Mensagem dos Poetas "Mortos"

poemas psicografados por Chico Xavier e CD com poemas musicados por Zé Henrique Martiniano “O projeto apresenta impactos positivos no âmbito cultural, uma vez que visa registrar em livro e CD poesias psicografadas pelo médium Chico Xavier, um conteúdo que, independentemente da crença do leitor ou ouvinte, apresenta inegável caráter cultural.”

Ministério da Cultura

Esta obra reúne um material precioso!

Obras psicografadas em verso e prosa emolduradas por melodias repletas de beleza. Nove intérpretes convidados, cantando em solo ou duo, orquestra de cordas, coral e a banda Mecânica dos Solos integram os mais de 80 artistas que fazem parte desta belíssima produção.

Ilustrações exclusivas e informações destacam os grandes protagonistas do projeto: os Poetas “Mortos” e sua Mensagem!

1. O Bandeirante

7. Visão dos Espaços

2. Maria Magdalena

8. O Verbo na Criação Terrestre

Cairbar Schutel da lápide de Cairbar Schutel Humberto de Campos do livro “Boa Nova”

3. Deus Antero de Quental do livro “Parnaso de Além Túmulo”

4. O Coração do Mundo 5. A Árvore Transplantada Humberto de Campos do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”

6. Sinfonia

Realização:

Emmanuel, do livro “Fonte Viva” www.portalser.org

www.lojadoser.com.br

Augusto dos Anjos do livro “Lira Imortal”

Emmanuel, do livro “A Caminho da Luz”

9. Recordações em Leopoldina Augusto dos Anjos do livro “Poetas Redivivos”

10. Jornada

Adelino Fontoura do livro “Antologia dos Imortais”

11. A Lápide

Johann Goethe e Allan Kardec da lápide de Allan Kardec Todas as músicas são de autoria de Zé Henrique Martiniano, sendo em parceria a faixa 3 com Julio Corradi e a faixa 6 com Adriana Gennari.

ZÉ HENRIQUE MARTINIANO

www.portalser.org

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

NÚMERO INFINITO

Araraquarense, engenheiro, O que seviolonista, colecionacompositor, em 25 anos guitarrista, éarranjador, muito caminhar.

O cabedal de produtor musical amigos, históriasnae sentimentos e trabalhador Sociedade aumenta na proporção Beneficente Obreiros do do tempo Bem, de Araraquara. palmilhado.

Na trajetória, as canções junto.

Estudoucaminharam jazz, música clássica e Cantá-las, hoje, é sublimá-las brasileira com vários professores, com ecos das memórias. mas éos predominantemente autodidata.

Um CD, enfim! Mas sons não bastariam. elesartistas se juntam justas Tocou A com consaimagens palavras. emoções grados, ecomo LeilaAsPinheiro, transbordam e reverberam.

Roberto Menescal, Quarteto emAs Cy,pedras Filó Machado, Jr., pisadasSwami ganham Paulo Martelli, Marcelo Mariano, tom de saudade porque uma Ary Piazzarolo Orquestra de amiga tomou e outro rumo.

Tatuí.

Cacau deu seu “até logo” aos Alguns de seus trabalhos – companheiros de Estradas.

Este composições próprias em sua registro é também um tributo – estão registrados em amaioria ela, que, aqui, canta como nove CDs: Outros Tempos, sempre cantou e cantará. Vidas Arqueólogo das Estrelas, Vida que seguem.

Inteligente, Lomo Jazz, Miosótis, Tudo que é bom tem dos seu Cinema Caipira, Mecânica tempo que pareça tarde.

Solos +– ainda Roberto Menescal (CD/ Número Infinito ODVD), trabalho preenche um(sobre buraco psicografias de Augusto dos no caminho das almas que se Anjos) e Mensagem dos Poetas dispõem a cantar o Espiritismo.

“Mortos” (sobre psicografias de Pedra assentada, trilha reparada, autores diversos) ele é um convite para que sigamos. Estradas não tem fim.

João Gualberto Jr.

Jornalista (juntador de pedrinhas) e cientista político.

Colaborador do SER e evangelizador da infância.

Integrante dos grupos de música espírita Flor de Luz e Henrique Martiniano Verbos de Zé Versos.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

MENSAGEM DOS

POETAS

“MORTOS”

composições e parcerias

ZÉ HENRIQUE MARTINIANO AUTORES DIVERSOS

1a Edição - 2.000 exemplares Junho de 2019 Concepção, Direção Geral, Produção Musical: Zé Henrique Martiniano Direção Musical: Adriana Gennari Mixagem: Zé Henrique Martiniano /Adriana Gennari / Walter Jr. Masterização: Zé Henrique Martiniano Gravado dos Estudios: Mecânica dos Solos, Criassom, Guidon , Outside (baterias) Green House e Analogia, em Araraquara e São Paulo.

Técnicos de Gravação: Zé Henrique Martiniano, Walter Jr., Edielson Aureliano, Gustavo Scremin e Paulo Russi.

Projeto Gráfico: Júlio Corradi / Portal SER Textos do livro: Márcia Tamia, João Gualberto Jr. e Zé Henrique Martiniano Ilustrações: Kiko Lopes Cifras: Zé Henrique Martiniano Revisão: João Gualberto Jr., Eleonora Tosetto, Márcia Tamia Agradecimentos: Alexandre Caroli, Aluizio Elias, Zé Pedro Antunes e Jô de Souza

FICHA CATALOGRÁFICA

Sumário Prefácio / Introdução Ousadias sonoras e textuais......................5 Canção espírita: água e semente ..............9 O artista na transição planetária: mensagem do pintor “morto” ......................................37

Poetas .............................................................7 Emmanuel ..................................................43 Humberto de Campos ...............................50 Augusto dos Anjos ....................................59 Antero de Quental .....................................67 Adelino Fontoura .......................................73 Cairbar Schutel...........................................77 Johann Goethe ...........................................82 Allan Kardec ...............................................85

3

Bibliografia .................................................91

Letras e Cifras 1. O Bandeirante ...............................................93 2. Maria Magdalena ...........................................94 3. Deus ...............................................................96 4. O Coração do Mundo ...................................98 5. A Árvore Transplantada................................100 6. Sinfonia ..........................................................102 7. Visão dos Espaços ........................................103 8. O Verbo na Criação Terrestre ......................106 9. Recordações em Leopoldina .......................108 10. Jornada ........................................................112 11. A Lápide ......................................................114

Fotos................................................................116

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Ousadias sonoras e textuais

João Gualberto Jr.

Os trabalhos de Zé Henrique Martiniano na canção espírita guardam virtudes. Percebe-se elaboração, requinte e beleza, sem dúvida. Mas salta aos ouvidos, até aos menos atentos, a ousadia.

E, aos mais dedicados, após a décima ou vigésima apreciação, essa qualidade específica se confirma. Há uma justificativa estética a sustentar essa convicção. E outra histórico-doutrinária.

O músico de Araraquara (SP) não é um espírita que se fez artista, mas um artista que abraçou a Doutrina. Trilhava já uma carreira musical quando adotou o Espiritismo em meados da década de 1990. Acompanhou à guitarra e ao violão nomes como Roberto Menescal e os irmãos Jair Oliveira e Luciana Mello. Seguiu os dois caminhos, o da arte de ofício e o da espiritualidade íntima. Só na atual década foi que eles se cruzaram.

Em 2014, lançou o CD Número Infinito, com dez poemas de Augusto dos Anjos que musicara. Todos os textos foram extraídos de Parnaso de Além-Túmulo, marco inicial da psicografia de Francisco Cândido Xavier. O resultado musical chegou ao Instituto SER, e o reflexo foi de grata surpresa – por falta de expressão mais fiel. A

5

ousadia bela daquela seleta de canções pedia parceria, acréscimos escritos, aporte filosófico e literário e contextualização histórica.

Foi desse calor contagiante que nasceu o livro, também intitulado Número Infinito1.

A obra impressa trouxe, em 2016, todos os poemas de Augusto dos Anjos psicografados por Chico publicados originalmente em diversas antologias. Além da coletânea definitiva de 75 textos, acompanharam referencial acadêmico e temático, associação a princípios da Codificação de Allan Kardec e glossário (no caso do poeta paraibano é necessário), além das cifras das canções. O CD com os áudios foi encartado.

Dois anos depois, a parceria se estreita, e dela nasce novo rebento. Mensagem dos Poetas “Mortos” é uma ampliação da proposta de Número Infinito: mais autores, poesias de outras obras da bibliografia do médium de Pedro Leopoldo, mais requinte, mais elaboração e, claro, mais ousadia. Ousar mais é a ousadia que se permite quem ousa com êxito.

Musicar Augusto dos Anjos é empreendimento nada fácil. O autor de Eu, única obra lançada enquanto encarnado, em 1912, tem sua lavra reconhecida pela junção da métrica rígida parnasiana, clássica, com a temática científica, materialista e um tanto pessimista.

A predileção por esse tipo de conteúdo – igualmente ousada e única naquele interlúdio estilístico da década de 1910 – desaguou no uso de vocábulos incomuns, tantas vezes chocantes para o costume lírico. Termos técnicos, às vezes tétricos, até escatológicos, eram – e ainda são – fatias do limão mais azedo embutidos no manjar.

Tal natureza de material impõe, assim, o desafio estético a quem se candidata a associar a ela melodia e harmonia. Indício da dificuldade é não se ter notícia de algum título de “Eu” musicado por um compositor da MPB. Alguém se recorda? Se existe, sucesso não fez. Os poemas de Augusto dos Anjos desencarnado preservaram 1 XAVIER, Francisco Cândido. Número Infinito (Augusto dos Anjos, Espírito). OLIVEIRA, José Henrique Martiniano de e CORRADI Júlio Adriano Macedo (orgs.). Belo Horizonte: Instituto SER, 2016.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

as particularidades. Agregaram-se, contudo, novos temas e termos, mais volatilizados e etéreos, conforme as “descobertas vividas” no além. Suas palavras ganharam mais luzes. As opções de vocabulário não cederam em nada, entretanto: polissílabos abstratos, alguns proparoxítonos. Vertê-las em canção é uma tarefa complexa.

Zé Henrique Martiniano se atreveu a mexer nesse espinheiro literário. Se saiu machucado depois de compor 10 canções palatáveis e mui bem trajadas, talvez. Mas certo é que sobreviveu. E foi além nesta nova frente.

Ao custo estético estabelecido pela natureza dos textos soma-se sua significação para o movimento espírita. Chico Xavier psicografou mais de 400 livros. Sua missão de divulgador da Doutrina Espírita pela literatura, cumprida com sucesso paradigmático, influenciou, no mínimo, a configuração robustecida do movimento espírita no Brasil. Sem ressalvas, o médium é uma das grandes personalidades brasileiras do século XX, um apóstolo do Cristo na Pátria do Evangelho. Por suas mãos, passaram obras que jogaram luz sobre a Codificação e entrelaçaram-na às lições evangélicas, seja pelo gênero ensaístico, pela abordagem científica, pela prosa literária ou pela poesia.

Parnaso de Além-Túmulo é o livro de estreia de Chico, e Augusto dos Anjos, seu autor mais numeroso. Na edição definitiva, desde 1955, são 32 contribuições do pré-modernista em espírito. A publicação da coletânea do além pela Federação Espírita Brasileira (FEB), por meio da pena do então jovem e desconhecido medianeiro mineiro, teve significativa repercussão na imprensa e nas rodas de literatos. Escritores apreciaram-na em críticas e artigos em periódicos, como Monteiro Lobato e Humberto de Campos, ainda encarnado. Em retrospectiva histórica e de importância, Parnaso é uma baliza histórica não só para a biografia de Chico, como para o Espiritismo no Brasil.

Ser ousado é gozar de coragem. Necessária para musicar o autor-núcleo desse alicerce, incluindo poemas famosos e que falam

7

muito por si, como Matéria Cósmica e Espírito. Zé Henrique foi o arqueólogo que acessa um edifício sagrado para pesquisar, coletar material, tirar fotos. Respeitoso, sempre, posto que exigem o solo sob os pés e os artigos em mãos.

Agora, para Mensagem dos Poetas “Mortos”, as ousadias se alargam. A primeira imposição, dos desafios estéticos, repete-se com o ato de compor melodias e harmonias até para textos nãopoéticos. Ou seja, canções foram compostas a partir de trechos em prosa, com sentenças soltas, sem qualquer comprometimento com métrica a imprimir uma cadência. Tarefa aceita e executada. E, na trilha da ousadia histórico-doutrinária, outros “sítios arqueológicos” foram explorados. Textos de Emmanuel e Humberto de Campos, por exemplo, extraídos de livros seminais para o Espiritismo e seus profitentes, agora podem ser cantados.

São ressignificações do estabelecido. Belezas renovadas. Um avanço exploratório, embora pleno de reverência. Todos reconhecemos o peso doutrinário e a significância espiritual das obras e das ideias que alicerçaram estas canções. Assim sendo, se não fosse para dar certo, não daria, definitivamente. Não seria “permitido”. Se Número Infinito existe e ganhou pernas – à margem de quem, por ventura, tenha arregalado os olhos, cerrado os ouvidos e torcido o nariz –, aqui estão melodias sobre os versos de não apenas um, mas vários poetas “mortos”.

SER

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Canção espírita: água e semente João Gualberto Jr.

Num tempo de acomodação sensorial, em que nos sentimos um tanto cansados da hiperexcitação das metrópoles, um tanto condicionados pelo direcionamento dos mercados de bens culturais, o trabalho de Zé Henrique Martiniano surge instigante. A seu modo, contribui para a arte espírita. Em suas mais diversas expressões, esse pressuposto comodismo estético representa um sinal de alerta, em especial, para o artista que se dedica ao Espiritismo. Somado às tendências da atualidade, que influenciam num âmbito geral a produção e o acesso a manifestações artísticas, o desejo de não desagradar a sequer um receptor espírita pode levar a canção, o livro, a peça, a tela etc. a lugares comuns, a mais do mesmo.

O risco é de se partir da premissa de que a missão de propiciar elevação emocional requer unanimidade e repetição de fórmulas exitosas. Inovar, ousar, ao contrário, parece um salto temível: o diferente pode ser equivocadamente assimilado como ruído na comunicação ao espírito, dito de outra forma, elemento de ruptura vibracional.

9

São hipóteses inspiradas no que se lê, vê e ouve nas várias frentes de arte espírita. Os hábitos de fruição costumam suscitar questões – às quais se somam outras brotadas das mensagens cantadas neste CD. Arte espírita tem missão? A acomodação de nossas preferências, enquanto consumidores condicionados em geral, vem delimitando também nossos interesses dentro do espectro das expressões espíritas? Ousadia em arte espírita é bem-vinda?

Os questionamentos emaranham-se ao novelo sem fim nem começo a respeito da natureza da arte espírita. Pois seguem mais algumas reflexões modestas e incompletas. A ousadia em apreciação pede e faz por merecer. A intenção aqui será tentar sustentar, a partir do que, de fato, se espera das manifestações artísticas espíritas, a hipótese de que a canção espírita constitui expressão capaz de congregar as virtudes desejáveis do belo e do bom em condição de equanimidade.

1. Para clarear O que segue nesta introdução são algumas reflexões que partem, quase que integralmente, da literatura espírita. Como foi antecipado, o foco de discussão é a canção espírita. É ela a expressão motriz de Mensagem dos Poetas “Mortos”, apesar de este livro complementar buscar transcendê-la por ter se julgado bom e necessário.

Antes de nos debruçarmos sobre a canção propriamente, contudo, propomos uma trajetória que passa por algumas tentativas de conceituação da arte espírita. Na sequência, apresentamos interpretações críticas sobre a literatura espírita e sobre a música.

Por se tratarem dos dois elementos básicos da canção, entendemos ser relevante essa contextualização.

A lupa de observação em todo esse caminho teórico é a Doutrina Espírita. Temas inseridos nos mais diversos campos do conhecimento ganham dimensões diferentes quando examinados

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

dentro do quadro dos princípios do Espiritismo: a imortalidade do ser, a reencarnação, o fenômeno natural de comunicação com os desencarnados, o exercício interdependente da lei de causa e efeito e do livre-arbítrio e mesmo as noções da biografia espiritual de Jesus Cristo.

Assim é que tais pilares filosóficos, se tomados como premissa analítica, favorecem um novo olhar sobre assuntos da saúde, da mente, do trabalho, da vida em sociedade, da vida em seu sentido amplo, da relação com Deus etc. Não seria diferente com a arte, em suas mais variadas expressões. Refletir sobre o fazer criativo pelo prisma espírita conduz a reflexões e hipóteses específicas, para além da teoria artística pura.

Por essa perspectiva, devemos cogitar, por exemplo: a influência dos espíritos desencarnados, por intuição, ao longo do processo de criação; o teor objetivo da mensagem veiculada pela obra; as intenções espirituais do artista; os elementos de forma, isto é, os caracteres estéticos, de que se lançou mão para a execução da peça; a qualidade da assimilação da expressão artística; e seu desdobramento, seu impacto espiritual no receptor.

Não existe à disposição um campo teórico robusto acerca da arte espírita que se esgote irretocável. Temos um ambiente conceitual rico em debates, controvérsias e entendimentos distintos. Para uma obra ser qualificada como espírita, basta ter sido inspirada ou reportar algum desses princípios enumerados acima? Uma pintura, uma música, uma narrativa, uma coreografia, um roteiro são espíritas somente se seus autores professarem essa religião? Se a expressão artística resultar de uma comunicação mediúnica, isto é, do esforço criativo de um espírito desencarnado que se manifesta por um médium, necessariamente ela deve ser chancelada como espírita?

Muitos questionamentos dos quais simples “sim” ou “não” transbordam. É um tema de compreensão complexa, pois multifacetada. Evidentemente, não há nesta introdução qualquer pretensão de estabelecer conceitos originais ou juízo em meio a esse

11

cipoal. São somente contribuições de aporte teórico e suposições visando instigar o ouvinte do trabalho – que acessa também este complemento escrito – e aguçar seus sentidos no processo de apreciação. Jamais intentando direcionar a audição, contudo.

A certeza apenas é de que Mensagem dos Poetas “Mortos” representa com distinção aquilo que, pelo tato impreciso e particular, consideramos arte espírita. Conforme se ouve, e em face do que se lerá aqui, as canções que compõem o trabalho refletem a doutrina por seu conteúdo, por suas harmonias, pelas intenções criativas e pelo bem que fazem reverberar no íntimo. E, também, por sua carga inovadora, elemento distintivo dos impulsos criativos dos espíritas desde os tempos da Codificação.

2. Expressões de grandes expectativas As projeções sobre a arte espírita foram lançadas logo com o advento da Doutrina. E todas as possibilidades imagináveis e inimagináveis que suas expressões permitiam vislumbrar eram celebradas com entusiasmo tanto pelos intelectuais pioneiros quanto pelos desencarnados que se manifestavam sobre o tema.

A arte espírita nasceu ungida pela égide do novo, razão de grandes expectativas.

Ao relermos o que esperavam Kardec ou Léon Denis, estão patentes o otimismo e mesmo a excitação para campos artísticos de “novas perspectivas, horizontes sem limites”2. O elemento propiciador desses inexplorados conteúdos e formas “ao mesmo tempo poéticos palpitantes” seria o intercâmbio sistematizado com a espiritualidade, o “incessante comércio dos mortais com os seres de além-túmulo”3.

Denis celebrou o acesso a inesgotáveis temas de inspiração disponibilizados pelo canal mediúnico em O Espiritismo na Arte.

Na miríade de novidades, o autor relatou: 2 DENIS, Léon. Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. p. 17.

