Apostila História - A primavera dos povos

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1 A PRIMAVERA DOS POVOS 1. O ano de 1848 foi marcado por explosões revolucionárias na Europa, que se tornaram conhecidas como Primavera dos Povos. Nas principais cidades da França, do Império AustroHúngaro, dos Estados alemães e de outras regiões, a população ergueu barricadas, enfrentou as tropas repressoras e chegou a derrotá-las. Aliados aos liberais, os nacionalistas também demonstravam sua insatisfação, propondo mudanças na natureza do Estado. 2. A urbanização advinda da Revolução industrial teve um efeito surpreendente sobre essas rebeliões. Novas e amplas avenidas proporcionavam um espaço ideal para o que se tornou um aspecto cada vez mais importante dos movimentos populares: as manifestações de massa. As aglomerações se transformaram em marchas populares que se estendiam pelas avenidas radiais e circulares. 3. A crise econômica que assolava a Europa, acentuada por pragas e pela seca, prejudicou os camponeses, levando-os às ruas em apoio às novas ideologias baseadas nas idéias socialistas. 4. Um marco decisivo para a divulgação dessas idéias foi a publicação em 1848 – ano das barricadas, das rebeliões democráticas, liberais e nacionalista – do Manifesto Comunista, redigido por Karl Marx e Friedrich Engels e logo traduzido para vários idiomas. O Manifesto insistia que a finalidade imediata dos comunistas consistia em pôr fim à dominação burguesa, mesmo em sua versão “civilizada”, liberal, e levar o proletariado à conquista do poder político. Os operários que lutavam nas barricadas passavam a contar com novos fundamentos para sua intervenção. 5. A verdade é que as diferentes manifestações revolucionárias da Primavera dos Povos tiveram muitos pontos em comum: o estilo e os sentimentos românticos, as barricadas, as bandeiras coloridas, o ideal de liberdade – e uma grande dose de otimismo e mesmo e ingenuidade. 6. A realidade se encarregaria de desfazer essas ilusões otimistas. O gosto pela vitória não adoçou a boca do militantes por mais do que alguns meses, com exceção da França. O aspecto que talvez possa explicar as sucessivas derrotas dos insurretos é a estreita ligação dos trabalhadores miseráveis com os movimentos revolucionários, como afirmou o historiador Eric Hobsbawm. Inquestionavelmente, foram os trabalhadores pobres que lutaram nas barricadas, foram a fome e a miséria que alimentaram o espírito de pauperização das sociedades, transformando os movimentos de rua em revoluções. 7. O papel dos trabalhadores não teve a mesmo importância em todos os movimentos de 1848. Na Alemanha, por exemplo, acredita-se que os camponeses foram comprados pelos governos conservadores. 8. Foram notórias as diferenças de mentalidades e de desejos entre os participantes das mobilizações de 1848. Diante de eventuais confrontos diretos com os movimentos de extrema esquerda, a burguesia preferiu a manutenção da ordem, uma vez que ficaria assim garantido o direito à propriedade. Os moderados liberais e conservadores acabaram por se unir diante do “perigo vermelho”, representado pelos movimentos de tendências socialista. Os radicais democratas insistiam na solidariedade aos trabalhadores, embora ao mesmo tempo não escondessem sua simpatia pela propriedade privada e pelo capital.


2 9. Ainda que os trabalhadores urbanos não conseguissem, nesse período do século XIX, avançar no terreno da política, já aí encontramos o nascimento do movimento operário. O “potencial do proletariado” não pode ser subestimado, é nesse momento que o embrião da consciência, enquanto classe social, surge no mundo do trabalho, mesmo que de modo imaturo e juvenil. As associações dos trabalhadores foram pioneiras na organização sindical, lançando as bases do que seriam, ao longo do século XX, as lutas trabalhistas. 10. As revoluções da Primavera dos Povos foram desencadeadas e vencidas em um espaço mínimo de tempo. Mas não se pode negar que em seu conjunto, tenham configurado um episódio histórico de grande importância. Se os objetivos alcançados estiveram longe dos pretendidos pelos revolucionários, eles foram no entanto profundos. O fim da política de tradição, das monarquias na Europa ocidental, que acreditavam na absorção da Teoria do Direito Divino pelos seus súditos, resultou dessas revoluções fracassadas. 11. Em outras palavras, todos os acontecimentos políticos da primeira metade do século XIX, até mesmo as revoluções derrotadas, influenciaram a consolidação da sociedade burguesa. Na medida em que se conservou o essencial das concepções burguesas tais como as liberdades civis, a supressão dos privilégios e da servidão, a igualdade civil de todos diante da lei, da justiça, dos impostos e do acesso aos cargos públicos e administrativos, a Europa presenciou a passagem de uma sociedade aristocrática para um novo modelo social. 12. A ordem burguesa assistiria a mobilizações de novo tipo, em torno de estandartes ideológicos recentes. De um lado, os trabalhadores industriais e o ideário socialista. Do outro, as camadas médias e outros setores da “sociedade educada” de cada país, agrupadas em nome de seus respectivos projetos nacionais e violentamente hostis em relação aos “subversivos” e também à “ameaça estrangeira”. A luta de classes conduziria a revoluções vitoriosas ou reprimidas; o choque de nacionalismos, as duas guerras mundiais.


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