O São Paulo - 3389

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Fotos: Vatican Media e Lucinei Martins/O SAÕ PAULO

Ano 67 | Edição 3389 | 30 de março a 5 de abril de 2022

‘Confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz’ Páginas 19 e 20

Dom Odilo se une ao Papa em ato de consagração da Rússia e da Ucrânia

Editorial Santidade pessoal: o remédio para as dificuldades na sociedade e na Igreja

Página 4

Encontro com o Pastor A pré-assembleia é um novo momento de participação e envolvimento no sínodo Página 2

Campanha da Fraternidade Garantido por lei, ensino religioso não está amplamente implementado

Páginas 10 e 11

Liturgia e Vida ‘Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais’

Página 18


2 | Encontro com o Pastor | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

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as paróquias da Arquidiocese de São Paulo, já está acontecendo a preparação da assembleia sinodal arquidiocesana. Com a graça de Deus, depois de dois anos de interrupção dos trabalhos do nosso sínodo, por causa da pandemia de COVID-19, estamos agora nos preparando para iniciar o momento mais importante do processo sinodal, que é a assembleia sinodal arquidiocesana. A pré-assembleia, que já acontece nas paróquias, comunidades e organizações eclesiais de base, reunindo, sobretudo, os Conselhos Pastorais Paroquiais (CPPs) ampliados, tem o objetivo de suscitar um novo momento de participação e envolvimento amplo no sínodo. Após dois anos de parada forçada nos trabalhos, faz-se agora uma nova tomada de consciência sobre o caminho já realizado e sobre as novas questões que a pandemia levantou para nossa missão evangelizadora. Dessa fase, esperam-se novas observações e contribuições para os trabalhos da assembleia arquidiocesana.

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Pré-assembleia do sínodo arquidiocesano Faz parte dessa pré-assembleia a reunião ampliada dos CPPs, com a participação de todos os membros, chamando a participar também todas as lideranças de grupos e organizações eclesiais, pastorais e laicais das paróquias. A sugestão dada foi que esse reencontro das lideranças paroquiais acontecesse durante uma celebração da comunidade, a fim de que, nas paróquias, todos pudessem tomar consciência do trabalho sinodal já em curso. A “Igreja sinodal”, que o Papa Francisco está indicando a todos, supõe grande comunhão e participação de dons e carismas na vida da Igreja. Um segundo objetivo dos encontros da pré-assembleia é a nova tomada de consciência sobre a situação pastoral e religiosa de cada paróquia. Em 2018, foi feito um levantamento importante em cada paróquia da Arquidiocese pelos Párocos e responsáveis, sobre os registros, nos dez anos anteriores, feitos nos livros de Batismo, Casamento, Crismas, primeiras Comunhões, catequese, participação nas missas dominicais, formação de lideranças e outros elementos importantes, que permitem uma avaliação objetiva sobre o andamento da paróquia e sobre o que precisa ser mudado e “convertido” para melhor, para o

cumprimento da missão da Igreja em nossa Arquidiocese. Esse levantamento foi muito revelador e deve levar cada paróquia a reflexões e decisões consequentes. Da mesma forma, foi proposto para as reuniões da pré-assembleia que se tomasse em mãos, novamente, a pesquisa de campo sobre a situação religiosa e pastoral de nossa Arquidiocese inteira, feita igualmente em 2018. Essa pesquisa, feita com método científico e orientada por estudiosos e técnicos em estudos sociais e estatística da PUC-SP, reuniu uma montanha de informações, que ainda precisa ser mais bem estudada e analisada. No início do nosso sínodo, nos propusemos a “ouvir o que o Espírito diz à Igreja” em São Paulo (cf. Ap 2-3). O levantamento paroquial e a pesquisa de campo foram momentos importantíssimos desse “ver-ouvir” o que o Espírito Santo nos diz por meio da voz do povo e das circunstâncias. A assembleia sinodal arquidiocesana não poderá deixar de levar em consideração essas múltiplas vozes na elaboração das diretrizes sinodais. Elas são indicativas do caminho evangelizador e pastoral a ser seguido na fase pós-sinodal. Finalmente, os encontros da pré-assembleia também devem se inter-

rogar sobre as novas circunstâncias que envolvem a missão da Igreja, a partir da experiência difícil da pandemia e diante dos novos apelos de Deus, que nos vêm com a convocação do sínodo universal, feito pelo Papa Francisco. O nosso sínodo arquidiocesano – “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” – acaba se tornando parte de um caminho sinodal mais amplo, que envolve a Igreja inteira, chamada pelo Papa a ser uma “Igreja sinodal, em comunhão, participação e missão”. Se alguém tivesse dúvidas se o nosso sínodo arquidiocesano ainda tem sentido após a convocação do sínodo universal pelo Papa Francisco, respondo sem titubear: o caminho sinodal que estamos fazendo na Arquidiocese de São Paulo não apenas manteve a validade, mas foi confirmado e está em sintonia com o esforço que a Igreja inteira é chamada a fazer para ser uma Igreja sinodal, com tudo o que isso significa. Para caminhar nessa direção, o nosso sínodo aponta a comunhão, a conversão e a renovação missionária como parte necessária do processo. Que o Espírito Santo nos conduza por esse caminho e que a semeadura feita agora, com o entusiasmo e o esforço participativo de todos, produza muitos frutos.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: Atlântica Gráfica e Editora • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222 • Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700, 3760-3723 e 3760-3724 • Internet: www.osaopaulo. org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 90 (semestral) • R$ 160 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Geral/Atos da Cúria | 3

Promotor de Justiça de tribunal da Santa Sé abre ano acadêmico na Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, instituição da Arquidiocese de São Paulo, realizou, na sexta-feira, 25, a aula inaugural do 1º semestre de 2022 com uma conferência on-line do Monsenhor Gian Paolo Montini, Promotor de Justiça do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Doutor em Direito Canônico e professor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Monsenhor Montini abordou a temática sobre “O princípio de proporcionalidade na aplicação da suspensão do exercício do ministério sacerdotal, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica”. Esse tribunal da Santa Sé tem a competência de vigiar para que a justiça eclesiástica seja retamente ministrada. Tem a missão de julgar causas oriundas de atos administrativos que lesem os direitos de alguém, conflitos de competência entre

juízes sujeitos a distintos tribunais de apelação, recursos contra decisões dos organismos da Cúria Romana, entre outros.

SUSPENSÃO

A partir de exemplos de casos concretos, Monsenhor Montini explicou como o Tribunal da Assinatura Apostólica adota o princípio de proporcionalidade ao julgar os recursos sobre sentenças de suspensão do exercício do ministério a sacerdotes que cometeram delitos canônicos graves. No artigo acadêmico usado como referência para a aula, o Canonista esclareceu que existem diferentes modalidades de suspensão. A primeira delas é a penal, imposta ou declarada em processo judicial penal, que pressupõe a prática de um delito ao qual a lei canônica atribui a pena de suspensão, como, por exemplo, casos de abuso sexual de menores. Outra forma de suspensão é a cautelar, aplicada em caráter “preventivo”, quando há uma acusação grave contra um clérigo, sendo iniciada a investigação do caso. Também existe a suspensão por

irregularidade ou impedimento que pressupõe um crime ou uma anomalia psíquica. Há, ainda, a suspensão disciplinar, que pode ter caráter cautelar (licença) ou disciplinar. Por fim, a suspensão especial para casos como o de um sacerdote demitido de um instituto de vida consagrada e sem um bispo que lhe permita exercer o ministério em sua diocese, ou no caso de um clérigo cuja licença para residir em determinada diocese foi retirada, ou no caso de um sacerdote para o qual foi introduzida a causa de nulidade da ordenação sagrada ou o procedimento de dispensa da obrigação do celibato.

PROPORCIONALIDADE

Monsenhor Montini enfatizou que a legitimidade das medidas penais necessita de elementos como a proporção entre a medida aplicada e o delito praticado, assim como a realização do procedimento canônico mais adequado para cada caso. “Quando não há um processo, uma condenação e uma pena, o Bispo e a Congregação para o Clero não podem

aplicar uma punição, mas podem adotar uma medida preventiva proporcional ao fato”, exemplificou. Ao abrir o evento acadêmico, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler da Faculdade de Direito Canônico, ressaltou a relevância e seriedade do tema. “Como Bispo, suspender um sacerdote do exercício do ministério é um ato de muita responsabilidade, que não é feito de maneira leviana. Muitas vezes, dói e pesa na consciência ter que cometer tal ato. Naturalmente, há razões que determinam essa medida e devemos considerar para realizá-la”, afirmou. Por fim, o Arcebispo frisou a importância de se dar a máxima atenção para esse tema, a fim de que não se cometam injustiças e, por outro lado, não se deixe de fazer o que é preciso para o bem dos fiéis e do próprio sacerdote. “É sempre importante considerar que a Salus animarum [salvação das almas] é a suprema lei da Igreja, que, portanto, não deve faltar em nenhum momento”, completou.

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 21/03/2022, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Sebastião, no bairro da Vila Guilherme, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Luiz Cláudio Vieira, pelo período de 03 (três) anos. Em 21/03/2022, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, no bairro Vila Zilda, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Luis Izidoro Molento, pelo período de 03 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 21/03/2022, foi nomeado e provisionado como Administrador Paro-

quial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Luiz Gonzaga, no bairro do Jaçanã, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Benedito Hércules Daniel. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 21/03/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, no bairro do Parque dos Bancários, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre José Milton Goulart, CSsR , pelo período de 01 (um) ano. Em 18/03/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Geraldo, no bairro da Barra Funda, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Leonardo Venício de Araújo Silva.

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE MEMBRO DA COMISSÃO DE COORDENADORES DE SETORES PASTORAIS: Em 21/03/2022, foi nomeado e provisionado como Membro da Comissão de Coordenadores dos Setores Pastorais da Região Santana para o Setor Imirim, o Reverendíssimo Padre Antônio de Pádua Santos, pelo período de 03 (três) anos. POSSE CANÔNICA: Em 16/03/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Salette, no bairro de Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Luciano Santos Batista, MS. Em 16/03/2022, foi dada a posse canôni-

ca como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Salette, no bairro de Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Carlos José Guimarães da Silva, MS. Em 20/03/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santo Agostinho, no bairro da Liberdade, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Frei Everton de Freitas Costa, OSA.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO Pelo presente edital, convoca-se Sr. Irismar Pires de Amaral, (endereço desconhecido) para que compareça de terça à sexta feira, das 13h às 16h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, sito à Av. Nazaré, 993, Ipiranga, São Paulo/ SP (Telefone 3826 5143), para tratar de assunto que lhe diz respeito. São Paulo, 23/03/2022 Mons Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP


4 | Ponto de Vista | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

Crises de santos

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os primeiros anos do século XIII, a Igreja passava por um momento bastante delicado em toda a Europa. Muitos fiéis já não tinham mais clareza sobre a doutrina católica, e até mesmo alguns sacerdotes não levavam suas vidas à altura do Evangelho. A própria paz interna se via ameaçada, ocasionalmente, por guerras fratricidas entre povos cristãos, e alguns desvios e abusos nas Cruzadas minavam a confiança do povo cristão nos cavaleiros que se propunham a defender os peregrinos à Terra Santa. No meio de toda esta confusão, Deus inspirara um jovem de família bastante abastada, chamado Francisco de Assis, a uma vida de profundo amor a Cristo e desapego das criaturas. Depois de renunciar aos confortos de sua residência familiar e viver como mendigo, Francisco viu-se certo dia a rezar numa capelinha caindo aos pedaços, chamada Igreja de São Damião. No

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Editorial

recolhimento de sua oração, Francisco ouviu o Crucifixo chamá-lo: “Francisco! Francisco! Reconstrói a minha Igreja – que, como vês, está em ruínas”. O jovem pôs-se sem demora a providenciar tijolos e tintas para reformar a capelinha – mas com o tempo percebeu que a interpelação de Cristo significava um convite à reforma espiritual da Igreja inteira, por meio de um renovado ímpeto de vivência do Evangelho. Depois de alguns percalços, Francisco conseguiu uma audiência com o Papa Inocêncio III, a quem pediu autorização para fundar a futura Ordem dos Frades Menores, destinada à vivência radical da vida cristã, com uma renovada ênfase na pobreza evangélica – mas reconhecendo, ao mesmo tempo, a autoridade da hierarquia constituída por Cristo e a utilidade e o valor dos bens materiais, quando corretamente ordenados a Deus. Poucos anos antes, no entanto, havia surgido algumas seitas, como por

exemplo, a dos valdenses, que, a pretexto de um “radicalismo” autor malcompreendido, defendiam a desobediência ao Papado e uma mal compreendida rejeição de todo e qualquer bem material – e, por isso mesmo, Inocêncio III se mostrou inicialmente inclinado a recusar o pedido de Francisco. O Papa teve, no entanto, um sonho, em que via a catedral da Diocese de Roma tremendo e ameaçando ruir, mas sendo sustentada no lugar aos ombros do pobre mendicante que lhe viera pedir a bênção. O Santo Padre logo entendeu, então, o sentido espiritual do carisma franciscano, e aprovou a criação não apenas da Ordem Franciscana, mas, também, de outra ordem mendicante, a dos Dominicanos. Nas décadas que se seguiram, essas duas ordens irmãs foram responsáveis por um enorme reflorescimento do Cristianismo na Europa, fazendo do século XIII o “século de ouro” da cristandade medieval. A lição que nos fica desse episódio

histórico é que, na visão dos santos, as dificuldades na sociedade e na Igreja se resolvem sempre com um único remédio: a santidade pessoal, numa vita abscondita cum Christo in Deo, numa “vida escondida com Cristo em Deus”. As crises mundiais são, no fundo, crises de santos: e a verdadeira paz só permanecerá quando houver um punhado de homens de Deus em cada setor da sociedade. Certa vez, um repórter inoportuno perguntou à Madre Teresa de Calcutá qual seria a primeira coisa que ela mudaria na Igreja, se tivesse a autoridade... Qual foi sua resposta? “A primeira coisa que eu mudaria seria... eu mesma!”. Comecemos, então, a reforma espiritual da Igreja, eu e você: abrindo-nos a Cristo, buscando intimidade com Ele na oração, recebendo com devoção e frequência (especialmente neste tempo quaresmal) o sacramento da Confissão, e comungando com piedosas orações. Eis aí um caminho seguro para a paz.

