O São Paulo - 3385

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Ano 66 | Edição 3385 | 3 a 8 de março de 2022

Editorial A realidade da Educação no Brasil exige profunda conversão de todos

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Encontro com o Pastor

Eis o tempo favorável para a conversão e o encontro com Deus Luciney Martins/O SÃO PAULO

Jejum, esmola e oração: três exercícios para viver este tempo de graça

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Espiritualidade O cristão passa por uma ‘quarentena’ para sair renovado, ressuscitado

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Liturgia e Vida A Quaresma é um período de reparação pelos pecados próprios e alheios

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Comportamento Pais, ajudem as crianças a perceber as consequências das más ações

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Católicos se unem em oração e solidariedade à população da Ucrânia Após a invasão do país por militares russos, fiéis rezam pelo fim do conflito, e diferentes organismos da Igreja têm ajudado os que estão em solo ucraniano ou que se refugiaram em nações vizinhas. Páginas 9 e 10

Arquidiocese de São Paulo fará assembleia pastoral no sábado, 5 Encontro anual, suspenso em 2021 por causa da pandemia, tratará da ação pastoral arquidiocesana, no contexto da retomada dos trabalhos do sínodo. Página 14

Jovem com cinzas impostas em missa na Catedral; ‘Somos chamados a nos voltarmos para Deus de forma renovada’, diz Dom Odilo

O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu na Quarta-feira de Cinzas, 2, a missa com o rito de imposição das cinzas, que inicia o tempo da Quaresma. Atendendo ao apelo do Papa Francisco, a Arquidiocese se uniu ao dia de oração e jejum pela paz na Ucrânia. “A Quaresma nos chama de novo para o centro de nossa fé e para renovar nossas disposições para

viver como discípulos de Jesus Cristo e membros da sua Igreja”, disse Dom Odilo na homilia. Ao falar sobre a Campanha da Fraternidade deste ano, iniciada no mesmo dia, o Arcebispo sublinhou que a Educação – tema da CF 2022 – deve ser voltada para formar as pessoas de maneira integral. Páginas 18 a 20 CNBB

Educação no Brasil é o enfoque da Campanha da Fraternidade 2022

Márcio Campos fala sobre a devoção à religiosa mineira e o testemunho que deixou como mulher de oração e fiel a Deus.

Em mensagem à Igreja no Brasil por ocasião do início da Campanha da Fraternidade deste ano, o Papa Francisco destaca a urgência de ações transformadoras no âmbito educativo, a fim de promover, por meio da Educação, a fraternidade universal e o humanismo integral. O SÃO PAULO lista alguns dos desafios atuais da Educação no País.

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Páginas 16 e 17

Em livro, jornalista destaca o exemplo de fé da Beata Nhá Chica


2 | Encontro com o Pastor | 3 a 8 de março de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

Igreja nos proporciona o “tempo favorável” da Quaresma, em preparação à Páscoa, maior de todas as celebrações da Liturgia e núcleo central da fé e da vida dos cristãos. Durante esse período, somos chamados a nos voltar para Deus de forma renovada, ouvindo e acolhendo a palavra de Deus, fazendo penitência para a conversão e nos preparando para a renovação das promessas batismais na celebração da Páscoa. A Quaresma, de fato, não é um tempo fechado sobre si mesmo, mas voltado para a Páscoa e para reassumirmos com renovadas disposições a vida nova em Cristo ressuscitado, da qual participamos mediante o Batismo. Ao longo da vida, nem sempre somos fiéis e coerentes com essa graça tão grande; cansamos, desanimamos, desviamo-nos do caminho, perdemos de vista a meta, esquecemos os mandamentos de Deus e agimos como se nem fôssemos cristãos. Pecamos e precisamos de conversão. A Quaresma nos chama de novo para o centro de nossa fé e a renovar-

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Jejum, esmola e oração mos nossas disposições para vivermos como discípulos de Jesus Cristo e membros da sua Igreja. Para nos ajudar a viver com maior proveito esse tempo de graça, a Igreja nos propõe três exercícios quaresmais. O jejum “religioso”, assumido como forma voluntária de penitência, lembra-nos de que a vida não se resume ao alimento do corpo e na satisfação das necessidades e desejos terrenos. É preciso buscar “o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo” (cf. Jo 6,51), o alimento da palavra de Deus, que molda nossa vida e nos educa. Quaresma é tempo de ler e ouvir com atenção renovada a palavra de Deus e de buscar a instrução cristã. Por isso, é aconselhável, para quem tiver a oportunidade, fazer um bom retiro espiritual ou um encontro formativo, para aprofundar a formação cristã. A esmola, entendida literalmente, também deve ser praticada, e a proibição de dar esmolas, se existir em algum lugar, nunca partiu da Igreja. Porém, como exercício quaresmal, o conceito “esmola” indica muito mais que esse simples gesto e se refere à prática da caridade, às obras de misericórdia em geral e à verdadeira solidariedade e fraternidade. Talvez seja o campo em que mais precisamos nos converter, pois o egoísmo e o individualismo podem ser tentações e modos de vida muito arraigados em nós e na cultura circunstante. Nes-

sa dimensão da vivência quaresmal também se insere a Campanha da Fraternidade, que, no Brasil, a cada ano, aborda alguma questão do convívio social em que se fazem necessários a conversão e o crescimento na caridade e fraternidade. A fraternidade concreta para com o próximo é inseparável do amor a Deus. Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos questiona se a educação ajuda a promover a fraternidade ou não. A questão é muito séria e merece toda a nossa atenção. A oração indica o terceiro conjunto de exercícios da Quaresma. Antes de tudo, refere-se à prática da oração diária, feita bem, com fé e humildade, como aprendemos de Jesus. Ele rezou, ensinou a rezar e recomendou a oração. Oração é exercício da fé, alimento da fé e expressão da nossa busca de Deus. Quem tem fé reza. Quem não tem fé não reza. Quem não reza perde a fé. Como cristãos, temos as várias formas de oração: oração pessoal, em família, ou grupos, é muito recomendada como exercício diário. A Igreja recomenda a oração nos diversos momentos do dia: pela manhã, ao despertar; ao meio-dia; no final do dia e ao nos recolhermos para o descanso. A mais importante de todas é a oração litúrgica, quando a Igreja, reunida em comunidade e em comunhão com Jesus Cristo Sacerdote, celebra a adoração, o louvor, a

súplica, a ação de graças a Deus Pai, na graça do Espírito Santo. A Santa Missa dominical é a oração central de toda a semana e não deve faltar na vida dos católicos. Entre os exercícios da Quaresma, também não deve faltar a sincera e humilde avaliação de nossa vivência cristã, preparando-nos, assim, para uma boa confissão, em preparação à Páscoa. A confissão deve ser procurada em tempo nas igrejas, onde normalmente estão previstos os momentos para o seu atendimento. Algumas expressões da Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas nos indicam os objetivos dos exercícios quaresmais: “Para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal” (Oração do dia). “Para que, prosseguindo na observância da Quaresma, (os fiéis) possam celebrar de coração purificado o mistério pascal do vosso Filho” (Oração de bênção das cinzas). “Nós vos suplicamos, ó Deus, a graça de dominar nossos maus desejos pelas obras da penitência e da caridade” (Oração sobre as oferendas). “O jejum e a abstinência que praticamos, quebrando o nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os necessitados” (Prefácio). “Para que o jejum de hoje vos seja agradável e nos sirva de remédio” (Oração depois da comunhão). Temos, pois, muito a viver e para nos exercitar na Quaresma.

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| 3 a 8 de março de 2022 | Atos da Cúria | 3

Atos da Cúria PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 16/02/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Vila Clementino, na Região Episcopal Ipiranga, do Reverendíssimo Padre Frei Valdecir Schwambach, OFM, pelo período de 03 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 16/02/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Vila Clementino, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei Raimundo Justiniano de Oliveira Castro, OFM. Em 16/02/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Vila Clementino, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei Rodrigo da Silva Santos, OFM. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 16/02/2022, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Vila Albertina, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Francisco Ferreira da Silva. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 14/02/2022, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Menino Jesus, no bairro Vila Mazzei, na Região Episcopal Sant’Ana, o senhor Diácono Permanente Maurício Luz de Lima, pelo período de 02 (dois) anos. PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 14/02/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Assistente Pastoral da Paróquia Nossa Senhora da Penha, no bairro Jardim Peri, na Região Episcopal Sant’Ana, do senhor Diácono Permanente Welton Tadeu Marcondes de Oliveira Santos, pelo período de 02 (dois) anos. Em 14/02/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Assistente Pastoral da Paróquia Santo Antônio, no bairro Bancários, na Região Episcopal Sant’Ana, do senhor Diácono Permanente Durval Bueno, pelo período de 01 (um) ano. Em 14/02/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Assistente Pastoral da Paróquia Santa Dulce dos Pobres, no bairro Jar-

dim Felicidade, na Região Episcopal Sant’Ana, do senhor Diácono Permanente Luiz Carlos Peres, pelo período de 01 (um) ano. Em 14/02/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Assistente Pastoral da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro Vila Albertina, na Região Episcopal Sant’Ana, do senhor Diácono Permanente Geraldo Aparecido Braga, pelo período de 01 (um) ano. POSSE CANÔNICA: Em 20/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São José, no bairro do Jardim Russo, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Juarez Dirceu Passos. Em 20/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Jaraguá, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Carlos Shimura, ISch. Em 19/02/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro do Morro Doce, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Airton Conceição de Almeida, RCJ. Em 17/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Cristo Rei, no bairro do Jardim Britânia, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Orisvaldo da Silva Carvalho. Em 16/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Paz, no bairro do Jardim Santa Lucrécia, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Gleidson Luís de Sousa Novaes. Em 15/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santa Cruz, no bairro de Itaberaba, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Carlos Alves Ribeiro. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro de Campos Elísios, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Bruno do Nascimento Calderaro e Oliveira, SDB. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro da Vila Zatt, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Cônego José Renato Ferreira. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Mãe e Rainha, no bairro do Parque Panamericano, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Cilto José Rosembach. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica

como Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Pirituba, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Alécio Ferreira da Silva. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, no bairro do Bosque da Saúde, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre William Day Tombini. Em 13/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, no bairro do Jardim Novo Mundo, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Uilson dos Santos. Em 11/02/2022, foi dada a posse canônica como Capelão da Capela do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no bairro de Cerqueira César, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Carlos Toseli, MI. Em 11/02/2022, foi dada a posse canônica

como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro Edu Chaves, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Sebastião de Souza Júnior. Em 11/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort, no bairro do Jardim Rincão, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Sérgio Antônio Bernardi, CRL. Em 11/02/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort, no bairro do Jardim Rincão, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Deolindo Tenório de Almeida, CRL. Em 05/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Sufrágio das Almas, no bairro da Luz, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Air José de Mendonça, MSC. Reprodução


4 | Ponto de Vista | 3 a 8 de março de 2022 |

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Editorial

Fraternidade e Educação

A

Igreja Católica, ciosa de sua missão como dispensadora dos bens espirituais, tem consciência de que sua presença no mundo também deve promover, a exemplo e a pedido de Jesus Cristo, a vida, a família, a dignidade humana, a igualdade de oportunidades e de direitos, a solidariedade, a justiça e a paz, entre tantos outros valores muito próprios do Cristianismo. Nesse sentido, a Igreja Católica em nosso País, sob as diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), procura dar a sua contribuição, por meio de iniciativas de promoção humana, sempre em consonância com as necessidades próprias de cada época. Uma dessas iniciativas – que este ano completa 60 anos –, é a Campanha da Fraternidade (CF), cuja abertura coincide com o início da Quaresma, tempo litúrgico de recolhimento e conversão em preparação para a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Trata-se não só de um convite à reflexão e debate de temas importantes e que necessitam de maior atenção de todos, mas, também, a partir dessa conscientização, de proposição de

ações concretas para que toda a sociedade se envolva, se mobilize, contribua e transforme a realidade ao seu redor. Em 2022, o tema da CF é “Fraternidade e Educação”, impulsionada pelo chamado do Papa Francisco para que todas as pessoas, instituições, igrejas e governos priorizem uma educação humanista e solidária. A Campanha da Fraternidade deste ano convoca todos a refletir sobre os fundamentos do ato de educar, recordando que não se trata de uma ação isolada, mas de um encontro em que todos são educadores e educandos e, por isso, requer o envolvimento de cada pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade. A realidade da Educação no Brasil exige profunda conversão de todos e clama por uma verdadeira mudança de mentalidade, revisão das atitudes, reorientação da vida e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e a cidadania. Essa realidade deve ser iluminada pela Palavra de Deus, de forma a encontrar e redescobrir meios eficazes que favoreçam processos mais adequa-

dos e criativos, a fim de que ninguém seja excluído de um caminho educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz. Como um serviço indispensável à vida, a Educação nos ajuda a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade. Nesse contexto, um perigo que se deve evitar é reduzir a Educação apenas à transmissão de conhecimento. Por isso, a CF quer ajudar a entender e aplicar duas lições intrínsecas ao ato de educar: o valor da pessoa como princípio da Educação e a necessidade de não deixar de conduzi-la continuamente ao caminho reto. Dessa forma, educar não é condicionar ou adestrar, mas construir a verdadeira fraternidade, alicerçada na justiça e na paz. Nesse caminho de humanização da Educação, uma condição se faz urgente e necessária: escutar. Escutar pressupõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. O que escutamos e como escutamos orienta o nosso fazer cotidiano e a própria sociedade. Escutar é uma condição para falar com sabedoria e ensinar com amor; e, assim,

permitir que o outro, de fato, aprenda. Aprender, por sua vez, não é só uma capacidade humana, mas uma condição de nossa própria humanidade. Por isso se faz tão necessário aprender sobre nós mesmos, algo que se tornou ainda mais factível com o advento da pandemia de COVID-19, em que foi preciso repensar nossos estilos de vida, nossas relações, a organização da sociedade e, sobretudo, o sentido da nossa existência. A Educação para a formação integral parte do reconhecimento da realidade de cada pessoa. Por essa razão, precisam ser pensadas novas formas de educar, não baseadas em uma racionalidade técnico-utilitária, mas que levem em consideração o reconhecimento do lugar que a pessoa ocupa na sociedade, a fim de torná-la um agente que contribua para o desenvolvimento de uma nova cultura do acolhimento. É preciso educar para a vivência em comunhão. Educar para conceber a democracia como um estado de participação. Educar como ação esperançosa na capacidade de aprender do ser humano e de estabelecer relações mais fraternas em todos os âmbitos.

