Jornal Vaia edição 02

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Carlos Nejar

Paulo Oliveira


Já faz algum tempo que percebo nas ruas de Porto Alegre uma atmosfera diferente, ela me embriaga sem a ressaca, estimula e provoca o meu gozo. Falo de uma moçada que faz arte numa multiplicidade espantosa. Eram meninos e meninas que na adolescência se reuniam, ali no Menino Deus, na casa do Cisco para ouvi-lo tocar aquela guitarra num quarto pequeno e de paredes pichadas, em meio a muita testosterona e thc. Com o passar do tempo comecei a perceber que não era apenas um quarto enfumaçado, mas uma oficina de talentos. Quando dei por mim parecia que eu vivera um sonho, como se o quarto fosse um grande baú que eu vira extasiada sair boa música, pernas de pau, câmera filmadora, máscaras e maquiagens de personagens que não eram anjos e nem meros palhaços. Eram personagens representando, na minha opinião, os nossos monstros de um inconsciente coletivo, desesperado de quem vive numa sociedade que provoca nossa ironia e descaso. Durante o Fórum Social Mundial 2001, eles estavam lá : faziam malabares em pernas de pau, cuspiam fogo, mostravam os rostos maquiados, cantavam, tocavam, discutiam a vida, amaram-se e transaram.... Enfim viveram o Fórum, aprenderam com ele, mas este aprendeu muito com eles! Nas oficinas com meninos e meninas de rua na Escola Júlio de Castilhos, eles também estavam lá, ensinando a gurizada a andarem em pernas de pau. Numa noite dessas do mês de maio eu estava no bar Opinião, assistia a um show musical de um grupo da nossa província, que se chama "Os Melaras", quando para minha surpresa é anunciado um guitarrista que sobe ao palco tocando James Brow, era o Cisco. Nossa! Que show! Alguma coisa naquela guitarra me lembrou a saudosa banda Cheiro de Vida... As perguntas que me ficam são: O que esses meninos ouvem? O que eles lêem? A que filmes assistem? Quais peças teatrais curtem? O que eles comem?! Só sei que eles fazem a cena sem a melancolia da minha geração que viveu sob um regime militar, reproduzido em nossas casas. Vai ver está aí o que nós precisamos para sempre: liberdade! Embora já tenha sido dito que a justiça é feita somente entre os iguais, ainda é essa minha utopia: Pão e igualdade de expressão para todos!

Uma história de amor à natureza

Fernanda Gautério Pedrazzi

É uma história que fala sobre o relacionamento especial entre um menino e a Natureza. A intenção do livro é passar a mensagem de que a Natureza é essencial na vida humana e, por isso, merece o mesmo carinho, respeito e atenção que dispensaríamos a nosso melhor amigo ou aos nossos familiares. “Gabriel, uma história de amor à natureza” tem a participação especial de Luis Antônio Machado de Barcelos, como ilustrador e capista. Luis Antônio é desenhista, cartunista e caricaturista.


Há muito seu corpo a ninguém pertencia. Sua alma acompanhava com ironia o decorrer das estações. Poucas pessoas faziam parte de sua vida, um semicírculo talvez. Mantinha reais impressões embaladas e protegidas, sem conexões com imagens criadas. Pelos cantos ainda guardava pequenas caixas vazias, algumas trazidas por anjos, outras esquecidas pelo descaso da passagem do tempo. Fazia-se necessária a solidão. Em alguns momentos, a presença humana vulgarizava forças refletoras contidas. Vozes tornando-se um som deformado de máscara sem riso, sem história, sem expressão. Perguntava-se onde estava o outro lado. Uma alma-metade estava faminta e alimentava ilusões. Abriu a janela, após uma escuridão sem limites, para atingir a luz submersa e encantada de sons sem escalas. Tanto era possível um eclipse nascido no silêncio do calor encoberto, quanto um grito agudo pela ânsia do tempo perdido. Da mesma janela, esperava ser levada para bem longe e com a certeza de ser entregue de volta a sua casa. Conservava mistérios a ser desvendados em momentos mágicos.Tinha a certeza de que jamais seria inteiramente conhecida por quem quer que fosse, abandonara o perdão sem resposta, uma parte distante e sem passagem que não evocava retorno. Tantas foram as lutas entre pedras e chuvas, que o além-vida encontrava-se amedrontado. Destruída a semente antes de tornar-se fruto. Corpos nus antes da hora. Hora agora de uma longa espera. O homem não se aproximava e necessitava de aviso. Encontrava-se submerso e atingido pelos medos da nova era e da razão mantida em tubos vítreos. Tantas informações e tão poucas relações. Trocas adulteradas. Ela estava pronta para juntos plantarem sem previsão de colheita. As luas cumpririam a missão de comunicar as mudanças, o momento de matar a fome ou de calar. De jogar tudo fora ou de ficar. Sua estranheza não era pelo novo outro, mas pela força de sua paixão.Não tinha medo de ter, mas receio de não interpretar a verdade. As rachaduras na terra perdiam-se de vista. Previa um querer abstrato e ondulante, um contato que superasse o imaginário. Não uma fantasia romanesca, mas o próprio despertar com vida única e sem conclusão. Sua espera não trazia utensílio nenhum, a compreensão fazia morada na estação dos riscos e desencontros. A viagem já havia começado nos trilhos de uma verdade perdida. O calor que a atirava ao chão ainda possuía esconderijos e transcendia os pontos que recusavam tornarem-se linhas retas. Passados alguns anos, um ramo de flores do campo surgiria entre as rachaduras de uma geleira.


Desconcertada e confusa, Odete repôs o fone no gancho. Então o marido estivera com a mãe dele! Como ela era tola! Paulo, sem entender nada, olhava interrogativamente para a esposa, que também o olhava, muda, olhar transtornado.

