Dossie landa 2013 2

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revista landa

Vol. 2 N° 1 (2013)

nem do que Eric Auerbach, ao tratar de Balzac, nomeia “realismo de atmosferaâ€?, prĂłprio do romantismo de inĂ­cio do sĂŠculo XIX.8 Em estudo pioneiro sobre a Revue des Deux Mondes e o Brasil, Luiz Dantas percebe essa articulação de ciĂŞncia e pensamento romântico nos textos ali publicados sobre o paĂ­s. Comentando uma passagem de Francis de Castelnau, Dantas assinala que hĂĄ na revista, por um lado, a “[...] vitalidade das velhas imagens caras aos românticos, e associadas Ă fascinação americana, e, por outro lado, as necessidades mais prĂĄticas (DANTAS, 1991, p. 141)â€?. Entretanto, para ele, [...] nĂŁo se deve superestimar o aspecto literĂĄrio ou exĂłtico das preocupaçþes desses viajantes. As descriçþes das paisagens tropicais, sua desolação ou sua imensidĂŁo, sĂŁo na verdade, passagens obrigatĂłrias em todas aquelas relaçþes. PorĂŠm os viajantes estĂŁo engajados numa investigação mais ‘sĂŠria’: trata-se de cientistas no exercĂ­cio de VXDV PLVV}HV FLHQWtÂżFDV RX REVHUYDGRUHV TXH SHUFRUUHP R SDtV D ÂżP GH UHXQLU R PDLRU Q~PHUR GH LQIRUPDo}HV necessĂĄrias Ă sua compreensĂŁo e anĂĄlise (DANTAS, 1991, p. 141-142).

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De sua parte, Mary Louise Pratt, em Imperial Eyes, ao analisar

jĂĄ assinalado a heterogeneidade de uma literatura propositadamente nacionalista, Goethe assinala, em um segundo fragmento de 1828, parte de uma resenha consagrada ao German Romance, que “[...] ĂŠ perceptĂ­vel que os esforços estĂŠticos dos melhores poetas e escritores de todas as naçþes estĂŁo voltados, depois de uma certa ĂŠpoca, em direção ao que ĂŠ universalmente humano. (P FDGD IHQ{PHQR SDUWLFXODU VHMD HOH KLVWyULFR PLWROyJLFR RX IDEXORVR VHMD HOH XPD ÂżFomR mais ou menos arbitrĂĄria, veremos cada vez mais a universalidade brilhar e transparecer atravĂŠs do carĂĄter nacional e individualâ€? (GOETHE, 1996, p. 299). O autor argumenta ainda, no mesmo fragmento, do “mercado das ideiasâ€?, em diĂĄlogo com os editores da revista: “Uma tolerância generalizada serĂĄ conseguida com mais certeza se nĂłs deixarmos em paz o que particulariza os diferentes indivĂ­duos humanos e os diferentes povos, convencendo-nos ao mesmo tempo que o traço de diferença do que ĂŠ realmente meritĂłrio reside no que pertence a toda a humanidade. Faz tempo os alemĂŁes contribuem a uma tal mediação e reconhecimento recĂ­proco. Aquele que compreende e estuda a lĂ­ngua alemĂŁ se instala em um mercado onde todas as naçþes oferecem suas mercadorias, ele faz função de intĂŠrprete, enriquecendo ele tambĂŠmâ€? (GOETHE, p. 299-300). 8

“O realismo de atmosfera, que ĂŠ o de Balzac, ĂŠ um produto da sua ĂŠpoca, ele ĂŠ um

elemento e um produto de uma atmosfera. A mesma forma de espĂ­rito – a saber, o romantismo – que tinha começado a experimentar tĂŁo vivamente e sensualmente a unidade estilĂ­stica das ĂŠpocas anteriores, a sua unidade de atmosfera, que descobriu a Idade MĂŠdia, o Renascimento e tambĂŠm a particularidade histĂłrica de certas civilizaçþes estrangeiras (Espanha, Oriente), esta mesma forma de espĂ­rito desenvolveu tambĂŠm a compreensĂŁo orgânica da atmosfera prĂłpria ao sĂŠculo, nas numerosas manifestaçþes em que ela se revelava. O historicismo de atmosfera e o realismo de atmosfera estĂŁo estreitamente ligados; Michelet e Balzac sĂŁo levados pelas mesmas correntesâ€? (AUERBACH, 2007, p. 469).


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