O São Paulo - 3371

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3371 | 10 a 16 de novembro de 2021

Editorial Comunhão dos santos, a grande família de almas amigas de Deus

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Encontro com o Pastor Pelos pobres, pratiquemos a justiça, a solidariedade e as obras de misericórdia

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

‘Sempre tereis pobres entre vós’ (Mc 14,7) Luciney Martins/O SÃO PAULO

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Espiritualidade Que todos busquem verdadeiramente ser santos e santificar o mundo

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Liturgia e Vida A salvação definitiva não ocorre por mãos humanas, mas nos vem do Céu

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Comportamento Forme seu filho para que se empenhe em cumprir as tarefas até o final

Página 7

Ensino de Libras amplia a inclusão de deficientes auditivos no Brasil Fernando Capovilla, especialista em desenvolvimento e distúrbios de comunicação e linguagem, ressalta que quanto mais cedo essa língua for ofertada aos surdos, melhor desenvolverão a escrita e a leitura. Página 19

Papa: ‘São muitos os rostos sofredores com essa crise climática’ Francisco enviou mensagem aos participantes da COP26, que acontece em Glasgow, na Escócia, com discussões sobre o combate ao aquecimento global. Páginas 21 e 22

Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe começa no dia 21 Com o tema “Todos somos discípulos missionários em saída”, evento abordará os desafios da missão da Igreja no continente. Página 23

Instituído pelo Papa Francisco em 2016, o Dia Mundial dos Pobres convida à prática da caridade em favor das pessoas que mais precisam

A comemoração do Dia Mundial dos Pobres, no domingo, 14, é ocasião para os católicos recordarem que, desde a sua origem, a Igreja dedica atenção especial aos mais necessitados, a exemplo de seu fundador, Jesus Cristo. Em 2 mil anos de história, foram muitos os homens e mulheres que, de vários modos, ofereceram a sua vida ao serviço dos pobres, tanto na assistência imediata quanto no combate às

situações que geram a pobreza na sociedade. O SÃO PAULO mostra exemplos como o da dona de um restaurante que articulou uma rede de solidariedade para a produção e distribuição de refeições a pessoas em situação de rua, e do fotógrafo que, por meio do dinheiro obtido com a venda de imagens, constrói casas, distribui cestas básicas e gera oportunidades a famílias carentes no sertão baiano. Páginas 11 a 14


2 | Encontro com o Pastor | 10 a 16 de novembro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

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o domingo, 14 de novembro, a Igreja comemora no mundo inteiro o 5º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco no final do Ano da Misericórdia, em 2016. Com essa iniciativa, a Igreja é chamada a voltar os olhos para os pobres, sem se esquecer deles, conforme recomendação dada pelos apóstolos a São Paulo no Concílio Apostólico, em Jerusalém: “O que nos recomendaram foi somente que nos lembrássemos dos pobres. E isso procurei fazer sempre com toda a solicitude” (Gl 2,10). Os pobres são uma realidade que nos questiona. Podemos ser levados facilmente a racionalizar essa realidade, fazendo estatísticas sobre o número deles, estabelecendo escalas para classificar os níveis de pobreza ou debatendo simplesmente as causas da pobreza, divagando em discussões infinitas com viés ideológico, para justificar

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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Os pobres entre nós a pobreza ou para instrumentalizar os pobres, como “massa de manobra” para conseguir outros objetivos. O mundo está cheio de discursos abstratos sobre as causas da pobreza. Enquanto isso, os pobres sofrem e aumentam sempre mais. Algo mais precisa ser feito. Pobre é pessoa de carne e osso, estômago vazio, sente frio, fica doente, precisa de remédio e casa, tem sentimentos e dignidade. Pobre também gosta das coisas bonitas e boas da vida... Nunca esqueçamos que os pobres não são números, entidades abstratas ou ideias a serem debatidas. São pessoas concretas, com rosto muitas vezes desfigurado pelos sofrimentos, com necessidades físicas, intelectuais e espirituais como qualquer outro ser humano. Os pobres estão ao nosso redor, em toda parte e, talvez, nem mais nos damos conta de sua presença e de sua situação. Há muitos tipos de pobres, e todos eles nos interpelam, mesmo sem dizer palavras. Ainda vemos os pobres e lhes dirigimos uma palavra, um sorriso? O Dia Mundial dos Pobres é uma ocasião para tomar consciência da existência dos pobres e para

uma reflexão sobre as causas da pobreza e a busca de soluções para a sua situação sofrida e para o problema sempre crescente da pobreza no mundo. Nunca houve tantos pobres como hoje. Ao mesmo tempo, nunca houve tanta produção de bens e riquezas como hoje. Esse contrassenso é um escândalo, que precisa ser resolvido. Enquanto uma parte da humanidade vive na abundância e no consumismo, uma outra parte, bem maior, vive na pobreza, quando não na miséria. Há algo de muito errado nisso. Durante a semana que precede o Dia Mundial dos Pobres, muitas iniciativas estão sendo promovidas em nossa Arquidiocese pela Caritas Arquidiocesana, as paróquias e muitas outras organizações e grupos. É hora de ir ao encontro dos pobres, ouvi-los e compreender melhor seus sofrimentos e aspirações. Mais que falar dos pobres, é preciso falar com os pobres, abrir os microfones e as filmadoras para lhes dar voz e imagem. Graças a Deus, muitas pessoas já estão fazendo isso. Durante a pandemia de COVID-19, testemunhamos uma onda imensa de solidariedade e caridade para com os pobres. E isso não deveria

mais parar, mesmo com a superação da pandemia, pois os pobres continuam entre nós, têm fome, moram na rua ou em acomodações muito pobres, estão desempregados e vivem com o mínimo de segurança alimentar e sanitária. Ao nos voltarmos para os pobres, devemos voltar-nos também para as iniciativas e organizações que se dedicam ao serviço deles. Graças a Deus, essas também são numerosas! No Dia Mundial dos Pobres, também essas organizações e iniciativas deveriam ser trazidas para o centro da cena, para receberem o apoio devido na continuidade de seu trabalho. O Papa Francisco escolheu como tema as palavras do Evangelho: “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7). Desde que a humanidade existe, também existem os pobres. Seria uma afirmação resignada diante de uma situação sem solução? Jesus não se enganou. Sempre haverá pobres entre nós para que cuidemos deles e pratiquemos a justiça, a solidariedade e as obras de misericórdia. Os pobres nos são entregues para que cuidemos deles e aprendamos a amar como Deus nos ama. Diante de Deus, todos nós somos pobres!

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Cardeal Scherer: a comunicação da Arquidiocese deve estar a serviço da vida e missão da Igreja Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Na manhã da quinta-feira, 4, o Cardeal Odilo Pedro Scherer reuniu-se com os profissionais dos meios de comunicação da Arquidiocese e com os padres e leigos das equipes de Pastoral da Comunicação das regiões episcopais. Também participaram do encontro o Padre Michelino Roberto, Diretor do jornal O SÃO PAULO e da rádio 9 de Julho, e o Padre Luiz Claudio de Almeida Braga, Assistente Eclesiástico Arquidiocesano da Pastoral da Comunicação (Pascom).

Avanços no jornal e na rádio

Padre Michelino detalhou as mudanças mais recentes na grade de pro-

gramação da 9 de Julho, as quais têm proporcionado aos ouvintes conteúdos informativos e formativos sobre a Igreja Católica, bem como atualizações de temas da sociedade, sempre na perspectiva para a promoção do bem-estar das famílias e da dignidade humana. O Sacerdote também destacou a maior incidência do O SÃO PAULO na internet – via site e redes sociais –, mantendo o compromisso de formar e informar sob a ótica cristã. Dom Odilo lembrou que compete aos meios de comunicação da Arquidiocese estar a serviço da vida e missão da Igreja, devendo, assim, dar visibilidade às boas iniciativas do ambiente eclesial e de testemunho da fé. Comentou, ainda, sobre o zelo com o processo produtivo, uma vez que o fato hoje transformado em notícia amanhã se tornará referência

para a consulta a respeito de um momento histórico. O Arcebispo explicou que não se deve se descuidar de uma linguagem própria ao universo católico, a fim de que as mídias da Arquidiocese ajudem a apresentar corretamente à opinião pública os conceitos sobre a Igreja.

Pascom

Ao falar sobre a Pastoral da Comunicação, o Padre Luiz Claudio lembrou que em todas as regiões episcopais a atuação dessa Pastoral está articulada e se mostrou fundamental ao longo da pandemia, não só para a transmissão das celebrações pelas plataformas on-line, mas, também, para orientar as demais pastorais e as múltiplas iniciativas eclesiais que foram feitas remotamente. Representantes dos grupos da Pas-

com nas regiões episcopais detalharam como tem se dado a atuação dessa Pastoral, que, conforme relataram, está estruturada na maioria das paróquias, tem se colocado a serviço das demais pastorais e ajudado as paróquias na montagem e gestão de conteúdos em seus sites e redes sociais, além do envio de materiais colaborativos para o jornal e a rádio. Uma das preocupações é com a boa formação dos agentes, não só nos aspectos técnicos para a produção e gestão de conteúdos, mas também com a espiritualidade do comunicador. Ao fim do encontro, Dom Odilo destacou que os meios e iniciativas de comunicação na Arquidiocese não podem ser pensados isoladamente e disse que duas palavras-chave não podem ser esquecidas: interação e colaboração.

Dom Odilo preside missa em área pastoral no extremo da zona Leste REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

No domingo, 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa nas dependências da CEI Esperança, no Jardim Palanque, zona Leste, próxima à Capela Nossa Senhora de Guadalupe da Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo, na Região Belém. Concelebraram os Padres Paulo Lino, Administrador Paroquial, e José Ferreira Filho, assistidos pelo Diácono Ricardo Donizeti. Criada em 3 de fevereiro de 2008, a Área Pastoral é composta pelas Capelas São José Operário, São João Evangelista, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Guadalupe, São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo, todas localizadas no extremo da zona Leste da cidade.

A missa aconteceu na escola para que mais fiéis pudessem participar presencialmente. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano refletiu sobre a liturgia do dia, referente à Solenidade de Todos os Santos. Ele afirmou ser esta uma festa do futuro, pois dela participam pessoas que já passaram por este mundo e se mantiveram fiéis a Deus até seu último dia de vida na terra. “Somos Igreja peregrinante e padecente, e todos os que se mantiverem perseverantes, ouvindo e vivendo a vontade de Deus, terão a Graça da felicidade completa na Igreja triunfante que é preparada por Deus”, ressaltou, lembrando que todos os sacrifícios valem a pena para se alcançar a vida eterna a partir de uma vida de santidade. Dom Odilo recordou São João Paulo II, que dizia que a santidade deve ser o

propósito de vida de todas as pessoas e mencionou santos e beatos que viveram em São Paulo, como Santo Antonio de Sant’Ana Galvão, São José de Anchieta e o Beato Mariano de la Mata. Ressaltou, ainda, que para ser santo é necessário oração, trabalho e seguir a vontade de Deus, contando sempre com o auxílio do Espírito Santo. “Todos os dias, devemos pedir a intercessão dos santos para que

também tenhamos a graça da perseverança na fé.” E concluiu: “Nós recebemos a santidade da forma como estamos unidos a Deus, mas também na medida com que fazemos a vontade de Deus, no dia a dia da nossa vida. A santidade está ao alcance de todos”. (Colaboraram: Julianne Chetta, Carlos Henrique Bardelli, Tuane Luiza Ferreira Bardelli, Fernando Arthur e Bruno Bonfim)

Arquivo pessoal

Flávia Chaves

ADMISSÃO DE SEMINARISTAS COMO CANDIDATOS ÀS ORDENS SACRAS

No dia 3, o Cardeal Scherer presidiu missa no Seminário de Teologia Bom Pastor, no Ipiranga, com o rito de admissão de oito seminaristas como candidatos às ordens sacras. No processo formativo para o sacerdócio, esse rito antecede a ordenação diaconal dos futuros padres. Dos seminaristas admitidos, quatro serão ordenados diáconos já neste ano, em 11 de dezembro, às 15h, na Catedral da Sé: Alan dos Santos, 33, Lucas Antônio Silva Martinez, 26, Nilo Massaaki Shinen, 43, e Cleyton Pontes Silva, 26, juntamente com o seminarista Elias Honório de Castro, do Seminário Missionário Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo. Os outros quatro que foram admitidos como candidatos às ordens sacras são os seminaristas Alysson Antunes Carvalho, 25, Jonathan Aparecido Lopes Gasques, 28, Miguel Lisboa Aguiar Marcondes, 24, e Yago Barbosa Ferreira, 25.

Atos da Cúria

Dom Odilo abençoa crianças em missa realizada em escola no Jardim Palanque, no domingo, 7

DECRETO DE PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 28/10/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Administrador Paroquial da Paróquia Santo Inácio de Loyola e São Paulo Apóstolos, no bairro da Vila Mariana, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Padre Mário Pizetta, SSP, até 31 de dezembro de 2021.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO Pelo presente edital Fica convocado o Geovane Marino Souza (PARTE DEMANDADA). com endereço desconhecido para que compareça de terça à sexta feira, das 13:00 hs., às 16:00 hs, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga - São Paulo - SP, para tratar de assunto que lhe diz respeito. São Paulo, 10 de novembro de 2021 Monsenhor Sérgio Tani Vigário Judicial


4 | Ponto de Vista | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Editorial

Comunhão dos santos: o plano divino de salvação

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a última edição, refletíamos sobre a vida de santidade: como Deus nos chama, a cada um de nós, para uma vida de intimidade consigo, pela imitação de Cristo. Esta imitatio Christi, dizíamos, manifesta-se das formas mais diversas nos vários santos da Igreja: de padres a freiras, de médicos a engenheiros e crianças... Pois bem, hoje queríamos lembrar o ensinamento da Igreja sobre esta comunhão dos santos, esta grande família de almas amigas de Deus. São Paulo nos ensina que existe um plano misterioso e divino de salvação, que Deus livremente propôs em seu desígnio benevolente: “Foi em Cristo que Deus Pai nos escolheu, já bem antes de o mundo ser criado, para que fôssemos, perante a sua face, sem mácula e santos pelo amor” (cf. Ef 1,3-10). E como se faria esta filiação adotiva, esta recapitulação de tudo em Cristo? Em princípio, Deus poderia ter disposto as

coisas de tal forma que cada pessoa percorresse os caminhos de sua vida terrestre sem receber ou exercer influência sobre as outras – e, contudo, “aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente” (Lumen gentium, 9). Em outras palavras: o país em que você nasceu, sua família, seu círculo de amigos... de alguma forma, tudo isso entra no desígnio providencial do Pai. Mas as influências recíprocas entre os filhos de Deus não acontecem apenas entre aqueles que peregrinam juntos nesta terra (a Igreja Militante): também os membros da Igreja Triunfante (os santos no Céu) se relacionam conosco, nos ajudam... E muitas vezes, inclusive, este socorro nos vem de onde menos esperamos, de santos por quem nem temos tanta devoção. De fato, conta Santa Teresinha, em sua História de uma alma, de um sonho mís-

tico que ela teve, num momento em que passava por uma grande tempestade interior. No sonho, ela viu algumas santas carmelitas – dentre as quais a Beata Ana de Jesus, fundadora do Carmelo na França, que lhe falou com ternura e sorriso repletos de amor. “A tempestade já não se alastrava; o céu estava calmo e sereno... eu cria, eu sentia que existe um Céu, e que este Céu é povoado de almas que me amam, que me olham como sua filha... Esta impressão permanece em meu coração, especialmente porque a V. Madre Ana de Jesus tinha-me sido até então absolutamente indiferente (...). Assim, quando entendi até que ponto ela me amava, quanto eu não lhe era indiferente, meu coração se derreteu de amor e de gratidão, não apenas pela Santa que me visitara, mas ainda por todos os Bem-aventurados habitantes do Céu...”. Pode ser que não tenhamos um tal sonho, que não venhamos a enxergar com tanta clareza estas amizades celestes: mas há também outras formas de fo-

mentar esta relação. O “santo do dia” em que nascemos, ou em que aconteceram outras coisas importantes em nossa vida (Batismo, experiência de conversão...); ou santos que passaram por experiências semelhantes às nossas, ou que ensinaram verdades que nos tocam particularmente: tudo isso pode ser ocasião de estreitar a devoção a um santo em particular. É isto a comunhão dos santos: uma multidão de almas que já contemplam a glória de Deus, e que nos amam como amigos queridos! Façamos nossas aquelas palavras com que o Papa Emérito Bento XVI se reconfortava, diante do fardo do ministério petrino, recém-assumido: “Quem crê nunca está sozinho nem na vida nem na morte. (...) Não estou sozinho. Não devo carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me” (Santa Missa de entrega do Anel do Pescador, 24/05/2005).

