Revista Kzuka Dezembro 2013

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JOVEM POR MAIS TEMPO Em algum momento as gerações se encontram. A diferença de idade de uma criança de oito anos para um adolescente de 13 ainda é grande, mas os mesmos cinco anos que separam um jovem de 23 para um adulto de 28 anos já não parecem uma fronteira intransponível. – Ao passar de certa idade, todo mundo é meio parecido. Talvez agora a gente fique jovem durante mais tempo. O mundo perdoa um pouco mais a inconsequência, que antes era aos 20, depois aos 25, e hoje é aos 35 anos – opina Ilton Teitelbaum. Segundo a pesquisa encabeçada por ele, seis em cada 10 jovens ainda moram com os pais ou responsáveis. Sair de casa realmente não parece ser uma preocupação, assim como se sustentar sozinho: a maioria se considera totalmente dependente financeiramente. Vinda do interior, e morando sozinha – com o irmão mais novo –, Ana Carolina Lopes, 18 anos, estuda na PUC-RS e conta com a ajuda dos pais para bancar as despesas. – Sempre rola uma conversa antes de algum gasto extra, que esteja além do normal. E a maior parte do dinheiro acaba indo

em alimentação mesmo – garante ela, confirmando o resultado da pesquisa: produtos para encher a barriga ocupam a maior parte do orçamento mensal dos jovens. Assim como Ana Carolina, a maioria dos entrevistados trabalha e estuda ao mesmo tempo. E um dos principais objetivos é ser feliz no trabalho. A diferença com relação às outras gerações é que, agora, nada é para sempre. – Ninguém quer mais fazer carreira em um lugar apenas e, por isso, troca de emprego sem grandes medos, na busca por algo que goste mais – explica Teitelbaum. Mas, é claro, a grana também tem seu valor. Um terço deles quer ganhar entre R$ 8 mil e R$ 15 mil na vida adulta. E pelo menos um a cada quatro quer mais de R$ 20 mil na conta bancária todo mês. E tudo isso em no máximo 10 anos. O valor, segundo os próprios jovens, é o bastante para garantir o conforto. BUSCANDO INDICAÇÃO Todos sabem – e a pesquisa confirma – que a internet é a grande fonte de informação da gurizada. Afinal, mais de 95% dos entrevistados se conectam diariamente.

E é através dela que 92% deles ficam sabendo novidades, como o lançamento de um novo produto. Mas, antes de comprar, os jovens buscam saber um pouco mais sobre ele, com indicações de conhecidos que já tenham usado o produto ou serviço. – Essa é mesmo a grande referência hoje: o compartilhamento. Alguém que eu conheço pode dar as informações que eu preciso sobre determinado produto ou lugar – explica Teitelbaum. E a prática significa mais do que economizar dinheiro. A ideia é economizar tempo. Isso porque, para a maioria dos jovens, existe a noção do tempo comprimido, em que tudo tem que ser rápido e aproveitado ao máximo. O novo jovem tem pressa e pouca paciência, principalmente se desconectado. – Não existe espaço para ficar parado. Quaisquer cinco minutos são usados para compartilhar, para jogar, para atualizar o status na rede. E, até por isso, há um aumento visível no uso de dispositivos móveis. A maioria dos jovens entrevistados ainda acessa a internet pelo computador de casa ou notebook, mas já são 30% os que utilizam, também, tablets e smartphones.

Mesmo que não entenda a referência à música dos Titãs (aquela banda que fazia sucesso antes de você nascer), a pesquisa mostra um lado surpreendente dos jovens: quase 40% responderam que formar uma família está entre os sonhos futuros. Desejo que só perde para a vontade de viajar e conhecer o mundo e de ser feliz no trabalho. – O grande desafio, hoje, talvez seja entender o que é a família para esse grupo de pessoas. Segundo algumas pesquisas que temos feito, existem 18 ou 19 tipos de famílias catalogadas pelo IBGE – diz o professor. Teitelbaum, que orienta projetos especiais de pesquisa no curso de Publicidade e Propaganda da PUC-RS, tem dois trabalhos sobre o assunto “família” sendo finalizados neste semestre. Eles podem ser o embrião de algo maior, que ajude a explicar e compreender esse desejo dos jovens por algo que, na teoria, está relacionado a uma relação duradoura e estável – características opostas ao que a mesma pesquisa mostra. Talvez seja mesmo este o estilo do jovem, independente da geração. Uma metamorfose ambulante como cantava Raul Seixas. Ou, para deixar mais próximo da galera, uma walking contradiction, como canta Billie Joe com o Green Day.

Fonte: Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência da Famecos - PUC-RS

KZUKA | dezembro 2013

PAPAI, MAMÃE, TITIA


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