O São Paulo - 3375

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3375 | 8 a 14 de dezembro de 2021

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Chamados a viver o único e permanente sacerdócio de Cristo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padres Álvaro, Ignacio, Claudinês e Nicolò, ordenados presbíteros para a Arquidiocese de São Paulo, em celebração presidida pelo Cardeal Odilo Scherer, na Catedral da Sé, dia 4

No sábado, 4, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu, na Catedral da Sé, a ordenação de quatro novos padres para a Arquidiocese de São Paulo. Pela imposição das mãos do Arcebispo Metropolitano, os até então diáconos Álvaro, Claudinês, Ignacio e Nicolò receberam o segundo grau do sacramento da Ordem, por meio do qual, pela ação do Espírito San-

to, são configurados a Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote. O Concílio Vaticano II ressalta que é pelo ministério dos presbíteros que “o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em união com o sacrifício de Cristo, mediador único”, que é oferecido na Eucaristia de modo sacramental “pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja, até quando mesmo Senhor vier”.

A doutrina católica também ensina que todo padre é um alter Christus, que age na própria pessoa do Cristo Ressuscitado, o mesmo que continua a santificar, ensinar e pastorear o povo de Deus. O segredo para um fecundo ministério sacerdotal está na busca constante da imitação de Jesus Cristo. Páginas 12 e 13

Editorial

Espiritualidade

Encontro com o Pastor

Liturgia e Vida

Escolhido entre os homens para a todos conduzir ao caminho do Céu

Advento: um tempo forte de oração, de preparação e de purificação

A Igreja está próxima do povo neste tempo de incertezas e sofrimentos

No Senhor, todas as alegrias se tornam maiores e duradouras

Papa pede atenção aos migrantes e maior irmandade entre os cristãos

Paróquia Pessoal Coreana torna-se igreja de peregrinação em SP

Com tecnologia 5G, Brasil ingressa na revolução da conectividade

Fiéis na Região Belém agradecem o episcopado de Dom Luiz Carlos Dias

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2 | Encontro com o Pastor | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

O

fim do ano se aproxima e, com ele, o tempo de fazer avaliações e balanços, mesmo que não sejam balanços comerciais ou econômicos. Tento fazer aqui um breve balanço da vida eclesial, especialmente referente à Igreja no Brasil. Este ano foi, certamente, um ano difícil, sobretudo por causa da pandemia de COVID-19, que nos acompanhou no ano todo e arruinou relacionamentos, agendas e programas. Vivemos a experiência da nossa precariedade e da angústia diante do amanhã. Quem estava seguro de não ser infectado, mesmo tomando todas as precauções recomendadas? E, pegando a COVID-19, quem podia saber como as coisas haveriam de terminar? De fato, experimentamos nossa incapacidade diante de um mal que se difundia rapidamente e cujo agente é tão minúsculo, a ponto de sermos levados a desprezá-lo.

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Há esperança! Quem está vivo e se encontra bem, agradeça a Deus e a tantas pessoas que fizeram a sua parte para debelar esse inimigo invisível. Ainda bem que no Brasil a vacinação avançou, apesar de alguns bolsões negacionistas, que ainda resistem à vacina. Em nossas igrejas, acompanhamos o sofrimento do povo nessa travessia para dias melhores. Houve uma enorme mobilização da caridade e da solidariedade para amparar os doentes, pobres e famintos. Nunca se distribuiu tanto alimento às pessoas desvalidas. No âmbito das comunidades eclesiais e do clero, as vítimas foram relativamente poucas, apesar de ter havido muitos infectados. Durante este tempo, fizemos experiências pastorais novas na vida pastoral da Igreja. Fomos obrigados a usar os recursos da internet e das novas mídias sociais para manter vivas as nossas comunidades e um mínimo de atividades pastorais. Fizemos um aprendizado, nesse sentido, que nos será útil também daqui por diante. Também aprendemos a zelar mais pela nossa saúde e a dos outros. Aos poucos, a participação mais intensa e presencial nas celebrações e iniciativas pastorais está voltando. Cuidados ainda são ne-

cessários, mas nos encoraja a vacinação completa de grande parte da população. Olhamos para o próximo ano com maior esperança e otimismo, sem baixar a guarda em relação aos prudentes cuidados, ainda necessários, para evitar o contágio e o surgimento de novos surtos da pandemia. Enquanto isso, já estão sendo retomadas as atividades do nosso sínodo arquidiocesano, suspenso durante os dois anos da pandemia. Após a Páscoa de 2022, serão feitas algumas atividades prévias à assembleia sinodal arquidiocesana, que deverá elaborar propostas e diretrizes para que a nossa Igreja, em São Paulo, caminhe “em comunhão, conversão e renovação missionária”, lembrando que somos “testemunhas de Deus nesta cidade”. Num horizonte mais amplo, acompanhamos o caminhar da Igreja em todo o Brasil que, em cada diocese e comunidade eclesial, se esforça por estar próxima do povo neste tempo de incertezas e sofrimentos. Na América Latina e no Caribe, durante o ano de 2021, houve a preparação e a realização da Assembleia Eclesial desta porção continental. O Papa orientou que, na comemoração dos 14 anos da Conferência de Aparecida, a Igreja em nosso continente

avaliasse os frutos já produzidos por essa Conferência, mas também as lacunas e potencialidades que esse rico documento ainda tem a oferecer à vida e missão da Igreja. Após longa preparação, mediante um processo de escuta e discernimento que envolveu a Igreja de todos os países latino-americanos e caribenhos, a realização da Assembleia foi uma rica e boa experiência de Igreja “sinodal”. A iniciativa é promissora para outras semelhantes que poderão acontecer com a Igreja presente em outras partes do mundo. Enquanto era preparada e realizada a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, o Papa Francisco convocou a Igreja inteira para o sínodo de outubro de 2023. Desde logo, a preparação daquela assembleia, já iniciada, também está sendo ocasião para uma experiência de “Igreja sinodal”, que caminha “em comunhão, missão e participação”. Isso não deveria ser visto como novidade de última hora, mas como redescoberta daquilo que a Igreja é chamada a ser, por sua própria natureza, desde o princípio. Temos, pois, um caminho promissor pela frente. Caminhemos com confiança e alegria! O Espírito Santo vai renovando a face da terra e da Igreja. Não lhe oponhamos resistência!

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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Arquivo pessoal

Atos da Cúria Reprodução

45 ANOS DE SACERDÓCIO Na terça-feira, 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, comemorou 45 anos de ordenação presbiteral. Ele foi ordenado padre nesta data em 1976, na cidade de Quatro Pontes (PR), Diocese de Toledo, por Dom Armando Círio (foto). Realizou seus estudos preparatórios no Seminário Menor São José, em Cascavel (PR). O curso de Filosofia foi realizado no Semi-

nário Maior Rainha dos Apóstolos, em Curitiba (PR), e na Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo (RS), entre 1970 e 1975. Cursou Teologia no Studium Theologicum, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba. Dom Odilo foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo em 2001, por São João Paulo II, e nomeado Arcebispo de São Paulo, em 2007, por Bento XVI.

Cardeal Scherer ordenará 13 diáconos na Catedral da Sé REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

No sábado, 11, às 15h, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, ordenará 13 candidatos ao diaconato, primeiro grau do sacramento da Ordem. Uma vez ordenados, ele se tornarão diáconos para servir à Igreja e ao povo de Deus. Destes, nove receberão a ordenação diaconal como uma das etapas preparatórias em função do ministério presbiteral a ser conferido futuramente. Portanto, se tornarão diáconos seminaristas. Entre estes, quatro fizeram sua caminhada formativa no Seminário de Teologia Bom Pastor – Alan Santos, 33; Cleyton Pontes Silva, 26; Lucas Antonio S. Martinez, 26; e Nilo Massaaki Shinen, 43 –; um no Seminário Missionário Ar-

quidiocesano Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo – Elias Honório de Castro, 26 –; e quatro são vinculados à Ordem de Santo Agostinho (OSA) – Frei Fábio Brandão Silva, 41; Frei Jean Alves de Lima, 41; Frei Pedro Félix R. de Matos, 25; e Frei Ronã Pinheiro Aguiar Filho, 34. Os outros quatro serão ordenados diáconos permanentes. Trata-se de homens casados, que tendo constituído família e com a anuência das esposas, se dispõem a colaborar nas mais diversas atividades eclesiásticas. São eles: Nilson de Oliveira Amancio, 61; Orlando Luciano da Silva, 53; Pedro Ernesto dos Santos Júnior, 51; e Sidnei Roberto Piotto, 56. Os fiéis poderão participar da missa presencialmente na Catedral da Sé ou acompanhar a transmissão pelas redes sociais da Arquidiocese de São Paulo.

Dom Odilo participa de live promovida por paróquia na Bahia “O que é Sínodo?” Com vistas a esclarecer esta dúvida da comunidade de fiéis da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Tanhaçu (BA), na Diocese de Livramento de Nossa Senhora, o Cardeal Odilo Pedro Scherer participou de uma live pelo canal do Instagram da Paróquia, na sexta-feira, 3. No encontro on-line, mediado por Josenilton Oliveira Nunes, filósofo e historiador, com especialização em Teologia, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo explicou que o Papa Francisco convocou toda a Igreja para a participação no Sínodo universal (2021-2023),

em uma ampla experiência eclesial. Dom Odilo explicou que se trata de um chamado para a Igreja sinodal em comunhão, participação e missão, permitindo que todos reflitam sobre a Igreja e a sinodalidade: “Uma Igreja sinodal será uma Igreja animada pelo Espírito Santo com muitos dons e carismas e onde todo mundo põe o seu dom em benefício de todos e todo mundo acaba por ser beneficiado, mas sobretudo se realiza melhor a glória de Deus, a salvação de todos e se realiza melhor o testemunho de Cristo no mundo que é a nossa missão”. (por Redação)

Reprodução


4 | Ponto de Vista | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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Editorial

‘Eu te mostrarei o caminho do Céu!’

N

o sábado, 4, nossa Arquidiocese de São Paulo celebrou com grande júbilo a ordenação, na Catedral da Sé, de quatro sacerdotes, recebida das mãos do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. A ordenação desses novos presbíteros é uma boa ocasião para nos relembrarmos daquela pergunta tão crucial para um coração católico: o que é, afinal, um padre? Todos enxergamos rotineiramente, é claro, muitas das atividades que um padre desempenha: visita os doentes, conforta os aflitos, preside a assembleia reunida, socorre os necessitados... Mas, por debaixo de tudo isso, o que está na essência mais profunda do sacerdócio católico? Não se trata, aqui, de pensar apenas no que um padre faz, mas sim no que é um padre. A definição que o Espírito Santo nos dá é bastante direta: o padre “é escolhido

Amizade social

entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5,1). O padre, em primeiro lugar, é escolhido entre os homens. Nas profissões humanas, é o interessado que escolhe sua carreira; no caso do sacerdócio (que não é profissão, mas ministério), o jovem é escolhido e responde a essa eleição: “Ninguém se apropria desta honra, senão somente aquele que é chamado por Deus” (v. 4). Escolhido entre os homens: ao ser ordenado, o sacerdote não perde sua natureza humana nem as debilidades que lhe são próprias – e, por isso mesmo, “sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza” (v. 2). Continua a Sagrada Escritura dizendo que o padre é constituído a favor dos homens: ninguém é padre para si mesmo, mas sim para os outros. Tanto é assim que aquele poder tremendo de

Pedro e João eram homens “sem estudo e sem instrução”, e mesmo assim os eruditos membros do sinédrio se admiraram de sua sabedoria e “reconheceram-nos como companheiros de Jesus” (At 4,13). Feliz do padre que é assim reconhecido por quem o cerca! O Cura d’Ars, escolhido pela Igreja como padroeiro e modelo dos padres diocesanos, brilhava com esta intimidade com Deus. Certa vez, um ateu ferrenho, irritado com a fama de santidade do “padrezinho do interior”, pegou um trem para confrontá-lo – mas voltou à capital confessado e convertido, exclamando que “viu Deus num homem”. Possam os nossos neossacerdotes, e todos os nossos padres, tomar como lema de vida aquela frase com que o Cura d’Ars iniciou seu ministério em Ars: “Você, jovem rapaz, me mostrou o caminho para Ars; eu lhe mostrarei o caminho para o Céu!”.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

Luiz Antonio Araujo Pierre “Todos irmãos”, diz o Papa Francisco e anuncia no subtítulo que abordará um tema sobre relacionamento universal: amizade social. Como fez na Laudato si’, novamente cita São Francisco de Assis e seu convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço: “Feliz quem ama o outro”. Daí, amizade social, já que sem-fronteiras, que vai além de um relacionamento fechado em grupo, clã ou pessoas da mesma origem ou classe, como ficou marcado na cultura do pensamento positivista. Ao usar amizade social como subtítulo da encíclica, pareceu-me que o Papa manifestou o desejo de alargar este conceito e elevá-lo ao nível de realmente acolher a todos, com a inclusão dos pobres, dos abandonados, dos doentes e dos últimos da sociedade, com a prática comprometida da solidariedade humana. A encíclica Fratelli tutti (FT) é uma continuação natural da Doutrina Social da Igreja, inaugurada pela Rerum novarum, de Leão XIII, de 1891, querendo sempre manter um diálogo com pessoas de boa vontade, muito necessário neste momento doloroso e especial da pandemia de COVID-19, “que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças”. Francisco exemplifica o que entende por amizade social: livres relações internacionais, unidade das nações, necessidade de agir e sonhar coletivamente, com visão solidária e abertura aos interesses de todos, e que os poderes econômicos estejam voltados ao interesse do bem comum. Enfatiza que não devemos aceitar convites para ignorar a história ou deixar de lado a experiência dos mais velhos, pois

perdoar os pecados e levar ao Céu, Cristo confiou-o a seus padres – mas apenas para perdoar os pecados alheios, nunca os próprios... Quando o Titanic naufragou, naquele 15 de abril de 1912, o jovem Padre Thomas Byles, que se encontrava no navio, recusou várias vezes a oferta de um lugar nos escassos botes salva-vidas, e sacrificou-se até o último momento dando a absolvição a todas as almas que lhe pediam. Por fim, o sacerdote é constituído mediador nas coisas que dizem respeito a Deus. A missão do padre, diz o Espírito Santo, é tratar das coisas que dizem respeito a Deus: seu “primeiro dever”, relembra o Vaticano II, é “anunciar a todos o Evangelho de Deus” (Presbyterorum ordinis, 4). Por isso é que não cabe ao padre ensinar uma sabedoria humana, mas a sabedoria da Cruz, “e convidar instantemente a todos à conversão e à santidade”.

estas “são as novas formas de colonização cultural” (cf. FT, 13-14). A Fratelli tutti desenha um futuro possível com o reconhecimento da dignidade humana, de respeito à criação e ao divino. Este entendimento integral está na base de um mundo unido, onde se busca tudo aquilo que nos leva à paz e ao respeito mútuo, com justiça e equilíbrio socioeconômico, com um olhar para o irmão que está ao nosso lado. Fundamental a descrição que faz o documento ao retratar algumas formas de dominação, tais como: “semear o desânimo”, “despertar desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores”,

“a polarização”, “recorrer à estratégia de ridicularizar”, “insinuar suspeitas”. Francisco considera isso um jogo mesquinho, que não acolhe a verdade e empobrece a sociedade, ficando-se à mercê da “prepotência do mais forte”. Lembra que a política deve ser um “debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum” (FT, 15). Jogar todos contra todos e contra tudo é uma maneira de dominação, pois deixa a população confusa e sem condições de avaliar os valores que estãos sendo colocados em prática por quem governa (cf. FT, 16). A amizade social vai além de propor ou executar ações benéficas. Esta-

belece a unidade e a coletividade como origem das ações e nos leva a querer o melhor para a vida da sociedade, para todos e para cada um. Somente assim será possível não excluir ninguém, gerando um verdadeiro sentimento universal de quem olha para a sua gente com amor (cf. FT, 99). Para Francisco, a amizade social deve incluir os mais frágeis, os mais pobres e respeitar as diferenças culturais, aproximando, ouvindo, no esforço de procurar pontos de unidade, para dialogar e aprender a ouvir: “Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos dialogar” (cf. FT, 198). Devemos ir além dos próprios limites, das próprias regiões e países, e envolver todo o planeta, conscientes da busca incansável da unidade e da partilha entre as nações da terra, na harmonia de irmãos que cuidam uns dos outros (cf. FT, 75/96). Neste momento de pandemia, isto deveria refletir principalmente na disponibilização de vacina para todos os povos, sem deixar de lado as nações pobres e sem recursos. Amar a todos, amar o irmão sem excluir ninguém; agir coletivamente com ações de solidariedade em busca do bem comum e considerar que a unidade não é utopia, mas realidade a ser alcançada. Esta é a proposta de amizade social do Papa Francisco: “Para atingir uma unidade multiforme que gera nova vida”, sendo este “um princípio que é indispensável para construir a amizade social: a unidade é superior ao conflito” (cf. FT, 245). Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do Movimento dos Focolares, professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5 Benigno Naveira

Benigno Naveira

[LAPA] No domingo, 5, Dom José Benedito Cardoso presidiu a missa do primeiro dia do tríduo comemorativo dos 110 anos de criação da Paróquia Nossa Senhora da Lapa, completados na terça-feira, 7. Concelebrou o Padre Adalton Pereira de Castro, Pároco. Na ocasião, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa conferiu o sacramento da Crisma a 22 jovens e adultos. (por Benigno Naveira)

[LAPA] Dom José Benedito Cardoso conferiu o sacramento da Crisma a 22 adolescentes e jovens, no domingo, 5, em missa na Paróquia São João Bosco, Setor Pastoral Lapa. Concelebrou o Padre Claudio Andrade Motta, SDB, assistidos pelos Diáconos Denilson Bezerra Ferreira e Michel Dutra. (por Benigno Naveira) Benigno Naveira

Divulgação

[LAPA] No sábado, 4, na Paróquia São Mateus, no Jardim Esmeralda, Setor Rio Pequeno,15 pessoas receberam o sacramento da Crisma, durante missa presidida por Dom José Benedito Cardoso. Concelebrou o Padre Antônio Roberto Pimenta, Administrador Paroquial. (por Benigno Naveira) Arquivo paroquial

[SANTANA] A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Episcopal Santana convida para a Novena de Natal 2021 – “Deus vem no nosso encontro!” –, que será transmitida pelo Facebook (@regiao.santana), entre 13 e 18 de dezembro, às 20h, diretamente da Capela São José da Cúria Regional.

