O São Paulo - 3386

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Ano 67 | Edição 3386 | 9 a 15 de março de 2022

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em assembleia de pastoral, Arquidiocese se prepara para a retomada do caminho sinodal Na manhã do sábado, 5, representantes do clero, pastorais, movimentos e demais organizações da Igreja em São Paulo se reuniram com o Cardeal Odilo Pedro Scherer e os bispos auxiliares para a Assembleia Arquidiocesana de Pastoral.

Editorial Pela prática da oração, busquemos abrir os ouvidos do coração a Deus Página 4

Encontro com o Pastor Uma renovada tomada de consciência do caminho do sínodo e seus objetivos Página 2

O encontro, realizado no salão da Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé, teve como principal objetivo avaliar a ação pastoral da Igreja em São Paulo, com destaque para a retomada do sínodo arquidiocesano e a participação no caminho sinodal universal convocado pelo Papa Francisco.

O Arcebispo de São Paulo explicou que esse processo visa a aprofundar a reflexão sobre a natureza da própria Igreja, que tem como qualidades essenciais a comunhão, a participação e a missão. Página 20

Em meio à guerra, ucranianos se apoiam na fé e na solidariedade “Na Ucrânia, correm rios de sangue e de lágrimas”, lamentou o Papa Francisco na oração do Angelus, no domingo, 6, durante a qual também pediu que cessassem os ataques armados e agradeceu a todos que têm acolhido os refugiados em diferentes partes do mundo. O SÃO PAULO

conversa com um brasileiro que junto com a esposa, grávida de 7 meses, precisou deixar o país. Além disso, Philipp Ozores, secretário-geral da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) fala da campanha lançada em favor da Igreja na Ucrânia.

Conheça os novos bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo Página 10 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Páginas 15, 16 e 18 Arquivo pessoal

Espiritualidade

Monsenhor Cícero Alves de França

Somos chamados a escutar e praticar sua Palavra, que é de vida eterna

Arquidiocese de São José dos Campos

Página 5

Liturgia e Vida ‘Não deixemos para depois! Todos os dias, o Senhor nos aguarda’ Página 19

Padre Lucas Perozzi Jorge, brasileiro, acolhe refugiados em paróquia em Kiev, na Ucrânia

Monsenhor Rogério Augusto das Neves


2 | Encontro com o Pastor | 9 a 15 de março de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

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m 2017, iniciamos o 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo, como um “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” de nossa Igreja paulistana. As motivações eram muitas, mas, sobretudo, queríamos nos colocar à escuta do Espírito Santo, para ouvir o que Ele diz à Igreja em nossos dias: “Quem tem ouvidos, escute o que o Espírito diz às Igrejas” (cf. Ap 2-3). Ele é o animador da Igreja (“alma da Igreja”), seu guia, sua luz, sua força, aquele que a renova e dá vitalidade e fruto à sua ação. O Espírito Santo fala pela palavra de Deus e da Igreja, pela voz das circunstâncias e pelos “sinais dos tempos”. Poderíamos alongar-nos na enumeração desses sinais, que apontam para a necessidade de uma renovação da vida da Igreja em nossa Arquidiocese. Tomo apenas uma palavra do Documento de Aparecida (2008): a Igreja na América Latina não pode se contentar com uma ação de mera conservação daquilo que já alcançou no passado: ela precisa confrontar-se com as situações atuais, que requerem uma verdadeira conversão pastoral e uma evangelização decididamente mis-

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O sínodo arquidiocesano continua sionária. O Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), passa para a Igreja do mundo inteiro essas e outras intuições da Conferência de Aparecida. Os sínodos diocesanos são iniciativas já consagradas na Igreja ao longo dos séculos e fazem uma grande avaliação da vida e ação evangelizadora e pastoral da Igreja local, na busca da renovação e dinamização da vida e ação eclesial. Em 2017, fizemos um ano de oração e preparação para o sínodo. Em 2018, realizamos a primeira etapa do sínodo, focada nas comunidades eclesiais das paróquias e suas organizações pastorais. Nesse mesmo ano, foi feito um levantamento nas paróquias sobre os dados objetivos que refletem a sua vida e ação pastoral. No mesmo ano, também foi feita uma importante pesquisa de campo sobre a situação religiosa e pastoral em toda a arquidiocese de São Paulo. A pesquisa teve mais de 21 mil questionários respondidos, de 111 perguntas cada um. Mais de 15 mil questionários foram respondidos por católicos e, um pouco mais de 5 mil, por entrevistados não católicos. A pesquisa foi organizada e realizada sob a orientação de especialistas em estudos sociais da PUC-SP, e recolheu uma quantidade enorme de dados de grande importância e interesse para o sínodo. Em 2019, na segunda etapa do sínodo, as regiões episcopais, a partir das con-

tribuições enviadas pelas paróquias no trabalho da etapa anterior, fizeram sua avaliação e reflexão sobre a vida e a ação pastoral em âmbito de regiões e vicariatos episcopais. Ao mesmo tempo, já se fez um primeiro discernimento sobre os dados levantados pela pesquisa de campo e pelo levantamento paroquial. Esses dados envolvem amplamente a vida e a ação pastoral da Arquidiocese e são muito reveladores, merecendo uma atenta avaliação e análise. Em 2020, estava programada a assembleia sinodal arquidiocesana, o momento maior do trabalho sinodal. Na assembleia, participam delegados e representantes de todas as instituições e organizações da Igreja na Arquidiocese, com delegados escolhidos conforme o Direito Canônico e de acordo com o Regulamento do próprio sínodo arquidiocesano. A assembleia inicia com uma tomada de consciência do trabalho sinodal já realizado e, em seguida, faz o discernimento para elaborar as indicações sinodais, que aparecerão no final como fruto do sínodo e como diretrizes a serem seguidas na fase pós-sinodal em toda a Arquidiocese. Em fevereiro de 2020, chegamos a fazer uma solene abertura dos trabalhos da assembleia sinodal, prevista para se desenvolver ao longo do ano, em oito etapas. No entanto, a chegada da pandemia de COVID-19 levou à interrupção dos trabalhos do sínodo, para preservar a saúde dos participantes da assembleia

e para a dedicação prioritária às ações emergenciais de socorro aos muitos necessitados, que a pandemia atingiu duramente. Em 2022, após dois anos de interrupção, retomamos as ações do sínodo e temos confiança em Deus de que chegaremos à conclusão dos trabalhos, sem novas interrupções. A retomada do sínodo prevê uma breve fase de pré-assembleia nas paróquias. Após uma celebração de início dos trabalhos já no fim de semana de 12 e 13 de março, as paróquias deverão fazer duas reuniões dos Conselhos Pastorais Paroquiais, convidando para participar também todas as suas lideranças pastorais. O objetivo é a renovada tomada de consciência do caminho do sínodo e seus objetivos, bem como oferecer novas contribuições para a assembleia arquidiocesana do sínodo, levando em conta também as situações que a vida e a missão da Igreja enfrentam, a partir das questões surgidas desde 2020, sobretudo a partir da pandemia de COVID-19. Enquanto isso, a Secretaria e a Comissão de Coordenação do sínodo já trabalham para a retomada da assembleia, que deverá ser reaberta com uma bela celebração na Catedral da Sé no sábado, 7 de maio, às 15h, véspera do Domingo do Bom Pastor. E toda a Arquidiocese é chamada a fazer a oração ao Espírito Santo pelo nosso sínodo e pelos seus frutos em nossa Igreja.

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| 9 a 15 de março de 2022 | Atos da Cúria | 3

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 23/02/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Santo Antônio, no bairro do Pari, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Frei José Francisco de Cássia dos Santos, OFM, pelo período de 01 (um) ano. POSSE CANÔNICA: Em 22/02/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São José, no bairro da Vila Palmeiras, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre José Carlos da Silva Leite, CSCh. Em 25/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santo Antônio, no bairro de Itaberaba, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Edemilson Gonzaga de Camargo.

Em 27/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São João Evangelista, no bairro da Casa Verde, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Paulo César Gil.

Reprodução

Em 26/02/2022, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Vila Albertina, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Francisco Ferreira da Silva. Em 26/02/2022, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade, no bairro da Casa Verde, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Severino dos Ramos Lima Araújo. Em 25/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santo Antônio, no bairro Lauzane Paulista, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Jovair Milan. Reprodução

Reprodução

Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Pelo presente Edital, convoca-se Sr.(a) Edésio de Souza Filho, (endereço desconhecido) para que compareca de terça à sexta-feira, das 13h ás 16h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, sito à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga - São Paulo - SP (Telefone 3826-5143), para tratar de assunto que lhe diz respeito. São Paulo, 9 de março de 2022

Monsenhor Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP


4 | Ponto de Vista | 9 a 15 de março de 2022 |

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Editorial

Oração

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embra-te, ó homem, de que és pó, e ao pó retornarás! (cf. Gn 3,19). Começamos a Quaresma, e a Igreja, como uma boa mãe, quer ajudar seus filhos a estarem prontos para o desafio de uma vida bem vivida, fugindo dos prazeres fáceis e transitórios e lutando pelo bem que realmente permanece. Por isso, e inspirada no conselho de Cristo (Mt 6,1-6.16-18), a tradição católica sempre recomendou três obras quaresmais: resumidas sob os nomes oração, jejum e esmola. Nesse espírito, gostaríamos de dedicar a reflexão desta semana à oração, esta peça fundamental no mecanismo de nossa santidade. Às vezes, surgem alguns mal-entendidos nesse assunto: pensa-se que o tempo “gasto” em diálogo silencioso com o Senhor poderia ser mais bem aproveitado pela atuação ativa em obras de caridade – afinal de contas, não foi o próprio Jesus que falou que Deus sabe do que precisamos, antes mesmo que lhe peçamos (cf. Mt 6,8)? Para que, então, pe-

dir? Ora, é verdade que Cristo disse isso – mas apenas para nos precaver contra a “oração” (que, na verdade, é um mero falatório) que multiplica as palavras, sem envolver o coração (v. 7). Tanto é assim que o mesmo Jesus nos ordena fazer oração, ter momentos de diálogo íntimo, a sós com Deus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai que está em segredo” (v. 6). Na verdade, entre os milhares de santos que povoam a história da Igreja, nos mais variados tempos, lugares, culturas e línguas, há uma característica em comum: a importância capital que eles dão à oração pessoal. Santo Afonso de Ligório dizia que “quem reza se salva, e quem não reza não se salva”; nos nossos dias, Santa Teresa de Calcutá insistia muito em que a oração devia vir antes das obras. Aos jovens padres que conseguiam uma audiência, a primeira pergunta que fazia era: “Quantas horas reza todos os dias?”. Diante do espanto de alguns (que esperavam um incentivo à caridade, a amar mais os pobres),

ela explicava: “Meu filho, sem Deus somos demasiado pobres para ajudar os pobres. Lembre-se: eu sou apenas uma pobre mulher que reza. Rezando, Deus coloca o Seu amor em meu coração, e assim posso amar os pobres. Rezando!”. O motivo para a importância da vida de oração é que nosso progresso espiritual, nosso caminho de santidade, é, antes de tudo, uma obra de Deus, e não nossa: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Mas, como rezar? Como ter um verdadeiro diálogo com Deus, na prática? Muitos e muitos santos recorriam a livros espirituais consagrados, como a Imitação de Cristo, para inspirar sua oração. Tomemos um exemplo. “Desde o início eu ensinei os Profetas, diz o Senhor, e até agora não cesso de falar a todas as pessoas. Mas muitos se fazem surdos à minha voz, e mudos, e duros. Muitos ouvem mais ao mundo que a Deus, e seguem mais o apetite de sua carne que a vontade de Deus. O mundo promete coisas temporais e pequenas, e todos servem a ele com grande avidez. Eu prometo as

coisas mais elevadas e eternas, e o coração dos mortais fica frio e torpe. Quem é que me serve e me obedece em tudo e com tanto cuidado, quanto se serve ao mundo e aos seus senhores?” (Imitação de Cristo, 3.3.2). Busquemos colocar-nos em ambiente de recolhimento, e ler com calma este trechinho, ruminando cada frase, cada palavra. Depois, busquemos elevar nosso coração a Deus, meditando neste trecho: “Senhor, será que eu tenho ouvido tua voz? Quando coloco este ou aquele bem temporal na frente de tua vontade, a quem estou seguindo? Quanto faço isso ou aquilo, estou servindo ao Senhor ou ao mundo?” Se pudermos fazer esses momentos de conversa íntima logo depois de comungar (uns dez ou quinze minutos depois da missa), será melhor ainda, pois teremos a presença física de Jesus, tocando não só nossa alma, mas também nosso corpo. Busquemos, então, abrir os ouvidos do coração a Deus, que deseja muito estar conosco. Digamos-lhe, como Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!”.

Opinião

Viva o melhor de cada tempo

Arte: Sergio Ricciuto Conte

ANGELA VIDAL GANDRA DA SILVA MARTINS Este é o slogan da campanha direcionada à prevenção da erotização precoce e da gravidez na adolescência, que implementamos durante o mês de fevereiro. De fato, uma abordagem distinta: "Tudo tem seu tempo. Pense em seu projeto. Fale com sua família. Adolescência primeiro. Gravidez depois". Era preciso tratar o tema, não apenas de forma pragmática, combatendo consequências, sem descer às causas. Por essa razão, nossa proposta partiu de raízes antropológicas para estudar o fenômeno e implementar a política pública, levando em consideração o ser humano em sua totalidade. Nesse sentido, tratamos primeiro da erotização precoce, da adultização e dos diversos canais pelos quais as crianças e adolescentes têm sido, em realidade, “pedofilizados”, tornando-se objetos de consumo, por meio da manipulação carnal-emocional que conduz às experiências sexuais prematuras, com as consequentes frustrações afetivas, que ocasionam, não raras vezes, efeitos irreversíveis, como o suicídio. O impacto da hipersexualização e o triste “mercado do sexo”, antes destinado principalmente aos adultos, hoje têm amplo impacto na vida infantil e adolescente, sendo estes até mesmo utilizados para impulsionar os negócios, influenciando também outros, que, por sua vez, são arrastados pela curiosidade, pelo mau exemplo e pela falta de maturidade. Dessa forma, o desenvolvimento sexual antecipado exacerba o sensual e o erótico, dissociando-se da afetividade e do amor.