Opinião

A catequese atual na perspectiva da tríade da Misericórdia Arte: Sergio Ricciuto Conte

MARCELO CYPRIANO MOTTA Para aprofundar o papel da catequese na dinâmica da nova evangelização, como uma catequese “em saída missionária” e “sob o sinal da misericórdia”, o Diretório para a Catequese (2020), do Dicastério para a Promoção da Nova Evangelização, oferece os princípios fundamentais, sobretudo ao adotar o primado da catequese querigmática, isto é, do anúncio da misericórdia de Deus, segundo a formulação de querigma trinitário do Papa Francisco, na linha da Evangelii gaudium. Na unidade mistério-celebração-vida (cf. At 2,42), o acontecimento fundante (encarnação, cruz e ressurreição) se atualiza na liturgia e transforma a existência cristã, a história e o cosmos – a isto correspondem tempo-culto-cultura. Assim, em consonância com o novo Diretório, a tríade tempo-culto-cultura visa a uma pedagogia da economia da misericórdia na perspectiva de um tempo do culto e da cultura da misericórdia, como resultado do discernimento dos sinais dos tempos que concerne à Igreja sinodal. No Tempo da misericórdia, o anúncio da fé cristã há de ser um sinal da misericórdia, sinal verdadeiro da presença ou do desígnio de Deus. O culto da misericórdia, campo específico para uma renovada catequese ini-

ciática ou mistagógica – incentivada pelo Diretório –, refere-se à recepção do Domingo da Divina Misericórdia e suas relações com o Domingo in albis e a oitava pascal (cf. “A invocação Jesus, confio em Vós”, O SÃO PAULO, 28/07/2021). Quanto à cultura da misericórdia, só enraizada no Amor misericordioso, a comunidade cristã, como Corpo de Cristo, poderá testemunhar a unidade na diversidade como expressão da fraternidade e da paz (cf. “Campanha da Fraternidade, ecumenismo e misericórdia”, O SÃO PAULO, 07/04/2021). “Não há anúncio da fé, se esse

anúncio não for sinal da misericórdia de Deus. A prática da misericórdia é já uma autêntica catequese: é catequese em ação [...] manifestação da relação entre ortodoxia e ortopráxis” (Diretório, nº 51). A menção à ortodoxia-ortopráxis permite, aliás, ampliar o horizonte de compreensão. “Ortodoxia” (doxa, glória), no sentido originário, significa o modo justo da glorificação de Deus (culto justo). O primado da adoração consiste, pois, em aprender, em primeiro lugar, a ortodoxia como o dom principal que vem pela fé cristã. No sentido moderno, ortodoxia (reta doutrina)

e ortopráxis (reto agir) criaram uma dicotomia, que se resolve na unidade da ortodoxia, da qual depende, em última análise, a justa relação com Deus: a economia da salvação é unitária e sua dinâmica projeta a ordem justa na vida e no mundo – eis uma aplicação da tríade da misericórdia. Justiça e misericórdia tendem a uma assimilação – a justiça misericordiosa de Deus é a mesma que em seu poder nos justifica pela fé. A misericórdia está no centro, ela é o desígnio de “amor benevolente” do Pai em Cristo; portanto, a misericórdia – e só a misericórdia – é o ponto de inflexão da conversão pastoral da Igreja na busca da justiça, da unidade e da paz, e, ao mesmo tempo, o retorno ao significado original de ortodoxia. Nas palavras do Cardeal Ratzinger: “Que as duas coisas caminham juntas já o tinham anunciado os anjos na noite santa: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama’ (Lc 2,14). Onde Deus é excluído, deixa de haver paz na terra, e nenhuma ortopráxis sem Deus se pode salvar [...] prescindindo de um conhecimento daquilo que é justo” (“Eucaristia, Comunhão e Solidariedade”, 02/06/2002). Marcelo Cypriano Motta, advogado, contemplado com a Medalha “São Paulo Apóstolo” 2018, atua na “Promoção da Cultura da Misericórdia”, no Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

LAPA Pastoral da Saúde promove encontro de espiritualidade BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na manhã do sábado, 26, na Paróquia Nossa Senhora dos Pobres, no Setor Butantã, a Pastoral da Saúde da Região Episcopal Lapa realizou um encontro de espiritualidade com o tema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26), baseado na proposta da Campanha da Fraternidade 2022. Além do Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, Dom José Benedito Cardoso, e do Assistente Eclesiástico Arquidiocesano para a Pastoral da Saúde,

Benigno Naveira

Padre João Inácio Mildner, participaram agentes que atuam na Pastoral da Saúde em âmbito arquidiocesano, além de padres e paroquianos da Região Lapa, totalizando mais de cem pessoas. Padre João Mildner conduziu uma reflexão sobre o tema do encontro, enfatizando que toda conversão deve ter como referência a vida e a pregação de Jesus, que revela o Pai e o Espírito Santo por seus gestos e palavras. O encontro foi encerrado com a celebração eucarística, presidida por Dom José Benedito Cardoso e concelebrada pelos padres. Karen Eufrosino

[IPIRANGA] O Conselho Regional de Pastoral se reuniu de forma ampliada no sábado, 26, para discutir a retomada dos trabalhos do sínodo arquidiocesano. O Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição, e o leigo Nei Márcio de Sá apresentaram reflexões pastorais à luz do Evangelho e das últimas sessões do sínodo, embasando, assim, as novas propostas a serem enviadas à Arquidiocese. O Frei José Maria Mohomed Júnior, Coordenador de Pastoral da Região, apresentou novas questões surgidas na pandemia. Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, encerrou o encontro, destacando alguns pontos ausentes no relatório do sínodo, mas que necessitam da atenção da Igreja, como as vocações laicais e sacerdotais. (por Karen Eufrosino)

Arquivo pessoal

[LAPA] Na Praça da Sé, entre os dias 15 e 17, aconteceu o primeiro mutirão de atendimento à população em situação de rua da cidade de São Paulo. O evento, coordenado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, com a colaboração da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) e Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar), ofereceu cerca de 30 serviços, como assistência social, saúde, emissão de documentos e acesso à Justiça, com a participação de mais de 40 entidades. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, Dom José Benedito Cardoso, esteve presente à iniciativa e destacou a importância da realização de mais mutirões na cidade de São Paulo, focados no cuidado aos mais vulneráveis. (por Tatiana Vieira, da Pastoral Fé e Política da Região Lapa)

Espiritualidade

‘Eu também não te condeno’ DOM JOSÉ BENEDITO CARDOSO

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO LAPA

O

cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano reproduz o relato da mulher que estava para ser apedrejada. Tudo começa na noite anterior ao fato quando Jesus havia discutido com um grupo de pessoas. Estas se dispersaram e foram para suas casas, enquanto Jesus, não tendo casa em Jerusalém, foi para o Monte das Oliveiras, onde existia um horto, lugar que costumava passar longo tempo em oração. No dia seguinte, antes do nascer do sol, Jesus já estava novamente no templo. O povo também veio bem cedo para poder escutá-lo. É nesse momento que chegam os escribas e fariseus trazendo uma mulher pega em flagrante adultério. Conforme a lei, essa mulher tinha que

ser apedrejada, e, armando uma cilada, querem a opinião de Jesus. Se Ele dissesse “apliquem a lei”, eles diriam que Jesus não é tão bom como parece, porque mandou matar a pobre mulher; e, se falasse para não a matar, também diriam que Ele não é tão bom quanto parece porque nem sequer observa a lei. Sob a aparência de fidelidade a Deus, manipulam a lei e usam da mulher para poder acusar Jesus. Como é terrível ver pessoas que vivem farejando os pecados dos outros e são incapazes de olhar para si próprias e perceberem que estão atoladas em pecados ainda maiores. A lei previa que um homem e uma mulher flagrados em adultério deviam ser apedrejados, mas os legalistas querem aplicar a “lei da pedra” somente contra a mulher. Então Jesus se encurva, como encurvada estava a mulher, passa a escrever no chão e logo diz: “Quem entre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. A debandada começa pelos mais velhos até que ficam Jesus e a mulher. Nesse momento, a mulher tem a oportunidade de ser ouvida: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?”. Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então, Jesus lhe disse: “Eu tam-

bém não te condeno. Podes ir, e de agora em diante, não peques mais”. Mais uma vez, uma mulher é colocada na mira do julgamento dos homens. Vimos recentemente que alguns governantes trataram com desprezo, ironia e deboche um projeto de lei que previa a distribuição de absorventes para estudantes do ensino médio e fundamental da rede pública, bem como para mulheres em situação de vulnerabilidade ou detidas. Persiste o assédio sexual, a sedução enganosa, o estupro, o aborto, o abandono, a violência e até a morte. Além dessas, há mais pedras sendo jogadas por aí, e, de forma escandalosa, estão sendo “abençoadas” por pessoas ditas “religiosas” que usam o nome de Jesus para jogar água benta ou ungir armas de fogo. Será que não leram aquele texto em que Pedro é repreendido por Jesus logo que corta a orelha de um guarda – “Pedro, guarda a espada na bainha, pois todos os que pegam da espada, pela espada morrerão”. Brilhante é o desfecho, a “sentença de Jesus”. Primeiro, escuta a mulher, deixa-a falar e depois diz: “Vai e não voltes a pecar”. Não ficou bisbilhotando os pecados, mas a encorajou a ir e reconstruir

a vida de um modo diferente e melhor. “É como o céu: Nós olhamos para o céu e vemos tantas estrelas, mas quando chega o sol, pela manhã, com muita luz, não vemos as estrelas. E assim é a misericórdia de Deus: uma grande luz de amor, de ternura. Deus perdoa não com um decreto, mas com um carinho, acariciando as nossas feridas de pecado” (Papa Francisco). Por fim, neste tempo quaresmal, façamos também o caminho do profeta Isaías, que disse: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que faço novas todas as coisas”; e um outro caminho, aquele feito pelo apóstolo Paulo escrito na Carta aos Filipenses, em que afirma que a vida sem Cristo pode ser comparada a lixo ou estrume e que, depois de conhecê-lo, “esqueço o que fica para trás e me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que do alto Deus me chama a receber em Cristo Jesus”. E, ao avançar o tempo quaresmal, um belo gesto concreto pode ser nossa generosa oferta no Domingo de Ramos, para manter ou iniciar projetos ligados à proposta da nossa Igreja no Brasil, a qual traz o tema Fraternidade e Educação.


6 | Regiões Episcopais | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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IPIRANGA Camila Moura

Dom Ângelo Ademir Mezzari abençoa nova gruta do Instituto Cristóvão Colombo CAMILA DE ANDRADE MOURA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A imagem da gruta dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, no pátio do Instituto Cristóvão Colombo, obra scalabriniana de proteção à criança e ao adolescente, foi abençoada na sexta-feira, 25, por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, que foi acompanhado do Padre José Edvaldo Pereira da Silva, CS, Diretor do Instituto Cristóvão Colombo (ICC), e Paula Leão, coordenadora da instituição. Também participaram as crianças e os adolescentes,

os funcionários, colaboradores do Instituto e padres da Congregração Scalabriniana. A imagem original que se encontrava na gruta que existia em frente à Igreja São João Batista está preservada no Museu do Instituto Cristóvão Colombo (MICC). O ICC foi fundado em 1895 pelo Padre José Marchetti, scalabriniano, inicialmente como Orfanato Cristóvão Colombo. Hoje, oferece o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos a crianças e adolescentes, atendendo aos critérios de baixa renda, prestando serviços da Política de Assistência Social. (CAM)

Fernando Fernandes

[SANTANA] O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu, na sexta-feira, 25, na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, Setor Vila Maria, a missa da solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor, na festa da padroeira da Paróquia. Concelebrou o Padre Edson José Sacramento, Administrador Paroquial, com a assistência do Diácono Seminarista Nilo Shinen e do seminarista Fabiano Henrique, ambos do Seminário de Teologia Bom Pastor. Ao fim da missa, rezou-se a oração de consagração da Rússia e Ucrânia à Virgem Maria, pela paz entre esses países. (por Fernando Fernandes)

Thais Mendes

[SANTANA] Na festa da padroeira da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, Setor Vila Maria, aconteceu a “Semana de Nossa Senhora da Anunciação”. No dia 23, a missa foi presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. (por Fernando Fernandes) Karine de Sousa Lima

José Mário Garcia Corral

[IPIRANGA] Coroinhas, cerimoniários e acólitos da Região Episcopal Ipiranga participaram do encontro “Qual o sentido da vida?”, no sábado, 26, no Colégio Ressurreição. Organizado pelo Serviço à Pastoral Vocacional, os adolescentes e jovens refletiram sobre a exortação apostólica Christus vivit, do Papa Francisco, e participaram de dinâmicas e momentos de animação. Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu a missa de encerramento. (por Padre Israel Mendes Pereira) Benigno Naveira

[LAPA] Os fiéis da Paróquia São Patrício, no Setor Rio Pequeno, realizaram a festa em memória do padroeiro, entre os dias 8 e 16, com uma novena, momentos de adoração ao Santíssimo e missas presididas por padres convidados. No oitavo dia da novena, 15, a missa foi presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, Dom José Benedito Cardoso. No dia do padroeiro, 17, a missa solene foi presidida pelo Padre Ernandes Alves da Silva Junior, Pároco (foto), e concelebrada pelo Padre José Carlos Spinola, assistidos pelo Diácono Permanente Paulo José de Oliveira. (por Benigno Naveira) [SÉ] No dia 23, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, ocorreu a reunião dos padres e leigos do Setor Bom Retiro. Na ocasião, houve a acolhida dos padres novos no Setor e a apresentação do planejamento para este ano, com o foco nas celebrações da Semana Santa. (por Angelina Maria Manzini)

[SÉ] Nos dias 26 e 27, um grupo de 39 adolescentes, entre 14 e 17 anos, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, participou do 126º Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC). Após dois anos sem o promover em razão da pandemia, o grupo de jovens se dedicou para que este encontro acontecesse e, assim, pudesse proporcionar a experiência profunda do amor de Deus aos adolescentes. A missa de encerramento foi presidida pelo Padre Adailton Mendes, Pároco, da qual participaram, também, a comunidade, os familiares e amigos dos encontristas. (por Karine de Sousa Lima) [BELÉM] A Paróquia São Marcos acolheu no sábado, 26, a Assembleia do Setor Conquista, da Região Episcopal Belém, com a presença de membros das sete paróquias e duas áreas pastorais que compõem o Setor. Padre Irineu Dossou, Pároco da Paróquia São Marcos, conduziu a abertura da assembleia. Padre Gilberto Orácio, Coordenador do Setor, guiou os trabalhos da assembleia setorial, apresentando os padres das respectivas paróquias e expondo um pouco sobre a vida pastoral do Setor. Houve também a participação do Padre Neidson Gomes, Pároco da Pároquia Santo André Apóstolo, que fez uma introdução sobre o sínodo arquidiocesano. (por Nilton Gomes) [SÉ] No domingo, 27, houve a investidura dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão durante missas celebradas em duas paróquias do Setor Santa Cecília: na Paróquia do Divino Espírito Santo, presidida pelo Padre Valmir Neres de Barros, Pároco, com a participação de 16 ministros; e na Paróquia Santa Cecília, sob a presidência do Cônego Alfredo Nascimento Lima, assistido pelo Diácono Permanente Francisco Kumagai, com a participação de (por Pascom das paróquias) 18 ministros.

