O São Paulo - 3369

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3369 | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021

BRASIL, TERRA DE SANTOS

Mais de 180 homens e mulheres já testemunharam a santidade em solo brasileiro

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Editorial Vocacionados religiosos inspiram por sua radical entrega missionária

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Encontro com o Pastor A Igreja sinodal é enviada para ouvir, acolher e anunciar a esperança

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Espiritualidade Nossa vida deve ser expressão de amor e de adoração ao único Deus

Página 5

Liturgia e Vida Se queremos amar o Senhor, comecemos amando com obras o nosso próximo!

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Dom Luiz Carlos Dias assumirá a Diocese de São Carlos (SP) em 18/12 Bispo Auxiliar da Arquidiocese desde 2016, ele foi nomeado para o novo ofício pelo Papa Francisco, no dia 20. Página 18

Cardeal Arns é recordado por atuação para o diálogo católico-judaico “Dom Paulo, pessoa de fé sem fronteiras” foi o tema da live, no domingo, 24, reunindo católicos e judeus. Página 21

Em 1º de novembro, a Igreja Católica celebra o Dia de Todos os Santos, data em que é recordada a multidão de homens e mulheres que contemplam a face de Deus na vida eterna. Essa é também a ocasião para refletir sobre a vocação universal de todos os cristãos à santidade. No Brasil, são muitos os exemplos de pessoas que viveram a santidade, algumas já canonizadas pela

Presidente dos Estados Unidos terá audiência com o Papa Francisco Página 22

À espera de gêmeos e com 8 crianças, casal agradece o dom da vida Página 20

Igreja, como Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, cuja memória litúrgica foi celebrada na segunda-feira, 25; ou beatificadas, como a Bem-Aventurada Madre Assunta Marchetti; ou que estão em processo de beatificação, como o garoto Antoninho da Rocha Marmo, que morreu aos 12 anos, em 1930, e cujo exemplo atrai a devoção de inúmeros fiéis. Páginas 11 a 14, 16 e 17

Mundo tem ao menos 1,34 bilhão de pessoas que se declaram católicas Página 23

Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários é reinaugurada Página 19

Paróquia Nossa Senhora dos Remédios inicia festa jubilar de 50 anos Página 3

Guanellianos celebram os 10 anos da canonização de São Luís Guanella Página 9

sínodo Processo de escuta e discernimento em vista da unidade da Igreja

Em entrevista, o Cardeal Odilo Scherer ressaltou que o processo sinodal convocado pelo Papa Francisco tem por objetivo aprofundar a consciência sobre a natureza e missão da Igreja. O Arcebispo de São Paulo destacou, ainda, o quanto a experiência do sínodo arquidiocesano ajudará nesse itinerário de comunhão, participação e missão. Página 10


2 | Encontro com o Pastor | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

experiência da Igreja sinodal, que somos chamados a fazer, envolve algumas ações importantes: ir ao encontro, ouvir, acolher, discernir, seguir em frente na missão, juntos e unidos. De fato, todas essas ações já faziam parte da Igreja apostólica, que Jesus enviou em missão, ao encontro das pessoas e dos povos, como lemos nos Evangelhos, com o envio dos discípulos, nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas Apostólicas. O Papa Francisco está nos chamando a reencontrarmos o verdadeiro jeito de ser Igreja, muito diverso de uma Igreja estabelecida, cansada e sem dinamismo, sem vitalidade. Foi o que o próprio Jesus também fez, como lemos no Evangelho lido no 30º Domingo do Tempo Comum, o Domingo das Missões, sobre o encontro com o cego Bartimeu (Mc 10,46-52). Uma multidão acompanhava Jesus na saída de Jericó. Como observou o Papa Francisco recentemente, Jesus está sempre

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O que posso fazer por você? pelas ruas, a caminho, rodeado de gente. Não ficou atrás de uma escrivaninha, esperando que as pessoas o procurassem... Do meio do alvoroço da multidão, um cego mendigo, sentado à beira do caminho, começou a gritar: “Jesus, tem piedade de mim!”. E mandaram que se calasse, mas ele gritava ainda mais forte. E seu grito chegou aos ouvidos de Jesus, que mandou que o trouxessem para perto Dele. Quantas vezes lemos nos Salmos e nos Profetas que Deus ouve o grito dos pobres e oprimidos! Jesus faz o mesmo, porque Ele é a presença de Deus no meio dos homens. Quantos gritos ao nosso redor, de gente angustiada, que ninguém quer ouvir?! Estamos ocupados demais e não temos tempo para ouvir os outros. Mais ainda os pobres, mendigos, pessoas que não contam para um mundo que coloca a economia de lucro e as vaidades acima do valor da pessoa. O grito dos descartados e sua própria existência são abafados e ignorados! “Quieto, não incomode, não tenho tempo, não é assunto meu!” Ficamos insensíveis e cegos e já não nos damos mais conta do grito dos necessitados e sofredores. São crianças e adolescentes com fome, sem escola e sem futuro. São jovens afundados nas drogas e

vícios, adultos, pais e mães sem trabalho, passando necessidades para cuidar da família, são doentes, idosos abandonados e desinteressantes para a sociedade de consumo; são pessoas enredadas nas múltiplas formas de exploração e escravidão modernas, de pessoas, tantas vezes desorientadas, que se agarram a qualquer coisa para preencher o vazio de sua vida. São gritos no meio da multidão, que segue adiante, sem ligar para eles, abandonados à beira do caminho. Quem escuta o seu grito? Jesus ouviu o grito do cego, chamou-o, acolheu-o, escutou-o. A pergunta ao cego, traduzida de maneira livre, significava: “Que posso fazer por você?”. Jesus bem sabia o que o mendigo cego queria e precisava, mas lhe perguntou, para dar-lhe a oportunidade de falar e expressar sua angústia e desejo: “Mestre, que eu veja!”. Jesus tratou o cego como pessoa, valorizou sua história e deu-lhe a possibilidade de compartilhar sua angústia. E isso curou não apenas a sua cegueira, mas lhe abriu os olhos à fé e mudou a sua vida. Uma vez curado, seguiu Jesus alegremente pelo caminho. Em outras palavras, tornou-se discípulo de Jesus. A escuta sincera é uma experiência curativa para quem é escutado

e, também, para quem escuta. Ouvir com paciência e abertura de coração, deixar o outro entrar em nossa vida e acolhê-lo na nossa experiência vivida. A Igreja sinodal é enviada ao mundo para ouvir, acolher, compartilhar e anunciar a esperança. Na nossa Arquidiocese, já fizemos um longo e profundo processo de escuta, mediante a pesquisa feita durante o sínodo arquidiocesano, em 2018. Foram mais de 40 mil domicílios visitados, dando a oportunidade de ouvir a quem estivesse interessado. E foram mais de 21 mil formulários de escuta preenchidos, com 112 perguntas cada um, que revelaram a realidade religiosa, pastoral e social de nossa Arquidiocese. Esse processo de escuta deve agora ser retomado nesta primeira fase do Sínodo universal, aberto no dia 17 de outubro. Nossa pesquisa é preciosa também para o Sínodo universal. Mas, antes de tudo, a reflexão sobre ela precisa ser retomada nas paróquias e comunidades, num grande processo de discernimento, para percebermos os muitos gritos ouvidos do povo. Não podemos abafar esses gritos e seguir adiante, como se não os tivéssemos ouvido. É bom perguntar-se, agora, como Jesus fez diante do cego: Que podemos fazer? Que devemos fazer?

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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Paróquia Nossa Senhora dos Remédios inicia comemorações do jubileu de ouro Luciney Martins/O SÃO PAULO

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Em missa na noite da sexta-feira, 22, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, foi feita a abertura do jubileu de ouro de criação da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, no Cambuci, na Região Episcopal Sé. Entre os concelebrantes estiveram o Padre Ricardo Cardoso Anacleto, atual Pároco, e sacerdotes que já exerceram seu ministério nesta Paróquia, como os Cônegos Celso Pedro e Sérgio Conrado. Também participou da celebração Dom Edgard Madi, Eparca Maronita no Brasil. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo recordou que Maria sempre está com os que seguem seu filho Jesus e é modelo para todos, pois ouviu a Palavra e a colocou em prática. Invocada sob o título de Nossa Senhora dos Remédios, a ela recorrem aqueles que são vítimas da opressão, sacrifício, humilhação e todos os que se preocupam em assegurar a dignidade huma-

na dos que vivem sob tais condições. “Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora da libertação de todo o mal, daquilo que oprime, que sacrifica, que humilha. Ela é o remédio da dignificação da pessoa, da superação de toda humilhação”, disse o Arcebispo, destacando que Maria oferece o remédio da sensibilidade diante da dor do próximo, da misericórdia, do diálogo, da proximidade e da valorização da dignidade da pessoa. Durante a celebração, Padre Ricardo ressaltou que o jubileu “é um momento de esperança e de caminho de evangelização”. Ao fim da missa, o Cardeal e o Pároco realizaram o descerramento do novo brasão da Paróquia. Com o tema “Paróquia dos Remédios, torna-te o que tu és!” e lema “Eis que faço novas todas as coisas”, o ano jubilar terá muitas iniciativas de âmbito caritativo e de evangelização. Todos os detalhes podem ser acompanhados nas redes sociais da Paróquia (@nsremediossp).

Dom Odilo preside missa no encerramento do jubileu de 125 anos das Irmãs Scalabrinianas Fernando Arthur

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No sábado, 23 de outubro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Eucaristia na Paróquia São Carlos Borromeu, na Vila Prudente, na qual foram concluídas as comemorações dos 125 anos da fundação da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu, Scalabrinianas, que surgiu em 1895. A missa foi concelebrada pelo Cônego Cesar Gobbo, Pároco, também por padres scalabrinianos, e contou com a presença das irmãs da congregação, que teve como uma das fundadoras a Bem-Aventurada Assunta Marchetti (1871-1948), beatificada em 25 de outubro de 2014, na Catedral da Sé. No começo da missa, a Irmã Maria do Rosário Onze, MSCS, falou sobre o encerramento do jubileu de 125 anos: “Hoje, encerrando o Ano Jubilar, damos graças a Deus, pois ainda ressoa, dentro de nós, as palavras do fundador, o Bem-Aventurado Dom João Batista Scalabrini: ‘A obra dos sacerdotes não seria completa sem a vossa obra, ó veneráveis irmãs. Existem iniciativas nas quais somente vós podeis obter êxito. Deus infundiu no coração da mulher um atrativo todo particular, pelo qual exerce um poder misterioso sobre as mentes e sobre os corações. Confio, portanto, que correspondereis à graça de Deus, que vos chama em terra distante a uma sublime missão, de religião e civismo’. Portanto, a Congregação das Irmãs Missionárias

de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas, louva e agradece a Deus pelos 125 anos de caminhada, de serviço evangélico e missionário aos migrantes e refugiados”. No começo da missa, Dom Odilo também disse ser aquele um momento muito bonito e de ação de graças, ocasião para elevar preces a Deus para que assista as irmãs, assim como assistiu as fundadoras e fundadores da congregação. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano afirmou que a congregação tem muito a agradecer a Deus por todas as graças alcançadas ao longo dos anos. Lembrou, ainda, que Deus fala diante das circunstâncias de cada tempo, de modo que no fim do século XIX, o Beato João Batista Scalabrini sentiu o chamado de Deus para atender os migrantes que buscavam uma vida melhor no Brasil. Ao recordar as dificuldades enfrentadas pelas irmãs que iniciaram a congregação – participar da vida dos migrantes, compartilhar suas dores, aflições, perdas, incertezas e saudades –, o Arcebispo lembrou que isso também deve ser motivo de gratidão a Deus, já que foram superadas tais situações e que os migrantes de hoje não devem ser esquecidos pelas demais pessoas. Ainda na homilia, o Arcebispo pediu a Deus que “continue a manter, no coração de vocês e no coração da Igreja, muito viva esta chama do carisma, da presença, do cuidado aos migrantes”. Outros detalhes sobre a congregação podem ser lidos em reportagem publicada no site do O SÃO PAULO, pelo link: https://cutt.ly/iROKSUb.

Fernando Arthur

Atos da Cúria DECRETO DE NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 11/10/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São João Gualberto, no bairro Jardim Jaraguá, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre Ailton Bernardo de Amorim, até 14/01/2024. DECRETO DE PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 11/10/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia São Francisco de Sales, no bairro da Vila Gumercindo, na Região Episco-

pal Ipiranga, do Reverendíssimo Padre Sandro Luis Degaraes, DC, pelo período de 03 (três) anos.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Pelo presente edital, fica convocado, Claudio Alexandre Borges, com endereço desconhecido para que compareça de terça a sexta-feira, das 13:00 as 15:00 horas, ao Tribunal Eclesiástico de São Paulo, Av Nazaré, 993 Ipiranga, para tratar de assunto que lhe diz respeito, ou entre em contato pelo e-mail: secretaria@tribunaleclesiasticodesp. com.br São Paulo 08 de Novembro de 2021.


4 | Ponto de Vista | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

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Editorial

Missionariedade dos religiosos

A

o longo deste mês de outubro, dedicamos editoriais à temática das missões. Nesse sentido, falamos primeiro do apostolado que os leigos são chamados a desempenhar; refletimos, na sequência, sobre a adoção de uma mentalidade missionária em nossas paróquias, com a formação espiritual e doutrinal de suas lideranças e a valorização de uma liturgia sóbria e piedosa; e também tratamos da primazia que devemos sempre resguardar à graça e à atuação de Deus, e não às nossas próprias forças e criatividade. Na reflexão desta semana, gostaríamos de nos voltar mais diretamente às vocações religiosas missionárias: àqueles nossos irmãos e irmãs em Cristo que abraçam os três conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência com o propósito de levar ao mundo a Boa-Nova de Jesus. Ao assumirem “aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu

ao entrar no mundo para cumprir a vontade do Pai” (Lumen gentium, 44), esses missionários colocam em prática aquele radical convite de Cristo: “Quem quiser poupar a sua vida irá perdê-la, mas aquele que entregar a sua vida por minha causa irá recobrá-la” (Mt 16,25). Essas vocações são, de fato, um precioso tesouro na vida e na Tradição da Igreja, pois, por um lado, libertam o coração dos próprios missionários do apego aos bens terrenos; e, por outro lado, dão credibilidade a seu apostolado perante os demais. Os missionários pobres, castos e obedientes, assim tornados “mais livres das preocupações terrenas”, transformam-se em verdadeiro “sinal, que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a corresponderem animosamente às exigências da vocação cristã” (Lumen gentium, 44). Um exemplo recente desta frutuosidade é a vida da Irmã Clare Crockett – uma jovem irlandesa nascida em 1982, numa família de

“católicos não praticantes”. O desejo de ser famosa que se fazia presente desde sua infância encontrou terreno fértil na menina extrovertida e talentosa, e logo começaram a surgir papéis na televisão e em filmes. Com a chegada da adolescência, a jovem Clare, como tantos de sua idade, ia se desviando rumo a um estilo de vida cada vez mais mundano, vão e hedonista. Aos 18 anos, no entanto, ela passou por uma verdadeira experiência de vocação divina – enxergou, por uma graça singular, que eram seus pecados que pregavam Jesus no madeiro da Cruz. Nos dois anos seguintes, seu coração ficaria dividido entre a promissora carreira nos filmes e o chamado, cada vez mais intenso, a entregar a vida como religiosa missionária – o que acabou prevalecendo quando ela entrou para uma nova congregação. Nos 16 anos seguintes, então, ela se dedicou à missão com crianças e idosos, ricos e pobres, na Espanha, nos Estados Unidos e no

Equador – onde veio a falecer no terremoto de 16 de abril de 2016, junto com algumas meninas a quem dava aulas no colégio. Conforme relata uma irmã que sobreviveu à tragédia, Irmã Clare, momentos antes do terremoto, ensaiava com suas alunas a música Prefiero el Paraiso, “Prefiro o Paraíso” – e seu corpo foi encontrado com pedaços do violão na mão, ao lado dos corpos de suas alunas. O documentário que conta sua vida já foi objeto de reportagem no site do O SÃO PAULO e pode ser lida pelo link a seguir: https://cutt.ly/VRImfYr. Eis aí uma verdadeira missionária, cuja vida “torna manifestos (...) a todos os fiéis os bens celestes já presentes neste mundo, é assim testemunha da vida nova e eterna adquirida com a redenção de Cristo, e preanuncia a ressurreição futura e a glória do reino celeste” (Lumen gentium, 44). Rezemos ao Senhor que mande para sua Igreja muitas vocações de radical entrega missionária, que nos inspirem com seu ardor!