Por outro lado, uma vez aberta a caixa de Pandora, crianças e adolescentes se tornam reféns de experiências sexuais diversificadas, desrespeito, violência, drogas, doenças sexualmente transmissíveis, recursos a medicações impróprias para um crescimento saudável etc., com o acréscimo evidente de um sofrimento profundo, causado pela vergonha e pela decepção – ainda que muitas vezes disfarçadas –, uma vez que a riqueza da sexualidade humana vai muito além de um ato meramente biológico, pois atinge o núcleo da pessoa e seu coração. Por essa razão, vemos muito importantes não só informação e formação especial para o público infantojuvenil, mas também para as famílias. Para tanto, uma das metas da campanha é que os pais acompanhem os fi-

lhos em seu despertar afetivo e sexual. Nesse sentido, oferecemos formação específica no programa “Família na Escola”. O curso conta com um módulo denominado “A afetividade e a sexualidade da criança e do adolescente”, abordando mudanças e transformações da idade; a importância da conexão nesse momento e de um olhar integral; autoestima, autoimagem e autoconhecimento; valorização, proteção e conhecimento do corpo; emoções e o mundo; liberdade e responsabilidade; a influência do ambiente; o exemplo dos pais e o ambiente familiar etc. De fato, a família é escola de relações e o âmbito mais propício para apresentar a grandeza da sexualidade e do amor humano. Por outro lado, é comprovado também que as políti-

cas públicas que envolvem a família são nove vezes mais eficazes nos resultados, principalmente em se tratando de tema de alta densidade antropológica. Nesse sentido, vemos muito importante que essa vertente formativa não fique à margem da educação, mas que seja tocada com naturalidade pelos pais, sem vergonha, delegação ou omissão, em tema decisivo para a felicidade dos filhos. Paralelamente, constatamos também o quanto os pais desejam informação de qualidade nesse âmbito para poderem orientar melhor os filhos. No envolvimento das famílias, visamos ainda a auxiliar a acolher a vida, em caso de gravidez, oferecendo o apoio necessário, uma vez que o aborto não previne a gravidez, mas acaba com ela, eliminando o ser inocente que tem o direito de viver. Em realidade, desejamos envolver todos os atores para uma profunda conscientização e sensibilização, promovendo especialmente o fortalecimento das competências familiares e da sociedade como um todo, em defesa e projeção da criança e do adolescente, com base na Constituição federal (artigo 227) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 4), e atingir não só a redução da gravidez na adolescência, mas um aprimoramento das relações humanas, como tais, garantindo também uma infância saudável, desempenho escolar elevado e as condições para um bom encaminhamento afetivo, que garante também a formação de novas famílias, fortes. Angela Vidal Gandra da Silva Martins é PhD em Filosofia do Direito e secretária nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 9 a 15 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

SÉ Capelania Polonesa celebra missa pela paz na Ucrânia CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ A Capelania Pessoal dos Poloneses em São Paulo celebra suas missas em polonês, sempre às 11h do 1º domingo de cada mês, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Setor Bom Retiro. A deste mês, no dia 6, foi dedicada especialmente ao pedido de paz na Ucrânia e à lembrança da solidariedade prestada pela Polônia aos refugiados da guerra. A missa foi presidida pelo Padre Wojciech Mittelstaedt, da Congregação do Verbo Divino, que atua na Diocese de Santo André (SP). Na homilia, o Sacerdote pediu que todos rezassem fervorosamente pela paz na Ucrânia e pela continuidade da resiliência do povo polonês em oferecer a solidariedade a todos os refugiados que buscam seu território. E ressaltou: “Nós, descendentes de poloneses, desejamos igualmente oferecer hospitalidade e ema-

Rafael Adamowicz

nar a luz divina para a escuridão em que o povo ucraniano se encontra”. A celebração contou com a participação do cônsul honorário da Ucrânia em São Paulo, Jorge Rybka; do cônsul honorário da Polônia, Andre Bukowinski; do cônsul-geral da Alemanha, Thomas Schmitt; e do cônsul honorário de Fiji, Elizeu Lima. A Sociedade Brasileira de Cultura Polonesa Józef Piłsudski de São Paulo, uma organização sem fins lucrativos que divulga a cultura polonesa no Brasil por meio da arte, ciência, cinema, empreendedorismo, literatura, entre outros temas, também colaborou com a divulgação desta celebração especial. Após a celebração, houve um almoço tradicional polonês e pessoas vestidas a caráter com trajes típicos poloneses. A celebração foi transmitida pelo Instagram da Capelania Polonesa (@culturapolonesasp). (Com informações de Maria Cristina Telecki Pereira) Pedro Silva

[BRASILÂNDIA] No domingo, 6, a Paróquia Santíssima Trindade, Setor Perus, realizou sua primeira “Jornada Espiritual da Juventude”, que contou com a presença de 54 jovens. O evento teve a animação do “Ministério Um Só Coração”, que garantiu muita música e espiritualidade para os jovens. Houve também palestras e testemunhos, reforçando a necessidade da oração, fé, força e coragem nos dias de hoje. A jornada se encerrou com a adoração ao Santíssimo, seguida de missa no 1º Domingo da Quaresma. (por Mila Cristian e Beatriz)

Diácono José Mário Corral

Pastoral Familiar

[IPIRANGA] A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Ipiranga retomou seus trabalhos no dia 3 de março, em reunião com a presença de Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, que destacou a vocação da Pascom para a integração das pastorais. Também foram tratados os desafios da comunicação paroquial e suas demandas, bem como as necessidades da Pascom da Região. (por Karen Eufrosino)

[SÉ] No domingo, 6, na Paróquia Nossa Senhora da Consolação, Setor Santa Cecília, em celebração eucarística presidida por Dom Carlos Lema Garcia aconteceu a posse canônica do Padre Alessandro Enrico de Borbón como Pároco. Ele já atuava nesta igreja como Administrador Paroquial. Toda a equipe da Pastoral Familiar da Região Episcopal Sé participou da celebração, pois o Padre Alessandro também é Assistente Eclesiástico Regional desta Pastoral. (por Pastoral Familiar da Região Sé)

Espiritualidade ‘Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o’ DOM ÂNGELO ADEMIR MEZZARI, RCJ

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO IPIRANGA

A

Eucaristia é a celebração da aliança de Deus com a humanidade, selada no sangue de Jesus. Estamos nos preparando neste tempo de Quaresma para celebrar a Páscoa do Senhor. Na oração intensa e no amor aos irmãos, somos chamados a nos converter, deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus. Uma boa notícia nos é dada: “Este é o meu Filho, o Eleito”. E um convite irrecusável: “Escutai-o”.

No 2o Domingo da Quaresma, a primeira leitura do livro do Gênesis (Gn 15,5-12.17-18) recorda a história da salvação em que Deus faz aliança com Abraão e lhe revela o seu projeto de amor, lhe faz uma promessa e lhe dá um sinal de esperança. Os anseios são acolhidos, antes de tudo, uma descendência: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz. Assim será tua descendência” (cf. v. 5). Abraão acreditou, teve fé. E depois, uma terra para seu povo, pelo Senhor é prometida: “para te dar esta terra em posse” (cf. v. 6). Uma aliança é firmada, e, nos sinais do braseiro fumegante e da tocha de fogo, se revela o Deus fiel que caminha com o seu povo: “Naquele dia, Deus fez aliança com Abrão” (cf. v. 18). No texto do Evangelho de Lucas (Lc 9,28b-36), é Jesus, o Filho Amado, a nova e plena aliança com a humani-

dade. Na montanha, em oração, encontramos a transfiguração de Jesus, que é preparação para o caminho da plena libertação, a sua paixão, morte e ressurreição. O Eleito de Deus toma consciência de sua morte libertadora, seu rosto muda de aparência, suas vestes brilham, pois Nele se revela a plenitude da salvação divina. A presença de Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, testemunham que Jesus veio para libertar mediante a entrega de sua vida, e concretizava as antigas promessas. No sinal da nuvem, Deus Pai dá testemunho, declara ser o seu Filho Amado, o Escolhido. O Pai tudo confiou a seu Filho, e Jesus tudo realizou, pois veio fazer a sua vontade. O convite é solene e decisivo: “Escutai-o” (v. 35). Jesus comunga com o projeto do Pai na oração, seu êxodo libertador passa pela morte, e alcança a plena ressurreição, e ascensão aos céus.

A atitude de fé, característica de Abraão (cf. a primeira leitura), contrasta com o medo e o silêncio dos discípulos: “Os discípulos ficaram calados...” (cf. v. 36). Na segunda leitura de Filipenses (Fl 3,17-4,1), vemos o alerta de Paulo contra “os inimigos da cruz de Cristo” (v. 18), os que negavam o valor do mistério pascal. E afirma, então, que “nós somos cidadãos do céu” (v. 20), e temos, como único Salvador, Jesus Cristo. Como Ele glorioso, seremos também nós glorificados. O convite do Apóstolo é dirigido também a todos nós: “Continuar firmes no Senhor, ó meus queridos” (4,1). Sim, vamos continuar firmes e perseverantes na fé e no amor, pois Deus permanece fiel à sua Aliança e a seu Filho Eleito. Somos chamados a escutar e praticar sua Palavra, que é de vida eterna. Somos cidadãos do céu, do Reino de Deus.


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LAPA Começam as aulas da nova turma do Curso de Teologia para Leigos BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No sábado, 5, na Paróquia São Domingos Sávio, Setor Pirituba, Dom José Benedito Cardoso presidiu a celebração eucarística em ação de graças pela formatura da turma de 2020 do Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP), da unidade da paróquia local. A cerimônia não havia ocorrido antes em razão da pandemia. O CTAP existe há 27 anos e atua na formação e multiplicação de evangelizadores, ajudando-os a crescer na fé, na

identidade cristã, na intimidade com a Palavra de Deus, no serviço à evangelização e na ação missionária. No começo da celebração, Dom José agradeceu a Deus o dom da vida e a perseverança dos alunos, que, após quatro anos e meio de estudos teológicos e de aprofundamento da fé, concluíram com êxito o programa proposto. Padre Jaidan Gomes Freire, Pároco, concelebrou a missa e demonstrou alegria pelos 25 alunos concluintes do curso, cujo o lema é: “Ninguém é suficiente perfeito, que não possa aprender com o outro; e ninguém é totalmente destituído

Benigno Naveira

de valores, que não possa ensinar ao seu irmão” (São Francisco de Assis). Outro concelebrante foi o Padre Geraldo Pereira, professor do CTAP. O formando Aurino Alves da Sil-

va, 83 anos, destacou a importância do curso, que serviu de referência para o aprofundamento de sua fé e da Palavra de Deus, possibilitando a partilha de experiência entre amigos.

Padre Daniel é apresentado como Catequistas participam de encontro sobre sacramentos da iniciação cristã Vigário da Paróquia Santo Alberto Magno A equipe da Animação Bíblico-Catequética da Região Episcopal Lapa realizou, entre os dias 22 e 24 de fevereiro, uma formação para catequistas, refletindo sobre o tema “Sacramento do Batismo”. A atividade foi coordenada por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, com a participação do Padre Geraldo Pereira e do Frei Marcus Vinicius Dorrigo.

No dia 22, a atividade foi com os catequistas dos setores Rio Pequeno e Butantã, com a participação de Dom José e Frei Marcus Vinicius; no dia 23, na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, reunindo os setores Lapa e Leopoldina, com a participação de Dom José e do Padre Geraldo Pereira; e no dia 24, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Setor Pirituba, com Dom José e Padre Geraldo Pereira. (BN) Danielle Magno

Benigno Naveira

No domingo, 6, a comunidade de fiéis da Área Pastoral São João Batista, na Vila Rizzo, pertencente à Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Butantã, participou da missa de apresentação do Padre Hayang Lim Koo (Padre Daniel) como Vigário Paroquial. Ele está especialmente designado para a Área Pastoral São João Batista, a Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora e trabalhos pastorais no Setor Butantã. Dom José Benedito Cardoso presidiu a missa, tendo como concelebrante o Padre Antônio Francisco Ribeiro, Pároco,

assistidos pelo Diácono Permanente Antônio Geraldo de Souza. Ao final da missa, Padre Daniel agradeceu a todos e lembrou que sua missão na Paróquia como Vigário é a de ajudar o Pároco na evangelização à comunidade. (BN)

Lene Zuza

Karen Eufrosino

[SANTANA] O Padre José Esteves Filho (Padre Gabriel) tomou posse como Pároco da Paróquia Santa Inês, Setor Mandaqui, no sábado, 5, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan. Concelebraram os padres Erly Avelino Guillen Moscoso, MSA, Wanderlei Dansiger Xavier, EP, com assistência dos Diáconos Márcio Cesena e Moisés da Silva. (por Silvano Jacobino) Renatinha Antonelli

[BELÉM] Na Quarta-feira de Cinzas, 2, aconteceu na Área Pastoral Nossa Senhora das Flores missa com o rito das cinzas, presidida pelo Pároco, o Padre Romanus Hami, SVD. Foi a primeira vez que esta missa ocorreu na Área Pastoral, posto que a comunidade foi elevada a essa condição em maio de 2021. Na homilia, o Sacerdote ressaltou que os fiéis devem fazer os gestos penitenciais durante a Quaresma. (por Nathan Almeida) [SÉ] No domingo, 6, na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Cerqueira César, aconteceu o encontro mensal de formação dos coroinhas promovido pela Pastoral dos Coroinhas. Com o tema “Quaresma”, participou um grupo de pouco mais de 50 crianças e pré-adolescentes. Além dos momentos de reflexão, foram realizadas atividades lúdicas sobre o caminho de conversão, por meio do jejum, oração e caridade. O encontro foi encerrado com orações proferidas pelas crianças e a bênção do Pároco, o Padre Antônio Bogaz.

[SANTANA] Na sexta-feira, 4, houve a posse canônica do Padre Roberto Fernando Lacerda como Pároco da Paróquia Menino Jesus, Setor Tucuruvi, em celebração presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. A missa foi concelebrada por muitos padres e assistida por diáconos. (por Renatinha Antonelli)

(por Raquel Coppolla Carelli)

[SANTANA] Na sexta-feira, 4, o Padre Moisés, missionário da Consolata, realizou um momento de missão na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Setor Jaçanã, mais especificamente na Capela Santa Rita de Cássia, com a autorização do Padre Luis Molento. (por Pascom paroquial)

[IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, esteve na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, Setor Pastoral Imigrantes, no domingo, 6, para celebrar a missa pelos 20 anos de sacerdócio do Padre William Day Tombini, completados no dia 3. (por Karen Eufrosino) Pascom São joão Paulo II

[SANTANA] No domingo, 6, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na Paróquia Santa Rosa de Lima, Setor Tremembé, na qual deu posse ao novo Pároco, o Padre Cândido da Costa. Concelebraram os Padres Claudinei de Arruda Lucio, Jorge Fernandes, José Esteves Filho, Geremias Gomes dos Santos e Mauricio Luchini, assistidos pelos Diáconos Nilo Nora, Durval Bueno e Márcio Rezende. (por Lene Zuza) [SÉ] O curso de Batismo presencial, suspenso durante a pandemia, voltou a ser realizado na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Setor Jardins. O primeiro encontro foi no sábado, 5. Desde o final de 2020 a Pastoral do Batismo, coordenada pelo casal Célia e Ezequiel, estava fazendo os cursos on-line, com picos de solicitações durante meses, com mais de 50 inscritos. (por Rogério Nakamoto)

[BELÉM] Na tarde do domingo, 6, o Setor Sapopemba da Região Episcopal Belém se reuniu na Área Pastoral São João Paulo II para promover uma tarde de formação e estudo sobre a Campanha da Fraternidade, que trata do tema “Fraternidade e Educação”. A formação foi realizada pelo Padre Reuberson Ferreira, MSC, e contou com o auxílio da equipe de reflexão da CF na Região Episcopal Belém. (por Fernando Arthur)


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| 9 a 15 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Viver Bem | 7

BRASILÂNDIA

Comportamento

Dom Carlos Silva: ‘Somos a favor da fraternidade e de uma boa Educação’ Taise Cortes

Contratos: justiça comutativa e os limites ao contratar CRISLEINE YAMAJI

PATRÍCIA BEATRIZ LOPES

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Região Episcopal Brasilândia se reuniu na noite da sexta-feira, 4, para a missa de abertura da Campanha da Fraternidade 2022, na Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap. Houve a participação de padres e diáconos, bem como de representantes de movimentos, pastorais e comunidades, além de educadores, dado que o tema deste ano é “Fraternidade e Educação”. Um grupo de representantes das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) trouxe a reflexão sobre a Educação, recordando, de forma especial, o trabalho e obra do educador brasileiro Paulo Freire. Os educadores da região foram lembrados e representados em reflexão sobre a realidade da Educação e sua importância na transformação social. Na homilia, Dom Carlos Silva refletiu sobre a Campanha deste ano, destacando que o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” é uma exortação e um convite para que se possa viver na práti-

ca a Educação como um ato de amor e esperança no ser humano. Lembrou, também, que a Educação prepara para o bem comum, para a convivência e o serviço em comunidade. “A educação traz igualdade de oportunidades”, disse o Bispo. “Estamos falando com sabedoria e ensinando com amor?”, indagou. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia falou também sobre o Pacto Educativo Global, um chamado do Papa Francisco para que todas as pessoas no mundo, instituições, igrejas e governos priorizem a Educação humanista e solidária, de modo a transformar a sociedade. Trata-se de um amplo convite para colocar em prática, discutir e tornar concreto as políticas públicas educacionais e institucionais, tendo como compromisso colocar as pessoas como o centro da Educação, ouvir as novas gerações, promover a mulher, responsabilizar as famílias, abrir-se à acolhida, fazer a renovação no âmbito político e econômico e, principalmente, cuidar da casa comum. Dom Carlos refletiu ainda sobre a quebra de relações entre as famílias, em razão da falta do

diálogo e da escuta, o que vem sendo potencializado com o uso excessivo das tecnologias, que, muitas vezes, fazem com que a conexão pessoal seja perdida em momentos simples do cotidiano familiar e social, como na hora da refeição em família sem olhar uns nos olhos dos outros, sem prestar atenção ao alimento ingerido, sem diálogo e escuta ativa à mesa, estando as pessoas distraídas no mundo virtual. Diante disso, como gesto penitencial nesta Quaresma, o Bispo sugere que haja a redução do uso de equipamentos tecnológicos durante as refeições ou momentos de encontro em família ou amigos, a fim proporcionar o maior diálogo e escuta com quem está próximo fisicamente. Por fim, exortou os fiéis a duas atitudes prioritárias: conhecer o texto-base da Campanha da Fraternidade nas comunidades e paróquias; e considerar a realidade da Região Brasilândia quanto à Educação. Ele citou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) como bastante atuante nas comunidades. “Somos a favor da fraternidade e de uma boa Educação”, concluiu.