Paulo Fernandes

[SÉ] A Pastoral do Menor da Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Santa Ifigênia, em parceria com o Lions Sororidade, realizou, no dia 23, um curso culinário de Brigadeiro Goumert, com a chef Cléo Queiroz, visando à capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade, para que tenham independência socioeconômica. A turma contou com 20 participantes. (por Paulo Fernandes)


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[BELÉM] Reuniram-se, no sábado, 26, os membros do CPP das Comunidades São João Paulo II, São Judas Tadeu, Nossa Senhora Aparecida e São João Bosco/Santa Dulce, que integram a Área Pastoral São João Paulo II, que, juntamente com os Padres Haroldo Evaristo Alves e João Chiuzo, refletiram sobre as questões relacionadas ao sínodo arquidiocesano. (por Janice Santos)

| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Regiões Episcopais/Viver Bem| 7 Pascom paroquial

IPIRANGA Inaugurado o Departamento Regional de Comunicação dos Scalabrinianos Camila Moura

[SANTANA] No sábado, 26, na Paróquia Santa Inês, Setor Mandaqui, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa em ação de graças pela Missão Eleitos. Concelebraram os Padres José Esteves Filho (Padre Gabriel), Pároco, e Carlos Guimarães, MS, com a assistência do Diácono Permanente Márcio Cesena. (por Silvano Jacobino) [SANTANA] No domingo, 27, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, pertencente à Paróquia São Pedro Apóstolo, do Setor Tremembé. Concelebrou o Padre Claudinei de Arruda Lúcio, Pároco. Os fiéis da comunidade, que fica na Vila Rosa, demonstraram muita alegria com a visita “inesperada”. A coordenadora dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, Fátima Gonçalves, destacou: “A presença do pastor humano e humilde que é Dom Jorge nos faz sentir o quanto a nossa Comunidade de Nossa Senhora Aparecida é amada por Deus. Se vemos injustiças e privilégios no mundo, aqui, com a sua presença, sentimos igualdade e amor. Sua presença na nossa caminhada quaresmal é sinal de que Deus caminha conosco”. (por Edmilson Fernandes)

[IPIRANGA] Cerca de 40 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, Setor Pastoral Vila Mariana, receberam investidura em missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, concelebrada pelo Padre Uilson dos Santos, Pároco, no domingo, 27. (por Karen Eufrosino)

[BRASILÂNDIA] Na quinta-feira, 24, a Comunidade Santo Oscar Romero, pertencente à Paróquia Cristo Rei – Anhanguera, Setor Perus, celebrou seu padroeiro. A missa foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e concelebrada pelo Padre Orisvaldo Carvalho, Pároco, com a participação dos seminaristas Gabriel de Barros Augusto e Gil Pierre de Toledo Herck e de toda a comunidade que se dedicou ao tríduo de Santo Oscar Romero. (por Rodrigo Fernandes)

CAMILA DE ANDRADE MOURA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na sexta-feira, 25, aconteceu a inauguração do Departamento Regional de Comunicação da Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), na Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes, que congrega sete países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. O evento contou com a presença do Padre Algacir Munhak, CS, Superior Regional dos Scalabrinianos, que comentou sobre os objetivos da comunicação nessa Região e sobre os trabalhos do Departamento Regional. Também participaram o Padre Evandro Antônio Cavalli, CS, Diretor Re-

gional de Comunicação; o Padre José Edvaldo Pereira da Silva, CS, Diretor do Instituto Cristóvão Colombo; e demais padres, colaboradores e convidados. Logo após o discurso do Superior Regional da Congregação, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, abençoou a sala do Departamento Regional de Comunicação. Francisco David Rodrigues, gerente do Departamento Regional de Comunicação, explica que o órgão que está sob sua responsabilidade tem por função institucionalizar e gerir os diversos meios de comunicação da Congregação nos países da Região, além de estabelecer novos processos e qualificar os já existentes.

Pascom paroquial

[BELÉM] Na noite do domingo, 27, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Vila Diva, na qual conferiu o sacramento da Crisma a oito jovens e adultos. Concelebrou o Cônego Walter Caldeira, Pároco. (por Fernando Arthur)

Comportamento Autoridade dos pais: por que tanto medo em exercê-la? SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Desde meados do século passado, cresce um fenômeno sociocultural de desprestígio da autoridade. Correntes de pensamento que contrapõem autoridade e liberdade dividem a história e trazem a ideia de que a autoridade não é compatível com a liberdade. Tais correntes identificam a autoridade com autoritarismo e a liberdade com independência, e desse modo ambas não convivem. Movimento intelectual que surge na Europa diante dos totalitarismos do século passado, a linha freudiana e marxista que se impõe no mundo intelectual acaba trazendo essa identificação da autoridade com o autoritarismo e faz acreditar que as personalidades totalitaristas surgem nas famílias e escolas. Com isso, inicia-se o processo de extinção da autoridade nesses lugares. Difunde-se a ideia de que somente pais afetuosos e permissivos protegem a personalidade e autenticidade dos filhos – já que não reprimem seus instintos. Há um estímulo a se evitar a obediência que é vista, erroneamente, como submissão

cega. No imaginário das pessoas, configura-se a ideia de que exigir equivale a ministrar castigos duros, violentos; e ser dócil é seguir desejos irracionais. Está feita a confusão de conceitos. Divulga-se a ideia de que a autoridade educativa é um mecanismo de controle. A ideia de liberdade traz em si um desprezo à tradição, ou seja, se queremos formar pessoas livres, não podemos transmitir convicções, crenças, valores e tradições familiares. Joga-se fora essa importante herança que uma geração pode passar à outra, em nome desse conceito errado de liberdade. Ser livre seria elaborar suas próprias ideias sem influências externas. Do autoritarismo, exercício errado da autoridade, se passou ao não exercício dela – uma omissão, também errada. O permissivismo propõe formas de convívio em que se evitam os conflitos e se elogia a participação, mas falta uma orientação clara por parte daqueles que têm mais maturidade para isso: os pais. Essa mentalidade sobre o exercício da autoridade penetrou tão profundamente no imaginário moderno que os pais dei-

xaram de confiar no vínculo que têm com os filhos, na percepção de mundo e de valores que regem suas vidas e delegaram a especialistas (psicólogos, psicopedagogos etc.) a educação de seus filhos. Sim, os profissionais têm seu papel, mas não podemos esquecer: pais precisam educar como pais e não como profissionais – podem aprender com eles, mas precisam confiar no vínculo com o filho, na missão educativa que têm na vida deles, que não pode ser terceirizada. É evidente o descrédito na autoridade da família. Vê-se como uma diminuição da liberdade que a família influencie na formação da personalidade de seus filhos – educar na liberdade, hoje em dia, equivale a deixar que os filhos escolham, mesmo sem estarem preparados para arcar com as consequências. Outro dificultador do exercício da autoridade é a fragilidade dos vínculos familiares. A família se tornou uma comunidade de amigos, de iguais – não é ruim que exista amizade, mas é péssimo que a relação se reduza a ela. Precisamos mudar esse rumo e retomar as rédeas na formação dos filhos,

pois os prejuízos dessa falta de autoridade têm sido enormes. Aqueles que dão a vida têm também a missão de preservá-la e ajudar para que alcance a plenitude. Nascemos numa família, pertencemos a ela e esse sentido de pertinência traz em si uma vinculação tal que pressupõe aceitar a autoridade, que cuida, ensina valores, insere numa história e numa cultura. Pais, fundamentem a autoridade na prudência, para orientar o bem viver dos filhos até que possam ser donos de si mesmos. Ofereçam por herança os valores que consideram essenciais para que seus filhos alcancem a felicidade. Exerçam a autoridade para educar e depois, conforme os filhos ganhem racionalidade e maturidade para fazerem suas escolhas, aos poucos a retirem de cena para que possam construir suas biografias. Pais, não se esqueçam: quando se recebe uma herança, tem-se o que aceitar ou negar, porém, sem herança, o que há é um vazio e, no vazio, tudo cabe. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro


8 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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BELÉM

Fé e Cidadania O Cardeal e a ditadura PADRE REUBERSON FERREIRA, MSC Em 31 de março, recordamos os 58 anos do início do regime militar no Brasil. Um período controverso, sofrido e complexo da história brasileira que ainda hoje é arena de debates e discussões. O papel da Igreja, nesse período, também é foco de muitas reflexões. Alguns personagens dessa instituição eclesiástica sobressaíram na luta pela redemocratização e pela salvaguarda dos direitos humanos. Entre tantas figuras, encontra-se o Cardeal Paulo Evaristo Arns, cujo centenário de nascimento vem sendo celebrado desde o ano passado. Quando explodiu o golpe militar de 1964, Dom Paulo Evaristo Arns era frade em Petrópolis (RJ). Em sua autobiografia, o Cardeal declara que, com anuência de seus superiores, viajou até Pedro do Rio, distrito da cidade imperial, para inquirir se haveria derramamento de sangue com o avanço das tropas militares de Minas Gerais. Pelas respostas que obtivera dos soldados, concluiu que João Goulart seria deposto e o regime de exceção se instalaria, sem dificuldades. Após testemunhar o princípio do regime militar, já como Bispo Auxiliar de São Paulo, a experiência de assistir os encarcerados no extinto Carandiru marcou a defesa que o mais tarde Arcebispo faria dos presos políticos. De fato, para Dom Paulo, a expressão bíblica “estive preso e foste me visitar” (Mt 25,36) gozava de uma implicação concreta. Assim, ele foi um dos primeiros a visitar e constatar as torturas que os frades dominicanos, presos pelo regime, sofreram. Também, inúmeros outros personagens foram por ele visitados, defendidos e postos sob o pálio da justiça que o Cardeal tinha como luminar evangélico. O Cardeal da capital paulopolitana, inegavelmente, era resistente ao regime imposto. Algumas atitudes por ele protagonizadas atestam sua postura. Basta recordar a celebração em sufrágio do estudante Alexandre Vannucchi Leme, em que ele apoiou e persuadiu o então Arcebispo de Sorocaba (SP), Dom José Melhado Campos, a presidir a celebração eucarística em sua memória. Ou, ainda, o culto ecumênico celebrado em favor de Vladimir Herzog. Dom Paulo, ao lado do Rabino Henry Sobel e do Pastor Jaime Wright, fez dessa celebração um marco da defesa dos direitos humanos e da democracia, no período mais difícil do regime militar. Na condição de presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Paulo, capitaneando bispos de todo o estado de São Paulo, denunciou ações praticadas ao longo do governo militar. Em 1972, publicou o documento “Testemunha de paz”. Tratava-se de uma forte denúncia contra o modo arbitrário de algumas prisões políticas e os métodos de tortura utilizados nos interrogatórios. O tom forte do documento, rapidamente se tornou alvo de aguda censura. Dessa mesma lavra, Dom Paulo e o episcopado paulista lançaram, em outubro de 1975, outro texto intitulado “Não oprimas teu irmão”. O manuscrito, largos traços, era uma ainda mais dura reprovação das posturas dos militares. Tratava-se de críticas sérias, responsáveis, dirigidas contra desmandos do regime que revelam o aspecto comprometido do Cardeal Arns com a situação política do País. Outros diversos exemplos poderiam ser citados para corroborar que o Cardeal de São Paulo tomou postura clara no período ditatorial. Era uma lúcida defesa da liberdade, do direito e da democracia. No nosso tempo, quando tacitamente algumas vozes advogam o retorno do período militar, a figura de Dom Paulo, mormente no seu centenário, nos inspira a gritar contra todo e qualquer sistema de opressão. Mais ainda: nos ensina que, mesmo com inúmeros limites, o regime democrático de direito ainda é um dos mais viáveis sistemas políticos. Padre Reuberson Ferreira, MSC, é Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração, no bairro da Vila Formosa, em São Paulo.

Dom Odilo confere o sacramento da Crisma na Paróquia São José do Maranhão Cláudia Gaspar

PADRE ARLINDO TELES ALVES

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No sábado, 26, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia São José do Maranhão, no Tatuapé, na qual ministrou o sacramento da Crisma a 11 jovens e adultos que se prepararam durante o último ano. A missa foi concelebrada pelo Padre Arlindo Teles Alves, Pároco, e contou com a presença de fiéis paroquianos, parentes e amigos dos crismandos. No início da homilia, o Arcebispo Metropolitano acolheu os crismandos, padrinhos e madrinhas, e os catequistas que os prepararam. Ele exortou os padrinhos a serem outros pais e mães de seus afilhados: “Vocês agora exercem uma paternidade, uma maternidade espiritual sobre seus afilhados. Por isso, orem por eles e os acompanhem no caminho da fé que receberam no Batismo”, disse.

O Cardeal lembrou, também, que o sacramento da Crisma é aquele por meio do qual é confirmada a fé diante de Deus e dos irmãos, uma vez que no Batismo esta é professada pelos pais e padrinhos daquele que é batizado. “Agora, vocês recebem o sinal, a marca de Cristo, e de Cristo vem o Espírito Santo que nos dá força, coragem, sabedoria e discer-

nimento e nos envia os seus sete dons, para que sempre nos orientemos para o bem”, completou. Ao término da celebração, Padre Arlindo agradeceu a dedicação e o trabalho de cada catequista, e também a presença de Dom Odilo, lembrando a todos, ainda, a importância de participar e se engajar no sínodo arquidiocesano, que está em sua fase final.

SÉ Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro celebra 9º mês do ano jubilar PASCOM PAROQUIAL No domingo, 27, foram celebradas as missas comemorativas, referentes ao 9o mês da festa do 70º ano jubilar da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Jardim Paulistano, com o tema “Com Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, estendamos as mãos aos que mais precisam”. A fim de expor melhor o tema que norteia as ações concretas des-

te mês, o Padre Geraldo de Paula Souza, Pároco, explica os detalhes no vídeo que pode ser visto em: https://youtu.be/CPQtL5aiOk4. “Deus necessita dos seus filhos para favorecer e ajudar os irmãos que precisam. Por isso, somos todos convidados a colaborar e acolher, atendendo a um pedido que o próprio Deus nos faz”, afirma o Padre Geraldo. A missa do meio-dia foi presidida pelo Padre Hélio de Carvalho Naves, missionário Redentorista

que foi Pároco desta Paróquia na década de 1990 e hoje trabalha no Santuário Nacional de Aparecida, um sacerdote com ampla experiência pastoral e em atividades em prol da comunidade. A Eucaristia também contou com a colaboração da Pastoral dos Noivos, que explicou à comunidade a importância do trabalho que realiza àqueles que buscam o sacramento do Matrimônio, com preparação disponível em quatro datas ao longo do ano.

Pascom paroquial

Coordenação do Setor Medeiros

[SÉ] A Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Jardim Paulistano, Setor Jardins, retomou as atividades referentes ao sínodo arquidiocesano. A primeira reunião aconteceu no dia 22, ocasião em que o Padre Geraldo de Paula Souza, Pároco, falou às principais lideranças comunitárias sobre os trabalhos já executados até agora. Na parte final da atividade, foi feita a análise dos resultados do primeiro levantamento sobre a paróquia, realizado em 2018. A segunda reunião aconteceu na noite da terça-feira, 29, encerrando essa etapa de trabalhos. (por Pascom paroquial)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu no domingo, 27, na Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Setor Medeiros, a missa de posse canônica do novo Pároco, o Padre Álvaro de Oliveira, OSJ. Concelebraram os Padres Mario Guinzoni, OSJ, Paulo Siebeneichler, OSJ, e Mauro Negro, OSJ, assistidos pelo Diácono Permanente Edson Breda e o Frei Lucas Raul de Faria, OSJ. (por Coordenação do Setor Medeiros)


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| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Reportagem/Fé e Vida | 9

Atenção ao farol: a via-sacra vai passar Luciney martins/O SÃO PAULO

AOS SÁBADOS, DURANTE A QUARESMA NO SEMÁFORO DA PRAÇA SANTO EDUARDO, NA ZONA NORTE DA CAPITAL, CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA PARÓQUIA SÃO FRANCISCO XAVIER ENCENAM AS ESTAÇÕES DA VIA-SACRA

EM FAMÍLIA

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Farol vermelho indica “Pare”. No entanto, para as crianças e adolescentes das pastorais da Catequese, dos Coroinhas e dos Adolescentes da Paróquia São Francisco Xavier, no bairro Jardim Japão, zona Norte da capital paulista, é hora de ação. Desde 2018, durante a Quaresma, aos sábados, após a missa das 17h, todos se dirigem à Praça Santo Eduardo, no cruzamento da Avenida Guilherme Cotching com a Rua Curuçá, para encenar as estações da via-sacra e evangelizar com mensagens de fé e canções religiosas. No sábado, 26, a reportagem do O SÃO PAULO acompanhou a ação que tem ocorrido desde o primeiro sábado da Quaresma, 5 de março, e que vai até o sábado 9 de abril, véspera do Domingo de Ramos. O momento de evangelização, transmitido pelo Facebook da Paróquia, envolve catequistas, coroinhas, acólitos, catequizandos, seus familiares, paroquianos e quem passa pelo local. A cada sábado são refletidas três estações da via crucis, a partir de temas atuais e abordagens relacionadas à vivência familiar e comunitária.