3 Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano III, 1860, publicada sob a direção de Allan Kardec. (trad.: Evandro Noleto Bezerra) 4ª ed., 2ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 534.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

(...) a comunicação que ele (o Espiritismo) estabelece entre os mundos visível e invisível, as informações fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis superiores da harmonia e de beleza que regem o universo.4

Com aquelas expectativas, simultâneas à gênese do Espiritismo, nasceram também as tentativas de conceituação da arte espírita.

Hoje ainda, mais de 160 anos após a publicação de O Livro dos Espíritos, esse cipoal de entendimentos persiste em termos estéticos.

Que tintas, tons, arranjos, harmonias e estruturas tipificam-na?

Todo esforço, ainda que bem-vindo, não parece insuperável se se pretender considerar os aspectos em comum de seus elementos.

Ainda mais desafiadora é a tentativa se o foco analítico for o efeito da expressão artística, seja o efeito esperado ou o verificado.

O intuito de elevação espiritual, pré-estabelecido como objetivo, pode não ultrapassar a linha de chegada pretendida pelo emissor.

Já como resultado no receptor, a intangibilidade artística resulta do fato de a assimilação daquilo que se vê, lê ou ouve ser individual, única e intransferível, tal como os desdobramentos emocionais das experiências sensoriais. Impossível prever ou nivelar as vivências estéticas por seus efeitos.

O paradigma conceitual de arte espírita parece ser de compreensão um tanto mais simples, entretanto. Publicado na edição de dezembro de 1860 da Revista Espírita, ele se baseia na conhecida analogia de sua evolução com o processo de metamorfose da borboleta. Os presentes na reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas perguntaram ao espírito de Alfred Musset se haveria, um dia, a arte espírita tal como houve a pagã e a cristã.

O escritor desencarnado não apenas respondeu afirmativamente como lançou a metáfora. A arte pagã seria o verme, ou a lagarta; a cristã, o casulo; e a espírita, por fim, a borboleta. “O verme é verme, torna-se bicho-da-seda, depois borboleta. Que há de mais etéreo, de mais gracioso do que uma borboleta?”5, declarou Musset.

4 DENIS, Léon. Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. p. 17.

5 Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano III, 1860, publicada sob a direção de Allan Kardec. (trad.: Evandro Noleto Bezerra) 4ª ed., 2ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 531.

13

Em diante, Kardec teceu um extenso comentário histórico e estético sobre a progressão dos períodos artísticos. O trecho destacado acima sobre o “incessante comércio” entre encarnados e desencarnados faz parte dessa leitura evolutiva. Verificam-se no texto, visando à categorização, uma delimitação amparada em duas certezas. Numa primeira interpretação, o codificador parece sugerir a restrição das expressões artísticas espíritas àquelas de teor mediúnico. Ainda que todo ímpeto criativo, independentemente da frequência vibracional do artista, receba contribuições do além por intuição, as reflexões trazidas na revista tratam da mediunidade ostensiva e, claro, controlada, parametrizada.

Malgrado a interpretação restritiva, é certo que Kardec jamais tenha entendido limitar-se a arte espírita às manifestações cujo teor originam-se do intercâmbio com o além. A procedência mediúnica pode ser um bom critério, ainda que, nem sempre, o teor da comunicação se verifique compatível ao teor doutrinário. Verte desse condicionante o segundo balizamento conceitual, presente no restante do comentário de Kardec: o que caracteriza a arte espírita é a natureza que diferencia a borboleta de suas próprias fases anteriores. Não há borboleta sem a lagarta e sem casulo dos quais derivou. Mas ela já não os é.

A arte espírita, nascida com a Doutrina, data da era das luzes.

Luzes frias. O racionalismo iluminista hegemônico em meados do século XIX desviara o pensamento das questões de transcendência relativas ao Criador e mesmo das perquirições metafísicas. Paris, então “capital do mundo”, ainda sob os torvelinhos das revoluções sociais, singrava na vanguarda das ondas do materialismo. Era parte da missão consoladora do Espiritismo vir àquelas luzes frias.

Fazia parte de sua tarefa divina a conciliação entre o espiritualismo cristão e a ciência. Veio ao mundo para tentar preencher o vazio de alma no fulcro das filosofias.

Era essa mesma impressão de vazio que Kardec e a espiritualidade comunicante apreendiam das mais diversas

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

tendências artísticas no período, em suas vertentes vanguardistas.

Faltavam vitalidade e sentido na avaliação deles. Na edição da Revista Espírita de novembro de 1868, foi publicado o artigo “O espiritualismo e o ideal na arte e na poesia dos gregos”6. Seu autor, o espírito Chassang, identifica o que caracterizou perda de essência nas expressões artísticas decorrente do declínio da fé religiosa entre os artistas. Já a arte sacra, ultrapassada naquele momento, pulsava autenticidade, segundo ele, uma vez que se vivia e sentia o retratado nas telas ou nas páginas.

Por sua vez, o codificador entendia que, em sua época, as artes jaziam num torpor da qual só sairiam “por meio de uma reação no sentido das ideias espiritualistas” e que, como afirmou, “(...) toda transformação filosófica acarreta necessariamente uma transformação artística paralela”7, afirmou. E essa afirmação esculpe a pedra angular no esforço de designação da arte espírita. Correntes filosóficas e artísticas contemporâneas constituem retratos de uma época, alimentam-se do zeitgeist e reforçam-no. Assim sendo, segundo essa considerável associação entre ideias e sentimentos descrita por Kardec, a expressão artística espírita é aquela consoante à filosofia espírita. Mais precisamente, esta deve refletir-se naquela conforme se interpreta dessa correlação e do conteúdo a respeito da arte publicado nos números da revista e em Obras Póstumas.

Compreende-se que as manifestações artísticas devem inspirarse, no mínimo, e, o mais ajustado, portar os princípios filosóficos da Doutrina. Constitui-se arte com objetivo, portanto.

3. O bom fim “A arte deve ser o Belo criando o Bom”. Essa frase de André Luiz está em Conduta Espírita8, no capítulo Perante a Arte. Ela é conhecidíssima; atrelada à arte espírita, foi inúmeras vezes citada 6 Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano XI, 1868, publicada sob a direção de Allan Kardec. (trad.: Evandro Noleto Bezerra) 4ª ed., 2ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 469.

7 KARDEC, Allan. Obras Póstumas. (trad.: Guillon Ribeiro) 39ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 177.

8 VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita (André Luiz). 32ª ed., 3ª imp. Brasília: FEB, 2013. p. 111.

15

em trabalhos. Serviu de epígrafes de livros, apostilas, discos e programas de espetáculos.

Destacam-se alguns aspectos semânticos dessa sentença, que tem feição conceitual. Propõe sinteticamente responder “o que é arte”? A locução verbal “deve ser” estabelece uma condição restrita, traduzível por “necessariamente é”. O “Belo” antecede o “Bom”.

Este, sendo o fim, a meta, o objetivo. E aquele, o instrumento, o meio, o médium. Evidencia-se essa interpretação instrumental no fato de que o primeiro “cria” o segundo.

A associação entre o belo e o bom referencia-se na tradição clássica. A filosofia de Platão vê como unificadas a perfeição moral e sua emanação estética. Sendo assim, a essência ideal da verdade e do útil reveste-se de beleza perceptível. Essa conjugação moral e estética da Grécia clássica – ainda que Aristóteles tenha uma leitura um tanto diversa – foi retomada na filosofia espírita. Além de André Luiz, outros pensadores do Espiritismo legaram pensamentos sobre a junção do bom com o belo, embora com estruturas distintas. Em alguns casos, apropriação da ideia platônica é exata, como neste trecho de Kardec: A perfeição da forma é, assim, consequência da perfeição do Espírito: donde se pode concluir que o ideal da forma há de ser a que reveste os Espíritos em estado de pureza (...).9

Esse raciocínio também evidencia uma primazia das virtudes morais frente às estéticas. Contudo, nas duas citações a seguir, observa-se a noção de equilíbrio entre os dois campos de virtudes. Elas abordam a criação humana – no sentido genérico, não apenas cultural: convém a ela modelar-se na Criação divina, que, invariavelmente, sustenta-se na complementaridade harmoniosa do bom com o belo.

Em O Espiritismo na Arte, Léon Denis afirmou ser a fusão do bom com o belo “o objetivo sublime da criação”, por serem 9 KARDEC, Allan. Obras Póstumas. (trad.: Guillon Ribeiro) 39ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 186.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

os princípios que “inspiram toda obra divina e constituem a base essencial das harmonias do Cosmos”10. Já para Paulo de Tarso, em O Livro dos Espíritos, o objetivo da criação é o “culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo HomemDeus, por Jesus Cristo”11.

Além de não tratarem do fazer artístico em específico, as duas definições acima diferem da de André Luiz pela relação entre as duas virtudes. Denis emprega o termo “fusão”, e Paulo, a expressão “culto harmonioso”. Depreende-se condição de equiparação entre o belo e o bom, diferentemente da sentença publicada em Conduta Espírita. Não se está buscando induzir, aqui, a identificação de um desequilíbrio de importância entre as virtudes, mas evidenciar, na conceituação de André Luiz, a designação de funções a elas em um processo lógico, em um encadeamento causal. Emprega-se o meio para atingir um fim, “o Belo criando o Bom”.

Tal constatação vai ao encontro das conclusões de Alexandre Caroli Rocha. Sua dissertação de Mestrado, defendida no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, dedica-se a Parnaso de Além-Túmulo12, sua literatura e seus autores e as discussões a respeito da legitimidade das autorias. Como descrito no prefácio, Parnaso é o marco inicial do mediunato de Chico Xavier. A coletânea de poemas de desencarnados, que foi tomando corpo edição após edição, representou ainda a eclosão das temáticas que viriam a emanar de forma preponderante de toda a numerosa bibliografia do médium. Assim, sua publicação, ainda nos anos 30, foi também a gênese da potencialidade dessa obra prolífica e sem par no que diz respeito à repercussão tanto social quanto no íntimo de cada leitor.

Dos mais de 400 títulos psicografados por Chico, há diversos estilos literários: poesia, prosa em contos e romances, mensagens diretas, ensaios científicos e filosóficos, reportagens, crônicas e obras infanto-juvenis. As publicações de poemas foram estruturadas 10 DENIS, Léon. Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. p. 54.

11 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. (Trad.: Guillon Ribeiro). 88ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Questão 1009.

12 ROCHA, Alexandre Caroli. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. Dissertação de mestrado. (Orientador: prof. dr. Haquira Osakabe). Campinas: IEL, Unicamp, 2001.

17

de três formas: livros mistos, editados juntamente com textos em prosa; coletâneas de um autor; e coletâneas de autores diversos. É este último o formato de Parnaso de Além-Túmulo. A presença da poesia na extensa bibliografia não chega a 50 títulos. E seu reconhecimento na comparação com obras de outros estilos é tão proporcionalmente pequeno quanto esse número. A principal exceção é justamente Parnaso, talvez mais por sua importância decisiva na biografia do apóstolo do Espiritismo do que propriamente pelo teor.

As antologias poéticas psicografadas pelo médium não atraem a mesma atenção que recebem os romances ou os livros filosóficos de Emmanuel, a séries de André Luiz e de Humberto de Campos e outras obras. Elas não costumam ser lidas e estudadas a fundo e a fôlego com o foco normalmente devotado àquelas publicações. Se tanto, a leitura desses textos, de maneira pontual e aleatória, ocorre em saraus ou na abertura de trabalhos, visando à harmonização de ambiente. Se os poemas de Parnaso têm relevância temática inconteste, por que não se costuma estudá-los? Seria porque, surpreendentemente, a métrica poética, utilizada para exalçar nobres conteúdos, acaba, ao contrário, por embotá-los no processo de comunicação? Nesse caso, a mídia estética dificulta, mais do que auxilia, a decodificação da mensagem espírita? À parte essas cogitações avulsas, esforços como o de Alexandre Caroli Rocha merecem reconhecimento. Ainda que erigidas com fins acadêmicos, suas investigações sobre a obra debut de Chico Xavier – como também sua tese de doutorado dedicada às questões de autoria na obra mediúnica de Humberto de Campos – exploram rico sítio arqueológico, trazem à luz achados originais e sugerem reflexões. E mais, suas pesquisas se arriscam no diálogo com o conhecimento não-religioso, prática ainda escassa no pensamento espírita.

Detemo-nos ao capítulo final da dissertação. As conclusões sobre a antologia publicada primeiramente em 1932 permitiram a Rocha induzir a toda a literatura espírita a evidência de um caráter

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

elementar geral: seu propósito persuasivo, como denominou. Em síntese, conforme conceito tomado da teoria literária, a literatura espírita pode ser considerada arte pragmática, uma vez que seu objetivo “é o efeito moral, ao passo que o deleite e a emoção servem de auxiliares”13. O pesquisador destaca a imbricação dos versos e estrofes de Parnaso de Além-Túmulo com os princípios espíritas e cristãos. As finalidades são educativas, fixando-se os valores do Evangelho e a ampliação da realidade pela perspectiva da imortalidade e da apresentação de novos horizontes transcendentes.

“Não obstante o rigor estético, (o livro) apresenta notórias intenções persuasivas, o que o insere no campo retórico, como acontece com toda a literatura espírita”14. No mesmo capítulo, o autor cita Emmanuel, no prefácio da coletânea Poetas Redivivos (1969), para corroborar esse aspecto pragmático ou persuasivo da literatura espírita: “(...) hoje, porém, redivivos no Mundo Maior, (os poetas que participam) acendem a flama do próprio estro, clareando-nos o caminho.” Dessa maneira, o benfeitor expõe o objetivo consolador da obra acerca da imortalidade e da inexorabilidade da redenção espiritual. São, sobretudo, mensagens de esperança que assumem uma roupagem artística. Observa-se que “Emmanuel confere uma função missionária para a poesia mediúnica”15.

Outros dois trechos de prefácios de coletâneas poéticas que vieram à luz pelo lápis de Chico merecem ser mencionados. Ambos reforçam a ideia exposta por André Luiz e reconhecem a finalidade na expressão literária como desdobramento da elaboração estética.

A primeira, do dr. Elias Barbosa, amigo íntimo do médium em Uberaba. Coube ao psiquiatra e ex-dirigente da Comunhão Espírita Cristã a confiança das confidências, do suporte e da organização de vários livros psicografados nessa segunda fase, a partir da década de 1960. Na abertura de Antologia dos Imortais (1963), o médico declara que: 13 ROCHA, Alexandre Caroli. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. Dissertação de mestrado. (Orientador: prof. dr. Haquira Osakabe). Campinas: IEL, Unicamp, 2001. p. 217 14 Ibidem. p. 213 15 Ibidem.

19

Enriquecidos pelo conhecimento superior da Doutrina Espírita, (os versos) não se prendem à beleza formal tão somente, atendo-se mais à excelência do fundo, como que a evidenciar que o conceito de ‘arte pela arte’ persiste, mas sob novas diretrizes temáticas.16

Por fim, um trecho do próprio Chico prefaciando Parnaso de Além-Túmulo. Jovem, com apenas 21 anos, admitiu jamais ter lido uma palavra dos autores que psicografava ou informações sobre eles. E, em seu texto pleno de humildade, intitulado “Palavras Minhas”, antevê as repercussões controversas do seu trabalho, como, entretanto, a força consoladora que movia aqueles versos e o moveria por toda sua longeva trajetória. Os poemas de Parnaso resultaram, inconteste, de um motor missionário no entendimento daquele médium ainda desconhecido e “imaturo”.

Em alguns despertarei sentimentos de piedade e, noutros, risinhos ridiculizadores. Há de haver, porém, alguém que encontre consolação nestas páginas humildes. Um desses que haja, entre mil dos primeiros, e dou-me por compensado do meu trabalho.17

Declarações desse feitio atestam as impressões de Kardec sobre a autenticidade que o sentimento espiritual do artista confere a sua expressão. Seja no caso do médium ou do escritor desencarnado, em se tratando da literatura psicografada, a vivência do intercâmbio e as experiências extracorpóreas equivalem a almas encarnadas nos versos. As manifestações poéticas sintetizam com propriedade, e por analogia, o princípio da encarnação. É a arte com finalidade, posto que se faz veículo dos valores filosóficos afins. E com vitalidade, cuja sentida ausência o codificador lamentou em seus dias.

4. Dois temas e duas aspas Apesar de este trabalho se chamar Mensagem dos Poetas “Mortos”, apenas quatro das canções derivaram de poemas em 16 XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Antologia dos Imortais (vários espíritos). Elias Barbosa (org.). Rio de Janeiro: FEB, 1962.

17 XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo (vários espíritos). Prefácio à 1ª edição. RJ: FEB, 1932.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

sua forma original. Seus autores espirituais, poetas: Augusto dos Anjos, Antero de Quental e Adelino Fontoura. Suas biografias estão relatadas brevemente também neste livro. Dedicaram-se à escrita de versos meticulosos, ourivesaria da palavra em língua portuguesa, “em vida” e “além-vida”, como se depreende das psicografias.

A continuidade da produção literária no plano espiritual é que levou o amigo Júlio Corradi a sugerir a adoção das aspas duplas no adjetivo “mortos” do título. E elas seriam perfeitamente empregáveis também à palavra “poetas”. Três trechos em prosa de Humberto de Campos e dois de Emmanuel foram musicados.

Não se tem notícia de que eles tenham nos legado poemas, ao menos pelas mãos de Francisco Cândido Xavier. Ainda assim, há profunda carga poética nos textos selecionados. Foi o que inspirou e motivou Zé Henrique Martiniano para a ousadia das novas parcerias musicais.

Poesia e prosa são estilos literários cuja distinção serve preponderantemente à taxonomia formal. Tantos foram e são os autores que fizeram esmaecer essa fronteira, como Gonçalves Dias na abertura de Iracema: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba...”. Prosa romântica na classificação da forma. Quem há de negar a força poética dessas imagens sugeridas, dessa descrição de beleza?

Imprecisas também são as limites entre ficção e realidade na arte em suas mais diversas vertentes. E o que seria uma notícia da realidade senão um ponto de vista? E que relato produzido pela memória é capaz de ser integralmente fiéis aos fatos? A apropriação de linguagens pelo artista não respeita peias ou territórios estanques: as tintas se fundem e se confundem.

Assim é que os excertos de Humberto de Campos em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho e em Boa Nova são poemas por sua potencialidade simbólica de comunicação e pela transcendência que sugerem ao leitor nos processos de assimilação

21

e reverberação, superiores à decodificação estrita do código textual.

O mesmo se verifica nos textos de Emmanuel, pinçados por Zé Henrique de A Caminho da Luz e Fonte Viva. Poesia existe para ser percebida e fruída além da estrutura de versos e estrofes. O que a caracteriza é algo além da forma, o que emana e provoca no receptor. A respeito do emprego das aspas no título, portanto, seria perfeitamente apropriada sua maior abrangência: “poetas mortos”.

Completam o repertório dois pequenos textos, os únicos não vertidos pelo médium de Pedro Leopoldo. O primeiro é de Cairbar Schutel, pioneiro do Espiritismo no estado de São Paulo, que se comunicou por psicofonia horas após sua desencarnação. A curta mensagem daquela noite recebeu melodia para este trabalho. E a segunda, de Goethe, está talhada na lápide de Allan Kardec, no famoso e sem par cemitério Père-Lachaise, em Paris. O epitáfio, também célebre, é um hino à imortalidade, como síntese-pérola de todo o trabalho missionário do codificador. Simbólico é, pelo assunto em comum, que uma canção abra e a outra feche o disco.

Pois, no que tange os “poetas”, cujas contribuições se registram aqui – também à feição de homenagem –, como concebê-los “mortos”?

Como, se pulsam vida, emoção profunda e a mais intrincada tessitura expressa nos textos? Como qualificá-los mortos se à vida não cabe antítese? Desencarnado é o termo mais apropriado conforme nos ensinou da Doutrina Espírita. Se as aspas em “poetas” significariam ressalva respeitosa, aos “mortos” têm a tinta da ironia.

