MIGUELIN

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- Oh Noé, dêxa eu intrá na Arca, Noé! Oh Noé, dêxa, nóis vai morre tudo, Noé. Oh Noé... - E o Noé arrespondia: - Agoira, gente, num tem mais jeito não! O Anjo já fechô a Airca pelo laido de foira! - Miguelin, como é que o Noé ia escutar lá dentro, se estava tudo fechado? - Escuitava, dotô! Tinha um buraco lá incima dond’eile ia adespôis sortá uma pomba... Cum munta água pur toda banda, já tava cumbinado, qui só a pomba pudia i lá vê, adespôis, onde tava a terra firme. A Arca tinha tamém uma lêra de jinelinha nos laido lá incima, né? O Noé incostava beim na jinelinha óiva, ovia e arespondia gritano: o anjo fechô a poirta! ... - Então, Miguelin, o fato é que por onde a Arca ia passando o povo ia reclamando? - Eles ouviam a voz do Noé falando que agora já não tinha mais jeito. E o deluvio durou, durou, durou... A partir do quinto dia Noé começou a soltar a tal pomba... Ela voou, voou, voou... Não achou terra firme e voltou, pousou na Arca. - É, mais no seixto dia eile sortô foi um urubu. Merma coisa! Vuô, vuô, vuô e num achô onde posá. Vortô prá posá na Arca. - O Noé cuntinuô ansim: ora sortava a pomba, eila vortava, punh’eila prá discansá. Ora sortava o urubu, ora sortava ôtro bicho qui vuava. Hum!... Levô trinta dia prá pomba cunsigui vortá c’um gaíio dessa vassurinha no bico... Gaíim de nada, paricia um fiapim de cabeilo no bico... posô na Arca e dexô caí no chão! Noé intendeu tudim, a pompa quiria dizê qui as ponta das árvre já tava apariceno... ... - Cum os teimpo a chuva foi raleano, raleano, a água foi baxano, foi baxano... Cumpretô de quareinta e cinco dia prá vê o vincimeinto total do Dilúrvio. Foi condo a Arca deu um arrancão, balançô os bicho tudo e garrô num lurgá lá. Num sei se foi Noé ô argum bicho qui abriu a poirta, e a bicharada saiu e ispaiô pur’aí. Os qui tava acumpanhano o Noé, desceu cum eile e cumeçô a trabaiá. ... - 87 -


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