EVANGELIZAR NA PRAÇA E NO FAROL

Em 2018, a catequista Simone Peres Maia, 37, estava incomodada com a pouca participação dos jovens nas atividades da Paróquia: “Senti a necessidade de ações que prendessem a atenção para além da edificação das quatro paredes da Igreja. Precisávamos de algo que impulsionasse o sair e ir ao encontro dos irmãos – atendendo ao pedido do Papa Francisco de ser

tro extraordinário da Sagrada Comunhão. Ele destacou que a ação gera frutos para a vida pessoal de quem participa efetivamente do momento de evangelização e de quem passa pelo local naquele momento. “Temos pessoas que passaram pelo farol e despertaram para a participação na comunidade e hoje são paroquianos ativos nas pastorais. Testemunhos de pais e jovens que acolheram Jesus e reataram o casamento, entre tantos depoimentos de fé e conversão de vida”, sinalizou.

Crianças e adolescentes evangelizam em um dos semáforos da Avenida Guilherme Cotching

uma Igreja em saída”, disse, recordando que da inquietação surgiu a ação da via-sacra na praça e no farol. “Começamos naquele ano com dez crianças e jovens, ainda tímidos e receosos da receptividade do público. Hoje, estamos com mais de 40 membros engajados”, disse a coordenadora das Pastorais da Catequese e dos Adolescentes. “São muitos os relatos de famílias que, motivadas pelo engajamento dos filhos, retornaram à vida em comunidade. Há também testemunhos de pessoas que passam pelo farol e tiveram suas vidas transformadas”, disse Simone, recordando a história de um jovem que, em 2019, saiu de casa triste e decidido a tirar a própria vida, mas no trajeto, impactado pela ação, retomou o sentido da vida.

SEGUNDOS QUE IMPACTAM

Com cartazes com as frases “Foi por você” e “Jesus te ama” e acompanhados pela dramatização de Jesus carregando a cruz e por canções religiosas, as crianças e adolescentes se posicionam na faixa de pedestre. Os carros, motos e pedestres que por ali passam buzinam, aplaudem e ovacionam a ação. Genivaldo dos Santos, 51, passou pelo local em sua bicicleta e parou para assistir. “Fiquei feliz em ver crianças e jovens falando de Deus em pleno sábado à noite”, disse ele, que se juntou aos pa-

roquianos e participou da encenação. “Como é bom e necessário nos dias de hoje anunciar sem medo. Já que muitas pessoas não vão à Igreja, essa é uma maneira de a Igreja ir ao encontro dessas pessoas”, disse. Judite Fraga Dionísio Videira, 81, acompanha a ação desde o início e afirmou que o gesto evangelizador é uma atividade de segundos que impacta vidas: “O farol fecha e abre rápido, mas a mensagem de Jesus chega aos corações e marca para sempre. Isso aconteceu comigo. Cheguei de Portugal há quase 60 anos e fui acolhida na Paróquia. Hoje, quero testemunhar que Jesus deu sua vida por nós e é nossa missão anunciar sua Palavra”. Sobre a ação ser em uma via pública, Carlos Barbosa de Lima, 71, coordenador dos coroinhas, ressaltou que a escolha do local se deu pela viabilidade. “Esse cruzamento é uma via de acesso que liga a zona Norte às demais regiões da capital e por onde circula uma grande quantidade de pessoas nos vários formatos de locomoção”, destacou.

VIDAS TRANSFORMADAS

Na ação, Kauã Silva Barros faz o papel de Cristo. “É gratificante representar Jesus, que entregou sua vida por nós. A vida de Jesus nos toca no mais profundo de nossa essência”, ressaltou. Candido Silva Madaleno, 67, é minis-

Alcione Maria dos Santos, 44, e Antônio José de Melo, 51, são pais do Eduardo Antonio e do Artur. À reportagem, Alcione contou que participava esporadicamente das missas, mas que com o ingresso do filho Eduardo na Catequese a situação mudou. “O meu filho se engajou muito na Catequese, nas ações promovidas e se tornou coroinha e agora é acólito. Desde o começo, participa da via-sacra aqui no farol”, afirmou a mãe, que, tocada pelo filho, retornou à comunidade paroquial onde hoje atua como catequista. Antônio também voltou a participar da Paróquia incentivado pelos filhos. “Eles são bênçãos e nos resgataram para a caminhada de fé em comunidade. Há três meses, a Alcione e eu fomos abençoados com o sacramento do Matrimônio”, disse. Os pais contaram que o Eduardo manifestou o desejo de ser padre. “Deus tem abençoado abundantemente a nossa família”, afirmaram, emocionados.

COMUNIDADE EM AÇÃO

“Essa iniciativa atende ao apelo do sínodo arquidiocesano de ser uma Igreja de conversão, comunhão, participação e missão, uma ‘Igreja em saída’”, afirmou Padre Jorge da Silva, Pároco, destacando que a iniciativa partiu de lideranças, crianças, adolescentes e suas famílias. O Pároco mencionou algumas outras ações paroquiais que impactam diretamente milhares de vidas. “Na Paróquia, temos o projeto Anjos da Rua, que distribui aproximadamente 1,2 mil marmitas pelas ruas da capital. Mensalmente, 120 famílias recebem cestas básicas. Às sextas-feiras, o projeto Janta na Rua beneficia pessoas em situação de rua, entre outros gestos concretos liderados pelos paroquianos”, comentou o Sacerdote, que também é Diretor da rádio 9 de Julho.

Você Pergunta Por que não se realiza o casamento na Igreja se não houver a união no civil? PADRE CIDO PEREIRA

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A Severina nos mandou uma mensagem com a seguinte dúvida: “Por que a Igreja não celebra o casamento se o casal não for antes casado no cartório? O casamento no civil tem valor para a Igreja? Eu quero casar, mas não no civil...”.

Severina, a Igreja se preocupa demais com a família, com a indissolubilidade do Matrimônio. A família é sagrada. Ela sempre exigiu o casamento na Igreja, porque é um sacramento, e sempre pede que haja o casamento no civil para que se garanta no futuro o direito dos filhos aos bens dos pais. Entretanto, minha irmã, a razão maior é evitar a poligamia, isto é, várias

uniões que coloquem em risco a sacralidade do Matrimônio. Pense bem: uma pessoa se casa só na igreja depois se casa no civil com outra e vai por aí afora se casando. Outra situação: muitas vezes, há mulheres que recebem o salário do pai militar e não querem perder esta aposentadoria. Por isso, querem se casar apenas

no religioso para continuar recebendo este dinheiro a mais. Eu não acho honesta essa atitude. Porque se mantém um privilégio à custa do povo. De todo modo, Severina, sempre é bom conversar com um padre amigo para se orientar, porque eu creio que pode haver casos em que o casamento só na Igreja, sem o civil, seja permitido.


10 | Reportagem | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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CF 2022 – Fraternidade e Educação

Ensino da religião na escola: um bem para a humanidade NO BRASIL, LEGISLAÇÕES ASSEGURAM A OFERTA DAS AULAS NO ENSINO FUNDAMENTAL, MAS ISSO NÃO TEM ACONTECIDO. O VICARIATO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE TRABALHA EM PROPOSTAS PARA A EFETIVA IMPLANTAÇÃO DESSA DISCIPLINA DANIEL GOMES

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Incentivar propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade humana, a experiência do transcendente, a cultura do encontro e o cuidado com a casa comum é um dos objetivos da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano. Na escola, um dos caminhos para se alcançar tais metas é o ensino religioso confessional, que não se trata de um momento de “catequese”, mas, sim, de se transmitir aos alunos “os conhecimentos sobre a identidade do Cristianismo e da vida cristã”, conforme aponta a carta circular 520/2009, da Congregação para a Educação Católica (CEC) sobre o ensino da religião na escola. De acordo com este documento, sem a disciplina de ensino religioso, “os alunos estariam privados de um elemento essencial para a sua formação e desenvolvimento pessoal, que os ajuda a atingir uma harmonia vital entre a fé e a cultura. A formação moral e a educação religiosa favorecem também o desenvolvimento da responsabilidade pessoal e social e demais virtudes cívicas, e constituem então um relevante contributo para o bem comum da sociedade” (CEC 2009, no 10).

GARANTIDO EM LEI

O ensino religioso, de matrícula facultativa, deve ser ofertado como disciplina dos horários normais de aula nas escolas públicas de ensino fundamental, conforme consta no Art. 210 da Constituição federal. Também está previsto no Art. 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no qual se aponta que deve haver respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. Conforme decisão do Supremo Tribunal Federal de setembro de 2017, os sistemas de ensino podem definir sua proposta de ensino religioso nos modelos não confessional ou confessional, neste último caso com aulas específicas sobre

os ensinamentos de uma crença religiosa. Também no Art.11, §1o, do Acordo Brasil-Santa Sé é assegurada a oferta de ensino religioso católico e de outras confissões religiosas nas escolas públicas de ensino fundamental. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, recordou que a atual versão da LDB não mais menciona duas diferentes modalidades de ensino religioso – confessional e interconfessional –, mas prevê que os sistemas de ensino regulamentem os conteúdos do ensino religioso e, para isso, devem ouvir as diferentes denominações religiosas da sociedade civil. Assim, não cabe às secretarias de educação estaduais e municipais definir os conteúdos e os programas da disciplina de ensino religioso na escola pública, mas deverão fazê-lo após ouvir “a entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso”, como preconiza a LDB. Da mesma forma, os sistemas de ensino devem estabelecer normas para a habilitação dos professores de ensino religioso. “Segundo a praxe atualmente vigente, serão admitidos para ministrar ensino religioso aqueles professores da rede com licenciatura em alguma disciplina, que apresentem certificado de pós-graduação, especialização, mestrado ou doutorado em Teologia”, detalha.

UM ENSINO RELIGIOSO ‘NEUTRO’ É POSSÍVEL?

A carta circular da Congregação para a Educação Católica alerta para o risco de se criar confusão ou gerar um relativismo ou indiferentismo religioso se o ensino da religião estiver limitado a uma exposição das várias religiões de modo comparativo e “neutro” (cf. CEC 2009, no 12). Dom Carlos Lema afirma que não existe um ensino religioso neutro: “A religião pressupõe dogmas, preceitos de fé que são a própria estrutura dessa realidade humana, ou melhor, dessa manifestação da cultura. Ela se diferencia das outras manifestações culturais enquadradas nas outras ciências e disciplinas. Seu objeto de conheci-

mento é a própria vivência desses preceitos religiosos”. Também para Magna Celi Mendes da Rocha, mestra e doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, com Pós-Doutorado em Teologia pela PUC-PR, jamais o ensino religioso é algo neutro, pois “sempre parte de uma visão de mundo, de homem e de Deus, nem sempre explicitados”. Ela destaca que, quando o ensino da religião recai apenas sobre o aspecto cultural e as relações sociais, se mostra, equivocadamente, a dimensão religiosa como uma construção cultural, apresentando Deus como uma criação do homem, da cultura. “Não precisa ser um grande teólogo para entender que faz diferença na forma de abordagem do ensino religioso se Deus é uma criação do homem ou se o homem foi criado por Deus. Isso tem impacto no conteúdo e nas práticas pedagógicas”, comenta, destacando ser fundamental explicitar fundamentos “como a educação integral, inclusiva, que valoriza e respeita as diferenças, a alteridade, mas compreendendo que nosso olhar e ação sobre essas questões se dá a partir de uma ótica cristã, e não ateia”, comenta Magna. Para Diego Genu Klautau, doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP, do ponto de vista da Ciência da Religião, um ensino religioso não confessional é possível, contudo, a questão posta na carta circular da CEC é uma proposta de ensino religioso confessional como resultado da harmonia entre razão e fé, entre Igreja e sociedade, entre teologia e ciências. “Em outras palavras, a disputa evidente é se a epistemologia que estrutura o ensino religioso parte da autoridade do Estado e de seus peritos acadêmicos ou se sua origem é a Igreja com sua Tradição e seu Magistério. Obviamente, é possível uma articulação pacífica entre esses setores, uma postura que privilegie tanto a fidelidade ao Bem, ao Belo e ao Verdadeiro – e especificamente ao Evangelho – e que, portanto, não se


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Um ensino aberto à ação de Deus e em diálogo com a realidade dos estudantes

submeta a esse indiferentismo religioso e a esse relativismo, quanto uma abertura dialogal aos demais componentes de uma sociedade plural e de um Estado laico, procurando uma superação de um enclausuramento sectário de teólogos que falam de maneira proselitista, solipsista e temerosa apenas para os já convertidos.”

UMA PROPOSTA PARA ESCOLAS PÚBLICAS

Conforme apurações do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, até o começo da pandemia de COVID-19 nenhuma escola pública de ensino fundamental na cidade de São Paulo tinha consolidada a oferta de ensino religioso, seja pela falta de interesse dos alunos em cursar a disciplina, seja pela falta de professores especializados. O Vicariato está elaborando um projeto de disciplina de ensino religioso para a escola pública, a ser oferecida em duas etapas: a primeira abordaria o fenômeno religioso como um todo e uma base comum acerca das principais religiões, por meio de um enfoque híbrido, contemplando o senso religioso da pessoa, o sentido da vida,

as grandes civilizações e sua visão da divindade; os valores humanos derivados do reconhecimento da dignidade humana, como honestidade, justiça, bondade, amor ao próximo e solidariedade. Já a segunda parte abordaria o ensino religioso confessional, determinado pela escolha da família do aluno, conforme a sua religião, a fim de que possa conhecer o conteúdo da sua crença religiosa, acesso a um aprofundamento intelectual da fé escolhida para si, segundo o desejo próprio e o de seus pais. Na opinião de Magna da Rocha, os pais que compreendem a importância da formação religiosa para seus filhos devem reivindicar aos diretores das escolas que esse direito seja cumprido. “É necessário, ainda, que as autoridades religiosas de cada diocese reivindiquem esse direito às secretarias de Educação, aos políticos responsáveis. Enfim, é uma mobilização em várias frentes: tanto de capacitação quanto de base, e das instâncias superiores, tudo isso para que nossas crianças, adolescentes e jovens tenham acesso a uma formação que os ajude a desenvolver um aspecto tão essencial de sua vida, sempre de uma forma propositiva, nunca impositiva.”

