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1o a 15 de dezembro de 2008

Catequese solidária

Igreja e comunidade Voz do Pastor

Os desafios de nossa época

Toda a comunidade é catequista Marina Zamberlan Professora e catequista

C

omo afirma “leninha” em seu blog, até há não muitos anos, a catequese era uma tarefa do pároco e de algumas piedosas velhinhas. Mas era ele quem fazia quase tudo. Agora, podemos afirmar que a catequese se tornou um trabalho do pároco e dos catequistas. Mas não seria isso o mais importante. Também não basta que os pais se interessem pela catequese dos filhos. É toda a comunidade cristã, a paróquia inteira que tem o dever de educar na fé os seus pequeninos e todos os que se espera que tenham fé. Para colocar esta convicção na cabeça dos nossos cristãos, mesmo os chamados praticantes, é preciso que a catequese paroquial os envolva de todos os modos possíveis. Uma catequese que envolve e compromete a paróquia inteira provoca necessariamente um forte arejamento nela própria e obriga-a a renovar-se. Só uma paróquia assim sacudida e renovada está em condições de fazer catequese autêntica. Esta paróquia aprimora cada vez mais o diálogo, sabendo que este não é apenas uma metodologia, mas compreende um modo de entender o ensino-aprendizagem.

Diálogo e catequese O diálogo sempre foi importante para o desenvolvimento das potencialidades humanas, tanto no nível pessoal, como no cultural e social. Feita à imagem e semelhança de Deus, a pessoa descobre-se como ser dialogante, como o é o próprio Deus. Mas, que vem a ser diálogo?

Dom Dadeus Grings

V

ergamos os umbrais do terceiro milênio. Trazemos a herança do passado. Falando de terceiro milênio, situamo-nos, evidentemente, num contexto cristão. Nosso ponto de referência é Jesus Cristo. A partir dele começamos e continuamos a contar nosso tempo. Pode alguém evocar o que aconteceu antes de Cristo. Temos ali civilizações que marcaram a história humana, desde os egípcios, babilônios, até gregos e romanos. Mas, para nós, o centro da história é Jesus Cristo. A partir dele não só contamos nossos anos, como também entendemos nossa história. E logo, nessa perspectiva de fé, percebemos que se trata de uma história da salvação. É a história que Cristo faz conosco. Não a conheceríamos a fundo sem Ele. Sem nos atermos às características dos dois primeiros milênios, apenas registramos que ‘a vida se manifestou, nós a vimos e a testemunhamos’ (1 Jo 1,2). Não nos atemos às idéias, como se o cristianismo fosse uma filosofia. Ele é vida, que se transmite pelo batismo e pela evangelização. Esta vida chegou até nós. É a mesma que tem, em Cristo, sua fonte. Está organizada pelo tripé da fé, esperança e caridade. Esta vida encarnou-se e assim se fez história. Sofre as vicissitudes dos tempos. Ninguém duvida de que ela é infantil na criança, juvenil nos jovens, madura nos adultos e fragilizada nos idosos. Mas também vem afetada pelas carências nos pobres, pela abundância dos ricos; é sacudida pela doença nos enfermos e sofrida pela precariedade nos desabrigados... Além disso é afetada pelas circunstâncias do tempo e do lugar; sente a influência da educação e das condições que proporcionam um substrato de movimentações. Colocamos, agora, esta vida no contexto da história, para adentrar o terceiro milênio. Vivemos, sem dúvida, do fenômeno da

Diálogo não é... - conversa para legitimar resoluções já tomadas; - um meio de “dobrar“ o outro; - só ouvir ou só falar; - uma conversa que pode ter um só resultado final; - dar bons conselhos a quem não sabe nada; - algo que só é considerado bem sucedido quando convence o outro; - conhecer a opinião do outro para poder combatê-lo melhor.

Diálogo é… - um ato de mútua aprendizagem; - uma oportunidade para conhecimento do outro; - uma conversa cujo resultado não se prevê; - um exercício de respeito; - uma comunicação horizontal; - algo que pode ter sucesso mesmo quando as opiniões divergentes são mantidas; - crer na boa vontade do outro, mesmo se discordamos. Portanto, usar o diálogo é fundamental, tanto na catequese, como na administração de todas as atividades da paróquia.