Opinião

Finados e o Padroeiro da ‘Boa Morte’ Arte: Sergio Ricciuto Conte

Padre Reuberson Ferreira, MSC O Ano de São José, convocado pelo Papa, segue seu curso. Este período, para alguns, tem sido de particular oportunidade para aprofundar e conhecer a figura de São José. Ele, como consta na tradição e reafirmou o atual Bispo de Roma, foi um pai com coração amoroso. Um homem bondoso, sempre à sombra e no anonimato, cuidando do seu filho adotivo, Jesus Cristo. A São José, historicamente, foram imputados inúmeros títulos, adjetivados vários predicados, entre os quais o de Padroeiro da Boa Morte. Tal tradição se atribui às possíveis circunstâncias de sua Páscoa. Diz-se que ele morreu, secundado pela presença de Jesus e de Maria. No leito de morte, agonizando, ao ouvir a voz do seu filho, sentiu uma paz infinita no seu íntimo e morreu consolado. Jesus chorou amargamente a morte de seu pai na terra, por ele chamado de “Bendito ancião”. As informações sobre a morte de São José se encontram num

apócrifo chamado “A história de José, o carpinteiro”. Supõe-se escrito no Egito, ao final do século IV. Trata-se de uma história na qual o próprio Jesus conta aos discípulos como viveu e morreu seu pai José. Nesse livro, o Senhor pede, também, aos discípulos que, quando enviados a pregar o Evangelho, fa-

lassem a respeito de seu pai adotivo. Esse mandato, a bem da verdade, foi cumprido e São José sempre foi lembrado pela Tradição da Igreja. Exemplo notório é que ele foi declarado patrono da Igreja universal. Ademais, o Papa Francisco, além de inserir seu nome na prece eucarística, lhe dedicou o ano que

agora celebramos. De igual modo, a reminiscência de sua morte foi sempre contemplada pela piedade popular, a ponto de ele ser invocado como Patrono da “Boa Morte”. A lógica interna desse título é que, como São José morreu em tão insigne companhia – Jesus e Maria –, não haveria melhor modelo para desta vida adentrar na eternidade do que consolado e amparado pelo filho de Deus e a Virgem de Nazaré. No nosso tempo, marcado sobretudo pela prematura morte de mais de 600 mil pessoas e nas cercanias da celebração de memória dos fiéis defuntos, impõe-se que se invoque São José, o Padroeiro da “Boa Morte”. Suplicar a ele que a morte, além de secundada pela presença de Cristo e de Maria, seja minimamente digna, sem negligência ou descuido. Igualmente, que ela seja fruto do seu curso natural, sem abreviações indevidas. Assim, também, ter-se-ia uma “Boa morte”! Padre Reuberson Ferreira, MSC, é Pároco e Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

BRASILÂNDIA Capela São Judas Tadeu é reinaugurada Veruska Moura

Natali Félix

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No domingo, 24, houve a reinauguração da Capela São Judas Tadeu, no Marilac, pertencente à Paróquia Nossa Senhora do Retiro, com missa presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap. As reformas começaram em março. O objetivo principal foi fazer reparos no teto, para evitar goteiras no interior do templo. Houve ainda a modernização das estruturas da capela. Para viabilizar as obras, os fiéis contribuíram com doações em dinheiro, trabalho voluntário e outras ações para custear a reforma, com a venda de feijoada, arroz-doce, doce de banana e rifas de camisetas de times de futebol. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia destacou a coragem da comunidade em realizar a reforma durante a pandemia, com escassos recursos financeiros, e se disse

feliz por ver as obras concluídas e o templo repleto de fiéis. Francisca Dantas, que participa da comunidade, relatou sua felicidade e gratidão a todos os que ajudaram: “Temos uma comunidade nova, não só no templo, mas na vida cristã. Que a comunidade cresça a cada dia no coração de cada um, não só pela beleza do tem-

plo, mas, sim, com amor no coração”. Padre Silvio Costa, Pároco, em sua fala de agradecimento, rememorou o quanto orou a São Judas Tadeu para que tudo fosse possível com a ajuda das pessoas da comunidade. Lembrou-se ainda do empenho daqueles que trabalharam nas obras, mesmo aos fins de semana e feriados, com coragem e amor.

Danilo Silva Monteiro

[SANTANA] No sábado, 23, em missa presidida pelo Padre João Luiz Miqueletti e concelebrada pelos Padres Eduardo Higashi e Paulo Mzé, seis jovens cerimoniários das Paróquias Nossa Senhora de Fátima, São José Operário e Nossa Senhora da Consolata, do Setor Imirim, receberam as vestes e foram enviados para o serviço ao altar. Antes disso, eles passaram por um período de formação, que abordou desde a espiritualidade daquele que está a serviço das celebrações até aspectos práticos. Na homilia, Padre João Luiz recordou, ainda, que a liturgia que aqui se experimenta é um prenúncio da que será vivenciada com Deus na eternidade. (por Danilo Silva Monteiro, da Pascom Paróquia Nossa Senhora de Fátima)

[LAPA] A Pastoral da Comunicação da Região Lapa realizou, no dia 18, o encontro com os coordenadores de setores e agentes desta pastoral. Os trabalhos foram conduzidos por Paulo Ramicelli e Maria Tiemi, coordenadores gerais da Pascom, e houve a participação de Dom José Benedito Cardoso e do Padre Antônio Francisco Ribeiro, Assistente Eclesiástico Regional da Pascom. Entre os temas em pauta estiveram: o Plano de Ação para 2022; a Ação Caritas, a ser realizada em 14 de novembro, na Paróquia Santa Luzia, Setor Pirituba, que terá o apoio e a transmissão da Pascom Lapa; e participação da Pastoral nas próximas campanhas de âmbito regional. (por Benigno Naveira) [LAPA] O clero atuante na Região Lapa esteve reunido com Dom José Benedito Cardoso na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, no dia 19. Após a oração inicial, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa apresentou o Padre Tarcísio Marques Mesquita, da Comissão de Coordenação Geral do Sínodo Arquidiocesano de São Paulo, que apresentou detalhes sobre o Sínodo dos Bispos. Ele também destacou que já é tempo de retomar os trabalhos pastorais nas paróquias, mas que as transmissões de missa pela internet podem continuar em conjunto com a participação presencial dos fiéis. (por Benigno Naveira)

Fenando Fernandes

[SANTANA] No dia 21, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na Associação São Pio de Pietrelcina e São João Paulo II. Concelebrou o Frei Ernane Pereira Marinho, SIA, Orientador Espiritual da Associação e Pároco da Paróquia Jesus no Horto das Oliveiras, Setor Vila Maria. Participaram membros da diretoria e voluntários da casa. (por Fernando Fernandes)

Espiritualidade Adorar ao Deus único

Dom Jorge Pierozan

N

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

o capítulo 6 do livro do Deuteronômio, os versículos de 2 a 6 formam o núcleo basilar e insubstituível da teologia deste livro do Pentateuco inteiro: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! E por isso devemos amá-Lo de todo o coração, de toda a nossa alma e com todas as forças. Nossa vida – vivida de forma única – deve ser expressão de amor e adoração a esse único Deus. Na caminhada terrena, não haverá outra oportu-

nidade. Deus ama a quem se esforça para viver no campo das boas virtudes cristãs; aqueles que produzem concórdia, esperança e amor, sejam pobres, ricos, sonhadores, ingênuos, sensíveis, sofridos, vencedores ou que se arrastam pela vida. É fácil entender: se você decide empenhar algum esforço para a felicidade de alguém, o próprio Deus se encarregará da felicidade sua. Nascemos para doar a vida. Mesmo que doa! Só é capaz de doar a vida quem não a vive “mais ou menos”, quem não passa os dias na mornidão e insipidez. Lembrei-me de uma historinha que ouvi em sala de aula. É uma fábula que está no livro “A Quinta Disciplina”, de Peter Michael Senge, considerado pela Harvard Business Review um dos livros de administração mais influentes dos últimos 70 anos. Alguns chamam de “A fábula do sapo na panela” e outros de “A síndrome do sapo fervido”. “O professor perguntou:

‘O sapo morre quando jogado numa panela com água morna ou com água fervendo?’. Um aluno respondeu: ‘Na água fervendo!’. O professor retrucou: ‘Não! Ele morre na água morna. O que acontece é que ele fica ali, quieto, acomodado, e morre cozido. Na água quente, ele pula rapidinho para fora. Sai escaldado, queimado, quase ebuliente... mas vivo!’”. Na vida dos cristãos que desejam levar a sério seu Batismo, algumas crises chegam para que mudanças sejam efetivadas. Senão, há o risco de morrermos no comodismo. A fábula nos faz refletir sobre os estragos da pandemia, mas também sobre as mudanças que se fizeram necessárias e sobre as portas que se abriram. Serve para nossa meditação pessoal: como estou conduzindo minha vida? Algumas vezes, pensamos que está tudo tão acertado, tão no lugar, que nem percebemos o tempo passar e a vida terrena segue sua marcha inexorável em direção

ao fim. Caríssimos, enquanto caminhamos, é bom irmos ajustando a bússola no rumo do Reino de Deus. E alvejando as vestes no sangue do Cordeiro! Buscando viver uma vida santa. Nossa fé católica deve ser vivida intensamente: agora ou nunca! Ela não combina com o que alguns desejam exaltar nos dias de hoje: o dia das bruxas! No próximo fim de semana, nossa Liturgia irá celebrar a Solenidade de Todos os Santos, uma festa do nosso destino e da nossa vocação. “Recuperemos” os santos, puxemos para perto, a fim de que se tornem mestres. A eternidade já começou; sejamos santos! Que as famílias se inspirem na vida dos Santos e vivenciem a harmonia, a paz, a transmissão dos valores cristãos. Bendigamos o Senhor por nos ter revelado uma de suas características mais belas: o desejo de que sejamos santos como Ele é santo; assim, não estaremos longe do Reino de Deus.


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IPIRANGA Pastoral Familiar motiva a vivência do Ano de São José nos setores pastorais Miltom Grom

Milton Grom

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Pastoral Familiar da Região Episcopal Ipiranga tem motivado os setores pastorais a promover ações concretas sobre a exortação apostólica Amoris laetitia, para a vivência do Ano de São José, patrono da Igreja Universal. No Dia Nacional de Valorização das Famílias, 21 de outubro, o Setor Pastoral Cursino promoveu a consagração devocional de 158 fiéis a São José, durante missa na Capela São José, do Instituto Meninos de São Judas Tadeu, presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga abençoou as medalhas de São José e ao final da celebração realizou o ato de imposição das medalhas sobre cada um dos consagrados. A consagração devocional a São José do Setor Cursino foi planejada pelo Padre José Lino Mota Freire, Pároco da Paróquia Santa Ângela e São Serapião; por Milton Grom e Neli Grom, coordenadores da Pastoral Familiar neste Setor; por casais que atuam nesta Pastoral nas Paróquias Nossa Senhora Mãe de Jesus (Andréia e

Luciano), Santa Ângela e São Serapião (Andréia e Reynaldo), Santo Afonso Maria de Ligório (Andréia e Márcio), Santa Cristina (Zélia e Nilo), além de Mauricio Levado e Alexandre, que atuam na Pastoral da Comunicação das Paróquias Santa Ângela e São Serapião e Nossa Senhora Mãe de Jesus, respectivamente. Os que receberam a consagração participaram de seis encontros preparatórios

Arquivo paroquial

Arquivo paroquial

[BRASILÂNDIA] No dia 19, foi celebrada uma missa na Paróquia São José, Setor Perus, em sufrágio da alma do Padre Daniel Francis McLaughlin, falecido há um ano. Na ocasião, foi recordado que o Sacerdote, em suas homilias, ratificava Jesus como irmão de cada pessoa, sempre destacava a realidade social, política e econômica aos olhos do ensinamento do Evangelho e foi alguém que sempre reconheceu e valorizou o papel dos leigos na Igreja. Como homenagem ao presbítero, a sacristia da Paróquia foi nomeada de “Sacristia Padre Daniel Francis McLaughlin”. (por Djevani Jesus)

[BRASILÂNDIA] No domingo, 24, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Setor Pereira Barreto, houve um dia repleto de atividades para as crianças da comunidade. O encontro começou com um almoço, seguido com brincadeiras, teatros e jogos. Por fim, junto com os jovens que se preparam para a Crisma, todos rezaram o Terço. (por Lucas Andrade)

nos quais conheceram a vida e a missão de São José, e a consagração devocional como um caminho para alcançar a santidade. Todos os encontros foram presenciais e também transmitidos on-line por um link restrito para 193 inscritos. Padre José Lino ministrou quatro das aulas e as outras duas foram conduzidas pelos Padres Anderson Bispo e Jorge Bernardes.

[BRASILÂNDIA] No domingo, 24, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missa na véspera da memória litúrgica de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, padroeiro da Comunidade Frei Galvão da Paróquia São Francisco de Assis. “Os santos são os amigos de Deus, que mostram como ter nossa conexão constante com o Pai, no Filho, pelo Espírito Santo que está dentro em cada um de nós”, disse na homilia o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia.

(Colaboraram: Maria Leonice e Roberto Mariannini)

(por Marcos Rubens)

[BRASILÂNDIA] No dia 22, na matriz da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no Jardim Vista Alegre, os membros dos conselhos paroquiais de pastoral e de administração participaram de reunião com Dom Carlos Silva, OFMCap. Há quase um ano, a Paróquia está sob os cuidados da Ordem dos Religiosos Cônegos Regulares Lateranenses (CRL), com os Padres Dorival Ferreira, Administrador Paroquial, e Rogério Pires, Vigário Paroquial. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia exortou os agentes pastorais a ter entusiasmo no anúncio do Evangelho. Destacou a necessária acolhida às pessoas, principalmente aos jovens, e pediu que as boas práticas (por Priscilla Messias) sejam anunciadas e compartilhadas. Elismara Oliveir

[IPIRANGA] No domingo, 24, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa no 7º dia da novena da festa do padroeiro do Santuário São Judas Tadeu. No dia 28, na memória litúrgica do Santo, acontecerão 12 missas, sendo a solene, das 17h, presidida pelo Cardeal Scherer. O Santuário está localizado na Avenida Jabaquara, 2.682. Mais detalhes podem ser acessados nas redes sociais: @saojudastadeusp. (por Pascom do Santuário São Judas Tadeu)

[IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Pastoral Imigrantes, no sábado, 23, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 11 jovens e adultos. (por Caroline Dupim)

[BELÉM] No domingo, 24, no Santuário Nossa Senhora do Sagrado Coração, houve o 3º Encontro do Terço dos Homens da Região Episcopal Belém. Foi um momento de oração, testemunhos, emoção e fé. O encontro contou com a presença do Irmão João Batista de Viveiros, Redentorista, que é o grande animador da Romaria do Terço dos Homens ao Santuário Nacional de Aparecida. (por Fernando Arthur)

Pascom São Domingos Sávio Maria Tiemi

[SANTANA] Na Paróquia São Domingos Sávio, Setor Tremembé, no sábado, 23, houve o rito da imposição da Cruz aos jovens que se preparam para receber o sacramento da Crisma. No domingo, 24, aconteceu a entrega da Sagrada Escritura às crianças que se preparam para receber a primeira Eucaristia (foto), durante missa presidida pelo Padre Salvador Ruiz Armas, Pároco. (por Pascom São Domingos Sávio)

[LAPA] A Pastoral dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão da Paróquia Santo Alberto Magno, no Jardim Bonfiglioli, Setor Butantã, realizou no sábado, 23, o primeiro encontro de formação dos novos ministros e daqueles já atuantes que irão renovar seu ministério. O encontro, coordenado pelo Diácono Antônio Geraldo, teve a participação de cerca de 40 pessoas da matriz paroquial, da Área Pastoral São João Batista e da Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora. (por Benigno Naveira)


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Fé e Cidadania

Lapa

Dom José preside missa em ação de graças pelos 431 anos do bairro da Lapa Marcos Wilkens

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Armas e legítima defesa na Doutrina Social da Igreja Francisco Borba Ribeiro Neto

Na tarde do sábado, 23, na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, Dom José Benedito Cardoso presidiu missa em ação de graças pelo aniversário de 431 anos do bairro da Lapa. Concelebrou o Padre Adalton Pereira de Castro, Pároco, assistidos pelo Diácono André Iasz. Ao fim da missa, Dom José fez uma breve explanação a respeito do bairro e agradeceu a presença da comunidade, dos paroquianos, representantes lapeanos e autoridades, entre as quais José Roberto dos Santos, representando a subprefeita Fernanda Galdino; Zenon Alves, da Associação do Bairro da Lapa; Ubirajara de Oliveira, do Jornal Gente; os ad-

vogados Manoel Martins Gonzales e Helena Maria Diniz, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Subseção Lapa; José Carlos de Barros Lima, do Colégio Santo Ivo; membros da Associação Nossa Senhora Bom Parto – Equipe Consultório da Rua; e

Eduardo Fiosa, do Observatório Vila Leopoldina. Padre Adalton recordou que há décadas vive no bairro, e que naquela Paróquia realizou vários casamentos e batizados. (Colaboraram: Tatiana Vieira, da Pastoral Fé e Política, e Marcos Wilkens, da Pascom Lapa)

