O São Paulo - 3366

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3366 | 6 a 13 de outubro de 2021

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Católicos vão às ruas em defesa da vida de gestantes e nascituros Luciney Martins/O SÃO PAULO

Participantes da Marcha pela Vida se reúnem nas escadarias da Catedral da Sé, no centro da capital paulista antes de missa presidida pelo Cardeal Odilo Scherer, no domingo, dia 3

Para celebrar a Semana Nacional da Vida, que acontece entre os dias 1º e 8, a Arquidiocese de São Paulo programou uma série de iniciativas voltadas à conscientização dos católicos e de toda a sociedade acerca da inviolabilidade da vida humana, desde a concepção até o fim natural.

Cardeal Scherer participará da missa de abertura do Sínodo dos Bispos Página 3

Editorial Na paróquia missionária, os leigos são atuantes e se valoriza a liturgia

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Encontro com o Pastor A comunhão eclesial é um dos segredos da força do testemunho da Igreja

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Espiritualidade Não existe verdadeira missão sem se conformar à pessoa de Jesus Cristo

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No domingo, 3, a Marcha pela Vida percorreu ruas do centro da capital paulista, para enfatizar o compromisso da Igreja com a proteção da vida das mães e dos filhos gerados em seus ventres. Na sexta-feira, 1º, as pastorais Familiar e da Criança se uniram para uma live a fim de assinalar sua atuação na defesa da vida.

Após se vacinar, há testes que assegurem a proteção contra a COVID-19? Página 18

Nesta edição, O SÃO PAULO destaca os ensinamentos dos últimos papas sobre a gravidade do aborto, aponta o que postula a legislação brasileira sobre o tema e apresenta os países em que mais se defende e mais se ameaça a vida do nascituro. Páginas 11 a 14

Bispo há 2 anos, Dom Jorge Pierozan está esperançoso com o pós-pandemia

A missão evangelizadora da Igreja é feita com todos os batizados

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Nossa Senhora Aparecida: Mãe de Deus e nossa, Padroeira do Brasil

Papa se une a líderes religiosos no alerta sobre mudanças climáticas

Em 2021, completam-se 90 anos da oficialização de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil. Em diferentes partes do País, muitos devotos consagram a própria vida à Virgem Maria, a fim de imitar as virtudes daquela que em tudo cumpriu a vontade de Deus. O SÃO PAULO apresenta detalhes da consagração, o histórico dessa devoção mariana no Brasil e fala de algumas das padroeiras de países latino-americanos.

Quase 40 líderes, representantes das maiores religiões, se reuniram na segunda-feira, 4, com cientistas no Vaticano para apresentar um apelo comum: que o mundo leve a sério o compromisso de zerar as emissões globais de carbono que provocam o aquecimento global. Liderado pelo Papa Francisco, o encontro “Fé e Ciência: Rumo à COP26” foi organizado pelas embaixadas do Reino Unido e da Itália na Santa Sé.

Páginas 16 e 17

Página 15

Página 19

Liturgia e Vida Um jovem apegado aos bens, à vaidade ou ao prazer é sempre triste

Página 23

Comportamento Registro de nascimento: ainda que feito tardiamente, assegura direitos

Página 7

Opinião Deus se fez Palavra, veio viver entre nós e trouxe a vida e a luz

Página 4


2 | Encontro com o Pastor | 6 a 13 de outubro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

N

o domingo, 10 de outubro, o Papa Francisco abre em Roma o processo de preparação da próxima assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos. É a primeira vez que o Papa convoca a Igreja inteira a participar da preparação de uma assembleia do Sínodo, que vai ser realizada só daqui a dois anos, em outubro de 2023. O tema, já definido para aquela assembleia, é a própria sinodalidade da Igreja, ou seja, um jeito de ser da Igreja e de interagir e se relacionar internamente. Muitas vezes, o Papa Francisco tem criticado o clericalismo, como sendo um grande mal na Igreja. Num certo tipo de clericalismo, toda a vida da Igreja fica concentrada no clero, e a própria Igreja é identificada com o clero. Outra forma de clericalismo é quando o povo fica passivo na Igreja e se considera apenas como beneficiado da Igreja. Ambas as formas de clericalismo tiram a vitalidade e o di-

