SURREAL: UMA REVISTA SOBRE MULHERES NAS ARTES SURREALISTAS NO MÉXICO

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UMA REVISTA SOBRE MULHERES NAS ARTES SURREALISTA NO MÉXICO.

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Maria iziequierdo Alice Rahon Remedios Varo
Capa: A árvore da vida por Leonora Carrington, 1960 | Óleo sobre tela, 92 x 65,5 cm | Coleção particular. Imagem/Reprodução: historia-arte.com SURREAL
Leonora Carri gton

Aqui falaremos sobre quatro autoras distintas, que são Alice Rahon, Leonora Carrington, María Izquierdo e Remedios Varo, artistas surrealistas que atuaram e desenvolveram seus trabalhos no México no período do século XX. Esta revista é parte da pesquisa desenvolvida na Iniciação Científica durante minha gradução em Design.

A escolha do tema foi feita com o objetivo de resgatar as memórias e projetos dessas mulheres, pois mesmo sendo muito relevantes ainda são pouco retratadas. Seria importãnte rever suas vidas, obras e questões, não só pelo seu reconhecimento e representatividade, mas também porque elas trazem pautas e propostas de cunho revolucionário, que até os dias de hoje ainda são considerados tabus. A proposta seria refletir sobre seus contextos e trabalhos, tentando resgatar esse viés disruptivo de vários paradigmas.

O México, local de suas maiores produções artísticas, era na época, de acordo com o artigo “Olhares sobre o México” , considerado um lugar de esperança em recuperação ao período crítico que a humanidade vivia naquele século. Pelo clima do país ser de revolução ele trazia uma inspiração criativa para o futuro, viabilizando o crescimento de novas consciências e expressões, sendo então, fonte de lampejo para as criações dessas mulheres. Observando o surrealismo, o qual nossas autoras foram participantes e criadoras, era o resultado desse ar de mudança que pairava a época, e encontrava um berço em território mexicano. Essa vanguarda trazia tudo aquilo que a “razão” europeia católica e burguesa negava e reprimia, como o erótico, o mito, a magia, o bizarro, o excêntrico, a psique e levava consigo e seus trabalhos, o frescor da criatividade e a imaginação de novas possibilidades, buscando assim, uma forma de reaver o encantamento com o mundo. Criaram obras históricas que rompiam com ideias classistas, racistas, imperialistas, homofóbicas e misóginas, propondo desse modo uma nova forma de interpretar e lidar com a vida .

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Laura Malini da Rosa

Porque é que as mulheres puderam ser objeto de criação, mas não criadoras?*

*Trecho da publicação A Arte sem História: Mulheres Artistas (Séculos XVI-XVII) de Filipa Lowndes Vicente (2011).

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ARTEFATOS DE UMA CULTURA MACHISTA

Porque é que as mulheres puderam ser objeto de criação, mas não criadoras? Porque é que foram personagens de quadros, de romances ou de fotografias, e não pintoras, escritoras ou fotógrafas?

Figuras em mármore ou em gesso, mas não escultoras? Porque é que puderam ser “artefatos culturais”, mas não participar na “produção de cultura”?

Filipa Lowndes Vicente, autora do livro A arte sem história: mulheres e cultura artística (séculos XVI-XX), publicação a qual o trecho ao lado foi retirado expressa as razões que motivaram a pesquisa que resultou nesta revista. Porque a mulher pode ser o produto, mas não produtora? Por que mesmo quando produtoras elas são excluídas da história? De acordo com a ONG “National Museum of Women in the Arts” apenas 14% de todas as exposições, em 26 museus nos Estados Unidos, nas últimas décadas foram feitas por mulheres, essa é uma realidade que também, infelizmente, ocorre em todo o mundo.

Em 1985 em Nova York nasceu, por conta dessa pouca representatividade, o coletivo feminista “Guerrilla Girls”, afirmando que por conta de as pessoas mais poderosas do mundo serem homens, ricos, brancos e heterossexuais, os quais doam os principais fundos para museus e exposições. Os museus já não serviriam mais para contar a verdadeira história da arte, e sim a do dinheiro e poder.