Comportamento As brigas entre os irmãos SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Este tema costuma ocupar a cabeça e o coração dos pais. As brigas entre os filhos podem causar uma série de sentimentos: medo de que não se entendam, preocupação com injustiças, irritação com tanto ti-titi, enfim, pais não costumam reagir bem às brigas, disputas e reclamações entre os filhos. Vamos enfrentar essa questão? É muito importante que os pais olhem de modo positivo para esses acontecimentos entre os filhos. A família é o primeiro ambiente social em que a criança convive. Será na família que ela experimentará os primeiros sentimentos, emoções, frustrações, enfim, na família terá um verdadeiro “laboratório relacional”. É comum que esses pequenos seres, que estão em fase de aprender sobre si mesmos e sobre a vida, encontrem dificuldades de se relacionarem. É especialmente desafiador o relacionamento entre iguais (fraterno). Terão ciúmes, acreditarão que são injustiçados, sentirão raiva, medo, o mais rico espectro de sentimentos. Isso tudo é muito natural e esperado e não significa que são pessoas ruins ou que não se amam. Ao contrário, é comum que as pessoas mostrem o seu pior no ambiente em que têm certeza de serem amadas, naquele em que sabem que, apesar de suas dificuldades e seu

comportamento, serão queridas. Tendo em vista que esse relacionamento entre os irmãos é uma excelente oportunidade de amadurecer e compreender a dinâmica do relacionamento humano, é importante que os pais não se aflijam tanto diante dos desentendimentos. É preciso, inclusive, que percebam quando devem ou não intervir. Alguns conflitos se resolverão naturalmente entre eles, e pequenas injustiças ou mal-entendidos fazem parte da vida. Outros, que se tornarem mais intensos ou violentos, precisarão da intervenção dos pais para serem resolvidos de modo adequado. Então, vamos às dicas para isso: 1. Cuidar do ambiente familiar: é muito importante que os pais mantenham um ambiente familiar saudável – que se tratem com respeito e carinho, que deem exemplos de serenidade diante dos conflitos (ou ao menos que se mostrem arrependidos se acontecer o contrário), que não coloquem peso exagerado nas dificuldades próprias do cotidiano familiar, pois senão o ambiente ficará pesado. 2. Ter regras claras para o trato entre os irmãos, cuidando, por exemplo, de proibir agressões físicas, xingamentos, atitudes violentas que possam machucar. 3. Controlar as próprias emoções – não se afligir demasiadamente e reagir com gritos, broncas ex-

cessivas, impulsivamente. Lembrem-se: eles estão aprendendo, vocês têm o papel de ensinar, o autodomínio é muito importante para isso. 4. Não ocupem o lugar de juízes, tomando partido de um ou do outro. Procurem promover reflexões nos pequenos, oportunizando que o problema seja resolvido. 5. Evitem comparações entre as crianças, pois isso pode fomentar disputas e ciúmes. 6. Promovam relações afetivas e momentos gostosos de convívio, pois isso torna o ambiente mais propício à menor incidência de brigas. Ensinem o amor entre os irmãos, elogiando os gestos amigos e carinhosos que tiverem, dizendo o quanto isso os agradam. 7. Criem o hábito de dialogar com os filhos. Lembrem-se de que todas essas situações são oportunidades muito ricas de ensinar os filhos a adquirir virtudes. Em casa, eles terão possibilidade de aprender sobre os relacionamentos com amor e em ambiente seguro. Isso os tornará pessoas mais capacitadas a conviver nos outros ambientes que se apresentarem no futuro. A compreender e acolher as mais diferentes pessoas que cruzarem suas vidas. Não percam essa rica oportunidade. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Um trocadilho provocativo, mas sintonizado com a Doutrina da Igreja, “pátria amada não pode ser pátria armada”, proferido pelo Arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, no último 12 de outubro, causou furor nas redes sociais e nos meios políticos. A Doutrina Social da Igreja (DSI) tem uma postura muito precisa sobre a questão, frequentemente distorcida por leituras ideologizadas e politizadas. Muitos têm usado, de forma descontextualizada, a citação de um documento do Pontifício Conselho Justiça e Paz, de 1994, “Comércio internacional de armas. Uma reflexão ética” (erroneamente atribuída a São João Paulo II): “Em um mundo em que o mal e o pecado subsistem, existe o direito à legítima defesa pelo uso das armas. Este direito pode tornar-se um sério dever para aqueles que são responsáveis pela ​​ vida dos outros, pelo bem comum da família ou da sociedade. Somente este direito pode justificar a posse ou transferência de armas. Não é um direito absoluto, mas vem acompanhado do dever de fazer todo o possível para minimizar e, mais ainda, eliminar as causas da violência”. O contexto geral do documento, e sua interpretação em conjunto com os demais textos do magistério, é o de incentivar a regulamentação e a redução do acesso às armas de fogo em todos os países. A legítima defesa e a do inocente são as únicas alternativas, segundo a DSI, que justificam a posse de armas. Mesmo assim, não se trata de um “direito absoluto” e implica o dever de minimizar e eliminar as causas da violência. A questão da relação entre armas e legítima defesa, no magistério da Igreja, foi desenvolvida principalmente na relação entre os países e a construção da paz – sendo estendida à análise das relações interpessoais. Quem quiser ler uma apresentação extensa do tema pode ver no próprio Catecismo da Igreja Católica (cf. 2258-2317) para contextualizar bem cada afirmação. O problema real não é doutrinal, mas prático: todos temos direito à vida e à legítima defesa, mas como garantir esses direitos? A história do Ocidente indica como melhor alternativa desenvolver os serviços de segurança pública em vez de armar a população. O que dará mais segurança para nós, nossas famílias e nossos jovens: todos usarem armas e se predisporem a atirar em criminosos ou a Polícia ser mais eficiente e prender os meliantes? A pouca eficiência da segurança pública no Brasil nos leva a imaginar uma espécie de faroeste, em que homens fortes e armados protegem a si e seus entes queridos. Mas, até nesse mítico mundo hollywoodiano, veremos que as armas não trazem segurança para os fracos, que permanecem constantemente intimidados por pistoleiros e assaltantes. Mesmo nesse universo, é a chegada da força da lei e não a força dos indivíduos que garante a segurança de todos e o bem comum. Comparações internacionais não mostram que o aumento do número de armas entre a população aumente ou diminua o número de mortes violentas. Na verdade, a violência e sua letalidade dependem de muitos fatores, como a ação do crime organizado, a eficiência da Polícia, condições socioeconômicas e infraestrutura urbana. A Igreja reconhece o direito ao uso de armas para legítima defesa, mas indica que se busquem alternativas não violentas, seguindo o exemplo de Cristo, nas palavras de São João Paulo II, num Discurso aos Juristas Católicos Italianos, de 1980. A aplicação dessa sabedoria depende do nosso compromisso moral com a realidade, sem nos prendermos a discursos ideológicos de qualquer lado. Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.


8 | Regiões Episcopais | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

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BELÉM Dom Luiz Carlos preside festa patronal da Área Pastoral São João Paulo II Fernando Arthur e Janice Santos

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na sexta-feira, 22, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém e nomeado pelo Papa Francisco para a Diocese de São Carlos (SP), presidiu missa na Comunidade São João Paulo II – Área Pastoral São João Paulo II, Setor Sapopemba. Concelebraram os Padres Haroldo Alves, Pároco; João Chiuzo, Adalberto Ferezini, Carlos Mariano e Florêncio. Também participaram fiéis das Comunidades São Judas Tadeu, Nossa Senhora Aparecida e Padre João Bosco P. Bourier e Santa Dulce dos Pobres. Na ocasião, foi apresentado o novo presbitério, fruto do empenho, doa-

Janice Santos

ção e generosidade dos membros da comunidade. Na homilia, Dom Luiz Carlos relembrou a história de vida do patrono e recordou que, ao celebrar a missa de Ano Novo nesta comunidade, pediu a intercessão de São João Paulo II para que encontrasse padres que pudessem assumir a Área Pastoral que seria criada em breve. Em poucos dias, tudo se encaminhou para que a Congregação do Espírito Santo reassumisse as comunidades que formarão a futura Paróquia São João Paulo II. Dom Luiz também reafirmou a importância da unidade, do compromisso entre os membros das comunidades e desejou que os ensinamentos de São João Paulo II sirvam de inspiração para todos.

SÉ Dom Carlos Lema Garcia participa do encontro da Pascom Regional Pastoral da Comunicação da Região Sé

Lívia Miranda, Ruy Halasz e Cláudia Ghirotti COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Os agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Sé se reuniram com Dom Carlos Lema Garcia no sábado, 23, no Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no bairro do Sumaré. Deste primeiro encontro presencial desde o início da pandemia, participaram 50 pessoas, representando 27 paróquias. Após a oração inicial, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé citou o exemplo do Beato Carlo Acutis como inspiração para a presença das paróquias na internet. Na sequência, ressaltou a importância da escuta no processo de comunicação, con-

forme ressalta a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2022. Padre Carlos André Romualdo, Assistente Eclesiástico para a Pascom na Região Sé, versou sobre as mudanças que a pandemia impôs às comunidades paroquiais, com foco no avanço qualitativo em relação ao uso das ferramentas digitais. Por fim, encorajou os agentes a continuar noticiar o que aconteceu, o que acontece e o que está para acontecer, inclusive nos canais oficiais da Região. Dom Carlos Lema Garcia motivou ainda os membros da Pascom Sé a se informarem sobre a Campanha da Fraternidade de 2022 e a respeito dos trabalhos que já estão em andamento por parte das paróquias para o Sínodo dos Bispos de 2023.

152 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão participam de encontro Lourdes Bona

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Entre os dias 19 e 21, um total de 152 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC), dos Setores PasEquipe de Comunicação do Santuário

[BRASILÂNDIA] Nos dias 17 e 18, no Santuário Sião Mãe Rainha, no Jaraguá, peregrinos se uniram para participar de missas em ação de graças pelos 107 anos do Movimento Apostólico de Schoenstatt. A Aliança de Amor selada em 18 de outubro de 1914 pelo Padre José Kentenich com seus jovens seminaristas é o que define a espiritualidade do movimento, conforme explicou o Padre Pedro Cabello, do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt. A reportagem completa pode ser lida no site do Santuário pelo link a seguir: https://cutt.ly/0ROOAfg. (por Sueli Vilarinho)

torais Bom Retiro e Catedral, alguns já atuantes e outros iniciantes, estiveram reunidos na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora para o Encontro de Formação de Ministros, conduzido pelo Frei Wilson Batista Simão, OFM, Coordenador do Setor Bom Retiro, e pelo Padre Irmani Paulo Borsatto, CS, Coordenador do Setor Catedral. Na primeira noite, Irmã Dorce Rampi, do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, que atua no Colégio Santa Inês,

Lourdes Bona

do Bom Retiro, explanou sobre a questão teológica da Eucaristia, a partir da Bíblia e de documentos da Igreja. Na segunda noite, Padre Luiz Claudio de Almeida Braga falou sobre a parte prática da ação ministerial, destacando a alegria de servir, com zelo, respeito e carinho aos objetos litúrgicos e que envolvem a celebração eucarística. E na terceira noite, o Sacerdote tratou a respeito da postura e conduta, tanto no altar quanto na vida dos ministros extraordinários.

Arquivo paroquial

Rúbia Mazza

[IPIRANGA] No sábado, 23, aproximadamente 40 jovens e adultos receberam o sacramento da Crisma durante missa na Paróquia São José, Setor Pastoral Ipiranga, presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga. (por Caroline Dupim)

[BRASILÂNDIA] No sábado, 23, em missa na Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus, Setor Freguesia do Ó, Dom Carlos Silva, OFMCap, conferiu o sacramento da Crisma a um grupo de jovens. Concelebrou o Padre Neil Charles Crombie, Pároco. (por Rúbria Mazza)


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Reportagem/Fé e Vida | 9

Guanellianos comemoram os 10 anos da canonização do ‘Apóstolo da Caridade’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Membros das congregações religiosas Servos da Caridade (SdC) e Filhas de Santa Maria da Providência, além dos leigos da Associação dos Cooperadores Guanellianos, se reuniram no Recanto Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Horto Florestal, na zona Norte, no domingo, 24, Dia Mundial das Missões, para celebrar o décimo aniversário da canonização de São Luís Guanella. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, que agradeceu à família guanelliana a missão realizada em favor dos pobres, principalmente as crianças e adolescentes com deficiências. Na homilia, Dom Odilo recordou que São Luís Guanella testemunhou a santidade já em vida com ações concretas no amor e no acolhimento aos irmãos, como no relato do Evangelho do dia (Mc 10,46-52), em que Jesus cura um cego. O Arcebispo encorajou os guanellianos a permanecerem firmes na missão e desejou que todos continuem a testemunhar ao mundo o carisma que Deus lhes confiou na ação em prol dos excluídos da sociedade.

Cardeal Scherer preside missa em ação de graças pelo testemunho de vida de São Luís Guanella, dia 24

VOCAÇÃO

Luís Guanella (1842-1915) nasceu no vilarejo de Fracíscio, na província de Sondrio, no norte da Itália. Dos pais Lourenço e Maria Bianchi, aprendeu a fé católica, o amor à oração e a confiança na Divina Providência. Do pai, também herdou o caráter forte e tenaz, e da mãe, a suavidade e a compaixão para com os pobres. Desde criança, juntamente com sua irmã Catarina – um ano mais velha que ele –, nas brincadeiras ensaiava atos de amor aos

pobres, misturava água e terra nas fendas das rochas em forma de bacia e afirmava que, quando crescesse, serviria a sopa para saciar a fome das pessoas em situação de pobreza. Aos 9 anos, após receber Jesus na Eucaristia e recolher-se em oração, ouviu uma voz que o chamava e lhe mostrava o que ele faria mais tarde pelos pobres. Em 1866, ordenou-se sacerdote e assumiu o espírito de pobreza, da perfeita alegria e de grande confiança em Deus. Em 1886, fundou a Congregação das Irmãs Filhas de Santa Maria da Providência e, em 1908, os Servos da Caridade.

‘PROFETA DA CARIDADE’

São Luís Guanella faleceu em 24 de outubro de 1915. Foi beatificado pelo Papa Paulo VI, em 1964, e canonizado pelo Papa Bento XVI, no dia 23 de outubro de 2011, que o declarou “Profeta da Caridade”. O milagre que permitiu sua canonização foi a intercessão a Deus para a cura do jovem William Glisson Junior, da Pensilvânia, Estados Unidos, a quem os médicos não deram chance de recuperação após sofrer, em 2002, um grave acidente enquanto patinava. Ficou em coma e os médicos fizeram cinco cirurgias, incluindo duas para unir partes de seu crânio. Três meses após o acidente, o jovem retomou sua vida sem sequelas.

EXTENSA MISSÃO

O carisma guanelliano é “revelar no mundo o amor providente e misericordioso de Deus Pai, num clima de família, promovendo de forma integral a pessoa, particularmente aquelas mais desprovidas, aplicando a pedagogia do amor”. Os religiosos estão presentes em 23 países. Ao Brasil, chegaram em 1947, primeiramente ao Rio Grande do Sul e depois a outros estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Pernambuco, além do Distrito Federal. Na Arquidiocese de São Paulo, atuam na Paróquia Santa Cruz, na Região Santana, e desenvolvem um extenso trabalho social por meio da Associação Obras Sociais Santa Cruz (AOSSC), que visa a estimular a inclusão da pessoa com deficiência, promovendo sua dignidade, a igualdade e o clima de fraternidade no interior das famílias e dos grupos sociais. A AOSSC compreende em sua maioria pessoas com deficiência e suas famílias, provenientes da zona Norte de São Paulo, com idade a partir de 7 anos, pertencentes à população de baixa renda e em situação de vulnerabilidade. Compõem a AOSSC as entidades: Recanto Nossa Senhora de Lourdes (dimensão educacional), Núcleo de Apoio à Inclusão para Pessoas com Deficiência (NAIS) São Luís Guanella (dimensão social); o Centro para Crianças e Adolescentes Santa Terezinha (CCA) e o Centro Educacional Infantil (CEI) Dom Guanella.

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA

Padre Odacir Lazaretti, Presidente da AOSSC, ressaltou que o fundador tinha como ideal de vida tornar o mundo mais justo e fraterno: “Sua vida foi um contínuo caminho de amor a Deus e à humanidade, dedicando-se, particularmente, a evidenciar a inclusão dos excluídos da sociedade no Reino de Deus”. A confiança na Divina Providência, a Eucaristia, a vida de oração, a caridade para com os pobres e sofredores, a paixão pastoral e a devoção a Nossa Senhora são virtudes do fundador que inspiram as obras sociais, até os dias atuais. “O Fundador, no seu tempo, deu o testemunho de acolher e amar a todos os irmãos, de modo particular, aqueles com alguma deficiência. A Providência é uma virtude que orienta nossas ações”, disse o Sacerdote, destacando que as obras são mantidas, em parte, com parcerias com a Prefeitura de São Paulo, empresas e voluntários.

LEIGOS NA MISSÃO

Reginaldo Joaquim Veloso Junior, 70, e Iarilete dos Santos Veloso, 66, são cooperadores guanellianos há 20 anos e explicam que, como tal, têm a missão de “acolher, servir e promover toda pessoa em qualquer situação de pobreza, seja ela material, seja espiritual, em comunhão com as religiosas e os sacerdotes, animados pelo carisma do fundador, na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária”, enfatizaram. Adriano Jesus Bastos dos Santos, 55, é engenheiro civil e atua como voluntário nas obras guanellianas. “É gratificante fazer parte desta obra. Contribuo com a minha experiência profissional nas necessidades e na captação de recursos para a manutenção das obras sociais”, afirmou. Em agosto de 2020, durante a pandemia, o Padre Flávio Demolier, SdC, Pároco na Paróquia Santa Cruz, criou a Pastoral Solidariedade Guanelliana, que realiza ações em favor das pessoas em situação de rua, com a distribuição de refeições, roupas e cobertores, o que ajuda a proporcionar momentos de diálogo com os assistidos. A ação foi uma das contempladas com a Medalha São Paulo Apóstolo deste ano.

Você Pergunta Existiu mesmo um santo que foi colocado vivo no óleo quente? Padre Cido Pereira

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A pergunta é da Neusa, do bairro de Santa Cecília. Minha irmã, sim, existiu: São João Evangelista. Ele e seu irmão, São Tiago maior, foram dois dos pescadores chamados por Jesus. Devido ao seu temperamento explosivo, Jesus os

chamou de “filhos do trovão”. A mãe deles chegou a interceder por eles, pedindo um lugar de destaque no Reino que Jesus fundaria. Tudo indica que João era o discípulo que Jesus mais amava e este amor era recíproco. João foi o único discípulo que acompanhou toda a caminhada de Jesus até o Calvário. Tanto que Cristo, pendu-

rado na cruz, confiou sua mãe a ele. E João a levou para morar consigo. São João é o autor de um Evangelho, de três cartas e do livro do Apocalipse. Em seu Evangelho, ele faz uma profunda reflexão sobre a missão de Jesus. Em suas cartas, ele proclama o amor como o DNA dos discípulos de Cristo. E no Apocalipse, em linguagem simbólica,

alimenta a fé e a esperança dos cristãos em meio às perseguições. São João Evangelista foi torturado cruelmente pelo imperador Valério e foi jogado num tacho de azeite fervendo. Escapou miraculosamente. Então foi exilado na Ilha de Patmos, no Mar Egeu, que era um lugar de banimento de pessoas. Ele morreu em Éfeso, no ano 203, com 94 anos.