LAPA Cardeal participa de reunião do clero Arquivo paroquial

BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, na sexta-feira, 4, aconteceu a reunião do clero atuante na Região Lapa. A atividade foi conduzida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, Dom José Benedito Cardoso, e houve a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, além de padres e diáconos.

Dom Odilo agradeceu o convite, e fez observações sobre temas relevantes, destacou a retomada do sínodo Arquidiocesano, mostrando um histórico da caminhada já realizada. Convidou a todos para a celebração de reinício do sínodo, em 7 de maio, na Catedral da Sé. Outros temas abordados na reunião foram a Romaria Arquidiocesana a Aparecida, em 1o de maio, a construção da nova igreja matriz da Paróquia São José, em Pirituba, e as atuações das Pastorais Carcerária e Vocacional.

A ordem jurídica estabelece uma relação social harmoniosa e de convivência pacífica entre os homens, todos regulados e sujeitos a uma mesma lei, a qual não prescinde de finalidades e valores morais. Por essa razão, há semanas, temos buscado evidenciar a presença de alguns princípios da Doutrina Social da Igreja (DSI) nessa nossa ordem jurídica e social. A Doutrina Social da Igreja traz princípios de uma lei moral universal que permeiam nossa consciência comum (DSI, 436) e, tantas vezes, logramos expressar em nossa ordem jurídica vigente – muito embora haja, cada vez mais, uma tendência a desvirtuamentos e descolamentos entre a ordem jurídica e a ordem moral. Mencionamos em colunas passadas nosso foco constitucional para a erradicação da pobreza, uso consciente e solidário dos bens comuns e destinação adequada da propriedade privada. Todos esses elementos estão pautados por aspectos de justiça distributiva e social. Além da propriedade, outro elemento importante a permear a vida cotidiana e a convivência humana é o contrato, por meio do qual se estabelecem vínculos e observâncias de compromissos assumidos segundo critérios de justiça. A atividade econômica, em seu dinamismo, depende do respeito aos direitos de propriedade e de liberdade de contratar; nesses direitos, encontram-se fortes elementos de pacificação social e boa convivência humana. Propriedade e contrato estão na base da livre iniciativa e do livre mercado, princípios tão caros ao sistema econômico por meio do qual vivemos. No Direito e na vida, ouve-se sempre dizer que os contratos devem ser rigorosamente cumpridos, e isso se expressa segundo o famoso princípio latino do pacta sunt servanda; sem prejuízo de esse princípio ou máxima jurídica nunca poder ser considerado absoluto. Os contratos devem ser cumpridos na medida do justo e do moralmente aceitável. Não fogem os contratos, portanto, como meios de pacificação social, da observância do moralmente justo, pois critérios de justiça natural permanecem acima de qualquer liberdade de contratar ou do mercado. A âncora do contrato à finalidade moral que impõe limites aos abusos e à idolatria do mercado (DSI, 349). Os contratos sujeitos à justiça comutativa levam à salvaguarda de direitos e obrigações livremente pactuadas entre as partes, prevalentemente equitativas. Claro que essa justiça comutativa diz respeito, muitas vezes, a relações bilaterais nas quais as partes não assumem propositadamente riscos do incerto e do aleatório. Ademais, o aspecto comutativo e equitativo dos contratos se encontra intrinsecamente vinculado aos aspectos distributivos ou sociais e em nada conflita com prevalência de um princípio de solidariedade nas relações contratuais. Nessa justiça comutativa dos contratos, é fundamental o equilíbrio entre vantagens e sacrifícios na precificação do contrato, na medida do esforço comum das partes no cumprimento de suas obrigações e na determinação da vontade expressa pelas partes ao se vincular ao contrato. Esse equilíbrio permeia toda a vida contratual, ainda mais se o contrato perdurar ao longo do tempo. Por essa razão, muitas vezes, ouve-se falar, em situações de crise, sobre a necessária revisão dos contratos, seja pelas partes, seja judicialmente. Não se justifica, muitas vezes, a imposição do cumprimento do contrato quando, para uma parte, torna-se excessivamente oneroso, com contraposta e desmedida vantagem a uma parte em detrimento da outra (Constituição federal, CF, art. 478). Essa é a regra para a maioria dos contratos, e essa é regra de justiça contratual, de medida de solidariedade e de limitação não só jurídica, mas também moral à liberdade de contratar. Crisleine Yamaji é advogada, doutora em Direito Civil e professora de Direito Privado. E-mail: direitosedeveresosaopaulo@gmail.com


Fé e Cidadania Papa Francisco, ensino social cristão e cidadania fiscal MARCOS GREGÓRIO BORGES Recentemente, o Papa Francisco recebeu em Roma, para uma audiência, uma delegação da Agenzia delle Entrate, a Receita Federal italiana, na qual teve a oportunidade de refletir sobre algumas questões de interesse do órgão a partir dos ensinamentos da Igreja. Apesar de ser comum no Vaticano a realização desse tipo de evento, este chamou a atenção por causa do seu discurso, em que o Pontífice estabeleceu uma série de relações diretas entre o Ensino Social Cristão e a Administração Tributária. Partindo das Sagradas Escrituras, Francisco relembra que a Bíblia não demoniza o dinheiro, e que, por meio do dízimo, Deus ensinou o povo a ter uma relação equilibrada com o dinheiro, de modo que as pessoas compreendessem que não são autossuficientes e precisam ser responsáveis uns pelos outros. Em seguida, tratou de três questões relevantes da área: legalidade, imparcialidade e transparência. Ao tratar da legalidade, particularmente a legalidade fiscal, o Papa afirma que, quando a tributação é justa, ela serve ao bem comum e tem o poder de afastar as forças da corrupção, da injustiça e da desigualdade. Ao falar sobre imparcialidade, ressaltou que, a despeito da existência de práticas de ilegalidade tributária na sociedade, “há um artesanato do bem comum que deve ser narrado, porque as consciências honestas são a verdadeira riqueza da sociedade”, de modo que, com base na “presunção de boa-fé”, não se deve esquecer os inúmeros contribuintes que cumprem suas obrigações tributárias corretamente, e, assim, contribuem para o bem comum. Quanto à transparência, o Papa falou da importância do “dinheiro transparente”, e chamou a atenção para uma questão crucial em relação aos que atuam na gestão de recursos públicos: “Aqueles que gerem os bens de todos têm a séria responsabilidade de não se enriquecerem a si próprios”. Francisco fez um discurso sobre Cidadania Fiscal à luz da fé cristã. De acordo com o site da Receita Federal do Brasil, “a Cidadania Fiscal é compreendida como um importante instrumento de conscientização da sociedade sobre os seus direitos e deveres fiscais”, que se traduzem em atividades que procuram sensibilizar o cidadão sobre a função social e econômica dos tributos, que incentivam o correto cumprimento das obrigações tributárias, como o pagamento de impostos e outras obrigações, ou a entrega da declaração de Imposto de Renda, mas também o acompanhamento da aplicação dos recursos, por parte do Estado, promovendo o controle social dos gastos públicos e uma gestão pública mais participativa, transparente e eficiente. Nesse âmbito, destaca-se a campanha de incentivo à destinação de uma parcela do Imposto de Renda aos Fundos da Criança e do Idoso, que permite que parte dos recursos que o contribuinte é obrigado a recolher a título de imposto de renda seja destinada a projetos sociais a favor de crianças e idosos. Trata-se de uma oportunidade de o cidadão decidir como uma parte do tributo que é obrigado a pagar deve ser gasto pelo Estado. Dessa forma, com o discurso realizado aos representantes da Receita Federal italiana, o Papa nos mostra que a Doutrina Social da Igreja não apenas se conecta com a realidade nas mais diversas situações, mas, também, oferece uma contribuição útil, concreta e original para a sociedade, a fim de que ela possa organizar todas as necessidades próprias desta vida, tendo como critério a dignidade humana e o bem comum. Marcos Gregório Borges, servidor público federal, atua com Gestão de Projetos na área de Cidadania Fiscal. É mestrando em Gestão de Políticas Públicas pela USP.

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ECC Brasilândia

8 | Fé e Vida/Regiões Episcopais | 9 a 15 de março de 2022 |

[BRASILÂNDIA] No sábado, 5, aconteceu o 6° Congresso do Encontro de Casais com Cristo (ECC) na Paróquia São José, na Vila Palmeira, Setor Freguesia do Ó. O evento marcou a retomada do serviço ECC em 2022 na Região, com o lema “Tenham ânimo! Eu venci o mundo”. Houve a apresentação oficial do novo Conselho Diocesano 20222024 da Região Brasilândia. A atividade teve a participação do casal referencial do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), João e Márcia. Entre as atividades do dia ocorreram palestras, testemunhos e dinâmicas, mantendo uma linguagem única de orientações, como muita motivação e muita espiritualidade aos casais e diretores espirituais. (por Anderson Figueredo e Maricler Figueredo) Maurício Lavado

[IPIRANGA] Na sexta-feira, 4, a Região Episcopal Ipiranga realizou a missa de abertura regional da Campanha da Fraternidade 2022. Na homilia, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, destacou o lema da CF deste ano, “Fala com sabedoria, ensina com amor”, exortando todos a buscarem a conversão quaresmal. Ao fim da celebração, Padre Rodrigo Felipe, Assessor Eclesiástico da Pastoral da Comunicação regional, fez o convite para que as paróquias criem grupos de reflexão sobre o tema da Campanha – “Fraternidade e Educação”. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga sugeriu que sejam feitos grupos de espiritualidade paroquiais para agentes da Educação. (por Karen Eufrosino) Pascom paroquial

Fernando Arthur

[SÉ] Na terça-feira de carnaval, dia 1º, na Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, Setor Aclimação, ocorreu o “1° Alegrai-vos no Senhor da Comunidade”, um dia de experiências espirituais profundas e em preparação para o tempo da Quaresma. A programação começou com as Laudes e o Terço Mariano, seguida de oração e bênção, junto com a acolhida dos irmãos assistidos pela comunidade, que receberam a cesta básica; Terço da Misericórdia com as crianças da Catequese; tarde de louvor com atendimento de confissões; adoração ao Santíssimo; e a Santa Missa, às 19h30, presidida pelo Padre Ricardo Anacleto, Pároco. A íntegra da notícia pode ser lida pelo link a seguir: https://cutt.ly/sAToBXV. (por Pascom paroquial)

[BELÉM] Na manhã do sábado, 5, no Centro Pastoral São José, aconteceu a aula inaugural da Escola de Formação Catequética da Região Episcopal Belém, conduzida pelo Padre Thiago Faccini, Vigário Paroquial da Paróquia São José e coordenador da Escola de Formação Catequética. A cerca de 200 participantes, o Sacerdote abordou o tema da Liturgia, e falou sobre os aspectos litúrgicos da celebração eucarística, ressaltando que a boa Catequese ajuda na vivência total e plena da Santa Missa. (por Fernando Arthur) Monsenhor Cícero

Hedilene Cardoso

[SÉ] Na noite do domingo, 6, tomou posse como Administrador Paroquial da Paróquia Divino Salvador, Setor Jardins, o Padre Edson Donizete Toneti, que atuava na Região Episcopal Ipiranga, em missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia. Concelebraram os Padres Sidney José Barone, Pároco emérito, Jaidan Gomes Freire, Felipe Cosme, Ney de Souza e o Cônego Dagoberto Boim. A íntegra da notícia pode ser lida pelo link a seguir: https://cutt.ly/KATyMb3. (por Hedilene Cardoso)

[SÉ] Na noite do sábado, 5, o Monsenhor Cícero Alves de França presidiu missa em ação de graças por sua nomeação como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. A celebração foi na Paróquia Assunção de Nossa Senhora, Setor Cerqueira César, onde ele foi colaborador durante seis anos. Entre os concelebrantes estiveram o Padre Juarez Pedro de Castro, Pároco; Padre Sidnei Fernandes Lima, Vice-reitor do Seminário Bom Pastor e professor na PUC-SP; Padre Zacarias José de Carvalho Paiva, procurador da Mitra Arquidiocesana e Reitor do Santuário Arquidiocesano; além dos Padres Jefferson Mendes de Oliveira, Francisco Reginaldo Henriques de Miranda, Everton Augusto de Souza e Orisvaldo da Silva Carvalho. (por Eliana Ramos)


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| 9 a 15 de março de 2022 | Reportagem/Fé e Vida | 9

Caritas Arquidiocesana realiza assembleia geral de prestação de contas Fernando Arthur

FERNANDO ARTHUR

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) realizou sua 57a Assembleia Geral, na sexta-feira, 4, no Centro Pastoral São José, no Belém. Na ocasião, houve a prestação de contas do ano anterior, com um relatório detalhado das entradas e saídas e das doações recebidas. Participaram da assembleia o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente da CASP; Padre Marcelo Maróstica Quadro, Diretor; além dos bispos auxiliares Dom Carlos Lema Garcia e Dom José Benedito Cardoso, o Cônego José Miguel e representantes dos núcleos regionais e funcionários da sede da Caritas, na Sé. Na abertura da assembleia, o Cardeal Scherer conduziu um momento de oração e recordação da vida, na qual fez memória da guerra na Ucrânia, e mencionou os trabalhos da CASP no último ano. Na sequência, o Padre Marcelo Maróstica falou sobre a organização da sociedade civil, destacando o conceito do terceiro setor e as políticas públicas, ressaltando que a Caritas não tem atuação apenas pastoral, mas também na dimensão de organização da sociedade civil. Ele recordou que a Constituição federal reconhece o papel das organizações do terceiro setor na implementação dos direitos sociais e que elas devem atuar de forma complementar e integrada às iniciativas da Administração Pública.

