Jornal Vaia edição 06

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É pra você Ela quer vadiar

Editorial

“Minha mulher sai todo o dia pra comprar o Vaia e volta pra casa só de madrugada. O que está acontecendo?” . Cornéllius Mansus e-mail

“Só agora conheci o Vaia. Quero ler os números anteriores. Apenas uma observação: eu acho o jornal um pouco preconceituoso. Algumas piadas são de gosto duvidoso.”

“Vaia me tem feito um bem danado. Parabéns pela ousadia de vocês. Agora, só pro Atrabílis: meu querido, gosto cada vez mais de você. Nem imagina há quanto tempo acompanho o teu trabalho. Não só o teu trabalho, a tua vida pessoal também. Que vida emocionante você leva, meu bem. Continua o exuberante frascário de sempre, hein? Safadinho...Sinto tanta vontade de voltar a dar pra você, nego. Só de pensar já fico... Milhões de beijos gostosos.”

Geraldo Gay Dusac Pelotas

Shanadu Monte Crespo Grécia

R: Geraldo, você que é homem liberado e gaio, dedique-se à magia. Sabe qual é, pois não?

R: Neguinha, em meu pensamento eu te vejo requebrando, ora pra cá, ora pra lá... Minha nega,meu amor...

Serpílio Atrabílis-redator

O redator - Serpílio Atrabílis

Cartas Cisma

Caros leitores: A partir deste número nossa linha editorial será a seguinte:

R: Patrão, prenda seu gado. Pois talvez quem sabe o (in)esperado faça uma surpresa. Ela nasceu com o destino da lua. Quem vive na orgia, da noite pro dia não vai se acostumar. Seu mundo é pequeno pra lhe segurar. Ela vai vadiar. O redator Serpílio Atrabílis

Os Editores

Na pua “Eu gostaria de ver publicada uma foto da secretária de que vocês tanto falam. Qual é o nome dela? É bonita? É bonita e gostosa?”

Gueixa Serei tua gueixa Não farei perguntas te darei respostas Não quebrarei teu silêncio Para que possa ouvir teu gozo Não ouvirei a mim Para sempre te escutar

Haroldo Ferreira

Mécle do Espírito Santo Bagé R:Mécle é nome de homem? Ô viadinho, passa aqui na redação e fala com o nosso leão de chácara, o Tonhão Tripé. Ele te dirá tudo o que tu quiseres saber, sim? O redator - Serpílio Atrabílis

Marice Shiavon

Millôr Fernandes

SCRIVERE- Oficina de Criação Literária e a Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul têm o prazer de convidar para a sessão de autógrafos da antologia LAPIDAÇÕES. Dia: 14 de novembro de 2002 Horário: 19 horas Local: Memorial do Rio Grande do Sul 48a Feira do Livro de Porto Alegre

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Luiz Carlos Amaro l.amaro@uol.com.br

“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”

CLASSIVAIA: Precisa-se de estagiária para trabalhar em tempo integral. Selecionam-se garotas para fotos artísticas. Tratar com nossa secretária, dona Nelma

Dica de beleza:

Nossa secretária, dona Nelma, descontraída, discutindo a pauta com o redator-chefe, no caso, eu.

la gosta de combinações, metódica, previsível até nas coisas mais complexas: os cabelos verdes combinam com os tons claros dos olhos esverdeados, como depila as axilas, falta ao olhar uma combinação. Deve ser interessante, vê-la por inteiro. Apreciar os contrastes em pontos diferentes, combinando com bronze da pele. Sabia qual as cores dos trajes que usará nesta semana. Ouviu-a combinar com o cabeleireiro que irá pintar o cabelo com a cor da hora. A dificuldade está em adivinhar a cor da próxima semana. Havia um estímulo para cada cor, interno ou externo! Voltará ao normal? Já é terça-feira! Os tons palhas provocando o outono cintilam, se aproximam pelo saguão do fórum. Pensa num “oi por extenso”, para somente observar, a outra não se afasta, alguém cruza o caminho, finda o tempo, não lhe ocorre nada e ela passa. O cinza da segunda-feira não lhe provocara nenhuma sensação nova, entretanto o dia, com o conjunto: casaco e saia, ficaram mais bonitos com luminosidade do verde. Preto na quarta-feira oferece uma formalidade a sua imagem, presume-se o que ela não terá depois do expediente no último dia da semana. Comportamento oposto, pensando a simbologia da cor, feito segunda pele trajada na manhã anterior. As diversas tonalidades do verde impressionam. Ah! Os saltos altos, oliva, em contraste com o musgo suave das meias somem sob a saia, traz ao presente as imagens campestres: relva molhada e o cheiro de mato. Hum! Quando usará vermelho? Então terá mais partes para combinar tom sobre tom. Verde é uma cor fria, ainda bem que no horizonte do olhar o bronze predomina sobre a vegetação rasteira dos montes, sulcos, saliências e reentrâncias, só o cume tem a cor mais escura.

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V

Não serei eu para ser teu E quando acordar Antes que peça já terei partido

Número 6 Novembro 2002 vivavaia@ig.com.br

Editor: Marco Marques Redator: Serpílio Atrabílis Projeto Gráfico: Gil Pires Jornalista: Victor Hugo da Silva Capa: Gil Pires Colaboradores: Adriano Reisdorfer, Alexandre Mello, Antonio Fernando de Andrade, Aricy Curvello, Cândida Johann, Fernanda Pedrazzi, Fernando Ramos, Gustavo Zortéa da Silva, Haroldo Ferreira, Ivan Rodrigues de Amorim, Josete Lasance, Laurene Veras, Leandro Dartora, Luiz Carlos Amaro, Manuel González Álvarez, Marice Schiavon, Nato Azevedo, Nelson Hoffmann,Rosália Milsztajn, Sammis Reachers, Tânia Lopes Rua Demétrio Ribeiro, 706/601 centro -90010-312-Porto Alegre RS - BRASIL


03 pauta: o eletrodoméstico era daqueles das antigas, que nunca dão problemas. - Há uma crescente descartabilidade dos utensílios, vinculada à necessidade de canalizar, de alguma forma, os excessos de produção. Bem poderia ser entendido como o protótipo da negação da condição cíclica do sistema capitalista, concluiu, alisando a barba, revendo velhos conceitos. -Na verdade, a descartabilidade está ligada a uma nova concepção dos laços familiares, sejam estabelecidos com pessoas ou coisas. É a esteira da queda do mito da fidelidade, arrematou o psicólogo. O que seria da ciência sem a arte? Chegaram a um consenso: melhor seria falar em velha guarda dos utensílios. Embora velho, é sempre atual. Sobrepõem-se novas tecnologias, como a bossa nova e o tropicalismo, mas ali está o eletrodoméstico, dando conta do recado. Gáudio do espírito de Noel. Brilhava de tão moderno. Sharp. Década de 70. Milagre brasileiro, utensílio japonês. Ali desfilaram inúmeros acontecimentos, a história recente do País. Uma abertura lenta e gradual. A melhor esquadra de futebol: Falcão, Zico e Sócrates no mesmo time. O tombo de um muro. Constituição cidadã. O voto de Minerva: “Sim”, a favor do impeachment. Cinco promessas de uma mão espalmada. Há o que o tempo seja incapaz de destruir:os acenos e aquele utensílio. As imagens revezavam-se, mediante singelos afagos. Não havia controle remoto, para arrepio da vaga pós-modernosa. Pior:havia um buraco que, embora não comprometesse a imagem, permitia desvelar o íntimo do aparelho. Fios expostos, azuis, vermelhos e amarelos. Por respeito, ninguém ousava mexer-lhe as entranhas. Ninguém gostava de alimentar o trauma do dia em que rolou escada abaixo. Seria mexer em feridas priscas. De quê adiantaria, se a coagulação nunca viria? Apesar dos pesares, a utilidade manteve-se intacta: continuava reproduzindo em cores os seus causos.Contava-os, ponderado, ou aumentava a voz para superar o burburinho desatento da família.

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Gustavo Zortéa da Silva

Sharp Voltavam-lhe mais e mais lembranças. Havia segredos que apenas o aparelho conhecia. Eram íntimos. As noites da adolescência, primeiro apresentando-lhe a nudez das mulheres, depois testemunhando, estático, de olhos cerrados, as lições hauridas pelo discípulo. Era instável, não tinha uma posição definida sobre as coisas. Falava dos mesmos assuntos, com posicionamentos contraditórios, inconciliáveis. Ensinou-lhe três lições básicas, ensinamentos modernos de um velho tarimbado: livrar-se da busca pela Verdade; identificar as vozes que se velavam por debaixo dos causos; aceitar ouvir e ver, acima de tudo. Cessaram-lhe as recordações. Do quarto, podia novamente ouvir as vozes da sala: a busca pela explicação verdadeira para a durabilidade do aparelho que ora era desativado em nome da renovação. Desistiu de assistir ao jogo. Saudoso, deitado, desligou o novo televisor. Um calafrio varou-lhe a espinha: o fizera à distância, sem afagos, com um simples toque no botão. Foi dominado por um vazio. Preencheu-o com um sussurro: “Vá perguntar ao seu freguês do lado Qual foi o resultado do futebol.”