10 | Com a Palavra | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

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Cardeal Odilo Pedro Scherer

O Sínodo não é um parlamento, mas, sim, um caminho de escuta iluminado pelo Espírito Santo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer explicou o significado do processo sinodal convocado pelo Papa Francisco e enfatizou que esse caminho tem por objetivo aprofundar a consciência sobre a natureza e missão da Igreja. O Arcebispo de São Paulo também destacou que a experiência vivida durante o sínodo arquidiocesano, convocado em 2017, é um exemplo concreto da sinodalidade à qual toda a Igreja é chamada a refletir. Confira. Leia alguns trechos abaixo, e a íntegra em: https://tinyurl.com/yzr6jfg5.

O SÃO PAULO – Em que consiste o caminho sinodal aberto pelo Papa Francisco? Cardeal Odilo Pedro Scherer – Antes de tudo, é preciso dizer que este é um momento novo e bonito na vida da Igreja, em que o Papa convoca toda a Igreja para uma nova tomada de consciência sobre si mesma. O Sínodo é sobre a sinodalidade, algo que faz parte da Igreja desde o seu início e se traduz como a unidade, a colegialidade e a comunhão eclesial. A sinodalidade é uma qualidade na qual o povo dos batizados é considerado Igreja. O Papa, portanto, faz uma chamada a todo este povo para que tome consciência de si mesmo. A Igreja é o povo dos batizados, em que nem todos fazem as mesmas coisas, mas todos são importantes com seus próprios dons e, portanto, chamados a contribuir para a vida e a missão da Igreja. É por isso que haverá as fases diocesanas e continentais do Sínodo? Nas assembleias sinodais anteriores também aconteciam as fases prévias de consultas aos vários organismos eclesiais e conferências episcopais. É a primeira vez, porém, que essa consulta acontece mais amplamente a todo o povo de Deus. Agora, uma vez que o tema é a própria sinodalidade da Igreja, o Papa deseja que todos participem do processo desde o início, tomando consciência do tema e, ao mesmo tempo, daquilo que somos como Igreja. Por isso, essa etapa inicial não é considerada apenas uma preparação para o Sínodo, já é parte da vivência do Sínodo. Durante os eventos relacionados a este Sínodo, o próprio Papa afirmou que, talvez, não devamos falar tanto de “sinodalidade”, mas de uma “Igreja sinodal”. A sinodalidade é um conceito teológico, bonito, mas que, por vezes, pode ser apenas um conceito abstrato, árido, que não desce à realidade concre-

ta. O que se pretende é, de fato, fazer a experiência do caminho sinodal. Nesse sentido, o Pontífice alertou para alguns riscos da má compreensão desse processo. O senhor poderia nos citar alguns? O Santo Padre enfatizou que o Sínodo não consiste em um simpósio teológico que reúne peritos para discutir sobre a sinodalidade. Não! É importante que todo o povo de Deus possa perceber o que significa uma Igreja sinodal. Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco tem alertado bastante para o “clericalismo”, isto é, a ideia de que a Igreja pertence ao clero. Isso está muito presente na opinião pública hoje em dia, que entende o clero como o dono da Igreja e os fiéis como os seus “fregueses” ou beneficiários. Nos noticiários, o Sínodo tem sido apresentado como uma ‘grande escuta democrática’ para decidir sobre o futuro da Igreja. Isso corresponde ao seu real significado? Não! A Igreja permanece aquilo que ela é, ou seja, obra da graça de Deus. A Igreja não é criatura humana nem invenção dos homens. É fruto do anúncio da Palavra de Deus e da resposta dada pela humanidade a ela. A Igreja é, portanto, animada pelo Espírito Santo. Se não fosse assim, não estaríamos aqui depois de 2 mil anos. Estamos, de fato, em um processo de renovação da Igreja para que ela seja cada vez mais aquilo que é chamada a ser. A Igreja, sim, está usando meios abertos de escuta, pois queremos ouvir o que as pessoas dizem.

Mas é preciso haver um discernimento eclesial, segundo aquilo que é próprio da Igreja. Por isso, o Papa, no seu primeiro discurso, falou com muita ênfase que o Sínodo não é um parlamento, tampouco um processo político para formar maiorias. Na conclusão da assembleia do Sínodo, o que é entregue ao Papa como resultado desse processo? O Sínodo, por sua natureza, é consultivo. O Papa o convoca para ouvir e ele é, de fato, o primeiro ouvinte do processo sinodal. Ele recebe todo esse processo de escuta reunido em um documento final. Eventualmente, o Pontífice pode decidir que esse documento seja publicado como palavra do Sínodo, portanto, consultiva; também pode dar voz decisória para o sínodo sobre algum tema específico. Isso, porém, não tem acontecido até agora. Esse documento final traz indicações, proposições, sugestões ou manifestações de anseios da Igreja. O Papa, então, reflete sobre isso e dá a sua palavra, que é a exortação apostólica pós-sinodal, portanto, sua palavra de autoridade sobre aquilo que ele ouviu. É possível dizer que os frutos desse Sínodo poderão ser colhidos já ao longo do caminho? Sem dúvidas. Nós temos essa experiência também aqui em São Paulo, pois já estamos no quarto ano do nosso sínodo arquidiocesano. Embora esteja parado por causa da pandemia, o processo ainda está vivo. Houve um primeiro momento de preparação, oração

e tomada de consciência. Depois, começou o processo de escuta, mediante um levantamento que envolveu muitas pessoas. Para nós, esse processo já está trazendo resultados. Em primeiro lugar, o povo que foi visitado e teve a possibilidade de ser ouvido ficou muito feliz. Em segundo, a tomada de consciência da situação já motivou o surgimento de muitas iniciativas nas paróquias, nas organizações da Igreja e na vida pastoral. Portanto, a experiência de Igreja sinodal, de uma forma ou de outra, traz resultados. E como fica o sínodo arquidiocesano em meio ao processo convocado pelo Papa? Nós faremos na Arquidiocese tudo aquilo que foi pedido para todas as dioceses nesse Sínodo universal. Só que temos a vantagem desse caminho percorrido, de uma experiência que ainda estamos vivendo. Devo dizer que foi nas reuniões do Conselho do Sínodo dos Bispos, do qual fui membro por oito anos, que percebi a insistência com que o Papa falava da sinodalidade. Então, pensei que seria o momento de a Arquidiocese ter um sínodo, inclusive para ir a fundo na percepção das grandes questões postas à Igreja desde o Concílio, que ainda não foram assimiladas suficientemente, sobretudo as grandes propostas que dele emanaram. Por isso, deve ser motivo de alegria podermos compartilhar com a Igreja toda a experiência que fizemos aqui em São Paulo. Isso também, por outro lado, permite-nos aprofundar mais ainda a reflexão do nosso sínodo de maneira que, aquilo que trabalhamos nos últimos três anos, tome uma nova percepção. Como a Arquidiocese deve viver essa fase do Sínodo da Igreja? Convido todos a viver este processo como um grande momento do Espírito Santo na Igreja. Sempre que o invocamos, pedimos que ele renove a face da terra, mas ele conta conosco para essa renovação. Portanto, vivamos o Sínodo como um momento de graça, escuta e discernimento a partir das luzes do Espírito Santo. Por outro lado, vivamos com gratidão e generosidade. Vamos dar os passos que nos foram propostos com o maior número de pessoas possível, sobretudo envolvendo os conselhos paroquiais de pastoral, as lideranças de todas as organizações eclesiais, de maneira que, fazendo isso, nossa Igreja só tem a se enriquecer. Assim, também “reaqueceremos os motores” para bem retomarmos o nosso sínodo arquidiocesano, que consiste justamente na etapa do discernimento para a apresentação de sugestões e tomada de decisões.


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Especial - Vida de Santidade no Brasil | 11

Todos os Santos e Fiéis Defuntos: momento de celebrar a vida em Deus Na iminência da chegada do mês de novembro, a Igreja convida os fiéis a agradecer com alegria o dom da vida dos que já se foram JOSÉ FERREIRA FILHO

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Novembro se aproxima e, logo na abertura do mês, dia 1º, a Igreja se une para celebrar a Solenidade de Todos os Santos e lembrar os eleitos que se encontram na glória de Deus. Em seguida, no dia 2, é a oportunidade de se dedicar à Comemoração dos Fiéis Defuntos, na qual se recordam os cristãos que já faleceram, marcados com o sinal da fé. Trata-se de duas celebrações importantes, que estabelecem um vínculo entre si e trazem à reflexão o futuro da existência do ser humano, tão necessário para conferir pleno sentido à vida de cada um. Ambas destacam, portanto, a dimensão da eternidade que permeia a vida terrena.

As Escrituras também afirmam que cada cristão traz consigo o dom da santidade dado por Deus, como diz a Carta de São Paulo aos Efésios: “Deus nos escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos” (Ef 1,4).

COMO COMEÇOU

O culto aos santos por parte dos cristãos remonta aos primeiros séculos, ainda na era da Igreja primitiva, começando pelos mártires. Ao viver essa tradição, a Igreja convida cada um a contemplar essas pessoas, exemplos de fé, esperança e caridade, e a se espelhar em suas virtudes. Com o passar do tempo, a Igreja organizou a recordação devida àqueles que são os precursores na fé e, ao longo de cada ano, celebra ou faz memória diariamente de um ou mais santos. No dia 1º de novembro, porém, ela reúne todos numa fes-

inverno. Quando eles se convertiam, queriam continuar com a tradição da festa. Assim, a veneração de Todos os Santos, lembrando os cristãos que morreram em estado de graça, foi instituída no dia 1º de novembro. O Papa Gregório IV, em 835, fixou e estendeu para toda a Igreja a comemoração na data conhecida hoje. Oficialmente, a mudança do dia da festa de Todos os Santos, de 13 de maio para 1º de novembro, somente foi decretada em 1475, pelo Papa Sisto IV.

FIÉIS DEFUNTOS

Desde o século I, os cristãos rezavam pelos falecidos. Costumavam visitar os túmulos nas catacumbas para rezar pelos mártires e, também, por aqueles que não haviam sofrido o martírio. No século IV, já existia a memória dos mortos na celebração da missa. Des-

ta era aquela que já havia cumprido toda a sua missão de viver. Nesse contexto, o Dia dos Fiéis Defuntos, portanto, é o dia em que a Igreja celebra o cumprimento da missão das pessoas queridas que já faleceram, por meio da elevação de preces a Deus por seu descanso eterno.

A COMUNHÃO DOS SANTOS

A Igreja ensina a crer na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que ainda peregrinam sobre a terra, dos defuntos que ainda estão em purificação (e que necessitam de orações) e dos bem-aventurados do Céu (intercessores de toda a humanidade), formando todos juntos uma só Igreja, conforme se professa no Credo. A comunhão dos Santos, portanto, indica a participação de todos os membros da Igreja na fé, nos sacramentos, nos carismas e outros dons espirituais. Designa Luciney Martins/O SÃO PAULO

TODOS OS SANTOS

Na celebração de Todos os Santos, o momento é de recordar não somente os santos já canonizados e elevados à honra dos altares, popularmente conhecidos e venerados, mas também aquelese que, na simplicidade e no anonimato de sua vida cotidiana e mesmo sem a anuência da Igreja, empenharam-se em observar a vontade divina e testemunharam sua fidelidade a Cristo, tornando-se exemplos de que a santidade é possível e está ao alcance de todos.

EMBASAMENTO

Embora se saiba que a verdadeira santidade será alcançada e vivida em plenitude somente no céu, ela pode (e deve!) começar aqui na terra. Assim como o primeiro chamado feito por Deus a cada um é à vida, todos são igualmente convidados a vivê-la de maneira santa, conforme nos recorda o Catecismo da Igreja Católica (CIC, 2013): “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5,48)”.

ta comum, justamente porque, mesmo entre os canonizados, muitos deles não têm um dia exclusivo para sua homenagem. Essa tradição começou no século III, na Igreja do Oriente, e se instaurou como consequência da grande perseguição deflagrada pelo imperador Diocleciano, no início do século IV, pela grande quantidade de mártires causada pelo poder romano.

NO OCIDENTE

Por outro lado, em Roma, houve a festa de Todos os Santos pela primeira vez em 13 de maio de 609 (século VII), por determinação do Papa Bonifácio IV, ao transformar o Panteão, templo dedicado a todos os deuses pagãos do Olimpo, em uma igreja em honra à Virgem Maria e a Todos os Santos. Em torno do ano 800, porém, houve a mudança do dia: os pagãos celtas entendiam o 1º de novembro como um dia de comemoração que anunciava o início do

de o século V, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os falecidos, sendo que, a partir do século XIII, esse dia foi fixado em 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de “Todos os Santos”. O Dia dos Fiéis Defuntos, portanto, celebra todos os que morreram não estando em estado de graça total, mas precisamente os que se encontram em estado de purificação de suas faltas e, assim, necessitam de orações.

FINADO OU DEFUNTO?

A palavra finado significa, em sua origem, “aquele que se finou, ou seja, que teve seu fim, que se acabou, que foi extinto”. Por sua vez, a palavra defunto, originada no latim, era o particípio passado do verbo defungor, que significava “satisfazer completamente, desempenhar a contento, cumprir inteiramente uma missão”. Mais tarde, foi utilizada e difundida pelo Cristianismo para dizer que uma pessoa mor-

ainda a comunhão entre as pessoas santas, isto é, entre os que, pela graça, estão unidos a Cristo, morto e ressuscitado. [...]. Todos juntos formam, em Cristo, uma só família, a Igreja, para louvor e glória da Trindade (Catecismo da Igreja Católica, Compêndio, 195). Os primeiros cristãos viveram-na como ninguém. O fato de colocarem tudo em comum, inclusive os próprios bens materiais (cf. At 4,32), era a prova máxima desta vivência. Nas dificuldades e no pecado, a reação espontânea era de amor para com aquele irmão que estava em perigo ou em dificuldade. E assim, ele encontrava a força para reconhecer o seu pecado e, graças ao amor, corrigia-se. Do mesmo modo que a comunhão cristã entre os que peregrinam neste mundo os coloca mais perto de Cristo, assim também a familiaridade com os santos os une a Cristo, de quem emana, como Fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do povo de Deus (Lumen gentium, 50).


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Brasil, terra de santos Fernando Geronazzo

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O jovem Fabio Rodrigues dos Santos, 28, sempre se interessou pelas histórias dos santos da Igreja. No entanto, não tinha conhecimento da existência de brasileiros que haviam sido elevados à honra dos altares. Até que, em 5 de novembro de 2006, ele participou da missa de beatificação do Padre Mariano de La Mata, na Catedral da Sé, em São Paulo. A partir daí, começou a ir em busca de pessoas que viveram a santidade no Brasil. Ele anotava esses nomes em sua agenda e, aos poucos, essa lista foi crescendo. Fábio, então, descobriu que entre santos, beatos, veneráveis e servos de Deus são 181 homens e mulheres que testemunharam a santidade no Brasil. Desses, 37 já foram canonizados e 14 beatificados. Em julho de 2020, durante uma conversa com a amiga Lívia Miranda de Paulo, 32, surgiu a ideia de fazer algo estruturado, voltado para a promoção dos santos, beatos e daqueles brasileiros cujos processos de beatificação e canonização estavam em andamento. Logo, percebeu-se que as histórias dessas pessoas estavam dispersas e não havia um canal que reunisse todas as informações. À Lívia e ao Fábio somaram-se Renato Adelino de Oliveira, 34, Diego Moreno Gomes, 40, e Anne Caroline Silva Kawagoi Machado, 25. Assim, nasceu o projeto “Brasil Terra de Santos”, que conta com um perfil no Instagram e uma página no Facebook (@brasil.terradesantos) que apresentam as biografias desses santos e pessoas em processo para o reconhecimento da Igreja, orações e reflexões. Há também um canal no YouTube (https://tinyurl.com/ye6f5wld) que apresenta vídeos de entrevistas com postuladores, vice-postuladores e até pessoas que conviveram com esses santos.

Critérios

O critério do levantamento e divulgação do “Brasil Terra de Santos” considera todos aqueles que tiveram a bem-aventurança e santidade reconhecidas oficialmente pela Igreja ou que estão com os processos de beatificação e canonização abertos. Entre esses, estão brasileiros natos, como Santo Antônio de Sant’Anna Galvão e Santa Dulce dos Pobres; estrangeiros que viveram e morreram no Brasil, como Santa Paulina e São José de Anchieta; e aqueles cuja santidade teve alguma relação direta com o Brasil, como é o caso dos 40 jovens jesuítas mortos, mártires, lançados ao mar enquanto viajavam em missão da Europa para o Brasil, em 1570. Outra preocupação do grupo é quanto à fidelidade à biografia oficial dessas pessoas que, muitas vezes, são envoltas em lendas ou relatos de tradição popular que carecem de confirmação histórica. Lívia acrescentou que, de igual modo, há um grande cuidado em relação às graças e milagres atribuídos a esses personagens, que embora só possam ser considerados oficialmente após a verificação e o reconhecimento, que,

assim, aprovam a beatificação ou canonização dos servos de Deus. “Nosso maior objetivo é também destacar a humanidade dessas pessoas e aproximar o público de suas vidas, para que percebam que a santidade é possível a todos”, salientou Fábio, explicando o cuidado do grupo em não dar ênfase aos dons extraordinários relacionados aos santos que, muitas vezes, são propagados como “superpoderes” que ofuscam o fato de que a santidade desses homens e mulheres consiste muito mais na maneira como davam o sentido sobrenatural às coisas mais comuns de suas vidas. “Tentamos mostrar as dúvidas que tiveram, as escolhas que fizeram, a fé que os moveu”, completou.