Opinião

A democracia depende daqueles que vivem amizades verdadeiras Arte: Sergio Ricciuto Conte

Ana Lydia Sawaya Para continuar a reflexão sobre a amizade em Aristóteles, apresentada numa série de artigos ao longo deste ano, vejamos como ele descreve, em “Ética a Nicômaco”, a amizade entre as pessoas boas e as que são perversas, pois ele diz que uma cidade (ou um país) precisa de um número significativo de pessoas que vivam amizades verdadeiras entre si para ter um bom governo: “Só a pessoa virtuosa é coerente consigo mesma [...] deseja para si o que é bom e o que parece sê-lo, e o faz; [...] assim procede para o seu próprio bem; age a partir da própria racionalidade [...] Ela deseja viver consigo mesma; realizar aquilo no qual encontra prazer; e o faz com prazer, já que se compraz na recordação de seus atos passados e suas esperanças para o futuro são boas, e, portanto, agradáveis. Tem, do mesmo modo, uma mente rica de reflexões [...] Ela não tem, por assim dizer, nada de que possa se arrepender. Logo, como cada uma destas características pertence à pessoa boa em relação a si mesma, ela se relaciona com o seu amigo como faz consigo mesma (pois o amigo é um outro ‘eu’)”. As pessoas perversas, porém, experimentam o contrário. Passam “os dias a fugir de si mesmas; pois lembram-se de muitos crimes e preveem

outros semelhantes quando estão sozinhas, mas esquecem-nos quando têm companhia. E, não possuindo em si nada amigável, não são amigas de si mesmas. [...] Sofrem quando se veem privadas de algumas coisas, enquanto a outra parte de sua alma sente prazer; uma parte as arrasta numa direção e a outra na direção contrária, dilacerando-as. [...] Os maus são cheios de arrependimento. Por esses motivos, a pessoa má não parece ser amiga de si mesma, uma vez que nela não existe nada digno de amizade”. Por fim, Aristóteles afirma que não se pode pensar em uma organi-

zação social e política sem que um número significativo de pessoas que viva a amizade entre si: “Uma cidade vive em concórdia quando as pessoas concordam sobre o que é de seu interesse, escolhem as mesmas ações e fazem em comum o que resolveram. É, portanto, a respeito das coisas a fazer que se diz que as pessoas são concordes; e, entre elas, dos assuntos importantes em que é possível a ambas ou a todas as partes obterem o que pretendem; por exemplo, uma cidade é unânime quando todos os cidadãos pensam que os seus cargos públicos devem ser eletivos, ou que convém fazer alianças

[...]. Há concórdia quando tanto o povo quanto os da classe superior desejam que as melhores pessoas governem; porque assim, e só assim, todos alcançarão o que pretendem. A concórdia parece, pois, ser a amizade política, como, de fato, é geralmente considerada; pois ela versa sobre coisas que são de nosso interesse e que têm influência em nossa vida. Ora, uma tal concórdia é encontrada entre as pessoas boas, pois estas são concordes tanto consigo mesmas quanto umas com as outras e têm, por assim dizer, um só pensamento (já que os desejos de tais pessoas são constantes e não estão à mercê de correntes que vão e vêm); e desejam o que é justo e útil, e os buscam em concórdia. As pessoas más, entretanto, não podem estar de acordo ou serem amigas a não ser dentro de limites muito reduzidos, visto que ambicionam obter vantagens nas coisas que são úteis, enquanto, no trabalho e no serviço público, ficam muito aquém da parte que lhes compete. E cada uma, desejando vantagens para si mesma, critica seu vizinho e lhe impõe obstáculos; de modo que, se as pessoas não cuidarem da comunidade, esta não tardará a ser completamente destruída”. Ana Lydia Sawaya é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge (Reino Unido). Foi pesquisadora visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

ECC promove encontro regional presencial após 2 anos CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Entre os dias 5 e 7, o Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Região Sé voltou a fazer um encontro presencial após quase dois anos. A atividade aconteceu na Paróquia Santo Antônio, no Pari, Setor Pastoral Bom Retiro, e foi referente à 3ª Etapa do ECC, envolvendo as dez paróquias que possuem este serviço na Região Episcopal Sé. No encontro, orientado pelo Páro-

co, Frei Wilson Batista Simão, OFM, que também é Assistente Eclesial do ECC na Região, foi apresentado para o triênio 2022/2024 o novo casal diocesano responsável pelo movimento na Região Episcopal Sé: Cassiano Ricardo Elias Pesce e Norma Nair Áviles A. Pesce, paroquianos da Paróquia São Paulo da Cruz – Calvário. Eles assumirão o lugar do casal José Roberto Berreta e Ana Cristina Paula Lima, que fica na função até o fim de 2021, conforme deArquivo paroquial

termina o documento que rege o ECC Nacional. Ainda nessa Paróquia, na manhã do domingo, 7, Dom Carlos Lema Garcia, Vigário Episcopal na Região Sé e Referencial da Pastoral Familiar na Arquidiocese, presidiu missa, concelebrada pelo Frei Wilson Batista. Na ocasião, o Bispo abençoou o novo casal responsável e renovou oficialmente a nomeação de Frei Wilson na função de Diretor Espiritual do ECC na Região por mais três anos. [BRASILÂNDIA] Os fiéis da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, participaram, no sábado, 6, de uma missa em sufrágio da alma dos mais de 600 mil mortos pela COVID-19 no Brasil. A celebração eucarística, presidida pelo Padre Genésio de Morais, Pároco, ocorreu no pátio da Escola Estadual Doutor Ubaldo Costa Leite, no Jardim Guarani, atendendo a um pedido da comunidade escolar, representada pela gestão da diretora Deyse Valverde de Andrade Kimura e a conselheira escolar Eliete.

Na homilia, Dom Carlos falou sobre a caminhada de santificação, reafirmando a todos o contínuo processo de conscientização a que são chamados e devem se propor a viver como Igreja, no caso específico dessa Paróquia por meio da presença e atuação dos representantes dos seus 18 movimentos, grupos e pastorais, sob a direção do Pároco. (Colaboraram: Ana Cristina Paula Lima, José Roberto Berreta e Lourdes Bona)

Arquivo paroquial

(por Marcos Rubens Ferreira)

[IPIRANGA] Após o período formativo de seis meses, os candidatos a ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e dos Enfermos de dois setores pastorais receberam a investidura, em missas presididas por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ. No Setor Pastoral Anchieta, as celebrações aconteceram na Paróquia São Vicente de Paulo (foto), na sexta-feira, 5, e na Paróquia Santa Edwiges, no sábado, 6, quando houve a investidura de 137 candidatos. Já a missa no Setor Pastoral Vila Mariana aconteceu no domingo, 7, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Moema. (por Caroline Dupim)

[BRASILÂNDIA] No sábado, 6, foi realizada a assembleia da Paróquia Santos Apóstolos, Setor São José Operário, no contexto da fase diocesana do Sínodo universal da Igreja, a ser concluído em 2023. Com o apoio e organização dos Padres Jaime Izidoro, Pároco, e Luiz Carlos Tose, Vigário Paroquial, foi refletido sobre “como ser uma Igreja sinodal, por meio da comunhão, participação e missão”. (por Pascom da Paróquia Santos Apóstolos)

[IPIRANGA] Foi concluída a reforma da residência paroquial da Paróquia Santa Cândida, Setor Pastoral Ipiranga. Em ação de graças pela conclusão das obras, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa na Paróquia, no domingo, 7, e abençoou o espaço reformado. (por Caroline Dupim)

Espiritualidade Todos são chamados à santidade Dom Carlos Lema Garcia

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade

E

m certa ocasião, uma jornalista perguntou a Santa Teresa de Calcutá: “Madre Teresa, na sua opinião, o que precisa mudar na Igreja?”. E, sem titubear, a Madre respondeu: “Você e eu!”. Penso que essa resposta é de grande atualidade agora em que vivemos um caminho sinodal. Antes de tudo, pensemos naquilo em que cada um de nós precisa mudar, para melhorar também a Igreja, porque sabemos que todos somos responsáveis por fazer parte viva do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Celebramos, no domingo passado, a Festa de Todos os Santos. Isso lembra o nosso destino: todos somos chamados à santidade. Isso é o que a Igreja espera de cada um dos seus membros, dos

ministros ordenados, dos consagrados e dos fiéis leigos: que lutem verdadeiramente para serem santos e para que santifiquem o mundo, no desempenho do seu trabalho e dos seus deveres pessoais e sociais. São João Crisóstomo, nos alvores da Igreja, já dizia: “Eu não vos digo: não vos caseis. Eu não vos digo: abandonai a cidade e afastai-vos dos negócios citadinos. Não. Permanecei onde estais, mas praticai a virtude. Para dizer a verdade, quereria antes que brilhassem por sua virtude os que vivem no meio das cidades, que os que foram morar nos montes...” Para ele, como para as primeiras gerações dos cristãos, estava claro o chamado do Evangelho para procurar a santidade sem abandonar o próprio ambiente. Contudo, durante muitos séculos, a maioria dos cristãos não entendeu dessa forma: só almejavam a santidade aqueles que se ordenavam sacerdotes ou ingressavam num convento, numa ordem ou congregação religiosa como frades ou freiras. No entanto, o Concílio Vaticano II propôs para todos os fiéis aquilo que se viveu nos primeiros séculos do Cristianismo: todos são chamados a um caminho de santidade, cada um em seu estado e condição de vida.

A partir da publicação da constituição dogmática Lumen gentium, deu-se um grande progresso na doutrina eclesiológica naquilo que se refere à posição do fiel leigo na estrutura e na missão da Igreja. Essa mensagem já vinha sendo ensinada por São Josemaría Escrivá desde 1928: um retorno às origens. Um convite aos homens e às mulheres de hoje almejarem a santidade em seu trabalho e em seu estado laical, no meio do mundo: “Eles [os primeiros cristãos] viviam a fundo sua vocação cristã; procuravam seriamente a perfeição a que estavam chamados pelo fato, simples e sublime, do Batismo. Não se distinguiam exteriormente dos outros cidadãos” (São Josemaría: Entrevistas, 24). A santidade laical como um verdadeiro caminho vocacional, um compromisso para a vida inteira. Uma santidade verdadeiramente assumida com o compromisso de praticar todas as virtudes cristãs, de realizar o próprio trabalho e deveres pessoais com a maior perfeição possível, de constituir uma família cristã exemplar, educando os filhos no caminho da fé, exercitando um apostolado com todos: pessoas do próprio círculo de amizade e outras. É

o que também nos ensina o Papa Francisco, na exortação apostólica Gaudete et exultate, 14: “Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes, somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho a serviço dos irmãos. És mãe, pai, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais”. Pedimos a todos os Santos do Céu que todos e cada um de nós vivamos com seriedade o nosso compromisso de santidade, assumido em nosso Batismo.


6 | Regiões Episcopais | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Comissão Arquidiocesana de Liturgia tem reunião na Catedral da Sé Ruy Halasz

especial para o são paulo

A Comissão Arquidiocesana de Liturgia (CAL) esteve reunida na quintafeira, 4, na Catedral da Sé, sob a coordenação de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial Arquidiocesano para a Liturgia,

NOTA DE FALECIMENTO

Paulinas

e do Padre Helmo Cesar Faccioli, Assistente Eclesiástico para a Liturgia. Padre Helmo conduziu um breve estudo com a opinião de Andrea Grillo, teólogo e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, sobre “As Peripécias do Rito Romano”. O principal assunto da pauta foram as propostas para 2022, explicadas por

Dom José Benedito, englobando os objetivos da CAL, das regiões episcopais – com organização da Pastoral Litúrgica nas paróquias e comunidades, bem como o cadastro dos responsáveis pela música litúrgica nas paróquias. Participaram 21 pessoas, representando as regiões Lapa, Santana, Ipiranga, Sé e Brasilândia.

Julio Cesar dos Santos

Pascom paroquial

[BRASILÂNDIA] No domingo, 7, a Paróquia São José, na Vila Palmeira, realizou pelo quarto ano seguido a festa de Todos os Santos, com a iniciativa “HolyWins – A Santidade Vence”. Crianças e adultos se vestiram de santos, se apresentaram e contaram a história do Santo que estavam caracterizados. (por Julio Cesar dos Santos) Província Agostiniana do Brasil

[SÉ] Na memória litúrgica do Beato Mariano de la Mata (1931-1983), na sexta-feira, 5, aconteceram missas na Paróquia Santo Agostinho onde repousam as relíquias do Beato nascido na Espanha, mas que por mais de 50 anos desempenhou o seu serviço ministerial no Brasil, sendo beatificado em 2006. Às 19h houve a recitação do Terço pelas vocações agostinianas, com a participação de fiéis e frades da Ordem de Santo Agostinho. Na sequência, o Cardeal Scherer presidiu missa solene, tendo entre os concelebrantes o Prior Provincial da Província Agostiniana do Brasil, Frei Maurício José Manosso Rocha. Uma novena preparatória ocorreu entre 27 de outubro e 4 de novembro, de modo presencial na Paróquia e também transmitida on-line. (por Província Agostiniana do Brasil)

[SÉ] Em missa na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Cerqueira César, no sábado, 6, Dom Carlos Lema Garcia conferiu o sacramento da Crisma a 33 jovens e adultos da comunidade. Concelebrou o Pároco, Padre Antônio Sagrado Bogaz, PODP. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé falou sobre a missão dos cristãos crismados, abordando os Evangelhos sobre as festas da Páscoa e Pentecostes, recordando que, pela Páscoa de Jesus, todos participam com Cristo em sua morte e ressurreição, por meio do Batismo, enquanto que, em Pentecostes, o Espírito Santo se manifesta, tornando-os discípulos e missionários de Jesus. Também comparou a ação cristã ao esporte, comentando que acender as velas e renovar as promessas do Batismo seria como “vestir a camisa” da Igreja e a nova missão, ou seja, “jogar no time” (por Cida Godoy) da Igreja.

Irmã Leonilda Menossi

A Pia Sociedade Filhas de São Paulo (Irmãs Paulinas) comunicou, no domingo, 7, o falecimento da Irmã Leonilda Menossi, aos 89 anos, após uma longa enfermidade. Religiosa por 70 anos, ela dedicou boa parte de sua vida ao apostolado da Comunicação Social. De 1980 a 1988, atuou no setor de comunicação da Arquidiocese de São Paulo. Mais tarde, por ocasião da reabertura da rádio 9 de Julho, em 1999, foi responsável pela programação religiosa da emissora por quase três anos. Também foi autora de livros sobre espiritualidade e formação cristã publicados pela Paulinas Editora, como “Ave Maria Explicada às Crianças”, “Pai Nosso”, “Creio’, “Feliz Dia das Mães! De Coração”. Ela foi sepultada na segunda-feira, 8, na capela do Cemitério Santíssimo Sacramento, no bairro do Pacaembu. (por Redação) Arquivo paroquial

Pascom paroquial

[BELÉM] Na quinta-feira, 4, Dom Luiz Carlos Dias presidiu a Eucaristia na Paróquia São Carlos Borromeu, por ocasião da festa do padroeiro. Concelebrou o Padre Cristian Uptmoor, Pároco. (por Fernando Arthur) Arquivo pessoal

[santana] Na quinta-feira, 4, o Cardeal Scherer visitou a casa da Comunidade Servas de Nossa Senhora da Alegria, cujo o carisma é o amor incondicional por Deus, pela Igreja e pela salvação das almas. Na ocasião, o Arcebispo presidiu missa com a participação das consagradas, e incentivou-lhes a em tudo buscar a Deus e ir ao encontro dos jovens por meio de ações missionárias. (por Redação)

[BRASILÂNDIA] A Paróquia Nossa Senhora das Graças, no Setor Perus, deu início, na quinta-feira, 4, às celebrações em comemoração à Padroeira, com missa presidida pelo Padre João Inácio Rodrigues, durante a qual houve um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento. Depois, aconteceu um show de Hugo Santos e Mayara Marques (banda Colo de Deus), convidados especiais no Rincão Vocacional Santo Aníbal. As celebrações ocorrerão durante todas as quintas-feiras deste mês, encerrando-se no dia 27, na memória litúrgica da padroeira. (por Daniele Santos e Fernando Oliveira)

[BRASILÂNDIA] Na quinta-feira, 4, aconteceu uma missa na Paróquia São José Operário, Setor Dom Paulo Evaristo, em ação de graças pelos 44 anos de vida do Padre Gilson Feliciano Ferreira, SV, Pároco. Concelebrou o Padre Jean Luc Musulu Eky, SV, que enalteceu a atuação do Padre Gilson na Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo. (por Keli Silva) [IPIRANGA] No sábado, 6, a Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, Setor Pastoral Imigrantes, realizou a primeira Cristoteca. Participaram jovens da comunidade e de outras paróquias da Região Ipiranga. A Cristoteca contou com a animação do DJ Alan Nunes e da Comunidade Anjos da Vida. (por Caroline Dupim)

[IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu missa na Paróquia Santo Agnelo, Setor Pastoral Anchieta, no domingo, 7, durante a qual conferiu o sacramento da Confirmação a oito adultos. (por Caroline Dupim) [LAPA] Foram festejados no sábado, 6, os 24 anos de fundação da Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, no Jardim Pinheiros, pertencente à Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Butantã. Houve missa presidida pelo Padre Antônio Francisco Ribeiro, Pároco. (por Benigno Naveira) [BRASILÂNDIA] O sorteio das 21 famílias guardiãs da Bandeira do Divino da Paróquia Nossa Senhora da Expectação, na Freguesia do Ó, tradicionalmente é realizado no sábado anterior ao dia de Pentecostes, mas devido às restrições impostas pela pandemia, efetivou-se somente neste mês, no domingo, 7, em missa presidida pelo Padre Carlos Ribeiro, Pároco. As famílias guardiãs têm como missão preparar um altar em casa e propiciar encontros de oração até a 201ª Novena e Festa do Divino Espírito Santo, que terá início no final de maio de 2022. (por Marta de Oliveira Gonçalves)


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Fé e Cidadania

LAPA

Dom José Benedito confere o sacramento da Crisma a 34 jovens e adultos Benigno Naveira

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Os fiéis da Paróquia São Francisco de Assis, no Jaguaré, Setor Butantã, lotaram a igreja matriz na noite do sábado, 6, para a missa presidida por Dom José Benedito Cardoso, durante a qual ele conferiu o sacramento da Crisma a 34 pessoas. Concelebrou o Padre Edilberto Alves da Costa, Pároco, assistidos pelo Diácono André Iasz. No início da celebração, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa suplicou a Deus para que os crismandos recebessem os dons do Espírito Santo. Padre Edilberto, após a homilia, apresentou os crismandos ao Bispo, explicando serem “jovens e adultos que fizeram uma caminhada na Catequese, na formação e na descoberta do caminho de Jesus. Hoje,

Padre Alfredo José Gonçalves, CS

estão preparados para dar mais um passo no caminho da fé, por meio do sacramento da Crisma, pelo qual o fiel é fortalecido com o dom do Espírito Santo, para que, por palavras e obras, seja testemunha de

Cristo no anúncio do Evangelho”. O Pároco lembrou ainda que no sábado, 13, uma nova turma, de 35 pessoas, irá receber o sacramento da Crisma pela imposição das mãos de Dom José Benedito.