Opinião

Oração: o exemplo do leiteiro espanhol

Arte: Sergio Ricciuto Conte

PAULO HENRIQUE CREMONEZE Existem muitas formas de oração (a Igreja reconhece cerca de 50 maneiras diferentes) e todas são perfeitamente válidas e boas. Mesmo com toda essa riqueza espiritual, dois milênios de tradição, muitas pessoas ainda não sabem como dialogar com Deus. O sincero ardor orante encontra-se encastelado em seus corações, mas o exercício da fé ainda lhes é obstáculo. Colocar-se diante de Deus com o desejo de conversar é, em si, oração e uma de suas mais sublimes formas. O diálogo íntimo pode ser resumido em uma palavra: Pai. Pablo, um leiteiro espanhol, dá-nos um ótimo exemplo de fé e de oração. Reproduzo algo que li e guardei. Lamento não me lembrar da fonte. Vejamos: “Conta-se na Espanha que um trabalhador humilde e dedicado, no começo do século passado, todos os dias entrava numa igreja, então sob os cuidados de um jovem sacerdote, um cura, como dizem os espanhóis. Era um leiteiro e o nome dele era Pablo. O humilde leiteiro entrava na igreja com as garrafas de leite a se-

rem entregues na lida do dia, pousava-as no chão, dirigia-se ao sacrário, ajoelhava-se reverentemente, fazia o sinal da cruz e ficava sentado, cerca de 20 ou 30 minutos em absoluto silêncio. Depois, levantava-se, cumpria o pequeno ritual do início outra vez e ia embora com um sorriso estampado no rosto que brilhava e que chamou a atenção do jovem padre, um homem muito culto, piedoso e

devoto. Um dia, o padre não resistiu e perguntou ao trabalhador fiel: ‘O que o senhor costuma dizer diante do sacrário?’. Ao que Pablo respondeu: ‘Nada, apenas digo, Senhor, eis teu servo Pablo, o leiteiro, que hoje trabalhará para o sustento e para te agradar... depois fico sentado olhando para Jesus e deixando que Jesus me veja. Só isso, senhor padre’. O padre, comovido, cheio de emoção,

com lágrimas nos olhos, viu diante de si um homem de oração, um homem de fé, um homem sábio”. Belíssimo, não? A fé é cheia de paradoxos. Um deles é este: a oração pode ser extremamente simples e, ao mesmo tempo, sobrenaturalmente complexa. Podemos e devemos nos valer de muitas formas de oração, mas não podemos jamais deixar de ter em nosso coração a simplicidade e o desejo de ver Cristo em cada palavra, falada ou não. E, mais importante, deixar que Cristo nos veja, nos preencha com seu amor e com sua luz, guiando-nos em tudo, especialmente no trabalho cotidiano. A simplicidade é a forma ideal de oração, porque ela é a base da fé cristã. Deus no dá o exemplo: as verdades inefáveis são transmitidas de modo muito simples. Imitemos o Senhor na sua simplicidade, fonte de grandes mistérios. Sejamos como o leiteiro espanhol. Em um gesto e poucas palavras, deu-nos profunda catequese. Paulo Henrique Cremoneze é advogado, professor de Direito, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos (SP) e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 3 a 8 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Espiritualidade Eis o tempo

BELÉM Cardeal Odilo Pedro Scherer confere o sacramento da Crisma a 12 jovens Fernando Arthur

FERNANDO ARTHUR

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na manhã do domingo, 27 de fevereiro, o Cardeal Odilo Pedro Sche-

rer presidiu missa na Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 12 jovens. Concelebraram os Padres Lauro Wisnieski, Pároco, e Ataná-

sio Enchioglio, Vigário Paroquial. No começo da missa, o Arcebispo de São Paulo falou sobre a importância deste sacramento e pediu orações pelos jovens, bem como pela paz na Ucrânia. Após a proclamação do Evangelho, Padre Lauro apresentou ao Cardeal os jovens crismandos, seus pais e padrinhos, além dos catequistas de Crisma. “O Espírito Santo é aquele que nos fortalece, que nos ilumina e que nos orienta”, ressaltou Dom Odilo na homilia. Ele recordou a Carta de São Paulo aos Coríntios, na qual o Apóstolo fala sobre a diversidade de dons e lembrou que quando alguém recebe o Espírito Santo tem a vida transformada: “Nós precisamos do Espírito Santo. Não fechemos as portas ao Espírito Santo”, concluiu. Rogério Nakamoto

[SÉ] No domingo, 27 de fevereiro, foi celebrada a missa em abertura do oitavo mês da festa do jubileu de 70 anos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Jardim Paulistano, Setor Pastoral Jardins, com o tema “Com Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tenhamos um olhar de compaixão para com os sofredores”. A celebração foi presidida pelo Padre Domingos Sávio da Silva, CSsR, que foi Vigário Paroquial e hoje atua como missionário no Santuário Nacional de Aparecida. Concelebrou o Pároco, Padre Geraldo de Paula Souza, CSsR. Um vídeo explicativo sobre o tema foi disponibilizado pelo Pároco no YouTube e pode ser acessado pelo link a seguir: https://cutt.ly/oAplK5l. A cada mês, um grupo de agentes pastorais da Paróquia é homenageado. Dessa vez foi o grupo dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão. (por Rogério Nakamoto)

BRASILÂNDIA Paróquia Santíssima Trindade se torna parceira do projeto ‘Cozinha Solidária’ Em 12 de fevereiro, a Paróquia Santíssima Trindade, no Setor Perus, começou uma parceria com a ONG Gastromotiva no projeto “Cozinha Solidária”, iniciado em março de 2020, em resposta aos impactos so-

cioeconômicos decorrentes da pandemia de COVID-19. A parceria começou quando o chef de cozinha Cássio Henrique da Silva viu a necessidade de atender mais pessoas e chegou à comunidade, onde havia estrutura para a preparação de voluntários. A ação solidária visa a entregar

300 marmitas todo sábado e se vale do cadastro da Pastoral da Criança e da Paróquia para atender aos mais necessitados. A refeição é sempre composta por legumes e proteína animal. Até maio, a distribuição ocorrerá com a colaboração de membros da comunidade.

[BELÉM] Em 22 de fevereiro, aconteceu na Paróquia Nossa Senhora das Graças, Setor Antonieta, uma formação on-line com os agentes de pastorais da comunidade para refletir sobre a Campanha da Fraternidade 2022. Participou da atividade Éder Francisco, coordenador da Pastoral da Ecologia Integral da Região Belém e membro da coordenação da CF 2022.

[SANTANA] No domingo, 27 de fevereiro, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa, Setor Jaçanã, por ocasião da festa do padroeiro. Concelebrou o Padre Alescio Aparecido Bombonatti, MSJ, assistidos pelo Diácono Permanente Nilo Bara Santos Nora.

(por Éder Francisco)

(por Denilson Marcilene)

[BELÉM] Em 23 de fevereiro, 60 fiéis da matriz e comunidades da Paróquia São Marcos Evangelista, no Setor Conquista, participaram de uma formação sobre a Campanha da Fraternidade 2022. Todo o evento foi preparado pelo laicato da Paróquia onde se formou uma equipe para acompanhar, junto com o Padre Irineu Dossou, Pároco, todas as instâncias de formação da CF 2022. (por João Carlos Gomes)

PEDRO SILVA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

DOM CARLOS SILVA, OFMCAP BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BRASILÂNDIA

Na Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma, começamos nossa preparação para a Páscoa de Jesus e para a nossa. Vivenciamos neste tempo da Quaresma um tempo forte de conversão e de voltar nosso coração para Deus. Auxiliados pela oração, pelas práticas do jejum e pela caridade, somos convocados, à luz da Sagrada Escritura, a um verdadeiro tempo de conversão. Na Igreja das origens, era o tempo de preparação para o Batismo, o qual era celebrado na noite da Vigília Pascal. Nesse tempo, os catecúmenos aprendiam o Credo apostólico. Por isso, a primeira leitura do 1º Domingo da Quaresma cita o Creio “histórico” dos judeus, chamado também “Confissão de fé”. Relata a história do povo: era um pequeno grupo de escravos que, pela ajuda do Senhor, rompeu a escravidão, libertou-se e conseguiu a terra onde se organizou numa sociedade alternativa, justa e fraterna. O credo cristão recorda, seja na comunidade reunida em assembleia, seja no silêncio do coração, outra libertação: a que libertou Jesus da morte. Para ser livre da escravidão, Israel atravessou o deserto por 40 anos. Celebrou sua Páscoa de libertação. Acreditar em Deus é reconhecer sua passagem ao longo de nossa história. Professar a fé em Deus é recordar suas maravilhas. A Quaresma é uma subida à Páscoa, como os judeus subiram a Jerusalém para oferecer sua vida. O novo povo, o cristão, passa um tempo de “quarentena” para sair renovado, ressuscitado. Nossa subida à Páscoa está sob o sinal da provação. A caminhada cristã renova nossa fé. Pode se tornar acomodada, uma fé morta, que não passa por nenhuma tentação. A fé se confirma e se aprofunda em sucessivas decisões e tentações. É uma luta, assim como foram as tentações de Jesus no deserto: tentação de riquezas, de poder, de sucesso. Se a Quaresma é o caminho, é bom lembrar que também há tropeços, desafios e dificuldades. Ninguém nunca disse que viver como cristão seria fácil e é muito saudável lembrarmos Dele, olhando para o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo. A opção por Deus precisa de um treinamento. Esse treinamento a Igreja propunha antigamente com os jejuns e as diversas mortificações pessoais e comunitárias. Nos nossos tempos, na América Latina, empobrecida e desigual, o treinamento da opção da fé se realiza sobretudo na sempre renovada opção pelos pobres e excluídos. A Campanha da Fraternidade é uma proposta para adestrar nossa prática para enfrentar os demônios de hoje, a tentação da idolatria, da riqueza, da dominação, da discriminação, da competição. Nossa opção de fé se torna forte se praticarmos a solidariedade fraterna para chegar a Jesus, que deu a própria vida na grande hora da cruz. Quem não se exercita, não saberá resistir. Eis o tempo.


6 | Regiões Episcopais | 3 a 8 de março de 2022 |

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LAPA Benigno Naveira

Padre Messias de Moraes Ferreira assume a Paróquia São José BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Em missa presidida por Dom José Benedito Cardoso, na manhã do domingo, 27 de fevereiro, foi empossado como Pároco da Paróquia São José, no Jardim Monte Alegre, Setor Pirituba, o Padre Messias de Moraes Ferreira. No início da celebração, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa cumprimentou o novo Pároco e os fiéis, e pediu à comunidade que colabore com o Padre Messias, para que possa bem fazer o

trabalho de evangelização. Em seguida, foi realizada a leitura do decreto de nomeação e provisão do Pároco, pelo período de três anos. Após a homilia, Dom José convidou o Padre Messias a fazer a renovação de suas promessas sacerdotais. Em seguida, entregou-lhe as chaves da igreja e do sacrário. Antes da bênção final, foi feita a leitura da ata de posse do novo Pároco. Padre Messias agradeceu a presença de Dom José, dos amigos, familiares e de toda a comunidade. Ele pediu aos fiéis que o ajudem no seu trabalho de evangelização. Pascom paroquial

[SANTANA] No domingo, 27 de fevereiro, em missa na Paróquia Nossa Senhora das Neves, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Crisma a 26 adultos. Concelebrou o Padre Carlos Alberto Doutel, Pároco. (por Pascom paroquial) Arquivo pessoal

Eduardo Tarcia

[IPIRANGA] No sábado, 26 de fevereiro, a Comunidade Canção Nova realizou na Paróquia Santa Cândida, no bairro do Ipiranga, a primeira Vigília Canção Nova de 2022, com transmissão pela TV Canção Nova em rede nacional. Foi uma madrugada com momentos de louvor, oração, Terço da Misericórdia e adoração ao Santíssimo Sacramento, com a participação do Ministério de Música Canção Nova, Grupo Jovens Sarados e do Padre Anderson Marçal, Pároco. Participaram aproximadamente 400 fiéis. (por Canção Nova São Paulo) Karen Eufrosino

[SANTANA] No dia 19 de fevereiro, o Diácono Renan Rafael de Souza Santos foi ordenado sacerdote pela imposição das mãos de Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, em celebração realizada no Recanto Nossa Senhora de Lourdes, Setor Pastoral Tremembé. No dia seguinte, na Paróquia Santa Cruz, no Setor Mandaqui, também sob os cuidados dos guanellianos, o neossacerdote presidiu sua primeira missa. A íntegra da notícia pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/fAoMgg0. (por Padre Rudinei Orlandi) Lídia de Fátima

[BRASILÂNDIA] No domingo, 27 de fevereiro, os fiéis da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza, se reuniram para fazer memória do 54° aniversário de fundação da Paróquia, em uma missa presidida pelo Padre Luiz Carlos Ferreira Tose Filho, Administrador Paroquial. Na homilia, o Sacerdote recordou a história da Paróquia e a missão de todos em mantê-la, para que seja levada a Palavra de Deus. Ao final da celebração, foi dada a bênção com a relíquia de São Gabriel da Virgem Dolorosa, cuja memória litúrgica se celebrou naquela data. (por Luccas Sant’Ana)

[IPIRANGA] Na sexta-feira, 25 de fevereiro, o Padre Uilson dos Santos, Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, celebrou 15 anos de sua ordenação sacerdotal, em missa por ele presidida na matriz paroquial e concelebrada pelo Frei José Maria Mohomed e pelo Cônego Dagoberto Boim. (por Karen Eufrosino) Katia Maderic

Benigno Naveira

[BRASILÂNDIA] Em missa na Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, na sexta-feira, 25 de fevereiro, Dom Carlos Silva, OFMCap, deu posse ao Padre Edemilson Gonzaga de Camargo como Pároco e apresentou os novos cooperadores, os Padres José Adeildo Pereira Machado e Konrad Körner. (por Redação)

[LAPA] No domingo, 27 de fevereiro, o Padre Admário Gama Cambraínha tomou posse como Pároco da Paróquia Santa Terezinha, no Setor Pirituba, durante missa presidida por Dom José Benedito Cardoso. Cerca de 200 pessoas participaram da missa, que teve entre os concelebrantes o Monsenhor Jonas dos Santos Lisboa, da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ). (por Benigno Naveira)


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| 3 a 8 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Viver Bem | 7

IPIRANGA Frades franciscanos são apresentados na Paróquia São Francisco de Assis Sérgio Colangelo

LUIZ FERNANDO RIBEIRO

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Em missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, no domingo, 27 de fevereiro, foi prorrogada a provisão do Frei Valdecir Schwambach como Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino, e houve a apresentação dos novos Vigários Paroquiais: os Freis Raimundo Justiniano de Oliveira Castro e Rodrigo Silva Santos. Dom Ângelo agradeceu à família franciscana a atuação quase milenar no serviço de evangelização na Igreja e enfatizou a missão apostólica da fraternidade. Na homilia, ao refletir sobre o Evangelho do dia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga destacou que é preciso que todos tenham coerência de vida

e reconheçam as próprias fragilidades. Disse, ainda, que quem segue e ama Jesus Cristo produz bons frutos. “Somos chamados a ser pessoas sólidas, bem enraizadas em Cristo e em sua Palavra e devemos irradiar isso na nossa vida, vocação e missão”, enfatizou. Dom Ângelo recomendou a todos que sejam firmes e inabaláveis na obra do Senhor, na fé, na evangelização, salvação, em casa, na família, com os valores do bem, da justiça, fraternidade com aqueles com quem caminham diariamente, no compromisso com a Igreja e com a comunidade. Ao final, Frei Valdecir agradeceu à Arquidiocese que confirma a missão franciscana à frente da Paróquia e nela confia. Também concelebraram a missa o Frei Paulo Roberto Pereira, Ministro Provincial, e os Freis Fidêncio Vanboemmel e Robson Luiz Scudela, Definidores Provinciais.

Giane Falavigna

Lene Zuza

[BELÉM] No dia 21 de fevereiro, a Escola de Teologia para Leigos “Dom Luciano Mendes de Almeida” iniciou suas aulas, com a presença do Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Pároco da Paróquia São Cristóvão, na Região Sé. Ele falou sobre o processo sinodal da Igreja.

