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REVOLUÇÃO DE 1820

171 TOMO I

Segundo aquele autor, parece que o juiz de fora, depois de ter hesitado e de se mostrar fraco e pusilânime e de nada recear, intentou arrogar a si a iniciativa do glorioso pronunciamento da cidade de Bragança. No ofício que dirigiu ao comandante Taborda, naquele dia, serve-se do estilo de quem deseja atribuir a si a resolução da convocação da câmara e autoridades. Talvez por isto aqueles briosos oficiais resolveram fazer o auto referido. O conde de Amarante, vendo como a província se revoltava toda, retirou-se para a sua casa do Patim, em Ponte do Lima, desapontado com a deserção das tropas e atitude das municipalidades. Parece que os bragançanos rejubilam. A 27 de Maio de 1822 celebra a sua primeira sessão a Sociedade Patriótica da Vila de Alfândega da Fé. Logo nessa sessão foram apresentadas algumas memórias sobre a instrução pública, vantagens do governo constitucional, inconvenientes da acumulação da propriedade em uma só mão e usurpação que a cúria romana tem feito das atribuições episcopais (sic!). Na mesma sessão foram oferecidos à sociedade: um poema didáctico sobre a criação das abelhas e a tradução de um livro do poema de Lucrécio — De Rerum natura (328). Do mesmo género se formara outra sociedade em Lisboa no 1º de Janeiro desse ano. É cheia de nobre entusiasmo a mensagem que a Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta mandou ao Congresso, aderindo à revolução (329). Mas o sistema liberal, tão facilmente implantado no meio de tanto entusiasmo, em breve principia a decair. A corte, que desde 1808 estava no Brasil, volta a Lisboa e começa a exercer sobre os influentes liberais o suborno em larga escala: palacianos enragés são destacados para o campo oposto, com o fim de espionarem e traírem a causa da liberdade. Os que até então blasonavam de liberais, negociam em torpe mercancia as suas dignidades, consciências e convicções! Como na débacle de 1580, ou outrora em Roma nos tempos de Iugurtha, tudo se vende, e a corte põe em giro o ouro, as complacências, os afagos e lisonjas, as

(328) RIBEIRO, Silvestre — História dos Estabelecimentos Literários e Científicos, vol. 4, p. 133. Jornal da Sociedade literária patriótica de Lisboa. O Patriota Funchalense. Borboleta Constitucional. (329) A RRIAGA , José de — História da Revolução Portuguesa de 1820, vol. 2, p. 639, onde vem transcrita por extenso.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


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