No meio da noite, Odete acordou com o forte e inexplicável pressentimento de que o marido tinha uma amante. A princípio, pensou que havia sonhado, mas, por mais que tentasse, não conseguia se lembrar do sonho. Tentou convencer-se de que era uma bobagem. Afinal, em três anos de casados, Paulo jamais lhe dera sérios motivos de suspeita. O máximo que fazia era ir às vezes à casa de amigos, mas Odete conhecia todos e não achava que eles pudessem estar acobertando infidelidades conjugais. Fechou os olhos e tentou dormir outra vez, mas aquela sensação desagradável não a abandonava. O marido ressonava a seu lado, alheio ao que se passava na mente dela. Por que esse pressentimento súbito? De onde vinha isso? Por que não conseguia pensar em outra coisa? Fez uma recapitulação mental da vida conjugal que mantinha desde o casamento, à procura de motivos que viessem confirmar suas suspeitas atuais. Aliás, não eram propriamente suspeitas. Faltava a Odete inclusive uma palavra adequada para qualificar o que sentia. Tudo em vão. O marido era caseiro, não tinha muitos amigos e freqüentava com regularidade a casa da mãe, a quem era muito ligado. Não encontrou nada significativo. Cansada de rolar na cama sem poder dormir, levantou-se e ligou a televisão. Decidiu, porém, colocar o marido sob severa vigilância, pois, pensava, a intuição feminina não pode ser desprezada. Alguns dias depois, tendo Paulo se atrasado cerca de meia hora para chegar em casa, ela não pôde reprimir um gesto de irritação ao vê-lo entrar. Ela não lhe dissera nada, já que, na verdade, não havia nada para dizer, de modo que ele não conseguiu compreender aquela atitude agressiva da esposa, habitualmente tão pacata e pacífica. Viu-a pegar o telefone e discar. - Alô. Dona Catarina? A senhora tem alguma notícia do Paulo? perguntou Odete à sogra. - Sim, ele saiu daqui há dez minutos. Deve estar chegando.

- O que está acontecendo? quis saber. - Nada. Acho que estou ficando louca. Odete fez força para esquecer tudo aquilo, para não pensar mais naquelas suspeitas que vieram do nada, para voltar à vida normal. Mas não pôde. Começou a ligar para o trabalho do marido nas mais variadas horas do dia, esperando sempre surpreendêlo fora da empresa; revistava-lhe avidamente os bolsos, à procura de algum bilhete; prestava especial atenção a tudo o que ele dizia, na esperança de que, a qualquer momento, ele se traísse. Tudo, porém, era em vão: não encontrava nenhum indício de traição. Sentia que precisava desabafar, tinha necessidade urgente de contar a alguém o que sentia, mas não se decidia a fazê-lo, primeiro porque não tinha nenhuma amiga suficientemente íntima para se abrir a tal ponto, e depois porque temia ser tachada de ridícula. E, nessa angústia, o tempo ia passando. Uma noite, diante de outro pequeno atraso de Paulo, Odete achou que não podia agüentar mais. Decidiu ir até a casa da sogra, que morava a duas quadras, e contar-lhe tudo. Não se importava com o fato provável de que ela defendesse o filho, tentando possivelmente dissuadi-la daquela idéia. De repente, não se importava mais que a sogra pudesse achá-la ridícula. Gostava de dona Catarina e, apesar de reconhecer que não se tratava da pessoa mais indicada para ouvir essa confidência, não havia mais ninguém disponível no momento, e Odete estava angustiada demais para se preocupar com detalhes. Ao chegar à casa da sogra, tudo estava quieto. A porta estava trancada e, contrariando os seus princípios, Odete viu-se procurando na bolsa a chave da casa de dona Catarina. Encontrou-a logo e abriu a porta, estacando ante os ruídos estranhos que chegavam até ela. Num primeiro momento, não entendeu do que se tratava, mas em seguida percebeu que eram sons típicos do ato sexual. "Que estranho! Que eu saiba, dona Catarina não tem ninguém!" Odete aproximou-se, pé ante pé, da porta do quarto de onde vinham os gemidos, que agora ouvia distintamente. Não havia nenhuma dúvida acerca do que estava se passando dentro daquele cômodo. Nada, porém, fazia sentido. Num impulso, sem saber bem o que fazia, Odete empurrou a porta do quarto, que não estava trancada. Acendeu a luz e o que viu fez com que ela tivesse de se segurar na parede para não cair: o marido, completamente nu, deitado na cama com a mãe, também nua. Não podia crer no que via, mas era verdade!

Gilberto Bunchmann


Fernando Ramos

Ernesto Sábato

· São Sãomais maisdede5 5bilhões bilhõesdedepessoas pessoasvivendo vivendonum num campo de concentração informal. Comem mal, moram mal, são humilhados e oprimidos. Sobrevivem sem nenhuma perspectiva. Entre essas tantas se contam os excluídos, ou seja, o lixo humano, os que nem comer comem. A humanidade está doente e a natureza está sendo corroída pelo câncer que é o homem. O mundo visto por Ernesto Sábato é esse aí. O escritor argentino, autor de "Sobre heróis e tumbas", "O túnel", entre outros, famoso também por ter presidido a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas, cujo trabalho originou o relatório "Nunca más", publica agora pequena narrativa autobiográfica, saída "da alma, não da cabeça", Antes do fim, Memórias (Cia. das Letras, 165 págs). É um amargo, mas também belo relato de vida. Ele fala da sua infinita solidão na infância, do trabalho como físico, da decisão de abandonar a ciência e viver para a literatura, da amarga recusa dos editores em publicar "O túnel", que então muito agradara a Albert Camus, da perda da mulher e do filho, do trabalho sobre as pessoas desaparecidas pela ditadura argentina, e da sua total descrença no mundo atual. Hoje, Sábato, aos 90 anos, depois de abandonar a carreira científica e se afastar da literatura, quase cego, solitário e triste, sem o filho Jorge e a mulher Matilde, dedica-se somente à pintura. Porém a autobiografia vai além da esfera pessoal. Ainda que desiludido, o livro nos proporciona uma lição de humanidade e liberdade, nos conclama à solidariedade e à resistência e conclui nos convidando a selar o "pacto entre derrotados: que nos abracemos em um compromisso - saiamos para os espaços abertos, arrisquemo-nos uns pelos outros, esperemos, ao lado de quem estende os braços, que uma nova onda da história nos erga". Essas memórias foram escritas para os e por causa dos jovens. ES ainda deposita esperanças neles e os insufla a fazer uma "insurreição à maneira de Gandhi", exortando-os à rebelião. Sábato sempre foi anárquico e rebelde, jamais fez concessões. Esteve sempre à margem do círculo literário argentino. Deu o seu recado.