[SANTANA] No sábado, 26 de fevereiro, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan, foi dada a posse ao Padre Francisco Ferreira da Silva como novo Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Albertina, Setor Tremembé. Entre os concelebrantes estiveram os Padres Salvador Ruiz Armas, Carlos André Romualdo, Sulliver do Prado, assistidos pelos Diáconos Permanentes Darley e Geraldo Aparecido dos Santos. (por Lene Zuza)

(por Leonardo Provasi)

Comportamento

Castigo funciona? SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Essa pergunta está sempre presente no cotidiano das famílias que enfrentam o desafio de educar os filhos. Quando pensamos em crescimento, evidentemente, a perspectiva é de um crescimento integral, em todas as dimensões. Tornar os filhos aptos à vida significa ensinar-lhes desde aspectos muito materiais e concretos – andar, comer, cuidar da higiene – até aspectos relativos ao juízo moral – identificar o certo, o errado, agir com prudência e sabedoria. Enfim, trata-se de receber no mundo alguém pequeno, inapto, frágil e transformá-lo em uma pessoa com competências, habilidades e virtudes para uma vida feliz. Como fazer isso? Como ensinar aos filhos os comportamentos adequados, os valores pelos quais vale viver e vale morrer? Ao longo da história, fez-se comum a ação dos adultos por meio de castigos e punições que, de algum modo, marcavam na alma dos pequenos o que não valia a pena fazer; afinal, viriam os castigos. Esses castigos muitas vezes eram extremamente agressivos, desproporcionais ao mau comportamento infantil e não alcançavam os resultados esperados. Ao contrário, chegavam, em alguns casos, a

gerar uma relação difícil entre pais e filhos ou mesmo a formação de pessoas com dificuldade de autonomia na vida adulta. Outras vezes, eram adequados e traziam ganhos educativos. Hoje, com um modelo familiar e educativo bem diferente, em que a autoridade dos pais se encontra cada vez mais fragilizada, esse é um assunto que aflige muitos daqueles que enfrentam cotidianamente os comportamentos impulsivos e imaturos dos pequenos e têm a preocupação de transformá-los. Passamos de pais que tinham a certeza de que os castigos precisavam ser duros e bem aplicados, a pais que estão inseguros sobre se são um bom instrumento educativo e o modo de aplicá-los. B em, vamos, então, a algumas considerações: 1. As crianças não aprenderão sozinhas o modo adequado de se comportar. Quando pequenas, elas são corporais e, portanto, as informações precisam passar por esse canal da vivência física, afetiva, e não o da experiência racional (complexa para eles até o fim da primeira infância). A ação dos pais é fundamental: assim, deixar que façam as coisas conforme suas possibilidades, na confiança de que, quando enten-

derem racionalmente, agirão melhor, beira à negligência. É preciso oferecer experiências e intervir no sentido de orientá-las na ação ao correto. 2. Quando as crianças chegam à idade da razão e são capazes de perceber racionalmente que um determinado comportamento não está adequado, não significa que conseguirão modificá-lo, se não forem educadas nas virtudes, mesmo antes de compreendê-las, por hábito. Exemplo: falar a verdade mesmo que custe, guardar os brinquedos mesmo cansadas. Isso se faz com ações firmes e carinhosas desde cedo. 3. Os “castigos” devem ser, preferencialmente, as consequências das atitudes erradas que tiveram: se bateram no irmão, vão lhe pedir desculpas e cuidar dele. Quando estão brincando e batem nas outras crianças por brinquedos, vão brincar sozinhas, separadas das outras, mas num local onde observem as demais crianças brincando adequadamente. Essas punições são muito educativas, pois mostram com clareza o mal que está presente no comportamento que está sendo corrigido; afinal, estão relacionadas a evitá-lo ou a criar um arrependimento por ter se comportado mal.

4. As punições precisam ser bem medidas: quando exageradas, podem ter efeito contrário. É preciso sabedoria e lembrar sempre: o objetivo das punições é o crescimento dos filhos e não o aplacar de nossos afetos alterados no momento do mau comportamento deles. Portanto, vamos identificar como aplicá-las com esse objetivo. 5. Os castigos devem ser proporcionais ao mau comportamento e à idade da criança. Se forem exagerados, você acabará reconsiderando e será pior do que se não os tivesse aplicado. 6. O objetivo é que as crianças aprendam, com o tempo, a controlar seus impulsos e agir de modo mais adequado, e não simplesmente agir para não serem castigadas. Portanto, ensinar valores e critérios pressupõe possibilitar que as crianças percebam as consequências das más ações e sintam o arrependimento e as perdas que elas trazem. Aqui está o sentido da punição: se aplicada com sabedoria e meta clara, funcionará bem como instrumento educativo em situações pontuais. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro


8 | Fé e Vida/Regiões Episcopais | 3 a 8 de março de 2022 |

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Fé e Cidadania Educação e Doutrina Social da Igreja PADRE ALFREDO JOSÉ GONÇALVES, CS Tanto nos documentos da Doutrina Social da Igreja (DSI) quanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Educação ganha lugar de relevância. Que virá a ser de uma pessoa, de um país ou de uma sociedade sem formação básica e sólida? Nela, de resto, se assenta o futuro de qualquer cultura ou civilização. Vem daí a preocupação da Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) com esse tema de fundamental importância. O lema bíblico é extraído do livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Entretanto, três entraves históricos e estruturais impedem que o Brasil estenda esse direito ao conjunto de sua população: a desigualdade social, o descaso do atual governo e o preconceito racista e excludente. Comecemos com a discrepância que, historicamente, vem cavando um fosso cada vez mais profundo entre a base e o pico da pirâmide socioeconômica. Existe aí um círculo vicioso perverso, antigo e difícil de romper. A situação de pobreza extrema impossibilita o acesso normal e integral à rede pública de Educação. Sem estudo e sem diploma, fecha-se a porta do trabalho, o que, por sua vez, cria sérios obstáculos à habitação, à saúde, ao transporte etc. Perpetua-se, desse modo, a condição de extrema pobreza. Desnecessário assinalar que esse cenário, agravado pela pandemia de COVID-19 e pelo desleixo das autoridades, conduz ao segundo entrave. Educação vista como um direito estendido a toda a população, por um lado, e expressões culturais e artísticas, por outro, sofreram um duplo golpe. Além do descaso e da indiferença para com a área do saber em geral, os cortes do orçamento tendem a recair sobre esse campo. Uma vez mais, um ranço de consequências nocivas, e que vem desde os tempos da “Casa-Grande & Senzala” (Gilberto Freyre), acompanha e mantém a ideia de que pobre, preto e mulher não precisam estudar. Se as coisas avançaram muito no caso das mulheres, o mesmo não ocorreu com o apartheid social e racista. Entramos, com isso, no terceiro entrave. Muito já se falou e escreveu sobre o racismo estrutural em sociedades como os Estados Unidos, a África do Sul e o Brasil, por exemplo. O mais grave é que ele costuma ser tanto mais difícil de combater quanto mais sutil e oculto. É o caso típico da formação d’O povo brasileiro. O antropólogo Darcy Ribeiro, aliás, escreve um tratado com esse título para questionar a fundo o mito da “democracia racial”. A verdade é que, de acordo com o autor, esta última tem muito de racista e nada de democrática. Disso se conclui que tanto a CF 2022 quanto a DSI constituem dois instrumentos imprescindíveis para resgatar o direito inalienável à Educação e, juntamente com ele, a dignidade humana de milhões de pessoas e famílias que hoje vivem à margem da vida e da história. Os educadores, por meio de políticas públicas estáveis e substanciais, são estimulados a falar com sabedoria e ensinar com amor, coisa que exige uma atitude de respeito e escuta para com os demais saberes que brotam dos diversos setores da população. Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

Brunch na Catedral: ajuda à Igreja Mãe e solidariedade PASCOM DA CATEDRAL DA SÉ No domingo, 27 de fevereiro, aconteceu mais uma edição do Brunch na Catedral. O evento é uma iniciativa do grupo Amigos da Catedral e tem por objetivo angariar fundos para a manutenção da Igreja Mãe da Arquidiocese de São Paulo. Alta gastronomia, cultura e religiosidade foram reunidas em uma tarde em que a solidariedade foi o “prato principal”. Além do objetivo interno, existe a preocupação com o

lado social: a Catedral não desperdiça os alimentos em excesso e fornece não somente neste dia, mas ao longo do mês, marmitas para a Missão Belém, sendo ao todo 200 por dia. Este ano, o Brunch ocorrerá novamente após a Quaresma, nas seguintes datas: 24/04, 01/05, 15/05, 12/06, 19/06, 03/07, 31/07, 21/08, 25/09, 16/10, 20/11 e 11/12. Para participar, é preciso enviar uma mensagem para o WhatsApp (11) 98496-9702, escolher uma das datas, informar o nome completo de

Marcos Cardoso

Sergio Barsotti Coronado

[BELÉM] Nos dias 19 e 20 de fevereiro, a coordenação da Pastoral da Juventude da Região Belém realizou sua parada pastoral na Paróquia Santa Teresa de Calcutá, Setor São Mateus, quando também participou da missa de um ano da Paróquia. A equipe estudou o Documento 100 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) “Comunidade de Comunidades”, com a Irmã Bruna, da Congregação Sagrado Coração, e foram pensados caminhos para ações futuras. (por Pedro Souza) [LAPA] Em 19 de fevereiro, em missa na Paróquia São Pedro, Setor Lapa, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, realizou a apresentação do novo Vigário Paroquial, o Padre Luciano Grigório, RCJ. Concelebrou o Padre Lourenço Cardoso, Pároco. (por Benigno Naveira) Hilton Félix

[SANTANA] Tomou posse como Pároco da Paróquia São João Evangelista, Setor Casa Verde, no domingo, 27 de fevereiro, o Padre Paulo César Gil, durante missa presidida por Dom Jorge Pierozan. Concelebraram os Padres Roberto Fernando Lacerda e Marcos Luis Erustes Polonio, assistidos pelos Diáconos Permanentes Franco Antônio Abelardo e José Luiz Silvério. O novo Pároco nasceu em São José do Rio Preto (SP) em 1962 e foi ordenado sacerdote em 17 de dezembro de 1988. (por Simone Arruda) [BRASILÂNDIA] Em fevereiro, a Paróquia Santíssima Trindade, no Setor Perus, realizou a formação litúrgica pastoral. Os encontros ocorreram cada semana em uma comunidade. A formação teve o apoio da Pastoral da Comunicação paroquial, que, no primeiro dia, falou sobre o tema “A Espiritualidade do Comunicador”; e do Padre José Miguel, que desenvolveu nos outros dias a temática “A Palavra de Deus e as Sagradas Escrituras em nossas vidas”. A formação vai ser contínua ao longo do ano para ampliação da Pastoral Litúrgica na Paróquia. (por Beatriz Moreira)

quem está reservando e quantos lugares deseja. Há fila de espera para a participação no evento. O custo do buffet por pessoa com consumação livre (incluindo sobremesa, vinhos, espumante, refrigerante e água), assinado por um chef renomado, é de R$ 350,00, incluindo o tour completo pela Catedral. O pagamento é antecipado via Pix (comprovante enviado pelo WhatsApp), e/ou cartão, sendo esta opção feita diretamente na secretaria da Catedral.

[IPIRANGA] A Paróquia-Santuário São Judas Tadeu promoveu, entre os dias 15 e 17, palestras de formação e debates sobre a Educação, em razão da Campanha da Fraternidade 2022, cujo tema é “Fraternidade e Educação”. Houve a participação de Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade; do Padre Patricky Batista, Secretário-Executivo da Campanha da Fraternidade e Secretário-Geral Adjunto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e do Padre Carlos Alberto Contieri, SJ, Diretor do Pateo do Collegio. Cerca de cem pessoas participaram dos dias de formação, promovida pela comissão de eventos sob a coordenação do Padre Rarden Pedrosa, SCJ, Vigário Paroquial. Os conteúdos tratados estão disponíveis em www.saojudas.org.br. (porPriscilaNuzzi) [IPIRANGA] Em 17 de fevereiro, cerca de 50 pessoas participaram da formação on-line sobre a Campanha da Fraternidade 2022, realizada pela Região Episcopal Ipiranga. O encontro foi conduzido pela Irmã Carolina Mureb, da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, especialista em Educação. Além de trazer reflexões sobre o texto-base da CF, ela destacou pontos do Pacto Global Educativo, proposto pelo Papa Francisco. (por Karen Eufrosino) [LAPA] No sábado, 26 de fevereiro, na Área Pastoral São João Batista da Paróquia Santo Alberto Magno, no Setor Butantã, aconteceu a reunião dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC) que atuam na matriz, na área pastoral e na Comunidade Nossa Senhora Aparecida. O encontro foi conduzido pelo Coordenador de Pastoral, o Diácono Permanente Antônio Geraldo de Souza, que fez uma reflexão sobre a Campanha da Fraternidade e o tempo quaresmal. No segundo momento do encontro, aconteceu a formação sobre as funções do MESC. (por Benigno Naveira)

[SANTANA] Na sexta-feira, 25 de fevereiro, Dom Jorge Pierozan deu posse ao Padre Jovair Milan como Pároco da Paróquia Santo Antônio, no Lausanne, Setor Imirim. (por Sergio Barsotti Coronado) Hilton Félix

[SANTANA] Em missa presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, no sábado, 26 de fevereiro, o Padre Severino dos Ramos Lima Araújo, ISch, tomou posse como Administrador Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade. Nascido em João Pessoa (PB), ele ingressou no Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt em 1996 e foi ordenado em 2004. Concelebraram a missa de posse os Padres Marcos Luis Erustes Polonio, Mauricio José de Lima, José Fernando Bonini (Superior dos Padres de Schoenstatt), Gabriel Felipe Oberle e Pedro Cabello, assistidos pelos Diáconos Permanentes Moisés da Silva e Franco Antônio Abelardo. (por Simone Arruda) [BRASILÂNDIA] No sábado, 26 de fevereiro, reuniu-se presencialmente pela primeira vez o grupo de catequistas da Catequese infantil e de adultos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da Vila Zatt, com o novo Pároco, o Cônego José Renato Ferreira, para decidir as questões da retomada dos encontros presenciais em 5 de março. (por Priscila Rocha)


Sabrina Lima

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| 3 a 8 de março de 2022 | Regiões Episcopais /Reportagem | 9

Em São Paulo, católicos ucranianos rezam pela paz e pedem o fim da guerra

Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO [BRASILÂNDIA] Em fevereiro, a Comunidade Sagrada Família, na Vila Portugal, passou a fazer parte da Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto. Essa comunidade foi fundada há mais de 25 anos. No sábado, 26 de fevereiro, o Padre Roberto Moura, Pároco, presidiu a primeira missa na comunidade. (por Taíse Cortês) Fernando Arthur

[BELÉM] Na sexta-feira, 25 de fevereiro, os fiéis da Paróquia São Pio X e Santa Luzia celebraram o 15º aniversário de ordenação presbiteral do Padre Reginaldo Donatoni, Pároco, em missa presidida pelo próprio jubilando. Entre os concelebrantes esteve o Vigário Episcopal da Região Belém, Cônego José Miguel, que fez a homilia. A íntegra da notícia pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/nAo7MWi. (por Fernando Arthur)

[SÉ] Dom Joércio Gonçalves Pereira, CSsR, Bispo Emérito de Coari (AM), recebeu homenagens na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Pastoral Jardins, no último fim de semana, em razão dos 16 anos de sua ordenação episcopal, celebrados em 26 de fevereiro, e 39 anos de sacerdócio, em 27 de fevereiro. Nesta igreja, ele atuou como Vigário Paroquial entre 2000 e 2002 e hoje colabora celebrando missas, batizados, casamentos, atendimentos diversos, além de participar dos Evangelhos diários por meio do canal YouTube da Paróquia. (por Rogério Nakamoto) [SÉ] O livro “Vocabulário teológico – Teologia Patrística”, de autoria do Padre Antônio Sagrado Bogaz, Pároco da Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Cerqueira César, começou a ser vendido antecipadamente por meio do WhatsApp – (11) 99797-8993 ou (11) 99675-7159. Cada exemplar custa R$ 50,00, valor promocional até 8 de março. A reserva será feita após o envio do comprovante de pagamento. (por Eva Yu Bertani) [SÉ] Neste mês, a Pastoral da Espiritualidade da Paróquia Santa Teresa de Jesus, no Itaim Bibi, realiza um curso on-line e gratuito com o tema “O novo Catecismo da Igreja Católica”. O curso é transmitido pela TV Terê e tem a mentoria do Frei Paulo Gollarte. Saiba mais pelo site: www.paroquiasantateresa.com.br. (por Pascom paroquial)

[BELÉM] Em 23 de fevereiro, aconteceu a reunião do Conselho Paroquial de Pastoral da Paróquia Santa Adélia, conduzida pelo Padre Jônatas Mariotto, Pároco. Foram discutidas as atividades para os próximos dois meses e falou-se sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. (por Nilton Gomes)

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A comunidade católica ucraniana em São Paulo se reuniu no domingo, 27 de fevereiro, para celebrar uma missa pedindo a paz na Ucrânia após a invasão de tropas russas no país do leste europeu na última semana. A Divina Liturgia (Eucaristia) em rito bizantino ucraniano aconteceu na igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição dos Católicos Ucranianos, na Vila Bela, zona Leste de São Paulo, ligada à Metropolia Católica Ucraniana São João Batista, com sede em Curitiba (PR). Nessa igreja, também está sediada a Paróquia Nossa Senhora da Glória, da Arquidiocese de São Paulo, que reúne os fiéis católicos de rito latino, ambas pastoreadas pelos sacerdotes da Ordem Basiliana de São Josafat, autorizados a celebrar nos ritos oriental e latino.