Podemos lembrar que em 1989 o valor de uma tela de Jasper Johns poderia comprar 67 obras de outras artistas mulheres consideradas consagradas na indústria, confirmando então a informação acima, sobre essa tremenda desigualdade.

Segundo Aragon, no mundo do surrealismo essa realidade não é diferente, mesmo que o surrealismo tenha como uma de suas principais marcas o culto a mulher, apesar do movimento pregar a supremacia do feminino sobre o masculino, na história isso não se aplica, pois mesmo pregando a alteridade, no movimento a grande maioria dos artistas evidenciados são do gênero masculino, mais uma vez a mulher assume papel de musa e não autora. |

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“O surrealismo não busca apenas a realidade racional ou apenas a realidade irracional, mas a mistura entre as duas cria o maravilhoso. O fantástico penetra na vida e a vida no fantástico e o fantástico e a vida funciona como um sistema de ‘vasos comunicantes’. Visa-se, em primeiro lugar, compreender como realmente funciona a mente do individuo para libertá-lo de si mesmo, para libertá-lo do preconceito que tudo se confina numa atividade consciente, racional, lógica. Esse lado mais pobre do homem depende de uma realidade infinitamente mais rica que é a atividade imaginária do inconsciente que domina o homem. A libertação consiste, pois, em dar livre expressão à vida inconsciente que a civilização reprimiu.”, explica Dante Tringali no artigo Dadaísmo e Surrealismo para revista de literatura ITINERÁ-

RIOS edição de 1990. |

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MARÍA IZQUIERDO

A pintora muralista que transborda cores e reflexões

Vamos descobrir mais sobre Maria Izquierdo, uma muralista mexicana cheia de personalidade e talento! Nascida em algum momento entre 1902 e 1907, em San Juan de los Lagos, no Estado de Jalisco, México, a data exata de seu nascimento permanece um mistério. Mas uma coisa é certa: essa artista tinha um estilo pictórico único, quase infântil, com cores vibrantes que exalavam o espírito do México. Com uma coragem invejável, María

dedicou-se inteiramente a desenvolver um estilo único que retratasse a realidade de seu país e suas próprias vivências. Casada bem jovem com um militar, María teve três filhos, mas logo após a morte de sua mãe, o casamento chegou ao fim. Talvez tenha sido essa liberdade recém-adquirida pela falta de sua família de berço, que a levou a se mudar para a Cidade do México, em busca de novas oportunidades e conhecimentos . >

Imagem/Reprodução: magazine.artland.com
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Nossa artista estudou na renomada Academia de San Carlos, entre os anos de 1928 e 1929. E ela conheceu por lá, Ninguém menos que, Diego Rivera, um dos diretores da academia e marido da icônica Frida Kahlo. Ele ficou impressionado com o trabalho dela, mas, para nossa surpresa, a excluiu de participar de um mural, alegando falta de experiência.

Mas a pintora não deixou isso abalar sua determinação. Ela sempre foi uma pessoa popular e feliz, como nos conta a fotógrafa Lola Álvarez Bravo, amiga e confidente. A artista pintava a realidade urbana do México, sempre rejeitando o elitismo e a influência da arte acadêmica. Uma verdadeira rebelde.

Até por conta disso, mais tarde, ela se juntou ao grupo ¡30-30!, que tinha como objetivo democratizar a arte muralista e criar uma identidade nacional autêntica, fugindo das influências europeias. As obras de María Izquierdo, filha da Revolução de 1910, ainda estão presentes nos principais prédios do país e nasceram de um momento crítico e transformador. E não podemos ignorar esse momento pós-revolucionário que o México vivia na época.

Com o passar do tempo, María passou por uma mudança em seu estilo, influenciada pelo pintor Rufino Tamayo. Essa fase trouxe um amadurecimento técnico e um novo interesse pela natureza morta. Mas, Elena Poniatowska após entrevistar a artista, afirma que tal relação foi de transformação mútua. María dizia que devia muito a Tamayo, mas ele também devia muito a ela.