[IPIRANGA] No sábado, 4, em missa na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, Setor Pastoral Cursino, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, conferiu o sacramento da Crisma a 11 pessoas. (por Caroline Dupim)

Espiritualidade Advento: preparar a chegada de Jesus Dom Carlos Lema Garcia

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade

H

á pessoas que perguntam: “Por que Deus não se manifesta abertamente?”; “Por que continua se escondendo de nós?”; “Não seria fabuloso se Deus aparecesse claramente e se comunicasse com os homens?”. Há pessoas que não acreditam ser possível falar pessoalmente com Jesus. Pois bem: agora no Natal, cada um de nós é convidado para receber Jesus, o Filho de Deus Vivo, que nasce entre nós. Também há quem diga que bastaria um encontro pessoal com Jesus para

se converter. Entretanto, o Evangelho está repleto de pessoas que viram Jesus pessoalmente, que ouviram seus ensinamentos, que viram verdadeiros milagres realizados por Ele e, mesmo assim, não se converteram. Por exemplo: o cego de nascença que pedia esmola na porta do templo e foi curado por Jesus, os líderes do templo não somente não aceitam, mas pretendem matá-lo. Muitas pessoas viram os milagres de Jesus (alguns deles muito surpreendentes, como a ressurreição de Lázaro, depois de quatros dias do enterro...). Os líderes do povo decidiram matar Lázaro, porque muitas pessoas do povo começaram a acreditar em Jesus. Como devemos nos preparar para a chegada de Jesus? Que bom seria se um dia pudéssemos ter um diálogo pessoal com Deus! Quantas coisas teríamos para perguntar, se tivéssemos a chance de estar com Deus? Pois bem: o Natal significa a entrada de Deus no mundo. Nunca se ouviu coisa semelhante

na história: houve situações em que os homens planejaram se enfrentar com Deus, como os que construíram a torre de Babel para entrar no céu. Mas que Deus se tenha feito homem e vindo a este mundo, que possamos receber em nós a vida divina pela graça, que Deus venha ao mundo, morra e ressuscite e, mesmo tendo voltado ao Céu, permaneça conosco na Sagrada Eucaristia? Não há nada parecido, nem de longe em toda a literatura, em nenhuma outra religião: um Deus que se preocupa conosco, que vem até nós, supera a distância que nos separa Dele, entra no nosso mundo, fala a nossa linguagem, vive os nossos problemas, conhece os sentimentos do coração humano etc. Inegavelmente, é um acontecimento único na história. Nunca se produziu algo semelhante. Muitos profetas vieram e falaram em nome de Deus, porque eram seus mensageiros e transmitiram ensinamentos sapientíssimos. É verdade. Mas nunca alguém teve o atrevimento de dizer

que é Deus, que tem a vida eterna e que vai ressuscitar e nos levar com Ele para o Céu. Jesus vem a cada um de nós para nos salvar dos nossos pecados. Ele deseja reinar em nossos corações: vem nos trazer o seu reino de amor e de graça às nossas almas. Vem enriquecer as nossas vidas e dar sentido a tudo o que fazemos. Ouviremos muitas vezes na liturgia deste tempo de Advento: “Transmiti a todos os povos: eis que vem Deus, o nosso Salvador”. A Igreja resume em duas palavras: “Deus vem”. Não usa o passado: “Deus veio”. Nem o futuro: “Deus virá”. Mas o presente: “Deus vem”. Um presente contínuo ou uma ação sempre em ato: aconteceu, acontece agora e voltará a acontecer. Em qualquer momento, “Deus vem”. Entramos no tempo do Advento, um tempo forte, de oração, de preparação, de purificação, um momento oportuno para receber com mais piedade o sacramento da Reconciliação e preparar a Comunhão no dia do Natal.


6 | Regiões Episcopais | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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IPIRANGA

SANTANA Paróquia Menino Jesus completa 95 anos Carlos Petrachini

Concluído o curso sobre o Pacto Educativo Global Caroline Dupim

COLABORADORA DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Edmilson Fernandes

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

A Paróquia Menino Jesus, no Setor Tucuruvi, completou 95 anos de fundação em 1º de dezembro. Uma missa em ação de graças pelo jubileu aconteceu no sábado, 4, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer. Concelebraram os Padres Paulo Gil, Pároco; Ricardo Anacleto; Roberto Fernando Lacerda, que atuaram na Paróquia; e Cido Pereira, que ficou à frente da comunidade paroquial por 15 anos. Eles foram assistidos pelos Diácono Paulo Felizola de Araújo.

A Casa de Deus no Tucuruvi

Na homilia, Dom Odilo falou sobre a importância da Paróquia para uma coPascom paroquial

munidade: “É a Casa de Deus no meio das nossas casas. É um sinal de que Deus está no meio de nós. É o lugar de onde Deus fala para a cidade. De onde se proclama a Palavra de Deus. É o lugar onde alimentamos a caridade. É o lugar da esperança e onde se partilha a fé”. No início da celebração, os participantes receberam um livrinho especial sobre os 95 anos. O material contém a liturgia da solenidade e um resumo dos fatos mais marcantes. “É importante recordar porque é a história do povo de Deus. É a história das angústias, do sofrimento, das tristezas, da esperança, do testemunho de fé. Precisamos recordar porque isso nos dá coragem, nos faz pensar: ‘não somos os primeiros’. Estamos aqui porque outros vieram antes e nos transmitiram a fé”, disse dom Odilo.

Sacerdotes e diáconos

Criada em 1926 por Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo Metropolitano, a Paróquia Menino

Jesus teve como primeiro Pároco o Padre Paulo Florêncio da Silva Camargo. Ele ficou cinco anos, mas alguns atuaram por longos períodos. O Padre João Ligabue, por exemplo, ficou por 33 anos, entre 1931 e 1964. Padre João Batista dos Santos dedicou 22 anos da vida ao anúncio do Evangelho na Paróquia. Diáconos, como Vinício de Andrade e Carlaile Tornelli (que faleceu, vítima da COVID-19), também colaboraram com a história de evangelização e serviço social da Menino Jesus. Padre Paulo Cesar Gil está há 11 anos na Menino Jesus. “Inúmeros paroquianos escreveram capítulos de muita alegria e conquistas; superaram desafios e momentos de dor e de tristeza. O tempo, que acelerou e preservou um histórico de compromisso com o povo, sobretudo os mais pobres, é o responsável por fazer com que a nossa comunidade continue sendo iluminada e iluminadora”, destacou o Pároco, na mensagem à comunidade.

Durante o mês de novembro, a Região Episcopal Ipiranga, em parceria com a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP, promoveu o curso de extensão universitária cultural “Pacto Educativo Global – Perspectivas e Desafios”, motivado pela mensagem do Papa Francisco, enviada em 2019, com o tema “Reconstruir o Pacto Educativo Global”, a fim de “reavivar o compromisso em prol das gerações jovens e junto com elas, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão”. A formação destinada a professores do ensino público e privado, diretores, coordenadores e funcionários administrativos de escolas, agentes de pastorais ligados à educação e pessoas interessadas no tema, começou em 3 de novembro. Foram cinco encontros on-line, realizados às quartas-feiras à noite, conduzidos pela professora Rosana Manzini (PUC-SP), Irmã Carolina Mureb, Gregory Rian (Associação Nacional de Educação Católica do Brasil – Anec) e Padre Edélcio Ottaviani (PUC-SP). Cerca de 70 participantes tiveram a oportunidade de conhecer o Pacto Educativo Global com maior profundidade ao longo dos encontros formativos, que abordaram a perspectiva eclesial, a perspectiva local e os desafios expressos do Pacto no Brasil. Além das exposições didáticas, os alunos tiveram uma experiência interativa on-line: durante dois encontros, puderam discutir sobre o tema, em pequenos grupos em salas virtuais e apresentaram suas reflexões aos professores e demais alunos.

Fundação Santa Terezinha CNPJ nº 69.273.050/0001-49 BALANÇO PATRIMONIAL

Exercícios findos em 31 de dezembro de 2020 e 2019 (Valores expressos em reais)

Venerável Irmandade de São Pedro dos Clérigos Rua Santo Amaro nº 71 - 15º andar - Conj. 15-A Fone/Fax: 3105-0561 - e-mail: vispc@uol.com.br São Paulo - Capital - CEP: 01315-001

COMUNICADO

[SÉ] Na tarde do domingo, 5, na Paróquia Santa Teresinha, Setor Pastoral Santa Cecília, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, conferiu o sacramento da Crisma a jovens e adultos. Concelebrou o Pároco, Frei Everaldo Abril Pontes, OCD. (por Luís Felipe Tanko Gonçalves)

A Venerável Irmandade de São Pedro dos Clérigos comunica que realizará as exumações dos irmãos sepultados em seu jazigo, no Cemitério do Santíssimo Sacramento no dia 14 de Dezembro de 2021, após a missa de Réquiem celebrada por Dom Carlos Lema Garcia às 09 horas, na Capela do Cemitério do Santíssimo Sacramento - Av. Dr. Arnaldo nº 1.200 – Pacaembu –S.P. Serão exumados: Mons. Luiz Geraldo Amaral Mello Pe. Pedro do Carmo Vicente Mons. Antonio Trivinho Pe João Lyrio Tallarico Côn. Jair Nascimento do Val Pe. Antônio Luciano de Lima Pe. Francisco Freitas de Lima Pe. Rubens Azevedo dos Santos Pe Luiz Gonzaga de Mello Camargo Pe. Vladimir Anselmo da Silva Pe. Vicente de Paulo Fernandes Pe. Odilon Fogaça Pe Braz Bernadino de Campos Valladares Pe. João Batista de Araújo Pe. Alberto Abib Andery Pe José Luis Alava Mas Pe. Peter Fenech Pe Avelino Panni Pe João Apparecido Ferreira Mons. Tullio Grilli Pe. José Muniz Cabral A Diretoria da Venerável Irmandade de São Pedro dos Clérigos convida os familiares, padres irmãos remidos, paroquianos e amigos dos referidos sacerdotes a comparecerem a esta cerimônia. São Paulo, 03 de Dezembro de 2021. Venerável Irmandade de São Pedro dos Clérigos Côn. Walter Caldeira – Provedor Côn. José Bizon - Tesoureiro

ATIVO Ativo circulante............................................................ Ativo não circulante..................................................... Imobilizado Imóveis...................................................................... Total do ativo................................................................ PASSIVO Passivo circulante..................................................... Passivo não circulante.............................................. Patrimônio líquido Patrimônio integralizado (a)....................................... Reserva de reavaliação de ativos (b)........................ Ajuste de avaliação patrimonial................................. Patrimônio líquido...................................................... Total do passivo...........................................................

2020 - -

2019 -

460.000 460.000 460.000 460.000

2020 - -

2019 -

46.376 46.376 376.400 392.944 37.224 20.680 460.000 460.000 460.000 460.000

Notas explicativas às demonstrações financeiras a) Patrimônio integralizado, refere-se ao valor inicial de constituição da Fundação Santa Terezinha, 02 (dois) apartamentos. b) Resultado da reavaliação dos 02 (dois) apartamentos, os imóveis foram atualizados a valor presente, acréscimo de R$ 413.624 no patrimônio líquido, foi transferido para ajuste de avaliação patrimonial R$20.680 de out/2018 a dez/2019 e R$16.544 em 2020. Aprovação das Demonstrações Financeiras A aprovação e emissão das demonstrações financeiras da Fundação Santa Terezinha para o exercício findo em 31 de dezembro de 2020 foram autorizadas pela sua Mesa administrativa em 30 de junho de 2021. Mesa Administrativa Dom Odilo Pedro Scherer Provedor

Padre João Julio Farias Júnior Primeiro Secretário

Edivaldo Batista da Silva Contador - CRC/SP 212622/O-2


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IPIRANGA

Fé e Cidadania

19 jovens recebem o sacramento da Crisma no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida Duilio Murai

Duilio Murai

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Em missa no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida, no domingo, 5, o Cardeal Odilo Pedro Scherer conferiu o sacramento da Crisma a 19 adultos. Concelebrou o Pároco e Reitor, Padre Zacarias Paiva. Na homilia, o Cardeal lembrou aos catequizandos que o Espírito Santo é fonte de inspiração para que dignifiquem suas vidas como cristãos. Também destacou que o sacramento da Confirmação os prepara para serem sinais de Cristo por meio de ações na comunidade de fé. Ao falar sobre as leituras do 2º Domingo do Advento, o Arcebispo Metropolitano lembrou que Deus vem ao encontro da humanidade e todos também devem ir ao encon-

Padre Alfredo José Gonçalves, CS

tro Dele: “Tenho medo de que Jesus passe sem me dar conta”, afirmou, citando Santo Agostinho. No contexto da celebração, lembrou que é neste encontro que os crismandos começarão as obras que

os levarão à perfeição (cf. Fl 1,6). Ao fim da celebração, o Arcebispo abençoou o presépio montado no Santuário e reforçou que no Natal o nascimento do Menino Jesus deve ser o centro das festividades.

Comportamento O bom humor na educação dos filhos SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Hoje, quero tratar de um assunto muito importante para manter o ambiente agradável, alegre e atrativo: o bom humor. Com frequência, sentimos o peso e as dificuldades que educar os filhos supõe: dedicação, olhar atento, envolvimento, estudo, acompanhamento – posturas e atitudes que exigem dedicação dos pais em tempo integral. Mesmo aqueles que trabalham fora precisam se dedicar a distância, no planejamento da rotina, na orientação, enfim, custa cumprir bem a missão educativa. Agora, cada um de nós precisa decidir como quer cumprir essa missão: como um fardo pesado, cansativo e desgastante ou como uma oportunidade especial de contribuir na formação de pessoas únicas e irrepetíveis que deixarão suas marcas no mundo? Formar os filhos significa lembrar todos os dias que esses pequenos não são miniadultos, que eles erram muito porque sabem pouquíssimo sobre a vida e que, muito do que eles fazem de errado pode ser consequência de falta de orientação adequada, de dificuldade de compreensão, de atitudes nossas que precisamos rever e mudar. O processo de aprendizagem da criança acontece com lingua-

Advento: tempo de espera e de esperança

gem simples, em ambiente acolhedor, por meio de brincadeiras. Ela aprende ouvindo histórias, imitando personagens, sendo desafiada a tarefas simples e se sentindo orientada e envolvida no ambiente. Precisamos falar a linguagem delas. Carinho e firmeza são absolutamente compatíveis com o bom humor. Muitas vezes, os pais acabam colocando muito peso nos pequenos erros e comportamentos inadequados das crianças e acabam tornando o processo educativo mais complicado. É preciso deixar o clima alegre, propício para a aprendizagem e saber compaginar alegria com exigência. Saber rir dos erros e entusiasmar a acertar. Não se assustar demasiadamente com o processo. As crianças estão em plena formação da personalidade, nada do que fazem significa que não podem melhorar, que serão adultos de caráter complicado. Lembre-se: a chance de isso acontecer está nas suas mãos – elas não vêm prontas “de fábrica”. O que elas serão depende muito do ambiente e da formação que os pais oferecerem. Normalmente, os piores comportamentos que elas têm estão associados a atitudes dos pais que não foram educativas logo no início da vida: muitas aprendem a conseguir o que querem gritando, chorando ou chantageando,

porque os pais cederam aos primeiros impulsos imaturos dos pequenos. Muitas respondem agressivamente aos pais, porque eles não corrigem imaginando que são pequenas, não estabelecem os limites adequados e não habituam os filhos ao respeito que precisam aprender a ter pelos pais. Sei que a maioria dos pais, hoje, se encontra muito confusa em relação à formação dos filhos – existem muitas teorias estranhas, há inúmeras demandas todos os dias, pouco tempo para conversar e planejar os melhores caminhos educativos e, infelizmente, as consequências têm sido desastrosas. Vamos, então, retomar a rota: se você cometeu ou comete erros como esses, é preciso corrigir o mais rápido possível. Usar sua autoridade de pai, que se ancora em ser alguém que já conhece sobre a vida e orientar seu filho com firmeza, carinho, exigência e bom humor. Pode ter certeza: quando a criança identifica uma autoridade, ela obedece, e a autoridade não precisa ser carrancuda e mal-humorada: pode ser firme e alegre. Transforme a infância e a aprendizagem de seus filhos em uma experiência desafiadora, exigente, porém recheada de momentos de alegria. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

“Minha alma aguarda o Senhor, mais que os guardas anseiam pela aurora” (Sl 130,6). Antes do alvorecer, porém, a madrugada costuma se revestir de quietude. Tempo aparentemente imóvel, mas fecundo, na medida em que esconde uma semente. Na escuridão fria e úmida da terra, está em curso a gestação de um novo dia. Antes de crescer para cima, a árvore cresce para baixo: antes de buscar o ar livre, o céu azul e o ar puro, ela procura o ventre da terra. Antes de gerar folhas, flores e frutos, ela gera raízes que hão de nutrir sua vida. Improvisadamente, as trevas empalidecem e são superadas pela explosão matutina do astro -rei e de sua luz esplendorosa. Esta haverá de reinar durante todo o dia e em todos os dias. O silêncio cede lugar ao canto melodioso dos pássaros, à algazarra musical das crianças e às vozes múltiplas da cidade que se põe em marcha. A quietude explode em uma agitação febril, pois a vida tem exigências que não podem mais esperar. A imobilidade estremece e vê-se sacudida por movimentos repletos de ânimo, júbilo e entusiasmo. São figuras metafóricas do Advento. Tempo litúrgico de quietude, silêncio e reflexão. Momento grávido de misterioso sentido humano-divino. A cor roxa prepara e, ao mesmo tempo, antecipa uma novidade prestes a explodir. Os magos ainda a distância, o brilho da estrela que os guia e os vigilantes pastores pressentem magicamente “as dores do parto de uma nova criação”, como dirá mais tarde o apóstolo Paulo. O mundo se prepara para a irrupção de Deus na história. E, sempre que o divino se funde com as coordenadas do humano, grandes mudanças abrem horizontes novos. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Eis um colossal sinal dos tempos: três imperativos se fazem ouvir – uma constatação, um anúncio e um apelo – e clamam do fundo dos séculos: “O tempo se cumpriu, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e acreditem na Boa-Notícia” (Mc 1,15). Que significado tem esse apelo à conversão? Em primeiro lugar, ele mergulha suas raízes nas páginas bíblicas, remontando aos antigos profetas e, de forma particular, ao precursor João Batista. Depois, como imagem viva do viajante, ele nos convida a mudar de rumo, direcionando os projetos, caminhos e passos para o campo da justiça, da fraternidade e da paz. Por fim, ele alerta que a Boa-Nova do Reino tem sua realização plena para além da trajetória humana sobre a “nossa casa comum”, mas tem seu início aqui e agora, no terreno árido e fecundo da história. O homem-Deus ou Deus-homem, pelo mistério da Encarnação, desce da Casa do Pai para que nós possamos pavimentar a estrada de volta a essa nossa pátria definitiva. Estrangeiros e peregrinos, desde o nascimento até a morte, somos convidados a utilizar a ponte que Jesus estende entre o céu e a terra, entre a escravidão e a salvação. O Filho nasce pobre, frágil e nu, para nos enriquecer com a graça misericordiosa do Pai, para nos fortalecer com a presença do Espírito e para nos revestir com o amor infinito da Trindade Santa. Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).


8 | Regiões Episcopais | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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laura Maria Cominatto

brasilândia

Nossa Senhora das Graças é festejada na Paróquia São Luís de Montfort Pascom paroquial

[SÉ] Na sexta-feira, 3, aconteceu a última reunião do Setor Pastoral Jardins, incluindo um momento de confraternização, na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, que contou com a presença de todos os padres do setor, além dos diáconos permanentes e alguns leigos. Após a oração inicial, um representante de cada paróquia relatou os trabalhos promovidos neste ano. (por Laura Maria Cominatto) Juliana Bacci Lima

[SANTANA] No sábado, 4, em missa no Auditório do Colégio Salesiano, em Santana, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Crisma a mais de cem jovens das Paróquias Santa Teresinha, São Francisco Xavier e São Luiz Gonzaga, além de uma jovem oblata da Abadia Santa Maria. Concelebrou o Padre Silvio César, Pároco da Paróquia Santa Teresinha, com a assistência do Diácono Gilson Crema. (por Juliana Bacci Lima) Pascom paroquial

[SÉ] No sábado, 4, na missa das 12h na Paróquia São Gabriel Arcanjo, no Jardim Paulista, presidida pelo Cônego Sérgio Conrado, Pároco, foram conferidos os sacramentos do Batismo e da primeira Comunhão. (por Pascom paroquial)

Patrícia Beatriz Lopes

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

De 24 a 27 de novembro, houve a festa em honra a Nossa Senhora das Graças na Paróquia São Luís de Montfort, Setor Jaraguá. O tríduo deste ano trouxe o tema “Nossa Senhora, primeira discípula missionária de Jesus Cristo”. Celebraram as missas os Padres Mario Tadeu Paulino, Provincial da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses; Rafael Smocovit; Sérgio Bernardi, Pároco; Daniel Nogueira de Assis, Vigário Paroquial; e Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Brasilândia. A festa foi preparada com a ajuda dos fiéis da matriz paroquial e contou com a participação dos membros das comunidades São Luís, Santo Antônio, São Francisco e Santa Clara. No dia 26, Dom Carlos presidiu missa pela primeira vez nessa comunidade, tendo como concelebrante o Padre Sér-

gio. Na ocasião, foram enviados os novos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e os mais antigos renovaram seu ministério. No dia 27, foram rezadas as mil Ave-Marias em devoção à Virgem Maria e em agradecimento pelas graças recebidas mesmo em meio à pandemia e as graças ainda não alcançadas. Pela manhã, Padre Daniel visitou os doentes da comunidade, conferindo-lhes a Unção dos Enfermos. Missionários também visitaram as famílias, assim como o Padre Sérgio. Houve ainda a bênção do bolo e das medalhas que foram distribuídas a todos. Os católicos lembram a devoção a Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa em 27 de novembro. Nessa data, em 1830, a Virgem Maria apareceu a Santa Catarina de Labouré, em Paris, na França, pedindo que se propagasse a devoção da Medalha Milagrosa, dizendo que todos os que a usarem com fé receberão grandes graças se o fizerem com confiança.


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Padre Geraldo Pedro comemora 28 anos de ordenação presbiteral Marcelo Peron

CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ A comemoração dos 28 anos de sacerdócio do Padre Geraldo Pedro dos Santos ocorreu nas missas que ele presidiu no último fim de semana: no sábado, 4, às 18h, na Paróquia Santo Eduardo, Setor Bom Retiro, onde é Pároco; e no domingo, 5, na Paróquia São Joaquim, Setor Aclimação (foto), onde é Administrador Paroquial. Nas duas paróquias, houve festa para o Sacerdote. Padre Geraldo também é presidente do Centro Comunitário da Criança e do Adolescente (CCCA), que é composto de três unidades. Padre Geraldo foi ordenado em 5 de dezembro de 1993, na Paróquia de Santo Antônio, na Região Brasilândia, pela imposição das mãos de Dom Angélico Bernardino, então Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. Seu lema sacerdotal é “Eu vim para que todos tenham vida (Jo 10,10).

[LAPA] No sábado, 4, no salão da Paróquia Nossa Senhora da Lapa, aconteceu a reunião da Pastoral da Animação Missionária da Região Episcopal Lapa, presidida por Dom José Benedito Cardoso, com a participação dos Padres Geraldo Pereira, Antonio Francisco Ribeiro, João Carlos Deschamps, Pedro Augusto Ciola de Almeida e agentes das pastorais. A pauta contemplou a revisão do que se realizou em 2021, a entrega de folhetos sobre o Natal a serem distribuídos aos fiéis no terceiro domingo de dezembro e propostas para 2022, incluindo iniciativas por ocasião das comemorações do centenário de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns e a Campanha da Fraternidade, a respeito da qual haverá uma reunião em 12 de fevereiro do próximo ano. (por Benigno Naveira)

[SÉ] No dia 3, aconteceu a última missa do ano organizada pelo Apostolado da Oração da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins. Em seguida, houve a reunião mensal e um momento de espiritualidade com assessoria do Pároco, Padre Geraldo de Paula Souza, CSsR, e da presidente do Apostolado, Maria Regina Smilari Bertelli. O Apostolado da Oração, fiel a seu propósito de rezar pelas desafios da humanidade e da missão da Igreja, está presente há 65 anos na Paróquia. Foi instituído por Antonieta Nigro e pelo Servo de Deus Padre Vitor de Almeida Coelho. Hoje se dedica principalmente a confeccionar enxovais de bebês para mães carentes e arrecadar alimentos, roupas e remédios.

(Com informações de Ruy Halasz e das Pascoms paroquiais)

(por Laura Maria Cominatto)

Fernando Fernandes

Renata Souza

[SANTANA] Em missa no domingo, 5, presidida por Dom Jorge Pierozan, na Paróquia Nossa Senhora da Candelária, Setor Vila Maria, 26 jovens e 12 adultos receberam o sacramento da Crisma. Concelebrou o Pároco, Padre Octaviano Pinto da Silva, SCJ, com a assistência do Diácono Permanente Marcelo Alves. (por Fernando Fernandes)

[IPIRANGA] Aconteceu no sábado, 4, no Santuário São Judas Tadeu, uma Cantata de Natal. Ao longo de duas horas, um repertório natalino foi apresentado pelos jovens seminaristas do Seminário Dehoniano de Filosofia, de Taubaté (SP), e convidados especiais, como a renomada soprano Natália Áurea e o músico Claudemir Marcel de Faria. O Padre José Ronaldo de Castro Gouvêa, SCJ, foi responsável pela direção musical. Entre as canções mais populares, foram apresentadas “Jesus Cristo” (Roberto Carlos), “Folia de Reis”, “Noite Feliz” e “Happy Day”. Parte do ingresso foi a doação de alimentos não perecíveis que auxiliarão o Seminário Dehoniano. Prestigiou a atividade Andrea Souza, secretária adjunta de Cultura do município de São Paulo. A Cantata foi organizada pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV), sob responsabilidade do Padre Rarden Pedrosa, SCJ, com o apoio de funcionários e colaboradores do Santuário São Judas Tadeu. (por Priscila Thome)

Você Pergunta Deve-se interromper a novena pela saúde de alguém se a pessoa morre? Padre Cido Pereira

osaopaulo@uol.com.br

A Maria Inês, de Santo Amaro, me envia a seguinte dúvida: “Quando se está fazendo uma novena para a cura de uma pessoa, mas ela falece, devemos continuar a fazê-la?”. Maria Inês, por que não continuar a novena? A única graça que você pediu para a pessoa era para que ela não mor-

resse? Passou pela sua cabeça a forma como ela viveria após a doença? Você entende que a sua novena não prestou para nada? Que Deus não ouviu sua prece? Você acha que só os vivos precisam de oração; e os mortos, não? Você entende que com a morte tudo acaba e que existe só esta vida pra gente ser feliz? Minha irmã querida, tente responder para você mesma a estas perguntas que lhe fiz.

Somos todos muito amados por Deus, Maria Inês. Ele nos quer neste mundo e nos quer juntos Dele, na eternidade. Pertence a Ele e só Ele sabe o tempo que temos neste mundo, porque o nosso lugar na eternidade já está preparado. E não sou eu quem diz isso, é Jesus. Então, minha irmã, continue sua novena por essa pessoa. Que Deus perdoe seus pecados, que Deus seja louvado pela vida dela e pelas graças que Deus lhe

concedeu ao longo da vida; que não falte aos parentes o consolo do amor infinito de Deus. Não nascemos só para este mundo. Deus nos fez corpo e alma. O nosso corpo envelhece ou é destruído pelo tempo. Nossa alma, porém, não morre. Somos imortais. E, como temos certeza da ressurreição final, oremos pelos vivos e pelos mortos para que nossa ressurreição final seja feliz. E parabéns por sua fé!


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Em missa, Dom Luiz Carlos Dias se despede da Região Episcopal Belém Luiz Ivanov

Fernando Arthur

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Nomeado Bispo de São Carlos (SP) pelo Papa Francisco, Dom Luiz Carlos Dias despediu-se da Região Episcopal Belém em uma missa no domingo, 5, na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. No começo da celebração, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, expressou sua gratidão pelos anos de trabalho de Dom Luiz Carlos como Bispo Auxiliar da Arquidiocese desde maio de 2016: “Estamos hoje aqui para agradecer a Deus a presença de Dom Luiz Carlos entre nós durante este tempo. E agradecer seu grande coração e sua atenção às diversas dimensões da Igreja”, disse, fazendo ainda votos de que a nova missão do Bispo seja rica em frutos e abençoada, tendo São Carlos Borromeu como inspiração. Em seguida, o Cônego Marcelo Monge, Ecônomo Regional, recordou a vida e o ministério de Dom Luiz Carlos, em especial na Região Episcopal Belém, e outras ações nas quais o Bispo se empenhou, como a criação da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e de outras quatro que estão em processo para serem erigidas. Relembrou, ainda, o apoio de Dom Luiz ao Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e às 66 paróquias e quatros áreas pastorais dessa Região, e outras atribuições de âmbito arquidio-

Dom Luiz Carlos Dias: ‘Rezem por mim, para a sequência do exercício do ministério que o Senhor, em sua misericórdia, me confiou’

cesano e como secretário do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Testemunha de Jesus Cristo

Dom Luiz Carlos iniciou a homilia saudando o Cardeal Scherer, os fiéis, os padres e os bispos concelebrantes, entre os quais Dom Jorge Pierozan e Dom Ângelo Mezzari, RCJ, Bispos Auxiliares da Arquidiocese. Reprodução

Ao fazer menção ao Evangelho do dia (Lc 3,1-6), que descreve o itinerário de João Batista na região do Jordão para pregar o batismo de conversão para o perdão dos pecados, o Bispo expressou: “Hoje, em particular, as palavras de São João Batista me inquietam, me tocam, ao chamar à conversão e convidar à empreitada de preparar os caminhos do Senhor, para que as pessoas possam ver a salvação de Deus. É para mim tempo oportuno para uma revisão de vida, conversão e abertura às graças do Senhor que vem, para que eu exerça o ministério episcopal de modo a testemunhar Jesus Cristo, não obstante minhas limitações”.

Gratidão

O Bispo nomeado de São Carlos agradeceu a Deus o chamado ao episcopado e a oportunidade de vivenciá-lo como Bispo Auxiliar na Arquidiocese, de modo especial como Vigário Episcopal na Região Belém: “Pude me apropriar um pouco da história e da vida desta Igreja particular, com santos admiráveis como São José de Anchieta, Santa Paulina e Santo Antônio de Sant’Anna Galvão; os bem-aventurados Padre Mariano e Madre Assunta; irmãos nossos que se santificaram numa bela caminhada eclesial iniciada com as sementes do Evangelho, lançadas no Pateo do Collegio, também ponto de partida desta cidade que veio a se tornar uma das maiores e mais pujantes do planeta”. Dom Luiz Carlos fez memória de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida (1930-2016), ressaltando que nesta Região Episcopal seu antecessor colaborou com uma metodologia e caminhos para a resolução das questões sociais. Dom Luiz enalteceu as várias ações sociais da Igreja nesta parte da cidade, voltadas a crianças, idosos, população em situação de rua e outras pessoas em vulnerabilidade. O Bispo destacou a atuação dos leigos, ardorosos na fé e no discipulado, com grande abnegação para o trabalho e que se constituem uma força importante no exercício da missão evangelizadora da Arquidiocese. Também ressaltou a

organização e transparência das finanças e lembrou que passos foram dados para a maior colaboração entre as paróquias. Ele pediu que os padres sejam solidários e amigos entre si. Dom Luiz Carlos agradeceu aos padres, diáconos permanentes e religiosos que atuam na Região Belém, aos colaboradores do Centro Pastoral São José, sede da Cúria Regional, e ao Arcebispo Metropolitano. “Meus sinceros agradecimentos a Dom Odilo, que, como um pai, vai observando e ajudando os seus auxiliares a se apropriarem do ministério episcopal. No momento de transição de padre para bispo, sua pessoa e os conselhos me foram valiosos”, disse, dirigindo-se ao Cardeal. Anteriormente, assegurou que acompanhará com suas orações o bom êxito da fase final do sínodo arquidiocesano. Por fim, pediu perdão aos que se sentiram ofendidos, não atendidos nas expectativas ou mesmo decepcionados em algum momento, e pediu orações: “Rezem por mim, para a sequência do exercício do ministério que o Senhor, em sua misericórdia, me confiou, e que assumi me confiando nas suas abundantes graças!”.

Exemplo daquele que veio para servir

Nos agradecimentos finais da missa, o Padre Marcelo Maróstica, Coordenador de Pastoral da Região Belém, recordou que Dom Luiz Carlos traduziu por gestos concretos seu lema episcopal – “Vim para servir” –, colocando-se como aquele que serve com alegria, humildade, coragem, sabedoria e firmeza na fé, por palavras e nas atitudes. Por fim, desejou a Dom Luiz que seja feliz na missão em São Carlos. Leigos, padres e religiosos da Região Belém presentearam Dom Luiz com um quadro feito pelo artista plástico Enrique Rodriguez, com o brasão do Bispo, que tomará posse na Diocese de São Carlos no dia 18 deste mês, às 10h, na catedral diocesana. Ao fim da missa, foi lida a bula de nomeação do Cônego José Miguel de Oliveira como Vigário Episcopal “ad interim” da Região Belém (leia ao lado).


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Reportagem | 11

Arquidiocese terá uma nova igreja: Nossa Senhora de Guadalupe Luciney Martins/O SÃO PAULO

Comunidade localizada na Chácara Klabin futuramente dará origem a mais uma paróquia de São Paulo Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

No domingo, 12, às 17h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, abençoará a pedra fundamental da construção de uma nova igreja, que terá o título de Nossa Senhora de Guadalupe e que, futuramente, se tornará mais uma paróquia da Arquidiocese. Localizada na Chácara Klabin, na região da Vila Mariana, no Centro-Sul da cidade, a nova comunidade atende a um desejo alimentado há alguns anos pelos bispos e padres que atuaram nessa região. Esse é um bairro relativamente novo, que tem sua origem em um loteamento feito pela família Klabin, na década de 1970. Nos últimos 20 anos, houve um vertiginoso crescimento imobiliário e, atualmente, é um bairro residencial. No entanto, ainda falta a presença de uma igreja no local, que compreende o limiar entre as regiões episcopais Ipiranga e Sé, na confluência de cinco paróquias – Santa Cândida; Santa Rita de Cássia, em Mirandópolis; Nossa Senhora da Saúde; Santa Margarida Maria e Santa Rita de Cássia, na Vila Mariana. Por isso, foi constituído um fundo regional para a captação de recursos, do qual parte foi destinado à construção da matriz da Paróquia Santa Paulina, em Heliópolis, em 2017. O restante foi voltado para a aquisição de um terreno na Chácara Klabin.