Imagens: Divulgação/Reprodução

Exemplos a serem seguidos

Nesse sentido, os jovens recordaram que, antes de ser declarado bem-aventurado e santo, o servo de Deus deve ter suas virtudes heroicas reconhecidas, tornando-se, assim, venerável. Em outras palavras, a santidade passa necessariamente pelo testemunho da vivência da fé, esperança e caridade de maneira heroica. “Hoje em dia, parece que os santos são vistos como super-heróis, com superdons e milagres que os fazem inalcançáveis. Nós buscamos fazer com que os brasileiros se identifiquem e até se reconheçam nessas pessoas que viveram a santidade, e se sintam chamados a serem santos nos lugares ondem vivem”, afirmou Gomes. Um exemplo pouco conhecido é o da Venerável Irmã Serafina Cinque (19131988), religiosa que viveu o testemunho da caridade e da misericórdia especialmente das gestantes e refugiados impactados pelas obras da rodovia Transamazônica, na região de Altamira (PA). “Quando publicamos o vídeo sobre a Irmã Serafina, recebemos um comentário de uma pessoa que escreveu: ‘Moro em Corari (AM) e soube que ela passou um tempo aqui. É muito bom saber que até aqui no Amazonas podemos ser santos’”, contou Anne, confirmando o propósito que dá nome ao projeto “Brasil Terra de Santos”.

História de um povo

Ao entrar no perfil do projeto no Instagram, é possível ver um verdadeiro mosaico de diferentes rostos que expressam a santidade vivida na diversidade própria do povo brasileiro. “Nós podemos estudar a história do Brasil, mas, quando temos contato com essas histórias, nós relemos a história do País de forma completamente diferente”, enfatizou Fábio, acrescentando que, quando os acontecimentos e diferentes períodos da sociedade brasileira são vistos a partir da perspectiva daqueles que viveram a santidade nessas diferentes épocas, contextos e estados de vida, tudo ganha um novo sentido. “O Brasil é terra de santos porque esses santos ajudaram a escrever a história do nosso povo. Diante deles, somos chamados a nos perguntar o que podemos fazer concretamente no lugar onde vivemos e contribuir para tornar o nosso País e o mundo melhores”, completou o jovem.

São José de Anchieta (1534-1597)

Sacerdote jesuíta espanhol, considerado o Apóstolo do Brasil, fundador de várias cidades, entre as quais São Paulo.

Santa Dulce dos Pobres (1914-1992)

Santo André de Soveral e companheiros (1645)

O ‘Anjo bom da Bahia’ andava por Salvador (BA) em busca de doações para os menos favorecidos e conseguiu que fossem construídos um albergue e um hospital.

Serva de Deus Maria de Lourdes Fontão (1931-1988)

Beata Albertina Berkenbrock (1919-1931)

Protomártires do Brasil – 25 homens e cinco mulheres mortos em Cunhaú e Uruaçu (RN).

Leiga que se dedicou à catequese, oração e atividade pastoral em São José do Rio Pardo (SP).

Adolescente martirizada em Imaruí (SC) em defesa de sua pureza durante uma tentativa de estupro.


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Imagens: Divulgação/Reprodução

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Beatos Manuel Gomez Gonzalez (1877-1924) e Adílio Daronch (1908-1924)

Sacerdote e coroinha martirizados em Nonoai (RS).

Santa Paulina (1865-1942)

Religiosa italiana que viveu em São Paulo e foi fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

Beata Assunta Marchetti (1871-1948)

Religiosa nascida na Itália, da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, que se dedicou ao cuidado dos órfãos, pobres e migrantes em São Paulo.

Servo de Deus João Pozzobon (1904-1985)

Servo de Deus Franz de Castro Holzwarth (1942-1981)

Beato Mariano de La Mata Aparício (1905-1983)

Leigo e advogado atuante na Pastoral Carcerária. Foi morto enquanto mediava uma rebelião em São José dos Campos (SP).

Diácono Permanente propagador da devoção à Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt, em Santa Maria (RS).

Beato Francisco de Paula Victor (1827-1905)

Foi escravizado e, depois, tornou-se sacerdote, com uma vida marcada pelo zelo apostólico e a cura das almas em Três Pontas (MG), para onde acorriam fiéis de todo o País.

Sacerdote agostiniano espanhol que dedicou boa parte de sua vida ao pastoreio dos fiéis em São Paulo.

Servo de Deus Sepé Tiaraju (1723-1756)

Leigo indígena que viveu em São Gabriel (RS), é considerado o “herói guarani missioneiro” dos Sete Povos das Missões, foi morto durante a chamada “Guerra Guaranítica”.

Venerável Serafina Cinque (1913-1988)

Religiosa que dedicou a vida ao socorro material e espiritual de gestantes e refugiados na região da rodovia Transamazônica, em Altamira (PA).

Beata Francisca de Paula de Jesus - Nhá Chica (1808-1895)

Leiga, neta de escravos, reconhecida por seu testemunho de fé, esperança e caridade, além de profunda devoção a Nossa Senhora, na cidade Baependi (MG).


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ANTONINHO DA ROCHA MARMO

O menino que queria ser padre, testemunhou o amor a Deus e ao próximo meninoantoninho.org.br

Daniel Gomes

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Uma das primeiras lembranças da infância do advogado Alfredo Camargo Penteado Neto, hoje com 82 anos, é a da foto de um menino ao lado da cabeceira de sua cama. “Minha mãe sempre dizia: ‘Este é o seu protetor. Ele vai acompanhá-lo por toda a vida. Em tudo que você tiver dificuldade, fale com ele’.” O garoto da foto era Antoninho da Rocha Marmo, paulistano nascido em 19 de outubro de 1918 e que morreu em 21 de dezembro de 1930, aos 12 anos, vítima de tuberculose. Desde então, tornou-se comum a ida de pessoas a seu túmulo no Cemitério da Consolação para que intercedesse a Deus para a obtenção de graças. “As pessoas diziam: ‘Sou devota dele, ele fez um milagre pra mim’. Por muito tempo, não havia qualquer informação sobre o Antoninho. E isso me incomodava, bem como as informações distorcidas. Por isso, pensei em construir um memorial, que conseguimos inaugurar em 28 de fevereiro de 2016 em São José dos Campos”, comentou doutor Camargo, como é mais conhecido. No dia 19 deste mês, os restos mortais de Antoninho foram transladados para a Capela de Nossa Senhora da Saúde, que fica ao lado do memorial, ambos nas dependências do Hospital Antoninho da Rocha Marmo, idealizado pelo próprio garoto antes de morrer. O tecido que revestiu seus restos mortais permanece no Cemitério da Consolação.

A fama de santidade

Acometido pela tuberculose aos 9 anos de idade, Antoninho passou a viver em São José dos Campos (SP), onde as condições climáticas eram mais favoráveis para sua condição de saúde. Com o tempo, uma brincadeira recorrente de Antoninho começou a chamar a atenção das pessoas. “Ele gostava de brincar de celebrar missa. Para ele, era um ato tão importante, um momento de louvor a Deus. Adultos e crianças participavam. Antoninho também dava catequese. Tudo chegou ao conhecimento do primeiro Bispo de Taubaté (SP), Dom Epaminondas Nunes d’Ávila e Silva, por meio do Vigário de São José, o Monsenhor Ascânio Brandão. Ao saber da piedade do menino, Dom Epaminondas lhe deu de presente alguns paramentos e objetos litúrgicos para a missa”, recordou ao O SÃO PAULO a Irmã Alessandra Nogueira, da Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, administradora do hospital. “Os sacerdotes que conviveram com o Antoninho tinham por ele especial consideração e admiravam muito aquela criança discorrendo sobre assuntos religiosos com tanta proficiência. E tem um detalhe: ele não sabia ler nem escrever”, afirmou Camargo.

ORAÇÃO

Ó Deus, ouvi as nossas preces em favor da glorificação do Vosso servo Antônio da Rocha Marmo, que em tenra idade já soube trilhar os caminhos da virtude e neles introduzir seus amiguinhos. Dai-nos a graça de viver cristãmente, a fim de que um dia possamos cantar no céu os Vossos louvores, depois de haver-Vos honrado na terra com a prática dos vossos mandamentos. Ó Senhor, abençoai todas as crianças, especialmente as enfermas. Amém!

atenção aos amiguinhos enfermos

Ao observar a realidade de outras crianças com tuberculose que iam à cidade em busca de tratamento, mas que não podiam fazê-lo devido à falta de recursos financeiros, Antoninho pediu à família que viabilizasse a construção de um hospital também para elas. “O próprio Antoninho mostrou o terreno onde seriam construídos o hospital e uma Capela de Nossa Senhora da Saúde, de quem ele era devoto”, recordou Irmã Alessandra. Após a morte de Antoninho, sua família e benfeitores iniciaram as obras do hospital, que seria inaugurado em 13 de dezembro de 1952 e que está confiado à Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, fundada em 1936 por Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico – Dulce Rodrigues dos Santos (19011972), que chegou a São José dos Campos aos 21 anos, com tuberculose, e conseguiu se curar da doença. O processo de beatificação e canonização da Madre também está em curso. “Antoninho e a Madre não se conheceram fisicamente, mas ambos se preocupa-

vam com os doentes, amavam a Eucaristia e Nossa Senhora. Mesmo sem nos conhecer, Antoninho bebeu muito do espírito da nossa Congregação e nós assumimos a missão dele, especialmente aqui no hospital”, comentou Irmã Alessandra.

Modelo de cristão

Camargo destacou que o menino jamais demonstrou tristeza ou revolta diante do sofrimento gerado pela tuberculose: “Ao contrário, ele estava sempre preocupado com os outros, especialmente com aqueles que sofriam o mesmo mal, e para os quais tinha sempre uma palavra de conforto, de fé e de esperança”. Irmã Alessandra ressaltou que Antoninho “viveu as virtudes cristãs em sua intensidade, mesmo em meio ao sofrimento da doença. Ele amava a Deus e tinha muita caridade em seu coração”. Para a religiosa, o menino é um modelo de cristão e serve de exemplo para os que querem educar os filhos na fé. “Ele viveu em uma família unida, feliz e católica. Também hoje, os pais devem ensinar as crianças a rezar, favorecer que participem da missa e de orações comunitárias, quando chegar a idade colocá-las na Catequese e, sobretudo, dar Assessoria de imprensa do Hospital Antoninho da Rocha Marmo

Restos mortais de Antoninho chegam à capela do hospital por ele idealizado em São José dos Campos

o exemplo, participar com elas e viver todas as virtudes cristãs”, complementou.

Processo de canonização

O processo de beatificação e canonização de Antoninho da Rocha Marmo foi acolhido pela Igreja em 2007. A fase diocesana, na qual houve a catalogação de provas testemunhais, documentais e materiais foi concluída em 2011. Atualmente, está em análise na Congregação para as Causas dos Santos, para a elaboração da “Positio”, fase cujo principal objetivo é avaliar as virtudes do Servo de Deus e de sua fama de santidade. O advogado Alfredo Camargo Penteado Neto é o autor do processo, que foi redigido com base nos objetos e relatos que obteve especialmente com uma sobrinha de Antoninho. Outros materiais de referência foram um trabalho publicado em 1937 pelo Padre Olegário da Silva Barata, que conheceu pessoalmente o garoto; e uma dissertação de mestrado de Marília Schneider, judia, publicada em 2001: “Memória e história de Antoninho Marmo: Misticismo, Santidade e Milagre em São Paulo”.

Memorial

O Memorial de Antoninho da Rocha Marmo, em São José dos Campos, abriga itens que pertenceram ao menino, como uma estola, pala, chave do quarto em que viveu, Terço, ostensório e castiçal. Há, ainda, objetos doados por parentes de Antoninho, como um quadro de Nossa Senhora da Saúde e toalhas de altar utilizadas por ele quando brincava de celebrar missa. Também pode ser vista a roupa com a qual ele foi batizado, painéis fotográficos, documentos históricos, documentos da abertura do processo de canonização, livros e até um filme sobre a história do Servo de Deus. As visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Aos fins de semana é necessário agendar a visitação pelo telefone (12) 3797-0777. Irmã Alessandra ressalta que tem havido o cuidado para que a veneração a este Servo de Deus não se transforme em misticismo. “Sempre procuramos lembrar que Antoninho é candidato a santo, alguém capaz de interceder a Deus por nós. Assim, não é ao menino Antoninho que nós vamos glorificar. Exaltamos a Deus, que é o princípio e fim de tudo. Queremos, sim, seguir as virtudes deste menino. A canonização é um reconhecimento de que a pessoa está no céu. Em nosso coração, já sabemos que ele viveu todas as virtudes, viveu a vontade de Deus e ajudou a todos com caridade. Antoninho é a criança que vai nos ajudar a trilhar o caminho de Deus. Os santos nos motivam a viver para a santidade”, explicou. Relatos de graças alcançadas pela intercessão de Antoninho podem ser enviados por meio de um formulário de contato no site https://meninoantoninho.org.br.


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Reportagem | 15

Vocacionados aprofundam discernimento sobre o chamado de Deus ao sacerdócio Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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A Pastoral das Vocações da Arquidiocese de São Paulo realizou no sábado, 23, mais um encontro da série de atividades de acompanhamento e animação de jovens vocacionados ao sacerdócio. A atividade aconteceu no Seminário de Filosofia Santo Cura’Ars, na Freguesia do Ó. Este ano, cada encontro tem abordado uma das várias dimensões da formação presbiteral – espiritual, intelectual, humana, pastoral e missionária. Cada um desses âmbitos está sendo apresentado por um dos bispos auxiliares da Arquidiocese nas respectivas regiões episcopais pelas quais são responsáveis. O encontro do sábado tratou da dimensão missionária do sacerdócio, tema conduzido por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, com o auxílio do Padre Silvio Costa Oliveira, Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Retiro, no Setor Pastoral Pereira Barreto. O Bispo compartilhou sua experiência missionária de dez anos como frade capuchinho no norte do México e enfatizou que a missionariedade não se restringe às ações evangelizadoras além-fronteiras, mas, no caso dos padres diocesanos, acontece concretamente no âmbito da pastoral nas paróquias, lugar em que realizam a sua vocação. Dom Carlos destacou aos vocacionados que para responder ao chamado de Deus duas coisas são essenciais: a compreensão de que toda opção ou projeto de vida necessariamente exige

Jovens vocacionados da Arquidiocese de São Paulo participam de encontro de acompanhamento e animação no Seminário de Filosofia, dia 23

renúncias e a felicidade de uma vocação que não é alcançada sem a fidelidade.

Animação

Este ano, a Pastoral das Vocações acompanha 27 rapazes. No fim do ano, será feita avaliação a fim de verificar quais estão aptos para ingressar no Seminário Propedêutico, a primeira etapa da formação, ou se ainda será necessário mais um ano de acompanhamento. Além do acompanhamento dos vocacionados, a Pastoral das Vocações também realiza o trabalho de animação e despertar vocacional nas paróquias e comunidades da Arquidiocese. Todos os domingos, Padre José Carlos dos Anjos, Coordenador Arquidiocesano da Pastoral das Vocações, visita uma paróquia, onde celebra e exorta os fiéis sobre a importância de rezar pelas vocações e promovê-las. Nesse sentido, a Pastoral tem incentivado a criação das equipes vocacionais paroquiais, com o objetivo de promover na comunidade uma verdadeira “cultura vocacional” que abranja toda a dinâmica da vida eclesial.

O Coordenador também enfatizou o papel fundamental de cada sacerdote no despertar vocacional dos jovens, a começar pelo testemunho de uma vocação bem vivida, falando-lhes diretamente sobre o assunto, ajudando-os a compreender a própria vida na perspectiva do chamado de Deus.

Chamado

Aos 21 anos, Douglas Marques de Oliveira está concluindo a faculdade de Administração de Empresas e começou a frequentar os encontros vocacionais no início deste ano. A primeira vez que ele se sentiu provocado a refletir sobre a vocação sacerdotal foi após um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento na Paróquia Santa Cristina, no Parque Bristol, na zona Sul da capital, em 2020. “Em seguida, fui conversar com meu pároco e ele me perguntou: ‘Você pensa em ser padre?’. Essa pergunta me inquietou muito”, relatou o jovem, afirmando que, se for da vontade de Deus, ele está disposto a dar um “sim” de todo o coração.

O professor de Biologia Jonathan de Oliveira Campos, 28, participa há 14 na Paróquia Santa Paulina, na Cidade Heliópolis, na zona Sul, como músico nas celebrações. Ele relatou que sempre observou o trabalho realizado pelos sacerdotes que atuaram na comunidade, um testemunho que chamava sua atenção. Aos poucos, o desejo de ser padre foi crescendo em seu coração. “Esses encontros vocacionais são fundamentais para compreendermos melhor o significado da vocação ao ouvir os diferentes bispos e conhecer as diferentes dimensões do sacerdócio”, destacou. Eliel Martins Barbosa, 22, sentiu o chamado para o sacerdócio pela primeira vez há dois anos, na Paróquia Santo Antônio, na Vila Mazzei, na zona Norte. Desde então, começou a ser acompanhado por seu pároco. “Essa não pode ser uma decisão tomada aleatoriamente. É preciso muito discernimento, oração e renúncia”, afirmou o jovem, que interrompeu a faculdade de Direito e deixou seu emprego na Força Aérea Brasileira para seguir o chamado ao sacerdócio.

Os primeiros passos dos seminaristas No Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção, na Vila Nova Cachoeirinha, são 15 os seminaristas que se prepararam para ingressar no Seminário de Filosofia, a segunda etapa da formação sacerdotal na Arquidiocese de São Paulo. O Reitor do Propedêutico, Padre José Adeildo Machado, explicou à reportagem que essa primeira fase tem como referência a “iniciação à vida cristã” dos futuros padres. “Somente um bom cristão pode vir a ser um bom padre, ou seja, a vida cristã é a terra prometida para a formação do homem de Deus, sem a qual não há configu-

ração a Cristo. No entanto, no âmbito desse objetivo maior, temos outros elementos que corroboram essa busca, a saber: vida fraterna, trabalho em equipe, vida de oração, convivência, esportes, lazer, estudos, contato com as famílias dos seminaristas, partilha com os padres da pastoral, dinâmica arquidiocesana, entre outras oportunidades”, salientou o formador. O propedeuta Gabriel dos Santos Lima, 21, considera importante neste primeiro ano de vivência no seminário a experiência da vida comunitária, uma vez que tem a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes personalidades e espiritualidades.

