomia, natural de Vila Flor. Nasceu a 17 de Julho de 1880 e faleceu, como agrónomo, em África em 1913; filho de António de Vasconcelos Pinto de Lemos e de D. Sofia de Magalhães Miler (390). Escreveu: As Culturas da Vilariça – Dissertação inaugural apresentada ao conselho do Instituto de Agronomia. Lisboa, 1907. 8.° de 134 págs. mais uma de conclusões e uma de erratas (inumeradas). É um trabalho de interesse regional, contendo espécies interessantes referentes ao formoso vale da Vilariça. LEVITA (Aarão) – Notável escritor judeu, nascido em Vila Flor em 1602 (391). LIMA (Francisco José Ferreira) – Negociante de Bragança, que se distinguiu nas lutas contra os franceses em 1808 (392). LIMA (Henrique José Ferreira) – Conselheiro, secretário-geral do distrito de Bragança. Sendo exonerado, em Janeiro de 1877, de governador civil do distrito de Bragança Adriano José de Carvalho e Melo, deixou em grande parte preparado o trabalho seguinte: Relatório apresentado à Junta Geral do Distrito de Bragança na sessão ordinária de 19 de Fevereiro de 1877 pelo conselheiro secretário-geral servindo de governador civil Henrique José Ferreira Lima. Porto, Tip. do Jornal do Porto, 1877. 4.° de 15 págs. e 34 (inumeradas) de documentos. LIMA (Jerónimo Barbosa de Abreu e) – Conselheiro, antigo deputado e governador civil do distrito de Bragança por decreto de 8 de Agosto de 1861, de que tomou posse a 1 de Outubro seguinte. Por outro decreto de 12 de Agosto de 1863 foi transferido para idêntico cargo no de Vila Real. Nomeado segunda vez por decreto de 2 de Setembro de 1870, de que tomou posse no dia 7. Governador civil de Viseu por decreto de Agosto de 1868 e de Braga por outro decreto de Novembro do ano seguinte. Comendador da Real Ordem Militar de N. S. Jesus Cristo em 6 de Novembro de 1862, sendo-lhe a 13 de Janeiro de 1869 conferido o título do Conselho. Em 1868 foi-lhe oferecido o governo civil do Porto, que rejeitou, bem como em 1870 a pasta da Justiça. Nasceu em Alijó a 29 de Outubro de 1825; formou-se em direito, onde obteve as melhores classificações, em 1851; casou em 10 de Setembro de (390) Ver tomo VI, p. 509 e 731, destas Memórias. (391) Ibidem, tomo V, p. XCII. (392) Ibidem, tomo I, p. 131.

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LOBÃO

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1863 com D. Adélia Pereira Cabral, da casa de Alvites, no concelho de Mirandela. Ver tomo VI pág. 695 destas Memórias. Corre dele impresso: Relatório apresentado à Junta Geral do Distrito de Bragança na sessão ordinária de 1 Dezembro de 1870. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871. Fólio de 35 págs. e 112 (inumeradas) de documentos. LIMA (Leonel de) – Fundador e primeiro reitor do colégio dos jesuítas em Bragança, antigo seminário diocesano junto à Sé, hoje Liceu Nacional. Foi em 1561 que os jesuítas tomaram posse do colégio, construído anos antes para freiras claras. Leonel de Lima era de nobre família; militou na Índia, onde se tornou notável por feitos militares, professando depois na Ordem de Santo Inácio, onde brilhou pelas suas virtudes (393). LIMA (Padre Maximiano César Gaspar) – Nasceu na Cardanha, concelho de Moncorvo, a 22 de Outubro de 1879; filho de Justino Benedito Gaspar Lima e de D. Umbelina dos Reis da Silveira. Fez os estudos preparatórios na Casa Apostólica em Guimarães, dirigida pelos jesuítas, e no Seminário Diocesano de Bragança, bem como neste o curso teológico, recebendo ordens de presbítero em 1904. Tem paroquiado as freguesias de Souto da Velha, Horta, Abreiro e Cortiços, onde actualmente se encontra. Pelos anos de 1919 residia em Lisboa, onde tomou parte preponderante em alguns movimentos políticos. Escreveu: Sermão da Soledade, pregado na Sé Catedral de Bragança. Bragança, Tip. Ferreira Soeiro, 1903; foi director dos periódicos escolares Pirilampo e Meio-Dia e colaborou na Gazeta de Bragança e em algumas revistas literárias. LOBÃO (Estácio Carneiro de) – Natural de Moncorvo. Escreveu: Miscelânea florida do Parnaso; Gozos de Algoso – Comédia, e El cazador del Cielo San Eustachio – Comédia (394). LOBO (Francisco Miranda da Costa) – Conde de Costa Lobo em 2 de Fevereiro de 1926, lente de matemática na Universidade de Coimbra e director do Observatório Astronómico da mesma. Nasceu em Curopos, concelho de Vinhais, a 18 de Fevereiro de 1864. No assento de baptismo aparece só com o nome de Francisco Manuel, filho ilegítimo de Teresa da Assunção Quintela, natural de Curopos. Em 1880, Francisco Miranda Catalão, residente em Coimbra, natural de Bragança, perfilhou, junta(393) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, tomo III, p. 515, referente ao dia 13 de Junho. (394) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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mente com Teresa da Assunção Quintela, o referido Francisco Manuel, havido quando ele, Catalão, residia em Vinhais, e requereu à autoridade eclesiástica de Bragança para lhe lavrar novo assento nos livros do registo paroquial de Curopos com o nome de Francisco Miranda da Costa Lobo, o que lhe foi concedido e se encontra no respectivo livro referente ao ano de 1880, vindo, portanto, a ser filho de Francisco Miranda Catalão e de Teresa da Assunção Quintela; neto paterno de Marcos António Miranda e de D. Rita Maria Teresa de Oliveira da Costa Lobo, natural de Bragança [ver o tomo VI, pág. 624, destas Memórias e, neste volume, o artigo Costa (André Dias de Oliveira da)], e materno de António Gonçalves Quintela e de Maria Marcelina. Marcos António Miranda e seu filho Francisco Miranda Catalão, que também assinava Francisco Miranda Cabral Oliveira Catalão, receberam ainda ordens menores, como consta dos respectivos processos existentes no Museu Regional de Bragança. Francisco Miranda da Costa Lobo fez exame de instrução primária em Bragança, e concluídos os preparatórios em Leiria, aos quinze anos de idade, matriculou-se em 1879 nas faculdades de filosofia e matemática da Universidade de Coimbra, cursos que concluiu em 1884. Pouco depois do acto de licenciado, em 7 de Janeiro de 1885, foi encarregado da regência duma cadeira. Em 1893 foi despachado catedrático de astronomia, cadeira que ainda hoje rege. Foi 3.°, depois 2.° e actualmente 1.° astrónomo do Observatório de Coimbra, tendo sido também chamado para o curso de engenharia militar; mas, como fosse indicado para lente, não seguiu aquele curso, passando por isso para a arma de infantaria. Foi procurador à Junta Geral do Distrito de Coimbra em 1886, governador civil substituto (mas quase sempre em exercício) do mesmo distrito desde 1887 a 1890, vogal da comissão distrital nos anos de 1901 até 1907, deputado na legislatura de 1905 e 1906, presidente do Instituto, etc. Militou no partido progressista. Escreveu: Resolução das equações indeterminadas, e resolução de algumas equações de congruência e indeterminadas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1885. 1 folheto 8.° Tese de matemáticas puras e aplicadas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1885. 1 folheto 8.° Nuevas teorias fisicas y sua correlación con los fenómenos biológicos y sociales – Conferencia del Ex.mo e Il.mo Sr. D. Francisco M. da Costa Lobo, catedratico de la Universidad y presidente del Instituto de Coimbra, leida em la sesion de 1.° de Marzo de 1918 (da Real Academia de Jurisprudencia y Legislación de Madrid). Madrid, 1918. 8.° de 37 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Porque não assinei o manifesto que condena em termos violentos o Reitor Ex.mo Sr. Dr. Coelho de Carvalho. Tem no fim apenas a indicação «Casa Tipográfica, Coimbra». Sabe-se, porém, que foi impresso em 1919. 8.° de 10 págs. Le problème mondial et l’action du Portugal. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922. 8.° de 365 págs., com ilustrações. Atmosferas e temperaturas astrais – Novas bases para a física geral. Conferência realizada no congresso de Valladolid da Associação Espanhola para o Progresso das Ciências em 22 de Outubro de 1915. Coimbra, 1916. 8.° gr. de 31 págs. Alguns resultados obtidos com as observações especto-heliográficas feitas nos anos de 1926 a 1927, publicados pelo director... Coimbra, 1928. 8.° gr. de 34 págs., com 6 fotogravuras. Le culte de la nationalité sous l’égide chrétienne, conduit l’humanité a la perfection donc au bonheur. Coimbra, 1928. 8.° de 27 págs., com prefácio do visconde de Rochefort. Conferência. O prestígio das descobertas realizadas pelas nações hispânicas e especialmente dos portugueses em Ceilão – Conferencia del Excmo. Sr. Conde da Costa Lobo em sesion publica de la Real Sociedad Geografica de Madrid, celebrada el dia 30 de Enero de 1928. Madrid, 1928. 8.° de 16 págs. O doutor Costa Lobo tem representado Portugal e a Universidade de Coimbra em diversos congressos científicos internacionais; a Academia Francesa concedeu-lhe em 1926 a medalha Janssen e a Universidade de Estrasburgo em 1929 o título de doutor honoris causa, depois de um honrosíssimo relatório assinado por Sclangou, director do Observatório, sábio eminente, que está indigitado para dirigir o Observatório de Paris. O ilustre bragançano tem colaborado em diversos jornais e revistas nacionais e estrangeiras e especialmente no Instituto e nas Efemérides [3]. LOBO (Francisco Teixeira) – Capitão do exército, que muito se distinguiu nas lutas contra os franceses. Ver tomo I, págs. 159, 160, 161 e 169, destas Memórias. Devemos advertir que a povoação de Outeiro em que se fala na pág. 160 não é a deste nome no concelho de Bragança, como por lapso aí se escreveu, mas sim Otero em Espanha, perto de Monboy. LOPES (Augusto Abreu) – Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária, lente da mesma e inspector sanitário da Câmara Municipal de Lisboa. Nasceu em Argozelo, concelho do Vimioso, a 6 de Janeiro de 1894; filho de Francisco Inácio Lopes e de D. Maria Rita Pires Peito. Fez os estudos liceais em Bragança e Braga e os da especialidade em Lisboa na escola citada, onde terminou o curso em 1917. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Escreveu: Sobre os arietinos no distrito de Bragança – Dissertação inaugural. Lisboa, 1919. 8.° de 48 págs. Distomia do parasmipático – Tese de concurso para professor da Escola Superior de Medicina Veterinária. Lisboa, 1924. 93 págs. No Congresso Nacional de Pecuária, realizado em Lisboa em Abril de 1928, apresentou uma tese sobre a Orientação da criação porcina. LOPES (Domingos António) – Doutor em medicina pela Faculdade de Lisboa, irmão do doutor em direito José António Lopes, já falecido; nasceu em Carção a 20 de Março de 1872, sendo filho de João António Lopes e de D. Maria Antónia Machado. Escreveu: O leite – Tese de doutoramento. Lisboa, 1909. 8.° de 82 págs. LOPES (Firmino João) – Par do reino, juiz do Supremo Tribunal de Justiça e conselheiro de Estado. Nasceu em Outeiro, concelho de Bragança, a 5 de Maio de 1825 e faleceu em Lisboa, na sua residência à rua do Prior, 49, vitimado por uma cirrose no fígado, às 8 horas da noite do dia 25 de Outubro de 1906. Filho de Joaquim José Lopes, de Argozelo, e de D. Maria Rita Nogueira, de Outeiro. Era doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1848. Em 1847 havia-se alistado no batalhão académico. Mais tarde foi nomeado auditor dos conselhos de guerra e depois delegado do ministério público em diversas comarcas. Sendo promovido a juiz de 2.ª instância, foi colocado na Relação dos Açores por decreto de 31 de Outubro de 1889; presidente da mesma Relação por decreto de 28 de Fevereiro de 1891; transferido para a Relação de Lisboa por decreto de 17 de Outubro seguinte; vice-presidente da mesma por decreto de 12 de Junho de 1901 e presidente por decreto de 17 de Agosto do mesmo ano (395). Por decreto de 16 de Janeiro de 1890 fora nomeado governador civil de Bragança e exonerado por outro de 30 de Julho seguinte; deputado em várias legislaturas pelo mesmo distrito e par do reino nomeado em Maio de 1906. Era sogro do doutor Tomás Pizarro, ao tempo da sua morte presidente da câmara dos deputados (396). (395) Veja-se o Diário do Governo de 20 de Outubro de 1902, onde se encontram notícias referentes a todos os magistrados judiciais do país existentes ao tempo. (396) O doutor Firmino Lopes tem biografia no Portugal – Dicionário histórico, artigo «Lopes». Relativamente aos magistrados judiciais, é útil ver os números do Diário do Governo de 25 de Fevereiro de 1857, 15 de Janeiro de 1892 e 30 de Agosto de 1902, onde se publicam as listas de todos os juízes e delegados, com alguns dados biográficos.

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Ver os artigos Silva (João Gonçalves Oliveira da) e Pessanha (José Benedito de Almeida). LOPES (Padre João Rodrigues) – Nasceu em São Julião, concelho de Bragança, a 29 de Novembro de 1764, recebendo ordens de missa em 1788. Era filho de João Rodrigues e de Maria Lopes; neto paterno de Januário Rodrigues e de Maria Brás e materno de João Lopes e de Catarina Branco, todos de S. Julião. Foi professor de teologia moral, escritura e história eclesiástica em 1818 no Seminário Diocesano de Bragança, reitor do mesmo e governador da diocese com mais dois colegas em 1819, cargos em que pouco se demorou, porque o bispo D. António da Veiga, por quem era muito considerado, morreu logo e o ódio à sua memória nem os seus amigos poupou, como se vê do seguinte opúsculo: Sentença contra João Rodrigues Lopes, presbítero secular do bispado de Bragança, pelo crime: propagador e fautor de um sistema visionário fundado em êxtases, e operações extraordinárias, com o fim de estabelecerem no Grémio da Igreja Católica uma associação singular. Lisboa, 1813. Na oficina de António Rodrigues Galhardo, fólio de 39 págs. Ver, neste volume, os artigos Manuela e Vaz (Domingas de Jesus) e tomo II, pág. 91, destas Memórias. LOPES (José Manuel Miranda) – Natural e prior de Argozelo, concelho do Vimioso, onde nasceu a 21 de Dezembro de 1872; filho de Luciano Manuel Lopes e de D. Maria de Deus Pires Miranda, também de Argozelo. Fez os estudos preparatórios no liceu de Bragança e o curso teológico no seminário diocesano da mesma cidade, recebendo a ordem de presbítero em 1895. Foi sucessivamente pároco nas freguesias de São Martinho de Angueira, Pinelo, Carção e Argozelo, na última das quais se colou em 1909, servindo também de arcipreste do ramo do Vimioso e de representante do clero do mesmo concelho na assembleia geral do clero paroquial reunida em Braga em 1905. Escreveu: A flora do concelho do Vimioso. Coimbra, 1927. 8.° gr. de 29 págs. É uma separata do Boletim da Sociedade Broteriana. Idem, 2.ª lista. Coimbra, 1928. 8.° gr. de 24 págs. São importantes estas publicações, por mencionarem espécies desconhecidas na flora portuguesa encontradas no nosso distrito. Tem colaborado em prosa e verso (assinando o seu nome e os pseudónimos de «Mirapsal», «Armindo Lesseps», «Mário Aldino», «Adozindo» e «Laura Celeste») no Recreio, Agenda Brigantina, Brigantino, Nordeste, Norte Trasmontano e Trás-os-Montes e tem em preparação uma monografia sobre o concelho do Vimioso e em manuscrito várias exortações e sermões que tem pregado. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Luciano Manuel Lopes, pai do prior acima mencionado, professor primário, nascido em Argozelo a 8 de Outubro de 1850, filho de Manuel Lopes e de D. Feliciana Rosa Lopes, cultiva o teatro popular e é autor do manuscrito a Famosa comédia dos doze Pares de França, representada várias vezes com grande êxito, e ainda hoje, apesar dos seus setenta e oito anos, trabalha na de Reinaldo de Montalvão. Antero de Figueiredo comenta nas Jornadas em Portugal, 1921, pág. 147, um auto da Paixão do Senhor, de Francisco Vaz, representado na aldeia de Duas Igrejas, concelho de Miranda do Douro. LOPES (Manuel Maria) – Doutor em medicina pela Escola Médica do Porto. Nasceu em Carção, concelho do Vimioso, a 12 de Junho de 1894; filho de António Joaquim Lopes e de D. Isabel Maria Alves. Escreveu: Púrpura hemorrágica num tuberculoso (trabalho da 2.ª clínica médica) – Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina do Porto. Porto, 1919. 8.° de 97 págs. LOPES (Norberto) – Nome literário, ou Adolfo Norberto de Morais Carvalho Lopes, nome de baptismo, doutor em direito, presidente do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, eleito em 1926. Nasceu no Vimioso a 30 de Setembro de 1900; filho de José Augusto Lopes, escrivão do juízo de direito, e de D. Inocência da Natividade de Morais Carvalho, da «nobre casa da Rapadoura», que foi de seus maiores (397). Fez os estudos liceais em Bragança e no Porto e os universitários em Lisboa, terminando o curso só em 1927 devido a várias interrupções como enviado especial do jornalismo ao estrangeiro (Brasil e África). Pertenceu às redacções: do Século, de A Pátria, de A Imprensa de Lisboa, de A Última Hora (de que foi um dos fundadores) e do Diário de Lisboa, onde se encontra à data em que escrevemos estas notas. Escreveu: Cruzeiro do Sul – Crónicas da travessia aérea do Atlântico, com um prefácio e autógrafo de Gago Coutinho. Porto, sem indicar ano de impressão, mas provavelmente 1923. 8.° pequeno de 254 págs. e uma de registo. A cruz de brilhantes (opúsculo). Saiu na Novela Sucesso correspondente a Maio de 1923. Filha de Lázaro – Drama rústico em três actos, escrito de colaboração com Chianca de Garcia. Separata da Revista de Teatro, 1923. A acção deste drama, entusiasticamente recebido pela imprensa, passa-se no distrito de

(397) Ver tomo VI, p. 558 e 571, destas Memórias.

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LOPO

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Bragança, frisando o amor fanático do lavrador trasmontano pelas terras que herdou de seus avós e pretende legar a seus filhos livres de hipoteca ou outros encargos. Mais vale andar no mar alto... Lisboa, 1925. Descreve as impressões do autor quando da sua viagem a África. Tem colaborado em O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Veu de Catalunya, de Barcelona, A Pátria, do Rio de Janeiro, Folha da Noite, de S. Paulo, Domingo Ilustrado, Notícias Ilustrado e outros [4]. LOPES (Pero) – Pedreiro, natural de Biscaia (Espanha), que em 1513 trabalhava na obra do castelo de Freixo de Espada à Cinta, onde foi processado judicialmente por se intrometer no caso de Lourenço Álvares preso na vila por moedeiro falso (falsificara o cunho do tostão). El-rei D. Manuel, a quem apresentou razões justificativas, perdoou-lhe por carta de 10 de Dezembro de 1513. Corregedor ao tempo (em Moncorvo?) Fernão Gonçalves; juízes ordinários em Freixo, Martim Afonso e Pero Esteves; vereador da câmara, Estêvão Martins; tabelião do judicial, Fernão Pires (398). LOPO (Albino dos Santos Pereira) – Coronel de infantaria. Natural dos Estevais, concelho do Mogadouro, onde nasceu a 21 de Outubro de 1860; filho de João Baptista Hipólito e de D. Maria da Conceição Pereira Lopo. Estudou preparatórios nos liceus de Bragança e Braga; assentou praça como voluntário no regimento de caçadores n.° 3, estacionado em Bragança, a 1 de Outubro de 1881, no ano seguinte entrou para a Escola do Exército, onde concluiu o curso de infantaria em 1884, sendo o quinto classificado num concurso de quarenta e seis alunos, e tendo saído aspirante durante a frequência do curso em Agosto de 1885, foi promovido a alferes graduado e a efectivo a 22 de Dezembro do ano seguinte. É condecorado com a medalha de cavaleiro de S. Bento de Avis, pelos serviços distintos que prestou ainda em tenente, recebendo neste posto tal distinção só inerente ao de capitão, e com a medalha de prata de comportamento exemplar. No desempenho dos serviços militares tem sido por várias vezes louvado, devendo especializar-se o louvor em ordem de divisão, que ficou patente na companhia que comandava pela maneira como havia instruído a mesma companhia. Dirigiu durante quatro anos a carreira de tiro da guarnição de Bragança, onde fez melhoramentos importantes e deu grande desenvolvimento à instrução do tiro civil. (398) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, tomo II, p. 78, onde a carta régia vem transcrita na íntegra.

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LOPO

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LOUREIRO

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LOZADA

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O ilustre militar é sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto de Coimbra e da Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses, tendo sido pela ordem do exército n.° 15, 2.ª série, de 12 de Agosto de 1903, nomeado inspector dos monumentos militares da circunscrição militar do Norte. Foi o fundador do Museu Municipal de Bragança, hoje incorporado no Museu Regional, e à sua inteligente actividade deve aquele estabelecimento espécies de raro valor, sendo por isso o seu nome, gravado em placa de mármore, dado a uma sala do actual Museu. Escreveu: Bragança e Benquerença. Lisboa, 1900. 8.° de 114 págs., com vinte e seis estampas e quatro plantas. É uma separata do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.os 3 e 4 de 1898-1899. Os meus amores da quinta da Penha de Águia, junto ao rio Sabor em Bragança – «Em memória de seu bom tio Dr. José Maria Pereira Lopo, cónego da Sé de Bragança – Saudosa homenagem do autor». Bragança, 1913. 8.° de 44 págs. É uma colecção de artigos publicados em O Povo de Mirandela, segundo se depreende da «Nota» inserta no fim do opúsculo. Tem colaborado em O Arqueólogo Português, O Nordeste e Norte Transmontano. LOUREIRO (João Baptista Rodrigues) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, subinspector de saúde de Montemor-o-Novo. Nasceu na Torre de Dona Chama, concelho de Mirandela, a 12 de Abril de 1862, mas foi baptizado em Aveleda, concelho de Bragança; filho de Sebastião José Rodrigues e de D. Ana Joaquina de Loureiro. Fez os estudos liceais em Bragança e Porto e os da especialidade em Coimbra, tendo obtido várias distinções e prémios pecuniários. Tem colaborado em diferentes jornais de província, que muitas vezes têm publicado o seu retrato. São tantas as informações que devemos ao nosso antigo condiscípulo Rodrigues Loureiro e tão grata nos é a sua memória pela estima protectora dispensada à nossa caloirice na escola do Tio Rito [ver Rodrigues (Manuel)], em Bragança, que sentimos especial prazer em fixar o seu nome nestas páginas. LOZADA (Pedro Ferreira de Sá Sarmento de) – Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, moço-fidalgo da casa real, coronel do regimento de cavalaria de Almeida em Julho de 1779, mas natural do distrito de Bragança, como supomos; foi um douto genealogista, como indicámos no tomo VI, pág. 29, destas Memórias.

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MACEDO

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MACHADO

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M MACEDO (Paulo de Antas de) – Natural de Bragança; filho de Manuel da Costa Carneiro e de D. Maria de Antas, uma das mais nobres famílias de Bragança. Faleceu em 1679. As suas grandes virtudes mereceram-lhe especial menção no Hagiológio Lusitano, tomo IV, 1744 (referente ao dia 9 de Julho), por António Caetano de Sousa. MACHADO (Ambrósio Luís) – Há dele, na igreja paroquial de Argozelo, concelho do Vimioso, uma tese médica, impressa em véu de cálix, seda cor-de-rosa, dedicada a Nossa Senhora (do Rosário?), venerada em Argozelo. A tese é envolvida por uma elegante cercadura e, no alto, o brasão pontifício com as chaves e a tiara. Foi defendida na Universidade de Salamanca (?) die 4. Decemb. Anno reparatæ salutis 1748 e imprensa Salmantiçæ: ex officina Sanctæ Crucis. – Há dele uma tese «physico-medico-chyrurgicæ» impressa de frente em quatro planas, num véu de cálix, seda cor-de-laranja, defendida em Salamanca a 25 de Fevereiro de 1749, dedicada ao Santo Cristo de Outeiro (concelho de Bragança). Tip. de Garcia Honorato, Salamanca. Está na igreja do Santo Cristo, acima citada. MACHADO (António Maria de Morais) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, conselheiro. Nasceu no Mogadouro a 18 de Agosto de 1835, onde também faleceu a 31 de Janeiro de 1889; filho de António Vitorino de Morais Machado, natural do Mogadouro, e de D. Rita Josefa de Morais Carvalho Salazar, natural de S. Martinho do Peso. Foi governador civil do distrito de Bragança por decreto de 10 de Janeiro de 1877, segunda vez por outro decreto de 6 de Fevereiro de 1878 e terceira por outro de 2 de Abril de 1881 (399). MACHADO (Francisco Xavier) – Assina a 14 de Maio de 1767 um recibo em que declara estar pago «da obra do retabolo que fis e asentei na igreja de Palacios a qual obra ajustei com Miguel de Novais procurador e rendeiro do Em.º visconde de Barbacena comendador da comenda de São Julião [concelho de Bragança] em que entra a dita igreja e lhe fiz escritura nesta cidade de Bargança na nota do tabalião Luís Alves» (400). O mesmo Machado fez em 1768 (a data do último pagamento é de 20 (399) Ver tomo VI, p. 721 e 768, destas Memórias. (400) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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MACHADO

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de Outubro) o retábulo da igreja matriz de Carção, concelho do Vimioso, justa por 90$000 réis, em harmonia com as seguintes condições (apontamentos, como diz o documento respectivo): «Primeiramente se fará sobre o altar uma banqueta com suas quartelas nos lados do altar para receber. Sobre a banqueta assentará o banco e sobre este assentarão duas colunas de cada parte, as quais serão lisas somente os capiteis entalhados. Levará seu sacrário de targe bem feita com sua tala. Levará na boca da tribuna um pilar de talha com sua tenda. Levará outro pilar de tala ao pé da parede. Levará entre as colunas um painel liso. Levará sobre as colunas o friso com sua arquitrave e cornija e nos bilhetes, seus serafins. O pilar de dentro passará em volta sobre a boca da tribuna. Sobre o vilhote se fará uma empena de moldura lisa da qual nacem um recorte que vá receber uns quarteis que hão de topar no forro e fazer meio arremate. No meio do pilar de volta se fará uma reprisa de talha e desta nacerá uma targe de tala para cima. A coluna de fora despedirá com uma játa de fogo. E farei esta obra por noventa mil reis – Francisco Xavier Machado». Em apêndice há mais o seguinte: «O retabulo hade assentar em seus pedestais de talha». E mais se declara que o entalhador é natural do lugar de Veigas (401). É provável, a julgar pelo que se diz a propósito de João Duarte Pinto, que fosse natural de Veigas, anexa hoje de Quintela de Lampaças. Em 1788 arrematou o mesmo Francisco Machado por 80$000 réis a obra de talha da capela-mor e sacristia da igreja matriz de Paradinha Nova, concelho de Bragança (402). MACHADO (João António) – Governador do forte de S. João de Deus, de Bragança, em 1807 (403). MACHADO (José Aurélio Dias Ferreira) – Capitão de infantaria. Nasceu em Bragança a 9 de Janeiro de 1864; filho de Alfredo Augusto Ferreira (401) Museu Regional de Bragança, maço Obras. Tanto neste como nos demais documentos tirados deste maço foi por nós modernizada a ortografia. (402) Ver tomo IV, p. 203, destas Memórias. (403) Ibidem, tomo I, p. 269.

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MACHADO

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MADEIRA

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MADRE DE DEUS

TOMO VII

Machado e de D. Albina Augusta de Oliveira Dias. Estudou o curso liceal em Braga, Porto e Lisboa e depois o da Escola do Exército, que concluiu em 1886, saindo alferes em 1888. É cavaleiro da Ordem de Avis e condecorado com a medalha de exemplar comportamento. Foi director da carreira de tiro da guarnição de Bragança e das escolas regimentais de infantaria nº 10. Escreveu: Palestras no Regimento. I – «Psicologia criminal». II – «Instrução e educação» (1908). Lisboa. 8.º gr. de 163 págs. E tem em preparação: A flexibilidade da infantaria no combate. MACHADO (Rodrigo de Sousa) – Lente de teologia na Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 23 de Janeiro de 1820, cónego secular de S. João Evangelista, arcediago da Sé Catedral de Viseu, abade de Travassos no arcebispado de Braga e governador do bispado de Bragança por sua majestade imperial desde 1834 a 1836. Era natural de Guias, comarca de Guimarães, e filho de Bernardo Machado. Foi eleito quarto substituto pela província do Minho nas eleições para as cortes constituintes de 1821, tomando assento na câmara a 7 de Maio (404). MADEIRA (Adérito Jaime Mendes) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1918, tendo feito os estudos liceais no Porto. Nasceu em Moncorvo a 7 de Dezembro de 1894; filho de António José Madeira e de D. Silvina Mendes. Tem o curso de ginecologia do hospital Broca e o de cirurgia de rins e vias urinárias da Faculdade de Medicina de Paris. Escreveu: Tifo exantemático – Tese de doutoramento. Coimbra, 1918. 8.º de 60 págs. e uma de índice. MADRE DE DEUS (Frei Faustino da) – Franciscano da província do Algarve. Professou no convento de Bragança em 1613; foi guardião no convento da ilha da Madeira. Era natural da vila de Ovar, distrito de Aveiro. Ignora-se a data do seu nascimento e morte. Escreveu: Primeira parte do florilégio espiritual, colhido da doutrina dos santos padres... aplicado à perfeição da vida religiosa, sobre o salmo «Beati immaculati in via», etc. Coimbra, 1656. 4.º de XX-555 págs. Este livro é estimado pela sua boa linguagem e raro (405). (404) Portugal: Dic. histórico, artigo «Machado (Rodrigo de Sousa)». Ver tomo II, p. 190, e tomo IV, p. 599 destas Memórias. (405) SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico.

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MADRE DE DEUS

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MADUREIRA

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MADRE DE DEUS (Frei Miguel da) – Franciscano, bispo de S. Paulo, arcebispo de Braga; nasceu em Moncorvo a 8 de Maio de 1739 e faleceu em Braga a 20 de Agosto de 1827. Foi eleito bispo de S. Paulo a 3 de Julho de 1791, mas não chegou a ir para a diocese por falta de saúde, renunciando por isso a mitra em 1793. Em 17 de Dezembro de 1813 foi eleito arcebispo de Braga, sendo limitada a sua acção episcopal em razão da avançada idade e das perturbações políticas que então houve, chegando mesmo a ser preso e desterrado para o Buçaco em 1823, onde esteve dois meses. Nomeou seu coadjutor o chantre José Vaz, reitor do Seminário de S. Pedro e provisor do arcebispado, que foi confirmado por Pio VII com o título de bispo de Carres (406). MADUREIRA (Cândido José Aires de) – Abade de Arcozelo, concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto. Filho do doutor em medicina Aires de Madureira, que esteve nas prisões de Elvas por liberal; nasceu em Agrobom, concelho de Alfândega da Fé, em 1825 e faleceu no Porto a 4 de Agosto de 1900, indo o seu cadáver, a pedido dos moradores de Arcozelo, a enterrar a esta freguesia, «em cujo cemiterio jaz esquecido, em coval razo, sem o menor signal que indique que repousam alli os restos d’um bom padre, dedicado amigo das creanças e fervoroso apostolo da instrucção portuguesa». Concluído o curso teológico no Seminário Diocesano do Porto e ordenado de presbítero, foi em 1857 provido na freguesia de Custóias e em Junho de 1860 na de Arcozelo, que pastoreou no resto da vida. O abade de Arcozelo, como geralmente era conhecido, foi um dos mais devotados apóstolos da instrução portuguesa, a cujo desenvolvimento sacrificou tudo quanto adquiriu, e forma com Castilho e João de Deus a tríplice relíquia dos nossos pedagogistas contemporâneos. Dirigiu gratuitamente durante doze anos a aula nocturna «Vasco da Gama», muito frequentada por adultos. Escreveu: As conferências pedagógicas no Porto presididas pelo Sr. Simões Lopes, inspector, em 1883. Porto, 1884. História dos métodos de ensino da linguagem em Portugal desde Castilho e confronto destes com o Alfabeto natural, contendo diversas apreciações. Porto, 1886.

(406) ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal, tomo IV, parte IV, p. 89 e 483, onde se aponta a bibliografia respeitante a este prelado. Ver também tomo VI, p. 711, destas Memórias.

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MADUREIRA

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MAGALHÃES

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Alfabeto natural baseado nos trabalhos de Chavée e Baudry. Este método teve seis grandes edições. Método de leitura e escrita pelo Alfabeto natural, processo organo-fonético-fisiológico-legográfico. Conta várias edições; a 6.ª é de 1893. A propósito deste trabalho, dizia o doutor Augusto Rocha, lente de medicina na Universidade de Coimbra (na Coimbra Médica, pág. 266): «Esse abbade, em logar de dedicar-se á pacifica exploração lucrativa do pé d’altar e mais achegas ecclesiasticas, pratica apostolicamente as palavras de Christo – deixai vir a mim as creancinhas. Estuda com amor e intelligencia os grandes mestres da linguagem, os Muller, os Dietz, os Whitney, os Helmotz, os Du Bois-Reymond, e trata de apropriar os preceitos descobertos pela physiologia e psychologia da voz e da palavra, pela linguistica, para assentar em bases solidas as regras de uma pedagogia facil, intuitiva, racional e fecunda. O abbade pertence á pleiade veneravel de Castilho e João de Deus, proseguindo sob um ponto de vista, menos ingenuo e iluminado, o problema pedagogico do ensino infantil. Quizeramos ter espaço para transcrever as ultimas páginas do folheto; n’ellas aprenderiam os menos sabedores como as sciencias modernas tem encontrado a chave de tantos mysterios, que nossos paes quizeram resolver por artes, que, apezar de condemnadas pelo conjunto dos conhecimentos actuaes, são ainda hoje moeda corrente nas nossas escolas primarias». Este método propagou-se muito pelo Brasil, onde um editor ofereceu a seu autor soma importante pela propriedade literária dele. Escreveu mais: Um segundo livro de leitura e quadros parietais (407). O Abade de Arcozelo e o público. Porto, 1883. 8.º MADUREIRA (Francisco Aires) – Doutor em cânones. Há dele uma tese de direito canónico, defendida no quinto ano do seu curso, impressa em véu de cálix, de seda roxa, em três planas, dedicada a Maria Santíssima sob os títulos de Senhoras da Piedade, Rosário e Conceição. Conimbricæ, Ex Tip. Ludovici Seco Ferreira. Anno Domini 1752 seperiorum pez. MAGALHÃES (António Pinto de) – Doutor em cânones. Há dele uma tese de direito canónico, dedicada a Nossas Senhoras do Rosário, da Conceição e das Neves, defendida no quinto ano do seu curso, impressa em três planas, seda branca, servindo de véu de cálix. Conimbricæ Ex Novo Typografiæ Academico-Regie. Anno Domini. 1761. Cum facult. sup. Pertence à

(407) DEUSDADO, Manuel Ferreira – Educadores portugueses, p. 477.

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MAGALHÃES

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colecção do ilustrado abade de Carviçais, reverendo José Augusto Tavares, que diz ser António Magalhães natural de Cabeça de Mouro, concelho de Moncorvo. MAGALHÃES (Padre António Pereira Pinto de) – Reitor dos Pereiros, concelho de Carrazeda de Ansiães, que muito se distinguiu pela benemerência durante a epidemia que atacou a sua freguesia, sendo por isso condecorado pelo governo em 1868 (408). MAGALHÃES (António de Sousa Pinto e) – Autor das Memórias de Ansiães de colaboração com o padre João Pinto de Morais, abade de Ansiães. Nasceu em Parambos e aí foi baptizado a 2 de Maio de 1692 (ignoramos o dia, mês e ano do nascimento); filho de António de Magalhães e Sousa, natural de Parambos, escudeiro-fidalgo da casa real e elevado a cavaleiro-fidalgo por alvará de 10 de Maio de 1723, que faleceu em Marzagão a 7 de Janeiro de 1739, e de D. Maria de Morais de Mesquita, natural de Brunhedo, freguesia de Pinhal, que faleceu também em Marzagão a 16 de Março de 1730. Era irmão de Manuel de Morais Magalhães Borges, autor das Notabilidades antigas e modernas da vila de Ansiães. «Depois de ter sido homem da Governança, e de El-Rey Nosso Senhor Dom João o 5.º haver feito mercê de o tomar por escudeiro fidalgo de sua Caza, com moradia de 450 por mez, e o haver acrescentado a cavalleiro fidalgo, com 300 reis mais de moradia por mez, e hum alqueire de cevada por dia para o cavallo por Alvará de 26 de Julho de 1723 que se lhe assentou em 30 de Julho se rezolveo a ordenar-se de clerigo». Recebeu ordens de missa a 22 de Dezembro de 1731, cantando a primeira solene a 17 de Janeiro do ano seguinte. Foi depois cursar na Universidade de Coimbra a faculdade de cânones, que concluiu a 9 de Abril de 1739, tomando o grau de bacharel em 25 de Março de 1740 e formando-se em 16 de Maio do mesmo ano (409). Desde 26 de Outubro de 1743 foi pároco encomendado de Parambos, sua terra natal, e em 25 de Agosto de 1753 tomou posse da igreja de Marzagão, em que se havia colado como reitor (410).

(408) Ver tomo I, p. 289, destas Memórias. (409) Porém, na carta de formatura que vimos em pergaminho, devido à gentileza do pároco de Parambos, reverendo José Joaquim, lê-se que a formatura foi a 14 de Maio e não a 16. (410) Livro genealógico primeiro e segundo tomos, ano 1804, tomo I, fol. 183 v., e tomo VI, p. 229, destas Memórias.

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MAGALHÃES

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Que António de Sousa Pinto e Magalhães também se dedicava a estudos genealógicos, pelo menos os respeitantes à sua família, vê-se do Livro Genealógico, vol. I, fólio 203 v., onde se transcreve uma larga memória que desses estudos deixou. Neste mesmo fólio se fala num livro genealógico que da sua família deixou o padre Baltasar de Seixas Pinto, de Vilarinho da Castanheira, abade de Rebordelo (411). Escreveu mais: Notícias da vila de Alfarela. Contém as notícias mandadas em 1721 à Academia Portuguesa. O original está na Biblioteca Nacional de Lisboa, códice A-6-8, número 222, fólio 180. No mesmo códice, que é uma colecção de diversas memórias, encontram-se notícias relativas a Ansiães, Moncorvo, Vila Flor e Freixo de Espada à Cinta, remetidas nesse tempo à mesma Academia. Estas últimas têm por título: «Descripção da villa de Freixo de Espada á Cinta e cousas mais notaveis della e seu distrito». Estão no fólio 207 da colecção, e as anteriores intitulam-se: «Noticias de Villa Flôr, enviadas pela respectiva Camara á Real Academia Portugueza». Estão no fólio 149. MAGALHÃES (João Caetano de) – Morador em Roios, concelho de Vila Flor filho de Mateus Lopes, de Roios, e de Maria Jácome de Magalhães, natural do referido concelho, moradores em Roios; neto paterno de Bartolomeu Lopes, de Candoso, concelho de Vila Flor, e de Isabel Rodrigues, também de Roios, e materno de António Pinto de Magalhães e de Antónia Gomes, de Vila Flor; bisneto paterno de Gonçalo Pinto, de Mondim, e de D. Maria de Magalhães, de Belver, concelho de Carrazeda de Ansiães, sendo esta irmã de D. Engrácia de Magalhães, instituidora do morgado de Marzagão, e materno de António Gomes, de Vila Flor, e de D. Maria Fernanda de Mesquita, filha de Álvaro de Mesquita, da mesma vila, e o dito António Gomes, descendente de Alda Nunes, senhora que foi de Chacim, de onde descendem os Mesquitas de Guimarães e Vila Real; terceiro neto de D. Leonor Pinto Machado, filha de Álvaro Cide de Morais, irmão do primeiro capitão-mor de Vila Flor Francisco Cide de Morais, e estes, por varonia, descendentes de António Guedes Pinto, senhor que foi de Ferreiros de Tendais, que teve carta de nobreza e brasão de armas a 29 de Setembro de 1755, assim constituído: escudo esquartelado: no 1.º quartel as armas dos Magalhães (que são, no 1.º e 4.º, em campo de prata, um pinheiro de sua cor; no 2.º e 3.º, em campo azul, uma cruz de ouro florida e vazia de campo); no 2.º quartel as armas dos Pintos; no 3.º as dos Mesquitas e no 4.º as dos Lopes. Este escudo está reproduzido em gravura a pág. 761 do volume VI destas Memórias, sob o nº 66, e é idêntico a outro existente em Roios. Ver pág. 773 do mesmo vol. (411) Ver tomo VI, p. 108, destas Memórias.

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MAGALHÃES

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MAGALHÃES (José da Costa) – Natural de Moncorvo. Escreveu: Anotações à lei das armas defesas. Manuscrito (412). MAGALHÃES (Júlio César Garcia de) ou somente Júlio de Magalhães, como usa frequentemente nos trabalhos literários – General. Nasceu em Bragança a 24 de Março de 1845; filho do valente general Manuel Maria de Magalhães (o qual, sendo furriel do batalhão de caçadores nº 3 e fazendo parte da divisão auxiliar à Espanha, foi condecorado pelo governo espanhol com a cruz de Isabel II pelos feitos heróicos praticados no combate de Arlaban a 9 de Maio de 1837, recebendo a respectiva medalha mesmo no campo de batalha pela mão do general conde das Antas, comandante da referida divisão, e mais tarde também condecorado com a Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, sendo tenente do mesmo batalhão, pelo «seu brioso comportamento e relevantes serviços» na acção de Braga a 20 de Dezembro de 1846) e de D. Carolina Augusta Garcia. Fez os estudos liceais em Bragança e Lisboa e os da especialidade no Porto, onde concluiu o curso da Academia Politécnica em 1861. Foi secretário da Escola do Exército (hoje Escola Militar) por decreto de 4 de Novembro de 1885, e durante esse tempo publicou, em anos sucessivos, o Anuário da Escola do Exército, pelo que foi elogiado numa portaria inserta na ordem do exército nº 11 de 1898. Como coronel fez parte do júri para exames de candidatos a majores, e como general foi nomeado presidente de várias comissões encarregadas dos seguintes trabalhos: formular o regulamento para a lei do recrutamento, decretada em 2 de Março de 1911, e elaborar um projecto de regulamento dos serviços do exército e o regulamento geral dos mesmos serviços. Estes trabalhos mereceram-lhe louvores em portarias publicadas nas ordens do exército n.os 19 de 1911, 7 de 1912 e 23 de 1913. Tem colaborado nos seguintes jornais: Grinalda, do Porto; Viriato, de Viseu; Jornal do Domingo e Revolução de Setembro, onde teve a seu cargo, por algum tempo, durante a guerra franco-prussiana a crónica estrangeira, no impedimento de Luciano Cordeiro, redactor efectivo daquela secção. Escreveu: Álbum de anedotas – Revistas, traduzidas e coleccionadas por... etc. Lisboa (sem data, mas é de 1884). 8.º de 318 págs. e 20 gravuras. Lista geral de antiguidades dos oficiais e empregados civis do exército, referida a 31 de Dezembro de 1884. Lisboa, 1885. 8.º grande de 80 págs.

(412) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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MAGALHÃES

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Relação dos oficiais e empregados civis do exército, sem acesso, reformados e aposentados, referida a 1 de Fevereiro da 1885. Lisboa, 1885. 4.º de 12 págs. Ginástica doméstica, médica e higiénica, etc., pelo doutor G. M. Schreber (tradução da décima quinta edição alemã). Lisboa, 1880. 8.º de IV-160 págs., com 45 figuras explicativas de texto. Tem também publicado várias traduções de romances, como: Um crime da mocidade, por Ponson du Terrail, 1 vol. A Aventureira, por Xavier de Montepin, 2 vols. O sem ventura, por Ponson du Terrail, 2 vols. Os lobos de Paris, por Jules Lermina, 5 vols. O rei dos mendigos, por Paul Feval, 5 vols. Cem mil francos de recompensa, por Jules Lermina, 1 vol. O homem de gelo, por George Sand, 2 vols. A mulher do saltimbanco, por Xavier de Montepin, 2 vols. Padres e Beatos, por Hector Malot, 6 vols. Os companheiros da guitarra, por Paul Saunière, 2 vols. Amor e crime, por Fortuné de Boisgobey, 2 vols. As doidas em Paris, por Xavier de Montepin, 6 vols. Os comunistas no exílio, por Henri Rochefort, 2 vols. A mulher fatal, por Emile Richebourg, 3 vols. O fiacre nº 13, por Xavier de Montepin, 6 vols. Quintino Durward, por Walter Scott, 3 vols. Mistérios de uma herança, por Xavier de Montepin, 6 vols. Crimes de uma associação secreta, pelo mesmo, 6 vols. As mulheres de bronze, idem, 6 vols. Os milhões do criminoso, idem, 6 vols. (413). MAGALHÃES (Luís Botelho de) – Tenente de couraça da guarda do marquês de Távora. Natural de Moncorvo; filho de Luís Botelho de Sequeira (juiz dos órfãos de Moncorvo, natural de Mondim), e de D. Luísa Ferreira de Sá, natural de Moncorvo. Foi muito dado à poesia e compôs vários versos sérios e jocosos. Escreveu em 1687 um livro com o seguinte título, que ficou manuscrito: Documentos de la cavallaria – Divididos em 14 documentos dedicados «al Excellentissimo Senhor D. Francisco Affonso Pimentel, conde de Benavente, Grande de España, cavalleiro del Tuson», etc. (414). D. Luísa Herrera (como ele escreve) de Sá, mãe do autor, era herdeira do morgado da Torrincha, fundado pelo doutor Miguel Herrera Leitão, corregedor de Coimbra, e este de D. Luísa, mãe do autor, que, como ele próprio escreve nos citados Documentos, «por dispozicion del destino y decreto de la providencia es una de las principales personas, en la nobleza de las dos provincias de Traslosmontes y Beira».

(413) SILVA, Inocêncio – Dicionário Bibliográfico, tomo XIII. (414) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Botelho de Magalhães», e Sumário da Biblioteca Lusitana.

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MALAFAIA

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MALAFAIA (Manuel José de Oliveira) – Desembargador-corregedor da comarca de Moncorvo. Escreveu: Oração gratulatória recitada no fausto dia 26 de Outubro de 1832 em câmara geral da vila de Alfândega da Fé. Lisboa, na tip. de Bulhões, 1833. 4.º de 14 págs. (415). MALHEIRO (J. M. Teixeira) – Escreveu: Águas alcalino-gasosas do Bem-Saúde, Vila Flor – Bicarbonatadas-sódicas, exploradas na quinta do Bem-Saúde da Vilariça. Coimbra, 1880. Folheto de 34 págs. MALTÊS (Manuel de Morais) – Filho de João de Morais Maltês, de Frechas, concelho de Mirandela (familiar do Santo Ofício por carta régia de 1754), e de D. Maria José Lopes, de Valverde. Faleceu em Marmelos, concelho de Mirandela, a 16 de Dezembro de 1800. Há dele no Museu Regional de Bragança uma tese de direito canónico, dedicada a Maria Santíssima, venerada em Balsemão, impressa em véu de cálix, seda vermelha, em três planas. Conimbricæ: ex Praerlo Antonii Simoens Ferreira Universit. Typog. Anno Domini 1757. Cum sup. pace (416). MANUEL (António Ferreira) – Há dele uma tese de direito canónico, dedicada a Nossas Senhoras do Loreto e do Rosário e a seu Filho, venerado na igreja de S. Vicente em Bragança, impressa em véu de cálix, seda verde, em três planas, existente na igreja de S. Pedro dos Sarracenos, concelho de Bragança. Conimbricæ ex tip. in Regio Artium Collegio. Anno Domini, 1742. MANUEL (Padre Inácio) – Jesuíta; natural de S. Pedro, perto de Bragança; filho de André Gonçalves e de Catarina Afonso. Professou no colégio de Coimbra a 30 de Agosto de 1663 e passou à Índia em 1668, onde faleceu na casa professa de Goa. Era muito perito na história do reino e suas conquistas. Escreveu: Preparação para a Eternidade. Lisboa, 1705. 8.º Fastos Lusitanos. Fólio manuscrito. Estava em Goa (417). MANUELA (D. Maria de Jesus) – Natural da Mofreita, concelho de Vinhais, primeira abadessa do recolhimento daquele nome, fundado a 1 de Novembro de 1793 pelo bispo D. António da Veiga, ainda simples abade da

(415) SILVA, Inocêncio – Dicionário Bibliográfico, tomo XVI. (416) Ver tomo VI, p. 379, destas Memórias. (417) Sumário da Biblioteca Lusitana e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Manuel (Padre Inácio)».

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mesma povoação; faleceu em Lisboa no paço real, para onde fora chamada por D. Carlota Joaquina, mulher de el-rei D. João VI em 1822, ela e a sua colega D. Domingas de Jesus Vaz, abadessa do recolhimento do Loreto, após a sentença e condenação pelo tribunal inquisitorial (ver o artigo Vaz). D. Arminda Pinto Coelho de Ataíde, residente em Bragança (418), possui um manuscrito in-4.º, papel liso, a que faltam os fólios 125 a 128, 148 e seguintes, cujo autor ignoramos, que começa da seguinte forma no fólio 1 (faltam os anteriores): «Sem o esperar me veio hum Manuscripto á mão, que continha algumas passagens edificantes da vida de Maria de Jesus Primeira Supperiora do Recolhimento das Donzellas do Menino Jesus fundado no lugar da Mofreita pelo Excellentissimo Senhor D. António Luiz da Veiga Cabral de Saudosa memoria, Bispo de Bragança e Miranda, de quem tive a distinta honra de ser capellão e testemunha ocular das suas heroicas virtudes, incomparavel sabedoria (419); e de muitos milagres, que Deos se dignava obrar por elle, por espaço de vinte e cinco annos, acompanhando-o de dia, e de noite por toda a parte, e algumas vezes experimentando em mim mesmo os saudaveis effeitos das suas sobrenaturalidades. Tive prazer de encontrar alguns testemunhos das virtudes, e das sobrenaturalidades da dita Maria de Jesus (que vulgarmente chamavão Maria Manuella) escritos por pessoas muito sinceras, e muito acreditadas pelas suas bem conhecidas virtudes; de cujo testemunho nada posso duvidar, porque são pessoas de mui rara probidade, de mim bem conhecidas, e escreverão o que por si mesmas presenciarão, e porque tudo combina com o que eu mesmo presenciei, e experimentei da dita Primeira Superiora Maria de Jesus a quem muito familiarmente tratei, e de cuja alma me lembro muitas vezes cada dia sempre saudoso pelo muito, que espiritualmente lhe devia». Guiou-se na confecção do livro «por huns reborrões, que achei escriptos por huma das ditas Donzelas chamada Martina natural do lugar de Frezulfe que hoje vive, e se conserva no dito recolhimento de idade de mais de sessenta annos, tendo entrado nelle no principio da sua fundação nos mais bellos annos da sua mocidade, e tendo-se conservado sempre com exemplar conduta, como eu mesmo posso afiançar, porque pessoalmente a conheço quasi desde a sua entrada para Religiosa» (fólios 4-5).

(418) Ver tomo VI, p. 290, destas Memórias. (419) Quando foi para familiar do bispo tinha vinte e oito anos de idade e cinco de presbítero, como declara no fólio 70, tendo por companheiros mais cinco sacerdotes, igualmente familiares e discípulos do bispo (fólio 71).

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Maria de Jesus, também chamada Maria Manuela, primeira superiora do recolhimento da Mofreita, e Domingas de Jesus, primeira superiora do recolhimento do Loreto, em Bragança, foram presas a 20 de Fevereiro de 1797 à ordem da Inquisição, recolhidas aquela noite no aljube em Bragança e remetidas no dia seguinte, «que era dia de feira na cidade», para os cárceres da Inquisição de Coimbra, onde estiveram sete anos reclusas, sendo depois condenadas e vindo a ler a Bragança e a Mofreita as sentenças condenatórias, pelo motivo (dizia a sentença) de fingirem os milagres, êxtases e austeridade que praticavam «para agradar a certa Pessoa» – o bispo D. António (fólio 87). «No tempo do governo constitucional o conego Araujo foi prêso para Sagres (420): o Prior d’Obidos por não prestar juramento á Constituição esteve preso vinte e dois mezes, e por fim expatriado: o Prior de S. Nicolao (421) foi suspenso: o Prior apresentado de S. Miguel em Cintra retirou-se pelo mesmo motivo para Roma, e demittio a Appresentação do Priorado: o Prior de S. Lourenço do Bairro foi suspenso, e mandado sahir desterrado no curto prazo de tres dias. Todos estes tinhão sido discipulos do mencionado Senhor D. António» (fólios 50-51). O autor do manuscrito louva o mesmo bispo por não aderir ao sistema constitucional e orientar a sua família, tanto a espiritual como a temporal (irmãos, tios e sobrinhos) no mesmo sentido. No fólio 60 aponta casos de lentes da Universidade de Coimbra e de outras pessoas de categoria mental que visitaram o bispo D. António quando desterrado no Buçaco, em S. Vicente de Fora e em Alcobaça, e ficaram assombradas da sua enorme sabedoria, manifestada na conversa em «dissertações tão eloquentes, e tão eruditas, que qualquer homem, ainda de hum profundo saber, não era capaz de o compor em muitos mezes com tanto acerto, e com tão alta erudição, como o Senhor Bispo as apresentava improvisando». Pelo que diz no fólio 100, conclui-se que o manuscrito foi feito depois que as recolhidas do Loreto em Bragança se mudaram para Fornos de Ledra. É uma apologia da primeira superiora do recolhimento da Mofreita, chamada Maria Manuela ou Maria de Jesus na clausura, e do bispo D. António da Veiga Cabral e Câmara, seu director espiritual, funda(420) O cónego Araújo (Manuel Bernardo de) era natural de Vale de Lamas, concelho de Bragança, falecido naquela povoação em 1846. Ainda hoje perdura a fama das suas virtudes e muito saber. Como bom discípulo de tal mestre, era um fanático anticonstitucional e foi muito perseguido por este governo. (421) O prior de S. Nicolau, de Lisboa, era o padre Pedro Nolasco Alves, director espiritual durante muitos anos do recolhimento do Loreto de Bragança, fundado pelo mencionado bispo D. António.

