O São Paulo - 3380

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Ano 67 | Edição 3380 | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00 Luciney Martins/OSÃO PAULO

São Paulo: patrono da Arquidiocese e testemunha da fé que move a cidade Na festa da conversão de São Paulo, cele- rante a qual recordou a origem missionária da brada na terça-feira, 25, o Cardeal Odilo Pedro capital paulista, fundada há 468 anos, e os valoScherer presidiu missa na Catedral da Sé, du- res que devem continuar a ser referência para a

promoção da dignidade humana na maior metrópole do Brasil. Página 16

Editorial

Encontro com o Pastor

Liturgia e Vida

Reportagem Especial

A ‘linguagem neutra’ resulta em novas discriminações e exclusões

A Igreja é una e possui a missão de anunciar e testemunhar o Evangelho

‘A força de vontade não basta; precisamos da fé e da graça divina para amar’

‘Minhocão’: muito além dos carros, histórias de vida margeiam o Elevado

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Páginas 8 a 11


2 | Encontro com o Pastor | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

V

ivemos tempos de confusão eclesiológica, com afirmações desencontradas sobre “a verdadeira Igreja” e sobre “a falsa Igreja”. Tais ideias são difundidas por diversas mídias e apregoadas por pessoas que pretendem defender e salvar a “verdadeira Igreja Católica”, fora da unidade da Igreja. E não se dão conta da grave desorientação na fé que introduzem na vida das pessoas, deixando-as fragilizadas e inseguras na sua adesão à Igreja de Cristo. Quais são as marcas próprias da Igreja Católica? No Símbolo Niceno-Constantinopolitano de nossa fé católica, nós professamos: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”. Essas quatro características, que definem a nossa Igreja, não podem faltar, apesar das múltiplas expressões culturais em que a Igreja se insere e se expressa. A Igreja é una, e isso significa que Jesus Cristo não fundou várias Igrejas nem quis Igrejas em luta entre si, ou contraditórias entre si. Onde se fere a unidade da Igreja e se introduzem partidos ou lutas fratricidas na Igreja, aí, certamente, há um desvio importante na atitude de quem fomenta divisões na comunidade eclesial.

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Características da Igreja Católica Humanamente, é compreensível que surjam problemas, divergências e até posições contrapostas. Mas isso deve ser superado mediante o diálogo sincero, motivado pela busca da verdade, do respeito ao próximo e, jamais, pela exacerbação das divergências por motivos de soberba ou de vaidades pessoais. Nossa Igreja é una, antes de tudo, porque sua fonte é a Trindade Santa e sua expressão divino-humana tem origem na pessoa de nosso Salvador, Jesus Cristo; sua lei é o Evangelho, sua esperança é a realização plena das promessas de Deus. A Igreja Católica também é una, reunida em torno do mesmo e único Papa, sinal e garantia da unidade visível da Igreja na mesma fé; reunida em torno de cada bispo, unido ao Papa, e do conjunto dos bispos católicos, unidos entre si e unidos ao Papa. Como podem alguns católicos não reconhecer Francisco como verdadeiro Papa? Objetivamente, isso é falta contra a unidade na única Igreja Católica. Bento XVI foi um grande Papa, mas ele não é mais o Sumo Pontífice, desde quando renunciou. Francisco foi legitimamente eleito como seu sucessor. Colocar em dúvida isso é arrumar confusão na Igreja e “cantar fora do coro”, levado por argumentos enganadores e por especulações, baseadas em “teorias da conspiração”, sem nenhum fundamento.

A Igreja de Cristo é una e possui a mesma missão de anunciar e testemunhar ao mundo inteiro o Evangelho do Reino de Deus. Também é una pela riqueza dos dons recebidos do Espírito Santo para o bom desempenho de sua missão em todo tempo e lugar. Ela é una enquanto herdeira do testemunho dos santos do céu, que formam uma única comunhão de bens com a Igreja ainda peregrinante na terra (“creio na comunhão dos santos”). A Igreja Católica possui numerosos vínculos visíveis de comunhão e unidade, como a profissão de uma única fé, recebida dos apóstolos; a celebração comum da fé na Liturgia dos Sacramentos; a sucessão apostólica, por meio do sacramento da Ordem. São Paulo resumiu a unidade da Igreja em diversas passagens de seus escritos: “Embora sendo muitos, somos em Cristo um só corpo” (Rm 12,5); “Todos vós sois um só em Jesus Cristo” (Gl 3,28); “Há um só corpo e um só Espírito, como também há uma só esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, acima de todos, no meio de todos e em todos” (Ef 4,5-6). As citações poderiam se multiplicar. A quem se interessar, sugiro ler o que o Catecismo da Igreja Católica diz sobre as características da Igreja, dos parágrafos 811 a 962. A unidade da Igreja pode ser seriamente ferida

por motivos que nem sempre têm a ver com o conteúdo da fé, mas por razões culturais ou por uma inconfessada vaidade ou busca de poder pessoal. Lembro a observação do Cardeal Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, na Sexta-feira Santa de 2021: as divisões na nossa Igreja, geralmente, não são motivadas pelo apego à fé, mas por escolhas ideológicas e partidárias. Lamentavelmente, parece que o pregador acertou em cheio. Dividimo-nos e criamos antipatias por gostarmos de líderes políticos diferentes, em vez de estarmos unidos em Jesus Cristo, acima de tudo, malgrado nossas diferenças. Ou nos dividimos porque acolhemos de maneira acrítica certas narrativas a respeito da Igreja ou de personalidades da Igreja, esquecendo-nos do dever de buscar a verdade e de não aderirmos ao primeiro que nos vem contar uma história... Há valores na Igreja que devem estar acima das nossas diferenças, pequenas ou grandes que sejam. Nunca devemos nos esquecer de que a Igreja não é um clube de gente reunida por simpatias e atrações recíprocas, mas é a comunidade de discípulos de Jesus Cristo, reunidos por Ele e por causa Dele. No céu, não há compartimentos separados para grupos que não se dão entre si. Há uma só Igreja celeste, no mesmo e único louvor ao Criador. E isso deve começar já aqui na terra.

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| 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 | Ponto de Vista | 3

Editorial

‘Linguagem neutra’?

O

tema da ‘linguagem neutra’, que já há alguns anos vem gerando calorosas discussões no mundo norte-americano e europeu, parece agora ter aterrissado em terras brasileiras. Segundo a revista Veja desta semana (nº 2773), houve em 2021 mais de 2 milhões de tweets com pronomes neutros, e as pesquisas pelo tema no Google cresceram mais de 3.200% em relação a 2019. A questão vem sendo alardeada por diversos veículos de comunicação como uma pretensa proposta humanitária, para corrigir um alegado machismo ou preconceito linguístico, que estaria imbricado na própria estrutura de nosso idioma. Segundo estes veículos, o nosso plural geNerico (pelo qual uma expressão como “todos os alunos” pode significar assim um grupo exclusivamente masculino, como também um grupo misto) seria o resultado da “adoção do masculino para o plural”, como consequência da suposta “abolição do [gênero] neutro”, na transição do latim para o português arcaico. Estas afirmações, no entanto, são

completamente divorciadas da realidade. Em sua consagrada “Gramática Latina”, Napoleão Mendes de Almeida ensina que apenas possuíam o gênero neutro, no latim, os substantivos que designavam seres inanimados (nº 38) – e, portanto, sua aplicação para seres humanos nunca foi “abolida”, simplesmente porque nunca existiu. E, quanto ao gênero dos adjetivos que qualificavam simultaneamente substantivos de gêneros diversos, não havia uma regra única: a flexão variava conforme o adjetivo fosse usado como predicativo do sujeito ou adjunto adnominal (nº 85). Por outro lado, é verdade que em português não reconhecemos mais um gênero neutro, nem sequer para seres inanimados – mas isso não aconteceu porque “decidiu-se pela abolição” (como se algum linguista malévolo tivesse um tal poder), senão devido a um descentralizado e orgânico processo de evolução fonética, pelo qual as terminações latinas tipicamente masculina e neutra (respectivamente, -us e -um) convergiram em -u. É dizer: os masculinos como hortus (jardim) e os neutros como atrium (sala) em certo momento

convergiram para hortu, atriu – e ao longo de mais alguns séculos, este -u acabou se consolidando no atual -o de horto e átrio. Do ponto de vista histórico, portanto, o nosso -o final não é um sinal especificamente masculino – antes, ele absorve tanto o gênero masculino quanto o neutro do latim. As propostas de “linguagem neutra”, como se vê, se apoiam em valorações historicamente falsas sobre o plural coletivo do português. Mas porventura não seria o caso, ainda assim, de decretar a alteração de nossa gramática, em nome da inclusão, e contra as discriminações? Ora, há basicamente duas propostas para efetivar a tal “neutralidade”: a primeira delas propõe eliminar todas as atuais marcas de gênero (ele, ela), e criar ex nihilo um único gênero (elu ou ile), aplicável indistintamente a todo substantivo. Difícil, aqui, é explicar como se pode, em nome da inclusão, excluir os gêneros atualmente existentes... Até mesmo alguns defensores da linguagem neutra reconhecem este ponto: “Como mulher, quero continuar sendo chamada no feminino”. E quanto à outra proposta – a de

adicionar, aos atuais masculino e feminino, um tertium quid, para não “discriminar” aqueles que não se encaixam nas categorias de homem e mulher? O problema, aqui, é que, segundo os próprios ativistas da diversidade sexual, os chamados “não binários” se subdividem em dezenas de classes distintas entre si (em Nova Iorque já se reconhecem 31 variedades...) – e subordiná-los forçadamente sob um único gênero gramatical seria categorizá-los sob um crivo distinto do dos homens mulheres (e assim discriminá-los). Isso para não falar que os próprios termos “não binário” e “neutro” são, etimologicamente, definições apofáticas ou por exclusão: não dizem o que a pessoa supostamente é, mas sim o que ela não é – e por isso mesmo parecem-nos altamente discriminatórios e excludentes. De modo que, quer por serem desprovidas de um verdadeiro fundamento histórico-linguístico, quer por acarretarem, por sua própria natureza, a criação de novas discriminações e/ou exclusões, estas novas propostas parecem-nos tudo, menos “neutras”.

Opinião

Racismo, identitarismo e encontro entre culturas Arte: Sergio Ricciuto Conte

FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO Um artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, criticando o racismo de negros contra brancos, gerou uma celeuma desproporcional, ainda que importante. O texto elenca uma série de eventos (nenhum deles no Brasil) em que negros se voltaram violentamente contra brancos, usando justificativas raciais, do tipo “os brancos devem pagar”. Creio que a melhor crítica ao artigo é aquela que vê nos casos citados exemplos de discriminação e perseguição, mas não de racismo propriamente dito. Discriminação e perseguição são posições individuais, mesmo quando são dominantes na sociedade. Uma pessoa sempre poderá dizer “eu não quero ser conivente ou compactuar com a discriminação e a perseguição racial”. A palavra racismo, na acepção que vem sendo usada atualmente, é estrutural, no sentido de que a forma de organização da sociedade leva a ele. Uma pessoa, mesmo que não queira discriminar e perseguir, se insere obrigatoriamente na sociedade a partir das estruturas dadas e por isso se beneficia ou se prejudica com as relações étnicas existentes. Uma comparação ilustrativa se refere à situação dos negros e dos judeus. O antissemitismo é um fato, mesmo no Brasil. Ninguém pensaria, contudo, em fazer um programa de cotas raciais para judeus nas universidades. O antissemitismo, em nosso País, é cultural e pouco comum, enquanto a condição do ne-

gro é dominante e determinada não apenas por aspectos culturais, mas também pelas estruturas econômicas, sociais e políticas da sociedade. Problemas de discriminação e perseguição podem ser resolvidos com medidas policiais e ações educacionais. Já o racismo estrutural necessita de “ações afirmativas”, medidas institucionais que mudem a forma pela qual a sociedade se organiza. Vendo sobre esse prisma, a sociedade brasileira enfrenta sérios problemas de racismo estrutural – que tendem a permanecer ocultos quando