PRESTAÇÃO DE CONTAS E DOAÇÕES

Após a apresentação, deu-se o início da prestação de contas, feitas por Carlos Camargo, tesoureiro da CASP.

A Caritas Arquidiocesana também mantém o Lar Santa Maria, em Cotia, na região metropolitana de São Paulo, onde desenvolve projetos sociais, com o objetivo de oferecer à população conhecimentos sobre a gestão e manutenção de hortas para a produção de alimentos de consumo comunitário, além de projetos sociais de diversos tipos. Ao final da prestação de contas, o Cardeal submeteu à assembleia a apreciação das contas e houve a aprovação.

TRANSPARÊNCIA SOBRE A GESTÃO

Ao todo, em 2021, a CASP recebeu cerca de 100 novos brinquedos, além de mais de 2 mil cestas básicas e mais de 39 mil máscaras, que foram distribuídas no Centro de Referência para Refugiados. Carlos também ressaltou as despesas realizadas no ano, tanto administrativas quanto com o Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados, que ofereceu serviços de auxílio-alimentação e medicamentos, além de dados móveis para contato telefônico e auxílio-transporte para os cursos oferecidos. Carlos Camargo também lembrou que foram oferecidos pela CASP produtos de higiene pessoal e proteção individual, além de auxílios para óculos e educação.

Ao comentar o relatório apresentado, o Cardeal Scherer enfatizou a necessidade de sempre haver a prestação de contas das atividades: “É necessário, para que haja transparência sobre a gestão, a aplicação dos recursos”, ressaltou. O Purpurado também elogiou a apresentação e disse que a CASP está com as contas equilibradas. Na sequência, Padre Marcelo ressaltou que neste ano haverá a renovação dos certificados do Conselho Municipal da Assistência Social (Comas) e da Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social na Área de Educação (Cebas). O diretor da Caritas também falou sobre a criação de um Departamento de Captação de Recursos, para auxiliar nos projetos da CASP, e exortou os membros a participarem do Curso de Economia Popular Solidária, que aconteceu de modo on-line, no dia 8. Por fim, Dom Odilo saudou os membros da assembleia e os exortou a se manterem firmes na caminhada. Ele ressaltou que uma das grandes ações da Quaresma é a caridade sincera, e que a Caritas é uma grande ação de caridade na Arquidiocese.

Arquivo pessoal

Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

Até 10 de abril, em frente ao Hospital Pérola Byington (Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 683, na Bela Vista), o movimento internacional 40 Dias pela Vida realiza uma vigília de oração e testemunho público de fé, das 10h às 18h, contra a prática do aborto, a fim de que sempre se assegure o direito à vida das mães e de seus bebês. Outros detalhes podem ser obtidos pelas redes sociais @40diaspelavidasp. (por Redação)

Em viagem a Teresina (PI) entre os dias 7 e 9, o Cardeal Odilo Pedro Scherer se encontrou com os alunos da extensão do curso de mestrado em Direito Canônico, oferecido pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo em parceria com o Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí (Icespi) e do Regional Nordeste 4, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). (Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo)

Você Pergunta O purgatório, de fato, existe? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

A Ivanilda, de Osasco (SP), conta que o marido, católico, tem 71 anos, e não acredita no purgatório. Ele diz que não está escrito na Bíblia. “O que devo fazer para ele acreditar?”, ela me pergunta. Ivanilda, minha querida irmã. Eu prefiro sempre acreditar na misericórdia de Deus a achar que ele não perdoa. O salmista nos diz assim: "Dai graças

ao Senhor porque ele é bom, e infinita é a sua misericórdia." Percebeu, minha querida irmã? A misericórdia de Deus é infinita. Não tem fim. Agora, o que nos ensina a doutrina do purgatório? Que aquelas pessoas que não chegaram a cometer pecados mortais ou cometeram e se arrependeram têm o perdão de Deus, mas devem pagar ainda as consequências dos seus pecados. Por isso, elas precisam um tempo de purificação antes de contemplar o rosto de Deus. Chamamos a este

tempo de purificação de purgatório. Há um livro na Bíblia chamado Macabeus. Nele, a gente lê que, após uma batalha, Judas ofereceu um sacrifício pelos que morreram. E Jesus afirma que há pecados que não são perdoados nem nesta, nem na outra vida. Dizendo assim, Jesus admite que há pecados que são perdoados em outra vida. Por que, então, não rezar pelos mortos? Por que não pedir para eles a misericórdia infinita de Deus?

Por isso, irmã, nós, católicos cremos em três níveis da mesma Igreja: a Igreja militante, que está neste mundo; a Igreja triunfante, que já está contemplando a face de Deus; e a Igreja padecente, que se purifica antes de ir até Deus. Esses três níveis estão em plena comunhão. Nós rezamos pela Igreja padecente. A Igreja triunfante reza por nós. E a Igreja padecente, não podendo orar por si mesma, ora também por nós. Dê um abraço a seu marido.


10 | Reportagem | 9 a 15 de março de 2022 |

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Conheça mais sobre os 2 bispos auxiliares nomeados para São Paulo PADRE CÍCERO ALVES DE FRANÇA, DO CLERO ARQUIDIOCESANO, E PADRE ROGÉRIO AUGUSTO DAS NEVES, DO CLERO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP), SERÃO ORDENADOS EM MAIO FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Arquidiocese de São Paulo se prepara para as ordenações dos dois novos bispos auxiliares nomeados pelo Papa Francisco na quinta-feira, 3. São eles: Padre Cícero Alves de França, do clero

arquidiocesano, atual Reitor do Seminário de Teologia Bom Pastor; e Padre Rogério Augusto das Neves, do clero diocesano de São José dos Campos (SP), atual Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Soledade. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, comunicou oficialmente as nomeações episcopais durante um evento acadêmico na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP, no Ipiranga, zona Sul de São Paulo. “Agradeço ao Papa Francisco por ter acolhido favoravelmente o pedido de nossa Arquidiocese da nomeação de dois novos bispos auxiliares. Convido todos a também agradecerem a Deus pela nomeação do Padre Cícero e do Padre

Rogério. Que o Espírito Santo continue a iluminar e sustentar o Papa Francisco no exercício de sua missão na Igreja!”, manifestou. Os dois bispos eleitos, que, após a nomeação episcopal passam a ser chamados pelo título de monsenhor, concederam entrevistas ao jornal O SÃO PAULO e à rádio 9 de Julho, nas quais falaram sobre a nova missão.

MONSENHOR CÍCERO

Nascido em 13 de março de 1975, no município de Cajazeiras (PB), Monsenhor Cícero se mudou para São Paulo anos depois. Começou a discernir a vocação sacerdotal aos 16 anos, na Paróquia São Patrício, no Rio Pequeno, zona Oeste de São Paulo. “Eu fui catequista, ministro da Palavra e, vendo os padres da paróquia, eu fui impulsionado a refletir sobre o sacerdócio. Depois, eu conheci Dom Fernando Penteado [então Bispo Auxiliar de São Paulo e atual Bispo Emérito de Jacarezinho (PR)]. Seu exemplo e dedicação foram me contagiando e me despertando cada vez mais para a vocação, tanto que ingressei no seminário em 1996”, relatou o Sacerdote, que foi ordenado em 7 de março de 2004. Monsenhor Cícero possui pós-graduação (latu sensu) em Formação Sacerdotal pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; é mestre em Teologia da Espiritualidade pela mesma instituição; possui pós-graduação (latu sensu) em Counseling pela Faculdade Vicentina e graduação em História pela Universidade Unicesumar. Atualmente, é doutorando em Teologia da Espiritualidade pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

ALEGRIA0 E GRATIDÃO

“Acolho a nomeação com muita alegria e gratidão ao Papa Francisco, assim como ao nosso Arcebispo. Claro que isso não significa que eu não sinta medo diante de tamanha responsabilidade, conhecendo minhas fragilidades e fraquezas”, afirmou o Monsenhor Cícero, acrescentando que recebe a nova missão como um ato de obediência a Deus e à Igreja. “No dia da minha ordenação presbiteral, eu disse que não me preparava apenas para ser padre, mas para ser um discípulo de Jesus. Portanto, sinto isso, é o Senhor que me pede e confio plenamente na sua graça.”

Ao falar sobre o episcopado como uma graça de Deus, o Bispo eleito recordou a conversa que teve com o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, por ocasião da sua nomeação. “Ele [Núncio] enfatizou que a graça de Deus não me faltará e me disse, ainda, que eu não estarei sozinho, pois farei parte de um colégio episcopal”, relatou Monsenhor Cícero. Refletindo sobre o fato de, com a ordenação episcopal, tornar-se um sucessor dos apóstolos, Monsenhor Cícero lembrou da figura de São Pedro, homem frágil, limitado, mas que possuía um amor muito grande por Jesus. “Penso que ser sucessor dos apóstolos é amar o Senhor acima de tudo”, afirmou, destacando o lema escolhido para o seu ministério episcopal: “Envia-me a tua luz”. “Não sou eu que realizarei, mas o Espírito de Deus que me guiará e ajudará a discernir os caminhos por onde seguirei”, concluiu.

como próprio de todo chamado divino, recebeu a nomeação episcopal consciente de que não se trata de uma aspiração humana e, por isso, em um primeiro momento, causa receio e certa resistência. “A alegria vem como consequência do ‘sim’ que dizemos a Deus e da confiança de que, se eu fui feliz até aqui, foi porque eu dei essa resposta”, destacou.

DESAFIO DA METRÓPOLE

Embora nunca tenha morado em São Paulo, Monsenhor Rogério pôde conhecer a capital em suas vindas semanais para lecionar. “A metrópole é um desafio, sobretudo para mim, pois sou do interior. Contudo, tenho certeza de que descobrirei as grandes riquezas das pessoas que vivem na cidade de São Paulo”, afirmou. Dirigindo-se ao povo da Arquidiocese, o Bispo eleito agradeceu a acolhida e

MONSENHOR ROGÉRIO

Nascido em 30 de dezembro de 1966, em São José dos Campos (SP), Monsenhor Rogério sentia o chamado para o sacerdócio desde a infância, mas só o respondeu na vida adulta. Depois de se formar em Direito e procurar outros caminhos, o chamado divino permaneceu em seu coração a ponto de chegar à conclusão de que não poderia dar outro passo na vida a não ser antes de dar uma resposta definitiva a esse chamado. Foi nesse processo que ele descobriu que era impossível não responder positivamente a essa vocação. “Desde que entrei no seminário, nunca tive dúvidas de que era isso que devia fazer”, garantiu. Após a ordenação sacerdotal, em 1999, exerceu diversos ofícios em sua diocese de origem. É mestre em Direito Canônico pelo antigo Instituto de Direito Canônico “Pe. Dr. Giuseppe Benito Pegoraro” (atual Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo), em São Paulo, e doutor na mesma área pela Universidade Lateranense de Roma. Também foi juiz e vigário judicial adjunto no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Aparecida (SP) e professor de diversas instituições de ensino, sendo que, atualmente, leciona na Faculdade São Bento, na capital paulista. Monsenhor Rogério afirmou que,

demonstrações de afeto que tem recebido desde a publicação da sua nomeação. “Fui muito bem acolhido por Dom Odilo, pelos bispos auxiliares e muitos padres que me mandaram mensagens. Isso me motiva bastante. É um grande prazer conhecer todos vocês”, disse.

ORDENAÇÕES

A ordenação episcopal do Monsenhor Rogério acontecerá no dia 1º de maio, às 15h30, na Paróquia Nossa Senhora da Soledade (Rua Uruguai, 291, Vista Verde, em São José dos Campos). Já o Monsenhor Cícero será ordenado bispo no dia 8 de maio, às 15h, na Catedral da Sé. Na mesma ocasião, ambos tomarão posse do ofício de Bispos Auxiliares.


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Cardeal Scherer institui três novos cônegos na Arquidiocese de São Paulo Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

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NOVOS CÔNEGOS Cônego Aparecido Silva

nasceu em 6 de fevereiro de 1960 na cidade de Patos de Minas (MG). Foi ordenado sacerdote em 15 de fevereiro de 1992, pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo. Na Arquidiocese, exerceu o ministério em diversas paróquias da Região Episcopal Sé, onde já desempenhou o ofício de Coordenador de Pastoral e Vigário Episcopal. Atualmente, é Pároco da Paróquia Santíssimo Sacramento, no Paraíso, e Vigário-Geral Adjunto da Região Sé. “Acolho esta missão com obediência e fidelidade a Deus para ser um sinal e instrumento da Sua graça no Cabido e na Catedral a serviço da Igreja e do povo de Deus”, manifestou o Cônego Aparecido.

Cônego José Arnaldo Juliano dos Santos nasceu em 2 de

março de 1951, em São Paulo. Foi ordenado sacerdote em 3 de novembro de 1985, também pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns. Atuou pastoralmente em diversas paróquias da Arquidiocese, foi formador no seminário arquidiocesano em diferentes períodos e professor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (PUC-SP). Atualmente, é Pároco da Paróquia São Cristóvão e Capelão do Mosteiro da Luz, ambos na Região Episcopal Sé; é também perito e um dos relatores do sínodo arquidiocesano de São Paulo. Ao falar da nova missão, Cônego José Arnaldo mencionou as palavras do juramento feito durante o rito de instituição dos cônegos. “Ao fazermos esse juramento de fidelidade à Igreja-mãe da nossa Arquidiocese, também renovamos nossa fidelidade à Igreja de São Paulo, na pessoa do Arcebispo e seus sucessores. Isso me dá muita alegria”, afirmou.

Cônego Cícero Alves de França nasceu em Cajazeiras

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Em uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, no domingo, 6, na Catedral da Sé, foram instituídos três novos cônegos do Cabido Metropolitano de São Paulo. Os novos membros, Padre Aparecido Silva, Padre José Arnaldo Juliano dos Santos e Monsenhor Cícero Alves de França, receberam das mãos do Arcebispo de São Paulo o barrete e o anel distintivos dos cônegos na celebração que contou com a presença de outros membros do Cabido e demais sacerdotes da Arquidiocese.

SERVIÇO À CATEDRAL

O Cabido (do latim capitulus – sob uma mesma cabeça, chefe ou superior), instituição eclesiástica que reúne os cônegos (do latim, canonicus), é, segundo o Código de Direito Canônico, o “colégio de sacerdotes ao qual compete realizar as funções

litúrgicas mais solenes na igreja catedral ou colegiada; além disso, compete ao cabido da catedral desempenhar funções que lhe são confiadas pelo direito ou pelo Bispo diocesano” (cân. 503). O Colendo Cabido Metropolitano de São Paulo nasceu com a fundação da Diocese de São Paulo, em 1745. Dom Odilo explicou que, ao longo da história, o Cabido de São Paulo foi adquirindo funções diferentes, mas continua sendo “parte da dignidade da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção, igreja-mãe da Arquidiocese”, forma o grupo de sacerdotes que, de maneira especial, “tem a missão de ajudar a dar vida, a manter a Catedral”. Em 2016, o Cardeal Scherer pediu a atualização dos estatutos e a elaboração de um regimento interno do Cabido Metropolitano. Desde então, existem apenas duas categorias de cônegos: catedráticos e eméritos (com mais de 80 anos), sendo extinta a categoria de cônego honorário. Assim, o Cabido conta atualmente com 14 cônegos catedráticos e 7 eméritos.

