15ª Edição da Revista Gente

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exposição A ida de Antonio Bandeira para Paris lhe rendeu mais do que títulos formais. Suas obras ganharam admiração no mundo inteiro e podem ser vistas na exposição do Espaço Cultural Unifor

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uem foi Antonio Bandeira? Os mais apressados dirão tratar-se de um renomado artista cearense. Os mais precisos far o men o ao abstracionismo ao rafismo e densidade de suas obras. Ele é tudo isso e mais um pouco que nem os historiadores da arte conseguiram decifrar. O homem Antonio Bandeira segue um mistério cujas pistas estão em seus trabalhos e nos relatos de amigos e contemporâneos guardados nos arquivos empoeirados da imprensa. Um desses guardiões de lembranças é o artista plástico cearense Zé Tarcísio. Ele acolhe na memória, no coração e em seu ateliê alguns desenhos de Antonio Bandeira, além de muitas histórias. Zé, aos 76 anos, relembra com nitidez a conviv ncia com o brasileiro de aint ermain como fico conhecido o amigo na imprensa especializada nacional durante sua primeira estadia na França, onde viveu de 1946 a 1950. “O lado humano dele era alegria e generosidade. Muito comunicativo, tinha sempre um sorriso aberto, mas não fazia o tipo cearense”, rememora Zé Tarcísio que teve em Bandeira o primeiro mentor artístico. O homem de fala rouca deu-lhe um consel o e o artista tem como filosofia de vida at o e ale pouco, escute mais e observe”. Mesmo praticando a escuta e a observação, Antonio Bandeira causou certo frisson na mídia e no circuito artístico por onde passou. Isso se deveu, talvez, ao fato de ele “ser um homem que vivia bem”, como recorda Zé Tarcísio. O lado bon vivant entrava em cena, principalmente, nos “famosos sábados” - conta Zé Tar-

setembro — 2017

císio - realizados na cobertura da rua Bolívar, no Rio de Janeiro. O imóvel foi adquirido pelo abstracionista com a venda de obras para o acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Assim, ele pode abrigar sua legião de amigos em tardes e noites de conversas, festejos e criação. “Ele me deu uma chance de participar desses encontros e lá conheci o mundo cultural do Rio”, explica o artista plástico. Por essas e outras, Bandeira despertou a atenção na cena artística da cidade do Cristo Redentor. “Ele cria uma persona e isso ajuda, mas também atrapalha. Ele criou um mito sobre si mesmo. Em Paris, falava-se mais dele do que de suas obras. No Rio de Janeiro, ele virou celebridade. Ninguém sabia o que ele fazia, mas falavam muito dele. Por isso essa persona se sobrepõe, às vezes, à qualidade do trabalho dele”, observa Giancarlo Hannud, um dos curadores da Exposição Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida, montada no Espaço Cultural Unifor, na Universidade de Fortaleza. A fama dele se acentuou no retorno da Europa, em 1959. Já instalado na Cidade Maravilhosa, o pintor participou de mostras coletivas e de individuais em espaços de grande prestígio da cidade fi rando constantemente nos ornais da poca m Fortaleza, não foi diferente. Quando voltou em 1961, expôs no MAUC, reunindo a elite da cidade e muitos curiosos que queriam ver o trabalho do notório conterrâneo, mesmo sem entendê-lo. Hannud é responsável pela pesquisa para a composição do catálogo raisoneé parcial de Antonio Bandeira, que será lançado

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