Comportamento Formar pessoas que levem as tarefas até o fim Simone Ribeiro Cabral Fuzaro A cada dia que passa, está mais difícil encontrar pessoas responsáveis, que iniciem e terminem suas atividades com empenho e dedicação. Processos seletivos em empresas ficam morosos por falta de candidatos, afinal nem sempre as vagas oferecem um trabalho que agrada aos jovens estagiários. Livros clássicos ou mais densos deixaram de ser lidos, afinal exigem um envolvimento maior de atenção, poder de análise, imaginação, e muitos não querem se esforçar nessas tarefas um pouco mais árduas. O uso excessivo da internet e das telas está intimamente ligado com essa dificuldade de envolvimento com tudo o que exige esforço, é verdade. Existem alterações hormonais e de atenção que dificultam o envolvimento das pessoas que usam demais as telas, com a vida real, com interações de verdade, com pequenas dificuldades que essas interações geram... Enfim, temos uma geração digital que precisa ser compreendida e estimulada de modo adequado para que não se tornem “zumbis”. Para além disso, porém, precisamos estar atentos aos valores que ensinamos e às virtudes que precisamos ajudar cada filho a conquistar para o bom convívio social e sua própria realização como pessoa. Os pais precisam ter objetivos claros e lutar para que a formação aconteça e, quando digo lutar, me

A estratégia humana e a ação divina do Espírito

refiro a pequenas ações cotidianas, firmes, concretas, que formem os filhos primeiramente no hábito (afinal, antes dos 5 anos somente assim aprenderão de verdade) e, depois na razão, compreendendo aos poucos o propósito daquelas exigências e hábitos vividos na família. Evidentemente, isso exige que os pais estejam muito envolvidos na formação, conscientes de que os filhos não se formarão bem se não forem bem acompanhados e orientados e que, para isso, é preciso que, em primeiro lugar, os próprios pais lutem por viver as virtudes e os valores que pretendem ensinar. Vamos, então às dicas práticas: Seja exemplo: para os filhos, especialmente quando pequenos, os pais são os maiores exemplos. Criança aprende por imitação e adora imitar os pais e seus comportamentos. Reflita: você está levando suas tarefas até o final com empenho? Consegue deixar o celular de lado nos momentos de convívio familiar, evitando dividir a atenção entre pessoas reais e ele? Realiza suas tarefas sem reclamar do quanto custam a cada momento? Entenda que seu exemplo forma seu filho e se empenhe em oferecer como exemplo a luta por desempenhar bem suas tarefas. Não realize todos os caprichos de seu filho: se queremos pessoas que enfrentem as dificuldades e que cheguem ao final de suas tarefas, precisamos formá-las para entender que as coisas não se realizam magicamente. Que seus desejos não serão atendidos

e realizados por você sem que elas em nada se esforcem para isso. Mais ainda: precisamos mostrar que nem tudo o que ele quer é bom e acontecerá; afinal, lidar com as frustrações é o prato principal para que enfrentem a vida real com fortaleza. Desde cedo, atribua funções às crianças: que cada um tenha uma tarefa em casa, de acordo com sua faixa etária: desde jogar sua própria fralda no lixo (assim que começa a andar) até ajudar na elaboração das refeições quando adolescentes. Para cada faixa etária, existem tarefas adequadas: envolva os filhos nelas para que entendam que a família e o lar requerem cuidados e que todos podem contribuir para que esse lar seja alegre, agradável e gostoso. Mesmo que tenha pessoas que ajudem com as tarefas de casa, cada filho deve ter a sua contribuição e se lembre: arrumar a cama é o mínimo que cada um deve fazer. Não faça por eles as tarefas que lhes foram atribuídas: ajude-os lembrando, acompanhando se for preciso, incentivando e elogiando, mas não fazendo por eles. Se a tarefa deles for feita por você, não se formarão na responsabilidade, e esse é o objetivo. Não se esqueça: você está formando seu filho para a vida. Para vivê-la com liberdade e não escravizado por seus sentimentos e falta de domínio. Vale a pena empenhar-se seriamente nisso. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Na ação sociopastoral, dois extremos devem ser evitados. De um lado, a estratégia humana, por si só, embora necessária, apresenta as lacunas próprias que cada pessoa carrega consigo. Ela se rege, em geral, pelo conceito de correlação de forças, calcula o jogo dos limites e potencialidades, tentando cobrir os deslizes que podem levar ao fracasso. Confia exageradamente no poder e no mérito pessoal e, ao mesmo tempo, procura se proteger com todo tipo de defesas e seguranças. Mesmo em terreno sagrado, teme entrar em campo descalça. Por outro lado, deixar tudo à ação divina do Espírito, também por si só pode conduzir a um imediatismo perigoso e estéril. “No lugar certo e no tempo certo, a vontade de Deus haverá de inspirar o que devo dizer e fazer!” Aparentemente positiva quanto à abertura diante da graça divina, essa atitude, porém, revela e expõe não raro descaso, preguiça e falta de preparo para com a seriedade das atividades evangélicas. Santo Tomás de Aquino já dizia que “a graça supõe a natureza”. Nem uma coisa nem outra. A autossuficiência e a arrogância humanas são tão perniciosas quanto a confiança ingênua no espiritualismo ineficaz, o qual, numa espécie de mística distorcida, tudo espera automaticamente da oração. Na relação com Deus e com a ação evangélica, não existe “varinha mágica”. A oração não modifica nossos problemas e desafios; modifica nossa maneira de encará-los; confere maior fé e esperança, força e coragem para buscar com serenidade soluções adequadas. Convém recorrer aqui ao velho e sábio Aristóteles: in medio virtus (a virtude está no meio). A ação do Espírito no tecido cotidiano da história – seja ela de caráter pessoal ou comunitário, seja de caráter social ou político – não dispensa a inteligência e a habilidade dos homens e mulheres. Deus age não acima nem além, e sim no interior das atividades humanas. No momento em que nos movemos para mudar o rumo dos acontecimentos, o Espírito irrompe nas lacunas e debilidades humanas, revestindo de graça o que em nós se revela como mal, pecado, ódio e desejo de vingança. “Quando sou fraco é, então, que sou forte”, escreve o Apóstolo Paulo (2Cor 12,10). O inverso também é verdade. Pela vocação, o ser humano responde ao chamado divino, pela Palavra de Deus se deixa iluminar e pela missão descortina novos horizontes. Em jogo está o esforço por mudanças profundas e urgentes, que levem à justiça, à igualdade de oportunidades e à paz. Somos todos convocados à grande tarefa da recriação da vida e da biodiversidade. A Doutrina Social da Igreja (DSI), por sua vez, se encarrega de atualizar, frente aos desafios do contexto histórico atual, a dimensão social do Evangelho. Nisso, as iniciativas do Papa Francisco, em particular com a insistência de uma “Igreja em saída”, como também com o processo do Sínodo e da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, buscam responder ao clamor da pós-pandemia e, ao mesmo tempo, às exigências da DSI e do Evangelho. A nova evangelização requer a fusão inextrincável entre a graça do Espírito e as estratégias humanas. Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).


8 | Regiões Episcopais | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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belém

Pastoral da Juventude participa de vivência missionária no Arsenal da Esperança Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Depois de dois anos sem encontros presenciais, em razão da atual pandemia, a Pastoral da Juventude da Região Episcopal Belém, no contexto do novembro missionário, realizou uma vivência no domingo, 7, no Arsenal da Esperança Dom Luciano Mendes de Almeida. Os jovens conheceram o local, participaram da celebração da Eucaristia e de uma tarde cultural com os acolhidos da casa. Foi um momento significativo para os que compõem a coordenação e

os grupos de base desta Pastoral nas comunidades das Paróquias Santa Teresa de Calcutá, Setor São Mateus; São Paulo Apóstolo, Setor São Mateus; e Nossa Senhora das Graças, Setor Antonieta. Ao longo da pandemia, a Pastoral da Juventude regional se mobilizou para a entrega de marmitas às pessoas em situação de rua, fez ainda campanhas para a arrecadação de roupas, leite e absorvente para os irmãos mais vulneráveis. A visita ao Arsenal da Esperança também se deu no contexto do Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado por toda a Igreja no domingo, 14. Pascom paroquial

[LAPA] A Pastoral Social da Paróquia Santo Alberto Magno, no Jardim Bonfiglioli, Setor Butantã, promoveu a entrega de 200 cestas básicas a famílias cadastradas, na quinta-feira, 4. (por Benigno Naveira) Pascom da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

Arsenal da Esperança

Missão Paz

[SÉ] Em missa no domingo, 7, na matriz da Paróquia Nossa Senhora da Paz, presidida pelo Padre Antenor Vecchia, Pároco, teve início o Ano Scalabriniano, em comemoração ao jubileu de prata da beatificação de Dom João Batista Scalabrini (1839-1905). Na igreja são realizados os trabalhos da Missão Paz, instituição de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados na cidade de São Paulo, em atividade desde a década de 1930. (por Padre Alfredo José Gonçalves) Pascom paroquial

[BELÉM] No domingo, 7, Dom Luiz Carlos Dias, nomeado Bispo de São Carlos (SP), ainda atuante na Região Episcopal Belém, conferiu o sacramento da Crisma a 35 jovens e adultos na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Água Rasa. Na homilia, ele exortou os jovens e adultos a buscarem a santidade no dia a dia. (por Fernando Arthur) Arquivo pessoal

[BRASILÂNDIA] No domingo, 7, durante missa na Paróquia Nossa Senhora da Expectação, Setor Freguesia do Ó, Dom Carlos Silva, OFMCap, conferiu o sacramento da Crisma a 29 adultos. Concelebrou o Padre Carlos Ribeiro, Pároco. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia destacou a importância do Dia de Todos os Santos e que, assim como os atletas seguem um objetivo, todos devem ter a santidade como meta. Lembrou, ainda, que, ao receberem o Espírito Santo no sacramento da Crisma, os cristãos devem sentir a força do Espírito todos os dias. (por Marta de Oliveira Gonçalves) Pedro Silva

[belém] Na manhã do sábado, 6, os diáconos permanentes da Arquidiocese de São Paulo e suas esposas participaram de um momento de espiritualidade na Paróquia Santa Rita, na Região Episcopal Belém, conduzido pelo Cônego Celso Pedro da Silva, Pároco e Presbítero que acompanha o Diaconato na Arquidiocese de São Paulo. O Sacerdote refletiu sobre a necessária espiritualidade do diáconos e como exemplo expôs a vivência de fé do Padre Charles de Foucauld (1858-1916), que foi beatificado em 2005 e já teve sua canonização aprovada, a ser realizada em data futura. (por Redação) [SÉ] Na manhã do sábado, 6, na Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo –São Gonçalo, 18 vocacionados da Arquidiocese de São Paulo participaram de uma formação conduzida pelo Padre José Carlos dos Anjos, Animador Vocacional Arquidiocesano, e por Dom Carlos Lema Garcia. Após a formação, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé presidiu a missa. Ao longo do encontro, Dom Carlos falou sobre a importância da formação humano-afetiva do presbítero, destacando que cada um é chamado a viver segundo sua vocação, por meio de renúncias e da vida de oração para, assim, se manter atento ao chamado de Deus. (por Maitê Lima Bossi)

[BRASILÂNDIA] Padres e leigos das Paróquias Santíssima Trindade, São José, Cristo Rei, Santa Rosa de Lima, Nossa Senhora das Graças e São Judas Tadeu participaram no sábado, 6, da Assembleia do Setor Perus. Na atividade realizada na matriz da Paróquia São José, refletiu-se sobre as ações feitas no Setor nos últimos quatro anos, incluindo o período da atual pandemia e o sínodo arquidiocesano, bem como as prioridades que serão apresentadas na Assembleia Regional: Família (Encontro de Casais com Cristo, Pastoral Familiar e Matrimônio), Pastorais Sociais (Saúde, Criança e Caritas) e Juventude (articulada com a Comunicação). (por Pedro Silva)


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Reportagem | 9

Colégio Nossa Senhora de Sion comemora 120 anos de história Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Em 2021, o Colégio Nossa Senhora de Sion, uma das instituições católicas de ensino mais tradicionais da capital paulista, comemora 120 anos de fundação. Para marcar o aniversário, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu uma missa na capela do colégio, no sábado, 6. Localizado em Higienópolis, bairro da zona Oeste, o Colégio Sion, como é mais conhecido, foi fundado em 1901 pelas religiosas de Nossa Senhora de Sion. Inicialmente, a instituição era destinada exclusivamente à educação de meninas, seguindo a tradição do colégio fundado pelas mesmas religiosas em 1888 no Rio de Janeiro, atendendo a um pedido da Princesa Isabel.

Missão

Irmã Maria José dos Santos, diretora administrativa da instituição, destacou que a missão do Colégio se confunde com o carisma da família religiosa de Nossa Senhora de Sion, fundada na França no século XIX pelos irmãos Teodoro e Afonso Ratisbonne, judeus convertidos que buscavam testemunhar pela vida o amor de Deus por seu povo, sobretudo, por meio do diálogo inter-religioso com a comunidade judaica. “Nosso colégio tem a missão de atuar no campo da Educação, tendo em vista valores, princípios cristãos e o conhecimento, de acordo com as exigências da sociedade moderna, de modo que nossos alunos se tornem cidadãos conscientes”, afirmou a Religiosa, acrescentando que, para concretizar sua missão, “a instituição integra proposta pedagógica, atuação educacional e projeto fé e vida, visando ao crescimento integral do aluno”.

Prédio histórico

Devido ao crescente número de matrículas, foi necessário construir um novo prédio, cujo projeto arquitetônico e a construção foram confiados ao engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo. A capela teve suas obras iniciadas em 1941, tendo um estilo que remonta às características das capelas de Nossa Senhora de Sion de outros países. O edifício chegou a abrigar

ção. “Aqui, aprendi a ler, compreendi a misteriosa lógica da Matemática e descobri como o Brasil foi descoberto. Nesses corredores centenários, também fiz as primeiras amizades, muitas delas presentes na minha vida até hoje. [...] uma grande parte da minha personalidade foi construída pelo conhecimento compartilhado nas salas de aula, mas muita coisa veio das relações que vivenciei nesse ambiente”, relatou. Hoje, a filha de Felipe, Isabel, e sua sobrinha, Laura, ambas com 14 anos, estudam no Colégio. “[Elas] passeiam pelos mesmos lugares que eu e minha mãe passeamos. Arriscam versos e canções no auditório, como eu e minha mãe fizemos. E fizeram aqui sua primeira Comunhão, como minha mãe e eu”, afirmou. Entre os ex-alunos da instituição, também somam personalidades como a pintora e desenhista Tarsila do Amaral Eloá Quadros, esposa do ex-presidente Jânio Quadros; as pianistas Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro; a ex-prefeita Marta Suplicy; e Dinah Borges de Almeida, médica pioneira na Nefrologia no Brasil.

Transmissão da fé

Cardeal Odilo Scherer preside missa pelos 120 anos do Colégio Nossa Senhora de Sion

um hospital de campanha durante a epidemia de gripe espanhola, em 1918, devido ao fato de o prédio possuir um pé-direito de 5 metros de altura e janelas amplas, que permitem maior circulação do ar.

Presença da Igreja

Na homilia, Dom Odilo recordou que o Colégio nasceu no início da expansão da cidade de São Paulo. “Este colégio chegou no contexto em que crescia a presença dos religiosos no mundo da educação, da saúde e da caridade, especialmente nas periferias da cidade, que se expandia cada vez mais. A Igreja procura estar onde o povo está e o acompanha missionariamente”, afirmou o Cardeal,

pedindo a Deus que continue a abençoar o Colégio para que produza cada vez mais bons frutos. Enfatizando a importância da educação para a sociedade, o Arcebispo lembrou que as instituições de ensino devem ser comprometidas com a formação integral da pessoa, baseada na formação do caráter, nas virtudes e nos valores humanos e cristãos importantes para o desenvolvimento da sociedade. “Como superaremos tantos males que hoje afligem a sociedade sem a educação?”, indagou.

Educação de gerações

Ao longo dos 120 anos, o Colégio Sion formou gerações de alunos. Como é o caso da jornalista Helô Machado, 75, que foi aluna na instituição dos 4 aos 19 anos. Foi na Capela do Sion que ela se casou com o também jornalista Adones Alves de Oliveira, falecido em 2014. Seus dois filhos, o jornalista Felipe Machado, 51, e o executivo da indústria fonográfica Fernando Machado, 48, também foram alunos do Colégio. No fim da celebração, Felipe fez um discurso de agradecimento em nome dos alunos Helô Machado, Isabel e Felipe têm vidas marcadas no Colégio Sion e ex-alunos da institui-

O Colégio Sion não marca apenas a vida de seus alunos. A médica Jessica Dorio Dantas de Oliveira, 32, conheceu a fé católica na instituição. Batizada em outra denominação cristã, recentemente ela se aproximou da Igreja Católica após frequentar missas na capela do Colégio. Depois de um período de preparação conduzida pelo capelão, Padre José Ulisses Leva, e pela Irmã Maria José, que verificaram a validade do Batismo recebido na outra comunidade, Jessica foi oficialmente acolhida na Igreja Católica após professar publicamente a fé, renovar as promessas batismais e, durante a missa presidida por Dom Odilo, fez a sua primeira Comunhão. “É uma emoção muito grande poder receber Jesus na Eucaristia pela primeira vez. Aqui, nesta comunidade, encontrei a força e o sentido para viver a minha fé, indispensável para a minha vida e minha profissão”, relatou a médica, que trabalhou na linha de frente do combate à pandemia em dois hospitais da capital paulista.

Futuro

Ao comemorar 120 anos, o Colégio Nossa Senhora de Sion também olha para o futuro. Para Fábio Constantino, o diretor educacional, a instituição, que hoje conta com cerca de 700 alunos, busca cada vez mais atualizar sua proposta pedagógica para continuar correspondendo às necessidades de seus estudantes, que, a cada ano, se renovam e demandam novas desafios para os educadores. “Outra meta é continuar fazendo com que a comunidade sinta segurança em confiar a educação de seus filhos, nossos maiores tesouros, aos nossos cuidados”, afirmou.


10 | Reportagem/Geral | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Guanellianos promovem a inclusão das pessoas com deficiência Comunicação Recanto Nossa Senhora de Lourdes

No Recanto Nossa Senhora de Lourdes são atendidas 300 crianças e adolescentes com deficiência

resposta é revelar no mundo o amor providente e misericordioso de deus pai, num clima de família, promovendo de forma integral a pessoa Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Estimular a inclusão da pessoa com deficiência é a missão que a Associação Obras Sociais Santa Cruz (AOSSC), da Congregação dos Servos da Caridade (SdC), desenvolve na zona Norte de São Paulo. O atendimento compreende, em sua maioria, pessoas com idade a partir de 7 anos, bem como suas famílias, pertencentes à população de baixa renda. Todas as atividades são inspiradas nos ensinamentos do fundador da Congregação, o italiano São Luís Guanella (1842-1915), que fundou os Servos da Caridade em 1908 e antes, em 1866, a Congregação das Irmãs Filhas de Santa Maria da Providência. O carisma guanelliano consiste em “revelar no mundo o amor providente e misericordioso de Deus Pai, num clima de família, promovendo de forma integral a pessoa, particularmente aquelas mais desprovidas, aplicando a pedagogia do amor”. Compõem a AOSSC o Recanto Nossa Senhora de Lourdes (dimensão educacional), o Núcleo de Apoio à Inclusão para Pessoas com Deficiência (NAIS) São Luís Guanella (dimensão social), o Centro para Crianças e Adolescentes Santa Terezinha (CCA) e o Centro Educacional Infantil (CEI) Dom Guanella.