(PB), em 13 de março de 1975. Foi ordenado sacerdote em 7 de março de 2004, pelo Cardeal Cláudio Hummes, atual Arcebispo Emérito de São Paulo. Desempenhou o ministério presbiteral em diversas paróquias da Arquidiocese. Desde 2010, é Reitor do Seminário de Teologia Bom Pastor e, desde 2016, colaborador na Paróquia Assunção de Nossa Senhora, no Jardim Paulista; também é professor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (PUC-SP). Entretanto, o Cônego Cícero exercerá esse novo ofício por um breve período, pois, no último dia 3, foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo pelo Papa Francisco. Como sua indicação e nomeação para o Cabido Metropolitano foi anterior à nomeação episcopal, o Cardeal manteve a investidura canônica, para ressaltar que o Santo Padre escolheu um dos membros do Cabido para o episcopado. O Bispo eleito enfatizou que ser nomeado Cônego o torna mais unido à Catedral, igreja onde ele recebeu a ordenação diaconal e referência da unidade da Igreja de São Paulo. “Nosso Cabido tem uma linda história. É uma instituição muito importante, não só do ponto de vista histórico, mas também como expressão da dignidade do nosso clero. Fiquei muito feliz com essa escolha”, manifestou.


12 | Reportagem | 9 a 15 de março de 2022 |

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Retiros espirituais: a pausa necessária para reavaliar a vida e retomar o bom caminho Luciney Martins/O SÃO PAULO

POPULAR ENTRE OS FIÉIS, A ATIVIDADE É UMA ÓTIMA OPÇÃO DE EXERCÍCIO ESPIRITUAL PARA ESTIMULAR O CRESCIMENTO NA FÉ E A MAIOR INTIMIDADE COM DEUS JOSÉ FERREIRA FILHO

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Diversas são as possibilidades de exercícios espirituais que podem ser feitos durante o tempo quaresmal, todos eles com o objetivo de proporcionar mais disposição ascética em busca da própria conversão e maior proximidade com Deus. Como tantas outras sugestões que se apresentam nesta e em outras épocas do ano, uma boa opção é um retiro espiritual, uma oportunidade de renovação interior e amadurecimento da fé.

“Dias de retiro. Recolhimento para conhecer a Deus, para te conheceres e assim progredir. Um tempo necessário para descobrir em que coisas e de que modo é preciso reformar-se: ‘Que tenho que fazer? Que devo evitar?’”.

São Josemaría Escrivá, Sulco, nº 177

O QUE É

Todo retiro espiritual consiste, basicamente, em uma pausa no ritmo habitual e intenso da vida diária e propõe, em seu lugar, o recolhimento, o silêncio interior, a oração e a reflexão para uma maior conexão consigo mesmo e com Deus. É um momento para se fazer um balanço sobre a própria existência, verificar o que está bem e buscar melhorar o que não está, a fim de “corrigir a rota” e voltar-se o mais próximo possível do querer de Deus.

FORMATO E DURAÇÃO

Os retiros podem ter diversos formatos e duração, sendo os mais comuns aqueles oferecidos em apenas dois dias, normalmente aos fins de semana, assim como também há aqueles que duram mais tempo, chegando a até sete ou mais dias. Podem ser direcionados a públicos específicos, como retiro para jovens, para profissionais, para estudantes, para homens, para mulheres, para casais, para solteiros, para comunidades, entre outros.

Aquele que vive o retiro espiritual de modo autêntico experimenta a atração, o encanto de Deus, e volta renovado, transfigurado à vida ordinária, ao ministério, às relações cotidianas, levando consigo o perfume de Deus.

Papa Francisco

LOCAL E ATIVIDADES

Costumam ser realizados em uma casa de retiros, local que permite contato com a natureza, silêncio, contemplação e tranquilidade. As atividades incluem palestras ou pregações, ministradas por sacerdotes e leigos, além da Santa Missa, Adoração, Terço e Via Sacra, entre outras

práticas de piedade. Há também intervalos de tempo sem nenhuma atividade, para que cada participante possa pensar sobre sua própria vida (os chamados “desertos”), abastecer-se por meio da leitura de trechos das Sagradas Escrituras e de obras de espiritualidade, e, ainda, descansar. Além disso, quem desejar pode conversar com um padre e até mesmo se confessar.

“Procurai fazer um pouco de silêncio, também cada um de vós na vossa vida, para pensar, refletir e rezar com maior fervor e fazer propósitos com mais decisão. Hoje é difícil fazer “zonas de deserto e silêncio” porque estamos continuamente envoltos numa engrenagem de ocupações, no barulho dos acontecimentos e nos anúncios dos meios de comunicação, de modo que a paz interior corre perigo e encontram obstáculos os pensamentos mais sérios que devem qualificar a existência do homem”.

São João Paulo II

PARA QUE SERVE?

Visando sempre ao crescimento espiritual, os objetivos de um retiro espiritual são vários. Em resumo, porém, trata-se de percorrer, na presença de Deus, os diversos âmbitos da própria vida: família, trabalho, amizades e o relacionamento com o Senhor, conforme alguns exemplos mencionados a seguir. Buscar o sentido da vida, aprofundar no conhecimento da personalidade, (re)descobrir os próprios talentos; Tomar consciência do que é preciso fazer para melhorar, para recomeçar, para rever o rumo da própria vida, para ser mais feliz; Lidar de maneira harmoniosa com os sonhos e projetos. Decidir e empreender de forma consciente por aquilo que for melhor; Entender os acontecimentos e as circunstâncias da vida, muitas vezes aparentemente sem senti-

do, e fazer uma leitura objetiva desses eventos sob o olhar de Deus; Melhorar o relacionamento com as pessoas que Deus coloca no caminho, a fim de viver mais intensamente a caridade; Compreender as reações interiores, que muitas vezes não são tão claras: as alegrias, tristezas, angústia e esperanças; Despertar a alma e verificar o grau de protagonismo para com a própria vida, sobretudo em contraste com as circunstâncias que a permeiam.

O SÃO PAULO traz a seguir algumas sugestões de instituições que oferecem a oportunidade de participar de um retiro espiritual, não somente no período quaresmal, como também em outras épocas do ano: Opus Dei: a prelazia católica oferece diversas opções de retiros espirituais, em locais separados para o público feminino e o masculino. Mais informações podem ser obtidas em: https://cutt.ly/WAYhQa2 (retiros espirituais para mulheres) https://cutt.ly/mAYhTuJ (retiros espirituais para homens) Canção Nova: a comunidade católica coloca à disposição o Retiro Quaresmal 2022, cujo tema é “Por tuas chagas fomos curados”. Informações adicionais sobre o retiro podem ser acessadas em: https://cutt.ly/JAYhPCO A agenda completa de atividades oferecidas está disponível em https://blog.cancaonova.com/saopaulo/ Mosteiro de Itaici: localizado na cidade de Indaiatuba (SP) e mantido pelos Jesuítas, o local oferece continuamente diversas atividades, como cursos, retiros e exercícios espirituais. O próximo Retiro Temático acontecerá entre os dias 11 e 13 de março. Para informações, visite o link a seguir: https://cutt.ly/IAYhGsQ Para demais atividades, acesse: www.itaici.org.br/ Foyer de Charité: inspirado na espiritualidade da mística francesa Marthe Robin, oferece retiros ao longo do ano. O próximo, que será para casais, acontecerá entre os dias 18 e 20 de março. Informações pelos telefones (24) 2465-2288 e (24) 98865-8948, ou no site www.foyerdemendes.com.


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| 9 a 15 de março de 2022 | Reportagem | 13

CF 2022 – Fraternidade e Educação

O que fazer para uma formação básica mais eficaz? Daniel Guimarães/Educação SP

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

O papel indispensável da escola para a educação formal e a capacitação para a cidadania, o trabalho e as complexas relações sociais, bem como a necessidade de que toda a sociedade discuta e avalie os planos da Educação e que cada ente governamental cumpra suas responsabilidades estão entre os apontamentos do texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano (cf. CF 2022, nºs 69 e 270). Esse olhar integral para a educação básica ajudará a lidar com as diferentes problemáticas do ensino no Brasil, tais como as precariedades de infraestrutura das escolas, os déficits na alfabetização, o nível de aprendizado insuficiente dos estudantes e a evasão escolar. No documento “Educação Já 2022: uma proposta de agenda estratégica para a educação básica brasileira”, elaborado pela organização Todos pela Educação, especialistas e entidades de diferentes áreas fazem apontamentos para melhorar a qualidade da educação básica no País. A agenda, sintetizada em uma proposta estratégica sistêmica com dez pontos (leia abaixo), tem como primícias que a Educação de qualidade deve ser acessível a todos os estudantes, que são necessárias múltiplas frentes de ação, incluindo a interação com diferentes áreas governamentais, bem como medidas voltadas à valorização e à profissionalização dos recursos

humanos da Educação, além da partilha de boas experiências em políticas educacionais que já ocorrem.

PARA REVER AS PERDAS DA PANDEMIA

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da Todos pela Educação, destaca que a primeira preocupação é a de garantir a volta dos estudantes para a escola: “Também é importante que recebam um acolhimento que restabeleça o vínculo deles com a escola. Após um período tão prolongado de fechamento, as crianças precisam ser acolhidas emocionalmente, receber afeto neste retorno”. Côrrea lembra que identificar as lacunas no aprendizado é outro passo fundamental. “Deve-se verificar quais crianças

ainda não aprenderam a ler e a escrever, a fim de que tenhamos programas específicos de recuperação desta aprendizagem, tendo professores preparados, muito bem apoiados, para que a alfabetização aconteça”, comenta, apontando, ainda, que uma atenção especial deve ser dada aos alunos do 3o e 4º anos do ensino fundamental, pois podem não ter sido devidamente alfabetizados nos dois primeiros anos em razão da pandemia e do fechamento das escolas.

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS

A presença efetiva dos pais no processo educativo também é indispensável: “É muito importante que as famílias incentivem as suas crianças e jovens a estudarem, que participem, que busquem entender o que está acontecendo na escola, que pro-

piciem momentos para o estudo e para as lições durante a convivência familiar”, aponta Corrêa. Também a esse respeito, o texto-base da CF 2022 indica que as instituições escolares “são chamadas a respeitar a família como a primeira sociedade natural e a pôr-se ao seu lado, em uma reta concepção de subsidiariedade” (CF 2022, nº 225), e que estas devem ser incentivadas a participar de forma construtiva e respeitosa no dia a dia das escolas que atendem às comunidades (cf. no 267).

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DOS ESTUDANTES

Corrêa ressalta que não haverá melhoria da educação básica enquanto forem mantidos currículos que se pautem apenas na valorização dos saberes instrumentais e não no desenvolvimento integral dos estudantes. “A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inovou ao trazer competências gerais que dizem respeito a este desenvolvimento integral. Há um imenso desafio em implementá-la, mas este é o caminho a ser seguido em cada município e estado, pois não adianta promovermos uma Educação na qual as escolas não são interessantes aos estudantes, em que a ida à escola é simplesmente uma obrigação para eles e que se mantenha a obsessão em aprender alguns conteúdos específicos e disciplinas que pouco fazem sentido para a vida deles”, conclui.

CONHEÇA OS 10 PONTOS DA AGENDA EDUCAÇÃO JÁ 2022 bem preparem os futuros professores; que as secretarias aprimorem os processos de seleção dos profissionais e implementem programas de formação e apoio aos professores.

Veja alguns dos apontamentos da proposta estratégica sistêmica da agenda "Educação Já 2022". A íntegra está disponível em https://cutt.ly/kAzQPzo.

1) Fortalecimento

da governança nacional da educação básica: o governo federal, estados e municípios devem trabalhar juntos e de forma organizada; reforçar o papel de coordenação do Ministério da Educação (MEC) e que os estados apoiem e se articulem com os municípios.

2) Modernização da gestão dos órgãos da administração pública educacional: o MEC e as secretarias da Educação devem apoiar a escola. Para tal, seus membros precisam de competências técnicas e políticas para os cargos que ocupam.

3)

inanciamento mais distributivo e indutor de F qualidade: ampliar os investimentos por aluno e distribuir melhor os recursos. Espera-se que o novo Fundeb leve à redução do subfinanciamento educacional crítico.

4) Fortalecimento

da profissão docente: que os professores estejam bem preparados, motivados e com condições adequadas de trabalho; atrair estudantes de alto potencial para os cursos de formação inicial docente; que os cursos de Pedagogia e Licenciatura

5)

rofissionalização da gestão escolar: os gesP tores não devem ser vistos como gerentes administrativos, “mas como lideranças capazes de tornar as escolas ambientes realmente propícios para o desenvolvimento integral dos estudantes”.

6) Gestão pedagógica: que seja coerente e ca-

paz de apoiar o trabalho dos professores e que haja currículos alinhados à Base Nacional Comum Curricular, uma vez que a BNCC reforça a necessidade da definição de metas claras de aprendizagem e de um alinhamento entre os diferentes elementos da gestão pedagógica, a partir dos currículos que vêm sendo (re)estruturados; adoção de metodologias de ensino mais modernas, com maior uso de tecnologias a favor da aprendizagem.

7) Educação infantil de qualidade, articulada a

um atendimento integral na primeira infância: que todas as crianças tenham amplas oportunidades de desenvolvimento. Para isso, são essenciais políticas de atendimento integral e integrado de qualidade, por meio de ações in-

tersetoriais entre diferentes áreas (como a Educação, a Saúde e a Assistência Social).

8) Alfabetização: que as crianças sejam alfabeti-

zadas nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Deve haver um conjunto sistêmico e integrado de ações de apoio e políticas de incentivo dos governos estaduais às prefeituras; na esfera federal, que as ações do MEC – no âmbito da Política Nacional de Alfabetização – dialoguem com os currículos alinhados à BNCC e com as políticas já estruturadas nas redes de ensino.

9) Uma nova proposta de escola para os anos

finais do ensino fundamental: que as escolas sejam atrativas aos adolescentes, preparando-os academicamente e para a vida no mundo contemporâneo. Elas precisam estar conectadas às necessidades, interesses e desejos dos estudantes.

10) Implantação

de mudanças profundas no ensino médio: as escolas devem preparar o jovem como indivíduo, cidadão e profissional. Devem ser efetivadas as mudanças trazidas pela Lei nº 13.415/2017, como a expansão da carga horária (de 800 para 1.400 horas por ano) e a adoção de um currículo diversificado e flexível, com a oferta de possibilidades aos estudantes, por meio dos itinerários formativos.


14 | Reportagem | 9 a 15 de março de 2022 |

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Irmãs do Imaculado Coração de Maria intensificam ações em favor das pessoas em situação de rua Irmãs do Imaculado Coração de Maria

PROJETO RECÉM-LANÇADO OFERECE OFICINAS DE GERAÇÃO DE RENDA E REINSERÇÃO À SOCIEDADE, RODAS DE CONVERSAS, REFORÇO ESCOLAR, ALFABETIZAÇÃO E ATIVIDADES LÚDICO-PEDAGÓGICAS

AJUDA MÚTUA

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria (ICM), fundada há mais de 170 anos no Rio de Janeiro (RJ) pela Bem-Aventurada Bárbara Maix (1818-1873), iniciou uma frente de missão em favor das pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. O projeto “Redesenhando a vida com a população em situação de rua” é um marco congregacional, assumido pelas Irmãs, em 2020, durante o XX Capítulo Geral Ordinário. Após estudos, reflexões

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Cardeal Parolin ao ministro das relações exteriores da Rússia: ‘Parem os combates’ https://cutt.ly/PAT05rA Papa Francisco visitará a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul https://cutt.ly/sAT2xIG ACN envia ajuda a 27 freiras na Mauritânia https://cutt.ly/aAT3LFH Mulheres lideram 101 milhões de empreendimentos no Brasil, afirma Sebrae https://cutt.ly/ZAT2PgE Presidência da CNBB apresenta ‘Carta do Episcopado Brasileiro às Famílias, Educadores e Gestores’ https://cutt.ly/cAT2ZK9 Dom Odilo: quem se aproxima de Deus deve buscar a santidade https://cutt.ly/IAT8rVD

forme dados do Censo da População em Situação de Rua, divulgado pela Prefeitura em janeiro deste ano.