A chegada do Pe. Roque ORIGENS DO RS á 375 anos, no dia 03 de maio de 1626, o Pe. Roque Gonzáles de Santa Cruz adentrou o solo gaúcho e fundou a Redução de São Nicolau. Há tempos que o Padre tencionava ingressar em terras sul-rio-grandenses mas o empecilho chamava-se Nheçu. A prudência mandava esperar. O Pe. Roque Gonzáles tinha uma vida dedicada à causa missionária indígena. Embora de família da nobreza espanhola de Assunção, Paraguai, privara com índios desde a infância. E desde a infância trazia a vocação religiosa. Ordenou-se padre secular, em 1599. Seu primeiro trabalho apostólico consistiu em missão junto aos silvícolas da região de Maracaju, Paraguai. A estada entre os índios foi breve mas bem sucedida e muito marcante. Consta que sua ação ficou lembrada por gerações e o sucesso fez com que fosse chamado à Capital, para assumir como Cura da Catedral de Assunção. A integridade de sua conduta, a firmeza de seu caráter, a força de sua personalidade, tudo contribuiu para que, em 1609, já fosse convocado para Vigário Geral da Diocese. O Pe. Roque não queria honras; queria a salvação dos índios. Pediu dispensa do ministério secular e obteve licença para ingressar na Companhia de Jesus. Além de colégios, residências e outros misteres, os padres jesuítas cuidavam das missões indígenas. Era o sonho do Pe. Roque. A primeira missão que lhe coube, como jesuíta, foi uma espécie de “missão impossível”: pacificar os ferozes guaicurus, índios nômades do Chaco. Estes eram temidos e ninguém acreditava que o Pe. Roque voltasse com vida. Voltou. Com os índios pacificados e muitos, batizados. O Pe. Roque começava a mostrar a que viera. Em 1611 foi enviado para a redução de Santo Inácio Guaçu, fundada dois anos antes. Havia problemas na redução, e não eram poucos. O Padre Roque Gonzáles chegou e resolveu, conforme escreve D. Estanislau A. Kreutz: Roque Gonzáles, com seu seu tino eminentemente prático e sua experiência pastoral, muitíssimo contribuiu no sentido de consolidar o próprio sistema de reduções. Tanto assim que Santo Inácio Guaçu se tornou, em definitivo, modelo de reduções futuras, as quais vieram a somar mais de trinta. A partir daí o Pe. Roque Gonzáles não pára mais. Descendo o rio Paraná, funda a redução de Santana, em 1615. Segue-se a fundação de Itapúa e a consolidação de Jaguapoa, em 1618. Já em aproximação ao rio Uruguai, funda Concepción, Argentina, em 1619. Preparava, assim, um ponto de apoio para o ingresso no hoje território do Rio Grande do Sul. Em solo gaúcho, à esquerda do rio Uruguai, no vale do rio Ijuí, comandava Nheçu, cacique e pajé de grande prestígio . Este não simpatizava com a chegada do homem branco, era-lhe mesmo hostil. Foram precisos quase sete anos de negociações até que a entrada do Pe. Roque fosse permitida. A data que se pode dar como marco é de 03 de maio de 1626, quando é fundada oficialmente a Redução de São Nicolau, afirma o historiador Mário Simon, sobre a entrada e chegada do Pe. Roque Gonzáles.

H

Ilustração mostra o pe. Roque Gonzáles e outros missionários atravessando o Rio Uruguai para fundar as primeiras reduções

Depois, o Pe. Roque fundaria ainda outras reduções mais, em solo rio-grandense-do-sul. Ao final, só mesmo golpes de macaná conseguiram parar o intrépido Padre. Em 15 de novembro de 1628, na recém-fundada redução de Caaró. Clovis Lugon, em seu livro clássico sobre as reduções jesuíticas, escreveu (3ª ed., pp. 40/1): No vale do Paraná, o Padre Gonzáles desenvolvera uma atividade extraordinária, estendendo suas fundações desde Entre-Rios, na direção sul, até às margens do Uruguai e mais além, na região que iria tornar-se a mais próspera da República Guarani. A referência à região que iria tornar-se a mais próspera é uma referência aos hoje tão celebrados Sete Povos das Missões. Estes surgiriam bem mais tarde e teriam seu apogeu mais de um século depois. No entanto, as bases desses futuros e prósperos Sete Povos das Missões estavam sendo lançados aqui, pelo Pe. Roque Gonzáles de Santa Cruz. Quem tal observa e registra é o mesmo Clovis Lugon, (3ª ed., p.43): A importância e o significado das missões guaranis livres viam-se finalmente reconhecidos. (...). (...). Basta examinar no mapa a situação e a extensão do território ocupado para nos sentirmos empolgados pela amplitude da obra criada em menos de trinta anos por alguns missionários isolados. (...). A organização (...) deveria aperfeiçoar-se até o fim, sempre na mesma linha traçada no começo. Por volta de 1630, adquirira, no essencial, a sua forma definitiva. Em turismo, hoje, fala-se muito em Sete Povos das Missões, sua arquitetura, sua estatuaria, sua arte. Tudo, deveras grandioso. Esquece-se porém, as origens, as causas, a fonte primeira de toda essa grandiosidade. Esquece-se o começo, a história de como tudo começou. E tudo começou quando o Pe. Roque Gonzáles de Santa Cruz pisou em solo gaúcho, plantou a Cruz de Cristo e fundou São Nicolau. No dia 03 de maio de1626. A chegada do Pe. Roque é o começo da História do Rio Grande do Sul.