Recanto Nossa Senhora de Lourdes

O Recanto está localizado na Avenida Luís Carlos de Gentile Laet, 1.736, no bairro do Horto Florestal, e foi inaugurado em 1990, pelo então Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Inicialmente, eram atendidas cerca de 80 crianças e adolescentes com deficiência. Hoje, o número de assistidos se aproxima de 300, e há projetos e parcerias com a Prefeitura de São Paulo, além do apoio de voluntários e colaboradores. Há 31 anos, a entidade tem como foco as crianças, os adolescentes, os jovens, adultos e idosos, suas famílias, a escola e a comunidade nas quais estão inseridos, no sentido de sensibilizá-los e orientá-los no que for possível, a fim de garantir a inclusão da pessoa com deficiência tanto na sociedade quanto no mercado de trabalho. O serviço compreende a realização de oficinas, atividades interdisciplinares e pedagógicas com os assistidos e a participação de suas famílias. Entre as iniciativas, há a realização de atividades lúdicas, físicas, musicais, ensino de informática, artes visuais e expressão corporal. “Todo esse conjunto de ações permite a estimulação cognitiva e o desenvolvimento da interação social”, afirmou Milena Erica de Pina, 44, administradora do Recanto. Milena lembrou, ainda, que a associação tem 350 colaboradores capacitados que atuam na entidade, além de voluntários para os serviços na horta e em várias ações na sede.

A dimensão do servir

Padre Odacir Lazaretti, Presidente da AOSSC, afirmou que o “principal objetivo do NAIS é prevenir a institucionalização e a segregação de pessoas com deficiência, promovendo sua inclusão social e assegurando o direito à convivência familiar e comunitária”.

O Sacerdote listou algumas das atividades que acontecem no local, como oficina de trabalhos manuais; jardinagem e horta; oficina de artes visuais; expressão corporal; estimulação cognitiva; jogos lúdicos; e confecção de jogos e brinquedos. Sobre o CCA Santa Terezinha, o Padre enfatizou a parceria com a Rede de Proteção Social Especial de Média Complexidade, pela qual o CCA presta assistência a crianças e adolescentes, de 6 a 14 anos e 11 meses, e suas famílias em situação de vulnerabilidade social. “Nosso objetivo é oferecer proteção social à criança e adolescente por meio do desenvolvimento de suas potencialidades, bem como estimular ações na busca da autonomia, protagonismo e cidadania, levando em conta o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários”, frisou Milena. O Diretor da associação enfatizou que a “pedagogia do amor, um legado do fundador, São Luís Guanella, capacita os profissionais da entidade a ouvir os atendidos e impulsioná-los em direção às suas necessidades, tornando-os responsáveis e coconstrutores de sua realidade”. Fundado em 1974, o CEI São Luís Guanella atende crianças de 1 a 3 anos e 11 meses, em período integral, das 7h às 17h, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). “Acreditamos que toda pessoa é capaz de aperfeiçoamento, por mais limitada que seja em todas as dimensões da sua vida”, pontuou Padre Odacir Lazaretti.

Ampla solidariedade na pandemia

Padre Odacir ressaltou que, embora a pandemia tenha impactado as atividades das obras guanellianas, também foi possível verificar uma ampliação da solidariedade, por meio da distribuição de centenas de cestas básicas às famílias assistidas do NAIS e do Recanto, bem como de kits de higiene e limpeza e materiais pedagógicos. Os assistidos também receberam as tarefas de atividades para desenvolvê-las em casa durante a quarentena. Segundo Milena, a continuidade do processo educativo, seja no formato remoto, seja no presencial, é indispensável para o aprendizado.

Um lugar de esperança

Ronaldo Vítor da Silva, 49, tem paralisia cerebral e deficiência física, com severa limitação dos movimentos. Ele frequenta o NAIS desde 2017 e foi aprovado no Instituto Federal de São Paulo, onde cursa o primeiro ano do ensino médio. Ao O SÃO PAULO, ele contou que estar no Recanto, no contraturno escolar, é “a coisa mais maravilhosa que aconteceu,

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Missionário implora pela paz na Etiópia https://cutt.ly/fTuUbGi Dom Odilo: ‘A santidade deve ser buscada durante vida’ https://cutt.ly/9TuU0o7 Regional Sul 1 e Diocese de São Miguel Paulista esclarecem publicação de mensagem falsa https://cutt.ly/6TuU4Y3 CNBB lança hotsite do Sínodo 2023 com informações e recursos https://cutt.ly/WTuIrpC Bruno Djoye - Programa Mundial de Alimentos

Programa Mundial de Alimentos alerta para novo pico da fome https://cutt.ly/oTuIgEo Confira a programação do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres https://cutt.ly/DTuIlZx

porque aqui estão os meus momentos de paz e tranquilidade, aqui me sinto calmo e sossegado. Devo muito às pessoas que trabalham aqui a minha evolução em termos de educação e cultura”. Nicolas Gabriel de Brito, 31, tem deficiência intelectual, resultante de um acidente. Ele é assistido pelo NAIS há sete anos. “Gosto muito daqui, de todas as atividades e brincadeiras. Aqui eu me sinto bem, pois recebo a ajuda de que preciso”, disse. Elízia Alves Souza, 35, é professora e mãe do assistido Geovane Oliveira Cardoso, 18. Ela está concluindo o curso de Psicopedagogia, graduação que iniciou com o intuito de ajudar o filho. Geovane é aluno na modalidade Inserção ao Mundo do Trabalho (IMT), desde 2018. “O Recanto veio em nossas vidas como presente de Deus. Lá, o Geovane cresceu muito, aprendeu a cozinhar. O Recanto o abraçou, olhando as dificuldades dele. Durante a pandemia, a entidade nos ajudou muito com cestas básicas. Conheço várias pessoas que passaram pela entidade e falam bem dela. Tenho orgulho do trabalho realizado, e essa iniciativa deveria atingir mais crianças”, finalizou.


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Restaurante Duas Terezas une Gastronomia e solidariedade Bruno Goes/Divulgação

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No bairro Jardim Paulista, zona Sudoeste da capital paulista, o restaurante Duas Terezas, idealizado pela chef de cozinha Mariana Pelozio, 35, é um ambiente aconchegante e acolhedor, permeado pela simplicidade que desperta a sensação de estar em casa. A decoração remete às origens da família de Mariana – o Nordeste do País, com traços da Itália. O cardápio também foi elaborado com a mistura da culinária brasileira e italiana e um toque todo especial da chef. Na área externa do restaurante, chama a atenção uma pintura e a oração de São Francisco de Assis. A referência ao “Santo dos Pobres” não é aleatória: pessoas em situação de rua que batem à porta à procura de um prato de comida sempre têm sua fome saciada. Na pandemia, porém, Mariana e sua equipe fizeram mais do que esperar pelas pessoas: diariamente, produziram 300 marmitas que foram destinadas ao Projeto Cozinha Solidária e ao Projeto Cozinha Solidária Comunidades, mantido pela Prefeitura de São Paulo.

A dignidade pela via da caridade

Uma cozinha marcada pela simplicidade

A Gastronomia é a segunda formação da Mariana, que é graduada em Administração com ênfase em Marketing, tendo já trabalhado na área de Tecnologia e Desenvolvimento de Softwares. A primeira experiência na cozinha foi aos 9 anos de idade. Com um caderno de receitas da avó, ela fez um suflê de espinafre. Começou a cozinhar profissionalmente em 2012, em um trailer no extinto complexo Vila Butantã e, em 2016, fundou o restaurante Duas Terezas, na Alameda Lorena, no Jardim Paulista. “Na Culinária, encontro a minha verdade, oportunidade para olhar o que está dentro do meu coração”, afirmou Mariana em entrevista ao O SÃO PAULO. A Gastronomia simples, afetiva e criativa, sem desperdício, é o ideal da chef, aliada a pratos fáceis e saborosos. “O restaurante é inspirado nas minhas avós; coincidentemente, as duas chamavam-se Tereza: Tereza Pelozio e Tereza Ciarrocchi. Elas me inspiraram a simplicidade e a caridade”, disse.

A experiência de servir os mais pobres

Entre 2001 e 2004, Mariana, ainda adolescente, participou da Comunidade Católica dos Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento (Toca de Assis), onde conheceu o ideal de São Francisco de Assis e sua busca preferencial pelos pobres. “Ingressei na comunidade com 15 anos. Foi uma fase muito bonita da minha vida. O amor à Igreja, o amor ao próximo caído à margem da sociedade, a devoção

Meses depois, as marmitas passaram a ser entregues ao projeto “Cozinha Cidadã e Cozinha Cidadã – Comunidades”, uma iniciativa da Prefeitura, que as recebia e distribuía na região da Praça da Sé e em vários outros pontos da capital. A chef destacou outra realidade que uniu forças e gerou uma corrente do bem. “Com tudo fechado, soube que os produtores familiares, que dependem do funcionamento, em grande parte dos restaurantes, estavam perdendo as safras de legumes e hortaliças. Decidi ajudar comprando os itens para a produção das marmitas”, contou, reafirmando que se formou uma grande campanha para ajudar essas famílias que dependem do cultivo para o autossustento. Karina Leite Noguti, 36, é administradora e fez a ponte entre o Duas Terezas e os agricultores familiares e coordenou várias campanhas solidárias no intuito de evitar o desperdício dos alimentos produzidos. “Estamos imersos em uma cadeia circular, na qual a economia e as ações sociais precisam de parcerias e colaboração de todos”, disse, afirmando que outros restaurantes aderiram à iniciativa.

Chef Mariana no restaurante Duas Terezas: ‘Todos podemos fazer algo pelo próximo’, assegura

ao carisma franciscano é uma herança que aprendi e trago comigo”, afirmou. A espiritualidade e o contato direto com as pessoas em situação de vulnerabilidade deixou marcas profundas na chef. “Aqui no restaurante temos como meta não negar comida. Saciar a fome é um apelo do próprio Jesus, é princípio evangélico que nos interpela como cristãos e humanos”, recordou.

Fazer o bem, por vezes, incomoda

Entre as ações sociais promovidas por Mariana, estão contribuições mensais ao Arsenal da Esperança. “Promovemos eventos, dos quais uma parte do valor de cada refeição é direcionada aos projetos de assistência do Arsenal, lugar que acolhe e devolve esperança”, afirmou. À reportagem, Mariana explicou que, com a chegada da pandemia, as portas do restaurante ficaram fechadas e novas iniciativas nasceram. Entre elas, a produção e distribuição de, inicialmente, 80 marmitas, número que em poucos dias se multiplicou devido à demanda de 300 marmitas – todas preparadas na cozinha do restaurante. A entrega das marmitas incomodou, de certa forma, os vizinhos do entorno do restaurante. “Alegaram que, com a distribuição, estávamos atraindo essa população para o bairro, houve críticas e apoio

– vertentes que incomodam e incentivam a promoção do bem”, disse. Mariana ressaltou que estender a mão ao próximo é algo inerente ao ser humano, mas, que, por vezes, as pessoas preferem destinar sua ação caritativa a quem está longe ou afastado da sua rua, bairro ou até da porta de casa. A insatisfação de algumas pessoas não a abalou, e ela continou firme em seu propósito de vida: “Fazer sempre algo pelo irmão”.

ação que se multiplica

“Continuamos distribuindo refeições, de forma pontual, a quem bate na porta, e passamos a distribuir também as marmitas na região da Penha. No início, eu ia com meu próprio carro”, disse, ressaltando que no período da pandemia se deparou com a realidade de motoristas profissionais que passaram a ter dificuldade de obter renda. Diante disso, ela decidiu contratar um motorista para a entrega das marmitas: Rubens Viana de Salles. “Estava parado, sem conseguir garantir o básico para minha família. Ajudar e ser ajudado engrandece o coração. Ao chegar com as marmitas, pude ver de perto a dura realidade da fome e, como faz a diferença essa doação, que para muitos é a única refeição do dia”, disse Salles, que é motorista de táxi há 15 anos.

“Todos podemos fazer algo pelo próximo. Ajudar o irmão é uma obrigação cristã, independentemente das ações, contribuir para amenizar a fome ou a miséria é papel de todos”, lembrou a chef que, entre as ações sociais, também tem como diretriz proporcionar oportunidades em sua equipe. “Com incentivo, todos trabalham mais felizes, seja por meio do salário justo, seja pela promoção profissional. Atualmente, dois funcionários estão cursando a faculdade com o apoio financeiro do Duas Terezas”, detalhou. Ricardo é pernambucano e já morou em muitos lugares. “Hoje, minha casa é embaixo de um viaduto. Meu colchão é papelão e sacos de lixo amontoados”, disse ele que vive na zona Leste e se desloca a pé, todos os dias, para pegar uma marmita. “É minha única refeição do dia. Às vezes, alguém me dá um lanche ou moedas para comprar um pão e um café”, contou, emocionado. Odair é pintor. “Com a pandemia, fiquei desempregado e fui despejado do quartinho onde morava com a família, por não conseguir pagar o aluguel”, afirmou o homem que agora vive em situação de rua na região central da cidade. “Anjos solidários trazem marmitas para saciar a fome”, destacou, afirmando que, “durante o dia, a gente até aguenta e engana a fome, mas dormir com o estômago vazio é muito ruim”. Cristiano também é um dos que vão com frequência ao restaurante Duas Terezas em busca de algo para comer. “A Mariana nunca negou um prato de comida. E que comida saborosa, feita com amor!”, disse o homem que dorme nas proximidades da Avenida Paulista.


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‘O que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fazeis’ (Mt 25,40) Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

A comemoração do Dia Mundial dos Pobres, no domingo, 14, é uma oportunidade para os católicos recordarem que a atenção especial aos pobres não é uma realidade recente na vida da Igreja. Já nas primeiras comunidades cristãs, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos, havia a preocupação com o serviço aos mais necessitados. Um desses exemplos é quando São Pedro pede que fossem escolhidos sete homens “cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6,3), que assumissem o serviço de assistência aos pobres. O texto diz, ainda, que os primeiros cristãos “vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um” (At 2,45). Ao comentar esses textos, o Papa Francisco, na mensagem para o 1º Dia Mundial dos Pobres, em 2017, ressaltou que o evangelista São Lucas não fazia uma retórica quando descreve a prática da partilha na primeira comunidade. “Antes, pelo contrário, com a sua narração, pretende falar aos fiéis de todas as gerações (e, por conseguinte, também à nossa), procurando sustentá-los no seu testemunho e incentivá-los à ação concreta a favor dos mais necessitados”. O mesmo ensinamento é dado, com igual convicção, pelo Apóstolo São Tiago, usando expressões fortes e incisivas na sua carta. “Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrais o pobre. (…) De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: ‘Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome’, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta” (Tg 2,5-6.14-17).

A exemplo do Mestre

Esses ensinamentos dos discípulos de Jesus têm seu fundamento nas palavras e exemplos de seu próprio mestre, que afirmou: “Tive fome e me destes de

comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; adoeci e me visitastes; estive na prisão e me fostes visitar [...] O que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fazeis” (cf. Mt 25,34-46).

guir Jesus pobre, que ensina que o Reino de Deus pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para “evangelizar os pobres” (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois “o Reino dos Céus é deles” (Mt 5,3); foi aos “pequenos” que o Luciney Martins/O SÃO PAULO

coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir livremente as responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo apoiados pela sua graça. Assim entendida, a pobreza é a medida que permite avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os afetos (cf. CIC, 2545)”.

Estilo de vida

Desde a sua origem, a Igreja Católica dá especial atenção ao socorro dos mais necessitados

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) recorda as diversas vezes em que os evangelhos reforçam que Deus abençoa aqueles que ajudam os pobres e reprova aqueles que se afastam deles: “Dá ao que te pede e não voltes as costas ao que te pede emprestado” (Mt 5,42). “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). “Jesus Cristo reconhecerá seus eleitos pelo que tiverem feito pelos pobres. Temos o sinal da presença de Cristo quando ‘os pobres são evangelizados’ (Mt 11,5)”, acrescenta o Catecismo, 2443.

Cristo pobre

Para os discípulos de Jesus Cristo, a pobreza é, antes de tudo, uma vocação a se-

Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. “Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identificase com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino” (CIC, 544). Mas em que consiste essa “pobreza” da qual fala os evangelhos? O Papa Francisco responde a partir do que ensina do Catecismo: “Significa um coração humilde, que sabe acolher a sua condição de criatura limitada e pecadora, vencendo a tentação de onipotência que cria em nós a ilusão de ser imortal. A pobreza é uma atitude do

Em 2 mil anos de história, foram muitos os homens e mulheres que, de vários modos, ofereceram a sua vida ao serviço dos pobres, que, como sublinha o Catecismo, “não se estende apenas à pobreza material, mas também às numerosas formas de pobreza cultural e religiosa” (CIC, 2444). “Não pensemos nos pobres apenas como destinatários de uma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Estas experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa, deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida”, enfatizou o Papa Francisco, recordando as palavras de São João Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir”. São Leão Magno, em um de seus sermões, no século V, afirmou que “nenhuma devoção dos fiéis agrada mais ao Senhor do que aquela dedicada aos seus pobres, e, onde se encontra a preocupação da misericórdia, ele reconhece a imagem de sua própria bondade”. No discurso de abertura da 2ª Sessão do Concílio Vaticano II, em 1963, São Paulo VI afirmou que todos os pobres, necessitados, aflitos, famintos, assim como toda a humanidade que sofre e chora, pertencem à Igreja por “direito evangélico” e, por isso, obrigam à opção fundamental por eles.


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Compromisso no combate às causas da pobreza A Doutrina da Igreja também ensina que uma das formas concretas de ajudar os pobres é a busca da superação das realidades que causam a pobreza e a desigualdade. O próprio Catecismo da Igreja Católica sublinha que os problemas socioeconômicos só podem ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa, solidariedade entre as nações e entre os povos. “A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Em parte, é da solidariedade que depende a paz mundial” (CIC, 1941). São João Crisóstomo dizia que não deixar os pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. “É preciso satisfazer acima de tudo as exigências da justiça, para que não ofereçamos como dom da caridade aquilo que já é devido por justiça.”

Dignidade da pessoa

A esse respeito, o Papa emérito Bento XVI escreveu, na encíclica Caritas in veritate (2009), que “a dignidade da pessoa e as exigências da justiça requerem, sobretudo hoje, que as opções econômicas não façam aumentar, de forma excessiva e moralmente inaceitável, as diferenças de riqueza e que se continue a perseguir como prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos ou da sua manutenção”.

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Papa emérito acrescentou que o aumento sistemático das desigualdades entre grupos sociais no interior de um mesmo país e entre as populações dos diversos países, ou seja, o aumento maciço da pobreza em sentido relativo, “tende não só a minar a coesão social – e, por este caminho, põe em risco a democracia –, mas tem também um impacto negativo no plano econômico com a progressiva corrosão do ‘capital social’, isto é, daquele conjunto de relações de confiança, de credibilidade, de respeito das regras, indispensáveis em qualquer convivência civil”.

