Issuu além das diferenças 2ªed final

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Francisco Batista Menezes Júnior Elias Inácio de Moraes Organizadores

Além das diferenças VOLUME II Espiritismo e Diversidade Social

2018, Goiânia AEPHUS


Além das diferenças - Espiritismo e Diversidade Social Copyright by Aephus 1ª edição - 1000 exemplares – DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Organização: Francisco Júnior Autoria: Airton Veloso, Alan Castter Martins, Aline Cássia dos Santos, Ângela Teixeira de Moraes, Celita da Guia Mota Cirino, Danilo Messias Moraes, Eliane Gonzaga, Elias Inácio de Moraes, Francisco Batista de Menezes Júnior, Iracilda Messias, Juliano Pimenta Fagundes, Luiz Signates, Márcia Ramos, Roseline de Oliveira Lima, Yasmin Almeida Assessoria editorial: Fátima Salvo Projeto gráfico, capa e diagramação: Juliano Pimenta Fagundes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP

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Além das diferenças - Espiritismo e Diversidade Social / Francisco Batista Menezes Júnior, organizador; / Elias Inácio de Moraes, organizador; Fagundes, Juliano Pimenta, Ilustrador. - Goiânia: Edição Aephus, 2017. 210pg. 1. Espiritismo. 2. Fraternidade. 3. Diferenças sociais. 4. Inclusão social. I. Menezes Júnior, Francisco Batista. III. Fagundes, Juliano Pimenta. CDU: 133.9:316.34

DIREITOS RESERVADOS - o organizador autoriza a reprodução de trechos da obra para fins de estudo e aplicação nas Casas Espíritas, desde que citada a sua origem e autoria conforme a Lei de Direitos Autorais nº 9610/98. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2015 Aephus


A diversidade estabelece a harmonia da natureza Emmanuel / Chico Xavier



SUMÁRIO APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO

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Francisco Batista de Menezes Júnior 1. UNIFICAÇÃO E DIVERSIDADE: A ARTE DE

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VIVERMOS JUNTOS Francisco Batista de Menezes Júnior 2. HOMOAFETIVIDADE E PRECONCEITO

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Elias Inácio de Moraes 3. O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

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Ângela Teixeira de Moraes / Luiz Signates 4. ESPIRITISMO: OBRA DE EDUCAÇÃO

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Airton Veloso 5. FEMINISMO E ESPIRITISMO

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Yasmin Almeida 6. FAMÍLIA E GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Aline Cássia dos Santos / Roseline de Oliveira Lima

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7. DIFERENTES PONTOS DE VISTA DOUTRINÁRIOS NO MOVIMENTO ESPÍRITA Ângela Teixeira de Moraes 8. PARA ALÉM DO CONCEITO DE ASSISTIDO Márcia Ramos 9. CADÊ OS JOVENS? Iracilda Messias 10. DIFERENTES PERSPECTIVAS NA PREVENÇÃO DO ABORTO Elias Inácio de Moraes 11. EVANGELIZANDO CORAÇÕES Eliane Gonzaga 12.GESTÃO DE CONFLITOS NA CASA ESPÍRITA A Juliano Pimenta Fagundes 13. ENTRE A DIFERENÇA E A IGUALDADE: APRENDENDO COM A CONVIVÊNCIA SOLIDÁRIA EM FAMÍLIA E VIDA SOCIAL Alan Castter Martins 14. A CASA ESPÍRITA NA COMUNIDADE: PROMOVER X ASSISTIR Celita da Guia Mota Cirino 15. PUNIÇÃO E JUSTIÇA DIVINA: O LONGO CAMINHO DA VINGANÇA AO AMOR Danilo Messias Moraes