O tema da imortalidade é inato à comunicação mediúnica.

Nas práticas que precederam a Codificação Espírita ou mesmo em tantas das manifestações registradas na Revista Espírita ou na segunda parte de O Céu e o Inferno18, por exemplo, confirmar-se vivo era o intuito urgente do espírito comunicante. No estágio eminentemente material em que nos encontramos, em que a ilusão hegemônica da morte e da existência única ainda cumprem seu 18 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. (Trad.: Manuel Justiniano Quintão). 59ª ed. RJ: FEB, 2006. Segunda Parte.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

papel a fim de que se exerça a Lei de Conservação, aquele que se vai e se prontifica a dar notícia de si, naturalmente, faz questão de se provar vivo. Assim se observa ainda hoje! Com as manifestações de caráter artístico não teria por que ser diferente.

“Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência dos seus intérpretes”, declarou Manuel Justiniano Quintão no prefácio de Parnaso de Além-Túmulo19. Já na condição de ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), foi ele o principal responsável pela publicação da coletânea, a primeira obra psicografada por Chico Xavier. Foi ele, tradutor de O Céu e o Inferno, o fiador institucional do jovem e desconhecido médium das cercanias de Belo Horizonte. E, nesse texto de apresentação, em tons de ode, Quintão reconhece o objetivo da difusão da mensagem probatória da imortalidade dos autores – e de todos nós.

Em sua dissertação dedicada a Parnaso, Alexandre Caroli Rocha descreve como o tema da sobrevivência no além-túmulo é abordado. Duas características interessantes nessa análise merecem ser frisadas. A primeira é o fato de o argumento ser retirado dos contextos místicos e mágicos para um tratamento sistematizado e racional, algo a que o Espiritismo se propõe desde Kardec, por seu caráter científico de respeito ao rigor dos métodos.

E como se opera, na literatura, essa racionalidade tendo como fim a demonstração da imortalidade? Como descrito na seção anterior, nesse caso, mobiliza-se a arte como médium, mídia, para tal propósito. Rocha aponta que o estilo literário, seja em Parnaso, seja em outras antologias poéticas psicografadas, é tomado como “índice confiável da personalidade”20 dos escritores. Testificando-se a sobrevivência por meio das pegadas estilísticas e refutando-se a suspeita do pastiche, estaria, por indução, comprovada também 19 XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo (vários espíritos). Prefácio à 1ª edição. RJ: FEB, 1932.

20 ROCHA, Alexandre Caroli. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. Dissertação de mestrado. (Orientador: prof. dr. Haquira Osakabe). Campinas: IEL, Unicamp, 2001. p. 187

23

a sobrevivência do autor após a desencarnação, condição que se aplica a qualquer espírito.

Além da imortalidade do espírito, o pesquisador identifica outra pronunciada temática na literatura espírita: “a existência dos mundos espirituais”21. Podemos qualificar o primeiro teor literário como subjetivo e biográfico. Por ele, os autores falam de si próprios, atestam a própria sobrevivência demonstrando plenitude intelectual, dão notícia de sua condição no além.

E é o além a área de transição, ou interseção, para o segundo tema preponderante da literatura espírita, em especial, a poética.

O mundo espiritual desnuda-se como descoberta maravilhosa – ainda que estejam em foco narrativo zonas psíquicas menos ditosas. Os procederes, as edificações, as normas, os fenômenos das substâncias etc., as informações reportadas do mundo extrafísico por mediunidade são surpreendentes novidades. E essa temática qualifica-se como objetiva ou descritiva.

A possibilidade inédita de contato com tais realidades inimagináveis foi uma das razões do deslumbre no nascedouro da arte espírita em projeção. Kardec vislumbrou cenários de “verdadeiros Edens, de onde o mal foi banido, e (...) mundos ínfimos, verdadeiros infernos onde reinam, soberanas, todas as paixões”22. Já Denis anteviu o intercâmbio entre os planos como fonte inesgotável de inspiração artística.

Nos textos poéticos musicados em Mensagem dos Poetas “Mortos”, também se verifica o protagonismo dos dois temas, quando não estão imbricados em um mesmo poema. Tal coincidência se observa em Recordações em Leopoldina, por exemplo. Nele, Augusto dos Anjos tanto confirmou sua permanência vivo quanto descreve as condições da erraticidade. A imortalidade inicia e fecha o conjunto de canções, com O Bandeirante e A Lápide, respectivamente. Já os relatos do plano maior – sustentados pela reverência ao inconcebível 21 Ibidem. p. 13 22 Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano III, 1860, publicada sob a direção de Allan Kardec. (trad.: Evandro Noleto Bezerra) 4ª ed., 2ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 534

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

da Criação divina – estão representados pelas faixas Visão dos Espaços, O Verbo na Criação Terrestre e Deus.

Coincidentemente, os textos de Humberto de Campos selecionados para o trabalho são os únicos que não se aproximam das duas grandes temáticas. Maria Magdalena versa sobre a discípula e sua redenção. Já O Coração do Mundo e A Árvore Transplantada formam um díptico baseado em momentos históricos específicos da trajetória narrada em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Noticiando a própria e eterna condição de vivos e/ou narrando realidades inalcançáveis para nós, encarnados, os “poetas mortos” seguem reportando o novo em suas palavras. É o mesmo sabor de novidade que distingue a arte espírita desde sua gênese. A consolação e as maravilhas que transmitem aos “vivos” justificam o grande interesse por sua lavra literária, impressa em milhares de títulos nos mais variados estilos e em dezenas de milhões de exemplares já prensados nos Brasil por dezenas de editoras.

Como sentenciou Humberto de Campos, já no plano espiritual, em um texto prefacial para a 2ª edição de Parnaso de Além-Túmulo (1935): “os mortos falam e a Humanidade está ansiosa, aguardando a sua palavra”23. Pois aqui, além de se ler, ouve-se ainda o cantar do que falam. A literatura dos imortais virou canção.

5. Harmonia intraduzível Um expoente do movimento espírita ensinou certa vez que a espiritualidade, ao se comunicar com intuito de transmitir alguma mensagem de alto teor moral – seja um processo psíquicosentimental, um ensinamento ou uma descrição espacial do além – opta por lançar mão de metáforas quando defrontada com a incapacidade de compreensão plena dos interlocutores encarnados.

23 XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo (vários espíritos). Prefácio à 2ª edição. RJ: FEB, 1935.

25

Desde Kardec assim se observa. Aliás, Jesus, com seu ensino por parábolas, também visava a algum nível de entendimento do discipulado ao traduzir uma lição oportuna em narrativas ricas em figuras de linguagem24. (E quantas dessas suas histórias ainda não fomos capazes de decifrar em profundidade 2.000 anos depois!)

Portanto, se a manifestação de um desencarnado, da qual se tem certa a elevação de intenção e conteúdo, for baseada em metáforas, saibamos que o estilo é consequência da limitação moral e cognitiva dos receptores. Intrigante verificar que, na literatura espírita, tantas descrições a respeito da música guardem essa característica.

Para além da básica conceituação do conjunto formado por ritmo, melodia e harmonia, seus elementos constituintes, a música ganha uma aura de mistério a partir dos relatos espirituais. Em expressões mais sublimadas, sua potencialidade, seu impacto e sua utilidade terapêutica ainda são difíceis de conceber racionalmente. Vejamos esta definição de Emmanuel em O Consolador: A música na Terra é, por excelência, a arte divina. (...)

Apenas desse modo podereis compreender a sagrada influência que a música nobre opera nas almas, arrebatando-as, em quaisquer ocasiões, às ideias indecisas da Terra, para as vibrações do íntimo com o Infinito.25

Percebemos que o benfeitor se referiu à fruição da música na chamada condição terra-a-terra, ou seja, trata de encarnados apreendendo a expressão de encarnados. Ainda assim, em nosso contexto de densidade material, a “nobre” influência musical é descrita como elevada.

Estabelecida como “a arte divina”, da expressão musical recebe de Léon Denis o reforço em seu caráter transcendente e, ao mesmo tempo, inconcebível: “a música é a própria voz do mundo superior”26. As descrições de O Espiritismo na Arte relativas às vivências musicais nessas esferas elevadas são estarrecedoras. Os 24 Mt 13:10-17 25 XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador (Emmanuel). 29ª ed. 2ª imp. Brasília: FEB, 2016. questão 167 26 DENIS, Léon. Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. p. 109.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

relatos foram oferecidos pelas entidades O Esteta e Massenet e registrados por Denis. Deram conta de seres espirituais desenvolvidos, dotados de uma percepção sonora proporcional a dezenas das nossas conhecidas oitavas; eles se comunicam pela vibração que impulsionam no fluido cósmico sutil; expressam-se pelo pensamento em plena coerência com os sentimentos; e tais emanações vibracionais não sofrem qualquer tipo de perda ou interferência de ruído, pois traduzem à perfeição o sentimento e o pensamento de que originam. Por fim, o que esses espíritos puros sentem/pensam vibra e se propaga em perfeita harmonia com o pensamento de Deus, cujas expressões também são ondas em expansão. Espíritos ditosos mergulhados em música e, assim, vivendo música, sendo música, sempre em harmoniosa comunhão com o Criador. “Nem o mundo todo conteria os livros que se escrevessem”27 para tentar traduzir em palavras tal realidade.

Em paralelismo, a música é divina, de fato, porque, como Deus, não se permite traduzir fielmente. Kardec, para o capítulo II de A Gênese, por exemplo, empreendeu um esforço notável em demonstrar a existência de Deus pela dedução lógica. Sustentou que, das consequências perceptíveis, deduzem-se as origens imperceptíveis. “Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas”28.

A tentativa do espírito Rossini em definir o conceito de harmonia é similar, porém, inversa: da causa observável inferemse as consequências impalpáveis. Essa proposta de conceituação está em Obras Póstumas. Para tal, o compositor, não por acaso, utilizou-se de uma metáfora: a vela acesa, num esforço para ser compreendido de alguma maneira. Narrou que se vê a causa, a chama; já seu efeito, a claridade, é perceptível, embora intangível.

A harmonia é difícil de definir-se; muitas vezes, confundem-na com a música, com os sons, como resultante de um arranjo de notas e das vibrações dos 27 Jo 21:25 28 KARDEC, Allan. A Gênese. (Trad.: Guillon Ribeiro). 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo II.

27

instrumentos que reproduzem esse arranjo. Mas não é isso a harmonia, do mesmo modo que a chama não é a luz. (...) Aqui, o efeito é superior à causa.29

Logo, a consequente harmonia, que tem por causa a composição estrutural da música, tangencia, em sua intangibilidade, o Criador, causa primeira de tudo e reconhecível por seus efeitos, sua Criação.

Esse capítulo em que Rossini trata da música pela perspectiva espiritual traz grandes contribuições conceituais. Ele sentenciou, por exemplo, que “a música é o médium da harmonia”. Tal definição do compositor, somada à hierarquização do efeito superior à causa, conduz à inferência da essencialidade da harmonia no processo comunicacional da música.

No senso comum e no uso comum do termo, ela pode ser definida por sinônimos como concórdia, entendimento ou equilíbrio vibracional. Na teoria musical, como elemento constituinte da música, seu conceito é mais específico. Nesse contexto, harmonia diz respeito, grosso modo, à relação entre as notas musicais executadas simultaneamente ou ainda à composição sequencial de acordes, sendo estes os conjuntos de notas. É uma propriedade derivada, em essência, da interação matemática entre as frequências particulares de cada nota emitida.

Mas, tratada em seu aspecto transcendente, de reverberação no organismo do ouvinte e nos espaços, a harmonia precisa ser abarcada em termos mais amplos. Eis o desafio de compreensão e de se buscar transpor as metaforizações, a luminosidade intangível produzida pela chama da vela.

O caráter divino da música opera em seu efeito, a harmonia.

E, ainda nas palavras de Rossini, a harmonia eleva e engrandece a alma. O espírito admitiu a dificuldade de compreensão desse fenômeno de influência vibracional, mas ofereceu uma descrição.

“Sua explicação está toda neste fato: que a harmonia coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa.”30 29 KARDEC, Allan. Obras Póstumas. (trad.: Guillon Ribeiro) 39ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 200.

30 Ibidem. p. 205.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Para o que não se concebe e não se compreende exatamente, metáforas. Do que se depreende desse processo de desmaterialização, parece que a harmonia musical possui propriedades magnéticas.

Orbitando sobre as cabeças, ela, como ímã, exerce sobre a alma encarnada um poder de atração para cima, propiciando um quase desdobramento.

Ou ainda por meio de outra imagem. Somos homens terrenos, aferrados à condição de encarnados. Somos filhos de Adão, nome que deriva do hebraico adamah, cuja tradução literal é terra vermelha.31 Nossa essência espiritual vive numa espécie de clausura corporal representada pela terra. Quanto mais atados à matéria, mais compacta e seca se apresenta a terra que envolve. Retomemos um versículo específico do trecho evangélico já citado, em que Jesus justifica o recurso pedagógico da parábola para acessar a alma dos homens: “porque o coração deste povo está endurecido”32.

Música é a fonte da harmonia, nascente da água que desmaterializa a alma ao irrigar os corpos e seus entraves sensoriais.

A seguir, um trecho do poema Argila, de José Herculano Pires. Os lábios em questão, interpreta-se como sendo os do Cristo, muito embora podem bem representar os de qualquer evangelizador que se põe a cantar diante de uma alma sedenta e enclausurada na terra dura.

Ouvi o rumor fecundo da água viva fluindo em seus lábios como um chilreio nas pedras. Água! Água! Água! pedia o bojo escuro, clamava a argila inútil.33

31 DIAS, Haroldo Dutra. Estudando Gênesis à Luz do Espiritismo. Belo Horizonte: Editora SER, 2018. p. 30.

32 Mt 13:15 33 PIRES, José Herculano. Poesias de José Herculano Pires. São Paulo: Paideia, 2004.

29

6. Os sentidos da canção Sem medo de errar, não existe um povo que não tenha se utilizado do canto como forma de expressão cultural. A afirmação vale para qualquer lugar do planeta e para qualquer época. Desde que os primeiros ancestrais do homo Sapiens passaram a viver em sociedade, há aproximadamente dois milhões de anos, sob as árvores, em volta do fogo, dentro das cavernas, das furnas e nas praias, cantar integra os modos de viver. É um gesto estabelecido de interface dos indivíduos entre si e deles para com a natureza, isto é, para com o universo, defrontado em seu poderosíssimo caráter imprevisível, insondável e, portanto, sagrado.

Quando mais de um indivíduo entoa com as vozes a mesma nota e a mesma duração, constrói-se como que um abrigo de segurança sonora numa fugaz microatmosfera de ordenamento do mundo a mitigar as sensações de incerteza34. Compreende-se, dessa forma, o uso do canto nos rituais ancestrais de religação. A elevação das vozes potencializadas pelo grupo e pelo sentido das palavras entoadas constitui um esforço de comunicação com o divino. O objetivo de fundo, construído intuitivamente, é a obtenção de segurança envolvendo os fatores climáticos, da colheita, os produtos da caça e da própria sobrevivência, enfim. O clamor e o louvor pelo canto representariam, por essa leitura, oferendas imateriais em um esforço coletivo de barganha que remonta a tempos sem registro.

A função simbólica e transcendente do cantar sempre fez sentido. Tanto que é objeto de estudo da antropologia desde a estruturação desse campo de conhecimento. Entretanto, em outras formas de pesquisa sistematizada, só mais recentemente a canção passou a ser examinada com rigor, método e teorização próprios.

Certamente por se tratar de uma manifestação de origem popular e em razão de seu caráter híbrido, derivado da música e da poesia, 34 WISNIK. José. Miguel. O Som e o Sentido. São Paulo: Cia das Letras, 1999. p. 27.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

costumavam ser pesquisada nas academias de musicologia e literatura, mas como de menor relevância.

Contudo, é inegável o peso que a canção veio a assumir no Brasil moderno em termos artísticos e mercadológicos. Hoje, a manifestação cultural é possivelmente: a mais democrática, por ocupar todos os espaços que ocupa; a mais significativa na construção simbólica de nação; a mais presente, acessível, difundida, dinâmica e representativa forma de arte do povo brasileiro – isto muito em razão dos papéis sociais ancestrais que ela desempenhou nas três matrizes étnicas predominantes que se fundiram para a formação do povo brasileiro35.

O pioneiro na elaboração de um sistema teórico robusto para a pesquisa da canção foi Luiz Tatit, em meados da década de 1980. Seu ferramental de análise vem da semiótica, do estudo da linguagem, do esforço de decodificação e compreensão de sentidos. O professor da Universidade de São Paulo – também notável cancionista – entende ser a canção uma linguagem específica que demanda, portanto, abordagens específicas, e não um gênero estudado parcialmente, por exemplo, nas escolas de Música ou Letras36.

Isso porque a manifestação cultural não se trata somente letra (poema) ou somente melodia (música). Constitui-se uma terceira coisa própria e distinta daquelas. São como os átomos de hidrogênios que se juntam ao de oxigênio dando origem à água. Ou a mistura da água com a terra que forma o barro. Essa outra coisa com identidade própria deságua na conceituação elementar de Tatit.

Letra e melodia são elementos interdependentes que se sustentam mutuamente e criam um sentido coeso necessariamente veiculado pela voz. “Reiterações, durações e tensões de altura estruturam a progressão melódica e, uma vez esses recursos transferidos ao conteúdo, constroem uma significação compatível.”37 35 BESSA, Virgínia. “O Século da Canção” In: Revista de História 157. (2º semestre 2007) p. 203-211.

36 TATIT, Luiz. “A canção fica melhor com a passagem do tempo”. In. IHU Online Revista do Instituto Humanista Unisinos. ed. 380. São Leopoldo: Unisinos, nov 2011.

37 TATIT, Luiz. Elementos para a análise da canção popular. In. Cadernos de Semiótica Aplicada USP. Vol 1, nº 2.

São Paulo: USP, dez 2008.

31

Essa designação encontra-se no nível mais elementar de abordagem de três possíveis desenvolvidos pelo semioticista. A chamada “arquicanção” constitui esse conceito básico de interação (quase fusão) entre letra e melodia a formar um terceiro ente.

Reconhece-se por ele o que há em comum entre as canções, e é o que basta e importa para estas reflexões. São reservados para observação nos estágios posteriores de Tatit os elementos que diferenciam uma expressão de outra, tal como arranjo, timbres, modulações e expressões vocais.

7. O belo e o bom, e vice-versa Todo esse preâmbulo teórico foi transposto para o contexto da arte espírita para ressaltar o caráter ao mesmo tempo híbrido e uno da canção. São noções histórico-culturais e conceituais neutras que entendemos úteis para a compreensão das potencialidades dessa manifestação artística particular.

Ainda citando o professor da USP, não obstante sua abordagem exploratória da canção como objeto de estudo específico, Luiz Tatit distingue os dois canais constituintes em formas de expressão e assimilação. Ele declara que a voz (portadora e intérprete do texto escrito) e a melodia “se sobressaem, respectivamente, como substância e forma sonoras”38. Descreve ainda que “a melodia concebida mexe diretamente com nosso corpo pelos canais auditivo e tátil; e a letra atinge nossa mente por esses mesmos ou por outros canais sensitivos”39.

Convém detalhar tais distinções. A letra veiculada pelo canto é a substância que comunica à mente do ouvinte. É o texto, isto é, a mensagem de estrutura racional que se sustenta na linguagem escrita visando à comunicação lógica. Essas são características e 38 TATIT, Luiz. 2007. Etc Apud Shimoda, L. T. Timbre em semiótica da canção: retrospectivas e perspectivas.

Revista Brasileira de Estudos da Canção (RBEC) n.4, jul-dez 2013. Natal: UFRN. 39 TATIT, Luiz. Elementos para a análise da canção popular. In. Cadernos de Semiótica Aplicada USP. Vol 1, nº 2.