Para Gil Pierre de Toledo Herck, 26, um dos principais aprendizados deste ano formativo foi uma compreensão maior de sua “radical dependência de Deus”. “Todos conhecemos aquele ‘Sem mim nada podeis fazer’, mas uma coisa é enxergar esta ideia na teoria, e outra, bem diferente, é ir percebendo como, em nossa vida prática, somos completamente incapazes de atingir o bem, se apoiados apenas em nossas próprias forças. Se entendemos isso e nos lançamos em Deus, descobrimos novas e insuspeitadas forças: ‘Quando sou fraco, então é que sou forte’”, afirmou o jovem, que, para ingressar no seminário, renunciou

à carreira de advogado especialista em Direito Tributário. David Feliz da Silva, 32, já era consagrado na Associação Católica Aliança de Cristo Rei. Contudo, sentia o forte chamado para a vocação sacerdotal e ingressou no Propedêutico. Ele sublinhou que a vida no seminário é fundamental para ordenar a rotina diária em vista do desenvolvimento humano integral. “Eu já tinha uma vida comunitária. Assim, meu foco foi a vida de oração e de estudos”, afirmou o vocacionado, que considera as atividades do seminário como essenciais para o amadurecimento e a confirmação de sua vocação. (FG)


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Abertas as comemorações do bicentenário da morte de Frei Galvão Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Na segunda-feira, 25, foi celebrada a memória de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o Frade Franciscano que se tornou o primeiro santo brasileiro. Este ano, também começam as comemorações do bicentenário de sua morte. As atividades que se seguirão até 23 de dezembro de 2022 envolverão a Arquidiocese de São Paulo, na qual Frei Galvão viveu boa parte de seu ministério e está sepultado, a Arquidiocese de Aparecida (SP), em cujo território está sua cidade natal, Guaratinguetá, e a Ordem dos Frades Menores, na qual o Santo brasileiro consagrou sua vida. O bicentenário foi aberto com uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, na Catedral da Sé, no domingo, 24. “Queremos comemorar o bicentenário de sua morte e dele aprender novamente as lições que deixou, seus ensinamentos, exemplo e testemunho, que é muito atual”, afirmou Dom Odilo, durante a celebração.

Brasileiro

Entre os fiéis presentes na Catedral, estava o historiador, cineasta e produtor cultural Malcolm Forest, um dos articuladores das iniciativas do bicentenário. Devoto e pesquisador da vida de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, ele produziu e dirigiu o filme documentário “Frei Galvão, o Arquiteto da Luz”, lançado em 2013, no qual também atuou como ator. Ele é, ainda, autor da canção “Meu Querido Frei Galvão”. Para o cineasta, as comemorações do bicentenário de morte de Frei Galvão serão uma oportunidade de tornar o Santo mais conhecido pelos brasileiros, não apenas como alguém a quem os fiéis buscam a intercessão por graças e milagres, mas também como exemplo de um homem que viveu heroicamente as virtudes cristãs, trabalhou ardorosamente pela evangelização, foi uma grande testemunha da caridade e deixou um legado valioso para a Igreja no Brasil. A programação do bicentenário, cujos detalhes serão divulgados em breve, prevê celebrações nos locais emblemáticos da vida de Frei Galvão, procissões, eventos culturais, lives, podcasts, um ciclo de palestras, homenagens cívicas e outras iniciativas.

Biografia

Nascido em Guaratinguetá (SP), em 1739, Frei Galvão cresceu em um ambiente profundamente religioso. Aos 13 anos, foi enviado para estudar no Seminário da Companhia de Jesus na cidade de Belém de Cachoeira (BA). Aos 21 anos, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, fez a profissão solene dos votos religiosos, sendo ordenado sacerdote em 11 de julho de 1762. Depois de ordenado, Frei Galvão foi enviado para o Convento de São Francisco, em São Paulo, para aperfeiçoar os estudos e praticar o apostolado. E foi no apostolado que o Franciscano começou a se destacar por suas virtudes e empenho pastoral, em um período em que a liberdade religiosa era muito ameaçada pela realeza.

Arquiteto da Luz

Designado confessor do Recolhimento Santa Teresa, em 1770, o Franciscano conheceu a

Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para mulheres viverem de maneira comunitária, dedicando-se à oração, sem, no entanto, professarem os votos religiosos, uma vez que o Marquês de Pombal não permitia a fundação de casas religiosas. Em 2 de fevereiro de 1774, Frei Galvão fundou um Recolhimento, dedicando-o a Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Esse Recolhimento se tornou um mosteiro apenas em 1929, sendo incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas). Durante 14 anos, o Franciscano se empenhou pessoalmente na ampliação das instalações do Recolhimento, cujas vocações não paravam de crescer. Por outros 14 anos, dedicou-se à construção da igreja, inaugurada em 1802. Foi no Recolhimento da Luz que Frei Galvão passou os últimos anos de sua vida, depois de obter autorização de seus superiores, por não ter mais forças físicas para se deslocar diariamente para atender as religiosas. Ele passou a morar em um cômodo no fundo da igreja, atrás do sacrário, até sua morte, em 23 de dezembro de 1822.

Defensor da Imaculada

Como bom Franciscano, Frei Galvão era grande devoto de Nossa Senhora e propagador de sua Imaculada Conceição, que ainda não havia sido proclamada como dogma de fé, mas por séculos era difundida pelos frades. Defensor da virgindade da Mãe de Jesus antes, durante e depois do parto, Frei Galvão difundiu essa convicção especialmente nas famosas pílulas confeccionadas e distribuídas pelas monjas do Mosteiro da Luz. Certo dia, Frei Galvão foi procurado por um senhor aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de morte. O Frade escreveu em três papeizinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem – Pos partum Virgo, Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós) – e entregou ao homem. Após a esposa dele ingerir as pílulas, o parto ocorreu normalmente. Um jovem que sentia fortes dores provocadas por cálculos na vesícula também relatou ter sido curado após ingerir as pílulas.

Beatificação

Com a aprovação de Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo, em 1938, foi aberto o processo de beatificação de Frei Galvão. Ao todo, o processo levou 50 anos para ser concluído e reuniu inúmeros documentos, depoimentos e milhares de relatos de graças alcançadas por sua intercessão. Entre as testemunhas que depuseram


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levar a termo qualquer gravidez. Em maio de 1999, ela ficou novamente grávida e sabia dos riscos de ter uma hemorragia e morrer. Apesar do prognóstico médico ser de provável interrupção da gravidez ou de que esta chegasse, no máximo, ao quinto mês, a gestação evoluiu normalmente até a 32ª semana. O parto ocorreu sem complicações no dia 11 de dezembro de 1999. “A criança nasceu pesando 1.995g e medindo 42cm, mas apresentou problemas respiratórios com uma doença das membranas hialinas classificada de 4º grau, o mais grave. Foi entubada, porém, teve um quadro de evolução muito rápido, sendo extubada no dia 12, à tarde. Recebeu alta hospitalar no dia 19 de dezembro de 1999”, relatou Irmã Célia Cadorin, em um documento que compõe o processo de canonização. Realizado o processo diocesano, os peritos médicos da Congregação para as Causas dos Santos aprovaram, por unanimidade, o fato como “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”.

Vatican Media - mai.2001

no primeiro inquérito, de 1938, havia uma ex-escrava: Lucrécia Cananeia de Deus, já muito idosa, que conheceu o Frade em 1822. Nesse depoimento, a idosa relatou suas recordações de quando, ainda criança, acompanhava a mãe e sua senhora às missas no Mosteiro da Luz. Ela lembrou que Frei Galvão tocava o sino da igreja e, depois, ficava na entrada para receber os fiéis. Segundo Lucrécia, ele era alto, risonho e seu carisma cativava as pessoas.

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Milagre

Em 1991, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, nomeou a Irmã Célia Cadorin (1927-2017) para retomar o processo. Ainda era necessário o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão de Frei Galvão para que fosse declarado bem-aventurado. O milagre que determinou a beatificação de Frei Galvão aconteceu em 1990, na Vila Brasilândia, zona Noroeste de São Paulo, com a menina Daniela Cristina da Silva, que aos 4 anos de idade teve complicações broncopulmonares e crises convulsivas. Foi então internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, com diagnóstico de encefalopatia hepática por consequência da hepatite causada pelo vírus A, insuficiência hepática grave, insuficiência renal aguda, intoxicação por causa de metocloropramida e hipertensão. Esses sintomas a levaram a uma parada cardiorrespiratória e outras complicações graves. Após 13 dias na UTI, os familiares, amigos, vizinhos e religiosas do Mosteiro da Luz rezaram e deram à menina as pílulas de Frei Galvão. Em 13 de junho de 1990, a menina Daniela deixou a UTI e, em 21 de junho, teve alta do hospital, considerada curada. O pediatra que a acompanhou atestou perante o Tribunal Eclesiástico: “Atribuo à intervenção divina não só a cura da doença, mas a recuperação total dela”.

Testemunhas

Canonização Frei Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 11 de maio de 2007, em uma missa celebrada no Campo de Marte, em São Paulo, durante a visita do Pontífice ao Brasil. A canonização aconteceu após o reconhecimento de um segundo milagre atribuído à intercessão do Frade brasileiro. Tratava-se do caso de Sandra Grossi de Almeida e de seu filho, Enzo de Almeida Gallafassi, ocorrido em 1999, também em São Paulo. Sandra já havia sofrido três abortos espontâneos, devido à malformação do seu útero, que tornara impossível

Sandra e o filho participaram da celebração de canonização. Naquela ocasião, Enzo, então com 7 anos, fez sua primeira Comunhão nas mãos do Papa Bento XVI. Na homilia dessa celebração, o Pontífice afirmou que a fama da sua imensa caridade não tinha limites. “Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão, que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda... Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir nos deixou Frei Galvão!”, disse o Pontífice, definindo-o como uma “alma apaixonada”, cujo testemunho deveria despertar em todos aqueles que o conhecem desejos de fidelidade a Deus.

Dias de festa no Mosteiro da Luz pelo padroeiro, Frei Galvão REDAÇÃO

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A Igreja Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, no Mosteiro da Luz, bairro da Luz, esteve em festa entre os dias 2 e 25 de outubro, celebrando o Padroeiro. No dia de encerramento aconteceram seis missas: às 7h, 9h, 11h, 13h, 16h e 19h. A celebração das 16h foi presidida pelo Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e con-

celebrada pelo Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Capelão do Mosteiro da Luz, e com a assistência dos Diáconos Seminaristas Álvaro Moreira Gonçalves e Claudinei Venâncio da Silva, e do Diácono Permanente João Carlos Fornari. Na homilia, Dom Odilo reforçou as virtudes do Santo, tais como a santidade, a religiosidade, a simplicidade e a pobreza, vivendo uma vida missionária e que, apesar de tantos anos após sua morte, ainda hoje tem grande significado, pois ensina o caminho da santidade que Luciney Martins/O SÃO PAULO

é o de se aproximar de Deus e fazer a Sua vontade. O Cardeal também ressaltou que “a santidade é missão de todos nós, é Deus que faz o milagre. O que faz o santo não é o milagre, mas, sim, a sua comunhão com Deus”. Frei Galvão sabia ouvir as pessoas, uma virtude fundamental válida ainda hoje. Sabia aconselhar, orientar, direcionar ao caminho de Cristo. Era um pacificador, um reconciliador, promovia a reconciliação, a concórdia e a paz. Em todos os dias, houve a distribuição das pílulas de Frei Galvão, confeccionadas pelas Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição. É tradição que sejam distribuídas gratuitamente às pessoas que têm confiança na intercessão de Frei Galvão. (Com informações do Centro Pastoral da Região Sé)

Cardeal Odilo Pedro Scherer durante missa na memória litúrgica do santo, na segunda-feira, dia 25, no Mosteiro da Luz


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Dom Luiz Carlos Dias assumirá a Diocese de São Carlos (SP) em 18 de dezembro Sydnei Prado/Assessoria da Diocese de São Carlos

REDAÇÃO

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A Diocese de São Carlos (SP) já se prepara para receber o 8º bispo de sua história: Dom Luiz Carlos Dias, 57, que no dia 20 foi nomeado para esta Igreja particular pelo Papa Francisco, transferindo-o, assim, do ofício de Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, na qual desde maio de 2016 atua como Vigário Episcopal para a Região Belém. A posse canônica de Dom Luiz Carlos Dias está marcada para 18 de dezembro, às 10h, na Catedral de São Carlos Borromeu (Praça Dom José Marcondes Homem de Melo, em São Carlos). A Diocese estava vacante desde 21 de outubro de 2020, quando Dom Paulo Cezar Costa foi nomeado Arcebispo de Brasília (DF).

Expectativas e gratidão

Em mensagem à Diocese de São Carlos, Dom Luiz Carlos manifestou sua gratidão a Deus pelo dom do episcopado e ao Papa Francisco pela confiança. Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Bispo disse acolher com alegria a nomeação para esta Diocese centenária e de grande dinamismo pastoral, apesar do

Dom Luiz Carlos visita a sede da cúria da Diocese de São Carlos (SP), na segunda-feira, 25

receio de encontrar uma realidade nova. “Cristo me chama, me envia e vou inspirado na nossa Mãe Santíssima, no sim dela que permitiu a obra da redenção, a encarnação do Verbo e a redenção do gênero humano. Vou olhando para Jesus e minha resposta é na fé, acreditando no auxílio da graça de Deus”, ressaltou. Em carta dirigida à Arquidiocese de São Paulo, Dom Luiz Carlos agradeceu o período em que atuou como Bispo Auxiliar: “Ao aproximar o final deste período, saio enriquecido por ter recebido bem mais do que ofereci”.

Nascido em Caconde (SP), Dom Luiz Carlos relatou à reportagem o desafio de se adaptar à realidade da grande metrópole, mas que, ao mesmo tempo, foi um período enriquecedor pela vivência com os demais bispos auxiliares e o Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, e pela atuação na Região Episcopal Belém: “Tive contato com um ambiente de contrastes, com uma Igreja dinâmica e na Região encontrei um dinamismo pastoral e evangelizador muito grande, uma maneira de ser Igreja que me ajudou a rever muito dos meus conceitos e

me enriqueceu do ponto de vista eclesiológico”, afirmou. Em mensagem a Dom Luiz Carlos, o Cardeal Scherer agradeceu-lhe o empenho na Arquidiocese: “Os primeiros cinco anos do seu episcopado, exercidos em nossa Arquidiocese, deixaram um sinal de seu pastoreio, sobretudo na Região Episcopal Belém, mas também no exercício do cargo de Secretário-Geral do Regional Sul 1 da CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil], cargo que continua a exercer. Sentiremos sua falta em São Paulo, mas a Diocese de São Carlos recebe um grande pastor”, escreveu Dom Odilo.

A Diocese

A Diocese de São Carlos do Pinhal foi criada em 7 de junho de 1908 pelo Papa Pio X, por meio da bula Diocesium nimiam amplitudinem. A área de abrangência da Diocese engloba 29 municípios paulistas, com uma população estimada de 1,2 milhão de pessoas. É composta por 129 paróquias e conta com 170 padres diocesanos – além de sacerdotes das congregações Passionistas, Redentoristas, Salesianos e Premonstratenses – 57 diáconos permanentes, seis diáconos transitórios e 43 seminaristas.

Conselho Permanente da CNBB define formato da assembleia de 2022 Entre os dias 20 e 21, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB) esteve reunido de modo on-line. Participaram membros da presidência da Conferência, bispos referenciais das comissões episcopais pastorais, representantes dos conselhos episcopais regionais e de pastorais e organismos. Alguns dos temas abordados foram o formato da 59ª Assembleia Geral da CNBB, análises de conjuntura social e eclesial e a preocupação com as eleições de 2022. Na abertura dos trabalhos, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, anunciou que, a partir do fim deste mês irá visitar as dioceses, especialmente para entregar o pálio aos novos arcebispos. Na análise de conjuntura social, destacaram-se as diferentes crises no País – econômica, política, hídrica, ambiental e de violação de direitos. Já sobre a conjuntura

eclesial, o ressalte foi sobre o tema da Animação Bíblica da Pastoral. Houve menções positivas às muitas iniciativas de formação bíblica existentes e que podem ser potencializadas com o uso das novas mídias e tecnologias. Também se incentivou o compartilhamento das boas experiências de cada uma das regiões do País. Ao longo da reunião também se definiu o formato da 59ª Assembleia Geral da CNBB, que em 2022 será realizada em duas etapas: a primeira, totalmente virtual, entre os dias 25 e 29 de abril, com a discussão de assuntos de estudo, comunicações, análises de conjuntura e os temas que não exigem votações presenciais; a segunda etapa, de 29 de agosto a 2 de setembro, de modo presencial, quando serão priorizados os assuntos como a aprovação do novo estatuto da CNBB. Sobre o processo eleitoral de 2022, Dom Walmor Oli-

veira de Azevedo, Presidente da CNBB, propôs ao Conselho Permanente o levantamento de sugestões, com vistas a amadurecer a atuação da entidade no contexto das eleições. Os membros do Conselho Permanente levantaram as seguintes sugestões: não aceitar o proselitismo nas missas; produzir materiais formativos sobre as eleições; identificar candidaturas/mandatos populares e coletivos para apoio; viabilizar uma formação às candidaturas do campo popular em parceria com a PUC-Minas; colaborar para identificar e prevenir a disseminação de notícias falsas; cuidar para que os temas da defesa da vida não sejam apropriados de forma ideológica e partidária; fortalecer as escolas de Fé e Política; e avançar em diálogos com organizações sociais em busca da “melhor política”, expressa na Fratelli tutti, e na defesa da Casa Comum, expresso na Laudato si’. Fonte: CNBB

Semana de Direito Canônico destaca a reforma da legislação penal da Igreja Fernando Geronazzo

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A Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo promove entre os dias 26 e 28 de outubro a 18ª Semana de Direito Canônico. Realizada na modalidade on-line, devido às restrições da pandemia, a atividade acadêmica tem como tema a reforma do Livro VI do Código de Direito Canônico, referente às sanções penais da Igreja, promulgadas pelo Papa Francisco em 23 de maio. “A Igreja é misericordiosa, mas também precisa ser justa e administrar a justiça

e o bem comum. Onde existe organização, existem leis para o melhor cumprimento da sua missão. Quem infringe a lei e, portanto, comete delitos e crimes, recebe a sanção ou pena correspondente”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grão-Chanceler da Faculdade, na abertura do evento.

