Jornal Samambaia - Agosto de 2016

Page 1

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

nº 073/ ANO XVI

4 10 15

MIGRAÇÃO ESTUDANTIL

ESTUDANTES DE OUTROS ESTADOS TRAZEM DIVERSIDADE CULTURAL À UFG

BORDANA

COOPERATIVA ESTIMULA PRODUÇÃO DE BORDADOS MANUAIS

PERFIL

ENTRE SONHOS E TRAÇOS, NILDA TELES CONTA HISTÓRIAS DE LUTAS PRÁTICAS CORPORAIS

7

PROJETO “DANDO ASAS” PROMOVE INCLUSÃO DE DEFICIENTES

MÃES NA SALA DE AULA

Estudantes enfrentam desafios na hora de conciliar atividades acadêmicas com a maternidade pg. 9

FOTO Carolina Otto DESIGN Ana Paula Tavares

samambaia


2

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- OPINIÃO -

O PLURAL DE UNIVERSIDADE

EDITORIAL

C

ultura é, antes de tudo, conhecimento. E o conhecimento é plural, permitindo desdobrar-se em inúmeras manifestações. A universidade produz, transmite, troca conhecimento, é o seu espaço. Por que não, então, ser o espaço da cultura? A proposta desta edição do Jornal Samambaia é trazer a vocês a diversidade cultural na universidade. Nossas páginas estão recheadas de música, práticas corporais, sotaque, modos de vida, formas de conhecimento. O desafio de equilibrar a maternidade ao lado da graduação trouxe as estudantes universitárias que são mães pra pauta. A migração estudantil e o trabalho durante o curso superior também são abordados, em

RUMOR

reportagens que tratam do cotidiano e das possibilidades de quem está na universidade. As peculiaridades do nosso vocabulário são colocadas em foco, evidenciando as características que fazem única a fala goiana. Os servidores terceirizados e as condições de trabalho na UFG também estão presentes. A cooperativa Bordana, o Espaço Brioche, o Grupo Leia Mulheres e o Centro Cultural trouxeram para as nossas páginas ações inspiradoras. Os personagens que essa edição apresenta a vocês são e fazem a pluralidade da nossa cultura, tornando-a mais humana na medida em que a torna mais diversa. O Jornal Samambaia é uma produção dos estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Goiás, com conteúdo voltado para a academia e para a sociedade. Boa leitura!

- CRÔNICA -

VA - G A - B U N D A POR Amanda Calazans | DIAGRAMAÇÃO Jhessyka Monteiro

D

etesto Mallu Magalhães, mas sempre me pego murmurando-a enquanto escolho o tom do batom vermelho e do meu dia. Hoje será vermelho-petê, nome que as meninas do coletivo deram para o batom Ruby Woo da MAC que a gente usa para escrever no corpo em manifestações de última hora. Também costumo acrescentar vírgulas vermelho-petê aos “FORA CUNHA” que encontro por aí. Penso que metade da força das palavras de ordem está na pontuação correta. Por agonia já cheguei a corrigir um “FORA PT” com o vermelho-petê, mas passei a mão a tempo de ninguém ver ou do PT sair. Gosto de batom assim, que basta uma esfregada, um beijo bem dado ou uma refeição e pronto, já tirei. Até gosto da vlogueira Jout Jout, mas esse “tira” em vez de “tire” é tão tirânico quanto seria um homem me

mandando tirar o batom vermelho. Uma vez vi um cartaz escrito em batom vermelho ordenando não tirar o batom vermelho. Ousei tirar o “tira” e ainda acrescentei “miga” no começo. “Miga” mais vírgula, claro. “Miga, não tire o batom vermelho” repercutiu muito mais. Não tanto como a Jout Jout, que apesar do título incômodo, teve muita

razão em usar o tabu do batom vermelho para falar de relacionamento abusivo. Eu mesma já fui chamada de vagabunda. Ou quase isso. Eu usava o vermelho-petê enquanto atravessava mais uma manifestação coxinha. Além da curiosidade, passo no meio também para procurar algum cartaz en-

graçadinho para rir mais tarde com o coletivo. Mas dessa vez riram primeiro. Uma senhorinha apontou para mim e me xingou de vagabunda. Só podia ser o batom. O ano é 2016 e senhoras pintadas de verde e amarelo ainda se atrevem a julgar outras mulheres pela cor da boca. Pensei na Jout Jout e quis fazer um escândalo, mas no Facebook. Continuei seguindo até que um pequeno grupo com traje de Copa do Mundo se juntou ao coro da mulher: “VA-GA-BUNDA! VA-GABUNDA! VA-GA-BUNDA!” Eu não me aguentei, o escândalo teria de ser ali mesmo. Quando me aproximei para cuspir umas boas palavras naqueles reacionários, notei que o retrocesso era maior do que eu esperava: na verdade gritavam “VAI PRA CUBA”. Cuspi saliva mesmo.

samambaia

FIC Ano XVI - Nº 73, Agosto de 2016 Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Informação e Comunicação Universidade Federal de Goiás

Déborah Borges Luciene Dias

DIAGRAMAÇÃO Alunos da disciplina Laboratório Orientado - Diagramação

Sálvio Juliano

EDIÇÃO EXECUTIVA Alunos da disciplina Jornal Impresso II

Julie Tsukada

PRODUÇÃO Alunos da disciplina Jornal Impresso I

Orlando Afonso Valle do Amaral

COORDENADORA GERAL DO SAMAMBAIA

Magno Medeiros

COORDENADORA DE PRODUÇÃO

Angelita Pereira de Lima

EDITOR DE DIAGRAMAÇÃO

REITOR

DIRETOR DA FACULDADE COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO

MONITORIA

Contato - Campus Samambaia | Goiânia-GO - CEP 74001-970 | Telefone: (63) 3521-1854 - email: samambaiamonitoria@gmail.com | Versão online no issu.com/jornalsamambaia | Impressão pelo Cegraf/UFG - Tiragem de 1000 exemplares


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- COMPORTAMENTO -

JORNADA DUPLA

3

O DILEMA DOS ESTUDANTES QUE PRECISAM TRABALHAR REPÓRTERES Dayane Borges

Larissa Ferraz EDITORA Calipso Careline FOTÓGRAFO Vinicius Pontes DESIGNER Ananda Carvalho

I

DIFICULDADES Conciliar estudo e trabalho é uma tarefa árdua e exige dedicação e disposição. Wygner conta que seu tempo para estudar é curto e que geralmente ele faz isso no ônibus e no intervalo de cerca de uma hora, que tem no trabalho. Ele diz que já pensou em desistir dos estudos. “Já pensei em trancar ou até mesmo desistir várias e várias vezes. Mas sei que esse é o único jeito de progredir na vida e nos meus estudos, mesmo com as inúmeras dificuldades, não posso desistir”, afirma o estudante.

Estudante divide seu tempo entre atividades da faculdade e demandas do trabalho Outra realidade muito comum entre os estudantes é deixar sua cidade natal e morar em outro lugar para conquistar o tão desejado curso superior. Nesses casos, os estudantes precisam trabalhar para se sustentar. Alguns têm ajuda dos pais e familiares, outros conseguem auxílio da universidade, como no caso de Edimar Junior, 21, que faz Enfermagem na Universidade Federal de Goiás (UFG) e já pensou em abandonar o curso devido às dificuldades financeiras. Edimar conseguiu uma vaga na Casa do Estudante Universitário, popularmente conhecida como CEU, e bolsa alimentação, que é um auxílo que dá o direito de duas refeições por dia no Restaurante Universitário, o RU. Ainda assim, Edimar trabalha para conseguir pagar outras despesas, já que sua mãe, que mora em Itapuranga, interior de Goiás, não tem condição de mantê-lo em Goiânia. Seu curso é integral e ele trabalha à noite. O estudante afirma que seus horários são muito apertados e que precisa conciliar suas atividades extraclasse com as folgas esporádicas que ele tem. DEDICAÇÃO A faculdade é um universo de possibilidades em que estudantes

podem descobrir, todos os dias, novos projetos e se aprimorar na área em que estão estudando. Porém, para aqueles alunos que dividem o tempo em estudo e trabalho, aproveitar as oportunidades da faculdade se torna um problema. Edimar conta que gostaria muito de fazer parte de algum projeto

‘‘

aproveitar melhor o que a universidade tem a oferecer e completa dizendo que já participou dos Jovens Talentos, programa de incentivo à iniciação científica, porém a ajuda financeira que ofereciam era insuficiente para sustentá-la. Wygner Inácio acredita que o sonho de todo estudante de gradu-

Por se dedicar aos estudos e ao trabalho, na maioria das vezes, a graduação fica prejudicada WYGNER INÁCIO

Estudante do oitavo período de jornalismo

de extensão ou pesquisa na faculdade, mas que é muito difícil conseguir. Para ele, sem alguma bolsa de auxílio não seria possível. Assim como o estudante de enfermagem, Victoria Dinizio, aluna do sétimo período do curso de Jornalismo, passa pela dificuldade de falta de tempo e cansaço. Mas ela acredita que com organização é possível conciliar. Victoria tem vontade de se dedicar apenas aos estudos, para poder

‘‘

ngressar em uma universidade é a vontade da maioria das pessoas que sentem a necessidade, em algum momento da vida, de obter um diploma. Ter um certificado de graduação, exercer uma profissão e realizar trabalhos na faculdade exigem do estudante tempo, palavra chave para quem tenta conciliar estudo e trabalho. A dificuldade financeira, na maioria dos casos, é o que faz milhares de estudantes procurarem emprego para se sustentar. Apesar da faculdade oferecer auxílios como bolsa alimentação, moradia e restaurante universitário, no caso de universidades federais, as dificuldades são grandes e a quantidade de alunos que necessitam de ajuda é superior às vagas disponíveis para conseguir os recursos. A exaustiva rotina de estudantes como Wygner de Oliveira, 21 anos, graduando em Jornalismo na Universidade Federal de Goiás, que durante seu tempo no curso precisou conciliar o tempo entre estudo e trabalho, se repete em todos os cantos do Brasil. Segundo dados do último Censo da Educação, de 2014, divulgado pelo Governo Federal, cerca de 63% dos estudantes do ensino superior são alunos de cursos noturnos e grande parte devido à necessidade de trabalhar e estudar. Tal realidade é frequentemente observada em faculdades particulares.

ação que estuda e trabalha é poder se dedicar unicamente aos estudos. Ele conta também que já buscou participar de alguns projetos, mas que a concorrência é grande e por isso desistiu. Wygner conclui dizendo que “por se dedicar aos estudos e ao trabalho, na maioria das vezes, a graduação fica prejudicada” já que ele não consegue escrever, ler e realizar atividades da faculdade.