NELSON HOFFMANN autor de “O Homem e o Bar”


BAZAR

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CULTURAL

POEMA COMPACTO E COMPARADO POEMA COMPLETO E VERDADEIRO (ainda inevitável) (estudo entre a esquerda e a direita; definido e indefinido; J.Cristo e o demônio) o fruto uma flor um pecíolo um galho heliotropismo positivo um tronco geotropismo raízes terra oração o trabalho sinistrógira a mão limpa e forte O HOMEM CTPS O caráter uma semente

luxo importado sonegação jeitinho galhos patriotismo negativo covardia moral modo de vida necessidade de rir, de viajar desinteresse missa em ação de graças...! o recreio, o cassino destrógira escravatura = neoliberalismo um empregado flexibilização, trabalho autônomo imunidade = impunidade A RENDA, O LUCRO

Ivan Rodrigues de Amorim ira.6280@zaz.com.br O

Para caro leitor,que queachou achouaadica dicade decinema cinema Para ti, ti, caro leitor, da edição passada muito "baixo astral", trago agora duas opções de filmes em vídeo no gênero comédia, indicadas para pessoas sem preconceito e bem-humoradas. O filme nº 1 é "A Pervertida", 1999. Uma coprodução Paris Filmes e Massimo Ferrero, escrita e dirigida por Tinto Brass. É a estória de Carla e Matteo, um casal de jovens namorados, ambos italianos; ele, vivendo em Veneza; ela, em Londres. Influenciado pela distância, as amizades e pelos acontecimentos vividos por Carla e transmitidos por telefone a Matteo, este passa a atormentar-se por pensamentos de desejo e traição, mais ou menos ao estilo Tom Cruise em"De Olhos Bem Fechados", com a diferença que a mocinha, neste caso, é bem mais "animada" do que o personagem daquele filme. "A Pervertida" traz à tona o tema sexualidade, envolto em um erotismo explícito, repleto de situações engraçadas, inusitadas e provocantes. Os protagonistas são a exuberante Yuliya Mayarchuk e Jarno Berardi. O 2º filme é "Minha vida em cor-de-rosa",uma produção de 1997, francesa, ganhadora do Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro em 1998. A direção é de Alain Berliner e traz no elenco MiChèle Laroque, Helène Vincent e Jean-Philippe E- coffey. A sexualidade é também a questão central da estória, na qual um menino de sete anos descobre em si uma personalidade feminina conflitante com a sua condição masculina. Enfrentando a indignação, intolerância e agressividade de vizinhos, colegas e familiares, o pequeno Ludovic segue, perseverante, o sonho de um dia ser reser reconhecido como mulher. Mas tudo isso é retratado de maneira leve, bem-humorada e inteligente. A todos, bom divertimento, e até a próxima. Tchau! Mariba

Odi dolentiam pro se Odi turpitudinem humanam Doleo me ipsum Sumque turpis Sum quae maledico Gustavo Zortéa da Silva


Sábado de tarde. Tocamos o interfone de um apartamento no Menino Deus (eu, Rogério, e o Joca - depois chegaria o Marco, atrasado por conta da sua condição de editor chefe). Um cabeludo abriu a janela e falou, a uma distância de uns vinte metros: “estende a mão pra direita”. Eu: “como assim?”. “Estende a mão pra direita”, ele repetiu. Era o Cisco Vasques. Eu obedeci (não podia me indispor com um dos entrevistados logo de cara). Ele arremessou a chave que serviria pra abrir o portão. A chave girou no céu, passou pelo meio de uma grade de ferro e caiu na minha mão. “Putz, que chegada”, pensei. Lá dentro, aquele monte de gente, esculturas impressionantes penduradas nas paredes. Logo chegou o cara que mais falava, o Luciano Fernandes, junto com o Robson. Mais tarde, Fernanda, Gabriela, Bozó, Leonel, Maurício, Xiru e Teimoso. Afinal, quem são eles? Não são um grupo fechado (tipo banda de rock). Mas alguém já viu algum deles em algum lugar do Estado: no Brique fazendo malabares, no Fórum Social Mundial fazendo performances com malabares e fogo, na Igreja de Pedra de Canela com monstros que parecem saídos de um filme futurista das cavernas, num queijão numa festa tecno, ou nessa mesma festa tecno com figurino de Kiss chocando os muderno. Afinal, quem são, de onde vieram e pra onde vão?

VAIA - Falem um pouco do III Encontro Internacional de Malabares, Circo e Percussão do Brasil ... TETO PRETO - Este será o terceiro encontro de malabares e percussão do Brasil.(de 15 a 18 de novembro de 2001, em Porto Alegre). Os dois primeiros encontros foram no RJ, em Maricá, num sítio, e a proposta do encontro é a galera vir, os artistas de circo, ficar todo mundo acampado durante quatro dias numa área em que a gente fique conversando, treinando junto, trocando experiências sobre o que cada um já fez, mostrando o que cada um está pesquisando. No Brasil são tantas culturas, que todo mundo tem influências de milhões de coisas e cada um faz uma coisa diferente, de região pra região. Então, só o encontro já fomenta muita coisa, porque aqui no Sul fazemos um circo completamente diferente da galera do Nordeste.

VAIA - E quais são as diferenças entre o artista nordestino e o gaúcho? TETO PRETO - Lá no Nordeste eles estão mais na rua, eles trabalham mais na rua. Existe uma história de festa cultural deles maior do que a nossa, de manifestação de rua mesmo. Então eles têm os bonecos de mamulengo, misturam tudo com a arte do circo, né. Aqui no RS não têm tantos artistas na rua, agora é que estão começando a surgir. A gente não tem esta cultura de botar artista na rua passando chapéu, a não ser no brique da Redenção que é uma coisa tradicional, mas também tem um monte de burocracia pra se apresentar ali. VAIA - E o pessoal que vem pro Encontro é de circo mesmo ou, por exemplo, o cara que é artista de rua, o cara que toca violão, o homem-folha, está incluído nisto?