Caridade e política

O mesmo apelo faz o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti (2020), quando salienta que é preciso haver um ordenamento jurídico, político e econômico mundial que “incremente e guie a colaboração internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos”. “Com efeito, um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no ‘campo da caridade mais ampla, a caridade política’. Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social”, exortou, recordando as palavras de São Paulo VI, que definia a política como uma das expressões mais elevadas de caridade. (FG)

Cristãos se dedicam à assistência imediata aos pobres e no combate às causas da pobreza

Como ajudar os pobres? São muitas as maneiras pelas quais os cristãos podem ajudar aos mais pobres. A primeira delas é reconhecendo-os como irmão e, consequentemente, o próprio Cristo que sofre. Nesse sentido, a caridade pode ser exercida de forma individual, por meio da esmola, gesto recomendado pelo próprio Cristo nos evangelhos, sendo, inclusive, uma das práticas penitenciais da Quaresma, como forma de exercitar o desapego, combater o egoísmo e cultivar a generosidade. Também é possível colaborar materialmente ou por meio do trabalho voluntário com inúmeras iniciativas de caridade organizadas pela Igreja, por meio das suas inúmeras obras assistenciais, pastorais e projetos voltados para pessoas em situação de rua, famílias carentes, migrantes, refugiados e muitas outras pessoas em condição de vulnerabilidade social. Também existem iniciativas protagonizadas por grupos de amigos ou membros de comunidades paroquiais, que se reúnem para atender a situações específicas de pobreza. Um desses exemplos é o da associação Cor Unum, que atua em diversas frentes, como a distribuição de alimentos e roupas, atendimento de saúde, assistência jurídica, social e psicológica, capacitação profissional. Saiba mais em: https://tinyurl.com/yzsjehqg.

Microcrédito

Há, ainda, iniciativas como o Instituto CrediPaz, que oferece microcrédito solidá-

rio a famílias carentes, fundos provenientes de doações de instituições parceiras como a Caritas Arquidiocesana de São Paulo. Já foram diretamente apoiados cerca de 5 mil associados, impactando as vidas de mais de 28 mil dependentes por meio de aproximadamente R$ 13 milhões emprestados. Para saber mais, acesse: https://www.credipaz.org.br/.

Consagrados

São muitos os homens e mulheres que, a exemplo dos grandes santos do passado, sentem o chamado de Deus para consagrar a vida a serviço dos mais pobres em congregações religiosas, institutos de vida consagrada e associações de fiéis, como a Missão Belém, Toca de Assis, Aliança de Misericórdia, Fraternidade Voz dos Pobres, Fraternidade O Caminho, entre outras. Além disso, é possível colaborar com esses apostolados por meio de serviços voluntários, como é o caso das psicólogas voluntárias que atendem acolhidos da Missão Belém. (Leia em: https://tinyurl.com/yz7orgb3).

Famílias

Antes de todas essas iniciativas, o primeiro lugar onde deve ser exercitada a prática da caridade com os mais pobres é a família, a “Igreja Doméstica”. O Catecismo da Igreja salienta que a família deve viver de maneira que seus membros aprendam a cuidar e a se responsabilizar pelos jovens e pelos velhos, pelos doentes ou deficientes e pelos pobres. “São numerosas as famílias que, em certos momentos, não são capazes de proporcionar essa ajuda. Cabe, então, a outras pessoas, a outras famílias e, subsidiariamente, à sociedade prover às suas necessidades: ‘A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo’” (Tg 1,27), destaca o Catecismo, 2208. (FG)


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Noilton fotografa a vida simples no sertão baiano e compartilha boas ações Noilton Pereira de Lacerda

Por meio do dinheiro obtido com a venda das imagens, o fotógrafo já construiu 32 casas, distribui milhares de cestas básicas e gera oportunidades a famílias carentes Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Arquivo pessoal

Noilton Pereira de Lacerda, 49, é natural de Ruy Barbosa, cidade localizada na Chapada Diamantina, no sertão da Bahia, com aproximadamente 30 mil habitantes e distante 320 quilômetros de Salvador, capital do estado. Autodidata, radialista e fotógrafo, ele conhece bem a realidade enfrentada por seu povo: o contexto sertanejo e a pobreza de muitas famílias espalhadas pelo sertão baiano. O olhar apurado, a sensibilidade e o desejo de ajudar a quem mais precisa despertaram em Noilton o voluntariado, com o intuito de transformar vidas, mostrar ao mundo a realidade sofrida do povo que fica à margem e sofre com o abandono social.

FOTOGRAFAR O COTIDIANO

São dez anos de dedicação e ajuda ao próximo a partir do gesto de fotografar o cotidiano do povo. Nunca fez cursos de Fotografia, mas tem um grande mestre inspirador: o renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. “Eu descobri que tinha um fotógrafo dentro de mim depois de fotografar com o celular um pôr do sol”, recordou. Daí em diante, ele não parou mais: conseguiu uma máquina semiprofissional e, em seguida, ganhou uma câmera profissional, ao participar de um programa de televisão. As famílias carentes, as pessoas idosas, as crianças, os casebres de taipa, o povo humilde e apegado à fé, a paisagem do sertão são o foco de suas fotografias, que ultrapassam o óbvio e captam sentimento, verdade e esperança em cada rosto ou cenário clicado, como pode ser visto na imagem acima. “A fotografia me permitiu derrubar muitas barreiras e abrir novas fronteiras. Passei, a partir de uma inquietude, a registrar a vida dessa gente simples – que vive em casas de barro, de chão batido, sem energia elétrica, sem água encanada – sem recursos, abandonadas”, contou.

FLASHES QUE TRANSFORMAM

Por meio das redes sociais, as fotos ganham o mundo e financiam o projeto social “Sertão Forte”. O dinheiro da venda das imagens é revertido para as pessoas carentes da região por meio da construção de casas e doação de cestas básicas, material escolar, roupas, brinquedos e móveis. “Cada foto vendida representa uma família carente alimentada; esse dinheiro é uma nova esperança para quem necessita de uma moradia digna. A escolha dos beneficiados se dá a partir do grau de necessidade. A zona rural é bas-

tante castigada pela seca e pela situação extrema de pobreza”, enfatizou o fotógrafo, que eterniza momentos, memórias e constrói uma história, permeada de esperança e dignidade. O valor de cada foto é o equivalente a uma cesta básica, que é repassada diretamente às famílias fotografadas. Noilton também faz “vaquinhas on-line” para angariar fundos para construir as casas. No total, Noilton e suas fotografias já beneficiaram 32 famílias com a casa própria; no momento, 20 famílias estão cadastradas para receber mensalmente cestas básicas, e outras 500 famílias também são beneficiadas mensalmente com as cestas.

REALIZANDO SONHOS

Maria Neide Silva Santos, 50, é lavradora, moradora da zona rural de Ruy Barbosa. Ela vivia com o companheiro e seis filhos em uma casa de taipa, de um único cômodo. A renda familiar provém de programas assistenciais do Governo Federal. “Recebo R$ 400 do Bolsa Família e todos os meses o ‘anjo’ Noilton traz uma cesta básica”, disse Maria Neide, recordando que, há três anos, foi uma das contempladas com a construção da casa. “Meu sonho era ter a minha casa própria, com sala, quarto, banheiro, um lugar para chamar de lar”, falou, contando que a casa que ganhou tem três quartos, sala, cozinha e banheiro. “Noilton é uma bênção. Passa pelo sertão, em sua moto, realizando sonhos e renovando a esperança”, finalizou.

ESCOLA DE APRENDIZADO

A dimensão social do fotógrafo vai além do que possa se pensar como assistencialismo, pois visa a proporcionar melhor qualidade de vida e, sobretudo, criar oportunidades de trabalho. “O in-

tuito não é só a doação de uma moradia, de cestas básicas, mas de promover a sustentabilidade e dignidade para que essas pessoas possam se autossustentar”, disse, ressaltando que o projeto inclui a aquisição do terreno, a construção e o mobiliar a casa. Os beneficiários participam do processo de construção delas. “A ideia é envolver e mostrar que a participação é imprescindível e que nada vem fácil. Por exemplo, os homens ajudam na obra, que é, também, uma escola de aprendizado. O intuito é formar profissionais, e muitos dos que foram contemplados aprenderam o ofício de pedreiro, servente e ajudante nas obras das suas próprias casas”, disse o idealizador. “Hoje, há oito homens que são os pedreiros que colaboram nas obras e sustentam suas famílias. É preciso dar o pão, mas é de fundamental importância ensinar e abrir oportunidades de trabalho”, reforçou.

OPORTUNIDADE DE TRABALHO

Lucas dos Santos Oliveira, 23, foi fotografado por Noilton e, com o dinheiro da venda da sua foto e a de sua irmã Joceli, foi contemplado com uma casa nova. “Eu morava com meus pais e dez irmãos em uma casa de taipa. Quando chovia, desmoronava e molhava o pouco que tínhamos”, relembrou o jovem, que hoje mora na nova casa construída com a ajuda do projeto social do fotográfo. Oliveira colabora como ajudante de pedreiro na construção das casas: “Aprendi a função que hoje traz sustento para minha família”, disse o jovem, que está construindo sua casa, onde vai morar, em breve, com a esposa.

SONHOS

O fotógrafo tem muitos sonhos, dentre os quais a consolidação da agricultura familiar como um recurso para as famílias gerarem renda e sustento próprio. “A terra é fértil e produz, mas essas pessoas precisam de incentivo e apoio”, afirmou. Outro grande sonho é publicar um livro com suas fotografias e continuar ajudando a quem precisa. “É gratificante ver a reação das pessoas ao receber a casa ou uma cesta básica. Emocionante realizar o sonho das crianças: um brinquedo, um bolo de aniversário, uma bicicleta; são sonhos que se fundem: eles, ao receberem, e eu em doar o pouco que consigo, graças à generosidade de tantas pessoas que acreditam no meu trabalho social”, finalizou. Suas fotografias impressionam, e quem quiser conhecer e adquirir uma foto é só acessar as redes sociais do fotógrafo.

CONHEÇA E COLABORE: @noiltonpereiraoficial


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Com a Palavra | 15

Suzana Filizola Brasiliense Carneiro

‘A realização pessoal depende da nossa inserção fecunda na sociedade’ Arquivo pessoal

Daniel Gomes

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Em 2007, a psicóloga Suzana Filizola Brasiliense Carneiro esteve pela primeira vez no bairro do Uruguai, região de Alagados, em Salvador (BA), e percebeu como os moradores sofriam com violências física, preconceitos e negligências do Estado. Chamaram-lhe a atenção, porém, as maneiras pelas quais encontraram respostas pessoais e comunitárias diante dessa realidade. Em sua pesquisa de doutorado em Psicologia Clínica, Suzana percebeu similaridades dessas vivências com as de Edith Stein (18911942), que, de origem judaica, foi perseguida pelos nazistas e morta em um campo de concentração quando já havia se convertido ao catolicismo e, como carmelita, adotara o nome de Teresa Benedita da Cruz. Ela foi canonizada por São João Paulo II em 1998. Fruto de sua tese de doutorado, no livro “Formação humana e violência – À luz da fenomenologia de Edith Stein” (Appris Editora), Suzana aprofunda a compreensão a respeito do ser humano e de seu processo formativo, tomando como referência a fenomenologia de Edith Stein e colocando-a em diálogo com a experiência de vida dos moradores do bairro do Uruguai, conforme detalha nesta entrevista a profissional, que, além de doutora em Psicologia Clínica pela USP, é mestra em Psicologia da Educação pela PUC-SP e especialista em Teologia da Evangelização pela Universidade Lateranense de Roma. Leia os principais trechos a seguir e a íntegra em www.osaopaulo.org.br.

O SÃO PAULO – Como a senhora chegou a essa aproximação entre as violências que Edith Stein sofreu dos nazistas, especialmente por ser intelectual, mulher e judia, e as experiências de violência sofridas pelos moradores do bairro do Uruguai? Suzana Filizola Brasiliense Carneiro – O que me levou a essa aproximação não foi a violência em si, mas as possibilidades de enfrentamento que ambos testemunham. Tanto Edith Stein quanto os moradores do Uruguai sofreram com as adversidades do seu contexto de vida, mas conseguiram elaborar respostas pessoais que inauguraram possibilidades existenciais mais autênticas, tanto do ponto de vista pessoal quanto comunitário. No caso de Edith Stein, esse enfrentamento se deu a partir de sua investigação no campo filosófico, encarando temas como a empatia, a qualidade das relações sociais, a essência do Estado e a educação feminina. No caso dos moradores do Uruguai, esse enfrentamento ocorre a partir do sentimento de per-

tença a um território construído com as próprias mãos, e, ao mesmo tempo, valorizado e sustentado pela dimensão de fé. O Uruguai recebeu a visita de São João Paulo II em 1980, e de Santa Teresa de Calcutá, além de ter sido o local das atividades pastorais de Santa Dulce dos Pobres. Pelos depoimentos dos moradores, fica clara a relação entre a experiência da própria dignidade e o fato de terem sido enxergados e visitados por esses três santos da Igreja Católica. À luz da fenomenologia, como essas experiências de violência interferiram historicamente no desenvolvimento humano desses moradores? Quando falamos de violência, nos referimos a qualquer fenômeno que viole a dignidade e a integralidade das pessoas. As experiências de violência narradas pelos moradores estão associadas à violência urbana de um território periférico de uma grande cidade. Entre elas, podemos citar a omissão do Estado na regularização fundiária e na oferta de políticas públicas. Diante desse vazio, o bairro passou a ser ocupado na informalidade, à custa de muito sacrifício e incertezas. O Uruguai teve início nos anos 1930, quando a Península de Itapagipe se tornou polo industrial de Salvador, atraindo pessoas do interior da Bahia em busca de trabalho. Por falta de recursos, os migrantes construíram suas casas sobre o mar, nos moldes de palafitas. Nessas condições precárias, marcadas por improviso e muita esperança, adultos e crianças acabaram morrendo vítimas de disputas e de acidentes (tragados pela maré). Além disso, o bairro foi aterrado

inicialmente pelos próprios moradores com o lixo e restos de material de construção provenientes da área nobre da cidade, o que contribuiu para a discriminação aos moradores, que passavam a enfrentar dificuldades, por exemplo, para conseguir emprego quando revelavam seu endereço residencial. Do ponto de vista do desenvolvimento humano, essas violências sofridas dificultam o desenvolvimento de uma vida interior, pois o medo e a necessidade de vigilância pela sobrevivência são acompanhados por um fechamento tanto para si como para o outro, visto como ameaça. Edith Stein formou-se em Filosofia. De que maneira os estudos e escritos feitos por ela também contribuíram com a área da Psicologia? A principal contribuição de Edith Stein para a Psicologia é a sua visão de pessoa, a compreensão de ser humano como uma unidade dinâmica constituída por vivências de natureza psicofísica (involuntárias) e espiritual (consciência, reflexão e liberdade). Devido ao seu interesse pela pessoa humana, a Psicologia sempre foi uma disciplina cara a Edith Stein, desde os seus primeiros estudos na Faculdade de Breslávia. Esse contato a fez perceber que faltava a essa disciplina os fundamentos necessários para uma compreensão clara do ser humano; pois a Psicologia da época, sob influência da mentalidade positivista, restringia-se à descrição das sensações psicofísicas, sem atingir a experiência humana propriamente dita. Além disso, Stein percebeu uma confusão conceitual entre psique e consciência. Foi no campo da Filosofia,

a partir da fenomenologia de Edmund Husserl, que Edith Stein encontrou o caminho para essa fundamentação antropológica que ela oferece à Psicologia e às ciências humanas em geral. No entender de Edith Stein, quais são os principais pilares da formação humana? Para Edith Stein, a formação humana se refere a um processo dinâmico de realização de “si mesmo”, que acontece na atualidade da vida como resultado da inter-relação entre as disposições pessoais inatas, o contexto e o livre-arbítrio. Esse processo de se tornar “si mesmo” explicita que a formação não se pauta por um modelo externo, mas por um princípio interior que orienta a formação da pessoa como ser humano e como indivíduo singular. Nesse sentido, a tarefa formativa deve ajudar a pessoa a se desenvolver tanto como indivíduo quanto como membro da grande comunidade humana. Esse ponto é fundamental e explicita que a nossa realização pessoal não se dá a partir de uma atitude individualista, mas depende da nossa inserção fecunda na sociedade, na vida comunitária. Na sinopse do livro, lê-se que “não basta o reconhecimento do apelo do núcleo pessoal para que a pessoa assuma a direção da própria vida, mas que ela necessita de uma quantidade mínima de força vital para realizar-se nessa direção”. Essa força vital também decorre da crença no transcendente? Sim. Essa força vital pode decorrer da experiência de fé, da abertura do ser humano ao transcendente. Mesmo antes da sua conversão ao catolicismo, os resultados da investigação fenomenológica das vivências levaram Edith Stein a reconhecer uma fonte de força que está para além dos mecanismos da personalidade individual, indicando que a compreensão dessa experiência se daria no âmbito da fenomenologia da religião. Além disso, Stein compreende o ser humano como um microcosmo, e ela reconhece que a dimensão espiritual do ser humano tem sua raiz no espírito divino, herdando dele a abertura e a capacidade de se doar como elementos fundamentais para a realização de si. Nesse sentido, ela reconhece que o caminho mais seguro no processo formativo é a doação de si ao espírito por excelência (Deus) e afirma que “quem se abandona a Deus é por ele conservado e reencontra a si nele” (p. 150). A meu ver, esse é um grande aprendizado da espiritualidade de Santa Teresa Benedita da Cruz, ou seja, que a nossa realização passa pela providência divina e que o caminho mais seguro é o abandono a Deus.


16 | Reportagem | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Adequação dos espaços litúrgicos e preservação do patrimônio da Igreja são temas de encontro da CNBB Reprodução

Participaram estudantes, docentes, religiosos e profissionais de arquitetura, engenharia e artes Fernando Geronazzo

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A Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio do Setor Espaço Litúrgico, promoveu, entre os dias 3 e 5, o 13º Encontro Nacional de Arquitetura e Arte Sacra (ENAAS). Pela primeira vez, o evento, que acontece a cada dois anos, foi realizado na modalidade on-line, devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19. O encontro tem o objetivo de promover um debate acadêmico e interdisciplinar sobre a dignidade dos espaços de celebração, bem como a importância da preservação do patrimônio artístico e cultural da Igreja. O 13º ENAAS contou com a parceria do Instituto São Paulo de Estudos Superiores (Itesp) e com o apoio da Comissão Episcopal para a Cultura e a Educação da CNBB, da Associação dos Liturgista do Brasil (Asli), da Faculdade São Basílio Magno (Fasbam) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Participaram do encontro estudantes, docentes, profissionais de Arquitetura, Engenharia e Artes, padres, diáconos, seminaristas, religiosos, membros dos conselhos de economia e administração de paróquias e santuários, equipes de liturgia e pessoas envolvidas tanto direta quanto indiretamente em construções, reformas e decorações das igrejas. No encontro, os participantes refletiram sobre a necessidade e os fundamentos da adequação litúrgica dos espaços celebrativos, bem como sua relação com segurança, acessibilidade e os caminhos de diálogo com os órgãos de preservação do patrimônio, com a ajuda de especialistas de diferentes áreas.