definição, um poeta que pensa, é de Francisco Miguel de Moura. O definido é Aricy Curvello.Quem é Aricy Curvello? Há pouco, em Setembro de 2000, foi ele galardoado e diplomado Personalidade Cultural da UBE(RJ). A cerimônia aconteceu no Centro Cultural da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. O fato, como sói acontecer com o que atina às artes, passou desapercebido da imprensa e raros, do grande público, poderiam dizer quem é Aricy Curvello. Isto, aliás, já é do seu feitio, um tanto avesso à badalação. Aricy Curvello é poeta e dos grandes. Mora no município de Serra, Espírito Santo, onde,na praia de Jacaraípe, leva uma vida quase anacoreta, no dizer de Erorci Santana. Como especialista em contratos, atua no Departamento Jurídico da Aracruz Celulose S.A.(Ocurso de Direito foi por ele realizado em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais.) Envolvendo-se em política estudantil, foi perseguido e preso, após o golpe de 1964. Peregrinou o país, trabalhou em lugares os mais recônditos, atuou em projetos de importância nacional. Nascido em 1945, é mineiro de Uberlândia, e é Aricy Curvello de Ávila Filho, de nome completo e família tradicional. Desde pequeno faz poesia. Hoje, é dos nossos poetas maiores. Três são seus livros e todos, destaques: Os Dias Selvagens Te Ensinam(1979), Vida Fu(n)dida(1982) e Mais que os Nomes do Nada (1996). O primeiro livro, de estréia, já denuncia a forte procura de uma trajetória própria do poeta. O segundo cresce em rigor formal e acresce em conteúdo humano. O terceiro é obra da maturidade plena do autor. A poesia de Aricy Curvello chama a atenção por sua extremada (desesperada?)perquirição por caminhos novos. Mais que os Nomes do Nada é a sua realização de um modo quase completo. Os textos abrem-se em novos experimentos, a temática universaliza-se e o verbo é só essência.Sem dúvida, a perfeição é a grande angústia do poeta. Mais que os Nomes do Nada é um livro de busca formal e de questionamento humano. Quanto à forma, dois detalhes são muito expressivos: a) o texto aproxima-se do Concretismo, utilizando plasticamente a disposição de letras e palavras sobre o fundo branco do papel e b) o desdobramento do texto leva à emissão de conceitos, à enunciação de máximas. No primeiro caso, são belas realizações poéticas textos como “Que Não Transborde”, “Ulisses no Mar de Nomes”, entre outros; no segundo, temos como exemplos: existir é o próprio caminho. ( a criação do que existe é uma tarefa infinita.) Ser é uma invenção constante.

A

Um poeta que pensa O ser humano é o tema de Aricy Curvello. O homem contingente, transitório, finito; o homem político-social, o homem só, o homem ninguém( salve, ó braço mecânico, //...e homens calados //...mas o Brasil é muito longe dos operários). O homem que é(é?), O homem que não é- O Ser e o Nada, Sartre? Tem-se , de modo mais acentuado, que a poesia de Aricy Curvello se aproxima do conceito do “eterno retorno”, de Nietzsche. E isto fica muito patente desde a abertura do livro, em seu primeiro verso: começar outro recomeçar. Não é só, porém. Ao final, fechando o livro, temos: viver o instante é tudo o que posso viver o instante é tudo o que passa. Esta é a condição humana. De permeio, por todo o livro, perpassa essa vivida e sofrida existência. O começo e o fim são pontas que se ligam, são partida e chegada ao mesmo tempo. É a situação do homem que está aí, a sua existência e circunstância. É o dasein, o “estar-aí”, de Heidegger. A transitoriedade, a finitude, o apenas “estar-aí” da vida. O “sim” do/para o “não”. Iguais. Tudo/Nada. Ou não é essa a vida nossa de cada dia? Pode-se concordar, discordar, tergiversar, contestar, fugir, negar. Enfrentar. Arrazoar, contra-arrazoar. Questionar. Mas, uma vez lido o Mais que os Nomes do Nada, não se pode deixar de reconhecer a força da assertiva de Francisco Miguel de Moura: Um poeta que pensa. Isto é, Aricy Curvello. Eu digo mais- e muita coisa mais pode-se dizer, Aricy Curvello é um poeta que verruma fundo no espírito da gente. O seu texto tem a consciência do real. Ou seja, da verdadeira realidade, daquela realidade que está além das palavras. Afinal, palavras decifram só palavras. Aricy Curvello é poeta que pensa. E que faz pensar. E como faz!...

Nelson Hoffmann professor, escritor e crítico literário gaúcho


ma Nova História Sindical- O Novo Sindicalismo no RS e as lutas sociais dos Bancários, Metalúrgicos e Servidores da Justiça do Trabalho ( Ed. Scortecci, 284 págs.), é resultado de quatro anos de pesquisas sobre Movimentos Sociais Contemporâneos e o Novo Sindicalismo, que conferiu ao autor, Historiador Luiz Carlos Amaro, Título de Mestre em História do Brasil, em1999. Bancários e Metalúrgicos gaúchos, lutando por democracia em meio à “abertura” de Geisel e às greves no ABC, transformaram as cidades de Porto Alegre e Canoas no epicentro do movimento sindical gaúcho, clamando por transformações sociais e se constituindo em personagens históricos e significativos do Novo Sindicalismo. Atores sociais do cotidiano aparecem como sujeitos deste fenômeno social protagonizado por sindicalistas de ramos de atividades diversas, que escreveram com sacrifícios de vidas e que, por esta condição, chegaram aos poderes constituídos do Estado a partir de 1982. Em 1989, surge o Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho- Sindjustra/RS, entidade precursora da resistência, no serviço público federal, por uma sociedade mais justa, projeto interrompido em 1994 com a revisão da Constituição de 88, e que decreta, também, o fim da “Era Vargas”. A ascensão do operário Luiz Inácio Lula da Silva das portas das fábricas à Presidência da República prova, além do significado histórico da mudança, que a luta por um ideal não deve ser tratada como mera utopia. ONDE ADQUIRIR: -Na 48a Feira do Livro de Porto Alegre: Stand 6 -Área Internacional - IBA , Livraria Palmarina - Banca 28 e -Na livraria do Centro de Conveniência UFRGS-C.Vale -Na livraria das Varas Trabalhistas- Térreo- TRT - POA ou DIRETO COM O AUTOR: l.amaro@uol.com.br ao preço de R$ 14,00 + postagem, para colegas TRT.

(O que se passa na cama é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama não conhecer pela rama gozo que seja profundo, elaborado na terra e tão fora deste mundo que o corpo, encontrando o corpo e por ele navegando, atinge a paz de outro horto, noutro mundo: paz de morto, nirvana, sono do pênis Ai, cama, canção de cuna, dorme, menina, nanana, dorme a onça suçuarana, dorme a cândida vagina, dorme a última sirena ou a penúltima...O pênis dorme, puma, americana fera exausta. Dorme fulva grinalda de tua vulva. E silenciem os que amam, entre lençol e cortina ainda úmidos de sêmen, estes segredos da cama. Carlos Drummond de Andrade

(“O amor natural”, Ed. Record, 1992)

Os solteiros sabem mais sobre as mulheres do que os casados...

Ao rés da prosa

o que se passa na cama

... senão, também seriam casados.(*)

“Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive” Henry Louis Menckel

Faquiro

SEM FINAL

hubiera sido tan fácil Hubiera sido tan fácil correr dos o tres leguas, dejar el equipaje atrás y ver que no queda ni sierra. Pero no, allí sobrevive mi aldea, mis robles y mis castaños y los surcos de mi huerta. Hubiera sido tan fácil, traspasarse la barrera, pensar que ya no queda nada que todo ha muerto en ella. Pero no, allí perdura la esencia, el horno aunque apagado, en la cocina la panera, la cama donde nací y la rueca de la abuela. Así que no esperes que me vaya, mi alma está en aldea! Podrán talarte los árboles, podrán abrir carreteras para que se escape el pueblo, o para dar facilidades si nacieran nuevas guerras. Pero no, que yo te quiero así, con maizales y con huertos, como yo te vi de niño, como soñarte te quiero, con siegas y con guadañas y las fiestas con gaiteros. Hubiera sido tan fácil después de una vida entera buscando las cosas nuevas, olvidarse de que existes allá en la alta sierra, donde nacen los arroyos, donde crecen rododendros de mi niñez la memoria y hasta el alma de mis muertos. Cuando niño yo soñaba más allá de mis praderas! Con otros campos y otros lares y otras regiones más bellas. A las gentes de mi entorno, a los niños de mi aldea yo les quisiera cantar, la canción del árbol seco, o la gaviota triste que está muriendo en el mar. Hubiera sido tan fácil no volver la vista atrás...

(*)H.L. Menckel

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04

Manuel González Álvarez Madrid - España

Vin-te ver pelas costas Ivan Rodrigues de Amorim

L Á

LÁ- Lei do assalariado aboliu a escravidão CÁ- Lei do assalariado privatizou a escravidão

E

LÁ- Reforma agrária CÁ-Reforma sexual

C Á

LÁ- Aposentado vive sem medo CÁ- Aposentado vive sem nada Antonio Andrade Rua D. João Moura, 305 -Eng.do Meio -50730-030 - RECIFE -PE

Este é o refrão cantado pelo povão! E também pela dolorida classe média. Chega de embuste! Uma política econômica que comprometeu o futuro do País como nação e dona de seus destinos. Que, a cada dia, a cada MP, a cada acordo internacional, a cada novo empréstimo junto ao FMI, mais e mais submete , como se nosso País fosse colônia, esta grande Pátria que se chama BRASIL! Fora sim! Fora os vendilhões da Pátria. Cadeia para os que fraudaram e continuam mentindo para uso e gozo próprio; para os que corrompem e são corrompidos. Para os que pretendem fazer o Banco Central independente, cuja finalidade é a continuidade dessa política econômica retrógrada e suicida a qual, guiada de fora, tornará insustentável um desenvolvimento baseado em produção e exportação com tecnologia própria, apesar da fala do ministro da pasta respectiva afirmar que “não precisamos gastar com tecnologia, pois é só comprar o que precisarmos lá fora, pois já está

tudo pronto”. “O Mapa da Corrupção no Governo FHC” da Editora Perseu Abramo, cujos autores são Larissa Bortoni e Ronaldo Moura, aborda os dez escândalos mais graves de corrupção no governo FHC, entre 1995 e março de 2002. Além do “Bagunçando Brasília” da Editora Protexto, de Airo Zamoner e que enfoca o lado escuro do poder. É ler e comparar com o que a imprensa (chamada de “grande”) divulga e os dados apresentados. E, como na eleição passada, quando lançaram as novas moedas (“porque os cegos tinham dificuldade de identificar as anteriores...) os intelectualóides de Brasília, acabam de anunciar a entrega ao público da nota de VINTE reais....Já VIMOS esse filme! E para os eleitores, o que ela quer dizer é: VINTE ver pelas costas! FORA!


