mergulhão, por murilo caliari

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mergulhĂŁo



mergulhĂŁo (por murilo caliari)


"I'm the dog that ate Your birthday cake" mark linkous

para meu amigo camillo josĂŠ


não vale a pena fugir você tem menos que três reais de crédito e precisa de muitos minutos pra explicar tim tim por tim tim aquela velha história que inventaram a seu respeito nessa sua vida corrida falta tempo pra socorrer aquele velho hábito de lamber os lábios antes de beijar as mãos dos seus amigos delinquentes é preciso disciplinar o despertador que ora acorda e ora cai em sono profundo, pois já está tarde pra preencher com minerais suas patas de alumínio não vale a pena fugir você tem 3 segundos e 2 primeiros lugares preferidos para se esconder de seu amor que o espreita em segredo pelas redes sociais *


Pelos direitos dos animais de pelúcia O atacante no time dos descamisados Com um físico nada invejável Responde com carinho todas as chamadas de voz perdidas na caixa de mensagem Aposta corrida com síndicos antipáticos Atropela freiras, borboletas e afins Sem vacilar Exibindo o umbigo angelical Enfeitando com piercings Os rastros de suas raízes A arquitetura das florestas não planejadas Árvores maiores que árvores O ar escorregadio dos pântanos Crocodilos vestidos de crocodilos encarando o vazio da natureza Meditando em slow motion Máquinas caça-níqueis viciadas em perder Nuvens baixas como as marés Fotos 3x4 hospedadas em caixas de fósforos Um amontoado de moedas de muitos centavos Um punhado de chaves Um isqueiro novinho em folha Jovens esperando ser dispensados do tiro de guerra por uma simples escoliose O mistério das fábricas de lantejoulas Um embrulho no estômago a ser rasgado Contra o avanço da marcha ré Dias e dias, com um pouco mais de calma Chegamos lá *


Desperto ele percebe o crescimento das unhas e dos cabelos Rodeados de abelhas Com seus cachos irritados monta o pônei dourado e atravessa o Atlântico sul anda por pastos e pastos, rios e rios e se lembra de coisas mais velhas que seus vícios Monges frequentavam as montanhas e os vales dos jabotis enterrados Onde não se pode dizer algumas palavras nem soletrar euforia Onde o apito celestial percorre o fundo de todos os galhos e pedras Onde um curral de pedras suporta muitos quilos de puro músculo e muitos chifres contorcidos furam o céu O que estas estátuas já viram contam só para o vento Incansável Meu espírito, conduzido por um carro-forte Pelas paisagens devoradas por espinhos Só encontra sossego quando estacionado no abismo *



o transplante do céu leopardo

não sei se amanheceu assim ou se já era assim mas tanto tempo sacrificado deve significar alguma coisa cadeiras segurando vagas para carros nos estacionamentos, naquela curva onde distendi meu ombro esquerdo VESTIDOS à PROVA D'água enceradeiras funcionando embaixo da mesa do café. A arte de calcular as cenas sem pestanejar. Madeireira São Bernardo onde troco notas de cem por notas menores Onde mora minha estrela cadente enferrujada onde os fantasmas de vidro perambulam devorando cola bastão Kalopsitas formulam frases de efeito e não se calam até que o tempo do mundo acabe será que em algum momento elas disseram para você voltar pra casa? Pôsteres de filmes nos quartos elefante bodas de ouro na estante e prancha de cabelos além das unhas não se esqueça das unhas e dos esmaltes fluorescentes e alguns brilhos que brilham no escuro ou na luz negra soft qualquer coisa que não seja obstáculo tropeço lamentável o barulho talvez seja só o vento te fazendo companhia o barulho talvez seja só o vento te fazendo companhia *


MOTOR EM COMBUSTÃO

quando os paralelepípedos são retirados e o asfalto quebrado restam-me apenas órgãos triturados por todo impacto enxame de abelhas saltando das minhas bochechas o atrito da trincheira contra o lençol do operário perdura durante toda a gestação e a perda de alguns sentidos imprescindíveis para viver bem deslocado como uma pedra fora do seu conjunto ou um algodão doce em cima de uma árvore *


Use o extintor na posição vertical e puxe a trava rompendo o lacre Segure firme na mangueira e aperte o gatilho da válvula Dirija o jato de água à base do fogo São assim os conselhos dos meus pais Legais eu gosto Esses dias fui notar e Novembro não é o mês nove Daí eu penso Ainda temos muito tempo aqui Eu não desperdiçaria se Os trompetistas não estivessem no décimo segundo sono a uma hora dessas Tem pessoas na rua, nos bosques Poucas mas tem Não há nenhuma tempestade Nenhuma necessidade de checar a janela, fechar as portas Os executivos na manicure Eles sabem Investem num look arrasador E seguem deslizando no conforto de um sedan Um mergulho na lama E vc vê que não é bem assim Passa randap, verrux Passa mertiolate nas feridas de raspão Li numas placas


Mas nada que me fizesse ir atrรกs Me disseram pra eu voltar Antes que as formigas levassem meu lanche embora Ok

*


Aqui Prontinho Pode levar Em cima das asas da mariposa pego a encomenda Pago a quantia ,caminho lado oposto Não é sempre que você tem em mãos um filhote de tartaruga Agora você pode abraça-lo e vesti-lo com fantasias para enfrentar dias difíceis E você pode guardá-lo junto de você Chamá-lo de nome de gente famosa como Pinóquio Já faz tanto tempo Pinóquio Que eu desaprendi alguns dos conceitos mais básicos da física isso não é o livro de quando eu colocava um dente embaixo do travesseiro e acordava em cima de uma bicicleta Sr. Mostarda Já faz tanto tempo Que os seus bigodes caíram Tanto tempo Que mal me recordo De quando eu não recebia suas cartas extraviadas por pombos-correios apedrejados Bailarinas saltam das caixas de música tocando em loop Eu asseguro É real que Todos esses apetrechos sagrados suas Sandálias de gladiador esses instrumentos cirúrgicos Nunca foram o bastante para você mas não vai ser agora que vou falar disso *


ataca o tambor com tamanha fúria de gorila menosprezado atinge o grau mais glamoroso da loucura subverte a carne, atiça o fogo interno e sopra fumaça rosa encara o olhar do felino e nem chega no final abrigaria mil amores no canto da boca se não fosse seu amor pela pesca esportiva incentiva as atrocidades cometidas contra toda terra natal passa por neblinas e enquanto passa pelas neblinas pensa sair outro sinos me tocam bastante, absorventes, cílios postiços e tudo o mais




la bodeguita edições – outubro de 2017 “é deus no céu e nois no grau”


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