Filmes, livros, letras de música, séries de streamings, declarações políticas, sociais ou éticas de agentes públicos. Se esses materiais interagem de alguma forma com a temática religiosa, podem ser utilizados com os estudantes nas aulas de ensino religioso. É o que afirma Diego Genu Klautau, doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP. Professor do Colégio Catamarã e do Centro Universitário FEI, ele explica que a religião não é um sintoma das estruturas psicológicas ou sociológicas da humanidade, mas uma realidade em si, cujo estudo deve ser tratado de maneira independente de disciplinas como História, Filosofia ou Sociologia, ainda que apresente interseccionalidades com tais áreas. Ressalta, também, que o ensino religioso confessional não deve ser uma catequese, mas, sim, “alargar a compreensão do estudante sobre a presença da religião nas sociedades, em seus produtos culturais, em seus costumes, em sua literatura e arte, em sua política e economia”. Klautau é um dos docentes do curso de especialização em Teologia e Ensino Religioso, promovido pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade e a Faculdade de Teologia da PUC-SP, que terá início em 6 de abril. Neste curso, ele falará sobre as relações entre o escritor J. R. R. Tolkien – cuja uma das obras mais famosas é “O Senhor dos Anéis” –, religião e cultura pop. Para Klautau, como desdobramento de dois princípios do ensino religioso confessional – a busca pela interdisciplinaridade escolar e a interação entre fé e cultura –, o fenômeno da cultura pop pode ser utilizado para investigar a permeabilidade da religião na sociedade. “No caso de Tolkien em particular, essas demonstrações de princípios se tornam mais fáceis por três motivos. Primeiro, a biografia de Tolkien se torna uma prova inconteste de sua adesão à fé católica dentro de seu contexto histórico,

NAS ESCOLAS CATÓLICAS

Nas escolas confessionais católicas há especial atenção com o ensino da religião. Conforme apontado na já referida carta da CEC, na escola católica o ensino e a educação se fundam sobre princípios da fé católica e nela “deve-se viver um ambiente escolar imbuído do espírito evangélico de liberdade e caridade, que favoreça um desenvolvimento harmônico da personalidade de cada um” (CEC 2009, no 6). Com o auxílio de professores e educadores de instituições de ensino e de sua equipe pedagógica, o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade elaborou uma proposta de currículo de ensino religioso para a escola católica, atendendo a pedidos dos participantes das assembleias do sínodo arquidiocesano, no ano de 2019. O currículo tem por base a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),

a Inglaterra do século XX, o que pode ser detectado em suas produções acadêmicas e cartas pessoais. Em segundo lugar, os elementos que constituíram tanto sua obra literária – mundialmente famosa – quanto suas elaborações teóricas – menos conhecidas – são ricos em conteúdos acadêmicos sobre linguagem, antropologia, ciência da religião, filosofia e história. Por fim, a qualidade de sua obra literária, tanto artística quanto moral, e a impressionante formação de uma cultura tolkienista que atrai milhões de jovens de todo o mundo, de diferentes nacionalidades, credos e posições políticas”, detalha. Também docente nesse curso na disciplina de Didática do Ensino Religioso, Magna Celi Mendes da Rocha, mestra e doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, com Pós-Doutorado e Teologia pela PUC-PR, comenta que é necessário avançar na formação e capacitação de professores para as aulas de ensino religioso. “O professor precisa exercitar uma renovada abertura a Deus, ao outro, ao mundo e à própria interioridade. Essas quatro aberturas devem se traduzir na forma como prepara suas aulas, buscando aliar os conteúdos das aulas às vivências pessoais, às dos alunos e o que se passa no mundo. Além das aulas expositivas, podemos realizar rodas de conversa temáticas, visitas a lugares históricos e sagrados, visita a lugares de sofrimento, participação e preparação em celebrações e momentos litúrgicos fortes (Advento, Natal, Quaresma, Páscoa)”, comentou Magna, que se dedica ao estudo e difusão da obra pedagógica de Edith Stein – Santa Teresa Benedita da Cruz, atua como assessora da Pastoral Universitária da PUC-SP e é professora convidada da Faculdade de Teologia desta universidade e do Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Saiba mais sobre o curso de especialização em Teologia e Ensino Religioso pelo site https://vicariatoedusp.org. (DG)

escalonada para todas as séries do ensino fundamental, oferecendo a base para materiais didáticos, sequências didáticas, formação dos professores, estratégias didáticas e a participação das famílias. Há também sugestões de temas a serem desenvolvidos no currículo para o ensino médio. No texto de apresentação, Dom Carlos Lema Garcia lembra que um currículo centrado em habilidades e competências, como está preconizado na BNCC, “entende que a educação é integral: ensino e formação da pessoa. O professor ensina, produz conhecimento e gera aprendizagem; levando em conta o papel fundamental que a família deve exercer na formação de toda criança. É ela a responsável pelos hábitos, costumes e valores”. Interessados em conhecer o currículo devem entrar em contato pelo e-mail: vicariatoeducacaouniversidade@gmail.com.


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Quaresma: tempo de reavivar a fé na Eucaristia Luciney martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No caminho de conversão próprio do período quaresmal, cada pessoa é chamada a preparar o coração para renovar a sua fé no mistério central da vida cristã: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Mais do que uma mera recordação do acontecimento do passado, trata-se da celebração de uma realidade eterna, isto é, a salvação da humanidade operada por Deus por meio do sacrifício de seu Filho. Portanto, a maneira mais eficaz e concreta de se preparar para a Páscoa é por meio do sacramento que consiste no memorial da celebração pascal: a Santa Missa. No ciclo de meditações quaresmais deste ano, feitas ao Papa Francisco e aos colaboradores da Cúria Romana, o Cardeal Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, ressaltou que, entre os vários males que a pandemia da COVID-19 têm causado à humanidade, houve ao menos um efeito positivo do ponto de vista da fé: “Ela nos fez tomar consciência da necessidade que temos da Eucaristia e do vazio que cria a sua falta”. Ele destacou, inclusive, que algumas igrejas locais e nacionais decidiram dedicar este ano a uma catequese especial sobre a Eucaristia, em vista de um desejado renascimento eucarístico entre os católicos.

SACRIFÍCIO

A Igreja Católica reafirma sua fé no sacramento da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, e testemunha publicamente sua convicção da presença real de Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho consagrados na missa. Instituída por Jesus Cristo na Última Ceia, a Eucaristia perpetua o sacrifício da cruz na Igreja ao longo dos séculos. Quando este sacramento é celebrado, o acontecimento central de salvação se faz realmente presente e “realiza-se também a obra da nossa redenção”, como expressou São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia (2003). “A Eucaristia é a presença na história do evento que inverteu para sempre os papéis entre vencedores e vítimas. Na cruz, Cristo fez da vítima o verdadeiro vencedor [...] A Eucaristia nos oferece a verdadeira chave de leitura da história. Assegura-nos que Jesus está conosco, não apenas intencionalmente, mas realmente neste nosso mundo que parece escapar de nossas mãos a qualquer momento. Ele nos repete: ‘Tenha coragem: eu venci o mundo!’ (Jo 16,33)”, sublinhou o Cardeal Cantalamessa.

RESSURREIÇÃO

O santo sacrifício eucarístico torna presente não só o mistério da Paixão e Morte de Jesus, mas tam-

o próprio Jesus que convida: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). O principal fruto da comunhão eucarística é a união íntima com Cristo Jesus. “De fato, o Senhor diz: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele’ (Jo 6,56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete eucarístico: ‘Assim como o Pai, que vive, me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o que comer a minha carne viverá por Mim’ (Jo 6,57)”, recorda o Catecismo da Igreja Católica, que enfatiza, ainda, que a comunhão da carne de Cristo Ressuscitado conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo. A Comunhão também afasta o fiel do pecado, sendo, portanto, “sustendo e remédio” no processo de conversão. “É por isso que a Eucaristia não pode nos unir a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos preservar dos pecados futuros”, reforça o Catecismo.

PREPARAÇÃO

bém o mistério da sua Ressurreição. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode se tornar “pão da vida” (Jo 6,35.48). Tal verdade de fé era proclamada pelos padres e doutores dos primórdios da Igreja. Santo Ambrósio lembrava aos cristãos recém-batizados: “Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada dia”. O Padre Francisco Fernández-Carvajal, autor espanhol de diversos livros de espiritualidade, escreveu, na coletânea de meditações “Falar com Deus”, publicada no Brasil pela editora Quadrante, que a missa e o sacrifício da cruz “são o mesmo e único sacrifício, embora estejam distanciados no tempo; volta a fazer-se presente a total submissão amorosa do Senhor à vontade do Pai, embora não se repitam as circunstâncias dolorosas e cruentas do Calvário”. Nesse sentido, é Cristo que se oferece a si mesmo em cada missa celebrada, sendo o sacerdote o ministro que age in persona Christi (na pessoa de Cristo). Sobre isso, São Paulo VI, na encíclica Mysterium fidei (1965), destaca que “toda a missa, ainda que celebrada privadamente por um sacerdote, não é ação privada, mas ação de Cristo e da Igreja”, em cujo sacrifício “aplica à salvação do mundo inteiro a única e infinita eficácia redentora do Sacrifício da Cruz”.

COMUNHÃO

O ápice da participação na Eucaristia é a comunhão. É

Para receber o Corpo e o Sangue de Cristo, é necessária a devida preparação. Nesse sentido, a Igreja exorta os que tiverem consciência de um pecado grave a receberem o sacramento da Reconciliação antes de se aproximarem da Sagrada Comunhão, com o fim de evitar um sacrilégio e usufruir das graças infinitas de tão admirável dom. Os que recebem a Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo, que une todos os fiéis em um só corpo: a Igreja. Santo Tomás de Aquino afirmou que “o efeito típico da Eucaristia é a transformação do homem em Cristo”. Já São Leão Magno destacou: “A participação do Corpo e Sangue de Cristo não faz outra coisa senão nos transformar no alimento que tomamos”.

VIDA ETERNA

Na homilia do XX Congresso Eucarístico Nacional da Itália, em 1983, São João Paulo II afirmou: “Na Eucaristia, vem inscrito o que de mais profundo tem a vida de cada homem: a vida do pai, da mãe, da criança e do ancião, do rapaz e da jovem, do professor e do estudante, do agricultor e do operário, do homem culto e do homem simples, da religiosa e do sacerdote. De cada um, sem exceção. Eis, a vida do homem vem inscrita, mediante a Eucaristia, no mistério do Deus vivo. Neste mistério — como no eterno Livro da Vida — o homem ultrapassa os limites da contemporaneidade, encaminhando-se para a esperança da vida eterna. Eis, a Igreja do Verbo Encarnado faz nascer, mediante a Eucaristia, os habitantes da eterna Jerusalém”.


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Padre Jorge Silva

‘O rádio é uma antena de Deus para quem gosta e quer evangelizar’ Luciney martins/O SÃO PAULO

CLEIDE BARBOSA

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Paranaense da cidade de Siqueira Campos, Padre Jorge Silva está há nove anos na Arquidiocese de São Paulo. Pároco da Paróquia São Francisco Xavier, na Região Episcopal Santana, o Sacerdote de 55 anos de idade foi nomeado pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, como novo Diretor da rádio 9 de Julho, substituindo o Padre Michelino Roberto, nomeado Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação. Para esta nova etapa de sua missão sacerdotal, Padre Jorge traz a experiência de gestão em emissoras de rádio e como cantor há mais de quatro décadas, conforme detalha na entrevista a seguir.

O SÃO PAULO – O senhor pode nos contar um pouco de sua trajetória vocacional? Padre Jorge Silva – Sou o segundo filho de uma família de seis irmãos. Nasci na cidade de Siqueira Campos (PR). Fui para o Seminário Menor Nossa Senhora da Assunção, em Jacarezinho (PR), onde fiz o 1º e o 2º grau entre fevereiro de 1980 e novembro de 1986, e em seguida fui para o Seminário Maior “Divino Mestre”, também em Jacarezinho. Fiz o curso de Filosofia e Teologia entre os anos de 1987 e 1992. Cursei outros complementares: Letras e Filosofia – Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); Marketing e Jornalismo (dois anos e seis meses) – UENP; Direito Civil (dois anos) – UENP; Moral Especial – Ética; Teologia Pastoral, Liturgia, Radiodifusão e Direito Processual Matrimonial (PUC-SP). Fui ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1993 e no ano seguinte fui nomeado Formador e Diretor Espiritual do Seminário Nossa Senhora da Assunção, em Jacarezinho, por dois anos. Na comunicação, fui Diretor Presidente da Fundação “Mater Eclesiae” – Rádio Educadora AM de Jacarezinho, por 11 anos; Diretor Presidente da Fundação Dom Pedro Filipak – Rádio Educadora AM e FM de Wenceslau Braz (PR) e Rádio Educadora AM de Ibaiti (PR), onde atuei por sete anos. Por cinco anos, fui membro da Associação das Emissoras de Rádio do Paraná (AERP). Passei por diversas paróquias da Diocese de Jacarezinho até que, em janeiro de 2014, vim para São Paulo para ser Pároco na Paróquia São Francisco Xavier, na Região Episcopal Santana, Setor Medeiros, também composta pelas Comunidades Nossa

Senhora de Fátima e Nossa Senhora Auxiliadora, onde permaneço até o momento. Na Arquidiocese de São Paulo, ainda fui Coordenador Setorial por quatro anos. Estou na Comissão de Presbíteros da Região Santana; Comissão Regional da Iniciação à Vida Cristã. Também sou membro do Conselho de Presbíteros da Arquidiocese de São Paulo, Juiz Auditor do Tribunal Eclesiástico Arquidiocesano, exercendo minha função na Câmara Eclesiástica da Região Santana; Assessor Espiritual do Setor Medeiros da 2ª etapa do Encontro de Casais com Cristo (ECC) e Assessor Espiritual setorial da Legião de Maria. Como surgiu a vontade de utilizar a música para evangelizar? A música é algo que nasceu ao longo da caminhada vocacional, um presente de Deus na minha vida. Por meio desta arte sacra (música), pude atingir a missão de evangelizar cantando, levando as pessoas a uma oportunidade de meditação e de exaltação do espírito, conduzindo-as a um encontro com a luz e a paz, abrindo o coração para a vida e a ternura do Deus Trinitário. A música religiosa ou evangélica nos brinda sempre com dádivas que alegram o coração, e que cantam a Deus, levando o povo a louvar o Senhor e todas as suas criaturas. Em mais de 40 anos, já compus mais de 280 canções e tenho contado minhas experiências graças à bondade de Deus ao seu povo. Nestes anos todos, tive a alegria de gravar nove

álbuns, no momento, gravando o 10º em gratidão a Deus pelo meu sacerdócio com o título “Sou de Deus”. Como foi a experiência de comunicação em rádio no Paraná? O rádio é uma “magia”, um vício, algo que nos impulsiona à comunicação. É impressionante a missão daquele que vive pela e para a comunicação. O rádio sempre esteve presente na minha vida, sempre fiz do rádio meu “palco” de comunicar Deus aos ouvintes. Dom Fernando Penteado, Bispo Emérito da Diocese de Jacarezinho, sempre dizia: “Aquele que está no rádio tem uma catedral para evangelizar”. O rádio é uma antena de Deus para quem gosta e quer evangelizar. Durante minha vida no rádio, tive vários programas, um deles, o de “Bem com a Vida”, ficou no ar por oito anos e foi um sucesso. Como o senhor avalia o papel dos meios de comunicação, de modo especial do rádio, na missão da Igreja? O papel dos meios de comunicação é comunicar... Acredito que estamos vivendo em saaras áridos e agrestes quando se fala, de modo especial do rádio, na missão da Igreja. Tivemos muitos desafios e conquistas, mas ainda temos um longo caminho a percorrer, e a Igreja está inserida nesta proposta de comunicar o Evangelho, a vida e a paz. Há nove anos o senhor está na Arquidiocese de São Paulo. Como foi agora receber o convite para a direção da rádio 9 de Julho?