05 Busca Pra saber de novo o Cântico dos cânticos cantar hosanas ter fé orar... Pra aprender de novo passo a passo os ritos rituais e mitos e tentar amar... Pra começar de novo vestir peça a peça (ou talvez despir) começar do zero e sem força alguma ver o riso solto retornar, abrir... Pra tentar a imagem esculpir o barro ou plasmar de sonhos um doce porvir precisa só coragem e simplesmente IR!...

Apagado Tentações Quem fala em tentações? Quem então, toma a voz do espírito Para sem medo gritar com todas as forças: Eu desejo, Eu desejo a alma mais pura, A mais bela E intensa paixão Capaz de comover, De destruir E arrebatar corações?

Pégaso Quero vestir o teu vôo sentir tuas crinas salgadas que açoitarão meus lábios possuir tuas patas por onde o espaço despenca com seu cardume de nuvens Leva-me contigo em fuga alado até os dentes Haroldo Ferreira (Metade Pássaro, WS Editor, 1999)

Quando a natureza faz amor

Tentações, Tudo são tentações Que glorificam Que aniquilam As fortalezas humanas As frágeis, desprotegidas Fortalezas humanas. Corpos cansados Das angústias dos desejos De que se privam Pensando serem incapazes, Não dignos da realização. Mortais sedentos de imortalidade. Fracos famintos de força Força para viver Carregando o peso de seus desejos nas costas.

Orgulho se meus gestos inda que sóbrios te ferem guardo adagas guardo desejos um brilho de sol no olhar uma cabeça espartana que te contempla ao luar pavão intempestivo e voraz

Haroldo Ferreira (Metade pássaro,WS Editor, 1999)

A flor estremece De gozo Com o beijo Do beija-flor O vento levanta Eufórico as águas Que arrepiam Em finas vagas O mar molha Salga A encosta Com sua língua A lua cintila Com a faixa de sêmen Que o mar Ejacula O sol se excita Em rijos raios Que penetram Úmidas matas E a floresta Cheira a sexo Do orvalho Da manhã No orgasmo das nuvens A chuva chora E o silêncio dorme A terra

Capitulação Deponho minhas armas, minhas faces. Arriscar o salto? Há muito sangue em jogo aqui, nas minhas veias. Desisto da Guerra. Sem ela não sobra nada? Vou com o Nada. Transitarei em sua vertigem.

Sammis Reachers Rio de Janeiro/RJ

Fernanda Pedrazzi ( Espelho de Estrelas Ed. Alcance, 1997)

Meus versos firulas da alma Cacos de pára-brisas quebrados...

AMOR:

Cândida Johann

doce de leite (condensado ou dispersado)

O Náufrago Os planos que malogram, a fortuna que se rende, o fado que tem olhos de acaso e relógio, pelo pesadelo a grande Barca abalroada, três mil passageiros se paralisaram no terror da hora, em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara. Alguns, das águas recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais jovens, fortes ventos e correntes o impeliram para fora da barra, para as altas águas, o alto mar, roído de peixes, que humano já não era, incorporado a medusas, a algas, ao plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal. Agora, sua respiração percorre o litoral.

Classificado Troca-se uma gleba vazia por um coração cheio

Tânia Lopes Foi um erro ter nascido vivendo a esmo na angústia crescido erva má feia e danosa querendo e sonhando ser sombra da rosa a luz me apavora desabrocho por dentro espinho por fora.

Aricy Curvello (Mais que os Nomes do Nada, SP, Ed.do Escritor, 1996)

Laurene Veras

(Re)invenção Fernando Pessoa Se a alma não é pequena, Nela cabe um poema.

Quando a natureza faz amor Rosália Milsztajn rosalia@ig.com.br

Em que jardins campos semeei? Quem na infância de meu passado? Há pessoas que conheço e nunca vi Lugares amados onde não andei Profundo apagado em vida andares em terra desconhecida

Sob a relva

Augusto dos Anjos

a noite quando baixou sobre ti ficaste a relva está molhada de pássaros brancos

A mão que afaga é a mesma que escreve.

eras uma criança do primeiro dia do mundo eu te amei como se fosse a primeira vez na primeira vida

E eu vos direi:”Amai para entendê-los! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender poemas.”

não sono lágrima silêncio não adeus até o último adeus (não, não importa) eu te reconhecerei entre os mortos, sorrindo Aricy Curvello (Os dias selvagens te ensinam, BH - Ed. Vega,1979)

Olavo Bilac

Fechou os livros. As mãos prestes à (re)criação poética.

Gustavo Zortéa da Silva Transbordante de abandono eu que não tenho sono eu já nem como nem sonho nem nada sou uma poeira seca rolando no meio da escada. Laurene Veras


ENTREVISTA

Cláudio Santana e Clarice Müller “Eles conseguem, o Cláudio e a Clarice, um extraordinário equilíbrio entre a expressão e a forma, marca dos grandes contos”, escreveu na orelha do livro Charles Kiefer. E esse comum equilíbrio estende-se além literatura. C e C são afins ideológica e intelectualmente, podemos constatar ao conversarmos com eles durante quatro agradáveis horas do dia 22 de setembro.

Vaia- A afinidade de estilo de vocês é flagrante. Tanto que é difícil dizer, na maioria dos casos, qual narrativa é da Clarice ou do Cláudio. Quando é que vocês se deram conta de que tinham essas semelhanças?

Vaia-- Vocês Vocês jájáparticiparam participaramde dealgum outrosconcurso concursos Vaia literários ou o do Fumproarte foi o primeiro? Clarice- Eu participei de um concurso de contos em Minas, no qual fui classificada entre os dez primeiros. Também fiz o roteiro de um filme média metragem, adaptação de um conto meu, Assassinato por gosto, que se chamou Bola de Fogo, com o Nelson Xavier no elenco, e ganhou também patrocínio do Fumproarte. Vaia- Como é escrever pra vocês? O que significa? Clarice- Criar, assim como ler, é muito solitário. Em literatura você não pode conhecer na hora o resultado daquilo que está escrevendo, a cada parágrafo, sentir a repercussão... A música, o cinema e outras formas não são tão solitárias nesse sentido. Vaia- Quem teve a idéia para o título do livro? Quem fez a capa? Clarice- O projeto gráfico da capa é do Cláudio. No início o título era Carne Viva. Mas uma amiga nossa comentou que já havia um livro com esse nome, da Ruth Rendell. E por gostarmos da Ruth, não quisemos fazer concorrência com ela... Aí, começamos a pensar em outro título. O livro estava quase pronto e então comecei a pensar no quanto o significado da verdade e do verbo eram importantes pra nós. Então a idéia ficou circular e não queríamos dar um sentido só, não poderia ser linear, pois a idéia não era. O nome, Veroverbo, com essa idéia exposta no aspecto gráfico da capa, diz exatamente o que pensamos sobre o conjunto das narrativas. Vaia- O conto que abre o livro, Improvisos, é mais ou menos isso. O jazz aparece como improviso e feeling que une os personagens a partir da idéia/descoberta que se expressa ali. A escolha não foi aleatória, né? Clarice- Não, não foi. Isso é legal. É uma abertura que tem tudo a ver. Boa parte dos livros de contos é uma aglomeração de unidades e não a construção de uma unidade. Eu acho que- pode ser uma pretensão minha, mas, afinal esse livro é resultado de uma pretensão- Veroverbo resultou num livro que se pode ler em diversas ordens e sentidos, mas sempre com a idéia da unidade presente. Vaia- Como é que vocês pensaram a forma para a composição do conjunto das narrativas? Houve acordo desde o início? Clarice- Não teve nada pré-determinado. Partimos de uma premissa: determinados contos seriam certos, pois estávamos convencidos de que eram bons, que representavam algo que realmente queríamos dizer.

“O pior que pode acontecer com o artista é descobrir como nasce a criação” E daí, começamos a fazer o encadeamento, o que casa com o que etc, onde houvesse uma conjunção literária flagrante. Enfim, é um processo muito subjetivo, não dá pra dissecar. Nós postulamos o direito de ignorar como se dá o nosso processo criativo. O pior que pode acontecer com o artista é ele descobrir como nasce a criação. Cláudio- A busca de uma identidade única para o livro se deu aqui nesta sala. Igual ao que acontece agora. Estamos aqui conversando, bebendo... Nos encontrávamos para conversar e acabávamos encontrando idéias para o livro. Foi uma coisa pouco racional, mais intuitiva e emocional, sem critérios e planos... Clarice-... tinha muita coisa inacabada. Juntamos os textos para dar uma olhada. Um sozinho não era nada, mas juntos... O conto Cara-metade é um exemplo disso.