TETO PRETO - Vamos tentar reunir aqui o maior número possível de artistas. Porque o circo está aberto pra todos os artistas, pra música e tudo o mais. E, como a gente não tem uma tradição muito grande em circo, não temos ainda tantos artistas de circo assim no Brasil. Então, isto é uma coisa muito contemporânea e a gente não deve descartar nenhum tipo de artista. Todos estão incluídos nesta nova arte. VAIA- Agora, o que vocês acham do público gaúcho? É mais frio que o nordestino? TETO PRETO - É bem mais frio. Mas acreditamos que podemos mudar isso. Até porque, como não temos uma característica turística, então tudo que vamos fazer... “ah, não é legal”. A partir do momento que a gente tiver uma característica mais turística, haverá mais espaços pros artistas de rua. Terá sempre alguém pra admirar o que se faz aqui. A galera ainda não valoriza o que é daqui, parece que tem que vir uma coisa de fora. E a gente que está aqui, tem que ir lutando contra isso e continuar mostrando, até que a galera comece a reconhecer, porque outras pessoas de fora vão vir e vão dizer: “bah, aquilo é legal e é de lá mesmo”. E agora, aqui em POA, está começando a acontecer uma fomentação disso. E o encontro de malabares veio pra cá porque eles acreditam que aqui exista um apoio maior à cultura. Porque o circo é uma manifestação de artistas que não são muito organizados ainda, são artistas de rua, estão sempre viajando e trabalhando na rua. A gente procurou o Fumproarte, mas não conseguimos o apoio. Porque talvez eles não tenham entendido direito, ou talvez nós não soubemos explicar como era o projeto, a gente não tinha um cronograma


grupo de malabares

III Encontro Internacional de Malabares, Circo e Percussão do Brasil 15 a 18 de novemvro de 2001 - Porto Alegre - RS - Brasil VAIA - E a idéia de vocês é não ter um cronograma? TETO PRETO - Não, a gente pensa em ter um cronograma mas ele vai se definir aos poucos, porque este encontro é paralelo com o encontro da Argentina, muito tradicional, que já está na sexta edição e é o maior e mais famoso da América Latina. E a Argentina tem tradição de circo há muitos anos. Então a galera do encontro da Argentina vem pro encontro daqui, que é uma semana depois. Por isso, a gente não sabe ainda o cronograma: vamos puxar esta gente de lá e não sabemos ainda quem vai vir. Porque o encontro é feito pelos artistas mesmos. E o encontro tem que acontecer de qualquer jeito. Acreditamos que cedo ou tarde a galera daqui vai reconhecer... VAIA – E como surgiu o grupo de vocês? TETO PRETO - Bom, eu (Luciano) vou falar da minha experiência. Há dois anos, esteve aqui o professor de circo Renato Coelho, um cara do RJ que veio morar aqui e eu comecei a aprender malabares com ele. Trabalhei um monte também com a Terreira da Tribo, que é uma referência em POA pra todo o Brasil. E a gente tem muita influência deles, essa coisa de encarnar o personagem, essa coisa visceral. Depois eu conheci o Cisco Vasques que é um puta pesquisador de maquiagem, a história do sangue, o conhecimento de cinema que ele tem, o trabalho com latex, e a gente começou a inserir isso no trabalho. Tem também os caras do teatro de bonecos, que têm uma coisa lúdica que às vezes a galera do teatro não tem tanto. Então, misturando tudo isso, dá um diferencial que aqui no Sul a gente está pesquisando. VAIA - E o público de vocês? TETO PRETO - Estamos conseguindo conquistar um público que se afasta das artes. Essa idade entre os quinze e os vinte e cinco anos, que ainda é pouco trabalhada. Agora está começando uma revolução de se fazer arte pra essa geração. Essa galera não vai muito ao teatro, eles não gostam muito de ir. Eles acham o teatro adulto muito chato, muito lento, muito bobo, careta. Coisas infantis não servem pra eles, porque tu sabes como é que é adolescente. O Stercus (Grupo Falus&Stercus) também trabalha com esse público e também tem uma linguagem mais porrada, mais pesada, mais dinâmica, mais forte, acho que é um grupo que tem a ver. Então, a gente está indo atrás dessa gurizada nas festas da noite, de perna-de-pau.Uma coisa que é importante deixar claro é que a gente é muito influenciado pelo surrealismo. Somos conscientes do que fazemos, que estamos começando uma história e que, às vezes, a galera olha, sem entender... Tentam explicar o que é, vem pedir explicação... “o que que é isso”?


Teto preto

VAIA - A juventude não está com vontade de discutir política institucional. Vocês tentam pegar mais pela vida cotidiana, dos costumes? Porque o lance de fazer política institucional misturada com arte, as pessoas não estão a fim... Esse discursinho ...

