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Fazendo o Brasil
LUPO
Os italianos que cruzaram o Atlântico e vieram para terras brasileiras em busca de melhores condições de vida acabaram mudando a economia de nosso país Por Karina Sérgio Gomes
vinda deles para o país. Os imigrantes se tornariam não só a primeira mão de obra qualificada do pais, como também ajudariam a construir um mercado consumidor. A maioria veio para as regiões sudeste e sul. Sobretudo, para São Paulo. O estado teve seu número de habitantes duplicado devido à leva, em especial, de imigrantes italianos: de 1870 a 1930, 1,5 milhão vieram para o Brasil, sendo que 70% se estabeleceram em terras paulistas. Muitos foram trabalhar na lavoura de café. Outros, com mais tino comercial,
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urante o século XIX, São Paulo era a Maria Fumaça que puxava a economia com o plantio e a venda de café. Com o fim do tráfico negreiro, em 1850, o Brasil abre as portas para imigrantes estrangeiros virem trabalhar em suas lavouras. Nessa mesma época, a Itália se encontrava com uma alta taxa demográfica e de desemprego. Os italianos, sentindo-se atraídos pelas oportunidades em terras brasileiras, vieram “fazer a América”, como diziam, esperando prosperar. A mão de obra qualificada dos europeus agradava aos fazendeiros, que financiavam a
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Henrique Lupo, na relojoaria que teve até 1921, antes de fundar a Lupo
Linha de produção da Lupo nos anos 30. O carro-chefe da empresa ainda eram as meias masculinas
partiram para a capital para abrir seus comércios. Um desses foi Francesco Matarazzo. Terra Nostra - “Fernando Grandino, um grande amigo da família que tinha conseguido prosperar aqui [vendendo calçados em Sorocaba], escreveu ao Francesco dizendo que o Brasil era um país de boas oportunidades. E, pelo que conhecia do patrício, seria um ótimo país para ele vir tentar a vida”, conta Andrea Matarazzo, secretário da Cultura do Estado de São Paulo, e sobrinho-neto de Francesco. Depois da morte do pai, Leo de Costabile Matarazzo, assim fez o italiano. Embarcou no primeiro navio que saía de Castellabate, no sudoeste da Itália, em 1881, vindo para o Brasil com a bagagem lotada de secos e molhados, que já comercializava na comuna italiana e pretendia vender por aqui. O que ele não esperava era perder toda essa mercadoria na hora do desembarque. “Quando foram fazer o transbordo na Baía de Guanabara, a barca acabou afundando e ele perdeu tudo”, diz Andrea. Mesmo assim, ele não desistiu e foi para Sorocaba pedir ajuda ao amigo Fernando Grandino, que o hospedou até que conseguisse se restabelecer. A primeira ideia foi comercializar a banha do porco, usada para fazer sabão. Em seguida, vislumbraram uma maior oportunidade: por que não comercializarem eles mesmos o sabão? E aos poucos, Francesco construiu o seu império. No início do século XX, as Indústrias Reunidas Fábrica Matarazzo
formavam o maior complexo industrial da América Latina. São Paulo, assim como Brasil em geral, era muito incipiente em indústria e mão de obra qualificada. “A maioria dos italianos vieram do norte da Itália, que já era uma região bem industrializada. Eles já tinham um know how de como montar uma indústria e o que fazer, o que o brasileiro não tinha”, explica o professor de economia da Universidade de Brasília, Flávio Versani. Em 1907, quando foi realizado o primeiro censo industrial do Brasil, havia pouco mais de 3.000 empresas no país. O segundo censo, em 1920, indicou 13 mil empresas, boa parte das quais de imigrantes. “Os estrangeiros, especialmente os italianos, trouxeram para cá um espírito
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Foi só em 1926 que a primeira fábrica da Lupo foi inaugurada. Em seus cinco primeiros anos, a produção era feita na casa de Henrique. O tingimento dos tecidos era feito no banheiro
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