São Paulo: USP, dez 2008.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

processos típicos da arte literária, que tem por matéria-prima o idioma com seus léxico e gramática próprios. Para ser assimilado, como anseia um escritor, normalmente a literatura necessita tomar como matéria-prima o sistema de uso comum dos falantes e escreventes da língua. Essa condição, em função da natureza da linguagem de que se utiliza, determina o fluxo, de emissão para recepção, de conteúdo racional com fim em outra mente.

A face musical, o construto melódico, por sua vez, é o que dá forma à canção e “mexe diretamente com nosso corpo”. Note-se que a melodia não apenas é captada pelo aparelho auditivo, como também pelo tato, ou seja, por meio do contato das ondas sonoras com todo o corpo. A melodia flui da voz cantante (eventualmente apoiada pelo instrumento musical que acompanha e acentua a emanação da harmonia) e é capaz de envolver, penetrar e tenrificar as estruturas físicas do ouvinte. Esse conjunto representa a porção emocional da canção, aquela que desmaterializa a essência espiritual e a eleva, tal como descrito por Rossini em Obras Póstumas. Seu fluxo comunicacional se dá de alma para alma, ou metaforicamente, de coração para coração.

Transpondo a descrição funcional para o quadro da canção espírita, o caráter de arte pragmática ou persuasiva, que tem por objetivo a transmissão de uma mensagem moral, verifica-se na letra. Logo, desempenhando o feitio próprio da literatura espírita, a palavra cantada é a portadora do bom. Já o belo é veiculado pela entonação do canto. A primazia da estesia sentimental cabe ao conjunto musical ritmo-melodia-harmonia.

Com a permissão do uso de outra imagem, temos que a letra simboliza a semente do bom. E a melodia, a água que a carreia. Em descrição melhor, cabe à voz que canta pôr a água em fluxo e, por consequência, impulsionar o grão. Sem a torrente da interpretação, ele ficaria preso ao fundo, submerso na água parada.

Com a junção equilibrada das duas virtudes desejáveis, o coração do receptor se enternece, e seu terreno encharcado se torna propício

33

para abrigar a semente da mensagem. E a voz que canta, canal da água e da semente, constitui o elemento que exara a harmonia transcendente. É a interpretação do cantor o que fluidifica a canção com os elementos intangíveis da beleza sublime.

Assim, a água e a semente em fluxo, a forma e a substância no canto, redundam na expressão do belo e do bom em equanimidade de papéis. Há que se consentir sobre a definição da canção enquanto manifestação híbrida e coesa originada da fusão de dois elementos.

Nela, um item preserva seu sentido no sentido do outro, em interdependência. Por tratarmos de arte espírita, sua natureza persuasiva conduz à impressão de que, mesmo no caso da canção, a boa semente é a prioridade. Entretanto, caída sobre a terra seca, ou os passarinhos a comem, ou o Sol a queima40. Faz-se necessária a água a molhar a terra e facultar que ela seja amanhada.

Como conclusão, temos na canção espírita a fusão do bom e do belo em equilíbrio funcional de importância. Não parece representar manifestação em que o belo cria o bom, embora se reconheça o objetivo de veiculação (cultivo) da mensagem moral.

Léon Denis chegou a acusar “a profanação e o aviltamento” da canção em sua época, em razão da atuação corruptora “de certos meios públicos”. Ressalve-se, portanto, o interesse, a intenção da expressão como garantia de maior probabilidade de êxito no desdobramento de efeitos racionais e emocionais positivos. Todavia, o autor francês reconheceu que “a palavra, quando está unida à música, pode dar ao pensador uma forma de expressão mais intensa, mais penetrante”41.

Desde que a insuficiência da linguagem humana se revela, a música, com seus recursos infinitos, tornase a única forma que se adapta à eterna beleza do Universo, a única forma de exprimir as sensações da alma radiosa, fundindo-se com o pensamento divino.42 40 Mt 13:3-9 41 DENIS, Léon. Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. p. 86.

42 Ibidem

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

As afirmações justificam o uso intuitivo que a humanidade faz da canção, desde sempre (ainda que o registro mais antigo do termo remeta à Idade Média), como instrumento de interação com o sagrado em busca de ordenamento e previsibilidade de mundo, de louvor ou barganha. Todo o texto mítico e fundador do livro de Gênesis e todos os Salmos foram escritos para serem cantados. E estas reflexões a respeito da canção espírita, após buscarem traçar a compreensão de sua natureza e de seus processos de comunicação, podem ser compreendidas como apologia por reafirmarem sua grande potencialidade enquanto manifestação artística de cunho evangelizador.

8. Água nova Para escrever estas linhas, procurando inspiração e apropriação, as canções de Mensagem dos Poetas “Mortos” foram ouvidas dezenas de vezes. E o trabalho assumiu, gradativamente, tons mais bonitos e instigantes a cada audição. É uma bela obra, independentemente das motivações religiosas, espiritualistas, transcendentes.

Bem postado dessa maneira, o CD (que também virou livro) valoriza a genealogia de Número Infinito. A coletânea de poemas de Augusto dos Anjos psicografados por Chico Xavier, na qual foi encartada a série de textos musicados para aquela obra, obteve o feito de ser financiado pela Lei Rouanet, a lei federal de incentivo à cultura.

Após o primeiro indeferimento, Zé Henrique Martiniano, com apoio do Instituto SER, recorreu da decisão. A banca de avaliação reconsiderou e aprovou a demanda de financiamento do livro. A justificativa foi a seguinte: “o projeto apresenta impactos positivos no âmbito cultural, uma vez que visa registrar em livro e CD poesias psicografadas pelo médium Chico Xavier, um conteúdo que, independentemente da crença do leitor ou ouvinte, apresenta inegável caráter cultural”43.

43 XAVIER, Francisco Cândido. Número Infinito (Augusto dos Anjos, Espírito). OLIVEIRA, José Henrique Martiniano de e CORRADI, Júlio Adriano Macedo Orgs. Belo Horizonte: Instituto SER, 2016.

35

A decisão foi tomada como vitória, não só pelo autor do projeto, mas para a arte espírita. Para além da religião dos espíritos, mas de outras, cristãs ou não, são cada vez mais numerosas as obras valorosas por seu conteúdo e sua forma. O reconhecimento da qualidade que encerram representa a ruptura das barreiras do preconceito religioso, ainda tão vivo no consumo de arte.

No caso de Mensagem dos Poetas “Mortos”, mesmo o que pode ter soado áspero e estranho numa audição inicial vai fazendo sentido com o ganho de compreensão das intenções do compositor. Arte bem feita é assim, que nem cebola. A apreciação devida carece ser feita por camadas e, uma a uma mais profunda, elas vão ganhando mais lisura nas superfícies e tons mais claros.

Um processo que acaba por nos fazer chorar, mas um choro de quem apreendeu nos sentidos o seu sumo.

Perdoe outra analogia, essa um tanto tosca. As virtudes neutras de obra de arte que ela exala só reforçam o poder do trabalho na perspectiva religiosa, em específico, espírita. As delicadezas dos detalhes, as sutilezas de timbres e interpretações ampliam o raio das harmonias emanadas. Potencializam, portanto, a penetração das mensagens nos sulcos da mente e da alma. As canções arranjadas, interpretadas e mixadas com o zelo esperado de quem tem expertise representam fielmente a conjugação coesa da beleza e da bondade, a meta da arte espírita.

As sementeiras estavam lá, eternizadas há décadas em páginas de revelação da imortalidade e descortinando maravilhas espirituais.

Zé Henrique tomou os grãos nas mãos e os depositou em correntes de água nova com intenções carinhosas. Esse fluxo auditivo reflete as harmonias dos céus e as carrega em suas correntes. Um reflexo ainda tímido, conforme a condição encarnada e os relatos dos espíritos superiores ao descreverem os sublimes ambientes musicais do mais além. De toda forma, o Pai, tão belamente louvado aqui, concede, nesse fluxo criativo, os respingos de sua Criação em nós, que cocriamos no anseio de divisá-lo.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

O artista na transição planetária: mensagem do pintor “morto”

Uma máxima no meio espírita sentencia que “o Espiritismo será não a religião do futuro, mas o futuro das religiões”. Ela foi forjada a partir dos prognósticos de Allan Kardec e Léon Denis em duas obras em especial: respectivamente, A Gênese (item 17 do capítulo XVIII) e No Invisível (capítulo XI). Os pensadores desejaram afirmar, por certo, que os princípios balizares da Doutrina Espírita, hoje, constituirão denominadores comuns das religiões no porvir. Elencam-se como parte desse conjunto de diretrizes as convicções em um Deus criador infinitamente bom, sábio e justo, e em cujos desígnios deve-se confiar, na imortalidade da alma, na reencarnação, no intercâmbio entre encarnados e desencarnados, entre outras.

Projeção análoga pode se supor para a arte espírita, não como arte-síntese do futuro, mas como futuro das expressões artísticas. Os temas sobre os quais versa, edificantes, positivos e consoladores, tenderão se espargir e serão universalizados como subsídio criativo para os escritores, atores, músicos, dançarinos e artistas plásticos.

37

A descrição dos tempos futuros escrita pelo codificador reforça tal hipótese. A sociedade habitante do planeta em regeneração pautará suas relações pela fraternidade, em eixo horizontal, e pela fé, no vertical, sendo ambos os valores arraigados e vivenciados genuinamente. E o depoimento a seguir reforça mais profundamente a ideia da prevalência dos princípios da filosofia e da religião espírita cristã como arrimos, em tempos vindouros, da inspiração, dos processos e das criações artísticas. Ele trata do atual quadro de transição planetária, no qual o caráter pragmático da criação artística se mostra cada vez mais urgente. Guiar-se pelos valores cristãos na perspectiva espírita e portá-los, de acordo com o relato abaixo, exprimem o papel da arte nesta fase de agudos desafios individuais e coletivos.

O Instituto SER realiza sessões de pintura mediúnica em sua sede, nas manhãs de sábado. Manifestam-se e pintam artistas que encarnaram nos mais diversos períodos e países. Logo, associamse a diferentes escolas artísticas. Quem acompanha as atividades e eventos do SER, certamente, já presenciou algumas dessas telas e percebeu a diversidade de autores e estilos. Mais do que criar – sempre cenas atinentes à ambiência espiritual elevada –, os espíritos abrem-se ao diálogo. Eles falam da natureza do trabalho criativo no além e relatam os estudos vivenciais do Evangelho de que participam e nas quais têm experiências sensoriais indescritíveis para a realidade limitada da carne. E também, na maior parte das vezes, dispõem-se a responder as perguntas dos participantes encarnados.

Numa sessão ao fim de 2018 foi recebido o pintor a que chamaremos “Amigo Pintor (AP.)”. Ele, cujo período de atividade, enquanto encarnado, deu-se nas primeiras décadas do século XX, é dos mais assíduos nas reuniões. Naquele período, a equipe de pintores do plano imaterial estudava o livro Boa Nova, de Humberto de Campos. Mais especificamente, os artistas estavam participando recorrentemente de vivências sobre a concepção de Maria e o nascimento do menino Jesus. Na sessão, AP, narrou

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

em detalhes a “aula” que tivera em grupo há pouco, algo que propiciou a imersão em ambientes diversos, com experiências visuais e climáticas – numa tradução minimamente possível.

Mais ao fim da conversa, uma colaboradora do SER expôs a AP. os temores perante o período de transição planetária, processo que vem se asseverando, conforme se percebe e atesta a espiritualidade.

Como viver e seguir criando em um contexto de opressão, de restrição de liberdades e patente sofrimento humano?

A resposta do pintor está transcrita na sequência. Tentou-se preservar ao máximo o teor original da exposição. AP. disserta sobre a missão das manifestações artísticas neste período conturbado.

Expõe o eterno compromisso do artista com a liberdade, contudo, promovendo um direcionamento de significação: o criador deve se libertar no Criador. Esse tema filosófico, a liberdade plena com Deus, a tentativa de compreensão da autonomia de arbítrio de quem comunga plenamente com o Pai, é por demais complexo para ser explorado aqui com o mínimo de proveito. E uma tarefa desse porte nem constitui o propósito desta apresentação.

De toda forma, em termos gerais, AP. reconhece o desafio que se impõe à arte e ao artista na transição do orbe terrestre. Ele se prepara para reencarnar. Irá assumir o papel de missionário do Cristo com as mãos ocupadas nos pincéis, na pena ou na argila, com os pés fincados nos palcos ou nas galerias, com os olhos voltados para o alto, para o mais além. AP. sabe que precisará cantar sussurrando para acalentar as crianças em pranto, assustadas.

Seu canto será conduzido pelo vento suave emanado das asas da borboleta. Arte em forma de sopro, emissário do hálito divino.

“Os conhecimentos que estamos adquirindo agora têm extrema importância para o que deveremos desempenhar. Isso porque não são conhecimentos intelectuais, mas, preponderantemente, da área emocional. Esse método de ensino é usado há milhares de anos, não é exclusivo de agora. E, desde que eu reencarno, eu recebo esses conhecimentos. Mas, talvez, seja a primeira vez em que eu

39

os esteja recebendo sendo receptivo a eles e digerindo-os com vontade. Hoje, eu me encontro em um estágio em que não me importo mais em parar para pensar, ainda que isso seja, sob o meu ponto de vista, muito doloroso. Muito doloroso mesmo!

Dou um exemplo. Depois que tive essa vivência sobre Maria (relatada anteriormente) – e ela mexeu tanto comigo – por esses dias, eu estava numa roda de amigos da pintura e falávamos sobre arte e sobre as perspectivas dos artistas neste momento que está se aproximando, especialmente para a Pátria do Evangelho.

Refletíamos sobre como seria a manifestação artística na Pátria do Evangelho a partir dessa nova perspectiva. Não demorou 5 minutos e todos ficamos meio desanimados. Mais um pouquinho, estaríamos reclamando. Então, eu me lembrei de Maria.

E, no meio de um raciocínio em que eu iria reclamar, parei e pensei: o que é mais difícil, ir para o planeta e enfrentar este momento grave de transição, transpor seus obstáculos – mas no mundo como está agora, em que existem órgãos de defesa do ser humano, num país onde as pessoas são solidárias de um jeito ou de outro, onde já se provou a eficácia do plano de governo de Ismael e que esse plano não sai um milímetro sequer de sua vontade – ou ir para este planeta 2.000 anos atrás, quando não havia nada disso, e encarar levar no ventre o governador do planeta, contrário vibracionalmente a tudo que existia até então? O que é mais difícil? Sem dúvida, eu acredito que seja muito mais difícil ir contra tudo, porque a arte é sutil, ela não vai contra tudo. Ela faz isso com delicadeza. Embora seja um grito, é afinado, é verdade, é um grito musical. O grito de revolta é grito desafinado. (...)

A liberdade que se vive hoje não é uma conquista sólida, mas uma conquista como de uma criança, que não sabe lidar direito com o que conquistou. Não se trata de uma conquista humana.

E como se sabe disso? Porque a humanidade está gritando. Se estivesse falando baixo, sussurrando, seria a concórdia, e ninguém

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

teria medo de perdê-la. E sabe por que todos têm medo de perdêla? Porque não a conquistaram, de fato.

Mas não é esse o problema. A arte sempre esteve na Terra com a missão de libertação. O artista não pode esperar outra coisa que não a luta pela liberdade. Porque, se ele não estiver lutando por alguma liberdade, não estará exercendo o papel dele. Se a arte não significar liberdade em algum aspecto, não atende a que veio.

E, se não está atendendo a que veio, é inútil.

Em tempos de paz, a arte luta pela liberdade de consciência, luta pela liberdade espiritual, a liberdade de expressão. Em tempos de opressão, a arte a luta pela comunidade, pela liberdade plena com Jesus, que é a liberdade de servir, sofrer e morrer. É viver a plenitude da alegria cristã. O artista, realmente, se sente honrado de receber das mãos do Cristo a oportunidade de expressar a arte plena.

E nunca a arte se mostra tão plena como em tempos difíceis.

Em tempos de guerra, é ela a expressão mais nobre. O sofrimento desses períodos ativa-a, porque a arte é uma concessão de Deus para o consolo. Então, em tempos ruins é que pululam os artistas, é que vêm os grandes mestres, honrados. Portanto, o artista não deve se preocupar. Deve trabalhar no silêncio da sua obediência e no destemor da coragem cristã, aquela que não incentiva a se cortar outra vez a orelha do soldado e nem maldizer quem lhe dá pedradas.

Hoje, a arte é chamada não aos gritos da revolta, ainda que se façam afinados. A arte é chamada, hoje, para o silêncio da obediência a Deus. E, quando os homens não estiverem obedecendo a Deus, a arte vai se lembrar que o propósito dela é para com Deus, e não para com os homens. É ao Criador que ela deve agradar, e não aos homens, embora deva servir à educação dos homens.

Sabemos que nem sempre o educando está em comum acordo com o educador, sentindo-se agradado por este. A maioria dos educandos está desagradada da própria educação em razão de um sistema de comodismo.

41

Assim, por que se preocupar se haverá oportunidade de fazer o que é preciso ser feito, que é sussurrar a harmonia em meio aos gritos de desespero? Será como cantar uma cantiga para a criança que está chorando. Será esse o papel da arte! A criança chora, e o artista, em vez de chorar com ela, canta para que ela se acalme pelo tempo que for necessário. Ela chora, e o artista canta.

Ela chora, e o artista pinta.

As pessoas gritam de desespero e revolta, e o artista traz a beleza da liberdade com Deus, sem se importar se receberá as pedradas da incompreensão. E, se for esse o caso, a obra terá o dobro de valor, pois expressará que não é conivente com os valores de um mundo desarvorado. Eu vou voltar para este mundo como alguém que vai precisar sussurrar no meio da crise. Porque a minha arte, um dia, já esteve a serviço da opressão, e hoje ela precisa estar a serviço de Deus.

Se perdermos privilégios? Ótimo! Vamos aprender a fazer arte sem recursos. Já foi feita assim no passado e pode ser feita de novo. O que se obtém uma vez pode se obter sempre. Não conquistaram certos direitos? Conquista-se de novo! A Revolução Francesa é prova disso. Conquistaram uma liberdade que não durou um século! Em pouco tempo, já havia outro imperador no trono. E perdeu-se tudo que se conquistou a preço de sangue. Por quê? Porque não é a preço de sangue que se conquista a liberdade.

A não ser que seja o próprio sangue, não o do outro. O sangue do outro é impróprio para a própria sementeira. O que são poucos anos de sacrifício se passamos tantos anos criando torturas para nós mesmos?”

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

E mmanuel “... E quem ouve uma sinfonia Sem abrir-lhe a acústica da alma Não lhe percebe as notas divinas.”

(Fonte viva)

43

Emmanuel é o mentor espiritual de Chico Xavier e o maestro que orquestrou toda sua obra mediúnica em prosa e verso. Dentre as várias encarnações de Emmanuel, destacamos as relatadas em seus romances históricos e as atestadas pelo médium mineiro com anuência do próprio benfeitor: Publius Lentulus Cornelius Sura: cônsul romano contemporâneo de Júlio César. Condenado à morte no ano 63 a.C. Publius Lentulus Cornelius: senador romano e bisneto do anterior Publius Lentulus Cornelius Sura. Viveu na época de Cristo. Emmanuel transmitiu ao médium as suas impressões, revelando o caráter do orgulhoso patrício romano no romance Há dois mil anos. Publius lutou por Roma, não admitindo a corrupção e demonstrando integridade de caráter. Sofreu durante muitos anos a suspeita de ter sido traído pela esposa Lívia, a quem muito amava. Encontrou-se pessoalmente com Jesus, mas, entre a opção de ser servo do Mestre ou do mundo, optou pela última. Desencarnou na cidade de Pompeia no ano 79, cego e já voltado aos princípios cristãos, vitimado pelas cinzas do Vesúvio.