TETO PRETO - É, isso tem que estar imbuído dentro da tua história. Por exemplo: a gente trabalha numa boate(Século XV, em Cachoeirinha) todo o fim-desemana onde vão de duas a três mil pessoas por noite. Somos os responsáveis pela abertura. No Natal, fizemos o enforcamento do papai Noel, lá. Porque fizemos o enforcamento dele? Não foi assim, de graça. Primeiro, entrou o papai noel distribuindo presente, tocando dinheiro pra cima, mostrando esse lado capitalista, a galera na loucura do consumo. Depois, entraram umas figuras muito fortes, muito agressivas, muito rock’n’roll e aí a gente foi lá e enforcou o papai noel, num dia em que, de repente, estava todo mundo num outro astral. Isso é que é um diferencial, uma manifestação ao mesmo tempo. Não que a gente ache que não se deva confraternizar. Mas não só nessa história de grana, entende?... VAIA – Qual a origem do nome Teto Preto? TETO PRETO - Quando eu (Luciano) conheci o Cisco ele tinha uma produtora chamada Teto Preto, que tinha a proposta de fazer as coisas mais loucas, sem muita explicação, mais “viagem” mesmo, não sei se vocês entendem. E isso acabou influenciando um monte o grupo. A história de Teto Preto: não é só quando o cara está chapado que ele tem isso. Por exemplo: uma vez, o Tatata Pimentel chegou numa mulher para entrevistá-la e ela tomou um susto. Ele perguntou o que houve e ela disse que estava impressionada com a gente nas pernas-de-pau. Ela falou isso naturalmente, estava muito impressionada com o que estava vendo. Ela estava tomando o “teto”. Teto Preto. Em alguns segundos, o cara fica “viajando”. Parece que se desliga do mundo e fica conectado com aquilo. Isso é o “teto”. E é isso que a gente busca nas nossas performances: ser uma coisa tão impressionante visualmente que tu tens um segundo de... “o que que é iiiiiiiiiiiiisso, cara?” Esse é o momento em que o cara tem o teto. Mas temos que tentar buscar isso naturalmente e não só através das drogas. (Entra o Cisco Vasques, rasgando): -Olho e vejo em nossa volta as pessoas mais fortes e inteligentes do mundo.E vejo todo esse potencial sendo desperdiçado. Uma geração inteira absolvendo assassinos, servindo mesas...ou escravo de colarinho branco. A propaganda nos faz correr atrás de coisas ... Trabalhos que odiamos ... para acabar comprando coisas que não precisamos. Somos os "filhos do meio" da história. Homens sem lugar. Não temos a grande guerra nem a grande depressão. Nossa grande guerra é a espiritual... Nossa grande depressão são nossas vidas. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas do cinema e do rock. Mas não seremos e estamos, aos poucos, aprendendo isso...Tente chegar ao auge sem querer chegar lá, assim terá estruturas para não cair, e só vai conseguir se for de CORAÇÃO. VAIA- Bom, a gente sabe que vocês ainda estão correndo atrás de mais patrocinadores para o evento...

TETO PRETO- Ah! Isso é importante! Se tiver alguém interessado em saber mais detalhes de como vai ser o evento ou de como nos apoiar, pode contatar através do telefone (xxx)-(051)-324-94923, com o Luciano Fernandes.

VAIA – Pra encerrar... Tem outro grupo forte de pernas-de-pau, ali na Pe. Cacique. Vocês acham que poderá haver concorrência ou uma integração? Vocês atuarem no time do Inter ou mandar o pessoal de lá trabalhar no Teto Preto? (Risos) TETO PRETO- Olha só. A gente foi fazer um trabalho pra Ipiranga no jogo Grêmio x Corinthians (decisão da Copa do Brasil). Fomos entre oito pernas-de-pau pro jogo e foi muito engraçado porque a galera via a gente e ficava gritando. A gente respondia: “Estávamos sem emprego, não tinha jogo e arrumamos aquele ali, pelo menos”. Circulamos pelo campo com uns placões da Ipiranga, de perna-de-pau. Foi muito legal. E perna-de-pau, em alguns casos, tem tudo a ver com futebol, né? (Risos gremistas)


. KOLE

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Felipe Oliveira


arte Felipe Oliveira

carta ao artista

Leonardo Torres


Coluna do Joca João Carlos da Silva

Ajude Bertoldo a ir para Londres Will Eisner

Bertoldo quer ir para Londres. Bertoldo precisa ir para Londres, pois sabe que somente lá naquela terra sagrada, onde tudo começou, terá o devido reconhec i m e n t o a o s e u t a l e n t o e a sua genialidad e .

Bertoldo é um homem acima da média (1,87m.) que, p o r f o r ç a d o d e s t i n o a p ó s o t r â n s i t o d o s o l s o b r e j ú p i t e r, a c o n j u n ç ã o d e s a t u r n o sobre mercúrio e uma lata de sinteco que cheirou, foi empurrado em meados dos anos 80 para dentro do judiciário federal, sendo obrigado até o dia de sua futura partida para Londres, a conviver com funcionários públicos, homens inferiores (média 1,70m) incapazes de reconhecer nele o talento característico dos grandes homens que marcam a história da humanidade. Por isso que na repartição, mesmo tendo passado os últimos 15 anos numerando e perfurando folhas de processos, nunca se considerou um colega, um funcionário público, pois sua condição passageira no serviço público não poderia se sobrepor ao s e u v e r d a d e i r o o f í c i o : i n v e n t o r. A l i á s , o f í c i o m a n i f e s t a d o d e s d e m u i t o c e d o . Sabe-se que um dia, quando ainda nem alfabetizado era, correu para sua mãe para mostrar seu primeiro invento: -Mamãe, veja o que eu inventei! Uma roda! Isto será de grande utilidade para a humanidade! Contam que sua mãe pacientemente lhe explicou que a roda já existia havia algum tempo e tampouco fora inventada por ele. Inconformado, trancou-se no porão da casa, após sair gritando: -Me copiaram! Me copiaram! Bertoldo também é o autor do Método 3 E de sistematização do serviço público - mais Eficiente, mais Eficaz, mais Efusivo- . Segundo ele, quando o método for assimilado pela Administração Pública dividirá o serviço público em duas eras: antes e pós Bertoldo. Bertoldo precisa ir para Londres. Não só porque a indiferença ao seu ser tão diferentemente superior está lhe condenando à amargura e revolta que só os grandes gênios experimentam, mas porque também nos últimos dias tem observado que vem sendo seguido por alguém que se utiliza de múltiplos d i s f a r c e s . Te m e q u e p o s s a s e r a s s a s s i n a d o , p o i s é u m h o m e m d e l u z e s e m p l e n a é p o c a d e a p a g ã o , o u a i n d a p i o r, t e m e q u e p o s s a s e r u m e s p i ã o q u e r e n d o roubar-lhe o invento secreto que vem desenvolvendo nos últimos dez anos e está prestes d e s e r c o n c l u í d o . Mas não só por isso, Bertoldo tem de ir para Londres porque lá é a terra da revolução industrial! A terra de John! É lá que seu invento merece ser l a n ç a d o , u m i n v e n t o p a r a i n g l ê s v e r, j á q u e a q u i a c o n j u n t i v i t e d o subdesenvolvimento não permite enxergar o gênio-inventor e muito menos permitirá que se enxergue, ou se entenda, a invenção. Por isso a campanha ”Ajude Bertoldo a ir para Londres”. Bertoldo, este gigante de nossa pátria que um dia, por força exclusiva do destino, como um gado, porém um gado pensante, marchou rumo ao brete do serviço público e burocrático e embretado neste meio com sua magnânima inteligência, ganhou como recompensa de seus colegas apenas um apelido, o de Bertoldo Brete, afinal cada um tem o Brete que merece. Colaborações para mandar Bertoldo para Londres (ou Groelândia), sem volta, podem ser enviadas para conta 001.756/18 London Bank. J o ã o C a r l o s d a S i l v a é a g e n t e j u d i c i á r i o , a g e n t e d e t u r i s m o e e x - agente