Cláudio- Vem desde uma oficina literária do Charles Kiefer(que assina a orelha do livro) que fizemos juntos. Charles sempre elogiou nosso trabalho, e desde então nos estimulou a publicar. Em primeiro lugar nos gostamos muito, embora sendo diferentes um do outro. Mas os nossos contos tinham muitas semelhanças, se identificavam bastante. Vaia- Como foram selecionadas as narrativas? Cláudio- Pegamos um fio condutor, um narrador, e vendo se era bom trazíamos para o corpo do texto e inseríamos no livro. A coisa foi rolando muito naturalmente, sem pauta, embora não goste da palavra natural... Clarice-... pois o artifício é que é natural no ser humano. Vaia- Como é que vocês chegaram à conclusão do trabalho para inscrição no Fumproarte? Cláudio- Certa noite fizemos um pacto: vamos fazer um trabalho consistente e nos inscrever no concurso. Então mostramos o trabalho para o Kiefer, que leu e disse não tinha ter entendido, porque parecia um romance, mas não sabia como exatamente. Aí ficamos contentes, porque é um livro de narrativas curtas.Era isso o que queríamos. Clarice- Eu achei muito legal participar desse concurso. A gente às vezes tem um préjulgamento a respeito de concursos, e de qualquer coisa que envolva o poder público. É a velha idéia do brasileiro que desconfia de tudo, que tudo é um jogo de cartas marcadas... O processo de seleção do concurso é totalmente democrático, aberto. Tu podes acompanhar todas as fases do concurso. Para mim foi um privilégio ter participado. A primeira obra de autores desconhecidos feita nos exatos termos em que se quer, por que a coisa mais comum é o autor bancar a própria publicação. Nem se fala em distribuição... Conseguimos fazer um livro de qualidade que pelo seu próprio aspecto garantiu com que conseguíssemos fazer parcerias. Cláudio- Tem ainda outras questões que nos favoreceram: tínhamos tudo pronto, capa, revisão, orelha, edição etc, elaboramos um arrazoado de defesa do livro. Tivemos sorte em sermos agraciados com verba pública, porque, afinal, todo autor quer ser publicado.

“A linguagem, quando eivada de muito inço, como às vezes aparece, ela mais atrapalha do que ajuda” Se a sociedade paga pelo teu trabalho é porque algum mérito ele tem. Portanto, foi uma honra para nós esse prêmio. Vaia- Outra característica presente na escrita de vocês é a crítica contundente, mordaz. O estilo a serviço da incisividade, a linguagem clara. Poderíamos falar de literatura engajada? Clarice- Eu acho que a linguagem é o grande cavalo da humanidade. É através dela que nós somos capazes de buscar o entendimento. Não há outra maneira. As outras possibilidades que existem são as da destruição. Mas na construção a linguagem é fundamental, e só exerce seu papel civilizador se ela for clara, se expressar realmente o sentimento e o pensamento dos homens que a elaboram e que a recebem. Eu acho que linguagem, quando eivada de muito inço, como às vezes acontece, mais atrapalha do que ajuda. Por isso eu procuro ser clara no que escrevo. Então, essa clareza e incisividade passam por contundência, mordacidade. E talvez seja. Mas eu acho que esse é meu papel. Meu papel no sentido de ser humano, mulher, cidadã... É dizer com as letras que eu possuo o que vejo, sinto, penso, creio, sem transformar isso em verdade. Acho que a partir disso posso estabelecer um elo mais amplo com as pessoas que lêem as coisas que escrevo.

No fundo o que conta é isso. É um combate às trevas. Acho que todos nós temos que fazer isso. Temos que combater as trevas. E antes que o Iraque vá pros ares, a África morra de Aids, a fome acabe com a vontade de comer, nós precisamos lançar alguma luz nesse processo todo. E não é com mascaramento ou mentira. Precisamos ser claros. Portanto, a linguagem é o nosso cavalo de batalha. É por aí. Não é apenas uma preocupação estética minha, eu faço uso da estética, claro, mas nunca sou subordinada à forma. Vaia- Esta é a palavra do artista, né? Aliás, me lembro duma passagem de O solo de clarineta, livro de memórias do Érico Veríssimo. A páginas tantas Érico diz que uma cena da sua infância o marcara fortemente. Na farmácia do pai, certa noite, teria ele uns treze anos, encarregaram-no de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações enquanto um médico tentava salvar a vida de um sujeito semivivo, todo retalhado por facadas. O corpo do cara deitado, o médico mexendo no corpo do moribundo, e ele iluminando aquilo. Depois, adulto já, o Érico chegou à conclusão de que o papel do artista era esse. Tentar iluminar a sociedade, a vida das pessoas. Essa imagem resumia a idéia do que era ser escritor para ele. Segurar uma lâmpada. Se não tiver lâmpada, que seja um toco de vela, ou, em último caso, fósforos riscados repetidamente. Clarice- ... que belo isso... É isso mesmo. É lançar luz sobre o que quer que seja. Seja o horror... Luz sobre o que é belo... Cláudio- O quadro Guernica também ilustra isso aí....as coisas desfiguradas, a luz iluminando aquilo... Clarice- Guernica mostra o quanto aquela guerra estava fragmentando a unidade espanhola e a sua própria cultura. O quadro não tem uma construção pictórica de unidade, expressa uma idéia violenta, chocante... Cláudio- O importante sobre o livro é dizer que não vemos o escritor dentro de uma redoma, ou sem colocar os pés no chão. Temos uma identidade ideológica muito forte e isso nos ajudou. Por que como vocês já notaram, todos os personagens do livro se fodem. Justamente porque não conseguem fazer esse acerto de contas entre as suas vontades existenciais, humanas e o mundo que está posto. Vaia- Outra coisa que se nota nos contos são personagens conflitantes, desorientados. Alguma angústia porque... Clarice- ...a vida é trágica! Sabe, os gregos tinham razão. Não é à toa que a maior representação da arte grega que chegou até nossos tempos foi a tragédia. Viver é trágico! O conhecimento é trágico. É extremamente doloroso. E todas as tragédias gregas tem como fundamento o conflito do conhecimento com a ação. O que tu fazes com o que está sabendo? O Édipo é o exemplo mais gritante de todos. Eu não estou falando de felicidade, pessimismo... Mas, filosoficamente falando, a vida é conflito. Nós não nascemos para viver naturalmente. A natureza humana é artifício. Ao natural o ser humano morreria. A única saída é o desenvolvimento da inteligência, do conhecimento, criar aquilo que nos falta, aquilo para o que não fomos supridos. E temos que ir à luta, aprender. E aí, temos que fazer escolhas e decidir o que pegar e largar. Por que a gente cria e mata, nesse processo todo. A vida humana é um processo de escolha e traição o tempo todo... Isso é trágico! Então, como nós vamos fazer um livro com final feliz? Não é questão de otimismo ou pessimismo. Tem uma análise psicologizante por aí, que é de última, que transforma as coisas assim, num estalar de dedos, como a literatura de auto-ajuda hoje em dia, que diz: “um pensamento positivo e você chega lá!”


Cláudio- Independentemente esteja... (risos)

de

onde

você

Clarice-...Chega a lugar nenhum, porra! Isso é uma fraude, porque o homem é sua história e suas circunstâncias. E é muito mais, porque as escolhas que nos são dadas transcendem em muito a nossa capacidade individual. É por isso que temos que nos agregar ao outro e, principalmente, valorizar o espírito público que hoje em dia está indo pro pau, no sentido de que o indivíduo é o que prevalece, com o lero de que se fizer boas escolhas chega lá. É mentira, é blefe, meu! Nós estamos num mundo de 6 bilhões de pessoas e que daqui a pouco vai dobrar ! Então vai dizer que eu sozinho resolvi ter sucesso, e vou ter? Nunca, cara. O processo é agregador, não tem escolha. O que conta é o todo. Eu não sou nada sozinha. Eu e merda somos a mesma coisa. A não ser que através da minha ação agregada à dos outros possa jogar um pouco de luz no processo. E é isso que eu e o Cláudio queremos. Cláudio: A tragédia humana tem muita coisa em comum com a violência humana. Essa percepção antropológica de que a vida da natureza é só o que é. E por tudo o que há, a seleção natural não pode ser aplicada a ela. Porque é apenas uma sucessão de acasos. Como todos querem sobreviver e se reproduzir, é normal que isso evolua naturalmente. O ser humano disse “não, eu não sou essa coisa e me revolto”. Quando Carlos Drumonnd de Andrade falou sobre isso ele expressou talvez a essência do homem. Nós nos revoltamos. Começamos a nos revoltar com a natureza. Em vez de nos adaptarmos a ela, dissemos: não, a natureza vai se adaptar ao homem. É um processo violento. Portanto, tudo o que nós trabalhamos nesse sentido é artifício, e por isso que é doloroso. Aí há um conflito muito forte. Você está sempre se violando e violando os outros. É a forma de tentar manter a consciência, senão algo mais. É trágico isso. Então, nesse sentido, Veroverbo tem um grande manancial filosófico. Não no sentido de tentar buscar novos sistemas, novas teorias, mas de exercer esse pensar existencial, como um diálogo interior, ou seja, as coisas acontecem e você fica revoltado. E de uma forma ou outra você age contra ela com veemência. Porque não existe outra forma de lidar, embora nós preferíssemos um mundo que fosse tranqüilo, generoso e sincero. É importante lembrar que a tranqüilidade, a generosidade e a sinceridade são artifícios.

“Todo diálogo ou é absolutamente interior ou é budismo ou é esquizofrenia” Vaia- A Clarice falou do diálogo interior. Isso é outro aspecto do estilo de vocês. Mas é também mais do que isso. Cláudio- Todo diálogo ou é absolutamente interior ou é budismo ou é esquizofrenia. Talvez um elemento de identidade dos nossos textos é que trabalhamos a forma junto com o conteúdo, para que se diminua a distância entre uma e outra. Então, se o conteúdo dele está aflito, a forma deve demonstrar essa aflição. Mas é a nossa maneira de escrever. Vaia- A música é uma coisa presente também. O estilo é musical, há referências musicais. Clarice- A música, pra mim, é muito inspiradora. Tem textos que escrevo ouvindo determinada música ou intérprete (Dexter Gordon tocava muito quando eu escrevia). A música evocando, me dando outros elementos... Tem textos que eu batizo com o nome de alguma música. Cláudio- Além da música, temos outras afinidades. Esse livro só foi possível porque temos muitas afinidades literárias. VaiaE sobre as influências literárias? Vocês destacariam alguma? Falem um pouco disso. Clarice- Assim como eu não entendo meu processo criativo, eu não consigo entender como alguém consegue distinguir as influências dentro de si mesmo. Talvez porque seja essa a minha maneira de assimilar as coisas. Eu sou uma pessoa que leio, mas não tenho memória citatória. Leio algumas coisas apaixonadamente. Acho que entendi ou assimilei na medida do possível o que o livro tinha pra dizer, mas não sou capaz de distinguir isso.

