Phantasmagoria

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Universidade de Coimbra Colégio das Artes Mestrado em Estudos Curatoriais

Phantasmagoria

Disciplina: Curadoria de exposições II Orientador: Prof. Doutor Delfim Sardo Aluna: Laurem Crossetti

2013


Índice

Apresentação ….......................................................................................................... 02 Lista de Obras …......................................................................................................... 06 Projeto Expográfico …................................................................................................. 09 Imagens …................................................................................................................... 11


Apresentação Título da exposição: Phantasmagoria Artistas participantes: Rosângela Rennó e Nicolas Darriot. Local da exposição: Convento de São Francisco, Coimbra – Portugal. Palavras-chave: Fantasia, fantasma, ilusão, imaginação, alegoria, teatralidade.

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3 “Eu. A fantasmagórica. Meu nome não existe. O que existe é um retrato falsificado de um retrato de outro retrato meu. Mas a própria já morreu” [1]

A exposição Phantasmagoria traz pela primeira vez à Coimbra o trabalho de dois artistas contemporâneos internacionais: Rosângela Rennó, uma das mais importantes artistas brasileiras da atualidade, e Nicolas Darriot, artista francês residente em Paris. Nunca antes expostos juntos, o formato dessa mostra encontra-se num território inusitado, já que ao mesmo tempo em que apresenta várias obras de cada artista – remetendo à individuais antológicas -, também propõe uma leitura que relacione suportes tão distintos como a fotografia não-fotografia [2] de Rennó e os personagens animados de Darriot. A ideia de fantasmagoria remete à forma de teatro inventado no final do séc. XVIII, na França, onde uma espécie de lanterna era modificada e assim projetava em paredes ou superfícies semi-transparentes imagens assustadoras, tais como esqueletos, demônios e fantasmas [3]. Esse projetor permitia ampliar o tamanho da imagem, gerando cenas verdadeiramente grandes e amedrontadoras, além de possuir dispositivos que permitiam a mudança sequenciada de diversas imagens. Popularizado na Inglaterra do séc. XIX, esse mecanismo relaciona-se com a produção de Rennó e Darriot em diversos sentidos. Segundo os dicionários modernos, o sentido da palavra fantasmagoria é a “arte de fazer aparecer fantasmas ou figuras luminosas em lugar escuro; Ilusão; Aparência falsa; Quimera”. Baseado na lanterna mágica e nos seus sentidos e significados, a exposição Phantasmagoria propõem uma experiência imersiva, quase lúdica, tirando partido da iluminação teatral para criar um ambiente tenso ressonante às questões levantadas pelas obras expostas. Aqui, o visitante é convidado a seguir um percurso labiríntico, escuro e misterioso, deparando-se hora com instalações e fotografias fantasmagóricas, hora com vozes e personagens animados.

[1] LISPECTOR, Clarice. Brasília. In.: Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. [2] Esse termo tenta explicar o fato de que Rennó não é uma artista que fotografa, que produz fotografias, mas sim que utiliza e manipula imagens fotográficas já existentes, transformando-as em seu produto final artístico. [3] A história mais detalhada das lanternas mágicas e da fantasmagoria pode ser encontrada no livro Phantasmagoria – The Secret Life of the Magic Lantern, de Mervyn Heard, e no website do The Magic Lantern Society: <http://magiclantern.org.uk/>.