Conselhos Sentimentais do Dr. Porfírio Madalena (*)

três horas de

eter nidade

-

Sou funcionário público federal federal ee ganho Sou funcionário público ganho o suficiente suficiente para para pagar pagar oo aluguel de um apartam ento de dois quartos no qual m oram os eu, m inha m ulher e um filho de 6 anos. Trabalho com o um condenado, carregando processos pesados e digitando sem pre os m esm os registros em um com putador em rede. Depois de longas 8 horas, saio do trabalho com dor por toda a coluna e, às vezes, nos pulsos. Tom o um as cervejinhas, com os am igos, quase todos os dias, antes de ir para casa. M inha m ulher anda reclam ando m uito. Tenho 38 anos. Isto é vida?

Ummexemplo Você exemplodedehistória históriafortuita fortuitaeeconfusa confusaparece pareceser ser essa essa realidade realidade do seu trabalho. Você contou em sua longa e sofrida carta que um processo pode demorar 5, 10, 15 anos ou mais, indo e voltando das Varas para o Tribunal e daí para Brasília; que muitas vezes o reclamante morre sem ver o final da sua reclamatória e que a maioria das pessoas envolvidas com a Justiça do Trabalho não entende o motivo de existirem tantas possibilidades e tantos tipos de recursos e petições em um único processo. Assim como o mundo da grande mídia ganhou vida própria e desligada do real de nossas vidas, parece que a instituição na qual você trabalha também tem um sentido que escapa às necessidades das pessoas concretas. O seu maior problema não é tanto o desgaste físico que seu trabalho lhe impõe. O maior sofrimento parece advir da falta de sentido de seu esforço. Muitas pessoas encontram no álcool, ou em outro tipo de droga legal ou ilegal, uma solução anestesiante para diminuir o seu sentimento de impotência diante dos graves problemas de nossa atual civilização. Talvez você seja uma delas e talvez seja esse o seu único destino possível. Se, no entanto, você escolher se defender dos grandes e silenciosos absurdos; se você tentar, como Ítalo Calvino, uma forma de se opor, então comece pela atitude mais simples. Flaubert dizia que o bom Deus está no detalhe. trabalha 8 horas,digamos digamos que Você Você trabalha 8 horas, que durma mais 8 horas e gaste 5 horas em deslocamento, higiene e alimentação. Sobram três pequenas horas nas quais você pode arrancar do mundo alguma autonomia para a sua atitude. Vivemos em uma civilização agonizante. Como diz Leonardo Boff, por toda parte apontam sintomas que sinalizam grandes devastações no planeta Terra e na humanidade. O projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica 2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das gerações vindouras. A irracionalidade dos procedimentos em seu local de trabalho está ligada e inclusa dentro dessa crise civilizacional. Um budista lhe diria que o que você vive não é real. Foi tudo inventado pelo homem e por ele pode ser modificado.

Imagine vamosconseguir conseguir sair Imagine queque nósnósvamos dessa, que vamos construir novas formas de convivência que garantam o respeito e a preservação de tudo o que existe e vive. Talvez essa cura do mundo se realize durante os próximos 3 séculos. Ela vai aparecer como realidade predominante somente para os descendentes de nossos netos. Mas essa cura não acontecerá se não for esboçada hoje. Se houver uma chance da vida vencer esta guerra e esta chance for usada, a eternidade estará garantida e estará posta em um futuro um pouco distante. Se você achar uma maneira de usar as 3 pequenas horas que lhe sobram de seu martírio moderno, no sentido de dar a elas algum significado vital, estará tecendo um pequeno fio entre você e a eternidade. Neste caso, você verá que 3 horas por dia, para subverter a tendência de morte e impor a veracidade da vida, são 3 longas horas.


Toma o fósforo Oferenda do Augusto Bota fogo nesta merda Contempla a chama ardente Deixa entrar este calor Em volta da fogueira Acompanha estes poetas: Rimbaud, Gregório de Matos, Catulo, Augusto dos Anjos

VOA BRANCA A MEIA-LUA COMO UM SORRISO E SURGE O SOL COMO PÁSSARO DO PARAÍSO VENTAM MARES NA TERRA DO SILÊNCIO PULSAM ÉDENS NA EXISTÊNCIA DO UNIVERSO

Verás que não estarão sozinhos A vocês outros se juntarão Todos pisando e repisando as cinzas Risos sarcásticos, gozo, tesão

Fernanda Pedrazzi

Com máximo gáudio Aproveita este cheiro forte Carne queimada, liberdade

Na curva iminente de uma vida olhos negros delatam a esquina que vem O que esconde a parede alta, rua estreita avenida movimento, inquietude deserto, solidão? Cada dúvida cada medo dá o impulso para o passo para ver como é que é E do medo vem a idéia do pulo vem o chão E a vontade revela que a vida não nos deixa a descoberto Que a dúvida é um preparo para a esquina que vem E que pior que tentar é deixar-se ficar mudo e ficar cego também