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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Uma experiência de sinodalidade namismo da Igreja. Com a sinodalidade, o Papa está propondo o contrário do clericalismo. A sinodalidade é uma maneira de ser e de agir da Igreja, na qual se entende que somos todos, antes de tudo, o povo que Deus Pai reúne mediante o envio do Filho ao mundo e a ação do Espírito Santo. Na Igreja, todos são imensamente agraciados pelo amor misericordioso de Deus. A Igreja, povo de Deus e comunidade de discípulos de Jesus, é chamada a viver a alegria do Evangelho, testemunhando a vida nova que o Espírito Santo suscita na comunidade dos fiéis. Também o clero é parte do povo de Deus, ao qual é chamado a servir em nome de Jesus Cristo. E cada membro da Igreja contribui para a vida e a missão dela com seu próprio dom. Não têm todos o mesmo dom, nem fazem todos a mesma coisa. O dom e a participação de cada um na Igreja são importantes, e ninguém deve ficar simplesmente passivo e desinteressado. Deseja o Papa que a preparação da próxima assembleia do Sínodo conte com a participação de toda a Igreja. O tema completo do Sínodo – “Por uma Igreja sinodal: comu-

nhão, participação e missão” – traz três dimensões importantes de uma Igreja sinodal. A comunhão é marca irrenunciável da Igreja, que precisa ser cultivada e promovida entre seus membros e, também, com os que não fazem plenamente parte dela. Sem a comunhão, a Igreja não seria aquela que Jesus Cristo desejou. Ninguém está na Igreja apenas para se autopromover, ou para assegurar vantagens individuais para si. Na comunhão eclesial está um dos segredos da força e da eficácia do testemunho da Igreja. A participação decorre da comum dignidade dos batizados, membros da Igreja, e da diversidade dos dons e carismas recebidos no Batismo e na Crisma. Todos têm o direito de receber os benefícios da vida e ação da Igreja, e todos têm o dever de participar, cada um à sua maneira, da vida e missão dela. E a missão da Igreja envolve todos os batizados, e não apenas alguns. Somos um povo de discípulos missionários de Jesus Cristo e testemunhas do seu Evangelho no mundo. A missão da Igreja pode ser assumida e desempenhada de múltiplas maneiras pelos batizados.

A missa do Papa Francisco, em Roma, contará com a participação de uma representação da Igreja de cada continente. Simbolicamente, esses participantes serão enviados “a todas as nações”, para que o processo sinodal seja feito em cada país, nas comunidades e múltiplas expressões da vida eclesial. Há um roteiro para essa participação, já disponibilizado para todas as dioceses, que deverão desencadear o processo sinodal em suas comunidades, que já começa no dia 17 de outubro: em cada diocese do mundo, o bispo celebra com seu povo e dá expressão concreta a esse processo sinodal. Das dioceses, o trabalho passa para as Conferências Episcopais a partir da Páscoa de 2022. Em seguida, o processo sinodal passa às organizações continentais da Igreja. Ainda em 2022, a Secretaria do Sínodo dos Bispos, em Roma, receberá o fruto desse processo sinodal e o encaminhará à assembleia do Sínodo dos Bispos, de 2023. É uma experiência eclesial nova que, com certeza, trará bons frutos. O Espírito Santo continua a agir, “renovando a face da terra”.

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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Cardeal Scherer: ‘São Francisco atrai as pessoas para o coração do Evangelho’ Pascom do Santuário São Francisco

PASCOM DO SANTUÁRIO SÃO FRANCISCO Na memória litúrgica de São Francisco de Assis, na segunda-feira, 4, o Cardeal Scherer presidiu missa na Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, na região central. A missa teve como concelebrante o Frei Mário Luiz Tagliari, OFM, Pároco e Reitor do Santuário e Convento São Francisco, e contou com a participação da Ministra da Ordem Terceira Franciscana, a Irmã Maria Aparecida Crepaldi. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano destacou que São Francisco “atrai as pessoas para o coração do Evangelho”, e lembrou que o Santo é admirado e seguido não apenas pelos cristãos, mas por pessoas que professam outras religiões e mesmo por aqueles que não seguem religião alguma, uma vez que sua vida é um exemplo de virtudes e valores. O Cardeal Scherer lembrou, ainda, que São Francisco de Assis é padroeiro dos animais e da natureza, mas seu testemunho de fé para a Igreja e a humanidade vai além, pois em sua