Veroverbo- narrativas vorazes seguidas de coisas que nem os autores sabem definir

Cláudio- Tem aí uma coincidência entre os processos, porque temos memória conceitual, os dois. Se numa discussão for preciso citar nomes, datas, lugares, não lembramos. Clarice- Somos de ler tudo.Não temos preconceito por coisas menores. Cláudio- Uma ou outra obra influencia, é claro Mas a partir do momento em que a obra é escrita, e depois lida, ela deixa de ser tua, ela passa a pertencer à humanidade. Então eu acho que é desnecessária essa busca, essa disciplina de saber quem falou isso pela primeira vez. Clarice- No caso de “Veroverbo”, essa discussão perde o sentido. Não estou dizendo que ao escrever um livro eu não vá assinar com minha autoria. Mas mesmo esta questão deve se subordinar à obra. Criamos uma obra em que a autoria era secundária, portanto ela não apareceu. A maioria ou quase todas as pessoas, inclusive editores, achavam que deveríamos citar o autor, nem que seja ao pé da página, de quem era o que. É o tipo de coisa que considero instigante neste processo. Quando tu lês uma obra de um escritor, a maioria do tempo as pessoas ligam a obra à vida do sujeito, ou seja, a obra fica subordinada à vida da pessoa. A vida dela fica como elemento para analisar a obra. No nosso caso, não demos esse gostinho... Vaia- Mas cada um manteve suas características na concepção dos textos... na carpintaria literária. Clarice- Apesar de nossas semelhanças, existem diferenças entre nós dois, de sexo, idade, procedência, formação étnica, geográfica e o diabo, e no entanto, a gente escreve tão parecido... Então eu pergunto: tem sentido essa vinculação da análise da obra com a vida do sujeito? Tem texto que não se sabe se é meu ou dele. E qual seria a análise da obra se soubessem? É uma questão interessante que deve ser colocada: qual o vínculo que existe aí? Vaia-Falem um pouco do processo de composição dos personagens... Cláudio- É preciso dizer que, às vezes, as pessoas tem esse tipo de preocupação: o que destes textos foi autobiográfico? Não tem texto autobiográfico. Os textos são interpretações que, naturalmente, vêm de uma relação e, portanto, de uma vivência, uma experienciação do mundo. Mas nenhum dos textos é algum tipo de acerto de contas pessoal com o mundo.É só literatura. Isso me lembra uma história: no início do século passado, um jovem pintor modernista que não lembro o nome, em uma de suas primeiras exposições recebeu crítica a um dos seus quadros, no qual a composição de uma mulher foi pincelada com cores fortes e formas disformes. Disse-lhe o crítico: “Eu não gostei desse quadro. Isso não é uma mulher”. E o pintor: “É evidente, não é uma mulher. É uma pintura!”. (risos) Clarice- O que seríamos sem a imaginação? Que é exatamente isso: Imagem + Ação. Eu já fiz um monte de coisas, mas nunca assassinei ninguém, nunca me joguei de um prédio etc. Mas eu já senti angústia, desespero, desejo...todas essas coisas que animam os seres que a gente bota pra viver dentro do livro. Esse é o grande barato da literatura: é povoar, criar, ter teu próprio universo, com sentimentos, expressões, desejos, presente nos seres humanos em geral. Com exceção dos psicopatas, né? Mas não estamos escrevendo para eles...(risos). Aliás, eu não recomendo a leitura de Veroverbo a eles. Nem às crianças (risos). Cláudio- Recomendamos o livro, não para o Dia das Crianças, mas como presente de Natal. Vaia- Também há a inquietação da leitura. Além da empatia do leitor com o que está sendo narrado, muitas perguntas os contos provocam. Cláudio- Se um leitor nosso, a partir de um maldito parágrafo começar a fazer novas perguntas, indagações ou reflexões, um mínimo novo imaginário sobre a vida, então nós somos autores felizes, porque é para isso que o livro serve. O imaginário não é a representação do mundo, ele é a criação do novo mundo. Uma bobagem que começou com a Guerra Fria e a maldita Pop Arte, em que o imaginário era usado para representar um produto. Não pode ser assim. Aí você compra a Sopa Campbel, que é a mais cara, mas não te dá o prazer gastronômico. A arte é feita para servir ao imaginário. Por isso não escrevemos sobre o orgasmo, por exemplo, porque orgasmo é fruição. “Hoje eu tive um orgasmo. Foi muito bom”, ninguém escreve isso (risos).Tu vais falar sobre coisas que não estão à tua disposição, que não são boas e que podem ser diferentes porque tu tens como construir uma nova relação possível. Esta visão do imaginário eu acho que deve ser preservada na arte. Porque se o imaginário for apenas a representação da realidade, para que ele serve? Então vamos destruir os computadores...

“Ou viramos todos terroristas ou apostamos na cultura. Não vejo outra chance.” Clarice- ...E nada mudaria. E a gente precisa mudar. O mundo precisa mudar. Vaia- Mas como mudar através da cultura, se a grande maioria não tem acesso a ela, muitas vezes nem ao menos a casa e a comida? Como é que vamos falar em cultura pra essa gente? Cláudio- É preciso fazer uma diferenciação sobre isso. Essas pessoas têm uma cultura sim, e muito rica. Elas não têm é acesso aos meios. Vamos viajar...Imaginemos que este livro fosse adotado em um curso de Comunicação e Letras das Universidades Federais. Acho que teríamos uma fração de pessoas que iriam aproveitar isso. No entanto, dizer isso não pode significar admitir que essas pessoas que não têm meios não têm cultura. Uma prova disso é o filme “Cidade de Deus”, em que só tem um ator e o resto é gurizada do meio da vila, que alguém foi lá, investiu e os transformou em belíssimos atores. Porque? Por que eles já tinham a cultura. Eles só instrumentalizaram a cultura.Estamos nesta fase pós-moderna, em que a palavra chave é multimídia, mas o engraçado que esse conceito é usado para as ferramentas e não para as pessoas. Quem tem capacidade de lidar com os diversos meios somos nós, as pessoas. Eu acho que a arte serve, no caso, como instrumental, com “i” maiúsculo.Não como manipulatório, formatador. Mas quando te dá meios pra utilizar teu imaginário e tu não estás sozinho. Para prover cultura, as pessoas têm meios de se identificar com coisas que não são delas e dessa maneira se comunicar com os outros, em comunidade. Pessoas pensando parecido, se identificando, seja através da literatura ou qualquer outra forma de arte. Vaia- Vamos falar um pouco sobre as eleições. Como é que vocês acham que vota, no caso do Brasil, a grande maioria do eleitorado que não tem discernimento para escolher? O voto de barganha ou de barriga ainda impera no Brasil. Clarice- É o voto da barganha possível, o do imediato. Voto em ti, tu me dá isso. Nem é a questão de diferenciar quem é ladrão ou não. Dentro desta cultura, todo mundo é ladrão. E de certa forma, o cara tem razão. Na sua lógica, de alguma maneira, quem não rouba se beneficia. E tanto situação quanto oposição fazem parte desta elite que, de certa forma, manipula em cima do caos. E às vezes é difícil discernir o que é um e o que é outro. E as pessoas desfavorecidas são roubadas de um modo geral. Elas não têm porque fazer esta distinção. Penso se não fomos nós que criamos esta distinção, para nos penitenciarmos pela ignorância consentida, da exclusão sacramentada...

Cláudio- Pra mim, a abordagem tem que ser essa: todos nós somos políticos e exercemos a política. A gurizada de 10, 12, 14, que tem que escolher entre não poder fazer uma escola e ter que trabalhar por um salário mínimo ou vender droga, está fazendo uma opção política. O problema é a coletividade. A miséria incorre em outros dois adjetivos inexoráveis: a mesquinhez e a primitividade. Então, quando defendo que a espécie é violenta, não defendo a necessidade de sermos primitivos, mas o artifício. E a política é a violência por outros meios. Podemos chegar a um acordo. Mas para conseguir isso, só tendo acesso aos meios. Como esperar que um cara que tá morrendo de fome não seja primitivo? Mas esta caracterização não nos ajuda muito. Rotular isso não funciona. Vaia- Então, qual o nosso papel, nós que não participamos do jogo político, da coisa políticapartidária? Clarice- Entrar pra Al quaeda!? (risos) Cláudio- Um texto que iria entrar no livro, mas tiramos, porque achamos que existem coisas mais importantes a serem discutidas no momento, dizia mais ou menos assim: “Esqueça a diferença entre direita e esquerda. Porque a direita tomou todo o discurso da esquerda e a esquerda, em compensação, como o velho rock’n’roll, vive de mitos e imitações”. O que é ser de esquerda? Se tiver como característica a defesa radical do humanismo, o combate à exclusão da própria espécie, a diminuição da concentração de renda e a garantia dos direitos básicos de sobrevivência na terra, então o Veroverbo é de esquerda. Ou viramos todos terroristas ou apostamos na cultura. Não vejo outra chance. Só apostando na cultura e no fazer estético, que talvez se transforme em arte, com a história. Vaia- Com Lula na presidência vocês acreditam em uma transformação radical do atual modelo econômico e social excludente V que aí está? Cláudio- “ Não creio no dia em que todos os homens concordem, mas sei de diversas


08

payadas Jayme Caetano Braun

Sangue Farrapo

CHURRASCO- talvez do Quíchua, A rigor - é carne assada, Por sobre a brasa atirada, Temperada só com sal. Hoje é termo Universal, Conhecido e traduzido Guardando o amplo sentido De carne assada em geral.