Amanhã vem no jornal Na página Policial:

Fernanda Pedrazzi

"Mataram um cidadão Chamava-se Jesus Cristo Foi no fogo da Inquisição". Com ele morre a Verdade Suprema Nas linhas de um poema

Dante com Virgílio Percorre o Purgatório No fim, vem Beatriz Levar Dante ao Paraíso

TODAAQUESTÃO Quem serás tu Deus? Culpado pelas desgraças da vida, Vangloriado pelos feitos alcançados, Rumo dos desorientados... Serás tu Deus? Alvo do amor e crença de quem não sabe viver, mas não deixa morrer a fé... Deus? Quem serás tu? Andréia Argenta

Lá chegados, me encontram Perdido, sozinho, Sem cerveja ou mulher, Ouço trombetas desafinadas Esconderam o cavaquinho? Onde minha Polar gelada? Vejo a anja pelada Que não pode ser tocada Já paguei os meus pecados Quem me levará de volta ao Orco?


DICIONÁRIO DO DIABO Ambrose Bierce Cúmplice, s. Aquele que se associa a outro em um crime com conhecimento de causa, como um advogado que defende um criminoso sabendo-o culpado. Este ponto de vista não tem agradado aos advogados porque ninguém, até agora, lhes ofereceu honorários para que o adotem.

(...) Sei que é difícil de entender Você nunca sofreu como eu lá na cdd Não acredito que o povo é contente Quem ri da própria miséria não é feliz, Está doente...que não sente Que está sendo massacrado Drogado e sempre embriagado... (...) Televisão, ilusão, tudo igual Faz você gastar o seu dinheiro no carnaval Faz o meu povo ser ridicularizado, inferiorizado, Engraçado, hostilizado. Tá tudo errado. Orgulho foi roubado. Marcas de um passado que não foi cicatrizado... (...) Nascido preto, perseguido até morrer Me ver na prisão é o desejo da madame Mas eu não tenho apê de 1 milhão em Miami Comprado e mobiliado com o dinheiro do povo Eu olho pra tv e me sinto mais um bobo Contaminado e dominado pelo medo. Aqui, cadeia é pra puta, pobre e preto. (...) FHC não dá nada pra favela Só dá carnaval, miséria, polícia e novela Que coisa linda, cheia de graça Família disputando seu almoço na praça FMI vai achar sensacional Quem gosta de miséria é intelectual. (Trechos de “A voz do Excluído” da banda Cidade Negra)

Previsões Revolta

readers indigest

Humanos. Mas Mas não não têm têmhumanidade humanidade Humanos. Amorosos? Não. São desordeiros Para construir só chegam tarde Para destruir, chegam primeiros Olhos frios, que não mostram caridade Mãos amáveis, ansiosas pra matar Sorriso claro, porém cheio de maldade À procura de alguém pra desfechar Um golpe que está sempre armado Só presente. Sem futuro nem passado Seguem assim, sem parar, pela cidade Não pensam que podem chegar ao nada Qual farrapos à beira da estrada Implorando que lhes façam caridade. Chico Calda Poeta paraibano

Manifestantes exibem cabeças de porcos representando cada país membro do G-8. Cúpula dos ricaços acabou em morte, feridos, destruição e indignação em Gênova.

Afinal, o que são alguns bilhões desviados por políticos ou doados a banqueiros “falidos” comparado aos 50 milhões de miseráveis que perambulam pelas ruas das cidades esperando a hora da morte chegar?

CURTA



o diário da esperança Odeio domingos. Fazem-mesentir sentir boboca e isso não ajuda domingos. Fazem-se boboca e isso não ajuda quem jamais madruga. Os parques ficam entupidos de gente. Tem criança demais nos restaurantes. Tudo custa. A TV não presta. Ninguém me liga. Odeio dia santo. Nunca se sabe o que está funcionando. Mudam o tráfego para a procissão. O skate toma conta. Não se encontra uma confeitaria aberta. Ninguém me convida pro feriadão. Odeio Ano Novo. O trânsito vira uma loucura. Fica difícil achar roupa branca, calcinha amarela, lentilha, uma festa boa, um bêbado que não atrapalhe. Os bares fecham cedo. Ninguém me brinda. Odeio dias cívicos. A ordem, unida, marcha. Todas as criancinhas se vestem de idiotinhas. Os jornaleiros somem. Não se consegue lugar no cinema. Tem que votar. Não pode beber. Ninguém me faz continência. Odeio dias chuvosos. As paredes escorrem. Bueiros entopem. Carros dão caldinho. Uma multidão de gripados mata o serviço. Os ônibus fedem a cachorro molhado. Pingo. O telefone fica mudo. Ninguém bate à porta.

Odeio dias diasquentes. quentes.OO pesa. Gostosinhos e gostosinhas arar pesa. Gostosinhos e gostosinhas ficam mais exibidinhos. Tem muito mais pernas correndo. A pivetada invade chafariz. A gente nunca sabe se vai chover. Os bonitões têm peito. Cerveja nenhuma é gelada. As mesas estão atulhadas. Ninguém paga a minha conta. Odeio dia de semana. Tem que trabalhar, assinar ponto, rubricar. Chamar eletricista, pagar dentista, fazer esquemas. Os noticiários assustam. O dólar dispara. O coração também. O preço nunca é justo. A paquera recebe ducha fria. Ninguém me propõe uma happy-hour. Odeio dias das mães, dos pais, do índio, da secretária, do meio ambiente, do colono, da vacina, da criança, do advogado, dos namorados, do combate ao fumo, à AIDS, ao fascismo, dia da posse, do golpe, da paz. Odeio dias-D. Adoro sábados. Ele vem, traz flores, prepara a janta, serve o champanhe, faz cara de quem está feliz, me chama, me canta, me come. Diz que me ama. Eu nem ligo.

Clarice Muller


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