Em missa no dia de São Francisco de Assis, Cardeal Odilo Pedro Scherer ressalta que o Santo viveu a caridade, a fé e o amor ao próximo

busca por Deus foi se desapegando de tudo aquilo que dá a falsa sensação de saciedade na vida. E assim, o Santo encontrou Deus na simplicidade, na humildade e na pobreza. Dom Odilo comentou, ainda, que

São Francisco de Assis buscou viver a fraternidade. Ele reuniu muitos irmãos ao seu lado, fazendo que o seu carisma se espalhasse rapidamente por toda a Europa, atraindo para a vida segundo o Evangelho desde as pessoas mais simples até

reis e rainhas. Disse, ainda, que o Santo é missionário e muito atual: é preciso espalhar ao mundo essa forma de vida. O Arcebispo comentou, também, que São Francisco foi um homem santo na caridade, na fé e no amor. Arquivo pessoal

Dom Odilo participa da abertura do Sínodo dos Bispos Redação

osaopaulo@uol.com.br

O Cardeal Odilo Pedro Scherer viajou a Roma na tarde da segunda-feira, 4. Nos próximos dias, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo participará de uma série de reuniões e encontros do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), do qual é 1º Vice-Presidente, em diferentes dicastérios da Cúria Romana, incluindo uma audiência com o Papa Francisco, no sábado, 9. No domingo, 10, Dom Odilo concelebrará a missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, presidida pelo Santo Padre, na Basílica de São Pedro. Essa celebração marca o início da primeira fase do caminho sinodal proposto pelo Pontífice, que culminará com a Assembleia Ordinária em outubro de 2023, no Vaticano. No dia anterior, haverá um momento de reflexão sobre o Sínodo, com trabalhos em sessão plenária e em grupos linguísticos. Participam desse encontro representantes do povo de Deus, entre delegados das reuniões internacionais das conferências episcopais e organismos assimilados, membros da Cúria Romana, delegados fraternos, membros da vida consagrada e dos movimentos leigos eclesiais, do Conselho de Jovens e outros. Francisco participará da primeira parte desses trabalhos.

Sínodo de 2023 na Arquidiocese de São Paulo

A primeira fase do Sínodo dos Bis-

pos de 2023, cujo tema é “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, será aberta oficialmente em todas as dioceses do mundo no próximo dia 17. Na Arquidiocese de São Paulo, a abertura acontecerá nas regiões episcopais, conforme indicou o Cardeal Scherer, em carta enviada ao clero e aos fiéis no dia 29 de setembro, com orientações sobre os trabalhos a serem realizados nas paróquias. O Arcebispo explicou que, após a celebração de abertura, inicia-se o processo de escuta do povo nas paróquias, seguindo as orientações do Documento Preparatório e do vademécum ela-

borados pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Esses documentos estão disponíveis para acesso na área especial do Sínodo no portal ArquiSP (https://cutt.ly/jEXJLxD). “Uma Comissão do Secretariado de Pastoral está preparando orientações práticas sobre o processo de escuta, que também serão colocadas no portal da Arquidiocese e repassadas às paróquias por e-mail pelo Secretariado de Pastoral”, explicou Dom Odilo, encorajando os padres a envolverem todas as comunidades no caminho sinodal. “A Igreja só tem a ganhar se esta recomendação for bem acolhida e levada a efeito”, completou. Assessoria de Imprensa do Hospital Santa Joana

NOTA DE FALECIMENTO

A Arquidiocese de São Paulo comunica o falecimento do Padre Antônio Soares, na tarde da segunda-feira, 4, aos 62 anos. Ordenado sacerdote em 30 de janeiro de 1999, Padre Antônio exerceu o ministério nas regiões episcopais Sé e Lapa. Atualmente, residia na Casa de São Paulo. O velório ocorreu na terça-feira, 5, na capela do Cemitério do Santíssimo Sacramento, no Pacaembu, onde aconteceu uma missa de corpo presente presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, seguida do sepultamento