Em 1930, María Izquierdo realizou uma exposição em Nova York, expondo 14 telas pintadas a óleo. Uma conquista inédita: uma pintora, mulher e latina expondo nos Estados Unidos.

Apesar do reconhecimento artístico, María passou por um período de melancolia após o fim de seu relacionamento com Tamayo. Mas a vida sempre nos reserva surpresas, e ela encontrou apoio em Raúl Uribe Castillo, que a ajudou a promover seu trabalho e a acompanhou em várias viagens. Infelizmente, o relacionamento também não durou, mas ela transformou a solidão em força e mergulhou em suas reflexões mais profundas.

Foi nesse momento de autodescoberta que sua liberdade e autonomia de criação emergiram. María retratou o brilho mexicano e seus desejos mais profundos diante da vida, revelando uma arte intimista e tímida, que se distanciava do megalomanismo do muralismo masculino dominante.

A artista foi pioneira, sua arte era um turbilhão de cores e reflexões, com um estilo poético e autobiográfico que encantava a todos. Além disso, mesmo sendo uma das primeiras pintoras latinas a expor seu trabalho nos Estados Unidos , ela ainda encontrou tempo para estudar, pois fez doutorado em história da arte pela Universidade Autônoma do México. Maria Izquierdo tem suas obras reconhecidas pela riqueza de cores e pelo estilo poético e autobiográfico. Sendo uma autora que revolucionou com seu trabalho, um legado inspirador para as futuras gerações. |

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Uma mulher latina expondo em nova york

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inverarte.com
Imagem/Reprodução:
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Banhistas por María Izquierdo, 1938 | Guache sobre papel, 22,8 x 27,9 cm | Museu Nacional de Arte.
Imagem/Reprodução: awarewomenartists.com
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Minhas sobrinhas por María Izquierdo, 1940 | Óleo sobre tela, 139,8 x 99,8 cm | Museo Nacional de Arte.

imagem/reprodução: magazine.artland.com

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Maternidade por María Izquierdo, 1944 | Óleo sobre tela, 85, 70,2 cm | Coleção Privada.
Imagem/Reprodução: awarewomenartists.com
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Autoretrato por María Izquierdo, 1946 | Óleo sobre tela, 53 x 45 cm | Coleção Privada.
Imagem/Reprodução: awarewomenartists.com
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Sonho e Pressentimento por Maria Izquierdo, 1947 | Óleo sobre tela, 45 x 60 cm | Coleção particular.
Imagem/Reprodução: magazine.artland.com
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Sexta-feira Dolorosa por María Izquierdo, 1945 | Óleo sobre tela, 76 x 60,5 cm | Museu Andrés Blaisten.

ALICE RAHON

Uma artista que retratava sonhos, sensações e culturas.

Alice Marie Yvonne Philippot, uma mulher que nasceu em 1904, na charmosa cidade de Cheney-Bouillon, no leste da França. Sua infância não foi fácil, já que seus pais, Alphonsine Rahon e Jean-Louis Philippot,

trabalhavam como cozinheira e manobrista em uma residência em Paris. Isso significa que ela nunca teve grandes luxos e viveu uma infância simples. Mas, mesmo assim, Alice guardava memórias vivas dos

Imagem/Reprodução: alicerahon.org Foto/Preprodução: alicerahon.org
(foto de Walter Reuter, 1940-41)
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O Inseto da série Cristais no Espaço por Alice Rahon, 1943 | Guache sobre papel 25,1 x 16,4 cm | Museu de Arte Moderna de Nova York.

longos verões passados na casa dos avós, em Recouvrance, um bairro encantador da cidade de Brest, na Bretanha. Aos três anos de idade, Alice sofreu um acidente e quebrou o quadril direito. Durante os três anos seguintes, ela teve que usar gesso para se recuperar. Já era uma criança frágil de saúde, e a lesão combinada com a ausência dos pais, que trabalhavam o tempo todo, tornou sua recuperação ainda mais difícil.

Sem poder brincar com outras crianças, ela passava horas no jardim de sua casa, onde descobriu sua paixão pelos livros e pelas artes. Seu interesse incluía moda, escrita e artes visuais, e seu isolamento permitiu que ela desenvolvesse um vínculo especial com suas criações, tornando-se uma artista múltipla.

Aos doze anos, ela sofreu um novo acidente e quebrou a perna, mergulhando novamente em um estado de pensamento profundo e isolamento. Durante esse período, seu amor pela leitura a aproximou de teorias e realidades que ela nunca havia imaginado. Isso, sem dúvida, influenciou sua criatividade e produções artísticas.

Rahon engravidou muito jovem, mas o bebê faleceu logo após o nascimento. Fato que a afetou profundamente, mas, aos 27 anos, ela se mudou para Paris com sua irmã e entrou em contato com a cena boêmia da cidade. Foi nesse ambiente que Alice conheceu fotógrafos, artistas, designers de moda e outros criativos, que se tornariam seus colaboradores e amigos ao longo da vida.

Em Paris, ela criou chapéus para a estilista surrealista Elsa Schiaparelli e modelou para Man Ray. Foi nesse meio artístico que Alice conheceu o pintor austríaco

Wolfgang Paalen, com quem se envolveu e se casou em 1934. O casamento com Paalen estimulou ainda mais sua criatividade e a levou a fazer muitas viagens, atividade que se tornou sua paixão. Foi durante muitas dessas viagens que ela conheceu outras culturas com conceitos muito diferentes da europeia, o que a instigou ainda mais e moldou seu estilo.

Foi através do marido que ela se aprofundou no movimento surrealista, e foi apresentada a André Breton, que a ajudou a publicar seu primeiro livro. Naquele ano Breton convidou Paalen para ingressar oficialmente no grupo surrealista, o que inspirou novas produções artísticas. Nessa fase de sua carreira, Alice não se limitou apenas às artes visuais, mas também produziu muitos poemas.

Em sua primeira publicação, ela escreveu “Muttra” e outros poemas influenciados pela cultura Hindu. Os livros foram publicados em edições limitadas e contaram com gravuras de Yves Tanguy.

Em busca de inspiração na arte pré-histórica, ela e o marido foram convidados para visitar Altamira, na Espanha, por um amigo que sabia do interesse dela. Foi nessa viagem na qual ela teve contato com as pinturas rupestres que acabaram influenciando seu estilo de pintura.

Em 1939, Rahon viajou para as Américas devido à ameaça da guerra. Aceitando o convite da sua amiga suíça e fotógrafa, Eva Sulzer. Primeiro elas desembarcaram em Nova York, passando o verão, em seguida viajaram para o Canadá e a Colúmbia Britânica tendo contato com a arte indígena, inspirando-a fazer uma série de esboço de totens, referencia que depois aparece em várias obras dela. >

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A última parada foi o México, a convite de Frida Kahlo, outra amiga de Paris, com quem ela se identificou profundamente. Lá ela se encantou com as cores e decidiu dedicar-se exclusivamente à pintura. A partir de 1941, Alice publicou seu último livro e concentrou-se em sua carreira como pintora.

Anos depois, ela se casou com Edward Fitzgerald, um diretor canadense e cenógrafo de Luis Buñuel. Juntos, eles produziram um filme experimental chamado “Le Magicien”. Ela foi considerada uma precursora do impressionismo surrealista. Além da pintura ela também escreveu peças de teatro e expôs seu trabalho em diversos países. Sua arte é rica em influências indígenas e pré-históricas, e em suas pinturas ela explorou materiais como tinta a óleo, madeira e até areia.