4 A extensa produção de Rosângela Rennó envolve-se nos mais diferentes aspectos da linguagem fotográfica, explorando negativos, álbuns e fotografias que encontra em feiras e brechós, ou revirando arquivos de presídios e matérias jornalísticas. Ao utilizar essas imagens a artista trabalha o código fotográfico pelo mecanismo da desconstrução, situando a fotografia por si mesma ao mesmo tempo em que mantém a incerteza daquilo que ela aparenta ser. Na exposição podemos ver algumas obras da série Conto de Bruxas e Pequena Ecologia da Imagem, que demarca o início do seu processo de apropriação de fotografias de autores anônimos. Com o tempo Rennó demonstra cada vez mais interesse em situar a imagem num determinado espaço, criando assim obras como Imemorial e Parede Cega, além de expandir seu discurso do campo “dos conflitos da esfera privada para os da esfera pública ou coletiva”[4], ou, ainda, social. No trabalho de Rennó a fotografia é memória, sombra, vulto. Fantasma. Representação residual do homem e suas coisas que alcança o ponto onde esquecemos a referencia inicial e a imagem vira o próprio sujeito. Nesse sentido, suas obras propõem ao fruidor uma reflexão sobre o aparente estatuto duradouro da fotografia, sua função enquanto registro da vida e, consequentemente, sua estreita relação com a morte. Lidando também com essas questões seminais estão as obras de Nicolas Darrot, que alia o aspecto conceitual a um grande conhecimento técnico em mecânica e certa dose de robótica. O artista cria personagens surreais, híbridos entre animal e homem, ser vivo e morto, elaborando um universo novo carregado de múltiplas referências. Suas obras evocam o ofício do ventríloquo, atividade que ao mesmo tempo que fascina remete ao medo infantil desses seres intrigantes. Cada uma das marionetes é animada por seu próprio conjunto de dispositivos mecânicos e sonoros, emitindo vozes e repetindo discursos mais ou menos perceptíveis, refletindo sobre suas próprias condições existenciais. O som que emana dos trabalhos contribui para a ativação dos sentidos do espectador, fazendo com que a obra ocupe um espaço muito maior do que sua fisicalidade determina. Os personagens podem ser ativados por botões acoplados nas estruturas que os sustentam ou por sensores que percebem a aproximação do visitante e os acionam automaticamente, potencializando o aspecto fascinante das obras. O mundo criado por Darrot estimula a imaginação em diversos níveis, refletindo sobre conceitos como fábula, mito e fantasia, além de questionar os limites dos avanços tecnológicos e científicos. [4] HERKENHOFF, Paulo. Rennó ou a beleza e o dulçor do presente. In: RENNÓ, Rosângela. Rosângela Rennó. São Paulo: Edusp, 1998. p. 136.


5 Phantasmagoria tem um conceito curatorial que pretende se opor às exposições neutras e herméticas que cada vez mais ocupam galerias e museus. Aqui, a intenção é que o visitante não consiga ter uma postura indiferente, imune às provocações e às sensações convocadas pelas obras. O projeto expográfico foi elaborado de maneira a criar percursos labirintícos e desafiar a possibilidade de um trajeto desinteressado. Entre sustos e surpresas, a intenção é que qualquer visitante tenha uma experiência rica, ainda que extremamente particular, tanto no campo estético quanto no que diz respeito à ativação dos sentidos.


6 Lista de Obras

Rosângela Rennó: 1. A mulher que perdeu a memória, Série Pequena Ecologia da Imagem, 1988. Fotografia em papel de brometo de prata. 120 x 80 cm. 2. Atentado ao Poder, 1992. 15 fotografias p&b em papel resinado (fotos apropriadas de jornais), acrílico, parafusos e 2 lâmpadas fluorescentes, texto em adesivo aplicado sobre parede. 320 x 25 x 25 cm. 3. Cerimônia de Adeus, 1997-2003. 5 conjuntos de 4 fotografias digitais, laminadas sob acrílico. 50 x 68 cm cada imagem. 4. Estado de Exceção, Série Pequena Ecologia da Imagem, 1988. Fotografia em papel de brometo de prata. 120 x 80 cm. 5. Experiência de cinema, 2004-2005. Projeção fotográfica sobre cortina de fumaça intermitente. Dimensões variáveis. 6. Falsas promessas, Série Conto de Bruxas, 1988. Fotografia em papel de brometo de prata. 160 x 100 cm. 7. Imemorial, 1994. 40 retratos em película ortocromática pintada e 10 retratos em fotografia em cor em papel resinado sobre bandejas de ferro e parafusos, letras de metal pintado. 60 x 40 x 2 cm cada moldura. 8. Parede Cega, 2000. Fotografia pintada sobre painel em MDF, espuma e lycra. 169 x 104 x 9 cm cada. 9. Série Corpo da Alma, 2003. Imagens digitais realizadas a partir de fotografias publicadas em jornais gravação sobre aço inoxidável. 165 x 110 x 3 cm.


7 10. Série Vermelha, 1996 – 2000. 8 fotografias digitais realizadas a partir de originais fotográficos adquiridos em feiras de artigos de segunda mão ou doados, impressão lightjet digital em papel fuji crystal archive. 180 x 100 cm cada. 11. Série Vulgo, 1998. 6 fotografias digitais, processo Lightjet. 170 x 110 cm cada.