Templo

Em dezembro de 2020, foi adquirido o terreno na esquina das ruas Lorenzo Valla e Ernesto de Oliveira. Depois, foram realizados um estudo de viabilidade técnica e o projeto arquitetônico de uma igreja. O templo contará com três pisos, sendo um salão, a própria nave da igreja, salas e uma residência. O projeto é que, no futuro, a igreja se torne a matriz de uma paróquia territorial. Mas, para que isso aconteça, é preciso que exista uma comunidade estável e ativa. Então, começaram a ser realizadas reuniões com os párocos e fiéis das paróquias confinantes, para ser estudado um possível território e reunir lideranças

Cruz sinaliza o local de construção da futura Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro Chácara Klabin, na Região Episcopal Ipiranga

católicas entre os moradores para começarem as atividades. “Muitos desses moradores frequentam alguma dessas paróquias do entorno e, agora, são chamados a ser verdadeiros missionários responsáveis pelo nascimento de uma nova comunidade por meio de encontros, celebrações nas casas, atividades evangelizadoras e pastorais, além de constituir uma comissão para angariar fundos e acompanhar a construção da igreja”, explicou Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga.

Comunidade missionária

Dom Ângelo ressaltou, ainda, que essa experiência é um exemplo concreto de uma comunidade eclesial missionária na

cidade, fazendo referência ao termo presente nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023). Esse documento, aprovado na 57ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tem como objetivo: “Evangelizar no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias”, reforçam as diretrizes, indicando a formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias, nos mais variados ambientes, que sejam “casas da Palavra, do Pão e da caridade”. “Isso mostra que a cidade é um campo fértil de missão, onde é possível reunir uma comunidade para celebrar a fé e anunciar o Evangelho. E seus integrantes

Quem foi Padre Napoleão? Padre Napoleão dos Anjos Fernandes nasceu em 15 de fevereiro de 1941 em Monte Belo (MG). Aos 11 anos, ingressou no Seminário de Nossa Senhora do Sion, em São Sebastião do Paraíso (MG). Em 19 de fevereiro de 1963, professou os votos perpétuos de castidade, pobreza e obediência nessa mesma congregação religiosa, sendo ordenado sacerdote em 1965. Como padre, trabalhou em diversas paróquias, dedicando parte de seu ministério à Paróquia São José do Ipiranga, onde chegou a atuar no Círculo Operário do Ipiranga. Padre Napoleão foi vítima da esclerose lateral amiotrófica (ELA), grave doença degenerativa que provoca a destruição dos neurônios responsáveis pelo movimento dos músculos voluntários, levando a uma paralisia progressiva. Seus irmãos de congregação afirmam que esse Sacerdote deixou um grande legado espiritual e pastoral para todos aqueles que o encontraram. Em 23 de setembro, foi aprovado na Câmara Municipal o projeto de autoria do vereador Camilo Cristóvão, que confere o nome do Padre Napoleão ao logradouro localizado na confluência das ruas Ernesto de Oliveira e Lorenzo Valla. O decreto foi promulgado pelo prefeito Ricardo Nunes em 3 de novembro.

já começaram o trabalho, divulgando a celebração do dia 12 na vizinhança e convidando as pessoas a participarem desse momento. Esses missionários já criaram um grupo no WhatsApp para se comunicar e articular os trabalhos. É muito bonito testemunhar o nascimento de uma comunidade”, sublinhou o Bispo Auxiliar.

Padroeira

O nome da padroeira da comunidade foi indicado pelo Cardeal Scherer, pelo fato de ainda não haver na Arquidiocese uma paróquia com o título de Nossa Senhora de Guadalupe. Por isso, foi escolhida a data de sua festa litúrgica para a constituição da comunidade e a bênção do local da futura igreja. Nessa ocasião, será entregue uma réplica da estampa com a imagem da padroeira da América Latina aos fiéis missionários e será fixada no terreno uma pedra trazida da colina de Tepeyac, lugar da aparição da Virgem de Guadalupe, no México. Em seguida, será abençoada a pequena praça localizada em frente ao terreno. Por um decreto do prefeito Ricardo Nunes, passará a se chamar Praça Padre Napoleão dos Anjos Fernandes, sacerdote da Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora do Sion, que atuou pastoralmente naquela região (leia mais ao lado). “Esse novo templo será um sinal visível da presença da Igreja naquele bairro, lugar onde as pessoas se reunirão para celebrar a fé, nutrir-se dos sacramentos e da Palavra de Deus e alimentar a esperança. Será o lugar onde a comunidade é chamada a testemunhar o Evangelho na cidade”, completou Dom Ângelo.


12 | Reportagem | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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Arquidiocese de São Paulo tem quatro novos padres Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Odilo Pedro Scherer impõe as mãos sobre os candidatos ao sacerdócio, conferindo-lhes o sacramento da Ordem no grau do presbiterado, durante celebração na Catedral da Sé

Ordenação presbiteral foi presidida pelo Cardeal Scherer, na Catedral da Sé

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

No sábado, 4, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu, na Catedral da Sé, a ordenação de quatro novos padres para a Arquidiocese de São Paulo. Pela imposição das mãos do Arcebispo Metropolitano, receberam o segundo grau do sacramento da Ordem os diáconos Álvaro Moreira Gonçalves, 27, Claudinês Venancio da Silva, 42, Ignacio Torres Julián, 30, e Nicolò Stauble, 32. “A Igreja toda em nossa Arquidiocese acompanhou esses jovens, rezou por eles, apoiou-os de muitas maneiras, para que pudessem se apresentar diante do altar e do Arcebispo, que confirmou sua vocação em nome da Igreja”, afirmou Dom Odilo na homilia.

Dom de Deus

O Arcebispo sublinhou, ainda, que a Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, é um povo sacerdotal, que, pelo Batismo, recebe participação na missão sacerdotal de Jesus Cristo, para testemunhar com a vida a santidade de Deus e as maravilhas da sua ação na vida de cada um e do mundo. “Contudo, Deus, na Igreja, chama alguns que devem desempenhar na comunidade deste povo a missão especial de Jesus Cristo sacerdote, profeta e pastor”, afirmou, completando que o sacerdócio ministerial é um “dom inestimável” que Deus faz tanto à pessoa que o recebe quanto à comunidade que conta com a presença sacerdotal de Cristo por meio dos padres. “O povo de Deus precisa desse dom. Não o joguemos fora. Não temos o direito de desperdiçar esse dom, que é serviço, é caridade para com o povo de Deus. É missão do Bom Pastor”, frisou.

Perseverar até o fim

Em seguida, Dom Odilo ressaltou as palavras do apóstolo São Paulo, na segunda leitura da missa, que encoraja a comunidade dos filipenses a caminhar com firmeza e perseverança na fé. Tais palavras são repetidas no rito de ordenação: “Deus, que começou em vocês a boa obra, há de levá-la até o fim”. O Arcebispo exortou os novos sacerdotes a viverem o ministério sacerdo-

tal na dedicação ao povo santo de Deus para o qual os padres são chamados a ser sinal do amor divino. “Não nos fixemos em nossas fragilidades e fraquezas, mas sejamos confiantes no dom, na obra que Deus em nós começou e, com a nossa colaboração, quer levar até a consumação em Cristo Jesus.”

Rezar pelos padres

Voltando-se aos familiares dos candidatos, o Cardeal ressaltou que ter um padre na família é um grande dom que nem sempre é valorizado pelas pessoas. “Por isso, agradecemos às famílias que, em casa, educam seus filhos, transmitem a fé e os acompanham desde a infância a darem seus primeiros passos na Igreja para, assim, poderem dar o seu sim, não só no sacerdócio ou na vida consagrada, mas em todas as vocações, todos os estados de vida para os quais Deus chama”, manifestou. Por fim, o Arcebispo pediu a todos que não deixem de rezar pelos sacerdotes e os ajudem a viver bem o dom a eles confiado como “um bem precioso carregado em vasos de barro”. “Povo santo de Deus, ajude os padres a serem um dom para vocês. Rezem, apoiem, ajudem, encorajam, assistam... Que esse vaso não se rompa e que Deus nos ajude a perseverar na sua graça até o fim”, concluiu.

Gratidão

Em nome dos sacerdotes recém-or-

denados, Padre Álvaro agradeceu, em primeiro lugar, a Deus, que, por amor, criou, escolheu e os enviou em missão para servi-Lo por meio do ministério sacerdotal. O agradecimento também foi dirigido aos familiares, à Igreja, na pessoa do Arcebispo, formadores, diretores espirituais e fiéis que os acompanharam e ajudaram na preparação para o sacerdócio. Por fim, pediu o jovem padre a todos: “Rezem por nós, para sermos fiéis servidores de todos. Caminhemos unidos, em um só coração, para que, assim, juntos, alcancemos o céu”. Na conclusão da celebração, Dom Odilo anunciou onde os novos padres iniciarão o exercício do ministério. Padre Álvaro foi designado para a Região Episcopal Brasilândia; e Padre Claudinês, para a Região Episcopal Belém. Já os padres Ignacio e Nicolò, que foram formados no Seminário Missionário Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo, ligado ao Caminho Neocatecumenal, iniciarão o ministério em comunidades desse movimento eclesial, antes de serem enviados em missão para fora da Arquidiocese.


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Configurados a Cristo, sumo e eterno sacerdote Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Todo sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído em favor dos homens nas coisas que dizem respeito a Deus.” Essas palavras da Carta aos Hebreus (5,l) ajudam a compreender o sentido do sacerdócio cristão. No Novo Testamento, todas as prefigurações do sacerdócio do Antigo Testamento encontram sua realização em Jesus Cristo, “único mediador entre Deus e o homens” (1Tm 2,5). Significa que Jesus, Filho de Deus, que assumiu a condição humana, ao ser crucificado, ofereceu-se a si mesmo como único e eterno sacrifício, sendo, ao mesmo tempo, altar, vítima e cordeiro. Desse modo, para os cristãos, já não são mais necessárias as ofertas de novos sacrifícios. Pois, como ressalta o Catecismo da Igreja Católica, “o sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas”.

Celibato

É também por sua configuração a Cristo que os padres consagram toda a vida ao exercício do sacerdócio. Na encíclica Sacerdotalis caelibatus (1967), São Paulo VI destaca “que o ministro de Cristo e administrador dos mistérios de Deus (1Cor 4,1), encontra também nele o modelo direto e o ideal supremo”. O Pontífice acrescenta que, em plena harmonia com sua missão, Cristo se manteve toda a vida no estado de virgindade, como sinal de sua dedicação total ao serviço de Deus e das pessoas. “Este nexo profundo em Cristo, entre virgindade e sacerdócio, reflete-se também naqueles que têm a sorte de participar da dignidade e da missão do mediador e sacerdote eterno, e essa participação será tanto mais perfeita quanto o ministro sagrado estiver mais livre dos vínculos da carne e do sangue”, escreve.

Mediador da Nova Aliança

O Catecismo recorda, ainda, que Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai”, de modo que toda a comunidade daqueles que creem, como tal, é uma comunidade sacerdotal, mediante o Batismo. Esse é o chamado sacerdócio comum dos fiéis. No entanto, entre esses fiéis, alguns participam, por meio do sacramento da Ordem, do sacerdócio ministerial, configurando a Jesus Cristo, cabeça do seu corpo místico que é a Igreja. Os primeiros são os bispos, sucessores dos apóstolos que receberam de Cristo a missão de ensinar, pastorear e santificar o povo de Deus e, por isso, participam da plenitude do sacerdócio de Cristo. Em grau subordinado, como colaboradores dos bispos, os presbíteros (padres) também participam do sacerdócio ministerial de Jesus. Assim como nos sacramentos do Batismo e da Confirmação (Crisma), que imprimem um caráter particular de cristãos na pessoa que os recebem, pelo sacramento da Ordem é impresso nos bispos e padres um caráter indelével, isto é, que jamais pode ser retirado, que os configura a Cristo Sacerdote para sacramentalmente agirem na sua pessoa (in persona Christi). É por isso que aqueles que recebem a sagrada Ordem são ungidos com o óleo do Crisma – os padres nas mãos e os bispos na cabeça –, sinal da força de Cristo, o ungido do Pai.

Sacrifício e reconciliação

O decreto Presbyterorum ordinis, do Concílio Vaticano II, ressalta que é pelo ministério dos presbíteros que “o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em união com o sacrifício de Cristo, mediador único”, que é oferecido na Eucaristia de modo sacramental “pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja, até quando mesmo o Senhor vier”. A constituição dogmática Lumen gentium, também do Vaticano II, sublinha que os sacerdotes exercem ainda o ministério da reconciliação (Confissão) e o do conforto para com os fiéis arrependidos ou enfermos (Unção dos Enfermos), e

tia na vida de um padre, esse Santo Padre afirma que, se é verdade que o sacerdote tem por missão o serviço do altar, tanto que começou o exercício do seu ministério em uma missa, “esta não deixará de ser, durante toda a vida, a base da sua ação apostólica e da sua santificação pessoal”.

Fisionomia do padre do futuro

Na ordenação, candidatos se prostram diante do altar como sinal de entrega da vida a Deus

apresentam a Deus as necessidades e preces dos fiéis, “reúnem a família de Deus em fraternidade animada por um mesmo espírito e, por Cristo e no Espírito Santo, conduzem-na a Deus Pai [...]. Trabalham, enfim, pregando e ensinando, acreditando no que leem e meditam na lei do Senhor, ensinando o que creem e vivendo o que ensinam”.

Outro Cristo

É por essa razão que a doutrina católica ensina que o sacerdote é um alter Christus (outro Cristo). Sobre esse aspecto, em 2014, o Papa Emérito Bento XVI explicou que o sacerdote “representa Cristo”. No entanto, o Pontífice esclareceu que, ao contrário do senso comum, que entende a representação como uma delegação para agir no lugar de alguém que está ausente, o sacerdote age “na própria pessoa de Cristo Ressuscitado, que se faz presente com sua ação realmente eficaz”. “A Igreja é seu corpo vivo e a cabeça da Igreja é Ele [Cristo], presente e operante nela. Cristo nunca está ausente; pelo contrário, está presente de uma forma totalmente livre dos limites do espaço e do tempo, graças ao acontecimento da Ressurreição”, acrescentou o Papa emérito, em uma meditação durante o Ano, em 2010.

O sacerdote, portanto, age na pessoa de Cristo ressuscitado, o mesmo que, hoje, na Igreja e no mundo, santifica, ensina pastoreia o povo de Deus.

Homens de oração

São João XXIII, na encíclica Sacerdotii nostri primordia (1959), enfatizou que “a grandeza do sacerdócio está na imitação de Jesus Cristo”. Recordando o exemplo de São João Maria Vianney, patrono dos párocos e modelo para todos os sacerdotes, esse mesmo documento ressalta que “o padre é, antes de tudo, um homem de oração”. “Esta fidelidade à oração é, aliás, para o padre um dever de piedade pessoal, da qual a sabedoria da Igreja salientou muitos pontos importantes, como a oração mental cotidiana, a visita ao Santíssimo Sacramento, o Terço e o exame de consciência”, sublinhou São João XXIII, recordando a obrigação estrita da recitação diária do ofício divino [Liturgia das Horas]. Esse mesmo Papa reconheceu que, talvez por terem esquecido algumas destas prescrições, “certos membros do clero foram se entregando, pouco a pouco, à instabilidade exterior, ao empobrecimento interior, ficando expostos um dia, sem defesa, às tentações desta vida terrena”. Ao reforçar a centralidade da Eucaris-

Às portas do novo milênio, na exortação apostólica Pastores dabo vobis (1992), São João Paulo II reforçou que “Deus chama sempre os seus sacerdotes a partir de determinados contextos humanos e eclesiais”. Contudo, enfatizou que há uma fisionomia essencial do sacerdote que não muda: “O padre de amanhã, não menos que o de hoje, deverá se assemelhar a Cristo”, e que, também no futuro, “a vocação sacerdotal continuará a ser o chamamento a viver o único e permanente sacerdócio de Cristo”. Passadas duas décadas do século XXI, o Papa Francisco confirma os ensinamentos de seus predecessores, como fez na carta enviada aos sacerdotes, em 4 de agosto de 2019, por ocasião dos 160 anos da morte de São João Maria Vianney. Com o título “Sacerdotes com o coração de Cristo”, o Santo Padre aconselha que, para que o padre seja configurado ao Coração de Cristo, “é necessário que o ponto firme da sua vida quotidiana e o fundamento da sua estrutura humana e espiritual sejam constituídos pelo húmus interior da profunda amizade pessoal com o Senhor, a partir da qual a gestão da própria vida, o celibato e a missão apostólica possam ser psicologicamente aceitáveis e espiritualmente fecundos”. O Pontífice afirma que ser sacerdote com o coração de Cristo significa revestir-se de um coração aberto à gratidão, misericordioso, compassivo, vigilante e corajoso. E reconhecendo a tentação humana do desânimo que pode acometer qualquer padre, Francisco recordou que Jesus ressuscitado é a “pedra viva” na qual a Igreja está fundada e, “mesmo quando desfalecemos, mesmo quando somos tentados a julgar tudo a partir dos nossos fracassos, Ele vem fazer novas todas as coisas”. (FG)


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Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun é proclamada igreja de peregrinação Luciney Martins/O SÃO PAULO

Anúncio foi feito pelo Cardeal Scherer na missa que marcou o encerramento dos 200 anos de nascimento do padroeiro, que foi o primeiro sacerdote coreano da história Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No domingo, 5, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no Bom Retiro, Região Episcopal Sé, por ocasião do encerramento do jubileu de 200 anos do nascimento do Santo mártir coreano (1821-1846). Concelebraram os Padres Pio Sang Soon Choi, Pároco; Youngho Noh (Padre Pedro) e Youseph Kang (Padre José), Vigários Paroquiais; Job Masyula Mbutu e Tamrat Markos Mitore, missionários da Consolata; e José Ferreira Filho, secretário do Arcebispo. Ao longo do ano jubilar, a Paróquia foi uma das igrejas designadas em todo o mundo para a peregrinação de fiéis, que assim tiveram a oportunidade para alcançar a indulgência plenária a si mesmos ou em sufrágio dos falecidos. Na ocasião, atendendo a um pedido da Conferência Episcopal da Coreia, aconteceu a promulgação da elevação da Paróquia Pessoal a “Igreja de Peregrinação”. O decreto arquidiocesano de promulgação (leia a íntegra na página 3) ressalta que a “Igreja de Peregrinação” fica à disposição “para a veneração da memória do seu Santo Padroeiro, e para que nela seja promovida mais intensamente a fé católica e a vida cristã, baseadas no Evangelho e na imitação da vida de São Kim Degun. Haja nesta Igreja especial zelo missionário e pastoral na acolhida dos fiéis, na pregação da Palavra de Deus, na administração dos sacramentos e na caridade”.