A artista teve uma trajetória brilhante, cheia de influências culturais e pontos de vista diferentes, estimulando a ciração de obras vanguardiastas e transgressoras para época. Mesmo assim, pode-se dizer que quase 40 anos após sua morte num asilo em 1987, Alice Rahon nunca recebeu o merecido reconhecimento pelo valor e influência de suas produções artísticas. Ainda hoje, seu nome é pouco mencionado em livros modernos de artes ou, muitas vezes, suas colaborações não são referenciadas. |

Imagem/Reprodução: alicerahon.org
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Mozart da série Cristais no Espaço por Alice Rahon, 1942 Guache sobre papel, 21,6 x 16,2 cm | Museu de Arte Moderna de Nova York.
Imagem/Reprodução: inverarte.com
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Os Gnomos (Duendes) por Alice Rahon, 1951 | Óleo e areia sobre tela, 46,5 x 55,5 cm | Coleção Privada.
Imagem/Reprodução: inverarte.com
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O antilope e o caçador por Alice Rahon, 1961 | Óleo e areia sobre tela, 27,3 x 25,4 cm | Coleção Privada.

REMEDIOS VARO

Uma Mulher Artista, Surrealista e Alquimista

María de los Remedios Alicia Rodriga, mais conhecida como Remedios Varo, nasceu em 16 de dezembro de 1908 na cidade de Anglès, em Girona! Uma artista espanhola que encantou o mundo com sua arte mágica e mística! O pai dela, Don Rodrigo Varo, era um engenheiro elétrico super apaixo-

nado por ciência e fantasia, enquanto a mãe, Doña Ignacia Uranga, era uma dona de casa super católica, que levava suas obrigações religiosas muito a sério. A família vivia com seus dois irmãos e sua avó, em um momento vulnerável após a perda da filha mais velha. >

Imagem/ Reprodução: awarewomenartists.com
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Apesar das circunstâncias, María era vista pelos pais como uma bênção, Tendo seu nome de batismo em homenagem à santa Virgem dos Remédios.

O pai dela viajava muito por causa do trabalho, e a família o acompanhava em suas viagens, o que permitiu que Remedios tivesse contato com ferramentas, formas geométricas, ciências, natureza e o mundo da fantasia, influenciando profundamente sua arte. Já na infância, ela demonstrou talento, criando pequenos desenhos do seu universo imaginativo.

Na adolescência, ela se fascinou por pintores renascentistas e começou a visitar o museu do Prado, onde teve contato com obras de artistas como Goya, Bosch e El Greco. Essa influência, aliada à sua descoberta pessoal, moldou sua arte intimista e extraordinária. A alquimia também despertou o seu interesse, que foi inspirada pelas ideias de Carl Gustav Jung, refletindo em suas criações.

Após a formação artística, no Liceu de Artes e Ofícios de Madrid e na Escola de Belas Artes de San Fernando, ela apri-

morou a pintura e, em 1932, entrou em contato com o surrealismo. Remedios teve uma exposição de destaque com o grupo “Logicofobista”, formado por artistas catalães como Joan Massanet, Joan Miró e Salvador Dalí.

Mais tarde, ela se mudou para Barcelona com seu marido Geraldo Lizárraga e continuou a explorar o surrealismo. Infelizmente, as tropas de Hitler chegaram em Paris em 1940, obrigadando a fugir novamente, agora casada com Benjamín Péret, nesse período se estabeleceram no México, onde ela produziu a maior parte de seu trabalho.

Remedios Varo foi uma artista espanhola que encontrou refúgio no México durante a Segunda Guerra Mundial. A arte de Maria Varo é repleta de magia e misticismo, tratados com muita sensibilidade e detalhes. Ela deixou um legado incrível e ainda é uma inspiração para muitos artistas. Uma jornada artística repleta de desafios e mudanças, mas ela nunca deixou de expressar sua criatividade e imaginação em suas obras. |

Imagem/reprodução: www.malba.org.ar SURREAL

Imagem/Reprodução: labirinto.labjor.unicamp.br

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Ciência Inútil ou O Alquimista (Labirinto Mecânico) por Remédios Varo, 1958 Óleo sobre masonite, 104 x 54 cm | Coleção Privada.

Imagem/Reptodução: nmwa.org

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A chamada por Remédios Varo, 1961 | Óleo sobre masonite, 107 x 79 cm | Museu Nacional da Mulher nas Artes.
Imagem/Reprodução: www.malba.org.ar
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Ícone por Remédios Varo, 1945 | Óleo sobre masonite, 70 x 50 cm | Coleção Malba.