PERDÃO

Na liturgia bizantina, celebrou-se naquela data o chamado “Domingo do Perdão”, que antecede o início da Quaresma. “Coincidência, neste domingo dedicado ao perdão, nós estarmos clamando pela paz”, enfatizou, na homilia, o Padre Estefano Elton Wonsik, Vigário Paroquial, presidente da celebração. “Hoje, nosso coração, como ucranianos e descendentes, sofre… O único fruto da guerra é a morte. Por isso, hoje é um dia de esperança, mas, também, de lágrimas”, afirmou o Sacerdote, indagando se a humanidade ainda não aprendeu com os males causados pela guerra. Padre Estefano recordou, ainda, as palavras do Papa Francisco, que afirmara que aqueles que trabalham para a guerra são “malditos e criminosos”. E completou: “Os verdadeiros imitadores de Cristo não matam; ao contrário, devem dar a vida pelos outros”.

MISERICÓRDIA

O Sacerdote reforçou que, mesmo em meio a tamanha dor, os cristãos são chamados a conceder o perdão àqueles que agridem a sua terra de origem. “Eles precisam ainda conhecer a misericórdia de um Deus que é de paz, não de atritos, violência e morte”, manifestou o Padre de etnia ucraniana, acrescentando que “se Cristo foi capaz de deitar em uma cruz para tomar sobre si o pecado de toda a humanidade, nós somos capazes também de conceder o perdão”. “Jesus também nos dá uma mensagem de esperança: ‘Deixo-vos a minha paz, não a que vem do mundo. Por isso, não se perturbe nem se inquiete o vosso coração. O coração do nosso salvador misericordioso, Jesus, olha hoje para o nosso pobre coração tão perturbado,

Fiéis em oração na Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição dos Católicos Ucranianos

inquieto, cheio de preocupações e lança a paz no nosso coração”, salientou o Sacerdote. Ele concluiu a homilia com palavras de São João Paulo II, que, na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, afirmou: “O sofrimento de tantos irmãos e irmãs não pode nos deixar indiferentes! A sua dor faz apelo à nossa consciência, santuário interior onde nos encontramos face a face conosco mesmos e com Deus. E como não reconhecer que, embora em medida diversa, todos estamos envolvidos nesta revisão de vida a que Deus nos chama? Todos temos necessidade do perdão de Deus e do próximo. Por isso, todos devemos estar dispostos a perdoar e a pedir perdão”.

ÚNICO APELO

O cônsul-honorário da Ucrânia em São Paulo, Jorge Rybka, enfatizou o sofrimento dos ucranianos e seus descendentes que vivem no Brasil, diante de tantas mortes de civis no conflito armado em sua terra natal. “Não há nada mais a ser pedido do que a paz para todos.” O cônsul acrescentou que o que é visto na Ucrânia não se trata de uma guerra entre povos inimigos, mas motivada por interesses que não correspondem à identidade dos povos russo e ucraniano. “Nós não estamos sendo agredidos por um povo”, afirmou Rybka, sublinhando que o povo russo também é vítima do conflito, dado que cerca de 20% da população da Ucrânia é de etnia russa e, também, é atingida diretamente pelos bombardeios. De igual modo, as comunidades ucraniana e russa no Brasil têm uma fraterna relação e, por isso, sofrem com as tensões vividas em seus países. “Juntos, todas as comunidades, nacionalidades, crenças, esperamos o fim desse conflito”, afirmou o cônsul. Jorge Rybka agradeceu as manifestações de apoio e carinho do povo brasileiro e das comunidades de outros países. No Brasil, vivem cerca de 600 mil ucranianos e seus descendentes, sendo que 10 mil estão no estado de São Paulo. O cônsul também agradeceu o apoio humanitário oferecido pelos governos dos estados de São Paulo e do Paraná, onde

se concentra a maior parte da colônia ucraniana no Brasil.

ANGÚSTIA POR NOTÍCIAS

Marcelo Hrysewicz é filho de ucraniano e participou da missa com sua esposa, Manuela Hrysewicz. O casal relatou ao O SÃO PAULO que tem tido dificuldades para contatar seus parentes na Ucrânia. “Eles estão no Oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia, abrigados em bunkers [abrigos subterrâneos fortificados]. Fico o tempo todo atento ao celular para ver se recebo notícias”, relatou Hrysewicz. Manuela acrescentou que a maior parte desse grupo é formada de mulheres e crianças. “Os civis têm se organizado em suas vilas e cidades para dar apoio uns aos outros”, disse, contando, ainda, que muitas dessas pessoas são interceptadas nas ruas tanto pelas forças militares ucranianas quanto as russas, o que causa mais angústia aos parentes que as acompanham de longe. Outro desafio relatado por Manuela é a “guerra da desinformação”, veiculada nas redes sociais e que acaba deixando confusa a população dos dois países envolvidos no conflito, além de insuflar o sentimento de ódio entre povos que sempre viveram harmoniosamente. O contato com os parentes fica cada vez mais difícil, pois muitos ataques também têm como alvo o desabastecimento de energia e a interrupção do funcionamento dos meios de comunicação. Padre Estefano contou à reportagem que muitos paroquianos relatam que, com o passar dos dias, diminuem as possibilidades de comunicação com parentes ucranianos, e isso os deixa ainda mais preocupados. “Não podemos perder a fé e a esperança, mas vivemos dias de muita aflição”, disse. No fim da missa, o Sacerdote rezou o ofício bizantino pelos falecidos, recordando, de modo especial, as vítimas dos conflitos. Após a liturgia, os membros da comunidade ucraniana se reuniram diante do altar da igreja e entoaram, emocionados, o hino nacional da Ucrânia, manifestando o amor por seu país de origem.


10 | Pelo Mundo | 3 a 8 de março de 2022 |

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População ucraniana conta com a caridade cristã em meio à guerra Caritas Ukraine

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Bombas, toque de recolher, mortes e sensação permanente de insegurança. Há uma semana, desde o início da invasão da Ucrânia pelas tropas militares da Rússia, a população local convive com essa realidade. Ao menos 836 mil pessoas, segundo dados do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), já haviam deixado o território ucraniano até a manhã da quarta-feira, 2, número que, segundo a própria ONU, pode chegar a 4 milhões de refugiados de guerra nas próximas semanas. Para os que ficam ou para os que partiram para países vizinhos, como a Polônia e a Hungria, por exemplo, a Igreja ‘estende a mão’, garantindo-lhes abrigo, alimentação e a proximidade pastoral diante das feridas, visíveis e invisíveis, decorrentes da guerra, que já vitimou militares e civis.

PROXIMIDADE

Em recente entrevista ao Vatican News, Dom Visvaldas Kulbokas, Núncio Apostólico na Ucrânia, relatou o clima de tensão na capital do país, Kiev. “A cidade está completamente paralisada pela ação de guerra. Além dos mísseis que passam e das pessoas que se escondem o melhor que podem nos porões e estações de metrô, a pergunta que me vem à cabeça é: o que os doentes estão fazendo?”, relatou o Prelado, revelando preocupação

também com os traumas que a guerra trará às crianças. “Estamos nos andares inferiores [da sede da Nunciatura], prontos para nos refugiarmos no porão, caso vejamos uma necessidade imediata. Mas rezamos: rezamos por nós mesmos, pelos outros, rezamos pela paz, rezamos pela conversão de todos”, assegurou. Na terça-feira, dia 1º, uma bomba atingiu a cúria da Igreja Católica na cidade de Kharkiv. Dentro de uma cripta estavam 40 pessoas refugiadas, a maioria mulheres e crianças. Nenhuma se feriu. Na mesma cidade, há uma casa das Irmãs Missionárias da Caridade. À Agência Fides elas relataram o medo com os sons de disparos permanentes. Mesmo com a opção de ir para a Polônia, permanecem na Ucrânia para prestar assistência aos que mais precisam. Em Lviv, o Padre Egifio Montanari, orionita, contou que sirenes de alerta

não paravam de soar nos primeiros dias de ataque, mas os sacerdotes não pensam em deixar a região: “Nós ficamos aqui, não podemos abandonar a casa e, sobretudo, nossas crianças com deficiência, porque elas só têm a nós”.

ACOLHIDOS NA POLÔNIA

De carro, de trem ou mesmo a pé, muitos são os ucranianos que chegam à Polônia em busca de refúgio. Na última semana, a Cáritas polonesa lançou a campanha “Ajuda para a Ucrânia”, com vistas a arrecadar recursos para a compra de alimentos, itens de higiene e outros produtos mais urgentes. Além disso, 100 mil euros já foram enviados para a Cáritas Ucrânia da Igreja Greco-Católica e Caritas-SPES da Igreja Católica. Padre Marcin Iżycki, Diretor da Cáritas da Polônia, disse que cobertores, sacos de dormir e colchões são as maiores

necessidades dos ucranianos que vivem nas áreas afetadas pelos bombardeios. Paróquias na fronteira com a Ucrânia estão sendo orientadas a acolher os refugiados. Em nota publicada na sexta-feira, 25 de fevereiro, o conselho permanente da Conferência Episcopal Polonesa repudiou a invasão russa à Ucrânia e pediu que os poloneses “adotem uma atitude cristã em relação aos refugiados que chegam ao nosso país” e que estes sejam recebidos como irmãos da Ucrânia “em casas, albergues, casas de retiros diocesanos e paróquias, e todos os lugares onde possa ser prestada ajuda às pessoas necessitadas”.

AJUDA EMERGENCIAL DA ACN

Na última semana, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) já se prontificou a ajudar os 4.879 sacerdotes e religiosos e 1.350 religiosas na Ucrânia, para permitir que continuem seus programas pastorais e de assistência aos que mais precisam. Além disso, fornecerá ajuda emergencial para os quatro exarcados greco-católicos e as duas dioceses latinas no Leste da Ucrânia. “Principalmente agora, a ACN deve garantir a presença de padres e religiosas com seu povo, nas paróquias, com os refugiados, nos orfanatos e lares para mães solteiras e idosos que enfrentarão o desafio de sobreviver em um clima de custos crescentes como resultado da guerra”, disse Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da ACN Internacional.


RECENTE LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NA COLÔMBIA REFORÇA PREOCUPAÇÃO COM O AVANÇO DA ‘CULTURA DE MORTE’ NO CONTINENTE

| 3 a 8 de março de 2022 | Reportagem | 11

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DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

A pele ainda é frágil, mas seu corpo está praticamente formado. Ele já pode perceber sons externos e sentir gostos e cheiros. O pulmão não está plenamente formado, mas, se nascesse agora, sobreviveria, recebendo os devidos cuidados em uma UTI neonatal. Assim é um bebê no 6º mês de gestação. Entretanto, desde 21 de fevereiro, na Colômbia, após decisão da mais alta corte do país, um ser humano até esta idade gestacional pode ser assassinado por procedimentos abortivos. No dia seguinte, a Conferência Episcopal da Colômbia manifestou perplexidade e profunda dor com a decisão da Justiça. “Considerar que os direitos à vida e a receber proteção do Estado, amparados pela Constituição (cf. Art. 2. 5. 9), não são válidos a partir do momento da concepção, é uma afronta à dignidade humana. Igualmente, defender o suposto direito de suprimir uma vida inocente põe em risco o mesmo fundamento de nossa ordem social e do Estado de direito. O aborto é um ato imoral e uma prática violenta contra a vida”, ressaltaram os bispos. No domingo, 27 de fevereiro, os católicos do país se uniram em uma jornada de oração a favor da vida desde a concepção até a morte natural.

CRUELDADE

Considerada pelos movimentos abortistas como uma “conquista dos direitos da mulher”, a legalização do aborto formaliza o assassinato do feto, e, quando o alvo são aqueles a partir dos 6 meses de vida intrauterina, a morte é ainda mais cruel, conforme detalha Lenise Garcia, doutora em Microbiologia e Imunologia e presidente do Movimento Brasil sem Aborto. “Em um feto de 24 semanas, se for feita a indução ao aborto com um medicamento [técnica mais comum para os abortamentos realizados até a 12ª semana de gestação], a probabilidade de essa criança nascer viva é muito grande. Para que isso não aconteça, o que se provoca é a morte da criança já dentro do útero, por meio de uma injeção salina, algo extremamente doloroso, pois ela será como que queimada internamente. Outra técnica usada é a de injetar algum veneno no coração do bebê. Portanto, são atrocidades que se cometem contra essa criança para que morra no útero, e depois com algum medicamento se induza a gestante ao trabalho de parto para que expulse a criança morta”, detalhou Lenise ao O SÃO PAULO.

CULTURA DE MORTE

Na América Latina, além da Colômbia, o aborto é legalizado em Cuba (desde 1965), Guiana (desde 1995), Uruguai

Pauta abortista ameaça a vida na América Latina (desde 2013) e Argentina (desde 2020). Também é permitido em alguns estados do México, em Porto Rico e na Guiana Francesa, nestes dois últimos seguindo as legislações dos países a que pertencem, respectivamente, os Estados Unidos e a França. Na avaliação de Lourdes Varela, coordenadora latino-americana do movimento internacional “40 Dias pela Vida” – que alerta a sociedade sobre os riscos do aborto e promove vigílias de jejum e oração em frente a clínicas nas quais é realizado –, o que ocorreu na Colômbia foi a formalização de uma cultura de morte já consolidada no país, onde antes o aborto só era permitido para os casos de estupro, má-formação do feto e risco para a vida da mãe. “Em alguns hospitais públicos, por exemplo, os médicos, ao fazerem o pré-natal, já tinham a orientação de questionar a gestante se ela queria mesmo ter aquele filho. Além disso, em muitas cidades já há centros de aborto que recebem fundos da Planned Parenthood, a maior realizadora de abortos dos Estados Unidos”, assegura. “Em Bogotá, por exemplo, no bairro de Teusaquillo, existem 32 centros de aborto. Quando uma moça caminha por lá, é comum que alguém no meio da rua lhe dê um panfleto dos locais onde possa abortar. A cada aborto feito, o entregador do panfleto ganha uma comissão”, exemplifica Lourdes.

DISCUSSÕES EM OUTROS PAÍSES

No México, cada estado tem autonomia para decidir sobre a legalização do aborto. A prática foi descriminalizada inicialmente na Cidade do México, em 2007. No ano passado, a Suprema Corte da Justiça considerou que o aborto não é um crime. Hoje, alguns estados já o fazem como política pública de saúde até a 12ª semana de gestação. Na Argentina, os debates sobre a legalização do aborto se intensificaram em

2018. Naquele ano, o legislativo rejeitou a proposta de descriminalização. Entretanto, o tema voltou a ser discutido em 2020 e se aprovou o aborto até a 14ª semana de gestação. No Equador, desde 17 de fevereiro, a mulher que engravida em decorrência de estupro está autorizada a abortar até a 12ª semana de gravidez. No Chile, a legalização voltou a ser debatida no ano passado, mas a proposta de permitir o aborto até a 14ª semana de gestação foi arquivada pelos legisladores. Desde 2017, porém, a prática já é permitida quando há risco de vida para a mãe, em caso de estupro ou de inviabilidade de vida do feto após o nascimento. No Brasil, apesar das recorrentes tentativas de descriminalização, o aborto é um crime, conforme consta nos artigos 124 e 128 do Código Penal, mas há três situações em que seus autores não são punidos: em caso de a gravidez resultar em risco de vida para a gestante, se for resultante de estupro e, ainda, para os casos em que o feto é anencéfalo.

A QUEM INTERESSA A LEGALIZAÇÃO?