PEREGRINOS DA FÉ

Na homilia, Dom Odilo manifestou sua alegria em celebrar com a comunidade católica de

Cardeal Odilo Scherer durante ritos iniciais da missa na Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no Bom Retiro, no domingo, 5

origem coreana. Recordou que há pouco mais de um ano foi aberto o bicentenário na mesma igreja e salientou o testemunho de fé do primeiro sacerdote coreano e mártir de Cristo. “A força do seu testemunho em favor de Cristo e do Evangelho, diante das perseguições e do martírio que sofreu, continua a fortalecer a fé do povo cristão coreano, que guarda a sua memória com carinho e admiração”, disse, reforçando que o Santo “continua a fortalecer a fé, o amor à Igreja e a perseverança na vida cristã de muitos filhos do povo coreano”. O Arcebispo destacou que, na conclusão do jubileu, a Arquidiocese se alegra em proclamar a igreja paroquial como igreja de peregrinação: “Significa que aqui se mantém viva a fé cristã pregada por Santo André; aqui se praticam as virtudes da fé, esperança e caridade pregadas, vividas e testemunhadas por ele. Aqui se mantém vivo o testemunho de firmeza e perseverança na vida cristã, mesmo diante das maiores dificuldades”. Dom Odilo enfatizou que essa igreja de peregrinação expressa que a “nossa fé católica é um tesouro, que precisa ser cuidado e cultivado, para não se perder. Ela conta com nosso esforço missionário para que a alegria da vida no Evangelho de Jesus seja transmitida também aos filhos e netos, de geração a geração”.

brar esse momento, mesmo em meio a uma pandemia. A bênção se manifesta por meio das indulgências plenárias. Estipulamos e ultrapassamos a meta de 20 mil indulgências”, disse o Padre Pio Sang Soon Choi. O Pároco reafirmou a alegria da promulgação como igreja de peregrinação: “O intuito da promulgação é abrir fronteiras, uma oportunidade para tornar conhecida a história dos santos e mártires coreanos, uma forma de estender nossa história para além da nossa comunidade e atingir a cidade e toda a Arquidiocese”.

ALEGRIA E BÊNÇÃO

TRANSMISSÃO DA FÉ

O Pároco, em entrevista ao O SÃO PAULO, destacou que a Paróquia traçou dois propósitos para viver com intensidade esse momento do bicentenário. “Definimos a alegria e a bênção como metas para viver o jubileu em comunidade. A alegria é fruto de podermos cele-

AÇÕES CONCRETAS NO ANO JUBILAR

Em razão da pandemia, muitas atividades programadas não puderam ser realizadas, porém, a Paróquia se adaptou e promoveu eventos on-line para unir e reunir as pastorais. A exposição sobre o Santo Padroeiro e sobre a história do catolicismo na Coreia foi um marco do jubileu e, após a liberação para o formato presencial, a Paróquia recebeu um número expressivo de peregrinos, entre eles os seminaristas da Arquidiocese de São Paulo. Diversas ações sociais aconteceram ao longo do ano jubilar, entre as quais a doação de cestas básicas e kits de higiene a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Angela Chong, 51, é pedagoga e chegou ao Brasil aos 4 anos de idade. “Migramos para o Brasil e a fé sempre foi a base em nossas vidas. Aprendi com meus pais e avós, ainda criança, a rezar, e continuei esse processo com minhas duas filhas”, disse. Suzana Whang Han, 54, é comercian-

te, nasceu no Brasil e seus pais vieram de navio na primeira imigração coreana católica. “Nasci em uma família católica fervorosa. A fé herdada ultrapassa a expressão orante e se expande em gestos de doação e ajuda aos irmãos necessitados”, afirmou. Juliana Hae Jung Han e Paulo Rodrigo Chun são pais de Sofia, 6, e Olívia, 3. Eles destacaram que a fé atravessa gerações, fortalece vínculos e aproxima de Deus: “Dos nossos pais, recebemos a dimensão da fé e repassamos esse legado às nossas filhas. Participar das celebrações em comunidade e os encontros formativos fortalecem os vínculos na família e a dimensão comunitária”.

PADROEIRO

Santo André Kim Degun nasceu em 21 de agosto de 1821, em Solmoe, estado de Chungcheong-Do (atualmente Songsan-ri, Danjin no estado de Chungnam). Com 7 anos de idade, sua família se mudou para a aldeia da montanha Goldbe Masil, que fica em Yong-in Gun, para fugir da perseguição ao catolicismo na Coreia. Aos 15 anos, como seminarista, foi para Macau, a fim de estudar Teologia. Em 1845, foi ordenado sacerdote em Xangai, na China. Retornou, então, para a Coreia, onde se dedicou ao trabalho missionário em Seul. Foi martirizado com outros 102 católicos em 16 de setembro de 1846, aos 26 anos de idade, e canonizado em 6 de maio de 1984, por São João Paulo II. Padre Kim Degun criou o “Evangelho de Chosun” com o mapa de Chosun para missionários e deixou como legado 21 cartas e memorandos sobre a história da Igreja coreana.


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Arquidiocese de São Paulo realiza a entrega dos Prêmios de Comunicação da CNBB Luciney Martins/O SÃO PAULO

Redação

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Na noite da segunda-feira, 6, no Auditório Paulo Apóstolo, na Vila Mariana, aconteceu o evento de entrega aos ganhadores da 53ª edição dos Prêmios de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) domiciliados no território de abrangência da Arquidiocese de São Paulo. Os ganhadores foram anunciados em 20 de outubro, durante evento on-line transmitido por tevês de inspiração católica. Devido às restrições da pandemia de COVID-19, a entrega dos prêmios não pôde ser realizada como nos anos anteriores. Por isso, a CNBB designou os bispos locais para entregar os prêmios aos contemplados de suas dioceses. O evento da Arquidiocese foi promovido pela Pastoral da Comunicação, sendo transmitido pelas mídias digitais. Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar de São Paulo, representou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.

Premiados

Os cinco troféus foram entregues aos seguintes contemplados: Microfone de Prata, de rádio, na categoria “Entretenimento”, conferido à RadinhoBDF, de Camila Ariza Salmazio, do jornal Brasil de Fato;

Autores dos trabalhos premiados pela CNBB, em foto com Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, na segunda-feira, 6

icrofone de Prata, de rádio, categoria M “Religioso”, conferido ao episódio de podcast “Uma conversa sobre Lázaro nas ruas de SP”, de Alexandre Ferreira Santos e Pedro Luiz Amorim; Microfone de Prata, de rádio, categoria “Jornalismo”, à reportagem “Estupro corretivo e marital: a voz de quem sofre em silêncio”, de Leno Falk e Theren Klein, da Agência RadioWeb; Dom Helder Câmara, de imprensa, categoria “Jornal”, à série de reportagens sobre “A luta pela sobrevivência em tempos de pandemia”, de Karla Maria de Souza, do jornal O Trecheiro; Também houve uma homenagem póstuma com Menção Honrosa Irmã

Doroty Stang a José Maria Mayrink, jornalista especializado em religião, morto em dezembro de 2020. O troféu foi recebido por sua esposa, Maria José Lembi Ferreira Mayrink.

Compromisso com a verdade

Os Prêmios de Comunicação foram criados pela CNBB com o objetivo de oferecer um reconhecimento público da Igreja Católica Apostólica Romana ao trabalho meritório de profissionais da Comunicação Social nos diversos meios, que apresentaram suas obras e se distinguiram pelo serviço à dignidade humana e aos valores do Evangelho. Eles também têm por objetivo estimular, fomentar e

reconhecer as boas iniciativas de trabalho jornalístico e cultural provenientes de todo o País nas áreas do Cinema, Rádio, Televisão, Imprensa e Internet, bem como no campo da pesquisa acadêmica em Comunicação e iniciativas da Pastoral da Comunicação. Ao fazer sua saudação, Dom Jorge ressaltou que os meios de comunicação são chamados a comunicar boas notícias, reconhecendo que, para isso, não podem renunciar ao seu compromisso com a verdade, que, muitas vezes é dolorida. “Os cristãos, em tudo o que fizerem, devem sempre se pautar pela verdade. Comunicar a verdade deve estar ‘na moda’”, afirmou.

Direção da Faculdade de Teologia da PUC-SP tem mandato renovado Fernando Geronazzo

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A Congregação para a Educação Católica, organismo da Santa Sé responsável pelas faculdades eclesiásticas e universidades pontifícias de todo o mundo, confirmou a nomeação do Padre Boris Agustín Nef Ulloa e do Padre Donizete José Xavier como Diretor e Diretor-adjunto, respectivamente, da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), por mais um quadriênio (2022-2025). Nomeados pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arce-

bispo de São Paulo e Grão-Chanceler da instituição de ensino superior, os dois sacerdotes estão no cargo desde 2019. Bacharel em Ciências Biológicas e Teologia, Padre Boris é mestre e doutor em Teologia Bíblica. Padre Donizete é bacharel em Filosofia, História e Teologia, mestre em Teologia Dogmática e doutor em Teologia Fundamental.

Compromisso

“Acolhemos com humildade, disponibilidade, espírito de comunhão e de serviço esta nomeação em vista do bem de nossa faculdade. Agradecemos ao Cardeal

Scherer por renovar sua confiança no nosso trabalho, assim como do corpo docente, administrativo e dos estudantes”, afirmou Padre Boris ao O SÃO PAULO. O Diretor ressaltou, ainda, que ambos renovam o desejo de trabalhar em profunda comunhão com a reitora da PUC-SP, Maria Amalia Pie Abib Andery, com os formadores dos estudantes que são candidatos às ordens sacras ou religiosas, assim como com os demais alunos leigos. Padre Boris completou que ele e o Diretor-adjunto continuarão a missão assumida no primeiro quadriênio, comprometidos a garantir a excelência acadêmica, na fidelidade à Doutrina da Igreja e ao magistério pontifício.

Coleta da evangelização acontece em todas as igrejas do Brasil Redação

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No sábado, 11, e domingo, 12, acontece a coleta nacional para a evangelização. Essa arrecadação anual tem como finalidade o sustento das atividades pastorais e evangelizadoras da Igreja no Brasil. Este ano, a Campanha para a Evangelização, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante o tempo do Advento, tem como tema “Ide, sem medo, para servir”. O Setor de Campanhas da CNBB disponibilizou o modelo de envelope para impressão, de modo

que as dioceses que sempre utilizam este recurso possam baixá-lo, fazer a impressão em gráficas locais e distribuí-los como de costume. O material pode ser acessado em www.campanhas.cnbb.org.br. Lá também estão disponíveis a arte do cartaz, a Oração da Campanha e a prestação de contas de 2020.

Destinação dos recursos

A Campanha para a Evangelização destina os seus recursos para a dinamização e manutenção dos 19 regionais da CNBB, visando à execução das atividades evangelizadoras, programadas a partir das

Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE). Em muitos regionais, existem atividades missionárias além-fronteiras, com apoio a diversas pastorais, serviços, organismos e movimentos. Os recursos da coleta para a evangelização garantem que a Igreja no Brasil dê continuidade ao anúncio e testemunho do Evangelho desde as áreas missionárias até as periferias das grandes cidades, passando pelas ações pastorais e pela articulação das comunidades eclesiais missionárias, além de contribuir para a manutenção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. (Com informações da CNBB)


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5G no Brasil: saiba o que pode estar por vir com a chegada dessa tecnologia Especialista esclarece os principais pontos envolvendo a tecnologia que marca o início de uma nova era de conectividade no País e está prevista para chegar a partir de 2022

Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O leilão do 5G, promovido no início de novembro pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), foi o primeiro passo para a instalação da nova tecnologia de conexão à internet no território brasileiro, prevista para chegar às 26 capitais do País e ao Distrito Federal até julho de 2022. A quinta geração da telefonia móvel (5G) é uma evolução da atual conexão 4G. Ela promete revolucionar a conectividade por oferecer uma velocidade ultrarrápida para baixar e enviar arquivos e reduzir o tempo de resposta entre diferentes dispositivos, o que resultará em uma conexão mais estável e sem delay (atraso). O 5G vai permitir, ainda, conectar a rede a muitos objetos ao mesmo tempo, sem comprometer a recepção do sinal. No que corresponde à velocidade, a mais alta que o 4G pode chegar é próxima a 100 Mbps (megabits por segundo), enquanto o 5G pode alcançar entre 1 e 10 Gbps (gigabits por segundo), velocidade 100 vezes maior.

Na prática

Na análise de Gustavo Henrique Bolognesi Donato, professor e reitor do Centro Universitário FEI, engenheiro mecânico pela mesma instituição, pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e doutor em Engenharia pela Poli-USP, o 5G trará impacto ao usuário em muitos aspectos na vida pessoal e profissional. “O 5G é estruturante para habilitar a transformação digital como um todo, nos negócios, no trabalho, na educação pelos am-

bientes colaborativos globais, entre outros aspectos”, avalia. Donato destaca que os efeitos dessa tecnologia vão além daquilo que o usuário perceberá de forma direta, como a alta taxa de transmissão de dados e baixa latência, que é o tempo de resposta da rede. “O 5G habilitará muitas novas soluções no cotidiano das pessoas. Por exemplo, os conceitos de cidades inteligentes, Internet das Coisas (IoT) e Internet de Tudo (IoE) só são possíveis com o 5G e sua capacidade de acomodar uma grande densidade de dispositivos conectados”, explica. O professor comenta que “robôs autônomos colaborativos e os veículos autônomos, que precisam se conectar entre si e com a infraestrutura das cidades, só serão realidade com o 5G, uma vez que precisam de conectividade com ampla cobertura e

cias de ansiedade, perda de produtividade e foco, entre outros fenômenos resultantes da hiperestimulação, hiperconectividade e alta velocidade de transformações, características desse novo mundo conectado e veloz”, pondera. O especialista frisa que o importante é compreender que as tecnologias “são motores e recursos habilitadores de soluções para a sociedade e serão o que fizermos e quisermos fazer delas”. “O centro e a razão de tudo tem que ser o ser humano, o seu bem-estar e a construção de uma sociedade mais desenvolvida, humana, sustentável e justa”, salienta Donato.

Mais velocidade, menos segurança?

A grande conectividade e digitalização Admc/Pixabay

muita velocidade para tomada de decisão rápida e segurança do tráfego e das pessoas”.

Internet das Coisas (IoT)

IoT – referente ao termo em inglês Internet of Things – é a tecnologia que permite a interconexão entre os mais variados objetos, ou seja, possibilitando que a televisão, o computador, o relógio, a geladeira, o micro-ondas, o celular e o carro, por exemplo, se conectem à internet e interajam com ela. Para Donato, embora nos últimos anos tenha ocorrido o crescimento de uso de tecnologias digitais, de conectividade e de interação em rede, “ainda há muito por vir em termos das cidades inteligentes, internet de tudo, veículos autônomos, agronegócio, indústria 4.0, medicina de precisão, ambientes imersivos e conectividade”. Avaliando o impacto dessa interconexão digital de objetos no comportamento e relações do usuário, Donato indica que é preciso avançar no equilíbrio do uso diário, pessoal e profissional, das tecnologias e redes. “Temos visto uma escalada de ocorrên-

trazem muitos benefícios e conveniências para o cotidiano das pessoas, mas também exigem cuidado, pois crescem a exposição, os riscos e as chances de fraude. No entanto, o professor Donato lembra que “a segurança dos dados não é um aspecto impactado diretamente pela velocidade das novas conexões 5G, mas, sim, pelo movimento sistêmico”. O especialista comenta, ainda, que “os sistemas de segurança da informação em nível global e também no País se desenvolvem rápida e intensamente, tanto do ponto de vista tecnológico quanto de regulação”. Como exemplos de regramentos, Donato cita o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que são regramentos, entre outros, “que devem continuar sendo desenvolvidos continuamente, dada a grande velocidade de transformações da economia digital atual”.

Mercado de trabalho

Donato destaca dois aspectos quanto ao impacto do 5G no mercado de trabalho.