Receber o convite para esta missão foi uma surpresa. Surpresa agradável e feliz. Sou grato a Deus por me proporcionar esta oportunidade e a Dom Odilo Scherer, nosso Arcebispo e aos bispos auxiliares pela confiança depositada no meu trabalho. É um grande desafio! Espero corresponder, com a graça de Deus, iluminado pelo Espírito Santo na pessoa de Jesus Cristo, Nosso Senhor, aos apelos e desafios da rádio 9 de Julho, a nossa rádio. Qual a expectativa para o trabalho à frente da rádio 9 de Julho? A expectativa é fazer, com todos os colaboradores e comunicadores, uma rádio mais dinâmica, alegre no processo de evangelização, levando a mensagem de Cristo e da Igreja em todos os cantinhos onde houver um rádio ligado. Quais são os principais desafios que o senhor já identificou neste início de gestão? Os desafios são muitos. Vejo que um deles, o maior: fazer a migração do sistema analógico (AM) para o sistema digital (FM). Penso que seja um desafio de todos nós, comunicadores, ouvintes, bispos, padres e leigos. São Paulo nos diz que “a vitória é para aqueles que são capazes de lutar”. Por isso, vamos à luta sob o olhar e os cuidados de Deus, na proteção de Nossa Senhora e do Apóstolo São Paulo, o comunicador “Ad gentes”. Agradeço de coração o incentivo e apoio de todos nesta grande missão. Deus seja louvado!

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.


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Projeto jesuíta no Brasil e ‘Frente Brazucra’ ajudam quem precisa fugir da guerra Frente Brazucra

Frente Brazucra

SJMR - Brasil

Programa ‘Acolhe Brasil’, iniciado por jesuítas em 2018 para acolher migrantes venezuelanos, amplia ações em favor de ucranianos e afegãos; ‘Frente Brazucra’ auxilia refugiados ucranianos

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O fluxo de refugiados por causa da invasão de tropas russas na Ucrânia é constante. Diante dessa realidade, a Igreja e diversas organizações da sociedade civil têm viabilizado iniciativas efetivas para o atendimento dos migrantes. Aqui no Brasil, por meio do programa “Acolhe Brasil”, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) está mobilizando uma rede nacional de famílias, pessoas, comunidades, grupos e coletivos que tenham interesse e disponibilidade para a acolhida de famílias ucranianas e afegãs. Na Europa, o projeto “Frente Brazucra”, liderado por brasileiros, une forças para tirar brasileiros das áreas de conflito e, também, para acolher refugiados ucranianos nos países como Polônia, Hungria e Bélgica.

SERVIÇO JESUÍTA AOS REFUGIADOS

O programa “Acolhe Brasil” surgiu em 2018 para apoiar a interiorização de migrantes e solicitantes de refúgio venezuelanos. Com o conflito na Ucrânia, a iniciativa avançou para uma nova fase, a fim de favorecer a acolhida de ucranianos, mas também de afegãos no Brasil. O SJMR está presente em Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Manaus

(AM), Boa Vista (RR) e Brasília (DF), onde se localiza o escritório nacional. No mundo, está em mais de 50 países, funcionando como um centro de acolhida e atendimentos gratuitos à população migrante e refugiada. Padre Agnaldo Pereira de Oliveira Júnior, Diretor nacional do SJMR Brasil, destacou que o projeto tem como missão “promover e proteger a dignidade e os direitos de migrantes e refugiados vulneráveis no Brasil, acompanhando seu processo de inclusão e autonomia, incidindo na sociedade e no poder público para que reconheçam a riqueza da diversidade humana”. O SJMR Brasil está procurando e mapeando espaços de acolhida com parceiros e locais em condições dignas para o acolhimento. “O programa ‘Acolhe Brasil – Ucrânia e Afeganistão’ irá oferecer todo o suporte necessário para que essas pessoas migrantes recomecem suas vidas aqui no Brasil. É fundamental que desde o primeiro momento do interesse da acolhida desses refugiados seja planejado um cuidado integral dessas famílias, com a proposta de auxiliá-los na integração socioeconômica e cultural no País”, ressaltou o Sacerdote jesuíta. A acolhida será por até três meses. Aos refugiados, será ofertado um curso de português, e, às famílias ou comunidades, um certificado de “espaço de hospitalidade”. Essa é uma fase do projeto que tem como objetivo manifestar a fraternidade e a acolhida para com os irmãos que sofrem a triste realidade de ter de abandonar tudo para recomeçar a vida em um lugar. “Com o projeto, queremos manifestar uma hospitalidade fraterna, solidária e expressão concreta de que somos uma só família humana”, disse o Sacer-

dote, reverberando os constantes apelos do Papa Francisco de acolher aqueles que sofrem. Padre Agnaldo enfatizou ainda que, aos poucos, algumas famílias e o poder público estão se voluntariando e abrindo portas para a acolhida. “Por exemplo, no Rio Grande do Sul, um senhor disponibilizou uma de suas propriedades para o projeto efetivar o acolhimento”, contou. Interessados em acolher famílias ucranianas e afegãs devem preencher um cadastro por meio do link: https://bit.ly/acolhe_brasil.

REDE DE SOLIDARIEDADE

A brasileira Clara Magalhães Martins, 31, mestra em Direito Internacional e estudante de MBA na cidade de Leipzig, na região leste da Alemanha, criou o grupo “Frente Brazucra”, para ajudar, num primeiro momento, a resgatar brasileiros das áreas atingidas pela guerra. O projeto que une as iniciais dos dois países (Brasil e Ucrânia) começou com um grupo no Telegram para identificar brasileiros que queriam fugir das áreas de conflito e por vários motivos não estavam conseguindo. Numa primeira ação, Clara alugou um carro e foi até a cidade de Medyka, na Polônia. De lá, chegou à Ucrânia para levar mantimentos e fazer o resgate de três brasileiros, uma ucraniana e um nigeriano. Em entrevista ao O SÃO PAULO, a idealizadora da organização sem fins lucrativos ressaltou que quando começou o projeto, nos primeiros dias do ataque da Rússia à Ucrânia, a maioria dos contatos que solicitaram resgate era brasileiros. Mas recebiam, também, pedidos para levar amigos de outras nacionalidades – árabes, portugueses e ucranianos.

A estudante recordou o primeiro resgate. Ela desenhou uma bandeira do Brasil em um pedaço de papelão para identificação. “Coloquei nossa bandeira no carro e entrei na Ucrânia, e consegui resgatar três brasileiros e saí pela fronteira com a Hungria”, disse, ressaltando que o projeto já resgatou mais de cem pessoas. A ação, que surgiu inicialmente como forma de ajudar os brasileiros com transporte e abrigo, ultrapassou nacionalidades. A “Frente Brazucra” atua também com a distribuição de alimentos, cestas básicas, marmitas, remédios e roupas às pessoas que estão na fronteira em busca de refúgio. Com a voluntária, centenas de brasileiros se mobilizam por meio das redes sociais em um grupo que está mapeando a localização de quem ainda se encontra na Ucrânia e precisa de ajuda para sair. “Eu atravessei a fronteira e encontrei grupos de inúmeras nacionalidades sem apoio. Muitas mulheres, crianças, famílias sendo separadas. Mães e pais implorando pra que eu os levasse no carro embora”, conta Clara, reforçando que “muitas pessoas estão oferecendo hospedagem na Polônia, Romênia, Hungria, Eslováquia, Alemanha, entre outros países”. O projeto está mobilizando famílias brasileiras para acolher os refugiados da Ucrânia. “Estamos, nesse primeiro momento, mapeando quem pode acolher e, também, viabilizando o deslocamento dessas pessoas para o Brasil. Para o projeto acontecer, dependemos de doações e da solidariedade de todos”, finalizou. O grupo auxilia em rotas de fuga, abrigos e tudo o mais que puder, na página do Instagram (@frente_brazucra), realiza ‘vaquinhas’ e rifas para obter ajuda financeira para dar continuidade às ações.


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Monitoramento anual mostra melhoria na água do Lago do Parque Ibirapuera Joca Duarte/SVMA

ESTE É APENAS UM DOS DEZ LOCAIS EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA, ENTRE 146 ANALISADOS, ONDE A ÁGUA ESTÁ EM BOA QUALIDADE DANIEL GOMES

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A qualidade da água no Lago do Parque Ibirapuera, na zona Sul de São Paulo, melhorou no último ano, passando de regular para boa. É o que informa o mais recente relatório do programa Observando os Rios, “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, publicado no dia 22 pela Fundação SOS Mata Atlântica. De janeiro a dezembro de 2021, foram feitas 615 análises, em 146 pontos de coleta em 90 rios e corpos d’água em 16 estados onde está o bioma Mata Atlântica, entre os quais São Paulo. Os dados gerais são preocupantes, uma vez que em nenhum dos pontos a qualidade da água chegou ao nível ótimo, em mais de 20% a qualidade é ruim ou péssima, em 72,6% é regular e apenas em 6,9% é boa. Dos dez locais que atingiram este patamar, cinco estão em São Paulo: além do Lago do Parque Ibirapuera, foram encontradas duas boas amostras no Córrego Caiacatinga e uma no Córrego São Luiz, ambos em Itu; e uma no Córrego Paquera, em Ilhabela. A classificação é feita por meio do Índice de Qualidade da Água (IQA), que se baseia em 16 parâmetros de avaliação das águas doces brutas destinadas ao abastecimento público e aos usos múltiplos, como pela indústria ou agricultura. Entre esses parâmetros estão a temperatura da água e do ambiente, turbidez, espumas, odor, nível de oxigênio dissolvido e a presença de lixo flutuante, material sedimentável, peixes, larvas e vermes vermelhos, larvas e vermes escuros e transparentes, coliformes totais, entre outros. Segundo Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, o que explica a boa qualidade da água desses dez rios e córregos foram as intervenções para que parassem de receber esgoto. “Quando o esgoto é conduzido direto para tratamento, melhora significativamente a qualidade da água. Além disso, a manutenção da mata ciliar [cobertura florestal em áreas de nascentes e beiras de rios] e a proteção da margem de rios também ajudam bastante”, afirmou ao O SÃO PAULO.

INTERVENÇÕES

A água do Lago do Parque Ibirapuera provém do Córrego do Sapateiro, que, canalizado, passa por alguns bairros da zona Sul, como o Ibirapuera, Vila Clementino, Vila Mariana e Itaim Bibi. Durante décadas, foi comum o despejo irregular de esgoto no córrego, mas intervenções contra

CUIDAR DA CRIAÇÃO

esta prática, bem como ações para preservar a nascente, passaram a ser feitas como parte do projeto de despoluição do Rio Pinheiros. “No ano passado, houve relatos do aparecimento de peixes em sua foz, no Rio Pinheiros, o que chamou muito a atenção da população paulistana”, consta no relatório. A despoluição do Córrego do Sapateiro é parte do Programa Córrego Limpo, iniciado em 2007 pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), em parceria com a Prefeitura de São Paulo. “Cabe à Sabesp implantar redes coletoras e fazer as conexões de imóveis, impedindo que o esgoto chegue aos cursos d’água. A companhia também monitora a qualidade das águas dos córregos despoluídos e promove ações de conscientização socioambiental nas comunidades do entorno. Já a Prefeitura faz a limpeza do leito e das margens dos córregos, fiscaliza o lançamento irregular de esgoto e faz a manutenção das galerias de águas da chuva, entre outras atribuições. A população tem papel importante na despoluição de rios e córregos ao dar destinação correta ao lixo e conectar os imóveis à rede de esgoto”, informou a Sabesp em nota à reportagem. Desde 2000, a companhia também opera a Estação de Flotação e Remoção de Flutuantes do Ibirapuera. “A estação executa, sempre que necessário, um processo de tratamento da água do córrego antes de chegar ao lago, para a retirada de material poluidor”, detalhou a Sabesp.

ALGUNS AVANÇOS NOS RIOS PINHEIROS E TIETÊ

No relatório do programa Observando os Rios, é mencionado o avanço em um dos lagos monitorados em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, cuja qualidade da água passou de ruim para regular. Veronesi lembra que isso também é

resultado da despoluição do Rio Tietê, iniciada nos anos 1990 e que teve como uma das mais recentes ações a inauguração, em 2020, de um interceptor na margem do Rio Tietê para levar o esgoto de mais de 800 mil pessoas para a Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri. Segundo a Sabesp, desde o começo do Projeto Tietê, em 1992, a coleta e tratamento de esgoto beneficiou 12,4 milhões de pessoas. A cobertura da rede de coleta saltou de 70% para 92%, e a de tratamento de 24% para 83%, além da mancha de poluição no rio ter caído de 500km para 85km de extensão. A companhia informou, ainda, que desde 2019, por meio do programa Novo Rio Pinheiros, 554 mil imóveis foram conectados ao sistema de tratamento de esgoto na Região Metropolitana de São Paulo. No entanto, conforme apontado no relatório do programa Observando os Rios, na capital paulista há alguns trechos do Rio Pinheiros em que a qualidade da água está péssima. A esse respeito, a Sabesp pondera que “os trabalhos ainda estão em andamento, inclusive com a implantação de cinco unidades de recuperação da qualidade da água de córregos (URs), uma tecnologia que vai permitir a intervenção direta em afluentes do Pinheiros que recebem esgotos de áreas de ocupação irregulares mais adensadas, nas quais é inviável a instalação de estrutura de coleta convencional dessa carga poluidora”.

Na encíclica Laudato si’ (LS), o Papa Francisco recorda que ter água potável e limpa é algo indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas, bem como para a boa gestão de questões sanitárias, agrícolas e industriais. Ressalta, também, que “um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por micro-organismos e substâncias químicas” (LS,29). No mesmo documento, o Pontífice enaltece as iniciativas que buscam preservar a Criação, “como o saneamento de alguns rios que foram poluídos durante muitas décadas, a recuperação de florestas nativas, o embelezamento de paisagens com obras de saneamento ambiental, projetos de edifícios de grande valor estético, progressos na produção de energia limpa, na melhoria dos transportes públicos. Estas ações não resolvem os problemas globais, mas confirmam que o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva” (LS,58).

AÇÕES INTEGRADAS

Veronesi ressaltou que a qualidade da água nos rios não será alcançada apenas com as ações de saneamento básico, mas também com cuidados sobre o uso e a ocupação do solo e a proteção à floresta. Atualmente, apenas 12,4% dos maiores fragmentos da Mata Atlântica estão preservados: “A floresta é um grande filtro, uma grande protetora da água, de modo que deve ser protegida, bem como preci-

sa haver a manutenção das matas ciliares, dos topos de morro”. No relatório é lembrado que a Mata Atlântica “é responsável pela manutenção do ciclo hidrológico, do clima e de uma enorme diversidade de espécies, além de ser provedora de serviços e recursos ecossistêmicos essenciais ao equilíbrio da vida de mais de 70% dos brasileiros”.


16 | Reportagem | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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Praedicate Evangelium reorganiza Cúria Romana e a projeta para o futuro Aliona & Pasha/Pexels

FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO NA CIDADE DO VATICANO

Manter a Cúria Romana atualizada, sintonizada com as necessidades dos tempos atuais, não é uma tarefa fácil. A nova constituição apostólica do Papa Francisco, Praedicate Evangelium, publicada em 19 de março, chega com a missão de projetar a Cúria para o futuro. Nas palavras do Cardeal Marcello Semeraro, que apresentou o documento no dia 21, a reforma tão esperada desde o início do pontificado de Francisco, em 2013, atende à necessidade de “reorganizá-la de modo novo e conforme as necessidades dos tempos, dos países e dos ritos”, como já pedia o Concílio Vaticano II.