Lourdes Varela assegura que, na maioria dos casos, a discussão sobre a legalização do aborto não é uma demanda da sociedade local, mas sim de grupos financeiros internacionais: “Há outros interesses em questão. Cria-se todo um discurso de que o aborto é pelo bem da mulher, porém, não é verdade, isso nos levará à própria destruição”. Lenise Garcia ressalta que o aborto deixa marcas permanentes na vida da mulher. “Independentemente do método utilizado, que por si só já traz riscos, deve-se considerar que há todo um equilíbrio orgânico hormonal existente entre a gestante e o seu filho que é rompido de uma forma abrupta pelo aborto, e, evidentemente, isso se reflete no organismo da mulher. Há comprova-

damente uma incidência maior de câncer de mama entre as que já realizaram aborto. Elas também têm mais dificuldades para engravidar depois e, quando conseguem, a criança pode nascer prematura ou com baixo peso”, detalhou, citando ainda casos de mulheres que após abortarem desenvolvem quadros depressivos ou se tornam dependentes de álcool e drogas.

A VIDA É DOM DE DEUS, NÃO UMA AMEAÇA

Em maio de 2007, durante o voo de sua viagem apostólica ao Brasil, o Papa Bento XVI foi questionado por jornalistas a respeito de países que discutiam legislações para permitir a prática do aborto. O Pontífice ressaltou que “a vida é um dom de Deus e não uma ameaça”, e destacou que na base dessas propostas atuam duas forças: o egoísmo e a dúvida sobre o futuro. “A Igreja responde sobretudo a estas dúvidas: a vida é bela, não é algo duvidoso, mas é um dom e também em condições difíceis a vida permanece sempre um dom. Portanto, é preciso voltar a criar esta consciência da beleza do dom da vida. Outra coisa é a dúvida do futuro: naturalmente há tantas ameaças no mundo, mas a fé nos dá a certeza de que Deus é sempre mais forte e permanece presente na história e, portanto, podemos, com confiança, também dar a vida a novos seres humanos. Com a consciência de que a fé nos dá sobre a beleza da vida e sobre a presença providente de Deus no nosso futuro, podemos resistir a estes medos que estão na base destas legislações”, concluiu.

LEIA TAMBÉM

Por que ser contra o aborto é um compromisso cristão? https://cutt.ly/tP9o3jC


12 | Geral | 3 a 8 de março de 2022 |

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Assembleia Eclesial: veja os detalhes do relatório do Celam apresentado ao Papa Celam

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

O Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) divulgou na última semana o relatório resumido que a presidência do organismo apresentou ao Papa Francisco na audiência realizada em 19 de fevereiro, no Vaticano, referente à 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que ocorreu em novembro de 2021. No documento, há detalhes sobre o perfil dos participantes, os textos de referência utilizados, os desafios pastorais listados, as repercussões da cobertura de mídia, a avaliação dos membros da Assembleia e o cronograma de ações para 2022. A íntegra do conteúdo pode ser vista no link a seguir: https://cutt.ly/3PX3Pmr.

6 Povos originários, afrodescendentes, interculturalidade e diversidades Neste grupo de desafios, centrou-se o olhar nos povos originários e afrodescendentes, reconhecendo sua diversidade cultural e religiosa. Como já mencionado em Aparecida, é necessário analisar as diversas propostas religiosas que estão surgindo no continente.

APRESENTAÇÃO

Na introdução do relatório, os membros da presidência do Celam afirmam que a 1ª Assembleia Eclesial permitiu “reconhecer a presença do Espírito do Senhor neste tempo de kairós e de renovação em chave sinodal, por meio de uma grande participação do povo de Deus”. Os prelados também reafirmam seu compromisso de “animar a esperança, vislumbrando no horizonte o Jubileu Guadalupano em 2031 e o Jubileu da Redenção em 2033” e o compromisso do Celam com a Igreja sinodal: “Fiéis à nossa vocação de comunhão, reflexão, colaboração e serviço, reafirmamos nosso desejo de impulsionar uma Igreja em saída sinodal e reavivar o espírito da V Conferência Geral do Episcopado, que, em Aparecida 2007, nos convocou a ser discípulos missionários”. Mencionam, ainda, que no relatório há elementos que detalham a experiência e o alcance da 1a Assembleia Eclesial e os processos que delam emanam para que a Igreja no continente seja “expressão do ‘transbordamento’ do amor criativo do Espírito e do nosso compromisso com uma autêntica conversão pastoral, pois ‘a Igreja necessita de uma forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do continente’” (DAp 362).

PERFIL DOS PARTICIPANTES

Participaram da Assembleia Eclesial, entre 21 e 28 de novembro, 1.104 pessoas, a maioria, 1.021 (92%) de modo virtual, e 83 (8%) presencialmente na Cidade do México. Foram ao todo 68% de homens e 32% de mulheres. A maioria dos participantes, 32,6%, tinha entre 50 e 60 anos. Os leigos também tiveram a maior representação, 39% do total. Em relação ao local de origem, houve predomínio dos provenientes do Cone Sul – o que inclui os representantes brasileiros –, 46% do total (512 pessoas), se-

5 Clamor da Terra Houve grande preocupação sobre o cuidado com a casa comum e o pedido de conversão ecológica como exposto na Laudato si’ e na Querida Amazonia. Trabalhar por um modelo econômico solidário e sustentável. Insistir na dimensão social da fé também nos seminários.

guido por pessoas da região andina, 26% (287) e do México e América Central, 18% (202).

DESAFIOS PASTORAIS

A fim de facilitar a visualização sobre os 41 desafios pastorais relacionados pelos participantes da Assembleia Eclesial, o relatório resumido os apresenta em sete núcleos temáticos: 1 Jesus Cristo, Palavra, Igreja O ponto de partida é sempre o encontro com Jesus Cristo (cf. DAp 14). Sua Palavra e seu magistério ensinam que todos são chamados pelo Batismo a formar parte da Igreja povo de Deus. Com insistência, reivindicou-se banir o clericalismo e acentuou-se o comprometer-se à conversão sinodal. Assinalou-se a necessidade de acompanhar as vítimas de abuso sexual e de poder na sociedade e na Igreja. É importante erradicar as estruturas pastorais caducas. Acolhendo o que se afirma no Documento de Aparecida e na Evangelii gaudium, propôs-se promover a piedade popular, assim como as Comunidades Eclesiais de Base. 2 Jovens, mulheres e leigos Destacou-se a necessidade de reconhecer e dar lugar aos jovens como agentes de mudança eclesial e social.

Sobre as mulheres, exortou-se a que se reconheça seu lugar na sociedade. Por sua vez, foi apontada a necessidade de seu acesso aos ministérios e espaços eclesiais de decisão, o que também se aplica aos leigos em geral. Para a evangelização, propôs-se desenvolver a pastoral urbana e o uso das novas tecnologias para a missão, assim como anunciar e viver a fé em novos areópagos. 3 Famílias e fragilidades A partir de uma renovada pastoral familiar, foi enfatizado que se deve acompanhar os diversos modos de vínculo familiar, assim como o lugar da família na sociedade. Estabeleceu-se o compromisso com o cuidado da vida desde a concepção até a morte natural, acompanhando cada etapa e dimensão da existência. Algumas famílias necessitam de um acompanhamento especial quando um de seus membros está preso, com alguma doença mental ou outra fragilidade. 4 Clamor dos pobres É urgente escutar os gritos da injustiça e dos abusos que clamam ao céu. Compromisso e proximidade com os migrantes e refugiados. Acompanhar os movimentos populares nas buscas de terra, teto e trabalho.

7 Violência, democracia, corrupção e impunidade A Assembleia chamou a atenção sobre a espiral de violência social e familiar, na qual as mulheres são as que mais sofrem maus-tratos verbais e físicos, levando-as muitas vezes à morte. Corrupção e impunidade fazem com que o Estado e a Justiça estejam ausentes e se favoreça o desenvolvimento do crime organizado e das máfias do narcotráfico, das armas e do tráfico humano. É necessário acolher com ternura as vítimas. Compartilhou-se a preocupação em fortalecer a democracia e trabalhar pela integração latino-americana. Compromisso com os direitos humanos e a paz.

PRÓXIMAS ETAPAS

A presidência do Celam também apresentou ao Santo Padre o itinerário previsto para este ano, por meio do qual se buscará animar diversos espaços relacionados com o processo de renovação e reestruturação, bem como a relação da Assembleia Eclesial com o Sínodo sobre a sinodalidade. Nesse sentido, haverá um seminário sobre os horizontes da missão do Celam e diversos encontros por regiões com os bispos das 22 conferências episcopais da América Latina e do Caribe. Haverá ainda uma reunião com os secretários das conferências episcopais e, em julho, a Assembleia Extraordinária do Celam, quando também será inaugurada a nova sede do organismo, em Bogotá, na Colômbia, culminando na conclusão da fase continental do Sínodo sobre a sinodalidade. Assinam o relatório os membros da presidência do Celam: Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Presidente; Cardeal Odilo Pedro Scherer, 1º Vice-Presidente; Cardeal Leopoldo José Brenes, 2o Vice-Presidente; Dom Rogelio Cabrera López, Presidente do Conselho de Assuntos Econômicos; e Dom Jorge Eduardo Lozano, Secretário-Geral. (Com informações do Celam)


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| 3 a 8 de março de 2022 | Reportagem | 13

Papa exorta jovens universitários da América a construírem pontes entre os povos Reprodução da Loyola University Chicago

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Papa Francisco participou de um diálogo virtual com estudantes universitários do continente americano na quinta-feira, 24 de fevereiro. A iniciativa intitulada “Construindo Pontes Norte-Sul” foi promovida pela Loyola University Chicago e pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL). Durante mais de uma hora de conversa, o Pontífice e os estudantes falaram sobre a não violência, os migrantes, o meio ambiente, o relacionamento com os idosos e as novas tecnologias. Logo no início, foi feita uma oração a Nossa Senhora Rainha da Paz, pedindo especialmente pelo povo ucraniano, vítima da operação militar russa. Conectado diretamente da Casa Santa Marta, sua residência no Vaticano, Francisco respondeu a perguntas de jovens de diferentes nacionalidades da América, entre os quais, a brasileira Marina Pascual Pizoni, estudante da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) em Belo Horizonte (MG). Também participaram imigrantes e refugiados de outros continentes que atualmente vivem na América. Divididos em quatro blocos e conectados com celulares, tablets e computadores, eles contaram brevemente ao Papa sua própria história, denunciaram as emergências em seus países e apresentaram projetos desenvolvidos nos últimos anos. Logo no início de sua fala, o Santo Padre destacou a necessidade de se construir pontes entre os diferentes povos, expressão que ele usa com frequência em seus pronunciamentos e documentos. “Construir pontes é parte integrante da identidade cristã. Cristo veio para construir pontes entre o Pai e nós. Um cristão que não sabe construir pontes esqueceu seu Batismo”, disse.

MIGRANTES

No diálogo, foi dado amplo espaço ao tema da migração. Um jovem da América do Sul relatou a discriminação sofrida por sua família. “Não somos estupradores, assassinos, viciados em drogas. Somos sonhadores trabalhadores que oferecem o melhor de nós mesmos”, disse. Em sua resposta, Francisco reiterou os quatro verbos que considera úteis para enfrentar o que ele descreveu como “um dos

dramas mais graves” deste século. “Estamos vendo pessoas que deixam suas terras por problemas políticos, guerras, problemas econômicos e culturais. O princípio é muito claro: o migrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado”, salientou, lembrando: “Eu mesmo sou filho de migrantes”, membro de uma família que deixou o Piemonte [na Itália] quando “meu pai era um jovem contador de 22 anos”. O Pontífice recordou que os Estados Unidos, por exemplo, são “um país de migrantes: irlandeses, italianos...” e “até minha terra, a Argentina, é um coquetel de migrantes”. O Papa acrescentou que essa questão interpela a todos, especialmente os estudantes universitários que devem enfrentar, estudar e assumir o problema por meio de três linguagens “da cabeça, do coração e das mãos”, sem correr o risco de se tornar “frio, sem coração”.

REDE PARA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES

Os estudantes compartilharam suas impressões e sugestões para a superação da pobreza e das desigualdades sociais. Um jovem estudante da Universidade Católica de Honduras destacou que uma das motivações do fluxo migratório em sua região é a pobreza extrema, especialmente nas comunidades rurais. “Propomos uma rede entre o mundo universitário, a Igreja, as empresas públicas e privadas e a sociedade civil, com o objetivo proeminente de realizar uma reativação econômica e social de cada um desses territórios, com um trabalho árduo e dinâmico que, por um lado, o estudo sistemático da situação econômica e social das comunidades rurais e sua influência na economia geral de cada país permita o desenvolvimento de um trabalho genuíno. Tudo isso, por meio de um acompanhamento psicossocial e recursos de formação e de introdução ao mundo do trabalho em colaboração com as universidades”, sugeriu o hondurenho.

NÃO VIOLÊNCIA

Ouvindo atentamente e tomando nota dos relatos dos jovens, o Pontífice

respondeu às indagações de cada um, como a da estudante brasileira que denunciou a “violência dura e selvagem” vivida no País. O Papa enfatizou que a violência deve ser combatida com a “não violência ativa”. “Este é o maior desafio que se espera de vocês, a denúncia da violência... A violência destrói, não constrói, e vemos isso nas ditaduras militares e não militares ao longo da história. Precisamos da profecia da não violência. É muito mais fácil dar um tapa quando se leva um tapa do que dar a outra face”, disse o Pontífice, advertindo contra o “jogo da hipocrisia”, que, segundo ele, “envenena” a vida.

CUIDADO DA CRIAÇÃO

O Santo Padre também falou da harmonia em relação à criação, questão que mais de um estudante propôs em seu discurso. Foram citados números dramáticos: 20 milhões de pessoas por ano que fogem de suas terras devido às mudanças climáticas; uma previsão de 1 bilhão e 400 milhões de refugiados climáticos até 2060. O Papa reiterou seu convite ao cuidado da “casa comum” e lembrou um ditado espanhol: “O Senhor sempre perdoa, nós perdoamos às vezes, a natureza nunca perdoa”.

RAÍZES

O encontro virtual também foi oportunidade de refletir sobre o diálogo entre gerações, tema bastante caro a Francisco, estimulado por um jovem que utilizou a palavra “raízes” em sua fala. “Uma das coisas suicidas para uma sociedade é quando ela nega suas raízes. Todos devem cuidar de suas raízes. Por isso, insisto no diálogo entre idosos e jovens. Os idosos são as raízes, todos os frutos vêm das raízes”, afirmou o Papa que, novamente, se referiu aos migrantes, encorajando-os a se integrar aos países de acolhimento, porém, sem esquecer suas raízes.