condenamos atitudes individuais de discriminação e perseguição, mas não enfrentamos o problema das desigualdades estruturais. O artigo que causou a celeuma, contudo, usava a discussão sobre racismo para atacar outro problema: o identitarismo. Trata-se de uma posição que vê a própria identidade, seja étnica, cultural ou política, como a única justa e confiável; acreditando que o outro é sempre mal-intencionado, traiçoeiro e merecedor de discriminação e perseguição. Ações identitárias são necessárias e importantes, a

crítica ao identitarismo se refere àquelas ações que não apenas afirmam a própria identidade, mas querem desqualificar e até perseguir as demais. O multiculturalismo tem muito a ver com esse problema: percebeu a pluralidade de culturas nas sociedades complexas e reconheceu o direito à existência que todas têm, mas frequentemente as imaginou como unidades isoladas obrigadas a se defender – de forma até agressiva – das demais. O Cristianismo, idealmente, sempre defendeu um “encontro de culturas”, a possibilidade de que as culturas se encontrassem e cada uma absorvesse o que há de melhor nas demais. Essa postura ideal muitas vezes foi deturpada e instrumentalizada ao longo da história, e devemos reconhecer nossos erros, mas assumi-los deve nos levar a manter ainda mais vivo o ideal. Por outro lado, o cancelamento cultural e a “perseguição educada” que os cristãos vêm sofrendo no mundo atual têm levado muitos deles a uma defesa “identitarista” da fé, supondo que todos os que dizem comungar dos nossos valores são obrigatoriamente bons e devem ser apoiados e aqueles que não seguem esses valores são maus e devem ser perseguidos, até fisicamente. Temos que tomar cuidado para não nos tornarmos justamente aquilo que queremos combater! Francisco Borba Ribeiro Neto é sociólogo e biólogo, professor e pesquisador nas áreas de Bioética, relação Igreja e cultura, e Ecologia Social, é coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


4 | Regiões Episcopais/Atos da Cúria | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 |

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BELÉM Fernando Arthur

Imagem de São Lucas é inaugurada na Paróquia São Filipe Neri FERNANDO ARTHUR

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No dia 20, na Paróquia São Filipe Neri, foi inaugurada a imagem de São Lucas, em comemoração dos 78 anos do bairro que tem o mesmo nome do Santo, durante missa presidida pelo Padre Norival da Silva, Pároco e Prepósito da Congregação dos Oratorianos (CO). Concelebram outros Padres da Congregação: Fabiano Micali, Roberto Gennaro, Luiz Pegoraro, Paulo Sampaio Sandes e Josivaldo Alves Barreto. Na homilia, o Padre Fabiano Micali falou da importância do bairro e, também, de São Lucas. Ele destacou que no passado se celebrava com júbilo a festa do bairro, recordando inclusive a memória do Padre Aldo Giuseppe Maschi, ideali-

zador do oratório dedicado a São Filipe Neri. Padre Fabiano também ressaltou o papel de São Lucas na vida da Igreja e exortou os fiéis a manterem esse carinho pelo evangelista. Ao final da celebração, o Padre Norival abençoou a nova imagem inaugurada na calçada da igreja, inaugurada na presença dos fiéis. Entre os participantes da missa esteve a subprefeita da Vila Prudente, Elisete Aparecida Mesquita. Ela comentou que a celebração e a imagem são de grande importância para o bairro, para as famílias, para os comércios e para que todos possam recorrer a São Lucas. Segundo o Padre Norival, é uma grande alegria celebrar esta festa no aniversário do Parque São Lucas.

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Campos Elísios, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Bruno do Nascimento Calderaro e Oliveira, SDB, pelo período de 06 (seis) anos. Em 22/12/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Sufrágio das Almas, no bairro da Luz, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Air José de Mendonça, MSC, pelo período de 06 (seis) anos. Em 27/12/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Jesus Ressuscitado, no bairro Jardim Santa Bárbara, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Frei Luiz Carlos Batista, OSA, pelo período de 06 (seis) anos. Em 27/12/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro do Tatuapé, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Joimar Sella, AA, pelo período de 06 (seis) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Santa Teresinha, no bairro Santa Teresinha, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Fernando Campane Vidal, SDB. Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad

nutum episcopi”, da Paróquia Santa Teresinha, no bairro Santa Teresinha, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Mauro Maximiliano Chiarot, SDB. Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Campos Elísios, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Ronaldo Luís de Souza Pereira, SDB. Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Alcy Maurício da Silva Jr., SDB. Em 21/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora das Mercês, no bairro da Vila das Mercês, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei Lisaneos Francisco Prates, O. De M. Em 27/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Jesus Ressuscitado, no bairro Jardim Santa Bárbara, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Frei Ábdon de Santana Mendes Santos, OSA. Em 29/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Parque Novo Mundo, Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Frei Pelayo Moreno Palacios, OSA. Em 29/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum

episcopi”, da Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Parque Novo Mundo, Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Frei Rafael Manrique Arija, OSA. Em 30/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Silvio Aparecido da Silva, SDS. Em 30/12/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Irmundo Boesing, SDS. PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 21/12/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão, “ad nutum episcopi”, como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Padre Dilermando Luiz Cozatti, SDB. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 27/12/2021, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Rainha Santa Isabel, no bairro Vila Bandeirantes, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Antônio Bezerra Moura. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 21/12/2021, foi nomeado e provi-

sionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Sebastião, no bairro de Vila Guilherme, Região Episcopal Sant’Ana, o Diácono Permanente Sr. Eduardo Ricardo Velazquez Sierra. Em 29/12/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Santa Rita de Cássia, no bairro Parque Novo Mundo, Região Episcopal Sant’Ana, o Diácono Frei João Alves de Lima, OSA, pelo período de 01 (um) ano. Em 06/01/2022, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Santa Rosa de Lima, no bairro Jardim Panorama, Região Episcopal Belém, o Diácono Permanente Sr. Sidnei Roberto Piotto. Em 06/01/2022, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Jesus Ressuscitado, no bairro Jardim Santa Bárbara, Região Episcopal Belém, o Diácono Permanente Sr. Nilson de Oliveira Amâncio. Em 06/01/2022, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Pio X e Santa Luzia, no bairro Vila Leme, Região Episcopal Belém, o Diácono Permanente Sr. Pedro Ernesto dos Santos Júnior. POSSE CANÔNICA: Em 28/12/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro do Jabaquara, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Daniel Aparecido de Campos, SCJ.


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| 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 | Regiões Episcopais/Viver Bem | 5

Pelo 3º ano, Paróquia Nossa Senhora Achiropita promove colônia de férias EVA YU BERTANI

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Entre os dias 17 e 21, aconteceu na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, seguindo todos os protocolos sanitários de combate à COVID-19, o 3º ano da Colônia de Férias Achiropita-Orione, idealizada pelo Padre Antônio Sagrado Bogaz, Pároco. A atividade segue o carisma de São Luís Orione, que na Itália, ainda padre, criou o Oratório Festivo, em que acolhia os jovens para atividades e evangelização, evitando, assim, que ficassem nas ruas. Sob a orientação do Pároco, cerca de 90 crianças e adolescentes, entre 4 e 15 anos, parti-

Pascom paroquial

ciparam de jogos, brincadeiras, momentos de espiritualidade e oração, além de receberem café da manhã, almoço e lanche da tarde. De forma lúdica, as brincadeiras ajudaram as crianças a compreender a importância do trabalho em equipe, colaboração e a espiritualidade. As atividades foram elaboradas e monitoradas pela equipe do Centro Educacional Dom Orione (CEDO), com a participação de voluntários de várias paróquias. No encerramento, elas foram convidadas a participar do Oratório Festivo, que acontece todos os domingos à tarde e acolhe crianças para passar a tarde com brincadeiras que evangelizam.

BELÉM Abertas as inscrições para a Escola de Teologia para Leigos FERNANDO ARTHUR

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Nesta semana, o Curso de Teologia para Leigos do Setor Belém inicia inscrições para novas turmas. Há muitos anos, a Região Episcopal Belém vem se esforçando, por meio da articulação dos setores, em manter cursos de Teologia para

leigos, visando a uma melhor formação dos leigos, agentes de pastorais das comunidades, como discípulos e missionários de Jesus Cristo. Esses cursos da Escola de Teologia Pastoral Dom Luciano Mendes de Almeida são assessorados por docentes da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e de outros institutos de Teolo-

gia de São Paulo. “A proposta é realmente dar uma melhor preparação e formação para que os fiéis leigos sejam verdadeiros protagonistas da evangelização”, disse o Padre Marcelo Maróstica, Coordenador de Pastoral da Região Belém. Padre Marcelo comentou, ainda, que o curso é pensado pastoralmente para uma aplicação direta na vida da comuni-

dade e no dia a dia do leigo na família, no trabalho e em todos os âmbitos da vida. As inscrições estão abertas até 20 de fevereiro, e as aulas acontecerão todas as segundas-feiras às 19h30, no Centro Pastoral São José, a partir de 21 de fevereiro. O formulário de inscrição pode ser acessado por meio deste link encurtado: https://cutt.ly/6I2a2yu.

Comportamento Opção preferencial e constitucional pelos pobres CRISLEINE YAMAJI Entre os objetivos fundamentais do Estado brasileiro, conforme constitucionalmente previstos, encontram-se indicados o combate e a erradicação da pobreza. Pode-se reconhecer nessa previsão constitucional uma clara opção pelos pobres. E essa opção preferencial é também princípio e objetivo da Doutrina Social da Igreja, que trata de uma destinação universal de bens que foque especialmente os mais necessitados, algo não meramente programático, mas real. Isso não tem nada de ideológico, de partidário, de uma bandeira de direita ou de esquerda, mas de todos; é um fundamento de responsabilidade social. Devemos evitar que o desenvolvimento social deixe de ser a bandeira de manipulação de poucos que fazem do nosso País uma gangorra de interesses de curto prazo para vitória partidária e prevalecimento dos falsos salvadores da pátria na próxima eleição.

O desenvolvimento humano adequado de uma comunidade, ou melhor, de uma sociedade subdesenvolvida, assim como a nossa, depende da concessão de condições mínimas de vida que permitam a redução definitiva de meios para a eliminação da posição de marginalidade social em que vivem alguns membros dessa sociedade. Essa não é somente uma prática de caridade de cada um de nós, cristãos, envolvidos em uma sociedade declaradamente e prevalentemente cristã, mas todo um dever de Estado que nós devemos impulsionar. O princípio da destinação universal dos bens, previsto na Doutrina Social da Igreja e refletido em nossa Constituição federal, requer que cuidemos com particular atenção dos mais pobres; ou seja, de todos aqueles que se acham em uma posição de marginalidade social. Ao requerer isso, exige-nos focar a eliminação de situações de vida que impeçam um desenvolvimento humano inadequado. A esse propósito, quando passamos a

afirmar, nós mesmos, uma opção preferencial pelos pobres, assumimos individual e coletivamente uma responsabilidade social por nossa propriedade, por seu uso e por sua destinação, mais coerentes a um interesse comum. Nesse sentido, buscamos primar, em primeira pessoa, em cada uma de nossas escolhas, pela dignidade humana, por um salário adequado, por trabalho digno, por meios adequados para comer, vestir, cuidar da saúde e da educação das futuras gerações, de modo a garantir um futuro próspero a todos. Além desse objetivo, nossa Constituição trata de uma competência e função do Estado brasileiro, em todas as esferas da Federação – União, estados e municípios –, de combate às causas sociais e econômicas mais profundas da desigualdade, o que leva à total desintegração de nossa comunidade. No mais, a manutenção de uma parcela da população em situação marginalizada e de vulnerabilidade extrema tem,

por efeito, uma situação de violência e absoluta insegurança em nosso cotidiano. Não podemos mais caminhar nas cidades com medo, especialmente depois da crise econômica e política dos últimos anos. E aqui também está nosso dever de exigir o dever do Estado de adequada assistência social e alocação de recursos em fundos próprios para combate e erradicação da pobreza temporária e permanente. Violência não se combate com mais violência, mas com um combate adequado da pobreza. A algumas pessoas parece conveniente manter tudo como está e simplesmente endurecer medidas de segurança individual; todavia, cada vez mais, devemos nos unir para a busca do cumprimento de objetivos e princípios constitucionais e cristãos para superação de uma situação social e econômica de pobreza. Crisleine Yamaji é advogada, doutora em Direito Civil e professora de Direito Privado. E-mail: direitosedeveresosaopaulo@gmail.com