4

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- EDUCAÇÃO -

DIVERSIDADE REGIONAL EVIDENCIA INTEGRALIZAÇÃO NA UFG ESTUDANTIL TORNOU-SE COMUM NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS

A

REPÓRTER Amanda Cunha EDITORA Laura Célia FOTÓGRAFA Carolina Otto. DESIGNER Aline Borges

ideia de que uma universidade federal atende apenas às pessoas do estado em que se localiza é uma premissa imperfeita. Como instituição pública de ensino, a Universidade Federal de Goiás (UFG) é um universo multicultural que se expande cada dia mais. Os alunos que nela estudam vem de todos os cantos do país. O ingresso de estudantes de outros estados em universidades federais tem sido cada vez mais usual, e, no caso da UFG, têm se intensificado desde que a universidade aderiu integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (SiSu), no segundo semestre de 2014. As notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) já eram aproveitadas na federal goiana desde 2011.

ADAPTAÇÃO

ele, a universidade não frustrou nem superou suas expectativas, apenas atendeu-as. “Morar longe de casa não é uma dificuldade, apenas a locomoção de ônibus que é difícil, porque os ônibus de Goiânia são muito ruins”.

Uma das maiores dificuldades de quem se muda de cidade para estudar é a adaptação à nova vida. Tiago Madureira, sergipano de 35 anos, é estudante de Jornalismo na UFG e mora na Casa do Estudante HISTÓRIAS Universitário (CEU). Para Madureira, que estuda e trabalha, a rotina é Tiago Madureira reside há dois ainda mais puxada. “Eu tenho basanos na Unidade I da CEU, no Setante dificuldade de acompanhar tor Universitário, divide um quarto minha turma devido a uma série de com várias pessoas e afirma que este compromissos de emprego, isso me é um dos maiores problemas que deixa muito cansado”, conta. enfrenta. Apesar disso, ele assegura Já para Stefanie Castanho, pauque se tivesse que se preocupar em listana de 20 anos e estudante de pagar aluguel, não conseguiria esMuseologia da UFG, organizar seus tudar. Tiago também recebe Bolsa horários de estudo, afazeres doAlimentamésticos e ção e Bolsa lazer entre Pe r m a n ê n as aulas e o Se a minha cidade tivesse cia, que são estágio é seu essenciais grande deo meu curso, eu não sairia de lá para que ele safio. “Não possa contié fácil ter para estudar nuar os esque aprentudos. der sozinha, Em conna prática, a Stefanie Castanho senso com fazer e assuEstudante seus pais, mir todas as que se disresponsabipuseram a ajudar com as despesas, lidades de uma vida adulta”, confesStefanie mudou-se para Goiânia. sa Stefanie. “Escolhi Goiânia porque era a ciEstudante de História e brasidade mais próxima e com custo liense, Tiago Vechi de 18 anos estude vida um pouco mais barato se da na UFG, porque não foi aprovacomparado com as outras capitais do no vestibular da UnB. Segundo

Estudantes de outros estados trazem diversidade cultural para a UFG

‘‘

MIGRAÇÃO

que tinham meu curso”, explica. Ela morasozinha em uma quitinete longe do Campus, mas que a favorece no quesito privacidade e concentração nos estudos, Stefanie conta com a remuneração de um estágio não obrigatório que conseguiu pela sua média global na Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD). A carioca de 22 anos, Isadora Paiva, veio para Goiânia a fim de morar com seu pai. Mesmo com o apoio paterno, ela demorou mais de um ano para se acostumar com a cidade, sentiu dificuldade na adaptação e socialização. Hoje, cinco anos depois da mudança e no fim de sua graduação em Biblioteconomia, é apaixonada pela capital goiana e não pretende voltar a morar no Rio de Janeiro. Enquanto isso, Stefanie anseia por retornar à São Paulo. “Se a minha cidade tivesse o meu curso, eu não sairia de lá para estudar”, assume. Ana Carolina Andrade é natural de Luís Eduardo Magalhães, no interior da Bahia e veio para Goiânia cursar Estatística. Mora sozinha na capital e diz sentir falta da casa dos pais. “Quando vim, em 2014, eu tinha apenas 17 anos. Foi bem difícil lidar com responsabilidades e com toda essa nova etapa da vida sem meus pais por perto”, expõe. Apesar da saudade de casa, é feliz por morar em Goiás e estudar na UFG.


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- DIVERSIDADE -

A I D E N T I D A D E D A FA L A G O I A N A ENTENDER AS PECULIARIDADES DO MODO DE FALAR GOIANO REPÓRTERES Amanda Cunha

O

Larissa Farias EDITORA Victoria Dinízio FOTÓGRAFA Amanda Cunha DESIGNER Ana Paula Tavares

projeto “Fala Goiana” existe desde 2003 e é desenvolvido pelo Grupo de Estudos Funcionalistas (GEF) da Universidade Federal de Goiás (UFG), integrante da Faculdade de Letras (FL-UFG). Ele estuda a narrativa dos falantes goianos e procura entender os porquês de sua construção oral, a fim de encontrar as especificidades do dialeto e assimilar as características de sua gramática. As pesquisas vão além de uma simples constatação de marcadores de expressão utilizados pelos goianos, pois buscam o conhecimento das complexidades existentes na linguagem regional. Os professores e alunos que fazem parte do projeto enxergaram no modo de falar dos goianos um campo científico que, até então, não fora profundamente analisado. A criadora e coordenadora do GEF-UFG Vânia Galvão, afirma que eles se atinaram para a possibilidade de investigar alguns pontos hipoteticamente singulares do dialeto falado em Goiás. Ela ressalta a relevância do projeto, afirmando que tentaram encerrá-lo há dois anos, “mas como a gramática não é uma coisa simples, que se encerre assim na primeira pesquisa, nós temos percebido que ainda há muito a ser estudado”, pontua.

‘‘

O falante é o melhor linguista que existe VÂNIA GALVÃO

Coordenadora do projeto

coordenadora. Vânia Galvão é paraense e comenta que, no seu dialeto, independentemente da escolaridade, as pessoas dizem “eu me aposentei”, “eu me feri”. Este ponto do desuso dos marcadores reflexivos foi constatado, então, como a maior peculiaridade do dialeto goiano. O regional é tido como errado pelas regras gramaticais, e o “Fala Goiana” confronta esta ideia. Galvão assegura: “O falante é o melhor linguista que existe”. Essa premissa de que a língua é viva, dinâmica e fluida é o maior impulsionador dos estudos do projeto, e foi essencial para a compreensão das modificações da gramática normativa vigente na língua portuguesa brasileira. Os resultados do Projeto Fala Goiana mostram a existência de uma interação da língua oral, que se atualiza à medida que é usada, ou seja, surge o entendimento da valorização das especificidades dos dialetos que compõem uma língua.

‘‘

PESQUISA BUSCA

IDENTIDADE O dialeto goiano é visto pelos próprios falantes como uma língua fraca, que é contagiada pelos outros sotaques e modos de falar das outras regiões. Lucas Alves, ex-bolsista do GEF-UFG e pesquisador de linguística, explica porque isso acontece: “Essa ideia de ser um português fraco é um preconceito linguístico que carregamos, por causa da forma como o estado de Goiás foi historicamente construído. No período colonial, São Paulo era referência cultural em todos os aspectos, e essa relação colonizadora com a metrópole paulista reflete no comportamento dos falantes com seu dialeto”. Algo que chamou a atenção de Lucas Alves na pesquisa foi o uso dos pronomes de tratamento. “Por que o maranhense fala ‘tu’ e o goiano usa ‘você’? Ou o ‘cê’, como popularmente falamos. A forma de falar você é uma

COMPROVAÇÕES Depois de anos de pesquisa, o “Fala Goiana” obteve resultados significativos. Os envolvidos procuraram estudar, por exemplo, o não uso da reflexividade no dialeto goiano. Reflexividade é um aspecto oral usado em discursos para referir-se a ações voltadas para si próprio, tais como “eu me feri” e “eu me aposentei”. O falante goiano dispensa o uso dos pronomes reflexivos, e costuma dizer “eu machuquei”, “eu ajoelhei”. Os dados apontaram um índice de 83% do não uso de marcadores reflexivos na oralidade dos falantes de Goiás, contra 55% em São Paulo e 63% em Minas Gerais. “Encontramos um ponto saliente e comprovamos a nossa hipótese desta mudança na gramática e na oralidade goiana quanto ao desuso das marcas de reflexividade”, explica a

Professora Vânia Cristina Casseb-Galvão, idealizadora e coordenadora do projeto “Fala Goiana”

