O Choque de culturas

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1. A perspetiva do cão

estes seres brilhantes, morais e que segundo esse modelo “quebram as regras voluntariamente”. O meu argumento é que os cães não são ratos de laboratório se aplicarmos os princípios que aprendemos na ciência do comportamento. Eu fico de facto impressionada, com a incrível ironia que existe nos biliões de ratos e cães que viveram vidas miseráveis em laboratórios e foram sujeitos às experiências mais hediondas para podermos chegar aos princípios de como os animais aprendem. Uma das aplicações mais óbvias do conhecimento adquirido nessas experiências seria no treino de cães, não? É quase uma perda dupla quando a sua espécie é usada em experiências e depois o público em geral ignora os resultados e continua a puni-los porque “são tão espertos!”. De todas as janelas de oportunidades que temos para comunicar com os cães, o condicionamento operante é a janela que se abre mais. Devíamos começar a usá-la.

n A falácia do “faz para agradar” A visão antropomórfica do comportamento canino, não está limitada aos exageros que tecemos acerca da sua inteligência. Também interpretamos erradamente o que eles pensam de nós. Quando será que vamos abandonar a ideia de que os cães “nos querem agradar?”. Que ideia vazia e perigosa. Ainda estou para conhecer este cão que quer agradar o dono. De facto, onde está esse cão que está somente interessado em como o seu dono se sente, exceto se a manifestação de como a pessoa se sente tiver consequências diretas para o cão? Na realidade, vamos todos começar por encontrar um cão que consiga formar representações acerca do estado interno de outro ser vivo. Apesar dos carinhos funcionarem como reforço para alguns indivíduos, na total ausência de qualquer tipo de motivação competitiva, este efeito é limitado, e coloca dúvidas sérias na versão “vontade de agradar”. – 21 –


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