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Santuário São Judas Tadeu

[IPIRANGA] Na terça-feira, 25, foram comemorados os 82 anos de criação da Paróquia São Judas Tadeu. Aconteceram missas às 7h, 9h, 12h, 15h, 17h e 19h30, sendo a do meio-dia presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga. (por Redação, com informações do site São Judas Tadeu) Karen Eufrosino

ABERTA A EXPOSIÇÃO ‘MEMÓRIA PAULISTANA’ NA CATEDRAL DA SÉ [IPIRANGA] No domingo, 23, em missa na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, a comunidade de fiéis rendeu graças a Deus pela vida e missão do Pároco, Padre Uilson dos Santos, e do Vigário Paroquial, Padre Christopher Velasco, que assumirão funções em outras paróquias neste ano: Padre Uilson será Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Esperança; e Padre Christopher, Vigário Paroquial da Paróquia Santa Ângela e São Serapião. (por Karen Eufrosino) Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Dores

[BRASILÂNDIA] Na terça-feira, 25, faleceu, aos 58 anos de idade, o Padre Cássio José Leite Esteves. Ordenado sacerdote em 1995, ele foi Pároco nas Paróquias Nossa Senhora Mãe Rainha (de 1995 e 2005), Nossa Senhora das Graças (de 2006 a 2010) e Nossa Senhora das Dores (de 2011 e 2013). Há seis anos, após sofrer um acidente vascular cerebral, passou a residir na Casa São Paulo, mantida pela Arquidiocese para amparo aos padres doentes e idosos. Ele será sepultado no Cemitério Santíssimo Sacramento, na quarta-feira, 26. (por Redação)

Benigno Naveira

[LAPA] No Domingo da Palavra de Deus, dia 23, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu missas às 10h e às 18h na Paróquia São José do Jaguaré, Setor Pastoral Butantã. Na homilia, ele refletiu sobre o Evangelho do dia (Lc 1,1-4; 4,14-21) e lembrou que, em volta da Palavra de Deus, cada pessoa pode afirmar a própria experiência de fé e de vida cristã. Destacou, ainda, que Cristo, o Verbo Eterno, a Palavra Viva, se fez pessoa entre nós.

Após a missa das 11h, no domingo, 23, na Catedral da Sé, presidida pelo Padre Luiz Eduardo Baronto, foi aberta a exposição de pinturas “Memória Paulistana”, de autoria da artista plástica Cristiane Carbone, que em cada obra resgata e devolve à população aspectos históricos que, por vezes, se perderam, proporcionando conhecimento sobre a formação e transformação dos pontos culturais, bem como a valorização do patrimônio cultural da capital. “Cada obra, cada imagem, nos liga a uma memória afetiva. Quem não as tem? É com esse espírito de alegria e saudosismo que convido a todos a visitar a exposição, que mescla passado e presente”, disse Cristiane ao fim da missa. A exposição ocorre até 6 de março, nos horários de funcionamento da Catedral da Sé, que podem ser consultados pelas mídias sociais (@catedraldasesp). (por Redaçao)

[BRASILÂNDIA] As paróquias do Setor Perus realizaram nos dias 15 e 16 de janeiro uma ação solidária em favor das pessoas impactadas pelas enchentes na Bahia e em Minas Gerais. O valor arrecadado nas coletas das missas e por meio de outras contribuições espontâneas totalizou mais de R$ 22 mil e será utilizado para as ações de assistência e apoio às vítimas dessas localidades atingidas pelas chuvas. (por Pedro Silva)

[SANTANA] A festa patronal da Paróquia São Paulo Apóstolo, na Vila Isolina Mazzei, foi concluída, na terça-feira, 25, na festa da Conversão do Apóstolo Paulo, com duas missas: às 15h e às 20h, esta última presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. Anteriormente, houve um tríduo preparatório, entre os dias 22 e 24, com as temáticas “São Paulo e a Fé”, “São Paulo e a Esperança” e “São Paulo e a Caridade”. (por Redação) Pascom da Paróquia Cristo Rei

(por Benigno Naveira)

[SÉ] Em 6 de fevereiro, às 10h, na Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda, haverá a missa em ação de graças pelos 25 anos de vida sacerdotal do Padre José Donizeti Coelho, Pároco. A matriz paroquial está localizada na Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 421. (por Pascom paroquial) [LAPA] Na Paróquia São Patrício, Setor Rio Pequeno, todas as quintas-feiras, após a missa das 19h, acontece a reza do Terço dos Homens. A matriz paroquial está localizada na Avenida Otacílio Tomanik, 1.555, Rio Pequeno. (por Benigno Naveira) [LAPA] A comunidade de fiéis da Paróquia São Francisco de Assis, no Jaguaré, Setor Pastoral Butantã, acolheu, no início de janeiro, o Diácono Permanente André Iasz Filho, que irá auxiliar o Padre Edilberto Alves da Costa, Pároco, como Assistente Pastoral na Paróquia, onde também já atua o Diácono Permanente Marcos Adriano de Souza. (por Benigno Naveira)

[BRASILÂNDIA] Neste primeiro bimestre, Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, dará posse a párocos e vigários paroquiais que foram transferidos de paróquias. Um deles será o Padre João Henrique Novo do Prado, que até então atuava como Vigário Paroquial na Paróquia Cristo Rei, Setor Perus, e agora será Pároco na Paróquia Nossa Senhora das Dores, Setor Jaraguá. Padre João Henrique despediu-se da atual comunidade paroquial no sábado, 22, durante missa concelebrada pelo Padre Orisvaldo Carvalho, Pároco da Paróquia Cristo Rei. Foi destacada a atuação do Padre João Henrique nas diversas pastorais e movimentos, principalmente nas formações para catequistas e a Escola da Fé. (por Pascom da Paróquia Cristo Rei)


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Paróquia São Sebastião comemora 100 anos da primeira igreja construída na Vila Guilherme Fotos: Luciney Martins/OSÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

Os fiéis da Paróquia São Sebastião, na Vila Guilherme, zona Norte de São Paulo, celebraram a festa de seu padroeiro na quinta-feira, 20. Na ocasião, também foram comemorados os 100 anos da construção da primeira capela que deu origem à comunidade paroquial. A Eucaristia solene foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e concelebrada pelo Padre Luiz Cláudio Vieira, Administrador Paroquial.

HISTÓRIA

A presença da Igreja Católica na Vila Guilherme se confunde com a origem deste bairro fundado em 1912, quando o comerciante fluminense Guilherme Praun da Silva comprou 115 alqueires de uma baronesa chamada Joaquina Ramalho, na várzea do rio Tietê. Considerado um visionário, Praun começou a lotear a área e vender os terrenos. A primeira construção de uso público do bairro foi justamente a pequena igreja dedicada a São Sebastião, inaugurada em 20 de janeiro de 1922, festa litúrgica do Santo mártir e data do aniversário de Guilherme Praun. O segundo equipamento público foi o grupo escolar, inaugurado em 1925, onde hoje funciona a Casa de Cultura da Vila Guilherme.

Dom Odilo celebra missa na Paróquia São Sebastião; Silvana, a filha Juçara e a neta Elisa, três gerações de paroquianos na Vila Guilherme

cultural e social a partir desta igreja e da comunidade que se formou nela”, observou Padre Luiz Cláudio. Em 1950, a comunidade de São Sebastião se tornou paróquia e a antiga igreja foi demolida para a construção da atual matriz paroquial. Nos anos seguintes, o bairro começou a se desenvolver, principalmente após a construção da Ponte da Vila Guilherme, inaugurada em 1967.

O Cardeal recordou, ainda, que em 2025 se comemora o jubileu de 75 anos de criação da Paróquia, uma nova oportunidade para celebrar a presença e a missão da Igreja no bairro.

sempre recordarmos de onde viemos e quem ajudou a construir a nossa história; assim, ajudarmos a construir a comunidade onde nossos filhos e netos viverão”, relatou Silvana.

FAMÍLIA

HOMENAGENS

O tema das comemorações do centenário da primeira Igreja de São Sebastião é “O amor de Cristo nos uniu: Somos uma família, somos diferentes, amamo-nos e nos respeitamos”. O Administrador Paroquial enfatizou que, ao celebrar um século de presença na Vila Guilherme, a Igreja renova a missão de anunciar o Evangelho, indo ao encontro de todas as famílias que ali vivem. Silvana Aidar, 62, é uma das testemunhas da fé transmitida por gerações na Vila Guilherme. Assim como sua mãe, ela nasceu no bairro e se casou na comunidade paroquial há 40 anos. Sua filha, Juçara Aidar Batista, 34, recebeu todos os sacramentos da iniciação cristã na Paróquia, onde também a neta, Elisa Aidar Batista, de 4 meses, será batizada em fevereiro. “Somos enraizados na Vila Guilherme e na Paróquia São Sebastião. É muito emocionante celebrar os 100 anos da nossa comunidade. É importante

O centenário também contou com o lançamento de um documentário produzido pelos paroquianos, em que eles próprios ajudam a contar a história da comunidade. Também foi reeditado um livro publicado há 20 anos, que reúne relatos em primeira pessoa de mais de uma centena de antigos moradores do bairro e que contém recordações sobre a Paróquia São Sebastião. “À luz da Palavra de Deus e inspirados na fidelidade do glorioso mártir São Sebastião, fiéis à graça divina desde seu Batismo, jamais se apartando do que era agradável aos olhos de Deus, queremos também reafirmar nosso compromisso com a Igreja em sua missão, vivendo em comunidade, na fraternidade, acolhida, amor ao próximo e alegria, contribuindo para a transformação desta querida capital, testemunhando que ‘Deus habita esta cidade imensa e nós somos suas testemunhas’”, afirmou Padre Luiz Cláudio, recordando o lema do sínodo arquidiocesano.

Aos 90 anos, morre o Cônego Dario Benedito Bevilacqua

Luciney Martins/OSÃO PAULO

REFERÊNCIA

Durante muitos anos, o bairro manteve as características rurais. Embora estivesse próximo ao centro da cidade, o fato de haver apenas uma pequena ponte de madeira dificultava o acesso dos moradores ao bairro. Logo a Igreja de São Sebastião se tornou um lugar de referência não apenas para a vivência da fé como para as demais atividades da comunidade local. Foi lá que funcionou a primeira escola infantil, o cinema e o teatro comunitários, além do primeiro campo de futebol e uma cooperativa de alimentos dos moradores. “Muitas gerações construíram sua identidade

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

A Arquidiocese de São Paulo informou na terça-feira, 25, o falecimento do Cônego Dario Benedito Bevilacqua (foto), aos 90 anos de idade, na cidade de Jundiaí (SP). Ele estava com a saúde debilitada em decorrência do mal de Alzheimer. O sepultamento ocorreu no Cemitério Nossa Senhora do Desterro, naquela cidade, na tarde do mesmo dia. Cônego Dario nasceu em 20 de outubro de 1931 e foi ordenado sacerdote em 4 de novembro de 1956. Ele era membro do Cabido Metropolitano de São Paulo,

RENOVAR O COMPROMISSO

Na homilia, Dom Odilo ressaltou que, ao celebrar o centenário da primeira igreja do bairro, todos são convidados a fazer memória da vida dessa comunidade eclesial. “Recordando a história, damo-nos conta de quem somos... A Igreja é assim: sucede-se uma geração após a outra e cada um dá seu testemunho para que a Igreja realize a sua missão no seu tempo.” O Arcebispo exortou os paroquianos a renovarem o compromisso com a missão de testemunhar o Evangelho no bairro, por meio, sobretudo, do anúncio da Palavra, da celebração dos sacramentos e do serviço da caridade. “É importante que na Paróquia se mantenha o testemunho das virtudes fundamentais da vida cristã: fé, esperança e caridade”, acrescentou.