5

marca histórico-social da maneira como foram desenvolvidas as relações do povo goiano, porque as pessoas daqui tratavam os seus superiores com pronomes impessoais. Isso se tornou tão constante na língua que hoje nós usamos você ao invés do tu”, explica. Quando questionado sobre a importância para a sociedade goiana da produção de um livro sobre esta pesquisa, Alves ressaltou que espera que elas possam contribuir para mudanças nas políticas públicas de ensino, bem como na produção de livros didáticos para estudo de comunicação. Assim como pontuou a coordenadora Galvão, “é importante o conhecimento científico chegar às pessoas, porque nós escrevemos artigos, livros, mas é para um público especializado. Divulgar a ciência para a comunidade é muito importante”. Segundo ela, o conhecimento acumulado não tem razão de existir, ele precisa ser compartilhado. PROCESSOS Para o desenvolvimento da pesquisa foram entrevistados mulheres e homens em três faixas etárias: de 20 a 35 anos, de 35 a 50 e acima de 50. Os sujeitos de pesquisa precisavam ter nascido na região goiana ou chegado em Goiás até seus 12 anos de idade e ter um nível de escolaridade máximo de nove anos. “Se você trabalha com falantes não escolarizados, capta um estágio de gramática extremamente natural”, sintetizou Galvão, dizendo que a escola contamina a língua dos falantes. Os pesquisadores passaram por oficinas preparatórias, que os instruíram sobre como realizar as entrevistas da maneira mais espontânea possível, deixando o sujeito de pesquisa confortável em conversar sobre a sua vida, acontecimentos importantes e pessoalidades. Conduzidas por fatores sociais (de poder aquisitivo e idade, por exemplo), cognitivos (como nível de escolaridade) e ideológicos, as entrevistas foram realizadas a fim de entender o que goiano coloca em relevo em seu discurso. Lucas Alves, em sua experiência com os processos de entrevista, afirma a importância da interação de confiabilidade entre entrevistador e entrevistado. Ele atesta que, durante as conversas, se a pessoa notasse a presença de um gravador, passava a monitorar a fala e se autocorrigir. Em alguns casos, Alves sequer mencionava aos entrevistados que se tratava de uma pesquisa de cunho linguístico, fazia isso com o objetivo de conseguir uma narrativa pura e crua. Esse processo confirma a essência do “Fala Goiana”, que acredita que a língua é viva e precisa ser estudada por meio dos contextos, sem interferências. isque venenator facilisis sapien


6

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- TRABALHO -

TERCEIRIZADOS, OS PRIMEIROS PREJUDICADOS PAGAMENTOS ÀS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS ESTÃO EM ATRASO REPÓRTER Amanda Cunha EDITORA Ludimila Mendonça FOTÓGRAFA Amanda Cunha DESIGNER Julie Tsukada

A

tualmente, a Universidade Federal de Goiás (UFG) possui vinte contratos com onze empresas terceirizadas, que prestam serviço em todas as unidades da instituição. O problema é que nem todas elas estão recebendo corretamente o pagamento que lhes deveria ser repassado, o que acarreta na falta de remuneração de muitos trabalhadores de diversas funções essenciais para o bom funcionamento da universidade. A terceirização de serviços é uma saída que a UFG encontrou para o reabastecimento da mão de obra, que, com o passar do tempo, tornou-se escassa, quase extinta. Não há mais editais de concurso para algumas áreas, tais como a de vigilantes e de jardinagem. De mais de trezentos empregados que atuam na vigilância dos câmpus, apenas 30 não são terceirizados, ou seja, estes são cargos que caminham para a extinção. Desde o segundo semestre de 2014, a universidade tem enfrentado dificuldades financeiras, as quais foram o início de vários problemas que corroboraram para a greve do ano passado, por exemplo. Estas dificuldades se deram em detrimento da pequena arrecadação de recursos que o governo obteve na época, pois a verba repassada para a UFG é sempre proporcional àquilo que o Estado tem disponível, basicamente. O Centro de Gestão do Espaço Físico (CEGEF) é a subdivisão da Pró-Reitoria de Administração e Finanças (Proad) que se responsabiliza pelos contratos de empresas terceirizadas e a administração deles. Marco Antônio de Oliveira, arquite-

‘‘

to e diretor do CEGEF, confirma os atrasos. “Nós não sabemos se vamos conseguir, com o orçamento que temos para 2016, pagar todas as empresas até o final do ano”, afirma ele. RECLAMAÇÕES João Pereira, 50 anos, é trabalhador terceirizado pela UFG há dezesseis anos. Começou trabalhando em uma empresa contratada na época e, depois, passou para a atual. Ele atua na área de jardinagem e está acostumado com os atrasos financeiros que as terceirizações enfrentam. “Tudo aqui agora está atrasando: vale transporte, ticket alimentação, o pagamento. Já tem um ano que está assim”, conta ele. A empresa que emprega João é a responsável pela manutenção da parte de jardins dos Câmpus Samambaia e Colemar Natal e Silva. Quando procurada pelos seus trabalhadores, ela afirma que a culpa é única e exclusivamente da Universidade, que não repassa corretamente o dinheiro necessário para efetuar o pagamento dos trabalhadores terceirizados. Segundo ele, a promessa de que o salário “vai sair amanhã” chega a durar de vinte a trinta dias. Luciano Dias, nome fictício, 40 anos, terceirizado da área de vigilância armada da UFG, alega que ele e alguns colegas de trabalho estão cumprindo aviso prévio, pois a empresa não possui recursos para se sustentar. Mesmo assim, ainda não recebendo seus salários em dia, eles prezam pelo profissionalismo. “Vocês (estudantes) podem perceber que não paramos de trabalhar, na esperança de que as coisas se normalizem”, desabafa. Enquanto isso, outros trabalhadores não têm o que reclamar de suas empregadoras. Osvaldeir de Araújo, 55 anos, vigilante não armado, se diz feliz com a sua empresa terceirizada. Ele afirma que a prestadora de serviços Guardiã, para a qual trabalha desde 2009, nunca atrasou o pagamento de seus trabalhadores. “Não tenho nada a reclamar, só a elogiar. A gente sabe que a UFG não está repassando a verba normalmente, só que a empresa não nos deixa na mão”, comemora Osvaldeir.

A UFG não tem nenhum vínculo com os trabalhadores, nosso contrato é com as empresas, e elas precisam fazer sua parte também Diretor do CEGEF

‘‘

MARCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA

João Pereira trabalha em empresas terceirizadas pela UFG há dezesseis anos e já está acostumado com o atraso nos pagamentos CONTRATOS A explicação para o dilema entre as firmas que conseguem pagar seus trabalhadores e as que não dão conta, segundo o diretor do CEGEF Marco Antônio, é que algumas empresas não têm recursos financeiros “para caminhar com as próprias pernas”. O diretor explica que a universidade realmente está com dificuldades para honrar suas finanças na data correta, mas que as terceirizadas têm a responsabilidade, prevista em contrato, de se manter sem o apoio da UFG por até três meses. “A universidade não tem nenhum vínculo com os trabalhadores, nosso contrato é com as empresas, e elas precisam fazer sua parte também”, pontua ele. Prestadoras de serviço como a Guardiã, responsável pela vigilância não armada, e a Liderança, que cuida da limpeza e manutenção predial da universidade, são exemplos de companhias que conseguem bancar o pagamento de seus empregados mesmo quando a UFG não repassa a verba em tempo devido. Procurados, trabalhadores terceirizados pela Liderança também não tiveram nenhuma reclamação a fazer quanto

ao pagamento, confirmando que a empregadora honra com seus compromissos contratuais. Outro fator importante é que, às vezes, mesmo tendo o devido orçamento para repassar às empresas, a universidade bloqueia esse procedimento por ineficiência das próprias contratadas. É obrigação da instituição realizar a conferência das notas fiscais dos serviços prestados pelos empregados, um por um, assim como de seus documentos trabalhistas e encargos sociais. Quando as terceirizadas deixam de entregar a documentação ou a entregam incompleta, o processo acaba atrasando. Após essa parte ser concluída, a UFG ainda tem um prazo de trinta dias para efetuar o pagamento às empresas. Este ano, o orçamento continua bastante restrito, mas Marco Antônio afirma que as coisas estão caminhando para a normalização. “Estamos quitando os atrasos com todas as empresas, em Goiânia, Jataí, Catalão e Cidade de Goiás. Maio será um mês em que conseguiremos colocar tudo em dia, mas de qualquer maneira existe uma preocupação com o decorrer desse ano”, completa.


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- ECONOMIA SOLIDÁRIA -

7

BORDANA RESGATA O BORDADO MANUAL BORDA AS BELEZAS DO CERRADO PELAS MÃOS DE MULHERES GOIANAS REPÓRTERES Amanda França

Bruna Policena FOTÓGRAFA Bruna Policena EDITORA Érica Reis DESIGNER Jhessyka Monteiro

N

o Conjunto Caiçara, mulheres, com diferentes trajetórias de vida, se uniram nas tramas do bordado para tornar possível o projeto social Bordana, que partiu da vontade de Celma Grace Oliveira, geógrafa de 46 anos. Celma perdeu sua filha Ana Carol e com a idealização do projeto transformou a dor em solidariedade e também em incentivo para que muheres possam trabalhar em casa e ter participação ativa na vida dos filhos. Há sete anos, cada mulher ganhou um pedaço de pano, e bordou um momento significativo em sua vida. A partir de cada retalho formou-se uma colcha, símbolo da família que elas entrelaçaram. Hoje, dentro da rede da economia solidária, “ a cooperativa acolhe o que o mercado exclui”, como bem conta Celma Grace, a maioria das mulheres cooperadoras são mais velhas e aposentadas. O bordado à mão também não se faz valer no mercado, cada vez mais mecânico e quantitativo. É um trabalho que exige horas de dedicação e isso reflete na qualidade e no preço do produto feito a mão. Donas do próprio negócio, as mulheres encontraram na cooperativa a oportunidade de geração de renda e autonomia. A Bordana iniciou-se como um projeto do Instituto Ana Carol, nome escolhido para homenagear a filha da Celma. A mãe encontrou na Bordana uma forma de dar continuidade à vida da menina. O projeto foi inspirado nas habilidades de desenhar de Carol e no interesse em moda e artesanato que ela tinha. Atualmente, a cooperativa alinha a moda e a arte, com a temática da fauna e flora do cerrado e tudo que o contempla. Toda cooperadora participa de cada decisão e das pesquisas para novas coleções, bem como dos cursos para gestão e administração da cooperativa. Muitas das mulheres que entraram no projeto, de início, não sabiam bordar. Foi necessário paciência de quem já bordava, para ensinar as demais. Mas o objetivo de acolher e ajudar essas mu-

lheres foi sendo alcançado gradativamente. Dalila de Oliveira Campos, 67, é cooperadora há quatro anos e moradora do Jardim Guanabara, um bairro bem distante do Conjunto. Ela conheceu a Bordana por meio de um curso na igreja em que frequenta. Na cooperativa encontrou ocupação e terapia e até brinca: “depressão é falta de ter o que fazer”. Dalila aprendeu a bordar aos nove anos de idade na escola. OS NÓS A cooperativa não tem o mesmo ritmo e faturamento de uma indústria, mas paga impostos como uma empresa de grande porte. Segundo Celma Grace, o estado não tem políticas públicas direcionadas para a economia solidária, nos

‘‘

Cooperadoras com a colcha símbolo da Bordana

A cooperativa acolhe o que o mercado exclui CELMA GRACE OLIVEIRA 46 anos, Geógrafa

quais a cooperativa se orienta. Por essa razão, além do valor elevado de impostos, as taxas cobradas nas exposições e espaços de venda são desproporcionais ao ganho do coletivo. “Muitas vezes, o dinheiro dá para pagar todo mundo, mas não sobra nada para reinvestir e manter o projeto”, lamenta Celma. Não está nos planos das bordadeiras ficarem sobrecarregadas com o trabalho. Hoje, com 27 trabalhadoras, há uma demanda por peças superior ao número de mulheres. Entretanto isso não as leva a aumentar o ritmo de produção. Elas buscam por novas bordadeiras que possam participar do coletivo. De acordo com a costureira Maria Divina Ferreira, 61 anos, moradora do Conjunto Caiçara, “a Bordana exige um trabalho de qualidade”. Bordar é demorado, requer dedicação da bordadeira que possui seu tempo e suas dificuldades. Respeitar esse tempo é uma sensibilidade da cooperativa. Uma das reclamações de Nélia Stecca, 69 anos, também moradora do Conjunto Caiçara e bordadeira do coletivo desde 2014, é que a comunidade do bairro ainda não dá o devido valor para a cooperativa. Outro obstáculo enfrentado pela Bordana é a dificuldade em ser fiel a todos os ideais da economia solidária. “É complicado encontrar produtores locais de tecidos de boa qualidade. A maioria das empresas são de outros países e por isso a cooperativa utiliza tecidos importados, o que quebra a corrente de desenvolvimento solidário”, esclarece Celma Grace.

‘‘

A COOPERATIVA

NOVOS TRAÇADOS “Arranjo Produtivo: Um sonho bordado a mão” é o nome da nova coleção da Bordana. A linha tem como tema as flores do cerrado. O processo de elaboração, que vem acontecendo desde março de 2014, envolveu uma excursão próxima à Cidade de Goiás, trabalho de campo que envolveu uma experiência íntima com o bioma. A proposta da cooperativa foi que as mulheres formassem arranjos cada uma em seu vaso de plantas. A criação, então desenhada e bordada pelas cooperadoras, colore almofadas, colchas, cortinas, guardanapos, bolsas, aventais e demais peças. A Bordana tem como espaço, para expor e vender seus produtos, as feiras culturais goianas bem como a sua sede, que ainda provisória, é um ambiente em que recebe clientes para encomendas. A cooperativa funciona dentro da Associação de Moradores do Conjunto Caiçara e vende também na Feira do Cerrado, no Espaço Canto do Cerrado no Shopping Passeio das Águas e na Central de Artesanato Goiano, no centro da cidade. Em cada produto feito, há uma etiqueta pensada por Celma Grace, que detalha o nome da bordadeira e o tempo em que ela se dedicou àquela peça. A costureira Maria Divina prevê para o futuro da Bordana a confecção de roupas, o que tornaria mais conhecido o nome da marca e aumentaria o número de vendas das

peças da cooperativa. Além disso, a construção de uma sede própria, um espaço adequado destinado para o desenvolvimento de ações da Bordana é o sonho das cooperadoras. Para conseguir renda extra, o grupo promove cursos de bordado de segunda a quarta-feira das 14:00 às 15:30, com material incluso com o custo de vinte reais. Ademais de novas bordadeiras, a cooperativa necessita de pessoas formadas em comunicação, que possam cuidar do site e das redes sociais do coletivo, e de profissionais da área administrativa. “Assim eu teria tempo para buscar parcerias e para pensar de forma estratégica”, afirma Celma Grace, que rebola entre todas as funções de gestão, divulgação e elaboração de projetos da Bordana.

PARA SABER MAIS BLOG coopbordana.blogspot. com.br FACEBOOK Bordana Coop TELEFONES (62) 3565-1323 (62) 984266118 Cursos de bordado de SEGUNDA a QUARTA das 14:00 às 15:30 hs.


8

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- AMAMENTAÇÃO -

SER MÃE NA UNIVERSIDADE A MATERNIDADE COMPARTILHADA NA

Lohany Arnos e a pequena Mayra Eduarda, que acompanha a mãe à faculdade desde os 4 meses de vida

SALA DE AULA

as costas, uma mochila com livros, cadernos e canetas. No ombro, uma bolsa com fraldas, chupeta e brinquedos. Nos braços, a pequena Mayra Eduarda, que com apenas quatro meses de idade começou a frequentar as salas de aula com a mãe. A mistura entre material escolar e objetos necessários para se cuidar de um bebê faz parte da rotina da estudante do último período de Jornalismo da UFG, Lohany Arnos, que divide a atenção entre sua filha e a universidade. Com o fim da licença-maternidade e retorno às atividades, as mães se veem obrigadas a pensar em alternativas que garantam o bem-estar de seus filhos nos períodos em que estão ausentes e que assegurem a amamentação dos pequenos. O tema se torna mais delicado quando se é mãe e estudante, com acesso dificultado à creche e sem condições para deixar a criança em casa sob os cuidados de terceiros para se dedicar aos estudos. Para garantir as mamadas do bebê e a presença em sala de aula, muitas vezes, é preciso encarar uma maratona prolongada. Diante da falta de vagas em creches, levar a criança para a universidade foi a solução encontrada pela jovem mãe para conciliar a mater-

jam amamentadas exclusivamente pelo leite da mãe até os seis meses de idade. É fácil perceber que a conta não bate e que o aleitamento materno do bebê pode ser prejudicado. “Amamentava ela na sala de aula mesmo. É um direito da criança se alimentar quando e como quiser”, conta a estudante. A criança, que hoje está com um ano de idade, ainda recebe o leite materno. CRECHE Procurar o Departamento de Educação Infantil (DEI) do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da UFG é uma solução para as mães que precisam conciliar os estudos com a maternidade. A unidade recebe

‘‘

É um direito da criança se alimentar quando e como quiser Lohany Arnos Mãe e aluna

nidade, os estudos e ainda garantir a alimentação da filha com o leite materno. Entretanto, essa não é uma realidade exclusiva de Lohany. A Universidade Federal de Goiás não possui dados exatos, mas não é incomum encontrar pelos espaços do campus, estudantes que conciliam os afazeres maternos com os estudos. A legislação brasileira assegura, na maioria esmagadora dos casos, uma licença-maternidade de três meses. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é de que as crianças se-

‘‘

N

REPÓRTER Pedro Ferreira EDITOR Matheus Cruvinel FOTÓGRAFO Carolina Otto DESIGNER Larissa Farias

os filhos de alunas a partir dos quatro meses de idade. Mas para isso, é preciso enfrentar uma concorrência por meio de um edital de sorteio público. As vagas disponibilizadas são destinadas à comunidade em geral e não há reserva para nenhum segmento do público interno da Universidade, o que dificulta o acesso. O edital para o ano letivo de 2016 ofereceu sete vagas para o berçário da instituição, que recebe bebês de quatro a 11 meses de idade. Destas, três eram para o período integral e foram disputadas por 73 crianças. Hélio Pain, de oito

meses, foi um dos sorteados. Sua mãe, Ianka Costa, estuda Letras-Português na UFG. Para ela, ter o filho no DEI a deixa tranquila para assistir as aulas. “Saber que ele está ao meu lado bem próximo à faculdade é uma forma de me deixar um pouco despreocupada”, desabafa. Apesar de Hélio não receber mais o leite materno, Ianka conta ser comum ver outras mulheres irem amamentar seus filhos no Departamento de Educação Infantil da UFG. Algumas até deixam o leite armazenado para que os bebês recebam o alimento quando necessário. “Eles dão uma grande liberdade para a mãe que ainda amamenta ir alimentar seu bebê”, comenta. As gêmeas Alice e Nina, hoje com três anos, frequentam o DEI desde os quatro meses de idade. Na época, o Departamento ainda era chamado de Creche UFG e ficava sob a responsabilidade da Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária, a PROCOM. A análise do perfil sócio-econômico era decisiva para admissão de crianças na unidade. “Não precisei trancar o curso por ter o apoio da creche”, lembra a mãe das meninas e estudante de Jornalismo da Universidade, Carmem Curti. Quanto à amamentação, Carmem reconhece que a rotina contribuiu para o desmame precoce das filhas. A dupla recebeu leite materno somente até os três meses de idade. “Hoje eu me arrependo por não ter me esforçado para mantê-las mamando por mais tempo”, confessa a aluna. Apesar das dificuldades para se ingressar no Departamento de Educação Infantil, sua contribuição é benéfica para as famílias que conseguem acessá-lo. “Eu não voltaria para a faculdade se não conseguisse a vaga”, relembra Carmem sobre as dificuldades vividas após o parto. Desde o início suas filhas possuem uma vaga

matutina. A mãe tenta um espaço no período vespertino, mas admite ser muito difícil conseguir através do sorteio. É LEI O regime de exercícios domiciliares para alunas gestantes é garantido pela Lei Nº 6.202, de 17 de abril de 1975. A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses após o parto a estudante possui o processo de ensino-aprendizagem mantido pela licença-maternidade. O período pode ser prorrogado caso tenha comprovada indicação médica. Em conformidade com a legislação em vigor, o Regulamento Geral dos Cursos de Graduação da UFG, que diz respeito ao tratamento excepcional, também assegura esse direito às mães. A Universidade não possui dados sobre evasão e trancamento de matrículas por alunas que foram mães durante a graduação. Lohany Arnos trancou o curso de Jornalismo por seis meses durante o início da gestação. “Eu sentia muitas náuseas e enjoos. Cheguei a emagrecer oito quilos nessa época”, lembra a estudante. Após o parto, a jovem solicitou a licença-maternidade que coincidiu com o período de greve dos professores. Carmem Curti, mãe das gêmeas Nina e Alice, por acreditar que o processo de tratamento excepcional fosse complicado e burocrático optou em não solicitá-lo. “Eu fiquei um ano atrasada. Durante e após a gestação foi preciso reduzir minha carga horária de aulas”, observa. As estatísticas sobre atraso do fluxo acadêmico de alunas que vivem a maternidade durante a graduação na UFG também não são concretas. Diante dos desafios e dificuldades muitas acabam comprometendo seus estudos por falta de apoio.


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- SAÚDE -

ZIKA VÍRUS E O COMBATE DENTRO DA UNIVERSIDADE PROJETO DE COLABORAÇÃO MUNDIAL CHAMADO OPEN ZIKA, QUE QUER IDENTIFICAR SUBSTÂNCIAS QUE PODEM TRATAR O VÍRUS REPÓRTER Cainã Marques EDITORA Larissa Ferraz DESGINER Amanda Soares

A

té o dia dois de abril deste ano foram registrados mais de 91 mil casos do Zika vírus no Brasil, segundo o primeiro boletim epidemiológico do ano. A proporção de casos é de 44,7 para cada 100 mil habitantes. A doença foi noticiada em todo o mundo pela rápida proliferação de casos relacionados ao mosquito Aedes aegypti. O inseto é portador do vírus da Dengue, da febre Chikungunya e do Zika vírus. O Brasil, por possuir áreas tropicais e subtropicais, se tornou um excelente ambiente para a reprodução do vírus. Porém o mesmo não é novo. Desde 1947, se tem conhecimento da doença que foi identificada em macacos da Floresta Zika, na Uganda, mas somente em 1954 houve o registro de contaminação em seres humanos. Alguns sintomas da doença são febre baixa entre 37,8 e 38,5 graus, dor nas articulações, dor de cabeça e outros sintomas que podem aparecer, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Existem algumas preocupações relacionadas ao vírus, pois ainda não foi desenvolvida nenhuma vacina para dar imunidade. Lanna Fagundes, estudante de economia, 20 anos, conta um pouco da experiência de ter contraído a doença: “Tive coceira, mancha vermelha na pele, muita dor nas articulações e inchaço. Durou em torno de dez dias”, comenta. Após o ocorrido ela não apresentou recaídas. A região Centro-Oeste teve 17.504 casos de zika até abril desde ano, e considerando a proporção de casos por habitantes, a região Centro-Oeste tem a maior incidência do Brasil com mais de 113 para cada 100 mil habitantes.

Recentemente está sendo apontada uma relação entre o vírus e a microcefalia, doença em que o cérebro não se desenvolve o suficiente durante a gestação, além de outras complicações neurológicas. Os dados apresentados fizeram os pesquisadores olharem de forma mais atenta os danos causados pelo Zika.

OPEN ZIKA Está sendo desenvolvido um projeto de colaboração mundial chamado Open Zika, que tem por finalidade identificar substâncias com potencial para se tratar o vírus Zika. Estão sendo estudados compostos químicos que atuem sobre alguma proteína utilizada pelo mesmo. Quem traz informações, reúne dados de desenvolvimento e inscreve novos membros é o site “www.worldcommunitygrid.org”. A Universidade Federal de Goiás (UFG) faz parte do projeto e uma das idealizadoras é a Doutora Carolina Horta professora da Faculdade de Farmácia, importante

7.584 gestantes com casos suspeitos da doença, sendo que 2.844 casos foram confirmados. O contágio da mãe na gravidez não significa que o bebê vai necessariamente nascer com microcefalia. Cabe esclarecer que, apesar de estar confirmada a relação do zika vírus com os casos de microcefalia, não significa que toda mulher infectada pelo vírus durante a gravidez dará à luz um bebê com microcefalia ou mal formação. De acordo com o Ministério da Saúde as gestantes devem adotar medidas para reduzir a presença do mosquito Aedes aegypti. COMBATE A UFG vem contribuindo além da pesquisa com outras formas de combate, como reunião com gestores; leitura e discussão em sala de aula; caminhadas ecológicas; participação no Comitê da Educação Goiana contra o contra o mosquito transmissor; além de buscas ativas de focos do Aedes aegypti nas áreas internas e externas próximas do Hospital das

‘‘

ZIKA VÍRUS - Estima-se que apenas 20% das pessoas infectadas com o vírus Zika ficarão doentes, sendo a infecção assintomática a mais frequente. - Sintomas padrão: febre baixa (menor que 38,5ºC) ou sem febre,

durando

cerca de um ou dois dias, acompanhadas

de

man-

chas vermelhas e coceira no 1º ou 2º dia, dor muscular leve, dor nas articulações de intensidade leve a moderada, frequente observação de edema nas articulações de intensidade leve, prurido e conjuntivite não purulenta

Tive coceira, mancha vermelha na pele, muita dor nas articulações e inchaço LANNA FAGUNDES

Estudante de Economia

dentro do grupo, pois pode contribuir na produção de medicamentos antivirais. Para realizar os estudos, os pesquisadores estão utilizando uma ferramenta para triagem virtual chamado AutoDock VINA, desenvolvida pelo laboratório Olson do Instituto Scripps Research. Aliado à ferramenta, os estudiosos criaram estruturas aproximadas das proteínas, pelo método de modelagem comparativa, para visualizar como seriam as mesmas no vírus estudado. GESTANTES De acordo com o boletim epidemiológico, foram registradas

‘‘

UFG FAZ PARTE DE

9

Clínicas e nomeação da Comissão Institucional de Mobilização para prevenir a procriação do mosquito. A instituição tem parceria com o Ministério da Educação e o Governo Federal. Dessa forma tem levado os estudantes a debaterem e se conscientizarem do problema gerado pelo Zika vírus. Panfletos também estão sendo distribuídos pelos campi Samambaia e Colemar Natal e Silva. O combate pode ser feito com a eliminação de criadouros, e proteção contra a exposição de mosquitos. É importante manter portas e janelas fechadas ou teladas, e o uso de calça e camisa de manga comprida. Repelentes são recomendados para grávidas.

em grande parte dos casos. - Formas graves e atípicas são raras. - O desaparecimento dos sintomas ocorre, em geral, entre 3 a 7 dias após seu início. Em alguns pacientes, a dor nas articulações pode persistir por cerca de 1 mês. Fonte:


10

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- PERFIL -

ARQUITETURA POPULAR

A HISTÓRIA DE NILDA, A MULHER QUE NUTRE SEU SONHO DE DESENHAR REPÓRTER Amanda França EDIÇÃO Carolina Otto DESIGNER Roberta Rodrigues

D

esenho os traços da casa na minha cabeça e depois passo para o primeiro pedaço de papel que encontro pela frente”. A fala é de Erenilda Teles da Rocha, 54 anos, carinhosamente chamada de Nilda, no bairro jardim Caravelas em Goiânia. Desde os 20 anos sua fé em ganhar na lotomania a levava a divagar entre modelos e mais modelos de plantas de casas. Com o dinheiro que ganhasse na fezinha construiria a casa dos sonhos. Ela não ganhou na lotomania, mas hoje mora na casa que foi traçada por seus desenhos. Nascida na cidade de Brejolândia na Bahia no ano de 1961 estudou até a quarta série do ensino fundamental que era o grau de escolaridade máximo oferecido na época pelas escolas rurais. Segunda filha de um casal do interior de Brejolândia, Nilda, assim como suas duas irmãs e seus dois irmãos passou a infância entre os afazeres da roça dos pais. NÓ NA GARGANTA Aos 16 anos conheceu Joaquim, de 32, o qual era vizinho da fazenda da família. O pretendente foi apresentado a ela pelo pai e a pediu em namoro: “Meu pai sempre falava, namorou tinha que casar, senão ficava mal falada”; conta Nilda. Ela brinca, em tom de lembranças difíceis, que se casou porque não tinha

‘‘

palavras para terminar o namoro: “Sempre que eu queria falar alguma coisa sentia um nó na garganta que não deixava as palavras saírem”. Nilda perdeu a vergonha no terceiro dia de seu casamento. Embaraçada por estar só de biquíni no banho de córrego, ficou sentada encolhida na beira se escondendo. Joaquim, seu marido, depois de tanto chamar por ela, a empurrou para dentro da água fria, que apagou o recato. Foi casada por 13 anos e apanhou do marido durante todos eles. Joaquim liberava a raiva por qualquer pretexto em Nilda. Assim foi, até que ela se divorciou com 29 anos, não teve nenhum filho com o marido porque de acordo com o conto popular de Brejolândia, Joaquim comeu soda quando criança o que o tornou estéril. Quanto a ela, veio morar em Goiânia, trabalhou como costureira para facções, se casou novamente e aos 40 anos teve uma linda menina chamada Luana, se divorciou outra vez, e construiu a casa traçada em sonhos antigos. TRAÇADO EM GERAÇÃO Muita coisa já foi e vai para o lixo, Nilda não tem paciência de guardar desenhos que não vão servir para nada. Contudo, os momentos de “vou parar com isso”

Desenho os traços da casa na minha cabeça e depois passo para o rimeiro pedaço de papel que encontro pela frente

ERENILDA TELES DA ROCHA 54 anos, costureira

não duram muito, ela continua imaginando, desenhando e sempre tem algum exemplar furtivo nos cantos da casa a qual continua a aumentar. Como diz, não pesquisa o modelo, só imagina e desenha: “Tenho mais conhecimento de cabeça do que de livro”. Já foi chamada para desenhar a planta da casa de uma vizinha que como a sua casa também está de pé. Em 2015, ela cursou o 5° ano no turno da noite na escola municipal do bairro. Luana é seu grande orgulho e estímulo, com 14 anos a menina já cursa o 1° ano do ensino médio. Para garantir que a filha estude no melhor ensino possível e que alcance a formação que a mãe não teve a oportunidade de conhecer, Nilda aposta todas as suas orças na menina. Talvez Luana queira ser arquiteta.

As origens da mãe são enraizadas na filha: “Eu digo sempre para a Luana, e digo para você também, a mulher é responsável por administrar a casa e o homem tem que pagar”. Uma de suas orientações é que as meninas sondem pretendentes durante a faculdade para que possam estar bem casadas ao final do curso: “Preste atenção na família do menino, quando se casa com alguém se casa com a família toda”. Nilda delineia a vida de Luana, porém Luana traz um novo mundo para Nilda. Em sua juventude ela nem imaginava avançar nos estudos, nos dias atuais, só a menção da possibilidade de desenvolver sua aptidão, em fazer um curso em que possa refinar seus traços desenhados em cadernos de espiral e em folhas de cartolina, faz seus olhos brilharem.


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- INFRAESTRUTURA -

O E S P A Ç O B R I O C H E E M P A U TA DISCUTEM USO DO LOCAL QUE JÁ FOI LANCHONETE

Q

REPÓRTER Pedro Ferreira EDIÇÃO Arícia Leão

NOVO USO O aluno de Jornalismo Victor Hugo Viegas participou tanto do Okupa UFG quanto da Assembleia Inde-

‘‘

Os movimentos estudantis propõem que seja um espaço de sociabilidade autogerido pelos estudantes. Um ambiente plural que possa ser utilizado para intervenções artísticas e discussões VICTOR HUGO VIEGAS Aluno de Jornalismo

pendente. “Um espaço de sociabilidade auto-gerido pelos estudantes. Um ambiente plural que possa ser utilizado para intervenções artísticas e discussões”, conta o jovem sobre a proposta de uso do antigo espaço Brioche pelos movimentos estudantis. Victor também considera que a pauta de ocupação do local foi apropriada pelo DCE. “Em gestões anteriores eles foram contra o projeto”, lembra. Fábio Júnior, representante do grupo que assumiu o Diretório Central dos Estudantes em 2014 e estudante de Ciências Econômicas da UFG, alega Intervenção Brioche/Divulgação

uem transitava pelo Pátio das Humanidades no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG) em um passado nem tão distante se deparava com uma pequena porta de acesso ao lado da antiga Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (FACOMB), atual Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). As escadas levavam a um ambiente localizado no subsolo daquele espaço, a lanchonete Brioche. Com a interdição do local em 2012, a ocupação do antigo ponto de convivência dos alunos se tornou pauta de discussão de movimentos estudantis e das direções das unidades acadêmicas próximas a ele. Os alunos ingressos na UFG após a interdição do Brioche, talvez por desatenção, desinformação ou até mesmo pela pressa da rotina diária de aulas,

não se atentam que ali existe um ambiente com potencial uso para atividades acadêmicas. Fechado, o espaço se tornou uma espécie de depósito de materiais. A reivindicação do local como um ponto de sociabilidade motivou o movimento estudantil a se organizar e cobrar respostas junto à Reitoria. Com a greve de professores de 2012, o Okupa UFG foi atuante na luta pela ocupação de espaços de direito e uso livre dos estudantes na universidade. O Brioche foi pauta ativa dos membros do grupo que propunham uma utilidade para o local. Com a desarticulação do movimento, nos três anos que se seguiram, a mobilização pela causa perdeu um pouco de força. Já em 2015, uma movimentação da Assembleia Independente de estudantes voltou a discutir, junto às direções das Faculdades de Ciências Sociais, História, Filosofia e da FIC, a ocupação do Brioche. A gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) também se posicionou a favor da causa e iniciou diálogos com a Reitoria para a liberação do espaço para o uso coletivo da comunidade acadêmica.

‘‘

ESTUDANTES

1

que as sugestões de utilização do espaço pelo DCE compartilham semelhanças com os modelos propostos pelos movimentos estudantis. Fábio explica que “a diferença seria uma gestão organizada pelo próprio DCE e pelos Centros Acadêmicos dos cursos dos prédios vizinhos ao Brioche”. O diretor do Centro de Gestão do Espaço Físico da UFG Marco Antônio Oliveira expressa cautela ao comentar a questão do uso do antigo espaço Brioche. “Há preocupação sobre um possível uso de forma indevida do ambiente”, justifica. Marco lembra que, desde o início das conversas, a prioridade de reforma e adaptação do espaço é para fins acadêmicos. “Ali vai se tornar um ponto de referência para os estudantes realizarem suas atividades, já que a Biblioteca Central fica um pouco distante das faculdades”, acrescenta o diretor. O diálogo sobre a gestão do local ainda será discutido em reuniões com as classes interessadas. OBRAS Em reunião em maio do ano passado, 2015, a Reitoria sinalizou que as obras terminariam até o mês de dezembro do mesmo ano. A greve e as dificuldades financeiras enfrentadas pela universidade foram alguns dos motivos para o atraso da entrega. O diretor do Cegef previa a liberação do espaço para julho de 2016. Aparentemente paralisadas, as reformas e adaptações continuam. Uma empresa contratada por meio de processos licitatórios é responsável pelas obras. Marco Antônio atenta que alterações no projeto inicial contribuíram para os atrasos. “Uma rampa seria construída para garantir acessibilidade ao local. Isso se tornou inviável pois acarretaria em muitas mudanças estruturais. A solução encontrada foi instalar uma plataforma que funcionará como uma espécie de elevador”, justifica o diretor.

Fechado desde 2012, o antigo espaço Brioche se tornou depósito para materiais


12

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- LAZER -

FEIRA DO CER RADO CULTIVA CULTURA GOIANA FORMA DE QUEBRAR O RITMO AGITADO DA CIDADE REPÓRTER Bruna Policena EDITORA Cynthia Costa FOTÓGRAFA Bruna Policena DESIGNER Larissa Ariel

C

ultura, artesanato, folclore e culinária goiana são alguns dos atrativos da Feira do Cerrado, que acontece duas vezes por semana no Parque da Criança, próximo ao Estádio Serra Dourada. O espaço oferece uma interação do público com os expositores e a quebra do fluxo acelerado e da rotina agitada da cidade, dispondo de um ambiente que valoriza a exclusividade dos trabalhos de seus artistas goianienses. No domingo de manhã, a feira é mais movimentada. Com 12 anos de funcionamento, levou de quatro a cinco anos para conquistar o público que tem hoje, afirma o presidente da Associação Cultural Feira do Cerrado (ACFC), Mário Kichese Neto. “A feira às quintas à noite ainda é recente, tem um ano e seis meses, e ainda não teve tanta adesão por parte dos visitantes e dos expositores”, reconhece. Mário aponta a pouca divulgação, que só é feita de boca em boca, e raríssimas vezes na mídia espontânea. Reconhecida como a maior feira de artesanato do Centro-Oeste, o espaço é um ponto turístico goiano, que recebe muita gente de fora e também agrega valores à cultura local, ao turismo e lazer para a população goiana em geral, resgatando, assim, as raízes do povo goiano. O cafezinho com biscoito frito, acompanhado pela boa música ao vivo e a individualidade de cada trabalho artístico caracteriza a Feira do Cerrado. Ela funciona das 9h às 13h, no domingo, e das 17h às 22h às quintas-feiras. COMPOSIÇÃO Mário Kichese, 50 anos, é corretor de seguros e, na feira, expõe seus produtos na banca Paçoca do Cerrado. Ele também é responsável pela diversão das crianças com o pula-pula. Mário explica que a ACFC, responsável por administrar o funcionamento do espaço que é fornecido pelo Governo do Estado de Goiás, não recebe nenhum apoio governamental e financeiro. Segundo o presidente, há dificuldades em

“manter as dependências em funcionamento e limpas, zelando pela manutenção das mesmas”. A escolha dos expositores que compõem a Feira do Cerrado é feita pela associação e os trabalhos são avaliados e selecionados por uma comissão interna. No site www.feiradocerrado.com há o regulamento para quem deseja participar ou entender mais sobre as regras do edital. A comissão cobra a apresentação de trabalhos com extrema qualidade e originalidade. Com relação às taxas e contribuições, Mário explica que são direcionadas ao “uso interno da associação”. A feira também conta com apresentações musicais ao vivo, que trazem o melhor da música goiana, na voz e som de artistas muitas vezes ainda pouco conhecidos e que encontram ali uma oportunidade de mostrar seu trabalho. Para tanto, os artistas contam com um quiosque dedicado a essas apresentações. De acordo com Mário, “o espaço é para os artistas goianos. Qualquer um pode se apresentar. Não remuneramos e nem cobramos para fornecer o espaço e o som. É uma forma de divulgação para os artistas e para a feira”. OLHARES A banda Bumba meu Bong apresentou-se pela segunda vez na feira e o integrante Rodrigo Machado Freire, 39 anos, destacou a importância da visibilidade oferecida aos artistas. Ele confirma que não há remuneração, mas que é válida a existência de um espaço para divulgar o trabalho deles. “A primeira apresentação resultou em convites para outros shows particulares”, diz. Carioca, Rodrigo está em Goiânia há sete anos e conheceu a feira por intermédio da professora goiana Joicy Sorcière, de 36 anos. Vocalista da banda, Joicy já conhecia o espaço e sabia da possibilidade dos artistas se apresentarem no local. Com um lazer acessível e democrático, gratuito e cultural, a feira se difere dos famosos parques e da agitada vida noturna dos bares goianos. Rodrigo a define como “um portal de visibilidade” por que na primeira apresentação, a banda não tinha nem um ano de formação. Ainda, segundo o artista, “os bares estão meio frios para dar oportunidades aos no-

Corredor da Feira do Cerrado matutina, realizada aos domingos

‘‘

A feira realmente proporciona uma quebra na rotina agitada da capital

vos artistas”. A feira dispõe também de artesanato dos mais variados estilos e u tilidades. Dagoberto Antônio Conterno, 53 anos, e Arana do Cerrado, 62 anos, são um casal de tecelões, que trabalham como expositores na feira desde 2007. Donos da Atelier Harmonia das Tramas, retiram dali a sua fonte de sustento. Eles também são músicos e se apresentam sempre que podem no espaço oferecido pela feira. O casal trabalha com tecelagem artesanal em teares manuais, produzindo acessórios para uso pessoal, como xales, echarpes, faixas e peças para utilizar na casa como tapetes e mantas. Dagoberto comenta sobre o público da feira que é de muito bom gosto e preza muito pela qualidade, exclusividade e beleza. “Nosso público sabe diferenciar o artesanato do industrial, valoriza nossa arte!”. Ele esclarece que o público é formado por pessoas vindas de outros estados e mesmo de outros países, que visitam a Feira do Cerrado quando passam por Goiânia. O tecelão relata que, apesar de exalar a cultura goiana, a feira ainda não está tão popularizada entre os próprios goianos. “Muitos ainda não ouviram falar dela”, reconhece. Dagoberto concorda com o presidente da ACFC, Mário Kichese, sobre a falta de divulgação. O artesão questiona a falta de apoio por parte do governo, sendo a feira um ponto cultural de referência em Goiânia e região. No entanto, ele vê como ponto positivo a ainda pequena adesão dos expositores à feira de quinta à noite. “Assim,

‘‘

FEIRA OFERECE UMA

surge a possibilidade de novos artistas exporem nela, pois estão sobrando muitas barraquinhas, o que não acontece aos domingos”. Para Dagoberto e Arana, a feira realmente proporciona uma quebra na rotina agitada da capital. “O ambiente que envolve todos que a frequentam é muito agradável, com árvores nativas do cerrado, pássaros, perfumes variados e sabores tradicionais de nosso povo”, diz Arana. Dagoberto afirma que os expositores possuem diante de si e à disposição, um espaço divulgador da arte goiana. “Nós, que expomos, representamos uma parcela importante da sociedade que tem, na feira, o sustento, já que a maioria vive de sua arte”, finaliza.

+ INFORMAÇÕES Site: http://www.feiradocerrado.com/ Email: feiradocerrado@gmail. com Facebook: https://www.facebook.com/oficialfeiradocerrado/?fref=ts Telefones: (62) 3926-2634/ (62) 9244-2476 Endereço Feira: Rua 72Parque da Criança (atrás do Estádio Serra Dourada) Jd.Goiás- Goiânia-GO Endereço ACFC: Rua 10, Quadra 20, Lote 13- Conjunto Riviera-Goiânia-GO


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- CULTURA -

C A N T I N H O C U LT U R A L DA UFG PROMOVE A DISSEMINAÇÃO DA CULTURA EM GOIÁS

O

REPÓRTER Larissa Ariel EDITORA Arícia Leão DESIGNER Isadora Tristão

Centro Cultural da UFG (CCUFG) foi inaugurado em 09 de novembro de 2010, durante o cinquentenário da Universidade Federal de Goiás (UFG). Com direção atual da Professora Flávia Maria Cruvinel, coordenadora geral de cultura, o Centro Cultural é um importante instrumento de disseminação da cultura e é palco de grandes espetáculos e amostras locais e nacionais. Localizado na Praça Universitária, no setor Universitário, ele foi construído a partir do antigo Espaço Cultural da UFG, um setor da Pró-reitora de Extensão e Cultura (PROEC). O local levou cerca de cinco anos para ser finalizado, contando com amplo espaço, até com um miniteatro, e sala de dança com camarins. O que poucos sabem é que ele é aberto ao público. Aberto ao público tanto para aluguel como para apreciação dos espetáculos e amostras. O local promove eventos em várias modalidades culturais, como exposições de artes visuais, espetáculos de dança, teatro, eventos literários e muito mais. Toda sua agenda pode ser consultada em sua página oficial no Facebook, Centro Cultural da UFG, nela estão todas as informações sobre o que ocorre no espaço e preços, que são geralmente bem acessíveis. De acordo com a diretora Flávia Cruvinel o teatro do centro cultural foi construído antes de vários outros teatros importantes da cidade como o

Madre Esperança Garrido, Teatro SESI e SESC. Isso agrega um grande valor cultural sobre o CCUFG, pois ele se torna um dos primeiros teatros criados para essa disseminação de cultura, além do fato dele ter um foco mais popular, com espetáculos mais em conta ou até de graça para a população. EVENTOS Os eventos apresentados têm grande importância para o cenário cultural da cidade, afirma Flávia Cruvinel. Logo em sua inauguração aconteceu a exposição de “Arte Contemporânea no Acervo UFG”, que foi a primeira exposição recebida por ele. De acordo com o site oficial do local, o espaço possui um salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste, que exibe um panorama da produção regional, mostrando todo potencial poético dos produtores de cada região do nosso país. João Paulo Amorim, dançarino e coreografo do grupo Contemporâneo de dança e Ingrid Costa, também dançarina, afirmam que suas experiências

‘‘

Fachada do Centro Cultural da UFG (Reprodução: site oficial do Centro Cultural UFG http://centroculturalufg.blogspot.com.br/)

‘‘

CENTRO CULTURAL

13

O Centro Cultural da UFG, hoje, faz parte do calendário cultural da cidade FLÁVIA MARIA CRUVINEL

Coordenadora Geral de Cultura e Diretora do Centro Cultural no local com seu grupo foram satisfatórias. O espetáculo Cartas de Frida já foi apresentado várias vezes no centro cultural, e segundo eles sempre com casa cheia. E ainda há planos para novas apresentações no ano de 2016, além de novos projetos para o grupo. O espetáculo é apresentado pelo grupo contemporâneo de dança, concebido e produzido pela ex-bailarina da companhia Quasar Luciana

Caetano. “Cartas de Frida” traz toda a beleza, força e dor das cartas de amor escrita pela feminista e pintora mexicana Frida Khalo, com cores vibrantes e mostrando toda a expressividade da mulher latino-americana. Cantores de MPB como Curumim, Nina Becker, Lucas Santana, Guisado, Maíra de Feiras já passaram pelo Centro Cultural. Até Cantores como Dani Black já se apresentaram no Centro Cultural da UFG. Também há uma parceria com a Labumba Latina, trazendo nomes de grande renome da música latino-americana. O centro funciona sobre uma política indutiva, organizacional diz Flávia Cruvinel, funcionando em torno de uma lógica construtiva. Todas as Terças tem música, quinta e sexta têm espetáculos de dança e teatro, mantendo assim um sistema organizado. Esse sistema é de grande ajuda para os frequentadores que podem, assim, se programar com antecedência para os eventos. CONTATO

Exposição “Arte Contemporânea no Acervo da UFG” (Reprodução: site oficial do Centro Cultural UFG http://centroculturalufg.blogspot.com.br/).

De acordo com a diretora do centro cultural todo ano a Pró-Reitora de Extensão e Cultura (PROEC) abre edital para envio de projetos a serem analisados para apresentação no Centro Cultural. Para

envio dos projetos basta entrar no site da PROEC, e procurar pelos editais que estão disponibilizados nele. Os critérios postos em análise são: qualidade do projeto, a trajetória artística da companhia ou do artista em questão apresentado, caráter inovador e estético. Companhias que já apresentaram em uma temporada são vetadas para temporada seguinte, abrindo assim novas vagas. Além de ser alugada para eventos grandes, a sala de dança do local também pode ser utilizada para ensaios pessoais, ou de grupos de dança sem qualquer custo, além de não haver a necessidade de ter vínculo com a UFG. O local pode ser reservado por qualquer pessoa, basta apenas encaminhar um e-mail para o administrador do espaço, Hélio Esperanto, e assim checar as disponibilidades, e horários para a reserva. Hoje o Centro Cultural da UFG é um órgão da PROEC, afirma Flávia Cruvinel. Ainda em seu discurso ela diz que o centro cultural, hoje, depois de cinco anos de funcionamento efetivo já faz parte do calendário cultural oficial da cidade, e que a participação da população já não é uma surpresa. Para efetivar tal projeto de um espaço bem estruturado para cultura Flávia Cruvinel cita três grandes nomes que foram de suma importância para a concretização do Centro Cultural da UFG. O Professor Edward Madureira como gestor, que deu grande apoio financeiro, o Professor Anselmo Pessoa, Pró-Reitor de Extensão e Cultura na época, que foi um visionário e o Professor Carlos Sena, ex-diretor do Centro Cultural, que idealizou toda a concepção do local, e que veio a falecer no ano passado.


