IAN 05

Page 32

Adaga Negra 05

Por um longo tempo tinha desejado que chegasse a transição, tinha estado secretamente impaciente, embora não para o benefício das Escolhidas. queria se sentir plenamente realizada como ela mesma. Queria sentir que sua respiração e os batimentos de seu coração tinham um significado que pertencia a ela como indivíduo dentro do universo, não como o raio de parte de uma roda. A mudança a tinha sacudido como uma chave para essa liberdade privada. A mudança lhe tinha sido outorgado recentemente, quando tinha sido convidada a beber da taça do Templo. No princípio havia se sentido triunfante, assumindo que seu desejo clandestino tinha passado desapercebido e que ainda assim, tinha sido realizado. Mas logo tinha chegado o castigo. Olhando seu corpo, culpava a seus peitos e seus quadris pelo que estava a ponto de passar. Culpava-se a si mesma por desejar ser alguém específico. Devia haver ficado como estava… A magra cortina de seda que havia na porta deslizou para um lado, para dar passo à Escolhida Amalya, uma das atendentes pessoais da Virgem Escriba. —Assim parece. —disse Cormia, apertando os dedos até que lhe doeram os nódulos. Amalya sorriu bondosamente. —Está-o. —Quanto falta? —Virá quando concluir o retiro de Sua Santidade. O desespero fez que Cormia perguntasse o inconcebível. —Não pode ser outra das nossas a que seja convocada? Há outras que o desejam. —Você foi a escolhida. —Enquanto as lágrimas alagavam os olhos de Cormia, Amalya se adiantou, seus pés descalços não faziam nenhum ruído— Será gentil com seu corpo. Ele… —Não fará tal coisa. É o filho do guerreiro Bloodletter. Amalya estremeceu. —O que? —Acaso a Virgem Escriba não lhe disse isso? —Sua Santidade só disse que estava tudo arrumado com um integrante da Irmandade, um guerreiro de valor. Cormia sacudiu a cabeça. —A mim me disse isso antes, a primeira vez que veio a mim. Pensei que todas sabiam. A preocupação da Amalya fez que franzisse o cenho. Sem dizer uma palavra, sentou-se sobre a cama e atraiu a Cormia para si —Não desejo isto. —sussurrou Cormia—Me perdoe, irmã. Mas não o desejo. A voz da Amalya carecia de convicção quando disse. —Tudo vai estar bem… de verdade. —O que está acontecendo aqui? —a afiada voz fez que se separassem de um salto tão efetivamente como um par de mãos. A Directrix estava parada no vão da porta, com um olhar de suspeita no rosto. Usava um livro de algum tipo em uma mão e um fio de veneradas pérolas negras na outra, era a perfeita representação do apropriado propósito e vocação das Escolhidas. Amalya se levantou rapidamente, mas não havia forma de negar o momento. Como Escolhida, devia te regozijar por sua condição em todo momento; qualquer outro estado de ânimo era considerado uma falta de hipocrisia pela qual tinha que cumprir uma penitência. E elas tinham sido descobertas. —Agora devo falar com a Escolhida Cormia —anunciou a Directrix—. A sós. —Sim, claro. —Amalya foi para a porta com a cabeça baixa—. Se me desculparem, irmãs. —Vai para o Templo de Expiação, não é assim? 32


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.