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APRESENTAÇÃO

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ste livro é editado por uma das mais recentes instituições espíritas fundadas em Goiás. Trata-se da AEPHUS – Associação Espírita de Pesquisas Humanas e Sociais, cujo propósito é o de promover o estudo e a pesquisa de temas de interesse da sociedade, relacionando-os às ciências sociais e humanas e ao Espiritismo, entendido este como o conjunto de princípios estabelecidos por Allan Kardec. A obra inaugura uma série de publicações que a AEPHUS planeja oferecer ao público espírita, sempre voltadas para o aprofundamento das reflexões sobre os desafios da sociedade contemporânea, com vistas ao melhor entendimento do pensamento social espírita. Pautando-se pelas inquietações geradas pelas grandes transformações pelas quais passam o Brasil e o mundo, e pela necessidade de um estudo mais aprofundado das ideias espíritas no campo social, a Associação tem por objetivos específicos: I. Promover eventos para o estudo de temas de interesse da sociedade; II. Promover a interlocução com o campo científico, com os movimentos sociais e espiritualistas; III. Desenvolver, incentivar e promover pesquisas científicas de interesse do Espiritismo e da Sociedade; e IV. Compartilhar e publicizar o conhecimento produzido sob a forma de artigos, livros e outras modalidades. As premissas dialógicas permeiam os trabalhos da AEPHUS e, nesse sentido, colocamos esta obra sob a crítica de todos os que se inte-


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Além das Diferenças – Volume II

ressam pela edificação do conhecimento espírita. As opiniões emitidas neste livro não partiram de uma reunião deliberativa da Associação, como se representassem uma posição institucional. Os autores tiveram autonomia na construção dos temas. Mas a condução desta edição expressa a filosofia da entidade que é o respeito à liberdade de expressão e ao pluralismo das ideias. Informamos que nossos canais de comunicação estarão sempre disponíveis para o debate polifônico e respeitoso, sendo, inclusive, bem-vindos os pensamentos discordantes das reflexões que os autores deste livro lançam ao público. Fraternalmente, A Direção


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INTRODUÇÃO

Francisco Batista Menezes Junior* “Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são bem amados meus. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana”. - Espírito de Verdade

DOUTRINA E DIVERSIDADE, que dá sequência ao ALÉM DAS DIFERENÇAS, é o resultado das manifestações obtidas com a circulação do primeiro livro que despretensiosamente publicamos na forma de edição independente, e cuja reação no movimento espírita foi de boa receptividade. Quando da realização do Seminário na Federação Espírita do Estado de Goiás sobre Fraternidade na Casa Espírita, que organizamos em 2016, entre as diversas manifestações a respeito do livro, uma senhora indagou os motivos pelos quais não havia sido abordado o tema HOMOAFETIVIDADE. Naquela ocasião, de público, foi prometida uma segunda edição na qual este tema seria abordado. Posteriormente, dialogando com companheiros do movimento espírita envolvidos no projeto, chegamos ao entendimento de que, * Francisco B. M. Júnior é administrador de empresas compPós-graduação em Planejamento Educacional e Administração Hospitalar. É membro do Conselho Fiscal da Casa de Eurípedes e da Federação Espírita do Estado de Goiás.


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melhor que uma segunda edição, seria lançarmos outro volume, abordando outros assuntos que não haviam sido contemplados naquele primeiro momento. Assim sendo, aqui estamos neste novo volume, trazendo reflexões sobre o tema da homoafetividade, e ampliando para outras questões consideradas relevantes para o movimento espírita na atualidade. Estejamos atentos ao fato de que nossa Doutrina revive os ensinamentos de Jesus e, com Ele, temos como condição essencial a prestação da caridade ao próximo que bate à nossa porta. Então, por que ter medo das diferenças? Gandhi, o notável estadista indiano, disse: “ninguém tem o direito de odiar a pretexto de viver e pensar diferente”. Somos a grande coletividade humana, caminhando juntos na instituição do Bem, embora a grande diversidade nos caracteriza. Todos temos a mesma tarefa, que é a de levar o socorro, a calma e a mensagem de um Deus de Amor como bálsamo na dor. Portanto, indispensável conviver com todos, compartilhar nossas oportunidades de aprendizado e crescimento com aqueles que Jesus convida para cooperarem na construção do espaço de renovação que o Espiritismo proporciona. Não podemos perder de vista o amor, compromisso primeiro de todo cristão, mesmo para com aquele que se apresenta diferente do nosso modo habitual. Falha espetacular seria deixar de dispensar atenção a alguém, apenas porque se apresenta em condições diferentes dos parâmetros que estabelecemos como aceitáveis. O que deve fazer o trabalhador espírita quando está diante de pessoas que divergem frontalmente dos padrões habituais, quer no trajar, quer nas ideias? Como saber se estamos agindo de acordo com o ensinamento espírita ou segundo preconceitos que nem sequer percebemos? O trabalho não é nosso. Acima de tudo prevalece o consenso de que todos somos irmãos perante a Paternidade Divina.