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MANSO

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dor do mesmo recolhimento, que tanto uma como outro, no conceito do autor do manuscrito referido, eram grandes santos e fizeram muitos milagres, os quais descreve. Ver Vaz (D. Domingas de Jesus) e Lopes (João Rodrigues). MANSO (D. Manuel Martins) – Nasceu na Bemposta, concelho do Mogadouro, a 21 de Novembro de 1793; filho de António Martins e de D. Isabel Manso, proprietários, moradores na mencionada povoação. Formou-se em cânones pela Universidade de Coimbra em 1819. De chantre da Sé de Bragança, onde exerceu por muitos anos o cargo de governador do bispado e vigário-geral, foi elevado a bispo, sendo colocado na diocese do Funchal por decreto de 18 de Abril de 1849 e depois transferido para a da Guarda, da qual tomou posse a 29 de Julho de 1858, como tudo consta do seu epitáfio, que diz: HIC JACET D. EMMANUEL MARTINS MANSO NATVS 21 NOVEMBRIS 1793 ELECTUS EPISCOPUS FUNCHALENSIS 18 APRILIS 1849 CONFIRMATUS CONSISTORIO 28 MAII 1850 TRANSLATUS AD DIOECESIM EGYPTANENSEM CONSISTORIO 18 MARTII 1858 DEFUNCTUS 1 DECEMBRIS 1878 REQUIESCAT IN PACE. AMEN. Martins Manso trabalhou muito em prol da causa católica, salientando-se na diocese da Guarda o desvelo na visita pastoral, principalmente a que fez à região da Covilhã. E quando já não podia, pelo avançado da idade, continuar na sua apostólica missão, fez com que os missionários padres Luís Prosperi e José Guerreiro fizessem várias missões pela diocese, com próspero resultado. Um grande benefício lhe deve a diocese da Guarda, o qual consiste no seguinte: tendo o governo em 1869 decretado a sua supressão, o prelado inspirou e dirigiu um movimento de protesto por todo o bispado, com representações a Pio IX e ao rei D. Luís, que foi da máxima eficácia, sendo não só a diocese conservada quando foi da circunscrição diocesana em 1882, mas até ampliada com a de Pinhel e parte da de Castelo Branco. Para a bibliografia deste prelado, ver o tomo II, pág. 203, tomo IV, págs. 598, 601 e 602, e tomo VI, págs. 22, 650 e 744 destas Memórias. O Dicionário Bibliográfico, tomo XVI, faz dele menção, adscrevendo-lhe apenas uma Pastoral, sem mais dados alguns biográficos. Ver também PorMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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tugal – Dicionário histórico, artigo «Martins Afonso», onde lhe dá erradamente este apelido em vez do de Manso, que é o seu verdadeiro, e Diocese do Distrito da Guarda, por José Osório da G. e Castro, 1902, pág. 476. O padre Francisco Manuel Martins Manso, sobrinho deste prelado, foi chantre da Sé da Guarda, e João de Deus Martins Manso é agora o representante da família nesta cidade. MARCELINO (Manuel António) – Valente soldado, que muito se distinguiu no ataque de Puebla de Sanábria em 1810 contra os franceses (422). MARCOS (Manuel) – De Prado Gatão. Uma ordem do cabido de 23 de Setembro de 1650 manda que se dêem quarenta mil réis que se lhe estão devendo «do resto do retabulo que fez no altar de Nossa Senhora dos Remedios» da Sé de Miranda do Douro (423). MARGARIDO (Conselheiro António Joaquim Ferreira) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Moncorvo a 27 de Fevereiro de 1842; filho de Luís José Ferreira Margarido e de D. Ana Benedita de Amaral. Concluiu o curso universitário em 1866, sendo em 1868 nomeado médico do partido municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, lugar que exerceu até 1870; em Fevereiro de 1871 foi exercer igual cargo e o de subdelegado de saúde para Mértola, distrito de Beja, onde esteve até 1876, sendo provido neste ano no de Moncorvo, onde faleceu a 26 de Junho de 1922. Em 1880 entrou na política regeneradora, tornando-se desde logo um vulto primacial desse partido, devido à extrema popularidade que lhe advinha da sua bondade. Nomeado logo procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança, representou depois o mesmo distrito em cortes na legislatura de 1901. Por decreto de 3 de Julho de 1890 foi nomeado governador civil do distrito de Bragança, voltando desde então a exercer idêntico cargo por decreto de 16 de Julho de 1891, por outro de 14 de Dezembro de 1893, por outro de 22 de Março de 1906, tomando posse a 4 de Abril seguinte, e finalmente por outro de 22 de Fevereiro de 1908, cuja posse foi a 9 de Março seguinte. Escreveu: Breves considerações acerca do garrotilho e do seu tratamento – Tese apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1868. 8.º

(422) Ver tomo I, p. 159, destas Memórias. (423) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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MARIANO (Acácio Augusto) – Farmacêutico pela Escola Médica do Porto. Nasceu na Adeganha, concelho de Moncorvo, a 9 de Junho de 1882; filho ilegítimo de D. Júlia Amélia Mariano. Fez o curso liceal em Bragança e o da especialidade no Porto, onde o concluiu em 1906, vindo fixar residência a Bragança, onde casou. Tem servido de administrador do concelho e governador civil substituto, distinguindo-se por obras de grande iniciativa industrial. MARINA (Santa) – O autor do Ano Histórico dá-lhe o nome de Mariana, apesar de que o primeiro parece mais usado. A tradição, com todos os visos de certeza, dá-a como natural do Mogadouro, distrito de Bragança. Gil Gonçalez de Ávila, na primeira impressão do seu Teatro de Salamanca, pág. 261, aponta-a como portuguesa, circunstância que omitiu na segunda e terceira impressões, não se atrevendo, contudo, a dá-la como natural de Espanha. Também não consta ao certo o tempo em que viveu, apesar de que o Mapa de Portugal diz haver-se ela retirado aos desertos de Salamanca pelos anos de 1450, cuja asserção julgamos infundada, a não ser as graças e indulgências que o papa Calisto III concedeu aos devotos que favorecessem as obras da sua primeira ermida, e como este pontífice governou desde 1453 a 1458, talvez parta daqui aquela indicação. Se assim é, não merece confiança. O corpo de Santa Marina guarda-se com grande veneração, em sepulcro de mármore, na igreja do convento que tem o seu nome, da ordem franciscana, situado meia légua ao nascente da povoação portuguesa de Lagoaça, distrito de Bragança, mas já em território espanhol do bispado de Salamanca. Sendo jovem ainda, retirou-se para este local, onde perseverou até à morte numa gruta em vida solitária e contemplativa, qual anacoreta. Após o seu trânsito, os habitantes daqueles contornos, tanta era a veneração que tinham pelas suas excelsas virtudes, converteram a desabrida gruta em templo, para favorecer a fábrica do qual o papa concedeu as graças já apontadas, e tanto foi o entusiasmo, que em seu louvor se levantou o convento a que foi dado o seu nome. A cabeça da Santa, encastoada em prata, guarda-se com grande veneração na sua igreja e é dada a beijar ao povo no dia da Ascensão e a sua festa é celebrada, com grande solenidade, a 4 de Maio. O epitáfio do seu sepulcro, escrito numa tábua que está pendurada no mesmo, diz: HIC JACET CORPUS HUMILLIMAE, ATQUE DEVOTISSIMAE SERVAE DEI B. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


MARINA

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MARINAE. QUE HOC DESERTUM, UT CHRISTO DOMINO FELICIVS, TOTOQUE PECTORE VACARET, A SUA JUVENTA PETIIT, QUAEQUE FELICISSIME, ATQUE CATHOLICE EXTREMUM IN LOCO CLAUSIT DIEM. AT CUJUS TANDEM HONOREM SACRA HAEC AEDEAEDIFICATA FUIT (424). MARIZ (Inácio Xavier de Morais Sarmento) – Era terceiro neto de Estêvão de Morais Sarmento, natural de Tuizelo, governador de Vinhais e defensor desta vila contra o general Pantoja. Deixou o seguinte manuscrito escrito em 1786: Sitio de Vinhais em 17 de Julho de 1666 pelo general Pantoja. Vinte e duas páginas, inumeradas, todas escritas, excepto as duas últimas. Foi publicado na íntegra no tomo I, págs. 99 e seguintes, destas Memórias Arqueológicas, segundo uma cópia existente em Vinhais. MARIZ (Joaquim de) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso com distinção em 1878. Foi sócio efectivo do Instituto de Coimbra e da sua secção arqueológica e naturalista, adjunta à cadeira de botânica da faculdade de filosofia da Universidade, e sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. Nasceu em Coimbra a 28 de Janeiro de 1847 e ali faleceu a 1 de Abril de 1916. A sua biografia encontra-se no Portugal – Dicionário histórico, artigo «Mariz Júnior». Escreveu: Duas excursões botânicas na província de Trás-os-Montes. Coimbra, 1899. 8.º gr. de 78 págs. É uma separata do Boletim da Sociedade Broteriana, vol. VII, 1889. Este estudo compreende a flora dos concelhos de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, visitados pelo autor em Maio de 1887, e a dos concelhos de Bragança, Miranda do Douro e Vimioso em Junho de 1888, quando seu irmão D. José Alves de Mariz, bispo de Bragança, fazia a sua visita pastoral a estes concelhos. É um trabalho importante pelas notícias históricas, bibliográficas, botânicas e etnográficas que encerra, o qual muito concorreu para tornar conhecida a nossa flora, igualmente estudada pelo nosso conterrâneo doutor Paulino de Oliveira e por A. X. Pereira Coutinho, E. Schmitz, doutor J. Henriques, J. A. Ochoa, A. Muller e outros, cujos trabalhos se encontram arquivados no referido Boletim. Também no princípio (424) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 4 de Maio; CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II; Santos portugueses, p. 153, e Ano histórico, vol. II, p. 19.

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MARIZ

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MARTINS

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do século XIX o conde de Hoffmansegg (425), Tournefort (426) e A. Jussieu estudaram a nossa flora, percorrendo a região bragançana. MARTINS (André) – Jesuíta, natural de Serapicos. Faleceu em 1632. Escreveu: Vida da serva de Deus Luísa dos Anjos. Manuscrito (427). MARTINS (António Maria Álvares) – Amanuense do governo civil de Bragança. Nasceu nesta cidade a 25 de Fevereiro de 1849 e aqui faleceu (freguesia da vila) a 15 de Setembro de 1925. Filho de António Álvares Martins e de D. Ana Maria Afonso. Parece que frequentou em 1861 os estudos preparatórios no liceu de Bragança. Escreveu: A Confraria do Divino Jesus de S. Vicente erecta no seu templo em Bragança. Guarda, 1908. 8.º de 54 págs. e uma (inumerada) de índice. MARTINS (Armando Aníbal) – Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária. Nasceu em Castro Vicente, concelho do Mogadouro, a 5 de Janeiro de 1889; filho de Manuel Filipe Martins e de D. Francisca Caetana. Está agora (Setembro de 1929) fazendo serviço da sua especialidade em Angola. Escreveu: Os asininos no distrito de Bragança. Tese de doutoramento. MARTINS (Padre Firmino Augusto) – Notável orador sagrado, pároco da freguesia de Travanca, concelho de Vinhais. Nasceu acidentalmente em Vilarinho da Lomba, freguesia de Quirás, concelho de Vinhais, a 16 de Fevereiro de 1890; filho de Cândido Germano Martins Afonso e de D. Maria da Conceição Nunes, naturais de Nozedo Trespassante, concelho de Vinhais. Fez os estudos preparatórios e teológicos no Seminário Diocesano de Bragança. Sendo perseguido como monárquico, retirou-se para o Rio de Janeiro (Brasil), onde colaborou na Defesa do Rio de Janeiro (bissemanário) e em A Voz da Juventude, usando muitas vezes os pseudónimos de «Frei Verdade» e «Guilherme Tell». Foi um dos fundadores do Centro Católico do Rio de Janeiro em 1913 e do Centro Católico de Vinhais (já regressado à pátria) em 1915. Tem colaborado no Legionário Trasmontano, em A Voz e na Liberdade.

(425) HOFFMANSEGG; LINK – Flore Portugaise. (426) TOURNEFORT – Topografia botânica, manuscrito existente na Biblioteca de Coimbra. (427) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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MARTINS

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Escreveu: Folclore do concelho de Vinhais. Coimbra, 1928. 8.º peq. de XIII-356+13 (inumeradas) págs., com uma gravura do pelourinho de Vinhais e música das romanças que menciona. Exerce presentemente (Setembro de 1929) o cargo de presidente da comissão administrativa da Câmara Municipal de Vinhais, que muito lhe deve em vários serviços, destacando-se principalmente o restauro do seu histórico e artístico pelourinho e a questão da iluminação eléctrica [5]. MARTINS (Francisco) – Vimos dele uma tese filosófica defendida no real convento de Santa Maria de Trianos (Valladolid?) a 23 de Março de 1751, dedicada a D. Cristovo de Espinose Castillo e Portocarrero, senhor dos lugares de Arenillas, Perdigon, la Carneja, Torregamones e Zaratan, etc., impressa em véu de cálix, seda de cor amarela, em Vallis Oleti (Valladolid?) Apúd Riego. O texto é envolto por um octógono com larga cercadura constituída por um ornato em que se divisa o sol assente sobre duas águias coroadas que sustenta uma coroa de conde. Este ornato, que se repete dez vezes, forma toda a larga cercadura. É possível que o defendente da tese não seja português; no entanto, o véu do cálix apareceu na casa de D. Carmelina Morais, desta nossa povoação de Baçal, que generosamente o cedeu ao Museu Regional de Bragança. MARTINS (Manuel Rego) – Doutor em medicina pela Faculdade de Lisboa. Nasceu em Moncorvo a 27 de Agosto de 1892; filho de Alfredo Augusto Martins e de D. Atília Rego. Fez os estudos liceais em Braga e Coimbra e os de medicina em Lisboa, onde terminou o curso em 1920, tirando depois o diploma de medicina tropical que exerceu em Angola durante dois anos, como médico do quadro, tendo também cursado em Paris duas especialidades. Escreveu: Segredo médico e aborto. Tese de doutoramento. MARTINS (Sebastião Luís) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, chantre na Sé de Bragança por decreto de 18 de Novembro de 1897, comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora de Vila Viçosa, em «attenção aos seus serviços no magisterio e governo provisorio da diocese» por despacho de 7 de Março de 1872 (428). Foi governador do bispado de Bragança por várias vezes e com diversos bispos e professor de ciências eclesiásticas no Seminário Diocesano, nomeado a 22 de Maio de 1862. Já a 23 de Novembro de 1857 fora nomeado provisoriamente pelo bispo Aguiar (428) Diário de Lisboa de 26 de Março de 1872. No entanto, o diploma passado ao agraciado diz que foi por decreto de 18 de Abril de 1870.

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(de quem era fâmulo) professor de direito eclesiástico, mas deixara esta cadeira indo a 7 de Novembro de 1858 tomar posse da igreja da Bemposta, como pároco colado. Voltou depois para Bragança tomar posse da cadeira de cónego na Sé, em que foi apresentado por decreto de 18 de Agosto de 1862. A 1 de Maio de 1886 foi nomeado vice-reitor do Seminário de Bragança. Nasceu no Azinhoso a 9 de Agosto de 1825 e concluiu a sua formatura em direito a 3 de Julho de 1857. Era filho de Manuel José Pires e de D. Antónia Teresa de Jesus. Faleceu em Bragança em Novembro de 1911. Escreveu: Discurso recitado na solene abertura das aulas do Seminário de S. José de Bragança no dia 15 de Outubro de 1895. Bragança, Tip. Brigantina, Praça da Sé, 1896. 4.º gr. de 10 págs. Datas precisas das comissões que serviu: a 28 de Novembro de 1857 foi nomeado vigário-geral da diocese de Bragança; a 29 de Abril de 1868, por carta do bispo Aguiar, datada de Évora, foi nomeado governador do bispado, cargo em que sucedeu a João José Martins, cónego tesoureiro-mor da Sé de Bragança (foi exonerado deste cargo a 2 de Março de 1869); a 31 de Outubro de 1869, por carta do mesmo bispo, também datada de Évora, voltou a exercer idêntico cargo, em substituição do padre António Joaquim de Oliveira Mós, cónego mestre-escola, sendo exonerado a 29 de Julho de 1870; mas já em 1863 fora governador deste bispado e depois membro da Junta Governativa e, por último, presidente dela; a 27 de Novembro de 1875 foi, pelo bispo Ferrão, nomeado chanceler do Auditório Eclesiástico de Bragança, que aquele bispo pretendia organizar; finalmente, a 1 de Julho de 1890 foi encarregado do governo do bispado na ausência de D. José Alves de Mariz, e depois continuou sempre a exercer esse cargo no impedimento deste bispo. No Museu Regional de Bragança há um protesto manuscrito, datado de 7 de Novembro de 1869, assinado pelos cónegos João António Correia Sepúlveda, deão, António Joaquim de Oliveira Mós, mestre-escola, Manuel António Pires, José Maria Pereira Lopo, Luís Baptista Montes, Miguel José Lopes, João Manuel de Morais, abade da Sé, e António Augusto Rodrigues, vigário-geral, contra a nomeação de Sebastião Luís Martins para governador do bispado, porque, segundo alegavam, não tinha autoridade, por há pouco ter assistido no teatro a um comício político; ter chamado os fiéis à desobediência ao prelado, cuspindo aleives sobre ele em diferentes números do jornal Amigo da Religião e ser de «caracter iniquo e vingativo» (429).

(429) Ver tomo II, p. 115, destas Memórias.

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MÁRTIRES (Frei Bartolomeu dos) – Franciscano, natural de Moncorvo, onde nasceu em 1627, e faleceu a 10 de Abril de 1693 no convento de S. José de Ribamar, onde está sepultado, tendo entrado para a ordem em 1645, onde foi por seis vezes presidente e três guardião, uma das quais no convento de Alcobaça. Morando no convento de Leiria fez reparar, com esmolas que ajuntou de seus amigos, uma capela de Nossa Senhora da Piedade, que estava na cerca do mesmo convento. A Crónica da Santa Província de Santa Maria da Arrábida, no intuito de enaltecer as suas virtudes, diz que «nunca se lhe conheceu transgressão dos votos que professou» e que teve «um genio tão brando e animo tão columbino, que parecia carecer de fel ainda para repreender defeitos quando prelado» (430). MATOS (António Alexandre de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1898. Natural de Vila Flor; nasceu a 7 de Fevereiro de 1873. Filho de Belmiro Benevenuto de Matos e Sá (falecido naquele concelho a 5 de Dezembro de 1910) e de D. Ana Edviges de Matos Pimentel (falecida na mesma vila a 7 de Fevereiro de 1873). Fez os estudos liceais em Bragança e Lamego. Em seguida à formatura exerceu a advocacia em Vila Flor, sendo, passados dois anos, despachado conservador do registo predial da comarca de Luanda, onde também serviu de juiz auditor dos conselhos de guerra, reformando-se em 1918 como juiz de direito do quadro colonial, fixando residência em Lisboa, onde exerce a advocacia. Escreveu: Discurso pronunciado no Ginásio de Coimbra, na sessão solene de 15 de Maio de 1897, comemorando o 14.º aniversário desta associação e louvando o sócio João de Azevedo pelos serviços prestados ao mesmo Ginásio. Coimbra, 1897. 8.º de 11 págs. Comarca de Luanda – 1.ª vara. «Alegação jurídica em acção cível ordinária do réu: Francisco Pereira Batalha contra a autora Maria P. dos Santos Vandunem». Luanda, 1903. 8.º de 53 págs. A colonização de Angola. Lisboa, 1912. 8.º de 162+1 (inumerada) págs., com muitas fotogravuras. Foi escrita de colaboração com J. Pereira do Nascimento. Ninguém diga desta «Água» não beberei... «Erros de facto e erros de direito em acção de divórcio por adultério. A. Tomás Rodrigues da Cruz. Ré, Adelina Álvares Ferreira (Cruz) na 6.ª vara cível – na Relação ao Supremo Tribunal de Justiça – 1925 a 1928». Lisboa. 8.º de 68 págs. (430) JESUS MARIA, José de, Frei – Crónica da Santa Província de Santa Maria da Arrábida da regular e mais estreita observância da Ordem do Seráfico Patriarca S. Francisco. Lisboa, 1737, parte II, livro IV, cap. X, n.os 748 a 752.

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Búzio de Saudade (versos). Lisboa, 1928. 8.º de 27 págs. Malus, mala, malum – Recurso ao Tribunal Pleno. Lisboa, 1929. 8.º de 34 págs. Ou com a assinatura Alexandre de Matos e ainda só com as iniciais A. M. ou com os pseudónimos «Mário de Sá», «Antalmat» (prosa), «Vate» e «Pedaço d’Asno» (gazetilhas ou versos humorísticos), tem colaborado – escrevendo crónicas, artigos políticos, versos e gazetilhas – nos seguintes jornais: Lira, Moncorvense, O Vilarealense, Defensor do Povo (de Coimbra), Folha do Sul, Ecos do N’Gunza, Voz de Angola, O Século, O Mundo, Diário de Notícias, Mala da Europa e Trás-os-Montes e nas revistas Branco e Negro e Revista Colonial. MATOS (Francisco Lopes) – Mestre-de-obras, de Viseu, que em 1672 se obrigou a fazer por 325$000 réis o retábulo da capela do Santíssimo Sacramento da Sé de Miranda do Douro. Em 1681 foi incumbido pelo cabido de fazer uma tribuna para exposição do Santíssimo Sacramento no altar de Nossa Senhora do Rosário da mesma Sé (431). MATOS, MIRANDA, GONÇALVES (João Lourenço de), (Manuel de) e (Agostinho) – Mestres canteiros assistentes em Bragança, arremataram em 1770 a obra da capela-mor da igreja da Figueira, freguesia de Travanca, concelho do Mogadouro. Segundo as condições da arrematação, a capela-mor teria «de comprimento, vinte e coatro palmos, e de largura, dezaseis palmos, com dois cunhais de cantaria com soco e vara e capitel na ordem toscana e terão os cunhais de face ou paramento dois palmos e meio, apilarados e levantarão altura da mesma igreja, com seu friso por cima lizo que terá de alto palmo e meio coarto de palmo, e com a cornija de papo de rola com seu filete no leito e outro no meio correrá tanto o frizo, como a cornija lados e impena das costas da cala (sic, capela?) mór com duas piramides e hûa cruz de coatro palmos de alto com pedestal bem feito como tambem as piramides feitas ó moderno e altura da obra a correspondencia da igreja. Levará hûa fresta de cinco palmos de alto e de largo dois palmos com dois varais de ferro, com coatro travessas apilaradas por dentro e por fora, hûa porta para a sacristia apilarada só da parte da capela mór, lagiada de cantaria, hû degrau no arco cruzeiro e outro nos previsorios, que tope de parede a parede e outro que sirva de taburno do comprimento do altar e se desfará o arco cruzeiro e se fará de novo... com doze palmos de vão de largo e de alto o que pedir a mesma obra. Grossuras de paredes tres palmos e meio assentes em barro rajado e guarnecido por dentro e por fora com areia e (431) Ver tomo IV, p. 529, destas Memórias.

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MATOS

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MEDEIROS

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MEIRELES

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cal. Declaro que o arco cruzeiro levará varas e capiteis na forma da mais obra e levará hûa fiada de tinta preta ou amarella de tres palmos de alto com algum feitio e adorno......» Nos apontamentos da madeira declara-se que a capela-mor seria «forrada de escama de peixe» (432). Pelo mesmo tempo se forrou a capela-mor da igreja paroquial dos Avantos concelho de Mirandela, e também nas condições a que devia obedecer a obra de madeira, se declara que seria forrada de «escama de peixe». A obra da capela-mor da igreja da Figueira estava concluída em Abril de 1772, segundo se vê por uma certidão do abade de Travanca, reverendo Manuel Afonso Freire. As condições a que devia obedecer a obra foram apontadas por João Lourenço de Matos, «mestre da Sé». MATOS (Manuel Botelho de) – Doutor, provisor e vigário-geral do bispado de Miranda, provido em 1689 na abadia de Duas Igrejas, do mesmo bispado. Foi ele quem mandou à Academia Real de História Portuguesa, fundada em 1720, notícias referentes a Miranda do Douro. Ver o artigo Abreu (Fr. Fernando de), pág. 1 deste volume, e tomo VI, pág. 108, destas Memórias. Plácido Botelho de Matos, abade de Duas Igrejas, faleceu a 3 de Julho de 1774. Era natural de Alcoentre, patriarcado de Lisboa, e tinha os seguintes sobrinhos: José de Frias, António José Teles e António José Botelho de Matos, que lhe sucedeu na abadia (433). MEDEIROS (Gonçalo de) – Padre-mestre, jesuíta, natural de Freixo de Espada à Cinta. Foi o primeiro português que vestiu o hábito de Santo Inácio. Faleceu em Lisboa a 4 de Abril de 1552. A grande perfeição das suas virtudes, exercício da oração e prática do confessionário deram jus à menção honrosa que deste nosso conterrâneo fazem os escritores da sua ordem, sendo por isso mesmo grandemente aceito a el-rei D. João III e à rainha D. Catarina, dos quais era confessor, que muito sentimento tomaram pela sua morte (434). MEIRELES (António Manuel) – Oficial de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando do desastre de 1810 (435).

(432) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (433) Ver tomo VI, p. 15, 203, 65 e 694, destas Memórias. (434) COSTA, António Carvalho da, Padre – Corografia Portuguesa, p. 430; CASTELO BRANCO, Camilo – Cousas leves e cousas pesadas – Portugal há quatrocentos anos. (435) Ver tomo I, p. 166, destas Memórias.

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MEIRELES (Francisco António) – Nasceu em Moncorvo a 12 de Maio de 1833 e faleceu em Lisboa a 6 de Janeiro de 1904. Torna-se digna de fixação nestas páginas a memória deste benemérito capitalista, que deixou em testamento largo dote para a fundação do «Asilo Francisco António Meireles», de Moncorvo, onde se conserva o seu retrato. MEIRELES (Manuel António de) – Capitão de engenharia, natural de Vila Flor. Escreveu: Relação da conquista das praças de Alorna, Bicholim, Avaró, Morlim, Satarem, Tiracol e Rarim pelo Il.mo e Ex.mo Sr. D. Pedro Miguel de Almeida, marquês de Castelo Novo, conde de Assumar, vice-rei e capitão-general da Índia, etc. Lisboa, 1747. Partes I e II. 4.º Relação dos felizes sucessos da Índia, desde 20 de Dezembro de 1746 até 28 do dito de 1747, no governo do Il.mo e Ex.mo Sr. D. Pedro Miguel de Almeida e Portugal, marquês de Alorna, conde de Assumar, etc. Lisboa, na Oficina de Francisco Luís Ameno, 1748. Parte III. 4.º Relação dos felizes sucessos da Índia, desde o 1.º de Janeiro até o último de Dezembro de 1748 no governo do Il.mo e Ex.mo Sr. D. Pedro Miguel de Almeida, etc. Lisboa, na mesma oficina, 1749. Parte IV. 4.º Relação dos felizes sucessos da Índia, desde Janeiro de 1749 até o de 1750, no governo, etc., etc. Lisboa, na mesma oficina, 1750. Parte V. 4.º Na Biblioteca Lusitana vêm mencionados outros opúsculos do autor (436), e igual menção se faz no Portugal – Dicionário histórico, artigo «Meireles (Manuel António de)». Meireles, que assistiu à tomada das praças que menciona nas suas obras, nasceu a 14 de Agosto de 1715; ignora-se, porém, a data do seu falecimento. MELO (Adriano José de Carvalho e) – Antigo comissário de polícia no Porto e Governador Civil do Distrito de Bragança por decreto de 25 de Novembro de 1873, cargo de que tomou posse a 13 do mês seguinte. Correm impressos bem elaborados Relatórios respeitantes à gerência deste governador civil, que mostram quanto tomava a peito os diversos ramos da administração pública a seu cargo e os benefícios que o distrito lhe deve. Teve tal qual celebreira uma questão que alguns sócios da «Assembleia Brigantina», casa de recreio que havia ao tempo em Bragança, tiveram com

(436) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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este governador civil, a qual motivou dois opúsculos intitulados: A Assembleia Brigantina e o Senhor Governador Civil Adriano José de Carvalho e Melo (Porto, 1875, 8.º de 43 págs.) e O Governador Civil de Bragança e os colegas do colega director da Assembleia Brigantina (Porto, 1875, 8.º de 55 págs.). Graças às instâncias deste governador civil, pelos alvarás de 1 de Maio e 26 de Junho de 1876, em execução da deliberação tomada em sessão de 4 de Março desse ano pela Junta Geral do Distrito de Bragança, criou-se nesta cidade um corpo de polícia civil, que ainda hoje dura, sendo seu primeiro comissário António José Ribeiro, segundo oficial da secretaria do Governo Civil de Bragança (437). Adriano de Carvalho e Melo era natural da casa da Picota, freguesia de Tuías, concelho do Marco de Canaveses, onde nasceu a 3 de Agosto de 1825, e na mesma casa faleceu a 9 de Outubro de 1894. Foi também administrador do Marco de Canaveses e deputado. Redigiu com António Cabral A Verdade, semanário daquela localidade, e colaborou largamente no Jornal do Porto. Devido à sua energia é que o célebre criminoso José do Telhado foi preso quando tentava embarcar clandestinamente para o Brasil escapado à acção da justiça deveras empenhada na captura de tão famigerado bandido, que durante nove anos assolou as Beiras e Trás-os-Montes, praticando crimes audaciosos que o guindaram à lenda dos criminosos mais célebres (438). MELO (André de Morais Frias Sampaio e) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde concluiu o curso em 18 de Julho de 1882. Nasceu na Fonte Longa, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 12 de Setembro de 1858 e faleceu no Porto, no Hotel Continental, a 26 de Abril de 1919; filho de João Baptista de Morais. Tendo, após a sua formatura, exercido durante alguns anos o cargo de cirurgião do exército em Bragança e outras terras, retirou-se depois à vida privada, dedicando-se ao cultivo das suas importantes propriedades. Viveu em Soutelo do Douro, concelho de S. João da Pesqueira, onde casara (439).

(437) Relatório apresentado à Junta Geral do Distrito de Bragança na sessão ordinária de 18 de Fevereiro de 1877 pelo conselheiro secretário-geral servindo de governador civil Henrique José Ferreira de Lima, 1877, p. 3; Relatório apresentado à Junta Geral do Distrito de Bragança na sessão ordinária de 1 de Maio de 1879 pela Comissão Distrital, 1879. Documento n.° 8. (438) A respeito da sua biografia, ver José do Telhado (romance baseado sobre factos históricos) por Eduardo de Noronha. (439) Ver tomo VI, p. 760, destas Memórias.

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Escreveu: A diabetes açucarada – Seu esboço etiológico, patogénico e terapêutico. Dissertação inaugural. Porto, 1882. 8.º de 112 págs. e uma de proposições. MELO (José Correia de) – Brigadeiro. A 29 de Julho de 1826 era governador das armas da província de Trás-os-Montes e nesta qualidade participou ao ministro da Guerra a sublevação do regimento de infantaria nº 24 da guarnição de Bragança (440) em Julho de 1826. Por aviso do ministro da Guerra de 25 de Março de 1827, mas só publicado na Gazeta de Lisboa de 20 de Julho do mesmo ano, foi, a seu pedido, dispensado do governo das armas da dita província. Nos Documentos para a história das cortes gerais da nação portuguesa (ano de 1826, tomo II, págs. 93, 205 e segs.) vêm diversos ofícios deste governador referentes ao fermento de revolta contra a carta constitucional, que em 1826 lavrava na região bragançana. A Correia de Melo deve ter sucedido no mencionado governo o brigadeiro Luís Carlos de Ordaz Sarmento Anhas e Vasconcelos, nomeado para este cargo a 19 de Dezembro de 1826 pelo marquês de Chaves, general-em-chefe do exército realista (441). MELO (José Tibério de Roboredo Sampaio e) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, cujo curso concluiu ali em Junho de 1855. Nasceu na vila de Marialva a 19 de Setembro de 1829 e faleceu na Meda, distrito da Guarda, onde vivia, a 13 de Setembro de 1897; filho de Cristóvão de Roboredo e Sousa e de D. Antónia Carlota de Sampaio e Melo. Foi estudante distinto na universidade e na advocacia adquiriu grande reputação, que o levou como causídico a muitas comarcas no exercício da sua profissão. Foi presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa em 1858, cargo que voltou a desempenhar no biénio de 1863 e 1864, deixando a sua passagem pelo município assinalada pela construção dos paços do concelho, obra de grande importância e necessidade, onde funcionam, além das repartições municipais, o tribunal judicial, a repartição de finanças e a administração do concelho. Desde 1859 a 1867 exerceu na mesma vila o cargo de administrador do concelho e foi procurador à Junta Geral do Distrito da Guarda, eleito por Foz Côa, desde 1859 a 1870. Foi deputado às cortes nos anos de 1864, 1865, 1868, 1869 e 1870, sendo nomeado governador civil de Bragança por decreto de 12 de Janeiro de (440) Gazeta de Lisboa, de 5 de Agosto de 1826 e Almanaque para 1826. (441) Documentos para a história das cortes gerais…, ano de 1826, tomo II, p. 769.

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1881, cargo de que tomou posse a 10 do mês seguinte, exercendo as mesmas funções no distrito de Beja em 1886. A Folha do Comércio de 4 de Julho de 1886 publicou o retrato do doutor José Tibério de Roboredo Sampaio e Melo acompanhado de notas biográficas. MELO (Manuel Pacheco de) – Mestre-de-campo, que muito se distinguiu durante as campanhas da guerra da sucessão – 1640-1668 (442). MELO (Pedro de) – Capitão-mor de Miranda do Douro pelos anos de 1641 (443). MENDES (Francisco) – Por um documento amavelmente cedido por um nosso amigo, vemos que este indivíduo fora justiçado em 1651 pelo crime de morte em Gaspar Gonçalves, juiz de Carção, termo da vila de Outeiro, e ainda por um acto sacrílego. Eis o aludido documento: «Dizem a mayor parte dos homens da governança d’esta villa de Vimioso que sendo ordenado pelo Alvará de 18 d’outubro de 1709 que para os postos da ordenança se nomeem e elejam das primeiras pessoas das terras, como tambem para as ocupaçoins da republica e cargos de justiça o que se acha recomendado por ley e provisoins e ainda por direito e porque se pretende fazer eleição de capitão de hua companhia da ordenança d’esta villa e pretende hum Joam Mendes Penis da mesma ser proposto e votado na dita eleição com o fundamento de que se diz he Alferes da mesma companhia, o que alem de não ter aprovação do general para exercer o dito posto he por direito inhabil e excluido de ocupação algua honrosa, pois alem de ser official de calleiro em cujo officio manualmente trabalha e se sustenta, he neto legitimo de Francisco Mendes, natural do lugar de Carção, termo da villa de Outeiro, por ser legitimo filho de João Mendes, este filho legitimo do dito Francisco Mendes, e este cometendo tam grave e escandaloso crime, não só de hua morte a hum Gaspar Gonçalves juiz que era no mesmo lugar de Carção, mas espedaçando com hua fouce roçadoura hua imagem de Christo Senhor Nosso crucificado, de que resultou por tam grave e atrocissimo crime proceder-se a devassa com alsada com assistencia de hum Dezembargador da Suplicação, e sendo prezo o dito Francisco Mendes fora sentenciado á morte em rellação que para esso effeito se fez na mesma villa de Outeiro, onde também lhe foram seus bens comfiscados para a Coroa, e se lhe mandaram (442) Ver tomo I, p. 98, destas Memórias. (443) Ibidem, p. 81.

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arazar, demulir e salguar suas casas da morada onde se lhe poz padrão que inda existe cuja copia junta-se; e o dito Francisco Mendes padeceu morte de forca na mesma villa de Outeiro, havendo tradição e esta que na referida sentença ficarão os descendentes do dito Francisco Mendes havidos por vis e incapazes de obter ocupação algua the a quarta geração; sendo que como lhe foram seus bens confiscados e demollidas suas casas, ficou sendo o crime dos de primeira cabeça, e como tal mellitandosse com o suplicante a desposição da ordenação, livro quinto, titulo seis, parrafo treze, pois o dito João Mendes he neto legitimo pela parte paterna do dito emforcado e comfiscado e nestes termos inhabil de ocupação algua e menos das da ordenança. Pedem a vossa mercê, senhor Doutor ouvidor seja servido mandar que a Camera o não nomee, nem proponha para o dito posto da ordenança e para os mais da respublica com a pena de se lhe dar em culpa e que esta com a copia do padrão se registe nos livros da Camera; Receberá merce». «Observesse em tudo a forma do Alvará de setecentos e nove pois claramente falla e expressa a forma da eleição e o devem goardar os vereadores como ley, aliás se procederá contra elles, como também para o mais que se requer copiandosse tudo nos livros dos registos. Vimioso em correyção de 18 de Março de 1744. Lyra; Copia do Padrão que a petição faz menssam. Neste sitio estavam as casas da morada de Francisco Mendes que foi condenado á morte pela de Gaspar Gonçalves que foi juiz neste lugar na Alçada em que procedeu o Doutor Chrystovão Pinto de Paiva Dezembargador da Caza da Suplicação no ano de 1651. El-Rey Nosso Senhor assim as mandou arazar e salguar pela impiedade com que elle se ouve na dita morte e pouco respeito aos Sacramentos. E não dizia mais a dita petição e despacho e copia do padrão que aqui eu o escrivão da Camera abaixo assignado copiei e treslladei dos proprios aqui bem e na verdade e sem cauza que duvida faça aos quais me reporto sendo necessario em fé do que me assignei: Vimioso e Abril 7 de 1744 annos, e eu o sobredito o escrevi, assinei e concertey. Concd. com as p.os António Ferreira de Castro» (444). Segue a cópia do padrão (onde há várias letras inclusas e invertidas que, por absoluta carência delas, se não podem aqui reproduzir) que ainda se conserva numa grande lápide de granito cravada no solo no meio da (444) Livro do registo da câmara do Vimioso de 1712 a 1744, fol. 60, parte II. Ao ilustrado prior de Argozelo e nosso bom amigo padre José Manuel Miranda Lopes agradecemos a gentileza da cedência da cópia do documento que fica reproduzido.

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povoação de Carção, junto a uma fonte, e cuja cópia já foi por nós publicada em O Arqueólogo Português, 1913, vol. XVIII, pág. 107, onde saiu com algumas incorrecções, rectificadas agora, bem como declarada a natureza do crime do dito Francisco Mendes: NESTE SI TIO ESTAVAM AS CAS DA MO RADA DE FRCO ME NDS QUE FOI CONDE NADO HA MORTE PLA DE GASPAR GL V QUE FOI IOIS NESTE LVGAR NA ALCA DA EM QUE PROCED O HO DVTOR CRIS TOVAM PINTO DE PAIVA DESEMBAR DA CASA · DA · SOPRI CACAM ANO DE

1651

EL REI NOSO SEÑOR AS MANDOV ARASAR E SALGAR PELA EMPIADADE CO QUE ELE SE OVVE NA D TA MORTE E POUCO RES PEITO AO SACRAMENTO

MENDONÇA (Francisco Furtado de) – Médico, natural de Bragança, onde nasceu em Outubro de 1707. Escreveu: Oriente del sol mas claro. Auto. Suspirado y divino Oriente. Comédia. E mais seis comédias, tudo em castelhano (445). MENDONÇA (Miguel Francisco de) – Capitão de infantaria, cavaleiro da ordem de S. Bento de Avis. Nasceu em Mirandela a 15 de Abril de 1831 e faleceu em Bragança a 5 de Agosto de 1881. Em 1876 levantou a planta topográfica de Mirandela e ofereceu-a à respectiva câmara municipal. (445) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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Escreveu: O progresso do exército ou alguns pensamentos sobre o sistema militar de um país livre. Coimbra, 1860. 8.º de 56 págs. A instrução militar e o campo de manobras. Coimbra, 1866. Questões sociais. Porto, 1871 (446). MENÉRES (Alfredo da Fonseca) – Rico proprietário e industrial, antigo presidente da Associação Industrial Portuense. Nasceu no Porto, freguesia de Miragaia, a 29 de Agosto de 1866 e faleceu em Lisboa, na rua D. Estefânia, 83, a 12 de Julho de 1917; filho de Clemente Menéres, natural da Vila da Feira, e de D. Maria da Glória Guimarães Menéres. O seu cadáver veio a enterrar a Carvalhais a 3 de Maio de 1918. Feitos alguns exames de preparatórios no liceu no Porto, seu pai, já ao tempo senhor das extensas florestas de sobreiros que hoje abraçam os concelhos de Macedo de Cavaleiros, Mirandela e Alfândega da Fé, desejando educá-lo para convenientemente explorar esta riqueza até então desvalorizada e entregue unicamente à barbárie do corte da madeira para alambiques das águas ardentes, quis fazer-lhe seguir o Instituto de Agronomia de Lisboa, mas como ele não tinha idade suficiente – pois apenas contava treze anos – matriculou-o no curso dos Regentes Agrícolas na Quinta Regional de Sintra, onde muitos receberam sólida educação prática em agricultura, silvicultura e veterinária, curso que Menéres terminou com distinção em 1884. Veio seguidamente administrar as propriedades acima mencionadas, nas quais introduziu notáveis melhoramentos durante dois anos que esteve à frente delas. De sociedade com seu pai, mesmo para dar escoante à própria produção, montou depois no ex-convento de Monchique, no Porto, um armazém de vinhos generosos, que em breve conquistaram lugar distinto nos mercados nacionais e estrangeiros, chegando a ser muito apreciados na Argentina, Brasil, Uruguai e mais terras, de que resultou ser pequena a casa para tão largo movimento e ir fundar a Matosinhos os grandes armazéns que giram, desde 1905, sob o nome de Companhia Vinícola Portuguesa. O seu casamento, em 13 de Maio de 1893, com D. Joaquina da Rocha Nogueira Pinto, irmã do conde de Leça, segundo secretário da legação de Portugal em Paris no regime monárquico, trouxe-lhe, como bens dotais de casamento, grandes e rendosas propriedades em Carvalhais, concelho de Mirandela, que a energia ilustrada de Alfredo Menéres sextuplicou, já pela introdução de processos aperfeiçoados nas culturas, já pelo plantio de árvo(446) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Mendonça (Miguel Francisco de)» e informações do erudito Ernesto Augusto Pereira Sales.

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res, que ascendiam em 1911 a 52000, sendo 7000 amendoeiras, 35000 eucaliptos, 2000 oliveiras, 1000 árvores frutíferas e muitas essências florestais, como acácias, castanheiros, plátanos, etc., não falando na sua enorme plantação vinhateira, no que se tornou digno de alto louvor, pois, além da utilidade própria, embelezou e salubrizou a terra, antes atreita a paludismos. A expensas suas construiu-se em 1898 o grande edifício escolar de Carvalhais e o cemitério paroquial que até então não havia, fazendo-se os enterramentos na igreja, cujo pavimento também soalhou; canalizou água potável para o centro da povoação – havendo, como memória, no chafariz a legenda «Conselheiro Menéres»; pagava à sua custa ao médico que curava os doentes da freguesia de Carvalhais, fornecia medicamentos gratuitos aos operários das suas propriedades e aposentava com ordenado fixo os mesmos depois de certos anos de trabalho. Em 1895 foi eleito vereador da Câmara Municipal do Porto, singularizando-se por notáveis melhoramentos no pelouro a seu cargo – jardins e asilos. Na Associação Comercial do Porto, na Associação Industrial Portuense, Companhia Promotora da Agricultura Portuguesa, Associação dos Regentes Agrícolas, Sociedade Clemente Menéres, Limitada, Companhia Vinícola Portuguesa, Companhia dos Caminhos-de-Ferro de Guimarães, etc., deixou Alfredo Menéres largos vestígios da sua passagem e iniciativa ilustrada, sendo por isso agraciado com a grã-cruz de Mérito Industrial e em 1907 com a carta de conselho. Também lhe foi oferecido o título de conde de Carvalhais, que recusou. Escreveu: Interesses Nacionais – Tarifas económicas (entrevistas publicadas no jornal O Século de 8, 20 e 29 de Março e 13 e 23 de Abril de 1913). Porto, Tip. Mendonça, 1913. 8.º de 32 págs. A família Teixeira Homem (Brederode) – Excertos históricos. Lisboa, 1916. 8.º gr. de 12 págs. inumeradas, com duas fotogravuras. De chofre – Revista ilustrada de Vila do Conde, representada no teatro Afonso Sanches de Vila do Conde em 10 de Setembro de 1910. Porto (sem data). 8.º peq. de 42 págs. Em viligiatura – Impressões duma viagem pela Europa, publicadas pelo jornal O Monitor – 1907. Matosinhos, 1908. 8.º de 91 págs. Este folh. e o precedente saíram com o pseudónimo de «Tirolito Júnior». Carvalhais – Traços históricos. Porto, 1916. 8.º de 432+1 págs., com o retrato do autor e setenta e cinco gravuras de personagens e monumentos referentes a assuntos versados na obra e vários fac-símiles autógrafos de homens históricos. Esta obra, que devia constar de dois volumes, ficou incompleta pela morte do autor, sendo para lamentar que os herdeiros da sua grande forMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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tuna a não tenham já publicado, prestando assim mais um preito de homenagem a quem tanto o merece, além do benefício às letras pátrias. MENÉRES (Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães) – Rico proprietário e inteligente explorador das cortiças das matas do Quadraçal e Romeu, no concelho de Mirandela. Nasceu na Vila da Feira a 19 de Novembro de 1843; filho de Manuel Joaquim da Fonseca e de D. Ana Rosa da Fonseca, ambos portugueses. Não é como rico proprietário e inteligente explorador da indústria da cortiça que Clemente Menéres entra neste trabalho, sendo certo que bem merecia especial comemoração por vir valorizar no nosso distrito uma riqueza que jazia desprezada. É pelas benemerências praticadas que o seu nome conquistou direitos à admiração de quantos prezam o bem-estar social. Ofereceu gratuitamente ao Estado uma casa para nela funcionar a escola primária de Romeu, onde tinha o seu palacete; e fez construir em 1897 a capela de Nossa Senhora do Romeu, na mesma povoação. Comemorando este facto, há nela uma lápide que diz: «Esta capela da invocação de N. S. de Jerusalem do Romeu, cuja fundação é muito anterior á era de 1612, segundo frei Agostinho de Santa Maria, a pag. 568, titulo VII do seu livro Santuario Marianno, publicado em Lisboa, com licença da ordem passada no Monte Olivete, em 12 de Setembro de 1709, – foi visitada por Clemente Menéres em 18 de Maio de 1874, quando pela primeira vez veio a estes sitios, em cuja epoca principiou aqui a ser proprietario. Achando-a digna de ser restaurada pelo seu estado de ruina, o fez a expensas suas e de alguns bemfeitores no anno de 1897, abrindo-se nessa occasião um caminho bordado de arvores até á estrada real». As seguintes publicações dão notícias claras referentes à enorme energia desenvolvida por Clemente Menéres e à sua acção agrícola benéfica: Quarenta anos de Trás-os-Montes – Publicação de um grupo de amigos de Clemente Menéres. Porto, 1915. 8.º de XII-47 págs., profusamente ilustradas. Portugal Agrícola. Dezembro de 1902, págs. 113 e seguintes. Clemente Menéres foi dos que mais trabalhou para a consecução do nosso caminho-de-ferro. MENESES (D. Manuel de Sousa) – Doutor em cânones, abade de Soutelo e 14º arcebispo de Goa. Nasceu na vila de Ansiães, distrito de Bragança, pelos anos de 1642 e está sepultado, em campa rasa, na capela-mor da Sé de Goa e nela esta inscrição: AQUI JAZ D. MANUEL DE SOUSA MENEZES ARCEBIS. DE GOA FOI ELEITO PARA ESTE ARCEBISPADO DE 39 ANNOS TOMOU POSSE DELLE EM 20 SET. 1681; FAL. AOS 31 JAN. 1684.

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Fez a visita pastoral em terras da sua diocese que muitos anos havia não viam prelado algum. «Era muito aspero de condição e por isso algumas vezes arrebatado de colera com a qual prorompia em acções cegas». No tempo deste arcebispo moveu Sivagi (1683) na Índia tão cruel guerra aos portugueses, que foi necessário pedir para custeio dela a prata das igrejas, ao que todas anuíram por deliberação de 13 de Março de 1684 dos prelados, dos cabidos, das ordens religiosas, etc., sendo a de Goa a primeira a dar o exemplo. «Algumas memorias grandes se acham deste arcebispo na Sé, especialmente a livraria que está nos paços episcopaes e é, diz H. Bravo Moraes, uma das melhores que tem a India, a que elle deu principio com grande copia de livros, e depois acrescentada por seus successores. Em carta real de 10 de Fevereiro de 1684 (ainda foi a tempo!) agradeceu el-rei a este arcebispo o zelo com que procedera, defendendo os direitos da corôa portugueza, as missões do padroado contra as pretensões dos missionarios estrangeiros» (447). MENESES (Pedro César de) – General de cavalaria, que se tornou notável na região bragançana durante a guerra da aclamação (448). MERGULHÃO (José Freire de Matos) – Capitão de infantaria, natural de Moimenta da Beira, distrito de Viseu, mas bragançano, por aqui constituir família e ser como oficial de caçadores nº 3, da guarnição de Bragança, que publicou relatos das campanhas da África (Gungunhana) em 1895, nas quais tomou parte como alferes do dito batalhão. Nasceu a 27 de Julho de 1868 e casou a 15 de Junho de 1891 com D. Adélia Amália Leopoldina de Sá Miranda, natural de Carrapatas, concelho de Macedo de Cavaleiros. Fez os estudos preparatórios em Viseu e concluiu o curso na Escola do Exército em 1890. Alferes em 31 de Dezembro de 1891; tenente em 30 de Maio de 1897 e capitão em 10 de Agosto de 1903. Escreveu: Apontamentos para a história da campanha à África – Prefaciados por Cristóvão Aires, lente da Escola do Exército, deputado da nação, jornalista. Bragança, Tip. Brigantina, Praça da Sé, 1896. 8.º de VIII-295 págs. (449).

(447) NAZARÉ, Casimiro Cristóvão de – Mitras Lusitanas no Oriente – Catálogo dos Prelados da Igreja Metropolitana e Primacial de Goa e das dioceses sufragâneas, 2.ª edição, p. 187, onde podem ver-se também citadas as obras que fazem referência a este arcebispo. (448) Ver tomo I, p. 98, destas Memórias. (449) Ibidem, tomo VI, p. 43.

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Na expedição a Moçambique (Gungunhana) em 1895 foi condecorado com o grau de cavaleiro da Torre e Espada e medalha de prata de valor militar. Tem o grau de cavaleiro de S. Tiago do mérito científico, literário e artístico; a medalha de prata de comportamento exemplar; a medalha de prata Rainha D. Amélia e a cruz de 1.ª classe de mérito militar espanhol. Exerceu ali por aquela ocasião os lugares de delegado do procurador da coroa em Gaza e o de chefe da secretaria militar do distrito de Gaza, sendo louvado em ordem do governo pelo zelo e competência que mostrou no desempenho destes cargos. José Freire Mergulhão tem colaborado em várias publicações periódicas do Porto e de Lisboa, principalmente quando esteve em África. MESQUITA (João de) – Jesuíta, natural de Ansiães, falecido em 1586. Escreveu: Sete cartas sobre a Missão, algumas das quais andam nas Colecções (450). MESQUITA (José Maria de Morais da) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, senhor da nobre casa das Selores, na freguesia de Zedes, e presidente da Câmara Municipal de Ansiães (451). Faleceu em Zedes em Dezembro de 1896, segundo nos disse em 1924 seu genro doutor Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima. Escreveu: Memórias etimológicas e históricas do concelho de Ansiães – Oferecidas a sua majestade o Senhor D. Pedro Quinto. Tip. Comercial Portuense, 1857. 8.º de 16 págs. (Nestas Memórias, o autor acrescenta ao nome o apelido de Meneses). Luís António de Morais da Mesquita Meneses e sua mulher D. Isabel Maria de Sá Lemos, de Zedes, concelho de Carrazeda de Ansiães, venderam em 1857 umas casas em Bragança, na rua dos Oleiros, a D. Maria Eduarda Ferreira de Lima e um casal em Gimonde e uma quinta em Alfaião a Henrique José Ferreira de Lima. Pelos vendedores, serviu de procurador seu irmão e cunhado doutor José Maria de Morais da Mesquita Meneses. A escritura, que se encontra no Museu Regional de Bragança, «Cartório Notarial», livro 26, diz que estas propriedades eram da casa dos Cortiços, isto é, da família Lemos, dos Cortiços, de onde a vendedora era oriunda. Em 1854 pediram dispensa para casar de 1.º e 2.º graus, e 2.º e 3.º de sanguinidade: José Maria, de dezoito anos, órfão, natural dos Cortiços, filho (450) Sumário da Biblioteca Lusitana. (451) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigos «Carrazeda de Ansiães, Ansiães e Vila Real» e Dicionário Bibliográfico, por António de Sousa Pinto, tomo XIII, ao tratar deste nome.

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de João Marcelino de Sá Lemos e de D. Mariana Josefa de Morais de Mesquita Meneses, e D. Maria Eugénia, de vinte e cinco anos, natural de Zedes, tia do impetrante José Maria e filha de Luís Manuel de Morais de Mesquita Meneses. Igual dispensa pediram na mesma data de idênticos impedimentos: Luís António de Morais de Mesquita Meneses, de Zedes, e D. Isabel Maria, filha dos ditos João Marcelino de Sá Lemos e de D. Mariana Josefa de Morais de Mesquita Meneses, de treze anos, órfã, natural dos Cortiços, sobrinha do impetrante Luís António de Morais de Mesquita Meneses (452). MESQUITA (Padre Pedro de) ou Pedro de Mesquita Carneiro – Natural de Moncorvo e oriundo da melhor gente desta vila. Faleceu a 24 de Março de 1649, na serra da Arrábida, perto de Setúbal. Era sacerdote do hábito de S. Pedro. Foi secretário do bispo inquisidor-geral D. Pedro de Castilho, que o tinha em grande conta pelas suas virtudes e qualidades intelectuais, e depois da morte deste passou a exercer as mesmas funções na casa do duque de Aveiro, D. Pedro de Mesquita, com igual crédito. À morte deste, professou na serra da Arrábida a regra terceira da penitência nas mãos do padre Frei Francisco dos Reis, guardião, no dia de todos os Santos de 1639. Neste novo estado tornou-se notável pela caridade, distribuindo largamente pelos pobres os bens que tinha ajuntado, até um pouco avaramente. No capítulo da sua ordem, celebrado em S. José a 16 de Janeiro de 1636, havia-lhe sido concedido levantar uma casa na mencionada serra da Arrábida para mais recolhidamente se entregar à prática das virtudes em que muito se distinguiu, principalmente na oração, abstinência e pobreza de vestir. Fundou à sua custa uma enfermaria no hospital da vila de Azeitão em 1645 para se curarem os desamparados daqueles contornos, a que dotou algumas rendas. Está sepultado à entrada da porta do convento, havendo deixado fama de claras virtudes, que lhe mereceram o título de venerável (453). MESQUITELA (D. Rodrigo de Castro, conde de) – Foi nomeado governador das armas da nossa província em 1659; em 1660 partiu para Lisboa, deixando o governo entregue ao conde de S. João, que tomou, saqueou

(452) Ver tomo VI, p. 627, destas Memórias. (453) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 24 de Março; COSTA, Carvalho da – Corografia Portuguesa; CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II, e Santos Portugueses, p. 156, onde se diz que morreu a 25 de Março, no que há engano.