Nestório: segundo informações da obra Cinquenta anos depois, o personagem renasce em Éfeso, no ano 131. De origem judaica, é escravizado por romanos e conduzido ao país de sua encarnação anterior. Em seus presumíveis 45 anos, demonstrou um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, voltou a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas, onde tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde a infância, foi preso e, por manter-se fiel a Jesus, condenado à morte. Com os demais sentenciados, ante o martírio, cantou de olhos postos no Céu e, no mundo espiritual, foi recebido por Lívia, seu amor de outrora.

Basílio: romano filho de escravos gregos que nasceu no Chipre na condição de liberto no ano 233. Casou-se com a escrava Júnia Glaura e teve uma filha, porém

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

ambas morreram precocemente. Posteriormente, adotou uma criança abandonada numa cesta, que recebeu o nome de Lívia. Viveu com ela até o fim de seus dias.

Os detalhes desta encarnação estão relatados no livro Ave Cristo!

Padre Manuel da Nóbrega: nasceu em Portugal em 1517.

Padre jesuíta português, participou da primeira missão de catequização nas Terras de Santa Cruz (Brasil), no século XVI. Apesar de sua função de missionário, Padre Manuel da Nóbrega foi um conselheiro e articulador do poder político no Brasil. Faleceu em 1570 no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada por Chico Xavier durante participação no programa Pinga-Fogo, da extinta TV Tupi, em 1971, quando, segundo ele, o próprio Emmanuel estava presente.

Padre Damiano: nasceu em 1613 na Espanha, em Ávila, Castela-a-Velha, onde oficiou na igreja de São Vicente.

Desencarnou em idade avançada no presbitério de São Jaques do Passo Alto, no burgo de São Marcelo, em Paris. Alguns detalhes dessa encarnação constam no livro Renúncia.

Marcel Souto Maior relata no livro As vidas de Chico Xavier: “No dia 10 de julho de 1927, na fazenda da senhora Carmem Pena Perácio, enquanto rezavam, Carmem ouviu uma voz de um Espírito que se identificou como ‘Emmanuel, amigo espiritual de Chico’, onde logo após o viu como ‘um jovem imponente, com vestes sacerdotais e aura brilhante’. (...) O ano de 1931 foi movimentado para Chico. E triste.

Cidália morreu em março. (...) Chico se sentia sozinho apesar das visitas esporádicas da mãe e das sessões no Centro Luiz Gonzaga.

Para escapar do coro dos céticos, ele arrastava os pés pelas ruas de terra do arraial e, com os sapatos sempre frouxos, tomava o rumo do açude. Aquele era seu refúgio. Ali, ele se encolhia à sombra de

45

uma árvore, na beira da represa, encarava o céu e rezava ao som das águas. Em 1931, o bucolismo da cena deu lugar ao fantástico.

O rapaz teve sua conversa com Deus interrompida pela visita de uma cruz luminosa. Franziu os olhos e percebeu, entre os raios, a poucos metros, a figura de um senhor imponente, vestido com túnica típica de sacerdotes. O recém-chegado foi direto ao assunto.

– Está mesmo disposto a trabalhar na mediunidade?

– Sim, se os bons Espíritos não me abandonarem.

– Você não será desamparado, mas para isso é preciso que trabalhe, estude e se esforce no bem.

– O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso?

– Perfeitamente, desde que respeite os três pontos básicos para o serviço.

Diante do silêncio do desconhecido, Chico perguntou: – Qual o primeiro ponto?

A resposta veio seca: – Disciplina.

– E o segundo?

– Disciplina.

– E o terceiro?

– Disciplina, é claro.

Chico Xavier concordou. E o estranho aproveitou a deixa: – Temos algo a realizar. Trinta livros para começar.

O rapaz levou um susto. Como iria comprar tinta e papel?

Quem pagaria a publicação de tantos títulos? O salário de caixeiro no armazém de Felizardo mal dava para as despesas de casa, os 13 mil-réis mensais eram gastos com catorze irmãos; seu pai era apenas um vendedor de bilhetes de loteria.

Chico arriscou uma previsão.

– Papai vai tirar a sorte grande?

O forasteiro encerrou as apostas: – Nada, nada disso. Sorte grande mesmo é o trabalho com fé em Deus. Os livros chegarão por caminhos inesperados.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

O roteiro estava escrito. Restava ao matuto de Pedro Leopoldo seguir as instruções. Seus passos, tropeços e quedas, muitas quedas, seriam acompanhados de perto por aquele estranho a cada dia mais íntimo, O nome dele: Emmanuel, o mesmo que tinha se apresentado a Carmem Perácio quatro anos antes. A missão: guiar o rapazote e evitar que ele fugisse do script traçado no além. Chico deveria colocar no papel as palavras ditadas pelos mortos e divulgar, por meio do livro, a Doutrina dos Espíritos.”

A obra de Allan Kardec, que congrega a Codificação Espírita, é nossa primeira graduação. A obra de Emmanuel e seus colaboradores, através do médium Chico Xavier, pode ser considerada uma pós-graduação no assunto.

A obra mediúnica atribuída a Emmanuel atualmente é tema de pesquisas e estudos acadêmicos, em 2017 foi analisada por uma técnica de aprendizado de máquinas chamada Deep Learning, desenvolvida pela Stilingue Inteligência Artificial São Paulo, uma empresa brasileira que trabalha com análise de textos via inteligência artificial. No caso de Chico Xavier, o estudo selecionou três dos principais autores que trabalharam com o médium: Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos. Ao fim do processo, os computadores foram incapazes de encontrar os mesmos padrões de estilo de uma entidade espírita nos textos da outra. A pesquisa concluiu que os três autores são marcadamente diferentes. Prova de que cada Espírito tinha um estilo próprio de narrativa e que Chico Xavier foi apenas o “meio” usado para se expressarem.

Obra A obra mediúnica de Emmanuel é composta por mais de uma centena de livros, muitos deles traduzidos para diversos idiomas. Podemos destacar: A Caminho da Luz, coleção Fonte Viva, O Consolador, Pensamento e Vida e a série de romances históricos, com cinco títulos: Paulo e Estevão; Há Dois Mil Anos; Cinquenta Anos Depois; Ave, Cristo!; e Renúncia.

47

Faixa 6 do CD

Sinfonia

Emmanuel, Adriana Gennari e Zé Henrique Martiniano Quem fita o céu, de relance Sem contemplá-lo Não enxerga as estrelas E quem ouve uma sinfonia Sem abrir-lhe a acústica da alma Não lhe percebe as notas divinas Texto extraído e adaptado do livro Fonte Viva, capítulo Ante a lição. O trecho é de extrema beleza e traduz uma grande ideia com o mínimo de palavras.

Faixa 8 do CD

O Verbo na criação terrestre Emmanuel e Zé Henrique Martiniano

A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias Na intimidade das energias Que vitalizam o organismo do Globo.

Substituíram- lhe a providência com a palavra “natureza”, Em todos os seus estudos e análises da existência, Mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, Como é e será a coroa gloriosa Dos seres terrestres na imortalidade sem- fim.

E quando serenaram os elementos do mundo nascente, Quando a luz do Sol beijava, em silêncio, A beleza melancólica dos continentes e dos mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento.

Viu-se, então, descer sobre a Terra, Das amplidões dos espaços ilimitados,

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Uma nuvem de forças cósmicas, Que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso.

Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, Como no fundo dos oceanos, Podia-se observar a existência de um elemento viscoso Que cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.

Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma E, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo O germe sagrado dos primeiros homens.

Texto extraído e adaptado do livro A Caminho da Luz, do Espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. O trecho contido nesta música é uma síntese da história espiritual da Terra.

Emmanuel narra com poesia desde a gênese planetária até o surgimento dos primeiros homens.

A obra aborda a história da civilização, destacando fatos que transformaram o planeta a partir da ótica da espiritualidade, como frisa o autor na sua introdução. A abordagem histórica apresentada por Emmanuel proporciona um entendimento mais profundo sobre o papel de Jesus no processo de nossa evolução espiritual.

O arranjo desta música inclui instrumentos africanos, como o djembe, a tina e o caxixi, remetendo ao continente onde teria surgido a humanidade.

49

Humberto de Campos “Meu problema atual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.”

(Boa nova) MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Jornalista, crítico, contista e memorialista, nasceu em 25 de outubro de 1886 em Miritiba (MA) – que hoje se chama Humberto de Campos em homenagem ao escritor – e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 5 de dezembro de 1934. De infância pobre, desde cedo começou a trabalhar no comércio. Aos 17 anos, mudou-se para o Pará, onde conseguiu o posto de colaborador e redator na Folha do Norte. Em 1910, publicou seu primeiro livro, a coletânea de poesias intitulada Poeira, primeira série. Em 1912, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Humberto escrevia uma seção política chamada Ecos, e começou também a produzir contos humorísticos, estes sob o pseudônimo de Conselheiro XX. Esses textos deram ao escritor uma enorme popularidade, só superada pelas crônicas dos primeiros anos da década de 30 assinadas com seu verdadeiro nome. Nelas, Humberto, gravemente enfermo, torna-se o principal personagem de si mesmo.

Foi o terceiro ocupante da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 30 de outubro de 1919.

Em 1927, foi eleito deputado federal pelo Maranhão. A revolução de 1930 dissolveu o Congresso, e ele perdeu o mandato.

O presidente Getúlio Vargas, que era admirador do talento de Humberto de Campos, nomeou-o inspetor de ensino e diretor da Casa de Rui Barbosa. Em 1933, publicou o livro que se tornou o mais célebre de sua obra, Memórias, sobre sua vida.

Humberto de Campos desencarnou em 1934, aos 48 anos, no auge de seu reconhecimento, depois de sofrer por vários anos com o agravamento de seu quadro de saúde, padecendo de perda gradual da visão e problemas no aparelho digestivo.

Poucos meses após sua desencarnação, Humberto de Campos transmitiu ao médium Chico Xavier os primeiros textos da obra Crônicas de Além-túmulo, publicada em 1937.

Entre os anos de 1937 e 1943, a Federação Espírita Brasileira (FEB) publicou cinco livros psicografados pelo médium e atribuídos ao escritor maranhense em espírito: Crônicas de Além-túmulo (1937),

51

Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (1938), Novas Mensagens (1940), Boa Nova (1941) e Reportagens de Além-túmulo (1943).

Em 1944, por meio de uma ação declaratória, familiares de Humberto de Campos processaram Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira. Pediram que a Justiça examinasse as publicações e declarasse se Humberto de Campos era, de fato, o autor dos cinco livros atribuídos a ele após sua morte. E mais: se a conclusão fosse negativa, solicitavam as devidas punições aos responsáveis pelos livros; se positiva, requeriam direitos autorais. O juiz rejeitou a ação, considerada sem cabimento pelos seguintes motivos: primeiro, ao morrer, o indivíduo deixa de possuir direitos civis, de modo que, morto, Humberto de Campos não poderia readquiri-los; segundo, os direitos autorais herdáveis limitam-se aos referentes às obras do escritor produzidas antes de sua morte; terceiro, uma ação declaratória deve requerer a simples declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica, e não a existência ou não de um fato. Em síntese, a ação foi interpretada como uma mera consulta, função que não cabe ao Poder Judiciário. A família do escritor recorreu da decisão, mas, no mesmo ano, a justiça reafirmou a impropriedade da ação. No entanto, por causa do processo, o nome Humberto de Campos, em textos mediúnicos posteriores, foi substituído por Irmão X. Diferentemente de suas crenças enquanto encarnado, ao escrever Boa Nova, diz Humberto: “Hoje não mais cogito de crer, pois sei”.

Obra Sua obra psicografada por Chico Xavier totaliza 14 livros e textos em outros 18 livros. A FEB Editora possui 12 publicações do autor em seu catálogo seja em seu nome ou sob pseudônimo: Crônicas de Além-túmulo; Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; Novas Mensagens; Boa Nova; Reportagens de Além-túmulo; Lázaro Redivivo; Luz Acima; Pontos e Contos; Contos e Apólogos; Contos Desta e Doutra Vida; Cartas e Crônicas; e Estante da Vida.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Faixa 2 do CD

Maria Magdalena

Humberto de Campos e Zé Henrique Martiniano Caminhara sobre as rosas rubras do desejo, Embriagando-se do vinho de condenáveis alegrias.

Jovem e formosa, Emancipara-se dos preconceitos.

Sua beleza a escravizara Aos caprichos de mulher.

Mas que lhe valiam as joias, as flores raras, Se conservava a sua sede de amor?!...

Se, para todos, era ela a mulher perdida A encontrar a lapidação na praça pública.

E antes do famoso banquete em Naim, Onde ungiria os pés de Jesus Com os bálsamos perfumados de seu afeto, Penetrou o umbral da humilde casa Onde o Senhor parecia esperá-la, Tal bondade com que a recebeu num grande sorriso.

Trecho extraído e adaptado do livro Boa Nova, do Espírito Humberto de Campos, psicografado por Chico Xavier. Nesse texto, o autor narra com todo seu talento e maestria a vida de Maria Magdalena e seu encontro transformador com Jesus.

Esta música é um jazz. O jazz surgiu nos bordéis da cidade de New Orleans (EUA), especificamente no bairro de Storyville, no final do século XIX. O livro Boa Nova é uma reunião de pequenas histórias em que Jesus e seus primeiros seguidores são os personagens principais. Complementa e

53

elucida fatos e curiosidades muitas vezes obscuros nas narrativas dos Evangelhos.

Boa Nova faz uma reunião de passagens, organizadas cronologicamente, da vida de Jesus e seus companheiros. Inicia-se logo no nascimento do Cristo, situando o panorama à época de Caio Júlio César Otávio, e termina com as últimas aparições de Jesus após a crucificação.

Maria Magdalena, Joana de Cusa e Maria, mãe de Jesus, são peças importantes e ganham capítulos próprios destinados à explicação de seus papéis ao longo da história.

Haroldo Dutra Dias diz a respeito do livro Boa Nova: “Uma forma literária impecável e um conteúdo moral extraordinário e original! Quando forma e conteúdo se encontram, produzem uma obra de primeira grandeza!”

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Faixa 4 do CD

O coração do mundo

Humberto de Campos e Zé Henrique Martiniano Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo Da escada infinita de Jacob, Formado de flores e de estrelas cariciosas, Por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias, Clarificando os caminhos cheios de treva.

Mas, se Jesus vinha do coração luminoso Das esferas superiores, Trazendo nos olhos misericordiosos A visão dos seus impérios resplandecentes E na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, O planeta terreno lhe apresentava ainda Aquelas mesmas veredas escuras, Cheias da lama da impenitência E do orgulho das criaturas humanas Embalde seus olhos compassivos Procuraram o ninho doce do seu Evangelho; Em vão procurou o Senhor os remanescentes Da obra de um de seus últimos enviados À face do orbe terrestre.

No coração da Umbria Haviam cessado os cânticos de amor E de fraternidade cristã.

De Francisco de Assis só haviam ficado As tradições de carinho e de bondade; Os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, Haviam descido outra vez das selvas misteriosas Das Iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz E aniquilando-lhes a vida.

55

Texto extraído e adaptado do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, do Espírito Humberto de Campos, psicografado por Chico Xavier. A Escada de Jacob refere-se à mencionada em Gênesis (28:12), que representa a ligação entre a terra e o céu: “... e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela...”

Humberto de Campos conta que Jesus realizou, no século XIV, uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de seu Evangelho. Visitou a Úmbria, região da Itália onde viveu Francisco de Assis, um de seus últimos enviados ao planeta.

Por toda parte viu os homens destruindo-se uns aos outros, como se atacados por novos lobos de Gúbio uma referência à lenda de que Francisco de Assis apaziguou um lobo feroz que atacava aquela cidade.

Nesta obra, o autor maranhense narra os principais fatos da história do Brasil, tanto no plano material, como no plano espiritual. Revela com riqueza de detalhes o planejamento das falanges espirituais no desenrolar da história mundial. O relato estende-se desde o despertar da Europa para as grandes navegações no século XV até a Proclamação da República do Brasil, no fim do século XIX.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Faixa 5 do CD

A árvore transplantada

Humberto de Campos e Zé Henrique Martiniano Nas paisagens suntuosas e inéditas,

Onde o calor dos trópicos alimenta e perfuma Assembléias espirituais,

Sob as vistas amorosas do Senhor,

Abençoam praias claras e florestas bravias.

São vibrações gloriosas da espiritualidade, Que se elevam pelo espaço ilimitado, Louvando o Artista Inimitável, O Matemático Supremo

De todos os sóis, de todos os mundos.

A bandeira das quinas

Desfralda-se então gloriosamente Nas plagas da terra abençoada, Pra onde transplantara Jesus

A árvore do seu amor e da sua piedade.

Trecho do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, do Espírito Humberto de Campos, psicografado por Chico Xavier. A letra desta canção, que complementa a anterior, apesar de escrita em prosa, apresenta alto teor poético.

O autor narra como Jesus transplantou a árvore do seu Evangelho no Brasil: “Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás

57

um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro (...)

Daí a alguns anos, o seu mensageiro, Helil, nascia, em 1394, como filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, e foi o heroico Infante Dom Henrique de Sagres, que expandiu as possibilidades das navegações para além dos mares. (...) dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, disse Jesus com doçura: - Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro (...)”

Assim, fora o anjo nomeado governador espiritual da nação brasileira.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Augusto dos Anjos

“Livro onde o Criador Inimitável Grava, com o pensamento almo e insondável Seus poemas de seres e universos” (Parnaso de além túmulo)

59

Nasceu em 1884, no Engenho Pau d’Arco, atual município de Sapé (PB). Precoce, compôs seus primeiros versos aos sete anos de idade. Estudou no Liceu Paraibano, formando-se professor em 1908.

Em 1907, bacharelou-se na Faculdade de Direito do Recife.

Em 1910, casou-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciou-o na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

Com a obra de Herbert Spencer, aprendeu a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendeu a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, absorveu o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o inspirou a perceber que o aniquilamento da vontade própria é a única saída para o ser humano. E a Bíblia, da qual não contestava a essência espiritualística, usava para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos e ideais iluministas/materialistas que emergiam naquela época.

Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino.

Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4h da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina (MG), onde era diretor de um grupo escolar.

A causa de sua morte foi pneumonia.

Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos. Em 1912, publicou seu único livro de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizou uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então inéditos. É patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras e também é patrono da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Sua linguagem poética é impregnada de terminologia biológica e médica, e para ele a vida era uma combinação de elementos químicos e resultava de leis físicas e cósmicas, lutas e decomposição da matéria, crescimento e decadências. É o poeta da morte, dos vermes e cemitérios, de uma morbidez e um niilismo sem remissão. Sua linguagem orgânica e pessimista, mas sempre com ritmados jogos de palavras, ideias e rimas geniais, causava repulsa na crítica e no grande público da época. Ele somente apresentou grande vendagem postumamente.

O poeta científico do Eu, após a morte, tornou-se mais humanista e espiritualizado, mantendo seus conceitos e estilo, mas muito diferente do seu sentir de encarnado.

Obra A obra de Augusto dos Anjos psicografada por Chico Xavier totaliza 75 poemas reunidos no livro Número infinito, coletados de 16 livros: Parnaso de Além-túmulo; Palavras do Infinito; Lira Imortal; Romaria da Graça; Coletânea do Além; Nosso Livro; Vozes do Grande Além; Relicário de Luz; Antologia dos Imortais; Poetas Redivivos; Através do Tempo; Bastão de Arrimo; Confia e Serve; Vereda de Luz; Mandato de Amor; e O Primeiro Livro.

Faixa 7 do CD

Visão dos espaços

Augusto dos Anjos e Zé Henrique Martiniano Vastidões de beleza intraduzível,

Fulgurações entre cósmicos flagelos, Ideações de fúlgidos castelos

Onde mora a beleza indefinível.