Ações em prol dos ‘irmãos da rua’ acontecem na zona Leste da cidade e na região central

e orações, o projeto começou a ser colocado em prática em fevereiro de 2022. A nova comunidade pastoral está situada na Rua Irmã Carolina, no bairro do Belenzinho, zona Leste da capital. A atuação das consagradas se dará, de modo particular, nos bairros do Belenzinho, Brás, Bresser, Barra Funda e na região da Sé. Integram a comunidade as Irmãs Beatriz Pagnossim, Dalva Turella, Maria Itikawa, Marie Mirca Cinea e Nelci Ferreira Vieira.

AÇÕES CONCRETAS

O objetivo das religiosas é atuar em comunhão com iniciativas já existentes na Arquidiocese, como as da Pastoral do Povo de Rua, Caritas Arquidiocesana de São Paulo e em parceria com os serviços públicos. Na capital, além dos trabalhos nas ruas, embaixo dos viadutos, praças e calçadas, as consagradas têm o intuito de sair das ações pontuais (até então realizadas) e destinar atividades diretas para beneficiar crianças, adolescentes e mulheres em situação de rua – com ajudas como doação de cestas básicas, escuta, apoio e oficinas de geração de renda e reinserção à sociedade, conforme a área de interesse de cada pessoa. Entre as ações estão a realização de rodas de conversas; reforço escolar, alfabetização e atividades lúdico-pedagógicas para as crianças; fornecimento de alimentação e roupas; encaminhamento de demandas aos órgãos públicos e seu acompanhamento; e a participação nos movimentos sociais que chamem a atenção para a causa. “A concretização desse projeto exige de nós coerência com os princípios do Evangelho, no compromisso com os pobres que estão à margem da sociedade do nosso tempo. Certamente, essa é uma das formas de, como filhas de Bárbara Maix, afirmar ao mundo que seu sonho

continua vivo”, apontou Irmã Beatriz Pagnossim.

O DRAMA DAS RUAS

Em entrevista ao O SÃO PAULO, as religiosas Beatriz e Dalva Turella contaram, emocionadas, as realidades enfrentadas por crianças, adolescentes e mulheres em situação de rua na capital. Irmã Dalva atuou durante 40 anos nas pastorais sociais no Nordeste do País e disse já ter visto muitas realidades de fome, desemprego, violência, preconceitos e discriminação. “Decidi pela vida religiosa para ser um sinal de esperança na vida de tantas pessoas invisíveis à sociedade. A pandemia escancarou ainda mais essa realidade. Como consagrada e como congregação, é nossa missão estender a mão, ter a compaixão com os mais vulneráveis, enfileirados embaixo dos viadutos, nas calçadas, nos barracos”, disse a freira. Irmã Beatriz recordou histórias de mulheres que clamam por um pedaço de pão, por uma oportunidade de recomeçar: “Nas visitas às periferias da nossa cidade, encontramos histórias de fome, violência doméstica, desemprego e muito sofrimento. São pessoas de bem que, por causa do desemprego, da crise econômico-política, fizeram das ruas sua morada, não por escolha, mas pelas circunstâncias se encontram em situação de rua”. As freiras reforçaram que a essência do carisma é a “busca contínua da vontade de Deus, caracterizada pelo seguimento radical a Jesus Cristo, numa disponibilidade aos apelos dos mais pobres em cada momento histórico, olhando de modo preferencial as mulheres em situação de vulnerabilidade, a juventude, as crianças e adolescentes”, afirmaram, recordando a frase da fundadora: “Não esqueçamos os pobres”. Nas ruas da capital paulista vivem, aproximadamente, 32 mil pessoas, con-

A Paróquia São José do Belém abriu as portas para acolher o projeto e suas atividades. Padre Marcelo Maróstica Quadro, Pároco e Diretor da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, disponibilizou algumas salas paroquiais para a realização das atividades do projeto. Na Paróquia, acontecem as oficinas de corte e costura, de artesanato, rodas de conversa e momentos de escuta e oração. O Educandário São José do Belém, uma obra social do ICM, é parceiro no projeto e contribuirá com a parte do reforço escolar, alfabetização e atividades lúdico-pedagógicas. “Muitas mães estão preocupadas com seus filhos fora da escola. A Educação é a base, e nosso intuito com o projeto é agregar conhecimento a essas crianças e adolescentes, despertando o interesse pelos estudos”, destacou Irmã Beatriz. Cestas básicas são doadas às famílias e mães solo. “É uma ação pontual que sacia a fome, mas, por outro lado, renova a esperança e desperta a atitude de transformar a própria realidade”, disse Irmã Dalva. Outro viés do projeto é garantir a dignidade dessa população por meio de políticas públicas, cobrando o encaminhamento e acompanhamento das demandas dessa população nos órgãos públicos. “Precisamos mobilizar a sociedade e as autoridades para assegurar os direitos à vida, à saúde, à moradia, à alimentação digna”, expressou Irmã Beatriz, elucidando que as pessoas em situação de rua “podem até ser invisíveis para a sociedade, mas não são invisíveis para Deus”.

SOBRE A CONGREGAÇÃO

A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria foi fundada em 8 de maio de 1849, no Rio de Janeiro (RJ), pela Bem-Aventurada Bárbara Maix, cuja causa de canonização já está em curso. É a segunda ordem religiosa mais antiga do Brasil. Está presente em mais de cem comunidades religiosas em solo brasileiro e, também, na Bolívia, Argentina, Haiti, Itália, Angola e Moçambique. As religiosas têm como carisma a “busca contínua da vontade de Deus” e exercem a missão nas áreas da Educação, assistência social, animação missionária, pastorais sociais, catequese, saúde alternativa e formação de lideranças.


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Ucrânia: ‘Correm rios de sangue e lágrimas’ FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

O que vemos na Ucrânia “não é só uma operação militar, mas uma guerra, que semeia morte, destruição e miséria”, disse o Papa Francisco, após a oração do Angelus do domingo, 6. “Na Ucrânia, correm rios de sangue e de lágrimas”, declarou o Pontífice, contrariando a versão que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem buscado passar com a propaganda estatal em seu país. Em 24 de fevereiro, Putin ordenou a invasão da Ucrânia, declarando ser necessária uma “operação militar” para libertar o país vizinho do nazismo e da influência norte-americana que, conforme seu discurso, colocavam a Rússia em risco. No contexto diplomático, a grande maioria dos países das Nações Unidas viu esse passo como uma decisão arbitrária e injustificada, ou seja, uma invasão de um país independente e soberano.

AUMENTAM AS VÍTIMAS

Mais de 2 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia desde a invasão russa, de acordo com a agência para refugiados das Nações Unidas. A maioria tem buscado asilo em países vizinhos, especialmente Polônia, Eslováquia, Moldávia e Romênia. A maior parte é de mulheres e crianças, pois os homens ucranianos com idade entre 18 e 60 anos têm sido obrigados a ficar no país para lutar. Ainda não é possível estimar com precisão os mortos e os feridos, pois não há uma fonte de informações independente dos governos dos dois países. Dados do governo ucraniano apontam para ao menos 2 mil civis ucranianos mortos, além de 9 mil soldados russos. A Rússia afirma que perdeu cerca de 500 militares e matou 2,8 mil soldados ucranianos. “As vítimas são cada vez mais numerosas, assim como as pessoas em fuga, especialmente mães e crianças. Neste país martirizado, cresce

dramaticamente, de hora em hora, a necessidade de assistência humanitária”, disse o Papa. “Faço um apelo urgente para que os corredores humanitários sejam verdadeiramente seguros”, acrescentou, referindo-se ao fato de que essas áreas, usadas para permitir o deslocamento de civis e a chegada de remédios e alimentos, não têm sido respeitadas.

| 9 a 15 de março de 2022 | Papa Francisco | 15

Anunciada a canonização de mais três santos para a Igreja Reprodução

NOVAS INICIATIVAS

O Papa Francisco agradeceu a todos os que acolhem refugiados e aos jornalistas que se arriscam para fornecer informações sobre o conflito. “Sobretudo, apelo para que cessem os ataques armados, à prevalência das negociações – e que prevaleça também o bom senso –, e se volte ao respeito do direito internacional”, afirmou o Santo Padre. “A Santa Sé está disposta a fazer tudo para se colocar a serviço da paz”, comentou. Para avaliar a situação em um gesto de solidariedade, o Papa enviou dois cardeais de Roma para a fronteira com a Ucrânia: o Esmoleiro Apostólico, Cardeal Konrad Krajewski, e o Prefeito interino do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny. Em nota, o Vaticano informou que este “gesto extraordinário” do Pontífice levará ajuda às pessoas mais necessitadas, representando “não só o Papa, mas todo o povo cristão que quer expressar a solidariedade ao povo da Ucrânia”. O Cardeal Krajewski foi enviado à fronteira entre a Polônia e a Ucrânia, onde visita refugiados e voluntários. Já o Cardeal Czerny foi enviado à Hungria, para visitar alguns centros de acolhida para migrantes ucranianos. Dedicará atenção também aos africanos e asiáticos que vivem na Ucrânia, pois muitos já estavam em situação precária antes da guerra. De acordo com o Vaticano, a maioria dos que fogem têm fé em Deus e, portanto, a assistência religiosa lhes pode ser muito útil.

O dia 15 de maio verá uma das maiores missas de canonização dos últimos anos. Além dos sete novos santos já anunciados em novembro do ano passado – entre eles o Beato Charles de Foucauld –, mais três serão incluídos. Entre os novos nomes está o do Beato Tito Brandsma, religioso carmelita e mártir do nazismo, morto em 1942. Renomado escritor e jornalista holandês, ele foi executado com uma injeção de ácido fênico no campo de concentração de Dachau, na Alemanha. Serão, portanto, dez os novos santos aclamados na cerimônia. No consistório realizado na sexta-feira, 4, reunião do Papa com os cardeais presentes em Roma, foi formalizada a data de canonização de Brandsma e também das Beatas Maria Rivier, fundadora da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, e Maria de Jesus, fundadora da Congregação das Irmãs Capuchinhas da Imaculada de Lourdes. (FD)


16 | Pelo MUndo | 9 a 15 de março de 2022 |

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Após a invasão da Rússia, brasileiro foge da Ucrânia com esposa grávida de 7 meses Arquivo pessoal

JOÃO GUILHERME (FOTO), 21, E ANASTASIIA, 19, UCRANIANA E GRÁVIDA DE 7 MESES, MORAVAM EM KIEV, A CAPITAL DO PAÍS ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Em 24 de fevereiro, o mundo assistia aos primeiros movimentos da invasão da Ucrânia pelas tropas russas. Antes mesmo do início dos ataques, milhares de ucranianos começaram a deixar o país ou pelo menos garantir os suprimentos necessários para se abrigar em algum lugar mais seguro. Até a terça-feira, 8, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões de ucranianos já haviam deixado o País, sem contar os deslocados no próprio território ucraniano. Em meio aos ataques, João Guilherme e a esposa, Anastasiia, deixaram tudo em Kiev, capital ucraniana, e fugiram para Viena, capital da Áustria. Ao O SÃO PAULO, ele contou a experiência vivida não só por sua família, mas por toda a população ucraniana. Relatou, ainda, a tensão e apreensão com os toques de sirenes e mísseis.

CENÁRIO DE GUERRA

Quando deixou o Brasil em 2018, o empresário João Guilherme Azevedo Pires Barreto Fonseca Müller Haydan Kramberger não imaginou que viveria de perto a realidade de uma guerra, com os sentimentos de medo, insegurança, impotência, necessidade de fuga, destruição e morte. Foi à Polônia, onde cursou Economia e Comércio Exterior, e na faculdade conheceu sua esposa, a ucraniana Anastasiia, que está grávida de 7 meses, de Teresa. Após quatro anos em solo polonês, o casal decidiu ir a Kiev, para terem a bebê perto da família materna, que reside em

Lviv, cidade que fica na fronteira com a Polônia. Quando o conflito começou, fazia apenas três meses que eles tinham se mudado. “Quando chegamos a Kiev, ainda não estava esse caos todo, mas logo na semana seguinte começou essa tensão diplomática entre os dois países”, relatou João Guilherme, que soube do primeiro ataque que acontecera no aeroporto da cidade por meio de seus pais brasileiros. “Acordei com eles ligando superpreocupados com o ataque. Eu morava a 20 quilômetros do ponto atacado, mas precisamos agir rápido para sair da cidade”, disse.

A FUGA EM MEIO AO CAOS

Sabendo da possibilidade do ataque ao país, João Guilherme comprou passagens de trem para deixar a capital. Logo após o primeiro bombardeio, o casal conseguiu partir de Kiev e foi para Lviv, numa viagem de quase duas horas e ali ficaram três dias aguardando até conseguirem um ônibus para prosseguir viagem até um ponto seguro. “Quando eclodiu a guerra, fomos obrigados a deixar tudo para trás e fugir, inclusive nosso apartamento novo. Saímos de casa somente com uma mala pequena, levando o básico”, contou. No caminho de

casa até a estação, o casal viu de perto o desespero das pessoas. “Era grande o fluxo de carros na rua, de pessoas querendo abastecer, de pessoas querendo sair da cidade, que já estava com os acessos bloqueados. Eram filas nos mercados para garantir suprimentos, nos caixas eletrônicos para sacar dinheiro”, recordou. Chegando a Lviv, eles aguardaram um ônibus que os levou até a Áustria, onde permanecem no momento. “O itinerário do ônibus em dias normais é feito em nove horas, mas, por causa do grande número de pessoas saindo pela fronteira com a Polônia, nós ficamos três dias dentro do ônibus – lotado, sem ar-condicionado, com um único banheiro, sem poder sair e com a esposa no 7º mês de gestação”, disse, recordando ainda que a viagem foi marcada por momentos de medo, insegurança e muita tensão. “Por causa da incursão militar, grande parte da população buscou sair às pressas pela fronteira. Nosso ônibus, por exemplo, tinha mais passageiros que o permitido, e fez um trajeto de cinco quilômetros em dois dias”, contou, recordando o itinerário por Cracóvia e Katovice (Polônia), Brno (República Tcheca) até chegar a Viena.

MISTO DE SENTIMENTOS

João Guilherme relatou que o contexto de guerra gera um misto de sentimentos: “Primeiro vem a tristeza em ter que deixar para trás tudo o que foi construído; depois, estando imerso na realidade, vendo tudo à nossa volta, vem o sentimento de impotência de não conseguir fazer nada para acabar com tudo isso; em seguida, brota um orgulho de estar ali junto a este povo que é forte, que luta e dá a vida para defender, de um agressor gigantesco, o país, a cultura, o idioma a sua própria história”. João Guilherme destacou que tem buscado colaborar com os ucranianos: “Tenho me esforçado para ajudar a conectar militares, bombeiros que possam ajudar e somar forças junto a esse povo que luta pela vida e pela defesa da sua nação”, ressaltou.