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e incendiou Alcanises; em Julho de 1661 voltou a assumir o mesmo governo, passando à província da Beira a ajudar João de Melo Feio contra as invasões do duque de Ossuma, deixando o governo entregue a Domingos da Ponte Galego, tenente-general de cavalaria, lugar que continuou a exercer em 1662, pela transferência do conde de Mesquitela para o governo das armas na província do Alentejo, sucedendo-lhe aqui o conde de S. João (Luís Alvarez de Távora?), que foi nomeado mestre-de-campo-general das províncias do Minho e Trás-os-Montes. O seu governo foi incontestavelmente, o mais brilhante em feitos militares na nossa província. As suas entradas, saques e incêndios de povoações na Galiza ficaram memoráveis, lendárias. É enorme a lista dos lugares galegos que sujeitou a Portugal. O governo do conde de S. João continuava ainda quando se ultimaram as pazes em 1668, ficando a substitui-lo interinamente, enquanto ele foi a Lisboa, o mestre-de-campo-general Diogo de Brito Coutinho (454). Foi o conde de Mesquitela que em 1659 mandou construir o forte de S. João de Deus junto a Bragança, ainda hoje adaptado para quartel das tropas de cavalaria da guarnição desta cidade (455). MIRANDA (António José de) – Doutor em matemática pela Universidade de Coimbra, sendo premiado no 3.º ano. Natural de Macedo de Cavaleiros, onde nasceu a 31 de Março de 1812. Serviu como voluntário liberal na guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel, sendo condecorado com a medalha de Torre e Espada, bem como várias outras praças do 2.º esquadrão do regimento de cavalaria nº 6, ao qual ele pertencia, por na batalha da Asseiceira haverem aprisionado o regimento de infantaria nº 16 e um batalhão de infantaria nº 12, com três bandeiras. Acabada a guerra civil deixou o serviço militar. Na sessão de 28 de Junho de 1843 tomou assento na câmara dos pares como sucessor de seu pai. Em 1846, na revolta da Patuleia, foi presidente da junta governativa que em Bragança se organizou a favor do partido de Costa Cabral ou da rainha, ao qual prestou importantes serviços, contendo na obediência este distrito, o que lhe valeu o título de visconde e ser nomeado governador civil do distrito de Bragança, não em 1847, como dizem alguns escritores, mas no ano seguinte, por decreto de 26 de Janeiro, tomando posse a 23 do mês imediato. Mas em 1851, vendo decaído o seu partido cartista ou dos Cabrais,

(454) MENESES, Luís de – Portugal Restaurado, parte II, livro III, p. 188 e seguintes. (455) Ver tomo I, p. 96 e 270, e tomo IV, p. 540 e 553, destas Memórias.

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recolheu-se à vida privada na sua casa de Castelãos, não voltando mais à câmara dos pares (456). MIRANDA (Inocêncio António de) – Abade de Medrões; natural de Paçó de Outeiro, concelho de Bragança, nasceu em 1758 e faleceu em Grijó de Vale Benfeito, onde foi reitor seis anos, a 29 de Maio de 1836. Ordenou-se de presbítero em 1784, como se vê do respectivo processo arquivado no Museu Regional de Bragança, e era filho de Inocêncio Gonçalves de Miranda e de D. Maria da Veiga, ambos de Paçó de Outeiro. Esta mesma filiação foi a que ele indicou nas declarações feitas na cadeia de Bragança, a que adiante nos referiremos, e bem assim que nesse ano da prisão (1832) tinha setenta e cinco anos, de onde concluímos que deve ter nascido em 1758 e não 1761 como alguns escritores asseveram. Numa espécie de prólogo da Vida de António Luís da Veiga, bispo de Bragança, diz o abade de Medrões: «nasci parede em meio de suas casas», isto é, das casas de habitação do bispo ou da sua família, que eram em um «nobre palacio junto á praça da Sé, em Bragança» (457). Parece, pois, que não nasceu em Paçó de Outeiro, embora seus pais fossem naturais desta povoação, nem lá aparece o seu assento de baptismo, nem em Bragança, nem mesmo junto ao processo de ordenação, como é costume fazer-se. Era «de estatura ordinaria, rosto redondo, côr trigueira, cabellos ruços, olhos castanhos e barba cerrada», diz a nota do registo da cadeia de Bragança, pois havia sido preso a 3 de Dezembro de 1832, estando em Paçó de Outeiro, pelo brigadeiro Luís Carlos de Ordaz, capitão-mor de Outeiro, que o remeteu para Bragança, apesar do ataque de gota de que estava sofrendo, e da cadeia foi removido para o aljube da cidade a 17 de Janeiro de 1833. Foi professor régio de gramática latina na vila de Algoso, concelho do Vimioso, e pároco de S. Pedro dos Sarracenos, concelho de Bragança. Pelas questões suscitadas a propósito do concurso à igreja de Quirás, retirou-se para Lisboa, onde foi preceptor do marquês de Fronteira, sendo depois provido na igreja de Medrões, distrito de Vila Real, e em 1822 eleito deputado às cortes. «Era um caracter audacioso e um talento bri(456) Ver tomo VI, p. 377, n.° 8, destas Memórias; LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vimioso»; DEUSDADO, Manuel Ferreira – Revista de Educação e Ensino, Agosto de 1884, p. 335; ver o artigo «Miranda (Manuel Gonçalves de)», p. 321, deste tomo; Diário do Governo de 28 de Janeiro de 1848 e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Paradinha de Outeiro». (457) Monumento à memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, bispo de Bragança, 1889, p. 6.

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lhante. Poucos controversistas e literatos do seu tempo levantaram tamanho clamor em roda do seu nome» (458). Famigerado lhe chamou Pinheiro Chagas (459). Ficou uma vez reprovado nos concursos paroquiais e aprovado em primeiro lugar no da abadia de Sobreiró, mas o bispo D. António da Veiga Cabral, não obstante esta circunstância, que frisa no despacho, achou melhor, ou deu como mais digno o outro concorrente João Vicente Teixeira de Morais, abade de Edroso, provido em Sobreiró em 1798. Viria daqui a má vontade contra o bispo? Em todo o caso, neste mesmo ano do 1798 obteve Inocêncio Miranda a reitoria de Grijó de Vale Benfeito. Estão no processo deste provimento, arquivado no Museu Regional de Bragança, as longas questões, contestações, alegações, demandas e sentenças que teve com Matias José da Costa Pinto de Albuquerque, frade mendicante secularizado, natural da diocese de Lamego, a propósito da abadia de Quirás, concelho de Vinhais, em que este fora despachado pelo rei, sem concurso, ao contrário de Inocêncio Miranda, que nele fora aprovado. Politiquices daquele tempo... O padre Miranda não obteve despacho, mas vingou-se dos governos absolutistas e do bispo, zurzindo-os a bom zurzir em O Cidadão Lusitano e em vários escritos. Albuquerque, porém, não era menos irrequieto que Miranda, chegando a ser, quando cónego da Sé de Bragança, um pomo de discórdia entre o cabido e o bispo. Escreveu: O Cidadão Lusitano – Breve compêndio em que se demonstram os frutos da Constituição, e os deveres do cidadão constitucional para com Deus, para com o rei, para com a pátria, e para com todos os seus concidadãos. Diálogo entre um liberal e um servil, o abade Roberto e D. Júlio. Lisboa, 1822. 4.º de 123 págs. Teve segunda edição feita no mesmo ano, acrescentada com um Apêndice ao Cidadão Lusitano, ou ilustração de alguns artigos deste compêndio, em que o seu autor pretende dar uma satisfação ao público menos ilustrado, sobre certos reparos que se lhe tem feito. Lisboa, 1822. 4.º de 23 págs. O Cidadão Lusitano – diz Inocêncio Francisco da Silva – sofreu desde logo violentíssimos ataques e ásperas censuras da parte de muitos que trataram de confutar certas proposições do autor como contrárias à disciplina da Igreja e pouco conformes à doutrina ortodoxa e à piedade cristã. Entre estes sobressaiu o padre José Agostinho de Macedo, que escreveu uma série

(458) DEUSDADO, Manuel Ferreira – Revista de Educação e Ensino, n.os 8 e 9, correspondentes a Agosto e Setembro de 1900. (459) CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular Ilustrado, artigo «Sepúlveda (Francisco Xavier Gomes de)».

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de artigos mui virulentos, tais quais ele os costumava compor, publicados em vários números da Gazeta Universal (460). Ao mesmo propósito apareceram também as três Cartas de Ambrósio às direitas ao Sr. Abade de Medrões. Lisboa, 1822. 4.º de 18, 38 e 14 págs. Inocêncio de Miranda julgou que estas Cartas eram do padre Francisco Xavier Gomes de Sepúlveda, abade de Rebordãos (ver o respectivo artigo), e defendeu-se, pondo-o pelas ruas da amargura, escrevendo: Resposta à carta de Ambrósio às Direitas (461) sobre alguns artigos do «Cidadão Lusitano». Lisboa, 1822. 4.º de 12 págs. Resposta do Abade de Medrões à segunda carta de Ambrósio às Direitas, na qual se mostra a sem razão com que o seu autor atacou a doutrina do «Cidadão Lusitano» e a hipocrisia com que pretendeu inculcar-se por muito devoto a quem não o conhecer. Lisboa, 1822. 4.º de 52 págs. O prior-mor da ordem de Cristo, depois arcebispo de Braga, D. Luís António Carlos Furtado de Mendonça, escreveu também contra ele uma extensa refutação que publicou anónima com o título Elenco dos erros, paradoxos, e absurdos que contém a obra intitulada «O Cidadão Lusitano». Lisboa, 1822. 4.º Apesar das críticas, O Cidadão Lusitano teve grande êxito, esgotando-se rapidamente as duas edições. Com a queda da Constituição, o cardeal-patriarca D. Carlos da Cunha publicou em 1823 uma Pastoral em que, de mistura com algumas outras obras, proibiu, sob pena de excomunhão, a leitura de O Cidadão Lusitano. Depois, foi também condenado em Roma por decreto da Congregação do Index de 6 de Setembro de 1824, como se vê na Gazeta de Lisboa nº 296 do mesmo ano (462). Brito Aranha, continuador do Dicionário de Inocêncio, diz que a condenação foi por decreto de 6 de Setembro de 1826. A propósito de O Cidadão Lusitano saíram mais os seguintes opúsculos anónimos: A Religião em triunfo, defendida e sustentada pela mesma regeneração da pátria, e a causa da pátria libertada da superstição da moderada seita maçónica. Por um português cristão. Lisboa, 1822. Diálogo entre um barbeiro e um professor de gramática. Lisboa, 1822. Manuel Ferreira Deusdado, in Educadores Portugueses, pág. 402, aponta entre os trabalhos aparecidos contra O Cidadão Lusitano mais o seguinte,

(460) Estes artigos foram reunidos num folheto intitulado: Sinfonia de Cochicho, com corno inglês obrigado ou o anão dos assobios ao padre Medrões teimoso. Lisboa, 1822, 4.° (461) Hoje sabe-se que «Ambrósio às direitas» era D. Aureliano do Nascimento, frade da ordem de Santo Agostinho, prior de Baleisão, no bispado de Braga, falecido em 1834. (462) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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editado em 1824: Verdadeiro Cidadão Lusitano, por D. Fr. Caetano Brandão, cujo autor usurpou o nome do venerando arcebispo de Braga, pois morreu em 1805. Inocêncio Miranda escreveu mais: Homilia constitucional, que Inocêncio António de Miranda, abade de Medrões e deputado em cortes, mandou publicar aos seus fregueses pelo seu coadjutor. Lisboa, 1822. 4.º de 28 págs. Carta escrita em 30 de Novembro de 1812 ao prior de S. Lourenço (Henrique José de Castro) acerca da seita mística influenciada pelo bispo de Bragança, e seus pretendidos milagres. Saiu em folhetins no Conimbricense nº 2416 de 20 de Setembro de 1870 e continuou nos segs., concluindo no nº 2425 de 22 de Outubro do mesmo ano (463). O Cidadão Lusitano teve 3.ª e 4.ª edições, in-4.º, ambas no Porto, respectivamente em 1834 e 1874. Eis a apreciação que José de Arriaga faz de Inocêncio António de Miranda na História da Revolução Portuguesa de 1820 (464): «Nas cortes de 1821 logo entre os deputados houve scisão: direita e esquerda. Formavam a direita realistas puros e os moderados, uns e outros eram conhecidos pela denominação de corcundas, nome bem apropriado aos que como elles andavam com a espinha dorsal sempre curvada perante os reis e grandes da terra. O ideal d’este partido era arrancar da Revolução todas as garantias e direitos que podessem para a corôa, unico alvo das suas attenções, a qual pretendiam fortalecer contra as tendencias democraticas... por cujo motivo foram também nesta epocha denominados servis. Eram seus chefes o bispo de Beja, Trigoso, barão de Molellos, abade de Medrões, Pinheiro d’Azevedo, o vice-reitor da Universidade de Coimbra e outros. Qualquer d’elles eram homens sem ardor nem enthusiasmo nos seus discursos, intelligencias mediocres; faltava-lhes esse fogo sagrado que aquecia os oradores da esquerda. Nenhum tinha qualidades de estadista, nem de verdadeiro tribuno». Deve haver muita paixão nesta apreciação; certamente que o autor de O Cidadão Lusitano, onde se faz a mais rasgada apoteose do sistema constitucional, não era um corcunda ou servil. Se Arriaga o tivesse lido, apesar de falar vantajosamente dele (465), outro seria o seu juízo. Além disso, na

(463) ARANHA, Brito – Dicionário Bibliográfico, tomo X. (464) Volume II, p. 566. (465) ARRIAGA, José de – História da Revolução Portuguesa de 1820, vol. IV, p. 638.

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sessão de 2 de Setembro de 1822 apresentou uma moção queixando-se de que em muitos círculos do reino os inimigos da Constituição compraram e subornaram os eleitores; por isso propunha que estes deputados fossem inibidos de jamais serem eleitos e excluídos daquela legislatura (466). Isto está em oposição com a opinião emitida por Arriaga. Inocêncio de Miranda era um constituinte, mas moderado, como o autor, com melhor critério, o classifica (467). Um crítico contemporâneo, que o avaliou com perfeita justeza, diz dele: «este deputado mostra bastante madureza e liberalismo» (468); e assim devia ser: O Cidadão Lusitano assaz o prova. No capítulo VIII insurge-se contra o celibato, dispensas matrimoniais, dias de abstinência e, mais adiante, contra alguns dias santos de guarda. Eis como ele se expressa contra o celibato, depois de mostrar que nos primeiros séculos, nos tempos apostólicos, os padres foram casados: «Os padres (que preceituaram o celibato) entenderam de boa-fé, que faziam um grande obsequio a Deus, prohibindo o matrimonio dos clerigos; mas a longa experiencia dos seculos tem assás mostrado o quanto elles se enganaram. Ninguem pode fazer idêa dos males, que tem causado á Sociedade, e mesmo á religiao, uma lei tão opposta aos sentimentos da natureza. Ordenar moços de 25 annos, mettel-os no meio dos maiores perigos em razão do ministerio Parochial, ouvindo todos os dias factos escandalosos, e provocativos pelo orgão do confessionario, e querer que vivam como se fossem anjos, é querer realmente um impossivel. Se S. Jeronymo, depois de três annos de penitencia no deserto, ainda tinha lembrança das companhias de Roma, que ha de succeder a um clerigo jovem, robusto, e nedio, ouvindo todos os dias na confissão, excessos que desafião o appetite até do mais prudente, e austero ancião? Os clerigos por serem clerigos não deixam de ser homens; e o que se tem seguido de uma tal prohibição, é uma cadêa infinita de máos parochos, grandes crimes, e horrorosos escandalos: e aquelles que deviam servir de exemplo, e edificação aos povos, são os primeiros a servir de ruina a si mesmos, e de corrupção aos outros pelo pessimo exemplo dos seus escandalosos concubinatos». Por isso opinava que se congregasse um concílio e se acabasse de vez com o celibato (469). Enquanto aos dias santos de guarda diz ele: «Cinco dias santos, que costumam guardar-se em Portugal no tempo de maior serviço, qual é a ceifa dos trigos, a saber: o dia de Corpo de Deus, Coração de Jesus, S. João Bap-

(466) Ibidem, vol. IV, p. 211. (467) Ibidem, p. 480-483. (468) Galeria dos Deputados das Cortes Gerais e Extraordinárias…, p. 174. (469) MIRANDA, Inocêncio António de – O Cidadão Lusitano, cap. VIII, p. 59.

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tista, Santo Antonio (onde se guarda) e S. Pedro, causam um prejuizo a todo o reino, que se pode computar em mais de três milhões; isto além do perigo que pode sobrevir ás searas, que muitas veses tem accontecido ficarem arrazadas por tormentas furiosissimas, e os pobres lavradores lamentando o damno, que teriam acautelado se lhe tivesse sido permittido trabalhar no dia antecedente... Semelhantes dias de guarda n’um tempo tão ocupado, tanto na sacha dos milhos, como na ceifa dos trigos, foi uma disposição muito antipolitica». Por isso opinava «que se pedisse ao Papa uma dispensa similhante áquella, que já fôra concedida a respeito dos outros de egual natureza. E quando elle por escrupulo duvidasse conceder a mesma graça, que mandasse transferir a sua festividade para outro tempo de menos apêrto; como são os mezes de inverno, afim de não causar tanto prejuizo á agricultura» (470). Alfim, a Igreja lá foi atendendo, em parte, as pretensões do ilustre trasmontano, mas é necessário completar a obra suprimindo os dias santos que indicou e acabando com o celibato, que só produz males sem bem algum compensador. O Diário do Governo de 1 de Fevereiro de 1845 menciona uma execução de bens sitos em Grijó, concelho dos Cortiços, feita pela fazenda nacional ao reverendo Inocêncio António de Miranda. Os bens compreendiam três verbas de pequeno valor. A esse tempo já o executado tinha falecido. A Carta escrita em 30 de Novembro de 1812 ao prior de S. Lourenço, etc., atrás apontada entre as obras de Inocêncio António de Miranda, é uma crítica deprimente da vida do bispo de Bragança D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, e ele mesmo a intitulou Vida de António Luís da Veiga e Câmara, bispo de Bragança. É datada de Lisboa a 30 de Novembro de 1812 e consta de uma espécie de prólogo seguida de oito capítulos, onde analisa o bispo, desde criança, abade da Mofreita, fundador do recolhimento deste nome e do do Loreto e finalmente como prelado. O conde de Samodães refutou em A Palavra desde 8 de Setembro a 7 de Novembro de 1885 esta Vida, que, pela primeira vez, fora publicada no Conimbricense desde 20 de Setembro a 22 de Outubro de 1870 e compilou essa refutação no Monumento à memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara (471). MIRANDA (Inocêncio António de) também chamado Inocêncio António Rodrigues de Miranda, parente do anterior – Natural de Paçó de (470) Ibidem, cap. XII, p. 84. (471) Ver tomo II, p. 75 e segs., destas Memórias.

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Outeiro, prior da freguesia e Colegiada de Santa Maria de Bragança, que paroquiou como encomendado desde 2 de Junho de 1834 até 22 de Janeiro de 1864, data em que faleceu em Bragança, freguesia de Santa Maria, sendo desde 6 de Dezembro de 1836 pároco colado. Era filho de José Rodrigues de Miranda, de Rio Frio de Outeiro, e de D. Maria Gonçalves, de Paçó de Outeiro; neto paterno de Silvestre Rodrigues, de Rio Frio, e de Inocência Miranda, de Milhão, e materno de Manuel Gonçalves, e de Teresa Gonçalves, ambos de Paçó de Outeiro. Nasceu a 4 de Dezembro de 1795 (472). Escreveu: Regras e Preceitos para servirem na Eleição dos Amigos e Conservação da Boa Amizade e na decente separação quando por fatalidade se deverem deixar, oferecidos ao amigo fiel, civil e polido. Tip. de Bragança., 1848. 16.º de 48 págs. Desde págs. 42 por diante, o autor resume em quarenta e uma quadras os preceitos expendidos na parte anterior do opúsculo. Parecer de um vogal, na Comissão Consultiva, que teve lugar por ordem do Governo, na cidade de Bragança para deliberar o meio mais suave desse (sic) satisfazer o pagamento das Côngruas aos Párocos, presidida pelo Excelentíssimo Prelado da mesma Diocese em Agosto de 1858. Manuscrito em 4.º de 10 folhas inumeradas. No fim tem a data: «Bragança 15 de Dezembro de 1858» e a assinatura do autor. No entanto, não nos parece original, por causa dos elementares erros ortográficos que contém. Conforme o que se lê neste manuscrito, vê-se: que à data o seu autor tinha «38 annos de serviço ao estado parochial e quatro no exercito da Restauração Peninsullar contra a França», mas parte daquele tempo talvez o passasse fora da diocese, pois pouco antes escrevera: «Eu por mim e por outros mais parochos d’este concelho sei, que desde dia 2 de Junho de 1834 a esta parte, que sou parocho»... Este folheto contém ideias ainda hoje muito aproveitáveis referentes ao assunto. Da energia de Inocêncio Miranda como pároco dão testemunho: o decreto de 21 de Março de 1867, em que foi atendido três anos depois da sua morte (!) num recurso que interpusera do Conselho de Distrito de Bragança, a propósito da côngrua da sua freguesia, e também num requerimento que apresentou em 1835 ao governador do bispado, doutor Rodrigo de Sousa Machado, sobre a corruptela que se ia introduzindo de se fazerem exéquias fúnebres aos defuntos seus fregueses nas igrejas de S. Francisco e S. Vicente, sem ele, como pároco, poder presidir a esses actos. Este requerimento, com o despacho favorável do governador e confirmação do Ordi-

(472) Ver tomo VI, p. 45, destas Memórias.

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nário em 1842, encontra-se no arquivo da freguesia de Santa Maria de Bragança, onde o vimos graças à obsequiosidade do falecido prior João de Deus Fernandes de Azevedo. Manuel Inácio Romarim de Miranda, solteiro, irmão do prior, esteve preso em 1842 por contas com a fazenda nacional durante o tempo em que foi recebedor no concelho de Bragança (473). MIRANDA (João de Deus) – Doutor em medicina pela faculdade do Porto, capitão-médico do exército. Nasceu na Horta, concelho de Moncorvo, a 14 de Março de 1891; filho de João de Deus Miranda e de D. Maria do Nascimento Trigo, proprietários. Fez os estudos liceais em Lamego e Braga e terminou o curso de medicina em 1916. Foi o único oficial médico do distrito de Bragança prisioneiro dos alemães na Grande Guerra, desde 9 de Abril de 1918 a 28 de Dezembro desse ano. Escreveu: Doença óssea de Paget – Tese de doutoramento. Porto. 8.º de 80 págs. MIRANDA (José Caetano Saraiva Caldeira de) – Natural de Almendra, da família Saraivas Caldeiras, fidalgos bem conhecidos em toda a Beira, dos quais procede pelo lado paterno e pelo materno dos Mirandas da Paradinha de Outeiro e Castelãos, concelho de Bragança. É sobrinho de António José de Miranda, antigo governador civil do nosso distrito, de quem foi herdeiro. O Correio Brigantino de 20 de Setembro de 1906 publicou o seu retrato acompanhado de algumas notícias biográficas. Filho de José Caetano Saraiva Caldeira, natural de Almendra, distrito da Guarda, e de D. Antónia Amélia de Miranda, natural de Castelãos, concelho de Macedo de Cavaleiros, irmã do 1.º visconde da Paradinha do Outeiro, filha do doutor Manuel Gonçalves de Miranda; nasceu em Almendra a 1 de Fevereiro de 1854. Chegou a frequentar o primeiro ano de direito na Universidade de Coimbra, que depois abandonou. Possui em Castelãos muitas e grandes propriedades e um rico palacete brasonado, sendo notável a antiga louça que ornamenta a sua copa, rica em especialidades da China, Japão e outras faianças afamadas. Por decreto de 8 de Junho de 1906 foi nomeado governador civil do distrito de Bragança, lugar de que tomou posse a 20 do mesmo mês. Em Setembro desse mesmo ano deixou este cargo, sendo pouco depois agraciado com o título de conde de Almendra, e não visconde, como, por equívoco, escrevemos no tomo VI, pág. 752, destas Memórias, advertindo tam(473) Livro do registo da cadeia de Bragança, correspondente ao dito ano, fol. 33. Ver tomo VI, p. 34, destas Memórias.

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bém que D. Antónia Amélia de Miranda é irmã e não descendente do 1.º visconde da Paradinha do Outeiro, como ali se diz. Uma lamentável confusão fez com que na mesma página 752 do referido volume, ao tratar do brasão de Castelãos, pertencente ao conde de Almendra, nosso biografado, parecera aos que liam menos atentamente, ou com ganas de ver coisinhas (pois na página 377, para onde remetemos o leitor, a genealogia estava clara), que dávamos D. Antónia Amélia de Miranda como filha ou neta do visconde da Paradinha do Outeiro, em vez de irmã, e casada com seu próprio filho. Confusões destas são fáceis em genealogia; deve, pois, corrigir-se por esta forma o texto da discutida página 752: «46 – Está em Castelãos, concelho de Macedo de Cavaleiros, no frontispício do palacete do visconde da Paradinha de Outeiro, António José de Miranda, hoje de José Caetano Saraiva Caldeira de Miranda, governador civil de Bragança em 1906, conde de Almendra, filho de José Caetano Saraiva Caldeira e de D. Antónia Amélia de Miranda, irmã do visconde da Paradinha de Outeiro, acima mencionado» (474). MIRANDA (Manuel Azevedo de) – Benemérito médico do Mogadouro, digno de memória pela dedicação com que acorreu a tratar os empestados do cólera em Freixo de Espada à Cinta em 1866 (475). MIRANDA (Manuel Gonçalves de) – Par do reino, conselheiro de Estado efectivo, ministro e secretário de Estado, sócio honorário da Academia Real das Ciências de Lisboa, grão-mestre da Maçonaria e doutor em matemática pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Paradinha de Outeiro, concelho de Bragança, a 30 de Novembro de 1780 e faleceu em Lisboa a 5 de Abril de 1841. Era filho de Martinho Carlos de Miranda (morgado da Paradinha de Outeiro, capitão-mor da vila de Outeiro, cavaleiro da ordem de Cristo, moço-fidalgo e em 1834 subprefeito da província de Trás-os-Montes) e de D. Perpétua Maria Geraldes. Manuel Gonçalves de Miranda «fez com notavel bravura as campanhas da Guerra Peninsular, sendo condecorado com a medalha das tres memoraveis campanhas contra Napoleão. Na acção de 4 de Agosto de 1810 de Puebla de Sanabria batteu-se com tal valentia que foi promovido por distincção a tenente e agraciado com a commenda da Torre e Espada» (476). A (474) Ver tomo VI, p. 377, destas Memórias. (475) Ibidem, tomo I, p. 290. (476) SORIANO, Simão – História da Guerra Peninsular, tomo III, p. 62.

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ordem de promoção a tenente é de 20 de Agosto de 1810 (477). A «Ordem do dia» de 23 de Julho de 1812 de Beresford menciona-o com elogio pelo seu bom porte na batalha de Salamanca (478). Das proezas que obrou em Agosto de 1810, junto à vila de Outeiro, não do concelho de Bragança (como, por equívoco, escrevemos a págs. 160, tomo I, destas Memórias Arqueológicas), mas sim perto de Monboy, Espanha, que lhe valeram honrosas referências daquele general inglês, já fica dito na pág. 160 do referido tomo. Em 1819 demitiu-se do serviço militar sendo capitão de cavalaria nº 12; em 1821 foi eleito deputado substituto às cortes gerais e constituintes da nação portuguesa, onde logo se tornou um dos seus mais notáveis membros (479); a 20 de Novembro de 1822 foi, pela primeira vez, nomeado ministro e secretário de Estado, caindo com a Vilafrancada a 27 de Maio de 1823, e a 6 de Fevereiro deste ano, sendo, portanto, ainda ministro, eleito sócio honorário da Academia Real das Ciências de Lisboa. Nos Documentos para a história das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, tomo VII, pág. 695, vem um ofício de D. Francisco de Almeida, representante do governo português em Paris, para Luís da Silva Mousinho de Albuquerque, datado de 10 de Dezembro de 1830, onde se fazem apreciações de alguns emigrados políticos mais em evidência, e a propósito de Gonçalves Miranda diz: «não é falto de honra e de saber, que posto que sempre se tenha mostrado pela Senhora D. Maria 2.ª, e zeloso do bem da patria, nem sempre tem querido caminhar de accordo com as autoridades constituidas». Em 19 de Setembro de 1833 foi nomeado perfeito da província do Douro (480); sendo depois ministro da Marinha desde 20 de Abril a 10 de Setembro de 1836; da Fazenda desde 28 de Janeiro a 12 de Março de 1841, e outra vez da Marinha desde 12 de Março a 5 de Abril de 1841, substituindo-o na sua doença o conde de Bonfim (481). A propósito da sua gerência na pasta da Fazenda, diz Barbosa Colen: «O novo ministro da fazenda era um grande homem de bem – mas um grande incompetente para a gerência da pasta que lhe entregaram. Dizia, com razão, que elle estava retratado no Agricola de Tacito. A sua boa-fé, os

(477) Almanaque militar de Portugal referido a 1 de Janeiro de 1815. (478) CHABY – Excertos históricos, parte III, vol. IV, p. 560. (479) Galeria dos Deputados das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, instauradas em 26 de Janeiro de 1821, época 1.ª, p. 334, e tomo VI, p. 370 destas Memórias. (480) COLEN, Barbosa – História de Portugal, popular ilustrada (continuação), vol. IX, p. 469. (481) Notícia dos Ministros e Secretários de Estado do Regime Constitucional, p. 18.

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seus habitos sedentarios, o seu amor ao estudo das sciencias abstratas, estavam em contradição com a actividade, o conhecimento das cousas positivas e... a ladinice que precisa ter um ministro, que pela situação do respectivo cargo tem de tratar com as gentes da finança, – que, em geral, não peccam por desprendimento de interesses» (482). Demais, como a sua saúde arruínada não lhe permitia largos trabalhos naquela pasta laboriosa, passou para a da Marinha, morrendo pouco depois. Era, pois, Manuel Gonçalves de Miranda, quando morreu, ministro da Marinha e 12.º grão-mestre da Maçonaria, cargo para que fora eleito em 1839 e no qual lhe sucedeu o célebre ministro António Bernardo da Costa Cabral (483). Barbosa Colen, já citado, vol. XII, pág. 199, que traz a lista dos grão-mestres da Maçonaria até 1858 (a continuação da mesma lista até 1905 pode ver-se na Ilustração Portuguesa, nº 86, correspondente a 26 de Junho de 1905, onde vêm os retratos da maior parte deles), insere, entre os dois supramencionados, o grão-mestrado de Francisco António de Campos, barão de Vila Nova de Foz Côa. É verdadeiramente notável a energia e força de convicção com que Gonçalves de Miranda se evidenciou nas cortes de 1821. Pode dizer-se que, de todos os constituintes, foi ele o único que se não vendeu à corte e que não atraiçoou a revolução. O desassombro com que se apresentou nessas cortes, tomando parte em quase todas as discussões (entrou nestas quarenta e quatro vezes na primeira época legislativa), indicaram logo o notável político que ali estava. As suas propostas traduziam a convicção sincera dum verdadeiro liberal (484), mas o entusiasmo ia arrefecendo à medida que o ouro e as seduções da corte e afeiçoados ganhavam terreno; ia findar o prazo para a rainha prestar o seu juramento à Constituição: o ministro Cândido José Xavier, sabendo quanto a esta repugnava tal juramento, pede a demissão e é substituído por Gonçalves de Miranda que não tem receio de, em conselho de ministros, propor, com a rude franqueza de trasmontano e lombardês (485), que se a rainha não jurasse, saísse imediatamente para fora do território português. Por isso, a 4 de Dezembro de 1822, fez lavrar

(482) CHAGAS; COLEN – História de Portugal…, vol. X, p. 481. (483) ARRIAGA, José de – História da Revolução de Setembro, tomo III, p. 538, e Diário do Governo de 23 de Novembro de 1844. (484) Veja-se o elenco das suas propostas na Galeria dos Deputados…, p. 334, e as elogiosas referências que lhe faz José de Arriaga na sua História, vol. II, p. 318, 378 e 380, e vol. III, p. 143. (485) Lombardês, de Lombada, nome genérico com que, no concelho de Bragança, são conhecidas algumas povoações, como: Babe, S. Julião, Paradinha de Outeiro, etc., onde, pelo geral, a gente é mais corpulenta. Estoura jugos, diz o apodo popular dos habitantes que ficam mesmo no centro da Lombada.

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um decreto declarando a rainha privada dos seus direitos civis e políticos por se ter recusado a jurar a Constituição e intimando-a a sair do reino, o que não teve efeito por ela apresentar atestados de doença passados pelos médicos, atestados em que Gonçalves de Miranda nada se fintava, pois, segundo ele dizia, a rainha não tinha mal nenhum. No entanto, foi mandada recolher à quinta do Ramalhão. Este enérgico proceder de Gonçalves de Miranda valeu-lhe, por parte da imprensa realista, uma violenta campanha de descrédito. A contra-revolução aproxima-se e Gonçalves de Miranda sente-a palpitar em seu trabalho de sapa, minando o solo e as consciências. Na madrugada de 27 de Maio de 1823, o infante D. Miguel sai de Lisboa com o regimento de infantaria nº 23 e dirige-se para Vila Franca – era a Vilafrancada que estava por instantes. Miranda redobra de energia, multiplica-se, não trepida e, forte como uma convicção, publica no mesmo dia essa célebre portaria expedida a todas as autoridades para que prendessem o infante, prometendo até prémios a quem lho apresentasse! No dia seguinte, 28 de Maio, o ministério pede a sua demissão, a Vilafrancada triunfa, o rei adere à contra-revolução e jura-a, acabando assim o regime liberal. As perseguições começam: a Gazeta de Lisboa de 10 de Julho de 1823 traz uma lista de proscritos, entre os quais avulta o nosso Manuel Gonçalves de Miranda (486). Durante o cerco do Porto (1832-1833) conservou-se alternadamente em Londres e Paris, onde prestou grandes serviços à causa de D. Pedro, como presidente da comissão encarregada de arranjar navios, dinheiro e munições de guerra e boca para o exército. Na obra José da Silva Carvalho e o seu tempo vêm diversas cartas trocadas entre eles, bem como entre Gonçalves de Miranda e o banqueiro espanhol Mendizábal, que mostram como o ilustre trasmontano era o financeiro dos liberais emigrados. É notável a correcção com que este escrevia essas cartas, ora em castelhano, ora em francês. O Correio de Lisboa de 10 de Abril de 1841 faz um eloquente elogio das virtudes pessoais e cívicas deste prestante cidadão e descreve os pomposos

(486) ARRIAGA, José de – Hist. da Rev. Portug. de 1820, vol. IV, p. 250, 252, 257, 265, 307, 486, 515 a 527 e 603. Gonçalves de Miranda foi desterrado por ordem da intendência geral da polícia para Castelãos, concelho de Bragança, e entre as razões deste desterro avulta a de pertencer às sociedades secretas (Maçonaria), Documentos para a História das Cortes Gerais…, vol. I, p. 851. Tanto na Paradinha como em Castelãos há belas casas apalaçadas dessa família, com rico mobiliário, faiança preciosa e restos ainda importantes de livrarias, que bem inculcam a pujança intelectual do seu dono.

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funerais que lhe foram feitos; a chave do féretro foi conduzida por José da Silva Carvalho (487). Miranda era um carácter tão nobre e de tanta excepção que, tendo exercido tão importantes cargos, o espólio que deixou era inferior ao de um estudante quando deixa os bancos da Universidade (488). No entanto, diz Arriaga: «Manuel Gonçalves de Miranda abandonara tambem os seus principios de 1820, e foi chamado em recompensa aos conselhos da corôa. Um alvará do governador civil habilita este novo ministro da corôa para receber a bagatella de 50:000 cruzados a título de indemnização pela sua pensão de ministro d’Estado honorario de 1823 a 1835, em titulos admissiveis na compra de bens nacionais. Fora apenas ministro uns meses na Revolução de 1820, e vem agora receber essa enorme quantia, baseado na escandalosa portaria de Palmella, quando ministro da reacção da Vilafrancada» (489). É bem sabido que quando rebentou a revolução de Setembro de 1836, cujos princípios se filiavam na de 1820, muitos indivíduos que haviam sido vintistas exaltados não quiseram jurar o decreto de 1836 que mandava pôr em vigor a nova Constituição, e um deles foi Gonçalves de Miranda (490). Sobre o proceder deste trasmontano relativamente à emancipação do Brasil, sucedida quando ele era ministro, veja-se a História do Marechal Saldanha, por D. António da Costa, Lisboa, 1879, tomo I, pág. 135. Como presidente da comissão de emigrados que em Londres preparou a expedição do exército constitucional para restaurar o trono de D. Maria II, publicou uma proclamação com o título Meus caros compatriotas, a qual começa assim: «Proximo e muito proximo está o dia», etc. Tem a data de «Londres, 11 de Abril de 1832». Folha avulsa, mencionada na Arqueologia político-literária (Porto, 1888) de Pedro Augusto Dias. Publicou ainda uma Memória – Londres; en la imprenta de Carlos Woode Hijo. 8.º de 45 págs. (sem data, mas deve ser de 1834). É o relatório em espanhol da comissão encarregada dos preparativos da expedição, composta de Manuel Gonçalves de Miranda, Almirante Sartorius e Juan Álvarez y Mendizábal. Da página 29 em diante contém documentos importantes dos fornecimentos feitos pela comissão em soldadas, aprestes, navios, cavalos, etc. Esta Memó-

(487) DEUSDADO, Manuel Ferreira – Revista de Educação e Ensino, Agosto de 1894, p. 335. (488) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Vimioso». (489) ARRIAGA, José de – Hist. da Revolução de Setembro, tomo I, p. 700. (490) Ibidem, tomo II, p. 146. Ver também ALBUQUERQUE, António Tavares de – Índice dos trabalhos Parlamentares, tomo III, p. 147.

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MOGADOURO

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ria foi reproduzida em português no relatório do ministro da Fazenda, José da Silva Carvalho (491). Acerca de Manuel Gonçalves de Miranda, ver tomo I, págs. 131, 159, 160, 161 e 195, e tomo VI, pág. 376, destas Memórias, e também as seguintes publicações: Prevaricação demonstrada que praticou o Sr. Manuel Gonçalves de Miranda, sendo ministro e secretário de Estado dos negócios da guerra, contra José António Ferreira Vieira. Lisboa, 1824. 4.º de 14-XIV págs. Assim a descreve Inocêncio F. da Silva no seu Dicionário Bibliográfico, artigo «Memórias apologéticas, jurídicas, justificativas...», etc. Carvalhais – Traços históricos, por Alfredo Menéres. 1919, pág. 365, em nota. Possuímos um exemplar da Constituição da Monarquia Espanhola Promulgada em Madrid aos 18 de Junho de 1837, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1837, cheio de notas e comentários manuscritos muito interessantes, que supomos da mão de Manuel Gonçalves de Miranda. MOGADOURO – Em 1582 autorizou el-rei os moradores do Mogadouro a lançarem 200$000 réis de derrama para fazerem as obras da sua igreja matriz – S. Mamede (492). MONIZ (D. António Bernardo da Fonseca) – Nasceu em Moncorvo a 11 de Março de 1789 (alguns escritores dizem erradamente 1798) e faleceu sendo bispo do Porto a 5 de Dezembro de 1859; filho do doutor Francisco José Nunes da Fonseca Moniz, distinto advogado, e de D. Ana Maria Madureira da Costa. Era doutor pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1814. Tomou ordens de presbítero em 1816 e foi logo nomeado vigário-geral de Valença, lugar importante que ele desempenhou distintamente por três anos, e dali foi colocado abade de Gemeses. Em 1819, sendo desembargador da relação eclesiástica, foi nomeado pelo arcebispo D. Frei Miguel da Madre de Deus procurador-geral da mitra de Braga, desempenhando ao mesmo tempo os cargos de promotor e examinador sinodal e vigário-geral do arcebispado por despacho de 24 de Janeiro de 1822, acumulando ao mesmo tempo as funções de secretário do arcebispo. Em 1824 foi provido no arcediago de Neiva e em 1826 na abadia de Santa Eulália de Beiris, onde se conservou até 1833. Em 1834 foi, por carta régia, nomeado governador da diocese de Coimbra, e em 2 de Junho

(491) Dicionário Bibliográfico, tomo XVI. (492) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, tomo III, p. 457.

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do seguinte ano tesoureiro da Sé de Lisboa, onde, em 10 de Janeiro de 1835, obteve um canonicato, continuando ao mesmo tempo no governo do bispado de Coimbra. Em 1836 foi transferido de Coimbra para governador do arcebispado de Braga, sendo exonerado a 15 de Setembro desse ano. E em 15 de Janeiro de 1840 foi nomeado bispo do Algarve, confirmado pelo papa Gregório XVI no consistório de 22 de Janeiro de 1844 e sagrado em 16 de Junho do mesmo ano pelo arcebispo de Braga na igreja do convento de Palme, propriedade de sua família. Pelo falecimento do bispo D. Jerónimo foi transferido para a diocese do Porto a 15 de Março de 1854 e confirmado a 23 de Junho do mesmo ano, e por morte do cardeal Figueiredo, arcebispo de Braga, foi pelo rei D. Pedro nomeado arcebispo daquela diocese, mas desculpou-se e as suas razões foram atendidas. Foi por três vezes deputado da nação e ministro da Justiça desde 7 de Julho de 1851 a 4 de Março de 1852, não chegando, porém, a exercer o cargo, que estava sendo servido interinamente por Rodrigo da Fonseca Magalhães. Tinha as comendas das ordens de Cristo e S. Tiago, a grã-cruz da mesma ordem e a carta de conselho. Está sepultado na Sé do Porto (493). Deixou herdeiros seus irmãos barão de Palme e Carlos Felizardo da Fonseca Moniz. Escreveu: Pastoral aos diocesanos do bispado de Coimbra, quando vigário capitular e governador do mesmo bispado em 1834. «Imprimiu-se – diz Inocêncio F. da Silva –; porém, nunca pude vê-la». Diz-se que é um documento notável pelo espírito de intolerância que respira, de que o autor posteriormente se arrependeu. Carta-pastoral do bispo do Porto aos seus diocesanos. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1854. 4.º de 45 págs. Pastoral sobre a definição dogmática da Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus. Pastoral por ocasião da publicação da Bula da Santa Cruzada. Foram publicadas todas três na Atalaia Católica de Braga, vols. I, II e III (494).

(493) Independente de Braga, in Diário do Governo de 4 de Janeiro de 1860; Notícia dos Ministros e Secretários de Estado…, p. 6; Revista Contemporânea, 1857, onde vem o seu retrato; Dicionário Bibliográfico, artigo «Retratos diversos». Também vem o seu retrato na História de Portugal, ilustrada, de Pinheiro Chagas, tomo IX, p. 73, e notas biográficas no mesmo tomo, p. 629. Ver tomo VI, p. 295, destas Memórias. (494) SILVA, Inocêncio Francisco da –Dicionário Bibliográfico, tomo VIII, 1.° do «Suplemento»,

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MONTALEGRE (visconde de) – Ver tomo I, pág. 193, destas Memórias. MONTANHA (António Alberto Furtado) – Capitão de infantaria. Nasceu acidentalmente em Soure, distrito de Coimbra (pois seus pais são naturais de Bragança), a 25 de Janeiro de 1887; filho de José Cândido Fernandes Montanha e de D. Felismina da Assunção Furtado. Fez as campanhas da África Oriental desde 1916 a 1918 contra os alemães, tomando parte na passagem do rio Rovuma em 18 de Setembro de 1916; combate de Mahuta em 4 de Outubro; tomada de Newala em 26 e combate de Newala em 22 de Novembro do mesmo ano, onde foi aprisionado pelos alemães, sendo libertado em 18 de Novembro de 1917. Foi governador interino do distrito de Moçambique e depois do de Tete em 1926, e efectivo por decreto de 3 de Dezembro de 1926. Tem a medalha de prata da classe de comportamento exemplar; medalha de prata comemorativa das campanhas do exército português, com a legenda «Moçambique, 1914 a 1918»; Cruz de Guerra de 1.ª classe; medalha da Vitória com estrela de prata e medalha de prata da classe de valor militar com palma. Foi louvado porque, estando em Moçambique de passagem, vindo de estar prisioneiro dos alemães durante doze meses, depauperado pelas privações e por uma febre biliosa, ofereceu-se para ficar ao serviço das operações no distrito de Moçambique, logo que lhe constou que o inimigo estava próximo. Louvado pela iniciativa, abnegação, alta compreensão do dever militar e espírito de sacrifício de que deu provas no combate da ribeira de Newala em 22 de Novembro de 1916, expondo-se nos lugares mais perigosos com intrepidez e bravura, dirigindo sempre as forças do seu comando com energia e serenidade até ser feito prisioneiro. Louvado pelo seu grande tacto administrativo e zelo no desempenho do cargo que lhe fora confiado. Louvado em Outubro de 1919 em atenção aos relevantes serviços prestados na acção de 5 do mesmo mês, bem como nos combates dos dias anteriores, manifestando assim excelsa coragem, heróica dedicação e inexcedível amor pela causa da Pátria. Furtado Montanha cobriu-se de glória no combate da ribeira de Newala a 22 de Novembro de 1916, que comandou, «acto sublime, digno de admiração e respeito», que lhe mereceu ser proposto para a promoção a capitão por distinção, em razão do seu feito «heróico». Por três vezes os alemães,

p. 103. A biografia do bispo Fonseca Moniz encontra-se nas Memórias para a História Eclesiástica do bispado do Algarve, por João Baptista da Silva Lopes, 1848, p. 513, e difere algo em algumas datas apontadas por Inocêncio F. da Silva.

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com forças muito superiores, providos de metralhadoras, armas que aos nossos faltavam, renovaram o ataque, sendo energicamente repelidos com grandes baixas e só conseguiram apoderar-se do campo desde que aos nossos se lhe esgotaram de todo as munições, fazendo prisioneiro o comandante, que quase só ele conseguiu salvar a sua gente, tão inteligente e heroicamente se houve. O próprio oficial alemão que comandou o ataque inimigo confessou a brava resistência dos nossos valorosos soldados no seu relatório, que temos presente. Talvez se pudesse acoimar Furtado Montanha como pertinaz na resistência, excedendo portanto as leis militares; mas o combate da ribeira de Newala era de vida ou de morte para os nossos, pois pugnavam pela manutenção da água de abastecimento. MONTANHA (José António Furtado) – Nasceu em Bragança a 6 de Maio de 1882; filho de José Cândido Furtado Montanha e de D. Felismina de Assunção Furtado, de Bragança. Foi em 1918 nomeado director da agência do Banco de Portugal nesta cidade. Não é por questões de letras, apesar de muito com elas ter lidado e de ter colaborado, nos seus belos tempos, mui especialmente nos jornais da terra, que aqui incluímos cheios de satisfação o José Montanha; é pelo seu fervente regionalismo e pelos seus excelsos sentimentos humanitários; é pelas lágrimas que tem enxugado, pelas dores e misérias que tem suavizado, pela fome que tem apagado, pelas suas benemerências em prol da humanidade sofredora. É que ninguém melhor que ele tem realizado o pertransiit benefaciendo. O fácies de José Montanha ilumina-se por tal forma após a esmola ao necessitado – enquanto os olhos, num quase marejamento de lágrimas, traduzem a tortura causada pela miséria alheia – que só a luz divinal pode explicar a emotividade psíquica que lhe vai na alma. É enorme e indescritível a lista das suas benemerências morais. E as regionalistas?! Lápide epigráfica, faiança; espécie numismática, etnográfica, bibliácea; artefacto artístico de difícil obtenção é só dizer: José: F... tem isto que devia estar no Museu Regional de Bragança, por ser nele que pode utilizar à ciência, à arte, à humanidade estudiosa, mas não o cede. O Zé Montanha, o nosso J-o-s-é corre a mão pelo mento, fixa os olhos num ponto interno que só ele vê, esboça o gesto de um passo, rociando-lhe ao mesmo tempo leves tons de sorriso a comissura dos lábios e diz: arranja-se... e tantas voltas dá que tudo se aplana. É que ele e o doutor Raul Manuel Teixeira são a alma do Museu e do movimento regionalista da nossa terra; sem eles, aquele não passaria de um armazém de velharias... Quantas notícias para esta obra temos obtido MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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por intermédio destes dois bragançófilos, que seriam impossíveis sem a sua cooperação! São os grandes Mecenas da mesma, juntamente com os quatro memorados no oferecimento da primeira página deste volume. O José Montanha casou a 10 de Agosto de 1914 com D. Elisa do Céu Fernandes, nascida em Bragança a 11 de Fevereiro de 1890; é filha de Jesuíno Augusto Fernandes e de D. Cristina dos Anjos Fernandes. Há deste matrimónio os seguintes filhos: Lia do Céu Fernandes Montanha, nascida em Bragança a 21 de Maio de 1915; José António Fernandes Montanha, nascido nesta cidade a 18 de Dezembro de 1924, e Raquel do Céu Fernandes Montanha, nascida na mesma cidade a 20 de Abril de 1929. MONTEIRO (Abílio Adriano de Campos) ou, literariamente, Campos Monteiro – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, antigo administrador do concelho da Maia, deputado da nação pelo círculo do Porto, presidente do extinto Club dos Girondinos do Porto, da Associação de Pais e Professores do Liceu Rodrigues de Freitas, vice-presidente da Associação Médica Lusitana, presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, poeta, jornalista, dramaturgo e romancista brilhante. Nasceu em Moncorvo a 7 de Março de 1876; filho de José Carlos Monteiro, natural de Braga, que faleceu contador em Moncorvo, e de D. Maria Joaquina Campos, natural desta vila. Fez os estudos liceais em Braga e Viana do Castelo; frequentou ainda durante um ano a Academia Politécnica no curso de preparatórios da marinha, mas desistiu dessa carreira, e terminou a formatura na Escola Médica em 1902, sendo classificado com distinções nos últimos três anos e no acto grande. Tem escrito: Arco-Íris (versos). Viana, 1894. 96 págs. Pró Pátria. Viana, 1894. A avenida do Cotovelo (revista de Viana do Castelo em três actos). 1894. Monólogos em verso. Porto, 1895. Violia (balada em verso). Porto, 1895. Carta aberta (em verso). Viana, 1895. A Salamanca (um acto em verso). 1898. O segredo da morgada – Opereta cómica em três actos, representada pela primeira vez no Porto em 1900 e sucessivamente em Lisboa, Rio de Janeiro, S. Paulo, Manaus e por diversas vezes nas cidades do país e do Brasil. Os filhos de Minerva (farsa em verso em um prólogo e quatro quadros em verso). Porto, 1902. 8.º de 166+1 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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A neurastenia – Dissertação inaugural. Porto, 1902. 190 págs. Flor do tojo – Opereta cómica em três actos. Representada pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1905 e sucessivamente em S. Paulo, Baía, Lisboa, Coimbra, Porto, Braga, Matosinhos, Guimarães, Viana do Castelo, Ponte do Lima, Pará e Manaus. Teve 20.ª edição em 1926. O auto da serra (acto em verso). Porto, 1907. A promessa (acto em verso). Representado pela primeira vez no Porto em 1907. Saiu novamente com o título A promessa – Peça num acto em verso. Porto, 1921. A paixão de Ferrer – Poema. 1909. 56 págs. A rainha da Lacónia – Opereta em três actos, representada no Porto pela primeira vez em 1910. O ramo de perpétuas – Opereta em três actos, representada no Rio de Janeiro pela primeira vez em 1912. Versos fora da moda (autobiografia de um poeta humilde). Porto, 1915. 8.º de 254 págs. e duas de erratas e registo. Teve 2.ª edição em 1922. Musa irónica – Monólogos, cenas cómicas e contos em verso. Porto, 1920. 8.º de 158+1 págs. Teve 2.ª edição em 1924. Misse Esfinge – Novela. Porto, 1921. 8.º de 398 págs. e uma (inumerada) de índice. Teve 2.ª edição em 1922; 3.ª em 1925, e 4.ª em 1928. Foi traduzida em espanhol. O sonho de Gutemberg – Peça em três quadros. 1922. Representada no Porto. Os Lusíadas de Luís de Camões – Anotados e parafraseados para uso das escolas, com uma biografia do poeta e o roteiro da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Porto, 1921. 8.º de 671 págs. e duas de erratas. Teve 2.ª edição em 1925. A oito dias de vista – Crónicas publicadas no Jornal de Notícias sob o pseudónimo de «Marcial Jordão». Porto, 1921. 8.º de 244-XI págs. Saúde e Fraternidade – História dos acontecimentos políticos em Portugal desde Agosto de 1924 a Novembro de 1926. Porto, sem ano de impressão, mas é de 1923. 8.º de 258 págs. e uma (inumerada) de erratas. Esta obra, sátiro-política, obteve em menos de seis meses sete edições e atingiu a décima em 1925! O maior êxito de livraria portuguesa. O crime de uma mulher honesta – Peça em dois actos. Porto, sem ano de impressão, mas é de 1923. 8.º de 32 págs. e uma (inumerada) de erratas. Foi traduzida para italiano e representada em vários teatros estrangeiros. Moeda corrente (crónicas e contos). Porto, sem ano de impressão, mas é de 1924. 8.º de 252 págs. Teve 2.ª edição em 1927 de 268 págs.

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Quando se amava assim – Peça em verso, em três actos. Porto, 1924. 8.º de 163 págs. Auto das três barcas – Quadros em verso. 1925. Foi traduzido para espanhol. Perdão tardio – Novela regional. Porto, 1925. 8.º de 72 págs. Camilo Alcoforado (romance). Porto, 1925. 8.º de 373 págs. e duas (inumeradas) de erratas e registo. O médico-peçonha – Análise da diatribe antigereziana A água-veneno. Porto, 1926. 8.º peq. de 130 págs. Contra a maré (contos e crónicas). Porto, 1928. 8.º de 282 págs. e duas (inumeradas) de erratas e registo. Maria da Fonte – Opereta em três actos. Porto, 1928. 8.º peq. de 121 págs. Santa Olívia – Poema dramático em prosa simples para as almas simples. Porto, 1928. 8.º de 169 págs. e seis inumeradas. TRADUÇÕES

Uma noite de Cleópatra, romance de Teófilo Gautier. 1925. 8.º de 76 págs. Annie, romance de M. Maryan. Minha mulher não quer filhos, romance de Clement Vautel. Um divórcio, romance de Paul Bourget. A alegria do capitão Ribot, romance de Palacio Valdeí. Romances de Henri Ardel: Fogo mal extinto. Porto, 1925. 306 págs. Azul e branco. Idem. 250 págs. A sombra do passado. Idem. 317 págs. Uma aventura imprudente. O tio Renato. A hora decisiva. Tem colaborado: no Moncorvense; Jornal de Viana; Comércio do Lima; Vida Nova, que dirigiu durante alguns meses; Pontos e Vírgulas; Distrito de Viana; A Pátria, de Braga; A Voz Pública; Jornal de Notícias, do Porto; Argus, revista mensal que fundou e dirigiu; Monitor; Luta de Bouças; Leça: Lidador, de que foi director; Pátria, do Porto; Debate; Época; Ilustração Moderna; Revista de las Españas, de Madrid; Colónia Portuguesa, de S. Paulo, e O Primeiro de Janeiro. Tem usado os pseudónimos de «Abimont», «Mercúrio», «Hamilton», «Marcial Jordão» e «Gil Barbeira». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Campos Monteiro é o porta-estandarte das boas letras portuguesas, o detentor do glorioso lábaro que há três quartos de século vem rebrilhando em mãos trasmontanas: Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro e ele. MONTEIRO (Padre António Martins) e Manuel Vitorino Raposo – Há deles, impressa, a tese seguinte: Ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo Primaz em testemunho de agradecimento presidindo seu mestre Fr. António Joaquim Silva religioso da Terceira Ordem oferecem as presentes conclusões...... estudantes que frequentam a Aula de Teologia Dogmática estabelecida pelo mesmo Senhor no convento de S. Francisco da vila do Mogadouro os quais pretendem defender no mesmo convento aos... do mês... do presente ano. Lisboa na Of. de Simão Tadeu Ferreira, 1794. 8.º de 4 págs. inumeradas. MONTEIRO (D. Guilhermina Flora Lopes) – Doutora em medicina, natural de Castanheiro do Norte, concelho de Carrazeda de Ansiães; filha de Manuel Maria Lopes Monteiro e de D. Flora Amélia de Mourão Frias Sampaio e Melo, pais de vários filhos memorados nestas páginas. Nasceu pelos anos de 1890. Escreveu: Infecções tifóides e paratifóides em Portugal. São suas irmãs: D. Mercedes de Jesus Lopes Monteiro, formada em matemática, com alta distinção, e com o curso da Escola Normal Superior de Coimbra (é professora do liceu feminino do Porto); e D. Amélia dos Prazeres Lopes Monteiro, formada também em matemática, com o curso da referida Escola Normal; é professora do liceu feminino de Coimbra. MONTEIRO (João) – Mestre-entalhador, morador que foi em Sesulfe. Em 1689 fez o retábulo da capela-mor da igreja da Paradinha (495). MONTEIRO (João Baptista Lopes) – Doutor em medicina, natural de Castanheiro do Norte, concelho de Carrazeda de Ansiães; filho de Manuel Maria Lopes Monteiro e de D. Flora Amélia de Mourão Frias Sampaio e Melo; nasceu a 5 de Maio de 1892. Concluiu o curso de medicina no Porto em 1916. Foi governador civil substituto de Bragança. O pai foi director das obras públicas em Bragança, Aveiro e Viseu e, por último, chefe da 1.ª divisão hidráulica de Portugal. Escreveu: Breves considerações sobre a gastro-enterostomia – Dissertação inaugural apresentada à Faculdade de Medicina do Porto. Porto, 1917. 8.º de 69 págs. (495) Ver tomo IV, p. 557, destas Memórias.

