
Numa fria tarde de inverno, um lobo magro e escanzelado deu por si em parte incerta da cidade e disse:
— Não sei onde estou, mas é importante explorar novos lugares e alargar os horizontes. Até pode ser que descubra uns bons petiscos.
Dois jovens esquilos contornaram a esquina, passando por ele com velozes saltinhos.

— Olha para aquele velho cão, coitado — disse um deles. — Já nem tem patas para andar.

E os esquilos desapareceram.
— Humpf! — rosnou o lobo. — Estão cheios de sorte de eu já não ter a agilidade de antigamente. Um esquilo dá um belo lanchinho.
Enrolou o cachecol esfarrapado à volta do pescoço e continuou a descer a rua.
— Com que então um velho cão! — rosnou entre dentes. A meio do quarteirão seguinte, o focinho do lobo começou a farejar descontroladamente. Um aroma delicioso pairava no ar.
— Ora, ora, quem diria! — exclamou. — Até parece que estou a cheirar… Ó meu Deus, será possível!... Sim, é isso mesmo!
Eu era capaz de reconhecer este cheiro em qualquer parte.
Lançou os olhos rua abaixo e rua acima, mas não havia porcos em lado nenhum.
— Não os estou a ver. Mas é certo e sabido que andam nas redondezas.
O toldo de um teatro do outro lado da rua chamou-lhe a atenção.
— Será que os meus olhos me enganam? — entusiasmou-se o lobo, de respiração suspensa. — Aquilo ali diz mesmo o que estou a pensar?
Atravessando a rua, levantou os olhos para o toldo, que dizia em grandes letras:

