O São Paulo - 3396

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Montagem sobre fotos de Vatican Media

Ano 67 | Edição 3396 | 18 a 24 de maio de 2022

MARIA DOMENICA MANTOVANI

CHARLES DE FOUCAULD TITO BRANDSMA

LUÍS MARIA PALAZZOLO GIUSTINO MARIA RUSSOLILLO

MARIA FRANCISCA DE JESUS RUBATTO

MARIE RIVIER

MARIA DE JESUS SANTOCANALE

CÉSAR DE BUS

LÁZARO DEVASAHAYAM

Novos santos abraçaram a santidade ‘na poeira da estrada, na vida concreta’ Páginas 9 a 12

Editorial

Encontro com o Pastor

Liturgia e Vida

Aparecida – 15 anos

Martírio: amor, fé e esperança capazes de superar o sofrimento e a morte

O Documento de Aparecida continua atual e adequado aos desafios presentes?

‘Não se perturbe nem se intimide o vosso coração!’ (Jo 21,27)

Chamados à conversão pastoral e à renovação missionária continuam atuais

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Página 18

Páginas 19 e 20


2 | Encontro com o Pastor | 18 a 24 de maio de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

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o dia 13 de maio passado, transcorreu o 15º aniversário da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, celebrada em Aparecida, junto do Santuário Nacional, de 13 a 31 de maio de 2007. Com o tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que, nele, nossos povos tenham vida”, a Conferência produziu o “Documento de Aparecida”, com avaliações e diretrizes pastorais de grande importância para a vida e a missão da Igreja na América Latina e no Caribe. Entre as reflexões feitas neste aniversário, surgiu com frequência a pergunta: até que ponto o “Documento de Aparecida” ainda continua atual e adequado para responder aos desafios que a Igreja enfrenta atualmente neste subcontinente? A pergunta faz sentido, uma vez que a história e a vida da Igreja são dinâmicas. Foi também isso que o Papa Francisco pediu à Igreja na América Latina e no Caribe: avaliar, até que ponto o “Documento de Aparecida”

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Aparecida está superada? produziu frutos, verificar eventuais lacunas na aplicação das suas diretrizes e ver quais novos desafios à vida e missão da Igreja surgiram nesta parte do mundo depois de 2007. A Conferência de Aparecida e o seu Documento estavam situados no contexto de grandes constatações e preocupações prévias à realização da Conferência: os efeitos da globalização sobre a vida dos nossos povos, as profundas mudanças culturais que a virada do milênio trouxe consigo (“mudança de época”), a situação da Igreja na América Latina e no Caribe, também em rápida transformação, a perda de relevância da Igreja na vida social, cultural e política dos nossos povos, as transformações religiosas, com o crescimento dos grupos neopentecostais e dos “sem religião”, a persistente pobreza e a exclusão social no Continente mais católico do mundo, entre outros. A V Conferência procurou olhar para essa realidade “com um olhar de discípulos-missionários de Jesus Cristo” e encontrar respostas para os muitos questionamentos postos. Mas antes de responder de maneira programática, com ações, a Conferência, orientada pelo discurso inicial do Papa Bento XVI, confrontou-se com a motivação mais profunda que a anima em sua ação.

A primeira resposta foi: “partir novamente de Jesus Cristo”. Nessa resposta está incluída a identidade da Igreja e como se faz parte dela. Qual é sua missão? E também: quem somos nós, enquanto cristãos? Como se chega a ser cristão? O que nos anima, enquanto cristãos? Sem responder a isso, todo programa de renovação da Igreja poderia carecer de consistência e motivação. A Igreja, de fato, não surge de uma doutrina, por mais bela que seja, nem de um grande ideal ético, por mais importante que esse seja, nem de um pacto social. Ela surge de Jesus Cristo, a partir dele. Jesus não é uma ideia ou doutrina, mas uma pessoa viva, o Filho de Deus que se fez homem, que nos amou de amor extremo e entregou sua vida por nós sobre a cruz. Partir do renovado encontro com Jesus Cristo vivo, presente de tantas maneiras entre nós, leva a se confrontar com a conversão pessoal e comunitária; a ver o mundo com olhos de discípulo e missionário, de testemunha do Evangelho do amor e da vida para o mundo. O caminho da conversão “pastoral” passa por isso também e inclui a coragem de rever métodos e maneiras de fazer a evangelização e a pastoral, que devem ser sempre inspirados no Evangelho. Em Aparecida, fala-se da co-

ragem de superar uma pastoral de mera conservação do que a Igreja já alcançou, para se abrir às novas realidades trazidas pela “mudança de época”, iluminando-as com a luz do Evangelho. O “Documento de Aparecida”, portanto, não está superado porque se ocupa de questões perenes da vida dos cristãos e da Igreja. Conservam sua atualidade a evangélica opção preferencial pelos pobres e pelos jovens, o respeito profundo pela dignidade humana e a justiça social, a atenção à formação dos discípulos missionários para a superação da fé superficial e pouco esclarecida; também o cuidado do ambiente da vida conserva a sua plena atualidade, como bem destacou o Papa Francisco nos seus ensinamentos posteriores à Conferência de Aparecida. Todas essas questões não estão resolvidas e nem o serão, de uma vez por todas. Evidentemente, nos 15 anos que se seguiram à Conferência de Aparecida, surgiram questões novas, que também necessitam de nossa atenção. Mas, se tivermos compreendido bem a proposta do “Documento de Aparecida”, não nos será difícil encontrar caminhos para enfrentar os novos desafios postos. Enquanto isso, como pede o Papa, retornemos ao “Documento de Aparecida”.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: OESP Gráfica • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222 • Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700, 3760-3723 e 3760-3724 • Internet: www.osaopaulo. org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 90 (semestral) • R$ 160 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 18 a 24 de maio de 2022 | Geral/Atos da Cúria | 3

Dom Odilo participa do lançamento do documentário sobre o Rabino Henry Sobel REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Uma sessão de lançamento especial do documentário “O Rabino na Catedral” foi realizada no dia 11, na Sinagoga da Congregação Israelita Paulista (CIP), em um evento que reuniu mais de 200 pessoas. O documentário, que tem cerca de 25 minutos, com direção e roteiro de Fernando Navarro e Sérgio Gag; pro-

dução executiva de Jayme Brener e Well Darwin; e narração de Tuna Dwek, retrata a vida do Rabino Henry Sobel, morto em novembro de 2019. A produção é uma iniciativa do Ministério do Turismo, CIP, DGT Filmes, ExLibris e a Krakatoa filmes. Após a exibição do documentário, o Rabino Dr. Ruben Sternschein mediou um bate-papo com a participação do Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; além de Jayme Brener; Tuna

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Dwek, Sérgio Gag e Fernando Navarro. Dom Odilo Scherer afirmou que o Rabino Sobel foi um homem aberto ao diálogo inter-religioso e, em especial, ao diálogo católico-judaico, alguém muito firme nas suas posições, mas que estava sempre aberto a ouvir. Disse ainda que a presença do Rabino em muitos eventos ajudou a aproximar diversos grupos religiosos. A íntegra da notícia pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/6HbF5oh.

Divulgação

Divulgação

Parolin: a guerra é violência sem sentido, devemos ser artesãos da paz https://cutt.ly/zHQEKLH Papa Francisco enaltece o trabalho dos Camilianos aos enfermos https://cutt.ly/2HQTIwC Igreja impede êxodo cristão no Líbano https://cutt.ly/vHQTkWi Dom Odilo: ‘O encontro com Jesus nos atrai, fascina, alegra e nos enche de esperança’ https://cutt.ly/WHQTigd Frio intenso em SP: colabore com as organizações da Igreja que auxiliam os ‘irmãos da rua’ https://cutt.ly/HHQR9FO

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 04/05/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São Luís Gonzaga, no bairro da Cerqueira César, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Rogério de Paula Barroso, SJ, pelo período de 01 (um) ano.

Espiritualidade A Jerusalém celeste e suas portas abertas DOM JORGE PIEROZAN

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SANTANA

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o domingo, o Senhor nos reúne para nos alimentar com sua Palavra. Renovemos o desejo de sempre darmos atenção à sua voz; assim, alcançaremos a serenidade e a paz de espírito que buscamos todos os dias. A Igreja Católica continua a nascer nas águas do Batismo e a seguir alimentada pela Eucaristia: é a Igreja peregrina que, há mais de 2 mil anos, é sinal de Deus entre as provações da história. De modo belíssimo, o Apocalipse descreve a Igreja, a Jerusalém

celeste e gloriosa, esposa do Cordeiro, nossa Mãe Católica: é a Igreja que não nasce de algum projeto humano, mas do coração de um Deus que nos amou, para fazer de nós uma nova humanidade. Deu-nos um novo rosto! No circo onde trabalhei, havia um palhaço idoso, que dizia: “Antes eu era jovem e bonito! O tempo passou e, agora, sou só bonito!”. A Igreja de Jesus Cristo é para sempre jovial e para sempre bonita! Dom Dadeus Grings, no livro “Nossos dois primórdios”, diz: “São Paulo falará de uma nova raça, a raça dos filhos de Deus. A bênção de Cristo cria uma nova civilização: a civilização do amor. A nova bênção que se derrama sobre toda a humanidade é do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O próprio Deus, uno e trino, vem morar no meio dos homens. A bênção do Novo Testamento cria um novo relacionamento dos homens com Deus e dos homens entre si: são família de Deus”. Nessa relação Criador-criatura,

lemos que a Igreja é a herança de Israel; cercada por alta muralha, com doze portas. Nas portas, estão escritos os nomes das doze tribos de Israel. Porém, a Igreja é Católica! Está aberta a todos os povos; as portas estão abertas em todas as direções: há três portas no lado do oriente; três ao norte; três ao sul; e três ao lado do poente. Nos doze pilares da muralha, estão escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Caríssimos, a Igreja é a esposa. Não danifiquemos a beleza e a santidade da aliança de Deus conosco. Na liturgia do 6o Domingo da Páscoa, os Atos dos Apóstolos contam que os cristãos vindos do paganismo não necessitavam cumprir a Lei de Moisés, pois nossa Igreja não é uma seita judaica. Nas decisões mais importantes, os apóstolos tinham consciência de que eram assistidos pelo Espírito Santo. Oxalá nossas decisões familiares sejam tomadas na verdade e no Espírito Santo! Somos habitados por Deus. O Pai habita em nós

com Jesus e o Espírito Santo. Então, nos despojemos de nós mesmos para termos um coração livre e puro. E em paz! A presença de Deus gera paz. Não é cristão maduro quem não constrói a paz. Na Jerusalém celeste, a paz será absoluta. Por enquanto, é luta! Entre alegrias e decepções: no que entendemos de imediato e naquilo que não conseguimos compreender. E jamais desanimemos diante da trágica constatação do Eclesiastes: “Uns e outros vão para o mesmo lugar: vêm do pó e ao pó retornam” (3,20). A vida começa e a vida termina. Ninguém pode fugir dessa realidade. Nesse curto intervalo entre o nascimento e a morte, Jesus pede que O deixemos agir: preparar o terreno, limpar, semear, fazer germinar a semente e crescer o que foi plantado, para colhermos os frutos. Nosso coração não se perturbe! Não nos sintamos abandonados. Não tenhamos medo, pois não estamos sozinhos: o Espírito Santo estará sempre conosco!


4 | Ponto de Vista | 18 a 24 de maio de 2022 |

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Editorial

Martírio em tempos de secularização

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á poucos anos, perguntaram ao já idoso Dom Estanislao Karlic, bispo e teólogo argentino, o que pensava da possibilidade de grandes nações atuais, cada vez mais ateias, serem “recristianizadas”. Ele respondeu que já havia pensado nessa hipótese, fazendo com que se entristecesse e rezasse. Ficava triste, dizia ele, porque nenhuma nação se converteria sem o testemunho de mártires, e ele sofria ao pensar em todos esses cristãos que ainda deveriam sofrer para que o mundo se convertesse. Nestes tempos, em que nos preocupamos tanto com a cristofobia e nos escandalizamos com o cancelamento cultural dos valores cristãos – a “perseguição educada”, nas palavras do Papa Francisco –, vale a pena nos determos mais na contribuição do martírio para nossa vida cristã. Se no Ocidente cristão, após a 2ª Guerra Mundial, os conflitos sangrentos por motivos religiosos se tornaram muito raros, acontecendo apenas em

função de disputas étnicas e nacionalistas em algumas regiões; na Ásia e na África, particularmente em países sujeitos à perseguição islâmica e à comunista, o martírio cresceu – a ponto de o século XX poder ser considerado um “século de mártires” e o século XXI seguir pelo mesmo rumo. Paradoxalmente, ou nem tão paradoxalmente assim, o Cristianismo se expande mais na África e na Ásia, enquanto parece minguar no mundo ocidental. Por que o Cristianismo parece depender tanto do martírio para sobreviver? Uma resposta até sociológica dirá que a firme convicção dos mártires tem um enorme poder de convencimento. Em alguns casos, o espírito de doação dos mártires que se sacrificaram para salvar a outros ou para levar-lhes a mensagem cristã gera comoção e gratidão. O fato é que o martírio revela uma abundância de vida e de amor, capaz de superar o sofrimento e a morte. Contudo, aos olhos da fé, o martírio não é só a extrema e mais injusta provação, mas também a possibili-

A Igreja e a escravidão

estes o indiano Lázaro Devasahayam e o holandês Tito Brandsma. Eles e o francês Charles de Foucauld, que dedicou sua vida aos últimos, sendo assassinado entre a população perseguida na Argélia, são exemplos importantes para termos diante dos olhos e guardados no coração. Quando o Império Romano deixou de perseguir os cristãos, muitos deles, desejosos de viver a radicalidade cristã, de “morrer para o mundo” de modo a desde logo “viver com Cristo”, se refugiaram no deserto e optaram pela vida eremítica. Mais tarde, foram se reunindo em comunidades, criando o monaquismo cristão. Sua experiência, de renúncia extrema à vida mundana, é conhecida como o “martírio branco”, em oposição ao “martírio de sangue”. De um modo ou de outro, continuamos devedores ao testemunho radical desses nossos irmãos e irmãs. Que, neste mundo cada vez mais secularizado, possamos viver uma vida à altura dos dons que recebemos por meio de seus sacrifícios.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

PADRE REUBERSON FERREIRA, MSC Neste mês, o dia 13 de maio recordou-nos os 134 anos da abolição jurídica da escravidão no Brasil. Mais de um século nos separa desse acontecimento. Suas consequências, em alguns aspectos, no entanto, ainda hoje são sentidas, ora em episódios explícitos de racismo, ora em regimes de trabalho similares à servidão ou na negação de políticas públicas reparadoras de injustiças passadas. A relação entre Igreja e escravidão, embora hoje seja uma postura clara e bastante definida, já foi complexa e, não raro, obtusa. Até meados do século XV, a posição oficial da Igreja era de certa leniência e até cooperação com o processo escravocrata. Papas como Gregório I e Nicolau V, para citar exemplos, eram cônscios dos meandros da escravidão e, em certa medida, rechaçavam posturas abolicionistas ou libertárias de escravos. Com o Papa Eugênio IV, mormente na bula Sicut dudum, essa postura foi alterada. O Pontífice pedia explicitamente a restituição da liberdade aos escravos nas Ilhas Canárias. Na esteira desse Papa, outros foram se manifestando e delineando

dade de os cristãos se assemelharem mais a Cristo e colaborarem, de forma radical, com a construção da Igreja. Radical, é bom frisar, não só no sentido de extremada, mas na exata etimologia da palavra: aquela que está na raiz, na origem do fenômeno – em nosso caso, a identificação com o próprio Cristo. Assim, a sobrevivência e até a expansão da Igreja que vive sob o martírio não pode ser compreendida apenas em termos sociológicos, mas deve ser vista como manifestação mesma da graça misteriosa que vem de Deus. Todos nós, cristãos, no horizonte místico da comunhão dos santos, somos devedores de nossos irmãos que viveram e vivem o martírio. Qual país teria conhecido a Cristo sem a dedicação dos missionários? Pois não existe missão sem histórias de martírio. Ainda hoje, os sacrifícios dos mártires nos ajudam – de forma tão invisível quanto a da oração – a manter nossa fé e nos encontrarmos com Cristo. No domingo, 15, o Papa Francisco canonizou dez novos santos, dentre

a profunda aversão da Igreja ao processo escravocrata e reafirmando a defesa de liberdade de todos os povos, raças e culturas. No caso do Brasil, desde os tempos coloniais, foi introduzido o processo de escravidão. Em certa medida, a Igreja colaborou nesse percurso. Há registros de que ordens e congregações religiosas possuíam escravos. Mesmo que se afirme que recebessem um tratamento diferen-

ciado, eram pessoas em situação de privação de liberdade e sujeitos à condição servil. No processo abolicionista, mesmo que no entardecer desse movimento, muitos bispos e padres apoiaram o fim da escravidão, entre eles, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, ordinário local, na época, da Diocese de São Paulo. A carta In plurimis, de Leão XIII, dirigida ao episcopado brasileiro, fazia decisiva condenação da

escravidão e pedia aos bispos que defendessem o fim dessa situação. Ela só foi conhecida no Brasil após a proclamação da libertação dos escravos, contudo foi a retificação da posição da Igreja acerca da situação de um dos últimos países a acabar com a escravidão. Mais de um século após a abolição da escravidão, reminiscências da cultura escravocrata ainda são sentidas. Trabalhos análogos à escravidão e racismo estrutural ainda não foram abolidos do nosso horizonte. Trata-se de um choque para a civilização ocidental, uma contradição insolúvel que ainda salta aos olhos nos nossos tempos. A Igreja, sem negar sua história e seu passado, na atualidade defende a liberdade de todos e condena, como fez o Papa Francisco na sua última encíclica chamada Fratelli tutti, o trabalho escravo (Ft 118,248) e, mais ainda, convida a humanidade a uma fraternidade universal e amizade social. Urge, pois, que esse discurso penetre agudamente até a mais profunda hipoderme da estrutura eclesial. Padre Reuberson Ferreira, MSC, Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Arquidiocese de São Paulo, é Mestre e Doutorando em Teologia na PUC- SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 18 a 24 de maio de 2022 | Viver Bem/Fé e Vida | 5

Comportamento Princípios inegociáveis e fundamentais diante do avanço da inteligência artificial CRISLEINE YAMAJI

Recentemente, passou-se a discutir publicamente o uso da inteligência artificial no Brasil. No Senado, criou-se uma comissão para apreciar o objeto da regulação da inteligência artificial, com a incumbência de criar um projeto substitutivo a alguns projetos de lei que se mantêm ainda em debate em nosso Congresso. Se bem empregada, a inteligência artificial pode ser um instrumento útil de desenvolvimento econômico e tecnológico. Mesmo em seu estágio inicial, essa inteligência artificial já serve para melhoria de processos produtivos e para impulsionar o Brasil a uma posição de concorrência mundial. No dia a dia, já são inúmeras as nossas interações com esse tipo de inteligência: os chatbots de atendimento, as tecnologias de limpeza e interação e as tecnologias que ajudam a personalizar e analisar experiências e dados de usuários. Neste contexto econômico e social em que se observa o amadurecimento de pesquisa e do desenvolvimento da inteligência artificial, é preciso fomentar oportunidades para uma melhor curva de aprendizado. Parece pouco efetivo restringir a liberdade de criação e de busca de alternativas para a produção da inteligência arti-

ficial; ao mesmo tempo, parece fundamental ter atenção ao correto direcionamento de sua finalidade e de sua aplicação, de modo que seu uso respeite integralmente princípios éticos, direitos e liberdades fundamentais, a partir de padrões de boa governança e prestação de contas à sociedade, sem deixar de considerar sua importância para a livre iniciativa, a livre concorrência ou a proteção do segredo comercial e industrial. Muito se fala sobre a inteligência artificial como um conjunto de sistemas tecnológicos que, por meio de análise de dados, modelos, algoritmos, códigos, programas e softwares, possa reproduzir ou substituir a inteligência e o comportamento humano, com alguma independência de aprendizado e atuação, em algumas etapas do processo produtivo. De todo modo, não se pode querer abarcar todo e qualquer processo tecnológico nessa definição. A inteligência artificial tem sido considerada de modo amplo e, muitas vezes, confundida com qualquer modelo ou processo de automação, mas com ele não se restringe ou confunde. Há processos de automação que não carregam atributos de aprendizado e independência característicos da inteligência artificial. Ainda, essa inteligência artificial vem sendo relacionada a mecanismos que

dispensam qualquer forma de intervenção humana, mas isso não é absolutamente correto, pois a inteligência artificial não prescinde de um mínimo controle e revisão, ainda que periódicos, do ser humano. Em suma, em toda essa discussão, fica evidente que, para toda e qualquer forma de regulação, especialmente de tecnologia, inovação e da inteligência artificial, é essencial uma delimitação clara de conceitos, com indicação de um elenco de princípios inegociáveis e fundamentais e com uma boa medida de flexibilidade e responsividade para a evolução dos tempos, protegendo as pessoas de usos indevidos, de um lado, sem estrangular a inovação e a evolução do processo produtivo, de outro. Vedações absolutas devem ser evitadas ou focadas estritamente nos aspectos que possam afrontar direitos e liberdades fundamentais ou princípios éticos inegociáveis, caso, por exemplo, da defesa da vida e da dignidade da pessoa humana; aspectos estritamente econômicos, ainda que sujeitos a riscos elevados, devem ser tratados com boa governança, constante prestação de contas e responsabilização pela adoção de medidas adequadas e diligentes de uso e segurança. Crisleine Yamaji é advogada, doutora em Direito Civil e professora de Direito Privado. E-mail: direitosedeveresosaopaulo@gmail.com

Você Pergunta ‘Um só é vosso Pai, aquele que está no céu.’ O que isso quer dizer? PADRE CIDO PEREIRA

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A Irene, do Tatuapé, me envia a seguinte dúvida: “Padre Cido, no Evangelho de Mateus (cf. 23,1-12) está escrito: ‘Na terra não chameis a ninguém de pai, pois só um é vosso Pai, aquele que está no céu’. O que isso significa?”. Irene, lembre-se de que Jesus está apontando a vaidade e o orgulho dos fariseus e mestres da Lei. Eles gostavam de se apresentar como “mestres”, como guias e pais espirituais aos seus seguidores.

É claro que Jesus não está falando da relação filial com os pais. Tanto que o Evangelho chama Pedro de Barjonas, isto é, filho de Jonas, e o cego curado por Jesus é chamado de Bartimeu, isto é, filho de Timeu. E o próprio Jesus, em Nazaré, chamava José de pai, tanto que, ao ser encontrado no templo entre os doutores, Maria lhe disse: Teu pai e eu te procuramos há três dias. Então, Irene, compreenda que Jesus pedia a seus discípulos que não chamassem a ninguém de mestre, de guia. Ele, e só Ele, é o Mestre. Ele, e só Ele, é o Guia.

E o Pai do céu é o Pai dos pais. Jesus fala da humildade que deve marcar nossa vida. Escutemos Jesus. Ele é o Mestre que fala com sabedoria e educa com amor. Sigamos Jesus. Quem O segue não se perde. Vamos ao encontro do Pai Dele e nosso Pai. E jamais entenda que Jesus nos aconselha a não cumprir o quarto mandamento que nos pede “Honrar pai e mãe”. Fique com Deus, Irene. E que Deus nos livre dos fariseus e doutores da Lei de sempre, que não vivem o que ensinam a seus discípulos.

Fé e Cidadania Liberdade de expressão LUIZ ANTONIO ARAUJO PIERRE Liberdade de expressão é a garantia da livre manifestação de opiniões, sentimentos e impressões. É, antes de tudo, um direito natural do ser humano, já que este nasce com condição intrínseca de liberdade. No entanto, esse direito vem acompanhado de limites, como todos os demais direitos, o que permite que nós os exerçamos e os respeitemos. Trata-se de um tema que desperta controvérsias e as mais diversas interpretações, sendo que sua conquista faz relembrar os tempos da Grécia dos filósofos, quando Sócrates foi acusado de corromper os jovens ao expor suas ideias de diálogo e instigá-los a pensar. A falta da proteção desse direito permaneceu ao longo dos tempos, sendo sempre proibido contrariar o pensamento dos soberanos. No século XIII, Tomás de Aquino sustenta a lei natural como base das leis humanas, com o surgimento dos direitos fundamentais que muito tempo depois, somente no século XVIII, foram normatizados, sendo inseridos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 (artigo 11, garantindo o direito à livre comunicação das ideias e opiniões, com correspondente responsabilidade de ser punido pelos abusos, nos termos previstos em lei). Em 1948, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, contendo o direito à liberdade de opinião e de expressão, o que foi seguido por inúmeras constituições em vários países e, entre tais direitos, encontra-se a liberdade de expressão que, como todos os demais, não é absoluto. O limite está na própria Constituição, que deve garantir o direito de todos (artigo 220 da nossa Constituição federal). No Brasil, desde a Constituição de 1824, com exceção da época das ditaduras, foi mantido o direito de expressão com os devidos limites legais. A “liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”, portanto, não desrespeitar os demais direitos fundamentais e constitucionais é uma defesa da liberdade de expressão. Alceu de Amoroso Lima assevera: “A liberdade sem limites é a negação da liberdade”, resumindo assim a necessidade da coexistência de todos os direitos numa sociedade democrática, como já definia Montesquieu que liberdade é fazer tudo o que as leis permitem, mas não o que as leis proíbem, pois, caso contrário, não haveria liberdade. Assim sendo, é livre a manifestação da opinião, mas não é livre a ofensa às pessoas ou instituições, na honra, integridade ou intimidade, pois isto configura violação de outros direitos. Quando a opinião vem acompanhada de ofensa, agressão ou ameaça, temos a existência de crime tipificado na legislação, sendo crime: ofender, agredir ou ameaçar. Um direito não pode servir de escudo para o cometimento de um crime. Não há como defender um alegado direito de liberdade de expressão para acobertar um crime de ameaça ou agressão, física ou moral. É livre expor a opinião e o modo de pensar, por mais absurdo que possa parecer, mas não se pode ofender, ameaçar ou incitar o ódio. Existe sempre o limite da licitude. A mesma orientação temos no Catecismo da Igreja Católica (1738), que substantiva que toda pessoa humana tem o direito ao exercício da liberdade, que é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, devendo ser obedecidos os limites do bem comum e da ordem pública. A liberdade de expressão está ligada indissoluvelmente à liberdade e ao bem comum e não a projetos pessoais. Esse é o ensinamento da Igreja, que o exercício desse direito está sempre comprometido com a ordem pública e com o relacionamento entre as pessoas, para o bem da vida em sociedade. Luiz Antonio Araujo Pierre, membro do Movimento dos Focolares, é professor e advogado.


6 | Regiões Episcopais | 18 a 24 de maio de 2022 |

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IPIRANGA Núcleo regional da Conferência dos Religiosos do Brasil promove encontro KAREN EUFROSINO

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No sábado, 14, aconteceu na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Setor Vila Mariana, o encontro do núcleo Regional Ipiranga da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), com a presença de diversas congregações religiosas. A iniciativa teve por objetivo a reorganização do núcleo da CRB na Região, com a indicação de uma nova coordenação e o aprofundamento de suas prioridades na relação com o caminho sinodal da Arquidiocese. “É um momento kairós para nós, oportunidade de resgate da nossa ca-

Geralda Maria

minhada”, disse a Irmã Geralda Maria Martins da Cruz, da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, destacou que o momento agora é o de reavivar e motivar os religiosos a estarem em comunhão para que participem ativamente da vida eclesial. Para John Mark Comia, seminarista dos Oblatos de São José, que veio das Filipinas há quase três anos, o encontro foi uma oportunidade não somente de conhecer o trabalho de outras congregações, mas também de integração: “É um momento de esperança”. Pascom paroquial

Helder Bertazzi

Benigno Naveira

[IPIRANGA] No domingo, 15, na Paróquia São Vicente de Paulo, Setor Anchieta, 21 adultos e 14 jovens receberam o sacramento da Crisma, em missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga.

[IPIRANGA] No dia 13, dedicado a Nossa Senhora de Fátima, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu a missa na paróquia que tem a santa como padroeira, na Vila Guarani, Setor Pastoral Imigrantes. Concelebraram os Padres Anderson Bispo, Pároco, e Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, SDS, Superior Provincial dos Salvatorianos no Brasil. Um dia antes, a paróquia completou dez anos de criação. Além das quermesses aos sábados de maio como parte das comemorações, uma exposição com fotos mostra ao público imagens da construção. Nas redes sociais da Paróquia, há um vídeo com testemunhos dos padres que por lá passaram e do responsável técnico pela obra.

[LAPA] Os fiéis da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Leopoldina, festejaram na sexta-feira, 13, o dia dedicado à padroeira, participando às 15h da procissão pelas ruas do bairro e, às 19h, da celebração eucarística, na igreja matriz, presidida pelo Padre Messias de Moraes Ferreira. Na homilia, o Sacerdote lembrou o testemunho de três crianças (pastorinhos), quando Nossa Senhora lhes apareceu, na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, em 13 de maio de 1917, ao meio-dia, evento que se repetiu durante meses seguintes, sempre no dia 13 e no mesmo horário. O celebrante destacou, ainda, que Nossa Senhora de Fátima, nas suas aparições, fez um insistente pedido de conversão, penitência e oração, de maneira especial a oração do Rosário. (por Benigno Naveira)

(por Pascom paroquial) Arquivo pessoal

(por Helder Bertazzi)

Karen Eufrozino

[IPIRANGA] As equipes regionais vocacionais da Arquidiocese de São Paulo estiveram reunidas no sábado, 14, na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Setor Vila Mariana, para reflexão sobre o documento final do 4º Congresso Vocacional, ocorrido em Aparecida (SP) em 2019, que propõe reflexões e desafios para implementação de um caminho vocacional que dialogue com os jovens. (por Padre Israel Mendes Pereira) Rafael de Brito Moraes

Roberto Abdo

[IPIRANGA] No domingo, 15, na Paróquia Nossa Senhora da Esperança, Setor Pastoral Vila Mariana, 14 adultos foram crismados em missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, e concelebrada pelo Padre Uilson dos Santos, Pároco. (por Karen Eufrosino) Lenivaldo Jacobino

[SÉ] No domingo, 15, na Paróquia Santíssimo Sacramento, Setor Paraíso, Dom Carlos Lema Garcia presidiu a missa, concelebrada pelo Cônego Aparecido Silva, Pároco, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 13 jovens e adultos que foram preparados durante um ano pelos catequistas Marcelo Freire de Barros e Maria Isabel Lopes Santos.

[SÉ] A Paróquia Pessoal Chinesa Sagrada Família, Setor Jardins, acolheu, no domingo, 15, a Dom Carlos Lema Garcia, que presidiu a missa na qual conferiu o sacramento da Crisma a seis jovens e um adulto, tendo como concelebrante o Padre Xiao Shihui (Padre Thomas), Pároco.

(por Rafael de Brito Moraes)

(por Roberto Abdo)

[SANTANA] Na sexta-feira, 13, foi celebrada a festa da padroeira na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Mandaqui, com missa presidida por Dom Jorge Pierozan e concelebrada pelo Padre José Benedito Brebal Hespaña, Pároco, assistidos pelos Diáconos José Jindaerley e Leandro Pereira. (por Lenivaldo Jacobino)


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Débora Carol

SÉ Padre José Enes é homenageado por atuação em favor da comunidade negra PADRE LUIZ CLÁUDIO DE ALMEIDA BRAGA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No dia 11, o Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo (CPDCN) promoveu, no Theatro São Pedro, na Barra Funda, uma homenagem às personalidades que colaboraram com a valorização dos negros na cidade de

São Paulo, em várias categorias: Esporte, Arte, Cultura e Religião, entre outras. Entre os contemplados esteve o Padre José Enes de Jesus, Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, a São Gonçalo, homenageado na Categoria “Religião”, por sua atuação no diálogo inter-religioso. O CPDCN tem como objetivo desenvolver estudos relativos à condição

da comunidade negra e propor medidas que visem à defesa dos seus direitos, eliminação das discriminações e plena inserção na vida socioeconômica, política e cultural. A partir de sua criação, tornou-se o marco de uma nova forma de atuação no combate ao racismo, com o surgimento de grupos especialistas que colocaram o seu conhecimento técnico-acadêmico à disposição da causa negra. Denilson Araújo

BELÉM Padre Atanásio Enchioglo completa 70 anos de vida Leonardo Provasi

No dia 10, aconteceu na Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé, a missa em ação de graças pelos 70 anos do Padre Atanásio Enchioglo, Vigário Paroquial. Concelebrou o Padre Lauro Wisnieski, Pároco. Na homilia, Padre Atanásio exortou os fiéis a seguirem os caminhos dos apóstolos, para “anunciar a Palavra de Deus, e denunciar as injustiças e dar de comer às pessoas que têm fome”. Também ressaltou que os discípulos de Jesus, no livro dos Atos dos Apóstolos, fizeram muitas coisas em prol do anúncio do Evangelho,

e enfatizou que sempre é tempo de seguir os ensinamentos de Deus. Ao final da celebração, Padre Lauro agradeceu ao Padre Atanásio por toda a colaboração na Paróquia, mesmo com as dificuldades e limitações. “Nós o agradecemos por esse empenho em exercer o ministério sacerdotal”, afirmou. O Pároco também lembrou que o jubilando é sacerdote há 31 anos. A comunidade de fiéis ofereceu um presente ao Padre Atanásio, e lhe dirigiu uma mensagem. “É um verdadeiro servo, uma inspiração e um exemplo a todos nós”, ressaltou Maria Luiza Piernas, paroquiana que leu a mensagem.

Pascom São José

Fábio Hirata

FERNANDO ARTHUR E LUIZ IVANOV

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

[SANTANA] No domingo, 15, aconteceu o show “Celebra Zona Norte”, no clube Thomaz Mazzoni, com a presença de Ana Gabriela, Davidson Silva, Jake Trevisan, Fraternidade São João Paulo II e Adoração e Vida. A Paróquia São José, Esposo da Virgem Maria, Setor Medeiros, foi responsável pela organização do evento, que contou com a presença de Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, que deu sua bênção ao público presente. (por Robson Francisco) Paulo Celso Takahachi

[IPIRANGA] Na sexta-feira, 13, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu a missa das 15h em honra a Nossa Senhora de Fátima, na Paróquia dedicada a ela no Jardim Maria Estela, Setor Pastoral Anchieta. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga destacou quão atual é o pedido de Nossa Senhora aos pastorinhos, exortando a todos à oração e penitência pela paz no mundo. (por Fabio Hirata)

[SANTANA] Durante celebração eucarística no domingo, 15, na Paróquia São José Operário, Setor Jaçanã, 37 jovens receberam, pelas mãos de Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, o sacramento da Crisma. Concelebrou o Padre Wagner Aparecido Scarponi, Pároco, com a assistência do Diácono Sebastião Augusto. (por Denilson Araujo) Arquivo pessoal

[BELÉM] No sábado, 14, faleceu em São Paulo a Irmã Acácia (nome religioso), aos 87 anos. Ela pertencia à Congregação das Irmãs de São Francisco da Providência de Deus. A religiosa colocou sua vida ao serviço da Educação, por meio das aulas que ministrou no Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo e no Externato Nossa Senhora do Carmo, sendo diretora deste último por muitos anos. Também atuou na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Vila Alpina, dando formações bíblicas às lideranças pastorais. (por Pascom Belém) Denilson Araujo

[SÉ] No sábado, 14, na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, houve a celebração comunitária do sacramento do Matrimônio para 12 casais, testemunhada pelo Padre Antônio Sagrado Bogaz, PODP, Pároco, na presença dos familiares, convidados e membros da comunidade. Respondendo a um desejo de muitos casais da comunidade, que praticam a fé cristã e participam das atividades litúrgicas e pastorais, todos foram preparados pelo Pároco e pelo seminarista Fagner Pereira da Silva, também orionita. (por Paulo Celso Takahashi)

[SANTANA] No domingo, 15, na matriz da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Setor Jaçanã, 41 jovens receberam o sacramento da Crisma durante a missa presidida por Dom Jorge Pierozan. Concelebraram os Padres Josival Lemos Barbosa, MS, Pároco, e Tiago Costa, MS, sacerdote convidado que auxilia na Paróquia. (por Denilson Araujo)


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Renata Antonelli

BRASILÂNDIA Grupos de Catequese peregrinam ao Santuário Sião Jaraguá Priscila Rocha

[SANTANA] Na festa de Nossa Senhora de Fátima, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa do meio-dia, na sexta-feira, 13, na Paróquia a ela dedicada, no Setor Imirim. Concelebraram os Padres João Luiz Miqueletti, Pároco, e Hermenegildo Ziero, Vigário Paroquial, assistidos pelo Diácono Nilo José de Carvalho. (por Renata Antonelli) [SANTANA] A Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Medeiros, recebeu Dom Jorge Pierozan, na sexta-feira, 13, para presidir a missa em honra de sua padroeira. Concelebrou o Padre Dalmir dos Anjos, Pároco, assistidos pelo Diácono Felipe Ribeiro Neto. (por Robson Francisco) [LAPA] A comunidade de fiéis da Paróquia São José Operário, no Jardim Sarah, Setor Rio Pequeno, convida para a missa de despedida da Região Lapa e envio do Padre Leandro Calazans de Oliveira, SJC, que acontecerá no sábado, 21, às 19h. (por Benigno Naveira)

[LAPA] No sábado, 21, os responsáveis pelo Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP) convidam todos os fiéis das comunidades da Região a participarem dos encontros do Mês da Bíblia 2022, cujo foco será o livro de Josué, com o tema “O Senhor teu Deus está contigo por onde que quer andes” (Js 1,9). Os encontros acontecerão às segundas-feiras, das 20h às 22h, nos dias 6, 13, 20, 27 de junho e 4 de julho. Informações e inscrições pelo e-mail ctaplapa.mesdabiblia2022@gmail.com, ou na Cúria da Lapa, presencialmente ou pelos telefones (11) 3834-7141 ou (por Benigno Naveira) 3834-7839. [LAPA] As celebrações em comemoração dos padroeiros de algumas paróquias e comunidades da Região são as seguintes: dia 24, às 19h, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Setor Pirituba; dia 28, às 16h, na Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, no Jardim Pinheiros, da Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Butantã; e no dia 29, às 10h30, na Paróquia Nossa Senhora do Líbano, Setor Pirituba. (por Benigno Naveira)

[SANTANA] Cerca de 80 jovens se reuniram na Basílica de Sant’Ana, na manhã do domingo, 15, para o evento “Jovem, levanta-te”, idealizado pela Comunidade Canto de Maria. Eles refletiram sobre a passagem do Magnificat e o tema que deu nome ao encontro. À tarde, puderam aproveitar para conviver comunitariamente, com espaços e atividades adequados a seus gostos, permitindo que fizessem fotos e vídeos para postagem nas redes sociais e jogassem pingue-pongue, pebolim e videogame. A juventude também partilhou testemunhos, e por meio de uma apresentação teatral, refletiu sobre o tema “Sou um jovem pra frente e não deixo meu Cristo pra trás!”. Ao término da atividade, todos participaram da missa, presidida pelo Padre José Roberto Abreu de Mattos, Pároco e Reitor da Basílica. (por Mariana Carvalho) [BRASILÂNDIA] Durante todo o mês de maio, fiéis da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, rezam o Terço luminoso nas noites de sábado na matriz paroquial. (por Marcos Rubens)

SUELI VILARINHO

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

O Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, também conhecido como Santuário Sião Jaraguá, recebeu no sábado, 14, a segunda peregrinação da Região Brasilândia prevista para este mês, com representantes dos grupos de Catequese. A celebração eucarística foi presidida pelo Padre João Henrique Novo do Prado, Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores, e concelebrada pelo Padre Sérgio Antônio Bernardi, CRL, Pároco da Paróquia São Luís Grignion de Montfort, e Padre Gustavo Hanna Crespo, Reitor do Santuário. Aos cerca de 150 peregrinos, Padre João Henrique explicou que traçar o itinerário da Catequese e Crisma para conhecer a Deus é um fator fundamental para amar mais a Jesus: “Quanto mais co-

nheço alguém, mais o amo. Por isso, este é um tempo oportuno para que crianças, jovens e adultos conheçam mais a Jesus e o amem”. O Sacerdote ainda complementou: “É preciso preencher o coração com o amor infinito de Jesus. Amar uns aos outros: nosso amor verdadeiro só se completa quando amamos nossos irmãos, aqueles que Deus coloca em nossas vidas. Que Nossa Senhora Mãe Rainha possa nos fazer crescer mais no amor a Deus e aos irmãos”. Após a missa, houve visita guiada ao Santuário para que os fiéis conhecessem um pouco da sua fundação e história. O mês de maio será finalizado com duas peregrinações de fiéis da Região Brasilândia ao Santuário, aos sábados: uma no dia 21, para os membros da Pastoral Familiar e grupos relacionados à família, e outra, no dia 28, para os membros do Terço dos Homens.

BELÉM Escola de Fé e Política promove diálogo sobre educação FERNANDO ARTHUR

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No sábado, 21, a Escola de Fé e Política “Waldemar Rossi” da Região Episcopal Belém, juntamente com a equipe de reflexão da Campanha da Fraternidade, promoverá uma série de encontros para dialogar sobre Políticas Públicas da Educação, e outros temas como segurança,

moradia, participação social, saúde e mobilidade. O primeiro encontro acontecerá às 9h, no Centro Pastoral São José, no Belenzinho, e tratará do tema com a participação de representantes legislativos ligados à área da Educação. Também será possível acompanhá-lo por meio das redes sociais da Região Episcopal Belém e da Escola de Fé e Política. Fábia Nascimento

[BRASILÂNDIA] No sábado, 14, foi realizado o Encontro de Espiritualidade e Partilha para formação dos catequistas da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, seguindo a motivação de serem multiplicadores do Reino. (por Marcos Rubens)

[SANTANA] Na sexta-feira, 13, os fiéis da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Setor Tremembé, celebraram a padroeira. A missa de encerramento foi presidida pelo Frei Guilherme Anselmo, SIA, Pároco, e concelebrada pelos Padres Dudu e José Marcos, de Cascavel (PR). Ainda no âmbito das festividades da padroeira, no sábado, 14, os jovens e adultos da Iniciação à Vida Cristã fizeram uma releitura das aparições de Nossa Senhora de Fátima. (por Lene Zuza) [BRASILÂNDIA] Na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, Setor Pereira Barreto, no sábado, 14, ocorreu o primeiro encontro presencial dos pais das turmas de Catequese e Crisma iniciadas em 2022, organizado pelos responsáveis da Iniciação à Vida Cristã (IVC) e pela Pastoral Familiar. Na oportunidade, o casal Nery e Nadir falou sobre “Espiritualidade Familiar”, para despertar a importância da família e da Catequese. (por Priscila Rocha) [BRASILÂNDIA] A Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, acolheu mais um grupo de Catequese infantil que inicia sua caminhada. As crianças foram apresentadas à comunidade durante a missa no domingo, 15, ocasião em que receberam um exemplar da Bíblia, entregue pelo Padre Roberto Moura, Pároco. Ele lembrou que “a Palavra de Deus deve ser luz para os nossos passos” e incentivou as crianças a usarem essas palavras para chegar à conclusão do Evangelho do dia: “Amai-vos uns aos outros”. (por Taíse Cortês) [IPIRANGA] Com o objetivo de promover a pesquisa, a formação e a evangelização, e aprofundar em temas ligados à espiritualidade, o Santuário São Judas Tadeu realiza o 1º Congresso Acadêmico. Entre 6 e 9 de junho, das 19h às 22h, tanto presencial quanto remotamente, serão abordados, por meio de conferências, debates e mesas-redondas com estudiosos e pesquisadores, os seguintes temas: Eucaristia e a Igreja; Eucaristia e o Ecumenismo; Eucaristia e a Sagrada Escritura; e Eucaristia e a Moral/Direito. Informações e inscrições no link a seguir: https://cutt.ly/sHmYR7D. (por Padre Rarden Pedrosa, SCJ)

[IPIRANGA] A Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, Setor Pastoral Cursino, promoveu, no domingo, 15, o reencontro dos casais que participaram, em abril, do Encontro do Bom Pastor, oferecido pela Pastoral Familiar da Região Ipiranga. (por Andreia de Carvalho)

[SÉ] No dia 11, aconteceu o primeiro dos quatros encontros de formação sobre Teologia Eucarística, promovido pela Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins, com o tema “A Eucaristia e o Antigo Testamento”. Os próximos encontros acontecerão nos dias 25 de maio, 8 de junho e 28 de junho, de forma presencial e também transmitidos pelo YouTube da Paróquia. Para assistir ao vídeo completo do primeiro encontro, acesse: https://youtu.be/ScWgArlVLdc. (por Rogério Nakamoto)

[SANTANA] No sábado, 14, na Paróquia Nossa Senhora da Consolata, Setor Imirim, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu a celebração eucarística durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 40 jovens e adultos. Concelebrou o Padre Moisés Facchini, IMC, Pároco. (por Fábia Nascimento)

[SÉ] O Terço dos Homens da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins, foi criado em 2018, por iniciativa do Padre Carlos Eduardo Catalfo, Pároco na ocasião. Para comemorar seus quatro anos de existência, o grupo convida a todos a participar do “Terço no Parque!”, no sábado, 21, às 9h, no Parque Villa Lobos, com um momento de espiritualidade e confraternização. (por Rogério Nakamoto)


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Papa Francisco na canonização de 10 santos: ‘Santidade não é heroísmo pessoal’ Vatican Media

FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO NA CIDADE DO VATICANO

Na primeira cerimônia de canonização desde o início da pandemia de COVID-19, realizada no domingo, 15, o Papa Francisco incluiu dez nomes na lista das pessoas que a Igreja reconhece como santos. Entre eles, dois conhecidos mártires do século XX: o sacerdote, eremita e escritor espiritual Charles de Foucauld, morto por assaltantes na Argélia, em 1916, e o padre carmelita, jornalista e professor Tito Brandsma, assassinado no campo nazista de Dachau, na Alemanha, em 1942. Além deles, foram canonizados Lázaro Devasahayam, César de Bus, Luís Maria Palazzolo, Giustino Maria Russolillo, Marie Rivier, Maria Francisca de JesusRubatto, Maria de Jesus Santocanale e Maria Domenica Mantovani (leia mais sobre os novos santos nas páginas 10 e 11). O Papa Francisco recordou, em sua pregação, que a santidade é um caminho para todos, e que não depende apenas de méritos pessoais – em vez disso, afirmou, nasce do amor de Deus que, ao ser reconhecido, se manifesta em forma de serviço aos outros. “Criamos um ideal de santidade fundado demais sobre nós mesmos, sobre heroísmo pessoal, capacidade de renúncia, sacrificar-se para conquistar um prêmio”, disse o Pontífice na homilia, alertando que essa visão distorcida separou a ideia de santidade da vida comum. “Temos que abraçá-la no cotidiano, na poeira da estrada, na vida concreta”, declarou. Citando Santa Teresa D’Ávila, ele notou que a santidade se encontra “entre as panelas da cozinha”. Isso para dizer que “a vida cristã é algo

muito simples, que às vezes complicamos demais”. Nas palavras do Papa Francisco, a santidade só é uma meta alcançável porque “Deus nos amou primeiro”, algo que “não podemos esquecer nunca”. Ou seja, “ao centro [da nossa fé] não está nossa capacidade, os nossos méritos, mas o amor incondicional e gratuito de Deus, o qual não fizemos por merecer”.

‘SOMOS AMADOS’

Deus nos ama primeiro que nós o amemos, acrescentou o Papa. “Somos amado por Ele antes mesmo que alguém nos ouvisse chorar ou sorrir. Ele nos esperava e nos ama”, disse. “Esta é a nossa identidade, nossa força: amados por Deus!” Os santos são aqueles que escutaram as palavras de Jesus e as colocaram em prática, disse o Pontífice. Referindo-se à leitura do Evangelho segundo São João (13,34), o testamento que Cristo deixou é muito claro e muito simples: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.

“Jesus nos ama até o fim, até o dom total de si mesmo”, comentou o Papa. Portanto, servir e dar a vida aos irmãos e irmãs é a verdadeira santidade: “Ou seja, não se trata de colocar em primeiro lugar os próprios interesses”, tampouco meramente oferecer alguma coisa concreta aos que precisam, mas, em vez disso, a santidade é “doar a si mesmo”. E acrescentou: “Não existe santidade de fotocópia. Ela é original, e cada um a realiza do seu jeito”. Na base do nosso “ser cristão” não estão doutrinas e as obras, mas “o estupor de descobrir-se amados, antes de qualquer resposta. Enquanto o mundo tenta nos convencer, muitas vezes, de que temos valor somente se produzimos resultados, o Evangelho nos recorda a verdade da vida: somos amados”, completou o Pontífice.

UMA FAMÍLIA HUMANA

Por causa das dores no joelho, causadas por problemas nos ligamentos, o

Papa Francisco chegou de carro à missa, celebrada na Praça São Pedro. Paramentou-se próximo do altar e passou a maior parte do tempo sentado, levantando-se apenas durante momentos essenciais, como a liturgia eucarística. Durante a oração do Regina Coeli, rezada logo após a missa, ele refletiu brevemente sobre como os novos santos podem inspirar nossas sociedades. “É bonito constatar que, no testemunho que deram do Evangelho, esses santos favoreceram o crescimento espiritual e social de suas respectivas nações e da inteira família humana”, disse. “Enquanto no mundo crescem, tristemente, as distâncias e aumentam as tensões e as guerras, os novos santos inspiram soluções de conjunto, caminhos de diálogo, especialmente nos corações e nas mentes daqueles que ocupam cargos de grande responsabilidade e são chamados a ser protagonistas de paz, e não de guerra”, exortou o Papa Francisco.


10 | Reportagem | 18 a 24 de maio de 2022 |

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10 novos santos testemunharam a fé em diferentes realidades DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Eles disseram verdadeiramente “sim” a Deus e à construção do seu Reino, como ministros ordenados, religiosos consagrados ou leigos que colocaram o tesImagens: Reprodução

temunho da fé no Cristo acima do apego à própria vida e, assim, inspiram os católicos de geração em geração. Afinal, como aponta o Catecismo da Igreja Católica, “ao canonizar certos fiéis, isto é, ao proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece

o poder do Espírito de santidade que está nela, e ampara a esperança dos fiéis, propondo-lhes os santos como modelos e intercessores” (CIC, 828). Leia a seguir, um breve perfil dos dez santos canonizados pelo Papa Francisco, no domingo, 15, no Vaticano.

CHARLES DE FOUCAULD: O FORTE TESTEMUNHO DE UM ‘RECONVERTIDO’ A partir do carisma de Charles de Foucauld, ao longo dos anos surgiram dez congregações religiosas e oito associações de vida espiritual, o que já indica o grande testemunho de fé deste francês nascido em 1858, na cidade de Estrasburgo. Na juventude, Charles de Foucauld ingressou na carreira militar e foi enviado em missão para a Argélia. Três anos depois, porém, renunciou à carreira. Entre 1883 e 1884, empreendeu uma viagem a Marrocos, com a finalidade de exploração científica. Na ocasião, testemunhou a intensa religiosidade dos muçulmanos, o que o levou a uma busca interior e ao retorno à fé cristã que aprendera com seus pais.

Em 1886, entrou em contato com o Padre Huvelin, de Paris, com quem pretendia debater sobre religião. Ao encontrar o Sacerdote, se confessou e comungou. Dois anos depois, já com a certeza de que “não podia deixar de viver para Deus”, desejou consagrar a Ele toda a sua vida. Foi, então, em peregrinação para a Terra Santa. Durante sete anos, viveu em diferentes mosteiros trapistas. A partir de 1897, em Nazaré, assumiu a função de porteiro das Irmãs Clarissas e viveu numa cela junto da clausura. De volta à França, foi ordenado sacerdote em 1901, aos 43 anos, e obteve licença para realizar trabalhos missionários na África, tendo evangelizado, por

meio do exemplo de vida e da caridade, os povos no deserto do Saara. Também atuou para libertar os que viviam como escravos. Entre 1909 e 1913, realizou viagens à França para apresentar o projeto “União de irmãos e irmãs do Sagrado Coração”, voltado à conversão dos infiéis de todo o mundo. Com a eclosão da 1a Guerra Mundial, em 1914, retornou à Argélia, construiu um forte para proteger as populações em perigo de vida, mas ele próprio acabou sendo assassinado por um bando de saqueadores, em 1o de dezembro de 1916. Foi beatificado pelo Papa Bento XVI, em 2005. Saiba mais em: https://cutt.ly/oHsHzmF.

TITO BRANDSMA: O JORNALISTA MARTIRIZADO PELO NAZISMO Nascido na Holanda em 1881, Tito Brandsma ingressou no carmelo aos 17 anos e foi ordenado sacerdote, aos 24, no ano de 1905. Após ter se doutorado em Filosofia e Sociologia em Roma, regressou ao país de origem, onde, além de lecionar para os frades carmelitas, passou a escrever artigos em jornais. Ao ser nomeado diretor espiritual da União dos Jornalistas Católicos da Holanda, em 1935, demarcou firme posição

contra o nazismo. Frei Tito foi ainda presidente da União das Escolas Católicas e se opôs firmemente à exigência nazista de que crianças judias não tivessem acesso às instituições de ensino. Os atritos com o regime nazista fizeram com que Frei Tito fosse perseguido e preso em janeiro de 1942. No cárcere, dedicou-se ainda mais à oração e meditação e, vendo em seu sofrimento o mesmo a que foi submetido Cristo antes da crucifixão,

teve ainda mais certeza de que “sofrer não faz mal, desde que nos sintamos amados”. Tempos depois, foi transportado para o campo de extermínio em Dachau, Alemanha. Por algumas vezes, conseguiu receber, às escondidas, a Eucaristia, enviada a ele por seus confrades. Os maus-tratos recorrentes tiraram-lhe as forças. Frei Tito faleceu em 26 de julho de 1942. Ele foi beatificado por São João Paulo II, em 1985. Saiba mais em: https://cutt.ly/THsHsUy.

MARIE RIVIER: UMA RELIGIOSA DETERMINADA “Nada sou, nada tenho, nada posso. Foi Deus e Nossa Senhora que tudo realizaram.” A frase é da Irmã Anne Marie Rivier, nascida na França, em 1768, e que fundou a Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, hoje presente em 19 países. Com pouco mais de 1 ano de vida, Marie Rivier quebrou o quadril ao cair da cama. Passou boa parte da infância sem conseguir se locomover, mas esse sofrimento a aproximou da devoção à Virgem

Maria: “Se me curares, eu trago-te meninas, ensino-as e digo-lhes para te amarem muito”. Somente aos 8 anos de idade, conseguiu andar com mais autonomia. Aos 18 anos, obteve permissão para criar uma escola e se dedicar aos cuidados de pessoas pobres e doentes, além de ter aberto um salão em uma paróquia para preparar ao mercado de trabalho jovens desempregados. Quando eclodiu a Revolução Francesa,

MARIA DE JESUS SANTOCANALE ABRIU O CORAÇÃO A DEUS E, AS PORTAS, AOS POBRES O forte chamado à vida consagrada que recebeu ao ser crismada na juventude fez com que Carolina Concetta Angela, nascida em Palermo, na Itália, em 1852, sempre tivesse a certeza de consagrar a vida a Deus. Após ficar acamada por quase 16 meses, nos anos de 1884 e 1885, recebeu o hábito negro da ordem terciária regular em 1887. Já vivendo na cidade de Cinisi, começou o apostolado com outras companheiras a partir de 1891, tendo uma

criado um orfanato e, depois, um internato para filhas de mães que não tinham com quem deixar suas meninas por precisarem trabalhar. Devido ao aumento expressivo de religiosas, a Irmã começou a redigir a regra da congregação, obtendo a agregação do novo instituto, a Congregação das Irmãs Capuchinhas da Imaculada Conceição de Lourdes, à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Em 13 de junho de 1910, Irmã Maria de Jesus San-

tocanale e outras 11 irmãs receberam o hábito capuchinho, confiando a congregação a Nossa Senhora de Lourdes. Na fase final de sua vida, a partir de 1917, lutou contra um câncer de mama. Para se tratar, regressou a Palermo para viver com familiares, mas já em melhor condição de saúde voltou para Cinisi. Morreu em 27 de janeiro de 1923, cercada de outras religiosas. Foi beatificada pelo Papa Francisco em 2016. Saiba mais em: https://cutt.ly/xHsHWSi.

em 1789, mudou-se com outras mulheres para Thueyts, no interior do país. Anos depois, em 1796, fundou a Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, mesmo em meio à perseguição que as ordens religiosas sofriam na França. Irmã Marie Rivier morreu em 3 de fevereiro de 1838, após ter fundado 141 casas. Foi beatificada, em 1982, por São João Paulo II. Saiba mais em: https://cutt.ly/IHsHnqy.


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Imagens: Reprodução

LUÍS MARIA PALAZZOLO: A SANTIDADE DE UM PADRE DIOCESANO “Onde os outros agem, fazem muito melhor do que eu poderia fazer; mas, onde os outros não chegam, procuro fazer algo como posso.” Essa é uma das frases que marcaram o ministério do Padre Luís Maria Palazzolo, que nasceu em Bergamo, na Itália, em 1827, ordenou-se nesta diocese em 1850, e nela atuou

até a morte, em 15 de junho de 1886. Fundou, em 1869, com Teresa Gabrieli, a Congregação das Irmãs Pobres, hoje presente na Itália, Luxemburgo, Suíça, França e na África, atuando nas áreas de Educação e assistência aos mais necessitados. Os que conviveram com o Padre Luís Maria Palazzolo testemunharam que ele

se caracterizava pela austeridade e alegria com as quais contagiava as demais pessoas. Era conhecido como grande orador, pregador de exercícios espirituais e encenava comédias e peças de teatro para atrair os mais jovens à evangelização. Foi beatificado, em 1963, por São João XXIII. Saiba mais em: https://cutt.ly/aHsHeUA.

LÁZARO DEVASAHAYAM: HINDU CONVERTIDO AO CATOLICISMO FOI MARTIRIZADO Primeiro leigo indiano a ser declarado santo, Devasahayam Pillai nasceu em uma tradicional família hindu em 1712, tendo, inclusive, atuado como oficial na corte do antigo reino de Travancore. Em 1741, um prisioneiro católico holandês o colocou em contato com um missionário jesuíta. Pouco tempo depois, em

1745, aos 33 anos, Devasahayam foi batizado. Ele passou a adotar o nome de Lázaro e abandonou o sobrenome Pillai, que lhe dava a distinção de alguém nascido em uma casta superior da sociedade indiana. Em 1749, em razão de sua conversão, foi acusado de traidor e de supostamente ter revelado segredos de Estado aos ini-

migos do governo local. Lázaro, então, foi preso e levado a uma espécie de exílio em uma região de floresta de Travancore, onde acabou sendo espancado diariamente com chibatadas. Foi morto, por fuzilamento, em 14 de janeiro de 1752. Sua beatificação ocorreu em dezembro de 2012. Saiba mais em: https://cutt.ly/0Hf5fXz.

GIUSTINO MARIA RUSSOLILLO: O PADRE QUE ANIMOU VOCAÇÕES Um padre extremamente dedicado à promoção das vocações em sua diocese. Assim pode ser sintetizada a vida de Giustino Maria Russolillo, que nasceu em 1891, em Pianura di Napoli, na Itália, e foi ordenado sacerdote em 1913, na Diocese de Puzzuoli, onde desenvolveu todo seu trabalho pastoral até a morte, em 2 de agosto de 1955. Padre Giustino fundou a Sociedade

das Divinas Vocações (Vocacionistas), ajudando no despertar vocacional de moças e rapazes para a vida consagrada a Deus, ação que encontrava muita ressonância na sociedade local, graças à proximidade que ele mantinha com as famílias, chamando-as à evangelização: “Em cada casa, rua ou praça deve ser feito um templo e escola do Evangelho”, afirmou em um dos seus muitos escri-

tos, que hoje estão compilados em 26 livros. O Sacerdote também colaborava com outros padres e religiosos consagrados em dificuldades financeiras, algo recorrente em um mundo que vivia as incertezas do período entre a 1a e a 2a Guerras Mundiais. Foi beatificado, em 2011, pelo Papa Bento XVI. Saiba mais em: https://cutt.ly/vHgrGhC.

MARIA FRANCISCA DE JESUS RUBATTO: ABNEGADA SERVIDORA DOS POBRES E DOENTES Anna Maria Rubatto nasceu em um lar cristão, em Carmagnola, na Itália, em 1844, e desde a infância cultivou forte espiritualidade. Após a morte da mãe, quando ela tinha 19 anos – o pai morrera quanto ela estava com 14 anos –, passou a viver com sua irmã mais velha, em Turim, até ser adotada por uma rica senhora, Mariana Scoffone, ajudando-a na administração de seu patrimônio, até 1882. Nesse período, diariamente, Anna Maria servia os doentes, ajudava os po-

bres e ensinava o Catecismo às crianças. Anos depois, quando sua irmã faleceu, Anna Maria e outras senhoras iniciaram obras de caridade e de apostolado sob a direção dos padres Capuchinhos. Em 1883, foi designada para cuidar de uma comunidade feminina. Aprofundado o desejo de uma vida consagrada a Deus, vestiu o hábito franciscano em janeiro de 1885, dando início à família religiosa das Irmãs Terciárias Capuchinhas de Loano, que prestava assistência aos doentes e se

dedicava à educação cristã da juventude. Professou votos definitivos em 1886, quando adotou o nome de Maria Francisca de Jesus, e tornou-se a primeira superiora do instituto, que se expandiu pela Itália e para a América, com a própria Madre Francisca tendo fundado casas no Uruguai e na Argentina nos anos 1890. Já vivendo no Uruguai e acometida por um câncer, faleceu em 6 de agosto de 1904. Foi beatificada por São João Paulo II, em 1993. Saiba mais em: https://cutt.ly/uHguju5.

MARIA DOMENICA MANTOVANI, DAS ‘PEQUENAS IRMÃS’ DE GRANDES OBRAS Maria Domenica Mantovani, nascida em Castelletto de Brenzone, na Itália, em 12 de novembro de 1862, aprendeu em família e na comunidade paroquial o valor do trabalho e da oração. Na adolescência, aproximou-se ainda mais de uma vida de fé, especialmente após o Beato José Nascimbene ter se tornado pároco da igreja que ela frequentava e a ter incentivado a ensinar o Catecismo

às crianças e a visitar os pobres e doentes. O Beato a convidou para ser cofundadora da Congregação das Pequenas Irmãs da Sagrada Família, em 1892, cujas constituições foram inspiradas na Regra da Ordem Terceira Regular de São Francisco. Nos escritos a respeito da vida de Maria Domenica, são comuns os relatos sobre sua bondade e as virtudes como mestra sábia, lúcida, zelosa e, por vezes, exigente,

CÉSAR DE BUS CRIOU CENTROS DE INSTRUÇÃO RELIGIOSA EM ÁREAS RURAIS Nascido em 1544, na cidade de Cavaillon, na França, César de Bus recebeu formação cristã na infância. Entretanto, abandonou a fé na juventude. Desejava seguir carreira militar, mas teve seu sonho impedido por uma enfermidade para qual não se encontrava uma razão. Em seu leito de dor, recebeu a visita do bispo local, de amigos cristãos, de alguns jesuítas e de uma camponesa, por meio dos quais voltou à fé católica.

Assim que recobrou a boa condição de saúde, iniciou o processo formativo para o sacerdócio ao mesmo tempo em que percorreu as fazendas e sítios distantes no interior da França para ensinar o Catecismo. Em alguns destes locais, fundou centros de instrução religiosa, nos quais ensinava a doutrina católica a crianças do meio rural. Ordenado sacerdote aos 38 anos, e tendo junto de si muitos jovens para a missão

evangelizadora, fundou a Congregação dos Padres da Doutrina Cristã, os Padres Doutrinários, inicialmente sem a exigência dos votos de pobreza, obediência e castidade para o ingresso na comunidade, algo que mudaria anos depois. Acometido por uma enfermidade, Padre César de Bus faleceu em 15 de abril de 1607. Foi beatificado, em 1975, por São Paulo VI. Saiba mais em: https://cutt.ly/IHgzL6G.

características que permitiram que mantivesse as ações da Congregação, mesmo após a morte do fundador. A Madre faleceu em 2 de fevereiro de 1934, quando já haviam sido aprovadas, de modo definitivo, as constituições da congregação, a qual já contava com 1,2 mil irmãs, em 150 casas na Itália e no exterior. Foi beatificada por São João Paulo II, em 2003. Saiba mais em: https://cutt.ly/gHgaKqC.


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O século dos mártires Juliane/Cathopic

A HISTÓRIA DA IGREJA NO SÉCULO XX É MARCADA PELO TESTEMUNHO DE INÚMEROS CRISTÃOS QUE DERRAMARAM O SANGUE EM NOME DA FÉ FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Entre os dez novos santos canonizados pelo Papa Francisco no domingo, 15, dois eram mártires – o frade carmelita holandês Tito Brandsma e o leigo indiano Lázaro – e chamam a atenção para o testemunho dos milhões de cristãos martirizados. Embora, na história da Igreja, os primeiros séculos do Cristianismo tenham sido marcados pela chamada era dos mártires perseguidos, sobretudo pelo Império Romano, em números absolutos, o século passado foi o período em que mais cristãos derramaram seu sangue por causa da fé. Se forem somados os martírios das primeiras duas décadas do século XXI, esse número é ainda maior. Em um discurso de 2018, o Papa Francisco ressaltou que o martírio se confirma cada vez mais atual. “No passado, jogavam os cristãos às feras no Coliseu para fazer espetáculos. Hoje, porém, no anonimato, no esquecimento, e muitas vezes quando estão rezando na igreja ou celebrando missa, os cristãos ainda são vítimas do ódio e da perseguição, mas a disposição da alma é a mesma, ontem como hoje”, afirmou.

QUEM É MÁRTIR?

São Paulo VI, ao beatificar um grupo de mártires coreanos, em 1969, refletiu: “Quem é mártir? O nome já é um elogio paradoxal. Dois elementos dão com eficácia extraordinária o significado: o testemunho e o sangue. Esses são os elementos da manifestação extraordinária de Deus na fé e na fortaleza de um seguidor de Cristo. O mártir escreve a sua fé com sangue. Proclama com seu sacrifício que a verdade que ele possui e pela qual se deixa morrer vale mais do que a sua vida temporal, porque a fé é a sua nova vida sobrenatural, presente e pela eternidade…”.

MODELO E INSPIRAÇÃO

Na mesma homilia mencionada, São Paulo VI afirmou que o “Martirológio”, conjunto dos relatos dos martírios dos primeiros séculos da Igreja, deveria vol-

se desenrolaram na África ou na América Latina”, salientou Riccardi, recordando o exemplo do bispo salvadorenho Santo Oscar Romero. Somam-se às causas de martírio de cristãos no século passado a perseguição do Estado, como nos países comunistas e pelo nazismo. Na Ásia e na Oceania, durante a 2ª Guerra Mundial, milhares de cristãos foram eliminados. Em muitos casos, a guerra e as lutas étnicas são o terreno em que os cristãos são atingidos. Em outros, dizem respeito a mulheres que resistem à violência, inclusive sexual, como a italiana Santa Maria Goretti e a brasileira Beata Albertina Berkenbrock, mártires da pureza.

UNIDOS À CRUZ

tar a ser um livro da moda na Igreja. Inspirado na tradição do Martirológio, São João Paulo II, por ocasião do Jubileu do ano 2000, instituiu a Comissão dos Novos Mártires, que, como ele afirmou durante uma celebração no Coliseu naquele mesmo ano, tinha o objetivo de “enriquecer e atualizar a memória da Igreja com os testemunhos de todas as pessoas, mesmo desconhecidas, que ‘arriscaram a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo’ (At 15,26)”. Essa comissão recolheu e catalogou mais de 12 mil histórias de cristãos mortos no século XX. São testemunhos provenientes de todas as partes do mundo, de diferentes atos e escritos em muitas línguas.

NOVOS MÁRTIRES

O material da Comissão dos Novos Mártires foi objeto de pesquisa do historiador italiano Andrea Riccardi, que escreveu o livro “O século do martírio – Os extermínios coletivos e o martírio individual dos cristãos do século XX”. “Quantos cristãos foram mortos no século XX por causa da sua fé? Não só católicos, mas cristãos de todas as confissões. Talvez 3 milhões? Se pensarmos que na Rússia foram mortos pelo menos 500 mil, talvez se possa aceitar esta hipótese. Se pensarmos, além disso, nos cristãos mortos no Império Otomano

durante a 1ª Guerra Mundial, nos missionários, nos mortos nos conflitos étnicos... O século XX foi, em geral, um período difícil para os cristãos em condições de minoria em países dominados por uma outra religião maioritária, especialmente nos países de maioria muçulmana (mas também de outra fé). A Argélia dos últimos anos presenciou muitos assassínios de cristãos, como os sete monges trapistas de Notre Dame de l’Atlas, mortos pelos terroristas islâmicos”, escreveu o historiador. Também os países de tradição secular católica presenciaram o assassínio em massa de cristãos, como, por exemplo, os mártires da guerra civil espanhola. Mas também o México dos anos 1920 conhece o martírio de muitos cristãos na sanguinária guerra civil “cristera”. Por trás de muitas perseguições estavam ideologias ateias, anticlericais, formas de idolatria. Mas não apenas isso. Muitas vezes, a violência dirigiu-se contra os cristãos de forma brutal só por motivos materiais e contingentes, como o caso do padre italiano Giuseppe Puglisi, assassinado em 1993 pelos mafiosos em Palermo. “Muitas vezes, os simples católicos ou os padres ou os religiosos apareceram como uma barreira à injustiça e foram eliminados pela resistência que opunham e pela coragem que davam às pessoas: muitas dessas histórias

Essas são as razões históricas dos martírios do último século. Contudo, o derramamento de sangue de cristãos não se fundamenta apenas em elementos sociais, políticos e culturais, mas na fé. “Onde se fundamenta o martírio? A resposta é simples: na morte de Jesus, no seu sacrifício supremo de amor, consumido na Cruz, a fim de que nós pudéssemos ter vida (cf. Jo 10,10). Cristo é o servo sofredor de que fala o profeta Isaías (cf. Is 52,13-15), que se entregou a si mesmo em resgate por muitos (cf. Mt 20,28)”, afirmou o Papa Emérito Bento XVI, em uma catequese de 2010. “Quando lemos a vida dos mártires, ficamos admirados com a tranquilidade e a coragem com que eles enfrentaram o sofrimento e a morte: o poder de Deus se manifesta plenamente na debilidade, na pobreza daquele que se confia a Ele e deposita a sua própria esperança unicamente Nele (cf. 2 Cor 12,9)”, acrescentou o Bento XVI, ressaltando, no entanto, que a graça de Deus não suprime nem sufoca a liberdade daqueles que enfrentam o martírio, mas, ao contrário, a enriquece e a exalta. “O mártir é uma pessoa sumamente livre em relação ao poder e ao mundo; que num único gesto definitivo entrega toda a sua vida a Deus, e num supremo gesto de fé, de esperança e de caridade, abandona-se nas mãos do seu Criador e Redentor; sacrifica a própria vida para ser associado de maneira total ao sacrifício de Cristo na cruz. Em síntese, o martírio é um grande gesto de amor, em resposta ao amor imenso de Deus”, completou o Papa Emérito, recordando a máxima de Tertuliano, um dos padres da Igreja dos primeiros séculos: “O sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”.


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Conselho do Arquivo Metropolitano tem missão de zelar pela memória da Igreja em São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Constituído em 29 de abril, o Conselho de Administração do Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva tem o objetivo de zelar pelo patrimônio religioso, eclesiástico, histórico e cultural da Arquidiocese de São Paulo. Instituído em 1918, por Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo, o Arquivo Metropolitano de São Paulo segue uma disposição do Código de Direito Canônico, que prevê que em cada cúria diocesana deve ser instalado um arquivo diocesano, “onde se guardem, dispostos na ordem devida e diligentemente fechados, os documentos e escrituras relativos aos assuntos diocesanos não só espirituais, mas também temporais”. O Arquivo Metropolitano, localizado no bairro do Ipiranga, possui a maior diversidade de séries documentais e processos entre registros de Batismo, Matrimônio e Óbito, processos eclesiásticos, fotografias, partituras musicais, plantas e projetos arquitetônicos, testamentos e inventários, a maioria datada do final do século XVII. Em 1921, Dom Duarte teve uma iniciativa inédita nas dioceses da época e que é realizada até hoje: a criação de “livros duplicatas” de Batismo e Casamento, isto é, cada paróquia possui uma cópia dos registros desses sacramentos em um segundo livro, que, depois de preenchidos, são encaminhados ao Arquivo. Desse modo, foi criada uma espécie de backup analógico dos registros. Para cada paróquia que pertence ou pertenceu à Arquidiocese de São Paulo existem pastas de documentações avulsas. Quando criada, em 1745, a então Diocese de São Paulo abrangia os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o sul de Minas Gerais. Portanto, o Arquivo possui documentos dessas regiões pelo menos até o período de abrangência da Igreja particular de São Paulo.

ACERVO

Em números, o acervo contém aproximadamente 4 milhões de registros de Batismo, desde 1640; 2,5 milhões de registros de Matrimônio, desde 1632; cerca de 300 mil registros de Óbito (anteriores à República); 12 mil livros manuscritos; 2 milhões de processos matrimoniais, desde 1640; 5 mil processos de habilitação de ordenação, desde 1686; cerca de 40 mil fotografias impressas, desde 1871; 250 partituras musicais dos séculos XVIII e XIX; 4 mil plantas e projetos arquitetônicos de igrejas. Uma das relíquias do Arquivo Metropolitano são os registros do Batismo (1798), Matrimônio (1813) e Óbito (1867) de Domitila de Castro Canto e Mello, a Marquesa de Santos, contidos nos livros da antiga Sé de São Paulo. O Arquivo Metropolitano é uma rica fonte de pesquisa para informações anteriores à República. “Antes da República, não havia cartórios. Com o regime do

padroado, que vigorou no período colonial e do império, a Igreja era o grande cartório do Estado. Portanto, os principais registros da vida de uma pessoa, Batismo (nascimento), casamento e a morte, eram feitos pelas paróquias”, explicou Jair Mongelli Júnior, diretor técnico do Arquivo por mais de 30 anos, recordando que, mesmo com a criação dos cartórios, ainda no início do século XX, havia muitas pessoas que só foram batizadas e não tiveram registros de nascimento. Em 2006, o Arquivo Metropolitano começou o registro de depoimentos em vídeos de personagens da Igreja em São Paulo, entre clérigos, religiosos e leigos, que falam sobre suas histórias de vida ou sobre fatos históricos. A maior entrevista do acervo é do fundador da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese, Mário Simas, com 11 horas de duração.

ESTATUTO

O novo conselho, presidido pelo Car-

deal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, assume as atribuições até então confiadas à diretoria do Arquivo Metropolitano e terá como primeira missão a elaboração de um modelo de proposta de estatutos com as consequentes alterações no seu regimento interno, além de sua organização administrativa e pastoral. “O Arquivo Metropolitano é a ‘memória viva’ contada por documentos históricos da vida pastoral do povo da Arquidiocese de São Paulo e de outras dioceses. Além da própria maneira de viver da população paulopolitana, o arquivo diocesano tem a missão de garantir o respeito com o passado e a responsabilidade frente ao futuro da Igreja”, afirmou o Padre Zacarias José de Carvalho Paiva, Procurador da Mitra Arquidiocesana e um dos membros do conselho. O Sacerdote, que também é Coordenador da Cúria Metropolitana, informou que, em breve, para melhor servir o povo de Deus, o Arquivo irá ampliar seus horários de atendimento e seus canais de comunicação. O Arquivo é aberto à pesquisa de pessoas e entidades dentro de certas normativas semelhantes à do Arquivo do Vaticano, que estabelece o prazo de 70 anos para a liberação do acesso aos documentos, podendo haver exceções para determinadas circunstâncias. Atualmente, a procura maior é por pessoas em busca de informações de seus antepassados para o reconhecimento de cidadania estrangeira. Há também pesquisas acadêmicas nas áreas de História, Música, Arquitetura, Turismo, Teologia, Ciências da Religião, Sociologia, Direito, Educação, e inclusive de pesquisadores do exterior.

INFORMAÇÕES

Telefones: ( 11) 2 272-3644 ou 2272-3726 arquivo.curia.sp@terra.com.br Contatos: Jair e Estela Endereço: Avenida Nazaré, 993, Ipiranga.


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Regional Sul 1 da CNBB envia 3 missionárias a Moçambique Regional Sul 1

INICIATIVA É PARTE DO PROJETO IGREJAS-IRMÃS, INICIADO EM 2018, NO QUAL AS DIOCESES DO ESTADO DE SÃO PAULO COLABORAM COM A DIOCESE DE PEMBA, ONDE A PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS TEM SE INTENSIFICADO NOS ÚLTIMOS ANOS PELA AÇÃO DE EXTREMISTAS ISLÂMICOS DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

As malas já estão prontas e o destino definido: um país que ainda sente as consequências da guerra civil que durou de 1977 a 1992, que recorrentemente é assolado por desastres naturais e que tem sofrido com os ataques de extremistas islâmicos. Moçambique, mais especificamente a cidade de Pemba, na Província de Cabo Delgado, é para onde irão as Irmãs Dinorá da Santa Cruz, 27; Inês do Imaculado Coração de Maria, 30; e Sophia do Espírito Santo, 24, consagradas da Fraternidade O Caminho. A missa de envio aconteceu no dia 9, na capela da sede do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na capital paulista, tendo como celebrante principal Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo de Mogi das Cruzes (SP) e Presidente do Regional. Desde abril de 2018, o Regional Sul 1 mantém o Projeto Igrejas-Irmãs, com campanhas para a ajuda solidária à Diocese de Pemba e o envio de missionários. Além das três irmãs, estão em missão naquela Igreja particular três frades, dois padres e uma leiga. O tempo de permanência de cada um é de quatro anos.

CHAMADAS À MISSÃO

Padre Thiago Faccini Paro, Secretário-executivo do Regional Sul 1 e que coordena o projeto atualmente, explicou à reportagem que os bispos do estado de São Paulo são os primeiros animadores da iniciativa, ao estimular em suas dioceses que leigos, padres, diáconos e religiosos se coloquem à disposição para essa missão ad gentes. Essa animação também é feita pelo Conselho Missionário Regional (Comire). Para a Irmã Dinorá, o chamado à missionariedade começou desde quando houve o despertar para a vida religiosa consagrada. “Essa dedicação e entrega ao serviço e desígnios do Senhor já prepara os corações para o que Ele chamar”, assegurou. Irmã Inês complementou que, uma

Consagradas da Fraternidade O Caminho na missa de envio na sede do Regional Sul 1, no dia 9

vez inseridas na comunidade, as consagradas sentem o desejo ardente pela missão, e que, apesar do medo de ir para algo novo, elas têm a convicção de que esse é o convite do coração de Deus e querem corresponder-lhe. “Deus nos dá muita sabedoria para desenvolver a nossa missão. Esta sabedoria é adquirida também no contato direto com os pobres, com a vivência autêntica no cuidado com essas pessoas que o mundo desvaloriza completamente”, afirmou Irmã Sophia.

CARREGANDO A CRUZ DE CRISTO

O mais recente relatório da Organização Internacional para as Migrações aponta que o número de deslocados na Província de Cabo Delgado aumentou 7% entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano, algo em torno de 50 mil pessoas. Ao todo, já são cerca de 784 mil deslocados, a maioria deles, 152 mil, de Pemba. Desde outubro de 2017, extremistas islâmicos jihadistas têm perseguido recorrentemente a população de Moçambique. De acordo com um relatório da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), publicado no ano passado, apenas em dezembro de 2020 mais de 2,5 mil pessoas foram mortas no país em aproximadamente 600 ataques. Nos últimos anos, os cristãos também foram alvos dos radicais, que vandalizaram estações de missão, a sede de uma rádio católica, um mosteiro beneditino, várias capelas e uma paróquia na cidade de Mocímboa da Praia. Dom Antonio Juliasse Ferreira Sandramo, que tomará posse como Bispo de Pemba, no sábado, 21, falou sobre a realidade dos cristãos em Moçambique durante uma conferência on-line na Assembleia dos Bispos do Regional Sul 1 do ano passado. “Ele mencionou em sua fala: ‘Esta-

mos numa situação muito delicada porque a violência se agrava cada vez mais’. E, infelizmente, este cenário não mudou: os missionários e os habitantes locais vivem uma insegurança contínua pelas ameaças de terrorismo. ‘Os missionários encaram, diariamente, a cruz de Jesus, e vivenciam a fé por meio da dimensão do martírio’, recordou Dom Juliasse”, lembrou o Padre Thiago.

PIONEIRO NA MISSÃO

Padre Salvador Maria Rodrigues de Brito, da Diocese de Guarulhos (SP), foi um dos primeiros missionários do projeto. Ele permaneceu em Pemba por quatro anos e regressou ao Brasil em novembro de 2020. A experiência desse período está contada no livro “Uma missão de fé que transformou para sempre a minha cosmovisão”, publicado pelas Edições CNBB, em 2021. “O livro narra a história de muitas histórias, a vida de ‘muitas outras vidas’. A inspiração do nome do livro está sobretudo interligada, de fato, com a experiência realizada; em primeiro lugar é, claro, que a maneira pela qual a Igreja olha o mundo é sempre a partir do dado da fé, este olhar é como se vê o universo. No entanto, minha experiência de fé missionária me possibilitou ampliar meu coração para amar sem fronteiras, tudo aquilo que minha consciência não fora capaz de compreender, como hábitos e costumes próprios de uma outra nação; sobretudo, religiosos, pois, na Província de Cabo Delgado, cerca de 30% são cristãos, e a maioria das pessoas professa a fé islâmica”, disse ao O SÃO PAULO. Padre Salvador enfatiza que todo o livro é um retrato do rosto da Igreja e do povo da Província de Cabo Delgado, e que em cada capítulo são abordados elementos concretos da realidade cultural e social. Questionado sobre os principais

empecilhos enfrentados pela Igreja Católica em Moçambique, o Sacerdote lembra que o primeiro aspecto a ser considerado é que no país muitas pessoas ainda não ouviram falar nem conhecem a Jesus Cristo, em algumas aldeias a simples presença dos missionários é vista com receio e faltam estruturas básicas. “As igrejas em sua maioria lá dentro das aldeias (nos matos) são todas com teto de capim, as pessoas andam muito para chegar até elas e se sentam no chão, ajoelham-se piedosamente na hora da consagração, têm uma piedade muito própria com as coisas sagradas. O Espírito lhes imprime uma naturalidade que parece movê-las sem precisar de muita instrução. A ausência de missionários é muito comum, muitos lugares ficam muito tempo sendo animados pelos fiéis leigos. Eu cheguei a visitar uma das minhas comunidades, isolada, e é algo admirável de fé: ali nunca havia chegado um missionário, tudo foi erguido pela fé de homens e mulheres simples e analfabetos, que rezam em sua língua local o Terço, a celebração dominical e davam até catequese, da maneira como podiam”, recordou. Todos os recursos obtidos com a venda do livro serão destinados à construção da matriz da Paróquia Nossa Senhora da África, na aldeia de Mazeze, onde o Padre Salvador foi Pároco. Interessados em adquirir o livro podem entrar em contato pelo WhatsApp (11) 97172-7435.

COMO COLABORAR

A manutenção financeira dos missionários em Pemba se concretiza com um valor anual enviado por todas as dioceses do Regional Sul 1 e por meio das coletas e campanhas de evangelização, além de doações diversas. “Toda e qualquer contribuição para os missionários são bem-vindas. A começar pelas orações que ajudam a encorajar e tranquilizar os corações missionários diante de tantas lutas diárias. O projeto também disponibiliza meios para contribuir de forma concreta e financeira nas coletas ou campanhas em favor da missão ou em doações pela Caritas Regional ou, ainda, se preferirem, por meio do PIX do Regional”, afirma o Padre Thiago.

DOAÇÕES VIA DEPÓSITO BANCÁRIO:

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Regional Sul 1 CNPJ: 33.685.686/0009-08 Banco do Brasil: 001 AG: 6914-0 CC: 40381-4

VIA PIX

Chave: 33685686000908


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| 18 a 24 de maio de 2022 | Reportagem | 15

Maio Amarelo: um trânsito mais seguro é possível com a prática de boas virtudes Maio Amarelo 2021

INICIATIVA BUSCA CONSCIENTIZAR PARA O ALTO ÍNDICE DE MORTES E FERIDOS NO TRÂNSITO. PRUDÊNCIA, RESPEITO E PACIÊNCIA SÃO ATITUDES QUE NÃO DEVEM SER ESQUECIDAS AO VOLANTE ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Com o tema “Juntos salvamos vidas”, a campanha Maio Amarelo 2022 tem por objetivo conscientizar a população sobre a necessidade de se reduzir acidentes de trânsito e evitar mortes. O Movimento Maio Amarelo é mundial e acontece desde 2011, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito. A cor amarela é uma referência ao sinal do semáforo, que simboliza a atenção para a causa. A iniciativa tem a participação de órgãos governamentais e diversas organizações. Também é ocasião oportuna para se ressaltar os aspectos do documento “Diretrizes para o cuidado para a Pastoral da Estrada”, lançado em 2007 pelo Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cuja íntegra pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/dHj7SAQ. Ao longo deste mês, estão sendo realizadas ações de fiscalização e educativas para conscientizar pedestres, motoristas e passageiros de transportes coletivos em rodovias e vias municipais sobre o trânsito seguro.

nhas educativas nas redes sociais, com foco na educação para o trânsito e ações relacionadas durante as fiscalizações nas rodovias federais de todo o Brasil. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também aderiu à campanha junto com os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, pautando o tema da segurança viária. O mês de ações concretas visa a mobilizar ações coordenadas entre o poder público e a sociedade civil. Propõe discutir o tema, nas mais diferentes esferas, além de engajar ações e propagar conhecimento, abordando toda a amplitude que a questão do trânsito exige.

MORTES EM ESTRADAS

PROPORÇÕES

Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que, em 2020, foram registrados 63.578 acidentes nas rodovias federais, resultando em 71.511 pessoas feridas e 5.293 mortas. Em 2021, foram 64.518 acidentes, com 71.804 pessoas feridas e 5.393 mortas. Somente no primeiro trimestre de 2022 ocorreram 14.976 acidentes nas rodovias federais do Brasil, o que corresponde a 23% do total do ano anterior. Esses acidentes resultaram em 17.115 pessoas feridas e 1.283 mortas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021, lançou o Plano Global para a Década de Ação para Segurança Viária 2021-2030, com o objetivo de reduzir em até 50% o total de mortes e sequelas no trânsito nos próximos dez anos, em âmbito mundial. A expectativa é de que a campanha Maio Amarelo contribua para a redução do índice de vítimas no trânsito.

AÇÕES CONCRETAS

Em âmbito nacional, a Polícia Rodoviária Federal iniciou ações com campa-

Rafael Alexandro, 32, no início deste ano, ao retornar do trabalho, foi vítima da imprudência de um condutor embriagado. “Fui surpreendido por um carro que, em alta velocidade, não conseguiu desviar da minha moto. Foram dias de internação para a recuperação”, afirmou o jovem. “Parece óbvio, mas quero reafirmar: se beber, não dirija”, destacou. July Belchior, psicóloga, especialista em abordagem comportamental, enfatizou que o tema do Maio Amarelo procura levar a sociedade à reflexão sobre seu papel no trânsito: “É um mês dedicado à conscientização e a discussão não só do trânsito, mas sobre a responsabilidade em fazer um trânsito menos violento e mais seguro”, explicou. Ainda conforme a especialista, a ideia é mostrar que a soma dos esforços poderá ser compensadora. “Nossas ações cotidianas fazem a diferença. Todos podemos salvar vidas no trânsito se fizermos o que é correto, seguindo as regras com prudência e temperança”, afirmou. A psicóloga destacou que a alta nas

ocorrências no trânsito, muitas vezes, é resultado da pressa, falta de atenção e, ainda, uso indevido de celular entre outras situações, e que, diante disso, é fundamental a psicoeducação: “É preciso uma consciência educativa, aliando a educação comportamental e psicológica, pois unindo as duas é possível conscientizar, salvar vidas e diminuir acidentes”, sublinhou.

VIRTUDES DO MOTORISTA

O documento “Diretrizes para o cuidado para a Pastoral da Estrada” apresenta as virtudes que jamais devem ser esquecidas pelo motorista no trânsito, como a prudência, que envolve não se distrair ao volante com o celular ou a tevê portátil, nem andar em velocidade excessiva ou desviar a atenção com conversas (cf. parágrafos 52 e 53); a paciência, sendo preciso “dominar uma impaciência muitas vezes bastante natural, sacrificando por vezes um pouco do seu sentido de honra para fazer triunfar a gentileza, que é um sinal de verdadeira caridade” (parágrafo 8); e a justiça, o que requer ter um conhecimento completo exato do código de trânsito, estar em boas condições físicas e psicológicas para dirigir, jamais sentar-se ao volante embriagado e reparar eventuais prejuízos que possa causar ao próximo (cf. parágrafos 54 e 55). O documento também destaca o fenômeno da mobilidade humana: “A estrada e a ferrovia devem estar a serviço da pessoa humana como instrumentos para facilitar a vida e o desenvolvimento integral da sociedade. O deslocamento une as pessoas, facilita o diálogo, dá lugar a processos de socialização e enriquecimento pessoal” (parágrafo 2). O ato de dirigir ou conduzir um veículo exige do condutor algumas qualidades concretas e específicas, entre as quais: controle de si, a prudência, a cortesia, um

adequado espírito de serviço e o conhecimento das normas do código de trânsito. A esperança é, também, elemento fundamental, uma vez que quem parte tem a esperança de chegar bem ao destino. “Para os fiéis, a razão de tal esperança está na certeza de que, na viagem em direção à meta, Deus caminha com o homem e o preserva dos perigos”, cita o documento, no parágrafo 57. Entre os mandamentos, evidencia-se: não matarás ao volante, ajudarás o próximo, principalmente se for vítima de um acidente, convencerás os jovens sem licença a não dirigir, e que o automóvel não seja um lugar de dominação nem lugar de pecado.

PASTORAL DA ESTRADA

Com o referido documento, a Igreja quer suscitar uma renovada tomada de consciência das obrigações inerentes à Pastoral da Estrada e da responsabilidade moral sobre as transgressões no trânsito a fim de prevenir as fatalidades. As Diretrizes ressaltam, ainda, a importância da obrigatoriedade das normas de trânsito e acrescenta que “a maior parte dos acidentes é provocada precisamente pela imprudência”. “Os automobilistas [aqui no sentido de motoristas] não podem contar somente com sua própria vigilância e habilidade para evitar os acidentes, mas devem manter uma justa margem de segurança, se quiserem eles mesmos libertar-se dos imprudentes e remediar as dificuldades imprevisíveis”, ressalta o parágrafo 43 do documento. Há, ainda, um chamado a se criar uma “Cultura da Estrada”, na qual todos se comprometam a cumprir o código de trânsito, compreendendo os direitos e deveres de cada um e tendo, a partir destes, um comportamento coerente.


16 | Fé e Cultura | 18 a 24 de maio de 2022 |

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Em busca de si e de Deus Fotos: Reprodução de cenas do filme Stalker

ANA LYDIA SAWAYA

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Stalker, de A. Tarkovsky (19321986), lançado em 1979, é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. É uma obra difícil, iconográfica, com imagens com uma força incrível, para serem contempladas. Nos grandes trabalhos artísticos, às vezes nem o próprio artista tem consciência plena do que nasceu de sua sensibilidade, e colhe dos que contemplam a obra, detalhes e significados que ele mesmo não tinha percebido. Stalker é assim. Há uma multiplicidade de significados que não cansamos de penetrar. É um filme “aberto” e não “de-terminado”. Trata da busca de si e de Deus. Uma busca que se realiza em duas etapas: a luta contra nossos inimigos externos; e a batalha, ainda maior, contra nossos inimigos internos. O trajeto exige um guia. Não se consegue percorrê-lo sozinho. Eis, então, o Stalker: uma figura cristológica evidente. Um homem que vive para ajudar as pessoas que lhe vêm ao encontro a alcançar os seus desejos. O itinerário é difícil e poucos querem percorrê-lo. Quem decide se arriscar? Aqueles que perderam a esperança neles próprios, na sua capacidade de conquistar algo que tanto almejaram. São dois os que vêm procurar o Stalker: um professor e um poeta. Os dois têm algo em comum: o professor esperava ganhar o Prêmio Nobel e o poeta não conseguia mais escrever. O caminho exige atravessar uma região controlada pelo exército que conduz a uma “Zona”. Como se formou essa Zona? Ninguém sabe exatamente. Diz-se que foi por um meteorito que caiu, mas a história parece malcontada. O fato é que quem se aventurar lá, desavisado ou despreparado, é facilmente morto. Algumas pessoas, porém, conseguem ir até lá, e esses são os Stalker. São pessoas que foram muitas vezes presas ou morreram depois de voltar da Zona. O próprio Stalker do filme foi preso. No centro da Zona, há uma “morada”, e quem consegue entrar obtém a satisfação do seu desejo mais profundo. Mas, cuidado: não o que você acha que é certo desejar, mas o desejo real, aquele que você carrega no mais profundo de si e que determina a sua vida e o seu agir. Não se pode enganar a Zona. O filme começa mostrando a família do Stalker, que alude ao primeiro casal quando se vê uma maçã mordida sobre o criado-mudo. Eles têm uma filha paralítica. A mulher vive uma grande revolta pela escolha do marido e briga com ele por causa disso. Mas, para ele, ajudar os outros a realizarem seus desejos é o sentido da sua vida. Na primeira parte do caminho, é ele quem vai na frente, explicando o que é preciso fazer para se livrar dos obstáculos e do exército. O mundo em volta deles é inóspito, a paisagem descolorida, em preto e branco. Stalker conhece bem os esconderijos e os conduz, dirigindo um carro e depois uma

Stalker com o professor

Na antessala da morada

‘Não lhe perdoarei’ diz o poeta...

pequena carroça ferroviária. Depois de se desviarem de muitas balas, chegam à Zona. Ali o ambiente se transforma completamente, tudo é calmo e colorido. Há, porém, coisas estranhas e um silêncio profundo. Vê-se destroços deixados aqui e ali por visitantes precedentes, frustrados em suas tentativas de atravessar a Zona. Há ruínas de histórias passadas e interrompidas. Quando Stalker

vê a paisagem, seu espírito se acalma. Parece estar em casa, ser esse o seu lugar. A mudança radical de atmosfera traz uma outra surpresa. O ambiente não é mais físico, determinado pela dimensão espaço-temporal, mas como que interno, interior – estamos no mundo psíquico, onde a realidade externa expressa a realidade interna de cada um deles. Não há mais separação entre “fora e dentro”.

Agora, não é mais Stalker quem conduz, mas segue-os. Ele segue o caminho que o professor e o poeta escolhem percorrer. E aqui se descobre a mensagem mais impressionante do filme: a supremacia da liberdade humana diante de Deus. O amor de Deus se traduz em acompanhar-nos, ajudar-nos a seguir o caminho que a nossa liberdade decidiu tomar. O caminho que decidimos empreender com aquilo que a vida nos ofereceu. Como explica bem Isaías (30,21): Ouvirás com teus ouvidos estas palavras retumbarem atrás de ti: “É aqui o caminho, andai por ele”, quando te desviares quer para a direita, quer para a esquerda. Percorrem o caminho jogando porcas de metal amarradas em um pedaço de tecido. Descobre-se que houve um outro Stalker, apelidado de porco-espinho. Ele tinha ido à Zona para pedir por seu irmão que foi morto por culpa sua para ser trazido de volta à vida. Quando porco-espinho volta para casa, descobre que tinha se tornado muito rico. A Zona havia concedido o que em realidade era o seu verdadeiro desejo. Desgostoso, porco-espinho se enforca... Enquanto caminham, o jogo da liberdade torna-se evidente. O poeta, impaciente, decide fazer seu próprio caminho. Até que a Zona o impede. Descobre-se que a Zona muda de acordo com o estado da mente de cada um e põe armadilhas novas. Perguntam ao Stalker quem sobrevive? Ele diz: ‘Os miseráveis. Mesmo assim nem todos, mas aqueles que, com humildade, seguem o caminho indicado e, sobretudo, respeitam a Zona’. Progressivamente, a conversa entre o poeta e o professor vai se tornando mais dramática, começam a acusar um ao outro eviscerando sarcasticamente as ilusões, a inconsistência das coisas a que antes se apegavam, a hipocrisia e o ridículo que, no fundo, é o afano da vida. Lembra de novo Isaías (30,22): Acharás imundo o revestimento de prata de teus ídolos esculpidos e as aplicações de ouro de tuas estátuas fundidas: tu os arrojarás como imundícies, gritando-lhes: “Fora daqui!”. A estrada se torna terrível. Mesmo assim, para a surpresa de Stalker, chegam à casa onde está a morada. A verdadeira intenção de cada um e o que carregavam no coração se escancara... Tudo aparece. Cada um decide não entrar na morada. A missão fracassou... O ambiente todo embrutecido com vidros quebrados por todo lado revela o espírito interior. Todos os três sentam no chão afadigados e um silêncio, como a voz de uma brisa suave (assim Deus se mostra ao profeta Elias), impõe-se. De repente, no vácuo diante deles, começa uma chuva torrencial. Tem-se a nítida sensação de que lhes é dito: ‘Vocês escolheram não ir até o fim, não arriscar e não chegar à realização plena dos seus desejos. Assim seja! Eu os perdoo e não os abandonarei’. Quando voltam, três cenas mostram um abraço cheio de ternura para aquele que se dedicou a ajudar os outros a serem felizes.


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| 18 a 24 de maio de 2022 | Pelo Mundo | 17

Portugal Mais de 200 mil peregrinos celebram festa de Nossa Senhora de Fátima JOSÉ FERREIRA FILHO

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Na noite da quinta-feira, 12, véspera da festa de Nossa Senhora de Fátima, mais de 200 mil peregrinos, divididos em 114 grupos provenientes de 23 países, se reuniram no santuário mariano localizado em Fátima, Portugal, para participar da tradicional Procissão das Velas. A celebração foi presidida pelo Substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano, Dom Edgar Peña Parra. Tratando sobre o significado da peregrinação, o Prelado afirmou que ela “simboliza as noites da nossa vida e do mundo, daquelas escuridões que, alguma vez, nos surpreendem e com as

quais, frequentemente, somos chamados a lutar, na esperança de que uma estrela do alto nos indique o caminho”. “Chegamos aqui, de diversos lugares e, cada um de nós traz, no próprio coração, o pedido de uma graça que deseja apresentar à Mãe do Senhor, rogando-Lhe que desfaça alguns nós na sua vida… Aproveitemos esta noite, consagrada à oração de tantos irmãos e irmãs, que como nós, nesta terra bendita, têm a certeza de que a Virgem nos escutará”, ressaltou.

RETORNO PRESENCIAL

No dia 13, diversas celebrações ocorreram. A mais importante delas foi a Procissão do Adeus, quando todos os

Santuário de Fátima

fiéis peregrinos levantam um lenço branco e se despedem da imagem de Nossa Senhora, que retorna para a Capelinha. Esses festejos marcam o retorno de forma presencial das celebrações, após

Península Coreana

dois anos de restrições impostas pela pandemia. Em 2020, os ritos foram realizados sem público e, em 2021, foram limitados a apenas 7,5 mil peregrinos. Fonte: Gaudium Press

Ucrânia

Arcebispo sul-coreano acredita que a Igreja está crescendo secretamente na Coreia do Norte

A Igreja é refúgio de esperança

Nascido em 1924, um dos clérigos mais antigos da Coreia do Sul diz acreditar que a Igreja Católica na Coreia do Norte comunista está crescendo, embora os católicos vivam escondidos e sofram perseguição. Ordenado sacerdote com apenas 25 anos, e bispo com 39, Dom Victorinus Youn Kong-hi, 97, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Gwangju, Coreia do Sul, fez as observações em um livro publicado recentemente sobre a história da Igreja norte-coreana. “A história da Igreja Norte-Coreana” é um livro abrangente sobre a Igreja Católica no país, baseado em oito entrevistas com o Arcebispo no ano passado. No livro, o Clérigo deu testemunhos vívidos do florescimento da Igreja antes da divisão do país. Destacou o crescimento do trabalho social com os mais pobres, como assistência médi-

O número de pessoas que tiveram que abandonar suas casas na Ucrânia já atingiu níveis impressionantes: por causa dos ataques russos: existem mais de 4 milhões de refugiados fora do país e mais de 7 milhões de deslocados internos. Diante desta realidade, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) lançou a campanha “Igreja na Ucrânia: refúgio de esperança”, cuja essência é colaborar na reestruturação da Igreja, a fim de que possa acolher aqueles que perderam tudo. Projetos nesse sentido já chegaram aos escritórios da ACN, no valor de 1,5 milhão de euros. Um deles, por exemplo, visa a transformar sete mosteiros de duas congregações religiosas masculinas, para acolher milhares de desalojados, principalmente mães com filhos. Existem cerca de 60 casas e conventos de religiosas, de 19 congregações diferentes, que acolhem os desalojados no oeste da Ucrânia, que a ACN procura ajudar.

ca, escolas, além de outras obras caritativas.

GUERRA

O Arcebispo Emérito lembrou como o clero católico, religiosos e leigos foram dominados pelo medo quando as forças comunistas atacaram as igrejas após a eclosão da guerra em 1949. À meia-noite de 9 de maio de 1949, um sino de emergência tocou no mosteiro e seminário beneditino de Tokwon, perto de Wonsan. O Abade, nascido na Alemanha, Dom Boniface Sauer, foi arrastado pelos comunistas, recordou o Arcebispo Emérito, que na época era aluno do seminário. Essas foram as últimas palavras do Abade aos alunos antes de ser levado: “Como o Senhor chamou, e como o Senhor fez, devemos sair para a morte com incontáveis​​ mártires. Agora, estou pedindo que vocês tomem conta deste lu-

gar sem mim. Voltem e descansem em paz. Vamos nos encontrar no céu”. O Abade foi posteriormente martirizado em uma prisão norte-coreana. Quatro dias após o ataque, os comunistas expulsaram 26 monges do mosteiro e 73 seminaristas. Eles partiram sem nenhum objeto sagrado, incluindo mantos, rosários e nem mesmo um livro. O mosteiro e o seminário fecharam devido à guerra e perseguição aos cristãos. Relatos não confirmados sugerem que as estruturas ainda existem até hoje. O Arcebispo nonagenário disse que a publicação do livro tornou seu sonho realidade. Ele afimou que não pode fazer nada pela Igreja norte-coreana além de orar pela paz. Acredita, porém, que a “Igreja está crescendo escondida, assim como as árvores do seminário de Tokwon”. Fonte: Catholic News Agency (CNA)

SUSTENTAÇÃO DO CLERO

A ACN também está empenhada em sustentar cerca de 5 mil sacerdotes e religiosos e 1,35 mil religiosos espalhados por toda a Ucrânia. Eles também precisam ter suas necessidades básicas atendidas para continuar exercendo sua função ministerial e caritativa. Fonte: InfoCatólica


18 | Fé e Vida/Pelo Brasil | 18 a 24 de maio de 2022 |

Liturgia e Vida 6º DOMINGO DA PÁSCOA 22 DE MAIO DE 2022

‘Não se perturbe nem se intimide o vosso coração!’

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Em encontro nacional, é ressaltada a comunhão e missão dos presbíteros Imprensa CNBB

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Neste domingo, Nosso Senhor fala com clareza sobre o Espírito Santo, o “Defensor” (Jo 21,26), que o Pai enviaria aos discípulos depois da Ascensão, e revela-nos coisas importantes sobre sua ação na Igreja. É por meio da presença do divino Paráclito que Jesus e o Pai habitam as almas daqueles que creem e vivem conforme os seus ensinamentos. O Espírito Santo é o Amor pessoal de Deus que, uma vez derramado nos corações, estabelece a verdadeira comunhão dos homens com o Senhor e entre si. Por isso, Jesus promete: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 21,23). Sobre isso, São Paulo ensina: “Recebestes o Espírito de filhos, pelo qual podemos clamar: ‘Abba, Pai’!” Além disso, o Espírito Santo assiste continuamente a Igreja para que ensine a verdade sobre a fé e atua na inteligência dos fiéis para que compreendamos as realidades espirituais: “Ele vos ensinará tudo” (Jo 21,26). Após estabelecerem que a circuncisão já não seria necessária, os apóstolos dizem: “Decidimos, o Espírito Santo e nós…” (At 15,28). É preciso pedir as suas luzes para compreender melhor a doutrina da fé e os preceitos morais. Afinal, se “ninguém pode declarar: ‘Jesus é o Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo” (1Cor 12,3), menos ainda poderemos compreender, sem Ele, a vontade de Deus para nossa vida! O Paráclito é aquele que nos ajuda a acessar e a purificar a memória: “Ele vos recordará tudo o que Eu vos tenho dito” (Jo 21,26). Faz-nos lembrar de nosso Pai Deus, de sua bondade, de seus benefícios; recorda-nos de que temos nossa origem Nele e nos comunica a esperança na vida eterna. Por um lado, Ele desperta nossa memória para Deus e para o Céu, conferindo-nos força e determinação em meio às dificuldades da vida; por outro, leva-nos a esquecer os ressentimentos, fracassos, más inclinações e “traumas” causados por acontecimentos do passado. Outra doce consequência da presença do Espírito Santo na alma é a paz! Podemos dizer que Cristo realizou a promessa “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo” (Jo 21,27), quando comunicou o Espírito Santo à Igreja. Jesus nos dá a paz nos dando o Consolador, que nos sustenta e encoraja mesmo quando as circunstâncias são muito adversas e o corpo e a mente parecem não poder mais. E, justamente porque somos filhos de Deus e recebemos o Espírito Santo, o Senhor nos faz esta exortação: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 21,27)! Essa é a confiança e a alegria do cristão! Não temos medo e não nos encolhemos! Sabemos do nosso valor; não porque somos melhores do que os outros, mas porque somos filhos de Deus, remidos pelo Batismo, irmãos de Jesus Cristo, morada do Espírito Santo! Esses são motivos pelos quais deveríamos – no bom sentido! – nos “orgulhar”, maravilhados pela bondade e pela confiança manifestadas a nós pelo Senhor. “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração!”

DANIEL GOMES

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Com o tema “Presbíteros: Comunhão e Missão”, aconteceu entre os dias 9 e 14, em Aparecida (SP), o 18o Encontro Nacional de Presbíteros (ENP), ocasião em que os 532 sacerdotes participantes refletiram sobre a própria missão e os desafios da Igreja no País, intensificados pelo período da pandemia de COVID-19. Os trabalhos foram assessorados pelo Padre Rosimar José de Lima Dias, doutor em Psicologia Clínica e Psicologia da Religião, e por Dom Joel Portella Amado, Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Durante o encontro, houve a eleição dos novos membros da Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), pelo período de quatros anos. A ratificação ocorrerá na reunião do Conselho Episcopal Pastoral da CNBB, em junho. Como presidente foi eleito o Padre André Luis do Vale, da Diocese de Uruaçu (GO); como vice, o Padre Fausto Marinho Carvalho Filho, da Arquidiocese de São Paulo (SP); o 1o

secretário será o Padre Rudinei Lasch, da Diocese de Cachoeira do Sul (RS); e o 1° tesoureiro, o Padre Ariosvaldo de Jesus Aragão, da Arquidiocese de Vitória da Conquista (BA). Na carta final do 18o ENP, os presbíteros reafirmam sua fidelidade “ao Magistério da Igreja na pessoa do Papa Francisco, na teologia bíblico-patrística, na eclesiologia do Concílio Vaticano II, na Teologia da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe e nas orientações doutrinais e pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, para vencermos o personalismo, o clericalismo e o isolamento pelo cultivo da comunhão, participação e missão”. Também externaram preocupação quanto à saúde dos sacerdotes, dado que “a alta rotina nas atividades pastorais, celebrações, reuniões, estudo, formação e demais atividades pode levar a um desgaste físico, mental e espiritual identificado como síndrome de Burnout. Equilibrar ministério e vida é um desafio constante para todos os presbíteros para desempenhar bem a missão e viver bem”. Reafirmam, ainda, sua missão

permanente de “proclamar a misericórdia de Deus e chamar as ovelhas cansadas e abatidas ao descanso no redil. Deus nos santifica para que esse processo da comunhão mais radical seja experimentado e praticado”; e lembram que, mergulhado na Palavra de Deus e como Servo do Senhor, “o presbítero é convidado também a olhar a vida. Assim como Jesus olhou para o Pai (Mt 11,25-26) e olhou também para a vida (Mt 11,27-28), o presbítero é chamado a permanecer com esse duplo olhar, aprendendo diariamente com o Cristo Senhor, sob a força do Espírito, a estabelecer essa integração irrenunciável. O presbítero olha a Palavra para poder olhar a vida com os olhos e o coração de Cristo. O presbítero olha a vida para poder apresentar a Jesus as alegrias e dores das pessoas e dos povos”. Na carta, recordando o Documento de Aparecida, os participantes do 18o ENP lembram que o sacerdote deve ter sempre coragem para abandonar as estruturas ultrapassadas que já não favorecem mais a transmissão da fé, e ressaltam que o anúncio do Evangelho é indispensável em um mundo que ergue muros entre países, ruas, cidades, famílias, corações e religiões. Também afirmam que “a eclesiologia de comunhão expressa a capacidade de caminhar juntos, sinodalidade, e revela que a novidade do Evangelho rompe as barreiras que tendem a se fechar em nós mesmos, em nossas perspectivas, levando ao isolamento e indiferença, diante das exclusões econômicas e sociais”. A íntegra da carta pode ser lida no link encurtado a seguir: https://cutt.ly/lHbYfCi.

Programa ‘Reconecte’ concilia os vínculos familiares e o bem-estar digital Com a meta de fortalecer os vínculos familiares por meio do uso inteligente das novas tecnologias, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou o programa “Reconecte”. Trata-se de uma série de projetos que abordam aspectos sociais, educacionais e de saúde física e psíquica, visando à aquisição de uma maior consciência sobre consequências do uso tecnológico, dado que a utilização imoderada tem interferido negativamente nas relações familiares. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Angela Vidal Gandra da Silva Martins, secretária Nacional da Família do MMFDH, afirmou que o programa oferece informação e formação para capacitadores, agentes públicos, professores, famílias, organizações não governamentais, conscientizan-

do-os sobre o potencial das tecnologias, para bem e para mal. “A proposta também abrange algumas campanhas como a ‘Refeições em Família’, proporcionando momentos de interação, com disponibilidade de coração entre os familiares; a ‘Solidariedade Intergeracional Virtual’, principalmente durante a pandemia, para o cultivo de relações com avós e tios, por amor, gratidão e aproximação à própria narrativa, ou ainda a campanha ‘Navegar numa boa’, como alerta aos pais sobre o conteúdo que chega por meio das tecnologias, literalmente à mão dos filhos”, detalhou Angela. A secretária comentou que em eventos internacionais de que tem participado, o Brasil tem se diferenciado por apresentar programas direcionados ao bem-estar das famílias, como é o caso do “Reconecte”. “Nosso programa ‘Reconecte’ pode

ser um bom meio de analisar a própria atitude e a familiar, para se reconectar consigo mesmo, com a família, amigos, colegas de profissão etc., por meio de uma reeducação tecnológica, conhecendo as novas tendências comportamentais, mecanismos de alerta e proteção, a responsabilidade social com relação ao bom uso, a supervisão parental etc.”, prosseguiu Angela Martins. A secretária disse que alguns resultados do programa já vêm sendo verificados, como a melhora na escuta e na dedicação aos membros da família, maior rendimento nos estudos, qualidade de vida em termos de saúde mental, uso inteligente e produtivo do conteúdo, solidariedade intergeracional e prevenção dos comportamentos de riscos. Saiba mais acessando o link https://cutt.ly/fHWiSRl. (DG) (por Redação)


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| 18 a 24 de maio de 2022 | Reportagem | 19

15 anos da V Conferência

Discípulos-missionários enraizados em Cristo

Luciney Martins/O SÃO PAULO - mai 2007

SAIBA MAIS SOBRE AS 5 CONFERÊNCIAS I CONFERÊNCIA

De 25 de julho a 4 de agosto de 1955, no Rio de Janeiro (Brasil) Os trabalhos foram orientados a partir de uma carta enviada pelo Papa Pio XII, Ad Ecclesiam Christi, na qual o Santo Padre afirmou sua confiança de que o continente latino-americano em pouco tempo se acharia em condições de responder, com vigoroso impulso, à vocação de comunicar também a outros povos, os ansiados dons da salvação e da paz. Na conclusão, os cerca de 100 bispos participantes enviaram ao Papa o pedido de criação de um organismo para congregar os episcopados da América Latina e do Caribe, o qual foi aprovado pelo Pontífice em 2 de novembro daquele ano, surgindo, assim, o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).

II CONFERÊNCIA

De 24 de agosto a 6 de setembro de 1968, em Medellín (Colômbia) Foi aberta por São Paulo VI. As reflexões tiveram como horizonte a implementação do Concílio Vaticano II (1962-1965) e os clamores e esperanças dos povos do continente, analisadas a partir do método Ver-Julgar-Agir. O documento final apontou que a injustiça institucionalizada é a causa da pobreza no continente, ressaltou que a paz é fruto da justiça, e que é preciso romper com as estruturas que afetam a vida da população mais pobre. Participaram 137 bispos, além de sacerdotes, religiosos, leigos católicos e observadores não católicos.

III CONFERÊNCIA

Cardeal Jorge Mario Bergoglio (hoje Papa Francisco) cumprimenta o Papa Bento XVI durante a Conferência de Aparecida

CONFERÊNCIA DE APARECIDA FOI UMA CHAMADO À RENOVAÇÃO MISSIONÁRIA À LUZ DO ENCONTRO COM CRISTO FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Há exatos 15 anos, entre os dias 13 e 31 de maio de 2007, aconteceu a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Aberto pelo Papa Bento XVI durante sua viagem apostólica iniciada em São Paulo, o evento continental teve como tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida” e o lema “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6)”. Proposto pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), o tema da conferência recebeu um acréscimo de Bento XVI na formulação – “para que Nele” –, reforçando o caráter cristológico. Esse aspecto foi res-

saltado pelo hoje Papa Emérito, no discurso inaugural do evento, afirmando que para ser um verdadeiro discípulo-missionário de Cristo é preciso segui-lo, viver em intimidade com Ele, imitar o seu exemplo e dar testemunho. “Pois ser discípulo e missionário de Jesus Cristo e buscar a vida ‘Nele’ supõe estar profundamente enraizado Nele”, afirmou. Ao lançar um olhar sobre a realidade na qual a Igreja latino-americana estava inserida, o Pontífice enfatizou que essa não se resume aos bens materiais, problemas sociais, econômicos e políticos. “Somente quem reconhece Deus conhece a realidade e pode corresponder-lhe de modo adequado e realmente humano. A verdade dessa tese resulta evidentemente diante do fracasso de todos os sistemas que põem Deus entre parênteses”, disse.

OPÇÃO EM CRISTO

Referindo-se à “opção preferencial pelos pobres”, expressão bastante enfatizada nas conferências anteriores, Bento XVI afirmou que ela “está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez po-

bre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9)”. Ao mesmo tempo, reforçou que, para conhecer Cristo, poder segui-lo e comunicá-lo ao próximo, é preciso conhecer sua vida e doutrina, sobretudo por meio de sua Palavra e dos sacramentos. Bento XVI salientou, ainda, que “os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e de todas as formas de violência”. Por fim, evocando o apelo dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,29), o Santo Padre fez uma prece na qual pediu: “Fica conosco, Senhor, acompanha-nos mesmo se nem sempre te soubemos reconhecer. Fica conosco, porque se vão tornando mais densas à nossa volta as sombras, e tu és a luz; em nossos corações insinua-se o desespero, e tu os faz arder com a esperança da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na fração do pão para anunciar a nossos irmãos que, na verdade, tu ressuscitaste e que nos deste a missão de ser testemunhas da tua ressurreição”.

De 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979, em Puebla (México) Aberta por São João Paulo II, as reflexões se centraram sobre os caminhos para a evangelização na América Latina, ressaltando-se, novamente, a opção preferencial pelos pobres e a comunhão e participação como fundamentais para a eclesialidade. A exortação Evangelii Nuntiandi, de São Paulo VI (1975), guiou as reflexões, indicando que o caminho da evangelização envolve a promoção da dignidade humana e a libertação dos pobres das estruturas de opressão. Participaram cerca de 190 bispos, além de sacerdotes e leigos.

IV CONFERÊNCIA

De 12 a 28 de outubro de 1992, em Santo Domingo (República Dominicana) Aberta por São João Paulo II, teve como tema a “Nova evangelização, promoção humana, cultura cristã”. Foi realizada no contexto das comemorações dos 500 anos do início da evangelização na América. No discurso inaugural, o Pontífice destacou que o chamado à nova evangelização é, acima de tudo, um chamado à conversão; e, na mensagem final, os bispos apontaram que todos os fiéis estão convocados à nova evangelização, à promoção da dignidade humana e à valorização da cultura cristã. Dos cerca de 350 participantes, 234 eram bispos com direito a voto.

V CONFERÊNCIA

De 13 a 31 de maio de 2007, em Aparecida (Brasil) Com o tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida”, a conferência foi aberta pelo Papa Bento XVI. No documento conclusivo, os bispos ressaltaram o compromisso da Igreja no continente de “conservar e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste continente que, em virtude de seu Batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Participaram 160 bispos e outras cem pessoas, entre religiosos e leigos, e integrantes de outras religiões que foram convidados. (Pesquisa e edição: Daniel Gomes)


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15 anos da V Conferência

Aparecida 2007 indicou a condição essencial de cada cristão Fotos: Thiago Leon/Santuário Nacional de Aparecida

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Em ação de graças pelos 15 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, aconteceu na sexta-feira, 13, uma missa na basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. A Eucaristia foi presidida por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo entre os concelebrantes Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, no Peru, e Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam); o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-presidente do Celam; Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e Secretário-geral da CNBB; além de outros bispos de diferentes dioceses brasileiras. Na homilia, Dom Walmor lembrou que, diante das realidades desafiadoras do Brasil e de todo o continente latino-americano, a Igreja tem muitas respostas a dar por meio de seus discípulos. “A ex-

lembrou que a Conferência de Aparecida também destacou o valor insubstituível dessa experiência do encontro pessoal e comunitário com Cristo. “O Documento de Aparecida nos mostra que a missionariedade nasce justamente deste convite à intimidade que o Senhor nos faz para caminhar com Ele. Não podemos dar essa experiência por descontada, deve ser uma tarefa diuturna, cotidiana, para encharcar o nosso coração da força dessa intimidade. Há de se partir sempre dessa experiência de encontro pessoal para que a missionariedade nos coloque no coração do mundo”, enfatizou.

OUTRAS ATIVIDADES

Bispos brasileiros e Dom Miguel Cabrejos, Presidente do Celam, em missa na sexta-feira, 13

periência importante e bonita da V Conferência traçou para nós aquilo que é de mais essencial: a nossa condição de discípulos de Jesus, para sermos um povo missionário, capaz de ajudar o mundo a se abrir ao amor de Deus enquanto

caminhamos para o Reino definitivo.” Recordando o Evangelho do dia (Jo 14,1-6), em que Cristo fala aos discípulos para não terem o coração perturbado, pois com Ele estão diante do “Caminho, da Verdade e da Vida”, Dom Walmor

Como parte das ações comemorativas, foi inaugurado na quinta-feira, 12, no Santuário de Aparecida, o “Espaço Memória” alusivo aos 15 anos do Documento de Aparecida e da realização da V Conferência. No mesmo dia, ocorreu um momento de oração, conduzido pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, recordando a recitação do Terço pelo Papa Bento XVI no altar central da Basílica da Padroeira do Brasil em 2007.

‘Recordar Aparecida significa reassumir suas diretrizes e indicações’ FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Secretário-geral Adjunto da Conferência de Aparecida, o Cardeal Odilo Pedro Scherer ressaltou que o Documento de Aparecida é rico em percepções, reflexões e impulsos para uma revitalização da vida da Igreja e que permanecem atuais. “Parto da preocupação prévia da conferência, ou seja, a grande mudança de época, especialmente as fortes mudanças religiosas e culturais, a difusão das mídias, a globalização... Essas eram questões muito fortes que estiveram presentes na conferência. Claro que outras preocupações surgiram de 15 anos para cá. Porém, aquelas estão vivas e não se resolveram”, afirmou Dom Odilo, em entrevista ao O SÃO PAULO, enfatizando que “recordar Aparecida significa reassumir aquelas diretrizes e indicações tão importantes”. Ao falar sobre a influência do Documento de Aparecida para a Igreja universal, especialmente no pontificado do Papa Francisco, o Cardeal Scherer recordou que já no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, realizado em 2012, ainda no pontificado do Papa Bento XVI, as reflexões dessa conferência reverberavam entre os padres sinodais.

NOVA EVANGELIZAÇÃO

“Durante a assembleia do Sínodo, os bispos da América Latina falavam constantemente do Documento de Aparecida,

Cardeal Scherer durante a inauguração do ‘Espaço Memória’ da V Conferência de Aparecida

tanto assim que bispos de outros continentes começaram a se perguntar sobre de que se tratava. Então, o Prefeito da Congregação para os Bispos [Cardeal Marc Ouellet] providenciou exemplares do Documento de Aparecida para serem distribuídos aos participantes do Sínodo. Desse modo, já nessa ocasião, houve uma forte presença das reflexões e indicações feitas em Aparecida”, destacou o Arcebispo. No ano seguinte, em 2013, o Papa Bento XVI renunciou ao pontificado antes de concluir a exortação pós-sinodal sobre a nova evangelização, o que foi feito por seu sucessor, Francisco. “A expressão que o Papa Francisco deu à exortação apostólica Evangelii gaudium reflete muito a Conferência de Aparecida, porque foi a experiência que ele viveu e, por isso, as questões postas na conferência foram compartilhadas com a Igreja

do mundo todo”, completou Dom Odilo. Por fim, o Cardeal Scherer sublinhou que temas fortes do atual pontificado, como conversão pastoral, renovação missionária, comunhão e participação, são elementos muito presentes no Documento de Aparecida e precisam ser cada vez mais reassumidos pela Igreja na América Latina e no mundo.

FRANCISCO E APARECIDA

De fato, sobre Aparecida, o atual Pontífice tem propriedade para falar, pois, além de participar do evento, foi o presidente da comissão de redação do documento conclusivo. A esse respeito, o jesuíta Diego Fares, em um artigo publicado no jornal L´Osservatore Romano em 2017, por ocasião dos dez anos da Conferência de Aparecida, recordou que, no dia 16 de maio de 2007, em uma das missas no Santuário Nacional de Aparecida,

o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires (Argentina), foi aplaudido pelos demais participantes da conferência, após fazer uma homilia que hoje pode ser diretamente relacionada com o seu futuro pontificado. Na homilia escrita durante a madrugada, o Cardeal argentino afirmou: “Não queremos ser uma Igreja autorreferencial, mas missionária; não queremos ser uma Igreja gnóstica, mas adoradora e orante. Povo e pastores, constituindo esse santo povo fiel de Deus, que goza da infalibilitas in credendo (infalibilidade ao crer), todos juntos com o Papa, povo e pastores, dialogamos segundo o que o Espírito nos inspira, e rezamos juntos e construímos a Igreja juntos, ou, melhor, somos instrumentos do Espírito que a constrói”. Reflexão semelhante está presente na exortação apostólica Evangelii gaudium, que, a propósito, cita o Documento de Aparecida diversas vezes, quando convida toda a Igreja a uma conversão pastoral e missionária. Durante a entrevista coletiva concedida por ocasião dos 15 anos da Conferência de Aparecida, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Presidente do Celam, afirmou que “Aparecida vive”, pois não foi apenas um evento que já se concluiu, “mas que deu início a um processo de evangelização que continua”. Nesse sentido, ele recordou as palavras do Papa Francisco: “Aparecida tem muito a ensinar à Igreja universal”.


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