IAN 05

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Adaga Negra 05

Deixou sair um enorme suspiro de alívio ao ver que tinham uma furadeira cirúrgica. —E suponho que não terão um equipamento de lupa que se ajuste à cabeça? —O armário que está junto ao carro de paradas cardíacas —disse V— Na gaveta de abaixo. À esquerda. Quer que lave bem as minhas mãos? —Sim. —Foi e localizou o equipamento— Temos aparelho de raios X? —Não. —Merda. —Pôs as mãos nos quadris—. Não importa. Irei às cegas. Enquanto colocava a lupa na cabeça, V se levantou e foi lavar as mãos e os antebraços na pia que havia no canto mais afastado. Quando terminou tomou seu lugar, logo colocou as luvas. Retornou ao lado do Phury, olhando seu olho bom. —Provavelmente, isto doerá mesmo com a anestesia local e um pouco de morfina. Provavelmente desmaie, e espero que isso aconteça o mais breve possível. Foi procurar uma seringa e sentiu a familiar sensação de poder envolvê-la enquanto se preparava para arrumar o que precisava ser reparado… —Espera —disse ele— Nada de drogas. —O que? —Só faze-o. —Havia uma repugnante antecipação em seu olho, uma que não era correta em muitos níveis. Desejava que o machucassem. Entrecerrou os olhos. E se perguntou se ele tinha permitido que lhe ocorresse isto. —Sinto muito. —Jane cravou o plugue de borracha da lidocaína com a agulha. Enquanto tirava o que precisava, disse— Não há uma maldita forma de que proceda sem o anestesiar. Se realmente estiver contra isso, procure outro cirurgião. Deixou a pequena garrafa de vidro sobre uma bandeja de aço com rodas e se inclinou sobre seu rosto, com a seringa apontando ao ar. —Assim, o que decide? A mim e este liquido anestésico ou… sim, ninguém? O olhar amarelo flamejou com fúria, como se o estivesse prendendo em armadilhas. Mas então o homem que parecia um rei tomou a palavra. —Phury, não seja idiota. Estamos falando de sua vista. Se cale e deixa-a fazer seu trabalho. O olho amarelo se fechou. —Está bem —murmurou ele. Foi duas horas depois que Vishous decidiu que tinha problemas. Grandes problemas. Enquanto olhava as fileiras de pulcros e pequenos pontos negros no rosto de Phury, sentiu-se afligito até o ponto de ficar mudo. Sim. Tinha mega problemas. Jane Whitcomb, doutora em medicina, era uma perfeita cirurgiã. Uma absoluta artista. Suas mãos eram instrumentos elegantes, seus olhos agudos como o escalpelo que usava, sua concentração tão feroz e concentrada como a de um guerreiro em plena batalha. Em ocasiões trabalhava a uma velocidade avassaladora, e em outras baixava o ritmo até que parecia que não estar se movendo. O osso orbital do Phury se quebrou em vários lugares, e Jane os tinha unido passo a passo, removendo lascas que eram brancas como ostras, brocando o crânio e passando arame entre os fragmentos, pondo um pequeno parafuso em sua maçã do rosto. V podia dar-se conta de que não estava completamente feliz com o resultado pelo duro olhar que tinha no rosto quando fechou a ferida. E quando lhe perguntou qual era o problema, disse-lhe que teria preferido pôr uma placa na maçã do rosto de Phury, mas como não tinham esse tipo de equipamento à mão, só restava esperar que o osso se soldasse rapidamente.

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