“o colégio de sacerdotes, ao qual compete realizar as funções litúrgicas mais solenes na igreja catedral ou colegiada; além disso, compete ao cabido da catedral desempenhar funções que lhe são confiadas pelo Direito ou pelo Bispo diocesano”, conforme consta no Código de Direito Canônico, Cân. 503. O Sacerdote esteve entre os primeiros membros da Comissão Arquidiocesana de Pastoral (atual Secretariado Arquidiocesano de Pastoral), instituído pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo Metropolitano, na década de 1970. Exerceu seu sacerdócio em diferentes paróquias da Região Episcopal

Sé e foi cura da Catedral da Sé na década de 1980. Cônego Dario esteve à frente do Vicariato dos Construtores da Sociedade, instituído por Dom Paulo em maio de 1992, a fim de envolver toda a sociedade paulistana nas mobilizações em prol da liberdade e da justiça no Brasil pós-redemocratização. Cônego Dario também foi colaborador do jornal O SÃO PAULO. Em 24 de junho de 1997, foi nomeado Diretor-geral da rádio 9 de Julho, desempenhando papel fundamental para os trâmites que culminaram na reabertura da emissora da Arquidiocese de São Paulo em 1999.


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Uma década decisiva para o futuro do Minhocão Luciney Martins/OSÃO PAULO

PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO DA CIDADE PREVÊ QUE O ELEVADO JOÃO GOULART SEJA DEMOLIDO OU TRANSFORMADO EM PARQUE DANIEL GOMES

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De segunda a sexta-feira, ao longo de seus 2,8km de extensão – 3,4km se consideradas as vias de acesso –, trafegam pelo Minhocão cerca de 78 mil veículos, sendo quase 7,9 mil automóveis por hora nos horários de pico da manhã. Esse cenário, porém, pode mudar até o fim desta década, pois, conforme prevê o Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade de São Paulo, lei 16.050/14, em vigor até 2029, uma legislação específica deve ser elaborada a fim de definir prazos para a completa desativação do tráfego de veículos no Minhocão, bem como sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque. Inaugurado em 24 de janeiro de 1971, com o nome de Elevado Presidente Arthur da Costa e Silva, o popular Minhocão – em 2016 renomeado para Elevado Presidente João Goulart – liga a zona Oeste, a partir do Largo Padre Péricles, em Perdizes, à região central, na Praça Roosevelt. Atualmente tem uso híbrido, com tráfego de automóveis de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h, e circulação de pedestres e ciclistas em dias úteis, das 20h às 22h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 22h, quando são montados locais de descanso com bancos e tablados de madeira. Em 2018, o então prefeito João Doria sancionou a lei 16.833/18, que transformava o Minhocão em um parque. A medida foi questionada na Justiça, por ser implementada sem planejamento técnico e pela formulação da lei ter partido do Legislativo paulistano e não do Executivo. Em maio de 2021, a lei foi considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O futuro do Minhocão, tema sobre o qual não há consenso, pode até ser decidido por um plebiscito, cuja realização já foi

aprovada pela Câmara Municipal em setembro de 2020, mas ainda não há data marcada para que seja realizado.

COMO FICARIA O TRÂNSITO?

Em janeiro de 2016, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) publicou o “Relatório Sintético dos Estudos para Restringir o Tráfego de Veículos Automotores no Minhocão”. Por meio de simulações feitas em softwares, tanto a demolição dessa via quanto sua desativação em dias úteis foram consideradas como “intervenções viáveis, desde que sejam executadas as obras e medidas de engenharia de tráfego necessárias à acomodação do tráfego nas vias de seu entorno”, conforme consta no documento, que pode ser acessado pelo link a seguir: https://cutt.ly/YIgEVNC. Se houver a demolição, o relatório aponta que seria necessário o prolongamento da atual Avenida Mário de Andrade (antiga Avenida Auro Soares de Moura Andrade), localizada ao longo dos trilhos por onde passam as linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), bem como a readequação da Avenida General Olímpio da Silveira, “com remoção dos pilares [que hoje sustentam o Elevado], alargamento da via e consequente ganho de capacidade para a fluidez do tráfego”.

Se a decisão for pela desativação, mas sem a demolição, “estima-se que não haverá impactos significativos no sistema viário do entorno, e que eles serão absorvidos ao longo do tempo, com o redirecionamento das viagens na região”, conforme consta no relatório. Na avaliação do arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) e que foi relator do PDE, o uso híbrido responde às necessidades atuais, mas isso tende a mudar. “Em um horizonte de médio prazo, haverá menor utilização de automóveis na cidade e as pessoas se valerão mais de transporte coletivo ou mobilidade ativa, como já é colocado no plano diretor. Além disso, novas linhas do Metrô vão passar pela região, como a Linha 6 – Laranja. Hoje já há um corredor de ônibus que fica exatamente embaixo do Minhocão. Portanto, existem alternativas.”

EM DEFESA DO PARQUE

Felipe Rodrigues, arquiteto e urbanista, é diretor da Associação Parque Minhocão, criada em 2014 em favor da definitiva transformação do Elevado em um parque, uso que, conforme afirma, já vem sendo feito pelas pessoas desde a década de 1990. “O espaço conquistado para o lazer

e esporte dos moradores do centro tem visto melhorias paulatinas, mas direcionadas ao uso do pedestre desde a sua primeira interdição. Acreditamos que demolir um parque não esteja na agenda das futuras gestões, especialmente do início deste novo século”, disse. “Estamos em vias de passar por uma transformação mais fundamental pós-pandemia – vislumbrando um fim –, que é o indivíduo, o homem, e seu bem-estar como centro das questões verdadeiramente urbanas”, complementou. Rodrigues ressalta, também, que a criação efetiva do parque atrairia ainda mais frequentadores para essa região da cidade: “Isso significa maior público para o comércio, bares, lojas e restaurantes locais. A região já apresenta uma economia criativa significativa e que pode ser interligada e intensificada pelo percurso do Parque Minhocão. As futuras escadas definitivas terão papel crucial na unificação das cotas do parque.”

FAVORÁVEIS À DEMOLIÇÃO

Criado em agosto de 2015, o Movimento Desmonte Minhocão (MDM) defende a completa demolição da via. “‘Parque’ sobre viaduto construído para uso viário, no século passado, sem manutenção, a 8 metros de altura, sem condições de segurança para pedestres,


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COMO CONDUZIR A DISCUSSÃO?

Paula Santoro avalia que a Prefeitura deveria mobilizar um plano participativo popular para pensar o uso e a ocupação do solo nas proximidades do Minhocão, que, conforme observa como moradora do bairro há dez anos, já está sendo transformado pelo mercado imobiliário: “Há quarteirões inteiros sendo demolidos para virarem prédios no entorno. O futuro do Minhocão tem que ser pensado com quem vive em seu entorno, com os cidadãos”. Bonduki considera que antes de uma decisão final sobre o Minhocão é preciso que se faça um projeto que apresente os efetivos custos de uma de-

QUALIFICAR UM TERRITÓRIO DIVERSIFICADO

Também professora na FAU-USP e uma das coordenadoras do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), a arquiteta e urbanista Paula Freire Santoro afirma que a atual estrutura do Minhocão, embora desqualifique o espaço urbano e cause diferentes incômodos aos moradores locais, facilita a conexão entre os parques e áreas de lazer da região central e ajudou a tornar aquele território diversificado, com a interação de pessoas de diferentes classes sociais. “Tirando ou mantendo a estrutura do Minhocão, esse território precisa ser um espaço de inclusão”, enfatiza. “Se demolir o Minhocão, o que será colocado no lugar? A avenida embaixo hoje já é muito insuficiente, já fica muito congestionada. E, se opção for o parque, qual se fará? Um todo com paisagismo, com árvores, bancos, em que não se possa andar de bicicleta, correr e andar de skate? Serão reconhecidos os usos que hoje já acontecem naquela estrutura? Penso que falta efetivamente discutir o que são cada uma dessas opções”, prossegue a urbanista.

1968 O projeto de criação de uma via linear suspensa

para solucionar os problemas da interligação viária entre as zonas Leste e Oeste da cidade é apresentado pelo arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirard à Prefeitura. À época, o prefeito Faria Lima recusou a proposta;

1969 Retomada do projeto pelo prefeito Paulo Maluf, que já em 19 de dezembro daquele ano deu nome à futura via: Elevado Presidente Arthur da Costa e Silva, em alusão ao Marechal que presidiu o Brasil entre 1967 e 1969;

1970 Início das construções. Foram 11 meses de trabalho, naquela que foi tratada à época como a maior obra viária urbana da América Latina;

capital paulista, o Minhocão foi inaugurado, com funcionamento ininterrupto e exclusivo para automóveis;

1971 O artista Flávio Motta pinta uma série de painéis nos pilares de sustentação do Minhocão, remetendo a uma sequência cinematográfica. Ainda hoje são comuns intervenções artísticas nesses pilares;

1976 Início do fechamento diário entre meia-noite e 5h, a

fim de diminuir o barulho causado pelo tráfego de veículos e reduzir o número de acidentes;

1989 A Prefeitura, na gestão de Luiza Erundina, estabe-

UM NOVO MODELO DE CIDADE

Bonduki recorda que o Minhocão foi construído em um momento em que vigorava a visão urbana de que o espaço público deveria ser pensado para facilitar a circulação de automóveis, o que difere do conceito apresentado no atual PDE. “Conforme expresso no plano diretor, a cidade deve priorizar outros modais que não o automóvel. O PDE, ao propor a desativação do Minhocão, não está pensando em algo isolado, mas que se estrutura com o conceito de uma malha cicloviária, do transporte a pé e a maior utilização do espaço público pelas pessoas. Outros exemplos disso são a Avenida Paulista aberta aos domingos, a lei de ruas abertas para fins de lazer e o uso dos patinetes.”

VIAGEM PELA HISTÓRIA

1971 Em 24 de janeiro, na véspera do aniversário da

Arquivo/ OSÃO PAULO - jan1971

não resolve os transtornos já existentes de saúde e segurança dos milhares de moradores. Criaria outros sérios problemas para eles”, posiciona-se o MDM, por meio de seu diretor de imprensa, Francisco Gomes Machado. O Movimento lista ainda outros problemas como a sensação de insegurança dos que vivem próximos ao Minhocão, a precariedade das estruturas do Elevado “sem manutenção há anos, as colunas de sustentação estão deterioradas. Embaixo do Minhocão, local altamente poluído, aglomeram-se centenas de moradores em situação de rua”, além dos gastos que a Prefeitura teria para manter o parque e o “fracasso dos Jardins Verticais, instalados nos prédios ao longo do Minhocão, que secaram por falta de manutenção”. Por essas razões, o MDM entende que a demolição é a “melhor e mais econômica opção” e que “possibilitará a reurbanização/requalificação de importante área central. Revitalizará o comércio. Promoverá turismo com retrofit dos históricos prédios. Além de ser obra que se autofinancia, com o reaproveitamento de suas 900 vigas”.

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lece um novo horário para a restrição da circulação de veículos: entre 21h30 e 6h, de segunda-feira a sábado, e o fechamento total aos domingos.

molição ou transformação em parque, bem como se detalhem as alternativas para o trânsito.

O QUE DIZ A PREFEITURA SOBRE A DESATIVAÇÃO?

Em nota à reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) informou que “a desativação do Elevado para o tráfego de veículos, prevista no Plano Diretor Estratégico (PDE), está sendo discutida por meio do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Minhocão. O projeto está em desenvolvimento”. Na página Gestão Urbana no site da Prefeitura, há um ambiente com informações sobre o PIU Minhocão, nas quais se afirma que o projeto foi iniciado a partir da entrada em vigor da lei 16.833/2018, considerando inicialmente apenas a implantação do Parque Minhocão. Entretanto, em 2019, foi realizada uma consulta pública on-line na qual 47% dos munícipes se posicionaram a favor do desmonte da estrutura, 39% pela manutenção de sua função original de via de tráfego e 14% foram favoráveis à implantação do parque. Diante disso, se deu continuidade ao projeto “determinando que sejam estudadas durante seu desenvolvimento, com auxílio da população, todas as hipóteses apontadas pelo Plano Diretor, ou seja, desde o desmonte até a implantação total ou parcial de um parque na estrutura do Elevado” e que as propostas sejam “debatidas por meio de consultas e audiências públicas on-line e, quando possível, em encontros presenciais – audiências públicas e reuniões temáticas com a população”.