IGREJA EM SAÍDA

Por fim, refletindo sobre o tema da sinodalidade, o Santo Padre renovou seu apelo a toda a Igreja para que seja cada vez mais “em saída”, expressão utilizada desde o início de seu pontificado. Recordando uma passagem do livro

do Apocalipse de São João, em que Jesus diz “Eis que estou à porta e bato. Se alguém a abrir eu entrarei”, o Santo Padre afirmou: “Jesus quer entrar na vida de cada um de vocês”, sublinhando que a Igreja tem o dever de ir ao encontro das pessoas para permitir que Jesus entre na vida delas. (Com informações de Vatican News)

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Papa: o diálogo inter-religioso é um caminho de fraternidade rumo à paz https://cutt.ly/mApB9Q3 Revista Cultura Teológica tem edição especial sobre Dom Paulo Evaristo Arns https://cutt.ly/HApNkwt Unido ao Papa, Celam pede por paz e orações diante de conflito na Ucrânia https://cutt.ly/6ApMaC1 Com boa organização, é possível concretizar metas na vida pessoal e profissional https://cutt.ly/HApNRRj Senado apreciará projeto de legalização dos jogos de azar após aprovação da Câmara https://cutt.ly/vApNMkU Dom Odilo: ‘Peçamos a Deus que haja paz e reconciliação entre povos’ https://cutt.ly/SApMOm9


14 | Fé e Vida/Geral | 3 a 8 de março de 2022 |

Liturgia e Vida 1° DOMINGO DA QUARESMA 6 DE MARÇO DE 2022

Reparação dos pecados

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Igreja em São Paulo realizará assembleia de pastoral em clima de retomada do sínodo Luciney Martins/O SÃO PAULO - mar.2018

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA O pecado é um mal absoluto. Encerra-nos no egoísmo, enfraquece ou extingue a caridade. Tratando-se de uma culpa grave, priva-nos da graça divina. Constitui a grande desgraça humana, que pode nos levar à condenação eterna. Dele decorrem, direta ou indiretamente, todos os males. Nos indivíduos, na sociedade e na criação, o pecado original causou um desequilíbrio que se perpetua pelas culpas pessoais. Divisões familiares, violência, guerras, opressões, injustiças de toda espécie e até calamidades naturais têm sua origem última no pecado. Tanto que Nosso Senhor recebeu o nome de Jesus – “Deus salva” – porque “Ele vai salvar o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21). Para isso, o Senhor veio ao mundo! A Redenção dos pecados obtida pela Paixão e Morte de Cristo é aplicada a cada um de nós ao participarmos de seus sacramentos, especialmente do Batismo e da Confissão. Por meio deles, Deus apaga nossas culpas. Contudo, perdoada a culpa, permanece ainda a “pena”. O pecado deixa na alma e no mundo um rastro. Na alma, gera o apego desordenado às criaturas, os vícios e más tendências. Subsistem as chamadas “penas temporais”, que deverão ser expiadas neste mundo, por meio da penitência e das indulgências, ou depois da morte, no Purgatório. Ademais, os efeitos nocivos e vantagens mundanas que obtivemos de nossos pecados podem perdurar por muito tempo, e isso requer uma justa reparação. Nas sociedades, os pecados públicos geram escândalo e confusão, levam à perda da paz social, atraem a justiça divina e põem em risco a subsistência da coletividade. Por essas razões, além de ser um tempo privilegiado para a conversão e emenda de vida, a Quaresma é também um período de reparação pelos pecados próprios e alheios. Com a oração, o jejum e a prática mais intensa da caridade, expiamos as penas temporais e pedimos – como os habitantes de Nínive (cf. Jn 3) – que, vendo nossas boas disposições, o Senhor afaste de nós o rigor de sua justiça. O juízo particular dos indivíduos ocorrerá logo após a morte. O juízo definitivo das sociedades acontecerá somente no Juízo Universal. Até lá, porém, haverá um juízo diferido na história. Como um bom Pai, Deus permite correções que nos ajudam a nos converter, para evitar que nos percamos eternamente. Em certas ocasiões, esse juízo histórico comportou mesmo a extinção de nações ou cidades (cf. Mt 11,21ss). Segundo Jeremias, por exemplo, os pecados dos governantes, autoridades religiosas e do povo causaram o exílio, a humilhação e levaram à tríade “guerra, fome e peste” (Jr 24,10). Pela mão de Deus, entretanto, esses males se converteram em um bem. Foram a purificação necessária que ensejou um exame de consciência profundo e a conversão. Essa pedagogia, amorosa e extrema, permitiu a salvação final de indivíduos e da nação. Vivamos o tempo da Quaresma com espírito de amor e de reparação! Consolando Jesus e zelando ardentemente pelos homens, rezemos sem cessar com a Igreja: “Da peste, da fome e da guerra, livrai-nos, Senhor!”.

Após a suspensão das atividades em decorrência da pandemia de COVID-19, trabalhos do sínodo arquidiocesano serão retomados

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Arquidiocese de São Paulo realizará no sábado, 5, sua assembleia anual de pastoral. Em 2021, devido às restrições da pandemia de COVID-19, o encontro que reúne o Arcebispo, bispos auxiliares, padres e lideranças arquidiocesanas de pastorais, movimentos, associações e demais organismos eclesiais não pôde ser realizado. A assembleia tem como principal objetivo avaliar a ação pastoral da Igreja em São Paulo e “discernir juntos os principais passos a dar durante este ano”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, na carta enviada a todos os convocados para o encontro que acontecerá na Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé.

SÍNODO

O evento acontece no contexto da retomada das atividades do sínodo arquidiocesano de São Paulo, processo iniciado em 2017 e que, em 2020, teria a realização da sua terceira fase, com a assembleia sinodal arquidiocesana. No entanto, a pandemia obrigou a suspensão das atividades. Em 2022, os trabalhos sinodais serão retomados. Para isso, o Arcebispo convoca toda a Arquidiocese para uma etapa preparatória à assembleia sinodal, que acontecerá nas paróquias e regiões episcopais. Dom Odilo explicou que essa pré-assembleia tem como objetivo retomar o clima do sínodo e integrar na reflexão sinodal também as novas questões pastorais surgidas com a pandemia. “Continuamos a nos perguntar: o que o Espírito de Deus está a dizer

à nossa Igreja por meio das experiências vividas durante o período da pandemia”, acrescentou. Concretamente, todas as paróquias são chamadas a celebrar uma missa no fim de semana dos dias 12 e 13 de março, seguida de dois encontros ampliados dos conselhos paroquiais de pastoral (CPPs), que devem acontecer até o dia 10 de abril.

PARÓQUIAS

A Comissão de Coordenação Geral do sínodo elaborou um roteiro para esses encontros, contendo algumas reflexões e questões que ajudam as comunidades a retomar o caminho sinodal percorrido na paróquia, para avaliar aquilo que já foi implementado após a etapa paroquial do sínodo, em 2018. Além disso, será disponibilizado novamente o acesso ao resultado do levantamento da realidade pastoral das paróquias, assim como a síntese da pesquisa de campo realizada nesse mesmo período em toda a Arquidiocese. “A etapa paroquial de pré-assembleia será muito importante para uma nova consciência da proposta do sínodo arquidiocesano e do caminho já percorrido até aqui, para amadurecer mais as reflexões e os discernimentos já feitos e para integrar na reflexão os elementos novos, que apareceram nesses dois últimos anos, com a pandemia de COVID-19. Convido, pois, todos os padres e diáconos a animarem essa nova fase do nosso sínodo em suas paróquias, a convocar e organizar as reuniões dessa fase”, manifestou o Cardeal Scherer. Esse material será enviado às paróquias e também está disponível no portal da Arquidiocese de São Paulo (http://arquisp.org.br).

No final de cada roteiro, há a indicação para o envio digital das respostas e contribuições de cada grupo. Essas respostas devem ser enviadas até o dia 10 de abril à Secretaria Geral do sínodo.

REGIÕES E VICARIATOS

Durante o mesmo período, de 13 de março a 10 de abril, as regiões e vicariatos episcopais, a critério de seus respectivos vigários episcopais, também poderão fazer a mesma reflexão proposta às paróquias. “Para tanto, sugere-se uma assembleia regional, envolvendo o clero e os agentes regionais de pastoral. Dessa forma, todos poderão ter seu momento de participação, partilha e reflexão na pré-assembleia”, reforçou Dom Odilo. Os relatórios com as contribuições das regiões e vicariatos também deverão ser encaminhados à Secretaria do sínodo até o dia 10 de abril. A Secretaria Geral do sínodo e os relatores, com o grupo de peritos do sínodo, farão um trabalho intenso de discernimento para incluir as novas contribuições nos trabalhos da assembleia sinodal arquidiocesana.

ASSEMBLEIA SINODAL

Após essa etapa, haverá uma nova abertura da assembleia sinodal arquidiocesana, no dia 7 de maio, véspera do Domingo do Bom Pastor. As datas das sete sessões da assembleia serão divulgadas em breve. “Desde logo, retomemos a oração pelo bom êxito da assembleia sinodal arquidiocesana e pelos frutos do sínodo. Façamos pessoalmente e em comunidade a oração ao Espírito Santo pelo nosso sínodo arquidiocesano”, recomendou o Arcebispo.


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| 3 a 8 de março de 2022 | Reportagem | 15

A vida da Beata Nhá Chica sob o olhar da fé de um jornalista Luciney Martins/O SÃO PAULO

CLEIDE BARBOSA E FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Uma história de fé e devoção nascida no encontro de um jornalista com a vida da Bem-Aventurada Francisca de Paula de Jesus é o que retrata o livro “Beata Nhá Chica – O Milagre da ‘Santa’ Brasileira”, de Márcio Campos, publicado pela editora Angelus. Em entrevista ao programa “Entre Agendas”, da rádio 9 de Julho, o jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação contou as motivações que o levaram a escrever a obra sobre a mineira nascida em 1808 e que morreu em 1897, sendo beatificada em 2013. “Mais do que um testemunho de fé, o livro é o agradecimento por uma graça alcançada. É o instrumento para tornar Nhá Chica mais conhecida. Porém, como jornalista, eu jamais poderia me eximir da responsabilidade de tratar tudo isso com muita ética e respeito ao trato jornalístico. Por isso, o livro tem pesquisa e reportagem também”, contou. “Francisca de Paula de Jesus nasceu na região do Rio das Mortes, hoje, São João Del Rey. Quando criança, mudou-se com a mãe para Baependi. Sua mãe era uma mulher escravizada, sua avó veio da África como escrava. A partir de um certo momento, ainda criança, decidiu viver a vida dedicada a Deus. Muitas pessoas iam até Francisca pedir orações e muitas delas ligadas ao império, à corte no Rio de Janeiro. Era impressionante quantas pessoas representativas da Coroa iam não só pedir orações a Nhá Chica como também conselhos. É inacreditável como as pessoas confiavam em sua palavra, sempre dita depois de ela conversar com a ‘minha Sinhá’, como ela tratava a Imaculada Conceição.” “Minha família já conhecia sua fama, pois somos das cidades dessa região. Meus pais se casaram na ‘Igreja de Nhá Chica’, como ficou conhecida a Igreja da Imaculada Conceição, em Baependi. Portanto, eu já tenho relação com ela antes mesmo de nascer. Durante toda a minha infância, já morando em Cruzeiro (SP), sempre que visitávamos os parentes, era sagrado parar em Baependi e rezar diante do túmulo da Nhá Chica. Eu aprendi a conhecer e a dar muito valor a essa mulher”, recordou Campos.

MULHER DE VIRTUDES

“Nhá Chica deu um exemplo de oração e fidelidade a Deus, mas também de relação humana. Essa mulher tinha tudo para ser revoltadíssima pela história da sua avó e da sua mãe, de nascer sob a escravatura e de nem saber quem era o seu pai... em um contexto conturbado da disputa do império com a república. Então, olhamos para uma mulher que viveu as principais virtudes [heroicas], sobretudo o perdão”, avaliou. “Nhá Chica contribuiu e contribui

Jornalista Márcio Campos é autor do livro “Beata Nhá Chica – O Milagre da ‘Santa’ Brasileira”, uma biografia sobre a religiosa mineira

demais para o fortalecimento da fé católica naquela região. Ao ser reconhecida bem-aventurada e futuramente canonizada, ela tem a possibilidade de influenciar muitas pessoas. Nhá Chica merece todo o reconhecimento da Igreja pelo que ela já fez e continua fazendo com seu exemplo”, prosseguiu.

O ‘MILAGRE’

A motivação central do livro é o período em que a esposa de Campos, Verônica, foi acometida por uma doença muito rara e os médicos não conseguiam chegar a um diagnóstico preciso. “Todos os dias, eu ia à Igreja próxima ao hospital para participar da missa e rezar. No 11º dia de internação da Verônica, eu disse em oração para a Nhá Chica que não estava pedindo que ela fosse curada, mas que ajudasse os médicos a descobrir o que ela realmente tinha... Eu entendia que, descobrindo a doença, seria possível saber que tratamento pode ser feito... Ao voltar para o hospital, a Verônica me contou que havia entrado uma médica que pediu todos os exames, pois desconfiava do diagnóstico... Então, a médica pediu um exame específico e, dois dias depois, descobriu-se a doença, ou seja, o diagnóstico perfeito que eu tanto pedi a Nhá Chica... Ela foi tratada e, graças a Deus e à intercessão de Nhá Chica, minha esposa está em nosso meio.” O livro também conta o episódio do encontro do jornalista com o Papa Francisco, como integrante da comitiva de imprensa que acompanhou a viagem do Pontífice na visita ao Brasil em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude. Na oca-

sião, durante a coletiva que o Santo Padre concedeu aos jornalistas a bordo do voo papal, Campos saudou Francisco e entregou a ele uma relíquia de Nhá Chica. Nesse capítulo, há, inclusive, um QR Code que permite que o leitor acesse o vídeo do encontro de Campos com Francisco. Além disso, a obra conta com textos colaborativos de personalidades convidadas pelo autor, que fazem uma análise da postura do jornalista diante do Papa Francisco. Entre esses, está o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo.

A MEDALHA

O livro também aprofunda histórias já conhecidas sobre a Beata Nhá Chica, que foram enriquecidas com uma cuidadosa apuração jornalística. Uma dessas histórias bastante conhecidas é a do encontro de um fazendeiro com a Bem-Aventurada, que havia perdido um cavalo e recorreu a ela, que era conhecida pelo dom de ajudar as pessoas a encontrarem animais e coisas perdidas. No entanto, mais do que simplesmente indicar o paradeiro do animal, Nhá Chica lhe disse que mais importante “era a menina que havia chegado em sua casa”. Tratava-se da filha do fazendeiro que acabara de nascer. Como agradecimento, o homem convidou a Beata para ser a madrinha da criança. Ela porém, recusou, pois havia feito a promessa à sua mãe de “não ser comadre de ninguém”, o que significava que ela se dedicaria inteiramente à oração. Ela, então, entregou ao fazendeiro uma medalha de sua “Sinhá”, a Imaculada Conceição. O homem voltou para casa, encontrou a filha como havia

sido descrito por Nhá Chica e lhe deu o nome de Maria da Conceição. “Essa história é contada em todos os livros sobre Nhá Chica, mas acaba por aí. Eu fiquei com isso na cabeça, querendo saber onde estava a medalha. Onde está a família? Então, comecei a pesquisar sobre essa história”, contou Campos, que não só encontrou a neta e a bisneta da Maria da Conceição como, 135 anos depois, mostraram-lhe a medalha preservada. A família mantinha a medalha escondida para evitar que sua casa virasse um local de peregrinação de fiéis que a consideram um objeto sagrado. Tanto que nem os membros da comissão vaticana que veio ao Brasil por ocasião da beatificação puderam ver a medalha, pois a família temia perder essa importante relíquia. “Foi uma experiência muito emocionante poder tocar essa medalha, pois a considero como a única prova material de um feito sobrenatural de Nhá Chica”, afirmou Campos. Durante esse encontro, as descendentes da Maria da Conceição pediram ao jornalista que fosse portador de uma notícia: “Quando Nhá Chica for canonizada, a medalha será entregue no santuário de Baependi”. Por fim, o jornalista reforçou que seu principal objetivo é ser um portador da devoção e do exemplo dessa mulher genuinamente brasileira que viveu a santidade de forma heroica. Meu maior desejo é que as pessoas se sintam inspiradas em conhecer mais a Nhá Chica. Eu seria muito egoísta se passasse por tudo isso sem dividir com as pessoas. Para ouvir a íntegra da entrevista, acesse: https://tinyurl.com/yadnpoqt.