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MONTEIRO (Manuel de Sousa) – Natural do Mogadouro. Escreveu: Obras poéticas de... natural da vila do Mogadouro. Lx.ª, 1774. 8.º de portada gravada e 440-V págs.; manuscrito inédito. Dois tomos; o segundo é que tem as páginas acima indicadas. Não vimos o primeiro. MONTEIRO (Avelino Augusto da Silva) – Nasceu na cidade de Guimarães a 20 de Dezembro de 1869. Concluídos os estudos liceais e os preparatórios da Universidade, matriculou-se na Escola Naval de Lisboa no ano lectivo de 1887-1888, assentando praça como aspirante de marinha, sendo promovido a guarda-marinha em Julho de 1891, a 2.º tenente em Maio de 1893 e a 1.º em Agosto de 1898 e neste mesmo ano foi nomeado instrutor e seguidamente 2.º comandante da corveta-escola Estefânia, ao tempo surta no Porto. Foi governador civil do distrito de Bragança e deputado nas legislaturas de 1900, 1901, 1904 e 1906, respectivamente pelos círculos de Santo Tirso, Porto (bairro ocidental), Lamego e Lisboa (bairro oriental). Em 1904 foi nomeado observador-chefe de serviço do Observatório Meteorológico e Magnético do Infante D. Luís. É condecorado com a medalha de comportamento exemplar e com o grau de cavaleiro da ordem de Avis e com o oficialato da ordem de S. Tiago. MONTES (Padre Luís Baptista) – Em 1856 era abade de Vila Cova de Carros, concelho de Paredes, diocese do Porto, e por decreto de 15 de Setembro desse ano foi-lhe permitida a permuta do seu benefício com o abade de S. João do Campo de Gestaçô, na mesma diocese (496). Parece-nos que esta permuta se não efectuou, porque o decreto de 21 de Março de 1867, que o apresentou num canonicato da Sé de Bragança, do qual tomou posse a 25 de Maio de 1867, ainda o menciona como pároco colado de Vila Cova de Carros (497). Em Abril de 1860 havia sido nomeado professor temporário (por dois anos) para a cadeira de latim de Estarreja (498). Trocou depois o canonicato de Bragança com José António Franco, abade de Vinhais (499) e depois esta abadia com Abílio Augusto da Silva Buíça, abade de Bouçoães, diocese de Bragança, permutas autorizadas pelo decreto de 25 de Janeiro de 1872, e por outro de 18 de Junho do mesmo

(496) Diário do Governo de 27 de Setembro de 1856. (497) Ibidem de 26 de Março de 1867. (498) Ibidem de 14 de Abril de 1860. (499) Ver o artigo «Franco (José António)», a p. 196 deste tomo. O padre José A. Franco tomou conta do canonicato a 20 de Agosto de 1871.

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ano foi apresentado por concurso documental na igreja de Sanhoane, diocese do Porto (500). O reverendo Baptista Montes faleceu a 3 de Outubro de 1890 sendo abade de Guilhufe, concelho de Penafiel, para onde fora tratar-se, com quarenta anos de idade, pouco mais ou menos. Escreveu: Apontamentos para a história da diocese de Bragança – «Actos contraditórios e escandalosos do governador do bispado de Bragança, Sebastião Luís Martins». Porto, tip. de O Primeiro de Janeiro, 1870. 8.º grande (francês) de 146 págs. Apêndice aos Apontamentos para a história da diocese de Bragança publicados em 1870. Porto, na mesma tip., 1871. 4.º peq. de 42 págs. MORAIS (António Caetano da Silva Sarmento) – Há dele na casa Campilho, de Vinhais (501), um véu de cálix de cetim branco, com uma tese de direito canónico dedicada à Virgem Mãe de Deus da capela de Vinhais, impressa em Coimbra, na Arquitipografia Académico-Régia em 1767. MORAIS (Padre António de Sá) – Natural de Mirandela; filho de Francisco Morais do Campo e de sua segunda mulher D. Serafina de Sá. Foi reitor da igreja de Mirandela, por carta régia de 16 de Maio de 1689; daqui transitou para a reitoria de Marialva, e por fim veio para a abadia de Sonim, onde ainda vivia em 1734, sendo já muito velho. Escreveu uma poesia laudatória ao doutor Francisco da Fonseca Henriques, a qual vem publicada nos preliminares da Pleuricologia deste médico. MORAIS (António Trigo de) – Doutor em engenharia civil, natural de Samões, concelho de Vila Flor; filho de Edmundo Augusto de Morais. Concluiu o curso em 1921. Escreveu: Hidráulica agrícola acerca de um projecto de irrigação e drenagem de 17500 hectares de terreno, mandado organizar pela Companhia Colonial do Buzi, nas suas concessões. Moçambique, 1925. 42 págs. e muitos desenhos, mapas, gravuras, plantas, etc. MORAIS (Arnaldo de) – Doutor em medicina, lente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, cadeira de obstetrícia. Nasceu naquela cidade brasileira e foi baptizado em Vila Flor, terra de seus pais.

(500) Diário de Lisboa de 2 de Julho de 1872. (501) Ver tomo VI, p. 617, destas Memórias.

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Escreveu: Fisiologia patológica da infecção puerperal. Para a sua biografia, ver Revista do lar e da mulher – Vida doméstica, ano V, nº 78, Julho de 1924, sob o título «A conquista pelo mérito». MORAIS (Cristiano de) – Doutor, de Vila Flor. Escreveu: Problemas sexuais em Portugal – Dissertação para concurso. Porto, 1921. 8.º de 136 págs. MORAIS (Duarte Rodrigues de) – Natural de Tuizelo. Foi o fundador do hospital de Vinhais (502). MORAIS (D. Francisca de) – Corajosa e nobre fidalga, que muito se distinguiu durante o cerco de Vinhais em 1666 pelo general Pantoja (503). MORAIS (Francisco de) – Natural de Bragança. Foi comendador da ordem de Cristo e tesoureiro da casa real, reinando D. João III. O autor da Biblioteca Lusitana (Diogo Barbosa Machado), que no 2.º tomo dá este autor como nascido em Bragança, veio no 4º a dá-lo como natural de Lisboa, sem apresentar os fundamentos que para isso teve; portanto, o seu testemunho em nada invalida a opinião geral que o faz oriundo da nossa cidade, opinião que Inocêncio Francisco da Silva tem como mais segura. E embora nascesse em Lisboa, todos concordam que seus pais eram de Bragança, da nobre família dos Morais. Era filho de Sebastião de Morais, tesoureiro-mor do reino, e de D. Juliana de Morais. Em 1540 acompanhou a França o embaixador D. Francisco de Noronha, 2.º conde de Linhares. Morreu violentamente em idade provecta às portas do Rossio de Évora em 1572, como informa a citada Biblioteca Lusitana, sem particularizar as circunstâncias deste lamentável acontecimento. As poucas notícias que dele nos restam podem ver-se resumidas no princípio do tomo I da edição do Palmeirim de 1786 ou no Catálogo dos Autores, que antecede o Dicionário Português da Academia, pág. CLVII. Escreveu: Crónica de Palmeirim de Inglaterra. Primeira e segunda partes. Évora, 1567. Fol. gótico. Há quem diga que em 1564 se fizera desta obra uma edição com a declaração de que era a terceira. Se assim é, a dita edição de 1567 é a quarta. Há também quem conteste a paternidade desta obra a Francisco de Morais, baseados na Vida de D. Quixote, de Cervantes, liv. I, cap. VI,

(502) Ver tomo I, p. 102, destas Memórias. (503) Ibidem, p. 105 a 111.

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atribuindo-a a el-rei D. João II, o que não é aceitável. É certo que a Crónica de Palmeirim não é originariamente portuguesa, mas Morais, tomando conta do assunto sobre o qual já se escreveram livros anteriores em castelhano e francês, introduziu-lhe tais elementos de sua própria casa, com tanta elegância e propriedade, que bem se pode dar como original. Fez-se nova edição deste notável livro em 1532, fólio, e em 1786 apareceu outra com estes dizeres: Crónica de Palmeirim de Inglaterra – Primeira e segunda partes, por Francisco de Morais, a que se ajuntam as mais obras do mesmo autor. Lisboa, 1786. 4.º; três tomos. Sobre esta edição fez-se recentemente outra. Escreveu mais: Diálogos, com um desengano de amor, sobre certos amores que teve em França com uma dama francesa da rainha D. Leonor. Évora, 1624. 8.º Diogo Barbosa Machado, no livro acima citado, ainda lhe atribui mais a seguinte obra escrita em castelhano, no que se enganou, como diz Inocêncio F. da Silva: De los valorosos y esforçados hechos en armas de Primaleon, hijo el emperador Palmeirim, y de su hermano Polendos. A 3.ª, 4.ª, 5.ª e 6.ª partes do Palmeirim são de outros autores, respectivamente Domingos Fernandes e Baltasar Gonçalves Lobato. Em 1807 e 1829 foi traduzido, respectivamente, para inglês e francês este celebérrimo romance português (504). A propósito da Crónica de Palmeirim, diz Baptista de Castro, chamando-lhe celebrado e transcrevendo a opinião do padre Teles na sua História de Etiópia, livro I, cap. I: «que o autor com a amenidade do seu florido ingenho e com a suavidade do seu elegante estylo, só pretendeu recrear os leitores com fabulas doutas e com ingenhosas ficções» (505). Depois, Inocêncio F. da Silva, no «Suplemento» ao Dicionário tomo IX, mudou de opinião relativamente à originalidade portuguesa da Crónica de Palmeirim, em vista do opúsculo de Odárico Mendes – Opúsculo acerca do Palmeirim de Inglaterra e seu autor, no qual se prova haver sido a referida obra composta originalmente em português, onde a originalidade portuguesa desta obra é sustentada com incontestáveis razões convincentes. Também o notável filólogo Ferdinand Deniz, no artigo «Francisco de Morais» da Nouvelle biographie général, tomo XXXVI, impresso em 1861, sustenta a mesma opinião baseado em razões poderosas, indo assim de acordo com as opiniões de Southey e Monglave. É verdade que o crítico

(504) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico. (505) CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, artigo «Escritores», tomo II, p. 339.

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espanhol D. Pascual de Gayangos, em dois artigos que publicou em 1852 nos n.os 2 e 3 da Revista española de Madrid, pretendeu refutar a opinião de Odárico Mendes, mas o literato também espanhol D. Nicolau Diaz de Berjumera, em um extenso trabalho oferecido à Academia Real das Ciências de Lisboa, confutou a menos judiciosa opinião do seu conterrâneo. Por último, apresenta uma prova quase decisiva: é a carta dum contemporâneo, da qual se conclui que nesse tempo passava, sem dúvidas algumas, como de Francisco de Morais originariamente a Crónica de Palmeirim. À vista disto não restarão dúvidas, acabando de pulverizar algumas que ainda havia o estudo de Teófilo Braga nas suas Questões de literatura e artes portuguesas, de págs. 248 a 258, intitulado «Reivindicação do Palmeirim de Inglaterra» (506). MORAIS (Francisco Botelho de) – Natural da vila de Moncorvo e seu capitão-mor e definidor-mor. Era filho de Paulo Botelho de Morais, cavaleiro da ordem de Cristo, e de D. Isabel Coelho. Instituiu um morgado com obrigação de usarem o apelido de «Botelhos» os seus administradores. Casou com D. Brites de Vasconcelos Saraiva, filha de António do Amaral, capitão-mor da vila de Freixo de Numão, e de D. Brites de Vasconcelos Saraiva. Escreveu em 1689 o seguinte: Origem e progressos da grande, e antiga casa de Vila Flor, e notícia das linhas genealógicas da sua ascendência, e descendência, ramos colaterais, e de suas excelências, e prerrogativas, dividido em cinco partes, etc. Manuscrito in-fólio. Nobiliário de Famílias nobres de Portugal, e particularmente da província de Trás-os-Montes, em 1685. Idem, idem. Nobiliário que contém árvores de costado das casas ilustres de Portugal, e dos príncipes da Europa, em 1687. Idem, idem (507). MORAIS (Francisco Carneiro de) – Capitão do exército, que muito se distinguiu durante as guerras da aclamação – 1640-1668 (508).

(506) Portugal: Dic. histórico, artigo «Palmeirim», onde vem compendiado tudo o que há sobre o assunto. Ver também CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular, artigo «Palmeirim», que traz um largo e bem documentado estudo deste notável escritor; e FREITAS, Jordão de – Notícia Bibliográfica sobre Francisco Morais o «Palmeirim», 1910. (507) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Botelho de Morais», e Sumário da Biblioteca Lusitana. (508) Ver tomo I, p. 98, destas Memórias.

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MORAIS (Francisco Manuel de) – Nasceu em Soutelo da Gamoeda, freguesia da Carragosa, concelho de Bragança, a 16 de Janeiro de 1856 e faleceu nesta cidade a 13 de Junho de 1898; filho de Domingos António de Morais, natural de Quintela, concelho de Vinhais, e de D. Regina Gonçalves, natural de Soutelo da Gamoeda; sobrinho do padre Francisco Gonçalves, nascido nesta última povoação a 27 de Julho de 1819 e falecido a 25 de Março de 1906, e irmão do capelão militar João Evangelista de Morais, nascido em Soutelo da Gamoeda a 20 de Dezembro de 1851, ainda felizmente vivo (Setembro de 1929), e de D. Maria Eugénia de Morais, esposa de António Paulo Gil de Figueiredo Carmona, falecido na quinta da Rica Fé, freguesia de Santa Maria de Bragança, a 7 de Abril de 1881 (509). Ordenou-se de presbítero em 1879, indo depois seguir na Universidade de Coimbra o curso de direito, que concluiu em 1885. Veio a seguir exercer a advocacia em Bragança, onde em breve se tornou notável pela sua muita argúcia, penetração e vastos conhecimentos. Em 7 de Janeiro de 1889 foi nomeado professor de ciências eclesiásticas e filosofia aquinatense no Seminário Diocesano, cadeiras que regia ainda quando faleceu com inexcedível competência, proveito e estima dos seus discípulos, que o adoravam pela sua extrema bondade e integridade de carácter (510). Correm dele impressos uma longa série de artigos publicados em O Nordeste de 11 de Fevereiro de 1896 e seguintes, debaixo da epígrafe «Uma lamentável crítica», que, conquanto não venham assinados, é bem sabido que Francisco de Morais foi o seu autor. São cheios de fina crítica filosófica e muita erudição, motivados por umas observações que o distinto escritor Fernando de Sousa, tenente-coronel de engenharia, fez no Correio Nacional a propósito do discurso do doutor António Cândido em homenagem ao grande poeta João de Deus. No folheto intitulado Liceu Nacional de Bragança – Relatório do ano lectivo de 1896 a 1897, precedido do discurso de abertura solene das aulas (Bragança, tip. Brigantina, Praça da Sé, 1897. 8.º de 16 págs. com dois mapas), é de Francisco de Morais esse discurso, que alcança até pág. 11. Era então reitor do liceu. Também no Norte Transmontano de 4 de Abril e seguintes (1895) foi publicada a sua «Oração de Sapiência», discurso pronunciado na abertura solene das aulas do Seminário de Bragança no princípio desse ano lectivo. A propósito da sua morte lemos no Boletim Diocesano de Bragança, (509) Ver tomo VI, p. 128, destas Memórias. (510) Boletim Diocesano de Bragança, n.° 6, Junho de 1898, p. 96, e O Nordeste de 15 e 22 de Junho do mesmo ano e 14 de Junho de 1899.

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1898, nº 6: «É com profunda magua que o Boletim Diocesano regista o fallecimento do M. Rev. Dr. Francisco Manuel de Morais. A sua morte representa uma perda sob muitos pontos de vista, que não só para os seus amigos. Foi sacerdote digno e virtuoso, e no Seminário, onde ensinou sciencias ecclesiasticas e philosophia aquinatense, revelou grande engenho e talento, que viriam a fazer d’elle um professor eximio se a sua vida se prolongasse. Foi tambem advogado distincto muito argucioso, de cujos trabalhos teve de retirar-se por causa da sua doença; e ultimamente era reitor do Liceu Nacional d’esta cidade. Caracter bondoso, caritativo e sobretudo um amigo dedicado e sempre prestadio. Deixou por tudo isto saudosa memória» (511). MORAIS (Gil de) – Morador em Vinhais; «bedor» das obras de fortificação daquela vila pelos anos de 1508, constantes de levantar muros caídos, fazer cubelos e barreiras (512). MORAIS (D. Frei Gonçalo de) – Bispo do Porto. Nasceu em Vila Franca de Lampazes, concelho de Bragança, a 9 de Janeiro de 1543 e faleceu a 20 de Outubro de 1617 pelas doze horas do dia. Era filho de António Borges de Morais, natural da referida Vila de Lampazes, e de D. Francisca de Morais, natural de Bragança, ambos parentes, pessoas nobres de geração conhecida. Apenas estiveram casados quatro anos, indo depois a viúva, pela morte do marido, residir para Ansiães com seus três filhos; aí aprendeu gramática Gonçalo de Morais, e tendo catorze anos de idade foi receber o hábito de S. Bento no convento de Refojos de Basto a 29 de Dezembro de 1558. Foi mandado pela sua ordem a estudar teologia à Universidade de Coimbra, depois do que exerceu várias prelazias na mesma ordem e na Congregação Geral feita em Tibães em 1585 foi eleito geral, para o que muito cooperou a recomendação de el-rei Filipe II. Ficou assinalado o seu generalato pelas sábias medidas que tomou; mesmo depois de concluído o seu triénio prestou à ordem um relevante serviço: era o caso que se tinha introduzido o abuso de entregar a administração económica dos mosteiros a comandatários que, não lhes prestando serviço algum, os exploravam escandalosamente. Eram umas verdadeiras sanguessugas refasteladas em proventosas sinecuras. Em vão gritavam os frades que muitas vezes passavam fome, enquanto os comandatários impavam de fartos. Gonçalo de Morais foi comissionado pela ordem à corte de Madrid dizer da sua justiça e conseguiu que o rei cedesse da corruptela de apresentar comandatários (511) Ver tomo VI, p. 128, destas Memórias. (512) Ibidem, tomo III, p. 158.

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nos conventos beneditinos, facto de grande importância para o progresso da ordem e que foi grandemente celebrado. Fundou em Santarém o convento beneditino chamado do Milagre em uma ermida que a infanta D. Maria Manuel lhe cedeu, nele foi por alguns anos prior, e depois, sendo bispo, dotou-o com rendas suficientes para prosseguirem as suas obras. A então vila de Santarém, hoje cidade, receava muito da cólera de Filipe II pela notável parte que tomara na aclamação de D. António, Prior do Crato; mas o caridoso padre tanto instou que conseguiu desarmar as iras do sombrio fundador do Escorial, em memória do que a vila espontaneamente forneceu ao seu protector três mil pedras lavradas para a fundação do convento. Vagando o arcebispado de Lisboa pela morte de D. Jorge de Almeida, Filipe II concedeu a Gonçalo de Morais uma pensão de quatrocentos cruzados nas rendas deste arcebispado, que ele desfrutou até ao fim da vida, mesmo quando já era bispo do Porto. Cunha e Florez dizem que a virtude de Frei Gonçalo foi o motor que influiu no régio ânimo para tal generosidade; se assim é, parece-nos que não deve entender-se a patriótica. Terminada a prelazia de Santarém, foi Gonçalo de Morais viver para o convento de Lisboa, de onde foi eleito para bispo do Porto em Janeiro de 1602 e consagrado a 25 de Abril seguinte, tomando posse a 16 de Maio do mesmo ano. Visitou pessoalmente a diocese, assinalando-se pela sua extrema caridade, que muitas vezes o levou a distribuir pelos pobres a cruz peitoral e o anel prelatício à míngua de outros recursos. Mandou fazer de novo a sacristia e a capela-mor da Sé, obra grandiosa que bem mostra a generosidade do seu ânimo, e a pintura do retábulo da mesma incumbiu-a o magnânimo bispo aos artistas mais distintos que no género havia em Portugal. O altar-mor é obra do italiano Valentim, discípulo de Miguel Ângelo, que traçou o desenho. Também mandou vir do estrangeiro a estante do coro e grades da capela-mor em bronze de grande valor e fez construir de jaspe o púlpito, em que a arte excede muito a matéria, diz D. Rodrigo da Cunha. Além destas obras, outras de somenos valor fez na mesma Sé, rasgando friestas para maior divisão de luz e enriquecendo-a de muitos ornatos de prata, ouro e outros guizamentos. Mandou edificar defronte do aljube, ou prisão eclesiástica, uma capela dedicada a S. Gregório para que os presos pudessem ouvir missa, e para a sua fábrica bem como para a da capela-mor da Sé comprou uma renda de 120$000 réis de juro, de que constituiu administrador o cabido. Acabou a capela de Nossa Senhora da Saúde, começada pelo bispo D. Frei Marcos no claustro da Sé, e em nichos especiais mandou recolher os MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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restos mortais dos bispos seus antecessores, que repousavam em diversos locais daquele templo, colocando-lhe epitáfios indicativos dos nomes de cada um em lâminas de bronze. Estes trabalhos materiais não lhe impediam a suma vigilância espiritual que sempre lhe mereceu a diocese. À hora da morte mandou distribuir pelos pobres tudo quanto tinha, sem reservar coisa alguma (513). Escreveu: Dois catálogos dos bispos do Porto, obra que forneceu a D. Rodrigo da Cunha muitos subsídios para a sua História (514). O Portugal – Dicionário histórico, artigo «Morais», diz que este bispo deixou escrito um tratado em latim e vinte e cinco sermões pregados até ao ano de 1610, quando era bispo. MORAIS (Guilhermino Augusto de) – Doutor formado em medicina. Nasceu em Samões a 2 de Janeiro de 1860 e faleceu em Vila Flor a 11 de Julho de 1928; filho de Narciso José de Morais e de D. Maria Cândida Machado. Concluiu o curso em Lisboa em 1888. Foi médico municipal aposentado de Vila Flor. Escreveu: Gramática francesa dos principiantes. Porto (era ainda estudante). Novas aplicações terapêuticas da antipirina baseadas na acção analgésica hemostática e germicida. Lisboa, 1888. 19 págs. MORAIS (Inácio de) – Natural de Bragança, mestre dos infantes D. Duarte, filho de D. João III, e D. António, filho do infante D. Luís, e de latim na Universidade de Coimbra, para onde veio de Paris em 1546. Era grão-mestre em artes e formado em jurisprudência cesárea. Escreveu: Ciceronis Proemium Rhet. 4.º Orat. ad Reg. Jan. III. 4.º Epithal. Seren. Princ. Joan et Joannœ. 4.º Panegyr. D. Ant. Princ. filio. Conimbr. 1553. 4.º In Interit. Princip. Joan. Elegiœ. Conimbricœ Encomium. Conimbr. 1554. 4.º In interitum Princip. Ludovici. Elegia, etc. Conimb. 1555. 4.º Orat. funebr, Seren. Reg. Joan. Conimbr. 1557. 4.º (513) CUNHA, Rodrigo da – Catálogo e história dos Bispos do Porto, II parte, cap. XLI, p. 349; FLOREZ, Henrique – España Sagrada, tomo XXI, p. 204, e tomo VI, p. 454, destas Memórias. (514) CRUZ, João Vieira Neves Castro da, Padre – A Palavra de 13 de Maio de 1902; NOVAIS, Manuel Pereira de – Anacrisis historial, vol. IV, p. 31-58, onde se lê uma larguíssima biografia deste bispo do Porto; SÃO TOMÁS, Leão de, Frei – Beneditina Lusitana, 1644, p. 394, e Ilustração Trasmontana, 1910, p. 127.

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In quodam dialecticos, etc. Conimbr. 1562. 4.º (515). Era filho de Pedro Álvares de Morais. A carta de D. João III que o nomeia lente de gramática é de 21 de Janeiro de 1541 e a de nomeação de lente de poesia latina tem a data de 30 de Setembro de 1546. Quando em 1550 D. João III e sua mulher D. Catarina visitaram a Universidade, foi Inácio de Morais que elaborou e recitou a oração latina da recepção. Era casado com D. Ana Mendes (516). MORAIS (D. Isabel de) – Heroína do cerco de Vinhais em 1669 (517). MORAIS (João Eduardo Lopes de) – Reitor resignatário da Fonte Longa, concelho de Carrazeda de Ansiães. Nasceu a 5 de Maio de 1830 e faleceu na sua casa de Codeçais, freguesia dos Pereiros, do citado concelho de Carrazeda, a 15 de Dezembro de 1894. Era filho de José Zeferino e de Maria José; neto paterno de João Lopes e de Josefa de Morais. Reconstruiu com grande força de vontade, não obstante experimentar grandes dificuldades, a igreja matriz de Fonte Longa, onde foi pároco colado durante vinte e dois anos; resignando depois esta igreja, viveu ainda oito anos nos Codeçais, onde deixou fama de muito virtuoso e penitente. Escreveu: Paréneses paroquiais para todos os domingos do ano, por..., etc., pároco de Fonte Longa. Braga, Tip. Lusitana, 1870. 2 vols., 8.º pequeno de 223-317 págs. Norma do bom Padre ou Exercícios práticos dos deveres sacerdotais prescritos pela Escritura Sagrada, Santos Padres e Concílios. Porto, Tip. de A Palavra, 1890. 8.º peq. de 367 págs. Guia do Cristão (folheto). Deste não vimos exemplar algum; mencionamo-lo apenas por o ver apontado na Norma do bom Padre. MORAIS (João Fernandes de) – Senhor de Vinhais no século XIV (518). MORAIS (João Pinto de) – Abade de Ansiães, hoje concelho de Carrazeda de Ansiães, autor das Memórias de Ansiães, de colaboração com António de Sousa Pinto (519).

(515) Sumário da Biblioteca Lusitana. (516) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Morais». (517) Ver tomo I, p. 105, destas Memórias. (518) Ver tomo I, p. 102, destas Memórias. (519) Ver este nome e o artigo Borges (Manuel de Morais Magalhães) p. 53 deste tomo, e o tomo VI, p. 108, destas Memórias.

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MORAIS (João Sarmento de) – Do Vimioso, que obteve em 1738 licença para oratório particular nas suas casas de moradia (520). MORAIS (João Tomé de) – Mestre-de-obras, que arrematou em 1788 a obra de carpintaria da capela-mor e sacristia da igreja matriz da Paradinha Nova, concelho de Bragança, por 120$000 réis. MORAIS (Frei José de) – Dom abade geral da Congregação de S. Bernardo, esmoler de sua majestade e do seu conselho e comissário-geral da bula da cruzada no Rio de Janeiro. Nasceu a 15 de Junho de 1741 e faleceu no Rio de Janeiro em 1817. Era tio de José Doutel de Almeida, lente de teologia (ver o respectivo artigo), segundo se diz no seu retrato a óleo existente em Moncorvo, na casa de D. Maria Luísa de Vasconcelos Doutel de Figueiredo Sarmento. MORAIS (José Álvares de) – Há dele na igreja de Vila Chã de Braciosa, concelho de Miranda do Douro, uma tese filosófica em seda branca, destinada a véu de cálix, impressa em dois rectângulos, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, sem mais especificação, nem indicação de tipografia nem ano de impressão. MORAIS (Padre José de Andrade de) – Formado em cânones pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Miranda do Douro a 17 de Abril de 1701, ignorando-se a data do seu falecimento. Era filho de Francisco Fernandes de Andrade e de D. Ana Fernandes. Passou ao Brasil e na vila de Ribeirão do Carmo, chamada hoje Mariana, exerceu, com geral aceitação, os cargos de patrono de causas forenses e pregador evangélico. Foi arcipreste provisor em Miranda. Escreveu: Oração histórico-sagrada da Sacrossanta Paixão de Jesus Cristo – Pregada na matriz das Minas de Ouro do ano de 1738. Lisboa, 1741. Oração fúnebre em as exéquias do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Fr. António de Guadalupe, quarto bispo do Rio de Janeiro – Celebradas na igreja matriz da vila do Carmo em as Minas. Lisboa, 1743. 4.º Sermão ascético-apologético e panegírico – Pregado na festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da vila de Ribeirão do Carmo das Minas do Ouro. Lisboa, 1744. 4.º Sermão gratulatório pela felicíssima e desejada saúde, que por benefício da

(520) Museu Regional de Bragança, maço Capelas.

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Senhora das Necessidades alcançou el-rei D. João V, Nosso Senhor – Recitado na igreja matriz da vila do Carmo das Minas do Ouro. Lisboa, 1744. 4.º Sermão de acção de graças pela continuação das melhoras da saúde de el-rei D. João V, Nosso Senhor, e pela exaltação da vila do Carmo das Minas em a cidade Mariana na festa do Anjo Custódio do Reino, a 18 de Julho de 1744. Lisboa, 1746. 4.º (521). O Sumário da Biblioteca Lusitana aponta mais deste autor: Sermão de Nossa Senhora dos Mártires (Lisboa, 1751, 4.º), e diz que a primeira obra das atrás citadas – a Oração da Paixão – foi impressa em 1751. MORAIS (Manuel de) – Jesuíta, natural de Bragança. Faleceu em 1 Julho de 1553. Recebeu o hábito no noviciado de Coimbra em 1551. Escreveu: Duas cartas sobre a missão de Goa e Ceilão (522). No Oriente Conquistado, de Francisco de Sousa, vem publicada uma carta em que Manuel de Morais descreve a sua viagem de Portugal a Goa. Foram importantes os trabalhos que prestou nas missões de Ceilão (523). MORAIS (Manuel Amílcar Fernandes de) – Nasceu em Mirandela a 26 de Dezembro de 1902; filho de Justino Lopes de Morais e de D. Magna Fernandes de Morais. Escreveu: Legendas da tarde (versos). Porto, 1925. 8.º pequeno de 96 págs. MORAIS (Manuel António de) – Natural de Moncorvo, onde nasceu pelos anos de 1802; filho de Luís António de Morais. Foi sargento-ajudante do batalhão de voluntários de D. Maria II. Por decreto de 29 de Novembro de 1832 foi nomeado cavaleiro da ordem da Torre e Espada do valor, lealdade e mérito, em «attenção aos feitos singulares por elle praticados no memoravel e glorioso dia 29 de Setembro de 1832 na batalha d’este dia». A epígrafe do registo da baixa diz: «Registo de uma baixa que do Real serviço obteve Manuel Antonio de Moraes Navarro escrivão de direito d’este julgado de Bragança do posto de sargento ajudante do Regimento de Voluntarios da Rainha a Sr.ª D. Maria segunda». E segue: «Em consequencia das determinações de Sua Magestade Imperial o Duque de Bragança, Commandante em chefe do Exercito... tem baixa e escusa do serviço o praça... Manuel Antonio de Moraes Navarro, Sargento (521) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Andrade de Morais». (522) Sumário da Biblioteca Lusitana. (523) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Morais».

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Ajudante, filho de Luiz Antonio de Morais, natural da Torre de Moncorvo – anos de idade 32 – pollegadas de altura 66 – praça no Regimento em 15 de Maio de 1829 – signaes, cabellos e olhos castanhos – estado cazado – ocupação negociante – observações veio da companhia do deposito – foi ferido gravemente na acção do dia 18 de Agosto de 1833 tendo sido condecorado com a medalha de Torre e Espada e Merito por feitos de valor que praticou na acção de 29 de Setembro de 1832 na defeza das linhas do Porto. Teve parte na acção do dia 11 de Agosto de 1829 na Villa da Praia da ilha Terceira. Fez parte do exercito libertador para Portugal em 1832 em cujo anno teve parte nos seguintes fogos: Reconhecimento de 22 de Julho em Vallongo. Acção de 23 do dito em Ponte Ferreira. Tiroteios nas linhas de defeza do Porto em 25 de Agosto, 8, 9 e 16 de Setembro. Acção de 29 de Setembro nas mesmas linhas. Em 1832 no tiroteio do dia 4 de Março nas linhas de defeza. Acção de 18 de Agosto ao norte do Douro sobre as linhas dos rebeldes. Em 1834 no ataque de 26 de Março em Santo Thirso, dito de 2 de Abril na Lixa, passagem do Tamega em Amarante em 11 do dito, tiroteio no barco do Pocinho em 16 do dito e na memoravel batalha de 16 de Maio de 1834 nas serras d’Asseiceira. Baixas e altas ao hospital – Baixa ao hospital por ferimento de balla de fuzil em 18 de Agosto de 1833 – Alta em 3 de Setembro seguinte. Quartel no Porto em 5 de Agosto de 1834» (524). MORAIS (Manuel José Alves de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Coelhoso, concelho de Bragança, a 2 de Fevereiro de 1845; filho de Álvaro Lino de Morais e de D. Engrácia de Sá Morais, natural de Pinela e aquele de Coelhoso. Concluídos os estudos liceais em Bragança e Braga, matriculou-se na faculdade de direito da Universidade de Coimbra, cujo curso terminou com distinção em 1873, vindo seguidamente exercer a advocacia para Bragança, onde se demorou até 1875, partindo nesse ano para o Porto, demorando-se até 1877; foi ali redactor da Actualidade. Voltou novamente para Bragança, onde esteve até 1885. Em 1886 foi nomeado conservador do registo predial para Macedo de Cavaleiros e transferido em 1888 para Mirandela. Em 1889 obteve a nomeação de professor da Escola Industrial da Figueira da Foz, e desta transferido em 1891 para a Escola Industrial (524) Registado no Livro de registo da câmara de Bragança, correspondente ao ano de 1837, fol. 47 v. e seguinte.

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Infante D. Henrique do Porto, onde se conserva. Além da colaboração literária e científica na Actualidade, Discussão, Século, Onze de Janeiro, Voz Pública, Palavra, etc., tem escrito: Morte à morte – Estudo sobre educação popular. Coimbra, 1869, Imprensa da Universidade. 8.º A guerra hispano-americana e a Península. Porto, Imprensa Comercial, 1898. 8.º peq. de XV-287 págs. Nova geografia geral (pequena geografia) – Sistematizada e desenvolvida conforme os programas mais modernos do ensino desta disciplina. Porto, Manuel Alves de Oliveira & C.ª Editores, 1904. 8.º peq. de IX-544 págs. Recurso de revista – Crime do regedor Domingos Traga, da freguesia de Nogueira, comarca de Chaves, condenado por abuso de autoridade por ter prendido num ajuntamento conflituoso o cidadão Eduardo Augusto Lobo, da mesma freguesia. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1913. 8.º de 15 págs. Apelação cível – Contraminuta à acção turbativa por parte dos apelados Luís Alves Pires Inácio e mulher contra Eduardo Augusto Leal e mulher, de Nogueira, comarca de Chaves. Porto, 1915. 8.º de 12 págs. MORAIS (Maria Pires de) – Natural de Bragança. O Hagiológio Lusitano celebra o passamento desta senhora aos 12 de Fevereiro, pelo meado do século XVI. Pertencia à ilustre linhagem dos Morais de Bragança. Foi duas vezes a Roma a pé de visita aos sagrados lugares, tornando-se notável pelas esmolas que distribuiu; voltando da segunda vez, com autorização do bispo de Miranda dotou com seus bens a igreja de S. João da cidade de Bragança, a fim de ser erigida em abadia paroquial, para evitar o incómodo que os moradores tinham em recorrer à matriz de Santa Maria. Entre os bens doados entrou a quinta de Vale de Lamas, hoje anexa da freguesia de Baçal, de que era senhora. Foi sepultada honorificamente do lado de fora da igreja de S. João, sendo passados oitenta anos trasladados os seus restos para a capela-mor da referida igreja (525). MORAIS (Miguel Ferreira) – Capitão do exército, que se distinguiu em 1664 nas campanhas da guerra da sucessão (526).

(525) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano referente ao dia 12 de Fevereiro. Ver tomo II, p. 278, destas Memórias. (526) Ver tomo I, p. 98, destas Memórias.

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MORAIS (Paulo Botelho de) – Poeta, natural de Moncorvo, onde nasceu a 5 de Abril de 1677. Filho de Francisco Botelho de Morais, capitão-mor da dita vila, e de D. Brites de Vasconcelos Saraiva. Foi um dos mais celebrados membros da Academia dos Unidos, como poeta e como orador. Escreveu o seguinte, que ficou manuscrito: História da ilustríssima e antiquíssima família dos Marqueses de Távora, Senhores do Mogadouro, dividida em duas partes; «Família dos Botelhos de Morais com a ascendência por todos os lados». Escrita em 1725; in-fólio. Árvores dos costados das pessoas nobres da vila da Torre de Moncorvo e seus contornos, com noticiosas adições aos quartos avós. 1730. Genealogia dos Matos (compilação), 1730. Forma, com outros, o códice nº 285 da «Colecção Pombalina» da Biblioteca Nacional de Lisboa (527). MORAIS (Padre Paulo Miguel Rodrigues de) – De Vila Chã de Braciosa, cónego da Sé de Bragança e governador do bispado, que se distinguiu pelos bons serviços prestados durante a guerra peninsular – 1808-1815 (528). MORAIS (Rodrigo de) – De Tuizelo, por alcunha o Indiano, pelos assinalados serviços que prestou na Índia, avô de Estêvão de Morais Sarmento, célebre governador de Vinhais, que defendeu valentemente contra o cerco de Pantoja em 1666 (529). M ORAIS (Sebastião de) – Mestre-de-obras, que em 1789 arrematou por 160$000 réis a obra de pedreiro da igreja de Paredes, concelho de Bragança (530). MORAIS (Padre Sebastião Rodrigues de) – Há dele, na igreja de Valverde, anexa de Pinela, concelho de Bragança, uma tese defendida no seu quinto ano de direito canónico, impressa em véu de seda, de cálix, cor branca, numa só plana, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Conimbricæ: Superiorum Gratia Apud Antonium Simioens Universit. Typog. Anno Domini 1716.

(527) Sumário da Biblioteca Lusitana; Portugal: Dicionário histórico, artigo «Botelho de Morais (Paulo)», e História genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo I, p. CLXVI. Da História dos Marqueses de Távora ainda existia em 1913 um exemplar em Moncorvo, em poder dos descendentes do autor, que era irmão de Francisco Botelho de Morais e Vasconcelos, de quem falaremos no lugar competente. (528) Ver tomo I, p. 130, 139, 145 e 157, e tomo VI, p. 654, destas Memórias. (529) Ver tomo I, p. 104, destas Memórias. (530) Ibidem, tomo IV, p. 203.

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MORAIS

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MORGADO

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MORAIS DE ABREU E SARMENTO (João José Pereira Vaz de) – Tenente de infantaria, actual secretário (Setembro de 1929) do distrito de recrutamento e reserva de Bragança e representante das famílias Abreu Sarmento, de que falámos no tomo VI, pág. 29, destas Memórias. São tantas as informações que nos conseguiu para este volume, que não podemos furtar-nos a confessar-lhe por esta forma o nosso reconhecimento. Nasceu em Vale Benfeito, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 23 de Março de 1891 e casou a 6 de Janeiro de 1916 com D. Isolina Augusta Pereira dos Santos, de Castanheiro do Norte, concelho de Carrazeda de Ansiães, nascida a 7 de Outubro de 1892. Há deste matrimónio os seguintes filhos: Alfredo, João Manuel, Zélia Maria, Fernando José e Adriano Pereira Vaz de Morais de Abreu Sarmento. Pais: Bernardino César de Morais de Abreu e Sarmento, que nasceu em Vale Benfeito a 16 de Março de 1846 e aí faleceu a 2 de Janeiro de 1920, tendo casado com D. Maria das Dores Álvares Pereira Vaz de Magalhães, nascida em Alvações de Tanha (Régua) a 7 de Agosto de 1846. Além do nosso biografado, tiveram mais uma filha de nome D. Maria Zélia Vaz Morais de Abreu Pereira, nascida a 31 de Janeiro de 1886 e casada com Carlos Alberto Pereira de Oliveira. Avós: José Joaquim de Morais Gouveia e D. Maria Cândida Borges de Morais de Abreu Sarmento, de Bragança, filha de José Bernardo Borges de Morais de Abreu e Sarmento, capitão de cavalaria na guerra peninsular, nascido em Vale Benfeito a 24 de Março de 1777, filho de António Manuel de Abreu Sarmento (que também assinou alguns documentos com o nome de António Manuel de Abreu de Faria de Figueiredo Sarmento Doutel), oficial de cavalaria, de Bragança, casado com D. Bernarda Maria Borges de Morais Vergueiro, de Vale Benfeito (531), filha do capitão de ordenanças Félix Borges Vergueiro Pires Duque, senhor de um vínculo de morgadio. MORGADO (Artur Martins) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 28 de Abril de 1876; é irmão do doutor Francisco José Martins Morgado, a seguir mencionado. Escreveu: Subsídios para o estudo da higiene e demografia da cidade de Bragança – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1903. 8.º de 88 págs.

(531) Ver tomo VI, p. 29 e 490, destas Memórias.

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MORGADO

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MÓS DE MONCORVO

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MORGADO (Francisco José Martins) – Tenente-coronel-médico do exército, director de clínica cirúrgica do Hospital Militar do Porto, ex-professor do liceu de Bragança e antigo deputado. Nasceu na Barca de Alva a 5 de Outubro de 1873; filho de José Francisco Martins Morgado, de Caçarelhos, concelho de Vimioso, e de D. Cândida Amélia Cardoso, natural de Escalhão. Fez o curso liceal no Porto e aí concluiu o de médico em 1897, vindo fixar residência a Bragança, onde casou com D. Fortunata Augusta de Sá Vargas. É pai de numerosa prole (532). Escreveu: Os aneurismas e o seu novo tratamento pelo soro gelatinado – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1899. 8.º de 176+2 págs. Assuntos de Higiene Escolar. I – Profilaxia das doenças infecciosas escolares. Conferência realizada na Escola Normal de Bragança em 19 de Junho de 1910. Porto, 1910. 8.º peq. de 31 págs. Um caso clínico (osteo-sarcoma da maxila superior; sua extirpação). Tip. Adriano Rodrigues, Bragança, 1915. 8.º de 29 págs., com quatro fotogravuras. Da linha de fogo às ambulâncias – Estudo sobre o funcionamento dos serviços de saúde da frente, doenças mais frequentes e seu tratamento. Porto, 1917. 8.º peq. de 217 págs. Documentos para a história dumas partilhas entre o Dr. Diogo Albino de Sá Vargas e sua irmã D. Fortunata Augusta de Sá Vargas Morgado. Bragança, Tip. Artística, 1921. 8.º de 72 págs. Segundo livro de documentos para a história dumas partilhas e resposta ao «Desagravo» do Dr. Diogo Albino de Sá Vargas. Mesma tipografia, 1922. 8.º de 50 págs. Os serviços de cirurgia no Hospital Militar do Porto (O que foram ontem, o que são hoje, o que devem ser amanhã). Conferência realizada no Porto em 13-4-928 e em Lisboa no III Congresso de Medicina, em 2-5-928. Porto, Tip. Central (sem ano de impressão). MÓS (Padre António Joaquim de Oliveira) – Doutor em teologia pela Universidade de Coimbra, cónego mestre-escola na Sé de Bragança por decreto de 12 de Março de 1868, governador e vigário capitular do mesmo bispado no seminário, no qual foi professor de ciências eclesiásticas por muitos anos, até que em 1885 se despediu. Nasceu em Bragança a 22 de Janeiro de 1835 e aqui faleceu a 9 de Julho

(532) Ver tomo VI, p. 706, destas Memórias.

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MÓS

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MÓS DE MONCORVO

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MOURA

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de 1897; filho de António José Baptista e de D. Maria Inocência. Os apelidos «Oliveira» e «Mós», que usara, provieram-lhe: este de seu avô paterno e aquele de sua avó materna. Tornou-se notável pela coragem com que resistiu ao governo, que, pela morte do bispo Feijó, sucedida a 7 de Novembro de 1874, pretendia, baseado no contestado direito de insinuação régia, nomear vigário capitular, como nomeou, o doutor formado em teologia José Maria da Cunha, contra a vontade do cabido que elegera Oliveira Mós. O caso foi muito debatido na imprensa, e ainda hoje é memorado quando aparecem casos idênticos. O padre Mós e o seu cabido foram pronunciados por se recusarem a dar posse ao insinuado, mas obtiveram sentença favorável nas instâncias superiores, e o governo, para ultimar a questão, apressou-se em fazer a nomeação do novo bispo (533). O padre Oliveira Mós foi presidente da junta governativa da diocese de Bragança em 1865, depois governador da mesma diocese desde 2 de Março a 31 de Outubro de 1869 e ainda em 1871 (534). MÓS (Francisco Inácio Teixeira) – Natural de Bragança (freguesia da Sé), onde nasceu a 17 de Outubro de 1899. Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1925, tendo estudado preparatórios no liceu de Bragança. É filho de Álvaro de Oliveira Mós, farmacêutico, e de D. Maria do Carmo Teixeira, ambos de Bragança; sobrinho-neto do doutor José Joaquim de Oliveira Mós, cónego da Sé de Bragança, pelo lado paterno, e pelo materno sobrinho dos doutores Raul Manuel Teixeira e Vítor Teixeira, todos memorados nestas páginas. Escreveu: Notas clínicas sobre cinquenta e três casos de raquianestesia em cirurgia obstétrica. (Tese de doutoramento). Coimbra, 1925. 8.º de XVI-52 págs. MÓS DE MONCORVO – Em 1610 autorizou el-rei os moradores da vila de Mós, comarca de Moncorvo, a fazerem as obras e reparos da sua igreja matriz, com os rendimentos dos pastos de entre os pães (535). MOURA (Alberto de) – Doutor pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, cirurgião do exército. Nasceu em Bragança a 15 de Setembro de 1874; filho de Bernardino Augusto Gomes de Moura e de D. Amélia das Graças Esteves de Moura. Estudou preparatórios no liceu de Bragança e concluiu a sua formatura em 1900. (533) Ver o artigo «Franco (José António)» a p. 196 deste tomo. (534) Ver tomo VI, p. 603, destas Memórias. (535) VITERBO, Sousa – Dicionário dos Arquitectos…, tomo III, p. 458.

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MOURA

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Escreveu: Histeria e degenerescência (suas relações). Tese inaugural apresentada e defendida perante a Escola Médico-Cirúrgica do Porto em Julho de 1900. Porto, 1900. 8.º de 104 págs. e uma de «Proposições» (inumerada). Tip. da Real Oficina de S. José. Epílogo duma velha questão. Coimbra, Tip. França Amado, 1908. 8.º de 26 págs. e uma de «Aditamento» e outra de «Nota» (inumeradas). Saiu anónimo. MOURA (Bernardo da Silva) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra, cavaleiro da ordem de Cristo e médico da câmara do infante D. António, irmão de el-rei D. João V. Natural de Moncorvo, onde nasceu a 4 de Julho de 1693. Parece que ainda vivia em 1759. Escreveu: Dissertação médica em defesa da sangria da salvatela direita, oferecida aos professores de medicina. Lisboa, 1735. 4.º Dissertação médica ilustrada, ou sangria da salvatela defendida, dividida em quatro partes. Lisboa, 1735. 4.º de XIV-138 págs., com o nome de Narbredo de Savil, anagrama do seu próprio. O primeiro destes opúsculos foi escrito para refutar a opinião do médico José da Silva Azevedo, expendida num escrito publicado em 1736. Exemplos médicos e reparos cirúrgicos. Lisboa, 1739. 4.º (536). MOURA (D. José Joaquim de Azevedo) – Nasceu em Alfândega da Fé a 18 de Outubro de 1794. Foi deão de Évora e bispo de Viseu por decreto de 20 de Setembro de 1845, sendo confirmado por Gregório XVI a 19 de Janeiro de 1846, sagrado em S. Vicente de Fora (Lisboa) a 29 de Março seguinte, tomando posse por procuração a 19 de Julho e fazendo a sua entrada solene na diocese a 27 do mesmo mês e ano. Em 27 de Fevereiro de 1856 foi transferido para Braga, para onde partiu a 4 de Novembro do ano seguinte, tendo sido confirmado por Pio IX em 17 de Julho seguinte; em 1875, em atenção à sua avançada idade, pediu um coadjutor e, sendo-lhe dado, partiu em 14 de Julho desse ano para a sua casa de Évora, onde faleceu a 27 de Novembro de 1876. Foi ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça por decreto de 21 de Fevereiro de 1848, sendo exonerado por outro de 29 de Março do ano seguinte. O autor da Notícia dos Ministros e Secretários de Estado do Regime Constitucional diz que D. José de Moura foi confirmado arcebispo de Braga a 16

(536) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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MOURA

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MOURATO

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MÚRIAS

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de Junho de 1856 e ministro da Justiça desde 21 de Fevereiro a 29 de Março de 1848, nunca chegando a descerrar os lábios na câmara, o que levou os jornais da oposição daquele tempo a dizerem: «O unico ministro que em nosso entender merecia a demissão era o bispo de Vizeu – nunca fallou e foi decerto por isso que não disse absurdos como os seus collegas» (537). MOURA (Manuel António de) – Pintor. Nasceu em Vila Flor nos meados do século XIX. Frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, salientando-se desde logo em trabalhos de restauração de telas antigas, que lhe granjearam certo nome, posto muito em evidência na restauração do célebre quadro da Misericórdia do Porto, conhecido pelo nome de «Fons Vitæ», que mereceu louvores da crítica judiciosa. Como pintor muito se distinguiu no retrato e nalguns retábulos que executou para as igrejas do Porto, como o do altar-mor da do Carmo, e também na cópia do precioso quadro de Santa Maria de Cortona, na igreja de S. Francisco. Eduardo de Moura e Tomás de Moura, seus filhos, continuaram gloriosamente na arte as tradições de seu pai, que, depois de concluídos os estudos na Escola de Belas-Artes do Porto, os subsidiou em Paris, onde completaram a sua educação, sendo muito para notar a influência da escola flamenga e em especial a de D. Teniers, que se nota nas produções do primeiro (538). MOURATO (Jacob Marques) – Se não é o bispo deste apelido, pois se chamava Diogo Marques Morato ou, melhor, Mourato, como ele assinava, será alguém da sua família. Há no Museu Regional de Bragança um manuscrito intitulado Cursos philosophicus, dedicado ad Beatissimam Virginem sub Invocatione Gratiœ, anno Domini 1691, que parece ser tese de doutoramento. É encadernado em formato 8.º, dois volumes de 432-188 págs. MÚRIAS (Manuel) – Doutor em filologia românica pelo Curso Superior de Letras, jornalista e publicista. É natural de Carrazeda de Ansiães, tendo nascido a 13 de Abril de 1900. Escreveu: O seiscentismo em Portugal. Lisboa, 1923. 8.º peq. de 104 págs. Cultura peninsular no Renascimento. Lisboa. 8.º peq. de 25 págs. A política de África de El-Rei D. Sebastião. A língua portuguesa no Brasil. (537) COLEN, Barbosa – Entre duas Revoluções, 1848-1851, vol. I, p. 97 e 98; Portugal Antigo e Moderno, artigo «Viseu», e Portugal: Dic. histórico. (538) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Moura».

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MÚRIAS

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Tem colaborado na Voz e é director da Nação Portuguesa – Revista de cultura nacionalista [6].

N NASCIMENTO (António Alberto Araújo do) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Natural de Mós, concelho de Moncorvo. Médico municipal em Freixo de Espada à Cinta. Nasceu a 26 de Dezembro de 1843 e faleceu em Mós, sua terra natal (onde fixara residência depois de aposentado como médico municipal de Freixo) a 24 de Junho de 1925. Era filho do doutor Claudino do Nascimento, antigo noviço do convento de Freixo de Espada à Cinta, natural de Mós, e de D. Francisca de Araújo, natural de Freixo. Foi médico municipal da Azambuja e depois de Mação, de onde passou em 1898 para Freixo de Espada à Cinta. O semanário O Maçaense de 4 de Setembro de 1892 consagrou-lhe um número especial acompanhado da sua fotografia e dados biográficos. Escreveu: Algumas palavras sobre higiene alimentar – Tese de doutoramento. Porto, 1880. 59 págs. O doutor Claudino do Nascimento, pai do nosso biografado, foi, como dissemos, noviço no convento dos Congregados de S. Filipe Neri de Freixo de Espada à Cinta, e, pela extinção das ordens religiosas em 1834, auxiliado pelo subsídio de egresso, formou-se em direito, vindo exercer a advocacia em Moncorvo, onde, sendo presidente da câmara municipal, iniciou a construção dos actuais paços do concelho à custa dos materiais do castelo! Deus tenha perdoado este crime ao célebre Doutor Cuco, apodo dos de Mós que ele não desprezava. Faleceu nos fins do século passado na sua quinta do Carvalhoso, limite de Mós, onde foi a enterrar. Informações do abade José Augusto Tavares. NATIVIDADE (João da) – Frade capucho da província de Santo António, guardião do colégio de Coimbra e definidor da sua província, natural de Moncorvo. Faleceu em Lisboa a 23 de Outubro de 1652. Escreveu: Sermão na quarta dominga do advento, na ocasião em que Sua Majestade el-rei D. João o IV se jurou por legítimo rei deste reino. Lisboa, 1641. 4.º de VIII-28 págs. «Tenho este sermão – diz Inocêncio F. da Silva – que alem de ser escripto em boa linguagem, é documento curioso e interessante para a historia do tempo» (539). (539) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Natividade».