1996 É publicada a lei municipal 12.152, que determina o horário de funcionamento para veículos, de segunda-feira a sábado, das 6h30 às 21h30. Aos domingos e feriados, podem circular apenas pedestres e ciclistas.

1998 Intervenções artísticas são feitas nos arredores do Minhocão por meio do projeto “Elevado à Arte”, com pinturas de Maurício Nogueira Lima e Sônia von Brüsky. Ainda hoje são comuns pinturas artísticas em prédios na região. Uma das mais recentes, de novembro de 2020, é “A mão de Deus”, do artista Eduardo Kobra.

2014 Plano Diretor Estratégico, com vigência até 2029, prevê a criação de uma lei específica para que o Minhocão seja gradualmente desativado para o tráfego de automóveis e posteriormente demolido ou transformado, total ou parcialmente, em parque.

2015 Início das restrições ao tráfego de veículos aos sábados, a partir das 15h.

2016 A Câmara Municipal aprova e o prefeito Fernando Haddad sanciona a mudança do nome de Elevado Presidente Costa e Silva para Elevado Presidente João Goulart, o último a presidir o País antes do regime militar.

2018 Com a entrada em vigor da lei 16.833, sancionada

pelo prefeito João Doria, criando o Parque Minhocão, o Elevado passou a fechar para o tráfego de veículos integralmente aos sábados, bem como aos domingos e feriados.

2020 Em março, em razão da pandemia de COVID-19, o Minhocão é fechado para pedestres e ciclistas.

2021 Em dezembro, volta a ser reaberto para o uso de pedestres e ciclistas aos fins de semana e feriados e das 20h às 22h, de segunda a sexta-feira.

Fontes: CET, Prefeitura de SP e Câmara Municipal e site Minhocao.com


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Embaixo do Elevado, a luta dos mais pobres é para sobreviver a cada dia Luciney Martins/OSÃO PAULO

Pessoas que moram sob o Elevado ilustram a realidade social dos últimos anos: milhares de pessoas na insegurança alimentar e sem moradia

CLÁUDIA PEREIRA

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Duas realidades são perceptíveis no Elevado João Goulart, o popular Minhocão, que em 2022 completa 51 anos: na parte superior, é possível ver beleza, poesia, luz e cor, mas embaixo da via existe uma realidade sem luz, predominantemente cinza e insalubre.

‘O MINHOCÃO É O MEU LAR’

Em 13 de janeiro, Custódio Manoel, 64, estava a caminho do Largo Santa Cecília. Ele tinha um caminhar apressado para garantir o café da manhã. Natural de Valparaíso (SP), está há seis anos morando nas ruas do centro da capital e nos últimos anos a marquise do Minhocão tem sido sua casa. “Não é todos os dias que consigo vender papelão, mas aqui eu encontro quem doa um alimento, uma roupa e recebo outras ajudas. O Minhocão é o meu lar, aqui que tento viver nos últimos anos, mesmo sendo um lugar barulhento e perigoso”, diz Manoel, segurando algumas caixas de papelão na mão e com olhos atentos na movimentação da avenida. Luciene Lopes dos Santos, 46, vive com o companheiro embaixo do viaduto há quatro anos. Acampados em barracas improvisadas, o cão de nome “Chocolate” é o amigo vigilante. Eles sobrevivem com as vendas de recicláveis que coletam. Nascida em Tatuzinho (MG), Luciene conta à reportagem do O SÃO PAULO que há cinco dias ela e o companheiro foram agre-

didos por outra pessoa em situação de rua enquanto dormiam: “Acho que não nos bateram porque o ‘Chocolate’ latiu muito. Quando isso acontece é sempre ruim, mas é normal por aqui”. José Maurício da Silva, 49, é profissional de Educação Física. “O Minhocão pra mim e para muitos é o meio de sobrevivência, principalmente quando chove, pois é o nosso abrigo”, afirmou. Há dois anos, ele ficou desempregado e, sem conseguir pagar o aluguel, foi obrigado a viver nas ruas de São Paulo. Ele relata dificuldades para a convivência nos centros de acolhida e a violência no período da noite sob a marquise e imediações do viaduto.

nho, uma ocupação próxima ao Minhocão, junto com a mulher e o filho. Na calçada, próximo à estação Marechal Deodoro do Metrô, Ilza Alves, 66, está sorridente, mas tem um olhar de cansaço. Aos seus pés, há um tecido estendido no chão e vários objetos de vidro expostos para venda. “São usados, mas estão em bom estado”, diz. Há três anos, as calçadas em torno do Elevado têm sido seu local de trabalho. Desempregada, decidiu vender os próprios utensílios domésticos para não ir morar na rua. Com o auxílio emergencial que recebeu, comprou novas mercadorias e tem sobrevivido das vendas e doações, e agora busca receber seu direito à aposentaria.

FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE

COMERCIANTES E MORADORES MAIS ANTIGOS

No entorno do Minhocão também vivem famílias que moram em cortiços e ocupações. São pessoas com renda média de um ou dois salários mínimos, que assinam contratos precários de aluguel, sem qualquer tipo de garantia. Para o urbanista e pesquisador Vitor Nisida, do Instituto Pólis, o atual Projeto de Intervenção Urbana (PIU) para região (leia mais nas páginas 8 e 9) não contempla os mais pobres. “O que existe é uma solução de mercado que contribui para o déficit habitacional da cidade”, afirma. “A população de rua aumentou consideravelmente, a insegurança habitacional também. É urgente discutir o projeto do Minhocão de forma inclusiva”, diz Isaque de Brito Venâncio, 41, veio de Ribeirão Preto (SP) tentar maneiras de sobreviver, após perder o emprego por causa da pandemia. “Tudo é muito complicado, e a cidade parece que não inclui a gente. Nós não passamos fome por causa das doações que recebemos”, conta. Ele mora na favela do Moi-

Ao longo de toda a extensão sob o Elevado, há dezenas de barracas e pessoas dormindo no chão entre as pilastras, sinais visíveis de alguns dos indicadores sociais do Brasil: no ano passado, por exemplo, 19,1 milhões de pessoas estiveram privadas de alimentação e 5,8 milhões não possuíam moradia adequada no País. “Na calçada do prédio onde moro, quatro pessoas em situação de rua dormem todos os dias. Eles vivem por lá”, conta à reportagem Neuza Maria, que vive na região desde a década de 1970. Ela recorda que andava à noite pelas ruas próximas, mas atualmente tem receio de sair de casa até mesmo durante o dia. Avalia, ainda, que a situação econômica do País contribuiu para que muitas famílias ficassem em estado de abandono. Percepção parecida tem Kelvin Caetano, morador da região e comerciante. “Eu não vejo as pessoas em situação de rua como um problema. Penso que isso é resultado da atual situação que vivemos no Brasil. Ao longo do Elevado, algo pro-

blemático é o fato de não haver banheiros públicos. Com isso, os pilares e calçadas se tornam um banheiro a céu aberto”, diz, recordando que, mesmo as pessoas morando sob o Minhocão, as praças e algumas ruas próximas, a exemplo da Praça Marechal Deodoro, se tornaram um acampamento de barracas onde estão famílias inteiras, crianças e usuários de drogas. Manoel Neves, proprietário de uma padaria, diz que a degradação da região aumentou bastante nos últimos cinco anos. Ele conta que o cenário que era de andarilhos passou a ser dos sem-teto, com famílias inteiras, algumas com crianças. O comerciante avalia que derrubar o Elevado não é a solução e que, mais do que projetar um parque, o poder público deveria investir em moradia para todos, pois, por consequência, criaria oportunidades de emprego. Questionada pela reportagem sobre as políticas públicas que desenvolve no Minhocão, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informou que realiza constantemente Serviços Especializados em Abordagem Social (SEAS) e encaminha as pessoas para centros de acolhida. Detalhou, ainda, que as ações da zeladoria são realizadas diariamente, cumprindo o Decreto Municipal nº 59.246/2020. Não houve menções específicas às ações na região do Elevado Presidente João Goulart, mas a Secretaria disse que estas estão contempladas nas que são feitas na região central, por meio da Subprefeitura da Sé.

SOLIDARIEDADE

Organizações religiosas, ações independentes e coletivos têm buscado ajudar essa população vulnerabilizada. Na Paróquia Santa Cecília, além das doações de cestas básicas para mais de 200 famílias, é distribuído café da manhã para mais de 150 pessoas semanalmente. “Muitas famílias moram em casarões que alugam cômodos e vivem no dilema de comer ou pagar o aluguel. Além dos alimentos, as pessoas estão nos pedindo trabalho, serviços para sobreviver”, afirma o Padre Alfredo Nascimento, Pároco. Perto dali, na organização Clube de Mães do Brasil, mais conhecida por Castelinho, são atendidas diariamente mais de 100 pessoas em situação de vulnerabilidade. Maria Eulina Hilsenbeck, a fundadora, alerta para o aumento da fome e a violência contra as pessoas mais pobres: “O Castelinho é uma espécie de pronto-socorro e nós nunca fomos bem-aceitos, nos acusam de atrair os moradores de rua para a região”. Ao final do Minhocão, na Rua Rego Freitas, o Centro Matilha Cultural, grupo autônomo voltado ao ativismo cultural, também ajuda a população em situação de rua com a distribuição de alimentos, kits de higiene e atrações de cultura. O centro realiza locação de espaços e utiliza uma espécie de “permuta social”, em troca de doações em prol dos mais pobres.


| 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 | Reportagem Especial | 11

Luciney Martins/OSÃO PAULO - abr.2014

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Via-Sacra realizada em 2014 no Minhocão; por cerca de uma década, iniciativa envolveu as paróquias São Geraldo, Santa Cecília e Nossa Senhora da Consolação durante a Sexta-feira Santa

Uma via expressa entre igrejas FERNANDO GERONAZZO

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Quem percorre o trajeto do Elevado Presidente João Goulart passa por três igrejas históricas de São Paulo. Para quem parte do centro da cidade, está a Igreja Nossa Senhora da Consolação; ao longo da via, é possível avistar a Igreja Santa Cecília e, na outra extremidade, em direção ao bairro da Lapa, está a matriz da Paróquia São Geraldo, em Perdizes. Embora existam há mais de cem anos e, portanto, muito antes da construção do Minhocão, essas comunidades eclesiais tiveram suas vidas impactadas diretamente por essa via. A Paróquia São Geraldo, sem dúvida, foi a mais afetada. Antes da existência do Elevado, essa comunidade possuía uma grande participação de fiéis dos três bairros abrangidos por seu território. A construção do Minhocão, no entanto, dividiu o território da Paróquia ao meio. Enquanto os moradores da Barra Funda e da Água Branca ficaram do lado da matriz, os de Perdizes ficaram do outro lado da via e acabaram se aproximando mais de paróquias vizinhas como a Imaculado Coração de Maria (Capela da PUC-SP) e a Paróquia São Domingos. Nos primeiros anos, essa via expressa funcionava todos os dias, inclusive nos fins de semana, o que dificultava o acesso dos moradores à igreja, sobretudo para as missas dominicais. “Nessa época, a Paróquia sofreu uma baixa significativa que

enfraqueceu bastante a vida pastoral”, ressaltou o Cônego José Augusto Schramm Brasil, Pároco. Com o fechamento do Elevado aos domingos e feriados, anos depois, a situação começou a mudar. Aos poucos, as pessoas, sobretudo as mais idosas, começaram a voltar a frequentar as missas na Paróquia São Geraldo. Nos anos 2000, a Paróquia começou a realizar uma Via-Sacra na Sexta-feira Santa, que saía da matriz e seguia pelo Elevado até a Paróquia Santa Cecília, onde havia a oração de conclusão. Em algumas ocasiões, os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Consolação também participaram da Via-Sacra, com um grupo que saía em procissão até se encontrar com o grupo da São Geraldo, para seguirem juntos para a Santa Cecília. Nesse único dia do ano, o barulho dos carros dava lugar aos cantos e preces dos fiéis em procissão, recordando a Paixão de Cristo. Ao longo do percurso, muitos moradores dos prédios que nos outros dias mantinham suas janelas fechadas, para diminuir o ruído e a poluição dos veículos, abriam-nas para acompanhar e participar dessa manifestação religiosa, chegando até mesmo a enfeitá-las. Aos poucos, a Via-Sacra se tornou um marco da Semana Santa naquela região. No entanto, a iniciativa durou apenas dez anos. Cônego José Augusto explicou que a Paróquia São Geraldo começou a enfrentar dificuldades para a liberação da via para o evento por parte do poder público, o que acabou inviabilizando a continuidade da atividade religiosa.