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

globalização. Contudo, é preciso reconhecer que, mesmo no terceiro milênio, a vida na Europa é diferente da vida na América Latina e, aqui, é diferente da África, ou da Ásia, ou dos Estados Unidos. No Brasil, essa mesma vida tem conotações diferentes no Sul – onde realizamos, em 2007, o Primeiro Fórum da Igreja Católica, para ver e testemunhar essa vida – e no Norte ou no Nordeste, e no centro do país. Trata-se, sem dúvida, sempre da mesma vida, mas situada em contextos e culturas diferentes. Fala-se, por isso, da necessidade de inculturação, no sentido de uma ação que nos leve para dentro da cultura de cada época e de cada lugar, para ali concretamente viver a vida cristã. Se o cristianismo é vida, é preciso descobri-la e desenvolvê-la nos respectivos contextos. Mas há algo inconfundível: é a própria vida que vem de Cristo. Não se reduz à individualidade. É essencialmente eclesial. Mesmo com todas as diversidades e diferenças, partilhamos todos de uma e mesma vida. Somos membros de um grande corpo, no qual circula a seiva da graça, que vem do Espírito Santo. Vida cristã só se entende na e pela convivência. É comunidade. Por isso é também história. Nossa vida não se reduz aos poucos anos, que vão desde nossa concepção até os dias de hoje. Nós temos dois milênios de existência. Esta é a vida de cada cristão. É preciso tomar consciência dela, para firmar a própria identidade. Temos uma longa história e fazemos parte de um organismo que se estende pelo mundo inteiro. Cristo é sua cabeça, o Espírito Santo a alma e cada batizado seus membros. Por isso, interessa-nos sumamente como viveram nossos antepassados na fé e como vivem nossos contemporâneos em outros continentes. Esta é nossa vida. Nós somos esta Igreja do passado e do presente, projetada para o futuro, que se concretiza neste nosso planeta, conhecido por Terra.

O Acordo Brasil-Santa Sé Dom Sinésio Bohn

A

Bispo de Santa Cruz do Sul

caba de ser assinado em Roma um acordo Internacional entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé (Vaticano) sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. Esta é uma das conseqüências práticas da visita do Presidente Lula à Itália e ao Vaticano. A assinatura de tratados internacionais com Estados modernos é freqüente, mesmo com Estados sem tradição cristã. O objetivo é dar segurança jurídica, clareza e estabilidade nas relações entre Igreja e Estado. Nos últimos anos a Santa Sé firmou mais de 100 (cem) acordos desse gênero, de modo especial com países do antigo bloco soviético, no Oriente Médio e na África. O acordo implica no reconhecimento da personalidade jurídica da Igreja Católica, também de suas instituições, como as Dioceses, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, as Paróquias e as Congregações Religiosas. O acordo firma os direitos já reconhecidos na

Constituição Federal, como por exemplo, a imunidade tributária, conforme o artigo 150 (inciso VI, letras b e c). Aliás, não é privilégio da Igreja Católica, mas, direito de todas as confissões religiosas. É reconhecido também o princípio de que os presbíteros da Igreja não têm vínculo empregatício com Dioceses e Paróquias. O mesmo se diga de membros de Congregações religiosas. Pois “o vínculo que une o pastor à sua Igreja é de natureza religiosa e vocacional”. Afirma-se também o ensino religioso “pluri-confessional”, em pé de igualdade com as demais Igrejas e confissões. Será de freqüência facultativa para os alunos, mas obrigatório para escola. Segue o modelo já implantado no Estado do Rio de Janeiro. O acordo internacional não traz novidades, mas reúne num acordo único as normas e diretrizes espalhadas. Para entrar em vigor precisa da aprovação do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Como é para a paz e o bem comum do povo brasileiro, esperamos que os representantes do povo dêem o seu aval.


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