A MÃO DE DEUS

Os momentos de tensão diante dos toques frequentes das sirenes, as explosões, a correria para se esconder nos abrigos antiaéreos, nos bunkers – fugindo de bombas, dos infiltrados russos nas cidades ucranianas são terríveis –, mas a mão de Deus está protegendo e fortalecendo o povo neste momento de tensão e guerra. “A fé, a confiança na Divina Providência são fortalezas importantes nesse momento. Acredito que Deus está olhando com amor e bondade para toda a Ucrânia e tendo compaixão de seu povo oprimido”, disse. João Guilherme contou o testemunho de fé a partir de relatos dos soldados ucranianos que estão na linha de frente na batalha. “Os próprios soldados relatam que sentem a presença de Deus e dos Anjos da Guarda protegendo-os e até desviando as bombas que poderiam ter ceifado suas vidas”, salientou. Em seu canal no YouTube “Diário da Terceira Guerra”, João Guilherme gravou vídeos para mostrar como estava a situação no país. Segundo ele, esta é uma forma de tranquilizar os pais e registrar sua experiência e suas impressões sobre o conflito em território ucraniano.


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| 9 a 15 de março de 2022 | Reportagem | 17

Vitória da vida: Senado dos EUA veta projeto de lei que ampliaria prática do aborto Pixels/Pixabay

DANIEL GOMES

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“O fracasso em avançar esta medida extrema hoje é um tremendo alívio.” Assim se manifestaram Dom William Lori, Presidente do Comitê de Atividades Pró-Vida da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos; e o Cardeal Timothy Dolan, Presidente do Comitê de Liberdade Religiosa, ao saudar o Senado norte-americano pelo veto a um projeto de lei que abriria caminhos para a massificação da prática do aborto naquele país. Em 28 de fevereiro, por 48 votos a 46, o Senado norte-americano vetou o projeto de lei H.R. 3755, a chamada política de “Proteção da Saúde da Mulher” (WHPA), pelo qual não poderia haver restrições ao aborto em todo o país até o 7o mês de gestação. Em entrevista ao O SÃO PAULO, a advogada Regina Beatriz Tavares da Silva, pós-doutora em Direito da Bioética, explicou que caso o H.R. 3755 fosse aprovado, ele se sobreporia às legislações estaduais restritivas ao aborto, como as que existem no Texas, Alabama, Geórgia, Mississippi, Ohio e Kentucky. “As portas estariam escancaradas ao aborto em todos os Estados Unidos da América do Norte e não só aos que já o permitem, como Nova Iorque em que essa prática é possibilitada até o 6º mês de gestação”, detalhou.

UM PASSO ADIANTE NA DEFESA DA VIDA

A não aprovação da WHPA pode ter sido o primeiro passo para uma mudança na “cultura de morte” nos Estados Unidos, onde a descriminalização do aborto ganhou força a partir de 1973, quando a Suprema Corte, ao decidir sobre o caso Roe x Wade, deliberou que tal prática poderia ser feita até o momento em que o feto fosse viável, ou seja, tenha condições de sobreviver fora do útero materno, o que ocorre por volta do 6o ou 7º mês de gestação. “Segundo essa decisão, o médico é quem deve verificar se o feto é viável. Se for, não se faz o aborto, se não for, este é realizado. Assim, o já referido projeto de lei, vetado pelo Senado norte-americano, tinha proposição assemelhada. Note-se que, por se tratar de decisão da Suprema Corte, oriunda do Poder Judiciário norte-americano, o caso Roe x Wade não se sobrepõe às leis estaduais que restringem o aborto, o que aconteceria somente se o citado projeto de lei

fosse aprovado”, detalha Regina Beatriz, que também é diretora de Relações Institucionais da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp) e presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Neste ano, a Suprema Corte deve julgar o caso Dobbs x Jackson, que trata da constitucionalidade de uma lei do estado de Mississippi que proíbe o aborto após a 15a semana. Regina Beatriz lembra que esse julgamento “busca rever a decisão prolatada no caso Roe x Wade. No caso Dobbs x Jackson, debate-se a proibição do aborto, sendo que as apostas são no sentido de que o aborto seja proibido diante da atual composição da Suprema Corte”, afirma. Na quinta-feira, 3, o Parlamento da Flórida aprovou uma lei que veda naquele estado a realização do aborto após 15 semanas de gestação. Tratou-se, portanto, de uma decisão sobre temática similar a que será deliberada no caso Dobbs x Jackson.

FALSAS VANTAGENS À MULHER

Recentemente, o aborto passou a ser permitido na Colômbia até o 6o mês de gravidez. Na Argentina, desde 2020 a prática não é criminalizada até a 14a semana de gestação e, no México, já há autorização para que se realize até o 3o mês de gravidez. A presidente da ADFAS lembra que essas decisões aumentam as pressões para que os demais países da América Latina sigam o mesmo caminho permissivo do aborto e entende que isso decorre espe-

cialmente da precariedade dos sistemas de saúde. “O devido apoio à gestante, em nível também psicológico e assistencial, daria outro cenário à população carente, evitando o aborto”, avalia, dizendo, porém, que em vez disso, os países têm pendido para a permissão do aborto, “alegando-se, falaciosamente, a tutela dos direitos da mulher, em especial a sua dignidade, o seu corpo e a sua liberdade”. Também para Lourdes Varela, coordenadora latino-americana do movimento “40 Dias pela Vida”, quando o aborto é legalizado e apresentado como um “direito da mulher”, a tendência é que tal prática se dissemine: “Quando a moça se sente em uma crise por causa da gravidez e se apresenta o aborto como única solução e como algo dentro da lei, ela conclui que é o correto a ser feito”, comenta, destacando, entretanto, que esse é um entendimento equivocado: “O aborto traz muitos problemas à mulher. O primeiro deles é de ordem espiritual, pois todas sabemos que matar uma pessoa é crime, ainda mais quando se trata do seu próprio filho. O aborto não é algo natural nem saudável, é uma atrocidade”. Regina Beatriz lembra que muitas das mulheres que abortam o fazem não por vontade própria, mas devido a pressões externas de familiares ou do homem que não quer assumir a paternidade: “Nesse momento, a mulher também está vulnerável a coações e constrangimentos externos. A legalização do aborto agravaria tais circunstâncias”.

E O BEBÊ, POR QUEM SERÁ PROTEGIDO?

A pós-doutora em Direito da Bioética também é enfática ao afirmar que “a legalização do aborto é uma ameaça à vida ou uma ‘autorização para matar’”. “Não se pode pensar em proteger a suposta dignidade de uma pessoa, no caso a mulher, em desprestígio ao feixe de direitos que compõe essa dignidade de outro ser humano, no caso o nascituro. A alegação de que o direito ao corpo da mulher justificaria o aborto confronta e viola diretamente o direito fundamental à vida do ser humano em gestação, de modo que não pode ter respaldo aquele argumento”, ressalta a advogada, destacando que compete ao Estado, por meio de leis, defender a vida do ser humano em gestação. “As proteções constitucionais que são dadas à pessoa devem ser as mesmas, independentemente do estágio de vida em que se encontra. Afinal, não há outra natureza antes do nascimento, somos todos seres humanos desde a fecundação. Inclusive, há vertentes de defensores do aborto (como Ronald Dworkin e Michael Tooley) que admitem que o feto não é apenas um ser vivo, mas é um ser humano vivo. A incongruência é total! Admitem que o embrião é uma espécie humana, mas apresentam circunstâncias ou tempo da gestação em que a mãe estaria autorizada a matá-lo”, avalia a diretora de Relações Institucionais da Ujucasp.

NÃO SE CALAR DIANTE DO ÓBVIO

Regina Beatriz lembra que os defensores do aborto estão bem articulados e por isso têm obtido vitórias em projetos de lei no Legislativo e decisões no Judiciário. “Gritam, bradam a todos os ventos que o aborto deveria ser descriminalizado, enquanto quem é contrário ao aborto e defende a vida em qualquer de suas fases se cala sobre a necessidade de sua proibição. E é um calar que, muitas vezes, não advém de omissão deliberada, mas, sim, da certeza ou convicção de que estamos do lado certo e da verdade, o que nos dá uma impressão falsa de segurança sobre a continuidade da vedação ao aborto. No entanto, não podemos esquecer que toda a mentira repetida e bradada várias vezes, sem a devida e fundamentada oposição, pode passar por uma verdade”, alerta.


18 | Com a Palavra | 9 a 15 de março de 2022 |

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Philipp Ozores

‘Estamos todos os dias, com alegria e esperança, levando a cruz de Nosso Senhor’ ACN

DANIEL GOMES

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Presente em mais de 140 países, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) apoia diferentes iniciativas da Igreja em todos os continentes. Em sua primeira visita à América Latina desde o início da pandemia de COVID-19, o secretário-geral da entidade, o alemão Philipp Ozores, conversou com O SÃO PAULO sobre os projetos em curso, a realidade da perseguição aos cristãos em algumas partes do mundo e o que percebeu nas idas aos escritórios da ACN no México, Colômbia, Brasil e Chile.

O SÃO PAULO – Quais os principais projetos globais da ACN para este ano? Philipp Ozores – Temos três grandes projetos: o primeiro, a campanha de emergência para a Ucrânia, que seguramente vai continuar nos próximos meses. O segundo projeto é uma campanha mundial para ajuda aos seminaristas, pois temos de considerar que os seminaristas são o futuro da nossa Igreja. Hoje, há cerca de 100 mil seminaristas no mundo e um a cada oito deles recebe algum tipo de ajuda da ACN. Nessa Quaresma, queremos ajudar efetivamente os seminários em todas as partes do planeta. O terceiro projeto, que é algo permanente na nossa fundação, é promover a união dos cristãos no Oriente Médio. O berço do Cristianismo está no Oriente Médio. No Líbano, na Síria, no Iraque, vimos nos últimos anos o decréscimo massivo da presença dos cristãos. Permaneceremos fazendo essa campanha humanitária para a reconstrução dos locais e a manutenção dos trabalhos pastorais, ajudando aqueles que querem permanecer em sua terra. Afinal, os cristãos estão ali antes da chegada das outras religiões. Uma crise imensa e recente é a do Líbano, que está mais destruído e, por isso, é o que recebe mais ajuda da ACN desde o ano passado, após a explosão ocorrida em Beirute em 2020. Assim que as tropas russas invadiram a Ucrânia, prontamente a ACN anunciou um pacote de ajuda emergencial à Igreja naquele país. Como será mantida essa ajuda? A ACN tem uma relação muito próxima com a Igreja ucraniana há décadas. Isso desde a dissolução da União Soviética e o necessário restauro da Igreja após a queda do Muro de Berlim. Eles são verdadeiramente nossos irmãos e temos muitos projetos no país. Estamos muito preocupados com

os desdobramentos da invasão russa e estamos prontos para ajudar a população ucraniana. Quando a guerra começou, a ACN já estava pronta para lançar uma campanha mundial. Agora, continuamos coletando essas doações. Começamos enviando um pacote de emergência de 1,2 milhão de euros, que chegará à Ucrânia nos próximos dias. Com isso, a Igreja que permanece leal a seus fiéis, também em zonas de guerra, pode ter as portas abertas para os atingidos e para manter o seu clero e os programas pastorais. A Igreja ucraniana está sofrendo muito agora com toda essa situação. Embora não se trate de uma guerra religiosa, os cristãos estão sofrendo muito, e nós temos a obrigação de ajudá-los. Sobre a perseguição aos cristãos pelo mundo, há tempos se verifica a intensificação dessa realidade em regiões como a África Subsaariana. Qual o panorama nessa região? A maior atenção está naqueles países com grande quantidade de cristãos e que já estão enfrentando algum problema. Falo, por exemplo, da Nigéria, com 180 milhões de habitantes; Burkina Faso, com 40 milhões, por exemplo, que são países com uma grande população cristã que está mais ameaçada em áreas islâmicas. E os radicais perseguem não só os cristãos, mas outros grupos também. Lá, a Igreja precisa de muita ajuda para cuidar e manter vivos os programas pastorais. No Norte da África, os cristãos não são a maioria da população, mas estão em grande

quantidade, moraram por lá durante séculos em uma convivência pacífica. O problema agora tem sido a atuação dos grupos radicais. Há uma união de interesses econômicos com questões religiosas dos estados islâmicos radicais, sobretudo na península árabe que impacta a vida dos cristãos. Some-se a isso a pobreza da população. Nessa região, a Igreja tem um papel muito importante para criar a estabilidade para todos. Os bispos e religiosos permanecem lá, pois a Igreja não abandona o povo. Falando da América Latina, antes da vinda ao Brasil o senhor esteve na Colômbia e no México. Quais realidades encontrou? Na Colômbi, vi projetos impressionantes diante da realidade da pobreza dos refugiados que chegam da Venezuela, da pobreza dos indígenas e das ameaças dos criminosos do tráfico de drogas. Tudo isso está concentrado na Península de La Guajira, na região do norte da Colômbia. A Igreja é heroica e é uma alegria poder ajudar com os nossos projetos. É este mesmo espírito de Igreja que estamos vendo em tantas partes do mundo. Também no México há relatos de muitos sacerdotes que têm sido assassinados por ajudar os fiéis nos bairros com problemas. Conheci um bispo no México que tem recebido ameaças constantes por ter denunciado a corrupção e o comércio de drogas. É algo preocupante. E em relação ao Chile, onde igrejas

foram incendiadas em 2020, tem havido uma efetiva perseguição aos cristãos? No Chile, de fato, a Igreja foi atacada. Mais de 70 templos foram queimados, uma coisa inconcebível! O problema chileno é complexo. A Igreja, bem como todo o Estado, tem uma dificuldade diante da revolução social ali em curso, e houve essas agressões contra a Igreja Católica. O interessante é que o Estado tolerou essas agressões. Foram totalmente injustas e percebemos também uma conivência com as agressões por parte das tropas oficiais. Isso é algo que nós repudiamos no nosso relatório sobre a liberdade religiosa, pois foi algo que não imaginávamos que pudesse acontecer. Quais os principais projetos e pontos de atenção da ACN aqui no Brasil? O Brasil é um dos países que mais recebem ajuda da ACN e um onde há uma maior quantidade de gastos, em razão do tamanho da grande pobreza material dos católicos. A Igreja é pobre, especialmente no Norte, há a realidade da Amazônia e, também, na periferia das grandes cidades. Nesses locais, temos os projetos clássicos da nossa fundação, sobretudo no que se refere à formação e construção de igrejas. Para os benfeitores da Europa, por exemplo, é muito curioso ver barcos transportando bispos da Amazônia para que cheguem mais rápido à população e tenham mais tempo para ficar com seus fiéis. Um dos relatórios mais recentes da ACN mostra que cerca de 10% dos benfeitores estão no Brasil. Que mensagem o senhor gostaria de deixar para eles? Quero agradecer a fidelidade de nossos benfeitores brasileiros. São muitos! Em breve, celebraremos o 25o aniversário do nosso escritório no Brasil, e percebo que nossas ações já estão em todo o País. Portanto, muito obrigado, do fundo do meu coração! Continuamos a precisar da ajuda de cada um de vocês. E aos que ainda não são benfeitores da ACN, digo que o mais bonito é a comunhão espiritual de toda a Igreja. Estamos todos os dias, com alegria e esperança, levando a cruz de Nosso Senhor, servindo aos pobres em todo o mundo e mantendo viva a fé. É uma grande felicidade a todos os benfeitores saber que com sua oração e doação podem contribuir para a felicidade dos demais. A ACN é uma grande fonte de amor e, assim, convido todos a participar para que continuemos a ser esta fonte de bem em nossa Igreja. Quem puder, colabore: https://www.acn.org.br/doacao.