De fato, os diferentes usos do Minhocão influenciam diretamente a vida pastoral da Paróquia São Geraldo. Durante a semana, com a via expressa em pleno funcionamento, o movimento na igreja é menor. Já aos sábados e domingos, quando o Elevado é transformado em uma área de lazer, vê-se cada vez mais a presença de famílias e jovens que se reúnem diante da igreja e, em muitos casos, procuram a Paróquia para celebrações e atendimentos. Já à noite, quando a região fica deserta, aumenta a insegurança, o que dificulta a circulação dos moradores. Nesse sentido, o atual movimento para a transformação do Minhocão em um lugar cada vez mais voltado ao lazer traz esperança aos paroquianos. Segundo o Pároco, os fiéis se dividem entre a opinião de que o Elevado deve ser demolido ou transformado em um parque. Mas é um consenso entre eles que a circulação intensa de veículos deveria ser transferida para outro lugar. De todo modo, mesmo em meio aos desafios próprios de uma comunidade eclesial em um grande centro urbano, a Igreja São Geraldo continua sendo um sinal constante da presença de Deus para os milhares de motoristas que diariamente passam pelo Minhocão. Quem chega e quem sai do Elevado, ao avistar o templo, é convidado a se lembrar de Deus, fazer uma prece e, quem sabe, parar para rezar, participar da missa ou se confessar. “Hoje em dia, poucas pessoas sabem o endereço da nossa Paróquia, mas a conhecem como a ‘Igreja do fim [ou do início] do Minhocão’”, destacou o Pároco.

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Bento XVI nega ter acobertado abusos na Alemanha https://cutt.ly/II06xG7 Papa Francisco aos empresários: ‘Mais dignidade no trabalho, mais qualidade e beleza’ https://cutt.ly/NI06RGZ On-line, às segundas-feiras, uma conversa sobre relação fé e ciência https://cutt.ly/VI071ZJ Igreja em Bangladesh e jovens ajudam sem-teto a sobreviver no inverno https://cutt.ly/PI05dxV Brasil registra recorde de extremos de chuvas no início do verão https://cutt.ly/wI0584s População em situação de rua em São Paulo cresce 31% em 2 anos https://cutt.ly/RI06uRf


12 | Com a Palavra | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 |

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Ricardo Nunes

Prefeito destaca atenção aos vulneráveis e a reformulação logística da capital Facebook.com/Ricardo Nunes

CLEIDE BARBOSA E DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Iniciativas para a geração de emprego e fomento ao empreendedorismo, maior atenção à população em situação de rua e investimentos nas estruturas de saúde, educação, transporte e habitação são algumas das atenções centrais do prefeito Ricardo Nunes (MDB), 54, para a gestão da cidade. Nunes está à frente da Prefeitura desde maio do ano passado, após a morte do então prefeito Bruno Covas. Nesta entrevista ao O SÃO PAULO e à rádio 9 de Julho, o atual chefe do Executivo paulistano também fala sobre a revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE) e ressalta a atuação da Igreja na metrópole: “Quero fazer o devido reconhecimento do trabalho da Igreja Católica, principalmente no apoio e atendimento às pessoas que mais precisam, os mais vulneráveis”. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser ouvida pelo link a seguir: https://cutt.ly/NI14zDX. A pandemia, de algum modo, intensificou a crise social na cidade? Quais foram os principais impactos trazidos à gestão do município? Ricardo Nunes – A pandemia nos demonstrou que há uma desigualdade social muito grande, ampliou muito o número de pessoas pobres na cidade e aquelas em situação de rua, especialmente pelo aumento do desemprego. A Prefeitura tem dado bastante atenção a isso, principalmente na segurança alimentar. Nós distribuímos, desde o início da pandemia, 6,5 milhões de cestas básicas e 7,2 milhões de marmitas. Além disso, nos últimos quatro meses, ampliamos em 1.550 o número de vagas em hotéis diante do aumento de pessoas em situação de rua, em muitos casos famílias inteiras nessa condição. Estamos muito atentos em poder dar a mão às pessoas que mais necessitam neste momento tão difícil. Há algum planejamento específico de políticas públicas para a população em situação de rua nos próximos meses? Sim. Além das vagas em hotéis, ampliamos as vagas em nossos centros de acolhida e abrigos, mas há a situação de famílias inteiras e dos idosos nas ruas. Vamos lançar nas próximas semanas o programa Reencontro, para ampliar ainda mais o atendimento às pessoas em vulnerabilidade. Ele consistirá em unidades habitacionais de pequeno porte. Faremos também uma série de reformas em nossos abrigos e ampliaremos as vagas no Programa Operação Trabalho

(POT) para essas pessoas. Há ainda as ações da assistência social, com orientações e ofertas de cursos. Temos visto muitos fazendo ações políticas para que essas pessoas se mantenham nas ruas, mas não achamos que seja digno que elas estejam em um local sem um colchão, uma cama e um banheiro para poder utilizar. Vamos investir muitos recursos para mudar essa situação, além de fazer todo um trabalho de fomentar a economia da cidade, a fim de que haja a retomada econômica, a geração de emprego, para que assim as pessoas tenham o seu sustento e possam viver com dignidade. Como a Prefeitura tem buscado apoiar novos modelos de negócios e as novas realidades do mundo do trabalho, visto que a pandemia trouxe mudanças profundas, como a adoção do home office pelas empresas? Nós fizemos uma alteração na legislação tributária da cidade: reduzimos o Imposto Sobre Serviços (ISS) para vários setores. Por exemplo: no de intermediação de serviços por aplicativos, reduzimos o ISS de 5% para 2%. Isso faz com que as empresas que estão aqui permaneçam e que atraiamos outras para a cidade. Além disso, reduzimos o ISS de toda a área de audiovisual. Também para contribuir com a economia, estamos fazendo um esforço muito grande para não haver a correção da tarifa de ônibus, mas lembro que o diesel no ano passado aumentou quase 50%, impactando bastante o custo do transporte. Outro fato é que reduzimos de forma substancial todo o imbróglio para se abrir

uma empresa e mantê-la. Antigamente, eram necessários seis meses para isso. Hoje, para aquelas pequenas, que chamamos de baixo risco, é possível obter a licença de funcionamento no mesmo dia por meio do site da Prefeitura. Além disso, nos últimos seis meses, abrimos sete unidades do TEIA – ambientes de coworking gratuitos – em vários bairros da cidade, principalmente da periferia. Nelas, há uma estrutura de computadores e orientação para que a pessoa possa desenvolver a condição de ser autônomo e exercer as suas atividades. Está em revisão o Plano Diretor Estratégico da cidade. A partir desse processo, o que esperar da São Paulo do futuro? A revisão do plano diretor e toda a questão da legislação urbanística também estão no contexto da retomada econômica da cidade, da geração de emprego. O artigo 4º do Plano Diretor Estratégico diz que nós deveríamos ter feito a revisão no ano de 2021. Tendo em vista a pandemia, eu enviei o projeto para a Câmara e houve a autorização para que essa revisão ocorra até julho deste ano. A revisão do plano diretor tem muitos aspectos de cunho ambiental, urbanístico e de mobilidade. Precisamos fazer uma reformulação do sistema logístico da cidade. Esse debate está sendo colocado para a sociedade para que nós possamos colher todas as sugestões. São feitas audiências públicas, nas quais a população nos subsidia com sugestões com base no que vivencia no seu dia a dia.

Antes de ser eleito como vice-prefeito, em 2020, o senhor foi vereador. Estando à frente da Prefeitura desde maio de 2021, o que descobriu sobre as potencialidades e desafios da cidade? Esta é uma cidade de 12,5 milhões de habitantes, com R$ 80 bilhões de orçamento e com um número enorme de dificuldades. Nós faremos muitas obras de mobilidade, requalificação de cinco corredores, o VRT Radial Leste, o VRT Aricanduva e aumentaremos em 300km o nosso sistema cicloviário. Além disso, vamos entregar 49 mil unidades habitacionais, construir 12 Centros Educacionais Unificados (CEUs) e 15 novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Não se faz todo esse conjunto de obras se não houver o recurso, de modo que é muito importante a gestão financeira da cidade. O fato de eu ter sido relator de orçamento na Câmara Municipal durante muitos anos e também ser da comissão de finanças, me trouxe uma bagagem grande, e isso se soma à minha experiência de vereador. Conhecedor dos problemas dos bairros, tenho uma condição de muita tranquilidade para dar andamento às ações da Prefeitura, isso considerando que teremos recursos para poder manter os serviços de qualidade. Para finalizarmos, como o senhor avalia o papel da Igreja Católica na cidade, especialmente neste momento tão desafiador de pandemia? É impressionante o que a Igreja Católica realiza de serviços na nossa cidade. No caso da população em situação de rua, por exemplo, eu já recebi aqui na Prefeitura os membros da Aliança de Misericórdia, da Missão Belém e de outras frentes da Arquidiocese que desenvolvem esses atendimentos. Eles não recebem nenhuma verba da Prefeitura. É um serviço fundamental! Também há ações em outras áreas. Na Saúde, por exemplo, temos um convênio com a organização Santa Marcelina, que cuida de quase todos os equipamentos de saúde da zona Leste. Na distribuição de cestas básicas, Dom Odilo Scherer indicou que eu dialogasse com o Padre Tarcísio Mesquita, do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, a fim de nos ajudar a distribuí-las nas regiões que mais precisam. Como prefeito de São Paulo, não somente por ser católico praticante, mas por estar vivenciando todos os dias as necessidades da cidade, quero fazer o devido reconhecimento do trabalho da Igreja Católica, principalmente no apoio e atendimento às pessoas que mais precisam, os mais vulneráveis, que são tratados pela Igreja com tanto carinho.

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.


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| 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 | Papa Francisco | 13

Papa institui ministérios de leitor e catequista a leigos Vatican Media

FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

Durante a missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, por ocasião do Domingo da Palavra de Deus, dia 23, o Papa Francisco conferiu os ministérios de leitor e catequista a um grupo de leigos. Entre os que receberam o ministério de catequista estavam dois brasileiros: Regina de Sousa Silva e Wanderson Saavedra Correia, ambos da Diocese de Luziânia (GO). O ministério de leitor tem a sua origem nas antigas “ordens menores” recebidas pelos candidatos ao sacerdócio antes da ordenação diaconal. A partir da reforma promulgada por São Paulo VI em 1972, o leitorado, assim como o acolitado, passou a ser conferido de forma estável também a homens leigos, ressaltando a relação desses ministérios ao sacerdócio batismal dos fiéis. Em janeiro de 2021, o Papa Francisco os estendeu às mulheres. Já o ministério de catequista, ofício antigo na Igreja, tornou-se um ministério instituído em maio

de 2021. Na ocasião, Francisco ressaltou a importância desse serviço realizado em grande parte pelos leigos. Para isso, em janeiro, a Santa Sé publicou um rito próprio para esse novo ministério.