Liturgia viva

Ao abrir o evento, Dom Carlos Ver-

André Macieira, coordenador-geral de Autorização e Fiscalização do Iphan, fala sobre o diálogo com órgãos de preservação do patrimônio

zeletti, Bispo de Castanhal (PA) e membro da Comissão para a Liturgia da CNBB, afirmou que, passados mais de 50 anos do Concílio Vaticano II, “é necessário encerrar a temporada da ‘provisoriedade’, muitas vezes, interpretada como sinônimo de improvisação e fonte de sérios transtornos do ponto de vista celebrativo, estético e educacional”. O Bispo enfatizou, ainda, que as igrejas e demais locais de culto não podem ser considerados apenas como patrimônios culturais ou espirituais intocáveis. “A liturgia é vida, realidade em mudança contínua, mesmo que essa mudança seja lenta. Nesse sentido, a adequação litúrgica desses bens é uma solicitação específica do Concílio e deve ser implementada com a necessária prudência, sempre respeitando também as indicações do Magistério, levando-se em conta ainda o que os órgãos de preservação do patrimônio artístico e cultural exigem de nós”, acrescentou Dom Carlos, reforçando que os espaços litúrgicos devem ser expressão de uma Igreja que caminha.

Patrimônio

André Macieira, arquiteto e coordenador-geral de Autorização e Fiscalização do Iphan, falou sobre o tombamento, instrumento legal de proteção do patrimônio cultural instituído no Brasil em 1937, em âmbito federal e que, atualmente, também pode ser feito pelas administrações estadual e municipal. O profissional explicou que todo patrimônio cultural é definido como um conjunto de bens móveis e imóveis existentes em determinado território e cuja conservação é de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, quer

por seu valor bibliográfico ou artístico. São também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, sítios de paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotadas pela natureza ou criados pela indústria humana.

Na Igreja

Dos 1.260 bens tombados pelo Iphan em todo o País, 564 são bens religiosos e, desses, 71% (398) são ligados à Igreja Católica, o que inclui objetos de culto, conventos, igrejas, capelas, santuários, cemitérios, entre outros. O tombamento limita o direito de propriedade em favor da manutenção de determinados atributos físicos e culturais de interesse coletivo, mas não o exclui. “O tombamento é o reconhecimento de que existe uma propriedade que tem um valor cultural que extrapola ela própria”, explicou o arquiteto. Nesse sentido, o patrimônio tombado só pode sofrer determinadas alterações com autorização prévia do órgão que fez o reconhecimento. Por essa razão, Macieira considera fundamental o diálogo entre aqueles que detêm a posse dos bens com os órgãos de preservação em busca de um mútuo apoio.

Atualizações para uso

O arquiteto esclareceu que o Iphan compreende que determinados bens, como as construções em uso, não serão sempre utilizados da mesma forma que eram na ocasião do tombamento e, por isso, precisam ser atualizados para as novas condições de uso. Nesse sentido, reformas simplificadas de manutenção do local, por exemplo, não exigem a apresentação de documentos técnicos mais complexos. “Não é necessário um projeto arquitetônico para a realização de uma pintura, substituição de telhas ou outras peças do telhado, ações e substituição de elementos de piso”, detalhou o profissional.

Já para as intervenções que impliquem a demolição de paredes ou construção de novos elementos, como a ampliação da área construída, modificação da forma do bem em planta, modificação de vãos, entre outras, há a necessidade de um projeto arquitetônico mais especializado. Macieira enfatizou que esse projeto não pode ser compreendido como um gasto, mas, ao contrário, como um instrumento que permite avaliar cuidadosamente as possibilidades de intervenção antes de iniciar as obras, a fim de evitar gastos ou danos inesperados. Alguns casos mais complexos demandam projetos de restauração. O técnico do Iphan, contudo, salientou que a restauração deve ser o último recurso da preservação do patrimônio, pois, na verdade, o tombamento existe para garantir a manutenção e conservação do bem para que continue sendo utilizado.

Cooperação técnica

Essa é uma das razões que levaram a assinatura do termo de cooperação técnica entre a CNBB e o Iphan, em junho passado. Entre as iniciativas previstas pelo acordo, estão ações educativas e preventivas, identificação desse patrimônio cultural, estabelecimento de diretrizes para intervenções, fomento à conservação, produção de materiais formativos, articulação com os cursos já existentes nas pontifícias universidades católicas, capacitação do quadro funcional da CNBB e dos colaboradores da Igreja como um todo para a gestão de imóveis e acervos e o diagnóstico dos bens tombados. “A Igreja constituiu todo esse acervo de bens em vista da evangelização. Portanto, a promoção do patrimônio cultural, para nós, não é apenas proteger um bem cultural, mas promover a evangelização por meio desses bens”, enfatizou o Padre Luciano da Silva Roberto, Assessor do Setor Bens Culturais da CNBB.


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Pelo Brasil | 17

Padre Júlio Lancellotti é condecorado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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Aos 72 anos de idade, metade dos quais como sacerdote, o Padre Júlio Renato Lancellotti foi homenageado na quinta-feira, dia 4, com o “Colar de Honra ao Mérito Legislativo”, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) conferida a pessoas físicas ou jurídicas “que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico de nosso Estado”, conforme consta no descritivo da condecoração instituída em 2015. A homenagem ao Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo foi proposta pelo advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, e apresentada pelo deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, primeiro secretário da Alesp, que conduziu a sessão solene.

Gratidão ao homenageado

Ao longo da sessão, diferentes personalidades discursaram sobre a convivência com o Padre Júlio, recordando, especialmente, a atuação do homenageado em favor dos direitos humanos. Ariel de Castro, proponente da homenagem, recordou muitas ocasiões vividas ao lado do Padre Júlio, como os encontros da fase de elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e as ocasiões em que ajudaram a conter, por meio do diálogo e da oração, situações de tensão em unidades da antiga Febem, atual Fundação Casa. Padre Tarcísio Mesquita, do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, representou o Cardeal Scherer, Arcebispo de

Padre Júlio Lancellotti discursa na tribuna da Alesp, na solenidade em sua homenagem

São Paulo, na solenidade. O Sacerdote recordou os anos de amizade com o Padre Júlio e desejou que mais pessoas, sejam elas católicas ou não, inspirem-se no testemunho de vida do homenageado, o que inclui não se intimidar com ameaças por defender a dignidade dos mais vulneráveis da sociedade. Ao longo da sessão também foram apresentados trechos do documentário “Padre Júlio Lancellotti: fé e rebeldia”, de autoria de Paulo Pedrini, no qual se retratam a vida e as ações do Padre Júlio, que, além de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, é Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Região Belém.

Que os mais pobres sejam defendidos e valorizados

Após ser condecorado, Padre Júlio Lancellotti discursou na tribuna da Alesp e recordou as muitas vezes em que esteve na casa legislativa participando de manifestações contra a tortura e a vio-

lência a que é submetida a população em situação de rua. Padre Júlio pediu que os parlamentares se engajem para que seja viabilizada a realização do Censo da População em situação de rua do estado de São Paulo, pela aprovação de leis que garantam maior proteção social aos que vivem nas ruas e pelo fim de intervenções e arquiteturas hostis a essa população que se encontra no extremo da vulnerabilidade social. Por fim, o Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua reafirmou seu propósito de atuação: “Nós resistimos partilhando o pão, a vida, o sofrimento e a alegria, partilhando tudo o que temos, para que os mais pobres, os mais fracos, e os esquecidos, sejam lembrados, defendidos e valorizados”, disse, assegurando que, embora tenha recebido o colar, a honraria não pertence somente a ele, mas às pessoas em situação de rua que devem ter sua dignidade reconhecida.

Pinacoteca apresenta exposição sobre a arte e a indústria no Brasil Começou no sábado, 6, na Pinacoteca de São Paulo, a exposição “A máquina do mundo: arte e indústria no Brasil 1901-2021”, reunindo cerca de 250 obras de mais de cem artistas, nas quais são retratadas as várias maneiras pelas quais a indústria impacta a produção de artistas no País desde o início do século passado. A curadoria é de José Augusto Ribeiro, com assistência de Daniel Donato Ribeiro. A seleção privilegia as questões internas aos trabalhos e questiona, a partir deles, os impactos da indústria moderna no pensamento da arte e nos contextos sociais em que tais pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, objetos, filmes e poemas foram produzidos. De acordo com os curadores, se, por um lado, a máquina está associada à noção do próprio trabalho de arte como um aparelho, por outro, ela está ligada às fábricas, locais símbolos da modernidade, com trabalhadores concentrados em linhas de montagem, maquinário pesado, produtos processados e de circulação em massa, e que, por tudo isso, definem parte significativa da vida moderna e contemporânea. A exposição poderá ser vista até 22 de fevereiro de 2022, de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h, no Edifício Pina Luz (Praça da Luz, 2, próximo à estação Luz da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). A entrada é gratuita aos sábados. Para todos os dias é preciso agendar horário de visitação. Saiba outros detalhes em http://pinacoteca.org.br. Fonte: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo

(Colaborou: Flavio Rogério Lopes)

Governo Federal publica metas de redução de efeito estufa O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou na segunda-feira, 8, as metas para o ano de 2022 da redução de emissões de gases causadores do efeito estufa no que se refere à comercialização de combustíveis. Para o ano que vem, a meta fixada é de 35,98 milhões de unidades de Crédito de Descarbonização (CBIO),

emitido para produtores e importadores de combustíveis. Cada unidade equivale a uma tonelada de gás carbônico que não foi liberada na atmosfera ou sete árvores em termos de captura de carbono. A normativa publicada pelo MME também estabelece intervalos de tolerância, com o limite mínimo e má-

ximo das metas, que começam a valer em 2023. Naquele ano, a meta será de 42,35 milhões de unidades de CBIO, com intervalo inferior de 33,85 e superior de 50,85. Em 2031, a meta esperada é de 95,67 milhões de CBIOs, como limite inferior de 87,17 e superior de 104,17. Fonte: Agência Brasil

COVID-19: Fiocruz pede cautela na retomada de eventos com aglomeração Na edição do Boletim do Observatório COVID-19 publicado na quinta-feira, 4, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pede aos governos que tenham cautela ao autorizar a retomada de eventos sociais com aglomeração de pessoas. A principal preocupação é que a flexibilização das medidas restritivas ocorra apenas amparada no percentual de adultos completamente vacinados. Para os pesquisadores do Observatório, é funda-

mental que se chegue ao patamar de 80% de cobertura vacinal da população total. Com essa meta, além dos adultos, a campanha de imunização deve atingir também crianças e adolescentes. “Vale lembrar que a população de adolescentes, pelo tipo de comportamento social que tem, é um dos grupos com maior intensidade de circulação nas ruas e convive com outros grupos etários e sociais mais vulneráveis. Por isso, é equivocado

pensar que, com a população somente adulta coberta adequadamente, a retomada irrestrita dos hábitos que aglomeram pessoas é possível”, afirmam os cientistas. A Fiocruz também alerta para a quantidade expressiva de pessoas que não retornaram para a segunda aplicação do imunizante, algo próximo a 14 milhões de brasileiros, conforme dados compilados até 25 de outubro.

“A recomendação é de que enquanto caminhamos para um patamar ideal de cobertura vacinal, medidas de distanciamento físico, uso de máscaras e higienização das mãos sejam mantidas e que as atividades que representem maior concentração e aglomeração de pessoas só sejam realizadas com comprovante de vacinação”, ressaltam os pesquisadores. Fonte: Fiocruz


18 | Geral/Fé e Vida | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Inscrições do vestibular para o curso de Teologia na PUC-SP se encerram no dia 23 Divulgação

Fernando Geronazzo

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Graduar-se em Teologia com um título de nível superior com reconhecimento civil e eclesiástico não é uma oportunidade exclusiva para seminaristas e religiosos. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), essa possibilidade existe para leigos, agentes de pastorais, professores e demais pessoas interessadas em aprofundar o conhecimento da fé em um curso no período diurno ou noturno. As inscrições para o Vestibular de Verão 2022 estão abertas e podem ser feitas até o dia 23 pelo link a seguir: https://tinyurl.com/yhbttkq6.

Ex-alunos

Tradição na formação de leigos

Com mais de 70 anos de história, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, localizada no campus Ipiranga da PUC-SP, acompanhou a caminhada eclesial ao longo do tempo, buscando sempre corresponder aos acontecimentos da vida da Igreja, como o Concílio Vaticano II (1962-1965). Em 1976, surgiu o primeiro curso especial de Teologia voltado para leigos. Era realizado nas dependências da Ordem Terceira do Carmo, no centro da capital paulista. Em 1999, o Ministério da Educação (MEC) reconheceu, pela primeira vez no País, um curso de Teologia. O curso de bacharelado da PUC-SP foi aprovado com nota máxima em 2004, o que abriu caminho para a sistematização do curso noturno, voltado especialmente para leigos. “Além de oferecer um título universitário com duplo reconhecimento, o civil, do Ministério da Educação, e o eclesiástico, por intermédio da Congregação para a Educação Católica da Santa Sé, o curso de Teologia da PUC-SP habilita o estudante para continuar no aprofundamento da ciência teológica, por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado”, afirmou o Diretor da Faculdade de Teologia, Padre Boris Agustín Nef Ulloa.

Formação acadêmica e pastoral

O Diretor sublinhou, ainda, que este curso forma profissionais capazes de compreender seu papel e missão na Igreja e na sociedade, dialogar com as demais ciências e tem como princípio fundamental a inserção dos alunos na vida pastoral e evangelizadora. Por isso, para a conclusão do curso, são exigidas 200 horas de estágio pastoral, que os alunos devem realizar na ação concreta de evangelização, missão e promoção da vida

trabalhar em empresas que desenvolvam projetos sociais, ambientais e de promoção humana”, destacou Padre Boris. Nesse sentido, o Diretor motivou que os padres e responsáveis por organizações eclesiais não apenas incentivem, mas também apoiem os agentes leigos para estudarem Teologia. A Faculdade possui o Fundo para a Formação Teológico-Pastoral de Leigos (Fortal), por meio do qual é possível oferecer descontos nas mensalidades desses alunos, como uma maneira de estimular as comunidades a subsidiarem ao menos parte da formação de seus membros.

em paróquias, comunidades, instituições, entre outros locais em que o trabalho pastoral se faz presente. Por ser um curso reconhecido pela Santa Sé, seus professores precisam fazer a profissão pública da fé católica e receber do Arcebispo a missio canonica (missão canônica), que os reconhecem aptos para lecionar Teologia segundo os fundamentos da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério. Em relação aos estudantes, para receber o título eclesiástico de bacharel em Teologia, é preciso fazer o exame conclusivo chamado de Universa Theologia. “O bacharel em Teologia pode atuar nos diversos campos de pastoral, evangelização e missão; no campo educativo, como professor universitário e de Ensino Religioso e áreas afins na formação religiosa de jovens, adolescentes e crianças; pode prestar concursos públicos que exijam um grau universitário completo, além de

Karolayne Maria Vieira Camargo de Moraes formou-se em Teologia em 2020. Para ela, o curso foi uma oportunidade única de se lançar para “águas mais profundas”, isto é, de descer às entranhas da experiência de fé cristã e, ali, verificar a veracidade do que se crê. “Isso porque o curso não expõe apenas conteúdos teóricos, mas ‘chama em causa’ cada aluno que deseja realmente trilhar este caminho de aprendizagem, a fim de que possa ser capacitado no exercício de uma análise crítica da realidade, sabendo, ao mesmo tempo, valorizar aquilo que há de bom e denunciar profeticamente aquilo que desumaniza, por meio de uma prática coerente”, relatou a jovem, que hoje é mestranda em Teologia pela PUC-SP. Formado em 2017, o consultor de vendas Augusto Luís Pinheiro Martins afirmou que o curso respondeu à sua necessidade de servir mais e melhor à Igreja diante da sociedade atual. “Porém, tais respostas não foram fórmulas mágicas, e sim ferramentas de análise crítica diante dos conteúdos da fé cristã e um impulso para a tomada de consciência de um agir transformador pautado pelos princípios do Reino de Deus”, disse. Ele acrescentou que, graças à formação teológica, desenvolveu com sua esposa, formada em Economia, o projeto Educação Financeira para Vida (EFV), uma pastoral social com função transversal para atuar nas comunidades de fé e na sociedade civil. “Neste projeto, oferecemos um processo de formação integral que trata questões financeiras pelo olhar da Espiritualidade e da Economia [...]. A Teologia me possibilita oferecer uma reflexão acerca da Economia, pautada nos princípios do pensamento social cristão, no Magistério da Igreja, recorrendo às experiências dos cristãos dos primeiros séculos e, principalmente, bebendo da fonte das Sagradas Escrituras de maneira crítica e técnica”, completou. (Com informações do Jornal da PUC-SP)

Você Pergunta De quem é a autoria do cântico do Magnificat? Padre Cido Pereira

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Recebi esta interessante pergunta da Irmã Maria Alba, do bairro do Morumbi: “O cântico do Magnificat, cantado por Maria na visita a Isabel, é de autoria de Maria ou da profetisa Ana?”. Irmã Maria Alba, dou graças a Deus pela oportunidade que tenho de dialogar com os ouvintes da rádio 9 de Ju-

lho e com os leitores do jornal O SÃO PAULO. Esta sua pergunta me fez correr atrás da história de Ana, esposa de Elcana, uma mulher que sofria por não ser mãe, por mais que seu marido a consolasse, dizendo-lhe que ela valia para ele mais do que dez filhos. Certa vez, em oração no templo, Ana rezou com tanto fervor que o sacerdote achou que ela estivesse bêbada. Ela, porém, disse que estava dizendo a Deus a sua

dor por não ser mãe. Enfim, Deus concede a Ana a graça da maternidade, e ela, ao apresentar seu filho, deu-lhe o nome de Samuel. Ana, então, cantou as maravilhas que Deus realizou nela e no seu povo de Israel. O canto de Ana é muito bonito e nota-se nele a mesma reflexão do cântico de Maria. As duas grandes mulheres cantam e glorificam a Deus pela ação maravilhosa

de Deus em suas vidas. Os estudiosos da Bíblia entendem que o cântico de Ana no Antigo Testamento preparou o cântico de Maria. Quem desejar comparar os dois cânticos é só ler o primeiro livro de Samuel, 2,1-10, e o Evangelho segundo São Lucas, 1,46-55. Vale a pena conferir. Mais uma vez, percebemos que o Antigo Testamento contém o Novo Testamento.