NO PASSO DA HISTÓRIA

A Cúria Romana nada mais é do que o conjunto de organismos ao redor do Sumo Pontífice – o Papa –, aos quais ele recorre para governar toda a Igreja. Antes do século XI, a Cúria simplesmente não existia, até porque o Papa raramente intervinha nas igrejas locais, concentrando-se na Igreja de Roma, da qual é Bispo. Inicialmente, a Cúria era feita de colaboradores individuais, mas depois ela ganha estrutura, cresce e se torna um mecanismo de governo de toda a Igreja universal. Além disso, por muito tempo o Papa também foi o soberano do Estado Pontifício, que ocupava boa parte do território da Itália. Entretanto, com todas as mudanças históricas na Igreja, seja em virtude do cisma entre Oriente e Ocidente, seja na abertura de novas fronteiras de missão, como as Américas e a Ásia, seja após a Reforma Protestante, a Cúria Romana teve que se adaptar. Os Papas também mudaram, passando cada vez mais a representar um poder central e de natureza religiosa, mais do que política. Com os novos meios de comunicação, aumenta a visibilidade global do Papa e, consequentemente, a devoção à figura do Sucessor de Pedro. Hoje, na Cúria também estão reunidos os organismos de caridade e de diplomacia do Papa. Dali partem orientações para toda a Igreja, sem as quais falharia em coordenação e unidade. Como diz o Código de Direito Canônico, por meio da Cúria Romana “o Sumo Pontífice costuma dar execução aos assuntos da Igreja universal, e que desempenha o seu múnus em nome e por autoridade dele para o bem e serviço das Igrejas”. Até chegar na estrutura atual, a Cúria precisou caminhar conforme cada tempo histórico, passando por algumas reformas. A mais recente, no pontificado de São João Paulo II, que publicou a constituição apostólica Pastor Bonus, de 1988, vigente até hoje. Antes, foram apenas outras três. Praedicate Evangelium se insere, portanto, nesse passo histórico.

Papa Francisco: A Igreja, incluindo a Cúria Romana, deve refletir no mundo a luz – Jesus Cristo – que orienta o nosso caminho no tempo

CONVERSÃO MISSIONÁRIA

Na introdução da Praedicate, o Papa Francisco fala da necessidade de “renovar a Igreja segundo a imagem da missão de amor própria de Cristo”. A Igreja, incluindo a Cúria Romana, deve refletir no mundo “a luz que orienta o nosso caminho no tempo”, e esta luz, diz ele, é Cristo. Por isso, embora seja um documento de governo, a constituição aparece em um contexto de “missionariedade”. De acordo com o Cardeal Semeraro, “as mudanças estruturais devem ser o fruto de uma escolha pastoral, e isso vale, obviamente, também para a Cúria Romana”. Ele afirma que esse espírito missionário, ou seja, voltado para fora, e não para dentro, é uma escolha intencional de Francisco desde o princípio do pontificado, e que fica clara no título da constituição: “Preguem o Evangelho”. “O anúncio do Evangelho e o espírito missionário serão a perspectiva que caracteriza a atividade de toda a Cúria”, recordou o Cardeal, que é Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Falando de uma “saudável descentralização”, ele citou Francisco ao dizer que “o Sucessor de Pedro é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, seja dos bispos, seja da multidão dos fiéis”. Desse modo, “a Cúria Romana não é somente um instrumento a serviço do Romano Pontífice, mas também um instrumento de serviço para as Igrejas particulares”. Por esse motivo, a reforma contida na Praedicate tende a dar mais voz às igrejas e bispos locais, principalmente por meio das conferências episcopais, remetendo aos princípios da Igreja. Como escreveu o Papa Francisco em Evangelii gaudium, em 2013, “não é oportuno que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que se manifestam em seus territórios”.

EVANGELIZAÇÃO, FÉ E CARIDADE

As mudanças que ele apresenta, portanto, servem a esse princípio. Evidência disso é a criação de um Dicastério para a Evangelização, que unifica outros dois, a Congregação para a Evangelização dos Povos e o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Dentro do novo Dicastério, uma seção vai se dedicar às igrejas “jovens”, que estão principalmente em territórios onde a Igreja não é autossuficiente, como na África e na Ásia, e outra seção aos lugares em que a Igreja está presente há séculos, mas perde vigor, como na Europa, por exemplo. Ao lado desse Dicastério aparecem, na Praedicate, outros dois: o Dicastério para a Doutrina da Fé e o Dicastério para o Serviço da Caridade. Na visão do secretário do Conselho dos Cardeais, Dom Marco Mellino, esses três dicastérios, juntos, “formam um todo unitário na ação missionária”, pois representam a Evangelização, a Fé e a Caridade. Assim, o Dicastério para a Doutrina da Fé (antes Congregação) mantém o dever de “tutelar a integridade da doutrina católica sobre a fé e a moral”, mas sem abandonar a tarefa de “ajudar o Romano Pontífice e os bispos no anúncio do Evangelho em todo o mundo”. Já o Dicastério para o Serviço da Caridade, hoje conhecido como Esmolaria Apostólica, cresce em importância e “toda concreta, com sua atividade, a solicitude e proximidade do Romano Pontífice, Pastor da Igreja universal, junto àqueles que vivem em situação e indigência, de marginalidade ou de pobreza, como também em situações de grave calamidade”, diz a Praedicate. Todos os dicastérios passam a ter igual peso “jurídico” entre si, respondendo diretamente ao Papa e sem diferencia-

ção entre “Congregações” e “Conselhos”, como era antes. Num espírito de “sinodalidade dicasterial”, diz Dom Mellino, a Secretaria de Estado do Vaticano, que antes tinha um poder de supervisão sobre os outros dicastérios, passa a funcionar como uma “secretaria papal voltada à realização da unidade e da interdependência entre eles, favorecendo a coordenação sem prejuízo da autonomia de cada um”.

PROFISSIONALISMO E SERVIÇO

“Um aspecto inovador da constituição é o papel dos leigos dentro da Cúria Romana”, notou o canonista Padre Gianfranco Ghirlanda, durante a apresentação da Praedicate. A partir da entrada em vigor do novo texto, em 5 de junho, quase todos os cargos podem ser ocupados por fiéis leigos batizados. O Direito Canônico, diz ele, “reconhece que, por força do Batismo de todos os fiéis, vige uma verdadeira igualdade na dignidade e no agir pela qual todos são chamados a cooperar à edificação do corpo de Cristo”. Mais do que isso, todos têm a responsabilidade “de atuação na missão que Cristo confiou à Igreja”. A forma como os diferentes dons se apresentam “são complementares entre elas”, declarou. Esse aspecto deverá permitir que mais homens e mulheres profissionais possam assumir mais cargos de liderança na Cúria. Além disso, passa a vigorar um mandato de cinco anos para religiosos e sacerdotes: após esse período, via de regra, devem retornar às dioceses ou institutos de origem. Embora o mandato possa ser renovado, segundo o Padre Ghirlanda, isso deixa claro que “as nomeações não sejam ditadas por critérios de avanço de carreira ou trocas de favor, mas por critérios de serviço”.


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| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Reportagem | 17

Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) elege novo presidente Luciney Martins/O SÃO PAULO - dez.21

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) realizou sua assembleia ordinária nos dias 26 e 27, em São Paulo. No início do evento, que também contou com a participação de membros na modalidade on-line, o Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, apresentou sua renúncia ao cargo de Presidente do organismo criado em junho de 2020, com a missão de promover a ação pastoral e evangelizadora da Igreja na região amazônica. Dom Cláudio explicou que sua decisão foi motivada pela “impossibilidade de mobilizar-me para participar in persona de reuniões de instituições eclesiásticas, como conferências episcopais, e outras reuniões de instituições civis”. O Cardeal de 87 anos passa por tratamento de saúde em sua residência, na capital paulista e, por isso, participou da assembleia remotamente. Diante da renúncia de Dom Cláudio, os demais membros do Comitê Executivo da Ceama também colocaram seus cargos à disposição e, no domingo, 27, houve a eleição dos novos dirigentes da entidade. O Cardeal Pedro Barreto, Arcebispo de Huancayo (Peru) e atual Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), foi eleito Presidente. Dom Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus, foi eleito 1º Vice-Presidente, e o leigo equatoriano Mauricio López, coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), 2º Vice-Presidente. Dom Eugenio Coter, Bispo de Pando (Bolívia), foi ratificado como representante dos bispos das dioceses amazônicas na presidência do organismo.

Cardeal Cláudio Hummes apresenta renúncia ao cargo e é sucedido pelo Cardeal Pedro Barreto

FRUTO DO SÍNODO

A Ceama é fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, realizada em 2019, no Vaticano. Na ocasião, foi proposta a criação de um organismo “permanente e representativo para promover a sinodalidade na região amazônica”, que tem uma extensão de 7,8 milhões de km2, incluindo áreas no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A missão da Ceama também se pauta nos quatro “sonhos” – social, cultural, ecológico e eclesial –, expressos pelo Papa

Francisco, na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazonia (2020).

CONTINUAR O CAMINHO

Em seu último discurso como Presidente da Ceama – lido por Dom Neri José Tondello, Bispo da Diocese de Juína (MT) –, Dom Cláudio reforçou seu convite ao organismo para ser “um espaço no qual o Espírito Santo nos permita ter a parresia e a abertura para continuar a encontrar os novos caminhos necessários para que a nossa Ceama possa responder com força à realidade que hoje nos desafia”. O Arcebispo Emérito de São Paulo

Uma década a serviço da Igreja na Amazônia Dom Cláudio deixa o cargo de Presidente da Ceama após mais de dez anos se dedicando pessoalmente à Igreja na Amazônia Em 2011, após se tornar Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, no Vaticano, e retornar a São Paulo, o Cardeal Cláudio Hummes foi convidado a presidir a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na ocasião, ele revelou ao O SÃO PAULO que ser missionário na Amazônia era um sonho cultivado em sua juventude como frade franciscano, mas Deus e a Igreja o chamaram para outras missões. Foi a partir do trabalho em nome da CNBB que o Arcebispo Emérito conheceu de perto a realidade amazônica. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro Presidente. Em seguida, foi Relator-geral do Sínodo para a Amazônia e, de julho de 2020 a março de 2022, presi-

diu a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).

GRATIDÃO

A assembleia da Ceama também foi marcada pelas manifestações de gratidão a Dom Cláudio pelo trabalho realizado na entidade, assim como sua dedicação pessoal à Igreja na Amazônia na última década. O Presidente eleito, Cardeal Pedro Barreto, sublinhou o papel do Purpurado brasileiro para a consolidação da Repam e da Ceama. “A força do Espírito Santo nos encoraja a continuar neste caminho, com uma estratégia de encarnação no território amazônico na complementaridade entre a Ceama e a Repam nesta tarefa.” O Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), Dom Miguel Cabrejos, também presente na assembleia, afirmou que Dom Cláudio é e continuará sendo profético para a Igreja com seu testemunho de “riqueza humana

enfatizou que a confirmação canônica de criação da Ceama, assinada pelo Papa em dezembro de 2021, “é um fato que nos encoraja a melhorar, a crescer e a partilhar esta peregrinação que a nossa amada Amazônia exige, anseia e necessita”. O Cardeal enfatizou a necessidade da atualização dos estatutos da entidade, para corresponder com maior eficácia aos desafios da evangelização na Amazônia. “Esses desafios implicam um tempo e um esforço que, dadas as minhas atuais condições de saúde, não estou em condições de enfrentar, de modo a assegurar que o que vemos claramente no horizonte possa ser realizado com toda a força necessária”, manifestou Dom Cláudio. Por fim, recordando do momento de oração pelo fim da pandemia conduzido pelo Papa Francisco, há exatos dois anos, na Praça São Pedro vazia, o Cardeal Hummes afirmou: “No meio das águas agitadas, continuamos a construir os nossos sonhos amazônicos com a confiança de que é o Senhor da vida que nos conduz, nos chama à calma e nos convida a confiar num futuro em que nos encontramos numa verdadeira fraternidade universal, como sonhava o Santo de Assis”.

e espiritual”. E completou: “Por isso, pedimos a ele que continue nos apoiando com sua experiência e entusiasmo”. A Presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos (Clar), Irmã Liliana Franco, definiu o Cardeal Hummes como pastor, irmão e a “memória” viva que recorda a todos o que é fundamental na missão da Igreja na Amazônia. Dom Leonardo Steiner, eleito 1º Vice-Presidente da Ceama, destacou o papel de Dom Cláudio ao apresentar a realidade amazônica para o episcopado brasileiro. “Ele ajudou nossos bispos a perceberem a importância da Amazônia para a Igreja, sua ação missionária e, sobretudo, a necessidade do cuidado dos povos indígenas”, acentuou o Arcebispo de Manaus (AM), informando que o Cardeal Hummes também renunciou à presidência da Comissão Episcopal para a Amazônia, cargo que exercia já no terceiro mandato. (FG)

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Migrantes, novas diretrizes da Santa Sé para uma pastoral intercultural https://cutt.ly/BDWnmIr Dom Odilo: ‘Deus é o pai misericordioso que está de braços abertos a nos esperar’ https://cutt.ly/DDWn8It CNBB organizará debate com candidatos à Presidência da República https://cutt.ly/NDWmMWY Enchentes prolongadas e deslocamentos devem aumentar no Sudão do Sul https://cutt.ly/PDWYIws 45% da população da Ucrânia está preocupada com a falta de alimentos https://cutt.ly/DDWQaCa Senado realiza uma sessão especial on-line para comemorar a CF 2022 https://cutt.ly/sDWmYkV


18 | Fé e Vida /Pelo Mundo | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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Liturgia e Vida

Europa

5º DOMINGO DA QUARESMA 3 DE ABRIL DE 2022

Nas fronteiras e estações de trem da Europa, ucranianas encaram a ameaça do tráfico humano

‘Não relembreis coisas passadas’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Recordar-nos de onde viemos, dos antepassados, dos favores de Deus e inclusive de nossos pecados é necessário para que sejamos humildes e gratos. Quando há crise e dúvidas, olhar para trás é a atitude que nos permite recordar a origem divina da nossa fé e vocação, até que a tormenta passe. Por isso, Jesus aconselha: “Abandonaste o primeiro amor! Recorda-te de onde caíste, converte-te e age como no início” (Ap 2,4-5). A Bíblia contém um contínuo “olhar para o passado” que reforça a esperança: para os Patriarcas, Moisés, Davi, os Profetas; para a Morte e Ressurreição de Cristo. A confiança em Deus se alimenta da contemplação das obras e promessas que Ele fez a nós e a “nossos pais”. Ao olhar para o passado à luz da fé, amadurecemos, arrependemo-nos, agradecemos e confiamos mais, vendo que Deus sempre governou tudo. Porém, um olhar sem fé para o passado comporta riscos imensos! Neste caso, pensa-se não no Senhor, mas no que se julga ter “perdido”. Alguns têm nostalgia de uma vida de pecado. Outros sonham voltar a uma adolescência irresponsável. Outros lamentam ter deixado uma carreira; um relacionamento; uma chance de enriquecer… Outros não confiam no perdão e na ajuda do Senhor, pensando estar presos aos pecados de outrora. Não à toa, Jesus diz: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino dos Céus” (Lc 9,62). “Ai se não tivesse acontecido aquilo!”; “Ai se eu tivesse agido de outro modo!”; “Ai se minha família, meu trabalho, meu país fossem outros”!… Para quem pensa assim, o tempo se torna um obstáculo intransponível. O coração se ressente, apegado a ofensas e erros passados. Culpa e remorso acusam: “Jamais serei quem deveria ter sido!” Em vez de motivo de agradecimento a Deus, a história pessoal passa a ser vista como um inimigo que persegue e retira a possibilidade de felicidade. Então, experimenta-se na alma um “inferno” – lugar de remorso e lamentação –, já aqui na terra. Por isso, o Senhor diz: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo” (Is 43,18s). São Paulo, que abandonou uma vida promissora no judaísmo para ser acorrentado e morto por amor a Cristo, declara: “Considero tudo como perda, considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fl 3,8). A sua atitude era esta: “Esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus” (Fl 3,13s). É isso que Jesus faz com a adúltera do Evangelho e também conosco por meio do sacramento da Confissão: “Eu também não te condeno. Podes ir e de agora em diante, não peques mais” (Jo 8,11). Manda-nos olhar para o presente e para a meta que é o Céu! Hoje mesmo Ele faz novas todas as coisas! Perdoa-nos, sana-nos, eleva-nos, embeleza-nos e transforma a nossa vida pecadora e imperfeita em uma “História Santa”.