APAIXONAR-SE PELA SAGRADA ESCRITURA

Na homilia, Francisco destacou que os leitores e catequistas são chamados à tarefa de servir o Evange-

lho, anunciá-lo para que a sua consolação chegue a todos. Em seguida, convidou todos os fiéis: “Apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura, deixemo-nos interpelar profundamente pela Palavra, que desvenda a novidade de Deus e nos leva a amar incansavelmente os outros. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Vamos ouvi-la, rezá-la e colocá-la em prática”.

Dia Mundial das Comunicações Sociais: Ouvir é essencial para o diálogo A Santa Sé divulgou na segunda-feira, 24, a Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2022, a ser celebrado em 29 de maio. No texto, o Papa Francisco diz que a escuta é um primeiro pas-

so indispensável na comunicação humana e uma dimensão do amor. O título da mensagem deste ano – “Escutar com o ouvido do coração” – convida a refletir que ouvir envolve mais do que simplesmente o sentido

da audição. A verdadeira escuta é um fundamento de relacionamentos genuínos e é fundamental para o relacionamento entre Deus e a humanidade. A íntegra pode ser lida pelo link a seguir: https://cutt.ly/JI2c1Q9. (FG)

‘Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária’ Na sexta-feira, 21, o Papa Francisco recebeu os participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé. O Pontífice baseou o seu discurso em três palavras-chave: dignidade, discernimento e fé. Referindo-se à dignidade, o Santo Padre enfatizou que essa é “o pré-requisito inalienável para a proteção de uma existência pessoal e social, e a condição necessária para que a fraternidade e a amizade social sejam realizadas entre todos os povos da Terra”. Em seguida, Francisco afirmou que o discernimento encontra uma aplicação necessária na luta contra os abusos de todo tipo. “A Igreja, com a ajuda de Deus, leva adiante com determinação o seu compromisso de fazer justiça às vítimas de abusos por parte de seus membros, aplicando com especial cuidado e rigor a legislação canônica prevista”, afirmou. O Papa recordou, ainda, a recente atualização das normas canônicas para esses crimes, com o objetivo de tornar a ação judicial mais incisiva. “Isso por si só não pode ser suficiente para conter o fenômeno, mas é um passo necessário para restabelecer a justiça, reparar o escândalo e emendar o réu”, acentuou.

FÉ EM CRISE

Por fim, ao tratar da fé, o Bispo de Roma recordou que o fundamento dessa Congregação é o de não apenas defender, mas também de promover a fé. “Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”, sublinhou. “Nunca devemos esquecer que uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida”, completou o Pontífice. (FG)


14 | Fé e Vida/Geral | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 |

Liturgia e Vida 4º DOMINGO DO TEMPO DO COMUM 30 DE JANEIRO DE 2022

O amor é paciente PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Jesus nos manda amar: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27). Tudo depende disso, pois, “se eu não tiver amor, nada serei” (1Cor 13,2)! A questão, porém, é o que de fato significa amar. A palavra amor é comumente usada para expressar simples inclinações naturais. Aplica-se indistintamente a Deus, a pessoas, animais e coisas. Depois da revolução sexual, a expressão “fazer amor” passou a designar fornicação, prostituição e todo tipo de depravação. Nas páginas policiais, acha-se quem tenha matado “por amor”. Há quem abandone covardemente a família e se justifique: “Foi por um grande amor”. Pais mimam os filhos, contribuindo para defeitos graves de caráter; sacerdotes relativizam preceitos morais, pondo em risco a salvação de fiéis… E a justificativa tantas vezes é que “precisamos agir com amor!”. Egoístas, corruptos, libertinos, as celebridades mais fúteis, pessoas de todas as orientações políticas e crenças são capazes de afirmar em uníssono: “Este mundo precisa de amor”… Em qualquer muro imundo de São Paulo, lê-se numa pichação: “Mais amor, por favor”. Aliás, jamais se ouviu dizer que alguém tenha reconhecido: “Eu sou contra o amor”. No entanto, mais do que nunca, cumpre-se a profecia de Jesus: “Por causa da multiplicação da iniquidade, o amor de muitos se extinguirá” (Mt 24,12). O remédio para isso é Cristo! Sua vida compagina as muitas facetas do perfeito amor, inseparável da verdade: bondade com os doentes e pobres; amizade paternal com os discípulos; sinceridade com os que erram; ternura com os pecadores; energia e dureza com os obstinados; generosidade na oração e na ação. Na Cruz, enfim, Ele mostrou que “ninguém possui amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Segundo São Paulo, o amor é antes de tudo “paciente”; como Cristo, sabe sofrer pelos outros “suportando tudo”. O Apóstolo mostra ainda outros traços do verdadeiro amor: “É benigno; não é invejoso, não é vaidoso, não se ensoberbece; não faz nada de inconveniente, não é interesseiro, não se encoleriza, não guarda rancor” (1Cor 13,4-5.7). Se meditarmos nestas palavras, veremos como nosso coração precisa ser purificado e ajudado pela graça! O amor é mais do que um sentimento, é uma escolha da vontade. Contudo, tampouco se reduz a um imperativo moral. A força de vontade não basta; precisamos da fé e da graça divina para amar, pois o amor verdadeiro é um dom de Deus! Ele foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo! São João é claro a este respeito: “O amor vem de Deus”, pois “Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Daí se entende por que o amor será o critério no dia de nosso juízo. E por que São Paulo diz que “o amor não acabará nunca” (1Cor 13,8). Deus quer que nosso amor seja semelhante à caridade de Cristo que “amou até o fim” (Jo 13)! A eternidade será a manifestação gloriosa do amor divino, ao qual já nos unimos nesta vida por meio da “fé operante pela caridade” (Gl 5,6).

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Canção Nova em São Paulo inaugura a Capela Santa Clara e a nova redação do jornalismo Luciney Martins/OSÃO PAULO

Dom Odilo abençoa espaços da emissora, na Vila Mariana e destaca: ‘o trabalho aqui realizado é uma referência na busca da verdade’

ARCEBISPO METROPOLITANO ABENÇOOU OS ESPAÇOS DA EMISSORA NA CAPITAL PAULISTA ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na quinta-feira, 20, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na sede da Canção Nova em São Paulo, onde foi inaugurado o novo espaço da redação do jornalismo Canção Nova na capital paulista e abençoou a Capela Santa Clara. Concelebraram os Padres Wagner Ferreira, Vice-presidente da Comunidade Canção Nova, e João Gualberto e Paulo Henrique, apresentadores e colaboradores da Comunidade. A emissora Canção Nova foi criada em Cachoeira Paulista (SP) pelo Monsenhor Jonas Abib e começou suas transmissões na capital paulista em fevereiro de 2000. Atualmente, a TV Canção Nova em São Paulo produz vários programas e, desde 2019, a edição matinal do telejornal “Canção Nova Notícias” é destaque na grade deste veículo.

EVANGELIZAÇÃO

Na celebração, o Cardeal destacou o trabalho missionário realizado pela Comunidade Canção Nova no Brasil e, de modo particular, na Arquidiocese de São Paulo, e enfatizou que a presença da entidade contribui para a evangelização, sobretudo pelos meios de comunicação. “Agradeço o serviço prestado pela Canção Nova em São Paulo, no Brasil e no exterior. Na capital paulista, são produzidos e transmitidos muitos programas que beneficiam a evangelização de toda a Igreja. Que

Deus continue a iluminar e fortalecer este trabalho missionário a serviço da vida e da esperança”, disse Dom Odilo. Recordando a memória litúrgica de São Sebastião, Mártir, e São Fabiano, Papa e Mártir, o Cardeal Scherer enfatizou que os Santos “são testemunhas fiéis de Jesus Cristo e do Evangelho e contribuíram muito com a missão da Igreja”, disse, recordando que, na atualidade, os cristãos ainda sofrem perseguições e martírios, pois, “recentemente, noticiou-se o massacre de cristãos em Mianmar: queremos pedir por todos os cristãos que vivem essa situação para que tenham força, resistência, perseverança na fé e no testemunho do Evangelho”.

ritualidade da Comunidade Canção Nova. O Padre Wagner Ferreira falou à reportagem sobre a importância de unir os trabalhos profissionais à espiritualidade. “Nós, da TV Canção Nova, reservamos um espaço para as celebrações eucarísticas e momentos pessoais de oração aos colaboradores. Somos abençoados por ter Jesus presente no ambiente de trabalho.” O Sacerdote ressaltou também que a Capela é o local e o momento do encontro e da escuta: “Na oração, diante de Jesus Eucarístico, encontramos toda força e toda graça para comunicar o Evangelho pelos meios de comunicação”.

ORAÇÃO E AÇÃO

O novo espaço dedicado à redação reforça a expansão da missão e do jornalismo da emissora e confirma a presença evangelizadora da Canção Nova na cidade. Rodrigo Luiz dos Santos, jornalista e diretor de jornalismo, destacou a importância deste momento. “Nossa missão é comunicar Deus e, para isso acontecer, precisamos estar unidos a Ele para que não se tenha uma comunicação vazia. A produção de conteúdo e a redação do jornalismo têm a clara missão de estar a serviço da vida e da esperança”, disse. O jornalista enfatizou que o “nosso objetivo e missão é priorizar e proporcionar ao telespectador conteúdo que serve à vida e à esperança”.

O Arcebispo recordou que o Jornalismo e a Comunicação devem estar sempre a serviço da verdade, da justiça e da evangelização a serviço da vida. “O trabalho aqui realizado é uma referência na busca da verdade – seja da informação, das reflexões sobre a vida, sobre a pessoa humana, seja também do anúncio das verdades religiosas. Que todos os que aqui trabalham possam transmitir esse bonito testemunho”, afirmou. Dom Odilo ressaltou a importância de uma capela no ambiente de trabalho da Canção Nova. “Santa Clara é exemplo de fé e amor a Cristo e aos irmãos, padroeira dos comunicadores. Que este lugar seja de graça, de oração, de escuta profunda da Palavra de Deus e encontro íntimo com o Senhor”, disse, salientando “que Deus habite este lugar e proteja a todos os que aqui trabalham, que esta Capela seja um espaço para nutrir o espírito, motivo de alegria, conforto, de consolo a todos os que aqui frequentam”.

TRABALHO SANTIFICADO

O “trabalho santificado” e a “oração ao ritmo da vida” fazem parte da espi-

EXPANSÃO DA MISSÃO

ONDE ASSISTIR

Os paulistanos podem assistir à TV Canção Nova pelo canal 59.1. Também é possível sintonizar pela Sky, canal 8; pela Oi, TV 30; Claro, TV 194; Vivo, TV 233; pelo site tv.cancaonova.com, pelas redes sociais, canal do YouTube ou pelo aplicativo para celular TV Canção Nova, disponível na Play Store ou App Store.


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| 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 | Reportagem/Fé e Vida | 15

‘Linguagem neutra’: o debate pela inclusão vai muito além da questão de gênero JOSÉ FERREIRA FILHO

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Ao longo do tempo, aspectos da vida em sociedade até então consagrados tendem a se revestir de uma nova condição: uns deixam de existir, outros são atualizados e novos passam a fazer parte do dia a dia das pessoas. Isso é motivado por diversas razões, como o avanço tecnológico, o advento de novas conjunturas econômicas, mudanças culturais, necessidades sanitárias, entre outras. De alguns anos para cá, um movimento presente em todo o Brasil, liderado por vários grupos que clamam por maior espaço de representação e igualdade social, tem reivindicado a atualização de um instrumento essencial, considerado a base de toda a comunicação, e o mais utilizado pelos brasileiros no cotidiano: a língua portuguesa.

REPRESENTATIVIDADE

Os integrantes desses grupos, conhecidos pela sigla LGBTQIAP+, afirmam que a mudança linguística é necessária pelo fato de essas pessoas não se identificarem com os gêneros biológicos binários masculino e feminino e, por isso, a língua de Camões, hoje, segundo elas, não seria capaz de abarcar as multifacetadas formas de representá-las em relação à sua visão acerca da própria sexualidade. Além de alegar essa falta de representatividade, essas pessoas consideram que a língua portuguesa seria machista, justamente pelo fato de que, ao utilizar determinadas palavras que se referem a ambos os gêneros gramaticais, a terminologia masculina é utilizada em detrimento da feminina, gerando assim o que consideram uma desigualdade.