Fui sempre assim - no campo aberto, CHURRASCO - com couro e pêlo Muitos anos, Atirado sobre a brasa! Guardando as linhas Dos fogões da pampa rasa Da fronteira - empurrava, Restam lembrança e carinho... Os índios - tigres - as peleiras, Hoje- temperado à vinho, Castelhanos, Misturado a condimentos, Sem diploma Primeiro sempre, Nos fogões de apartamentos Quando a pátria me chamava! Fazem CHURRASCO em forninho! Bendito aquele que estuda Mas o descaso do Império, Porque estudar é importante, Cresceu tanto Embora o ignorante Que alcei um grito, Tem sempre um santo que ajuda De querência e geografia, Alaúza, s. Barulho, algazarra, desordem, Às vezes a sorte muda Compondo um hino de legenda bagunça. Quando existe um santo forte Com meu canto Bengue, s. Variedade de cânhamo, cujas Cada qual procura um norte, Que fez tremer - de cima a baixo, folhas e flores se usam como narcótico e Por isso não encabulo A tirania! produzem sensações semelhantes às pro-Que a tava que bota culo vocadas pelo ópio.O mesmo que maconha. É a mesma que bota sorte! Choraram mães, pelearam pais, Cagaço, s. Susto, medo, pavor. Irmãos e filhos, Devagar nas pedras, expr. Agir e andar Meu tetravô foi fronteiro, Porque - aos tiranos, com cautela. Meu bisavô domador, Pouco importa a dor alheia Empacado, adj. Calado, sério, pensativo. Meu avô- alambrador E andei dez anos, Farolear, v. Contar vantagem, aparentar E o meu pai foi carreteiro; No calvário da peleia, uma imagem falsa. A mim não sobrou dinheiro Na guerra santa, Gauchão, s. Homem simples, um tanto rúsPra cursar a faculdade, Dos monarcas dos lombilhos! tico, que desconhece ou não aceita os cosMas tive a felicidade tumes da cidade. Graças ao Nosso Senhor Até o Negrinho das formigas Hepa, interj. Equivalente a alto lá, basta! E me tornei payador Compreendia, Também designa surpresa ou admiração. Pra guardar a identidade! No pastoreio, Inticar, v. Mexer com alguém por prevenção; Meus anseios de índio guapo, implicar; provocar, aborrecer, importunar. O estudo é muito bonito Em cada nota do meu canto Josca, s. Coisa, tareco; porcaria. Var. joça. E até muito necessário, Que dizia que eu era PátriaLambisgóia, adj. Pessoa intrometida, antiMas este cantor primário, Era Rio Grande pática, mexeriqueira. Cruzando o pago infinito, Era Farrapo! Macanudo, adj. 1. Admirável pela força, Continua - a trotezito, poder, prestígio, inteligência, beleza. 2. Mesmo sem ser diplomado Levou dez anos pra entender Muito bom; excelente; bacana. E me sinto conformado, A Monarquia, Nó nas tripas, s. Nome que antigamente O que é meu - ninguém me toma, Essa epopéia que escrevi, se dava à apendicite aguda. Pois duvido que um diploma De lança em punho, Olada, s. 1.Ocasião oportunidade, momenTorne um burro advogado! E a história presta, com respeito, to propício. 2 Maré de sorte; boa sorte. O testemunho que era ser PátriaPassar a gravata colorada, expr. AssassiComo é lindo colar grau Apenasmente, o que eu queria nar cortando o pescoço; matar por degola; Num salão de faculdade, degolar. Embora essa qualidade Hoje - quer seja funcionário Quizila, s. Antipatia, inimizade; desavença, Não transforme o bom em mau, Ou operário, ou da cidaderixa, briga, zanga. O Jayme Caetano Braun Ou da lavoura, ou do rodeio Rebimba, s. Preguiça, indolência. Dessa linha não se afasta, Ante os que aviltam Sacudir os arreios, expr. Opor-se a alguA inspiração não se gasta O trabalho e o salário, ma coisa; rebelar-se. Nem me torna mais cruel, Se me obrigarem a escolher Tabacudo, adj. Ignorante, bronco, estúpido. Eu conquistei um anel Volto e peleio! Ursada, s. Atitude enganosa, falsa, quebra O de gaúcho - e me basta! de promessa. Vacinada, adj. Diz-se da moça que não é mais virgem. Diário de A REVOLUÇÃO FEDERALISTA EM CIMA Xarope, adj. Sujeito chato, desagradável. Campanha Zambo, adj. Tonto, desnorteado. DA SERRA - 1892-1895(Martins Livreiro/87)

ABCDÁRIO GAUCHÊS

Dicionário Gaúcho, de Alberto Juvenal de Oliveira AGE Editora, 2002 Excertos de manuscritos de ANTÔNIO FERREIRA PRESTES GUIMARÃES, comandante da 1a Divisão do Exército Libertador do RS

“27 de março de 1893 Ao clarear do dia, estando a força pronta a seguir seu destino rumo ao Quaraí para receber armamento e munição, tive aviso que o inimigo, chegando à noite do Cacequi, se achava pela direita a poucas quadras de distância.Então, em vez de seguir àquele destino, buscamos o inimigo, que galhardamente nos recebeu, seriam oito horas da manhã, debaixo dum vivo fogo de artilharia, no lugar denominado Jararaca(uma sanga) e Capão do Angico. Travou-se renhido combate, que chegou até às 3 da tarde, fugindo então a artilharia inimiga, porém montada, depois de tê-lo feito a cavalaria com algumas horas de antecedência. Nossa vitória foi completa. A coluna inimiga era composta de mil e seiscentos homens, sendo 700 de cavalaria e 900 de infantaria, esta armada a Comblain.A força libertadora compunha-se de mais de dois mil homens, dos quais grande parte não entrou em combate, por desarmada.

O batalhão Antônio Vargas, infantaria de patriotas de Sant´Ana do Livramento, sob o comando do bravo ten.cel. Sebastião Coelho, portou-se com muita bravura, fazendo prodígios de valor. Em geral, toda a força houve-se com extrema galhardia. Em meio do combate, o Cel.Pina, depois de ter sido ferido levemente pelo ferro inimigo,foi baleado pelas costas, tiro dado por um oficial da nossa gente, à falsa fé, por intriga particular:o traidor foi imediatamente justiçado.Causou grande indignação o triste fato. Recolhendo-se o Cel Pina ao hospital de sangue, mandei que assumisse interinamente o comando da 2a Brigada, o sr. Ten.Cel. Ismael(do Rosário). Tudo o mais que diz respeito ao combate de Jararaca e Capão do Angico, onde foram presos o comandante da força inimiga, cel. em comissão Joaquim Thomaz dos Santos Souza Filho e Major Elisiário Batista Dornelles-ambos feridos, consta da parte oficial que dei em data de 28 ao General-em-Chefe. “

Ilustrações: Roberto Fonseca

Literatura Gaúcha

H

istória do Rio Grande do Sul para jovens - AGE Ed.,2002,296pág.,R$28,00do escritor gaúcho Roberto Fonseca, porto-alegrense radicado em Brasília-DF, surpreende pela forma com que narra os principais acontecimentos da história do Rio Grande,desde a chegada dos primeiros jesuítas, por volta de 1620,nas Missões, passando pelas Revoluções Farroupilha 1835- e Federalista-1893, até fatos mais recentes, como o suicídio de Getúlio Vargas em 1954. A história, recheada com quase cem ilustrações do autor, é contada pelo índio tupi-guarani Roque Tavares- homenagem ao padre Roque González, que o batizou, e ao Gen.Joca Tavares, seu padrinho. Nascido à época da chegada dos primeiros portugueses e espanhóis,como castigo por um grave pecado,foi condenado à vida errante e sem fim. Segundo Roberto Fonseca, a idéia de escrever o livro nasceu durante a Semana Farroupilha - 2000, no CTG Estância do Planalto, em Brasília: “Eu estava lá, vendo os peões as prendas,com aquelas vestimentas lindas e tal, daí perguntei a um rapaz que estava do meu lado: -Escuta, tu sabes porque ocorreu a Revolução Farroupilha? Ele olhou, olhou e disse: - Olha, tchê, sabe que eu não sei? Então fiz outra pergunta: - Sabes ao menos qual foi a sua duração? Não sabia. Nem o Bento Gonçalves ele sabia quem havia sido. Daí eu pensei, cá comigo:alguma coisa está errada.” A partir das palestras ministradas aos jovens, onde falaram da História do RS, foi criado o projeto. Conforme Fonseca, a idéia foi retirar tudo que é importante, sintetizando os acontecimentos e valorizando o fato histórico. O objetivo foi fazer um livro com a essência de toda História do RS, tratando do que interessa. De uma forma leve e ordenada, em capítulos, a narrativa estende-se aos costumes e às lides campeiras da gente gaúcha, como moldura dos acontecimentos em cada quadra do tempo. História do Rio Grande do Sul para jovens retrata a história de um povo que sempre precisou lutar para fazer parte do território brasileiro. (M.M.)


