Assassin's Creed - Renegado

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— Desculpe, babá Betty, prometo nunca mais fazer isso, e que, de agora em diante, serei um bom menino. O pensamento em meu pai me deu a tal determinação. — É verdade que um dia você foi uma mãe para mim, Betty. É verdade que o que estou fazendo é uma coisa terrível, imperdoável. Acredite, não me sinto contente por estar aqui. Mas o que você fez também é terrível e imperdoável. Seus olhos se estreitaram. — O que quer dizer? Com a outra mão, alcancei o interior da sobrecasaca e tirei um pedaço de papel dobrado, que estendi para que ela o visse na quase escuridão do quarto. — Lembra-se de Laura, a ajudante de cozinha? Cautelosamente, ela fez que sim. — Ela me enviou uma carta — prossegui. — Uma carta em que me contou toda a sua relação com Digweed. Por quanto tempo o mordomo do meu pai foi seu amante, Betty? Não havia tal carta; o pedaço de papel que eu segurava continha nada mais revelador do que meu alojamento para a noite e contava com a luz fraca para enganá-la. A verdade era que, quando reli meus velhos diários, fui levado de volta àquele momento, muitos e muitos anos atrás, quando eu tinha ido procurar Betty. Ela tinha dado seu pequeno “cochilo até mais tarde” naquela manhã fria e, quando olhei pelo buraco da fechadura, eu vira um par de botas em seu quarto. Na ocasião, não me dera conta porque era jovem demais. Eu os vira com os olhos de um menino de 9 anos e não pensei nada sobre eles. Não na ocasião. Nem desde então. Não até a releitura, quando, como uma piada que de repente fazia sentido, eu entendi: as botas eram do seu amante. Claro que eram. Do que eu menos tinha certeza era se o amante dela era Digweed. Lembro-me de que costumava falar dele com grande afeição, mas, por outro lado, todos costumavam; ele havia enganado a todos nós. Mas, quando parti para a Europa, aos cuidados de Reginald, Digweed conseguira outro emprego para Betty. Mesmo assim, o fato de serem amantes era um palpite — um palpite bem pensado, cultivado mas arriscado, com terríveis consequências, se eu estivesse errado. — Lembra-se daquele dia em que dormiu até mais tarde, Betty? — perguntei. — Um pequeno “cochilo até mais tarde”, você se lembra? Ela assentiu cautelosamente. — Eu fui à sua procura — prossegui. — Eu estava com frio, sabe. E, no corredor do lado de fora do seu quarto... Bem, não gosto de admitir isso, mas me ajoelhei e olhei pelo buraco da fechadura. Senti-me corar ligeiramente, apesar de tudo. Ela esteve me encarando malignamente, mas agora seus olhos estavam firmes e os lábios torcidos de forma rabugenta, quase como se aquela antiga intromissão fosse tão ruim quanto a atual. — Eu não vi nada — esclareci rapidamente. — Nada, além de você, dormindo na cama, e também um par de botas de homem, que reconheci como as de Digweed. Você estava tendo um caso


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