PROPOSTA

A fim de sanar essa “disparidade” e eliminar preconceitos, tais grupos propõem a modificação da língua portuguesa por meio da chamada “linguagem neutra”, com a adoção de determinadas terminações nas palavras que, acreditam, as deixariam sem vínculo algum a um determinado gênero, o que consideram uma maneira de tornar a língua mais tolerante. Assim, muitos têm empregado palavras que seriam “neutras”: usam outro grafema no lugar da vogal desinencial (amig@s, alunes, professorxs), os dois gêneros em todas as frases (os prezados irmãos e

as prezadas irmãs – a chamada ‘linguagem inclusiva’) ou apresentam as duas vogais (as/os queridas/os amigas/os). “O grande problema dessa percepção machista da gramática portuguesa é confundir gênero gramatical com gênero/sexo biológico (ou identitário). O gênero gramatical não reflete necessariamente o sexo da pessoa. Caso contrário, teríamos que fazer uma revisão profunda em palavras como ‘a criança, a vítima, a testemunha, a pessoa’, nas quais os masculinos não estariam contemplados. O poeta, o canalha, o déspota, o motorista seriam menos homens porque a palavra termina em ‘a’?”, questiona Rafael Rigolin, que, além de biólogo, é especialista em Etimologia.

EXPLICAÇÃO

É necessário ressaltar que as características presentes na língua portuguesa foram herdadas da língua latina. No latim, há os gêneros masculino, feminino e neutro. O neutro serve para coisas, grupos de homens e mulheres

MARCAÇÃO DE GÊNERO

É exatamente a condição apontada por Joaquim Mattoso Câmara Júnior, importante linguista e pesquisador brasileiro, falecido nos anos 1970, em seus estudos sobre a linguagem. Segundo ele, o gênero feminino é, em língua portuguesa, uma particularização do masculino, feita pela terminação “a” em contraposição à terminação neutra “o”. “Os substantivos com marca de gênero, em português, coincidem exatamente com os que estamos acostumados a considerar femininos. Os outros casos, todos, seriam considerados sem gênero, inclusive os nomes considerados masculinos”, diz Sírio Posseti, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista ao jornal Gazeta do Povo. “É por isso que dizemos ‘o circo tem dez leões’ mesmo que tenha cinco leões e cinco leoas, mas não dizemos, no mesmo caso, que tem dez leoas. Também é por isso que se pode dizer que ‘todos nascem iguais em direitos’, o que inclui as mulheres, Pixabay mas não se incluiriam os homens se a forma fosse ‘todas nascem iguais em direitos”, explica Posseti.

INCLUSÃO DE FATO

(ou machos e fêmeas) e grupos em que o sexo não é relevante. Com a evolução do latim para o português, apenas por uma questão de similaridade fonética, o gênero neutro se mesclou ao masculino. Por exemplo, amicus (masculino) e amicum (neutro) se tornaram “amigo” em português; amica virou “amiga”. “Então, a palavra masculina não se refere só a homem. Se alguém disser ‘não tenho amigo algum’, entende-se que ela não tem amizade com nenhuma pessoa. Se quiser salientar que não tem amigos do sexo masculino, terá que dizer ‘não tenho amigo homem’. Isso porque amigo, naquele contexto inicial, não denota sexo, ou seja, é neutro”, explica Rigolin. O feminino, por sua vez, é um gênero muito particular e o único que recebe marcação na língua portuguesa. “As mulheres têm um gênero gramatical que as identifica como grupo. No exemplo ‘as professoras’, não há dúvidas da composição 100% feminina. Se a língua portuguesa fosse machista, os homens teriam um gênero que os representasse como grupo, só deles”, conclui Rigolin.

Além do fato de que nenhuma língua muda seu sistema flexional por vontade de um grupo, mas sim de forma natural e paulatina, e de o gênero gramatical não ter relação com o gênero identitário, normalmente quem adota “x”, “@” e similares para não marcá-lo, negligencia deliberadamente outros aspectos práticos. Esses grafemas tornam as palavras impronunciáveis, gerando desconforto à leitura e, principalmente, à pronúncia. Como se lê “alunxs”, por exemplo? “O que se chama de ‘linguagem inclusiva’ acaba contraditoriamente excluindo outros grupos. Palavras com ‘x’ e ‘@’ não ajudam disléxicos, estrangeiros, cegos que usam aplicativos de leitura, pessoas com todo tipo de problema de visão, alunos em fase inicial de alfabetização, pessoas com dificuldade cognitiva de leitura, e outras mais”, afirma Rigolin. Ao contrário, o uso da linguagem neutra exclui pela fonética e ausência de regra linguística a maioria desses grupos, trazendo dificuldade e, em alguns casos, até mesmo impedimento de adaptação. Se a questão é denotar empatia, se a luta é pela igualdade, a sociedade deve voltar seu olhar não apenas para um grupo específico, mas para todos.

Fé e Cidadania A lepra das estruturas WAGNER BALERA Um dos livros do Antigo Testamento, o Levítico, trata especificamente da lepra das estruturas, a partir do capítulo 14. Desde logo se faça a ressalva terminológica. Aqui não se cuida da doença que atinge as pessoas. Essa é a hanseníase, consoante o conceito científico que lhe deu o dr. Hansen, da Noruega. Também se padece, no Brasil, desse grave mal. Aliás, não logramos sair do desonroso segundo lugar nos países onde essa milenar doença ainda se alastra com muita intensidade. Entretanto, o objeto deste texto se refere somente à lepra das estruturas. Tal doença se identifica quando as paredes atingem um tom esverdeado ou avermelhado. Interessa perquirir alguns exemplos dessa doença na atualidade. Vejamos o que ocorre com o orçamento, uma peça-chave para que o plano financeiro de uma casa funcione de maneira adequada. Evidentemente, essa peça deve ser de domínio amplo e irrestrito, para que os donos da casa possam saber, a qualquer tempo, se o dinheiro nela vertido está sendo bem aplicado. A lepra consiste em se pretender tornar secreto o orçamento. Somente os alquimistas dessa peça podem saber onde, para que, quando e como está sendo gasto o dinheiro. Ora, com o ocultamento dos gastos, pouco a pouco todas as estruturas da casa serão contaminadas, porque todos os interessados na gestão dos dinheiros também quererão o privilégio leproso de gastar os recursos sem revelar o destino. É muito mais prático não ter de prestar contas a ninguém. Desburocratiza tudo. Essa mesma mancha esverdeada ou avermelhada pode ser encontrada, ainda, quando se verifica a contaminação, acidental ou criminosa, de bancos de dados. Suponha-se, apenas para argumentar, como seria de gravidade ímpar se o banco de dados usurpado contivesse dados de saúde dos habitantes de uma casa, e que a contaminação expusesse os males que acometem aquele grupo. Quantas implicações éticas e morais não decorreriam da publicação desses registros? Nas duas situações aqui relatadas, o assunto se resolveria com uma simples quarentena. As pedras e a argamassa do orçamento e do banco de dados seriam substituídas, e tudo ficaria limpo. Caminhemos, porém, para situação extremada. A falta da argamassa necessária para a reconstrução da casa se deveu, sobretudo, em razão de detalhe técnico aparentemente sem importância. Resolveram realizar enquete envolvendo toda a população da cidade para perguntar (mesmo a pessoas leigas, que nada entendem do tema) que tipo de material seria o melhor para a tarefa de reconstrução. Um material imune a toda a lepra, tanto a esverdeada quanto a avermelhada. E ninguém soube entender muito bem o que estava sendo indagado. Então, o dono da casa ordenou que as pedras, a madeira, o reboco e tudo o mais fossem levados para fora da casa, um lugar para sempre declarado impuro. Wagner Balera é professor titular de Direitos Humanos na Faculdade de Direito da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.


16 | Reportagem | 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2022 |

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Em missa, Dom Odilo celebra o patrono da Arquidiocese e o aniversário da cidade Fotos: Luciney Martins/OSÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

A festa da Conversão de São Paulo Apóstolo, patrono da Arquidiocese de São Paulo, foi celebrada na terça-feira, 25, com uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. Na ocasião, também foi comemorado o 468º aniversário de fundação da capital paulista. A Eucaristia solene foi concelebrada pelos bispos auxiliares e padres da Arquidiocese e contou com a participação de autoridades civis e militares, entre as quais o prefeito Ricardo Nunes. Também estiveram presentes representantes de igrejas de confissão cristã e de diferentes tradições religiosas.

ENCONTRO COM CRISTO

Na homilia, Dom Odilo ressaltou que a festa da Conversão de São Paulo recorda um momento fundamental da vida desse Apóstolo, considerado, ao lado de São Pedro, uma das colunas da Igreja. “Sem a pregação de São Paulo, talvez o Evangelho não teria alcançado tantos lugares, tantos países, com tanta ênfase como alcançou”, afirmou. O Cardeal recordou que a experiência vivida por São Paulo no caminho para Damasco não pode ser interpretada apenas como uma conversão de hábitos e costumes, mas uma mudança fundamental de rumo na vida, a partir de um grande encontro pessoal com Jesus Cristo. Tal encontro, recordou o Arcebispo, impeliu o Apóstolo a

Cardeal Scherer preside missa na festa da Conversão de São Paulo, na terça-feira, 25, quando também se comemora o aniversário da capital paulista

confiar toda a sua vida a Cristo, a ponto de lhe indagar: “Senhor, o que queres que eu faça?”. E prosseguiu: “Olhando para São Paulo, queremos pedir a ele que, com seu exemplo, nos ajude a fazer as escolhas fundamentais da nossa vida, que deem o rumo certo e a força necessária para vivermos segundo os valores que esse rumo nos indica; não tendo desprezo por este mundo, mas o desejo de construir um mundo segundo o bem”.

MISSÃO DA CIDADE

Ao se referir à fundação da cidade de São Paulo, Dom Odilo sublinhou que a grande metrópole nasceu, em 1554, em um pequeno núcleo urbano em torno de uma missão dos jesuítas com os indígenas no planalto paulista, tendo como centro uma escola e uma

No início da missa na Catedral, o Cardeal Odilo Pedro Scherer depositou diante da imagem de São Paulo o quadro com a bula do Papa Pio XII, com a qual o Apóstolo dos Gentios foi proclamado padroeiro da cidade e do estado de São Paulo, em 1958, após pedido do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então Arcebispo Metropolitano.

capela. Ele acrescentou que a ideia dos missionários era “anunciar o Evangelho e construir uma comunidade humana que pudesse viver humanamente bem, em que houvesse educação, cuidados da saúde, segurança e a paz”. “Este projeto inicial de cidade permanece como referência também para a cidade que devemos construir ano após ano. Uma cidade que se interesse pela pessoa humana, voltada para a convivência pacífica, harmônica entre os muitos diversos que somos hoje. Uma cidade em que conte muito a educação, que englobe a todos, que não exclua ninguém, que se interesse pelo diálogo para a superação dos conflitos, que olhe para a edificação de uma comunidade humana em que os conflitos sejam resolvidos pelo diálogo e as carências sejam resolvidas

pela solidariedade e justiça”, completou o Purpurado. Por fim, o Cardeal Scherer pediu a intercessão de São Paulo por todos os habitantes da cidade. “Que todos nos sintamos encorajados a dar todos os dias, com grandeza de alma, como São Paulo deu, a nossa participação para a edificação da nossa enorme e querida cidade de São Paulo”, concluiu. Ao fazer sua saudação, o prefeito Ricardo Nunes salientou que São Paulo é uma metrópole que não para de crescer, sendo, ao mesmo tempo, uma cidade muito rica e muito pobre. Nesse sentido, Nunes reforçou o compromisso do poder público municipal para atender às pessoas mais vulneráveis e agradeceu à Igreja Católica o seu empenho na construção de uma cidade melhor.

Na manhã da terça-feira, 25, houve o tradicional ato cívico em homenagem aos fundadores da cidade de São Paulo no monumento erguido diante do Pateo do Collegio, com a presença do prefeito Ricardo Nunes e do Cardeal Odilo Scherer.


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