No primeiro, ele afirma que os profissionais sentirão os benefícios em seu trabalho cotidiano, envolvendo não apenas a velocidade de conexão, mas novas possibilidades de trabalho colaborativo em alta velocidade e globalmente, em que serão empregadas tecnologias imersivas de realidades virtual, aumentada e mista, favorecendo ambientes imersivos. “Os impactos vão do lazer e do entretenimento ao trabalho nas áreas de projetos de engenharia, cirurgias realizadas remotamente com alta precisão e respostas em tempo real, eventos ao vivo incluindo holografia, agricultura de precisão, até os avanços na logística digital e conectada, otimizada, manufatura digital e indústria 4.0, entre outros.” Como segundo aspecto, ele aponta que a tecnologia 5G abrirá novas oportunidades de trabalho, com demanda para profissionais qualificados para além da área de telecomunicações e suas tecnologias específicas, destacando “a capacidade de trabalho em equipes multidisciplinares de forma colaborativa, a capacidade de resolução de problemas complexos, raciocínio computacional e analítico, a criatividade e, principalmente, a capacidade de se adaptar às circunstâncias e de aprender a aprender”. Para Donato, cada vez mais as oportunidades estão nas interfaces e sobreposições entre as áreas do saber e empregam tecnologias emergentes e novas soluções, incluindo o 5G. “O profissional tem de desenvolver sua autonomia e estar habituado a zelar por seu lifelong learning (formação continuada).” O professor acredita que “as políticas públicas da educação devem valorizar fortemente o letramento digital da população e a capacitação em todos os aspectos técnicos e profissionais que permitirão que as pessoas desenvolvam a tecnologia e a utilizem em soluções que tragam qualidade de vida e benefícios”. O mesmo apoio deve vir das políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação. “Devem garantir condições para formação de pessoal de alto nível de qualificação e apoio à indústria nacional no desenvolvimento e manufatura de tecnologia de elevado valor agregado, favorecendo o emprego, a economia e a balança comercial, levando a ser menos concentrada em commodities”, discorre o professor.


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Reportagem | 17

Simples cuidados evitam que transmissões on-line sejam silenciadas ou ‘derrubadas’ nas plataformas digitais Daniel Gomes

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Lives de eventos paroquiais, transmissões ao vivo de missas e formações litúrgico-musicais pelo Facebook, Instagram e YouTube se tornaram mais recorrentes desde o ano passado, com as recomendações para se evitar aglomerações nas fases críticas da pandemia de COVID-19. Entretanto, ainda hoje ocorrem situações em que essas transmissões têm seu áudio silenciado ou são interrompidas. “Em geral, as plataformas retiram o áudio ou encerram a transmissão quando o vídeo inclui material protegido por direitos autorais, como músicas ou mesmo a inserção de trechos de outros vídeos protegidos”, explicou, ao O SÃO PAULO, John Camara, formado em Sistemas de Informação, com especialização em produção de conteúdo multimídia, e atual coordenador da Pastoral da Comunicação (Pascom) no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os direitos autorais são regulamentados pela Lei Federal 9.610/98 e versam sobre o uso que terceiros podem fazer sobre a criação de outrem. Cada plataforma de internet detalha suas políticas a esse respeito nos chamados termos de uso. Se estes não forem infringidos, dificilmente uma transmissão será silenciada ou “derrubada” pela plataforma.

Como agem as plataformas

Sabrina Pandolfo, diretora de T. I. da Orgsystem Software, empresa especializada na gestão automatizada de dados e informações, explica que o YouTube sempre realiza verificações nas transmissões ao vivo para encontrar possíveis materiais protegidos por direitos autorais. “Quando identificado conteúdo de terceiros, uma imagem de marcador substitui a transmissão ao vivo.

Você, então, receberá um aviso para interromper a transmissão do conteúdo. Se obedecer a esse alerta e resolver os problemas pendentes, a transmissão poderá continuar. Caso contrário, será encerrada ou temporariamente interrompida. Sua transmissão também poderá ser encerrada se você receber um aviso de direitos autorais ou das diretrizes da comunidade”, detalhou. No caso do Instagram/Facebook, Sabrina explica que, quando é identificado o uso incorreto de algum recurso ou serviço, “haverá seu bloqueio temporário, normalmente durando de algumas horas a alguns dias”.

Transmissão interrompida, e agora?

John Camara recomenda que, ao criar um perfil nas mídias sociais, a paróquia selecione a categoria de instituição sem fins lucrativos ou mesmo de entidade religiosa. “Ainda assim, a produção de conteúdo em vídeo, seja em lives, seja em vídeos produzidos previamente, passa por uma análise automática em relação aos direitos autorais, que pode detectar ou não conteúdos de terceiros. Quando existe um conteúdo protegido, a própria plataforma notifica o administrador do perfil e naquele instante serão apresentadas as opções para corrigir o problema, o que na maior parte dos casos faz com que a plataforma não remova o conteúdo”, detalhou. O coordenador da Pascom no Regional Sul 1 enfatizou que os administradores das mídias sociais devem acompanhar durante as transmissões ao vivo o painel de controle, pois é por lá que a plataforma vai notificar o usuário sobre uma possível violação e exibir alternativas para que o conteúdo possa permanecer on-line. Sabrina lembra que, no caso de a transmissão ser silenciada ou interrompida, é possível relatar o ocorrido

ou contestar a decisão nas camadas centrais de ajuda, acessíveis pelos links encurtados a seguir: Facebook/Instagram: https://cutt.ly/nYkzR4n YouTube: https://cutt.ly/CYkzOBX

Peça a autorização para uso da música

Sabrina observa que, sempre que for possível, se deve obter autorização do autor da música para utilizá-la. Especialmente para o caso de artistas famosos e músicas mais conhecidas, isso pode ser feito em contato por e-mail, telefone ou site do próprio cantor ou de sua gravadora. Nesse contato, é válido explicar o real objetivo do uso de uma música, detalhando que a utilização não terá fins lucrativos. Em posse dessa autorização, é possível enviá-la à central de ajuda de cada plataforma, caso uma transmissão ao vivo ou vídeo seja silenciado ou “derrubado”. Esse cuidado deve ser redobrado quando a paróquia promove shows beneficentes, com repertórios de canções mais conhecidas, sobre as quais, no geral, recaem direitos autorais. Sabrina lembra que o YouTube, por exemplo, rapidamente identifica a reprodução indevida de uma música. “Logo depois, os proprietários dos direitos são avisados pela plataforma, e assim podem derrubar a live na hora ou tomar outras providências judiciais depois”, explicou. “O YouTube notifica o violador de direitos autorais três vezes. Depois disso, o canal é deletado pela plataforma”, complementou.

À espera da missa

Muitas paróquias, minutos antes do começo da missa e de outras lives, têm postado um sincronizador regressivo do tempo, acompanhado de um fundo musical.

Camara alertou que “o uso de músicas gravadas aumenta ainda mais a chance de uma notificação de reivindicação de direito autoral, por isso as músicas de domínio público devem ser preferencialmente utilizadas para estas chamadas”. São músicas de domínio público aquelas sobre as quais não recaem direito de propriedade autoral, como aquelas cuja autoria é desconhecida. Uma alternativa para esses casos é fazer uso dos bancos de áudios gratuitos na internet. Músicas de diferentes gêneros e estilos estão disponíveis em plataformas como o “YouTube Audio Library”, “Dig CC Mixter” e “Free Soundtrack Music”.

Quanto menor o trecho, menor o risco

Nesta época do ano, algumas paróquias costumam postar em suas redes sociais vídeos com felicitações de Natal, os quais também podem ser silenciados ou retirados das plataformas pelo uso indevido de músicas. O Instagram, por exemplo, recomenda que na produção de vídeos se use trechos curtos das músicas, que o teor musical não seja a componente principal do vídeo e, sempre que possível, o uso ocorra com a permissão do autor. Katia Maderic, gestora das redes sociais da Fundação Metropolitana Paulista, explicou à reportagem que na rádio 9 de Julho, por exemplo, para evitar que uma live ou um vídeo seja “derrubado” ou silenciado por uma plataforma de internet, a estratégia é que as canções com direitos autorais não sejam o conteúdo principal veiculado: “O que fazemos é não deixar essa música como destaque do vídeo. Ela fica como complemento daquilo que o comunicador está falando, uma espécie de fundo musical. Assim, a voz do comunicador se sobrepõe à música”.


18 | Geral | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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Vigília Universitária de Natal mobiliza jovens, famílias e membros de novas comunidades Júlia Cabral

Júlia Cabral

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Jovens e famílias se reuniram na noite de sexta-feira, 3, para a 7ª Vigília Universitária de Natal. O evento, organizado pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, aconteceu na Paróquia Santa Generosa, na Região Sé, e foi iniciado às 20h, com missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia, e concluído às 23h, com a bênção do Santíssimo. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade ressaltou que o acontecimento mais importante da história da humanidade desde a criação do mundo é a chegada de Jesus, o Filho de Deus que se fez homem. Dom Carlos lembrou que a primeira característica deste tempo do Advento é a de “preparar-nos para a chegada de Jesus no Natal, para celebrarmos a primeira vinda de Cristo a este mundo. E também é um tempo que nos lembra que haverá uma segunda vinda de Jesus”, completa. “Deus, nós sabemos, vem ao mundo novamente neste Natal, mas a maioria das pessoas não está preparada para recebê-lo”, observou o Bispo, fazendo um convite a todos. “Estão querendo apagar a presença de Jesus do nosso mundo, do nosso tempo. E nós temos que recompensar isso. Se são muitos os que ignoram o Senhor e não querem ouvir falar Dele, Deus espera o nosso amor, a nossa correspondência. Espera que nós também tenhamos consciência de que somos amados imensamente por Deus e que desejemos neste Natal pedir perdão, desejemos neste Natal limpar a gruta do nosso coração.”

CLIMA DE ORAÇÃO

A Vigília Eucarística, iniciada após a missa, começou com a adoração

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Templos cristãos estão entre os alvos de ataques em Mianmar, na Ásia https://cutt.ly/aYvaavu

Na paróquia Santa Generosa, Dom Carlos Lema preside missa da Vigília Universitária de Natal

ao Santíssimo conduzida pelo Bispo. Este ano, em razão da pandemia, a Vigília não ocorreu até as 6h do dia seguinte, como de costume, e encerrou-se às 23h. Esta redução de tempo, porém, não impediu o clima de oração nem a lotação máxima da igreja. Com a maior parte das luzes do templo apagadas, a Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria conduziu momentos de reflexão em meio a músicas. E lá não estavam apenas universitários: outros jovens, famílias inteiras, grupos de amigos, idosos, casais, seminaristas e sacerdotes estavam em oração. Renato de Oliveira Lima, 29, participou da Vigília pela primeira vez, acompanhado dos amigos. “A adoração eucarística é um presente de Deus na minha vida. Sempre que estou em adoração, sinto como se Deus estivesse cuidando muito de mim. E dá para perceber nessa Vigília, com o bispo, com as músicas, com o silêncio, que Deus cuida de todos aqui e que todas as pessoas estão realmente comprometidas a se preparar neste tempo do Advento, se preparar para o Natal. É uma graça extraordinária que Deus concede a todos os que podem vir

e estar aqui. Estar perto de Nosso Senhor na Eucaristia é a maior graça que podemos ter”, afirmou.

A VIGÍLIA

A Vigília Universitária acontece desde 2015, por iniciativa do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, para que os jovens possam se preparar para o Natal e estar mais próximos de Cristo. É sempre iniciada com uma missa presidida pelo Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade e termina com a bênção do Santíssimo, conduzida pelo Assessor Eclesiástico do Vicariato, o Padre Vandro Pisaneschi. Durante a Vigília, com o Santíssimo Sacramento exposto, grupos fazem momentos de reflexão, oração e tocam músicas para ajudar os fiéis a refletir sobre a presença de Deus no sacramento e sua vinda no Natal. Também ao longo da noite, padres se dispõem a atender confissões e conversar com os participantes do evento. Há ainda uma equipe de voluntários que se responsabiliza por ajudar a organizar a missa, os momentos de pregação, o lanche e outros detalhes de limpeza e suprimentos. (Texto produzido sob supervisão de Daniel Gomes.)

Francisco aos jovens: procurem os encontros reais, não os virtuais https://cutt.ly/iYvaEyZ Papa: São José ensina a passar da paixão romântica ao amor maduro https://cutt.ly/hYvaCrk Vatican Media

Atualizadas as normas sobre os delitos reservados à Congregação para a Doutrina da Fé https://cutt.ly/zYvpjcJ Dom Odilo: ‘Que possamos viver um Natal menos comercial e mais espiritual’ https://cutt.ly/1Yvp3RH Prefeitura cancela réveillon na Paulista e mantém o uso obrigatório de máscaras https://cutt.ly/HYvsyZb


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Reportagem | 19

São José: patrono da Igreja, pai de família e modelo para testemunhar a fé Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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A Igreja Católica conclui na quarta-feira, 8, o “Ano de São José”, iniciado em 2020 nesta data pelo Papa Francisco, com a publicação da carta apostólica Patris corde, com a proposta de “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”. Na Patris corde, Francisco apresenta São José como pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento, pai de coragem criativa, trabalhador e na penumbra, pois “soube se descentralizar e colocar Maria e Jesus no centro da sua vida”. Durante todo o “Ano de São José”, muitos católicos na Arquidiocese de São Paulo peregrinaram a paróquias, comunidades e oratórios dedicados ao Santo, onde também esteve para presidir missas o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.

Inspiração diária para todos os cristãos

Patrono Universal da Igreja

A Patris corde também foi publicada por ocasião dos 150 anos da declaração de São José como Patrono Universal da Igreja, ocorrida em 8 de dezembro de 1870, por meio do decreto Quemadmodum Deus, do Beato Pio IX. No documento, aponta-se que, diante da sublime dignidade que Deus conferiu a São José, “a Igreja teve sempre em alta honra e glória o Beatíssimo José, depois da Virgem Mãe de Deus, sua esposa, implorando a sua intercessão em momentos difíceis”, razão pela qual os bispos e os fiéis solicitaram ao Papa Pio IX que constituísse São José como Patrono da Igreja Católica, e assim o fez o Pontífice diante da “funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José”. Dois sucessores de Pio IX atribuíram outros títulos a São José: Pio XII, em discurso às Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos, em 1º de maio de 1955, declarou São José como Padroeiro dos Operários – “porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto a Deus e à Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente guardião vosso e de vossas famílias” – e São João Paulo II, na exortação apostólica Redemptoris custos, em 15 de agosto de 1989, declarou São José como o Guardião do Redentor – “aquele a quem Deus ‘confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos’. É para mim uma alegria cumprir este dever pastoral, no intuito de que cresça em todos a devoção ao Patrono da Igreja universal e o amor ao Redentor”.

O pai de família

O “Ano de São José” foi vivido em meio ao “Ano Família Amoris laetitia”, iniciado em 19 de março, com o propó-

São José garantia o sustento de sua família trabalhando honestamente como carpinteiro. “Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.” Na dissertação de mestrado “José no mistério da encarnação: aspectos teológico-pastorais para a paternidade responsável”, depois publicada como livro pela Paulus Editora, Marcionei Miguel da Silva, mestre em Teologia pela PUC-RS, analisa o papel determinante de São José para a educação de Jesus. “José exercitou os seus deveres, entre os quais um dos mais importantes foi aquele que se refere à educação religiosa de Jesus. Segundo os costumes da época, José ensinou a Jesus as tradições nacionais, as quais em grande parte eram de natureza religiosa, assim como as prescrições dadas aos antepassados (Ex 10,2)... A vida de Jesus foi impregnada pelos exemplos e ensinamentos de José, sem excluir a educação profissional,” escreveu Silva.

sito de comemorar o 5º ano da exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia e para que se reflita sobre o papel indispensável da família na sociedade. O encerramento será em 26 de junho de 2022. Ao anunciar o “Ano Família Amoris laetitia”, em 27 de dezembro de 2020, o Papa Francisco lembrou que o Filho de Deus, como todas as crianças, teve a necessidade do calor de uma família, composta de pai e mãe, a família de Nazaré. “À imitação da Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor educativo do núcleo familiar: ele deve se fundar no amor que sempre regenera as relações e abre horizontes de esperança. A comunhão sincera pode ser experimentada na família quando é uma casa de oração, quando os afetos são sérios, profundos e puros, quando o perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza diária da vida é suavizada pela ternura mútua e pela serena adesão à vontade de Deus”, disse Francisco. Na coluna “Encontro com o Pastor” publicada no O SÃO PAULO em 17 de março deste ano, o Cardeal Scherer exortou que no “Ano de São José” se pudesse “valorizar mais a presença de São José em nossas famílias e nossos lares. Os homens e esposos podem aprender muito de São José e se dirigir muitas vezes a ele, pedindo ajuda; assim também os namorados e noivos, os trabalhadores, os enfermos e

todos os que têm responsabilidades sobre outras pessoas na Igreja e na sociedade”. São João Paulo II, na Redemptoris custos, lembrou que a paternidade de São José “expressou-se concretamente ‘em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da Encarnação e à missão redentora com o mesmo inseparavelmente ligada; em ter usado da autoridade legal, que lhe competia em relação à Sagrada Família, para lhe fazer o dom total de si mesmo, da sua vida e do seu trabalho; e em ter convertido a sua vocação humana para o amor familiar na sobre-humana oblação de si, do seu coração e de todas as capacidades, no amor que empregou ao serviço do Messias germinado na sua casa” (RC, 8).

Modelo para a formação humana de Jesus

Na Patris corde, Francisco indica que “José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2,51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20,12). Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade se torna o seu alimento diário (cf. Jo 4,34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsêmani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua, fazendo-Se ‘obediente até a morte de cruz’ (Fl 2,8)”. Na mesma carta, o Papa recorda que

O testemunho de São José em seguir os desígnios de Deus também foi destacado pelo Papa Bento XVI no Angelus de 19 de março de 2006: “O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso, antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência”. Em uma missa de 19 de março de 2009, Bento XVI lembrou o quanto São José pode inspirar cada cristão nas ações cotidianas: “Se o desânimo vos invadir, pensai na fé de José; se a inquietação se apoderar de vós, pensai na esperança de José, descendente de Abraão que esperava contra toda a esperança; se a aversão ou o ódio vos penetrar, pensai no amor de José, que foi o primeiro homem a descobrir o rosto humano de Deus na pessoa do menino concebido pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria”.