Arquivo pessoal

JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

O êxodo de mulheres e crianças ucranianas se tornou uma grande oportunidade para ações escusas que envolvem o tráfico humano. O alerta foi feito por clérigos católicos, que estão tomando as medidas necessárias para proteger os refugiados. Até mesmo o Papa Francisco destacou a situação em um tuíte recente: “Pensemos nessas mulheres e crianças que, com o tempo, sem trabalho, separadas de seus maridos, serão procuradas pelos ‘abutres’ da sociedade. Por favor, vamos protegê-las”. Na Alemanha, a Polícia vem alertando há semanas que todas as pessoas devem estar vigilantes nas áreas de acolhida de refugiados.

MUNIQUE E BERLIM

Na principal estação de trem tanto

de Munique quanto de Berlim, centenas de refugiados ucranianos se misturam diariamente aos trabalhadores humanitários, voluntários e cidadãos comuns que os recebem. De acordo com vários relatos, entre esses “ajudantes” há um número crescente de homens que querem forçar as mulheres à prostituição. “Aqui na estação principal, muito está sendo feito: há um centro de aconselhamento especializado, com funcionamento 24 horas por dia”, disse Bettina Spahn, líder da missão católica da estação ferroviária em Munique. “Estamos no local 24 horas por dia; a Cáritas está aqui 24 horas por dia. A Polícia está no local. É indicado publicamente em panfletos multilíngues que as mulheres devem ter cuidado. Não é um fenômeno de massa, mas já vivemos casos isolados de tentativa de tráfico de pessoas e podemos ajudar a

preveni-lo. Estou confiante de que temos esse problema sob controle aqui, mas ele existe”, concluiu. Em Berlim, cidade alemã que fica a apenas 80 quilômetros da fronteira polonesa, homens mais velhos foram vistos abordando mulheres ucranianas de um determinado biotipo e faixa etária e, em certas circunstâncias, também lhes ofereceram dinheiro.

EUROPA

Os governos da Alemanha, Áustria, Eslováquia, França e Romênia relataram que uma das medidas que adotaram foi o monitoramento de buscas on-line depois que um aumento foi observado na procura por mulheres ucranianas por sexo e casamento. Também distribuíram folhetos traduzidos para o ucraniano para informar as pessoas sobre seus direitos e opções. Fonte: Catholic News Service

Ucrânia propõe adotar neutralidade, e Rússia diz que vai ‘reduzir radicalmente’ ataques a Kiev As tropas russas vão recuar e reduzir ataques às cidades ucranianas no norte do país, segundo anunciou na terça-feira, 29, o vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin. “No sentido de fortalecer a confiança mútua e criar condições necessárias para negociações futuras e alcançar o objetivo final de assinar um acordo, tomamos a decisão de reduzir radicalmente e por uma ampla margem as atividades militares nas direções de Kiev e Chernihiv”, declarou Fomin. Por sua vez, os negociadores ucranianos afirmaram que “as conversas que acontecem agora focam questões importantes. Uma delas se refere às

garantias internacionais de segurança para a Ucrânia e a segunda é o cessar-fogo para que possamos resolver problemas humanitários que se acumularam no país”, disse o conselheiro político do governo da Ucrânia Mykhailo Podolyak. “Com esse acordo seremos capazes de dar um fim à guerra”.

TENTATIVAS DE ACORDO

Reunidas em Istambul, na Turquia, as delegações dos dois países debateram os principais pontos impostos pelos ucranianos: garantias de segurança e a organização de um cessar-fogo por questões humanitárias. No encontro, a Ucrânia propôs

adotar a neutralidade, segundo informaram membros da delegação na saída da reunião. O status neutro significa que o país não pode fazer parte de alianças militares, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), nem hospedar bases militares em seu território. Em troca, Kiev pediu garantias de segurança, disseram negociadores ucranianos. O negociador russo, Vladimir Medinsky, reforçou que essa redução nos ataques não implicará um cessar-fogo. Mesmo assim, espera que os envolvidos cheguem a um acordo e possam produzir uma declaração conjunta em breve.


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| 30 de março a 5 de abril de 2022 | Papa Francisco | 19

A súplica do Papa a Nossa Senhora: ‘Que cesse esta guerra cruel e insensata’ DANIEL GOMES

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Quase dois anos depois do histórico momento Statio Orbis, em que, sozinho e debaixo de chuva, no adro da Basílica de São Pedro, em 27 de março de 2020, o Papa Francisco invocou a Deus a cura para o mundo diante do avanço do coronavírus, o Pontífice voltou a rezar pelo fim das tribulações mundiais, especialmente decorrentes do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Na Basílica de São Pedro, na sexta-feira, 25, na Solenidade da Anunciação do Senhor, o Santo Padre presidiu a Celebração da Penitência com o Ato de Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria.

Francisco destacou que, para a tão sonhada mudança no mundo, a primeira coisa a ser feita é que cada pessoa mude o próprio coração: “Para o conseguirmos, deixemos hoje que Nossa Senhora nos leve pela mão. Olhemos para o seu Imaculado Coração, onde Deus descansou, para o único Coração de criatura humana sem sombras”. “Em união com os Bispos e os fiéis do mundo inteiro, desejo solenemente levar ao Imaculado Coração de Maria tudo o que estamos vivendo: renovar-Lhe a consagração da Igreja e da humanidade inteira e consagrar-Lhe de modo particular o povo ucraniano e o povo russo, que, com afeto filial, a veneram como Mãe. Não se trata de uma fórmula mágica, mas de um ato

espiritual. É o gesto da entrega plena dos filhos que, na tribulação desta guerra cruel e insensata que ameaça o mundo, recorrem à Mãe, lançando no seu Coração medo e sofrimento, entregando-se a si mesmos”, prosseguiu o Papa na homilia. Ao final da liturgia penitencial, Francisco realizou o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria: “Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz”, disse o Papa, em um dos trechos da oração de consagração.

Papa recebe em audiência indígenas canadenses Na manhã da segunda-feira, 28, o Papa Francisco recebeu, em duas audiências, representantes indígenas canadenses das etnias Métis e Inuit. Durante o Angelus de 6 de junho de 2020, o Papa externou sua consternação com a descoberta de uma vala comum na Escola Residencial Indígena Kamloops, com mais de 200 restos mortais de nativos canadenses, que teriam sido assassinados de 1880 até as últimas décadas do século XX, quando instituições financiadas pelo governo e administradas majoritariamente por organizações cristãs atuavam para educar e converter os indígenas jovens e assimilá-los na sociedade local, por meio de abusos sistemáticos. Desde a descoberta, o episcopado canadense iniciou uma série de projetos em favor das comunidades indígenas, além

Vatican Media

de se desculpar pelo ocorrido. O encontro dos representantes das etnias com o Papa selou o processo de perdão e reconciliação. “Quando convidamos o Papa Francisco para se unir a nós, ele nos

respondeu em sua língua e repetiu ‘verdade, justiça, cura e reconciliação’. Tomamos isso como um compromisso pessoal”, declarou Cassidy Caron, presidente dos Métis. (DG) Fonte: Vatican Media

Publicada a instrução sobre a identidade da escola católica Na terça-feira, 29, a Congregação para a Educação Católica publicou a instrução “A identidade da escola católica para uma cultura do diálogo”. A instrução é baseada em duas motivações: a necessidade de uma consciência mais clara e consistente da identidade católica das instituições educacionais da Igreja; e a prevenção de conflitos e divisões no setor da educação. A maior ênfase é que a Igreja é “mãe e mestra”, assim, sua ação educacional não é “uma obra filantrópica”, mas parte essencial de sua missão, baseada em certos princípios: o direito universal à formação; a responsabilidade de todos – em primeiro lugar dos pais, que têm o direito de fazer escolhas educacionais para seus filhos em completa liberdade e de acordo com sua consciência, e depois do Estado, que tem o dever de tornar possíveis diferentes opções educacionais no âmbito da lei –; o dever de educar, precípuo da Igreja, no qual a evangelização e a promoção humana integral estão entrelaçadas; a formação inicial e permanente dos professores, para que possam ser testemunhas de Cristo; a colaboração entre pais e professores e entre escolas católicas e não católicas; o conceito de escola católica como uma “comunidade” permeada pelo espírito evangélico de liberdade e caridade, que forma e abre à solidariedade. O documento também faz um chamado à tarefa de educar para a “cultura do cuidado”; para a necessidade de diálogo constante das instituições educacionais católicas com a comunidade em que está; e para que haja clareza quanto às competências e legislações a fim de que o Estado não imponha às escolas católicas comportamentos que estejam em oposição à liberdade religiosa e sua identidade. (DG) Fonte: Vatican News


20 | Geral | 30 de março a 5 de abril de 2022 |

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‘Que aquela que esmagou a cabeça da serpente enganadora toque o coração e a consciência de quem deve decidir pelo fim da guerra’ Luciney martins/O SÃO PAULO

AFIRMOU O CARDEAL SCHERER, NA MISSA PELA PAZ CELEBRADA NA CATEDRAL DA SÉ, EM COMUNHÃO COM O ATO DE CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA E DA UCRÂNIA AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Pontualmente ao meio-dia, da sexta-feira, 25, o som dos sinos da Catedral Metropolitana de São Paulo ecoou pelo centro da capital paulista, assim como os sinos de diversas igrejas da cidade. Dessa vez, além de recordar o anúncio do anjo à Virgem Maria, manifestavam o pedido pela paz, especialmente na Ucrânia. Logo em seguida, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu a missa da solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor e pela paz no país do leste europeu, que há um mês sofre com a ofensiva armada russa. Essa celebração aconteceu em unidade com iniciativas realizadas em todo o mundo, a pedido do Papa Francisco, que na mesma data, na Basílica de São Pedro, presidiu uma celebração penitencial na qual pediu o fim da guerra e consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Participaram da missa na Sé representantes da comunidade católica ucraniana na cidade, entre os quais o cônsul honorário da Ucrânia, Jorge Rybka. Também estiveram representantes diplomáticos de outros países, como Alemanha e Polônia, além de autoridades civis. Entre os sacerdotes concelebrantes, estavam dois da Paróquia Católica de Rito Ucraniano Imaculada Conceição, os Padres Josafat Vozivoda e Estefano Elton Wonsik. Durante a missa, foram entoados cantos e invocações tradicionais da liturgia ucraniana bizantina, assim como o Evangelho foi proclamado em ucraniano e português.

‘NADA SE GANHA COM A GUERRA’

Na homilia, Dom Odilo

outro o propósito de quem crê em Deus. Que os povos todos vivam em paz, justiça e fraternidade”, disse. Recordando que os cristãos invocam Nossa Senhora como Rainha da Paz, o Arcebispo pediu: “Que aquela que esmagou a cabeça da serpente enganadora toque o coração e a consciência de quem deve decidir pelo fim da guerra”. Por fim, Dom Odilo exortou que as sextas-feiras da Quaresma, dias dedicados à oração e à penitência pela conversão dos pecadores, sejam marcadas pela oração e penitência “em favor da conversão dos violentos e opressores do próximo”, além do firme repúdio à guerra. “Manifestamos também nosso apoio e solidariedade ao povo ucraniano, em seu sofrimento e angústia, sem esquecer os outros povos que sofrem os efeitos de guerras ainda em andamento em vários países”, completou o Cardeal, invocando a proteção de Nossa Senhora pela paz da humanidade.

SOFRIMENTO

Dom Odilo realiza o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria

enfatizou que a humanidade vive algo inimaginável em pleno século XXI. “A virada do milênio parecia trazer uma era de paz para a humanidade, uma era de reconciliação. Mas não foi o que aconteceu. Os muitos apelos de perdão, reconciliação, purificação da memória… vemos que não aconteceram. Continuamos em guerra”, disse, recordando os vários conflitos ocorridos desde o início do século. “Como tinha razão o Papa Paulo VI, ao falar, com voz embargada, no plenário da ONU, no fim dos anos 1960: ‘Nada se ganha com a guerra. Tudo se pode perder com a guerra’. O resultado das guerras sempre será destruição, dor, sofrimento e morte, sobretudo, para os civis e as populações indefesas. Cada guerra deixa um saldo pesado de mortos e ódio, que pode perdurar por muito tempo”, acrescentou o Cardeal Scherer. O Purpurado acentuou que, apesar dos esforços diplomáticos, não foi possível deter o avanço das armas. “Poderia ter havido uma solução diversa para as pendências que levaram a decidir pela guerra? Certamente. O diálogo e uma arbitragem honesta, aceita pelas partes, poderiam solucionar tantas questões mal resolvidas entre os povos e países”, enfatizou Dom Odilo, salientando que o

recurso à força bruta é sempre uma derrota para a racionalidade, um retrocesso para a humanidade.

CONFLITO ENTRE IRMÃOS

“Em mais de uma ocasião, o Papa Francisco levantou a voz e denunciou: ‘Esta guerra é insensata’, ‘uma loucura’, ‘em nome de Deus, parem com a guerra!’… E o Pontífice recordou serem dois países com base cristã… É irmão agredindo irmão de novo. Caim segue matando Abel”, continuou o Arcebispo, que indagou: “Quais motivos razoáveis poderiam justificar essa loucura?”. Dom Odilo também destacou que, nessa data, os cristãos celebram a anunciação do anjo a Maria de que ela seria a Mãe do Salvador, o Príncipe da Paz. “O Filho de Deus entrou em nossa história e se fez um de nós para reunir, na família de irmãos, a humanidade dispersa em lutas e guerras. A humanidade ainda não aprendeu a lição e não acolheu esta mensagem”, afirmou.

RAINHA DA PAZ

O Cardeal Scherer frisou que a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria significa que ambos os países devem viver como povos irmãos e em paz. “Não pode ser

Emocionado, o cônsul honorário da Ucrânia agradeceu a manifestação de solidariedade e fraternidade da Igreja em São Paulo pela comunidade ucraniana. “É um momento muito difícil que a Ucrânia vem passando. Mas é só pela fé em Cristo e em Maria que haverá solução. Os homens precisam ser iluminados, e temos certeza de que Maria mostrará o caminho, como sempre fez em nossas vidas”, disse Jorge Rybka. “Vidas estão sendo ceifadas. Inocentes desarmados estão perdendo suas vidas”, manifestou o cônsul, enfatizando seu apelo pela ajuda da comunidade internacional. “Estamos em uma fase de ajuda humanitária na Ucrânia e fora dela”, acrescentou, concluindo: “Rogo a Deus por todos nós e que a paz venha o mais rápido possível”.

CONSAGRAÇÃO

No fim da missa, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, o Cardeal Scherer realizou o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, segundo o mesmo texto proferido pelo Papa Francisco em Roma, em união com bispos e sacerdotes do mundo inteiro. “Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo”, diz um trecho do texto.


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