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NAVARRO

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NETO

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NAVARRO (Doutor José Antunes Lopes) – Chefe de repartição da Caixa Geral dos Depósitos. Natural de Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta; faleceu em Lisboa, com sessenta anos de idade, vitimado por uma pneumonia, a 10 de Fevereiro de 1908. Representou em cortes, em diversas legislaturas, o distrito de Bragança e também uma vez foi par electivo. NETO (António João Fernandes) – Professor primário em Quirás, concelho de Vinhais. Nasceu em Carrazedo, concelho de Bragança, a 15 de Março de 1896; filho de Francisco Manuel Fernandes Neto e de D. Maria Gracinda Gomes. É casado com D. Clotilde Augusta Loureiro Maldonado, professora de Vilar Seco da Lomba, concelho de Vinhais. Escreveu: A Alma Portuguesa. Bragança, 1920. 38 pág. Tem colaborado no Trás-os-Montes; Professor Primário; Página Escolar; Novidades; Revista Escolar; Jornal Português, do Rio de Janeiro, e Primeiro de Janeiro. Também muitas notícias lhe devemos para as nossas Memórias Arqueológico-Históricas. Nos seus artigos tem usado o pseudónimo de «Vonster». É notável a energia que tem desenvolvido na propaganda regionalista em prol da região de Lomba, concelho de Vinhais. NETO (Padre Francisco Joaquim) – Nasceu em Meirinhos, concelho do Mogadouro, a 27 de Maio de 1887; filho de Paulino Maria Neto, de Castelo Branco, concelho do Mogadouro, e de D. Sofia de Jesus de Morais, de Meirinhos. Fez todos os estudos no Seminário de Bragança onde depois foi professor durante algum tempo, e agora (Outubro de 1929) é pároco do Vimioso e orador sagrado. Escreveu: Sociabilidade natural do homem. Porto, 1914. 8.º pequeno de 138 págs. Tem colaborado no Portugal, Revista Católica e Novidades e fundou o Legionário Trasmontano, que se publicou em Bragança. NETO (Joaquim Maria) – Major de infantaria, subchefe do estado-maior da província de Angola. Nasceu em Miranda do Douro a 21 de Julho de 1884; filho de José Maria Neto e de D. Ana Joaquina Martins. Fez os estudos liceais em Bragança e Coimbra e concluiu o da especialidade em 1907. Tem exercido várias comissões militares em África desde 1910, como ajudante do governador, secretário do governo militar de Luanda, subchefe do estado-maior da província de Angola e em Outubro de 1929 era presidente da Câmara Municipal de Mirandela, com família constituída em Valbom de Mascarenhas, onde casou. Escreveu: MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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NETO

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NEVES

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Noções sobre levantamentos topográficos expeditos. Angola, 1919. 4.º de 129 págs.+3 (inumeradas). Em desagravo – Pela pátria, pela república – A craveira moral de Luís Gonzaga de Morais Teixeira Neves – o doutor Teixeira Neves. Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Mirandela. Bragança, Tip. Académica, 1928. 8.º de 57+2 págs. Assina este livro, como sendo da sua autoria, a comissão administrativa da Câmara Municipal de Mirandela, assim constituída: Joaquim Maria Neto, major de infantaria; Eugénio Guedes de Andrade, conservador do registo predial; João António de Almeida, regente principal da Escola Agrícola Meneses Pimentel; e Olímpio Elísio Cabral e Elói Costa, proprietários. O livro contém uma carga formidável no doutor Teixeira Neves. Ver o respectivo artigo. NETO (José Maria) – Inspector de 1.ª classe do corpo de fiscalização dos impostos. Nasceu em Miranda do Douro a 1 de Março de 1858; filho de Francisco Manuel Neto e de D. Maria Isabel Fernandes Neto. Havendo assentado praça em 8 de Agosto de 1877 e chegado ao posto de 2.º sargento,obteve baixa de serviço em 13 de Agosto de 1885 e nesse mesmo ano entrou no corpo da guarda fiscal, onde obteve as promoções que lhe competiam pelo seu saber, sendo por último, por decreto de 12 de Dezembro de 1895, despachado alferes. Suicidou-se, lançando-se da ponte nova sobre o Sabor, perto de Bragança, a 25 de Fevereiro de 1919. Andava muito doente, com grandes dores de bexiga; ia de Sacoias, onde estava com a filha (professora D. Adília Neto), num carro e chegado à ponte desceu dele e lançou-se ao rio. Escreveu: Rabiscos por.... dedicados a Miranda do Douro. Bragança, 1907. Tip. Ferreira Soeiro. 8.º de 106 págs. e uma de índice e outra de correcções. Compreende prosa e verso e doze fotogravuras representando vistas da cidade de Miranda e costumes mirandeses. Refere muitas particularidades da história de Miranda do Douro. NEVES (José Maria Teixeira) – Nasceu em Jou, concelho de Valpaços (mas criou-se na freguesia de Abreiro, concelho de Mirandela) a 17 de Março de 1858; filho de José Teixeira Neves e de D. Ana Joaquina de Jesus Gonçalves. Estudou em Chaves e no colégio de S. Fiel, indo seguidamente para Espanha, onde se demorou doze anos e se doutorou em filosofia, vindo depois exercer o magistério a Lisboa e a regência de português e latim na Escola Regional Agrícola de Coimbra, da qual foi nomeado professor. Escreveu: Flores da Juventude. Coimbra, 1888. 8.º de 136 págs. O gigante do Ocidente. Coimbra, 1910. 8.º de 104 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


NEVES

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Cancioneiro de Maria. Coimbra, 1911. 8.º de 180 págs. A Virgem de Murillo. Coimbra, 1919. 8.º de 80 págs. Cancioneiro de Jesus. Coimbra, 1923. 8.º de 164 págs. Colaborou no Conimbricense e noutros jornais. NEVES (Luís Gonzaga de Morais Teixeira) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1916. Embora bragançano de origem, nasceu acidentalmente em Coimbra (onde seu pai exercia o magistério na Escola Agrícola Regional) a 10 de Março de 1892. Filho de José Maria Teixeira Neves, natural da freguesia de Jou, e de D. Filomena da Graça Machado de Morais, natural dos Avidagos, concelho de Mirandela. Fez os estudos liceais em Coimbra. Em 1917 foi nomeado professor do liceu de Aveiro, cargo que exerceu durante três anos, bem como o de comissário de polícia e administrador do concelho de Águeda. Em 1919 esteve preso em Coimbra e Lisboa como implicado nos acontecimentos políticos daquele tempo, vindo depois fixar residência em Mirandela em Outubro de 1919, onde exerceu a advocacia até 17 de Março de 1928, sendo segunda vez preso e desterrado para Bragança, onde se conserva no exercício da sua profissão. Escreveu: História da Arte o seu Ensino no Liceu de Coimbra. Coimbra, 1911. Foi mandada publicar pelo Conselho Escolar do mesmo estabelecimento, que ao tempo o autor frequentava, ou, melhor, concluía nesse ano. Trás-os-Montes. Coimbra, 1918. 8.º de 77 págs. Crise da democracia. Coimbra, 1919. 8.º de 100 págs. Legítima defesa. Bragança, Tip. Académica, 1928. 8.º de 28 págs. e mais uma (inumerada) de «Notas». É a contestação das acusações feitas no opúsculo Em desagravo, mencionado no artigo Neto (Joaquim Maria). Em 1912, de colaboração com outros, fundou em Coimbra o Imparcial jornal contra-revolucionário, de cuja redacção fizeram parte: o doutor Manuel Gonçalves Cerejeira, professor da Faculdade de Letras, actual arcebispo de Mitilene; Francisco Veloso, depois deputado e director da Liberdade e do Debate, diários do Porto; doutor Pacheco de Amorim, depois deputado e professor da Faculdade de Ciências; doutor Oliveira Salazar, depois professor da Faculdade de Direito e actual ministro das Finanças (Outubro de 1929). Fundou em 1925, juntamente com outros, a Acção Trasmontana, de Mirandela, que terminou a 12 de Outubro de 1926 por suspensão imposta pela comissão de censura à imprensa e colaborou nos seguintes jornais: Liberdade, Debate, Correio da Beira, Voz da Beira, Legionário Trasmontano e Bandeira Portuguesa, de S. Paulo (Brasil). Ver o artigo Neto (Joaquim Maria), pág. 355 deste volume. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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NICHOS DOS PASSOS

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NOGUEIRA

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NORONHA

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NICHOS DOS PASSOS – Os nichos dos Passos eram mandados fazer pelas misericórdias. No Museu Regional de Bragança, maço Obras, há uma escritura lavrada por tabelião a 20 de Setembro de 1798, pela qual o cabido de Bragança concede licença a Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, fidalgo da casa real, tenente-general, provedor da Santa Casa da Misericórdia, «que tinhão determinado [ele e os mais mesários da Misericórdia] concluir a obra das piquenas Cappellas dos Santos Passos e porque na forma da regulação que se lhe tinha dado devia collocarse hum na Praça do Colegio junto á igreja que serve de Cathedral». NOGUEIRA – Em 1696 foram autorizados os moradores de Nogueira, concelho de Bragança, a mudar a igreja paroquial, que estava fora da povoação, para dentro da mesma (540). NORONHA (João Carlos de) – Doutor em medicina, antigo deputado e rico proprietário. Nasceu no Pombal, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 30 de Janeiro de 1882; filho de Carlos Augusto de Noronha Botelho de Magalhães, morgado do Amieiro, e de D. Isabel Morais Frias de Sampaio e Melo, natural da Fonte Longa, do mesmo concelho (541). Escreveu: Contribuição para o estudo da hipófise. Lisboa, 1910. Esta tese, apresentada à Escola Médica de Lisboa, foi passados três anos publicada por conta do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana de Lisboa, em francês, sob o título: Contribution à l’étude histologique de l’hypophyse. Lisboa, 1913. 8.º de 73 págs. Tem várias ilustrações. Diversos autores estrangeiros hão feito elogiosas referências a este importante estudo. Parecer do Dr… (presidente da Comissão Municipal de Vila Flor) perante a nova Divisão Administrativa da Província de Trás-os-Montes. Porto, 1931. 8.º de 19 págs. [7].

O OBEDIÊNCIA (Manuel Rodrigues da) – Natural de Vila Flor. Escreveu: Regras e frutos da alveitaria. Manuscrito, fólio (542). OCHOA (Francisco António) – Doutor em direito pela Universidade de (540) Museu Regional de Bragança, maço Capelas. (541) Ver tomo VI, p. 731, destas Memórias. (542) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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OCHOA

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Coimbra, onde terminou o curso em 1869, juiz do Supremo Tribunal de Justiça e senador pelo círculo de Bragança. Nasceu em Vale de Nogueira, freguesia de Salsas, concelho de Bragança, a 4 de Março de 1839 e faleceu em Lisboa a 22 de Dezembro de 1912. Filho de Alexandre José Ochoa e de D. Balbina Ermelinda Fernandez Romariz. Era viúvo e pai do doutor Mário Ochoa, advogado; Armando Ochoa, oficial de marinha e ministro de Portugal em Paris, e Luís Ochoa, oficial do exército. OCHOA (José António) – Diplomado pelo Instituto de Agricultura de Lisboa, onde terminou o curso em 1885; natural de Santa Justa da Vilariça, concelho de Alfândega da Fé. Nasceu a 30 de Agosto de 1855 e faleceu em Bencanta (Coimbra) a 5 de Maio de 1908. Era filho de António Miguel Ochoa e de D. Maria Cândida de Sá Pereira. Agrónomo, professor da Escola Nacional de Agricultura, sita na quinta Regional de Bencanta em Coimbra, antiga Escola Regional de Sintra, de onde veio transferido em 1886, para a qual fora nomeado professor logo que terminou o curso em 1885. Escreveu: A cultura da oliveira no distrito de Bragança – Dissertação apresentada ao Conselho Escolar do Instituto de Agricultura. Lisboa, Tip. Minerva Central, 1885. 8.º de 69 págs. Colaborou em vários jornais da especialidade, como a Gazeta das Aldeias, que inseriu o seu necrológio, e outros; foi o autor da charrua «Ochoa», assim dita do seu nome, que é uma transição entre a charrua e o arado, e à sua actividade, saber e bom critério deveu a Escola Nacional de Agricultura o brilhante êxito que alcançou na Exposição Agrícola do Palácio de Cristal em 1903. OCHOA (Venâncio Bernardino de) – Doutor em direito e conselheiro; filho de Francisco André de Ochoa, doutor em direito pela Universidade de Coimbra, juiz de fora de Monforte de Rio Livre, natural de Izeda, concelho de Bragança, e de D. Sebastiana Rosa, natural de Gostei, do mesmo concelho. Nasceu na referida povoação de Gostei, a 18 de Maio de 1778 e faleceu, sendo juiz da Relação do Porto, pelos anos de 1840. Juiz de fora de Bragança por carta régia de 2 de Dezembro de 1800; ouvidor da comarca de Olinda (Brasil), por carta de el-rei D. João VI, dada no Rio de Janeiro a 23 de Julho de 1818; desembargador da Relação da Baía, por carta régia de 27 de Julho de 1818, dada também no Rio de Janeiro; desembargador da Relação do Porto, por carta régia de 7 de Julho de 1824, e juiz na mesma por outra de 8 de Outubro de 1839. Por carta régia de 28 de Julho de 1824, «Venancio Bernardino de Ochoa, filho único de Francisco André de Ochoa, a quem Eu tinha feito mercê da proMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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OCHOA

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priedade do officio de escrivão do almoxerifado de Bragança por Decreto de 8 de Dezembro de 1805, e não tendo sido possivel encartarse em consequencia da clausula posta naquelle Decreto de se verificar a mercê, no caso de não existirem filhos do ultimo proprietario e estar vivo Francisco José Ferreira, filho de Balthazar Ferreira, o qual nunca requerera o sobredito officio e já fallecera, e tendo Me pedido o dito Francisco André de Ochoa, que sem embargo de ter elle deixado huma filha havida de sua mulher antes do casamento, como seu pae não fora proprietário (pedia) se lhe mandasse proceder ao seu encarte, e que este se verificasse em seu filho unico Venancio Bernardino de Ochoa, e tendo Eu sido servido pelo Decreto de 19 de novembro de 1817 fazer mercê ao sobredito Venancio Bernardino de Ochoa da propriedade do sobredito officio de escrivão do almoxerifado de Bragança: hei por bem “fazer-lhe mercê do dito officio, pelo qual havera annualmente de ordenado mil reis em dinheiro, 37 alqueires de trigo, hum moio e sete alqueires de centeio e vinte e cinco almudes de vinho, e os mais prões e precalços que lhe pertencerem”». A seguinte comunicação mostra bem a competência de Venâncio Ochoa: «3.ª Repartição. Manda a Rainha, pela Secretaria do Estado dos Negocios da Fazenda, remetter ao Dezembargador Venancio Bernardino de Ochoa, para sua intelligencia, e execução na parte que lhe toca, a copia inclusa, assignada pelo official maior director geral desta secretaria, do Decreto de dez do corrente mez, pelo qual attendendo aos seus conhecimentos, e ao seu constante zelo pelo serviço publico, houve por bem encarregalo de redigir uma Collecção completa de todas as Disposições das Leis de Fazenda, actualmente em vigor, e de todos os Regulamentos feitos para a execução dos mesmos. Paço das Necessidades em 16 de Fevereiro de 1835. (a) José da Silva Carvalho. Para o Dezembargador Venancio Bernardino de Ochoa» (543). Teve o título de conselheiro por carta régia de 17 de Dezembro de 1839; por outra de 19 de Agosto de 1835 e decreto de 25 de Julho desse ano teve o cargo de «governador civil do distrito administrativo de Bragança», de que foi exonerado a 11 de Maio do ano seguinte, havendo tomado posse a 28 de Setembro de 1835, segundo se vê de documentos autênticos em poder de D. Regina Vitória Ochoa, de Izeda. A seguinte carta dirigida por Venâncio Bernardino Ochoa a seu pai por ocasião da guerra peninsular, em que militou, tem algum interesse histórico. «Renteria Novembro 1 de 1813. Meu Pai: De Celorico lhe escrevi nas vesperas da minha partida; e agora o faço para dizer-lhe, que, tendo concluido a minha jornada com felici(543) Encontra-se esta carta original e, em pergaminho, as respeitantes às promoções na magistratura, cujas datas ficam apontadas, em poder de D. Regina Vitória Ochoa, de Izeda.

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dade, estou resolvido a assentar Quarteis d’Inverno nesta villa, que dista meia legua do Porto de Passages, e tres de Iron ultima povoação da Hespanha sobre a Estrada Real de Bayona; sendo por consequencia este sitio o milhor interposto para o fornecimento do Exercito presentemente. Na minha passagem tive lugar de ver Salamanca, Valhadolid, e me lembrei do muito que v. m.cê me tinha em outro tempo entretido destas cidades, que realmente são muito boas, e geralmente toda a Castilha vieja, mas as Provincias de cá do Ebro a Alaba, a Biscaya e a Guipuscôa são muito mais amenas, e agradaveis, e mais povoadas e Vittoria hé huma cidade bella, e Bilbao (que ainda não vi) me dizem ser lindissima. S. Sebastião dista d’aqui huma legoa; mas desta cidade apenas restão Bolacas (?) tudo o mais foi queimado pellas nossas tropas e inglezas na occasião do assalto; o que tem feito crear aos do Paiz hum tal rancor aos nossos que nada o pode esquecer. Brevemente espero ter occasião de passar á Navarra, quando se tiver rendido Pampelona, e então hirei vesitar o Illustre Castello d’Ochoa, cuja situação já averiguei ser no vale de Bartan. Fallasse na Biscaya Guipuscôa, e parte da Navarra huma lingua, a que chamão Vascongada d’aqual eu não tinha idêa algûa, e hé tão differente do castelhano, como pode ser o Inglez ou Alemão. O nosso exercito está postado na descida das Montanhas para a parte da França occupando algumas povoações francezas. A linha hé formidavel, e se estende algumas dose legoas desde Roncesvalles na direita athé Andaia villa franceza sobre o mar, e fronteira a Fuente Rabia. Tem-se esperado sempre que Lord Wellington penetrasse mais dentro na França, o que agora apenas poderá ser; porque começa o inverno. As forças dos inimigos certamente não tem sido embaraço, porque não são grandes, e estou bem persuadido que com as tropas que tem poderia Lord Wellington emprehender o que quizesse. Pampelona se espera todos os dias rendida, pois se sabe, que está apuradissima de mantimentos; mas não acaba de chegar este dia, que contudo está próximo, e athé tanto do publico, como do particular se estão remettendo mantimentos para as immediaçoens, para entrarem no momento que se abra. Eix aqui, meu Pai, bastantes notícias de mim, do paiz, e da gerra (sic). Agora fico esperando as suas, de minha Mai, Thios, Regina, seu Marido, cunhados etc., aos quaes escreverei em outra occasião. De V. M.cê – Mt.º obdte. f.º – V. B. Ochoa. P. S. Rendeo-se Pampelona por capitulação, ficando a guarnição prisioneira de guerra a qual chega manhan aqui para hir para a Inglaterra. São 4.200 homens. Também no norte continuam as cousas ahi mal aos franceMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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zes. Separou-se do seo partido o Rey da Saxonia, e passou ao dos Alliados com hum exercito de 30.000 homens». Francisco André de Ochoa, pai de Venâncio Bernardino de Ochoa, serviu os «lugares de letras pelo espaço de mais de dezoito anos com distinção notoria», sendo-lhe, por carta régia de 8 de Novembro de 1809, dada em recompensa a propriedade do ofício de partidor dos órfãos de Bragança como tudo se vê dos documentos em pergaminho que se conservam em Izeda, onde nascera a 26 de Janeiro de 1738. A 20 de Fevereiro de 1773 concedeu el-rei D. José I carta de nobreza e brasão de armas ao bacharel Francisco André de Ochoa, juiz de fora da vila de Monforte de Rio Livre e de Montemor-o-Velho em 1787, familiar do Santo Ofício, irmão de António André Ochoa, graduado em cânones, abade de Cércio, no bispado de Miranda, e de Francisco Pereira Ochoa, comissário do Santo Ofício e cónego prebendado na catedral do mesmo bispado (544). O original desta carta, em pergaminho, com o brasão de armas iluminado, conserva-se em Izeda em poder de D. Regina Vitória Ochoa, neta do agraciado, e juntamente a «Sentença Civel de Justificação de nobreza a favor de Francisco André Ochoa», manuscrito de 24 fólios de papel almaço, tudo encadernado num livro, com a data de 1 de Dezembro de 1772. Porque o requerimento para a justificação da nobreza de Ochoa menciona particularidades interessantes não apontadas na carta, nem no seu extracto, dado por Baena no Arquivo Heráldico-Genealógico, aqui se publica a cópia conforme vem no fólio 2, verso, da Sentença Cível: «Diz Francisco Andre Ochoa bacharel formado em direito, e juiz de fora da villa de Monforte de Rio Livre, natural de Izeda, jurisdição de Bragança, que elle pretende justificar ser chefe do Appellido de – Ochoa – neste reyno, e suas conquistas, por ser filho legitimo de Gonçallo Ochoa, e de sua mulher Maria Andre Rodrigues; nepto paterno de Francisco Ochoa, e de sua mulher Catherina Leonardes; segundo nepto de Gonçallo Ochoa e de sua mulher Maria Leonardes; terceiro nepto de outro Gonçallo Ochoa denominado – o Velho – e de sua mulher Maria Rodrigues Borges; quarto nepto de Francisco Ochoa; quinto de Pedro Ochoa, escudeiro fidalgo da Caza do Senhor rey Dom João o 3.º; e sexto de Lopo Affonso Ochoa, que era irmão de Diogo Pereyra Ochoa, ambos escudeiros fidalgos da Caza Real, e filhos de Affonso Vaz Ochoa, moço fidalgo da Caza do Senhor rey Dom Affonso 5.º de que faz menção o Livro 2.º das Provas da Historia Genealogica da Caza Real Portugueza, a folhas 826, 830, 358 e 45; sendo (544) Ver tomo VI, p. 236, destas Memórias.

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nepto pela parte materna de Francisco Andre Rodrigues e de sua mulher Catherina Leonardes Affonso, e bisnepto de Andre Rodrigues Damião Borges e de sua mulher Izabel Rodrigues, todos estes, e a maior parte daquelles naturaes do ditto Izeda, aonde possuirão hum morgado, de que o supplicante ao presente he administrador, e lhe veio pela linha de – Ochoa –. O referido seu septimo avó Affonso Vaz Ochoa foi quarto nepto de Pedro Affonso Ochoa, rico homem no reynado do Senhor Rey Dom Deniz, e irmão do Padre Simão Ochoa abbade apresentado na egreja de S. Lourenço de Rebordello, bispado de Bragança, e naquelle tempo arcebispado de Braga, por provimento, que nelle fez o mesmo Senhor Rey Dom Deniz (545); e ambos quartos neptos de Martim Henriques Ochoa (o Cavalleiro) que veyo do Reyno de Navarra, aonde existe o palacio de Ochoa, acompanhando o Senhor Conde Dom Henrique na expulsão dos mouros, que habitavão este reyno, e á conquista da Terra Santa. Também sahirão da caza do supplicante muitos transversaes, que se acreditarão nas profiçoens das letras, e armas, entre as quaes hé de memoravel recomendaçam o capitão António Borges Ochoa, que na epoca da feliz Acclamação vantajosamente se distinguio na guerra Pernambucana como testemunha o Portugal Restaurado tomo 2.º parte 1.ª livro 9.º a folhas 212 e 326, sendo hum dos heroes da expulsão dos Olandezes daquelle emporio». Foram testemunhas nesta justificação, além de outras: «Pedro Ferreira de Sá Sarmento, cavaleiro professo na Ordem de Christo, fidalgo da caza de Sua Magestade, tenente coronel de cavallaria de Tras-os-Montes, natural de Bragança, morador em Lisboa, de 54 annos de idade. Francisco Xavier de Lobam Machado Pessanha, bacharel formado pela Universidade de Coimbra em canones e oppositor aos lugares de letras, morador na rua do Trombeta, freguezia da Encarnação em Lisboa de 29 annos de idade. Declara ser quasi compatriota do justificante, isto é dos Pessanhas do distrito de Bragança». No fólio 16, verso, da mesma sentença cível o terceiro documento tem no cabeçalho: «Francisco Jose Ferreira de Sá Sarmento cavalleiro professo na Ordem de Christo, moço fidalgo da caza de Sua Magestade e capitão do regimento de cavallaria de Bragança existente nesta praça de Chaves: (545) A 6 de Janeiro da era de 1336 (ano de Cristo 1298).

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Attesto pelo ver, e pela certeza que tenho de Tratados Geneologicos que examinei, e me ficarão de meus Pays o Marechal de Campo o Senhor Francisco Jose Sarmento, que ex professo teve completa instrucção da Geneologia das Familias Nobres dos Reynos da Nossa Espanha... (segue a resenha dos ascendentes do justificante, como já fica dito). Dada em Chaves aos 31 de Agosto de 1772. Francisco Jose Ferreira de Sá Sarmento. Logar do sello. Reconhecimento. Certifico ser o signal supra do Preclarissimo Francisco Jose Ferreira de Sá Sarmento nelle contheudo. Lisboa 22 de Novembro de 1772». (Segue a assinatura do tabelião). No fólio 18, verso, o quarto documento epigrafa-se: «Joam Leite Teixeira Chaves, fidalgo cavalleyro da caza de Sua Magestade fidelissima morador em Edral da jurisdição de Vinhaes, certifico pelo ver, e pela noticia que tenho de Tratados Geneologicos que examiney das familias nobres deste Reyno, e dos de Espanha, de que tenho completa instrucção que Francisco Andre Ochoa... (segue a lista dos ascendentes, como já fica apontada, terminando:) E por me ser pedida a presente a mandey passar, e sellar com as minhas armas. Caza de Edral aos 10 de Setembro de 1772». Francisco André Ochoa formou-se em direito canónico e civil pela Universidade de Coimbra a 1 de Julho de 1762 (546). A 15 de Novembro de 1809 confirmou o príncipe regente, mais tarde D. João VI, a doação que D. Ana da Assunção Valente fizera a sua sobrinha D. Regina Vitória de Ochoa, filha de Francisco André Ochoa e de D. Sebastiana Rosa, para casar com Martinho José de Morais Sarmento (547). OLIVEIRA (André Dias de) – Natural de Bragança. Militar. Escreveu: Escola Militar, etc. Manuscrito (548). OLIVEIRA (Doutor António de) – Professor do liceu de Bragança. Escreveu: Paz bendita – Peça-poema em um acto e três quadros representada pela primeira vez por um grupo de sargentos da guarnição de Bragança (546) A sua carta de formatura, escrita em pergaminho com larga cercadura elegantemente iluminada a cores, azul, vermelha, amarela e preta, com ornamentações da época, conserva-se em Izeda em poder de Venâncio Bernardino de Azeredo, natural de Samil, que ali foi casar, seu descendente, cunhado de Afonso Malta, empregado do governo civil de Bragança e por diversas vezes administrador deste concelho, primo de D. Alia Ochoa, professora primária, que ainda vive numa quinta nos arrabaldes de Bragança. (547) A carta original da confirmação, em pergaminho, conserva-se em poder do mesmo Venâncio Bernardino de Azeredo, acima mencionado. (548) Sumário da Biblioteca Lusitana.

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na noite de 25 de Dezembro de 1914 em benefício da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha. Bragança, Tip. Adriano Rodrigues, 1914. 8.º de 15 págs. OLIVEIRA (António de) – Pintor, natural de Moncorvo. Por escritura de 22 de Janeiro de 1666 obrigou-se a «pintar, dourar e estofar o retabulo de Santo Amaro», sito na Sé de Miranda. Os santos a pintar seriam: «nas primeiras tarjas do primeiro branco da parte direita S. Pedro; da parte esquerda S. Vicente; na segunda tarja da parte direita Santo Antão abbade e da esquerda S. Francisco com abbito de S. Domingos... os trez paineis de cima no meio S. Luiz rei de França, da parte direita S. Paulo primeiro irmitão, da parte esquerda Santo Inofre». Obrigava-se a fazer toda esta obra por 62$000 réis (549). Por escritura de 26 de Junho de 1666 obrigou-se o mesmo pintor a «dourar, pintar e estofar o retabulo do Santuario das Reliquias desta Santa See... e a pintar o arco da capella todo, na forma que está o da capella de S. Jeronimo que com o dito altar corresponde» por 150$000 réis (550). OLIVEIRA (António Augusto de) – Nasceu em Castro Vicente, concelho do Mogadouro, a 8 de Janeiro de 1859; filho de Manuel João Chaves de Oliveira e de D. Maria dos Prazeres Chaves de Oliveira. Fez os cursos de condutor de minas e de obras públicas no Instituto Industrial de Lisboa, que terminou em 1884. Funcionário superior do ministério das Colónias, serviu em comissão nos caminhos-de-ferro de Ambaca em Angola e como chefe dos serviços de agrimensura de Lourenço Marques. Em 1900 foi agraciado com o grau de cavaleiro da ordem de S. Tiago de Espada. Tem publicado: Atlas das possessões portuguesas, o qual contêm 10 cartas a cores, 22 págs. de formato 40x26,5 centímetros. Capa alegórica, belamente ilustrada por Roque Gameiro. Lisboa, 1890. Foi este o primeiro «Atlas Colonial» que se publicou no nosso país. Álbum estatístico-gráfico dos caminho-de-ferro do Ultramar – I. Lisboa, 1894. 13 cartas a cor, formato 36,5x38 centímetros. Álbum estatístico-gráfico dos caminhos-de-ferro do Ultramar – IV. Lisboa, 1905. 14 cartas a cor, formato 26,5x38 centímetros. OLIVEIRA (Artur Águedo de) – Nasceu em Moncorvo a 30 de Maio de 1894; filho do doutor Abílio Elísio de Oliveira (famoso jurisconsulto, cujos trabalhos são verdadeiramente modelares, pelo rigor e profundeza das con(549) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (550) Ibidem.

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cepções jurídicas, pela clareza e concisão do estilo, pela solidez e fortaleza da argumentação, antigo presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, nascido em Moncorvo a 22 de Junho de 1861 e falecido na quinta das Eiras da Vilariça, concelho de Moncorvo, a 2 de Fevereiro de 1927) e de D. Júlia Águedo de Oliveira. Estudou no colégio de Campolide, e no liceu Passos Manuel em Lisboa, onde foi um dos alunos mais distintos; concluiu a formatura em direito na Universidade de Coimbra em 1917 e tomou capelo, após um curso pleno de distinções, em 5 de Agosto de 1923. Escreveu: O Imposto de rendimento na teoria e na prática – Dissertação de doutoramento em direito na Universidade de Coimbra. Coimbra, 1923. 8.º de XXI – 806 págs. [8]. OLIVEIRA (Augusto Carlos Chaves de) – Cirurgião-médico pela Escola do Porto. Nasceu em Moncorvo a 28 de Janeiro de 1835. Escreveu: Da electricidade aplicada à terapêutica especialmente das moléstias cirúrgicas – Tese inaugural. Porto, Tip. da Revista, 1861. 4.º gr. de 56 págs. com uma estampa. Gazeta homeopática – Órgão do Consultório Homeopático Portuense. Publicação mensal. Porto, Tip. de António José da Silva Teixeira, 1863. 4.º gr. Cada número tinha 8 págs. De princípio também colaborou nesta publicação, juntamente com ele, o doutor Raimundo Francisco da Gama (551). OLIVEIRA (Augusto César de) – Doutor em medicina pela Escola do Porto. Nasceu em Cedães, concelho de Mirandela, a 30 de Dezembro de 1839 e aí faleceu a 2 de Janeiro de 1915. Foi médico municipal (aposentado) da câmara de Bragança, onde casou com sua prima D. Maria Angelina Pinto de Oliveira, irmã do lente da Universidade Manuel Paulino de Oliveira e de Augusto Trajano de Oliveira, antigo deputado da nação, ambos mencionados neste trabalho. Era filho de José Aurélio de Oliveira e da D. Delfina de Oliveira. Antes de vir para o partido municipal de Bragança foi médico da armada durante oito anos. OLIVEIRA (Augusto Trajano de) – Deputado pelo círculo de Bragança, onde nasceu na freguesia de Santa Maria a 28 de Agosto de 1835 e na mesma faleceu a 17 de Dezembro de 1897; filho de Manuel Paulino de Oliveira e de D. Maria Angelina Pinto, naturais de Bragança, mas oriundos de

(551) SILVA, Inocêncio Francisco da –Dicionário Bibliográfico, tomo VIII, p. 334.

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Carção e Azinhoso. É irmão do lente da Universidade de Coimbra Manuel Paulino de Oliveira e cunhado do doutor Augusto César de Oliveira, dos quais falamos nos lugares respectivos. Escreveu: Lágrimas d’alma – Ensaios poéticos. Coimbra, Imp. da Universidade, 1863. 8.º de XVIII-81 págs. É uma colecção de poesias dedicadas aos bragantinos. OLIVEIRA (José de) – Doutor em teologia pela Universidade de Coimbra, professor provisório do liceu nacional de Bragança (desde 1909), de ciência eclesiástica no Seminário diocesano da mesma cidade, cónego da Sé catedral e actualmente (Outubro de 1929) professor liceal activo em Tomar. Nasceu em Niza a 10 de Abril de 1867. Escreveu: Oração gratulatória recitada no templo de São Francisco em Bragança após o regresso das forças expedicionárias de caçadores. Bragança, Tip. Brigantina, Praça da Sé, 1896. 4.º de 9 págs. A minha resposta, pelo ex-professor de teologia dogmática no Seminário de Bragança. Porto, Tip. de J. S. Mendonça, 1909. 8.º de 48 págs. Autópsia às «Notas biográficas» do Ex.mo e Rev.mo Senhor D. José Alves de Mariz, Bispo de Bragança, por I. X. Porto, 1908, na mesma tipografia. 8.º de X-117 págs. Ver pág. 18 deste volume. OLIVEIRA (José Joaquim de) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1875. Nasceu no Azinhoso, concelho do Mogadouro, em 1852 e aí faleceu a 28 de Novembro de 1924; filho de Joaquim José de Oliveira e de D. Umbelina Lopes de Oliveira. Escreveu: Devem ou não ser admitidas as alçadas nos tribunais? Porto, 1889. 31 págs. Diversos assuntos jurídicos. Porto, 1907. 184 págs. Em «Apêndice» publica três artigos sobre: «O bispo de Bragança e a sua Provisão relativa ao Centenário da Índia»; «O bispo de Bragança e a sua Alocução, pronunciada no Seminário de São José» e «Canonicatos na Sé de Bragança», em que se congratula pelo despacho do padre António José da Rocha para cónego da Sé de Bragança. Código de posturas municipais para o concelho do Mogadouro. Porto, 1878. 62 págs. OLIVEIRA (Luís da Silva Pereira de) – Cavaleiro da ordem de Cristo, bacharel formado em leis pela Universidade de Coimbra, corregedor da comarca de Miranda do Douro, sócio correspondente da Academia Real das Ciências, etc. Nasceu em Fontelas e faleceu entre os anos de 1807 e 1812. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Escreveu: Privilégios da nobreza e fidalguia de Portugal, oferecidos ao Ex.mo Senhor Marquês de Abrantes, D. Pedro de Lencastre, etc. Lisboa, 1806 (552). OLIVEIRA (Manuel da Cruz) – Há dele na igreja matriz de Parada de Infanções, concelho de Bragança, uma tese «Physico-medico-chirurgica publice ventilanda in Salmantino Lyceo sub praesidio Francisci Velez. Die... aprilis 1762», dedicada a Santo António de Pádua, venerado no lugar de Parada. É impressa em véu de cálix, de seda. OLIVEIRA (Manuel Paulino de) – Conselheiro, comendador da ordem de Cristo, sócio do Instituto de Coimbra, da Sociedade Entomológica da França e da Bélgica e da Sociedade de História Natural de Espanha. Natural de Bragança, onde nasceu a 11 de Novembro de 1837 (553) e faleceu em Coimbra a 25 de Agosto de 1899, pela uma hora da madrugada. Era lente de filosofia (aposentado) por decreto de 3 de Setembro de 1898; havia-se doutorado a 27 de Julho de 1862 (554). Por decreto de 24 de Novembro de 1864, sendo substituto extraordinário da faculdade de filosofia, foi promovido a substituto ordinário (555). A Sociedade de Geografia de Lisboa, em sessão de 6 de Novembro de 1899, exarou um voto de sentimento pela morte deste ilustre bragançano. (Sumário das sessões da dita Sociedade desde a sua fundação até 31 de Dezembro de 1900, págs. 104). Regeu no princípio na Universidade de Coimbra a cadeira de química da faculdade de filosofia e mais tarde a de zoologia, que era a sua especialidade, onde se tornou notável como classificador, chegando a sua fama ao estrangeiro. Deixou escritas no Jornal da Academia várias notas sobre insectos da África portuguesa. Na Revista da Sociedade de Instrução do Porto e no Instituto de Coimbra publicou as suas listas de coleópteros portugueses, reunidos depois em volume que abrangem 2329 espécies distribuídas por 660 e tantos géneros e representando os cecilídeos e os carabídeos nacionais. É este, pela amplitude, o seu trabalho mais notável.

(552) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Oliveira». (553) O Dicionário Bibliográfico, tomo XIII, diz que nasceu a 14 de Novembro, e igual afirmativa faz o Portugal: Dicionário histórico. (554) Matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1855. O Diário do Governo de 17 de Dezembro de 1857, 7 de Dezembro de 1860 e 28 de Janeiro de 1862 mencionam os prémios e accessits e mais classificações que obteve na frequência das faculdades de filosofia e matemática da Universidade. (555) Diário de Lisboa de 28 de Novembro de 1864.

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Mais tarde, os opistobrânquios de Portugal, que possuía nas suas colecções, forneceram-lhe material para organizar a lista respectiva, abrangendo 45 espécies, 13 das quais são novas para a fauna do Atlântico e 27 para a nossa. Os hemípteros portugueses, em número de 382 espécies, forneceram-lhe elementos para um novo catálogo e bem assim as nossas faunas mamológicas, ornitológicas e herpetológicas, estas últimas ampliadas com bibliografias, processos de captura, transporte, conservação, frequência, vocabulário popular e distribuição geográfica. O seu trabalho de classificação e busca é considerável e notavelmente concorreu para a realização do inventário da fauna do país. São notáveis os serviços que prestou ao Museu de Coimbra, de que foi director nos últimos anos. Escreveu mais: Dissertação inaugural para o acto de conclusões magnas de... Coimbra, Imprensa da Universidade, 1862. 8.º de 70 págs. O argumento desta tese era: Haveria um ou mais centros de criação vegetal? Dado em congregação da faculdade de filosofia de 20 de Novembro de 1861. Mélanges entomologiques sur les insectes du Portugal. Coimbre, 1876. 8.º de 59 págs. Relatório da comissão nomeada para assistir ao Congresso Filoxérico da Suíça e visita aos vinhedos de França a fim de estudar os meios de combater a nova moléstia das vinhas. Coimbra, 1878. 8.º de 224 págs. Études sur les insectes d’Angola qui se trouvent au Muséum National de Lisbonne, in Jornal da Academia. Lisboa, 1879-1880. Études sur les insectes de l’Afrique qui se trouvent au Muséum National de Lisbonne, in Jornal da Academia. Lisboa, 1880. Catalogue des insectes du Portugal – Coleopteres. Coimbra, 1892 (?). Opistobranches du Portugal. Coimbre, 1895. Tabela dicotómica para a determinação dos mamíferos de Portugal. Coimbra, 1895. 1 vol. de 8 págs. Eastonia Locardi – Número especial. Porto, 1896. Catalogue des hémiptéres du Portugal – Heteroptéres. Coimbre, 1896. 8.º de 80 págs. Répteis e anfíbios da Península Ibérica e especialmente de Portugal. Coimbra, 1896. 8.º de 61 págs. Aves da Península Ibérica e especialmente de Portugal. Coimbra, 1896 (556). 8.º de 202 págs.

(556) Portugália, tomo I, fascículo II, p. 433, onde vem também o retrato de Manuel Paulino de Oliveira; Dicionário Bibliográfico, tomo XVI, e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Oliveira».

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OLVEIRA

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PAÇÓ DE SORTES

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PADRÃO

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Préparation et conservation de quelques animaux par l’Aldéhyde formique. Coimbra, 1895, 8.º de 8 págs. Em 1877 foi escolhido pelo governo português para seu representante no Congresso Antifiloxérico de Zurique, na Suíça, onde se distinguiu pelas suas comunicações e propostas. Por esta ocasião, o governo francês condecorou-o com o grau de cavaleiro da Legião de Honra. Voltando ao país, foi incumbido pelo ministro da Marinha da coordenação e classificação dos insectos de Angola e nomeado pelo ministério do Reino em 1878 presidente da comissão antifiloxérica do norte, onde prestou grandes serviços que lhe valeram em recompensa a carta de conselho (557).

P PAÇÓ DE SORTES – Em 1749 os moradores de Paçó de Sortes, concelho de Bragança, a fim de cumprirem com a ordem capitulada em visita, de mudarem a igreja paroquial, sita num despovoado, para a povoação, unindo-lhe a capela de Nossa Senhora do Rosário, que estava em ruínas, utilizando-se de 130$000 réis que para sua restauração deixara o padre Manuel Fernandes da Cruz, requereram à autoridade eclesiástica para obrigarem os donos do terreno onde a igreja devia ficar a venderem-nos. A mudança começou em 1751, e na igreja ficou um altar consagrado a Nossa Senhora do Rosário, em memória da antiga capela, que do texto dos documentos não se conclui se era pública, se vínculo de morgadio, sendo, contudo, mais provável aquela hipótese. PADRÃO (João Manuel) – Natural de Alfândega da Fé, abade de Maçores, concelho de Moncorvo, no século XVIII. Na igreja de Maçores há um curioso véu de cálix, em seda branca, dividido em três planas ou rectângulos, nas quais estão impressas teses de doutoramento pertencentes cada uma a seu indivíduo diferente. Uma dessas teses é de João Manuel Padrão, acima referido, e as outras são de João António Sequeira e José António Guerreiro. Não indica o ano de impressão. O presidente do exame em que a tese foi defendida era o doutor Domingos José A. Silva. PAIVA (António Jaques) – Governador das armas da província de Trás-

(557) O Tribuno Popular publica a notícia necrológica da sua morte.

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PAIVA

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PANTOJA

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PASTOR

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PEGADO

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-os-Montes em 1656 (558). Era governador militar da praça de Bragança em 2 de Novembro de 1650, como se vê de uma carta deste dia do conde de Atouguia ao cabido de Miranda, existente no Museu Regional de Bragança. PANTOJA (D. Baltazar) – General espanhol, que talou a província de Trás-os-Montes nas guerras da aclamação (1640-1668) e incendiou Vinhais (559). PASTOR (João António) – Negociante de Bragança, que muito auxiliou a revolta em 1808 desta cidade contra os franceses (560). PAVÃO (António Caetano) – Alferes. Distinguiu-se no ataque de Puebla de Sanábria em 1810 (561). PAVÃO (Domingos Neves) – Há dele, na igreja paroquial de Coelhoso, concelho de Bragança, uma tese de filosofia, impressa em véu de cálix, em três planas, seda vermelha, dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres (562). PAVÃO (Francisco Geraldes) – Há dele uma tese de filosofia, impressa em véu de cálix, em três planas, de seda roxa, oferecida à Senhora da Ribeira, venerada no seu santuário na freguesia de Quintanilha, concelho de Bragança. Foi defendida no Real Colégio das Artes em Coimbra. Não indica ano, nem tipografia, nem lugar de impressão. Entendemos que Francisco Geraldes Pavão era cónego da Sé de Miranda (563) em 1734; natural da Paradinha do Outeiro, filho de Inocêncio Geraldes, da Paradinha, e de Catarina Rodrigues, de Coelhoso; neto paterno de Miguel Geraldes, da Paradinha, e de Isabel Gonçalves, das Veigas, e materno de João Rodrigues Ochoa, de Coelhoso, e de Maria Pires, de Parada, tudo no concelho de Bragança. PAVÃO DE SOUSA (Amaro Vicente) – Valente oficial, que muito se distinguiu na guerra peninsular (564). PEGADO (José António de Moura) – Diplomado pelo Instituto de Agronomia e Veterinária; natural de Travanca, concelho de Macedo de Cavalei(558) Ver tomo I, p. 84, 94 e 95, destas Memórias. (559) Ver tomo I, p. 96 e 98, destas Memórias. (560) Ibidem, p. 131. (561) Ibidem, p. 159 e 161. (562) Ver Portugal: Diccionário histórico e tomo VI, p. 792, destas Memórias. (563) Ver tomo VI, p. 661, destas Memórias. (564) Ibidem, tomo I, p. 131 e 137, e tomo VI, p. 363.

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PEGADO

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PEQUITO

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PERDIGÃO

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ros. Nasceu a 13 de Julho de 1879, e faleceu também em Travanca a 16 de Maio de 1924. Era filho de José António Pegado de Magalhães e de D. Maria Teresa de Moura Carvalhais. Escreveu: Os prados naturais no Norte de Portugal. Fevereiro de 1905. 4.º de 128 págs. Em homenagem aos heróis portugueses na Grande Guerra – Discurso pronunciado em Bragança, quando governador civil, em 9 de Abril de 1921 (565). Concluiu o curso em 1903, defendendo tese no ano seguinte. Dirigiu o Posto Agrário de Mirandela e o da região duriense, a Escola Móvel Profissional de Agricultura «Alves Teixeira», de Vidago, e foi chefe da Secção Agrícola de Bragança. Fundou e dirigiu O Lavrador Trasmontano, que se publicou em Vidago, e O Fomento Agrícola, de Mirandela, e colaborou na Pátria Nova, Nordeste, A Pátria, de Lisboa, e no Norte, do Porto. PEQUITO (Rodrigo Afonso) – Antigo professor do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, par do reino, deputado e ministro de Estado; nasceu em Lisboa a 27 de Junho de 1849. Além de várias obras, que nada fazem ao nosso propósito, tem escrito: Inquérito Industrial de 1881 – Relatório dos distritos de Bragança, Guarda, Vila Real e Viseu (na publicação oficial do Inquérito, tomo IV). Lisboa, 1881. PERDIGÃO (Jacinto António) – Conselheiro e governador civil do distrito de Bragança, por decreto de 1 de Julho de 1868, lugar de que tomou posse a 10 de Agosto desse ano. No Diário do Governo de 23 de Dezembro de 1869 diz-se que, por decreto de 7 desse mês e ano, foi Perdigão (então governador civil de Beja) transferido para idêntico cargo em Bragança, vago pela exoneração do bacharel Augusto Correia Godinho Ferreira da Costa. Não há, porém, em Bragança memória de que chegasse a tomar posse. PEREIRA (Abraão Israel) – Notável escritor judeu, oriundo de Vila Flor (566). PEREIRA (António) – Mestre-de-obras, que em 1789 arrematou a obra de carpintaria e talha da igreja de Paredes, concelho de Bragança, por 179$000 réis (567). PEREIRA (António Bastos) – Nasceu em Sanazola, freguesia de Cacia, (565) Ver tomo VI, p. 255, destas Memórias. (566) Ibidem, tomo V, p. XCIII. (567) Ibidem, tomo IV, p. 203.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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distrito de Aveiro, a 12 de Junho de 1882; filho de Manuel de Bastos Pereira e de D. Ana de Azevedo, da mesma povoação. É pagador do ministério do Comércio e Comunicações e tesoureiro da junta geral do distrito de Bragança e foi governador civil substituto do mesmo distrito e deputado por Penafiel em 1919. PEREIRA (António Lobo de Macedo) – Fidalgo da casa real, morador na Paradinha Velha, concelho de Bragança, alegou em requerimento, em 1735, que sua mulher tinha um estrado na igreja matriz para se assentar ela e família, por concessão do bispo D. João Franco de Oliveira, mas, como o bispo ao tempo proíbira em Pastoral tais estrados a quem não tivesse licença para usar deles, pretendia justificar o seu direito. Obteve despacho favorável. PEREIRA (António Pinto) – Natural do Mogadouro, distrito de Bragança, secretário de D. António, Prior do Crato. Ignoram-se as circunstâncias do seu nascimento e morte, que devem ter ocorrido antes de 1587. Escreveu: História da Índia, no tempo em que a governou o vice-rei D. Luís Ataíde – Dirigida a el-rei D. Sebastião. Coimbra, 1616, fol.; publicação póstuma por diligência de Fr. Miguel da Cruz, religioso da ordem de Cristo. Consta de dois livros de XXIV-151-162 páginas. As do segundo são numeradas só pela frente. Além disso, têm respectivamente XVII-5 de índices finais sem numeração. Há também exemplares com a data de 1617, que apenas diferem no rosto, concordando no mais. Obra rara e estimada. «O seu autor mostrou-se perfeitamente sabedor dos preceitos da história. Escreveu a sua com suma elegância, estilo nobre e agradavel, mostrando-se imparcial com o seu heroe, tão proprio a inspirar paixão quando delle se fala. Refere sim os sucessos com a grandeza que nelles se dá, porem só com aqueles ornatos que se tiram sem violencia do fundo das cousas. Interessa finalmente o leitor pela narração animada, e pela delicadeza e vivacidade da mais pura e selecta linguagem» (568). O Sumário da Biblioteca Lusitana menciona mais: Muitas cartas que fazem um tomo e Tratado dos desposórios, tradução do italiano de Pedro Bembo. PEREIRA (Bernardo) – Doutor em medicina e em direito civil pela Universidade de Coimbra. Nasceu em Miranda a 11 de Dezembro de 1681. Escreveu: Prática de sangradores reformada. Coimbra, 1719, em nome de Leonardo de Pristo da Barreira. Teve 2.ª edição em Lisboa no ano de 1740.

(568) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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Discurso apologético em defesa dos prodígios da natureza, vistos pela experiência, e qualificado por força de um sucesso, para conhecimento de muitos efeitos e ocultas qualidades. Coimbra, 1719. 4.º Anacefaleose Médico-Teológica, mágica, jurídica e política, sobre a cura das doenças dos feitiços e o seu conhecimento. Coimbra, 1714. Teve 2.ª edição em 1740. E deixou mais manuscritas: Discurso sobre os pós de Quintílio. Abuso emendado sobre as cousas não naturais. Tirocínio Médico Prático. De morbis mulierum. De plusitide. Annt. add. etc. reflectiones ad Rivirii praxun, et observat. De morbis complicatis. Sobre poderem as mulheres serem fecundas depois de 50 anos. Sobre um feto de três meses e vinte dias ser vital e legítimo. Sobre se poder gerar veneno dentro do corpo humano. Observações de várias casos de medicina. Várias cartas, consultas e pareceres médicos. Questão política. Aplauso afectuoso na vinda do marquês de Abrantes ao Sardoal, etc. (569). Bernardo Pereira era filho do médico naval Manuel Lopes Pereira (de quem fala o Portugal – Dicionário histórico, vol. IV, pág. 508), e de D. Antónia de Oliveira. PEREIRA (Caetano Joaquim) – Mestre pintor. No tecto da capela-mor da igreja paroquial de Rabal, concelho de Bragança, há o seguinte letreiro: O Pereira a pintou / no anno / de / 1864. E na padieira de uma janela da capela-mor da igreja paroquial de França, do mesmo concelho, esta legenda: Pereira / a pintou / 1855. No assento de baptismo de João Baptista Araújo, de Vale de Lamas, concelho de Bragança, nascido a 15 de Setembro de 1853, declara-se que serviram de testemunhas: Caetano Joaquim Pereira, mestre pintor, solteiro, de Bragança, e Francisco Félix, solteiro, pintor, natural de Pinelo. É natural que este Pereira seja o das inscrições acima indicadas, de fraco valor como artista, a julgar pelas referidas obras. Ver artigo Álvares (Padre Bartolomeu), pág. 14 deste volume.

(569) Sumário da Biblioteca Lusitana e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Pereira».

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PEREIRA (Daniel José Dias de Castro). «D. ISABEL MARIA, Infanta Regente dos Reynos de Portugal e Algarves, e seus Dominios, em Nome de EL REY Faço saber aos que esta Minha Carta de Brazão de Armas de Nobreza e Fidalguia virem, que Daniel José Dias de Castro Pereira, natural da Cidade de Bragança, e Residente na sua Quinta de Cedaens, Termo da Villa de Mirandella, Me fez petição dizendo que pela Sentença de justeficação de sua Nobreza a esta junta, porferida e assignada pelo Desembargador, Corregedor do Civel da Corte e Casa da Supplicação o Doutor Manoel Duarte Leitão, subscripta por António Maria de Sori, Escrivão do mesmo juizo, se mostrara que elle he filho legitimo de Gabriel Dias Mendes, e de sua mulher Dona Josefa Maria de Castro. Neto por parte paterna de Antonio Dias Pereira, e de sua mulher Dona Anna Luiza, e pela materna de Antonio de São Theago Pereira do Lago, Bisneto de Manoel de São Theago. Terceiro neto de João de Castro. E que os refferidos seus Pays e Avós são pessoas Nobres das familias dos Dias, Castros e Pereiras e como tais se tratarão sempre á Ley da Nobreza com creados e cavalos, sem que em tempo algum cometecem crime de leza Magestade Divina ou Humana. Pelo que Me pedia êle supplicante por Mercê que para memória dos seus Progenitores se não perder, e clareza de sua antiga Nobreza, lhe Mandace dar Minha Carta de Brazão de Armas das ditas familias, para dellas tão bem usar na forma que as trouxerão e forão concedidas aos ditos seus Progenitores. E vista por Mim a dita sua petição e Sentença e confiar de tudo o refferido, e que a elle como dessendente das mencionadas familias lhe pertence uzar e gozar de suas Armas segundo o Regimento e Ordenação da Armaria, lhe Mandei passar esta Minha Carta de Brazão dellas na forma que aqui vão Brazonadas, Devizadas e Illuminadas, com cores e metaes, segundo se achão Registadas no Livro do Registo das Armas da Nobreza e Fidalguia destes Reynos, que tem o Rey de Armas Portugal, a saber. Hum Escudo esquartellado: no primeiro e quarto quarteis as Armas dos Dias, que são em campo sanguinho hum braço armado de prata, tendo na mão um Elmo do mesmo metal, com plumas de várias cores, e sobre o Elmo huma Águia negra; e o contra chefe, ondado de prata e azul. No segundo quartel as Armas dos Castros que são em campo de prata, seis arruelas de azul, em duas pallas; e no terceiro, as Armas dos Pereiras que são em campo vermelho huma cruz de prata florida e vasia do campo. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metaes e cores das Armas. Timbre dos Dias, que he a Aguia das Armas, e por diferença huma brica de ouro com um trifolio verde. O qual Escudo e Armas poderá trazer e uzar tão-sómente o dito Daniel José Dias de Castro Pereira, assim como as trouxerão e uzarão os ditos Nobres e antigos Fidalgos seus Antepassados em MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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tempo dos Senhores Reys destes Reynos; e com ellas poderá entrar em Batalhas, Campos Reptos, Escaramuças, e exercitar todos os mais actos licitos da Guerra – e da Paz. E assim mesmo as poderá trazer em seus Firmais, Aneis Signetes e Devizas, pôlas em suas Cazas Capellas e mais Edificios, e deixallas sobre sua propria sepultura; e finalmente se poderá servir, honrar, e gozar, e aproveitar dellas em tudo e por tudo como á sua Nobreza convem. Com o que Quero, e Me Praz que haja elle todas as Honras, Privilégios, Liberdades, Praças, Mercez, Izençoens e Franquezas que hão e devem haver os Fidalgos e Nobres de antiga Linhagem, e como sempre de tudo uzarão e gozarão os seus ditos Antepassados. Pelo que Hei por bem Mandar a todos os Dezembargadores, Corregedores, Provedores, Ouvidores, Juizes e mas justiças destes Reynos e em especial aos Reys de Armas, Arautos e Passavantes, e a quaesquer outros Offeciaes e pessoas a quem esta Minha Carta for mostrada, e o conhecimento della pertencer, que em tudo lha cumprão e guardem e fação inteiramente cumprir e guardar como nella se contem, sem duvida nem embargo algum que a ella seja posto, porque assim he minha Mercê. A Senhora Infanta Regente em Nome de EL REY o Mandou por Izidoro da Costa e Oliveira, Cavalleiro da Ordem de Christo, e da Torre e Espada, Condecorado com a Medalha de Ouro da Restauração dos Direitos da Realeza, Cavalleiro Fidalgo da Casa de Sua Magestade, seu Creado Particular, e seu Rey de Armas Portugal. Francisco de Paula Campos Escrivão da Nobreza destes Reynos e seus Dominios a fez em Lisboa aos dezaceis dias do mês de Fevereiro do Anno do Nascimento de Nosso Senhor JEZUS Christo de mil oito centos e vinte oito. Eu Francisco de Campos, a fiz e subscrevi O Rey d’Armas Portugal a) Izidoro da Costa Oliveira. Reg.do no L.º 8.º do Reg.to dos Brazoens de Armas da Nobreza e Fidalguia destes Reynos e seus Dominios a fl. 217 v.º Lisboa 18 de Fevereiro de 1828. a) Fran.co de Paula Campos Fica registada esta Carta e Brazão de Armas de Nobreza e Fidalguia no livro nº 1 do Registo particular desta Camara a fl. 38 e seggs. Mirandella 10 de Março de 1828. O Esc.am da Camara a) José Bernardo dos Santos» MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


António José de Castro Pereira, casado com D. Maria Eduarda de Castro Pereira, filha do comendador José António de Castro Pereira.

