O caso de águedo de oliveira segunda parte

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CAPÍTULO VIII – ALGUNS CONTEÚDOS TEMÁTICOS DA SUA BIBLIOTECA

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Esta última expressão consubstanciava, em parte, o carácter da administração colonial portuguesa: o «paternal afecto», o «serviço espiritual da unidade» e, por último, a «devoção» à causa do Estado Novo. O carácter propagandístico da colonização portuguesa nos anos trinta é detalhadamente revelado na análise de Águedo de Oliveira, nunca se distanciando dos factores político e ideológico que, aliás, justificam o facto de esta publicação ter sido feita pela União Nacional. Neste sentido, e porque a sua biblioteca é um exemplo quase paradigmático de um político intelectual do Estado Novo, e, encontrando-se bem «informado», conforme os campos de análise sobre os quais temos vindo a reflectir documentam, interessará abordar alguns pressupostos do seu «discurso colonial». A argumentação de Águedo de Oliveira desenvolveu-se na perspectiva de demonstrar que, das várias teorias existentes acerca de «Império», só a portuguesa é que constituía um marco de cvilização, sendo a «realização» colonial o fim último que coroava o ideário traçado por Salazar para o Estado Novo. Em primeiro lugar, questiona: «O Estado será a suprema potência, como a administração será a suprema máquina? Desta arte, Império converte-se numa afirmação essencial de totalitarismo político. E, deste modo, Império resulta numa autarquia de forças económicas – com o expressivo sentido actual da frase. Estado fortíssimo, prolífico, militarizado, hiperexpansivo, à procura de espaços ocupáveis. Estado lutador acérrimo que intentando nivelar mais alto a sua vida, luta, violenta e biologicamente, pelos seus ideais de civilização».1460 Em segundo lugar, pergunta: «Será o Império ideal um grande esqueleto federativo, de núcleos autónomos, em que os ossos se prendem pelo fio delicado – e que frágil – da aceitação voluntária?»1461 Ou, em terceiro lugar, interroga: «O Império poderá ser, na nossa mão, uma nova e maior plutocracia?»1462 À primeira questão, Águedo de Oliveira respondeu negativamente, porque o Império português de forma alguma se poderia confundir com um «totalitarismo político», aliás muito afastado da tradição e da ordem portuguesa. Além disso, acrescentava que «o isolamento hermético da vida económica e o exclusivismo suficiente se casavam mal com as tradições portuguesas mais puras».1463 Quanto ao segundo problema, embora Águedo de Oliveira reconheça que o regime federativo não era novo, 1460

Idem, ibidem, p. 8.

1461

Idem, ibidem, p. 9.

1462

Idem, ibidem, p. 10.

1463

Idem, ibidem, p. 8.


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