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BRAGANÇA

TOMO IX

para significar o seu direito da posse, verificar se foram mudados e torná-los bem visíveis, cortando pela cava os arbustos e ervas que tenham crescido [77]. Disseram outros que eram monumentos levantados à lua por uma tribo de árabes que invadiu a Península Ibérica e a adorava sob o nome de Cabar (258). Lopo (259), guiado pela lápide de Lamalonga, onde aparece apenas a palavra Barca, sem mais nada, escrita numa só linha, entende que eram marcos divisórios dos termos das povoações e que as letras em todos eles dizem Barca, mas como não cabia a palavra numa só linha, se escreveu da forma referida, «o que nos é explicado nas p. 541-542 do artigo de Alberto Sampaio, intitulado As Vilas do Norte de Portugal, publicado no vol. 4 da Revista de Portugal, de Eça de Queirós, de 1892, em que se lê: – que esses marcos [dos romanos] se mantiveram e existiam ainda no período astur-leonês, não pode haver a menor dúvida, visto serem mencionados vulgarmente nos Diplomata. Um exemplo bastará. «Afonso 3° (866-910) doará ao bispo Sabaricus o mosteiro de Dume, como seu território, per suos terminos antiquos. No tempo do filho Ordonho 2°, foi necessário, por qualquer motivo, identificar a demarcação antiga (D. 17). Fez-se uma congregatio magna; o bispo apresentou o seu documento, nomearam-se peritos – qui solent antiquitum comprovare. – E estes acharam repetidas vezes petras fictas, qui ab antico pro termino fuerunt constitutas – archa petrinea ab antiquis constructa – congesta petrinea – agirem; e outros marcos, como: ad barca qui sedet sculpta in scripta, ubi dicet terminum – terra tumeda qui fuit manu facta. São efectivamente sinais de demarcação romana as archas, congesta petrinea, petra sculpta ou scripta, petras fictas e terra tumeda. Portanto, os de que tratamos, se não são de origem romana, foram todavia feitos à imitação dos empregados por este povo para limitar os seus termos» (260). Parece-nos que da leitura do documento apenas resultam, como marcos expressamente feitos para dividir terrenos, as petras fictas; o mais eram acidentes naturais do terreno, aproveitados para referências demarcantes ou artificiais, mas construídos para fim diverso, como archa petrinea e terra tumeda, prováveis antas pré-históricas». Do próprio texto se vê que barca não é marco exclusivo, para assim se generalizar a todos este nome, mas sim mero acidente local, aproveitado pelos demarcantes por o terreno confrontar com uma fraga onde havia esculpida uma barca e letras, coisa que tão frequentes vezes se encontra nas insculturas rupestres.

(258) DUPUY – Origem dos cultos. (259) LOPO, Albino, O Arqueólogo Português, vol. 5, p. 184, e vol. 6, p. 17. (260) Portugaliae Monumenta Historica, Diplomata et Chartae, documento 17.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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