16 | Pelo Brasil | 3 a 8 de março de 2022 |

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Papa envia mensagem sobre a CF 2022 – ‘Fraternidade e Educação’ CNBB

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade (CF) 2022, na Quarta-feira de Cinzas, 2, com o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26), o Papa Francisco enviou uma mensagem especial à Igreja no Brasil. Inicialmente, o Pontífice recorda que ao longo da Quaresma os cristãos se dispõem a ouvir o chamado de Deus, que conduz às práticas penitenciais do jejum, da esmola e da oração e ao encontro pessoal e renovador com o Ressuscitado. Para auxiliar os fiéis neste percurso, a Igreja no Brasil realiza a CF, cujo tema deste ano aponta “para a valorização do ser humano em sua integralidade, evitando a ‘cultura do descarte’ – que coloca os mais vulneráveis à margem da sociedade – e despertando-o para a importância do cuidado da criação”. Francisco lembra da urgência de que sejam adotadas ações transformadoras no âmbito educativo, a fim de promover, por meio da Educação, a

fraternidade universal e o humanismo integral, como é destacado no Pacto Educativo Global. “Ao mesmo tempo em que se reconhece e valoriza a responsabilidade dos governos na tarefa de auxiliar as famílias na educação dos filhos, garantindo a todos o acesso à escola, deve-se igualmente reconhecer e valorizar a importante missão da Igreja no âmbito

educativo: ‘As religiões sempre tiveram uma relação estreita com a Educação, acompanhando as atividades religiosas com as educativas, escolares e acadêmicas. Como no passado, também hoje queremos, com a sabedoria e a humanidade das nossas tradições religiosas, ser estímulo para uma renovada ação educativa que possa fazer crescer no mundo a fraternidade universal’ (Dis-

curso, 5/10/21)”, conforme consta em outro trecho da mensagem. O Papa expressa ainda o desejo de que o tema da CF 2022 leve à efetiva renovação nas escolas e universidades católicas, para que, tendo Cristo como modelo de seu projeto pedagógico, transmitam a sabedoria educando com amor; e que ao longo do itinerário quaresmal haja a verdadeira conversão de todos e sejam lançadas as sementes “que encontrem nos corações dos fiéis a boa terra onde possam frutificar em ações concretas a favor de uma Educação integral e de qualidade”. A mensagem é concluída com a bênção apostólica “a todos os filhos e filhas da querida nação fraterna”. A mensagem do Papa para a CF 2022 foi lida no lançamento da campanha na manhã do dia 2, em uma solenidade on-line, com pronunciamentos dos membros da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e convidados. Antes, Dom Joel Portella Amado, Secretário-geral da Conferência, presidiu missa na sede da entidade, em Brasília (DF), com o rito da imposição das cinzas.

Com temática católica, filme ‘Coração Ardente’ estreia neste mês no Brasil Divulgação

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Chega aos cinemas brasileiros neste mês o filme “Coração Ardente”, uma produção espanhola que vem para ampliar a divulgação e expansão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. A estreia será em 10 de março, em 35 cidades, em parceria com a rede Cinemark e, na capital paulista, também com o Cine Marquise. Elaborado pela produtora espanhola Goya, é dirigido pelos cineastas Antonio Cuadri e Andrés Garrigó, e estrelado por Karyme Lozano, María Vallejo-Nágera, Carmelo Crespo, Yolanda Ruiz, Claudio Crespo, Pablo Viña e Ignacio Ysasi. No Brasil, a distribuição é feita pela Kolbe Arte Produções Artísticas.

ENREDO

O docudrama (junção dos gêneros documentário e drama) traz uma parte documental sobre o Sagrado Coração de Jesus, as mensagens de Santa Margarida Maria de Alacoque e do Beato Bernardo Hoyos; e, em outra parte, há a ficção, na qual se mistura a história de Lupe Valdés, uma escritora famosa que investiga as aparições do Sagrado Coração de Jesus em busca de inspiração para escrever seu próximo romance. Lupe conhece a jornalista María (María Valle-

jo-Nájera), que lhe sugere investigar uma série de ocorrências miraculosas que envolvem a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ao longo do filme, são apresentadas as revelações, os milagres, pronunciamentos dos papas, presidentes e histórias de famílias e crianças devotas do Coração de Jesus. Além de conhecer a devoção, Lupe também se vê envolta em alguns segredos do seu próprio coração, afligido por feridas e traumas que precisam ser curados. Assim, repensa sua fé, seus valores e redescobre a importância do amor familiar e do perdão. No ano de seu lançamento, o filme foi reconhecido com o prêmio “Niepokalana 2020” no XXXV Festival Internacional de Cinema Católico, realizado em Varsóvia, na Polônia. Outro destaque do filme é a trilha sonora “O Céu para Ti”. A música é originalmente compos-

ta pela cantora argentina Athenas, e a versão brasileira é interpretada por Andreia Zanardi, cantora e compositora do grupo musical Cantores de Deus. “O filme e a música, unidos à forte devoção, nos convidam a experiência de acolher seu infinito amor e misericórdia e nos lançam a evangelizar propagando sua devoção ao mundo”, disse Andreia à reportagem

PRÉ-ESTREIA

Em 23 de fevereiro, a Kolbe Arte Produções fez uma pré-estreia do filme para a imprensa e convidados. Uma dessas pessoas foi Ana Clara Rodrigues Alves, 22. “Conheci a história do Sagrado Coração de Jesus com a minha avó, que sempre foi muito devota. Estou impactada com o longa-metragem, que apresenta a profundidade e a importância da devoção na Igreja e, ainda, reúne depoimentos importantes e emocionantes que revelam a essência desta religiosidade popular”, comentou. Ianete Abrão, 77, é devota do Coração de Jesus e consagrada ao Apostolado da Oração: “Que emoção voltar a uma sala de cinema e conferir a história desta devoção – um filme que vem para fortalecer a nossa fé”. Outros detalhes sobre o filme podem ser vistos em: https://coracaoardenteofilme.com/.

INSS retoma atendimento presencial sem agendamento O atendimento presencial nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sem necessidade de agendamento prévio, volta a ser retomado neste mês, após haver suspensões em razão da

pandemia de COVID-19. Agora, além dos pedidos já agendados, as agências do INSS retomam também o chamado atendimento espontâneo, realizado na triagem, no autoa-

tendimento orientado ou em guichê específico para informação ou orientação. O retorno será feito de maneira gradual para evitar filas externas ou aglomerações no interior das agências.

Em todos os casos, deve ser observada a prioridade de atendimento prevista em lei, garantida ao idoso maior de 80 anos de idade. (DG) Fonte: Agência Brasil


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| 3 a 8 de março de 2022 | Reportagem | 17

CF 2022 – Fraternidade e Educação

Brasil tem múltiplos desafios para a formação básica dos estudantes Ana Karla Muner/Secretaria Municipal da Eucação de São Paulo

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Aberta na Quarta-feira de Cinzas, 2, a Campanha da Fraternidade 2022 tem entre seus objetivos analisar o contexto educativo na cultura atual, os desafios potencializados pela pandemia e os impactos das políticas públicas na Educação. Evasão escolar, nível de aprendizado abaixo do esperado, dificuldades para acesso a tecnologias e precariedades de infraestrutura das escolas são algumas das questões que devem despertar a atenção de toda a sociedade e que impactam diretamente a vida de 47,3 milhões de estudantes até 17 anos e seus mais de 2,2 milhões de professores, nas 179,5 mil unidades escolares, conforme dados do Censo Escolar 2020.

QUANTITATIVOS

Do total de matriculados na educação básica – que contempla o ensino infantil, fundamental e médio –, 48,4% estudam em escolas municipais, 32,1% em estaduais, 18,6% na rede privada e menos de 1% em escolas federais. Praticamente 100% daqueles com idade entre 6 e 14 anos estão matriculados. Já na faixa etária dos 15 aos 17 anos, o percentual é de 89,2%. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10,1 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos não completaram alguma das etapas do ensino fundamental ou médio.

SEM SABER LER E ESCREVER

Fundada em 2006, a organização Todos pela Educação – sem fins lucrativos, plural e suprapartidária – monitora continuamente as políticas educacionais no País. Em uma nota técnica de fevereiro de 2021, com base em dados da Pnad Contínua, a instituição alerta que de 2019 a 2021 o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever, segundo a percepção de seus responsáveis, cresceu 66,3%, perfazendo um total de 2,4 milhões de estudantes, 40,8% da população nessa faixa etária. Em 2019, o percentual era de 25,1%. Quando a análise nessa faixa etária recaiu sobre os mais pobres, em dois anos este percentual saltou de 33,6% para 51%. Houve também maior incremento entre as crianças negras (de 28,8%

Texto-base da CF 2022 alerta para a desigualdade na qualidade na oferta de Educação, o que se reflete na aprendizagem dos estudantes

para 47,4%) e pardas (de 28,2% para 44,5%) em comparação com as brancas (de 20,3% para 35,1%). “Esses dados mostram a tragédia que temos hoje, em particular na alfabetização de crianças, porque se sabemos que o ensino remoto na pandemia não foi implementado da forma que deveria no Brasil, ele foi ainda menos eficaz para as crianças pequenas que não conseguem ficar na frente do computador ou ter uma aula sem a mediação presencial do professor. Se a criança não for plenamente alfabetizada até o segundo ano do ensino fundamental, que é o que preconiza a Base Nacional Comum Curricular, ela terá muita dificuldade em desenvolver outras competências ao longo de sua trajetória, e isso aumenta o risco de abandono e de evasão”, detalhou, ao O SÃO PAULO, Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da Todos pela Educação.

AUMENTO DA EVASÃO ESCOLAR

Outro impacto já perceptível por causa da pandemia de COVID-19 na educação brasileira é o aumento da evasão escolar. Conforme nota técnica da Todos pela Educação de dezembro de 2021, o número de crianças e jovens de 6 a 14 anos fora da escola cresceu 171,1% em comparação a 2019, totalizando 244 mil pessoas. Já a evasão de jovens entre 15 e 17 anos alcançou a marca de 407,4 mil. “Do ponto de vista educacional, o fechamento muito prolongado das escolas durante a pandemia, com a adoção muito frágil do ensino remoto, contribuiu para um desengajamento muito forte dos estudantes”, analisou Corrêa, apontando, ainda, que o poder público não agiu de modo efetivo para conter tal situação: “Professores e diretores escolares se desdobraram durante a pandemia para manter algum vínculo com os estudantes, mas, com a falta de ação do poder público, essas iniciativas foram muito prejudicadas, não ocorreram de modo generalizado, o que contribuiu demais para o problema

de evasão e, também, para a perda de aprendizagem”.

CONHECIMENTOS ABAIXO DO ESPERADO

A Todos pela Educação também fez um comparativo sobre o percentual de estudantes que atingiram o nível de aprendizado esperado, tanto no 5º e no 9º anos do ensino fundamental quanto na 3ª série do ensino médio. Apesar dos avanços vistos na comparação entre 2007 e 2019 em cada faixa etária, quanto maior o nível de instrução esperado, menos estudantes o alcançaram. Em 2019, por exemplo, em Língua Portuguesa, 61,1% atingiram o nível ideal no 5º ano, 41,4% no 9º ano e 37,1% ao fim do ensino médio. Em relação a Matemática, os percentuais foram 51,5% no 5o ano, 24,4% no 9o ano do ensino fundamental e 10,3% no 3º ano do ensino médio. “Se por um lado o Brasil tem conseguido avançar na aprendizagem de seus alunos mais novos no primeiro ciclo do ensino fundamental, por outro isso não tem se refletido tanto para os anos finais do fundamental e muito menos para o ensino médio. Assim, há problemas a serem resolvidos ao longo da trajetória escolar dos alunos, a fim de que os jovens se formem com as aprendizagens adequadas como se espera no currículo, e tenham uma educação que busque o desenvolvimento humano integral”, comentou Corrêa. Também no texto-base da CF 2022 é destacado que “a desigualdade na qualidade da oferta e seus parcos resultados na aprendizagem dos estudantes, além de não superar o fosso da desigualdade social, alimentam justificativas que naturalizam essa mesma desigualdade, apontando que o problema do acesso teria sido enfrentado. É importante destacar que acesso sem qualidade é um simulacro de acesso” (CF 2022, nº 72).

DESIGUALDADE NO USO DE TECNOLOGIAS

Conforme o Censo Escolar 2020,

o acesso à internet está disponível em 96,8% das escolas particulares e em 66,2% das unidades da rede municipal, sendo que nestas há outros indicativos do baixo acesso a tecnologias: apenas 9,9% possuem lousa digital, 54,4% projetor multimídia, 38,3% computador de mesa e 23,8% computador portátil. Um relatório do Tribunal de Contas da União – a partir de dados do Ministério da Educação e do Censo Escolar 2020 – apontou que 92,4% das escolas públicas de educação básica na rede estadual contavam com acesso à internet, enquanto na rede municipal essa proporção era de 69,5%. Além disso, do total de escolas municipais com internet, 90% de seus responsáveis afirmaram fazer uso da internet para fins administrativos, 19% para uso dos alunos e 36% para atividades de ensino e aprendizagem.

INFRAESTRUTURA DAS ESCOLAS

Não menos desafiador é o panorama de infraestrutura das unidades escolares. De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, em 4,3% das escolas de ensino fundamental não há banheiros e 34,2% delas não são atendidas por rede pública de abastecimento de água. Há, ainda, outros problemas estruturais. Um levantamento publicado pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em novembro de 2021, que vistoriou 486 unidades escolares paulistas, em 348 cidades, revelou que em 39,71% destas se verificaram telhas quebradas, goteiras, infiltrações, mofo e bolor. Além disso, 38,07% estão com paredes com rachaduras, pintura descascada e sinais de vandalismo. Outro dado é que em 63,37%, os banheiros estavam em condições precárias, com falta de papel higiênico, papel toalha, sabão para limpeza das mãos, água, portas, torneiras, tampas e até vasos sanitários; e, em 36,01%, foram encontradas carteiras quebradas, lâmpadas queimadas, vidros e janelas danificados, ventiladores inoperantes, entre outros problemas.


18 | Papa Francisco | 3 a 8 de março de 2022 |

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Pontífice está solidário aos ucranianos FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

A invasão da Ucrânia pelas forças militares da Rússia está em curso desde 24 de fevereiro. Milhares de ucranianos tiveram que deixar sua terra, refugiando-se na Polônia, na Romênia e em outros países europeus. O Papa Francisco uniu sua voz ao coro das nações ocidentais que se posicionou contrariamente à decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de dominar a Ucrânia, um país democrático e soberano de 44 milhões de pessoas. Enquanto os líderes do mundo analisam e impõem sanções contra a Rússia, o Papa fez gestos concretos de apoio à Ucrânia e pediu orações. O Papa, que já havia convocado uma jornada de oração e jejum pela Ucrânia para a Quarta-feira de Cinzas, 2, dirigiu-se pessoalmente à embaixada da Rússia

Mensagem para a Quaresma: ‘Não cansemos de fazer o bem’ Inspirado no texto da Carta de São Paulo aos Gálatas (6,9-10a), o Papa Francisco enviou a toda a Igreja sua tradicional mensagem para o tempo da Quaresma. “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos”, diz o texto bíblico. O Papa Francisco recorda que a Quaresma é um período ideal para repensar ações de nossas vidas. “Muitas vezes prevalecem a ganância e a soberba, anseio de possuir, acumular e consumir”, alerta. “A Quaresma nos convida à conversão, a mudar a mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo”, ensina. Por isso, nossas ações devem ser inspiradas na vida de Jesus, cuja ressurreição “é a grande luz” da humanidade. Citando o Papa Emérito Bento XVI, Francisco completa: “A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a ‘grande esperança’ da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação”. Por meio da oração, do “jejum corporal”, da reconciliação e da caridade para com o próximo, acrescenta o Papa, cada cristão prepara seu espírito para acolher melhor o Mistério Pascal. “Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2Cor 5,14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for “tudo em todo”, escreve o Pontífice. (FD)

junto à Santa Sé na sexta-feira, 25 de fevereiro. De acordo com o Vaticano, “durante a visita, que durou mais de meia hora, o Papa Francisco quis manifestar sua preocupação pela guerra na Ucrânia”.

TELEFONEMAS

Por causa de fortes dores no joelho, Francisco cancelou alguns compromissos de sua agenda pública, mas mesmo assim telefonou para várias pessoas envolvidas no conflito. No sábado, 25 de fevereiro, ele ligou para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyi, e manifestou “profunda dor pelos trágicos eventos” que estão ocorrendo pelo país. Em sua conta no Twitter, Zelenskyi disse que agradeceu ao Pontífice “as orações pela paz na Ucrânia e pelo cessar-fogo. O povo ucraniano sente o apoio espiritual que Sua Santidade tem oferecido”, escreveu. O Papa também ligou para o líder

da Igreja Católica ucraniana, de tradição oriental, Dom Sviatoslav Shevchuk. Nas palavras do Arcebispo, o Santo Padre ofereceu apoio e disse que “fará tudo o que puder” para ajudar. O Papa lhe teria perguntado sobre a situação em Kiev (ou Kyiv como os ucranianos preferem chamar sua capital) e o elogiou pela decisão de permanecer na Ucrânia com seu povo, mesmo sob bombardeios.