Catequeses sobre São José

Desde 17 de novembro, nas audiências-gerais de quarta-feira, o Papa Francisco tem feito catequeses sobre São José. No link a seguir é possível acessá-las na íntegra: https://cutt.ly/9YaKd75


20 | Pelo Mundo | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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América Latina

Conferência Eclesial da Amazônia realizará assembleia presencial em SP Daniel Gomes

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Criada em junho de 2020 com a proposta de ser um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as igrejas da Pan-Amazônia, que ajude a delinear a face amazônica desta Igreja e que encontre novos caminhos para a missão evangelizadora nessa região, a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) foi reconhecida canonicamente pelo Papa Francisco em outubro deste ano. Para celebrar este reconhecimento canônico e jurídico e pensar propostas concretas para a conferência eclesial diante das atividades que a Igreja realiza na Pan -Amazônia, acontecerá, entre os dias 12 e 14 deste mês, no Centro de Espiritualidade Flos Carmeli, da Congregação das Carmelitas Missionárias de Santa Terezinha do Menino Jesus, em Mairiporã (SP), a 1ª assembleia plenária presencial da Ceama. A assembleia terá a participação de membros do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), da Confederação Latino-Americana e Caribenha dos Religiosas e Religiosos (Clar), Caritas e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), representantes dos povos amazônicos e dos membros da Ceama, cujo presidente é o Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Celam, também estará na assembleia.

promisso histórico com o cuidado e a evangelização dos povos amazônicos e que há décadas existe um processo que visa a um caminhar conjunto das instâncias da Igreja na Pan-Amazônia, a fim de “reuni-las em rede para que não se sentissem isoladas em seus esforços de evangelizar o seu respectivo território; situação agravada pela solidão da floresta e a beira dos rios, bem como pela enorme quantidade e diversidade de culturas dos povos originários, os indígenas”. Dom Cláudio recordou que essa ideia ganhou mais força a partir de 2013, quando a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) passou a visitar as dioceses, prelazias e outras instâncias da Igreja na Amazônia brasileira e houve reuniões de âmbito

A atenção da Igreja ao território amazônico

Ao falar aos participantes da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, em 27 de novembro, o Cardeal Hummes recordou que a Igreja tem um com-

continental, que resultaram na criação, em setembro de 2014, da Repam. A atenção da Igreja com a região foi ainda mais destacada com a realização do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, em 2019, e a exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazonia, do Papa Francisco, publicada em fevereiro de 2020. O território amazônico se estende por nove países da América do Sul.

Propósitos de atuação

“Com a aprovação canônica da Ceama pelo Papa, esta Conferência tornou-se aquele ponto firme irreversível, não apenas para a missão da Igreja na Pan-Amazônia, mas para a Igreja universal global. Ou seja, o Papa pode agora constituir conferências eclesiais em qualquer outra parte da Igreja no mundo”, comentou Dom Cláudio aos participantes da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, assegurando, ainda, que a Ceama “deve e quer participar plenamente desta nova fase da Igreja na América Latina e Caribe em termos de uma Igreja sinodal, que se alimenta das grandes propostas de Aparecida e do Vaticano II”. Durante assembleia ordinária realizada em julho deste ano, a Ceama definiu um plano de ação pastoral, dividido em seis eixos: escuta-visibilização-intercâmbio; dinamização da prática pastoral numa chave sinodal; comunicação; formação; diálogo e alianças; e consolidação da Ceama. Na ocasião, os participantes salientaram que este plano ajudará a complementar os planos pastorais de cada Igreja particular na Amazônia e que, com ele, essa conferência eclesial pretende contribuir para a Igreja universal no processo de renovação que as encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti indicam. (Com informações de Repam, Ceama e Celam)

Etiópia Religiosas que se dedicam à educação estão desaparecidas Forças policiais etíopes prenderam, em 30 de novembro, a irmã Abrehhet Cahasai, das Irmãs Ursulinas de Maria Virgem Imaculada, outras cinco irmãs da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e alguns diáconos, conforme informou à Agência Fides a Madre Raffaella Pedrini, Superiora-Geral das Irmãs Ursulinas. Irmã Abrehhet, 48 anos, é professora no berçário de

Shola, em Addis Abeba, uma das casas da congregação na capital etíope. As Irmãs Ursulinas estão no país desde 1967 e dedicam a maior parte de suas atividades ao ensino e à assistência sanitária. Há casas da congregação por toda a Etiópia, algumas em zonas de intensos conflitos. Em Adigrat, um dos principais centros da missão, na capital do estado de Tigray, há também uma casa para aspirantes à vida religiosa, dois berçários, uma escola

primária e outra de ensino médio, com cerca de 1,4 mil alunos. Segundo analistas, o fato de as religiosas detidas serem de etnia tigresa pode ser parte de uma campanha das forças governamentais contra essa etnia, que vem sendo acusada de ajudar e instigar os rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigré em todo o país. (DG) Fonte: Agência Fides

Níger Conflitos no país colocam comunidades cristãs em risco A cidade de Niamey, capital do Níger, no continente africano, tem se tornado alvo recorrente de atentados de extremistas, conforme relatou à Agência Fides o Padre Mauro Armanino, da Sociedade para as Missões Africanas. “Pela primeira vez colocam um artefato explosivo na estrada que leva a Niamey na fronteira com Burkina Faso. Na explosão, morreram ao menos três pessoas e várias ficaram feridas, algumas delas com

gravidade. Também foi destruída uma caminhonete que pertencia aos soldados que se dirigiam a Makalondi para ajudar seus companheiros em apuros”, disse o missionário religioso. O Sacerdote comentou, ainda, sobre outro fato ocorrido na Diocese de Niamey em 27 de novembro: um padre e religiosos foram impedidos de visitar e consolar muitos fiéis da Paróquia de Makalondi.

As comunidades cristãs das aldeias, ainda que não sejam as únicas que sofrem tais ameaças e intimidações, têm sido atacadas com frequência. De acordo com o Padre Mauro Armanino, a Diocese de Niamey tem se esforçado para garantir a alimentação e cobrir os gastos educacionais dos estudantes primários das regiões de Makalondi e Torodi, a menos de 100 quilômetros da capital do Níger. Um comboio militar francês foi

bloqueado por 150 manifestantes na cidade de Kaya, em Burkina Faso, quando ia da Costa do Marfim ao Máli. O protesto foi contra o fracasso das forças francesas para conter o terrorismo. Esse sentimento antifrancês tem aumentado nesta região do continente africano, e no Níger se teme que resulte em novas ameaças aos agricultores e, de modo especial, às jovens e frágeis comunidades cristãs. (DG) Fonte: Agência Fides


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Reportagem | 21

Por que é importante um acordo entre o Estado brasileiro e a Santa Sé? Fernando Geronazzo

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A Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, da Arquidiocese de São Paulo, realizou nos dias 1º e 2, o segundo módulo do curso de extensão voltado às questões sobre o Acordo Brasil-Santa Sé. Oferecida na modalidade on-line, a formação tem o objetivo de abordar, com a ajuda de canonistas e especialistas, os princípios, as razões constitutivas e histórias subjacentes no acordo bilateral firmado entre o Estado brasileiro e a Santa Sé no dia 13 de novembro de 2008, dando amparo aos direitos essenciais ao desenvolvimento da missão da Igreja no Brasil.

O que você precisa saber sobre o Acordo Brasil-Santa Sé?

igual tratamento tributário e previdenciário fruído por entidades civis congêneres; A histórica isenção tributária dá à instituição religiosa condições de realizar ações caritativas de promoção humana, além de considerar a própria assistência pastoral e religiosa como um bem para a pessoa. Estabelece colaboração da Igreja com o Estado na tutela do patrimônio cultural do País, preservando a finalidade precípua de templos e objetos de culto; Um exemplo prático é a recente assinatura do termo de cooperação técnica entre a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que prevê ações educativas e pre-

Esclarecimentos

O relatório elaborado para a aprovação do acordo no Senado, em 2009, esclarece que o Acordo não leva o Estado brasileiro a assumir financeira ou administrativamente o culto da religião católica, tampouco prejudica o funcionamento das demais religiões. “Na realidade, ao contrário, abre para as demais denominações religiosas o caminho da formação bilateral de normas ajustadas às necessidades peculiares de cada qual, em benefício da plena fruição dos direitos decorrentes da proclamação da liberdade religiosa pela Constituição da República. O texto esclarece, ainda, que o objetivo maior do referido Acordo é apresentar em uma só peça jurídica

Puc Campinas

Acordos ou tratados são instrumentos jurídicos do Direito Internacional, mediante os quais dois entes reconhecidos internacionalmente estabelecem entre si questões de recíproco interesse. Para compreender a natureza do acordo, é importante estabelecer a distinção entre Santa Sé, que representa o governo universal da Igreja, sob a autoridade do

são “funcionários” da Igreja, mas seus membros mediante um vínculo canônico e espiritual. Ao contrário dos profissionais e funcionários das instituições religiosas. Assenta o direito de os bispos solicitarem visto de entrada aos religiosos e leigos estrangeiros que convidarem para atuar como missionários no Brasil. Enseja que a CNBB possa, autorizada pela Santa Sé em cada caso, pactuar com os direitos e obrigações versados no Acordo.

Papa, e o Vaticano, pequeno Estado territorial, onde se situa a Santa Sé, que, portanto, é a instituição soberana que firma acordos com outros estados. “No Brasil, desde a Proclamação da República (1889), não havia mais um reconhecimento jurídico formal da Igreja Católica perante o Estado brasileiro, e isso trazia uma série de inconvenientes. Era, na prática, como se a Igreja Católica não existisse perante as instituições do Estado. Portanto, era preciso suprir essa lacuna, para não deixar a Igreja ao desamparo da lei, sem ter sua existência e ação reconhecidas publicamente”, explicou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, em entrevista ao O SÃO PAULO, publicada em 30 de junho (para ler a entrevista, acesse: https://tinyurl.com/y6psd297).

De modo geral, em seus 20 artigos o Acordo:

Reafirma a personalidade jurídica da Igreja Católica e de suas instituições (Conferência Episcopal, dioceses, paróquias, institutos religiosos etc.) Na prática, isso favorece que as organizações religiosas possam administrar seus bens, gerir recursos de forma legal e transparente, abrir uma conta bancária, contratar funcionários e, assim, realizar a sua missão. Reconhece às instituições assistenciais religiosas

ventivas, identificação desse patrimônio cultural, estabelecimento de diretrizes para intervenções, fomento à conservação, produção de materiais formativos, entre outras medidas. Reafirma o compromisso da Igreja com a assistência religiosa a pessoas que a requeiram, e estejam em situações extraordinárias, no âmbito familiar, em hospitais ou presídios. Cuida do ensino religioso católico em instituições públicas de ensino fundamental, em caráter facultativo, e assegura o ensino de outras confissões religiosas nesses estabelecimentos. Confirma a atribuição de efeitos civis ao casamento religioso e dispõe sobre a eficácia de sentenças eclesiásticas nesse setor. Estabelece o princípio do respeito ao espaço religioso nos instrumentos de planejamento urbano. Codifica a jurisprudência pacificada no Brasil sobre a inexistência de vínculo empregatício dos ministros ordenados e fiéis consagrados mediante votos com as dioceses e os institutos religiosos equiparados. Isso significa que o Estado brasileiro reconhece, por exemplo, que os sacerdotes e religiosos não

aquilo que já é consagrado, seja pelo costume, seja pelas normas legais já vigentes. “Deste modo, em nada se acrescentam leis ou privilégios que beneficiem a Igreja Católica de modo a ferir a isonomia que a Constituição prescreve a todas as confissões e expressões religiosas”, reforça o relatório.

Estado laico

Ao ser questionado se o Acordo Brasil-Santa Sé eventualmente fere a laicidade do Estado, o Cardeal Scherer sublinhou que, por ser laico, o Estado brasileiro garante a liberdade religiosa aos seus cidadãos, não lhes impondo nenhuma religião e não assumindo nenhuma religião como “oficial”. “O Acordo, de forma alguma, fere a laicidade do Estado. Pelo contrário: ele a confirma e se baseia no respeito ao princípio da laicidade do Estado pela Igreja, representada pela Santa Sé”, explicou o Cardeal Scherer, acrescentando que, pelo Acordo, a Igreja Católica deixa clara qual é sua relação com o Estado, no âmbito das normas constitucionais. E o Estado deixa claro qual é sua posição em relação à Igreja Católica. Essa clareza é a maior garantia para ambas as partes. O acesso ao conteúdo dos dois primeiros módulos do curso de extensão sobre o Acordo Brasil-Santa Sé pode ser feito pelo site: www.facdcsp.com.br.


22 | Reportagem | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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Arquidiocese lança projeto para catalogação de relíquias em suas paróquias Arquivo pessoal

Sacramentais não valorizados atualmente, as relíquias santas ganharão destaque em projeto inovador, cujo objetivo é fomentar sua veneração

CLASSIFICAÇÃO

De acordo com a explicação precedente, a Igreja definiu a seguinte classificação das relíquias: Primária, de Primeira Classe ou de Primeiro Grau: são assim chamadas aquelas derivadas de partes do corpo de um santo ou beato (ossos, unhas, cabelo, sangue etc.); Secundária, de Segunda Classe ou de Segundo Grau: referem-se aos objetos pessoais de um santo ou beato (uma peça de roupa, um crucifixo, um utensílio etc.); Terciária, de Terceira Classe ou de Terceiro Grau: inclui pedaços de tecido que tocaram o corpo do santo ou beato.

JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

Com a retomada das atividades após um longo período de paralisação em virtude da pandemia de COVID-19, começam a tomar corpo na Igreja em São Paulo diversas iniciativas gestadas há pelo menos dois anos. Uma delas é considerada de fundamental importância, tanto sob o ponto de vista litúrgico e pastoral quanto do espiritual: o devido cuidado a ser dedicado às relíquias sagradas. O projeto prevê não somente a catalogação das relíquias santas custodiadas nas paróquias do território arquidiocesano, mas também a instrução sobre sua autenticidade, a garantia de conservação e a forma correta de sua exposição aos fiéis, com o intuito de resgatar e estimular o seu culto. Essa abordagem segue as diretrizes da Instrução sobre as Relíquias, da Congregação para as Causas dos Santos, publicada em 8 de dezembro de 2017, e do protocolo da International Crusade for Holy Relics (ICHR), um movimento internacional para propagação da importância da preservação e veneração das relíquias santas, bem como a restauração de relicários.

MEMÓRIA

Ao guardar a memória dos santos, a Igreja os propõe como exemplo para o seguimento de Cristo. O povo cristão, por sua vez, recorre à intercessão dos santos não só para obter uma determinada graça ou auxílio, mas sobretudo para se parecer mais com Jesus. Assim, desde os primeiros séculos, a Igreja tem destacado que o motivo último da devoção e veneração às relíquias dos santos é seu forte significado espiritual. Ao comentar o Salmo 115, São Basílio afirma que quem toca os ossos de um mártir participa de sua santidade. Por sua vez, São Gelásio I, por meio de seu código litúrgico “Sacramentário gelasiano” – que é uma coletânea de orações para recitar durante a missa, uniformizando funções e ritos das várias Igrejas –, diz que em cada relíquia é preciso considerar que está presente o corpo do santo ou beato em toda a sua integridade.

seu corpo ou com sua sepultura. Estas, por sua vez, são denominadas “relíquias por contato”.

DINÂMICA

Fabio Tucci Farah, especialista no assunto, analisa relíquias da Paróquia Santa Generosa

INICIATIVA EM SÃO PAULO

O culto às relíquias também está enraizado nas Sagradas Escrituras e foi bastante valorizado, tanto na Igreja primitiva quanto na maior parte de sua história. Em tempos recentes, porém, esse sacramental caiu no ostracismo. Milhares de relíquias foram engavetadas, exiladas nos sótãos ou abandonadas em porões de igrejas e santuários. Muitas foram confiadas a museus ou passaram a abastecer um lucrativo comércio, que, infelizmente, prospera na internet. “Coordeno e apoio a iniciativa por ter tido contato com o mundo das relíquias por meio do trabalho do professor José Eduardo Câmara. Tive a atenção tocada para esta realidade da Igreja, e, pelo fato de as atividades artísticas às quais me dedico estarem alinhadas à antropovisão católica, desenvolvo um estudo dramatúrgico sobre este universo”, afirma Mariana Chiuso, diretora da Mirante Cia. de Arte – um grupo de arte de orientação católica que organiza e produz eventos culturais e oferece formação artística – e uma das responsáveis pelo projeto. Mariana, porém, não está sozinha. Juntamente com ela, na coordenação deste trabalho – especificamente nas questões técnicas –, está Fabio Tucci Farah, jornalista especializado em Arqueologia Sacra; perito em relíquias da Arqui-

diocese de São Paulo; fundador do Real Instituto de Arqueologia Sacra, sediado em Fátima, Portugal; curador-adjunto da Real Lipsanotheca; delegado no Brasil da ICHR; secretário-geral da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI); e coordenador do 1º Congresso Brasileiro de Hagiologia, realizado entre 30 de outubro e 1º de novembro.