Atos da Cúria

Na quinta-feira, 30, o Cardeal Scherer visitou as dependências do Hospital Santa Joana, no bairro do Paraíso, na zona Sul. Na ocasião, conversou com o diretor da instituição, o médico Antonio Fernandes Moron, e conheceu as avançadas técnicas para cirurgias intrauterinas que são realizadas nesta unidade hospitalar e também em hospitais públicos com os quais o Santa Joana mantém parceria. (por Redação)

DECRETO DE NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSESSOR ECLESIÁSTICO: Em 28/09/2021, foi nomeado e provisionado como Assessor Eclesiástico da Comunidade Laical e Associação Privada de Fiéis “Voz dos Pobres, em São Paulo, o Reverendíssimo Padre Ernandes Alves da Silva Júnior, pelo período de 03 (três) anos.


4 | Ponto de Vista | 6 a 13 de outubro de 2021 |

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Editorial

Paróquias missionárias

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or ocasião deste Mês das Missões, dedicamos o editorial passado ao tema do apostolado leigo: da exortação que lhes dirige a Igreja para que vivam as realidades do mundo orientados pelo espírito cristão, oferecendo a Deus sacrifícios espirituais. Nesta edição, desejamos falar da missionariedade do ponto de vista das paróquias: como podem nossas comunidades paroquiais aumentar sua força evangelizadora e atrair de volta as ovelhas desgarradas do rebanho? Não é novidade que, de maneira geral, nossa sociedade vem se tornando, já há algumas décadas, cada vez menos religiosa, embora ainda existam muitas conversões à Igreja – inclusive muitos jovens, de famílias não católicas, têm abraçado a fé –, porém, tal situação está longe do ideal. Em 2014, os bispos do Brasil discutiram o tema da conversão pastoral da Paróquia, reconhecendo a urgência de

A Palavra

“passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, Documento 100, 51). O documento é bastante abrangente, mas gostaríamos de destacar dois de seus principais pontos: a importância de capacitar bem e dar mais responsabilidades aos leigos, em primeiro lugar, e depois, a valorização adequada da liturgia. De fato, o modelo típico de paróquia brasileira ainda centraliza nos padres não apenas a celebração dos sacramentos (que é o papel próprio do sacerdote, “constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” – cf. Hb 5,1), mas, também, todo o resto da vida paroquial: formação catequética, administração de bens, evangelização... A esse respeito, adverte a CNBB que “o laicato precisa assumir maior espaço” (Idem, nº 32). Seria importante que houvesse em

do valor e da importância da liturgia – pois a Eucaristia é “fonte e centro de toda a vida cristã” (Lumen gentium, 11). As missas, porém, não devem ser confundidas com shows ou espetáculos: o Concílio Vaticano II já pedira que ritos “brilhem pela sua nobre simplicidade, sejam claros na brevidade e evitem repetições inúteis” (Sacrosanctum concilium, 34). Nesse sentido, a CNBB nos urge a evitar, entre outras coisas, os “comentários infindáveis, cânticos desalinhados com a Palavra, homilias longas e a ausência de momentos de silêncio” (Documento 100, 274). Ninguém, afinal, é “dono” da missa – quem deveria nela ficar em evidência não são os fiéis, os músicos, nem mesmo a pessoa do sacerdote, mas, sim, o próprio Cristo. Busquemos, então, cooperar sempre mais com a graça, para que em nossos corações e paróquias habite sempre mais a vida de Cristo. Deus o quer – e esperam-no as almas.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

Luiz Antonio Araujo Pierre Em um encontro de jovens, no fim dos anos 1960, conversava com um dos participantes e lhe disse que estava pensando em ler toda a Bíblia, de forma sistemática. Ele me ouviu com atenção e concordou ser uma boa experiência, mas me falou também que, vivendo a Palavra e colocando em prática cada frase dos Evangelhos, a gente marcaria de forma indelével, nas nossas mentes, nos nossos corações e nas nossas vidas, toda a mensagem cristã, que jamais seria esquecida. Depois de outros encontros, percebi que esta era uma das características daquele grupo e que fazia parte da própria espiritualidade que difundiam: a vivência da Palavra. Desde então, procuro me manter nesta sintonia, de um Deus que se fez Palavra, veio viver entre nós e trouxe a Vida e a Luz (cf. Jo 1,1-4). Esta é a realidade cristã que se traduz numa proposta muito concreta e completa. O novo mandamento nos convida a viver uma vida intensa e focada em Deus e no próximo – o amor recíproco, amando uns aos outros, com a mesma intensidade com que fomos e somos amados por Deus (cf. Jo 13,34). Nestes tempos de pandemia, experimentamos o quanto é necessário e fundamental viver o amor recíproco em meio a tantas dores de despedidas e sofrimentos. A solidariedade vivida