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| 9 a 15 de março de 2022 | Reportagem/Fé e Vida | 19

Pela música litúrgica, canta-se o mistério da fé do povo de Deus Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

CLEIDE BARBOSA E FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Cantar na liturgia ou cantar a liturgia? Essa reflexão foi destaque na entrevista concedida pelo compositor Padre José Henrique Weber e pelo maestro Delphim Rezende Porto ao programa “Entre Agendas”, da rádio 9 de Julho. Sacerdote da Congregação dos Missionários do Verbo Divino (Verbitas), Padre Weber, como é mais conhecido, é formado em Música com ênfase em canto gregoriano pelo Pontifício Instituto de Música Sacra, em Roma, e especialista em Música pelo Instituto Católico de Paris e compositor de músicas bastante conhecidas na liturgia brasileira, tais como: “Prova de amor maior não há”, “Eu vim para que todos tenham vida”, e muitas outras. Desde 2019, o maestro Delphim é responsável pela música litúrgica na Catedral da Sé, em São Paulo. Organista, cravista, regente e professor, ele é mestre e doutor em Música pela Escola de Comunicação e Artes da USP, além de dirigir a São Paulo Schola Cantorum.

MÚSICA SACRA

Logo no início da conversa, Padre Weber explicou que a música possui uma variedade de estilos e categorias destinadas a fins e ocasiões específicos, como é o caso da música sacra, com suas qualidades próprias. “Existe música para neném dormir, música de balada, para se divertir, e assim por diante. Mas existe, principalmente, a música que exprime a nossa fé, que é a música litúrgica, a música sacra”, destacou o compositor. O maestro Delphim sublinhou que a música está presente nos ritos da Igreja desde a sua origem, como herança da tradição judaica, que dá lugar de destaque especialmente para os salmos entoados nas suas liturgias. “Certamente, Jesus rezava com os seus, cantava com seus discípulos, não é? E cantava Salmos”, disse. Nesse sentido, diferentemente de qualquer outra categoria musical, na música litúrgica, mais do que a própria música, a prioridade é o texto, isto é, a Palavra de Deus cantada nas celebrações. “É mais do que cantar qualquer outro tipo de poesia, é a Palavra de Deus”, afirmou Delphim, enfatizando que, justamente pelo valor da Palavra divina que é expressa na música litúrgica, o improviso não é recomendável. “Ninguém devia descobrir na hora da missa o que vai

acontecer”, frisou. Além do próprio texto bíblico, esse gênero musical se baseia na tradição litúrgica da Igreja ao longo dos séculos, que desenvolveu hinos e cânticos entoados até hoje nas igrejas.

PARTICIPAÇÃO DOS FIÉIS

Outro aspecto destacado pelos entrevistados é a participação do povo, condição essencial da liturgia ainda mais salientada pelo Concílio Vaticano II. “Quando unimos o povo e o coro, nós estamos fazendo exatamente aquilo que o Concílio recomendou”, disse Delphim, explicando que os fiéis que participam da missa não são um “auditório” que acompanha um espetáculo, mas “povo de reis”, isto é, de batizados que fazem parte do corpo de Cristo que celebra a fé em comunidade e que, por isso, deve cantar junto. Nesse sentido, o maestro frisou que, para realizar o serviço musical na liturgia, a humildade é um elemento fundamental. “É preciso muita humildade para que o músico possa entender o que ele está fazendo ali, de fato... Porque, ali, o que é importante é que a Palavra de Deus cresça”, afirmou.

CUIDADOS

Padre Weber também ressaltou que, na liturgia da missa, praticamente todas as partes podem ser cantadas, inclusive as leituras, sobretudo nas celebrações mais solenes. No entanto, as celebrações devem ser cantadas de forma ritual. Sobre isso, Delphim complementou alertando para o risco da inserção dos estilos de música comerciais, mesmo com temáticas religiosas, como é o caso da música gospel, nas liturgias católicas. “É preciso tomar cuidado para não haver uma imitação da música comercial, porque essa se baseia na moda... Colocar uma música comer-

cial na missa para que as pessoas nos aplaudam, nos reconheçam, digam que a nossa voz é bonita, que o nosso instrumento soa bem”, observou Delphim, reconhecendo que existem inúmeras músicas católicas que transmitem uma mensagem de fé e podem ser ouvidas em outros momentos, em casa, no carro, mas não na liturgia. O maestro também alertou para o cuidado com o estilo “sensualizado” com que algumas músicas, especialmente os salmos, são cantados nas celebrações, reproduzindo o apelo emocional comum das canções comerciais, que em nada expressam o sentido da comunidade eclesial que canta o mistério da fé. “Precisamos ter pudor para fazer as coisas. O pudor, não desrespeito apenas a usar uma roupa adequada para ir à missa”, afirmou.

FORMAÇÃO

Por fim, os entrevistados ressaltaram que, para exercer o serviço pastoral da música litúrgica, mais do que se especializar técnica e academicamente na área musical, é importante se formar no âmbito da liturgia. Para isso, a Comissão Arquidiocesana de Liturgia (CAL) promove com frequência formações sobre canto litúrgico para os tempos específicos da vida da Igreja. “Estar a serviço da Igreja pressupõe também estar a serviço de uma causa maior. Por isso, assim que nós assumimos o trabalho na Catedral, restauramos a Escola de Cantores da Catedral da Sé, que já houve no passado... Agora, com o arrefecimento da pandemia, vamos voltar às atividades. Vamos compartilhar também essas iniciativas boas para que mais pessoas tenham acesso”, completou o maestro. Para ouvir a íntegra da entrevista, acesse: https://tinyurl.com/ybzcr297.

Liturgia e Vida 2º DOMINGO DA QUARESMA 13 DE MARÇO DE 2022

‘Jesus subiu à montanha para rezar’ (Lc 9,28) PADRE JOÃO BECHARA VENTURA São Lucas inicia a narrativa da Transfiguração ressaltando que Jesus havia subido ao monte com os discípulos “para rezar”. Justamente “enquanto rezava”, eis que “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (Lc 9,28-29) e, então, ouviu-se a voz do Pai: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz” (Lc 3,35). Após o Batismo, o Senhor também rezava quando “o céu se abriu” (Lc 3,21) e ouviu-se a voz do Pai: “Tu és o Meu Filho amado. Em Ti coloquei minha complacência” (Lc 3,22). O Pai Se manifesta enquanto Cristo reza! São João conta que, após uma oração de Jesus (“Pai, glorifica o Teu Nome!”), a voz divina se manifestou: “Já o glorifiquei e o glorificarei uma vez mais” (Jo 12,28). É característico da sua filiação divina falar continuamente com o Pai. Não à toa, Nosso Senhor rezou nos momentos decisivos: antes de escolher os Apóstolos (cf. Lc 6,13); antes da confissão de Pedro (cf. Lc 9,18); antes da Paixão (cf. Lc 22,41). Até mesmo na Cruz ele orou: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (…) Pai, em Tuas mãos entrego o Meu espírito” (Lc 23,34.46). Enquanto multidões o procuravam, “afastava-se para lugares desertos e orava” (Lc 5,16). Vendo-o rezar tanto, os discípulos espontaneamente pediram: “Mestre, ensina-nos a orar!” (Lc 11,1). Cristo deixou-nos o maior exemplo de oração! Entre as três obras da Quaresma – esmola, jejum e oração –, a primeira a ser praticada é a oração. Se ela faltar, as esmolas não serão caridade, mas filantropia; e o jejum não passará de dieta ou exercício de autocontrole. A oração nos “transfigura”, nos une a Deus e direciona a Ele nossas intenções e afetos. Por ela, as ações – mesmo pequenas e cotidianas – podem se transformar em uma oferenda agradável ao Senhor. Somente por meio da oração – falar com Deus e escutá-Lo – é possível alcançar o arrependimento dos pecados, o fruto tão esperado da Quaresma. A oração amolece o coração, capacita a perdoar e a querer bem mesmo as pessoas com as quais não simpatizamos. Quem ora aprende a aproveitar ocasiões para mortificar os apetites e exercer a caridade em favor do próximo. Quem reza espera em Deus! Enxerga a sua grandeza e o valor de cada ser humano, criado à sua imagem. Torna-se sensível aos sofrimentos de Cristo e de todos os homens. A oração aquece o coração, renova as forças e descansa a alma. Podemos esperar tudo dela! Mas como orar? Com orações vocais: o Terço, os Salmos, novenas e as orações pertencentes à tradição da Igreja. Ou ainda por meio da oração mental, em silêncio, no quarto fechado ou diante do Santíssimo. Olhe fixamente para o crucifixo ou para o Sacrário; deixe-se perscrutar por Deus; reconheça que Ele nos vê, ouve e conhece; conte-lhe aquilo que Ele já sabe; louve-o, agradeça-lhe, adore-o, peça… A oração é um mundo infinito de liberdade, que cabe a cada um explorar. A regra é que a pratiquemos! Não deixemos para depois! Todos os dias, o Senhor nos aguarda!


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Em assembleia de pastoral, Arquidiocese se prepara para a retomada do caminho sinodal Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na manhã do sábado, 5, representantes do clero, pastorais, movimentos e demais organizações da Igreja em São Paulo se reuniram com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, e os bispos auxiliares, para a Assembleia Arquidiocesana de Pastoral. O encontro, realizado no salão da Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé, zona Leste da capital, teve como principal objetivo avaliar a ação pastoral da Igreja em São Paulo, com destaque para a retomada do sínodo arquidiocesano e a participação no caminho sinodal universal convocado pelo Papa Francisco.

IGREJA SINODAL

Referindo-se ao sínodo universal, o Arcebispo explicou que esse caminho visa a aprofundar a reflexão sobre a natureza da própria Igreja, o que é indicado no tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. O processo, iniciado em outubro passado, conta com três etapas. A primeira se dá no âmbito das dioceses, por meio de um instrumento de trabalho que contém reflexões e questões para serem respondidas localmente. Essas respostas serão recolhidas pelas conferências episcopais que farão sínteses para serem enviadas à Secretaria Geral do Sínodo, no Vaticano. Desse conteúdo, será desenvolvido um novo material de reflexões para ser trabalhado

na segunda etapa do caminho sinodal, em âmbito continental, a partir de outubro próximo. Dessa fase, também serão recolhidas contribuições que ajudarão a Santa Sé a elaborar o instrumento de trabalho da assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023.

tem consciência disso?”, refletiu Dom Odilo, ressaltando que a mentalidade “clericalista” não parte apenas de clérigos, mas também de leigos, que não se compreendem como parte da vida e da missão da Igreja.

COMUNHÃO

Dessa consciência participativa decorre a dimensão missionária da Igreja. “Todos os batizados são missionários. Nem todos vão para a África ou Ásia, nem todos se tornam padres ou religiosas, mas todos participam da missão da Igreja”, enfatizou o Cardeal, recordando a imagem do corpo místico retratada pelo Apóstolo São Paulo, isto é, um organismo vivo no qual cada membro tem sua missão específica e não é menos importante.

Dom Odilo chamou a atenção para cada uma dessas “qualidades essenciais” da Igreja, destacadas no tema do sínodo universal. Sobre a “comunhão”, o Arcebispo enfatizou que se trata da Igreja que caminha unida, que não é dispersa em seitas ou grupos antagônicos. “Sínodo significa caminhar juntos. Quem é o caminho? Jesus. Portanto, não devemos procurar outros caminhos que não sejam orientar por Jesus, pelo Evangelho. A Igreja sinodal é unida, pois promove a comunhão”, afirmou. Ainda a respeito da comunhão, o Cardeal usou uma analogia, frisando que a Igreja não é como um “condomínio” fechado que reúne uma série de pequenas chácaras autônomas, que seriam as paróquias, pastorais e demais organizações eclesiais. “A Igreja é comunhão que se espelha na comunhão da Santíssima Trindade, congregada na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, completou.

PARTICIPAÇÃO

Ao se referir ao conceito “participação”, o Arcebispo novamente sublinhou o perigo de compreender a Igreja como uma organização exclusivamente clerical, na qual os fiéis leigos são meros beneficiados dos serviços prestados pela instituição. “Somos uma Igreja de batizados em que todos têm a dignidade de filhos de Deus e participam do patrimônio comum da fé, da esperança, do amor de Deus, do bem da Igreja que é o Evangelho, do bem dos meios de santificação que são os sacramentos, do testemunho dos santos. Será que o povo de Deus

MISSÃO

SÍNODO ARQUIDIOCESANO

O caminho iniciado pela Igreja em todo o mundo, de certa forma, confirma o processo que a Igreja em São Paulo tem promovido desde 2017, com a realização do primeiro sínodo arquidiocesano. O Cardeal Scherer frisou que até o tema do caminho sinodal em São Paulo está em sintonia com o proposto pelo Papa: “Caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”. O Arcebispo explicou que tal semelhança se deve ao fato de as duas propostas partirem das mesmas bases: o Concílio Vaticano II, o Documento de Aparecida e a exortação apostólica Evangelii gaudium, do Papa Francisco. “Nosso sínodo, portanto, põe o acento no caminhar juntos, na comunhão eclesial de toda a Arquidiocese, que se realiza nas comunidades, paróquias, organismos pastorais, movimentos, associações”, afirmou Dom Odilo, enfatizando que o sínodo universal e o arquidiocesano não se contrapõem, mas se complementam.

PRÉ-ASSEMBLEIA

É diante dessas motivações que o Arcebispo de São Paulo convoca a todos

para a retomada do sínodo arquidiocesano, que teria sua terceira fase, da assembleia sinodal arquidiocesana, em 2020. Devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19, porém, as atividades foram suspensas. Por isso, as paróquias são chamadas a realizar uma pré-assembleia a partir do fim de semana dos dias 12 e 13. Essa etapa consiste na celebração de uma missa em cada paróquia, seguida de dois encontros ampliados dos conselhos paroquiais de pastoral (CPPs), que devem acontecer até o dia 10 de abril. A Comissão de Coordenação Geral do sínodo elaborou um roteiro para esses encontros, contendo algumas reflexões e questões que ajudam as comunidades a retomar o caminho sinodal percorrido na paróquia e avaliar aquilo que já foi implementado após a etapa paroquial do sínodo, em 2018. “Nesses dois anos, tivemos um evento inesperado – a pandemia –, que nos colocou diante de situações novas que também questionam nossa ação pastoral e evangelizadora”, destacou Dom Odilo, explicando que a pré-assembleia ajudará não só a retomar a reflexão realizada pelas paróquias na primeira fase do sínodo, em 2018, como também a confrontar essas informações com os novos desafios trazidos pela pandemia. Para esse trabalho, será disponibilizado novamente o acesso ao resultado do levantamento da realidade pastoral das paróquias feito nas próprias paróquias, assim como a síntese da pesquisa de campo realizada nesse mesmo período em toda a Arquidiocese. Esse material será enviado às paróquias e está disponível no portal da Arquidiocese de São Paulo (arquisp.org.br/pre-assembleia-sinodal-2022). No dia 7 de maio, véspera do domingo do Bom Pastor, o Cardeal Scherer presidirá, na Catedral da Sé, a celebração de reabertura da Assembleia Sinodal Arquidiocesana, cujas datas das sessões serão divulgadas em breve.


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