Augusto César Dias de Castro Pereira, casado com D. Gabriela de Castro Pereira.

D. Antónia Margarida de Castro Pereira, sem descendência.

D. Adelaide de Castro Pereira, casada com o doutor Artur Alberto Camacho Lopes Cardoso, desembargador da Relação de Lisboa, lugar de que tomou posse em Abril de 1929. Ver pág. 77 deste vol.

Alfredo Augusto Dias de Castro Pereira, casado com D. Alice Bouisson Nogueira.

D. Maria Inácia de Castro Pereira Lopes Cardoso, casa com José Pinto Miranda de Vasconcelos. D. Maria Georgina de Castro Pereira Lopes Cardoso. Artur Alberto de Castro Pereira Lopes Cardoso. Júlio Horácio Camacho Lopes Cardoso. João António Lopes Cardoso. José António de Castro Pereira Lopes Cardoso.

Eduardo Nogueira Dias de Castro Pereira, oficial de artilharia, casado com D. Maria Amália de Gomes Ferreira. Alfredo César Nogueira Dias de Castro Pereira.

CASA E QUINTA DE VALE DE PRADOS (Macedo de Cavaleiros) e CASA DE CEDÃES (Mirandela)

Representação actual da família «Castro Pereira», a que se refere o volume VI, págs. 49 e 776, destas Memórias, escudo nº 123, que deve completar-se por este, pois é o mesmo.

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Daniel José Dias de Castro Pereira, casado com D. Angélica de Castro.


FAMÍLIA Brasão de armas (partido em pala): Na primeira, as armas dos Pereiras: em campo vermelho uma cruz de prata florida e vazia, e na segunda, as armas dos Castros: em campo de ouro treze arruelas de azul, postas em três palas e ao meio com cinco e as das ilhargas quatro em cada perna, desencontradas. Elmo de prata, aberto, guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cor das armas. Timbre, o dos Pereiras; uma cruz florida vermelha entre dois cotos de asas de ouro. Brica de prata com um farpão de verde. Suportes – um unicórnio de prata e um leão de ouro.

D. Maria Eduarda, casada com António de Castro Pereira, filho de Daniel José Dias de Castro Pereira. Vol. VI, pág. 49, destas Memórias.

Registado no livro 8.° do «Registo dos Brazões d’Armas da Nobreza e Fidalguia d’estes Reynos e seus dominios» a fls. 309, Livro do Registo dos Foros de Fidalgos pertencentes aos Paços do Concelho da cidade do Porto, fls. 51.

José António de Castro Pereira, fidalgo-cavaleiro da casa real, comendador da ordem de Cristo, casado com D. Antónia Margarida Antunes de Navarro, de Lagoaça.

Salvador Mendes Pereira, casado com D. Joaquina de Castro Pereira, irmã de Daniel José Dias de Castro Pereira.

António Dias Pereira da Paz, casado com D. Ana Luísa Pereira da Paz.

Diogo Barroso Mendes Pereira, casado com D. Rosa Amália Dias da Paz.

José Rodrigues Barroso, casado com D. Mariana Mendes.

António Rodrigues Barroso Pereira (descendente de Francisco Barroso Pereira, moço da casa real, a quem se passou carta de Brasão de Armas de seus ascendentes a 20 de Setembro de 1563. Registo da chancelaria de D. Sebastião, fol. 233 verso), casado com D. Inês Alvim de Morais.

D. Emília, casada com o doutor Diogo Albino de Sá Vargas. Vol. VI, pág. 705, destas Memórias.

D. Ermelinda, casada com o conselheiro José António de Campos Henriques e em segundas núpcias com A. de Almeida Navarro.

D. Fortunata, viscondessa de Francos, casada com o 2.º visconde de Francos.

D. Adelaide, casada com Augusto Lopes Cardoso Pereira da Silva, moço-fidalgo da casa real.

D. Amália, casada com o doutor José Silvério de Campos Henriques. Alexandre de Castro Pereira, casado com D. Guilhermina da Silva. Augusto de Castro Pereira, sem descendência. António Júlio de Castro Pereira, sem descendência.

Doutor Júlio de Castro Pereira, 2.º visconde de Lagoaça, casado com D. Adelaide de Sousa Bastos, filha dos condes da Trindade.

D. Cândida, condessa de Castro e Sola, casada com o conde Castro e Sola, que foi presidente do Supremo Tribunal de Justiça.


«CASTRO PEREIRA» Augusto César Dias de Castro, casado com D. Gabriela de Castro Pereira.

Alfredo Augusto Dias de Castro Pereira, casado com D. Alice Bouisson Nogueira.

D. Adelaide de Castro Pereira, casada com o doutor Artur Alberto Camacho Lopes Cardoso.

Eduardo Nogueira Dias de Castro Pereira, oficial de artilharia, casado com D. Maria Amália Pereira da Costa. Alfredo César Nogueira Dias de Castro Pereira. D. Maria Inácia de Castro Pereira Lopes Cardoso, casada com o doutor José de Miranda Vasconcelos. D. Maria Georgina de Castro Pereira Lopes Cardoso. Artur Alberto de Castro Pereira Lopes Cardoso. Doutor Júlio Horácio Camacho Lopes Cardoso. Doutor José António Lopes Cardoso. José António de Castro Pereira Lopes Pereira.

D. Antónia Margarida de Castro Pereira, sem descendência. Doutor José Marcelino de Sá Vargas, casado com D. Maria Augusta Ledesma de Castro.

D. Fortunata de Sá Vargas, casada com o tenente-coronel médico Francisco Morgado. Doutor Diogo Albino de Sá Vargas.

Doutor António Emílio de Sá Vargas, sem descendência. D. Fortunata de Sá Vargas, sem descendência. Eduardo de Campos Henriques, 2.º visconde de Foz Côa.

D. Adelaide de Campos Henriques Salgado de Andrade, casada com o doutor Carlos Salgado de Andrade.

Conselheiro Artur Alberto de Campos Henriques, presidente de ministério, par do reino, juiz do Supremo Tribunal de Justiça.

Dr. José António de Campos Henriques, casado com D. Maria Roquete. Engenheiro militar Artur Alberto Meireles de Campos Henriques, casado com D. Maria Isabel de Sousa Rego.

Doutor Alberto de Almeida Navarro, casado com D. Conceição, filha do barão do Valado.

Doutor Alberto de Castro Pereira Valado Navarro, 3.° visconde da Trindade. Augusto de Castro Pereira Valado Navarro, publicista.

Doutor José Henrique de Castro Pereira e Sola, 3.º visconde de Francos, juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Doutor António de Castro Pereira e Sola, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, casado com D. Amélia de Aguilar.

D. Isabel de Aguilar de Castro e Sola.

Francisco de Castro Pereira Lopes, oficial do estado-maior, casado com D. Maria das Dores de Castro Pereira. Doutor Júlio César de Castro Pereira Lopes, juiz de direito. D. Elisa, viscondessa de Foz Côa, casada com o 2.º visconde de Foz Côa. Doutor Carlos de Castro Pereira Lopes, delegado em Lisboa. D. Maria da Luz de Campos Henriques. D. Maria das Dores de Castro Pereira Lopes.

D. Amélia de Castro Pereira, casada com o engenheiro Flávio Pais. Júlio de Castro Pereira. D. Beatriz de Castro Pereira Pontes. D. Helena de Castro Pereira Arês. D. Alice de Castro Pereira, viúva do juiz Jaime Pimentel de Faro. Álvaro de Castro Pereira. D. Júlia da Fonseca Teles de Castro e Sola, casada com o doutor Júlio de Castro Lopes.

D. Maria Helena da Fonseca Teles de Castro Lopes.

Conselheiro Amadeu da Fonseca de Castro Pereira e Sola, 2.º conde de Castro e Sola, ministro de estado honorário, director-geral do Supremo Tribunal de Justiça na monarquia, casado com D. Clara de Barros e Sá.

Engenheiro Luís de Castro e Sola, casado com D. Maria Violante da Costa Campos. D. Maria Clara Teles de Castro e Sola, casada com Fernando de Soares Mendes. D. Maria da Conceição Teles de Castro e Sola.


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PEREIRA (D. Francisco) – Bispo de Miranda. Ver tomo II, pág. 32, destas Memórias. PEREIRA (Francisco da Costa) – Ver Santos (António Augusto César dos). PEREIRA (Francisco Manuel da Costa) – Grande benemérito. Nasceu em Peredo, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 10 de Junho de 1851 e faleceu a 20 de Janeiro de 1920 em Luanda (África), mas foi trasladado para o Rio de Janeiro onde tinha jazigo, no qual estava sepultada sua esposa. Torna-se digna de aplauso público a memória deste bragançano pelo louvável uso que soube fazer da sua grande fortuna adquirida no ultramar. Deixou em testamento vinte contos para a construção duma escola primária para ambos os sexos e casas de habitação para os respectivos professores. Ao tempo esta quantia bastava; mas, desvalorizada a moeda, seu irmão Manuel António da Costa Pereira, que justara a obra por setenta e um contos, abonou ainda mais trinta, e, falecendo sem a concluir, paralisou tudo até que outro benemérito da mesma família, António Augusto César dos Santos, residente em Lisboa, genro do anterior, abonou mais cem contos para sua ultimação e do restauro da capela de Santo António, sita na mesma povoação, para cujo fim o primeiro benemérito acima referido legara cinco contos. O testamento do primeiro benemérito está registado em Macedo de Cavaleiros; as obras iniciaram-se em 1921 sob a superintendência do padre António Joaquim Vila, arcipreste do ramo de Peredo. PEREIRA (Horácio Augusto Cordeiro) – Doutor em medicina pela Universidade de Lisboa, onde concluiu o curso em Julho de 1922. É filho de Júlio Manuel Pereira, de Gobelim, concelho de Alfândega da Fé, e de D. Leopoldina Cândida Cordeiro Pereira, do mesmo concelho (570). Estudou preparatórios no colégio de Campolide e liceu Camões, de Lisboa, e concluiu o curso de medicina a 6 de Julho de 1922, defendendo tese a 9 de Fevereiro de 1924, cujo título é: Sobre um caso de endarterite da artéria pulmonar com persistência de canal arterial. PEREIRA (Jacob Rodrigues) – Célebre inventor do alfabeto dos surdos-mudos, oriundo de Bragança e Chacim, nascido em 1715 (571).

(570) Ver tomo VI, p. 728, destas Memórias. (571) Ibidem, tomo V, p. XCVIII.

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381 TOMO VII

PEREIRA (João António Esteves) – Há dele uma tese de direito canónico, defendida no quinto ano do seu curso em Coimbra, dedicada à Senhora do Rosário (sem mais indicação de lugar), impressa de frente, em três planas, em véu de cálix, de seda branca. Conimbricæ: Ex Prelo Antonii Simoens Ferreira. Univers. Typ. Anno Domini 1758. Estava na povoação de Vale Paço, concelho de Vinhais, e agora é pertença do Museu Regional de Bragança. É possível que este João António Esteves Pereira seja irmão de Manuel António Mendes Pereira (também memorado nesta secção de véus de cálix) pela coincidência da época, do local onde apareceram, da cor da seda e finura da mesma, que é em ambas igual, e até da dedicação à mesma Senhora do Rosário. PEREIRA (Joaquim Mendes) – Antigo director de pecuária de Bragança, actual director do posto zootécnico de Miranda do Douro e presidente da câmara da mesma cidade. Nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes a 12 de Outubro de 1870; filho de Manuel António Mendes Pereira e de D. Maria de Jesus Antunes Teixeira. Fez o curso liceal em Vila Real e no Porto e o de veterinária em Lisboa, terminando-o em 1895. Mendes Pereira tem exercido os cargos de administrador dos concelhos de Mirandela, Bragança e Miranda do Douro. Colaborou no Nordeste, Distrito de Bragança, Jornal de Bragança e outros, bem como em alguns de Lisboa e Porto. Também publicou uma tese de doutoramento; mas, por mais diligências que empregámos, não nos foi possível levar a bonomia do amigo Mendes Pereira a conseguir-nos um exemplar. PEREIRA (José) – Mestre pintor, de Parada, bispado de Bragança, arrematou em Agosto de 1792 a pintura do altar-mor e tecto da capela-mor da igreja paroquial de São Pedro da Silva por 200$000 réis, «por não haver quem por menos a fizesse [e o pregoeiro] lhe mandou aprontar a dita obra e satisfazendo o dito Pregoeiro dizendo na Praça o acho na Praça o aremato porque mais não acho dou-lhe huma dou-lhe duas e huma mais pequenina há quem o faça por menos senão dou o Ramo e por não hauer quem por menos o fizesse lhe dou o Ramo que elle arematante aceitou e se obrigou a fazer a dita obra na forma dos apontamentos asignados por elle arematante [que são os seguintes]: Em primeiro lugar será aparilhada toda a obra com todas as mamos [mãos?] de geço grosso, e mate e bolo armenio para se fazer hum bom dourado conforme a arte manda, será toda a talha da dita obra como também todas as meyas canas dellas douradas e os altos das molduras com ouro sobedo; as duas colunas do centro seram fingidas de azul fino com veyos de ouro bornidos; as dos lados seram de marmore branco com veyos verMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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melhos também bornidos, todo o papo de rolla da cornija será de pedra marmore branca com veyos azues, e todos os lizos da mais obra seram de varias pedras fingidas de todas as cores tudo bornido repartidos a eleiçan do artifice, e tudo de tintas bomas levará seos robim e esmeraldas aonde lhe pertencer os roupantes do tecto sera a meya cana de meyo roupante dourada como tambem a que divide o coadro, e no coadro do meyo lhe pintará S. Pedro que he orago da dita Igreja nos demais coadros se lhe pintaram tarjas bem pintados os anjos do remate seram emcarnados as azas de robim e esmeralda e tudo será feito S. A. [segundo a Arte?] o pintor José Pereira». A obra estava já concluída em Novembro desse ano. No tecto da capela-mor havia vinte e cinco quadros, onde pintou os doze apóstolos e nos mais «coadros de brotesco». Parece que José Pereira faleceu pouco depois da obra começada, porque junto ao processo vem um requerimento de seu filho, Manuel Joaquim Pereira, também pintor, feito em Março de 1794, a pedir que lhe acabem de pagar a obra justa por ele e por seu falecido pai (572). PEREIRA (José António de Castro) – Natural de Bragança, fidalgo-cavaleiro da casa real, comendador da ordem de Cristo, deputado da nação, rico proprietário, senhor do palácio brasonado de Santa Catarina, na rua deste nome, no Porto, bibliófilo distinto (573). Era filho de Salvador Mendes Pereira e de D. Joaquina de Castro Pereira, sua prima; neto paterno de António Dias Pereira da Paz e de D. Ana Luísa Pereira da Paz e materno de António de Santiago Pereira do Lago e de D. Luísa Maria de Santiago. Bisneto paterno de Diogo Barroso Mendes Pereira e de Rosa Amália Dias da Paz e materno de Manuel de Santiago Pereira do Lago e de D. Fortunata de Losada. Terceiro neto paterno de José Rodrigues Barroso Pereira e de D. Mariana Mendes e materno de João de Castro Pereira do Lago e de D. Josefa de Morais Madureira. Quarto neto paterno de António Rodrigues Barroso Pereira e de D. Inês de Aboim de Morais, à qual se refere a revista Cerâmicas Brasonadas, tomo I, pág. 41, e materno de Pedro Pereira do Lago e de D. Josefa de Santiago de Castro. Este António Rodrigues Barroso Pereira descendia de Francisco Barroso Pereira, moço da câmara real, que teve carta de brasão de armas a 20 de Setembro de 1563, registado na chancelaria de D. Sebastião, livro III, fol. 233 v. Este Francisco Barroso Pereira era filho de Cristóvão Rodrigues Bar(572) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (573) A marca que usava vem reproduzida na Revista de Ex-Libris Portugueses, tomo I, p. 123.

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roso Pereira, neto de Martim Rodrigues Pereira e de D. Clara Fernandes Barroso e bisneto de Gonçalo Rodrigues Pereira e de Aires Fernandes Barroso, os quais todos foram fidalgos e do tronco destas gerações (574). O respectivo brasão de armas, passado a 9 de Março de 1843, é partido em pala: na primeira, as armas dos Pereiras, e na segunda, as dos Castros; em campo de oiro treze arruelas de azul postas em três faixas, a do meio com cinco e as das ilhargas quatro em cada uma. Elmo de prata, aberto, guarnecido de oiro. Timbre o dos Pereiras, uma cruz florida-vermelha, entre dois cotos de asas de oiro. Brica de prata com um farpão de verde. Está registado no livro 8.º, do Registo dos Brasões de Armas da Nobreza e Fidalguia destes Reinos e seus Domínios, fol. 309, e também no Livro do Registo dos Foros de Fidalgos pertencente aos Paços do Concelho da Cidade do Porto, fol. 51. I – José António de Castro Pereira foi sepultado no sumptuoso jazigo por ele mandado construir no cemitério da Lapa, no Porto, decorado com o brasão atrás referido. Teve de sua mulher D. Antónia Margarida Antunes Navarro, irmã do 1.º conde de Lagoaça (575): II – Alexandre de Castro Pereira, comendador da ordem de Cristo, que em 1886 foi para Lisboa, leiloando no Porto a importante livraria de seu pai de que imprimiu catálogo, nesse mesmo ano, na tipografia de O Comércio do Porto e consta de 46 pág. in-8.º Alexandre de Castro é pai de D. Maria das Dores de Castro Pereira Lopes. III – D. Maria Eduarda, mãe de Alfredo de Castro Pereira, residente na casa brasonada de Vale de Prados, concelho de Macedo de Cavaleiros, e D. Adelaide de Castro Pereira, casada com o doutor Artur Alberto Lopes Cardoso, ex-ministro da Justiça, de quem falamos noutra parte. IV – D. Emília, de quem são netos o doutor Diogo Albino de Sá Vargas e sua irmã D. Fortunata Vargas (576). V – D. Ermelinda, mãe do doutor Alberto de Castro Pereira de Almeida Navarro e avó do doutor José Silvério de Campos Henriques Salgado de Andrade (Vila Nova de Foz Côa), do doutor José António Meireles de Campos Henriques, do major de infantaria Artur Alberto Mendes de Campos Henriques, do 3.º visconde da Trindade e do publicista Augusto Navarro.

(574) Consta do processo de justificação de nobreza organizado na comarca do Porto pelo juiz doutor Francisco Rodrigues Ferreira Casado e escrivão Joaquim Vaz de Oliveira. (575) Ver tomo VI, p. 243, destas Memórias. (576) Ibidem, p. 705.

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VI – D. Fortunata, viscondessa de Francos, mãe do visconde de Francos e do doutor António de Castro Pereira e Sola, ambos juízes do Supremo Tribunal de Justiça. VII – D. Adelaide, mãe da viscondessa de Vila Nova de Foz Côa e do doutor Júlio de Castro Pereira Lopes. VIII – D. Amélia, mãe de D. Maria da Luz de Campos Henriques. IX – Júlio, 2.º visconde de Lagoaça, pai de D. Amélia de Castro Pereira, casada com o engenheiro Flávio Pais, de Álvaro de Castro Pereira, de D. Helena de Castro Pereira, casada com Francisco Vara, e de D. Alice de Castro Pereira, casada com o doutor Jaime Faro, juiz no Porto. X – D. Cândida, condessa de Castro e Sola, mãe do conde de Castro e Sola e avó de D. Maria Helena da Fonseca Teles de Castro Pereira Lopes (577). PEREIRA (José Manuel Martins) – Apesar das muitas diligências que fizemos, nada conseguimos referente a este escritor, natural do distrito de Bragança, que em 1909 estava em Setúbal, rua das Fontainhas, 7-2.º, onde era, ao que entendemos, empregado dos impostos, e também esteve em Freixo de Espada à Cinta. Escreveu: As terras de Entre Sabor e Douro. Setúbal, 1908. 8.º de 519 págs.+4 (inumeradas)+XVIII e uma de erratas. PEREIRA (Luís Machado) – Doutor em cânones, mestre em artes e mestre-escola na Sé de Miranda. Escreveu: Sermão nas exéquias do príncipe D. Teodósio de saudosa memória, pregado na Sé de Miranda. Lisboa, 1656. 4.º (578). PEREIRA (Manuel António Esteves) – Há dele uma tese canónica defendida no quinto ano do seu curso, em Coimbra, dedicada à Senhora do Rosário (sem indicação de lugar), impressa de frente em três planas, em véu de cálix, de seda branca. Conimbricæ: Ex Architypografia Academica-Regia. Anno Dñi 1771. Estava na povoação de Vale Paço, concelho de Vinhais, e agora pertence ao Museu Regional de Bragança (579). PEREIRA (Manuel de Castro) também conhecido por Manuel de Castro Pereira de Mesquita Pimentel Cardoso e Sousa – Conselheiro de (577) As notas referentes a José António de Castro Pereira e família foram-nos fornecidas pelo conde de Castro e Sola, por intermédio do ilustre bragançano doutor Artur Alberto Camacho Lopes Cardoso. Ver Pereira (Daniel José Dias de Castro), p. 375. (578) INOCÊNCIO, F. da Silva no Dicionário Bibliográfico e o Portugal: Dicionário histórico…, dão-lhe o apelido de «Teixeira». (579) Ver Pereira (João António Esteves), p. 381.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


PEREIRA

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Estado. Nasceu em Freixo de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, a 14 de Outubro de 1778 e faleceu no Porto a 16 de Agosto de 1863. Mas o Portugal Antigo e Moderno, artigo «Val Torno», diz que ele era natural desta povoação no concelho de Vila Flor e que o seu solar é em Vilarinho da Castanheira, concelho de Carrazeda de Ansiães. Era um rico proprietário. Durante a guerra de 1801 preparou à sua custa um esquadrão de cavalaria, do qual foi nomeado capitão pelo príncipe regente, depois D. João VI. Esta guerra, de curta duração, terminou pelo tratado de Badajoz em 6 de Junho do mesmo ano. Fez a campanha da Rússia com a «Legião Portuguesa» ao serviço de Napoleão, no posto de coronel, pelo que foi julgado traidor à pátria, sendo-lhe confiscados os bens; mas a revolução de 1820 relevou-lhe a falta e fez-lhos restituir. Em 1821 foi nosso embaixador em Madrid e ministro dos Negócios Estrangeiros desde 1 de Junho a 9 de Novembro de 1837. Também foi governador civil do distrito de Bragança (administrador-geral, como então se dizia) desde 1836 a 1838, mas nunca aqui apareceu, exercendo essas funções o secretário-geral, António Rodrigues Sampaio (580). O citado Portugal Antigo e Moderno diz que Manuel de Castro Pereira morreu no Porto, rua das Virtudes, já retirado à vida privada, deixando a sua grande fortuna a seu sobrinho Luís de Castro Pereira, filho de seu irmão Domingos de Castro Pereira, capitão-mor de Freixo de Numão. PEREIRA (Manuel José) – Presbítero, doutor em filologia românica pelo Curso Superior de Letras, reitor e professor do liceu de Bragança, onde faleceu a 30 de Outubro de 1929. Escreveu: Grupo Beneficente do Liceu de Emílio Garcia – Relatório e contas da gerência desde 10 de Dezembro de 1926 a 15 de Agosto de 1928. Tip. Académica, Bragança. 8.º de 11 págs. Em volta dum conflito no Liceu de Bragança. Mesma tip., 1929. 8.º de 12 págs. PEREIRA (Manuel Lopes) – Médico; natural de Miranda. Era professor de medicina, cargo que exerceu em Almeida e depois em Vila Flor. Foi médico do marquês de Távora e do cabido e bispo de Miranda.

(580) Notícias dos Ministros e Secretários de Estado do Regime Constitucional…, p. 18, e VASCONCELOS, A. A. Teixeira de – O Sampaio da Revolução de Setembro, 1859, p. 61. Ver tomo VI, p. 529, destas Memórias.

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PEREIRA

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PEREZ

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Escreveu: Xeniolum medico theorico praticum, etc. Salmant, 1700. 4.º (581). PEREIRA (D. Nuno Álvares) – Natural de Miranda do Douro. Faleceu em Madrid pelos anos de 1624. Ocupou durante vinte anos os cargos de secretário de Estado e de conselheiro de Filipe III. Teve também o título de conde de Muge, que não chegou a gozar por falecer antecipadamente. Escreveu: História das conquistas portuguesas. Manuscrito (582). PEREZ (João e Pero) – Mestres-de-obras, moradores em Moncorvo, que se obrigaram a fazer por «vinte e duas libras de dinheiros pretos» uma portada nas fortificações daquela vila (583). PESQUEIRA (Visconde de S. João da) – Marechal-de-campo. Fora encarregado do governo das armas da província de Trás-os-Montes, cargo que ainda devia exercer em 1830, segundo diz a Lista militar dos oficiais do exército de Portugal referida ao 1.º de Agosto de 1830. PESSANHA (António Alberto Charula) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, deputado da nação, inspector-geral das prisões e rico proprietário nos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros. Nasceu naquele concelho a 22 de Março de 1871; era filho de João José Pereira Charula (ver o respectivo artigo, pág. 96) e de D. Margarida de Almeida Morais Pessanha. Estudou preparatórios em Vila Real e no colégio dos jesuítas de Campolide, em Lisboa, frequentando depois a Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso em 1894. Foi administrador do concelho de Macedo de Cavaleiros, reitor do liceu de Bragança, delegado do procurador régio na comarca de Miranda do Douro (deixando em 1899 a magistratura) e exerceu também o cargo de administrador e inspector-geral das prisões em Lisboa, vindo de quando em vez de visita ao seu importante casal dos Cortiços, residência de seus pais. Faleceu em Lisboa no dia 24 de Novembro de 1929, realizando-se os funerais na igreja de Benfica da capital e sendo trasladada a urna funerária para a estação do Rossio no dia 25, a fim de seguir em vagão armado em câmara ardente para os Cortiços.

(581) Sumário da Biblioteca Lusitana e Portugal: Dicionário histórico, artigo «Lopes Pereira». (582) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Álvares». (583) Ver tomo IV, p. 274, destas Memórias.

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PESSANHA

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PESSANHA (Carlos de Almeida) – Capitão de cavalaria, governador de Diu. Nasceu em S. Pedro de Vale de Conde, freguesia de Marmelos, concelho de Mirandela, a 19 de Janeiro de 1862 e suicidou-se (foi esta a versão que deram os jornais) em Diu a 14 de Setembro de 1907 com alguns tiros de revólver. Era filho ilegítimo de João Pedro Pessanha e de Cândida Rodrigues. Assentara praça em 1879, sendo promovido a alferes em 1883, a tenente em 1894 e a capitão em 1901. Foi governador da Guiné, cujo lugar deixou pouco antes de ser nomeado para Diu. Era um oficial inteligente e ilustrado, sendo condecorado com o grau de cavaleiro da ordem de S. Bento de Avis e com a medalha de prata de comportamento exemplar. Era também cavaleiro da ordem de Isabel, a Católica, de Espanha. Foi deputado progressista pelo distrito de Bragança nas legislaturas de 1900, juramento de 10 de Janeiro; 1901, idem de 7 de Janeiro; 1902, idem de 8 de Janeiro, e 1904, idem de 20 de Outubro (584). PESSANHA (Carolino de Almeida) – Nasceu em Mirandela a 19 de Novembro de 1837, onde faleceu a 19 de Março de 1874 (585). Deputado da nação em diferentes legislaturas, sendo a primeira a que principiou em 20 de Maio de 1860, pois falecendo seu pai, João Pedro de Almeida Morais Pessanha, deputado ao tempo, a 12 de Fevereiro de 1863, foi declarado vago o círculo que representava e eleito Carolino Pessanha. Foi também governador civil de Bragança por decreto de 19 de Janeiro de 1870, de cujo lugar tomou posse no dia 27. PESSANHA (Francisco António de Almeida Morais) – Doutor em leis e em filosofia pela Universidade de Coimbra. Nasceu na freguesia de Marmelos, concelho de Mirandela, a 12 de Abril de 1775 e ali faleceu a 22 de Maio de 1839 (586). Era filho de António José de Morais Pessanha e de D. Maria Antónia de Morais Maltês. Escreveu e datou de Mirandela a 2 de Fevereiro de 1815 um importante estudo económico regional intitulado: Reflexões relativas à Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, dirigidas aos senhores editores do «Investigador Português». Este estudo saiu no Investigador citado e foi ultimamente transcrito por Alfredo Menéres no livro Carvalhais – Traços históricos, 1916, pág. 275. Escreveu mais: Memória sobre o estado actual das fiações de seda, especialmente pelo método piemontês, nas províncias de Trás-os-Montes e Beira, e (584) Ver tomo VI, p. 382, destas Memórias. (585) Ibidem, p. 384, n.° 15. (586) Ibidem, p. 380.

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regulamento ou providências para restabelecer estas fiações e mantê-las em perfeição (587). Esta memória valeu ao seu autor ser nomeado sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa a 17 de Maio de 1819. Eleito deputado pela província de Trás-os-Montes às cortes constituintes de 1820, foi «um dos seus oradores mais considerados e collaborador de grande numero de leis então votadas». Foi reeleito para as cortes ordinárias pela divisão de Bragança e também pela de Vila Real, optando por esta, por nela ter a sua residência legal, voltando às cortes nas legislaturas de 1834 e 1836. Em 1828 foi deportado para o Algarve por constitucional. Exerceu as funções de prefeito da província de Trás-os-Montes em 1834, de que foi exonerado a 19 de Agosto do ano seguinte. Era comendador da ordem de Cristo e do conselho de sua majestade por decreto de 3 de Dezembro de 1834 (588). PESSANHA (João Manuel de Almeida Morais) – Foi governador civil de Bragança desde 25 de Fevereiro de 1840 até à data em que faleceu (589). Já anteriormente exercera idêntico cargo, de que havia tomado posse a 4 de Junho de 1836. PESSANHA (João Manuel de Almeida Morais) – Presbítero, capelão militar, cavaleiro da ordem militar de S. Bento de Avis, director e professor de aritmética da extinta Escola Industrial de Bragança e professor interino de inglês e alemão no Liceu Nacional da mesma cidade. Nasceu na freguesia das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 3 de Fevereiro de 1843 e faleceu na freguesia de Cabeça Boa, concelho de Bragança, a 22 de Junho de 1905, para onde se retirara depois de reformado como capelão militar. Era filho de Domingos António de Almeida Morais Pessanha (que morreu em Miranda do Douro, onde era subdirector da Alfândega) e de D. Felicidade Perpétua (590). O padre João Pessanha, como geralmente era conhecido, passou por ser um dos homens mais eruditos do seu tempo no distrito de Bragança. De aparência negligente e pesada, possuía no entanto grande energia e assombrosas faculdades de trabalho, a par de uma inteligência superior.

(587) PESSANHA, José Benedito de Almeida – Notícia histórica dos Almirantes Pessanhas, p. 34. (588) Ibidem, p. 35. (589) Ibidem, p. 382, n.° 6. (590) Ver tomo VI, p. 383, destas Memórias.

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Escreveu: Alfândega da Fé ou Breve estudo acerca desta vila de Portugal. Bragança, Tip. Brigantina, 1897. 8.º de XXX-44 págs. O Baixo Clero – Jornal semanário, publicado em Bragança e depois em Lisboa. Durou, com várias interrupções, desde 11 de Agosto de 1899 a 24 de Junho de 1905. Acerca desta publicação, veja-se o respectivo nome no artigo Publicações periódicas. Dom Libaio Safadinho, O Bispo. Poemeto herói-cómico. Vigo, Tip. Moderna. 8.º de 39 págs. Saiu póstumo, sem nome de autor, como represália contra o bispo da diocese de Bragança, D. José Alves de Mariz, e contra o conselheiro Abílio Augusto de Madureira Beça. Este poemeto é extremamente raro, porque, falecendo Abílio Beça a 27 de Abril de 1910 colhido pelo comboio na estação de Salsas, quando acabava de se imprimir, os editores não o lançaram a público e inutilizaram, segundo um deles nos confessou, toda a tiragem, além de poucos exemplares oferecidos a um ou outro amigo. Tanto O Baixo Clero, na íntegra, como o Dom Libaio, em parte, tinham por fim único combater o já mencionado bispo, que suspendera do exercício das suas ordens o padre João Pessanha, por não se incorporar na procissão do Corpus Christi, e deram brado enorme esses ataques no meio bragançano, como se vê pelas polémicas que levantaram na imprensa desse tempo. Colaborou em vários periódicos, como: Revista de Educação e Ensino, O Primeiro de Janeiro, etc. PESSANHA (João Pedro de Almeida Morais) – Dos Pessanhas do distrito de Bragança. Nasceu na Figueira da Foz em 1804 e faleceu em Lisboa, sendo deputado, a 12 de Fevereiro de 1863 (591). Doutor em leis pela Universidade de Coimbra. Fez parte do batalhão dos voluntários académicos em 1826 contra o governo legitimista e era condecorado com a medalha nº 9 das campanhas da Liberdade. Foi conselheiro da prefeitura da província de Trás-os-Montes por decreto de 16 de Junho de 1834; moço-fidalgo por mercê régia de 3 de Abril de 1845; governador civil de Vila Real de 27 de Setembro de 1845 a 27 de Maio de 1846; membro da Junta Governativa do distrito de Bragança, sendo nessa ocasião agraciado com a comenda da ordem de Nossa Senhora da Conceição, em recompensa dos bons serviços prestados à mesma junta; e deputado às cortes por diversos círculos do distrito de Bragança em dez

(591) Ver tomo VI, p. 381, destas Memórias.

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PESSANHA

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legislaturas seguidas, desde 25 de Maio de 1840 até à data do seu falecimento (592). PESSANHA (João Pedro de Almeida Morais) – Administrador-geral dos correios e telégrafos, falecido em Ancião a 14 de Fevereiro de 1923 (593). Escreveu: Pela vida fora. Lisboa, 1920. Versos [9]. PESSANHA (José Benedito de Almeida) – Primeiro oficial do governo civil de Bragança, de onde foi transferido para idêntico cargo do da Horta em Fevereiro de 1890; primeiro oficial da secretaria da câmara dos deputados e deputado da nação. Nasceu na freguesia de Marmelos, concelho de Mirandela, a 16 de Fevereiro de 1862, casou a 5 de Abril de 1888 com D. Amélia da Costa e Sá, filha do doutor Francisco José da Costa e Sá, de Vale de Telhas, concelho de Mirandela, e faleceu em Matosinhos a 17 de Julho de 1927 (594). Era filho de Carolino de Almeida Pessanha e de D. Maria Augusta de Almeida Morais Pessanha e cunhado do conselheiro e ministro de Estado Eduardo José Coelho, de ambos os quais falamos a págs. 387 e 103, respectivamente. Escreveu: Notícia histórica dos Almirantes Pessanhas – Sua descendência dada no ano de 1900. Lisboa, 1900, Imp. de Libânio da Silva. 4.º, em papel de linho, de VIII-45 págs. e 11 inumeradas, contendo a árvore genealógica e o brasão colorido das famílias Pessanhas. Firminices e Charuladas (Notas para a história do partido regenerador no distrito de Bragança). Folheto in-8.º de 19 págs. É uma carga no governador civil deste distrito Firmino João Lopes e seu substituto João José Pereira Charula. Não trás tipografia nem indica o ano de impressão, mas vê-se que foi em 1890. Para a história...... (Episódios do movimento monárquico em 1919). Porto, Tipografia Progresso, 1919. 8.º gr. de 60 págs. Os Almirantes Pessanhas e suas descendências. Porto, 1923. 8.º gr. de VII+1 inumerada págs., com as armas dos Pessanhas iluminadas; 190+págs. É a 2.ª edição da obra atrás citada. Também colaborou sobre política e assuntos literários em vários jornais e revistas. PESSANHA (José Manuel de Almeida Morais) – Doutor em direito, filho do governador civil de Bragança João Manuel de Almeida Morais Pessa(592) PESSANHA, José Benedito de Almeida – Notícia histórica dos Almirantes Pessanhas, p. 39, e Documentos para a história das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, tomo IV, p. 892. (593) Ver tomo VI, p. 384, destas Memórias. (594) PESSANHA, José Benedito de Almeida, ibidem, p. 384.

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PESO DA RÉGUA

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PIEDADE

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nha. Nasceu em Cantagalo, Brasil, a 10 de Janeiro de 1820 e faleceu nos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 29 de Maio de 1878. Casou com D. Maria Amélia Leite Macedo Sarmento, natural dos Cortiços, de quem teve uma única filha, D. Cândida, casada com o doutor Albino Vaz das Neves, médico e deputado da nação. José Manuel Pessanha foi deputado pelo círculo de Bragança na legislatura de Janeiro de 1853 a 20 de Julho de 1856 e pelo círculo do Mogadouro na legislatura que principiou em Janeiro e findou, por dissolução, a 15 de Maio de 1865 (595). PESSANHA (Manuel de Almeida) – Nasceu nas Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 20 de Agosto de 1825 e ali faleceu a 15 de Janeiro de 1871. Foi governador civil de Bragança por decreto de 8 ou 13 de Julho de 1857 (596), tomando posse a 25 de Agosto seguinte, e par do reino por carta régia de 30 de Abril de 1863 (597). Manuel Pessanha havia sido nomeado governador civil de Bragança por não ter efeito o decreto de 2 de Março de 1857, que conferia este cargo, vago pela exoneração de Júlio do Carvalhal Sousa Teles, ao doutor João Silvério de Amorim da Guerra Quaresma, que não chegou a tomar posse (598). PESSOA (Manuel da Costa) – Comissário-geral durante a guerra da sucessão – 1640-1668 (599). PESO DA RÉGUA (Visconde do) – Em 1828 era governador das armas da província de Trás-os-Montes (600). PIEDADE (Frei Diogo da) – Franciscano pertencente à província de Santa Maria da Arrábida, natural de Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança. Morreu no convento da sua ordem em Lisboa a 21 de Fevereiro de 1635 com setenta e três anos de idade. A Crónica da sua ordem faz dele honrosa menção. Desempenhou os importantes cargos de custódio, guardião e definidor, que só costumavam ser conferidos a homens de reconhecida competência, e a 22 de Agosto de 1626, no Capítulo provincial, (595) PESSANHA – Notícia histórica dos Almirantes Pessanhas, p. 43. Ver tomo VI, p. 383, destas Memórias. (596) O Diário do Governo de 8 de Setembro de 1857 diz que esse decreto é do dia 8, mas no livro das actas de posse existente no governo civil de Bragança menciona-se o dia 13. (597) O mesmo Diário de 31 de Dezembro de 1862 diz que esse decreto é do dia anterior. Ver tomo VI, p. 384, destas Memórias. (598) Diário do Governo de 24 de Abril de 1857. (599) Ver tomo I, p. 97, destas Memórias. (600) ARRIAGA, José de – Hist. da Revolução de Setembro, tomo I, p. 273.

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PIEDADE

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PIMENTA

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celebrado no convento de S. José de Ribamar, em Lisboa, presidido por Frei Bernardino de Sena, ministro-geral de toda a ordem, foi eleito provincial. A sua eleição foi uma das mais celebradas daquele tempo, pois, dada a sua reconhecida competência, todos esperavam grandes coisas do seu zelo e prudência, no que não se enganaram. Foi debaixo do seu governo que a ordem viu concluídos os dois conventos de Salvaterra e Vale da Figueira. Sendo custódio, foi mandado pela sua ordem a Roma à celebração do Capítulo geral, onde as suas raras virtudes não passaram despercebidas (601). PIEDADE (Gaspar da) – Natural da comarca de Moncorvo, segundo o Hagiológio Lusitano, ou da mesma vila, segundo o Portugal Antigo e Moderno. Morreu a 26 de Março de 1615 com noventa e cinco anos de idade. Era de mediana estatura, diz o citado Hagiológio, corpo refeito, rosto alvo e corado, nariz afilado, barba veneranda, muito alegre, de honesta e santa conversação (602). Pelo que toca ao resto da sua vida, ver «Sendim da Serra». Gaspar da Piedade descendia de pais nobres. Foi a Roma, onde se ordenou de presbítero e viveu alguns anos, ganhando o jubileu do Ano Santo, concedido por Clemente VIII; foi depois visitar os lugares santos de Jerusalém e, voltando, fundou a ermida do Salvador do Mundo junto ao rio Douro, sobre a ponte do Cachão, em S. João da Pesqueira; aí colocou várias relíquias que trouxe das suas peregrinações, onde passou o resto da sua vida numa gruta, vivendo penitentemente perto da ermida e sendo reputado pelo povo como santo (603). PIMENTA (Serafim Cardoso) – Tenente de infantaria; natural da freguesia da Longa, concelho de Tabuaço, nasceu a 8 de Julho de 1889. Casou em Bragança, onde reside e constituiu família. É um grande artista fotográfico, sendo premiado com medalha de ouro na Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1922-1923 (Diário do Governo de 27 de Setembro de 1923) e foi director artístico da Ilustração Nacional que se publicou no Porto em 1915.

(601) JESUS MARIA, José de, Frei – Crónica da Santa Província de Santa Maria da Arrábida da regular e mais estreita observância da Ordem do Seráfico Patriarca S. Francisco. Lisboa, 1737, tomo II, parte II, livro I, capítulo VIII, p. 55, e cap. III, p. 17. (602) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 26 de Março. (603) COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa.

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PIMENTEL

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PIMENTEL (Acácio Rufino de Sousa Freire) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Nasceu em Castelãos, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 10 de Março de 1873; filho de Augusto César de Sousa Pimentel e de D. Amélia Leopoldina da Rocha. Escreveu: Breve estudo sobre os abcessos perinefréticos (Caso clínico) – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1904. 8.º de 94 págs.+2 de proposições e bibliografia. PIMENTEL (António José de Mesquita) – Natural de Sambade, concelho de Alfândega da Fé; nasceu pelos anos de 1741 e faleceu a 21 de Setembro de 1821. Doutor formado em cânones pela Universidade de Coimbra, desembargador da Relação Eclesiástica de Braga e abade de Salamonde, concelho de Vieira, distrito de Braga, de cujo benefício tomou posse a 8 de Junho de 1781, renunciando-o depois em seu sobrinho padre António Joaquim de Mesquita Pimentel, mas continuou a curar a paróquia enquanto viveu. Este sacerdote tornou-se célebre pelo livro que escreveu, intitulado Cartilha da Doutrina Cristã, vulgarmente chamada «Cartilha do Abade de Salamonde», de que se têm feito inúmeras edições, uma e às vezes duas por ano. É a obra mais divulgada para o ensino da doutrina cristã às crianças que existe em Portugal. Escreveu mais: Socorro de moribundos, dividido em duas partes. Porto, Tip. de António Álvares Ribeiro, 1793. 8.º de VI-476 págs. e mais 7, inumeradas, de índice. É livro de utilidade e completo no seu género (604). PIMENTEL (José António da Rocha Sarmento) – Natural de Bragança. Fez escritura de morgadio em 1769 em Bragança aos 25 de Julho. Era professo da ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício, sargento-mor e auxiliar do terço da cidade de Bragança e nela morador. Os bens vinculados eram situados em Bragança, Coelhoso, Lagoa e Frechas. Constituiu vínculo de todos os bens que lhe pertencessem na sua meação por morte de sua mulher D. Maria Pinto, com a pensão anual de oito missas. Duas destas missas seriam ditas na capela de Santo António, na sua quinta das Carvas. Esta quinta fora comprada por ele, fundador, a seu irmão Lourenço Caetano da Rocha Pimentel e confrontava com a quinta do morgadio de que José da Rocha Sarmento Pimentel fora fundador. Este tinha mais dois irmãos: padre Manuel Caetano da Rocha Pimentel e Aleixo da Nóvoa Sarmento da Rocha Pimentel.

(604) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Salamonde», e Dicionário Bibliográfico, tomo VIII, p. 206.

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A mulher de José António da Rocha Sarmento Pimentel era natural de Frechas; pelo menos, assim parece poder concluir-se da respectiva escritura. O fundador herdou mais uns bens de seu tio padre Manuel da Rocha Soares Pimentel e um vínculo em Lagoa, ao que parece deixado por este seu tio. Tinha mais dois tios, de que fora herdeiro, o padre Pedro Soares da Costa, confirmado de Lagoa, e padre João da Rocha Pimentel, confirmado de Coelhoso. Tinha o fundador um sobrinho de nome Gonçalo da Rocha Pimentel, filho de seu irmão Lourenço Caetano da Rocha Pimentel, em que encabeçava o morgadio, dadas certas circunstâncias. Diz que os padres, seus tios, fizeram a escritura da fundação do vínculo em 1709. A mesma família possui um atestado passado a 13 de Março de 1806 em que João Botelho de Lucena, coronel do regimento de cavalaria de Bragança, atesta que Gonçalo José da Rocha, de trinta anos, natural de Oucidres, cadete a 1 de Setembro de 1776 e alferes a 16 de Dezembro de 1792, morreu a 1 de Junho de 1800 (605). PIMENTEL (António Xavier da Rocha Sarmento) – Capitão de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando ocorreu o desastre em 1810 (606). PIMENTEL (António José Claudino de Oliveira) – General, governador da província de Trás-os-Montes em 1823 (607). Nasceu em Moncorvo em 1776; era filho de João Carlos de Oliveira Pimentel, capitão-mor comandante da brigada de ordenanças de Moncorvo, e de D. Violante Engrácia da Silva Torres. Faleceu a 13 de Agosto de 1831. Era condecorado com a divisa ganha na expedição do Rossilhão, com a medalha das campanhas peninsulares e com o hábito de cavaleiro de Avis e da Torre e Espada, pelos serviços prestados na campanha de Montevideu. Foi completar os seus estudos a Lisboa e em 1793 assentou praça no regimento de cavalaria de Alcântara, como cadete. Fez parte da expedição do Rossilhão em 1794, tendo passado ao corpo da marinha, e voltando ao país serviu desde 1795 a 1802 em diferentes esquadras no Brasil. Pelos anos de 1802 a 1803 obteve passagem da brigada de marinha para infantaria nº 24, sendo promovido a major por distinção em 27 de Agosto de 1810, «por haver conduzido a aguia do batalhão suisso que capitulou em Puebla de Senabria». Fez a campanha peninsular na guerra contra os franceses, assistindo aos combates de Amarante, Valverde, Pereiros, Puebla de Sanábria e em todos os (605) Ver tomo VI, p. 50, 407, 684, 685, 686, 709, 752 n.° 27 e 791, destas Memórias. (606) Ibidem, tomo I, p. 165. (607) Ibidem, p. 136, 159, 174, 183, 189, 190, 191 e 195.

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mais em que entrou a divisão do conde de Amarante, servindo de ajudante de ordens desse general, que era o governador das armas da província de Trás-os-Montes, sendo-lhe confiadas por esta ocasião comissões de muita importância, como um reconhecimento às forças do inimigo, na Beira, junto a Trancoso, que levou a melhor efeito, internando-se mesmo entre as vedetas francesas, das quais esteve prestes a ser prisioneiro, tão exactos dados queria colher para informar seguramente o seu chefe! Nesta comissão levara como ordenança o cabo de esquadra José Aragão Lira, de cavalaria nº 12, que depois faleceu em Bragança sendo coronel da mesma unidade. Outra comissão ainda mais honrosa e não menos perigosa foi a que desempenhou em 1810, sendo encarregado de levar uma águia imperial tomada no ataque de Puebla de Sanábria no ano citado, ao marechal-general Wellington, a primeira que se tomou aos franceses em todas estas campanhas do exército luso-britânico, glória imperecedoura que cabe às tropas trasmontanas. Em 24 de Junho de 1815 foi promovido a tenente-coronel para o estado-maior do terceiro batalhão de caçadores da divisão de voluntários reais do príncipe que de Portugal devia ir a Montevideu (Brasil) combater as tropas revoltadas de Guacho Artigas, para onde embarcou em 20 de Janeiro de 1816, fundeando a 29 de Março seguinte em frente do Rio de Janeiro. Nestas campanhas muito se distinguiu Claudino Pimentel, merecendo que a parte oficial de 21 de Novembro de 1816 do marechal-de-campo Sebastião Pinto de Araújo Correia, onde comunicava ao general-em-chefe Carlos Frederico Lecor as ocorrências daquele dia, singularizasse que «com particularidade o serviço de S. Magestade deve muito á cooperação do tenente-coronel António José Claudino». Ainda no Brasil, mas já derrotadas as tropas de Artigas, tendo chegado a notícia da revolução de 24 de Agosto de 1820, Claudino pôs-se à frente do movimento que em Montevideu proclamou a constituição em Portugal a 20 de Maio de 1821 e foi nomeado vice-presidente da Junta Governativa que naquela importante praça se organizou e da qual era presidente o barão de Laguna, capitão-general, sendo na «Ordem do dia» de 7 de Junho de 1821 encarregado do comando da 1.ª brigada de infantaria, passando a assinar desde essa época os documentos oficiais com a qualificação de brigadeiro-ajudante-general, como se vê num ofício dirigido de Montevideu a 14 de Julho de 1821 a João Joaquim Pereira do Lago, que comandava o 1.º regimento de infantaria (608). Por decreto de 9 de Dezembro de 1821 foi nomeado governador da capitania-geral de Mato Grosso, cargo que não chegou a exercer, voltando a (608) PIMENTEL, Júlio Máximo de Oliveira, visconde de Vila Maior – Memorial biográfico de um militar ilustre, o general Claudino Pimentel, p. 125, de onde respigámos as notas para esta biografia.

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Portugal retemperar com os ares pátrios a sua saúde abalada, encontrando-se no Verão de 1822 já em Moncorvo. A 23 de Fevereiro de 1823 o general Manuel da Silveira Pinto da Fonseca, segundo conde de Amarante, levanta em Vila Real o estandarte da revolta contra o governo constitucional, no intuito de restaurar o poder absoluto; Claudino oferece ao congresso os seus serviços que os utiliza encarregando-o do comando das forças estacionadas em Lamego, compostas de caçadores nº 8, contingentes do 1 e 7, um batalhão de infantaria nº 11 e um parque de artilharia vindo de Almeida. Com estas forças, no intuito de inquietar o inimigo pelo lado do nascente, atravessou o Douro, no Pocinho, de acordo com o general Andrade Pego, que devia ocupar Moncorvo, ao passo que outras forças do governo convergiam para a nossa província no intuito de localizar a revolta e bater os seus aderentes; mas Silveira derrota no dia 13 de Março de 1823 no monte de Santa Bárbara, perto a Chaves, as tropas de Pamplona Moniz, governador das armas de Trás-os-Montes. O general Luís do Rego Barreto, comandante-em-chefe do exército de operações, receando que Silveira, orgulhoso com a vitória, tentasse passar à província do Minho na direcção do Porto, apressa a concentração de todas as forças disponíveis, estabelece a sua linha de defesa na margem do Tâmega e, reconhecendo a necessidade de ter junto a si um general de confiança, energia e saber, nomeia Claudino governador interino das armas da província de Trás-os-Montes e segundo comandante do exército de operações à frente de uma brigada composta de caçadores n.os 3 e 5, infantaria n.os 6 e 15, de um corpo de cavalaria e de parte de artilharia nº 4. Efectivamente assim sucedeu: a 23 do mesmo mês as tropas revoltadas, comandadas por Gaspar Teixeira, tentam forçar a passagem da ponte de Amarante; a luta foi porfiada e tenaz, mas o bravo batalhão de caçadores nº 5, composto quase todo de trasmontanos recrutados em Moncorvo, comandado por Claudino, decide da vitória. A derrota dos realistas foi completa, obrigando-os a internarem-se em Espanha e perseguindo-os Luís do Rego até Bragança, onde entrou a 13 de Abril seguinte à frente de uma divisão de mais de doze mil homens. Em ofícios de 24 e 25 de Março, dizia Luís do Rego ao ministro da Guerra, dando-lhe parte da acção do dia anterior: «Eu sou singularmente devedor aos conselhos do brigadeiro Antonio José Claudino Pimentel... eu o nomeei general em segundo... e interinamente governador das armas, e espero que V. Ex.cia ponha na presença de sua magestade as razões porque tomo esta deliberação, afim de que haja por bem confirmal-a por seu regio decreto. O general Claudino Pimentel é tão affecto á causa da patria, quanto o sabia a nação inteira; natural de Traz-os-Montes, tem na provincia um MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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grande partido, que crescerá prodigiosamente assim que seja nomeado; além d’isso é homem de firme caracter e rigida disciplina» (611). Parece que o governo interino de Claudino se assinalou por actos de força pouco recomendáveis, como foram o incêndio das casas do reitor de Azinhoso e de uma parte da povoação da Trindade, concelho de Vila Flor, embora mesmo lhe demos a atenuante do estado anárquico em que ficava a província presa das facções políticas organizadas em guerrilhas com o cortejo de violências peculiares. No entanto, as ideias absolutistas triunfam com a Vilafrancada em 5 de Junho de 1823 e os que haviam tomado parte activa pelo lado contrário são demitidos e alguns desterrados como Claudino para a ilha do Faial, de onde só voltou em 1825, regressando à sua casa em Moncorvo, onde se conservou até à morte de D. João VI, que, trazendo a outorga da Carta Constitucional e a regência do reino pela infanta D. Isabel Maria, fez orientar os espíritos no sentido liberal e promoveu o chamamento dos homens desse partido, sendo portanto Claudino reintegrado no posto de brigadeiro e por decreto de 21 de Setembro de 1826 nomeado comandante da força armada da capital, para onde logo partiu. Pouco depois foi eleito deputado por Trás-os-Montes, mas quando as cortes se reuniram em 30 de Abril seguinte já ele não estava em Lisboa, pois havia sido em 19 desse mês encarregado do comando de uma divisão volante que devia operar na Beira Alta, ou onde fosse necessário, contra a facção absolutista que novamente se pôs em campo, no intuito de proclamar o sistema absoluto. Como na nossa província fermentaram mais activamente essas tendências, a 16 de Novembro seguinte passou Claudino a Moncorvo e dali sucessivamente a Mirandela e Vinhais, onde estava no dia 23, e dali participava ao governo «o estado de revolta em que se achavam os povos vizinhos da fronteira, formando guerrilhas que infestavam toda aquella região, e a approximação do marquez de Chaves e visconde de Monte Alegre, chefes dos revoltados de Bragança». «No dia 24 soube em Santa Valha que no dia anterior os rebeldes com os regimentos n.os 11 e 24 de infanteria, nº 7 de caçadores, 150 cavallos e mais de mil guerrilhas tinham entrado em Bragança, havendo-se o coronel Valdez recolhido ao derrocado castello da cidade, onde não podia defender-se por muito tempo, quando podia e devia operar uma facil retirada para o centro da provincia, reunindo-se á divisão volante e ás forças de que ainda em Chaves dispunha o general da provincia; evitando d’este modo a triste capitulação, com que no dia 26 foi obrigado a entregar-se nas mãos dos rebeldes. (611) PIMENTEL, Júlio Máximo de Oliveira – Memorial…, p. 140.