Ansiedades trágicas, supremas,

61

Na formação das grandes nebulosas...

Transubstanciações misteriosas

Gerando os organismos dos sistemas.

Focos de potentíssima atração

As moléculas e átomos dispersos, Nos elementos de elaboração

De grandiosos e lindos universos.

Luminosas esteiras de cometas,

Formosos em elipses prolongadas, Graciosas figuras de planetas

Emergindo das cósmicas camadas.

Meteoros celestes, deslumbrantes,

Nas excelsas alturas transcendentes,

Onde vibram os sóis incandescentes, Asteróides e estrelas fulgurantes.

Intensidade bela de harmonia

Que agora sinto, vejo e que percebo,

Grandiosidades do que não concebo Nos apogeus das hiperestesias.

E, sobretudo, emanam das esferas Os equilíbrios das imensidades,

O eterno canto de sublimidades,

Clarões de luzes nas atmosferas...

Sobre todas as coisas assombrosas,

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Fluídos e criações de pensamentos, Todas as maravilhas e portentos,

Há uma luz entre as luzes mais radiosas. É o clarão poderoso, indestrutível,

Que vem das profundezas do passado A luz de Deus, à força do incriado Na exteriorização indescritível.

Poema extraído do livro Lira Imortal, por Espíritos diversos, psicografado por Chico Xavier. Narra de forma magnífica a visão dos espaços descrita pelo poeta sob a ótica do mundo espiritual.

O livro Lira Imortal traz as grandes vozes líricas do simbolismo e do parnasianismo do Brasil e Portugal. Além de Augusto, autores como Auta de Souza, Alphonsus de Guimarães, Antero de Quental, Cruz e Souza e Olavo Bilac, entre outros.

Os poetas transmitiram suas rimas do outro lado da vida, mantendo intactas as características que possuíam quando se encontravam em nosso plano.

63

Faixa 9 do CD

Recordações em Leopoldina Augusto dos Anjos e Zé Henrique Martiniano A sombra amiga destes montes calmos, Meu pobre coração de anacoreta, Amortalhado em fina roupa preta, Desceu à escuridão dos sete palmos.

Viera o fim dos sonhos intranqüilos, Entre grandes e estranhos pesadelos, Satisfazendo aos trágicos apelos Da guerra inexorável dos bacilos.

A morte terminara o horrendo cerco, Sufocando as moléculas madrastas...

Eram milhões de células nefastas, Voltando à paz do túmulo de esterco.

Indiferente aos últimos perigos, Meu corpo recebeu o último beijo E comecei o lúgubre cortejo, Sustentado nos braços dos amigos.

Em triste solilóquio no trajeto, Espantado, fitando as mãos de cera, Rememorava o tempo que perdera, Desde as primárias convulsões do feto.

Porque morrer amando e haver descrido Do Eterno Sol, do qual vivera em fuga?

Como é sombrio o pranto que se enxuga Pelo infinito horror de haver nascido!...

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Depois, vi-me no campo onde a dor medra, Ao contato do chão frio e profundo, Chegara para mim o fim do mundo, Entre as cruzes e os dísticos de pedra.

Terrível comoção pintou-me a cara, Na escabrosa cidade dos pés juntos, Tornara-se defunta, entre os defuntos, Toda a ciência de que me orgulhara.

Trêmulo e só no leito subterrâneo, Sentia, frente à lógica dos fatos, O pavor dos morcegos e dos ratos, Dominar os abismos de meu crânio.

Meus ideais mais puros, meus lamentos, E a minha vocação para a desgraça Reduziam-se a mísera carcaça Para o açougue dos vermes famulentos.

Em seguida o abandono, enfim, do plasma, Os micróbios gritando independência...

E tomei nova forma de existência Sob a fisiologia do fantasma.

Fugindo então ao gelo, à sombra e à ruína.

Do caos sinistro em que vivi submerso Revelou-se-me a glória do universo, Santificado pela Luz Divina.

Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços, Nem arranque meu corpo à última furna, É Leopoldina a generosa urna, Que, acolhedora, me resguarda os ossos.

65

Beije minhalma alegre o pó da rua, Deste painel bucólico e risonho, Onde aprendi, no derradeiro sonho, Que o mistério da vida continua...

Bendita seja a Terra, augusta e forte, Onde, através das vascas da agonia, Encontrei em mim mesmo, em novo dia, Pelas revelações de luz da morte.

Poema extraído do livro Poetas Redivivos, por Espíritos diversos, psicografado por Chico Xavier.

Augusto dos Anjos deixou a Paraíba, onde nasceu, insatisfeito com sua vida profissional. Rumou para o Rio de Janeiro (RJ) em busca de melhores dias, mas não obteve o sucesso esperado. Recebeu um convite para ir para Leopoldina (MG) e lá encontrou emprego, carinho, vida social e cultural.

Fez amigos e deixou saudades, motivo suficiente para a sua permanência. Até hoje, seu nome e sua obra recebem o apreço dos leopoldinenses.

Quando se manifestaram movimentos com o objetivo de levar os restos mortais de Augusto dos Anjos de volta à Paraíba, seus dois filhos, Glória e Guilherme, não consentiram.

Neste poema, o escritor narra de forma irônica e bem-humorada o seu próprio funeral, reiterando seu estilo inconfundível e o desejo de que seus despojos permanecessem sepultados em Leopoldina.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Antero de Quental “Deus!... somente o Eterno, o Impenetrável, Poderia criar o imensurável e o Universo infinito criaria!...”

(Parnaso de além túmulo)

67

Nasceu na ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, no dia 18 de abril de 1842. Com 16 anos, foi estudar direito em Coimbra, época em que já revelava um espírito político, um temperamento irrequieto e atitudes combativas.

Ainda em seus tempos de estudante, já havia composto ou publicado uma parte de sua obra poética de feição romântica.

Antero de Quental foi líder da primeira e uma das mais importantes manifestações do grupo que viria a ser apelidado de Geração de 70, a Questão Coimbrã, com a publicação de sua carta Bom Senso e Bom Gosto, em 1865. A Questão Coimbrã gerou uma intensa polêmica em torno do confronto literário entre os ultrarromânticos e os jovens estudantes de Coimbra, que defendiam uma concepção empenhada, à luz da qual os problemas de ordem social deviam ocupar a atenção dos escritores. Nesse mesmo ano, publicou Odes modernas, poesia revolucionária e iconoclasta.

Depois de graduado, mudou-se para Paris, empregando-se como aprendiz de tipógrafo, a fim de melhor viver suas convicções socialistas. Regressou a Lisboa em 1868, onde formou o Cenáculo, do qual fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós e Abílio de Guerra Junqueiro.

Em 1873, herdou uma quantia considerável de dinheiro que lhe permitiu viver dos rendimentos dessa fortuna. Em 1874, interrompeu suas atividades políticas. Nessa época, lhe advém uma grave crise depressiva, sendo diagnosticado histérico posteriormente. Em 1875, lançou a reedição de Odes Modernas.

Em 1879, mudou-se para o Porto, e, em 1886, publicou aquela que é considerada pelos estudiosos sua melhor obra poética, Sonetos Completos, com características autobiográficas e simbolistas. Os sonetos de Antero de Quental são incluídos por muitos críticos no conjunto dos melhores em língua portuguesa e comparados aos de Camões e aos de Bocage.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Em 1890, devido à reação nacional contra o ultimato inglês de 11 de janeiro, aceitou presidir a Liga Patriótica do Norte, mas a existência do agrupamento foi efêmera. Quando regressou a Lisboa, em maio de 1891, instalou-se na casa da irmã, Ana de Quental.

Portador de transtorno bipolar, apresentava nessa época um estado de depressão permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada, onde, pouco tempo depois, pôs termo à vida.

Obra Sua obra psicografada por Chico Xavier totaliza 55 poemas distribuídos em 19 livros: Parnaso de Além-túmulo; Coletânea do Além; Chico Xavier Pede Licença; Relicário de Luz; Excursão de Paz; Nosso Livro; Assembleia de Luz; Palavras Sublimes; Cartas do Coração; Lira Imortal; Vereda de Luz; Poetas Redivivos; Vozes do Grande Além; Marcas do Caminho; Encontros no Tempo; Estrelas no Chão; Palavras do Infinito; Através do Tempo; e Chico Xavier Inédito.

Faixa 3 do CD

Deus

Antero de Quental, Júlio Corradi e Zé Henrique Martiniano Quem, senão Deus, criou obra tamanha, O espaço e o tempo, as amplidões e as eras, Onde se agitam turbilhões de esferas, Que a luz, a excelsa luz, aquece e banha?

Quem, senão ele, fez a esfinge estranha No segredo inviolável das moneras, No coração dos homens e das feras, No coração do mar e da montanha!

69

Deus!... somente o Eterno, o Impenetrável, Poderia criar o imensurável E o Universo infinito criaria!...

Suprema paz, intérmina piedade, E que habita na eterna claridade Das torrentes da Luz e da Harmonia!

Este poema foi extraído do livro Parnaso de Alémtúmulo, por Espíritos diversos, psicografado por Chico Xavier. A coletânea, primeira obra psicografada pelo médium de Pedro Leopoldo, foi lançada em 9 de julho de 1932 pela Federação Espírita Brasileira.

A primeira edição trazia 60 poemas, assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo. A partir da segunda edição, publicada em 1935, foram sendo gradualmente incorporados novas contribuições à obra até à 6ª edição, publicada em 1955, quando fixou-se a quantidade de poemas em 259, atribuídos a 56 autores luso-brasileiros, entre renomados e anônimos.

Segundo Francisco Thiesen, escritor e pesquisador espírita brasileiro, ex-presidente da FEB, foi Emmanuel o responsável pela organização de Parnaso. A última grande revisão da antologia é atribuída por Thiesen aos autores espirituais. O conteúdo do núcleo temático da antologia revela que sua mais importante matriz de referência é O Livro dos Espíritos (1857), de Allan Kardec.

Parnaso de Além-túmulo, por sua peculiaridade, suscitou rapidamente a reação de literatos e intelectuais brasileiros. Elogiando ou criticando seu conteúdo, membros da Academia Brasileira de Letras, poetas, críticos literários e até psiquiatras

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

pronunciaram-se, à época, a respeito da obra, contribuindo em muito para a sua divulgação.

Várias publicações, tanto em periódicos espíritas quanto na imprensa em geral, por meio de artigos despretensiosos ou pequenos depoimentos sobre o tema, manifestaram-se a favor ou contra o fenômeno da psicografia e debateram sobre pastiche e os méritos literários da coletânea.

O escritor Humberto de Campos, enquanto encarnado, escreveu para o jornal Diário Carioca sobre a primeira edição de Parnaso de Além-túmulo: “(...) os poetas de que ele (Chico) é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta.

Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical.” A partir da segunda edição, há um texto de apresentação atribuído a Humberto de Campos “em espírito”.

O escritor Menotti del Picchia comentou: “Deve haver algo de divindade no fenômeno Francisco Cândido Xavier, o qual, sozinho, vale por toda uma literatura. É que o milagre de ressuscitar espiritualmente os mortos pela vivência psicográfica de inéditos poemas é prodígio que somente pode acontecer na faixa do sobre-humano”.

O escritor Monteiro Lobato afirmou: “Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras”.

O escritor Mário Donato disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo: “Positivamente não aceito a autoria de Chico Xavier, e aceito a de Humberto, como a de Antero, Napoleão, Dumas

71

e qualquer outro que, do lado de lá, tenha o mau gosto de praticar literatura. E creio que essa é a atitude mais humana, a mais condizente com a nossa falta de humildade. É milagre, e o milagre, não explicando nada, explica tudo”.

Alexandre Caroli Rocha defendeu sua dissertação de mestrado A poesia transcendente de Parnaso de Alémtúmulo no Instituto de Estudos de Linguagem, da Unicamp (Campinas, SP). No trabalho, utilizando as ferramentas da análise literária, o pesquisador compara os poemas da antologia com as obras produzidas pelos autores quando ainda encarnados.

Segundo ele, “(...) os textos psicografados continham marcas de autoria dos escritores falecidos, tanto no conteúdo como nos aspectos formais, em um nível que ia muito além da simples imitação.” É importante lembrar que Chico Xavier só estudou até a quarta série do ensino fundamental e, na época do lançamento do livro, trabalhava das 7h às 20h como caixeiro de um armazém em Pedro Leopoldo.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Adelino Fontoura “Agora, homem que sou, pelo Foro Divino, Vivo de corpo em corpo a forjar o destino Que me leve a transpor o clarão das estrelas!...”

(Antologia dos imortais)

73

Adelino da Fontoura Chaves foi ator, jornalista e poeta.

Nasceu na cidade, de Axixá, no Maranhão, em 30 de março de 1859 e faleceu em Lisboa, Portugal, em 2 de maio de 1884.

Aos 10 anos de idade, concluído o primário, começou a trabalhar no comércio. Durante dois anos, manteve contato com Artur Azevedo, quatro anos mais velho, que trabalhava num armazém vizinho. Teriam os dois começado, então, os seus sonhos de homens de letras. Artur foi para o Rio de Janeiro e Adelino alistou-se no Exército, em Pernambuco, e lá passou a colaborar no periódico satírico Os Xênios. Em 1876, esteve no Pará, participando de representações teatrais, utilizando como pseudônimo “Ator Fontoura”. Lá, escreveu no álbum do ator Xisto Bahia o soneto que possivelmente é o mais antigo que se conhece dele. Após uma experiência que lhe custou a prisão, em virtude de um papel que representou no teatro, mudou-se para o Rio de Janeiro e, ali, procurou o amigo Artur Azevedo. Queria atuar como jornalista e ingressar no teatro carioca. Nada conseguindo na carreira dramática, trabalhou em vários jornais como A Folha Nova e O Combate, nos quais publicou muitos de seus poemas.

Em 1882, Artur Azevedo fundou o periódico A Gazetinha e o contratou para o cargo de redator. Lá, Adelino publicou várias poesias e trabalhos em prosa. Pouco antes, Ferreira de Meneses fundara o jornal Gazeta da Tarde, cuja propriedade e redação eram de José do Patrocínio. Nele, Adelino também foi convidado a escrever, pelo próprio Patrocínio, e publicou numerosos trabalhos em prosa.

Adelino Fontoura viveu, nessa fase de sua vida, uma paixão não correspondida e, mesmo com a saúde precária, ao ser convidado para representar a Gazeta da Tarde na Europa, aceitou o encargo. No dia 1º de maio de 1883, partiu, no navio Senegal, para Paris. Lá esperava encontrar melhoras para a saúde, mas deparou-se com um inverno rigoroso. Mudou-se para Lisboa, para onde seguiu José do Patrocínio, na esperança de convencê-lo a embarcar de volta para o Brasil. Seu estado de saúde era crítico e, por isso, foi internado no Real Hospital São José, onde veio a

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

falecer aos 25 anos, justamente quando poderia produzir toda uma obra poética de mérito literário. Foi sepultado no Cemitério Oriental de Lisboa.

Ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, seu amigo Luís Murat escolheu-o como patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. É o único caso de um patrono, na Academia, sem livro publicado. Sua obra resume-se a cerca de 40 poemas reunidos pela primeira vez na Revista da Academia (números 93 e 117).

Obra A obra de Adelino Fontoura psicografada por Chico Xavier é constituída de um único poema no livro Antologia dos Imortais, aqui musicado.

Faixa 10 do CD

Jornada

Adelino Fontoura e Zé Henrique Martiniano Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço, Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...

Partícula, pousei... Encarcerado, eu era Infusório do mar em montões de sargaço.

Por séculos fui planta em movimento escasso, Sofri no inverno rude e amei na primavera; Depois, fui animal, e no instinto da fera Achei a inteligência e avancei passo a passo...

Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas, Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas, A lutar e chorar para, então, compreendê-las!...

75

Agora, homem que sou, pelo Foro Divino, Vivo de corpo em corpo a forjar o destino Que me leve a transpor o clarão das estrelas!...

Nesse soneto, o autor desenvolve a ideia contida na frase atribuída a Léon Denis: “O Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem.”

A coletânea Antologia dos Imortais, com colaboração de Espíritos diversos, foi psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira. Os 193 poemas contidos no livro se apresentam dispostos em três partes: - parte I, com as poesias psicografadas pelo médium Chico Xavier; - parte II, com as psicografadas do médium Waldo Vieira; - parte III, as que foram recebidas por ambos os médiuns, salientando-se que, nessa seção, as poesias de números ímpares são devidas à mediunidade de Chico, e as pares, à mediunidade de Waldo. O método evidencia a preservação da identidade de estilos de um poeta através de dois médiuns diferentes.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Cairbar Schutel “Vivi, vivo e viverei Porque sou imortal.” (de sua lápide)

77

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 22 de setembro de 1868. O nome Cairbar é uma homenagem ao herói épico do livro Poemas de Ossian, de James Macpherson. Frequentou o Colégio D. Pedro II, no Rio. Profissionalmente, iniciou sua trajetória como aprendiz de farmácia ainda na adolescência, evoluindo rapidamente para prático de farmácia. Na capital federal, trabalhou em diversos estabelecimentos farmacêuticos e, em razão de problemas de saúde, aos 17 anos, teve que se mudar da cidade.

Foi para o estado de São Paulo e escolheu como destino final a cidade de Araraquara, onde se empregou na Farmácia Moura, propriedade do Sr. João Baptista Raia, logo destacandose como ótimo e dedicado funcionário. Teve rápidas passagens por Piracicaba e Itápolis até estabelecer-se em definitivo na Vila do Senhor Bom Jesus das Palmeiras, atual município de Matão, em 1895.

Na cidade, teve também grande influência política. Cairbar, um dos fundadores da cidade, ocupou o cargo de intendente, equivalente a prefeito, quando se revelou virtuoso homem público e filantropo.

Seguindo a tradição familiar, Cairbar Schutel era um católico romano atuante. Mas como não obteve respostas às perguntas íntimas a respeito do falecimento de seu pai, procurou outras fontes de informação fora da Igreja. Nesse tempo, residiam em Matão os amigos Calixto Prado e Quintiliano José Alves, que, estimulados por ele, realizaram sessões de tiptologia com a trípode (pequena mesa com três pés). Foi então que, conhecendo na prática que a vida continuava além do túmulo, estudou e abraçou o Espiritismo e dele se tornou um dos maiores divulgadores.

Seu trabalho logo começou a ganhar notoriedade: fundou, em 15 de julho de 1905, o Centro Espírita Amantes da Pobreza (atual Centro Espírita O Clarim). Logo a seguir, em 15 de agosto daquele ano, fundou o jornal O Clarim. Além disso, fazia propaganda da Doutrina por meio de boletins e panfletos e proferia palestras na região Central do estado, além de apresentar programas radiofônicos na antiga PRD-4 de Araraquara.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

O trabalho de Cairbar não parou. Assim foi que, em 15 de fevereiro de 1925, fundou a Revista Internacional de Espiritismo, ainda em circulação, dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas.

Cairbar Schutel faleceu no dia 30 de janeiro de 1938, às 16h15.

Obra Foi autor dos seguintes livros: Espiritismo e Protestantismo; Histeria e Fenômenos Psíquicos; O Diabo e a Igreja; Médiuns e Mediunidades; Gênese da Alma; Materialismo e Espiritismo; Fatos Espíritas e as Forças X...; Parábolas e Ensinos de Jesus; O Espírito do Cristianismo; A Vida no Outro Mundo; Vida e Atos dos Apóstolos; e Conferências Radiofônicas.

Faixa 1 do CD

O bandeirante

Cairbar Schutel e Zé Henrique Martiniano Vivi, vivo e viverei, Porque sou imortal.

Cairbar Schutel foi um divulgador espírita e político brasileiro. Conhecido como “bandeirante do espiritismo”, é considerado um dos pioneiros do movimento espírita no Brasil, juntamente com Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Batuíra, Teles de Menezes e Anália Franco.