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Reportagem | 19

Com 10 milhões de deficientes auditivos no Brasil, a Libras é cada vez mais valorizada Milton Michida/Secretaria da Educação do Governo do Estado de São Paulo

Autor de mais de 60 livros e 400 trabalhos científicos, Fernando Capovilla ressalta que quanto mais cedo essa língua for ofertada aos surdos, melhor eles desenvolverão a escrita e a leitura Daniel Gomes

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A impossibilidade plena de ouvir ou a existência de algum nível de dificuldade para a audição afeta 10 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados compilados pelo Instituto Locomotiva e os organizadores da Semana da Acessibilidade Surda de 2019 indicam, ainda, que existem no País 2,3 milhões de pessoas com deficiência auditiva severa. Os números em si ajudam a explicar as motivações para o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, celebrado anualmente em 10 de novembro, com o propósito de educar, conscientizar e prevenir a população sobre a surdez (veja mais detalhes abaixo). Professor titular da USP, PhD em Psicologia, mestre em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento e presidente da Comissão de Alfabetização do Conselho Nacional de Educação, o professor doutor Fernando Capovilla defende que a data seja renomeada para “Dia Nacional de Prevenção à Perda Auditiva Adquirida e Congênita por Fatores Pré-Natais”. Ele justifica a proposta pelo fato de a surdez ser um fenômeno de dois lados: “o lado médico, da deficiência auditiva a ser prevenida e mitigada – e é neste sentido que se inspira a campanha; e o lado linguístico e cultural, o da língua de sinais e cultura surda (teatro em sinais, filme sinalizado, por exemplo)”.

Legislação sobre a Libras

Capovilla é autor de mais de 60 livros e outros 400 trabalhos científicos na área de desenvolvimento e distúrbios de comunicação e linguagem oral, escrita e de sinais, entre estes o pioneiro “Dicionário da Língua de Sinais do Brasil (Libras)”, (Capovilla & Raphael, 2001), publicado pela Edusp, a partir do qual ganhou força a valorização da Libras, que foi reconhecida como meio de comunicação da população surda brasileira pela lei 10.436/2002. Três anos depois, pelo decreto 5.626/2005, a

Ampliação de escolas sinalizadoras é indispensável para o aprendizado de pessoas surdas

Libras foi inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia. Em 2014, foi editada a lei 13.005, que garante a oferta de educação bilíngue, em Libras, como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos alunos surdos, desde o nascimento até 17 anos, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas. E, em agosto deste ano, foi sancionada a lei 14.191, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos.

Papel indispensável

Ao longo de 15 anos, Capovilla e sua equipe avaliaram 9,8 mil alunos surdos em todo o Brasil. De acordo com o professor, 95% dos surdos nascem em lares de ouvintes que desconhecem a Libras.

PRECAUÇÕES contra a surdez

Embora haja muitas razões para a surdez, algumas até por fatores genéticos, certas precauções podem ajudar na prevenção ou diagnóstico precoce: Grávidas devem fazer pré-na tal para evitar que o feto esteja exposto a doenças como sífilis, rubéola e toxoplasmose, que podem ocasionar problemas auditivos; O teste da orelhinha deve ser feito em recém-nascidos para verificar a presença de anormalidades auditivas; Sempre deve se evitar introduzir objetos pontiagudos nos ouvidos; Caso os adultos percebam atrasos no desenvolvimento de fala

“Se essas crianças não tiverem acesso a Libras na educação infantil, de nada adianta colocar intérpretes para elas quando forem matriculadas no ensino fundamental comum inclusivo”, ressalta. Outra constatação é que quanto mais cedo a criança tem acesso a essa língua, “melhor se dá seu desenvolvimento, melhor a leitura com compreensão e a escrita com significado”, comenta o professor, destacando que a idade ideal para a imersão na comunidade linguística sinalizadora é de 12 a 18 meses; a aceitável, entre 1,5 a 3 anos; e a tolerável, entre 4 e 5 anos. Também se evidenciou que crianças surdas aprendem mais e melhor em escolas bilíngues para surdos do que em escolas comuns, ainda que haja intérpretes. Outra constatação é a de que “crianças com deficiência auditiva aproveitam o ensino nas escolas comuns significativamente mais que as crianças surdas; para estas, o ideal é uma escola bilíngue integral. Ao longo do Ciclo 1 (de 6 a 10

das crianças, devem levá-las a um médico especialista; Trabalhadores expostos a ruídos intensos precisam sempre usar protetor auricular; Deve ser evitada a exposição frequente a sons demasiadamente altos, ou seja, ruídos acima de 85 decibéis. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, tem uma dica prática para saber se o som está acima deste patamar: quando duas pessoas conversam a uma distância de um braço e precisam elevar a voz para a mútua compreensão é sinal de que o som de seu entorno superou os 85 decibéis. Fontes: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde e Conselho Federal de Fonoaudiologia

anos de idade), observa-se que a criança surda precisará de Libras como principal veículo de educação e instrução. À medida que os anos progridem, porém, a carga do Português lido e escrito vai aumentando progressivamente. A criança que tem boa base em Libras pode se beneficiar de ter carga horária em Português cada vez maior, de modo que, a partir do Ciclo 2 do ensino fundamental, a Libras passa a ser usada mais como apoio”. “Temos feito esforços para fomentar políticas públicas que determinem a criação de escolas de educação infantil sinalizadoras, que acolham as crianças surdas desde o teste da orelhinha e ensinem a auxiliar os pais e familiares a se comunicar com elas no cotidiano do lar. Isso é essencial para o bom desenvolvimento linguístico, cognitivo, emocional, bem como da personalidade e do comportamento social da criança surda. É também importante à felicidade e coesão da família de surdos”, comenta.

Cristianismo e inclusão

De acordo com Capovilla, antes da publicação do já mencionado dicionário no ano de 2001, “apenas as igrejas mantinham viva a Libras como meio de educação e instrução e cultos e celebrações, nas missas e nos cultos e reuniões em Libras, e no ensino escolar em Libras”. O professor enfatiza que a Palavra proclamada nas celebrações religiosas “pode ser recebida por surdos videntes que fazem a leitura orofacial visual dessa fala” e que igualmente pode “ser recebida por surdo-cegos que fazem a leitura orofacial tátil dessa fala, exatamente do mesmo modo que a surdo-cega Helen Keller [norte-americana ativista pelos direitos das pessoas com deficiência] fazia e milhões de surdo-cegos fazem hoje no mundo todo. Isso, certamente, evoca a fé”. Ao recordar as passagens de Mc 16,15 – “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” – e Mc 13,10 – “Importa que o Evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações” –, Capovilla pondera que há povos e culturas em que a língua falada não existe. “Em vez dela, existe a língua de sinais. Então, a fé vem do receber sinais. Por isso, desde sempre o Evangelho nas missas e nos cultos vem sendo ministrado em sinais. Mas como nem todos os surdos enxergam, a mensagem do Evangelho durante missas, cultos e pregações é ministrada em sinais táteis, que são recebidos por surdo-cegos. Isso é certamente agradável a Nosso Senhor. Não surpreendentemente a educação de surdos nasceu em mosteiros jeronimistas espanhóis que tinham quase um milhar de sinais monásticos para manter o silêncio beneditino”, recorda.


20 | Geral/Balanço | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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Em Genebra, países reforçam políticas de valorização da família e a defesa da vida Arquivo pessoal

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Para celebrar o primeiro ano da “Declaração de Consenso de Genebra”, pela qual os países signatários se comprometem com a saúde integral da mulher, a preservação da vida humana, o fortalecimento da família como a unidade fundamental da sociedade e a proteção da soberania das nações na política global, foi realizado, na quinta-feira, 4, um evento na sede da Organização das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça. Um dos focos foi discutir a implementação de políticas públicas que tenham a família como ponto fundamental para o desenvolvimento da sociedade. A temática foi apresentada por representantes dos governos do Brasil, Hungria e Polônia, que estão entre os 36 signatários da declaração publicada em outubro de 2020. “Entendemos que as empresas que adotam ações dessa natureza [que buscam o equilíbrio trabalho-família] observam aumento do comprometimento e da produtividade dos funcionários, com a consequente diminuição da rotatividade e das faltas ao trabalho. A implementação dessas práticas confere também maior visibilidade, possibilita expansão de negócios e fideliza clientes, com benefícios para toda a sociedade”, afirmou Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Barbara Socha, subsecretária de Política Social e da Família Polonesa, afirmou que desde 2015 a Polônia tem adotado políticas que reforçam as finanças e estimulam o fortalecimento dos vínculos familiares, algo que se intensificou na pandemia, com a flexibilização de horários ou a adoção do trabalho remoto para famílias com crianças menores de 4 anos. Já Gergely Ekler, secretário de Estado de Estratégia e Coordenação do Ministério para Famílias da Hungria, lembrou que o país desde 2010 tem garantido benefícios fiscais para famílias, auxílios para gestantes, programas de moradias e apoio às empresas.

trabalho E família

Angela Gandra, secretária nacional da Família, acompanhou a ministra Damares no evento do dia 4 e em outras atividades, como o encontro com Guy Ryder, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, no dia 3, quando trataram de ações para promover o equilíbrio das relações de trabalho-família. Na ocasião, Angela reafirmou o compromisso do Brasil de impulsionar a participação de empresas nos programas de valorização em direitos humanos. Já de volta ao Brasil, na segunda-feira, 8, ela tratou desta temática em um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ao O SÃO PAULO, a secretária nacional da Família ressaltou que há preocupação dos países em alcançar o equilíbrio entre as tarefas do trabalho e a vida familiar: “Esse equilíbrio também tem outro sentido: fomentar a corresponsabilidade no lar, a coeducação, o coprovimento, o compartilhamento de tarefas. São questões que se levantaram mais profundamente na pandemia e queremos continuar, para fortalecer vínculos familiares, o que também é o caminho para erradicar a pobreza”.

UM inegociável direito

A declaração foi assinada inicialmente por 32 nações, entre as quais os Estados Unidos, ainda no governo Trump. Em janeiro deste ano, os norte-americanos, já na gestão de Joe Biden, retiraram a assinatura do documento, argumentando que o atual governo apoia “a saúde sexual e reprodutiva das mulheres e meninas e os direitos reprodutivos nos Estados Unidos, assim como a nível global”. Mesmo sem o apoio do governo norte-americano, Angela Gandra assegura que o documento “continua vivo” e eventos sobre seus propósitos ocorrerão no Brasil e em Nova York ainda este ano. Atualmente, 36 países são signatários da declaração. As adesões mais recentes foram a da Guatemala e da Rússia. Cabo Verde, El Salvador e Honduras já manifestaram o desejo de aderir. No dia

3, na sede da missão do Brasil em Genebra, os representantes dos países comemoraram o primeiro ano da vigência da declaração e ressaltaram que a promoção do aborto como política pública vai contra os valores que defendem e que deixa marcas na vida das mulheres. “Queremos que, no futuro, nossos filhos e netos olhem para este momento e celebrem o fato de que tivemos coragem de dizer não à morte de tantas crianças e de cuidar, de fato, das mulheres”, afirmou a ministra Damares. O documento ressalta os direitos e liberdades fundamentais das mulheres e meninas, o que inclui ter igual acesso à educação de qualidade, aos recursos econômicos, à participação política, ao emprego e a postos de liderança. Há ainda o compromisso com a “gestação e com os partos sem risco” e de oferecer aos casais “a máxima possibilidade de terem filhos saudáveis”. Além disso, os países que aderem à declaração não devem promover o aborto como método de planejamento familiar, e qualquer medida ou mudança relacionada à pratica deve ser decidida em nível nacional, sem interferências externas, na medida em que não existe um “direito internacional ao aborto”. “Percebemos que essa preocupação pelos valores da vida, da família e a saúde verdadeira da mulher estão presentes no coração de muitos países, mas é necessária a convocação, esse protagonismo do Brasil, para mostrar essa firmeza, mas com delicadeza, com respeito à liberdade, com diálogo, porém, mostrando que não se discute os direitos inalienáveis do ser humano”, disse Angela Gandra à reportagem. Ela destacou, ainda, que quando um país adere ao documento “deve dar exemplo, falar nos fóruns internacionais a respeito e defender de verdade o ser humano a partir do que nos uniu, que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual jamais se pensou em atentar contra a vida, contra a família ou contra a mulher, como tendo sido visto ao se impor, por organismos internacionais, o aborto como um direito”. (Com informações do MMFDH)

INSTITUTO VIDA SãO PAULO CNPJ: 03.816.478/0001-82

Período: 01/01/2020 a 31/12/2020 - CONSOLIDADO Balanço Patrimonial ATIVO ATIVO ......................................................................................... 3.925.882,97 ATIVO CIRCULANTE.................................................................... 3.567.609,51 DISPONIVEL.............................................................................. 3.567.609,51 Numerários.............................................................................. 5.450,00 CAIXA.................................................................................. 5.450,00 Caixa Geral...................................................................... 5.450,00 BANCOS................................................................................. 3.562.159,51 BANCOS CONTA MOVIMENTO......................................... 334.624,87 Itau................................................................................... (23,70) Bradesco.......................................................................... 1,00 Banco Brasil Ag: 3011 C/C: 29544-2................................ 83.770,00 Banco Brasil Ag: 3011 C/C 16625-1................................. 5.348,34 Banco Brasil Ag 3011 C/C 21934-7.................................. (961,80) Banco Brasil AG: 3011 C/C:47090-2................................ (15.129,91) Bco Brasil- SICONV-AG:3011-2-C/C:34940-2.................. 33.775,36 Brasil Ag:3011 C/C: 21934-7 Proj Lutand......................... (6.381,73) Brasil Ag:1495-8 c/c:21533-3- Proj. SPVV..................... 5 6.359,51 Brasil c/c:21531-7 Projeto SPVV Freg. Ó........................ 86.421,50 Brasil-ag.1495-8-c/c23209-2 - CEI Iraci........................... 13.010,00 Brasil-ag.1495-8 c/c 23208-4 CEI Maria N....................... (0,01) Brasil-ag.1495-8 c/c 23203-3 CEI Liliane......................... (166.793,96) Bradesco - c/c: 64574-5 CEI Bernardo............................ 1,00 Bradesco - c/c:64561-3 CEI Eugenio............................... 101,42 Bradesco - c/c: 64573-7 CEI Flora................................... 1,00 Bradesco - c/c: 64564-8 CEI Iraci.................................... 4,00 Bradesco - c/c: 64568-0 CEI Liliane................................. 1,00 Bradesco - c/c: 64572-9 CEI Mª Nery.............................. 96.579,81 Bradesco - c/c: 64570-2 CEI Therezinha......................... 126.080,97 BrasilAg: 3011 C/C: 47090-2 - SAICA.............................. 13.253,96 Brasil c/c:51660-0 Polo Ferias CEU A.Azu...................... 5.425,33 Brasil c/c: 11489-8 - Projeto NPJ...................................... 3.781,78 APLICACOES FINANCEIRAS LIQUIDEZ IMEDIATA............ 3. 227.534,64 Aplicacoes financeiras...................................................... 291.249,88 Poupança Bradesco......................................................... 86.556,11 Poupança banco do Brasil 29544-2................................. 96.465,05 Poupança Banco do Brasil 47090-2................................. 2.541,58 Poupança Banco Brasil.................................................... 74,83 Poupança Brasil-SICONV - 34940-2................................ 229.596,05 Poupança Brasil 21934-7 Proj Lutando por..................... 7.296,37 Poupança Brasil 21533-3 - Proj. SPVV............................ 52.511,61 Poup.Brazil 21531-7 Projeto SPVV Freg. Ó..................... 69.485,21 Poupança Brasil ag.3011 C/P:16625-1............................ 75,71 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1034150-7 Bern...................... 29.505,26 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1031922-6 Eug....................... 20.062,07 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1031931-5 Flor....................... 27.977,15 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1031924-2 Irac....................... 45.476,59 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1038238-6 Lilia....................... 89.565,70 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1031923-4 Mª Ne................... 12.852,74 P. Bradesco ag.2004 C/P: 1032947-7 Ther...................... 11.188,62 P.Brasil Ag:3011 C/P:47090-2 - SAICA............................. 145.873,48 P.Brasil A:1495-8 C/P:21532-5 -P. Acolhe........................ 9.359,04 P.Brasil c/p: 11666-1 CEI Dona Bella............................... 29.743,98 P.Brasil c/p:11663-X CEI Tia Adelia Neri.......................... 57.877,82 P.Brasil c/p: 11664-5 CEI Tio Didi..................................... 60.807,19 P.Brasil c/p: 11667-X CEI Acolher I.................................. 51.612,07 P.Brasil c/p: 11668-8 CEI Acolher II.................................. 42.886,08 P.Brasil c/p: 11665-3 CEI Teinha Neri............................... 28.002,16 Aplicação Financeira -21532-5 P. Acolher........................ 116.435,12 Aplicações Financeiras-RI Patriarca SAIC....................... (155.737,51) Aplicações Financeiras - Pro. SPVV F.Ó......................... 1,26 Aplicações Financeiras- Proj. SPVV Penha..................... 7.074,36 Aplicação Financeira B.B - CEI Iraci................................ 100.664,51 Aplicação Financeira B.B - CEI Eugenio.......................... 54.112,95 Aplicação Financeira B.B- CEl Maria Nery....................... 182.463,47 Aplicação Financeira B.B- CEI Therezinha...................... 83.451,78 Apliccao Financeira B.B. - CEI Bernardo......................... 147.159,58 Aplicação Financeira B.B - CEI Liliane............................. 160.984,88 Aplicação Financeiro - Acolher I....................................... 80.304,83 RF Ref DI Plus Ágil c:21532-5 P. Acolher......................... 5.734,77 Aplicação Financeira - CEI Tia Teinha N.......................... 137.625,18 Aplicacao Financeira - Acolher II...................................... 190.362,50 RF Ref DI Plus Ágil c:21532-5 P.SPVV PEN.................... (923,04) Aplicação Financeira - CEI Tia Adelia Ne......................... 87.839,91 Aplicação Financeira - CEI Tio Didi.................................. 152.576,75 Aplicação Financeira - CEI Dona Bela............................. 164.392,42 P.Brasil C/P: 11489-8 - Projeto NPJ................................. 17.866,05 Aplicação Financ. -Bradesco - CEI Iraci........................... (7.052,40) Aplicação Financ.-Bradesco - CEI Eugenio..................... (494,47) Aplicação Finac.-Bradesco - CEI Mª Nery........................ (1.194,03) Aplicação Financ.-Bradesco - CEI Flora.......................... 31.693,84 Aplicação Finac.-Bradesco-CEI Bernardo........................ 37.972,42 Aplicação Financ.-Bradesco-CEI Liliane.......................... 104.192,17 Poupança Banco Brasil 21934-7...................................... 31.384,99 ATIVO NÃO CIRCULANTE.............................................................. 358.281,55 ATIVO REALIZAVEL A LONGO PRAZO...................................... 72.018,90 OUTROS CREDITOS................................................................. 72.018,90 APLICACOES FINANCEIRAS............................................... 71.768,90 Aplicações Finaceiras.......................................................... 23.994,33 Aplicações Financeiras - Consorcios............................... 47.774,57 EMPRESTIMOS COMPULSORIOS........................................... 250,00 Bloqueio Judicial..................................................................... 250,00 IMOBILIZADO............................................................................ 286.262,65 BENS IMOVEIS...................................................................... (2.719,64) (-) DEPRECIAÇÕES ACUMULADAS BENS IMÓVEIS...... (2.719,64) (-) Depreciacao de Terrenos............................................. (2.719,64) BENS MÓVEIS....................................................................... 288.982,29 BENS MÓVEIS.................................................................... 383.626,57 Móveis e utensílios........................................................... 296.509,19 Equipamento de Tecnologia e Informatica....................... 51.782,87 Maquinas e equipamentos............................................... 3.790,66 Material Pedagogico/Brinquedos..................................... 31.543,85 v(-) DEPRECIACOES, AMORT. E EXAUST. ACUM........... (94.644,28) (-) Depr.Acum.de moveis e utensilios............................... (60.510,93) PASSIVO PASSIVO ......................................................................................... 3.925.882,97 PATRIMONIO LIQUIDO................................................................. (321.729,65) AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL................................ (321.729,65) AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL............................. (321.729,65) RESERVAS DE REAVALIACAO.......................................... (321.729,65) Ajuste de Exercicios Anteriores........................................ (321.729,65) CONTAS AUXILIARES.................................................................. 4.247.612,62 CONTAS AUXILIARES............................................................... 4.247.612,62 CONTAS AUXILIARES............................................................ 4.247.612,62 CONTAS AUXILIARES........................................................ 4.247.612,62 Resultado do exercício..................................................... 4.247.612,62 São Paulo, 31 de dezembro de 2020. Reconhecemos a exatidão do presente Balanço Patrimonial, cujos valores do Ativo e Passivo mais Patrimônio Líquido importam em R$ 3.925.882,97 (tres milhoes, novecentos e vinte e cinco mil, oitocentos e oitenta e dois Reais e noventa e sete Centavos) PRESIDENTE ANDRE FELIPE BARBOSA DE ARAUJO Andrea Das Neves Neri De Santana Andre Felipe Barbosa De Araujo CPF: 359.777.398-26 CT CRC: 292313