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Claudino, achando-se com forças muito inferiores em numero áquellas com que os rebeldes occupavam Bragança, e vendo que a insurreição se generalisava por toda aquella parte da provincia, tendo-se lá apoderado de Lomba, de Vinhaes, de Bragança e Miranda, resolveu retirar-se sobre Chaves. Alli ainda, de combinação com o general Correia de Mello, governador das armas da provincia de Traz-os-Montes, tentou marchar no dia 29 sobre Bragança; mas chegando a Murça no dia 3 de Dezembro, conheceu que seria indesculpavel imprudencia atacar as forças reunidas dos rebeldes... que se acercavam já de Mirandella. Esta rezolução deu em resultado o fortificarem-se Claudino e Correia de Mello na linha do Tâmega, no intuito de garantirem a provincia do Minho e Douro, visto que as tropas rebeldes de Bragança haviam marchado: parte sobre Chaves e parte sobre Villa Real, convergindo sobre a ponte de Amarante, onde foram derrotadas no dia 15 de Dezembro d’esse anno de 1826, singularisando-se Claudino pelo modo como conduziu (diz o marquez de Angeja na sua participação ao ministro da Guerra) ao fogo as tropas, não deixando nem por um momento a linha dos atiradores». Os louros imarcescíveis que nesta campanha aureolaram Claudino, ceifou-os ele na batalha de Coruche, na Beira, a 9 de Janeiro de 1827. «Mas o general Claudino – diz Luz Soriano (612) – superando pela sua estrategia o que lhe faltava em numero, teve a gloria de planear esta batalha, unica regular que houve em toda esta campanha. Foi elle o que tambem delineou o ataque como entendeu, debaixo do commando do general conde de Villa Flôr, e de accordo com elle». Por isso a musa popular, celebrando-lhe o feito, cantava: Dia nove de Janeiro De Claudino a divisão Fez em Coruche triunfar Liberal constituição. Nesta acção comandou Claudino em chefe as tropas realistas por comissão do general conde de Vila Flor, comandante da divisão. Parece que este não viu sem imaculação os louros de Claudino, tentando mesmo alguns seus adeptos ofuscar-lhos, questão que foi muito debatida na imprensa desse tempo. É, porém, certo que a glória desta acção cabe ao nosso conterrâneo (613) e o conde de Vila Flor em mais de uma «Ordem de divisão», como

(612) SORIANO, Luz – História da Guerra Civil, tomo II, parte II da 3.ª época. (613) Veja-se Documentos para a história das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, 1827, tomo III, p. 78, em nota, onde vêm transcritos os documentos referentes a esta questão.

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nas de 13 e 18 de Janeiro de 1827, viu-se obrigado a reconhecer os relevantes serviços por Claudino prestados à causa liberal (614). Talvez não fosse estranho a esta emulação o facto de Claudino se ver obrigado a tomar assento na câmara dos deputados a 12 de Fevereiro de 1827, cargo para que fora eleito pela província de Trás-os-Montes. Do discurso que pronunciou nessa ocasião (615) parece depreender-se o que levamos dito. «Que razão haveria – diz ele – para me inhibirem o poder continuar as operações militares em Traz-os-Montes com o especioso pretexto de ter n’aquella provincia inimisades particulares, e que por isso mesmo não poderia contribuir para a pacificação d’aquella provincia?!» Em «Ordem da divisão volante» de 12 de Janeiro de 1827 havia-se Claudino despedido dos seus briosos camaradas de armas, tecendo os mais rasgados elogios à cooperação dos seus bravos (616). Claudino, como deputado, assinalou-se pela ferocidade de uma lei marcial, cujo projecto apresentou na sessão de 13 de Fevereiro de 1827, que mandava julgar sumariamente por uma comissão militar e fuzilar imediatamente todo o indivíduo que fosse encontrado com armas na mão em favor dos realistas (617). Claudino acompanhou com considerandos esta proposta e terminou por dizer: «Castigos promptos e energicos salvarão a malfadada provincia de Traz-os-Montes, aonde tive a desgraça de nascer». Felizmente, a comissão encarregada de dar parecer sobre esta proposta, onde figurava um outro bragançano, Manuel Gonçalves de Miranda, cujas ideias liberais eram bem conhecidas e por isso nada suspeito, declarou por unanimidade, na sessão de 8 de Março desse ano, que ela não podia nem devia submeter-se à deliberação da câmara (618). Tão bárbara era a proposta!... A seguinte passagem do discurso que Claudino pronunciou a 13 de Fevereiro de 1827 é bastante clara para dispensar comentários: «Senhor presidente: a necessidade dos castigos é urgentissima; e senão digam-me qual será preferivel: suppliciar oito ou dez criminosos, e queimar seis ou oito casas em Traz-os-Montes, ou deixar continuar o maior flagello – a guerra civil?» Entretanto, o partido absolutista cria novas forças com a chegada de D. Miguel de Viena de Áustria a 22 de Fevereiro de 1828; a 14 de Março seguinte as cortes são dissolvidas, e Claudino obtém seis meses de licença e retira-se para Moncorvo, onde chegou a 5 de Abril desse ano. Aí, os espíri(614) Documentos para a história das Cortes…, p. 75 e 84. (615) Ibidem, p. 226, e Memorial biográfico…, p. 179. (616) Ibidem, p. 86, onde vem transcrita. (617) Ibidem, p. 283, que publica por extenso a sua proposta. (618) Ibidem, p. 361.

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tos exaltam-se cada vez mais, favorecidos pelo corregedor Malafaia, pondo em risco a vida dos constitucionais; a 7 de Junho Claudino e seu irmão Luís Cláudio fogem, embarcando de noite na foz do Sabor, pelo Douro abaixo, dirigindo-se ao Porto (619); mas no cais da barca do Carvalho, uma légua abaixo da Régua, são presos pela guarda de milicianos de Lamego, que os conduziu para esta cidade, de onde foram mandados para as prisões de Vila Real e depois, segunda vez, para Lamego, e daí, de cadeia em cadeia, por Viseu, Covilhã e Abrantes a Lisboa para as prisões do castelo de S. Jorge e desta para as de S. Julião da Barra. Aqui estiveram os dois, António Claudino e seu irmão Luís Cláudio (pai do visconde de Vila Maior, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel), mais de um ano incomunicáveis nas prisões subterrâneas, sujeitos aos maus tratos bem conhecidos pela celebridade triste que granjearam a Teles Jordão, governador da citada prisão. Foram depois transferidos para a cadeia da Relação do Porto, onde foram julgados e condenados por sentença de 15 de Dezembro de 1830: António Claudino em cinco anos de efectiva prisão no presídio das Pedras Negras em África e 400$000 réis para as despesas da alçada, e seu irmão Luís Cláudio em três anos de idêntica prisão no castelo de Peniche e 200$000 réis para as ditas despesas, mas sobrevindo ao general um forte ataque de gota em Junho de 1831 e como se lhe concentrasse no coração, faleceu na mencionada cadeia do Porto a 13 de Agosto desse ano (620). «Le general Claudino, malade, fut roulé, presque jusqu’a extinction, dans le tonneau dans le quel il s’était saché». Este trágico e bárbaro suplício infligido ao nosso biografado, que encontramos descrito na obra Dom Miguel, ses aventures scandaleuses, ses crimes et son usurpation, par un portugais de distinction, Paris, 1835, pág. 213, não é exacto, dado o testemunho ocular do sobrinho Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, de cujo Memorial biográfico extractamos as notícias retro; representa simplesmente, como todo o resto do volume, um infame amontoado de calúnias que o seu autor anónimo, mas hoje bem conhecido, José Vitorino Barreto Feio (621), não teve escrúpulo de assacar a D. Miguel, no intuito de o tornar odioso.

(619) Pinheiro Chagas na História de Portugal, popular ilustrada, tomo VIII, p. 350, diz que Claudino Pimentel fora, à última hora, chamado pela Junta do Porto. (620) PIMENTEL, Júlio Máximo de Oliveira – Memorial de um militar ilustre, o general Claudino Pimentel. (621) CHAGAS, Pinheiro; COLEN, Barbosa – História de Portugal…, vol. IX, p. 402.

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Referindo-se à retirada para Moncorvo de Claudino, após a dissolução das cortes, diz Soriano (622): «A Junta, desdenhosa do valioso apoio d’este general, não mostrou ter grande empenho em agencear um militar de génio altivo e ousado que lhe dictaria as leis e a forçaria a obrar, militar que demais a mais tinha contra si o ser progressista e o ter-se mostrado na camara dos deputados decididamente hostil aos perniciosos e subservientes ministros da infanta regente D. Izabel Maria. Claudino, quando mais tarde cuidou em unir-se á revolução do Porto, fugindo de Moncorvo, teve a infelicidade de ser descoberto e preso, terminando seus dias muito antes de restaurado o governo legitimo». A mulher do Claudino É uma santa mulher; Dá os ossos ao marido, A carne a quem ela quer. Ai, Jesus Viva o Cachapuz! (623) Esta canção popular, em voga nas lutas constitucionais, que mesmo no campo da honra não poupavam referências pungentes, parece referir-se ao general Claudino Pimentel; ignoramos, porém, se foi casado. Poderá mesmo referir-se a uma irmã que o foi visitar a Lisboa, às prisões de S. Julião da Barra, a propósito da qual diz o seu biógrafo e sobrinho (624), falando de Teles Jordão: «Por ter estado hospedado em nossa casa (Teles Jordão) tantos dias e bizarramente tratado, devia conhecer perfeitamente minha tia, que, além de tudo isso, era uma senhora notavel pela sua formosura, elegancia e superior distincção; pois aquele selvagem nem se deu por conhecido, nem lhe offereceu assento». PIMENTEL (Carlos) — Governador de Miranda do Douro, que vendeu a praça ao inimigo por seis mil dobrões em 1710 (625).

(622) SORIANO, Luz – História do Cerco do Porto, nova edição ilustrada, «Discurso preliminar», p. 295. (623) CHAGAS, P.; COLEN, Barbosa – História de Portugal, vol. IX, p. 220. (624) PIMENTEL, Júlio – Memorial biográfico …, p. 249. A Ilustração Trasmontana, Porto, 1908, p. 102, publicou o retrato de Claudino Pimentel acompanhado de dados biográficos. (625) Ver tomo I, p. 116, destas Memórias.

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PIMENTEL (Domingos de Morais) – Impresso em véu de cálix, de seda, há, na capela dos Pimentéis da Bemposta, concelho do Mogadouro, o seguinte: «Nobilissimo / Viro / Colendissimo / Patrono / ac / Praeclarissimo / Mecoenati, Domino / scilicet / Dominico / de Moraes Pimentel / in oppido de Bemposta Duci Maximo emeritissimo / Sacrorum Canonum Lytae ornatissimo, / in Salmanticensi Universitate Designato / Doctori Sapientissimo, / ex illustri Tribuno Militum, / Dedaco de Moraes Pimentel in armamentario / Mirandensi olim Gubernatori inexpugnabili, / Filio, Nato, / Avunculo suo stridissimo, / pluries amabilissimo: / in arctissimam sanguinis necessitudinem, / ac grati animi signum / D.V. O. & C». Na mesma capela há várias bulas também impressas em seda, segundo nos disse o doutor Casimiro Henrique de Morais Machado, do Mogadouro, nosso benévolo e inteligente informador. A legenda da sineta da mencionada capela tem a data de 1674. Ver o artigo Andrade (André Manuel Freire de), pág. 21. PIMENTEL (Emílio Claudino de Oliveira) – Escreveu: Dissertação sobre a sericicultura e particularmente no concelho de Moncorvo. Foi publicado a 20 de Junho de 1866. PIMENTEL (João Afonso) – Alcaide-mor de Bragança no tempo de D. João I, conde de Benavente em Castela (626). PIMENTEL (João Carlos de Oliveira) – Capitão-mor de Moncorvo em 1808 (627). PIMENTEL (João Inácio Teixeira de Meneses) – Engenheiro agrónomo director da Estação Trasmontana de Fomento Agrícola, sócio do Instituto de Coimbra, cavaleiro da ordem de S. Tiago. Nasceu no Mogo de Malta, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 10 de Fevereiro de 1859 e faleceu em Abreiro, concelho de Mirandela, onde casara, a 30 de Dezembro de 1915. Era filho de João Evaristo Teixeira de Almeida Meneses Guerra e de D. Sancha Augusta de Almeida Pimentel, viscondessa de Barcel (628). Fez os estudos liceais em Braga e no Porto e os da especialidade no Instituto Geral de Agricultura, que concluiu em 1886, sendo colocado como agrónomo subalterno em Bragança. A (626) Ver: tomo I, p. 67 e 102, destas Memórias; Revista de História, ano XII, 1923, p. 161 e 177, onde Angel Gonzalez Palencia, professor da Universidade de Madrid, publica um interessante artigo sobre Los Condes de Benavente y Portugal; e La Esfera, revista espanhola, de 24 de Agosto de 1918. (627) Ver tomo I, p. 136, destas Memórias. (628) Ibidem, tomo VI, p. 20.

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portaria de 18 de Fevereiro de 1889 incumbiu-o de proceder em Trás-os-Montes a ensaios de criação do sirgo e produção de semente sã pelo método Pasteur, de onde resultou a sua obra Tentativa de um plano de regeneração de sericicultura, adiante mencionada, e o decreto de 29 de Outubro de 1891, que transformou a Estação Químico-Agrícola da segunda região agronómica de Mirandela em uma Estação de Sericicultura, sob a sua direcção. No ano lectivo de 1899-1900 foi nomeado professor técnico da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra, onde apenas esteve alguns meses, por ser enviado à Madeira em comissão oficial e no regresso reconduzido à direcção da Estação Sericícola de Mirandela. Em 1909 foi chefe de gabinete do ministro das Obras Públicas, Barjona de Freitas, sendo por ele mandado à Espanha estudar os processos de cultura de flores e frutos. Desta missão resultaram as publicações respectivas adiante mencionadas. Foi presidente da Câmara Municipal de Mirandela e representou o nosso governo no Congresso Internacional de arroz em Valência, seguindo depois em missão pela França, Itália e Suíça. Ultimamente estava colocado em Lisboa, onde era chefe do 3.º grupo dos serviços agrícolas da direcção agrícola do centro. Além de vários relatórios oficiais, publicou Sericicultura Portuguesa. Lisboa, Administração do Portugal Agrícola, 1902. 8.º peq. de 374 págs. Colaborou no Portugal Agrícola, onde escreveu muitos artigos, principalmente nos anos de 1892 e 1893. Também há colaboração sua na Agricultura Nacional, especialmente em 1893, na Gazeta das Aldeias, de que foi redactor, e em vários outros jornais. No Boletim da Direcção-Geral de Agricultura, XIV ano, nº 41, 1891, vem publicado um seu relatório sobre sericicultura. Deste trabalho há uma separata com o título Tentativa de um plano de regeneração de sericicultura portuguesa – Mapas do movimento comercial de produtos agrícolas naturais e derivados, preparados durante os anos de 1870 e 1890. Lisboa, 1892. 8.º de 217 págs. No mesmo Boletim há vários outros trabalhos da autoria de Meneses Pimentel. Almeria – Los parrales de uva de Oharrez e uva de casta, engarfe ou fecundação artificial, regras de venda da uva de Almeria na América do Norte. Lisboa, 1910. 8.º de 22 págs. Valência e Barcelona – Frutos, legumes e flores – Horticultura e arboricultura – Forçagem ou cultura forçada – Colheita, conservação e acondicionamento de frutos, legumes e flores cortados para transporte – Criação de parques e jardins. Lisboa, Imp. Nacional, 1910. 8.º de 118 págs. A regeneração sericícola em Espanha. Lisboa, Imp. Nacional, 1910. 8.º de 48 págs. Estes três opúsculos são o resultado de uma missão agronómica em Espanha desempenhada pelo autor de ordem do governo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Regiões pluviométricas do continente português. Lisboa, 1915, Imp. Nacional. 8.º gr. de 51 págs. com 4 mapas desdobráveis. Este estudo foi publicado no Boletim da Direcção-Geral de Agricultura. PIMENTEL (D. João Maria Pereira Botelho de Amaral) – Bispo de Angra do Heroísmo (Açores). Nasceu na vila de Oleiros, distrito de Castelo Branco, a 21 de Julho de 1815. Concluiu a sua formatura em direito na Universidade de Coimbra, onde obteve brilhantes classificações, em 30 de Junho de 1849. Em 1850 acompanhou, na qualidade de secretário, o bispo de Bragança D. Joaquim Pereira Ferraz, dando ambos entrada na sede do bispado a 8 de Fevereiro desse ano. A 8 de Agosto seguinte foi nomeado provisor e vigário-geral em substituição do padre Manuel Martins Manso, que passou a bispo do Funchal, e também em 10 de Dezembro ainda de 1850 sucedeu ao mesmo no cargo de chantre da Sé catedral. Por provisão de 22 de Maio de 1852 foi nomeado governador do bispado na ausência do prelado. Sendo transferido para Leiria o bispo D. Joaquim Pereira Ferraz, foi João do Amaral Pimentel eleito vigário capitular em Abril de 1853 e neste cargo esteve até Junho de 1854, em que tomou posse do bispado, por procuração, em nome do novo prelado, D. José Manuel de Lemos. Em 2 de Outubro de 1854 saiu de Bragança e partiu para Leiria, para cuja Sé fora nomeado deão, devido, sem dúvida, à interferência do bispo Ferraz. Em 23 de Março de 1857 a Academia Real das Ciências de Lisboa elegeu-o «Associado provincial». Por decreto de 9 de Maio de 1865 foi nomeado bispo de Macau e confirmado no Consistório de 8 de Janeiro de 1866, para onde não chegou a ir, sendo entretanto nomeado, a 4 de Julho de 1865, superior do colégio das Missões Ultramarinas em Cernache do Bonjardim, e depois, por decreto de 15 de Junho de 1871, transferido para bispo de Angra do Heroísmo e confirmado no Consistório de 22 de Dezembro desse ano, sendo sagrado na igreja de Cernache, a 28 de Abril de 1872, pelo bispo de Bragança D. José Alves Feijó. Para a sua bibliografia, ver: Vida pública do novo Bispo de Angra D. João Maria de Amaral e Pimentel, por Carlos José Caldeira; Dicionário Bibliográfico, continuação de Brito Aranha, tomo X; Portugal Antigo e Moderno, artigo «Cernache do Bonjardim»; Portugal – Dicionário histórico, biográfico, etc., que insere o seu retrato, em cujas obras se encontram completas notas referentes a este governador do bispado de Bragança, das quais extractamos apenas as que interessavam a esta diocese e bibliografia respectiva, deixando muitas outras das suas produções, que não dizem respeito directo à igreja bragançana; e tomo II, págs. 208 e segs., destas Memórias. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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D. João Maria Pereira Botelho de Amaral e Pimentel, como tantos outros, era um desses altos dignitários, exportados pelo poder central, aqui arribados, cheios de pruridos inovadores e de planos de formação sacerdotal, coisa desconhecida absolutamente na região, em seu entender. Julgando que isto de Trás-os-Montes devia ser, como o nome parecia indicar-lhes, terra de selvagens e como tais os moradores, além de ignorantes e parvos, estendem-se em pavonear novidades devocionárias, untuosinhas e amaneiradinhas, em disposições regulamentares aferidas pela sua psicologia etnicamente diversa da trasmontana, que não curam de estudar por bárbara, como diziam os romanos dos antigos lusitanos, a fim de se habilitarem a fazer coisa com jeito, e o resultado é a inobservância, a queda ridícula dos tais elixires de longa vida espiritual, o desastre trágico-cómico, como sucedeu ao doutor António Manuel Pereira Ribeiro, agora (Janeiro de 1930) bispo do ultramar, com o motim do Seminário em 1904; ao bispo Martens Ferrão, com o célebre Mandamento e a outros. Amaral e Pimentel estabeleceu na diocese o regime da denúncia. A respectiva correspondência arquivada no Museu Regional de Bragança é enorme; excede muito a dos seus antecessores. E ainda não era bispo! que faria se o fosse... A menos que se não trate de armadilhas de bispável. É um recheio de frescuras confidenciais, denúncias, delações e acusações infames e vergonhosas! São devassos a acusar outros desta ou daquela falta, talvez por ódio ou rivalidade, ou no intuito de desviar o raio da cabeça; são incompetentes a abocanhar colegas de ignorantes; são indiferentistas laivando vizinhos de falhos na fé; são imbecis e concussionários a ostentar pruridos de sabenças em disparatados aranzéis de armar ao efeito da probidade. Enfim, a desordem que sempre surge quando se entra no regime da delação, sem mesmo faltar o vírus da ascorosa carta anónima!… O engraçado é que no aludido Museu há dois manuscritos (fólios) encadernados, tendo um por fora, na lombada, estes dizeres: Registo / Geral / do Bispado. E dentro, no termo de abertura: «Ha-de servir para n’elle se registarem as Pastoraes, Circulares, Editaes, Ordens e Officios em geral do Vigario Capitular do Bispado de Bragança, João Pereira Botelho de Amaral e Pimentel». Tem oitenta e oito fólios paginados modernamente, além de vários em branco. O outro diz na lombada: Autoridades e superiores. E por dentro, no termo de abertura: «Ha-de servir para n’elle se registar a correspondencia com as Auctoridades Superiores do Vigario Capitular do Bispado de Bragança João Pereira Botelho de Amaral e Pimentel». Tem cinquenta e seis fólios. Estes dois livros estavam em Angra do Heroísmo, para onde os levara o dono quando para lá foi nomeado bispo, em poder do padre Manuel Maria da Costa, secretário do mesmo, que, sendo amigo do notável escritor douMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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tor Manuel Ferreira Deusdado, professor do liceu de Angra de Heroísmo, lhe fez presente deles, e este ao autor destas Memórias, que os ofereceu ao Museu Regional de Bragança por tanto interessarem à nossa região. O mais engraçado, repetimos, é que este fautor da delação e tão rijo com os pequenos, como se vê do tuautismo das suas cartas, surge cobarde e bajulador com os superiores e grandes; e ele, que parece antepor as coisas do céu a tudo o mais, não descura os benesses temporais, mesmo que tenha de praticar injustiças e rasgar os cânones. Como o piedoso doutor Cunha, de quem falámos a págs. 143, chegava a consultar os administradores de concelho para colocar ou não párocos amovíveis nesta ou naquela freguesia. São os tais católicos conselheirais, aprumados, respeitadores, amaneirados, conservadores, sempre muito abotoadinhos, escovados e engraxados, para quem o protocolo, o exterior compostinho e sério é tudo. PIMENTEL (José Ferreira Sarmento) – Coronel, governador do forte de S. João de Deus de Bragança em 1762 (629). PIMENTEL (Júlio Máximo de Oliveira) – Nasceu em Moncorvo a 11 (630) de Outubro de 1809 e faleceu em Coimbra a 20 de Outubro de 1884. Era fidalgo da casa real, comendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição, por decreto de 20 de Março de 1857; cavaleiro das da Torre e Espada e de S. Bento de Avis e da Legião de Honra de França; 2.º visconde de Vila Maior, por mercê de 15 de Julho de 1861 (631); bacharel formado em matemática pela Universidade de Coimbra, tenente-coronel reformado de infantaria, lente da Escola Politécnica de Lisboa e director do Instituto Agrícola da mesma cidade; reitor da Universidade de Coimbra; deputado às cortes em várias legislaturas; par do reino nomeado em 1862; vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa no biénio de 1858-59; encarregado de várias comissões de serviço público; sócio e presidente da primeira classe da Academia Real das Ciências de Lisboa; sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto de Coimbra, da «Society of Arts» de Londres, da Academia de Agricultura de Florença, etc. Era filho do 1.º visconde de Vila Maior, Luís Cláudio de Oliveira Pimentel, e de D. Angélica Teresa de Sousa Pimentel Machado e sobrinho do general António José Claudino de Oliveira Pimentel, a quem aludimos na pág. 394.

(629) Ver tomo I, p. 269, destas Memórias. (630) O tomo XIII do Dicionário Bibliográfico, emendando a data do nascimento, diz que foi dia 5 de Outubro e não dia 11; e a Resenha das Famílias Titulares, de Baena, diz que nasceu a 4 de Outubro. (631) O citado Dicionário, no mesmo tomo, diz que este decreto é de 1871, mas engana-se.

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Escreveu: Lições de química geral e suas principais aplicações, etc. Lisboa, 1850. 8.º gr., três tomos. Relatório sobre a Exposição Universal de Paris – Artes químicas. Lisboa, I parte, 1857. 8.º gr. II parte, 1859. Idem. Análise das águas minerais das Caldas da Rainha, feita em Julho de 1849 – Precedida de uma introdução histórica. Saiu no tomo II, parte II, da 2.ª série das «Memórias da Academia Real das Ciências», 1850, de que também se tiraram exemplares in-fólio em separado. Estudo químico das sementes do amendobi. Lisboa, 1853. 4.º gr. de 40 págs. Saiu também no tomo I, parte I, das citadas «Memórias» (nova série, classe 1.ª). Elogio histórico de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque – Lido na sessão pública da Academia Real das Ciências. Lisboa, 1856. 4.º gr. de 36 págs. Também saiu no tomo II, parte I, das ditas «Memórias» (nova série, classe 1.ª). Memória sobre a produção do sulfato de soda no vulcão da ilha do Fogo, no arquipélago de Cabo Verde. Lisboa. 4.º gr. de 25 págs. Foi publicado também no tomo II, parte I, das mesmas «Memórias». Análise das águas minerais do Gerês. No tomo III, parte II, da 2.ª série das «Memórias da Academia» e também em separado. A Gazeta Médica do Porto, 1852, n. os 239 e 241, em artigo do doutor Pereira Caldas; o Jornal da Sociedade Farmacêutica Lusitana, 1851, pág. 303, e o Jornal de Farmácia e Ciências Acessórias, 1851, pág. 164, fizeram honrosas apreciações desta obra. Parecer apresentado à Academia Real das Ciências com as bases que devem servir de tema à discussão pública sobre a reforma e melhoramento da instrução nacional. Datado de 12 de Junho de 1857. Fólio de 10 págs. Colaborou também neste trabalho Latino Coelho, em desempenho da comissão que ambos receberam. Desenvolvimento da superfície activa dos corpos porosos, aplicado à construção das pilhas galvânicas. Nos «Actos da Academia Real das Ciências», tomo II, 1850. Nota sobre a composição química das águas de Moura no Alentejo. Ibidem. Nota sobre a existência de um novo ácido gordo, encontrado no cebo do brindão. Nos «Anais das Ciências e Letras», publicados pela Academia das Ciências, tomo I (1.ª classe), 1857. A produção de sulfato de soda no vulcão da ilha do Fogo. Ibidem. (Ver acima.) Relatório sobre o estudo químico do óleo de rícino, etc. Tradução. Ibidem. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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O aluminium – Notícia científica. Ibidem. Ver também o Arquivo Universal, tomo III. Estudo sobre a viciação do ar atmosférico. Ibidem. Revista dos trabalhos químicos em 1857. Ibidem. Sobre a faculdade fertilizante das dejecções animais. Ibidem. Morte do senhor barão Thenard. Ibidem. Novo processo de panificação. Ibidem. Memória sobre higiene pública, com aplicações principalmente à cidade de Lisboa. Ibidem. Revista dos trabalhos químicos em 1858. Ibidem, tomo II. As águas sulfuradas das Caldas da Rainha. Ibidem, tomo II. É continuação e complemento do trabalho já publicado nas «Memórias da Academia»; e ainda outro sob o mesmo título inserto no Arquivo Universal, tomo I. Porcelanas. Ibidem. Novo estudo sobre as águas sulfurosas das Caldas da Rainha. Na Gazeta Médica de Lisboa, 1859. Louças e produtos cerâmicos. No Arquivo Universal, 1859. No mesmo jornal e em diversos números: Vidros e cristais. Papel. Cores minerais. Ácido sulfúrico. Soda. A sericicultura no distrito de Bragança, principalmente no concelho de Moncorvo. É um artigo notável sobre o assunto, publicado em 10 de Dezembro de 1864. Lápis. Ibidem. Palestras científicas. Na Revista Contemporânea, 1859. A liga das Alfândegas Peninsulares. Ibidem, 1860. Joaquim António da Silva – Esboço biográfico. Ibidem (632). Os tira-nódoas e o sabão – A tinturaria dos antigos – Dos esmaltes e da pintura encáustica entre os antigos. Três notas na versão dos Fastos de Ovídio por Castilho, tomo II, págs. 318, 327 e 351. A Exposição Internacional de 1862 em Londres. Saiu na Revista Contemporânea, tomo IV, págs. 421, 476 e 520. Relatório do Comissário Régio junto à Comissão Real de Sua Majestade britânica na Exposição Internacional de 1862 em Londres sobre a parte administrativa. Lisboa, na Imp. Nacional, 1865. 8.º gr. de 144 págs. e duas estampas. Memória sobre os processos de vinificação empregados nos principais centros vinhateiros do continente do reino, ao norte do Douro. Na mesma imp., 1867 e 1868. 8.º gr., 2 tomos com estampas.

(632) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico.

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Relatório sobre a classe 73 (vinhos, espíritos e cervejas) da Exposição Internacional de 1867. Na mesma Imp., 1868. 8.º gr. de 264 págs. Tratado de vinificação para vinhos genuínos. Lisboa. Na tip. da Academia, 1868. 8.º de 160 págs. e uma de índice. Parte II. Ibidem, na mesma imp., 1869. 8.º de 161-291 págs. e uma de índice, com gravuras intercaladas no texto. Teve 2.ª edição em 1883. Ampelografia e enologia do país vinhateiro do Douro. Ibidem. Discurso pronunciado pelo reitor da Universidade de Coimbra em 16 de Outubro de 1872, por ocasião da festa comemorativa da reforma da Universidade em 1772. Coimbra, na tip. da Universidade, 1872. 8.º gr. de 30 págs. Manuel da Silva Passos – Notícia biográfica. Lisboa, na imp. de J. G. de Sousa Neves, 1874. 8.º de 77 págs. Manual de viticultura. 1875. 8.º de 552 págs. com 53 estampas. O Douro ilustrado – Álbum do rio Douro e país vinhateiro. Texto em português, francês e inglês. Porto, editores Magalhães & Moniz, 1876. Fólio com gravuras separadas do texto e um mapa em grande formato. Exposição sucinta da organização actual da Universidade de Coimbra – Precedida de uma breve notícia histórica deste estabelecimento. Coimbra, na Imp. da Universidade, 1877. Relatório acerca da Exposição Universal de Paris em 1872. Lisboa, na Imp. Nacional, 1879. 4.º de 42 págs. Memorial biográfico de um militar ilustre, o general Claudino Pimentel. Lisboa, Imp. Nacional, 1884. 8.º de X-274 págs. com o retrato do general em gravura, copiada de uma miniatura pelo professor João Pedroso. O prólogo deste livro é de Latino Coelho. No estrangeiro publicou: Nouvelle production de l’acide palmitique par le suif de mafurra. Nos «Comptés rendus» de l’Academie des Sciences. Paris, tomo 41.º (1855), pág. 703. Composition de la stéarine végétale extracté des grames du brindonnier (Bruidonia indica). Ibidem, tomo 44.º (1857). Rapport sur les matières grasses présenté au jury de la classe XV à l’Exposition Internationale de 1855. O retrato deste bragançano ilustre encontra-se na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, tomo II, e também a sua biografia por José Maria Latino Coelho, e no tomo III, págs. 11 a 17, e II, págs. 439 a 570; na História de Portugal, popular ilustrada, de Pinheiro Chagas, vol. VIII, pág. 525, e referências biográficas na pág. 614; no Anuário da Universidade de Coimbra de 1884-1885, com notas biográficas do doutor António Cândido Ribeiro da Costa; no Jornal de Horticultura Prática, de 1885, com notas biográficas do doutor Júlio Augusto Henriques; na Correspondência de Coimbra e no MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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Diário Ilustrado de 21 de Outubro de 1884 e em vários outros jornais, que publicaram o seu necrológio. O «Instituto de Coimbra», em assembleia geral de 2 de Dezembro de 1885, encarregou o doutor Bernardo de Serpa Pimentel de fazer o elogio histórico de Júlio Pimentel. Nove dos seus discursos como reitor da Universidade de Coimbra acham-se publicados no Anuário da Universidade, desde 1871 a 1883 (633). Júlio Máximo de Oliveira Pimentel era sobrinho do general António José Claudino de Oliveira Pimentel, de quem nos ocupámos a pág. 394 deste tomo. Os funerais deste notável homem de ciência provocaram: Isenção da Real Capela da Universidade – Questões por ocasião dos funerais do visconde de Vila Maior, reitor da Universidade. Coimbra, 1885. Portaria do vice-reitor da Universidade de Coimbra, Bernardo de Serpa Pimentel, em defesa da isenção e prerrogativas da Real Capela da Universidade de Coimbra e do direito com que ali se fizeram ofícios do corpo presente ao último reitor, o visconde de Vila Maior. Coimbra, 1885. Isenção da Real Capela da Universidade – Resposta ao livro com o mesmo título do vice-reitor da Universidade, por António José da Silva (Extraído do nº 12 – Dezembro de 1885 – das Instituições Cristãs). Coimbra, 1885. PIMENTEL CARDOSO (Francisco Xavier de Morais Pinto) – Do conselho de S. Majestade Fidelíssima, moço-fidalgo com exercício no Paço, comendador da ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e deputado às cortes pelo círculo de Valpaços. Nasceu nos Possacos a 4 de Junho de 1810 e faleceu em S. João da Foz do Douro a 6 de Janeiro de 1888; filho de Francisco Xavier de Morais Pinto (morgado da casa dos Possacos, também moço-fidalgo com exercício no Paço e coronel do regimento de milícias de Chaves) e de D. Maria Guiomar de Macedo Sarmento. Foi governador civil do distrito de Bragança por decreto de 8 de Outubro de 1846, de cujo lugar tomou posse a 1 de Dezembro desse ano, conservando-se ali até 8 de Novembro do ano seguinte. Voltou, mais tarde, a exercer o mesmo cargo (embora se não encontre mencionado no «Livro

(633) Ver: ALBUQUERQUE, Seabra de – Dicionário Bibliográfico, tomo XIII, p. 263 e 383; Bibliografia da Universidade de Coimbra, anos de 1872 e 1873, e 1874 e 1875; o Grand Dictionnaire Universel du XIX siècle, por Larousse; O Instituto, de Coimbra, 1872, p. 166; Portugal: Dicionário histórico, artigo «Vila Maior», onde vem o seu retrato, e tomo VI, p. 317, destas Memórias.

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dos autos de posse» daquele governo civil) pelo menos desde Maio de 1852 a Dezembro de 1853, como se vê pelo Diário do Governo de 18 de Maio de 1852 e 24 de Fevereiro de 1853. PINHEIRO (Ernesto) – Oficial do exército, filho do professor José Henriques Pinheiro, adiante mencionado. Ignoramos as particularidades da sua vida; sabemos apenas que viveu muitos anos em Bragança, onde seu pai era professor do liceu e depois no Porto, e que era capitão do exército em 1908. Escreveu: A chocadeira «Maravilhosa termostática» (Premiada em diversas exposições). S. L. n. tipo. 1 folheto em 8.º S. d. [Dizem as abreviaturas: S(em) L(ugar) n(em) tipo(grafia). S(em) d(ata)]. A criação industrial das galinhas – Biblioteca Agrícola Popular. Porto, Imp. Moderna, 1899. Lello & Irmão, edit. 1 vol. 8.º A indústria avícola – Instruções práticas. «Chocadeiras de Ernesto Pinheiro» (avicultor), premiado com medalha de prata na Exposição Industrial do Palácio de Cristal em 1897, pelas chocadeiras que inventou e pôs em funcionamento. S. l. n. tip. 1 vol. 8.º S. d. Instruções e preços da chocadeira «Maravilhosa termostática». S. l. n. tip. 1 folheto 8.º S. d. PINHEIRO (Francisco Baptista Marques) – Filho de João Baptista Marques Pinheiro; nasceu em Mirandela a 4 de Setembro de 1841. Doutor em ciências jurídicas e sociais pela faculdade de direito de S. Paulo; advogado na corte do Rio de Janeiro; sócio benemérito da Associação literária e científica «Culto à Ciência», da qual foi vice-presidente, sendo-o também do Liceu Literário Português, para cuja fundação concorreu com a sua iniciativa e esforços, e foi relator da comissão que organizou o «Regulamento das aulas» do mesmo liceu. Escreveu: Jurisprudência comercial – Colecção de todas as sentenças proferidas em grau de revista pelo Supremo Tribunal de Justiça e acórdãos revisores dos Tribunais do Comércio, desde a promulgação do Código do Comércio, lei de 25 de Julho de 1850 e Regulamento de 25 de Novembro de 1850, até hoje. Rio de Janeiro, 1870. 8.º gr. de 390 págs. e mais duas de índice. Esta obra tem incontestável utilidade e foi muito louvada na imprensa (634). Irmandade do SS. Sacramento da freguesia de Nossa Senhora de Candelária e suas repartições, coro, caridade e hospital de Lázaros. Rio de Janeiro, 1895. Dois vols. in-4.º (634) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico, tomo IX.

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Francisco Pinheiro foi muito novo para a companhia de seu tio padre Francisco Manuel Marques Pinheiro, no Brasil, onde se formou em direito, e ainda em 1883 ofereceram os dois à Câmara Municipal de Mirandela, por intermédio do seu parente Simão Marques Pinheiro, um exemplar fac-similado do famoso Missal do padre Estêvão Gonçalves Neto, obra-prima da iluminura portuguesa, e no ano seguinte brindaram a mesma municipalidade com um exemplar dos Lusíadas, da luxuosa edição de Leipzig (635). PINHEIRO (Francisco José) – Oficial-pagador de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando da explosão da pólvora em 1810 (636). PINHEIRO (José Henriques) – Professor de francês e desenho no Liceu Nacional de Bragança, secretário do mesmo, sócio correspondente da Sociedade Martins Sarmento (secção arqueológica) e da Associação dos Beneméritos Italianos, com medalha de ouro de 2.ª classe. Era natural de Moncorvo, onde mostrou o génio empreendedor fundando uma fábrica de sabão, que chegou a ter grande importância. É verdade que a tradição do fabrico dos sabões de Moncorvo, de que fala Carvalho da Costa, é já antiga. Nasceu a 20 de Fevereiro de 1835 e faleceu na cidade do Porto a 7 de Outubro de 1904. Frequentou a Academia Politécnica da mesma cidade, onde obteve o 3.º accessit na 8.ª cadeira no ano lectivo de 1856-1857, e concluiu o curso de farmácia, fazendo exame na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 14 de Novembro de 1857. Em 1863 foi nomeado professor de francês, geometria e desenho para o Instituto de Guimarães; em 1870 professor, em comissão, para o Liceu Nacional de Bragança; em 13 de Janeiro de 1881 foi provido definitivamente na cadeira de francês deste mesmo liceu, de que foi nomeado reitor em 20 de Abril de 1887. Em 11 de Maio de 1876 havia já sido nomeado secretário do referido liceu. Foi por várias vezes eleito procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança e vogal da comissão distrital. Quando esteve em Guimarães, como professor do Instituto, publicou no Vimaranense uma série de artigos sobre diversos assuntos, principalmente arquitectura. É a José Henriques Pinheiro que se deve em Bragança o gosto pelos estudos arqueológicos, em que muito trabalhou, procedendo a escavações em Castro de Avelãs por conta da Sociedade Martins Sarmento de Guimarães e visitando ou colhendo informações nos locais assinalados por vestí(635) Informações dadas por Ernesto Augusto Pereira Sales. (636) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias.

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gios de civilizações extintas, concorrendo muito para a determinação da estrada romana, a que se refere o livro abaixo citado, por trazer a lume miliários até ao tempo ignorados. Pela sua aposentação em 1894, saiu de Bragança a 11 de Janeiro de 1895 e foi viver com a família no Porto, onde, como atrás dissemos, faleceu. Escreveu: Estudo da estrada militar romana de Braga a Astorga, em que são determinadas todas as estações da referida via. Porto, Imp. Civilização, 1896. 4.º de 131 págs. É uma interessante monografia sobre uma das cinco estradas romanas de Braga a Astorga, que, embora não corresponda inteiramente ao indicado no título, lançou muita luz acerca deste intrincado problema, a que Henriques Pinheiro dedicou aturado estudo, não se poupando a trabalhos sobre o campo, principalmente na região bragançana, onde a estrada passava. Também colaborou na Revista de Guimarães, vol. V, págs. 71 e segs. e vol. VI, págs. 53 e segs., acerca das investigações que fez em Castro de Avelãs. José Pinheiro era, além disso, dotado de um génio empreendedor, pelo que, ainda por este lado, tem direito ao nosso respeito. No intuito de beneficiar Bragança, incutindo-lhe gosto pela indústria, chegou a montar uma fábrica de massas (macarrão) e outra de sabão, que algo prosperaram, e pela sua persistente tenacidade manteve enquanto esteve em Bragança, ao mesmo tempo que procurava difundir a indústria avícola por meio de chocadeiras artificiais. A Portugália, tomo II, pág. 482, consagrou algumas linhas necrológicas à memória do nosso biografado. Em 1888 concorreram à Exposição da Avenida treze fábricas, e entre elas a de Bragança, propriedade de José Henriques Pinheiro, que produzia cerca de seiscentos quilos de sabão por ano e que vendia à razão de 140 réis o quilo (637). PINTO (António Ferreira de Macedo) – Lente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto; nasceu em Sendim, distrito de Viseu, em Junho de 1810 e faleceu a 9 de Fevereiro de 1879. Concluída a sua formatura em Coimbra, veio para Bragança em 1837 como médico do partido municipal do Hospital Militar, exercendo ao mesmo tempo diferentes comissões de serviço público, como delegado do Conselho de Saúde Pública do Reino e fundando em 1845 O Farol Transmontano, primeiro periódico que teve Bragança, a que noutra parte nos referimos. Em 1848 deixou Bragança e foi para o Porto como guarda-mor de saúde, entrando pouco depois para a regência da Escola Médica, onde foi um dos mais notáveis professores. (637) O Recreio – Revista literária. Lisboa, nº 11 (1893), p. 164.

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Escreveu, além de um trabalho de muito interesse publicado em O Farol Transmontano, sobre os minerais do distrito de Bragança, e de outros estudos que nada fazem ao nosso propósito, o seguinte: Memória sobre a reforma da instrução secundária no distrito de Bragança. 1839. Saiu no Relatório e consulta da Junta Geral do Distrito de Bragança. Topografia médica e estado sanitário do distrito (de Bragança). Saiu nos Anais do Conselho de Saúde Pública do Reino, vol. II, pág. 126. Da revacinação em Portugal (distrito de Bragança). Saiu nos mesmos Anais, 1840, vol. VI, pág. 65. Resultados gerais das observações meteorológicas feitas em Bragança nos meses de Maio, Junho, Julho e Agosto de 1842, pelo sócio correspondente o Sr... Saiu no Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, tomo XVI, 2.º semestre de 1842, pág. 232. Idem, no mês de Outubro de 1842. Idem, tomo XVII, pág. 328. Idem, no mês de Novembro. Idem, tomo XVIII, pág. 125 (638). PINTO (António Miguel) – Segundo nos informa o nosso amigo António Gonçalves, da Torre de Dona Chama, foi António Miguel Pinto que mandou construir o belo palacete brasonado sito em Vilarinho de Agrochão, de que falámos no tomo VI, pág. 784, destas Memórias. Por sua morte passou o mesmo palacete aos filhos: José Maria Pinto Teixeira de Sá Castro, João Evangelista (morto por um genro em Sonim, concelho de Valpaços) e António Pinto de Sá Castro, que morreu em Elvas, sendo capitão de cavalaria. O filho José Maria adquiriu a posse de toda a casa por compra aos irmãos das partes respectivas; casou, em segundas núpcias, na Torre de Dona Chama, com D. Inês Maria de Morais Sarmento em 24 de Janeiro de 1872, tendo ele sessenta e cinco anos e ela vinte e sete, e deixou à mulher (D. Inês) o usufruto da referida casa com mais prédios rústicos, mas esta desistiu da casa em favor dos herdeiros de seu marido, a saber: Maria Teresa, actualmente em França, num convento; Maria Félix, residente na Bouça, concelho de Mirandela; José Maria, em Lisboa; Luís Sampaio, no Brasil; Amélia, casada, em Vilarinho de Agrochão, e Carlos, em Valbom, concelho de Mirandela. José Maria Pinto Teixeira de Sá Castro foi tenente do exército; mas, quando das lutas liberais, abandonou o posto e fugiu para Espanha. A sua viúva, D. Inês Maria de Morais Sarmento, possuía a carta em pergaminho, com tarja belamente iluminada, da formatura em direito canónico na Universidade de Coimbra de Miguel Rodrigues, filho de José Rodrigues, de (638) LEMOS, Maximiano – História do ensino médico no Porto, 1925, p. 141 e seg., onde se encontra o retrato do doutor Macedo Pinto.

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PINTO

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Castro Avelãs, concelho de Bragança, passada em Julho de 1748, e diz que este Miguel Rodrigues era irmão do fundador da casa brasonada atrás mencionada. A carta de pergaminho está agora no Museu Regional de Bragança. PINTO (António dos Santos) – Doutor em medicina. Nasceu em Parambos, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 19 de Janeiro de 1866; filho de Manuel dos Santos Pinto e de D. Luísa Gonçalves Seixas. Concluiu o curso em 1892, no Porto. Escreveu: Sobre a febre tifóide. PINTO (Baltasar de Seixas) – Licenciado em cânones; natural de Vilarinho da Castanheira, concelho de Carrazeda de Ansiães. Foi abade de Rebordelo, concelho de Vinhais, provido em 1660, e vigário de Alcafa, diocese de Viseu. Deixou manuscrito um livro com a genealogia da sua família. Ver o artigo Magalhães (António de Sousa Pinto e), pág. 283. PINTO (D. Bento) – Dos fidalgos Pintos Cardosos, de Mirandela. Cónego regular conventual no Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra pelos anos de 1777. Era filho de Luís Lázaro Pinto Cardoso e de D. Mariana Teresa da Silva Teixeira. Escreveu: Caderno de árvores de costado de algumas famílias nobres, e distintas da Província de Trás-os-Montes... 1777 (639). PINTO (Francisco) – Morador que foi em Murça e aí juiz dos órfãos. Filho de Gaspar Dias Pinto e de D. Maria Vaz; neto paterno de Gonçalo Dias e de D. Leonor Pinto, esta filha de Álvaro de Morais do Sil, irmão de Francisco do Sil de Morais, capitão-mor de Vila Flor, descendente de Gonçalo Vaz Guedes e de D. Leonor Pinto Pereira, irmã de Frei Diogo, de Murça, primeiro reitor da Universidade de Coimbra, também descendente de Pedro Vaz Guedes, senhor que foi dos padroados de S. Miguel e de S. João de Lobrigos, comarca de Lamego, e pelo lado materno neto de Pedro Fernandes e de D. Maria Vaz, filha de Marcos Gomes, bisavó do primeiro mencionado Francisco Pinto, o qual obteve carta de nobreza e brasão de armas a 11 de Maio de 1669 (640).

(639) Ver tomo VI, p. 277, destas Memórias, onde fizemos a descrição deste códice. (640) A carta original, em pergaminho, está na posse de Venâncio Bernardino de Azeredo, em Izeda. Na parte superior da carta, e a meio dela, tem o brasão do agraciado com as armas dos Pintos e Morais e por timbre o dos Pintos – um leão leopardado com um crescente na espádua.

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PINTO (João) – Tenente do exército, que muito se distinguiu, em 1650, durante as guerras da aclamação (641). PINTO (João Alberto) – Capitão de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando ela foi pelos ares em 1810 (642). PINTO (João Duarte) – «Da quinta de Veigas termo de Bragança», obrigou-se, por escritura pública lavrada pelo tabelião de Vila Franca de Lampaças a 7 de Janeiro de 1753, a fazer a obra do retábulo do altar-mor da igreja matriz de Argozelo (643). A julgar pelo facto de a escritura ser lavrada no extinto concelho de Vila Franca, a que pertencia a povoação de Veigas, devemos concluir que João Duarte Pinto era deste povo e não de Veigas, anexa de Quintanilha, também no concelho de Bragança. Ver o artigo Bustamonte (João Rodrigues), pág. 54. No tomo IV, pág. 559, destas Memórias falámos de um «entalhador das Veigas», sem mais indicação, que em 1798 fez o retábulo da igreja de Sarzeda por 110$000 réis; em 1800 cinco urnas para as igrejas de Vila Nova, Milhão, Argozelo, Quintanilha e Carção, e em 1811 o retábulo da capela-mor da igreja paroquial de Soutelo da Pena Mourisca. Será este o mesmo acima mencionado? PINTO (José de Azeredo) – Alferes de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando se deu a explosão em 1810 (644). PINTO (José Borges) – Doutor em medicina, natural e morador em Mirandela, onde foi, por largos anos, um médico distinto, e mestre do doutor Francisco da Fonseca Henriques. Filho de Manuel de Almeida Pinto e de D. Maria Meireles. Por morte de seu pai, sucedeu-lhe no ofício de escrivão da almotaçaria da vila de Mirandela, em que foi provido por alvará de 27 de Agosto de 1668. Deste médico diz F. da Fonseca Henriques na Medicina Lusitana: «... o doutor Joseph Borges Pinto, meu mestre, hum dos mayores medicos que houve no mundo...». Na Pleuricologia daquele autor vem uma epístola laudatória escrita pelo doutor Borges Pinto, certamente anterior a 1695, ano da sua morte nos Eixos, próximo de Mirandela, onde tinha uma quinta em que residia.

(641) Ver tomo I, p. 93, destas Memórias. (642) Ibidem, p. 165. (643) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (644) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias.

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PINTO (José Joaquim) – Quartel-mestre de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida quando ocorreu a explosão em 1810 (645). PINTO (José Joaquim) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Natural de Fornos, concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde nasceu a 13 de Janeiro de 1859; filho de João Baptista Pinto. Viveu em Bragança e faleceu no Porto, onde fora tratar-se, a 25 de Julho de 1917. Estudou preparatórios em Braga e Porto, concluindo nesta cidade a sua formatura em 1887, e nesse mesmo ano foi nomeado médico municipal do Vimioso, onde exerceu também o cargo de subdelegado de saúde até 30 de Setembro de 1892, em que foi nomeado cirurgião-ajudante do exército e colocado em cavalaria nº 7, ao tempo estacionada em Bragança, cargo de que, a seu pedido, foi exonerado em 1898. Em 3 de Junho de 1903 foi aprovado em concurso por provas públicas para a cadeira liceal do quinto grupo – matemática e física, e por decreto de 27 do mesmo mês provido na do Liceu Nacional de Bragança. A grande competência intelectual do doutor José Pinto, já afirmada nos bancos de instrução primária, onde o seu professor o reconhecia como «talentoso discípulo» (646), não fez senão confirmar-se mais e mais na regência do magistério secundário e proficiência clínica, na qual os doentes depositavam a confiança inerente a um salvador. Escreveu: Algumas palavras sobre medicação marítima – Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, Imp. Moderna, 1887. 8.º de 73 págs. PINTO (Luís de Azeredo) – Alferes de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida em 1810 aquando da trágica explosão (647). PINTO (Luís Vaz Pereira) – Tenente, que se distinguiu durante a revolta de Bragança contra os franceses em 1808 (648). PINTO (Zeferino José) – Doutor em medicina, delegado de saúde e médico municipal (aposentado) de Bragança, natural de S. Mamede de Ribatua, onde faleceu em Maio de 1899 (649).

(645) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (646) FERREIRA, Albino J. de Morais – Dialecto Mirandês, p. 43, em nota. (647) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias. (648) Ibidem, p. 131. (649) Ibidem, p. 290, e tomo II, p. 383.

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PIRES (Augusto Adriano) – Capitão de infantaria, natural de Fontes Trasbaceiro, concelho de Bragança. Foi governador de Cubango, na África, onde morreu de um desastre em Maio de 1924, mas o seu cadáver veio a enterrar a esta cidade, onde chegou a 13 de Janeiro de 1928. Os seus funerais revestiram invulgar solenidade, devido ao heróico brilhantismo da vida militar deste bravo bragançano. Toda a cidade tomou parte neles e no sentimento que a sua morte causou. À beira da campa discursaram: capitão Artur Coelho, pela Liga dos Combatentes da Grande Guerra; capitão Salvador Nunes Teixeira, pelos oficiais da guarnição; doutor António Augusto Pires Quintela, por um grupo de amigos; e tenente Luís de Portugal da Fonseca e Melo, pelos feridos da Grande Guerra. O discurso deste oficial, bem como o retrato do homenageado vêm publicados em A Voz de 18 de Janeiro de 1928. Augusto Adriano Pires tomou parte na expedição a Moçambique (Gungunhana) em 1895 e no combate de Cuelela e tomada de Manjacaze; operações no Huíla em 1906; defesa do forte Roçadas no mesmo ano; operações no Cuamato em 1907; combate de Mufilo em 27 de Agosto; reconhecimento em 29; defesa de Ancongo em 2 de Setembro; acção de Macovi em 4 do mesmo mês; marcha debaixo de fogo em 13; defesa do bivaque em 15; marcha debaixo de fogo em 20; defesa do bivaque neste dia; marcha debaixo de fogo em 21; tomada da embala do Cuamato pequeno em 22; marcha debaixo de fogo e tomada da embala do Cuamato em 4 de Outubro; operações no Libolo em 1908; operações no sul de Angola em 1915-1916. Fez parte do corpo expedicionário à França e entrou no combate de 9 de Abril, comandando a 3.ª companhia de infantaria nº 10 (Bragança), a qual foi condecorada com a Cruz de Guerra de 1.ª classe. Foi louvado pelas seguintes vezes: «em ordem à coluna de operações no Cuamato, em 1907, pelo muito zêlo, sangue-frio e valor militar; pela dedicação e zêlo com que cooperou no estabelecimento do posto “D. Manuel”, no Evala, em 1909; pela extrema dedicação, competência e boa-vontade no desempenho de diversos serviços e provas de resistência dadas nos trabalhos de ocupação do Cuangar, em 1910; pela energia e audácia com que, à frente de um pequeno grupo de auxiliares, assaltou o morro Muena Chipanga, em 1910; pela muita competência e zêlo com que desempenhou o serviço de mobilização a seu cargo em 1917; porque, por ocasião da batalha de 9 de Abril de 1918, ocupando a sua companhia o flanco direito do sector português, com ligação com as tropas británicas, tomou medidas acertadas e oportunas, dando provas de valor, serenidade, espírito militar e coragem, oferecendo uma eficaz resistência ao avanço do inimigo». Tinha as seguintes condecorações: cavaleiro da Torre e Espada, medalha de prata da Rainha D. Amélia, medalha da Cruz Vermelha, medalha de MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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prata de comportamento exemplar, medalha de operações no Sul de Angola, medalha de prata de bons serviços, medalha comemorativa do C. E. P. à França, medalha Inter-Aliada, medalha da Vitória, Cruz de Guerra de 3.ª classe, medalha de prata de valor militar, medalha comemorativa do E. P. Cuamato e medalha de Avis. O retrato do heróico militar, acompanhado de notas biográficas, encontra-se na «Agenda Brigantina» de 1928. PIRES (Manuel António) – Cónego capitular da Sé catedral de Bragança, penitenciário da mesma, professor de ciências eclesiásticas no Seminário Diocesano de Bragança e no mesmo director doutrinal e examinador pró-sinodal e prelado doméstico de Sua Santidade com o título de monsenhor. Nasceu na freguesia de S. Pedro dos Sarracenos, concelho de Bragança, a 3 de Setembro de 1824 e aqui faleceu a 9 de Março de 1895; filho de Francisco José Pires, natural de Mós de Rebordãos, e de Maria Luísa, natural de Sarzeda, moradores em S. Pedro dos Sarracenos (650). Foi nomeado professor de ciências eclesiásticas no Seminário de Bragança, onde já o era de preparatórios, em 16 de Maio de 1886. Escreveu: Officia propria festorum a Summis Pontificibus approbata et concessa por Dioecesi Coeliobrigensi nunc demo recognita et edita. Bracarae, ex tip. Lusitana, 1868. 8.º de 166 págs. e duas de correcções. É a colecção da reza especial da diocese de Bragança, em volume próprio. Livro de muita utilidade e indispensável aos sacerdotes bragançanos. Opúsculo de considerações históricas sobre a edificação da catedral de Bragança. Porto, tip. de António José da Silva Teixeira, 1883. 8.º de VII-39 págs. Catecismo explicado – Breviário do Cristão compilado da Explicação histórica, dogmática, moral, litúrgica e canónica de Mr. o Abade Ambrósio Guillois e de outros autores católicos. Porto, tip. de António José da Silva Teixeira, 1883. 8.º de XVI-464 págs. Esta obra é oferecida a D. José Maria da Silva Ferrão de Carvalho Martens, bispo de Bragança, do qual insere a Provisão de 18 de Janeiro de 1883, que a manda considerar «como cathecismo diocesano em toda a diocese de Bragança (e que por ella os parochos dirijam as suas lições de doutrina christã)». Virtudes do Bispo de Bragança D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara. Porto, Tip. da Palavra, 1887, 8.º de 36 págs.