nossas paróquias um bom número de leigos com sólida formação católica. Pessoas imersas nas Sagradas Escrituras e nas riquezas da tradição da Igreja: a leitura orante (lectio divina) da Palavra, os tesouros de nossos mestres espirituais (a “Imitação de Cristo”; a “Pequena Via”, de Santa Teresinha; a “Indiferença”, de Santo Inácio; o “Caminho de Perfeição”, de Santa Teresa d’Ávila...). E mais ainda: leigos com profundo conhecimento da doutrina católica, que pudessem responder aos questionamentos das pessoas de boa vontade: “Por que há tanto sofrimento no mundo? Por que é importante ser católico, e não apenas acreditar em Cristo? Para que precisamos dos sacramentos? Como fica a fé diante das descobertas científicas? Como fica minha liberdade e minha felicidade diante dos mandamentos de Deus?” Por outro lado, a revitalização missionária da paróquia só será possível com uma nova tomada de consciência

neste momento de crise sanitária nos remete à vivência da Palavra, que afirma que tudo o que for feito aos pequenos, aos necessitados, é como se fosse feito ao próprio Jesus (cf. Mt 25,40). As pessoas que procuram assim caminhar formam a comunidade cristã, na qual os discípulos são reconhecidos se tiverem entre si o amor recíproco (cf. Jo 13,35). Este é o modo de existir da comunidade e não há outro. Não se reconhece um membro da comunidade cristã por indicação, pelo cargo, função ou “tempo de casa”. A condição essencial e indispensável para ser reconhecido como discípulo é o amor recíproco.

Na comunidade, a Palavra vivida traz a presença de Jesus entre nós, sempre que dois ou mais estiverem reunidos em Seu nome. Esta presença de Jesus entre nós é também possível, na família, no trabalho, em qualquer lugar, por meio de pessoas comuns reunidas em Seu nome, não sendo necessária outra condição (cf. Mt 18,20). A presença de Jesus entre nós traz alegria, mas não uma alegria fugaz. Traz, sim, uma alegria especial, que se encontra no amor igual àquele com que o Pai nos ama. Se ficarmos neste amor, amando quem está ao nosso lado no dia a dia, a nossa alegria será perene e completa (cf. Jo 15,9-11).

A realidade pela qual estamos passando na saúde, na política, na economia nos leva a buscar a paz, a concórdia, a unidade. Não é sonho buscar o entendimento para uma vida mais justa para todos os brasileiros, pois a Palavra vivida nos indica que, para Deus, é possível até mesmo a unidade de todos (cf. Jo 17,21). Na comunidade cristã, temos, pela fé, a certeza da vida após a morte, pois Deus entregou seu Filho à morte para que, quem crê, tenha a vida eterna (cf. Jo 3,16). Passar da morte para a vida, em cada situação do cotidiano, quando nos sentimos fracos, é uma realidade a ser vivida com a prática da Palavra. Sendo eterna a vida, já estamos na eternidade, aguardando a passagem definitiva. Então, Deus que é amor (cf. 1Jo 4,8), amor por excelência, amor maior, sem limites, nos conduz, com sua Palavra, a viver voltados para o próximo, para o irmão, sempre na busca de um mundo melhor, mais justo e solidário, ensinando desde já a nos prepararmos para aquele momento: “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me” (Mt 25,35-36). Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do Movimento dos Focolares, professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5 Centro Pastoral São José do Belém

SÉ Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos completa 310 anos CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na manhã do domingo, 3, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, Setor Catedral, Dom Carlos Lema Garcia presidiu a missa no terceiro dia da novena e festejos da padroeira e também pelo Jubileu de 310 anos de fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo (INSR). Concelebrou o Padre

Luiz Fernando de Oliveira, Capelão. No começo da missa, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé lembrou que a Irmandade é parte da história da cidade. Falou ainda sobre sua alegria em celebrar a missa no Mês do Rosário. Dom Carlos Lema, na homilia, recordou que o Rosário significa um conjunto de orações como se fosse um ramalhete de flores, de rosas espirituais que são oferecidas a Nossa Senhora, acompanhado dos Santos Mistérios do Rosário que, ao lon-

go da semana, ajudam a rememorar cenas da vida de Jesus, nas quais Maria está presente. Lembrou, ainda, que, em várias aparições ao longo da história, a Virgem Maria pede aos fiéis que rezem o Rosário. “Eu muito me alegrei ao chegar à igreja e encontrar a Irmandade rezando o Terço”, afirmou o Bispo, pedindo que tal prática de fé seja mantida no templo e nas casas. Os festejos da padroeira prosseguem até o dia 10. Os detalhes podem ser vistos nas redes sociais em @Nsadorosariod.

Dom Carlos preside missa no dia de São Vicente de Paulo Eunice Villella

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Em 27 de setembro, Dom Carlos Lema Garcia presidiu missa na Capela de São Vicente de Paulo, por ocasião da memória litúrgica do padroeiro. A “Casa Pia”, como é mais conhecida, é mantida pela Associação Internacional das Damas da Caridade de São Paulo (AIC São Paulo).

Concelebraram os Padres Gilson Feliciano Ferreira, SV, Assistente Eclesiástico da Associação das Damas da Caridade; José Wilson, MI; e Carlos Toselli, MI. Na homilia, Dom Carlos Lema destacou que São Vicente de Paulo sempre buscou aproximar os ricos dos pobres. Para tal, criou a “Confraria de Caridade”, pela qual, com a ajuda de senhoras piedosas, angariava e dava os socorros aos pobres. O Bispo Auxiliar da Arquidioce-

se na Região Sé recordou, ainda, as cinco virtudes fundamentais do Santo: simplicidade, mansidão em relação ao próximo, humildade, mortificação e zelo. Estiveram presentes também nos festejos o Padre Tito Marega, Provincial dos Religiosos de São Vicente, e a senhora Aeglé Takeuchi de Lourdes Souza, presidente da Associação das Damas da Caridades, que no final da celebração fez um agradecimento a Dom Carlos. Lucimar Rodrigues dos Santos

[LAPA] Dom José Benedito Cardoso tem presidido missas para os jovens nos setores pastorais. No sábado, 2, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa celebrou na Paróquia São Patrício, para os jovens do Setor Rio Pequeno. Concelebrou o Padre Eduardo Augusto de Andrade, Assistente Eclesiástico do Setor Juventude da Região Lapa, assistido pelo Diácono Permanente Paulo José de Oliveira. Em 16 de outubro, na Paróquia São João Batista, o Bispo presidirá missa com a participação dos jovens de paróquias do Setor Lapa; e, no dia 30, na Paróquia São José do Jaguaré, no Setor Butantã. (por Benigno Naveira)

[BELÉM] Integrantes da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas de São Paulo (ADCE-SP), acompanhados do diretor espiritual da instituição, o Padre Valdeir Goulart, doaram no sábado, 2, 350 cestas de alimentos ao Centro Pastoral São José, na Região Belém. As cestas foram montadas no Centro de Distribuição do Supermercado Hirota e foram obtidas por meio de arrecadações do programa ADCE Põe na Mesa. (por comunicação do Centro Pastoral São José)

[BRASILÂNDIA] Em 25 de setembro, o Conselho Pastoral da Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Vila Carolina, se reuniu de forma presencial, a fim de reativar as atividades paroquiais, resgatar os compromissos assumidos pela comunidade no caminho sinodal da Arquidiocese e repensar novas formas de evangelização no contexto da pandemia e dos desafios por ela impostos. A comunidade paroquial também já se planeja para celebrar o jubileu de ouro. (por Cléber Assunção)