Nicolas Darrot: A. Adam, 2009. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 45 x 180 x 45 cm. http://www.youtube.com/watch?v=TBXznNuQJSQ&feature=player_embedded B. Axel, 2010. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivo sonoro. 60 x 190 x 60 cm. http://www.youtube.com/watch?v=HfZ09Ip6KDU&list=UUaRd5GrzokF1YbA-DsLIurQ C. Balloon Man, 2009. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 50 x 180 x 90 cm. D. Bile Noire, 2012. Resina, polyester, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 60 x 26,5 x 52 cm. http://www.youtube.com/watch?v=oSmgYGKGIis&list=UUaRd5GrzokF1YbA-DsLIurQ E. L'intrus, 2012. Materiais diversos, cilindro pneumático e dispositivo sonoro. http://www.youtube.com/watch?v=1cxNz2bTAC4&list=UUaRd5GrzokF1YbA-DsLIurQ F. La veillée, 2012. Fotografia. G. Macrotertmitinae, 2006. Materiais diversos e cilindro pneumático. 250 x 160 x 130 cm. H. Passage au Noir, 2006. Materiais diversos e atuadores mecânicos. 250 x 180 x 250 cm.


8 I. Résurrection de Lazare, 2008. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 200 x 250 x 200 cm. http://www.youtube.com/watch?v=UA7NNNZ362I&feature=player_embedded J. Série Les Injonctions, Injonction 2, 2008. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 100 x 65 x 26 cm. http://www.youtube.com/watch?v=1NwuPgd5sb8&feature=player_embedded K. Série Les Injonctions, Injonction 4, 2008. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 85 x 110 x 60 cm. L. Série Les Injonctions, Dialogues D'Exilés, 2008. Materiais diversos, atuadores mecânicos e dispositivos sonoros. 100 x 65 x 26 cm.


9 Projeto Expográfico

As principais questões do projeto expográfico de Phantasmagoria partiram das necessidades das próprias obras selecionadas. No caso das imagens de Rosângela Rennó existem basicamente duas situações: obras instalativas, como por exemplo Atentado ao Poder, Experiência de Cinema e Imemorial, estão dispostas nos espaços mais amplos da galeria, funcionando como uma espécie de respiro no ritmo da visitação. Para as imagens fotográficas foram feitas salas especialmente para cada série, na intenção de criar uma ambiência para os trabalhos bidimensionais. Em Vermelho, Corpo da Alma e Parede Cega, os espaços abrigam propositalmente um número grande de obras, causando um grande impacto visual e certa sensação de desconforto ao visitante. As obras de Rennó estão dispostas no corredor com maior espaço expositivo do Convento de São Francisco, da seguinte maneira:


10 Para as obras de Darrot, a expografia foi definida com base nas necessidades de cada marionete. Os trabalhos grandes, como Résurrection de Lazare, Macrotertmitinae e L'intrus, estão em salas individuais. Os personagens de menor dimensão estão espalhados pela galeria convidando o espectador a explorar todo o espaço expositivo. Suas obras estão no corredor menor do Convento, conforme planta abaixo:

Como comentado anteriormente, o percurso expográfico é livremente inspirado em labirintos e na ideia original da lanterna mágica, buscando causar sensações como o desconforto, a confusão e, porque não, também uma parcela de medo.


11 Imagens

A mulher que perdeu a mem贸ria, S茅rie Pequena Ecologia da Imagem, 1988.

Atentado ao Poder, 1992.

Cerim么nia de Adeus, 1997-2003.


12

Estado de Exceção, Série Pequena Ecologia

Falsas promessas, Série Conto de Bruxas, 1988.

da Imagem, 1988.

Experiência de cinema, 2004-2005.


13

Imemorial, 1994.

Parede Cega, 2000.


14

Série Corpo da Alma, 2003.

Série Vermelha, 1996 – 2000.


15

SĂŠrie Vulgo, 1998.

Adam, 2009.


16

Axel, 2010.

Balloon Man, 2009.

Bile Noire, 2012.


17

L'intrus, 2012.

La veillĂŠe, 2012.

Macrotertmitinae, 2006.


18

Passage au Noir, 2006.

RĂŠsurrection de Lazare, 2008.


19

Série Les Injonctions, Injonction 2, 2008.

Série Les Injonctions, Injonction 4, 2008.

Série Les Injonctions, Dialogues D'Exilés, 2008.


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