Imagem/Reptodução: remedio-varo.com

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Encontro por Remedio Varo, 1959 | Óleo sobre tela, 52 x 40 cm | Coleção Peggy Guggenheim.

LEONORA CARRINGTON

Uma Mulher que inspira mistérios além do seu tempo

Leonora Carrington, nasceu em 1917 em Lancashire, uma pacata zona rural da Inglaterra. Desde pequena, teve a sorte de ser influenciada pela cultura mística de sua mãe, Maureen Moorhead, que era irlandesa e amante de mitologia e cultos celtas. A influência foi fundamental para que a jovem artista desenvolvesse sua imaginação fértil e visse o mundo com um olhar mágico e encantador.

Apesar de pertencer à aristocracia inglesa, com uma mãe filha de médico e um pai bem-sucedido no ramo têxtil, Leonora tinha o desejo ambicioso de seguir uma carreira artística.

Após muita insistência, mesmo seu pai não gostando, ela conseguiu continuar seus estudos e produções, por aceitar se apresentar para a corte real na festa de debutantes da alta sociedade. >

Foto/Reprodução: thenation.com
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Foi nesse contexto de aristocracia britânica que ela conheceu o pintor alemão Max Ernst em 1937, durante um evento da alta sociedade. A diferença de idade de 26 anos entre eles e o relacionamento escandaloso causaram furor na sociedade da época.

Para fugir das perseguições e evitar novos escândalos, a esposa de Ernst ajudou os amantes a fugirem para o interior da França, onde tiveram um período tranquilo de produção artística. Mas, a eclosão da Segunda Guerra Mundial interrompeu esse momento de paz e criatividade.

O casal então se refugiou em Saint-Martin d'Ardèch, território que foi invadido pelos alemães. A ascendência germânica de Ernst acabou levando-o à prisão, deixando Leonora sozinha e deprimida.

Em sua fuga de Paris, ela testemunhou os horrores da guerra, o que abalou ainda mais sua saúde mental. Leonora ficou em estado paranoico, acreditava que os holandeses estavam escravizando pessoas em Madri e que tinha encontrado uma maneira de acabar com o nazismo.

Desesperada, ela tentou fugir novamente, mas acabou sendo presa na fronteira franco-espanhola. Seu pai foi contatado pelas autoridades e, mais uma vez, acionou a ajuda de um contato holandês para interná-la em um hospital psiquiátrico no norte da Espanha.

No hospital, Leonora viveu um verdadeiro pesadelo. Ela foi torturada, dopada e abusada pelos responsáveis por seu tratamento. Ela ficava dias amarrada à cama, sedada e sobre seus próprios excre-

mentos, sem poder se limpar. Os supostos tratamentos e medicamentos apenas pioravam sua neurose.

O médico responsável, Dr. Morales, a tornou extremamente dependente, a ponto dela acreditar que seu corpo e sua mente pertenciam a ele. Sua saúde se deteriorou a ponto de ela parar de menstruar.

Com o tempo, a artista começou a ter mais liberdade no hospital e seus pais solicitaram sua transferência para um hospital psiquiátrico na África do Sul. Ela viajou até Madrid, onde pediu asilo à embaixada mexicana para escapar do controle de sua família. Para se livrar definitivamente da guarda de seu pai, ela se casou com Renato Leduc e mudou-se para Nova York. No entanto, ela permaneceu lá por apenas um ano antes de se estabelecer no México, onde continuou a produzir suas obras e se tornou uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres do país nos anos 1970.

Leonora Carrington, uma artista rebelde e disruptiva, deixou um legado duradouro no mundo da arte surrealista. Sua coragem e determinação a levaram a enfrentar desafios e superar adversidades em sua vida tumultuada.

Suas obras refletem não apenas sua infância mística, mas também suas experiências intensas e traumáticas. Até sua morte em 2011, ela continuou a produzir e viver sua vida com paixão e autenticidade. Seu nome ficará marcado na história da arte como uma das grandes pintoras do surrealismo. |

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Imagem/Reprodução: dasartes.com.br SURREAL
A Refeição do Senhor Castiçal por Leonora Carrington, 1932 | Óleo sobre tela, 46 x 61 cm | Coleção Privada.
Imagem/Reprodução: dasartes.com.br
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Retrato de Max Ernst por Leonora Carrington, 1939 | Óleo sobre tela, 50 x 27 cm | Coleção Peggy Guggenheim.