Prevenção

A primeira conferência foi realizada pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, que fez uma reflexão sobre a importância da prevenção associada à legislação penal. “A prevenção

do crime é uma atividade muito exigente, destinada a intervir nas causas de eventos desordenados e ilegais, para reduzir os riscos envolvidos e/ou a gravidade potencial de suas consequências”, afirmou. Dom Giambattista acrescentou que, assim o Código de Direito Canônico prevê a habilidade de agir eficazmente, “não menos habilidade e sagacidade são necessárias para uma estratégia preventiva eficaz, uma coordenação de ações que funcionam”. “Essa estratégia deve ser implementada com extrema urgência, porque é muito mais eficaz em termos de custos em geral: economia da salvação e salvação da economia”,

completou o Núncio, em referência à suprema lei da Igreja expressa no Código de Direito Canônico, que é a salvação das almas. A programação do evento também conta com conferências de Dom José Francisco Falcão de Barros, Bispo Auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil; Dom Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru, Secretário do Pontifício Conselho para a Interpretação dos Textos Legislativos; Dom Sérgio de Deus Borges, Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu (PR); e Padre Dr. Damián Guillermo Astigueta, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Reportagem | 19

Realizada em meio à atual pandemia, reforma da Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários proporciona a renovação da comunidade de fiéis e revela surpresas, como a descoberta de um trilho em uma das paredes do templo Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Após mais de 12 meses de reforma, a matriz da Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, na Mooca, está reaberta. “A Paróquia estava juntando dinheiro havia muitos anos para fazer essa reforma. Ela precisava passar por uma reforma bem estruturada para atender às novas necessidades de internet, proteção e luminosidade. A vinda da pandemia acelerou esse processo”, explicou Padre Lorenzo Nacheli, Pároco, que contribuiu com a idealização do novo projeto estético e pastoral da igreja. A reinauguração ocorreu na Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 deste mês. Na ocasião, também houve uma procissão iniciada no Arsenal da Esperança, casa que acolhe irmãos em situação de rua e fica a cerca de 300 metros da comunidade, onde foram realizadas as missas da Paróquia ao longo desse período. Apesar da reabertura, a reforma ainda prossegue.

História

Fundada em 4 de abril de 1975, a Paróquia tem como origem a devoção dos ferroviários a Nossa Senhora. Ela está localizada na Mooca, na divisa com o Brás, ambos antigos bairros operários da cidade de São Paulo. Trabalhadores da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil atribuíram à Padroeira a proteção recebida durante o período da chamada Revolta Paulista de

Ira Romão/O SÃO PAULO

Nos trilhos da devoção a Nossa Senhora Aparecida

Pascom paroquial

Missa de reabertura da Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, realizada no dia 12; sacrário é sustentado por um antigo trilho

1924, da qual se desdobrou a Revolução Constitucionalista de 1932. Na época, o telhado de uma das oficinas em que os ferroviários trabalhavam foi atingido por uma bala de canhão, que surpreendentemente não explodiu. “Ela ficou encaixada no telhado, não fez feridos nem causou mortes”, contou Padre Lorenzo. “Os operários que lá estavam atribuíram o milagre a Aparecida, formando o grupo de fiéis. A CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos] construiu, graças a essa devoção, uma capela, situada na Rua Doutor Almeida Lima, que foi elevada a Paróquia”, explicou o Sacerdote. A devoção dos ferroviários, firmada há quase 100 anos, é ainda marcada por uma imagem histórica da Padroeira, uma das primeiras réplicas da original encontrada no rio Paraíba do Sul, em 1717.

O que motivou a reforma

Padre Lorenzo destaca que, além de ampliar as dependências e dar mais funcionalidade à construção, a reforma contribui para o resgate e divulgação da história da comunidade e para a visibilidade da igreja. “Antes, como toda a estrutura externa era feita de azulejos, [a Igreja] passava despercebida. Hoje, seja noite, seja dia, é muito mais fácil entender que há um espaço de culto que pode ser visitado e onde se pode fazer orações”, acrescentou o Pároco.

Simbologia dos novos elementos

O novo projeto estético e pastoral da Paróquia tem por base a preciosa imagem da Padroeira, cuja comunidade é guardiã, e a devoção dos ferroviários. “Desejamos fazer com que a imagem de Nossa Senhora possa ser encontrada como no Santuário de Aparecida, com uma passagem [para os fiéis] abaixo dela, para valorizar a devoção”, explicou Padre Lorenzo. Responsável pela projeção artística e iconográfica do espaço, o artista plástico

Sergio Ricciuto Conte esclareceu que a partir disso foi decidido que a imagem da Padroeira ficaria ao lado de Jesus, no centro da parede do presbitério. “Quando pensamos em ferroviários, lembramos de trem e de todas essas conotações que têm a ver com o transporte. Assim, refletimos que, estando Nossa Senhora no meio da parede do presbitério, o fiel poderia ser convidado a chegar até Ela por meio de um caminho como se fosse uma ferrovia”, relatou Conte. Para construir esse caminho, foram utilizadas toras de peroba das quais se fazem dormentes de via férrea, trazidas de Minas Gerais. “Cortamos essas madeiras e colocamos dentro do mármore no piso da Paróquia, fazendo um caminho desde a porta, subindo no presbitério, chegando embaixo da Santa para o fiel fazer sua devoção e depois voltar pelo outro lado, onde o percurso continua”, detalhou Conte, frisando que, assim, os fiéis se aproximam de Maria e, por meio dela, encontram Jesus, que é representado pela enorme cruz de madeira. “A cruz também tem um caminho próprio. Ao entrar na igreja pela porta central, percebemos imediatamente no piso uma linha de madeira, a mesma que forma o caminho dos fiéis”, sinalizou o artista. “Ela representa um caminho, uma rachadura, como se algo forte tivesse estourado em cima do piso e a criado. Esse algo forte simboliza o Espírito de Deus que entra na matéria, a racha e continua até se tornar altar”, disse Conte. O altar segue a simbologia do caminho central, com a estrutura em mármore e madeira, que continua e se torna a cruz, que representa Jesus abraçando os fiéis. “Jesus representa a acolhida que Deus tem de toda a humanidade e Maria, pertinho dessa cruz, representa a acolhida de nós, humanidade, daquilo que é a história de Cristo se encarnando nela. Então, é uma dupla acolhida”, explicou Conte. Na parede em que está a cruz, há uma

pintura que representa o cosmo, feita com várias técnicas e que incluem um mosaico de espelhos e azulejos retirados da estrutura antiga da Igreja. “Trata-se de um detalhe simbólico, pois o azulejo representa o passado da comunidade até aqui e o espelho representa o presente, conectando à vivência do passado com a atual Igreja”, explicou o artista. “Reforçando a importância do passado e do presente, obviamente nas mãos do Cristo, o futuro de todos nós;” completou. Além de toda a simbologia do novo espaço litúrgico, a Paróquia terá uma capela dedicada a São José. As salas, secretaria e sacristia também foram reprojetadas.

Descoberta do trilho

Durante as obras, um trilho de linha férrea foi encontrado em uma parede. “Acreditamos que era um sinal e que esse trilho tinha que ser utilizado para a estrutura da liturgia. Por isso, hoje, o trilho é a base do sacrário, simbolizando a vontade dos ferroviários de se colocar a serviço da devoção de Nossa Senhora e do Senhor Jesus”, disse Padre Lorenzo. “Recuperamos o cubo de mármore [do antigo sacrário] e aplicamos junto com o trilho um peixe, representando Jesus Salvador, também lembrando Nossa Senhora Aparecida, provocando riqueza humana com o milagre no rio, quando Ela apareceu”, esclareceu Conte. Ele lembra que o resultado foi um sacrário “único, ousado na forma, mas fiel àquilo que é a riqueza da tradição da Igreja”.

Futuro

Embora tenha retomado as atividades, a Paróquia continua em reforma. Falta, por exemplo, concluir a fachada, que será feita com o auxílio da comunidade. “Será um mosaico, mas não sabemos ainda quando o faremos”, finalizou o Pároco. Para contribuir com a reforma, acesse: www.amigosdeaparecida.com.


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Mariana e Carlos: com 8 crianças e gêmeos a caminho, ‘vivenciamos no cotidiano o amor de Deus por nós’ Casal, que está em evidência nas redes sociais, conta a rotina da família e a importância de uma vida de fé para a boa formação dos filhos ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Casados há dez anos, Mariana e Carlos Arasaki, ambos com 36 anos, são pais de oito filhos e estão à espera de gêmeos. O casal está em evidência nas redes sociais após a criação do perfil (@coracaodemami) no Instagram, por meio do qual compartilham a rotina, curiosidades sobre os filhos e a experiência da maternidade e da paternidade. Mariana e Carlos são pais da Maria Philomena, 9, Martin, 8, Maria Clara, 7, Maria Sophia, 6, Bernardo, 4, Margarida Maria, 3, Maria Madalena, 2, Stella Maria, 10 meses, e estão à espera de João Pio e Josemaría, previstos para nascerem em março. “Eu acredito que cada família tem uma missão, que não existe um número ideal de filhos. Cada família tem um chamado: para alguns será um, outros dois ou até três, e para outros o chamado é a adoção. Todos são únicos e maravilhosos”, afirmou Mariana, ressaltando que, no momento, sua missão é ser mãe de dez filhos, com amor e dedicação.

EM FAMÍLIA

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Mariana e Carlos contaram que se conheceram em 2010, no Domingo de Páscoa, na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, onde são paroquianos e membros do Apostolado da Oração. O casal afirmou que desde que se conheceram desejaram constituir uma família. “Meu marido e eu sempre sonhamos em ter uma família grande. Não sabíamos quantos filhos teríamos, mas sempre brinquei com ele que, no mínimo, seriam quatro para começar!”, recordou Mariana. Carlos lembrou que é filho único e que a experiência de ser

pai de dez “é uma dádiva! Vivenciamos no cotidiano o amor de Deus por nós, um amor que não se mede, não se divide, soma-se”, contou. Questionados sobre a possibilidade de terem mais filhos, a resposta foi unânime: “Se Deus mandar, claro que sim!”.

ROTINA

Adaptados à rotina com os oito filhos e à espera de mais dois, os pais ressaltam que é um desafio, mas, sobretudo, uma bênção. “Dá muito trabalho! É preciso dedicação e, muitas vezes, também me sinto cansada, esgotada e penso que não vou dar conta, mas, ao ver cada sorriso, cada abraço, cada ‘mamãe, eu te amo’, me renova e me dá energia, e a presença de cada filho é contagiante!”, destacou Mariana.

PAPEL DE PAIS

de encontrar os caminhos para as situações que surgem na individualidade de cada um e na relação com todos”, reforçou, lembrando que conta, ainda, com a ajuda da família e de duas babás nas atividades diárias.

Perguntas como: ‘Como você dá conta?’; ‘Como manter a paciência com oito crianças em casa?’, são frequentes, garante Mariana, mas ela afirma que não existe fórmula mágica. “Somos factíveis a erros e acertos. Existe a nossa vontade consciente e a escolha deliberada de sermos melhores a cada dia. Todos os dias, eu procuro ser a melhor versão junto deles e ser presente como mãe, como educadora e como amiga dos meus filhos”, destacou a mãe. “Quando percebo que estou cansada e irritada, assim também vão estar os meus filhos. Já passei por isso diversas vezes, quando paro e analiso a situação, vejo que, naquele momento, em que perdi a calma, eu estava vulnerável a esses sentimentos”, contou, orientando os pais a “respirar fun-

VIDA DE ORAÇÃO

A vida de oração é uma prática que o casal herdou da família e cultiva, no cotidiano, com os próprios filhos. “A oração antes de cada refeição, antes de dormir, faz parte da rotina dos nossos filhos”, garantiu Carlos, salientando que juntos rezam o Terço no carro a caminho da escola, uma prática diária que revigora a fé e fortalece os vínculos”, disse. Emi Takahashi

NOVA GESTAÇÃO

Já com os oito filhos, um sangramento levou Mariana ao consultório da médica e veio a novidade: a gestação de gêmeos. “O sangramento me deixou muito apreensiva. Fui ao consultório da minha médica – já esperando pelo pior –, e ela anunciou que estava tudo bem e que não era um bebê, mas, sim, dois! Foi realmente emocionante”, contou a mãe. Os gêmeos, João Pio e Josemaría, levam nomes inspirados nos santos. “Somos devotos e a fé é a base da nossa família, os nomes são uma forma de externar a fé”, completou Carlos.

NAS REDES SOCIAIS Carlos Arasaki e Mariana com seus oito filhos e já à espera dos gêmeos João Pio e Josemaría

Sobre o dia a dia, os pais enfatizam que o ideal não é lotar a agenda das crianças – e sim, orientar e educar para que se sintam protegidas em todos os momentos –, ter horários a serem seguidos com disciplina e diálogo, para que cresçam confiantes e responsáveis. “Ter atividades que permitam que gastem energia (esportes), sejam crianças (brincadeiras), aprendam (escola) e adquiram conhecimento e virtudes (paciência, fortaleza, perseverança), de maneira tranquila, é imprescindível”, afirmam, enfatizando a importância de terem horários para as refeições, para brincar, ir à escola, fazer os deveres, as atividades extracurriculares, estar em família etc. “Aqui em casa, por exemplo, o horário de dormir é sagrado. Além de fazer bem às crianças, proporciona momentos de diálogo e intimidade ao casal”, garantem.

do, procurar sair mentalmente do lugar por um milésimo de segundo, para ter a perspectiva justa do que fazer. Para quem tem fé, clamar a Deus, numa brevíssima oração, é recomendável”, orientou. Sobre o quesito finanças, outro questionamento frequente feito ao casal, Mariana afirmou que no começo passou por algumas dificuldades, mas conseguiu encontrar o equilíbrio e até economizar. “Quando os filhos são muitos, você consegue negociar preço e pedir desconto em alguns lugares. Eu economizo em roupas, pois sou muito cuidadosa, consigo que durem e sejam herdadas de um filho para o outro”, afirmou. Mariana ressaltou, também, a importância de dividir com o esposo as atividades e as responsabilidades das situações cotidianas. “Somos pais e, juntos, somos capazes

A pedido de familiares e amigos, o casal criou no Instagram o perfil @coracaodemami, por meio do qual compartilha a rotina e curiosidades sobre os filhos. “É uma forma de comunicar e incentivar os casais nessa jornada, mostrando um pouco da nossa vida em família”, disse Mariana, que, mesmo com a agenda cheia, compartilha dicas para levar a maternidade com leveza, ainda que com a casa cheia de filhos; dicas de organização, alimentação, jogos caseiros, em família. “Revelamos, um pouco, como é o nosso dia a dia com responsabilidade, uma pitada de ‘bagunça’ e muito amor”, finalizou o casal.

SIGA NO INSTAGRAM: @coracaodemami


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Geral | 21

Dom Paulo Evaristo Arns é recordado por atuação em favor do diálogo católico-judaico

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Reprodução

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Como parte das comemorações do centenário de nascimento do Cardeal Paulo Evaristo Arns (1921-2016), a Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-Judaico (DCJ) realizou no domingo, 24, o evento on-line “Dom Paulo, pessoa de fé sem fronteiras”, transmitido pelo YouTube da Arquidiocese de São Paulo, durante o qual se recordou a atuação do Cardeal Arns em favor do diálogo inter-religioso, em especial entre cristãos e judeus. No encontro, mediado por Raul Meyer, diretor da Academia de Estudos Judaicos da Congregação Israelita Paulista, e pelo Cônego José Bizon, Diretor da Casa da Reconciliação, também houve apresentações gravadas do Coral Portal do Morumbi e do Coro Luther King e foram mostradas cenas do filme “Coragem! As muitas vidas do Cardeal Paulo Evaristo Arns”, lançado em 2019 pelo jornalista Ricardo Carvalho, que retrata as ações de Dom Paulo como Arcebispo de São Paulo e sua atuação em favor da democracia.

Homem do diálogo

Cônego Bizon destacou o apoio de Dom Paulo para o surgimento da Casa da Reconciliação nos anos 1980, e a organização da DCJ, instituída em 1981, como fruto, especialmente, dos diálogos do “Cardeal da Esperança” com o Rabino Henry Sobel (1944-2019), intensificados após o ato inter-religioso de 31 de outubro de 1975, na Catedral da Sé, em repúdio ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, de origem judaica. “Trata-se de uma comissão mista e permanente, criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sendo composta por pessoas pertencentes às comunidades católica e judaica, interligadas por objetivos a serem alcançados em quatro níveis de diálogo: institucional, teológico, de ação conjunta e de contato pessoal”, explicou o Cônego. Ele recordou que Dom Paulo recebeu uma menção honrosa da DCJ em 11 de junho de 1989; ganhou, em 1994, o Prêmio Niwano da Paz, de uma fundação mantida por budistas, e utilizou a premiação para construir a Casa de Oração do Povo da Rua. Foi ainda homenageado de forma conjunta pela Congregação Israelita Paulista e a DCJ em 1998. Irmã Maria José Mendes, da Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral, falou sobre a atenção cotidiana de Dom Paulo pelos mais pobres e a busca da união entre os que têm fé. “Dom Paulo foi sempre um homem muito ecumênico, muito integrado com tudo. Ele dizia: ‘Precisamos estar juntos, porque Jesus Cristo é um só’”, recordou a Religiosa da Congregação, cujas irmãs cuidaram do Cardeal Arns desde 1987 até a sua morte, em dezembro de 2016.