O massacre de Eldorado de Carajás

A

tragédiadedo11 11de de setembro setembro está tragédia está devidamente registrada e poderá ser conhecida por muitas gerações nos quatro cantos do mundo. No entanto, não podemos nos furtar de relembrar alguns outros fatos igualmente trágicos e marcantes, embora bem menos conhecidos do grande público, mas nem por isso menos aterradores .Por exemplo, os mais de 130 mil iraquianos mortos pelo exército dos EUA, por ordem de Bush, o pai. Os 200 mil iranianos assassinados pelos talibãs, que por triste ironia, tiveram tal ação financiada pelo dinheiro americano. Nosso objetivo é lembrar uma tragédia tupiniquim, ocorrida em território Paraense, cuja data dos fatos, ao contrário do 11/9, é muito pouco lembrada. A data é 17 de abril de 1996, uma das mais tristes na história da violação dos direitos humanos já vistas. Nesse dia, por volta das quatro e meia da tarde, na Rodovia PA-150, Eldorado dos Carajás, no Pará, à altura do quilômetro 95, na chamada curva do “S”, dezenove trabalhadores rurais sem - terra foram chacinados por PMs sob o comando do coronel Pantoja, comandante do 4o BPM.

OS FATOS

OS FATOS No dia 08 de abril de 1996, o MST organiza uma caminhada de Curionópolis até Marabá, sede do Incra, e de lá para Belém, onde teriam um encontro com o governador para discutir a desapropriação da fazenda Macaxeira, em Parauapebas, leste do estado. Em 11 de abril de 1996, a caminhada interdita a rodovia PA-275, entre Curionópolis e Marabá. Quatro dias depois, em 15 de abril, a marcha chega até o município de Eldorado dos Carajás, completando 40 quilômetros. No dia seguinte, integrantes do MST caminham mais nove quilômetros com destino a Marabá e interditam a principal rodovia de ligação entre o sul do Estado e a capital Belém, a PA 150, no quilômetro 95, a chamada curva do “S”. Antes de qualquer negociação entre a autoridade civil do governo e o MST, ao contrário do que os sem terra esperavam, o governador do Estado envia ao local, em 16 de abril, o major da Polícia Militar, José Maria Pereira Oliveira, comandante do 1º CIPM de Parauapebas. Os sem-terra exigem das prefeituras de Curionópolis, Parauapebas e Eldorado dos Carajás, alimentos e transportes, e o major Oliveira promete levar as exigências ao governo, com a condição de a rodovia ser imediatamente desocupada, o que é atendido pelo Movimento. No dia 17 de abril de 1996, em torno de 11 horas, chega uma resposta negativa às exigências dos sem -terra. Após uma rápida reunião, o Movimento decide invadir novamente a rodovia. A nova obstrução é seguida de uma rápida operação militar. O responsável pela desobstrução da rodovia é o coronel Mário Colares Pantoja, comandante do 4º BPM do Pará, que aciona o comandante do 1º CIPM de Parauapebas, major Oliveira, mandando que o mesmo iniciasse o ataque somente quando ouvisse os primeiros tiros provenientes do lado de Marabá.

A CHACINA A CHACINA Conforme o depoimento de testemunhas, o massacre começou em torno de 16:30 horas, com a execução do surdo-mudo Amâncio Rodrigues dos Santos que, ao ver os policiais à sua frente, por não conseguir ouvir os tiros disparados para cima pelos PMs, avançou contra eles e foi derrubado a golpes de cassetetes. Quando estava no chão, recebeu três tiros. Os sem -terra, ao verem o companheiro morto, avançam com pedras e paus (esta é a imagem única mostrada pela televisão, dando a entender que foram os sem -terra que provocaram o massacre); alguns policiais são atingidos e a tropa recua alguns metros para logo após partir para cima dos ativistas, dessa vez com rajadas de metralhadora. Do outro lado da pista, os policiais, sob o comando do major Oliveira, atiram para matar. Desesperados, os camponeses correm para todos os lados, sem rumo, procurando algum refúgio nas margens da rodovia. O sem terra Oziel Alves Pereira, 18 anos, estava em um carro de som do Movimento dos Sem Terra, desde antes do início do massacre, incentivando seus companheiros à resistência. Quando percebeu que os policiais estavam realmente executando os camponeses, acabou se refugiando, junto com mulheres e crianças, numa casa de madeira perto da rodovia. De acordo com testemunhas em juízo, entre elas Luiz Vanderlei da Silva, que presenciou a cena e nomeia como executor o major Oliveira, Oziel foi arrastado pelos cabelos e espancado antes de ser covardemente morto com quatro tiros. Às 21 horas o necrotério de Curionópolis recebe os cadáveres de dezenove ativistas, transferidos no dia seguinte para o Instituto Médico Legal de Marabá. As necropsias mostraram que muitos foram executados com tiros pelas costas ou à queima-roupa e a golpes de facão. O PRIMEIRO (E VERGONHOSO) O PRIMEIRO (E VERGONHOSO) JULGAMENTO JULGAMENTO Às 8:35 horas de 16 de agosto de 1999, inicia-se o maior julgamento da história do Brasil. Por determinação judicial e devido ao grande número de acusados, o julgamento foi cindido em 27 sessões com 03 a 07 réus em cada uma. O massacre teve repercussão mundial e, apesar disso, pairavam muitas dúvidas acerca da isenção do julgamento que foi, por duas vezes, transferido. Desde as 7 horas da manhã, cerca de 2000 camponeses realizavam um ato público perto do local do julgamento. Nessa primeira sessão do júri, duas teses iriam se confrontar: a de homicídio qualificado, da acusação, baseada em provas periciais indicando que onze integrantes foram atingidos por tiros na cabeça, sete por armas brancas – facas e foices – e três mortos com tiros à queimaroupa, totalizando trinta e seis perfurações à bala para 19 vítimas, alegando que os policiais foram até a rodovia com a intenção de matar, inclusive tendo selecionado as vítimas dentre lideranças do Movimento dos Sem Terra: 13 dos 19 executados eram líderes locais. Também o fato de vários policiais sem a obrigatória tarja de identificação contribuía para a tese de premeditação dos homicídios, além dos registros das armas usadas no massacre terem sido adulterados. A tese da defesa era a da negativa de autoria, argumentando que a acusação não conseguiria reunir provas para convencer o

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Adriano Reisdorfer

Fonte Especial Caros Amigos

conselho de sentença da responsabilidade individual dos réus. Disse Américo Leal, vulgo “Leleco”, que já atuou em vários processos contra o MST: “eles não têm como individualizar a conduta de cada militar envolvido no confronto com os sem terra. Esse julgamento será uma barbada”. Um dos sete jurados, Sílvio Mendonça, teve um papel decisivo no julgamento por desrespeitar as advertências feitas pelo magistrado antes do início da sessão, como o princípio da incomunicabilidade dos jurados e por ter, escandalosamente, manifestado o seu voto, o que é vedado pela legislação penal. Às 10 horas o coronel Pantoja começou a ser interrogado. Disse, em síntese, que cumpriu ordens de seu superior, coronel Fabiano Lopes e que tentou uma aproximação com integrantes do Movimento, mas foi recebido com paus e pedras. Por fim, disse que tinha ouvido vários tiros vindo dos camponeses, mas não viu ninguém armado. Uma questão interessante é que durante toda a sessão do júri o juiz, quando se dirigia aos réus, chamava pela patente: “coronel”, “capitão”, “major”. Já os semterra, as vítimas, eram chamados de “elementos”. Pedro Alípio da Silva, motorista de um dos ônibus que conduziu a tropa até o local do massacre. Em seu depoimento afirmou que levou 45 policiais armados de cassetetes, escudos, metralhadoras e revólveres. Alípio disse que o “tiroteio” começou assim que os policiais desceram do ônibus e também que muitos dos semterra, no momento do tiroteio, correram para o mato. Também repetiu uma frase do coronel Pantoja: “que a missão estava cumprida e que ninguém viu nada”. Um cinegrafista do SBT também contou uma história semelhante à de Alípio, dizendo que os primeiros tiros partiram dos PM’s. A sentença : o coronel Mário Colares Pantufa, o capitão Raimundo José Almendra Lameira e o major José Maria Pereira de Oliveira foram absolvidos por insuficiência de provas. Posteriormente, esse julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça do Pará. Recentemente, em mais uma sessão do júri, dos 142 PM’s envolvidos na chacina, só dois foram condenados. De acordo com nota emitida pela Anistia Internacional, “o maior julgamento da história do Brasil, totalizando 120 horas, em 05 sessões, mais uma vez expõe as profundas falhas do sistema judicial brasileiro”.


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(Des)ditos CRUZADAS MANJADAS 1

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HORIZONTAIS - 1- Usa de subterfúgios - 2- Sair com naturalidade (...) Connery, o primeiro 007 - 3- Próton(símbolo) - João Alves(fig.) Saudação ao telefone - 4- Sociedade Anônima - Art.Def.Fem.Sing.Indumentária do gaúcho - 5- A parte mais larga do remo - “(...) Casmurro”, obra de Machado de Assis - Crença religiosa - 6- Ex-presidente, ladrão - “ (...) Vargas, já era!”(FHC)- 7-( ...) ego - Associação dos Casados Arrependidos - 8- Marca de automóvel - Elemento químico, metalóide, usado no tratamento da água - 9- Sua capital é Kiev - Inácio da Silva, sobrenome - 10- Vogal - Bajulador, servil, desprezível. VERTICAIS- 1-Tradição, Família, Propriedade e Sacanagem - Pentacampeão mundial - “(...) Cid”, clássico do cinema épico - Certificado de contrato de seguro - 3- Caminho público - Espécie de mesa destinada aos sacrifícios, em qualquer religião - Marca de palito de dente - Mortífero - 5- Exército Republicano Irlandês -Sofrimento físico ou moral - Sódio(símb.) - 6- “(...), de Vingança”, HQ de Frank Muller - Objetar - CPF - 7- Ernesto Sábato, escritor argentino - Freqüência de rádio - Autorização de Livre Arbítrio para a América Achacada - 8- Moeda “forte” do Brasil - Repetição de som “(...)-Juca Pirama”, poema de Gonçalves Dias- 9- Indivíduo indigno10- “Feliz (...) Velho”, romance de Marcelo Rubens Paiva - Enéas Athanázio, escritor - Orlando Silva, músico.