MEDIAÇÃO E APELO

Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, declarou que o conflito na Ucrânia é “catastrófico” e pediu que todo esforço seja feito para se evitar uma escalada na violência. “Nunca é tarde demais para negociar”, disse. Ele apresentou o desejo da Santa Sé de “facilitar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia”. A diplomacia do Vaticano tem

forte tradição na mediação de conflitos. “O diálogo é a única forma construtiva e razoável para resolver diferenças. A Santa Sé nos últimos anos tem acompanhado os eventos na Ucrânia constantemente, discretamente, e com grande atenção”, acrescentou. O Papa Francisco voltou a fazer seu apelo pela paz na oração do Angelus do domingo, 27 de fevereiro. “Estes dias, fomos chocados por algo de trágico: a guerra”, declarou o Pontífice. “Muitas vezes, rezamos para que essa estrada não fosse escolhida. E não vamos parar de rezar, pelo contrário, suplicamos a Deus mais intensamente.” Nas palavras de Francisco, “quem faz a guerra esquece a humanidade” e, portanto, “não olha a vida concreta das pessoas, mas coloca antes de tudo interesses de parte e de poder, confia-se à lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus”.

Tempo de buscar a recompensa eterna, verdadeira e definitiva Vatican Media

REDAÇÃO

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Em recuperação de fortes dores no joelho, o Papa Francisco não presidiu a missa da Quarta-feira de Cinzas, 2, na Basílica de Santa Sabrina, com o rito da imposição das cinzas. Coube ao Cardeal Pietro Parolin (foto), Secretário de Estado do Vaticano, presidir a missa e ler a homilia preparada pelo Santo Padre. Inicialmente, o Pontífice recorda que na Quarta-feira de Cinzas habitualmente se destaca o empenho exigido pelo caminho da fé mais do que a verdadeira recompensa que advém deste esforço: “O Senhor distingue dois tipos

de recompensa, a que pode tender a vida de uma pessoa: por um lado, temos a recompensa do Pai e, por outro, a recompensa dos homens. A primeira é eterna, é a verdadeira, definitiva, é o objetivo da existência. Ao contrário, a segunda é transitória, é um encandeamento que nos prende quando a admiração dos homens e o sucesso mundano representam para nós a coisa mais importante, a maior gratificação. Entretanto, trata-se de uma ilusão: é como uma miragem que, uma vez alcançada, nos deixa de mãos vazias”, escreve o Papa. Nesse sentido, prossegue o texto da homilia, “o rito das cinzas, que rece-

bemos sobre a cabeça, quer subtrair-nos ao encandeamento de preferir a recompensa dos homens à recompensa do Pai. Este sinal austero, que nos leva a refletir sobre a caducidade da nossa condição humana, é como um remédio de sabor amargo, mas eficaz para curar a doença da aparência”. Trata-se, nas palavras de Francisco, de uma “doença espiritual, que escraviza a pessoa, levando-a a tornar-se dependente da admiração dos outros” e que pode afetar também as práticas da oração, da caridade e do jejum, se praticadas apenas com finalidade “autorreferencial” ou de “autocomplacência”. O Papa também lembra que a Quaresma é tempo para a cura interior e de caminho para a Páscoa, “para aquilo que não passa, para a recompensa do Pai. É um caminho de cura. Não para mudar tudo da noite para o dia, mas para viver cada dia com um espírito novo, com um estilo diferente. Para iseo servem a oração, a caridade e o jejum: purificados pelas cinzas quaresmais, purificados da hipocrisia da aparência, reencontra-se a força plena para voltar a gerar uma relação viva com Deus, com os irmãos e consigo mesmo”. O Pontífice aponta, ainda, que a oração, caridade e jejum são remédios não apenas para quem os pratica, mas para todos, e podem mudar a história. “São as armas do espírito e é com elas que, nesta jornada de oração e jejum pela Ucrânia, imploramos a Deus aquela paz que os homens sozinhos não conseguem construir.” A íntegra da homilia pode ser lida em https://cutt.ly/PApREQG.


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| 3 a 8 de março de 2022 | Fé e Vida | 19

Quaresma: tempo de nos aproximar mais de Deus e do próximo Luciney Martins/O SÃO PAULO

CONSIDERADO O PERÍODO EM QUE MAIS SE ESTIMULA OS CATÓLICOS À CONVERSÃO, O TEMPO QUARESMAL É UM CONVITE À REFLEXÃO DE COMO ANDA O NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS, COM OS OUTROS E CONOSCO MESMOS, E COMO FAZER PARA MELHORÁ-LOS JOSÉ FERREIRA FILHO

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Segundo o que estabelece o calendário litúrgico, iniciou-se na quarta-feira, 2, o tempo da Quaresma, período que antecede a celebração da Páscoa do Senhor e durante o qual os católicos são exortados a percorrer um itinerário que contribui para a sua conversão e maior intimidade com Deus. O sentido e a observância do tempo quaresmal – e até mesmo o próprio nome Quaresma –, têm sua origem nos 40 dias em que Jesus, impelido pelo Espírito após seu Batismo, permaneceu no deserto, orou e jejuou, e, mesmo exposto à tentação, resistiu às investidas do demônio e, em seguida, dirigiu-se à Galileia e ali iniciou sua vida pública, pregando o arrependimento dos pecados e anunciando o Reino de Deus (Mt 4,1-17). Por isso, a Igreja determinou que a Quaresma tem seu início na Quarta-feira de Cinzas e se estende até o pôr do sol da Quinta-feira Santa, ou seja, até antes do início da celebração da Ceia do Senhor. Assim, neste período, ela propõe um verdadeiro exercício espiritual aos fiéis: baseados no exemplo de Cristo, convém aos cristãos imitá-lo, por meio das práticas da oração, do jejum e da caridade, para assim vivenciar mais profundamente o arrependimento das faltas cometidas e buscar a sincera conversão, e, dessa forma, se preparar bem para celebrar o ápice da missão do Senhor, com o Tríduo Pascal (que inclui a Última Ceia; sua flagelação, crucificação e morte na cruz; e a Vigília Pascal) e o Domingo de Páscoa, dia da sua Ressurreição. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma e igualmente explica esse sentido: “‘Nós não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um que, como nós, em tudo foi provado, com exceção do pecado’ (Heb 4,15). Nos 40 dias solenes da Quaresma, a Igreja se une todos os anos ao mistério de Jesus no deserto” (CIC 540).

EXERCÍCIOS

Durante a Quaresma, portanto, somos convidados a rever a nossa vida de fé e a

fazer uma avaliação sobre como anda o nosso seguimento de Cristo e o progresso nas virtudes cristãs. Para tanto, a Igreja indica três exercícios penitenciais, também referidos por Nosso Senhor no Sermão da Montanha (cf. Mt 6,1ss), que exprimem a conversão, respectivamente, em relação a Deus, aos outros e conosco mesmos: – Oração: diz respeito à nossa familiaridade e comunhão com o Senhor, que se traduzem na escuta atenta e assídua da Palavra de Deus, na oração pessoal e comunitária e na vivência da amizade com Ele. É o meio pelo qual o cristão entra em diálogo íntimo com Deus, deixa que a Sua graça entre em seu coração e se abre para a ação do Espírito. – Esmola: refere-se a todas as maneiras de se exercer a caridade e a solidariedade fraterna ao próximo; – Jejum: inclui todas as formas de penitência, escolhas, renúncias e sacrifícios para correspondermos ao querer de Deus, o que requer disciplina e aceitação das “cruzes”. É uma maneira de nos educar, de aprendermos a dominar nosso próprio corpo e também as nossas inclinações.

PRÁTICA

Nessa busca por uma vida mais as-

cética, que deve ter lugar no cotidiano de todo cristão, o fomento das virtudes assemelha-se a um exercício e, como tal, seus efeitos somente são sentidos quando praticado com constância. Assim, no campo espiritual, a Igreja destaca que é salutar a prática de atos que levem ao arrependimento e estimulem a conversão, cabendo a cada cristão, de acordo com sua consciência, estabelecer quais deles são os mais adequados. Nesse sentido, Jesus alertou que quem quisesse segui-lo, deveria estar disposto a carregar a própria cruz. Assim, a cruz sempre deve ser tomada livremente, aquela que Deus nos envia sem que a procuremos, a do sofrimento inesperado, que deve ser abraçada com fé e amor. Há também, no entanto, outra cruz santa, que depende totalmente de nossa decisão e generosidade, que é aquela baseada nos sacrifícios voluntários, também chamados de mortificações, que optamos por abraçar por nossa própria liberdade e que têm uma função reparadora pelos pecados cometidos. Vários são os exemplos, portanto, que podem servir como inspiração para a prática de penitência e mortificação, a fim de nos ajudar a obter maior proximidade com Deus:

– a brir mão de algo de que gostamos (uma comida, uma bebida, um passatempo, um lazer, o uso de um aplicativo no celular, um programa de TV); – envolver-se na execução de obras de misericórdia corporal (dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, abrigar os peregrinos, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos); – e de misericórdia espiritual (ensinar os ignorantes, dar bom conselho, corrigir os que erram, perdoar as injúrias, consolar os tristes, sofrer com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e pelos defuntos); – dedicar-se mais ciosamente à oração; – praticar jejum (de alimentos, da língua, do mau humor, da murmuração, da preguiça); – observar a abstinência, conforme estipula a Igreja; – confessar-se; – levar uma vida mais regrada e organizada; – dispor-se a ajudar a quem precisa, entre outros.


20 | Geral | 3 a 8 de março de 2022 |

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‘A Quaresma nos chama de novo para o centro de nossa fé’ Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

AFIRMOU O CARDEAL SCHERER, NA MISSA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS, NA CATEDRAL DA SÉ FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu na tarde da Quarta-feira de Cinzas, 2, a missa com o rito de imposição das cinzas, celebração que inicia o tempo da Quaresma. Nessa ocasião, a Igreja no Brasil também abre a Campanha da Fraternidade que, em 2022, destaca a temática da Educação. Atendendo ao apelo do Papa Francisco, a Arquidiocese de São Paulo se une a toda a Igreja no dia de jejum e oração pela paz na Ucrânia. “Peçamos a Deus não só a paz entre os povos, mas também o direito, a justiça, sabedoria na gestão dos conflitos, para que não seja preciso recorrer às armas”, afirmou Dom Odilo.

TEMPO FAVORÁVEL

Na homilia, o Arcebispo de São Paulo enfatizou que a Igreja proporciona o “tempo favorável” da Quaresma em preparação para a Páscoa, maior de todas as celebrações da Liturgia e núcleo central da fé e da vida dos cristãos. “Durante esse período, somos chamados a nos voltarmos para Deus de forma renovada, ouvindo e acolhendo a Palavra de Deus, fazendo penitência para a conversão e nos preparando para a renovação das promessas batismais na celebração da Páscoa”, acrescentou. Dom Odilo sublinhou, ainda, que o tempo quaresmal não é um período fechado em si mesmo, mas voltado para o mistério pascal, convidando cada cristão a

Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, durante o rito da imposição das cinzas, em missa na Catedral da Sé, dia 2

reassumir, com renovadas disposições, “a vida nova em Cristo ressuscitado, da qual participamos pelo Batismo”. “Ao longo da vida, nem sempre somos fiéis e coerentes com essa graça tão grande; cansamos, desanimamos, desviamo-nos do caminho, perdemos de vista a meta, esquecemos os mandamentos de Deus e agimos como se nem fôssemos cristãos. Pecamos e precisamos de conversão. A Quaresma nos chama de novo para o centro de nossa fé e a renovarmos nossas disposições para viver como discípulos de Jesus Cristo e membros da sua Igreja”, afirmou o Purpurado. Para ajudar a viver com maior proveito esse tempo de graça, a Igreja propõe três exercícios ou práticas quaresmais: o jejum, a esmola e a oração. “O jejum ‘religioso’, assumido como forma voluntária de penitência, lembra-nos de que a vida

não se resume ao alimento do corpo e na satisfação das necessidades e desejos terrenos. É preciso buscar ‘o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo’ (cf. Jo 6,51), o alimento da Palavra de Deus, que molda nossa vida e nos educa”, explicou o Arcebispo. Sobre a esmola, o Cardeal Scherer afirmou que esse termo se refere à prática da caridade, às obras de misericórdia em geral e à verdadeira solidariedade e fraternidade. “Talvez seja o campo em que mais precisamos nos converter, pois o egoísmo e o individualismo podem ser tentações e modos de vida muito arraigados em nós e na cultura circunstante”, frisou. Nessa dimensão da vivência quaresmal, acrescentou o Arcebispo, também se insere a Campanha da Fraternidade que, no Brasil, a cada ano, aborda alguma questão do convívio social em que se faz

necessária a conversão e o crescimento na caridade e fraternidade. “A fraternidade concreta para com o próximo é inseparável do amor a Deus. Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos questiona se a Educação ajuda a promover a fraternidade ou não. A questão é muito séria e merece toda a nossa atenção”, disse. Sobre a oração, Dom Odilo salientou que esta consiste no exercício e alimento da fé, expressão da busca de Deus. “Como cristãos, temos as várias formas de oração: pessoal, em família, ou grupos, é muito recomendada como exercício diário. A Igreja recomenda a oração nos diversos momentos do dia: pela manhã, ao despertar; ao meio-dia; no final do dia e ao nos recolhermos para o descanso”, continuou, reforçando que a missa dominical é a oração central de toda a semana e não deve faltar na vida dos católicos.

CF 2022: Por uma Educação voltada para a formação integral da pessoa Como acontece todos os anos, o Cardeal Odilo Pedro Scherer concedeu uma entrevista coletiva para tratar do início da Quaresma e da abertura da Campanha da Fraternidade. Além do Arcebispo de São Paulo, participou do encontro com os jornalistas o Padre Andrés Gustavo Marengo, Coordenador Arquidiocesano da CF 2022. Referindo-se à temática deste ano, Dom Odilo sublinhou que a Educação não deve ser simplesmente voltada para formar “instrumentos de trabalho”, mas para a formação integral da pessoa, com valores que a ajude a melhor edificar a sociedade. Padre Andrés recordou que a temática deste ano é oportuna no contexto da atual pandemia, no qual foram evidenciados os desafios da Educação não apenas devido às restrições impostas que impediram os estudantes de frequentar

Dom Odilo com os Padres Andrés, Coordenador da CF, e Michelino, Vigário da Comunicação

as salas de aula, como também à luz lançada sobre a desigualdade já existente no acesso à educação formal. “A partir do lema ‘Fala com sabedoria, ensina com amor’ (cf. Pr 31,26), a Igreja já indica a reflexão que ela deseja provocar”, salientou o Padre. Concretamente, a Arquidiocese de São Paulo, por meio de suas

paróquias, comunidades e organizações pastorais, promoverá as reflexões da campanha com o objetivo de estimular diálogos entre os diferentes entes da sociedade sobre seu papel no campo da Educação.

GUERRA NA UCRÂNIA

Dom Odilo também comentou as

tensões vividas em todo o mundo com a ofensiva militar russa na Ucrânia. “A Quaresma nos leva a condenar a guerra, a lutar pela paz e por verdade, justiça. Diz-se que, quando se inicia uma guerra, a primeira vítima é a verdade”, afirmou o Cardeal, acrescentando que os conflitos se resolvem na medida em que se encara a verdade e não pela imposição do poder mediante a violência. “Infelizmente, as guerras são exercícios de violência bruta em que a razão e a sensibilidade humana deixam de existir”, completou. “As guerras não fazem sentido para quem é cristão. Somos chamados a ser portadores e construtores da paz em toda parte. Por isso, durante toda a Quaresma, irá nos acompanhar a preocupação pela superação dos conflitos entre Rússia e Ucrânia e para que os governantes façam o possível para preservar a paz entre os povos”, manifestou. (FG)


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