Congregação para os Bispos: em estudo estatutos para a Conferência Amazônica https://cutt.ly/qRA3NrY Coordenadores e assessores de 82 dioceses participam de encontro on-line promovido pela Pascom Brasil https://cutt.ly/dRScNaf Dom Odilo: ‘A santidade é a meta da vida cristã’ https://cutt.ly/8RA9SRi

Coragem

Filho de Vladimir Herzog, Ivo Herzog recordou que o primeiro contato que teve com Dom Paulo foi no ato de 31 de outubro de 1975, um evento que, em seu entender, foi determinante para a retomada da democracia no País. “Dias antes, generais estiveram com Dom Paulo, fizeram ameaças, diziam que ele seria responsável por um massacre, mas ele respondeu que não opinava sobre quem visitava os quartéis e que, portanto, não aceitaria que generais opinassem sobre quem iria à Casa de Deus. Mais de 8 mil pessoas estiveram na Catedral da Sé. Elas foram em silêncio, ouviram as palavras de Dom Paulo, Henry Sobel e do Reverendo James Wright denunciando o que tinha acontecido com meu pai, e depois foram embora em silêncio. Penso que este silêncio, esta demonstração de paz, serenidade e maturidade foi o golpe fatal contra a ditadura militar. O processo de redemocratização do Brasil começou naquele dia, ainda que tenha levado mais de dez anos para ser concluído. Dom Paulo, apesar de sempre muito firme, tinha um tom de voz de paz, de conciliação”, destacou Ivo Herzog. Falando diretamente de Jerusalém, o Rabino Ruben Sternschein destacou que o Cardeal Arns “foi um líder religioso inesgotável na sua iniciativa, na sua criatividade, na sua busca por fazer tudo mais e melhor e se focou, principalmente, em buscar o rosto divino em todos os rostos humanos. Descobriu o rosto divino em todo o lado que estava oculto e clamou sua presença onde faltava”. Ao longo do encontro também foram recordados trechos da declaração Nostra aetate, publicada em 1965, sobre a relação da Igreja com as religiões não cristãs, e algumas frases de Dom Paulo a respeito deste diálogo, como esta: “Quando chegou o primeiro convite para participar como Arcebispo de uma reunião inter-religiosa internacional, aceitei com tanta espontaneidade... Para mim era uma experiência fraterna... Tudo ocorreria num ambiente religioso, com respeito sobretudo ao Isla-

mismo e à tradição israelita... Durante o dia, nossas conversas, por mais calorosas que fossem, sempre traziam à mente algum pensamento religioso que pudesse apressar a paz entre os povos”.

Acolhida lúcida ao Concílio Vaticano II

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, enalteceu a realização do evento on-line e destacou que a comemoração do centenário de nascimento do “Cardeal da Esperança” é ocasião propícia para obter registros e conversar com aqueles que conviveram com Dom Paulo, a fim de que as memórias sobre ele não se percam ou passem futuramente por reinterpretações equivocadas. Dom Odilo enalteceu a atuação de Dom Paulo Evaristo em favor do diálogo inter-religioso à luz do Concílio Vaticano II, em especial a partir do que se propõe na Nostra aetate. “Para além de alguns momentos mais expressivos como o da homenagem fúnebre a Vladimir Herzog, Dom Paulo incentivou os estudos sobre o Judaísmo, reuniões e momentos de diálogo com autoridades e representantes da comunidade judaica. Incentivou, também, os estudos bíblicos e ecumênicos para aprofundar o conhecimento sobre as raízes judaicas do Cristianismo”, apontou o Arcebispo de São Paulo, ressaltando o papel de Dom Paulo para a promoção do diálogo católico-judaico, “a partir dos estudos que fez e da sua lúcida acolhida ao Concílio Vaticano II”. O Cardeal Scherer lembrou, também, que, diante do contexto atual de polarizações, crise cultural e questionamentos de valores da dignidade humana, “o

Novena de Natal 2021 já está disponível nas paróquias da Arquidiocese https://cutt.ly/zRA9KMl ACNUR e parceiros realizam formação de voluntários para apoiar o registro de refugiados em SP https://cutt.ly/jRA3HqU Vatican Media

Novo Patriarca dos armênios-católicos: e ‘Coloco-me a serviço do Líbano que sofre’ https://cutt.ly/9RA3ykU

exemplo de Dom Paulo é uma referência importante para que mantenhamos a lucidez do respeito, do reconhecimento da diferença de religião e dos que pensam diferente de nós”. Na conclusão do evento, Raul Meyer se valeu de uma frase de Henry Sobel para lembrar o quanto os feitos de Dom Paulo podem ainda inspirar gerações: “No momento em que íamos ao cemitério levando alguém para a sua última morada ou em visita a quem já tinha falecido, o Rabino Sobel dizia uma frase interessante: ‘Se continuarmos a amar aqueles que perdemos, nunca perderemos aqueles que amamos’. Nesse sentido, nunca perderemos Dom Paulo Evaristo Arns porque o amor e o respeito por tudo o que ele fez continua vivo em todos desta comissão e naqueles que trabalham por um mundo melhor”.

Visite a página especial do Centenário de nascimento de Dom paulo Evaristo

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22 | Papa Francisco | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

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‘Mundanidade espiritual’ é o pior mal que pode ocorrer na Igreja Filipe Domingues

Vatican Media

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Em um encontro com religiosas em Roma, o Papa Francisco afirmou que “a mundanidade espiritual é o pior mal que pode ocorrer com a Igreja”. Ele falava às participantes do capítulo geral da congregação das Filhas de Maria Auxiliadora, na sexta-feira, 22. Esse problema, disse ele, acontece quando a presença de instituições da Igreja no mundo se esvazia da figura de Cristo. “O Concílio Vaticano II indicou para a Igreja esse caminho, que é o caminho de Deus: a encarnação na história, a imersão na vida cotidiana”,

explicou. “Mas isso pressupõe uma firme raiz em Cristo, para não estar à mercê da mundanidade nas suas diversas formas.” A referência à “mundanidade espiritual” vem de Henri-Marie de Lubac, car-

deal francês, jesuíta e teólogo morto em 1991. Em suas “Meditações sobre a Igrejas”, recordou Francisco, o Cardeal Lubac apresenta esse conceito como uma abertura sutil à ação do demônio, que conduz seus membros à divisão e a um excessivo apreço pelas coisas materiais – e não mais pela missão de anunciar o Evangelho. “A mundanidade é aquele espírito que nos leva a não estar em paz, e com uma paz que não é bonita, uma paz sofisticada”, disse o Papa no encontro. Em suas palavras, trata-se de não se apegar às coisas do mundo e se manter sempre abertos à ação do Espírito Santo, “que faz novas todas as coisas”.

30 anos da eleição do Patriarca Bartolomeu O Papa Francisco cumprimentou o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, principal líder da Igreja Ortodoxa, pelo aniversário de 30 anos da sua eleição. Na mensagem enviada na sexta-feira, 22, ele afirmou ter um “vínculo pessoal profundo” e uma “amizade fraterna” com o Patriarca, Arcebispo de Constantinopla e, segundo

a tradição ortodoxa, sucessor do Apóstolo André. A relação entre Francisco e Bartolomeu atualmente vai além do diálogo institucional entre as duas igrejas: eles se encontram com frequência e trocam correspondência regularmente. “Aprecio seu compromisso com a proteção da criação e sua reflexão sobre

esse assunto, da qual aprendi muito”, diz o Papa no texto. Em mais de uma ocasião, ele atribuiu a Bartolomeu a inspiração para a encíclica Laudato si’ (“Louvado sejas”), sobre o “cuidado da casa comum”. Antes mesmo de Francisco, o Patriarca ortodoxo já levantava questões de fé e meio ambiente semelhantes em seus escritos. (FD)

Joe Biden fará visita de cortesia ao Papa Pela primeira vez desde sua eleição à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden deve se encontrar com o Papa Francisco na sexta-feira, 29. Biden já teve outras três reuniões com Francisco no passado. A primeira foi na posse do Papa, em 2013, quando Biden era vice-presidente de Barack Obama. Depois, reuniram-se durante a viagem do Papa a seu país, em 2015, e em um evento sobre medicina regenerativa no Vaticano, em 2016. Espera-se que os dois conversem sobre pautas em comum, como o combate à COVID-19 e temas ambientais, mas também é comum que autoridades da diplomacia do Vaticano apresentem aos chefes de Estado os pontos de conflito. Neste caso, a questão do aborto e a defesa da vida, além da problemática migratória, ainda latente nos Estados Unidos, e o comércio internacional de armas. A visita de cortesia entra na agenda de uma viagem de cinco dias do presidente americano, quando passará por outros países europeus, inclusive a Itália. A reunião do G20 (Grupo das 20 maiores economias do mundo) será em Roma, no fim de semana dos dias 30 e 31 de outubro. (FD)

Francisco reza por refugiados e vítimas da violência na Líbia O Papa manifestou “proximidade aos milhares de migrantes, refugiados e outros necessitados de proteção na Líbia”. Após a oração do Angelus do domingo, 24, ele disse que muitos homens e mulheres estão passan-

do por uma “violência desumana”. Francisco fez mais um apelo à comunidade internacional para que “mantenha suas promessas e busque soluções comuns, concretas e duradouras para a gestão dos flu-

xos migratórios na Líbia e em todo o Mediterrâneo”. Há dez anos, a Líbia entrou em dura crise humanitária, após um colapso institucional e político. A onda de protestos da chamada “Primavera Árabe” resultou

na morte do ditador Muammar Gaddafi, deixando o país dividido entre grupos tribais e paramilitares. O número de desalojados e migrantes cresceu exponencialmente, e com ele o tráfico de pessoas nos países europeus. (FD)


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| 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 | Pelo Mundo/Fé e Vida | 23

Vatican Media

Liturgia e Vida 31º Domingo do Tempo Comum 31 de outubro de 2021

O amor a Deus e ao próximo PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

Igreja Católica apresenta panorama da sua missão no mundo Redação

osaopaulo@uol.com.br

Por ocasião do 95º Dia Mundial das Missões, celebrado no domingo, 24, a Agência Fides, organismo vinculado à Congregação para a Evangelização dos Povos, divulgou, como de costume, algumas estatísticas atualizadas que apresentam uma visão panorâmica da Igreja no mundo. Os dados são retirados do último Anuário Estatístico da Igreja (atualizado em 31 de dezembro de 2019) e dizem respeito aos membros da Igreja, às estruturas pastorais, às atividades nos campos da saúde, do bem-estar e da educação. A variação, aumento (+) ou diminuição (-) em relação ao ano anterior (2018), é indicada entre parênteses, de acordo com a comparação feita pela Agência Fides. Por fim, é relatado o quadro atualizado das circunscrições eclesiásticas confiadas à Congregação para a Evangelização dos Povos.

Católicos

Em 31 de dezembro de 2019, a população mundial era de 7,57 bilhões de pessoas, com um aumento de 81,38 milhões em relação ao ano anterior. O aumento global também afeta todos os continentes neste ano, incluindo a Europa. Mais uma vez, os aumentos mais consistentes são na Ásia (+40,43 milhões) e África (+33,36 milhões), seguidos pela América (+6,97 milhões), Oceania (+459 mil) e Europa (+157 mil). No mesmo período apurado, o número de católicos era de 1,34 bilhão de pessoas, com um aumento global de 15,41 milhões em relação ao ano anterior. O aumento afeta todos os continentes, exceto a Europa (-292 mil). Como no passado, é mais pronunciado na África (+8,3 milhões) e na América (+5,37 milhões), seguido pela Ásia (+1,9 milhão) e Oceania (+118 mil).

Dioceses

As circunscrições eclesiásticas –

(arqui)dioceses, prelazias, administrações apostólicas, eparquias etc. – praticamente não sofreram alterações, registrando um acréscimo de apenas uma unidade em relação ao ano anterior, chegando a 3.026. As unidades missionárias com sacerdotes residentes são 3.217 (+301), aumentando em todos os continentes. As unidades missionárias sem padres residentes diminuíram em geral 5.836 unidades, atingindo o número de 131.407.

Clero

O número total de bispos no mundo diminuiu em 13, chegando a 5.364. Bispos diocesanos aumentaram (+12) e bispos religiosos diminuiram (-25). O número total de padres no mundo aumentou para 414.336 (+271). Em queda substancial mais uma vez está a Europa (-2.608), à qual se somam a América (-690) e a Oceania (-69). Os aumentos são registrados na África (+1.649) e na Ásia (+1.989).

Religiosos

Os religiosos não sacerdotes diminuíram pelo sétimo ano consecutivo, 646, atingindo o número de 50.295. A tendência de diminuição global das religiosas também se confirma, 11.562. Há um total de 630.099. Os aumentos são, mais uma vez, na África (+835) e na Ásia (+599), há decréscimos na Europa (-7.400), América (-5.315) e Oceania (-281).

Missionários leigos

O número de missionários leigos no mundo é igual a 410.440, com um aumento global de 34.252. Os catequistas em todo o mundo diminuíram em geral 2.590, chegando a 3.074.034.

Seminaristas

A quantidade de seminaristas maiores, diocesanos e religiosos, este ano diminuiu, ao todo, 1822 unidades, e assim atingiu o número de 114.058. Os aumentos são registrados apenas na África (+509), diminuem na Ásia (-898), Oceania (-53), Europa (-630) e América (-750).

O número total de seminaristas menores, diocesanos e religiosos, pelo quarto ano diminuiu, este ano 3.174 unidades, atingindo o número de 96.990. Eles diminuíram em todos os continentes, exceto Oceania (+22): na América (-914), África (-1.519), Europa (-743) e Ásia (-20).

Educação

No campo da educação e instrução, a Igreja administra 72.667 creches em todo o mundo, frequentadas por 7.532.992 alunos; 98.925 escolas primárias para 35.188.771 alunos; 49.552 escolas secundárias para 19.370.763 alunos. Também acompanha 2.395.540 alunos do ensino médio e 3.833.012 estudantes universitários.

Caridade

As instituições de caridade e assistência administradas pela Igreja em todo o mundo incluem: 5.245 hospitais, com o maior número na África (1.418) e na América (1.362); 14.963 dispensários, principalmente na África (5.307), América (4.043); 532 hospitais de leprosos distribuídos sobretudo na Ásia (269) e na África (201); 15.429 lares para idosos, doentes crônicos e deficientes, principalmente na Europa (8.031) e na América (3.642); 9.374 orfanatos, sobretudo na Ásia (3.233) e na Europa (2.247); 10.723 jardins de infância, com o maior número na Ásia (2.973) e América (2.957); 12.308 conselheiros matrimoniais, principalmente na Europa (5.504) e na América (4.289); 3.198 centros de educação ou reeducação social e 33.840 outras instituições.

Ajuda missionária

As circunscrições eclesiásticas dependentes da Congregação para a Evangelização dos Povos somam 1.117, de acordo com a última variação registrada. A maior parte das circunscrições eclesiásticas confiadas à Propaganda Fide está na África (517) e na Ásia (483). Seguem-se a América (71) e a Oceania (46). Fonte: Agência Fides

Ao mestre da lei que lhe perguntou qual o “primeiro” Mandamento, Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a sua força!”. Em seguida, sem que o outro o questionasse, fez questão de acrescentar: “O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” (Mc 12,30-31). O Senhor mostrou, deste modo, que o amor a Deus acima de todas as coisas (cf. Dt 6,5) e o amor ao próximo (cf. Lv 19,18), embora distintos, são duas realidades inseparáveis. Juntos, eles formam as duas tábuas que abarcam todos os Dez Mandamentos; afinal, a caridade é a plenitude da lei de Deus (cf. Rm 13,10). Estão de tal modo unidos e interpenetrados que, de um lado, é impossível amar a Deus sem amar o próximo; e, de outro, é impossível que haja verdadeiro amor ao próximo sem um vivo amor ao Pai que nos criou e sustenta. O Senhor então acrescenta: “Não existe outro mandamento maior do que estes” (Mc 12,31). Assim, trata a ambos quase que como um único Mandamento dotado de duas faces. Santo Agostinho ensina que o amor a Deus é o primeiro Mandamento “na ordem dos Preceitos”, enquanto o amor ao próximo é o primeiro “na ordem da execução”. Isso porque “quem não ama o irmão a quem vê não pode amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,20). Se queremos amar o Senhor, comecemos amando com obras o nosso próximo! Deste modo, segundo o Doutor de Hipona, “purificas o teu olhar para ver a Deus!”. Para muitos que têm fé, a falta de uma dedicação concreta aos demais e de um sincero amor ao próximo é o obstáculo que atravanca seu crescimento espiritual. Vivendo para si mesmos, perdidos nas próprias preocupações e pensamentos, vão gradativamente decaindo no amor ao Senhor. Para essas almas, Jesus vai aos poucos se reduzindo a uma prática devocional externa, a um hábito frio ou a uma árida doutrina teológica. O resultado é que decaem na esperança e encontram muita dificuldade, inclusive em observar os Mandamentos mais elementares. Ao contrário, quão numerosos são os exemplos de pessoas que viviam “sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12), mas redescobriram o rosto de Cristo a partir de um período da vida em que passaram a servir e amar mais o próximo! O nascimento de um filho, a companhia feita a um amigo enfermo, o trabalho em favor dos pobres, o serviço a um ancião e tantas outras obras de caridade são a fagulha que acende ou reanima o amor a Deus. Afinal, o Senhor mesmo prometeu “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos pequenos, foi a Mim que o fizestes” (Mt 25,40)! Uma vez que o indivíduo volta à graça santificante, recuperando o amor sobrenatural a Cristo, consegue, então, compreender essas palavras do Mestre. Ama a Deus no próximo e o próximo em Deus. Não é um filantropo ou justiceiro social, mas um homem ou mulher de caridade. Em tudo e em todos, contempla e ama a bondade do Pai eterno. E essa passa a ser sua grande força para amar mesmo na adversidade e até os inimigos.


24 | Publicidade | 27 de outubro a 3 de novembro de 2021 |

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