CLONADA

Evite falar demais. Tua saúde está frágil. Se o teu namorado quiser te comer, fuja. Astros desarmoniosos.

Não se reprima, nega. O saudável hoje é se assumir. Solta a franga, santa. E enlace seu anel de couro

IGREJA CASAL GAY

não ao aborto abortar jamais

ESCRITURAS REFORMA AGRÁRIA

não sai do papel continua no papel

MEC SISTEMA

fim ao analfabetismo fim ao livro

LIVRO HABEAS-CORPUS

liberta o maior analfabeto liberta o maior traficante

JUDAS PLANO ECONÔMICO

traiu Jesus Cristo traiu o assalariado

Antonio de Andrade Recife -PE

Auto-estima baixa. Cuidado. Coma legumes e trepe só com pessoas do mesmo sexo. A religião é o bálsamo para uma alma aflita.

Astros em rota de colisão. Dia bom para jogar no bicho. Beba o quanto quiser, mas com moderação.

A melhor coisa a fazer é deixar rolar. A fase é ruim, mas não perca a esperança, tá? O amor não traz felicidade. O dinheiro idem. Liberte o seu ventre. Saudável é dar muito. Trepe, a fase da lua é ótima.

Ô Lindauro, assume logo o boné de cabrito, sô. A tua muié dá mais que chuchu na serra. Se oriente, rapaz!

A desilusão é o primeiro passo no caminho da sabedoria. Um ser sem ilusões é um ser superior. Fume menos maconha e beba mais. Reze ao menos uma vez por dia. Sem fé.

Só um imbecil lê horóscopoco. Vê se cresce e arruma logo uma namorada , vagabundo.

Duas notícias para a Sra.: Uma boa e outra ruim. A boa: seu marido será promovido. A ruim: a senhora está com câncer. Vá ao médico que o diagnóstico já está pronto. É só pagar.

Dívidas, dor dente, espinhela caída, hemorróidas, alcoolismo, artrite, broxa desde os trinta? O suicídio é a única saída.

Qualquer que seja o seu problema não desanime. Amor não correspondido? Bobagem. Não perca tempo com isso.

Se hay gobierno, soy contra. Se no hay, también soy contra.

Hidro, o cão hidrófobo

ADVOGADO- Devem explicar-se as coisas franca e claramente a um advogado. É a ele que compete embrulhálas depois. (Manzoni) ARROGÂNCIA- O orgulho dos imbecis.(Charles Torquet) BANALIDADE- Na mulher o sexo corrige a banalidade; no homem, agrava. (Machado de Assis) CASAMENTO- Uma mulher com vários maridos: Poliandria; um homem com duas mulheres: Bigamia; um homem com uma mulher: Monotonia. (Pirandello) DINHEIRO- Há uma classe na comunidade que pensa mais em dinheiro que os ricos: são os pobres.(Oscar Wilde) EPITÁFIO- A última mentira. (Jaguar) FELICIDADE- Três coisas são necessárias para que se seja feliz: ser imbecil, ser egoísta e gozar de boa saúde; mas se faltar a primeira, nada feito. (G. Flaubert) FILÓSOFO- Sujeito que tem uma solução para cada caso até que o caso aconteça com ele.(Millôr Fernandes) GUERRA- A guerra é uma coisa tão absurda e incompreensível que, quando se registra um combate de amplas proporções, até as “baixas” são altas. (Barão de Itararé)

ÁRIO I R V BE O

CÍNIC Seleção e Arte:

Haroldo Ferreira

Faquiro Mau dia para fazer previsões. Sua lua está virada para o cujo. Achemos coisa melhor para fazer.

Para... Cheirando Collor, o primeiro “A ocasião não refez o ladrão” Fernando II, o neobobo: “Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, diga ao povo que saio” Pedro Malão, o enrolão: “Um dia é do caixa, o outro do especulador” Armírio Praga, o Sorosboy: “De milhão em milhão, o banqueiro enche o cofre”

Antonio Andrade


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Barba

VEXAME

A

prostituta entrou no banheiro. Entregou-lhe a toalha, encarou o espelho. Misturaram-se olhares

Não esquenta, Bush... Eu garanto que o Lula não come criancinhas.

PRECE desvelada

de imagens e pessoas. "Olha no fundo dos meus olhos", disse, voltando-se para ela. Pincelava a barba com espuma. "Espera aí. Geralmente, as

SHIT!

Enquanto a Noite adormece Sobre o Manto Das estrelas

o nome de um e outro. Chamavam-se pelo toque. "Olha bem no fundo." Disse com força, puxando-a para junto de si. Ensaboado, interrogou com o olhar. Pediu uma satisfação. "Meu exatamente

nome esta

a

é

Lu."

satisfação.

Não

era

Não

se

importava com o nome. Queria outra coisa. Virou as costas, deu de ombros, e voltou a contemplar o espelho. Puxou a gilete e, desinteressado, deslizava-a pelo rosto. Estava a sós com sua imagem. A rejeição marcara a vida dela. Prostituta. Não pôde agüentar a situação. Pegou a mão esquerda dele e começou a acariciar seus seios. Foi descendo lenta,

Bancos: O Brasil dá lucro

Apagão das luzes:

pessoas dizem 'oi', 'prazer em conhecer'." Tiveram uma noite de prazer e sequer sabiam

Malan: Fizemos o possível

HERANÇA MALDITA AGUARDA SUCESSOR

E o vento Em sua cantoria Se derrama Sobre a pele Tão desejada Alegre monotonia Numa prece Desvelada

Oito anos depois, FHC entrega o país endividado, com desemprego, violência e inflação em alta.

TEOGONIA XXI

A vida Se faz sinfonia Cantando triste Sofrendo calada A miséria Asfixia A pobre gente Cansada

SONAR

A morte foi parida pela Realidade a Realidade foi parida pela boceta de deus deus que não tinha boceta e rasgou uma no lombo do Caos

Da labuta Diária Do desemprego E da Fanfarronada

Deixa eu mergulhar Em tuas águas Prender-me em tuas guelras Contar tuas barbatanas Deixa eu deitar Em tua cama de corais Enrolar-me Em tuas algas pernas Deslizar sobre teu dorso curvo E docemente olhar-me nua No espelho das escamas Cavalgando o oceano imenso

Sammis Reachers

Leandro Dartora Lajeado-RS

Rio de Janeiro-RJ

enquanto a direita, demonstrando desprezo, fazia a barba. De repente, embrutecido pelo

Eu deixo amor Queimares em minhas águas-vivas Se abrires minhas conchas Quem sabe Dar-te a pérola

Alexandre Mello

toque gauche: "Bem no fundo." "Pára com isso." Queria carinho. Mas era puta. Ele largou a gilete sobre a pia, ela

Rosália Milsztjan

lambuzava-se com a espuma. A alvura

(Luminosidades, Ed. Sette Letras, 1999)

dominou seus olhos. "O que tu enxergas?" Só a alma poderia ser branca e

...E, como disse meu colega FHC, podemos negociar com a ALCAtéia sem prejuízo da soberania...

mentolada. Furioso, reassumiu a gilete. Deu de ombros. Em tom desiludido: "A resposta certa é permanência", preocupado novamente com a simetria da

TIRO E QUEDA

voltando-se novamente, curioso, como quem dá mais uma chance. “Transitoriedade?”, respondeu indecisa, num assomo de lógica formal. “Não. Permanência.” Já enxugava a cara e secava com a toalha. Avaliava o grau dos ferimentos que restaram. Já a havia desprezado no primeiro aparar da barba.

Nato Azevedo

- Eu vi com esses olhos que um dia a terra há de comer... foi tiro e queda! O sujeito veio planando igual borboleta e estatelou-se na calçada. - Mas porque esse louco cometeu suicídio...E logo do alto do prédio? - Só que não foi suicídio, seu moço; era um protesto contra a morte da filha assassinada por bala perdida durante um tiroteio da polícia! -E desde quando, no Brasil, alguém protesta se matando? Afastou-se acabrunhado da multidão sedenta de sangue e de detalhes mórbidos, desejando intimamente que todo político que protestasse, subisse antes ao topo de algum edifício. Em muito pouco tempo nosso país estaria bem melhor, com toda a certeza!

Gustavo Zortéa da Silva

LULALÁ a missão

DÓL FOME AR MISÉRIA

IMP DESEMPREGO UN IDA DE R A

A PRIMEIRA RUGA Causa sempre um profundo desgosto às senhoras bonitas, e vós o sois todas, senhoras. PODEIS EVITAR esta fatalidade empregando regularmente na vossa toilette o incomparável CREME LA FISCHER. SEM PRAZO DE VALIDADE

OS

Washington - Os EUA voltam a apontar suas artilharias em direção a um novo alvo. Amparado pela consagradora vitória republicana nas eleições, com a economia em recessão e pressionado pela indústria bélica, Bush Jr. tenta, de todas as formas, convencer os aliados a invadir o Iraque para eliminar Saddan Hussein e se apossar das suas reservas de petróleo.Perseguindo o obetivo traçado em paralelo: a“guerra ao terror.”

ABC Pictures apresenta:

O IN MB SS O

J UR

Bush prepara queda de Saddam Hussein

Juanito

Munõz

V DÍ TER EX

The Washington Depost

..mas raramente será um engano.

I FM

CA AL IDA A N

Anúncio publicitário:

Pode ser um pecado pensar mal dos outros...

CI

barba. "O que não enxergaste?", perguntou,

CURTA Se UM INTEIRO não resolver o problema doBrasil, UM PARTIDO jamais resolverá. Andrade

VI OL ÊN

"Alma."



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