



Na cosmologia yanomami, o demiurgo (que possui poderes divinos) Omama foi responsável pela criação dos espíritos que auxiliam os pajés na proteção de seu povo e da floresta, os xapiripë, contra a morte e os males do mundo, criados pelo irmão de Omama, Yoasi.
Segundo o líder indígena e xamã Davi Kopenawa, a etnia yanomami tem um profundo conhecimento da floresta, que para eles é mais do que uma forma de subsistência:
“Os Yanomami não existem à toa. Não caíram do céu. Foi Omama que os criou para viver na floresta. O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria.”






Claudia Andujar/Acervo IMS






Em janeiro de 2023, após o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a imprensa brasileira colocou em pauta a grave crise humanitária que estava acontecendo no território Yanomami, agravada nos cinco anos anteriores pela omissão da gestão governamental antecessora, que causou desestruturação da assistência à saúde indígena e possibilitou o avanço do garimpo ilegal. O monitoramento realizado pela Hutukara Associação Yanomami revelou que em 2021, o garimpo tinha avançado 46% em comparação com o ano anterior, afetando diretamente 56% da população total do território.

A presença do garimpo no território yanomami afeta gravemente a sociedade e a vida dos indígenas. Além da degradação pela contaminação dos rios e do desmatamento da floresta, atrapalhando a caça, pesca e coleta de alimentos, o desmatamento e as invasões propiciam doenças como malária, pneumonia, gripe, anemia e desnutrição.


Daniel Marenco/O Globo
Segundo dados do INPE, 59% dos rios que abrigam comunidades yanomamis em suas proximidades apresentam indícios de contaminação pelo garimpo.



Em paralelo a esses fatores, a forma que o garimpo afeta a vida das crianças yanomamis também não é recente. Dados do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena revelam que, desde 2015, mais da metade das crianças de até cinco anos da TI apresentavam sinais de desnutrição devido o peso abaixo do esperado para suas idades.
Segundo a agência Sumaúma, entre 2019 e 2022, 570 crianças yanomami de até cinco anos morreram por doenças evitáveis.
Em 2023, 307 crianças de comunidades yanomami foram encontradas em estado de desnutrição grave ou moderada segundo o Ministério da Saúde.










Após 18 meses do decreto de emergência pelo Ministério da Saúde no maior território indígena do Brasil, a crise ainda não
teve fim e a desnutrição persiste atingindo crianças indígenas, mas sem a mesma repercussão de 2023.




Em março de 2024, o governo aprovou uma Medida Provisória que liberou R$ 1 bilhão em crédito extraordinário destinado a manutenção e permanência das ações de combate ao garimpo ilegal e saúde dos yanomamis. Os recursos seriam repassados a oito ministérios: Povos Indígenas, Justiça e Segurança Pública, Meio Ambiente e Mudança do Clima, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Defesa, Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Pesca e Aquicultura, além de Direitos Humanos e Cidadania.

Lalo de Almeida/Folhapress