15 As metas organizacionais que são diretamente atingidas pelo bom gerenciamento da diversidade referem-se à responsabilidade moral, ética e social da organização, além das meras obrigações legais e do aumento do seu desempenho. Hoje são muitos que chegam requerendo atenção nas casas espíritas, nos apontando para o amanhã da compreensão e amor que pouco ainda temos como recursos espirituais. Entretanto, quais são as reais diferenças entre eles e nós? Ao apontar, na terceira pessoa do plural, os que se distinguem de nós, não estaremos estabelecendo uma barreira fundada, na maioria das vezes, apenas sobre preconceitos? Pensemos bem. Nossos trabalhos devem ser direcionados relembrando sempre a recomendação de Jesus que nos exorta a fazermos aos outros aquilo que desejamos pra nós. ...o0o...

Elias Inácio de Moraes* Cá estamos, mais uma vez, abraçando com o nosso querido Francisco Júnior este novo projeto, que é a continuidade das reflexões sobre as nossas diferenças, tendo em vista buscar maior nível de entendimento na seara do Espiritismo Cristão. Nossa intenção é enriquecer o diálogo, apresentando os prós e os contras como recomendava Kardec. Para isso convidamos vários companheiros das mais variadas vertentes para colaborarem com essa obra. Aqui temos a presença daqueles que aceitaram o desafio de participar deste projeto, muitos ainda novatos na seara da escrita. * Elias Inácio de Moraes é mestre em Sociologia, educador social na Fraternidade Espírita, criador do blog Fronteiras do Pensamento Espírita e membro do Conselho Deliberativo da Federação Espírita do Estado de Goiás.


Se expor, trazer a público as suas ideias, requer coragem, humildade e abertura para o diálogo. Por isso, nosso caloroso agradecimento a todos os que se dispuseram a contribuir com suas reflexões e seus pontos de vista. Como resultado, temos uma lista de novos autores espíritas, além do retorno de nosso irmão de ideal Luiz Signates, em uma parceria com a Ângela Moraes, e a participação da ativista social Yasmin Pires, da página Feminismo à luz do Espiritismo, no Instagram. Cabe um destaque para o artigo/despedida do companheiro Airton Veloso, produzido na véspera de se transferir para o plano espiritual. Todos os artigos aqui apresentados são a expressão do pensamento dos seus autores, e nisso consiste o nosso primeiro desafio na VALORIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS. Não fizemos nenhuma exigência e não estabelecemos nenhuma restrição. Em alguns casos, estimulamos a produção dos artigos tendo em vista uma experiência específica naquele campo de abordagem. Assim sendo, buscamos com você, prezado leitor, a companhia para nossas reflexões à luz da Doutrina Espírita, que nos faz retornar à grandeza dos ensinamentos de Jesus, abrindo portas para novos entendimentos frente aos problemas que afligem a nossa sociedade nesse momento de transição.


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UNIFICAÇÃO E DIVERSIDADE: A ARTE DE VIVERMOS JUNTOS Francisco Batista de Menezes Júnior



1. UNIFICAÇÃO E DIVERSIDADE: A ARTE DE VIVERMOS JUNTOS

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onviver com as diferenças é algo que parece fácil no discurso do cristão. Todavia, quando somos defrontados na prática, seja na convivência em família, ou nos círculos sociais de uma maneira geral, a tarefa não parece tão simples. No movimento espírita, essa dificuldade também se repete. Diferenças de pontos de vista doutrinários, de processos e procedimentos de trabalho e até a falta de afinidade entre os trabalhadores, constituem desafios do qual não podemos fugir. A maneira mais fácil é fingir que elas não existem, ou excluir dos círculos espíritas aqueles que “não rezam em nossa cartilha”. É compreensível, porque ainda somos seres imaturos e, somente agora, especialmente no Brasil, experimentamos a democracia como valor inerente das relações sociais saudáveis. No caso das instituições espíritas que se propõem a assumir o papel de órgãos unificadores, o esforço em acolher as diferenças é ainda maior. As tradições religiosas do passado imprimiram em nós condutas autoritárias, e seus reflexos ainda permanecem na forma como, mesmo sem querer, coordenamos o movimento espírita. Assim, todas as vezes em que uma situação conflituosa se apresenta, não há melhor reflexão do que esta: “o que Jesus faria em meu lugar?”. Se ele é nosso guia e modelo, observemos o seguinte: 1- Seus discípulos não pensavam nem agiam da mesma forma.