SIGNIFICADO

O termo “relíquia” provém do latim reliquiae-arum e quer dizer “resíduos, restos”, referidos, em sentido estrito, a um corpo. Por extensão, o termo se aplica também a objetos, derivado do termo reliquus, que significa “sobrante, restante”. Outros termos relacionados são “relicário” – que pode ser um recipiente de vidro, uma urna, uma teca ou objeto similar para conservar as relíquias ou expô-las à veneração dos fiéis; e “lipsanoteca” – pequeno invólucro de madeira, com tampa, destinado a conter alguma relíquia alojada na cavidade do altar de uma igreja. Já a expressão “relíquia dos santos” faz referência, sobretudo, ao seu próprio corpo ou a partes relevantes dele, porém pode se aplicar também a objetos que lhes pertenciam, utensílios, peças do vestuário ou manuscritos e igualmente a coisas que estiveram em contato com

Numa primeira fase, será feita a catalogação de todas as relíquias custodiadas nas paróquias da Arquidiocese, discriminando-se quais delas não possuem os certificados eclesiásticos que atestam sua autenticidade, em função de perda ou extravio. Para que possam ser veneradas pelos fiéis, as relíquias sem a devida documentação passarão por uma avaliação, segundo normas científicas rigorosas, reconhecidas mundialmente, feita por Farah e por Carlos Evaristo, fundador do Apostolado pelas Sagradas Relíquias, responsável pelo tesouro sacro e pela autenticação de relíquias, cujo trabalho é requisitado até mesmo pelos museus do Vaticano. Após esta análise, caberá ao Cardeal Odilo Pedro Scherer decidir quais relíquias poderão receber novo documento de autenticação. Na segunda fase, após a catalogação, os fiéis serão instruídos sobre as relíquias custodiadas em suas paróquias e a importância desse sacramental. Para que haja maior engajamento da comunidade, o sacerdote poderá instituir um apostolado das relíquias, que contará com o apoio da ICHR.

ALÉM DA CATALOGAÇÃO

“O objetivo deste projeto transcende à mera catalogação de relíquias. A missão é resgatar o sacramental em nossa Arquidiocese, trazer as relíquias de nossas paróquias à luz e mostrar que, em pleno século XXI, elas são vitrais do Paraíso”, afirmou Farah. As atividades começarão a ser feitos na Paróquia Santa Generosa, no Paraíso. No entanto, todo esse trabalho, para que alcance os resultados esperados, necessita da colaboração de voluntários, que uma vez aprovados, receberão um breve curso de formação, ministrado por Farah. Quem desejar se voluntariar ao projeto deve entrar em contato por meio do seguinte e-mail: catolicareliquia@gmail.com.


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| 8 a 14 de dezembro de 2021 | Reportagem/Fé e Vida | 23

Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo homenageia Dom Paulo Evaristo Arns Luciney Martins/O SÃO PAULO

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) realizou no sábado, 4, uma homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns por ocasião do centenário de seu nascimento. Nascido em 14 de setembro de 1921, ele morreu em 14 de dezembro de 2016, aos 95 anos. Foi Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998. A homenagem na sede da instituição, na região central, contou com a presença do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; Padre Ney de Souza, professor da PUC-SP; e de Jorge Pimentel Cintra e Malcolm Forest, respectivamente presidente e vice-presidente do IHGSP.

PERSONALIDADE MARCANTE

Ao abrir o evento, Jorge Pimentel Cintra recordou que a motivação para a homenagem solene foi a de manifestar que Dom Paulo é uma personalidade que tem expressivo significado na história de São Paulo e do Brasil. “O Cardeal Arns foi um grande intelectual, um estudioso da História e dos Padres da Igreja e teve grande preocupação social, características que o definem como uma personalidade marcante e digna desta homenagem”, expressou. Cintra destacou que Dom Paulo não teve vínculos formais com o IHGSP, “mas poderia ter sido um membro, pois o instituto é um centro acadêmico, e Dom Paulo foi um grande estudioso e conhecedor da História”, disse, recordando que o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo sempre teve bispos e religiosos entre seus membros.

COMPROMISSO SOCIAL

O presidente da instituição destacou, ainda, a preocupação do Cardeal Arns com os mais pobres e necessitados das periferias existenciais e geográficas: “Dom Paulo tinha um olhar especial aos pobres e sofredores da megalópole. Ele sempre convocava a todos para ‘travar uma grande batalha contra a miséria, a ignorância, a doença e o sofrimento’”. Cintra destacou a capacidade de liderança e o incentivo ao protagonismo dos leigos como um marco de Dom Paulo à frente da Arquidiocese de São Paulo. “Motivados pelo testemunho e imbuídos pela preocupação social do

3° Domingo do Advento 12 de dezembro de 2021

‘Alegrai-vos sempre no Senhor’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

Jorge Pimentel, Dom Odilo, Padre Ney de Souza e Malcolm Forest em evento no IHGSP

Arcebispo, um grupo de amigos e eu, nos anos 1980, criamos o Centro Educacional Assistencial Profissionalizante (CEAP), no bairro Pedreira, extremo Sul da capital, com o intuito de promover a dignidade humana, por meio de cursos profissionalizantes, assistência médica e espiritual”, recordou.

MÚLTIPLAS FACETAS

Dom Odilo rememorou alguns aspectos biográficos de seu predecessor, com destaque à sua trajetória ministerial e sua presença profética junto ao povo. “Dom Paulo é uma figura de múltiplas facetas – religioso franciscano, sacerdote, arcebispo, cardeal –, o pastor que se dedicou ao povo de São Paulo, o corajoso defensor da dignidade humana, a voz firme diante das injustiças, o defensor da justiça social, formador de opinião pública pautado nos ensinamentos do Evangelho e da opção preferencial pelos pobres”, afirmou. O Cardeal Scherer referiu-se às homenagens que seu antecessor tem recebido como “um momento propício para recolher as memórias do Cardeal Arns. Usando o termo bíblico e, também, da agricultura, ‘respigar’, que significa recolher as memórias como um legado para as próximas gerações”, disse Dom Odilo, que é membro do IHGSP desde 2017.

ATO HISTÓRICO

Padre Ney de Souza recordou o ato inter-religioso liderado por Dom Paulo no dia 31 de outubro de 1975 na Catedral da Sé, em repúdio ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog: “O ato inter-religioso é um marco importante da Igreja, da história de São Paulo e do Brasil. Nesse dia, milhares de pessoas estavam reunidas para dizer ‘não à violência, não à tortura’”, recordou o historiador. “O ato sinalizou, como nós sabemos, uma indignação da sociedade

contra a ditadura e a repressão no Brasil e entrou também para a história como uma mobilização para a redemocratização do País”, disse o Padre, mencionando o Cardeal Arns como um pastor que “mira a periferia, mas que traz as questões de toda a sociedade para dentro da Catedral”, recordou o Sacerdote, que participou do referido ato, quando tinha 12 anos, na companhia de seus pais. “A Catedral ressoou: era canto, choro, oração e promessa de que isto não aconteceria mais entre nós”, disse ele, que foi ordenado sacerdote por Dom Paulo, em 4 de dezembro de 1988.

PROMOÇÃO HUMANA

Malcolm Forest mencionou a constante luta de Dom Paulo pela promoção humana e pela garantia dos direitos, em tempos obscuros do País. “Dom Paulo se fazia presente a seu povo e clamava por justiça e paz”, disse o historiador, cineasta e produtor cultural. Forest ressaltou também a contribuição e o apoio de Dom Paulo no processo de beatificação de Frei Galvão, que se concretizaria no ano de 2007. “Um momento significativo para a Igreja. Dom Paulo deu todo o apoio para elucidar a santidade do Santo brasileiro”, finalizou.

SOBRE O IHGSP

Fundado em 1º de novembro de 1894, o IHGSP é uma associação civil de caráter científico e cultural. Reúne 229 membros e tem por finalidade promover a pesquisa, o estudo e a divulgação da História, Geografia e Ciência ou Artes correlatas; defender e preservar a memória e tradições paulistas, sem descurar da busca da verdade histórica. O IHGSP tem por missão valorizar o patrimônio histórico, artístico, cultural e urbano-ambiental das tradições e valores culturais, cívicos, morais e éticos de São Paulo.

‘Cardeal da Esperança’ será recordado em ato inter-religioso Na sexta-feira, 10, data em que se celebram os 73 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de

Liturgia e Vida

São Paulo e demais entidades, realizará às 10h, no Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns (Avenida Cruzeiro do Sul, 2.630, Metrô Carandiru), um ato inter -religioso por ocasião do centená-

rio de nascimento do “Cardeal da Esperança”. O ato também poderá ser visto pelo YouTube, por meio do link a seguir: https://cutt.ly/yYlbSp8. (por Redação))

O 3º Domingo do Advento é chamado Domingo Gaudete, pois a antífona de entrada da Santa Missa começa com as palavras de São Paulo aos Filipenses: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete” – “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegraivos!” (cf. Fl 4,4). Literalmente, é o “Domingo Alegrai-vos!” E por que devemos nos alegrar? São Paulo explica no versículo seguinte: “O Senhor está perto” (Fl 4,5)! Dentro de poucos dias, com o nascimento do Menino em Belém, “todos veremos a salvação de Deus” (Lc 3,6). Somente pode possuir profunda e verdadeira alegria quem tem a certeza da presença do Senhor. Isto é confirmado pelo convite de Sofonias: “Canta de alegria, rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração! O rei de Israel é o Senhor, Ele está no meio de ti” (cf. Sf 3,14-15). Quando nos damos conta de que o Senhor está presente, a tristeza se dissipa e experimentamos uma alegria diferente, mais profunda e duradoura. Mas, se nos esquecemos de que Ele está conosco, mesmo as coisas que aparentemente trariam “alegria” vão se tornando fonte de tédio e fastio. Por essa razão – retornando à antífona de entrada da missa –, São Paulo, de modo sutil, ensina-nos algo profundo que deve orientar toda a nossa vida: que nossa alegria seja “sempre no Senhor”. Encontremos n’Ele a alegria suave da oração, da Comunhão Eucarística, da contemplação dos Evangelhos, da Confissão, que é o “Sacramento da Alegria”. Mas, além disso, direcionemos para Deus as alegrias humanas: a vida em família e matrimonial, as amizades, o descanso, o namoro casto, a comida, as férias, a música... Essas realidades causar-nos-ão mais alegria e serão repletas de paz se forem vividas “no Senhor”, na Sua amizade, na Sua graça e conforme os Seus Mandamentos. E assim ajudar-nos-ão a nos santificar! Há pessoas que buscam alegria nas coisas por si mesmas. É impossível, pois se trata de algo muito fugaz! Aquilo que ardentemente desejávamos começa rapidamente a nos entediar; precisamos, então, de outras coisas novas e melhores e, no fim das contas, estamos insatisfeitos e, talvez, mais tristes do que no início. Corremos ainda o risco de nos tornar cobiçosos e apegados a simples objetos, cargos, ilusões. E, por fim, as coisas estragarão, serão perdidas ou roubadas... Outros buscam a perfeita alegria nas pessoas. Já é um passo adiante! Porém, sem Deus, as relações se tornam facilmente pegajosas, egoístas, ciumentas, idolátricas... Perdemos de vista que as pessoas são um presente Dele em nossas vidas. E que nenhum ser humano pode “dar sentido” à nossa existência. E, ao fim, as pessoas também morrem. Se nosso amor não for alicerçado “no Senhor”, tudo ficará triste e sem sentido. “Alegrai-vos no Senhor!” Ele é a grande Alegria! Nele todas as outras alegrias se tornam maiores e duradouras. “Eu repito, alegrai-vos!”


24 | Papa Francisco | 8 a 14 de dezembro de 2021 |

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Superar o medo e acabar com o ‘naufrágio da civilidade’ Vatican Media

Em viagem à Grécia e a Chipre, o Papa Francisco rezou com refugiados, alertou para a crise da democracia e pediu uma Igreja fraterna para todos Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Está na hora de superar medos sem base na realidade e acabar com o “naufrágio da civilidade”, disse o Papa Francisco, em sua visita ao campo de refugiados de Lesbos, ilha grega, no domingo, 5. Foi a segunda vez que o Pontífice visitou o local e um dos momentos mais marcantes de sua viagem de cinco dias à Grécia e a Chipre. Francisco retornou a Lesbos cinco anos depois de sua primeira visita, definindo a questão migratória como “um problema do mundo”, e não deste ou daquele país ou continente. Durante a viagem aos dois países, encontrou líderes da Igreja Ortodoxa, com quem estreitou laços de amizade, falou sobre a crise da democracia no mundo e pediu aos católicos que sejam uma comunidade calorosa e fraterna.

A paralisia do medo

Usando palavras do Patriarca Ecumênico Bartolomeu, líder da Igreja Ortodoxa, afirmou aos refugiados que em Lesbos esperam por uma solução definitiva sobre seu destino: “Quem tem medo de vocês não olhou nos seus olhos. Quem tem medo de vocês não viu os seus rostos. Quem tem medo de vocês não vê os seus filhos”. Em nossas sociedades, o fechamento para o outro, o diferente, é, muitas vezes, resultado do nacionalismo – algo que traz “consequências desastrosas” à humanidade, disse o Papa. Da mesma forma que a vacinação em tempos de pandemia de COVID-19 deve ser entendida como um problema global, também a questão migratória deve ser analisada de forma compreensiva, e não local. “Não adiantam ações unilaterais, mas políticas de grande fôlego. A história, repito, nos ensina, mas não aprendemos

Em visita à ilha de Lesbos, na Grécia, Papa pede que não se condenen os que migram, mas que se encontrem as raízes do problema migratório

ainda”, completou Francisco. “Que não se delegue sempre aos outros a questão migratória, em uma contínua passagem de responsabilidades, como se a ninguém importassem [as pessoas que migram]”, alertou. “Superemos a paralisia do medo”, exortou o Pontífice, “a indiferença que mata, o cínico desinteresse que com luvas de veludo condena à morte quem está às margens”. Para isso, é preciso contrastar o “pensamento dominante”, aquele que “gira ao redor do próprio ‘eu’, aos próprios egoísmos pessoais e nacionais”, que viram medida e critério para tudo.

O medo na opinião pública

A manipulação do discurso político que provoca medo foi sinalizada pelo Papa Francisco. “É fácil mobilizar a opinião pública, instigando o medo do outro. Por que não se fala com a mesma força da exploração dos pobres, das guerras esquecidas e ricamente financiadas, dos acordos econômicos feitos sobre a pele do povo, das manobras ocultas para traficar armas e fazer proliferar o seu comércio?”, denunciou. Segundo o Papa, em vez de condenar as pessoas que migram, é preciso atingir as raízes do problema migratório, e enxergar na política instrumentos para soluções, “ações concretas”, em vez de discursos ainda mais destrutivos.

A democracia perde força

Também na Grécia, cuja antiga civilização estabeleceu as raízes para o sistema democrático que predomina no mundo ainda hoje, o Papa Francisco falou sobre um “recuo” da democracia nos nossos tempos. Entre as ameaças que ele mencionou na sua viagem de retorno a Roma,

estão duas: primeiro, a do nacionalismo que fecha uma nação à riqueza das outras; e, segundo, a criação de identidades ou governos internacionais que apagariam os valores únicos e as liberdades individuais. Em Atenas, no sábado, 4, ele falou a autoridades civis e diplomáticas sobre uma preocupação: “O recuo da democracia” em alguns países da Europa, sem citar nomes. A democracia “requer participação e envolvimento de todos e, portanto, exige cansaço e paciência”, lembrou o Papa. “É complexa, enquanto o autoritarismo é acelerador e as fáceis seguranças propostas pelos populismos parecem confortantes.” Francisco comentou que muitos povos correm o risco de se deixarem seduzir por um “ceticismo democrático”, para o qual a melhor resposta é um fortalecimento da democracia. “Que à indiferença individualista se oponha o cuidado do outro, do pobre e da criação, pontos essenciais para um humanismo renovado”, disse.

Igreja fraterna e para todos

Além de pedir perdão aos irmãos da Igreja Ortodoxa pelos erros cometidos no passado pelos católicos, em encontro com o Arcebispo Ortodoxo Ieronymos II, também em Atenas, no sábado, Francisco se reuniu com o Santo Sínodo dos ortodoxos em Nicosia, Chipre, na sexta-feira, 3. Na visita a Chipre, o Papa se apresentou como peregrino, seguidor dos passos dos apóstolos Paulo e Barnabé, os primeiros evangelizadores da região. Essa raiz apostólica comum deve unir as duas Igrejas, disse o sucessor de Pedro. “Temos que caminhar mais intensamente com vocês, irmãos”, declarou.

“Eu lhes asseguro a oração e a proximidade, minha e da Igreja Católica, nos problemas mais dolorosos que vos angustiam, e nas esperanças mais belas e audaciosas que vos animam”, completou. “As tristezas e as alegrias de vocês nos pertencem, e as sentimos como nossas.” Aos católicos de Chipre, que são uma minoria, o Papa usou a figura de São Barnabé para pregar sobre uma “Igreja paciente” e fraterna, acolhedora de todos. Chamando Barnabé de “apóstolo da paciência, do acompanhamento”, afirmou: “É a paciência de se colocar constantemente em viagem, de entrar na vida das pessoas até então desconhecidas, de acolher as novidades sem julgá-las com pressa, a paciência do discernimento, que sabe acolher os sinais da obra de Deus em tudo, de estudar outras culturas e tradições”.

Aos jovens: dedicar-se ao serviço dos outros

Em encontro com os jovens de Atenas, o Papa deixou seu aviso sobre os riscos da realidade virtual tão presentes em suas vidas. “Não se contentem com encontros virtuais”, disse ele. “Não busquem visibilidade, mas os invisíveis” da sociedade. Ele pediu aos jovens que, como Jesus, se dediquem ao serviço concreto dos que mais precisam. “Servir é o gesto mais bonito, maior de uma pessoa, servir os outros. Mas se você vive prisioneiro de si mesmo, nunca encontrará o outro, nunca saberá o que é servir”, acrescentou. O Papa exortou os jovens a não se deixarem ser “prisioneiros dos celulares”, pois sobre a tela pode faltar o outro, “os seus olhos, o seu respiro, as suas mãos”. Em vez disso, o “ardor de servir” é belo e sempre traz novidades, declarou o Santo Padre.


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