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Papa Francisco | 21

‘Estamos longe dos objetivos para combater o aquecimento global’, diz o Papa Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Já passou o tempo para esperar mudanças de comportamento na forma como a humanidade lida com o aquecimento global, sinalizou o Papa Francisco, em sua mensagem para a Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas de 2021 (COP 26), realizada em Glasgow, na Escócia. Temos que admitir “como estamos longe de alcançar os objetivos desejados para contrastar a mudança climática”, afirmou, em mensagem de vídeo enviada à cúpula do clima. “É preciso dizer com honestidade: não podemos nos

permitir isso!” Ele acrescentou que “são muitos os rostos humanos sofredores com essa crise climática”. Francisco demonstrou especial preocupação com os povos mais vulneráveis, as crianças, os migrantes ambientais – obrigados a migrar por causa das mudanças no clima ou por desastres naturais. Ele alertou que “no futuro breve” esses serão mais numerosos que os refugiados por conflitos de guerra.

Urgência, coragem e responsabilidade

É preciso preparar um futuro no qual a humanidade seja capaz de cuidar de si mesma, mas, também, da “casa comum”, disse o Santo Padre, ressoando

pensamentos já expressos na sua encíclica Laudato si’, de 2015, que teve forte impacto na conferência de Paris, a COP 21, quando os líderes globais chegaram a um importante acordo climático. No contexto de superação da pandemia da COVID-19, o Papa pediu o perdão da dívida dos países menos desenvolvidos, por parte dos mais ricos, para que possam investir em estrutura e tecnologia. Também pediu acordos econômico-financeiros entre os países para que possam, de fato, proteger o ambiente onde quer que seja. E alertou para o maior envolvimento dos jovens, “que nos pedem com insistência para agir” com escolhas concretas para o futuro.

Irmã Raffaella Petrini é a primeira mulher em cargo de governo na Cidade do Vaticano O Papa Francisco nomeou uma religiosa franciscana como secretária-geral do Governatorato da Cidade do Vaticano, a Irmã Raffaella Petrini. Trata-se de uma função do poder executivo do pequeno território soberano e governado, em última análise, pelo Sumo Pontífice. A nomeação foi na quinta-feira, 4. O cargo de secretária-geral é o segundo da hierarquia do organismo e, portanto, uma das funções de governo de nomeação direta do Papa. Ela fica abaixo apenas do Presidente do Governatorato, atualmente o arcebispo espanhol Dom Fernando Vérgez Alzaga, que assumiu em outubro. Normalmente, os presidentes acabam sendo nomeados cardeais. Doutora em Ciência Política e italiana de Roma, a Irmã Petrini se torna a primeira mulher secretária-geral da Cidade do Vaticano. A rigor, a Cidade Estado é um órgão separado da Santa Sé e, além disso, não é uma estrutura da Cúria Romana – ou seja, não se refere ao governo da Igreja, mas do território em si e das atividades que ali se realizam. A Secretaria-geral, que a Irmã Petrini administra agora, cuida principalmente da coordenação de eventos, das unidades de

Vatican Media

controle e inspeção, e dos arquivos centrais e históricos da Cidade do Vaticano. Porém, o Presidente pode lhe atribuir outras funções específicas. (FD)

Todos os Santos: A fé precisa da alegria para florescer “Sem alegria, a fé vira um exercício rigoroso e opressivo; arrisca a ficar doente de tristeza”, disse o Papa Francisco no dia 1º, na celebração da Solenidade de Todos os Santos na Itália e no Vaticano. “A alegria do cristão não é emoção do instante ou mero otimismo, mas a certeza de enfrentar toda situação sob o olhar amoroso de Deus”, afirmou ele, na oração do Angelus. Francisco recordou, ainda, que a parábola das bem-aventuranças é o caminho de todo cristão rumo à santidade (cf. Mt 5,1-12). As bem-aventuranças “nos mostram a estrada que conduz ao Reino de Deus e à felicidade”, declarou. “É a estrada da humildade, da compaixão, da suavidade, da justiça e da paz. Ser santos é caminhar nesta estrada.” Nas palavras do Pontífice, a alegria e a profecia são dois elementos do estilo de vida de qualquer santo. A própria palavra “beato” ou “beatitude”, lembrou ele, se refere a uma felicidade extrema, ou um espírito “cheio de alegria”. Por isso, mais do que um “programa de vida”, a santidade é “um dom de Deus” e, portanto, “motivo de grande alegria”. A fé que floresce nesse caminho se torna profecia, disse o Papa. Jesus inverte a lógica mundana e diz que os verdadeiros “felizes” ou “bem-aventurados” são os pobres, os aflitos e os famintos de justiça. “As bem-aventuranças são a profecia de uma nova humanidade”, comentou o Papa. “A verdadeira plenitude da vida se alcança seguindo Jesus, praticando sua Palavra.” (FD)


22 | Pelo Mundo | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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COP26: compromisso decisivo com a vida no planeta JOSÉ FERREIRA FILHO

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Com a participação de 25 mil representantes, oriundos de 200 países, o Reino Unido sedia, em Glasgow, na Escócia, até o dia 12, a COP26 — Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Trata-se de uma oportunidade para reorientar os esforços globais a fim de confrontar a crise climática em um ambiente radicalmente modificado pela pandemia, além de reorganizar a política ambiental internacional e avaliar os resultados alcançados pelas nações signatárias do Acordo de Paris, de 2015, o mais importante compromisso multilateral para o clima em anos recentes. O Acordo de Paris prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, entre eles o dióxido de carbono. O uso intenso de combustíveis fósseis como matriz energética – sobretudo para fins industriais, transporte urbano e geração de energia

elétrica – acentua a liberação de gases nocivos à atmosfera, que, por sua vez, contribui de maneira significativa para o aumento da temperatura do planeta. A meta do Acordo de Paris é manter esse aumento abaixo de 1,5 ºC.

PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

O Brasil assinou o Acordo de Paris em 2015, comprometendo-se a reduzir até 2025 suas emissões de gases de efeito estufa em até 37% (comparados aos níveis emitidos em 2005), estendendo essa meta para 43% até 2030. As principais metas do governo brasileiro são: aumentar o uso de fontes alternativas de energia; aumentar a participação de bioenergias sustentáveis na matriz energética brasileira para 18% até 2030; utilizar tecnologias limpas nas indústrias; melhorar a infraestrutura dos transportes; diminuir o desmatamento;

r estaurar e reflorestar até 12 milhões de hectares.

PANORAMA

A fim de verificar até que ponto houve passos concretos no atingimento das metas estabelecidas, O SÃO PAULO traça um panorama, baseado em critérios internacionais, a respeito da situação em alguns países quanto ao envolvimento e comprometimento dos governos na implementação de políticas verdes, incluindo a redução de emissões e os investimentos em energias renováveis, entre outros aspectos.

Assim, os países foram subdivididos em 5 grupos: “Criticamente insuficiente” indica que as políticas e compromissos climáticos de um país refletem o mínimo ou nenhuma ação, e não são, de forma alguma, consistentes com o Acordo de Paris. “Altamente insuficiente” sinaliza que as

Cingapura

Arábia Saudita

África do Sul

Costa Rica

Irã

Argentina

Alemanha

Etiópia

Rússia

Austrália

Chile

Marrocos

Tailândia

Brasil

Estados Unidos

Nepal

Turquia

Canadá

Japão

Nigéria

Vietnã

Cazaquistão

Noruega

Quênia

China

Peru

Reino Unido

Colômbia

Suíça

Coreia do Sul

União Europeia

Emirados Árabes Índia Indonésia México Nova Zelândia Fonte

https://climateactiontracker.org/countries/

Ucrânia

políticas e compromissos climáticos de um país não são consistentes com o limite de temperatura de 1,5 °C do Acordo de Paris. Para muitos países nesta categoria, as políticas e os compromissos levam ao aumento em vez da queda das emissões. “Insuficiente” aponta que as políticas e compromissos climáticos de um país precisam de melhorias substanciais para serem consistentes com o limite de temperatura de 1,5° C do Acordo de Paris. “Quase suficiente” mostra que as políticas e compromissos climáticos de um país ainda não são consistentes com o limite de temperatura de 1,5 °C do Acordo de Paris, mas podem vir a ser com a implementação de moderadas melhorias. “Compatível com o Acordo de Paris de 1,5°C” indica que as políticas e compromissos climáticos de um país são consistentes com o limite de temperatura de 1,5 °C do Acordo.

Gâmbia


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| 10 a 16 de novembro de 2021 | Geral/Fé e Vida | 23

Divulgada a programação da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe Fernando Geronazzo

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O Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) apresentou na segunda-feira, 8, o programa geral da primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, cuja etapa final acontecerá entre os dias 21 e 28, na Cidade do México. Foram convocados para esse evento inédito mais de mil participantes de todo o continente. Ele será realizado em modalidade híbrida: presencial e virtual, em resposta aos protocolos de saúde estabelecidos para conter a pandemia de COVID-19. No México, cerca 80 membros estarão presentes, enquanto o restante participará por meio das plataformas digitais. Algumas atividades da Assembleia poderão ser acompanhadas pelo público em geral, como orações, missas, testemunhos e conversas com especialistas da Igreja na América Latina. Entre os eventos públicos estão a missa de abertura na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no dia 21, às 11h (14h no Brasil) e a oração do Rosário continental, no dia 24, às 17h15 (20h15 no Brasil). Também foi montada uma sala de imprensa virtual para os meios de comunicação do continente e de todo o mundo para que possam acessar materiais, agendar entrevistas e participar de coletivas de imprensa. Acesse a programação em: https://tinyurl.com/yjsesgwy.

Discípulos e missionários

O tema definido para a Assembleia Eclesial é “Todos somos discípulos missionários em saída”, conjugando a temática da Conferência de Aparecida e o apelo constante do pontificado do Papa Francisco para uma Igreja “em saída”. O Cardeal Odilo Pedro Scherer enfatizou que a proposta dessa Assembleia também corresponde ao apelo de sinodalidade bastante frisado pelo Pontífice. “Uma Igreja com características sinodais deve envolver cada vez mais a participação de todo o povo de Deus nas responsabilidades da vida e da missão da Igreja”, disse o Arcebispo de São Paulo.

Escuta

Para preparar a Assembleia Eclesial, houve uma etapa de escuta a todas

as Igrejas locais, concluída em agosto. “O Papa sugeriu que fosse feita uma avaliação do que foi realizado desde [a Conferência de] Aparecida, e que também sejam identificadas as lacunas do que ainda não caminhou e precisa ser retomado. Além disso, é necessário destacar quais são os novos desafios e questões da Igreja na sua ação evangelizadora no nosso continente e, portanto, propor caminhos e soluções”, ressaltou Dom Odilo, referindo-se ao

A diferença, contudo, é que, nesta ocasião, o convite à reflexão, ao diálogo e ao discernimento se estende a todo o povo de Deus. “Esta é uma assembleia eclesial, que significa: todos... Toda a Igreja, o povo de Deus, a caminho, juntos... fiéis, sacerdotes, religiosos e religiosas, arcebispos, bispos, cardeais incluindo o próprio Papa”, afirmou Dom Cabrejos, destacando o caráter inédito dessa experiência pastoral que, sendo continental, se dirige a todos, tendo presente que tem como fundamento a centralidade na pessoa de Jesus Cristo e na sua Palavra. O Presidente do Celam ressaltou, ainda, que a Assembleia se constituirá da seguinte forma: 20% serão bispos; 20% padres e diáconos; outros 20% religiosos; e os restantes 40% serão leigos, o que, segundo o Arcebispo peruano, representa uma riqueza para a Assembleia Eclesial.

Brasileiros

Acompanhe as transmissões da Assembleia Eclesial

Facebook: @celam.oficial @asambleaeclesial Twitter: @CelamWeb @AEclesial YouTube: Celam TV Asamblea Eclesial horizonte de assuntos a serem destacados na Assembleia, acrescentando que esse evento terá grande importância para as futuras indicações pastorais.

Experiência inédita

Em uma série de vídeos informativos sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, no Peru, e Presidente do Celam, resumiu a novidade desse evento com uma afirmação: “É eclesial”. O Prelado lembrou que, na história recente da Igreja na América Latina e no Caribe, foram convocadas cinco conferências gerais do episcopado – Rio de Janeiro (1955), Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).

Desses participantes, 314 serão brasileiros, sendo: 63 bispos, 63 padres e diáconos, 63 religiosos, 94 leigos e mais 31 pessoas em situação de periferia, cujos nomes foram indicados pela Cáritas Brasileira. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Celam, e Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), não entram nesta lista de vagas brasileiras, pois, em função de seus cargos, são membros natos da Assembleia.

Encontro do povo de Deus

Na ocasião do início do itinerário de preparação da Assembleia Eclesial, em janeiro, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente do Celam, na qual manifestou sua proximidade neste processo que ele definiu como “um encontro do povo de Deus” e “um tempo que abre novos horizontes de esperança”. “Que esta Assembleia não seja uma elite separada do santo povo fiel de Deus... Não se esqueça, somos todos parte do povo de Deus, somos todos parte Dele. O povo de Deus que é infalível ‘in credendo’, como nos diz o Concílio, é o que nos dá a pertença. [...]. O Senhor está em nosso meio. Que o Senhor se faça ouvir”, manifestou o Santo Padre.

Liturgia e Vida 33º Domingo do Tempo Comum 14 de novembro de 2021

A Salvação vem somente do Céu PADRE JOÃO BECHARA VENTURA À medida que nos aproximamos do término do ano litúrgico, as leituras da Santa Missa recebem contornos apocalípticos. Passam a tratar mais diretamente sobre o “final dos tempos” e o retorno de Cristo para exercer o Juízo Universal. As expressões são fortes e misteriosas: “grande tribulação” (Mc 13,24); “um tempo de angústia, como nunca houve até então” (Dn 12,1). Ocorrerão sinais cósmicos: “o sol vai escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair e as forças do Céu serão abaladas” (Mc 13,24s). Quando tudo isso ocorrer, saber-se-á que o tempo se cumpriu… Mas, para que não nos percamos em especulações sobre quando isso acontecerá, Jesus deixa muito claro: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do Céu nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,32). Ao ouvir falar sobre o “final dos tempos”, muitos cristãos se angustiam ou sentem medo. É uma reação natural. Porém, isso talvez aconteça por não percebermos suficientemente que a segunda vinda de Cristo é, na verdade, uma boa notícia: “Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem inscritos no Livro” (Dn 12,1). Longe de constituir uma desgraça, para aqueles que amam a Deus, esse será o momento da verdadeira libertação. Os vivos não terão mais dúvidas: “Vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26). As almas dos fiéis defuntos reunir-se-ão aos seus corpos, que por ora “dormem no pó da terra”. Todos – vivos e mortos – serão reunidos para o Veredito sobre a história, sobre as nações e sobre os homens. Cada qual receberá a recompensa por suas obras. A justiça será exercida, a verdade dos corações será manifestada, os projetos dos poderosos serão revelados. Os caminhos dos bons e dos ímpios se separarão definitivamente, pois irão “uns para a vida eterna, outros para o desprezo eterno” (Dn 12,2, cf. Mt 25,46). Então, realizar-se-ão definitivamente as promessas das bem-aventuranças: os pobres em espírito possuirão o Reino dos Céus; os mansos, a nova terra; os que choram serão consolados; os famintos e sedentos de justiça, saciados; os misericordiosos saborearão a misericórdia do Senhor; os puros de coração verão a Deus sem véus; os que foram perseguidos, caluniados e amaldiçoados por serem cristãos, fruirão a sua grande recompensa (cf. Mt 5,1-12)! A segunda vinda de Cristo será precedida de grandes tribulações para confirmar definitivamente o total domínio de Deus sobre a História. Todos constataremos iniludivelmente que aquilo que é “irremediável” para homens pode ser sanado por Deus em apenas um instante. A esperança no “final dos tempos” é para nós a certeza de que a salvação definitiva não pode ser construída por mãos humanas, mas vem-nos do Céu. “Eu levanto os meus olhos para os montes, de onde pode vir o meu socorro. Do Senhor é que me vem o socorro, do Senhor que fez o Céu e a terra” (Sl 120,1). Vinde, Senhor Jesus!


24 | Publicidade | 10 a 16 de novembro de 2021 |

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