Imagem/Reprodução: dasartes.com.br

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Chá Verde por Leonora Carrington, 1942 | Óleo sobre tela, 61 x 76 cm | Coleção Privada.
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Imagem/Reprodução: dasartes.com SURREAL
Mundo Mágico dos Maias por Leonora Carrington 1964 | Mural (Tempe sobre painéis de madeira côncavos), 2,0 x 4,3 m | Museu Nacional de Antropologia (MNA), México.

“Não reduzindo a criatividade a servidão.”

*Tradução do Manifesto Surrealista de André Breton publicado em 1924.

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“A maior experiência do Surrealismo é a descoberta da alteridade, é verdade. O Surrealismo valorizou e atraiu a atenção para tudo o que o ‘chamado à ordem’, católico ou burguês, havia reprimido – o erótico, o bizarro, a substância inconsciente da atividade mental, a magia e o mito, numa aproximação direta com a psicanálise freudiana. O tema da sexualidade, tema central de suas preocupações, chega a ser bastante abrangente em suas implicações políticas. E não se tratava apenas de questionar a ‘realidade’, mas também de questionar a forma pela qual ela era normalmente representada.”, explica Maria Bernardete

Ramos Flores no Artigo: Androgyny and Surrealism Regarding Frida and Ismael-old Myths – Eternal Feminine, publicado em 2014 na Revista Estudos Feministas. |

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SOBRE ESTA REVISTA

2020 que começei a minha luta contra o apagamento feminino na História das Artes

Em 2020, ao realizar uma pesquisa sobre o papel das mulheres nas Artes, me deparei com uma dificuldade muito grande para encontrar informações e fontes bibliográficas, verifiquei que praticamente inexiste material sobre artistas do gênero feminino, já para artistas do gênero masculino existe muito material e na maioria das vezes de fácil acesso.

Fato que, intencionalmente ou não, promove a desigualdade de gênero, uma vez ao destacar a participação masculina e ocultar ou dificultar o acesso às informações sobre a participação e influência das mulheres na construção da nossa cultura promove-se o conceito de que os homens são superiores às mulheres, que seres humanos do gênero feminino são menos capazes que os do gênero masculino.

Tal conceito opõe-se à Agenda 2030, da ONU, que busca promover ações para o desenvolvimento sustentável, o quinto objetivo proposto pela agenda destaca a

importância da igualdade de gêneros para construção de um mundo melhor.

Ao longo da história, as mulheres tiveram muitas vezes suas vozes suprimidas em prol dos “valores” e “ordem social” vigentes, que em muitos casos foram suspensos por influência e necessidades das guerras que assolaram a Europa e o mundo no século XX.

No Surrealismo não foi diferente, apesar do movimento questionar os padrões da sociedade, ainda assim se esperava das mulheres o comportamento delicado, submisso e não atuante, mas elas foram de encontro ao movimento e a história não pode negar suas atuações e contribuições.

Esta revista é parte da pesquisa de iniciação científica que fiz entre os anos de 2022 e 2023 no Unisagrado, centro universitário de Bauru o qual fiz a gradução em Design. |

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Esta revista é parte do Trabalho de Iniciação Científica apresentado em 2023 ao Unisagrado – Centro Universitário Sagrado Coração, sob o título:

SURREAL: UMA REVISÃO SOBRE

O PAPEL FEMININONA ARTE SURREALISTA DO MÉXICO NO SÉCULO XX.

Trabalho desenvolvido pela estudante: LAURA MALINI DA ROSA

Graduanda do Curso de Design

Orientado pelo Prof. Dr. João Marcelo Ribeiro Soares

BAURU-SP

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SURREAL: UMA REVISTA SOBRE MULHERES NAS ARTES SURREALISTAS NO MÉXICO by Laura Malini - Issuu