Na noite de sua morte, ocorreu um fenômeno raro: comunicou-se por psicofonia, através do médium Urbano de Assis Xavier, proferindo a frase musicada neste trabalho e que foi grafada em sua lápide, no cemitério de Matão (SP). O fato está relatado no livro O Bandeirante do Espiritismo:

79

“Eram aproximadamente 21 horas do domingo quando, junto aos pobres que lamentavam a morte de Cairbar, estava uma menina de 4 a 5 anos chorando com dor de dente”. O já farmacêutico João José Aguiar vai levá-la até a farmácia para um curativo, quando é interpelado por Urbano de Assis Xavier: – O que a menina tem, João?

– Dor de dente. Vou levá-la até a farmácia para medicá-la.

– Então, deixe comigo. Você é farmacêutico, mas eu sou dentista e sou eu quem deve tratá-la.

Já na farmácia, Urbano colocou-a no balcão, pediu instrumentos e ácido fênico, tratou-a e dispensou-a.

Aí, foi lavar a mão e, quando João foi entregar-lhe a toalha, ele virou-se e, num tom de voz diferente do normal, disse: – Joãozinho, vá lá em cima na redação e chame o Pitta, o Campello, o Zeca, a Zélia e o Dias, e diga para eles virem aqui.

– Mas, por que dr. Urbano, se já vamos fechar a farmácia e ir para lá?

– Não teime, João, é o Schutel quem está falando! (...) Os convocados foram rapidamente até o local, e Schutel, através do médium inconsciente e de excelentes recursos, Urbano, abraçou um por um emocionado e se expressou: – A Misericórdia Divina é tão grande que me deu o privilégio de abraçar vocês neste momento de partida para a Verdadeira Pátria. Eu estou muito contente e sendo recebido com um banquete que não mereço, mas o Pai é tão bondoso, que na minha alegria e êxtase, não poderia partir sem comunicar isso a vocês.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

E dirigiu palavras íntimas a cada um dos participantes (...). Completou, então, a reunião expressando-se a todos: – Só que tem um detalhe. Vocês podem ficar zangados comigo, mas preciso falar-lhes o que sinto. Ainda há pouco, vocês conversavam na redação sobre o túmulo que vão erguer para mim.

Nada disso. Espírita não precisa de túmulo. Quero uma coisa simples, uma lápide apenas, e, se vocês quiserem escrever algo nela, escrevam isto: ‘Vivi, vivo e viverei porque sou imortal.’”

81

Johann Goethe “Do passado o registro é incerto agora, Do amanhã é vedado estar ciente.”

(Elegia de Marienbad)

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Poeta, dramaturgo, romancista e ensaísta alemão, Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 28 de agosto de 1749.

Em 1765, iniciou o curso de direito da Universidade de Leipzig. Pouco interessado nas aulas da faculdade e levando uma vida boêmia, em 1768, foi acometido por grave doença e retornou à casa dos pais, onde escreveu suas primeiras poesias.

Em 1772, mudou-se para Wetzlar, no estado de Hessen, trabalhar na corte da Justiça Imperial. O amor por Charlotte Buff, noiva de um amigo, deu origem à obra pré-romântica Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), que termina com o suicídio do personagem principal.

O jovem autor transformou-se em personalidade de fama internacional e foi convidado a fixar residência em Weimar, nomeado ministro do pequeno ducado e recebendo título de nobreza.

Estudou e fez pesquisas na área de ciências naturais. Em 1784, descobriu o “intermaxilar”, osso do corpo humano desconhecido pelos anatomistas da época.

Viajou em 1786 para a Itália, onde ficou até 1788, principalmente em Roma. Essa viagem foi decisiva para a obra do autor e assinalou sua passagem da fase romântica para a clássica.

Em 1794, começou sua amizade com Schiller. Leu as obras de Kant.

Aprofundou, filosoficamente, o seu classicismo. Em 1808, publicou a primeira parte do Fausto e, em 1809, o livro As Afinidades Eletivas.

Em 1806, aos 57 anos, casou-se, mesmo a contragosto da sociedade weimarense, com Christiane Valpius, uma mulher de 23 anos e de origem simples, sem prestígio social. O casal permaneceu junto até a morte dela, em 1816.

Depois de ter perdido a esposa, uma nova paixão anima o coração envelhecido de Goethe ao conhecer, em 1821, a jovem

83

Ulrike von Levetzow. O sentimento o leva a produzir o comovente poema Elegia de Marienbad.

Em 1823, teve o primeiro contato com Johann Peter Eckermann (1791-1854), seu secretário, com quem conversava diariamente e que publicou, em 1837, suas notas sob o título de Conversações com Goethe.

A velhice do autor foi marcada pelas tentativas de encontrar a continuação do Fausto e de elaboração do romance Anos de viagens de Wilhelm Meisters, concluído em 1829.

Goethe dedicou o resto de sua vida à elaboração da segunda parte do Fausto, que foi concluída em 1831, mas publicada só depois da morte do poeta. Johann Wolfgang Goethe morreu em Weimar, Alemanha, no dia 22 de março de 1832.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Allan Kardec “Amai-vos e instruí-vos!”

(O Evangelho segundo o espiritismo)

85

Ao contrário do que alguns pensam, Allan Kardec não é o real nome do responsável pela Codificação da Doutrina Espírita.

Seu verdadeiro nome é Hippolyte Léon Denizard Rivail. Um Espírito lhe revelou que, numa vida anterior, haviam sido amigos e vivido entre druídas, nas Gálias, e que seu nome, na ocasião, era Allan Kardec. Adotou o pseudônimo para diferenciar a obra espírita das anteriores, voltadas à educação e pedagogia.

Ele foi um professor francês, nascido no dia 3 de outubro de 1804 na cidade de Lyon, França. Realizou seus primeiros estudos em sua cidade natal. Com 10 anos, seus pais o enviaram a Yverdum, na Suíça, a fim de completar sua educação no célebre Instituto de Educação, ali instalado, em 1805, pelo professor Johann Heinrich Pestalozzi. A vida de Allan Kardec, que se identifica com a fundação do Espiritismo, não é compreensível sem se considerar a influência de Pestalozzi.

No Instituto de Yverdum, o professor limitava-se a seguir e secundar o aluno em seu autodesenvolvimento, sem forçar-lhe a própria natureza. Os exemplos de beneficência e amor ao próximo vividos por Pestalozzi norteariam para sempre a existência do futuro codificador do Espiritismo.

Terminado seus estudos no instituto, retornou à França.

Rivail logo se pôs a exercer o magistério, a traduzir obras do inglês e do alemão e a redigir livros didáticos.

Em 1823, teve sua curiosidade despertada para o magnetismo animal, ciência estudada anteriormente por Franz Anton Mesmer.

Aplicou parte de seu tempo no estudo criterioso, teórico e prático dos graus do sonambulismo, do transe, da clarividência e de vários outros fenômenos. Tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris.

Em 1854, o magnetizador Fortier falou a Kardec, pela primeira vez, das mesas girantes. A princípio, o educador não se interessou pelo fenômeno, imaginando tratar-se de simples efeito

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

do magnetismo animal. Em maio de 1855, presenciou os fenômenos e percebeu que naquilo devia haver uma causa inteligente.

Aprofundou-se nas investigações, concluindo tratar-se de comunicação de Espíritos de pessoas falecidas que já viveram na Terra. Quando já dominava esses estudos, amigos entregaram a Allan Kardec 50 cadernos contendo anotações de conversas que outros praticantes das “mesas girantes” tiveram com os Espíritos nos cinco anos anteriores.

Ele, então, organizou e conferiu de forma criteriosa as informações. Para garantir autenticidade, verificou todas as respostas obtidas, com outros Espíritos, utilizando para isso outros médiuns.

O trabalho metódico de Kardec e a formulação de perguntas inteligentes foram respondidas por Espíritos superiores, dentre eles, São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg etc. Auxiliaram no trabalho jovens médiuns, como: Julie Baudin (15 anos), Caroline Baudin (18), Ruth Japhet (20) e Aline Carlotti (20) .

As respostas recebidas foram utilizadas para produzir O Livro dos Espíritos, obra-base do Espiritismo, que atingiu um total de 1.019 perguntas na versão final.

Nos anos seguintes, Allan Kardec produziu mais quatro livros, que, com O Livro dos Espíritos, compõem as obras básicas do Espiritismo: O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno, O Evangelho Segundo o Espiritismo e A Gênese. Lançou outras publicações, como O que é Espiritismo, Obras Póstumas, além da Revue Spirite, por ele editada de 1858 até 1869, ano de seu falecimento.

Allan Kardec desenarnou aos 64 anos em Paris.

87

Faixa 11 do CD

Lápide

Goethe, Kardec e Zé Henrique Martiniano Naître, mourir, renaître encore Et progresser sans cesse Telle est la loi Nascer, morrer, renascer ainda E progredir sempre Tal é a lei To be born, to die, to be reborn again And constantly progress That is the law Geboren werden, sterben, wieder geboren werden Und unendlich fortschreiten Das ist das gesetz Nacer, morir, renacer aún Y progresar siempre Tal es la ley Segundo o jornalista Marcel Souto Maior, em seu livro Kardec, a biografia, uma frase do escritor alemão Goethe, extraída de As afinidades eletivas, de 1809, resume a lógica da dinâmica da reencarnação: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, sem cessar. Tal é a lei”.

A frase caiu como uma luva e teria sido adotada pelo Codificador, pois sintetizava as ideias do nascente Espiritismo. Foi adotado como epitáfio na lápide de Allan Kardec no cemitério Père-Lachaise, em Paris, França.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Esta canção, com o objetivo de divulgar o Espiritismo pelos quatro cantos do mundo, é cantada em cinco idiomas: francês, português, inglês, alemão e espanhol.

89

Bibliografia ADELINO Fontoura: Biografia. 2013. Disponível em: < https://www.academia.org.br/academicos/adelino -fontoura/ biografia >, Acesso em: 10 ago. 2018.

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 1. ed. São Paulo: Martin Claret, 2004. 207 p.

BANDEIRA, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros da fase Parnasiana. 3. ed. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1951. 232 p.

CARRARA, Cassio Leonardo. O som da Nova Era: O Clarim e seus maestros. 1. ed. Matão: O Clarim, 2018. 160 p.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1989. 225 p. v. 1. ______. Enciclopédia de literatura brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1989. 375 p. v. 1.

GOETHE, Johann Wolfgang. As afinidades eletivas. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. 319 p. ______. Os sofrimentos do jovem Werther. 1. ed. Porto Alegre: L&PM, 2005. 208 p.

KARDEC, Allan. Biografia de Allan Kardec. In: KARDEC, Allan.

Obras Póstumas. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 17.

LIESENBERG, David. O imortal Cairbar Schutel. 1. ed. Matão: O Clarim, 2018. 240 p.

MENEZES, Raimundo de. Dicionário Literário Brasileiro: Ilustrado.

1. ed. São Paulo: Edição Saraiva, 1969. 104 p. v. 1. ______. Dicionário Literário Brasileiro: Ilustrado. 1. ed. São Paulo: Edição Saraiva, 1969. 290 p. v. 2. ______. Dicionário Literário Brasileiro: Ilustrado. 1. ed. São Paulo: Edição Saraiva, 1969. 524 p. v. 2.

MONTEIRO, Adolfo Casais. Antero de Quental: Poesia e Prosa. 4. ed.

Rio de Janeiro: Editora Agir, 1972. 232 p.

MONTEIRO, Eduardo Carvalho; GARCIA, Wilson. Cairbar Schutel: O Bandeirante do Espiritismo. 1. ed. Matão: O Clarim, 1986. 296 p.

NOVA Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro-São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações LTDA, 1997. 346 p. v. 3.

XAVIER, Francisco Cândido. Número Infinito (Augusto dos Anjos, Espírito). OLIVEIRA, José Henrique Martiniano de e CORRADI Júlio Adriano Macedo (orgs.). Belo Horizonte: Instituto SER, 2016.

REBELO, Marques. Antero de Quental. In: REBELO, Marques.

Antologia Escolar Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1970. p. 190.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

ROCHA, Alexandre Caroli. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. 2001. 230 p. Dissertação (Mestrado em Teoria e História Literária)- IEL, UNICAMP, Campinas, SP. ______. O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade. 2008. 274 p. Tese (Doutorado em Teoria e História Literária)- IEL, UNICAMP, Campinas, SP. SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2003. 272 p. ______. Kardec, a biografia. 1. ed. São Paulo: Record, 2013. 322 p.

STILINGUE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SÃO PAULO. (São Paulo).

Estudo: O espiritismo de Chico Xavier aos olhos da inteligência artificial. 2017. Disponível em: <http://bvespirita.com/Folha%20 Espirita%20-%202017%20-%20Agosto.pdf>. Acesso em: 19 nov.

2018.

STILINGUE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SÃO PAULO. O espiritismo de Chico Xavier aos olhos da inteligência artificial. Folha Espírita, [S. l.], 10 ago. 2017.

XAVIER, Francisco Cândido. Poetas redivivos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1969. 240 p. ______. Lira Imortal. 3. ed. São Paulo: LAKE, 1993. 128 p. ______. Parnaso de além-túmulo. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.

737 p. ______. Há dois mil anos.... 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. 437 p. ______. Boa nova. 37. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. 221 p. ______. A caminho da luz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. 216 p. ______. Fonte viva. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. 448 p. v. 4. ______. Ave Cristo!. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2012. 311 p. ______. Cinquenta anos depois. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013. 286 p. ______. Renúncia. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013. 372 p. ______. Brasil coração do mundo, pátria do evangelho. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2015. 206 p. ______.VIEIRA, Waldo. Antologia dos imortais. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. 345 p.

91

Livro: Momentos de Ouro - Espíritos Diversos A História de um Violino - Maria Dolores Psicografia: Francisco Cândido Xavier

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

1. O Bandeirante “Cairbar Schutel”

Zé Henrique Martiniano da lápide de Cairbar Schutel

// E

/ E79sus / Am79/E / Aadd9/E FM7b5/E / Esus E //

E

E79sus Am79/E

Vivi, vivo e viverei Aadd9/E

FM7b5/E

Esus4 E

Porque sou imortal

// Esusb9 / % // // Em79 / C#7#9/E / Em9M7 Em79 / E79sus4 E7b913 / / Am79/E / D79sus / GM7#5 / CM7b5 / F#m711 / F#dim // // Em79 / C#7#9/E B7b9 / Em9M7 Em79 / E79sus4 E7b913 / / Am79 / D79sus4 / GM7#5 / CM7b5 / F#m711 / B7susb9 //

Coro e Osso: coral Luiz Piquera: arranjo coral e regência Zé Henrique Martiniano: violão, guitarra e arranjo Walter Jr: teclados Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Renato de Sá: cello Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

93

2. Maria Magdalena “Humberto de Campos” Zé Henrique Martiniano do livro “Boa Nova”

// Ebm97+ / Cm7b5 / Dm7b5 / G713b9 G7/F / Em79 / A713b9 / / DM7#5 / GM7#11 / Em79 / C7#11 / Bm79 / Bm79 // Em7911

A7b9

DM7#5

Caminhara sobre as rosas rubras do desejo, C#m7b5

Bm79

F#7b9

GM7 Bm79/A

Embriagando-se do vinho de condenáveis alegrias Em7911

A7b9

Jovem e formosa, DM7#5

GM7

Emancipara-se dos preconceitos F#7susb9

F#7b9

Sua beleza lhe escravizara Bbdim/B

Bm9

Aos caprichos de mulher Em7911

F#7b9 A713

GM7

Em79

Bm79

DM7#5

GM7

Mas que lhe valiam as jóias, as flores raras, F#7susb9

F#7b9

Bm9

Se conservava a sua sede de amor?!...

A713sus4 A7b9

DM79/A

GM7

Se para todos, era ela a mulher perdida F#7susb9 F#7b9

GM7#11

Em79

A encontrar a lapidação na praça pública // Ebm97+ / Cm7b5 / Dm7b5 / Gb7#11 / // Fm79 / Bb7sus4 / EbM7#5 / AbM7 / / G7susb9 / G7b9 / Cm79/G / Gb7#11 //

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Adriana Gennari: voz Zé Henrique Martiniano: guitarra Murilo Barbosa: piano e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Ronaldo Cordas Oliveira: regência Turma do Aramis: orquestra de cordas

// Fm9M7 Fm79 / Bb7b9#11 / EbM79 / AbM7 / Dm7b5 / G7b9 / / Bdim/C / Cm79 / Fm79 / Bb7b9 / EbM79 / AbM7 / G7susb9 / G7b9 /

/ Cm79 / % / AbM7 / Fm79 / Cm79 / % // Fm79

Bb713

EbM79

E7#9

Mas que lhe valiam as jóias, as flores raras, Dm7b5

G7b9

Cm79

A7#9

Se conservava a sua sede de amor?!...

Bb79sus4 Bb7b9

EbM79/Bb

AbM7#11

Se para todos, era ela a mulher perdida G7susb9

G7b9

AbM7#11

Cm9

A encontrar a lapidação na praça pública Fm9M7 Fm79

Bb7b9

E antes do famoso banquete em Naim, EbM79

AbM7

Onde ungiria os pés de Jesus Dm7b5

G7b9

Bdim/C

Com os bálsamos perfumados de seu afeto, Fm79

Cm79

Bb7b9

Penetrou o umbral da humilde casa EbM79

AbM7

Onde o Senhor parecia esperá-la, G7susb9

G7b9

AbM7

Tal bondade com que a recebeu num grande sorriso / Dm7b5 / G7b9 / Bdim/C / Cm79 //

95

Fm79

3. Deus “Antero de Quental”

Júlio Corradi e Zé H. Martiniano do livro “Parnaso de Além Túmulo”

Amadd9

Quem, senão Deus, criou obra tamanha, Em79

O espaço e o tempo, as amplidões e as eras, Amadd9

Onde se agitam turbilhões de esferas, Em79

Que a luz, a excelsa luz, aquece e banha?

Cadd9b5 Am79

Em79

Quem, senão ele fez a esfinge estranha Cadd9b5

Am79

Cadd9b5

Am79

Em79

No segredo inviolável das moneras, Em79

No coração dos homens e das feras, Cadd9b5

Am79

Em79

No coração do mar e da montanha!

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Am7

F79sus

Bm7

Deus!... somente o Eterno, o Impenetrável, D79sus

Poderia criar o imensurável Cm79/G

G79sus

Gm7

G79sus Gm7

E o Universo infinito criaria!...

Cm79

F#m6#5

Dm/F

Suprema paz, intérmina piedade, E7#9

EbM79 D7b9 Gm7

G79sus

G79sus

Gm7

E que habita na eterna claridade Cm79/G

Das torrentes da Luz e da Harmonia!