(650) O Nordeste de 10 de Março de 1895 e o Norte Transmontano de 25 de Abril do mesmo ano, referindo-se ao subido merecimento deste virtuoso varão, divergem na data da sua morte, dando-a o primeiro como sucedida no dia acima indicado e o segundo a 8 de Abril.

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Catecismo abreviado da Doutrina Cristã para uso da mocidade estudiosa, dado à Diocese de Bragança em 31 de Dezembro de 1887, faustoso dia do Jubileu Sacerdotal do Sumo Pontífice Leão XIII. Coimbra, Imp. da Universidade, 1888. 16.º de 254 págs. É um resumo do antecedente com destino a ensinarem-se por ele as crianças, compendiado pelo autor a pedido do bispo da diocese D. José Alves de Mariz, a quem o livro é dedicado, como se vê da sua Provisão de 31 de Dezembro de 1887, inserta logo no princípio, onde recomenda que na diocese de Bragança os «parochos e professores usem sómente d’este livro para o ensino da doutrina christã, devendo uns e outros munir-se do “Cathecismo-breviario do Christão” para desenvolverem e explicarem os principios religiosos segundo as exigencias e o progressivo aproveitamento dos seus discipulos». Breve compêndio ou Catecismo de doutrina cristã muito útil aos meninos para se instruírem na ciência da Salvação; e aos pais de família para educarem seus filhos e criá-los na verdadeira fé e doutrina da Santa Igreja Católica. Braga, na tip. Lusitana, 1870. 16.º de LIX-428 págs., sendo duas de erratas. Monumento à memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, Bispo de Bragança. Porto, tip. da Palavra, 1889. 8.º de XXXI-339 págs., com o retrato do bispo. Esta obra foi escrita de colaboração com: conde de Samodães, Artur Eduardo de Almeida Brandão, capelão de caçadores nº 9, e Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia, no Porto, continuador do Portugal Antigo e Moderno. PIRES (Manuel António) – Doutor em medicina pela Universidade do Porto, onde concluiu o curso em 1922 e o de preparatórios liceais em Bragança, sendo naquele mesmo ano nomeado facultativo municipal em Miranda do Douro, onde reside e é subinspector de saúde. Nasceu em Brunhosinho, concelho do Mogadouro, a 7 de Janeiro de 1894; filho de António Manuel Pires e de D. Joana Rosa Pinto. Escreveu: Períneoplastia e fístulas vesico-vaginais – Tese de doutoramento, que foi dactilografada em razão da classe tipográfica estar, ao tempo, em greve. PIRES VILAR (João António) – Nasceu em Bragança a 7 de Setembro de 1830 e na mesma cidade faleceu à meia-noite de 4 de Abril de 1904; filho de António Manuel Pires e de D. Angelina Raimundo. Concluídos os estudos preparatórios, matriculou-se na faculdade de matemática da Universidade de Coimbra, que interrompeu ao segundo ano pela falta de recursos, causada pela morte de seu pai; fez então concurso para as cadeiras de matemática e filosofia liceais e nelas foi provido temporariamente, em 1856, no de Bragança, onde também regeu retórica, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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história e geografia e muitas vezes serviu de reitor, regendo também a cadeira de filosofia no seminário diocesano. Por decreto de 14 de Julho de 1868 foi nomeado professor proprietário das cadeiras de filosofia racional e moral e princípios de direito natural e de oratória poética e literatura clássica, em curso bienal do Liceu Nacional de Bragança (651). Foi vereador municipal, presidente da câmara, vogal da Junta Geral do Distrito de Bragança, presidente da comissão executiva da mesma e, como deputado, vogal de diversas comissões de legislação. Diversos traços da sua personalidade assinalam a sua passagem por estes cargos: como vereador e presidente da câmara elaborou um «Código de Posturas Municipais», que vigorou até 1892; e como vogal da junta geral e presidente da sua comissão executiva fundou o posto hípico, o gabinete de física e a biblioteca do liceu, assim chamada por estar depositada neste estabelecimento e não porque lhe pertença exclusivamente. Eleito deputado na legislatura de 1879, foi relator do projecto sobre a reforma de instrução primária discutido nessa sessão (652). Voltou ainda ao parlamento nas legislaturas de 1887 e 1889, e nesta pronunciou um vigoroso discurso na sessão de 12 de Junho. Colaborou em vários jornais, como: Nação, País, Progresso, Correio da Noite, Primeiro de Janeiro, Norte Trasmontano e Nordeste. Os seus escritos eram notáveis pelo classicismo e elegância da frase, profundeza de ideias e veemência de raciocínio, predicados que conservava nos discursos; polemista de grande força, jogando com mão de mestre a ironia e o sarcasmo a poucos era dado resistir-lhe. Ainda como membro da junta geral, deve-lhe o distrito a fundação do Asilo Duque de Bragança e a reforma do serviço dos expostos, da iniciativa de Tomás Ribeiro, então governador civil de Bragança, reforma que trouxe ao cofre da mesma corporação uma economia de doze contos de réis anuais e reduziu ao mínimo a mortalidade destes infelizes, que antes oscilava entre 50 e 60% dos nascimentos (653). O código a que atrás nos referimos tem por título: Código de Posturas Municipais para a cidade de Bragança e seu concelho. Porto, Tip. do «Brás Tisana», largo da Sé nº 2, 1864. 8.º de 52 págs.

(651) Diário do Governo de 20 de Julho de 1868 e 14 de Abril de 1860 e «Livro do registo da Câmara de Bragança», fl. 153 v. (652) José Barbosa Leão, nos Elementos de gramática portuguesa, Porto, 1886, avalia muito desfavoravelmente o modo como Pires Vilar desempenhou essa comissão. (653) O Nordeste de 11 de Setembro de 1901 e 6 de Abril de 1904 e Gazeta de Bragança de 4 de Abril deste último ano.

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PISSARRO

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Parece que também pertence a Pires Vilar o seguinte: O governador civil de Bragança e os colegas do colega director da Assembleia Brigantina. Porto, Tip. do Jornal do Porto, 1875. 8.º de 55 págs. PISSARRO (António Júlio Taveira Pinto) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra e juiz de direito na Índia; nasceu em Vilar de Maçada, concelho de Vila Real, e faleceu em Braga, sendo sepultado na capela do Carmo. Governador civil do distrito de Bragança, por Decreto de 8 de Novembro de 1847, cargo de que tomou posse a 3 de Dezembro seguinte. PISSARRO (Rafael José Gabriel da Costa) – Doutor-conselheiro da fazenda aquando da revolta de Bragança em 1808 contra os franceses (654). POÇAS FALCÃO (Luís Dias) – Benemérito reitor de Carção; distinguiu-se pela dedicação com que tratou os atacados pelo cólera-morbo, em 1855 (655). PONA (António de Paiva e) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, familiar do Santo Ofício, procurador fiscal na comarca de Bragança, juiz de fora em Freixo de Espada à Cinta e ao tempo (1713) provedor na cidade de Miranda, corregedor de Évora e, finalmente, desembargador do Paço. Dizem os seus biógrafos que nasceu em Bragança a 10 de Outubro de 1665 e faleceu na freguesia de Santa Maria, da mesma cidade, em 27 de Fevereiro de 1739; mas o erudito investigador Francisco de Moura Coutinho encontrou no processo de inquirição do Santo Ofício, existente na Torre do Tombo (m. 33, dil. 843), que nascera em Paredes, concelho de Bragança (como ele mesmo declara na petição inicial), e que era filho de Pedro Fernandes e de Catarina Pires; neto paterno de Pedro Fernandes Paiva, o Cabeçudo, e de Brites Lopes; e materno de Francisco Pires Morais e de Isabel Pires. Casou em Bragança (freguesia de Santa Maria) a 15 de Fevereiro de 1691, com D. Joana de Barros, filha de Manuel Teixeira e de D. Antónia Meireles (parentes em segundo e terceiro grau de consanguinidade), nascida a 27 de Junho de 1672 (656). Escreveu: Orfanologia prática, em que se descreve tudo o que respeita aos inventários, partilhas e mais dependências de pupilos. Lisboa, 1713. 4.º de 371 págs. Segunda edição em 1759, fol., empreendida pelo filho do autor,

(654) Ver tomo I, p. 131, destas Memórias. (655) Ibidem, p. 289. (656) Pátria Nova, semanário de Bragança, de 31 de Julho de 1913, e tomo VI, p. 344 e 683, destas Memórias.

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José de Barros Paiva Morais Pona. Porto, 1761, 4.º Esta obra é a delícia de todos os sociólogos, diz o autor do Demétrio Moderno, a pág. 152 (657). Pascoal José de Melo Freire, na Historiæ Juris civilis Lusitani, Coimbra, 1815, § CXVII, menciona este autor entre os legistas pragmáticos, e diz que quanto mais os nossos escritores formados em direito se desviam do século XVI e da época de D. Manuel, D. João III e D. Sebastião, chegando-se mais para a actualidade, em menos consideração devem ser tidos. A «Orfanologia» é considerada clássica na linguagem, diz Pinheiro Chagas no seu Dicionário. Também escreveu em latim a seguinte obra, que seu filho José de Barros e Morais Paiva e Pona traduziu em português e publicou no Porto, em 1761: Adições à Orfanologia prática, obra póstuma, que deixou composta na língua latina António de Paiva e Pona, traduzida, etc. Estas «Adições» não são uma terceira edição aumentada da orfanologia, são, sim, um Suplemento à edição citada de 1713 (658). PONA (José de Barros e Morais) – Cavaleiro da ordem de Cristo, monteiro-mor na comarca de Vila Real; nasceu em Bragança (Santa Maria) a 6 de Março de 1705; filho do doutor António de Paiva e Pona, atrás mencionado, e neto do licenciado Pedro Fernandes Pona. Era doutor em direito pela Universidade de Coimbra, foi mestre de equitação de el-rei D. José, e faleceu em Bragança, tendo residido em Mirandela pelos anos de 1736 a 1750. Em 1769 residia em Lisboa e foi testemunha no processo de habilitação de Amaro Vicente Pavão de Sousa para a sua admissão na ordem de Cristo. Atendendo aos serviços de seu pai, António de Paiva e Pona, fora-lhe dada a tença de 20$000 réis, com o hábito de Cristo, a 9 de Dezembro de 1722. Escreveu: Manejo real – Escola moderna da cavalaria da brida, em que se propõem os documentos mais sólidos para os cavaleiros conseguirem esta científica faculdade. Novo método para desembaraçar os potros, vencer os ressabiados, e reduzi-los a uma total obediência. Lisboa, na oficina de Francisco Luís Ameno, 1762. 4.º de XXXII-296 págs. com dezassete estampas (659). PONTES (António Ferreira) – Doutor, administrador de Moncorvo, nas lutas da Maria da Fonte em 1849 (660).

(657) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico. (658) Portugal: Dicionário histórico, artigo «Paiva e Pona». (659) SILVA, Inocêncio F. da – Dic. Bibliográfico. (660) Ver tomo I, p. 216, destas Memórias.

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PONTES (António Joaquim Ferreira) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, deputado em diversas legislaturas e governador civil do distrito de Bragança. Nasceu em Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, em 1815 e faleceu na sua quinta de Crestelos em 1883; sendo os seus ofícios fúnebres em Moncorvo, ficou sepultado no jazigo da família, em Ligares. Fez parte do batalhão dos Voluntários da Rainha e combateu nas Linhas do Porto. Liberal convicto, filho doutro liberal, que muito sofreu por esta causa, chegando a estar preso desde 1828 a 1834, ainda em 1846 retomou as armas contra o absolutismo de Costa Cabral, de onde lhe veio como resultado ter de emigrar para Espanha. Era condecorado com as medalhas das campanhas da liberdade e a comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e em memória dos seus serviços foi agraciada sua esposa D. Flora de Sampaio e Melo, com o título de viscondessa da Alegria, que seu marido rejeitara, quando lho ofereceu o ministro José Dias Ferreira. Falecendo sem sucessão, deixou seus bens a seus sobrinhos doutores Galos (João e José). Foi por duas vezes nomeado governador civil do distrito de Bragança: a primeira, por decreto de 26 de Maio de 1865 (661), mas logo substituído em 26 de Setembro seguinte; e a segunda, em 25 de Maio de 1870 e substituído a 2 de Setembro desse ano. Serviu por várias vezes o cargo de presidente da câmara de Moncorvo, e foi durante a sua gerência que se procedeu à demolição do velho e arruinado castelo, transformando-o em 1878 em passeio público arborizado, tal como ainda hoje se conserva (662). Também serviu de administrador do concelho de Moncorvo, dando-se durante a sua gerência factos lamentáveis, que bem mostravam o desgraçado estado do país. Em Foz Côa, a célebre quadrilha dos Marçais (António Joaquim Marçal e Manuel António Marçal) recomeçara nos antigos roubos e assassinatos com as lutas cabralistas; António Augusto de Almeida, cunhado dos Marçais e administrador de Foz Côa, tanto se assinalou pelas perseguições cometidas pela sua guerrilha, melhor, quadrilha, que muitos indivíduos das vizinhanças se retiraram para Moncorvo, onde Pontes favorecia os anticabralistas. É então esta vila invadida pelos Marçais, em Junho de 1849, sequiosos de vingança sobre o administrador, e, acolhidos à sua protecção, fogem, deixando o campo aberto ao inimigo que, insolente e desesperado (661) Vide Diário de Lisboa de 10 de Julho seguinte. (662) TAVARES, José Augusto – Torre de Moncorvo, de 22 de Novembro de 1903.

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PONTES

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pelo malogro da razia, depois de «acamparem na praça principal da vila, de efectuarem várias buscas domiciliárias, de jurarem vingança e nova expedição», se retiraram, ficando simplesmente os administradores a esfuziarem reciprocamente nos periódicos onde «o Ferreira Pontes levou o Almeida de vencida, porque as suas respostas, fundadas em factos duma verdade irrecusavel, eram esmagadoras pela eloquencia das provas», pois, publicando-lhe as relações com os nomes dos assassinatos, mostrou que a temível quadrilha havia cometido 34 assassinatos, 41 espancamentos, 6 roubos e obrigara a expatriar-se 104 chefes de família, entre as quais a família Campos Henriques, ascendente do bem conhecido homem público deste apelido, que por várias vezes desempenhou os cargos de ministro de Estado. Estes factos, referidos pela imprensa do tempo, ecoaram também no parlamento, na sessão da câmara dos pares de 6 de Julho de 1849. Por fim, aqueles povos começaram a ter mais tranquilidade, quando, a 11 de Janeiro de 1851, António Joaquim Marçal foi assassinado no lugar do Farpão, freguesia da Lousa, concelho de Moncorvo (663). PONTES (Joaquim Rodrigues Ferreira) – Cónego da Sé de Braga e deputado pelo círculo de Moncorvo em 1851 e 1852. Era natural de Urros, concelho de Moncorvo. Faleceu em Braga a 25 de Março de 1853. Exerceu por algumas vezes o cargo de governador do bispado na mesma diocese. Principiou os seus estudos em Moncorvo, dos quais desistiu, retirando-se para a sua terra natal, onde casou, enviuvando depois e, falecendo-lhe também a única filha que lhe ficara do matrimónio, foi para Braga, onde se ordenou de presbítero, e em seguida para Coimbra, formando-se ali em direito. No Diário do Governo de 7 e 8 de Junho de 1848 vêm extractos dos discursos de Pontes, que mostram interessar-se pelas fábricas das sés e respectivos cabidos. Também no mesmo Diário de 30 de Abril de 1849 vem uma proposta sua, para que os distritos administrativos de Portugal se reduzissem a dez, e em Trás-os-Montes houvesse só um, com a sua sede em Mirandela. Encontram-se várias propostas deste deputado no Diário do Governo de 16 de Março, 25 de Abril, 8 e 22 de Maio e 26 de Junho de 1849, que trazem largos extractos das sessões da câmara dos deputados. (Veja-se o referido Diário de 13 de Abril de 1850, onde vem as suas propostas sobre a redução das dioceses). (663) Sobre este episódio da luta cabralista no nosso distrito, vide CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal, popular ilustrada, vol. XI, p. 451 e segs.

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PONTES

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PORTO

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PORTUGAL

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Falou na sessão de 17 de Março de 1852 sobre a viação na província de Trás-os-Montes, e na de 5 de Abril de 1853, extractada no Diário do Governo do dia seguinte, o deputado Pessanha comunicou à câmara que Pontes falecera em Braga a 25 de Março de 1853, pelas 8 horas da manhã. Barbosa Colen (664) menciona Pontes como «um orador de argumentação cerrada, analysando os acontecimentos com minucia, esmerilhando as consequências com pachorra». PORTO (Diogo do) – Natural de Cicouro, concelho de Miranda do Douro, rico criador de gado, morador em Sevilha (Espanha), onde fez testamento em 1594, deixando muitos bens à capela de Santa Ana, erecta por conta desses bens na igreja paroquial de Cicouro. O testamento, que se encontra, por cópia tirada em 1599, no Museu Regional de Bragança, maço Capelas, é muito interessante pela nomenclatura da indumentária que aponta, e por ele se vê a grande fortuna do testador e os grandes encargos pios instituídos na dita capela, constantes de missas, ofícios, sufrágios, etc. PORTUGAL (António Rodrigues) – Há dele em Coelhoso, concelho de Bragança, na igreja paroquial, uma tese defendida no seu quinto ano de direito canónico, impressa em véu de cálix, de seda vermelha, em três planas, dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres. Conimbricae: Ex Typ. Antonii Ferreyra Univ. Typ. Anno Domini 1745. PORTUGAL DA FONSECA E MELO (Luís de) – Tenente do exército, reformado em consequência de ferimentos na Grande Guerra, professor da Escola Industrial de Bragança. Nasceu em Oliveira de Frades (Beira Alta), a 25 de Agosto de 1894; filho de Sancho Ribeiro da Fonseca Rito e de D. Eulália de Melo Portugal e Vasconcelos. Escreveu, de colaboração com Francisco do Patrocínio Felgueiras Júnior (ver este nome a pág. 178) a Calaiolândia. Tem colaborado no Jornal de Notícias, Voz, Século, Saboreano, Agenda Brigantina, etc. PRADA (João de) – Natural de Bragança, abade de Monforte de Rio Livre, hoje concelho de Chaves. Mandou construir na anexa povoação de Águas Frias uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Loreto e outra sob a mesma invocação em Monforte de Rio Livre (665).

(664) CHAGAS, Pinheiro; COLEN, Barbosa – História de Portugal, popular ilustrada, vol. XI, p. 279. Na p. 317 volta a referir-se a um discurso do mesmo. (665) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, vol. X, p. 142, artigo «Senhora do Loreto» e tomo VI, p. 327 e 693, destas Memórias.

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PRADO

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QUARESMA

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QUINTELA

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PRADO (Conde de) – Em 1663 era governador das armas da província de Trás-os-Montes (666).

Q QUARESMA (Jerónimo) – No Museu Regional de Bragança, maço Correspondência, conserva-se uma carta de el-rei, datada de 10 de Setembro de 1642, dirigida ao cabido de Miranda, dizendo que o abade de Penhas Juntas, Jerónimo Quaresma, atirara e ferira no rosto com munição a Domingos Fernandes sargento «e os pelouros lhe passarão por alto, e que demais desta culpa constava que não dezia missa havia annos e estava muito infamado de pecado nefando e matara a asoutes a hûa mulher viuva e de outra tivera hûa criança que matara como tambem fizera o mesmo a outra criança que ouvera em hûa sua sobrinha, filha do seu irmão que tinha ou tivera em casa. Ordeno que seja preso e julgado». Ficou esta carta régia dirigida ao cabido no maço Párocos de Penhas Juntas, mas deve ir para o maço Correspondência. Jerónimo Quaresma já devia ser falecido, se não foi justiçado ou expulso da freguesia, em 1644, pois neste ano aparece, de ordem régia, provido nela o licenciado António Toscano, abade de Espinhosela, natural de Tureiro, termo de Vila Viçosa. QUARESMA (Manuel) – Medidor das obras de Lisboa, contratou com D. João da Gama, a 13 de Fevereiro de 1616, fazer o seminário de Miranda do Douro no respeitante a obra de pedreiro; mas, num memorial que apresentou ao cabido o bispo D. Francisco Pereira (pois D. João da Gama falecera antes de começar a obra, havendo apenas muitos materiais para ela), diz que Domingos da Fonseca, de Moncorvo, é que deu princípio às paredes (667). QUINTELA (António Augusto Pires) – Doutor, professor de português e francês do liceu de Bragança. Nasceu nesta cidade (Santa Maria) a 25 de Maio de 1887; filho de Agostinho Paulino Pires Quintela, de Quintela de Vinhais, e de D. Abília do Carmo Vaz Granjo, de Bragança. Fez os estudos liceais em Bragança e Coimbra, e o curso de habilitação ao magistério secundário do Curso Superior de Letras, em Lisboa, onde o concluiu em 1909, sendo logo nesse ano despachado para o liceu de Bragança e no (666) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, referente ao dia 4 de Junho. (667) Museu Regional de Bragança, maço Obras.

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QUINTELA

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RAINHA SANTA

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seguinte para Beja, donde transitou novamente, a 4 de Março de 1911, para o de Bragança. Foi deputado por este círculo em 1921, redactor do Jornal de Bragança, do Montanhês do Norte e director da Pátria Nova, semanários de Bragança (668). Escreveu: À luz do Sol – «Singela e verídica história da inaudita façanha dum audaz cavaleiro em sua montada». (O caso da nomeação dum professor provisório para a Escola Industrial de Emídio Navarro). Bragança, 1923, Tip. Artística. 16 págs. O doutor Quintela é director do Arquivo Distrital do Museu Regional de Bragança e casou com D. Gaudência do Espírito Santo Gonçalves Miranda, nascida em Bragança (Santa Maria) a 20 de Abril de 1879, irmã do professor de história e geografia do liceu de Bragança Manuel da Trindade Gonçalves Miranda, nascido em Bragança a 10 de Maio de 1890, ambos filhos de José Inácio Gonçalves Miranda e de D. Arminda Adelaide Rodrigues. QUINTELA (José Luciano Alves) – Doutor em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde defendeu tese em 28 de Julho de 1874; nasceu em Grijó de Vale Benfeito, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 19 de Março de 1847 e faleceu no Porto no primeiro quartel deste século. Era filho legitimado e herdeiro do padre José António Alves Qintela (supomos que o apelido Quintela lhe era dado só em Grijó de Vale Benfeito, por ser natural de Quintela), que faleceu em Grijó de Vale Benfeito a 14 de Agosto de 1866, e de Pureza de Jesus de Sousa. Escreveu: Patogenia da septicemia cirúrgica. Porto, 1874. 8.º gr. de 70 págs. e mais duas de proposições e erratas.

R RAINHA SANTA (Frei Simão da) – Franciscano; nasceu em Vale de Gouvinhas, concelho de Mirandela, a 23 de Outubro de 1783 e faleceu em Felgueiras, freguesia de Penhas Juntas, a 26 de Setembro de 1859 (669). Escreveu: Vida de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara – Para ser depositada no arquivo do Recolhimento do Instituto Pio das Oblatas do (668) Ver tomo VI, p. 45, destas Memórias. (669) Conde de Samodães, in Monumento à memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, Bispo de Bragança, p. 113.

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RAINHA SANTA

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RAMEÇAL

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RAMIRES

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Menino Jesus de Mofreita, ou «Memórias da vida do Ex.mo e Rev.mo Sr. D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, Bispo de Bragança e Miranda, escritas em italiano por Frei Simão da Rainha Santa, menor conventual da Província de Portugal e traduzidas pelo mesmo em português». Aquelas em Roma – 1844, e estas em Bragança – 1845. Vem no Monumento, atrás citado, desde págs. 56 a 103. Com o nome que lhe damos acima é que assina estas Memórias; mas o conde de Samodães chama-lhe Frei Simão da Sacra Família e também lhe dá o nome acima. Frei Simão conviveu com o bispo, cuja vida relata, e foi testemunha ocular de muitos factos que descreve. Havia professado no convento franciscano em Coimbra, donde foi transferido para Bragança e depois para o Porto, onde estava quando foram suprimidos os conventos, indo em seguida viver para Roma (670). Escreveu este seu trabalho, que ficou manuscrito, no intuito de promover a canonização do prelado, por cuja causa ainda voltou a Roma, pois desta cidade viera para Portugal quando terminou a ruptura de relações entre as duas cortes, pelo ano de 1840. RAMEÇAL (Alonso de) – Remessal, como ele se assinava, era pintor. Por ordem de D. Jorge de Melo, bispo de Miranda, de 20 de Julho (não indica o ano) se manda entregar ao referido pintor cem mil réis «prestados por conta da fábrica para ajuda dos gastos do Retabulo da nossa see» (671). Pelo recibo que o mesmo Remessal passou de estar entregue do dinheiro, vê-se que a quantia era por conta da pintura do retábulo; que Remessal era espanhol, pois é nesta língua que o recibo está redigido, contando até o dinheiro não por réis, mas por maravedis; e que a obra se fez em 1635 (672). Em um recibo de estar pago e satisfeito, passado pelo mesmo Remessal a 17 de Agosto de 1637, se declara que ele era natural da cidade de Camora (673). Ver Velasquez (Tomás). RAMIRES (Adolfo Augusto Baptista) – Engenheiro agrónomo, professor do Instituto Superior de Agronomia, senador (1918), sócio do Instituto de Coimbra e da Academia das Ciências de Lisboa (1923). Nasceu em Bragança (Santa Maria) a 1 de Janeiro de 1868; filho de António Augusto Baptista e de D. Etelvina Augusta Ramires Baptista. Fez o curso liceal em Bra-

(670) Monumento à memória…, p. 113. (671) Museu Regional de Bragança, maço Obras. (672) Ibidem. (673) Ibidem.

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RAMIRES

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gança e Viseu e o do Instituto de Agronomia e Veterinária em Lisboa, concluindo-o em 1894 com a classificação de dezassete valores. Tem exercido os seguintes cargos: Químico-analista na antiga Estação Químico-Agrícola de Lisboa, sob a direcção do químico alemão doutor Hugo Mastbaum, com quem muito aprendeu, trabalhando a seu lado e ao lado do analista doutor Otto Klein. Por aquele foi escolhido de entre os analistas da Estação para, por ordem do director-geral desse tempo (Elvino de Brito), ir montar, com todas as obras a seu cargo, exclusivamente, o laboratório oficial que mais tarde foi o «Laboratório Geral de Análises Químico-Fiscais». Organizados os serviços desse Laboratório, por proposta do Conselho Escolar, foi nomeado auxiliar do ensino, chefe de serviço, no Instituto que o diplomou. Em 1899, nomeado professor técnico da Escola Nacional de Agricultura (Coimbra). Em 1905, incumbido da missão agronómica em Espanha, por empresa daquele país. O relatório que apresentou foi traduzido ali e lá publicado, tomando dele conhecimento o Ministério del Fomento. No mesmo ano, foi relator no Congresso Nacional de Leitaria e Oleicultura, onde relatou as teses VI e XIV, com um voto de louvor do Congresso e medalha de ouro conferida pela antiga «Real Associação Central de Agricultura Portuguesa», tendo o ministério da Agricultura de França publicado em um dos seus boletins mensais uma parte do seu relatório da tese VI. No mesmo ano, incumbido, em missão oficial, de estudar a doença da cana sacarina na Ilha da Madeira. Em 1908 (ou 1909?), incumbido, por portaria ministerial, de ir à Dinamarca e à Suécia estudar a laticultura daqueles países. A falta de saúde não lhe permitiu então sair de Portugal. Em 1909, incumbido do estudo económico e tecnológico da indústria leiteira em Portugal, missão oficial pedida de Inglaterra. Relatório traduzido e publicado ali pela casa Douglas, de Edimburgo. Em 1910, nomeado director da Escola onde era professor. No ano seguinte, exonerado desse cargo, a seu pedido, exoneração duas vezes requerida. Em 1914, nomeado professor do Instituto Superior de Agronomia. Em 1926, nomeado chefe da secção de «Estudos tecnológicos» da Estação Agrária Nacional, de que pediu a demissão no ano seguinte, por não lhe darem os elementos de trabalho que reputava indispensáveis, não obstante o director-geral, que lhos recusou, ser funcionário de – cumpre dizê-lo – muito notáveis méritos. Em 1928, nomeado director do Laboratório de Microbiologia Agrícola «Ferreira Lapa». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


RAMIRES

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Escreveu: As indústrias do leite (Dissertação inaugural respectiva ao seu curso). Coimbra, 1894. Duas notas sobre entomologia agrícola, colhidas em montados portugueses: «Coroebus undatus» e «C. bifasciatus». Lisboa, 1899. Lesões em árvores florestais (Um caso agrícolo-legal). Coimbra, 1898. A degenerescência da «Vinha europeia». (Estudo da sua decadência e etiologia – Processos de multiplicação artificial). «Anais de Ciências Naturais». Porto, 1898. Fabrico da manteiga (Pasteurização de natas, etc.) Tese VI do Congresso Nacional de Leitaria e Oleicultura. Traduzido e publicado no «Boletim do Ministério da Agricultura de França», Agosto de 1905. Lisboa, 1905. Alterações e falsificações do leite e seus derivados industriais. (Tese XIV, do mesmo congresso). Estudio agronómico de la «Finca de Pias». (Estudo feito em Espanha, por incumbência da Empresa Agrícola dali, com o respectivo plano da exploração). Traduzido e publicado em Madrid, 1905. Contribuição para o estudo da influência alimentar sobre as variações da função lactogénica. (Contestação das conclusões do doutor Fjord, de Copenhaga). Separata do Instituto de Coimbra, 1908. Leitaria moderna. Um volume ilustrado, de 550 págs. Lisboa, 1908. Estudo económico e tecnológico da leitaria em Portugal nos últimos 40 anos. (Relatório pedido de Inglaterra. Traduzido e publicado pela casa editora Douglas de Edimburgo, 1909). A pasteurização e a esterilização do leite. (Memória concorrendo ao prémio estabelecido pela «Fédération Général du Lait» de Bruxelas, 1914). Essais sur la matière colorant des vins. (Estudo laboratorial do autor sobre a inexactidão das conclusões francesas). Separata da «Revista de Química Pura e Aplicada», 1913. A «anfibiose» na fermentação alcoólica. Dissertação de concurso ao lugar de professor no Instituto. Lisboa, 1914. Questões de lacticologia – Higiene pública. (Alterações de origem alimentar). Memória. Lisboa, 1915. Antibiose e metabiose microbianas. (Aplicação à bacterioterapia). Memória publicada pelo «Laboratório Sanitas» e por esta empresa enviada aos médicos de Portugal e Brasil. Lisboa, 1918. Federação agrária e exploração social do solo inculto transmontano. (Tese apresentada ao 1.º congresso transmontano). 1920. Tratado de vinificação – Processos modernos aplicados às condições de Portugal e países quentes. 2 vols. Editores Rodrigues & C.ª, Lisboa. Foi publicado em 1929 o 1.º volume de 560 páginas. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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RAMIRES

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RAMOS

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RAPOSO

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Pronto para publicar: Colonização e emigração portuguesa – O seu aspecto económico e o seu aspecto biológico. Novos estudos sobre «fermentos lácticos» e sua aplicação prática. A estrutura diastásica e a zimogenese microbiana. (Estudo de laboratório a sair no «Anuário» do Instituto Superior de Agronomia). No prelo: Tratado de vinificação. 2.º vol. Colaborou em vários jornais, em diferentes épocas, sobre diversos assuntos, artigos que nem sempre assinou. RAMOS (Padre António Manuel dos) – Nasceu em Samões, concelho de Vila Flor, a 12 de Março de 1845, e ali faleceu a 16 de Agosto de 1920; filho de José dos Ramos e de Antónia Luísa. Estudou preparatórios no liceu de Braga e teologia no Seminário da mesma cidade, mas ordenou-se de presbítero em Angra do Heroísmo, onde ao tempo era governador do bispado o padre António de Azevedo, seu parente. Ensinou latim no Seminário de Angra durante seis anos, e depois, durante 23, história, geografia e português no Seminário dos Carvalhos, do Porto, até que em 1910 retirou para a sua terra natal. Escreveu: Compêndio de Geografia, 1 vol. de 320 págs. 3.ª edição, 1907. Compêndio de História Universal, em 2 vols., que já tinha quatro edições em 1908. Catecismo Grande de Doutrina Cristã, 1 vol., que já tinha quatro edições em 1908. Catecismo pequeno para crianças, 1 vol., com 80 págs. 2.ª edição, 1909. Todas estas obras são editadas pela Livraria Portuense de Lopes & C.ª. RAPOSO (José António Simões) – Director da Escola Normal de Lisboa, professor e subdirector da Casa Pia. Nasceu na Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta, a 29 de Abril de 1840 e faleceu em Lisboa a 18 de Junho de 1900. Era filho de Martinho Caetano Simões Raposo e de D. Maria da Conceição Linhares Morgado. Foi relator de muitas conferências pedagógicas; autor de vários relatórios sobre a organização dos estudos da Casa Pia e sobre diferentes trabalhos escolares enviados pelo governo às exposições universais de Viena de Áustria e de Paris; inspector primário, vereador da Câmara Municipal de Belém, sócio fundador da Sociedade de Geografia e secretário da secção de ensino gráfico da mesma sociedade, onde fez algumas conferências notáveis. Assistiu ao Congresso Internacional Pedagógico de Bruxelas, em 1880, e representou Portugal no Congresso Pedagógico de Madrid em 1882, onde discursou em castelhano. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


RAPOSO

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Era sócio honorário da Associação Geral do Professorado Espanhol e oficial da Academia Francesa. Escreveu: Relatório das aulas da Real Casa Pia de Lisboa. Lisboa, 1869; idem, 1874; idem, 1878; idem, 1881; idem, 1882; idem, 1883; idem, 1884. Tabelas ou quadros parietais de leitura. Lisboa, 1866. 2.ª edição em 1884. Curso elementar de escrita. Lisboa, 1877. 2.ª edição em 1880, 3.ª em 1882 e 4.ª em 1884. Instrução popular, em 3 partes, intituladas – Primeiro, Segundo e Terceiro livro da escola. 1877. Com gravuras; o 3.º teve mais duas edições em 1880 e 1881. Conferências pedagógicas; relatório das conferências de Lisboa em 1883, etc. Lisboa, 1884 (674). RAPOSO (Luís António Martins) – Doutor em medicina pela Universidade de Coimbra; nasceu em Caçarelhos, concelho do Vimioso, a 20 de Maio de 1892; filho de Emílio António Martins Raposo e de D. Maria da Cruz Martins. Fez os estudos liceais em Bragança e Coimbra, onde terminou o curso de medicina em 1916, sendo logo mobilizado para França, onde serviu dois anos. Desde 1919 a 1925 foi segundo e, depois, primeiro assistente da faculdade de medicina de Coimbra e presentemente (Fevereiro de 1930) é capitão-comandante da 2.ª Companhia de Saúde, exercendo ao mesmo tempo a clínica em Coimbra, onde reside. Escreveu: Sífilis e gravidez. Coimbra, 1922, 23 págs. Mola hidotiforme. Coimbra, 1922, 32 págs. Do emprego da pituitrina em obstetrícia e seus perigos. Coimbra, 1922, 27 págs. Auto-intoxicação gravídica (Principais aspectos) – Dissertação de concurso ao lugar de 1.º assistente da Faculdade de Medicina de Coimbra. Coimbra, 1923, 398 págs. Em 1925 apresentou ao Congresso Luso-Espanhol, celebrado no Porto, duas teses: uma sobre Inconvenientes da associação da cafeína à estomavaina em raquiz-anestesia; outra sobre O tratamento do aborto complicado de redução e infecção. No de Medicina, realizado em Lisboa, em 1928, apresentou uma tese sobre A adenopatia traqueo-brônquica em relação com o serviço militar.

(674) Portugal: Dicionário histórico…, artigo «Raposo (José António Simões)».

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RAPOSO

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REAL

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REGO

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RAPOSO (Manuel Vitorino) – Ver Monteiro (Padre António Martins), pág. 333. REAL (Joaquim Ferreira) – Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, natural de Alvações do Corgo, concelho de Vila Real. Nasceu a 16 de Agosto de 1793 e faleceu em Vila Real a 5 de Março de 1845. Era casado com D. Maria da Conceição, de quem teve dois filhos: D. Margarida Augusta e Luís Ferreira Real, major reformado, administrador do concelho de Bragança e presidente da câmara municipal da mesma cidade, casado com sua prima D. Maria Inês de Novais Pinto de Azevedo, filha do general Azevedo. (Ver pág. 31). Por decreto de 1 de Dezembro de 1838 foi despachado administrador geral do distrito de Bragança, cargo que então correspondia ao de governador civil, do qual tomou posse a 2 de Fevereiro de 1839 e foi exonerado por decreto de 25 de Fevereiro de 1840. Já exercera idêntica missão na Guarda. Em poder de seu filho Luís Ferreira Real vimos o ofício de 13 de Março de 1839, que pede ao administrador geral lhe participe «quaes as medidas tomadas ácêrca da repressão do scisma politico-religioso, estado do mesmo scisma e punição de seus fanáticos e perversos colaboradores, objecto este de summa recommendação e interesse». É interessante esta particularidade, por se referir à questão do «Cisma dos Mónacos» (675). REGO (António Balbino) – Doutor pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde concluiu o curso em 1899. Nasceu em Moncorvo a 23 de Maio de 1874; filho de António Balbino Rego, escrivão de direito, que também o foi da vigararia geral da Câmara Eclesiástica de Moncorvo, e de D. Maria Urbana Chaves de Oliveira. Em 1904 era director do Laboratório de Bacteriologia e Higiene do Funchal (Madeira), passando depois a director do Posto Antropométrico da Polícia Cívica de Lisboa e do Registo Policial do Continente e Ilhas. Escreveu: Pneumonia pestosa. – Epidemia do Porto. Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto, 1900. 8.º de 104 págs. O bacilo de Ducrey – O cancro mole. Dissertação de concurso, por..., médico assistente do Laboratório de Bacteriologia do Porto. Porto, 1902. 8.º de 13 (inumeradas) págs., mais 135 seguidas de 4 inumeradas, com mais 3 gravuras. Um ano depois – Assuntos madeirenses. Porto, 1907. 8.º de XV-63 págs.

(675) Ver tomo IV, p. 578 a 585 e 677, destas Memórias.

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REGO

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REIMÃO

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REIS

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RELAÇÃO

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Na Ilha da Madeira – Hospital improvisado. Porto, 1907. 8.º de 117 págs. e mais duas plantas desdobráveis. No «Boletim do Governo Civil de Lisboa», Julho de 1928, pág. 5, encontra-se o retrato de Balbino Rego acompanhado de um artigo interessante, para julgarmos da sua acção profissional. REIMÃO (João Baptista da Costa) – Alferes de infantaria nº 24, que estava na praça de Almeida, em 1810, aquando da explosão (676). REIS (João Manuel Rodrigues dos) – Opulento capitalista, natural de Edral, concelho de Vinhais; faleceu a 1 de Dezembro de 1928 vitimado por uma síncope cardíaca, após o jantar em Vilela Seca, concelho de Chaves, em casa de seu genro, Domingos Calvão. Pouco antes havia este benemérito dado cem contos ao hospital da Santa Casa da Misericórdia de Chaves. Rodrigues dos Reis adquirira no Brasil, pelo seu inteligente trabalho, a sua grande fortuna de que sabia dispor bela e louvavelmente. RELAÇÃO DO SÍTIO, E RENDIMENTO DA PRAÇA DE MIRANDA, QUE MANDOU O MESTRE-DE-CAMPO-GENERAL D. JOÃO MANUEL DE NORONHA, PELO CORONEL DE INFANTARIA JOSÉ DE MELO, QUE CHEGOU A ESTA CORTE EM 20 DO CORRENTE MÊS DE MARÇO. PUBLICADA EM 24 DE MARÇO. Lisboa, na Oficina de António Pedroso Galrão, 1711. 4.º de 8 págs. Parece ser seu autor D. Francisco Xavier de Meneses, 4.º conde da Ericeira. RELAÇÃO DAS EXÉQUIAS CELEBRADAS EM MIRANDA DO DOURO POR OCASIÃO DO FALECIMENTO DA RAINHA D. MARIA I – Possuímos uma cópia desta «Rela-

ção», a qual existe na Biblioteca Nacional de Lisboa, «Impressos reservados, nº 162», que devemos à muita amabilidade do distinto escritor bragançano doutor Manuel António Ferreira Deusdado, a quem aqui, por este e outros muitos favores de género idêntico, consignamos o nosso reconhecimento. Eis o extracto dessa «Relação»: «Apenas em Miranda do Douro se teve conhecimento da morte da Rainha, succedida no Rio de Janeiro a 20 de Março de 1816, fixou-se o dia 16 de Setembro desse ano para as exequias solemnes, officiando a todas as pessoas que nelas deviam figurar. Quanto aos preparativos de luto, dobres de sinos, tablados para a quebra dos escudos e exclamações correspondentes dos vereadores n’este acto, tudo correu como nos antecedentes. (676) Ver tomo I, p. 165, destas Memórias.

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No cortejo funebre tomaram parte: Manuel Rodrigues de Morais, vereador, que levava o pendão da Camara; Paulo de Sampaio, almotacé; Caetano José Rodrigues, almotacé; António Manuel do Amaral, coronel de milicias de Miranda; Martinho Carlos de Miranda, capitão-mór de Outeiro; Thomaz José Rodrigues Fitas, doutor, vigário geral; Manuel Bernardo Ozorio da Fonseca, juiz de fora, presidente da Camara; José Antonio de Novaes da Costa e Sá, doutor, provedor da comarca; João Ferreira Sarmento Pimentel, doutor, corregedor da comarca; Manuel Gonçalves Deusdado, vereador da Camara; José Diegues Pinto, vereador; Justiniano Antonio Ferreira Ameno Portugal, vereador; Francisco Rapozo, procurador da Camara; Luiz Antonio Pimentel de Azevedo Feio, escrivão da Camara; Domingos Antonio Gil, capitão, commandante do destacamento; Pedro Guerra Rebello, governador interino da praça; O cortejo seguiu pela rua da Alfandega, onde estava o primeiro Tablado, e n’elle se quebrou o primeiro escudo, voltou pela de Santa Cruz e d’ali á Praça, onde estava o segundo Tablado em que foi quebrado o segundo escudo e d’alli ao largo da Sé, onde foi quebrado o terceiro, tudo com as solemnidades costumadas. Teve depois logar a ceremonia religiosa, officiando de prestes Frei Antonio de Sequeira Pereira, abbade de Sendim, acolitado por João Baptista Fernandes de Miranda, abbade de Caçarelhos, e Sebastião Xavier Gonçalves, abbade de S. Martinho. A oração funebre foi pronunciada pelo Ministro Geral dos Trinos Descalços, Frei Francisco da Assumpção. A absolvição do tumulo foi feita por: 1.ª José Manuel de Miranda, abbade de Genizio; 2.ª Bernardo Antonio Martins, abbade de Cicouro; 3.ª Francisco Antonio Martins, abbade de Villa-Chã; 4.ª Antonio Pires Vicente, abbade de Villar Secco. Manuel Antonio da Silva, conego da Sé de Bragança, mestre da capella, dirigia a musica». RELAÇÃO DAS EXÉQUIAS MANDADAS CELEBRAR EM BRAGANÇA PELA CÂMARA À D. JOÃO VI – Possuímos uma folha avulsa, sem título, mas que, pelo assunto, mostra ser uma relação das exéquias celebradas em Bragança pela morte de el-rei D. João VI. É impressa em Lisboa, na Tip. de Bulhões. MORTE DE EL-REI

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Diz que tendo constado em Bragança, a 25 de Março, por aviso da secretaria de Estado dos Negócios do Reino, a morte daquele rei, a câmara, reunida em sessão extraordinária, mandou anunciar o luto por meio de um bando e tocar funebremente os sinos da cidade por três dias, destinando o dia 19 de Abril para a cerimónia da quebra dos escudos e exéquias fúnebres. O cortejo saiu dos paços do concelho e percorreu as ruas da cidade, indo nele incorporados: o bispo D. Frei José Maria de Santa Ana Noronha, o cabido, as irmandades da Misericórdia e Ordem Terceira, todos os funcionários públicos e pessoas gradas da cidade e a clerezia de Bragança e área em circunferência de duas léguas, com as tropas da respectiva guarnição e mais: Bento José da Veiga Cabral, governador da praça; José de Barros e Abreu, major comandante do regimento de cavalaria nº 12; Manuel Bernardo da Silva Rebocho, tenente-coronel comandante do regimento de infantaria nº 24; Joaquim Gualdino da Rosa, major de infantaria nº 24; Emídio José Lopes da Silva, major do mesmo; António Manuel de Medeiros Feio, comandante da companhia de veteranos; António José de Morais, bacharel ex-almotacel; António Ferreira de Castro Figueiredo, ex-vereador, que conduzia a bandeira da cidade; António dos Inocentes, alcaide da câmara; António José de Sá, bacharel, juiz-almotacel; António José de Lima, idem. Tudo «de luto pezado, de capas compridas, chapeus desabados e fumos cahidos sobre o hombro direito». João Nogueira da Silva, desembargador e corregedor da comarca; José Bento Pestana da Silva, juiz de fora, presidente. João de Sá Carneiro Vargas, vereador da câmara; Manuel António de Barros Pereira do Lago, idem; António José de Novais da Costa e Sá, idem; Cada um destes vereadores levava um escudo real no braço esquerdo. Manuel António de Azeredo Pinto de Morais Sarmento, procurador da câmara; João Manuel Lopes, escrivão da mesma. Logo que o cortejo saiu dos paços do concelho, se dirigiu ao largo da Cidadela, onde estava construído, a propósito, um tablado, e subindo respectivamente a ele os três vereadores mencionados, quebraram os escudos e os deixaram cair sobre ele, tendo previamente recitado a «Oração» do MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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costume. Também, quando o cortejo recolheu aos paços do concelho, o juiz de fora, presidente, foi o primeiro a subir a escada e no alto dela quebrou a sua vara e a deixou igualmente cair por terra, fechando-se imediatamente todas as portas e janelas dos mesmos, em sinal de luto. Tiveram depois lugar as exéquias religiosas, a que assistiu todo o acompanhamento na igreja de Santa Maria, onde se elevava uma majestosa essa, na qual se liam, em diversos lugares dela, as seguintes inscrições: 1.ª «O lucto pelo Heroe, Bragança toma, Que os herões excedeu da Grecia e Roma». 2.ª «Nas sombras luctuaes, entregue á Morte Jaz o sexto João, oh! fado!, oh! sorte!» 3.ª «Das vidas a melhor a parca feriu, E este golpe fatal tudo sentiu». 4.ª «Na morada feliz, habita, e mora, O monarcha sem par, que Lysia chora». À função religiosa assistiram, além de outros: José da Graça Torres, dirigente das mesmas, familiar do bispo; Luís António da Costa, capelão da Sé catedral, regente da música da mesma; Paulo Miguel Rodrigues de Morais, deão da catedral, que celebrou missa fúnebre; Manuel da Silva, cónego prebendado, que serviu de diácono à mesma; Manuel António do Carmo, meio prebendado, que serviu de subdiácono. As absolvições foram feitas, respectivamente, por: Paulo Miguel Rodrigues de Morais, deão; Matias José da Costa Pinto de Albuquerque, mestre-escola; José Maria de Meireles, tesoureiro-mor da Sé; Manuel Alves Leal, arcediago de Bragança; e, em último lugar, pelo bispo Santa Ana Noronha, que também pronunciou a oração fúnebre Fecit quod placitum erat coram Domino, et ambulavit per omnes vias David, patris sui – que deve ter sido magistral, pois, como escreve o autor, «declarou-se o nome do orador, e do primeiro orador do nosso seculo, tanto basta, por consequencia, para se fazer o completo elogio ao discurso, cuja elegancia e exactidão d’estylo não seria facil descrever» (677). (677) Ver tomo II, p. 97 e 487, destas Memórias.

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RELAÇÃO DAS EXÉQUIAS MANDADAS CELEBRAR PELA CÂMARA DO MOGA9 DE MAIO DE 1826 POR EL-REI D. JOÃO VI – Folha avulsa. Lisboa, na Tip. de Bulhões. Ano 1826. Possuímos igualmente esta folha avulsa, impressa, que, como a antecedente, não tem título algum, sendo o que leva por nós dado, em vista do seu conteúdo. Tudo corre, mutatis mutandis, como nas exéquias antecedentes. No cortejo tomaram parte: António Manuel do Amaral, coronel do regimento de milícias de Miranda, com duas companhias deste; O prior da Colegiada de S. Mamede do Mogadouro, onde teve lugar a cerimónia religiosa; O reverendo padre-ministro do convento da Terceira Ordem de S. Francisco e o clero do distrito do Mogadouro; Marçal Caetano de Morais Machado, vereador mais velho, que ia montado num cavalo coberto de pano preto a rojar pelo chão, com um criado de libré à estribeira e levava a bandeira da vila coberta de luto; José António Pegado de Oliveira, major, comandante das ordenanças do distrito do Mogadouro, cavaleiro professo na ordem de Cristo, fidalgo da casa real; Francisco Inácio Pereira de Sequeira Ferraz, doutor corregedor da comarca; Jacinto José da Silva Macedo, doutor juiz de fora; José Joaquim Lucas Moreno, procurador do concelho; António José de Morais Pimentel, desembargador aposentado; Filipe António de Freitas Machado, desembargador provedor da comarca. O cortejo saiu dos paços da câmara, sitos no cimo da praça, e, ao pôr-se em marcha, bradou o vereador mais velho: «Chorae, nobres, chorae, povo, a morte do nosso Augustissimo Imperador e Rei o Senhor D. João sexto!», e dando volta a esta praça, onde estava o primeiro tablado, subiu a ele o vereador Manuel José Pinto Cancelo «acompanhado do guarda-mór, que lhe tirou o chapeu e o fumo ao escudo, e mostrando-o ao povo, e tendo feito todas as devidas continencias», soltou a exclamação acima: – «Chorae nobres», etc., e acrescentou: «As suas armas são estas! E quebrando o escudo, batendo com ele no pontalete, o deixou cair». Seguiu depois o cortejo pela rua Direita e chegando à praça da Feira, onde estava o segundo tablado, procedeu de igual modo relativamente à quebra do escudo Francisco António Guedes de Morais Leite Velho, vereador; e da mesma forma, no largo do Espírito Santo, onde estava o terceiro tablado, João Manuel Ribeiro de Abreu, vereador. Seguiu depois o acompanhamento pela rua do Sagrado, à embocadura DOURO EM

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do bairro do Penedo, daí à rua da Cadeia, a recolher aos paços da câmara, repetindo frequentes vezes durante o trânsito o vereador mais velho a exclamação: «Chorae nobres», etc., indo depois todos assistir à cerimónia religiosa à igreja da Colegiada, onde se levantava a essa, nos três degraus superiores da qual se liam estas inscrições: 1.ª Post tenebras spero lucem. 2.ª Erit illi gloria aeterna. 3.ª Voluit clementia, et denitate gubernare subjectos. Celebrou a missa solene Frei António Bernardino Teixeira de Macedo, prior da Colegiada; e Frei Manuel Caetano Álvares Pereira, doutor, beneficiado da Colegiada, recitou a oração fúnebre sob o texto: Non recedet memoria ejus, et nomen ejus requiretur a generatione in generationem. RELAÇÃO FIEL E EXACTA DA REVOLUÇÃO DE MIRANDA DO DOURO – Folheto in-4.º de 4 págs. O exemplar que vimos não tinha ano de impressão nem tipografia; talvez estivessem essas indicações na folha do rosto que já não tinha. RELAÇÃO

DOS DONATIVOS FEITOS PELOS HABITANTES DA CIDADE DE

BRA-

GANÇA E SEU DISTRITO PARA AS URGÊNCIAS DA GUERRA CONTRA OS FRANCESES EM

1809 – Folheto in-4.º de 4 págs., inumeradas. Não menciona a tipografia nem ano de impressão. RELAÇÃO FIEL E EXACTA DO PRINCÍPIO DA REVOLUÇÃO DE BRAGANÇA E CONPORTUGAL – Folheto anónimo, 4.º de 4 págs., inumeradas, sem indicação de tipografia nem ano de impressão. No livro Sepúlveda Patenteado, etc., de Francisco Xavier Gomes de Sepúlveda, pág. 6, lê-se: «Logo depois da Restauração em 1808, appareceo hum Papel impresso em folio com o titolo de – Relação fiel, e exacta do principio da Revolução de Bragança e conseguintemente de Portugal – papel que se imprimio segunda vez em 4.º, sem que em ambas as edições se declarasse aonde, nem a officina». A julgar pelo que aí se lê, este folheto deve ser obra de Manuel António Sousa e Madureira Cirne, abade de Carrazedo, no concelho de Bragança, de onde era natural, sobrinho do arcebispo de Tessalónica. (Veja-se o seu nome, pág. 100). Esta «Relação» teve 3.ª edição em Lisboa, na oficina de João Evangelista Garcês, 1809, fol. de 7 págs. Por ter relação com a guerra peninsular, mencionamos mais as seguintes obras: Papéis oficiais da Junta de Segurança e Administração Pública da Torre de Moncorvo, onde foi Proclamada a legítima autoridade do Príncipe Regente no dia 19 de Junho de 1808. Coimbra, Imp. da Universidade, 1808. 4.º de 20 págs. SEQUENTEMENTE DE

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