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2- Ele não excluiu do grupo Pedro que o negou, nem Judas que o traiu. 3- Não julgou, aliás, pediu que atirasse a primeira pedra quem nunca pecou. 4- Conseguia enxergar o lado bom de todos e não dispensava os desejosos de servir, por mais que o farisaísmo da época considerasse alguns impuros. 5- Não preferiu Tiago a Paulo de Tarso, nem Paulo a Tiago. Trabalhou com os dois. Estamos longe de agir como cristãos verdadeiros, mas se aceitamos a ética de Jesus como a melhor referência que temos, não podemos olvidar esses exemplos marcantes do Evangelho. Unificar é, antes de tudo, unir, acolher, assimilar as diferentes contribuições dos grupos espíritas que, apesar de agirem ou aderirem a argumentos diferentes dos nossos, desejam, tanto quanto nós, o crescimento e o desenvolvimento do Espiritismo. Se pararmos para pensar, o que nos une é quantitativamente muito maior do que aquilo que nos separa. Não vale a pena abdicar da fraternidade em nome de questões pequenas que surgem em razão do próprio crescimento intelectual das pessoas e das experiências adquiridas em outros ambientes. E o que nos une são os princípios gerais da Doutrina enunciados por Kardec: crença em Deus e na imortalidade da alma, reencarnação, intercâmbio entre o mundo material e o mundo espiritual, evolução dos espíritos, diferentes mundos habitados, e a ética cristã como o paradigma das relações entre os seres. Mas as interpretações e apropriações desses conceitos básicos podem diferir de acordo com o lugar, com a cultura, com a história. E é nessa hora que podem surgir os conflitos e controvérsias que, embora nos difiram, não podem impedir a nossa convivência saudável. Além disso, se não conseguimos lidar com a diversidade interna, como podemos pretender que o Espiritismo dialogue com outras re-


1. UNIFICAÇÃO E DIVERSIDADE: A ARTE DE VIVERMOS JUNTOS

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ligiões e filosofias, cujas fronteiras são ainda maiores? Como falar em unificação, se o que vemos como correta é somente a nossa interpretação e o nosso padrão de raciocínio? Uma das grandes vantagens do Espiritismo é que sua estrutura institucional não é rígida, e os centros espíritas não são súditos das federações. Não há fiscalização nem policiamento regimental capaz de hierarquizar o movimento. Os órgãos unificadores visam, tão somente, agregar esforços na divulgação da Doutrina Espírita, fortalecer a fraternidade entre os espíritas e propiciar a troca de experiências. Logo, para cumprir essa função, não se pode prescindir do espírito democrático e solidário. Pensemos nisso, a fim de evitarmos julgamentos e condenações. Reconheçamos que podemos aprender com os outros, e acolhamos os diferentes com o coração sincero e despido de preconceito. Respeitar as diferenças não significa concordar ou querer o mesmo. Significa que precisamos respeitar o livre arbítrio e praticar a intercompreensão. Como diz Emmanuel: Por tudo isso, aprendamos a observar nos entes amados criaturas independentes de nós, orientadas frequentemente, noutros rumos e matriculadas em outras classes, na escola da experiência. E, acima de tudo, reconhecendo quão importante se faz a liberdade para o desempenho das obrigações que nos foram assinaladas, saibamos respeitar neles a liberdade que igualmente desfrutamos, perante as Leis do Universo, a fim de crescerem e se aperfeiçoarem na condição de livres filhos de Deus.*

* Xavier, Francisco C. Rumo Certo, lição 20. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.


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