Sérgio Sanches: voz Zé Henrique Martiniano: violão, arranjo Walter Jr: teclados e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Deni Feijó: cello Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

97

F79

4. O coração do mundo “Humberto de Campos” Zé Henrique Martiniano

do livro “Brasil, Coração do Mundo,

Pátria do Evangelho”

DM79

Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo Bm79

Da escada infinita de Jacob GM7

Formado de flores e de estrelas cariciosas Em79

Por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias C#m7b5

F#7b9

Clarificando os caminhos cheios de treva DM79

Mas, se Jesus vinha do coração luminoso Bm79

Das esferas superiores GM7

Trazendo nos olhos misericordiosos Em79

A visão dos seus impérios resplandecentes C#m7b5

F#7b9

E na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros Bm79

GM7

O planeta terreno lhe apresentava ainda Em79

A79sus

A79

Aquelas mesmas veredas escuras Em7911

D/F#

Cheias da lama da impenitência A79sus

A79

C79sus

E do orgulho das criaturas humanas

C79

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

FM79

Embalde seus olhos compassivos Dm79

Procuraram o ninho doce do seu Evangelho BbM7

Em vão procurou o Senhor os remanescentes Gm79

Da obra de um de seus últimos enviados Em7b5

A7b9

À face do orbe terrestre FM79

No coração da Umbria Dm79

Haviam cessado os cânticos de amor BbM7

E de fraternidade cristã Gm79

De Francisco de Assis só haviam ficado Em7b5

A7b9

As tradições de carinho e de bondade Dm79

BbM7

Os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, Gm79

C79sus

C79

Haviam descido outra vez das selvas misteriosas Gm79

F/A

Das Iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz C79sus

C79

F/A

E aniquilando-lhes a vida. // BbM7 / Gm79 / C79sus C79 / F/A / Gm79 / C79sus / Fsus / F //

Adriana Gennari: voz Zé Henrique Martiniano: violão e arranjo Walter Jr: teclados e arranjo Otávio Gali: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

99

5. A árvore transplantada “Humberto de Campos” Zé Henrique Martiniano

do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”

// Em79/B / Bbdim / D/A / Ab7b5 / GM7 / F#7#5 / Bm79 // Em711/B Em6/B BmM7 Bm7 Bm6

Nas paisagens suntuosas e inéditas, Em79

A7b9

DM7#5

Onde o calor dos trópicos alimenta e perfuma GM7

Assembléias espirituais,

Ab7b5

Gm6

F#713 F#7#5 B7b9

Sob as vistas amorosas do Senhor, Em79

Bm7911

F#7#5

Abençoam praias claras e florestas bravias.

Em711/B

Em6/B

BmM7 Bm7 Bm6

São vibrações gloriosas da espiritualidade

Em79 A7b9 DM7#5 Ab7b5

Que se elevam pelo espaço ilimitado GM7

Louvando o Artista Inimitável

Gm6

F#713 F#7#5 B7b9

O Matemático Supremo

Em79 F#7#5

Bm7911

De todos os sóis, de todos os mundos MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Bb7susb9 Bb7b5 DM7/A

A

Ab7b9

bandeira das quinas

GM7

F#7b9 BM7/F#

Desfraldase então gloriosamente Em79

Nas plagas da terra abençoada, Am6

Pra onde transplantara Jesus GM7#5

F7b5 A7susb9

D79

F#7#5 Bm911

A árvore do seu amor e da sua piedade.

André de Souza: voz Zé Henrique Martiniano: violão e arranjo Walter Jr: teclados e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

101

6. Sinfonia “Emmanuel”

Adriana Gennari e Zé Henrique Martinianoo do livro “Fonte Viva”

Em79

Cadd9b5

Quem fita o céu, de relance Em79

Cadd9b5

Sem contemplá-lo Em79

Cadd9b5

Não enxerga as estrelas; Em79

Am79

B7susb9

Cadd9b5

E quem ouve uma sinfonia, Am79

B7susb9

Sem abrir-lhe a acústica da alma, Cadd9b5

Am79

Em79

Não lhe percebe as notas divinas.

Cadd9b5

Adriana Gennari: voz Zé Henrique Martiniano: violão e arranjo Walter Jr: teclados Franco Lorenzon: baixo acústico Deni Feijó: cello Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência Gymnopédie n.1 (Erik Satie): música incidental

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

7. Visão dos espaços “Augusto dos Anjos”

Zé Henrique Martiniano do livro “Lira Imortal”

// Am79 Am7/B / Am7/C Am7/D / Am79 Am7/B / Am7/C Am7/E // Am79

Vastidões de beleza intraduzível, FM7b5/A

Fulgurações entre cósmicos flagelos, G6/B

Ideações de fúlgidos castelos G#m6#5

Em/G

Onde mora a beleza indefinível.

FM7

Ansiedades trágicas, supremas, Bm7b5

Na formação das grandes nebulosas...

E7susb9

E7b9

Transubstanciações misteriosas Am79 Am7/B

Am7/C Am7/D

Gerando os organismos dos sistemas.

103

Am79

Focos de potentíssima atração FM7b5/A

As moléculas e átomos dispersos, G6/B

Nos elementos de elaboração G#m6#5

Em/G

De grandiosos e lindos universos.

FM7

CM7/E

Dm79

Luminosas esteiras de cometas,

Dm79/C

Bm7b5

Formosos em elipses prolongadas, E7susb9

E7b9

Graciosas figuras de planetas Am79

Am79/B

Am79/C Am79/E

Emergindo das cósmicas camadas.

Ab79sus

Ab7b5

Meteoros celestes, deslumbrantes, GM7

GmM7

Nas excelsas alturas transcendentes, E/F

E7#5

Onde vibram os sóis incandescentes, F#m79

AM7/E

Asteróides e estrelas fulgurantes.

Ebm7b5

Ab7#5

Intensidade bela de harmonia GM7

F#7#5

Que agora sinto, vejo e que percebo, FM7

E7#5

Grandiosidades do que não concebo F#m79

AM7#5

Nos apogeus das hiperestesias. // Am79 Am7/B / Am7/C Am7/E //

“Visão do espaços”

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Am79

E, sobretudo, emanam das esferas FM7b5/A

Os equilíbrios das imensidades, G6/B

O eterno canto de sublimidades, G#m6#5

Em/G

Clarões de luzes nas atmosferas...

FM7

Dm79

CM7/E

Sobre todas as coisas assombrosas,

Dm79/C

Bm7b5

Fluídos e criações de pensamentos, E7susb9

E7b9

Todas as maravilhas e portentos, Am79

Am79/B

Am79/C

Há uma luz entre as luzes mais radiosas.

Ab79sus

Ab7b5

É o clarão poderoso, indestrutível, GM7

F#7#5

Que vem das profundezas do passado FM7

E7#5

A luz de Deus, à força do incriado AM7#5

Na exteriorização indescritível.

Ladston Nascimento: voz O Consolador: coral espírita Nilza Mello: regência do coral Sensíbile: grupo vocal Suzi Mendes: regência do grupo vocal e arranjo vocal Zé Henrique Martiniano: violão, arranjo e arranjo vocal Walter Jr: teclados e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

“Visão do espaços”

105

Am79/E

8. O verbo na criação terrestre “Emmanuel”

Zé Henrique Martiniano do livro “A Caminho da Luz”

(Am79 A79sus F/A A79sus)

A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias Na intimidade das energias Que vitalizam o organismo do Globo.

Substituíram-lhe a providência com a palavra “natureza”, Em todos os seus estudos e análises da existência, Mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, Como é e será a coroa gloriosa Dos seres terrestres na imortalidade sem- fim.

CM79

Am79

E quando serenaram os elementos do mundo nascente, FM7

Quando a luz do Sol beijava, em silêncio, Dm79

Bm7b5

A beleza melancólica dos continentes e dos mares primitivos, CM79

E7#5

Am79

Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento.

FM7

Viu-se, então, descer sobre a Terra, Dm79

Dm9M7

Das amplidões dos espaços ilimitados, G79sus

Uma nuvem de forças cósmicas, G7b5

G#m6#5

(Am79 A79sus F/A A79sus)

Que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

(Am79 A79sus F/A A79sus)

Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, Como no fundo dos oceanos, Podia-se observar a existência de um elemento viscoso Que cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.

Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma E, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo O germe sagrado dos primeiros homens.

Adriana Gennari: voz Ernesto Gaspar: voz Zé Henrique Martiniano: violão, guitarra, arranjo base e de cordas Walter Jr: teclados e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Beto Oliveira: percussão Marquinhos Froco: bateria Renato de Sá: cello Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

107

9. Recordações em Leopoldina “Augusto dos Anjos”

Zé Henrique Martiniano do livro “Poetas Redivivos”

Cm79

Gm7

A sombra amiga destes montes calmos, F713

BbM7#5

Meu pobre coração de anacoreta, EbM79

Am7b5

Amortalhado em fina roupa preta, D7b9

GmM7

Desceu à escuridão dos sete palmos.

Cm79

Gm7

Viera o fim dos sonhos intranquilos, F713

BbM7#5

Entre grandes e estranhos pesadelos, EbM79

A7

Satisfazendo aos trágicos apelos D7b9

Da guerra inexorável dos bacilos.

Am7b5

D7b9

GmM7 Gm7

A morte terminara o horrendo cerco, Dm7b5

G7#5

CmM7 Cm7

Sufocando as moléculas madrastas...

C#dim

Cm7

Gm79/D EbM79

Eram milhões de células nefastas, C7

D7

Voltando à paz do túmulo de esterco.

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Am7b5

D7b9

GmM7 Gm7

Indiferente aos últimos perigos, Dm7b5

G7#5

CmM7 Cm7

Meu corpo recebeu o último beijo Gm79/D EbM79

C#dim

Cm7

E comecei o lúgubre cortejo, Am7b5

D7b9

GmM7

Sustentado nos braços dos amigos.

Gm7

Cm79

Gm7

Em triste solilóquio no trajeto, F713

BbM7#5

Espantado, fitando as mãos de cera, EbM79

Am7b5

Rememorava o tempo que perdera, D7b9

GmM7

Desde as primárias convulsões do feto.

Gm7

Cm79

F713

BbM7#5

Porque morrer amando e haver descrido Do Eterno Sol, do qual vivera em fuga?

EbM79

A7

Como é sombrio o pranto que se enxuga D7b9

Pelo infinito horror de haver nascido!...

Gdim

GM7

GM7

Depois, vi-me no campo onde a dor medra, GM7/B

Bbm6#5

Am7

Ao contato do chão frio e profundo, Am7

E7#5

G6

E7#5

Am7

Chegara para mim o fim do mundo, D79sus

D7b9

GM7

Entre as cruzes e os dísticos de pedra.

Gdim

GM7

GM7

Terrível comoção pintou-me a cara, Dm79

G713

G6

CM7

Na escabrosa cidade dos pés juntos, Cm7

D7b9

F13

GM7

CM79 B7#9 E7#5

Tornara-se defunta, entre os defuntos, Am7

D79

GM7

Toda a ciência de que me orgulhara.

109

Gm7

Cm79

Gm7

Trêmulo e só no leito subterrâneo, F713

BbM7#5

Sentia, frente à lógica dos fatos, EbM79

A7

O pavor dos morcegos e dos ratos, D7b9

Dominar os abismos de meu crânio.

Am7b5

D7b9

GmM7 Gm7

Meus ideais mais puros, meus lamentos, Dm7b5

G7#5

CmM7

Cm7

E a minha vocação para a desgraça

Gm79/D EbM79

C#dim

Cm7

Reduziam-se a mísera carcaça C7

D7

Para o açougue dos vermes famulentos.

Am7b5

D7b9

GmM7 Gm7

Em seguida o abandono, enfim, do plasma, Dm7b5

G7#5

CmM7 Cm7

Os micróbios gritando independência...

Gm79/D EbM79

C#dim

Cm7

E tomei nova forma de existência Am7b5

D7b9

GmM7 Gm7

Sob a fisiologia do fantasma.

Cm79

Gm7

Fugindo então ao gelo, à sombra e à ruína.

F713

BbM7#5

Do caos sinistro em que vivi submerso EbM79

Am7b5

Revelou-se-me a glória do universo, D7b9

GmM7

Santificado pela Luz Divina.

Gm7

Cm9

Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços, F713

BbM7#5

Nem arranque meu corpo à última furna, EbM79

A7

É Leopoldina a generosa urna, D7b9

Que, acolhedora, me resguarda os ossos.

“Recordações em Leopoldina”

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Gdim

GM7

GM7

G6

Beije minhalma alegre o pó da rua, GM7/B

Bbm6#5

Am7

E7#5

Deste painel bucólico e risonho, Am7

E7#5

Am7

Onde aprendi, no derradeiro sonho, D79sus

D7b9

GM7

D7b9

Que o mistério da vida continua...

Gdim

GM7

GM7

Bendita seja a Terra, augusta e forte, Dm79

G713

G6

CM7

Onde, através das vascas da agonia, Cm7

GM7 CM79 B7#9 E7#5

F713

Encontrei em mim mesmo, em novo dia, Am7

D79

EbM79 AbM7 GM7

Pelas revelações de luz da morte.

Carlos Careqa: voz Allan Vilches: voz Zé Henrique Martiniano: violão, arranjo e arranjo vocal Walter Jr: teclados e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

“Recordações em Leopoldina”

111

10. Jornada 10. Jornada “Adelino Fontoura” Zé Henrique Martiniano do livro “Antologia dos Imortais”

Cm7

Bm6#5

Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço, Bb6

A7#5

Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...

AbM7

G7#5

Partícula, pousei... Encarcerado, eu era Cm9/G

Infusório do mar em montões de sargaço.

Cm7

Bm6#5

Por séculos fui planta em movimento escasso, Bb6

A7#5

Sofri no inverno rude e amei na primavera; AbM7

G7#5

Depois, fui animal, e no instinto da fera Cm9

Achei a inteligência e avancei passo a passo...

Bb79sus

Fm7

Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas, EbM79/Bb

AbM7

Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas, Dm7b5

G7#5

Cm9/G

A lutar e chorar para, então, compreendê-las!...

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

Bb79sus

Fm7

Agora, homem que sou, pelo Foro Divino, EbM79#5

AbM7

Vivo de corpo em corpo a forjar o destino G7susb9

G7b9

Cm79

Que me leve a transpor o clarão das estrelas!...

Plínio Oliveira: voz, piano, arranjo e regência André de Souza: voz Zé Henrique Martiniano: guitarra Claudio Pesse: flauta Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Turma do Aramis: orquestra de cordas

113

11. Lápide “Johann Goethe e Allan Kardec” Zé Henrique Martiniano

da lápide de Allan Kardec

11. A lápide // EbM79 / Gm79

/ Cm79 /

%

Gm79/F EbM79

Naître,

/ Dm7 / DM7 //

Cm79 Am7b5

mourir,

Cm79

%

renaître

Cm79/Bb Am711

Et progresser EbM79 C7

sans cesse

D7#5

Gm7

encore

C#7#11

D7#5

D7susb9 D7

Telle est la loi Em79

Em79/D CM79

Nascer, Am79

E progredir CM79 A7

Am79 F#m7b5

morrer,

renascer

Am79/G F#m711

sempre

B7#5 Em79

ainda

Bb7#11

B7#5

B7susb9 B7

Tal é a lei Gm79

Gm79/F EbM79 Cm79

To be born, Cm79

to die,

And constantly EbM79 C7

Cm79/Bb Am711

Am7b5

to be reborn

progress

D7#5 Gm7

again

D7#5

D7susb9 D7

That is the law

// Em79 Em79/D / CM79 Am79 / F#m7b5 B7#5 / Em79 Bb7#11 / / Am79 Am79/G / F#m711 B7#5 / CM79 A7 / B7susb9 B7 //

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

C#7#11

Gm79

Gm79/F EbM79

Cm79 Am7b5

Geboren werden,

sterben,

Und unendlich

fortschreiten

Cm79

EbM79 C7

Cm79/Bb Am711

D7susb9

Das ist das gesetz Em79

Nacer,

Em79/D CM79

Am79

morir,

Y progresar CM79 A7

D7#5

D7#5

D7

Am79 F#m7b5 B7#5

Am79/G F#m11

renacer

siempre

Gm7

wieder geboren werden

Em79 Bb7#11

aún

B7#5

B7susb9 B7 CM7 Am79 Em7911

Tal es la ley

Jô de Souza: voz Coro e Osso: coral Luiz Piquera: arranjo coral e regência Zé Henrique Martiniano: violão e arranjo Swami Jr: violão de 7 cordas e arranjo Franco Lorenzon: baixo acústico Marquinhos Froco: bateria Turma do Aramis: orquestra de cordas Ronaldo Cordas Oliveira: arranjo de cordas e regência

115

C#7#11

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

117

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

119

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

poemas psicografados por Chico Xavier e CD com poemas musicados por Zé Henrique Martiniano “O projeto apresenta impactos positivos no âmbito cultural, uma vez que visa registrar em livro e CD poesias psicografadas pelo médium Chico Xavier, um conteúdo que, independentemente da crença do leitor ou ouvinte, apresenta inegável caráter cultural.”

Ministério da Cultura

Esta obra reúne um material precioso!

Obras psicografadas em verso e prosa emolduradas por melodias repletas de beleza.

Nove intérpretes convidados, cantando em solo ou duo, orquestra de cordas, coral e a banda Mecânica dos Solos integram os mais de 80 artistas que estão nesta belíssima produção.

Ilustrações exclusivas e informações destacam os grandes protagonistas do projeto: os Poetas “Mortos” e sua mensagem!

1. O Bandeirante

7. Visão dos Espaços

2. Maria Magdalena

8. O Verbo na Criação Terrestre

Cairbar Schutel da lápide de Cairbar Schutel Humberto de Campos do livro “Boa Nova”

3. Deus Antero de Quental do livro “Parnaso de Além Túmulo”

4. O Coração do Mundo 5. A Árvore Transplantada Humberto de Campos do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”

6. Sinfonia

Realização: www.portalser.org

www.lojadoser.com.br

Emmanuel, do livro “Fonte Viva”

Augusto dos Anjos do livro “Lira Imortal”

Emmanuel, do livro “A Caminho da Luz”

9. Recordações em Leopoldina Augusto dos Anjos do livro “Poetas Redivivos”

10. Jornada

Adelino Fontoura do livro “Antologia dos Imortais”

11. A Lápide

Johann Goethe e Allan Kardec da lápide de Allan Kardec Todas as músicas são de autoria de Zé Henrique Martiniano, sendo em parceria as faixas 3, com Júlio Corradi, e 6, com Adriana Gennari.

ZÉ HENRIQUE MARTINIANO

www.portalser.org

MENSAGEM DOS POETAS “MORTOS”

NÚMERO INFINITO

Araraquarense, engenheiro, O que seviolonista, colecionacompositor, em 25 anos guitarrista, éarranjador, muito caminhar.

O cabedal de produtor musical amigos, históriasnae sentimentos e trabalhador Sociedade aumenta na proporção Beneficente Obreiros do do tempo Bem, de Araraquara. palmilhado. Na trajetória, as canções junto.

Estudoucaminharam jazz, música clássica e Cantá-las, hoje, é sublimá-las brasileira com vários professores, com das memórias. mas osé ecos predominantemente autodidata.

Um CD, enfim! Mas sons não bastariam. se juntam justas Tocou A eles com artistas imagens e palavras.

As emoções consagrados, como Leila transbordam e reverberam.

Pinheiro, Roberto Menescal, Quarteto em Cy, Filó Machado, As pedras pisadas ganham Swami Jr., Paulo Martelli, Marcelo tom de saudade porque uma Mariano, Ary Piazzarolo e amiga tomou outro rumo.

Orquestra de Tatuí.

Cacau deu seu “até logo” aos Alguns de seus trabalhos – companheiros de Estradas.

Este composições próprias em sua registro é também um tributo – estão registrados em amaioria ela, que, aqui, canta como nove CDs: Outros Tempos, sempre cantou e cantará. Vidas Arqueólogo das Estrelas, Vida que seguem.

Inteligente, Lomo Jazz, Miosótis, Tudo que é bom tem dos seu Cinema Caipira, Mecânica tempo que pareça tarde.

Solos +– ainda Roberto Menescal (CD/ Número Infinito ODVD), trabalho preenche um(sobre buraco psicografias de Augusto dos no caminho das almas que se Anjos) e Mensagem dos Poetas dispõem a cantar o Espiritismo.

“Mortos” (sobre psicografias de Pedra assentada, trilha reparada, autores diversos). ele é um convite para que sigamos. Estradas não tem fim.

João Gualberto Jr.

Jornalista (juntador de pedrinhas) e cientista político.

Colaborador do SER e evangelizador da infância.

Integrante dos grupos de música espírita Flor de Luz e Henrique Martiniano Verbos de Zé Versos.