14

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- LITERATURA -

EXISTÊNCIA E RESISTÊNCIA NA LITERATURA GRUPO LEIA MULHERES REPRODUÇÃO

CHEGA À GOIÂNIA PARA INCENTIVAR LEITURA DE ESCRITORAS FEMININAS

ma ideia no meio literário está fazendo burburinhos no mundo, inclusive no Brasil. O projeto de Joana Walsh, criadora da hashtag #readwomam2014, se espalhou de tal forma que muitas pessoas, principalmente mulheres, perceberam a necessidade de valorizar a escrita feminina e de passar isso para frente, além de questionar o mundo literário e incentivar a leitura de obras produzidas por mulheres. O projeto, que tem como principal objetivo ler mais autoras, dominou o universo daquelas pessoas que enxergam a necessidade do empoderamento feminino na escrita. A ideia trouxe à tona a visível desigualdade de gênero na literatura e visa dar um equilíbrio no meio literário por meio da discussão de obras produzidas apenas por mulheres. As brasileiras Juliana Gomes, Juliana Leurenroth e Michelle Henriques foram as pioneiras do Leia Mulheres aqui no Brasil. As mediadoras, que moram em São Paulo, criaram um clube do livro aberto à comunidade. As reuniões são mensais e realizadas numa livraria da capital paulista. Em pouco tempo o projeto se espalhou por outras cida-

Primeiro encontro do Leia Mulheres Goiânia, no Evoé Café com Livros

‘‘

A gente quer inspirar mulheres, independente de quem sejam, de onde venham e tudo o mais PILAR BU

Mediadora do Leia Mulheres em Goiânia des do país, incluindo Goiânia, que sediou a primeira reunião no dia 30 de março, no Evoé Café, setor Sul. EXPECTATIVA Em Goiânia, a iniciativa de valorizar a mulher na literatura é desenvolvida pelas mediadoras Ana Luisa Rolim, Pilar Bu e Maria Clara Dunk. “A proposta é debater sobre a leitura de uma obra específica que tenha sido escrita por uma mulher”, afirma Maria Clara Dunk. O clube de leitura é aberto, basta marcar presença no dia, local e hora marcada.

‘‘

U

REPÓRTER Dayane Borges EDITORA Victoria Dinizio DESIGNER Fernanda Peixoto

REPRODUÇÃO

Para ser mediadora do grupo Leia Mulheres não é necessário formação específica em literatura. Nos próximos encontros, Pilar Bu, Maria Clara Dunk e Ana Luisa Rolim, esperam ter mais divulgação para que as pessoas conheçam a iniciativa e possam discorrer sobre os temas propostos. Pilar Bu ressalta que a ideia é criar um público participante de pessoas que estejam realmente dispostas a fazer mudanças. Segundo Pilar Bu, o Leia Mulheres vai crescer e ser reconhecido por mais pessoas, mas ela não acredita que a essência do grupo seja se tornar um evento “megalomaníaco”. “Eu não sei o quanto isso é viável, efetivo e necessário”, afirma. Responsáveis pelo projeto em Goiânia, as mediadoras afirmam que a expectativa da roda de leitura é fazer com o que seja uma troca de experiência. Maria Clara completa dizendo que “nada do que cada um falar está certo ou errado, é apenas uma troca de conhecimento”. O objetivo do grupo, segundo as mediadoras, é que as pessoas façam conexões, e quando forem comprar um livro, comprar dois e dar um de presente. Maria Clara diz que comprar livros escritos por mulheres é uma cultura que se cria, e incentivar esse lado nas pessoas é muito bom. RECONHECIMENTO

Segundo encontro do Leia Mulheres Goiânia

Como grupo de leitura, o Leia Mulheres não se enquadra em um

programa de capacitação que ensine mulheres a ler. Quanto à questão de escritoras marginalizadas, Pilar Bu afirma que tem um desejo pessoal em trabalhar nessa área. “Conversando com as outras mediadoras nós queremos incluir não só escritoras mainstream. Então sim, existe perspectiva de lermos essas escritoras periféricas. Está na nossa pauta”, afirma. O Leia Mulheres vem, também, para quebrar o padrão editorial do mundo literário. Pilar Bu afirma que é preciso valorizar as escritoras que não estão nas livrarias e completa dizendo que, “tudo isso está sendo construído com muito amor, o Leia de Goiânia é bebezinho, chegou agora. Temos muitas coisas bonitas pra construir”. De acordo com as mediadoras, o desejo de ver outras pessoas se inspirando e criando outros grupos de leitura é grande. Com o Leia Mulheres, elas esperam incentivar um grande número de pessoas para que comecem a discutir as questões problemáticas do mundo literário. “A gente quer inspirar mulheres, independente de quem sejam, de onde venham e tudo o mais. Nossa ideia é mostrar o quão maravilhosas, grandes e importantes são essas escritoras”, diz Pilar Bu, e afirma que essa é uma vontade compartilhada dentro do grupo.

SERVIÇO O quê: Leia Mulheres Quando: Última quartafeira de cada mês Onde: Evoé Café com Livros – Rua 9, nº 495 – Setor Sul


samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

- ATIVIDADE FÍSICA -

ESPORTE PROMOVE INCLUSÃO

15

Josilene Ferreira recebe premiação em campeonato de halterofilismo realizado em março de 2016, em Brasília

PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS EM PRÁTICAS ESPORTIVAS

O

REPÓRTER Larissa Ferraz EDITOR Carlos Júnior DESIGNER Cainã Marques

Centro de Práticas Corporais da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (UFG) iniciou em 2010 um projeto propondo a inclusão de pessoas com deficiência tanto da universidade, quanto da comunidade em geral. O projeto “Dando Asas” foi criado para que as pessoas com deficiências físicas e intelectuais pudessem praticar exercícios físicos. Para que a pessoa com deficiência seja incluída em práticas corporais, são necessárias algumas ações como esta-

‘‘

A pessoa que vê dificuldade em tudo, não foi lá e tentou fazer. O impossível não existe. Só na cabeça das pessoas JOSILENE FERREIRA Atleta paraolímpica

belecer estratégias metodológicas com a linguagem adotada e os cuidados com a utilização de espaços físicos e equipamentos. É fundamental se adequar a cada grupo e ampliar o conhecimento dos instrutores para atender melhor o público que estão lidando. Segundo Vanessa Santana, coordenadora do projeto e diretora do núcleo de acessibilidade da UFG, a ideia do projeto não é ter instrutores especializados. “A ideia é justamente o contrário. Não queremos que exista a necessidade de profissionais espe-

Josilene Ferreira durante treino na academia do Projeto Dando Asas

‘‘

PROJETO INCLUI

cíficos e sim que a gente capacite todos para a inclusão”, disse. O projeto não possui taxa de inscrição e nem mensalidades. A academia conta com os aparelhos convencionais, como as de qualquer outra academia. A diferença do espaço é aceitar pessoas com qualquer tipo de deficiência. VIVÊNCIAS O projeto “Dando Asas” é interdisciplinar e abrange atividades diversas como musicoterapia, dança, tecnologia, natação e musculação. Ao receber pessoas com deficiência em grupos com pessoas sem deficiência, proporciona diferentes vivências e experiências nestas práticas que possuem os dois grupos. Quanto aos cuidados adotados pelos projetos de extensão para se adaptar aos alunos com deficiência física, Vanessa cita que a primeira e mais importante modificação é levar conhecimento para o monitor e coordenador do projeto. A intenção é quebrar preconceitos e ensinar adaptações. Após isso, o acompanhamento próximo do aluno vai trazer conhecimento de suas habilidades e deficiência, levando à adaptação. Para Yuri Armstrong, monitor da academia, o projeto é muito importante, tanto pela prática da atividade física, quanto pela participação da comunidade.

“Eu tenho plena satisfação no meu trabalho. Tem quatro anos que estou aqui dentro e é muito importante não só para os atletas com deficiência que estão aqui. Não só eles aprendem, mas é um espaço também de crescimento profissional, de formação de professores, onde a gente aprende realmente o que é lidar com pessoas com deficiência, o que é estar no meio, ensinar e aprender ao mesmo tempo”, relata Yuri. HALTEROFILISMO Um dos destaques do projeto é a parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, que trouxe para a instituição o Centro de Referência em Halterofilismo Paralímpico. Josilene Ferreira, atleta paraolímpica que treina na academia do projeto, conta que, atualmente, tem um título de quinta mulher do mundo na categoria menos 86 quilos e terceira das Américas, e que, no Brasil, é a primeira nessa categoria. “Comecei no esporte pela natação, fui para o atletismo, logo em seguida conheci o halterofilismo, fui chamada para fazer um teste e fui bem, um ano depois eu já estava participando de um mundial na Nova Zelândia e fiquei em segundo lugar. E de lá pra cá foram só vitórias.” A atleta ressalta que as pessoas com deficiência já possuem dificuldades de locomoção, e geralmente, quando chegam em uma academia comum, elas possuem catracas e degraus, dificultando a entrada de cadeirantes, os bancos de treino não são adequados e não possuem banheiros adaptados. “[…] a pessoa chega na academia, não tem um banco adequado, não tem uma máquina que possibilite que essa pessoa tenha um desenvolvimento. Fazer um treinamento correto é complicado para uma pessoa com deficiência, as vezes vai uma vez e desiste”, completa Josilene.


16

samambaia

GOIÂNIA, AGOSTO DE 2016

OLHARES

TEXTO E FOTOS Carolina Otto DESIGN Cainã Marques

Nordeste de Goiás Rico em belezas naturais e esquecido pelo turismo Na cidade de Formosa, o salto do Itiquira continua sendo o principal ponto turístico do nordeste goiano, com trilhas, poços para banho e mirante a beleza natural é impressionante e pouco explorada. O salto é a sétima maior queda do Brasil e é a maior em fácil acesso com 168 metros de queda livre. Pela manhã a névoa d’água forma um arco-íris na cachoreira e o verde forte contrasta com a água cristalina. A região que sobrevive essencialmente do agronegócio e grandes plantações estão presentes nas estradas que levam os turistas a ricas reservas de cerrado preservado.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.