[BRASILÂNDIA] No sábado, 2, aconteceu a assembleia da Paróquia São José, Setor Perus, com a participação de 35 pessoas, entre membros das comunidades eclesiais de base e das pastorais. O objetivo foi identificar as prioridades da Paróquia, no contexto da sinodalidade (caminho de unidade) e do retorno das atividades no pós-pandemia. O Padre Cilto José Rosembach, Pároco, ressaltou a oportunidade de se construir juntos as prioridades para colocá-las em prática no dia a dia. A assembleia foi assessorada pelo Cônego Antonio Manzatto, Vigário Paroquial, que apresentou os quatro passos para ir ao encontro da proposta de uma Igreja em saída: ouvir, dialogar, decidir e fazer. (por Djevani Antonio Alves de Jesus)

Espiritualidade A espiritualidade da missão Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga

E

stamos celebrando o mês missionário, que neste ano tem por tema “Jesus Cristo é missão”, e por lema e inspiração bíblica “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Sabemos que o contexto da pandemia, que se prolonga, tem causado grande sofrimento, com o aumento da pobreza e exclusão social, o que exige de nós um testemunho de compaixão e fraternidade, na esperança. É o que diz o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das

Missões: “Neste tempo de pandemia, perante a tentação de mascarar e justificar a indiferença e a apatia em nome de um distanciamento social saudável, a missão da compaixão é urgentemente necessária por sua capacidade de fazer desse distanciamento recomendável uma oportunidade de encontro, cuidado e promoção”. Não podemos, como cristãos, ser indiferentes e omissos. Se Jesus Cristo é missão, somos chamados a proclamar o que vimos e ouvimos, o que experienciamos, e testemunhar a imensa misericórdia divina. O Filho de Deus vem ao encontro das “multidões cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Para cumprir a vontade do Pai, Jesus entrega a sua vida pela salvação da humanidade, chama os Doze apóstolos e os envia para “expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e enfermidade” (Mt 10,1-4). Com a expressão “Igreja em sa-

ída”, o Papa Francisco conclama todos a cumprir o mandato de anunciar o Evangelho ao mundo (cf. Mc 16,15). Somente uma espiritualidade verdadeiramente missionária pode nos levar ao encontro, cuidado e promoção de toda a vida humana, com misericórdia. Fonte de uma espiritualidade missionária é a Santíssima Trindade, pois missão é, antes de tudo, autocomunicação de Deus, ou seja, do “amor fontal do Pai se origina a missão do Filho e a missão do Espírito Santo” (cf. decreto Ad gentes, 2). Esta referência à Trindade, que é expressão plena de unidade e comunhão, leva ao diálogo e ao acolhimento e proporciona um horizonte à evangelização, seja existencial, seja geográfico, até os confins da terra. Protagonista da missão é o Espírito Santo (cf. Lc 4,14) e sua força e luz dirigem os passos dos missionários, pois Jesus veio para a libertação dos pobres e oprimidos (Lc 4,18-19).

Não existe missão sem se conformar à pessoa de Jesus Cristo. Uma espiritualidade missionária exige o mesmo despojamento do Filho de Deus que “esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,7). Ele se fez pobre e serviu aos pequenos do Reino de Deus (cf. Lc 7,18-23), e cumpriu sua missão como o verdadeiro servo sofredor (cf. Lc 23,1-46), e, por sua morte e ressurreição, a todos salvou. A credibilidade missionária está na experiência profunda de Deus no serviço aos irmãos. Somos chamados a testemunhar o que vimos, ouvimos, contemplamos, tocamos com nossas mãos (cf. 1Jo 1,1-3), e, como sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16), evangelizar atraindo todos a Cristo Jesus. Somos todos discípulos e missionários e, com coragem e alegria, vamos anunciar e testemunhar aquilo que acreditamos e vivemos de acordo com nossa específica vocação e ministério.


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BELÉM

Dom Luiz: ‘Devemos cooperar para que tenhamos uma sociedade mais justa e fraterna’ No dia do padroeiro da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, em 29 de setembro, Dom Luiz Carlos Dias presidiu uma das cinco missas da festa patronal, tendo como concelebrante o Padre Júlio Lancellotti, Pároco. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém lembrou que ao olhar para os Santos Arcanjos – Miguel, Gabriel e Rafael – é possível perceber como Deus ajuda e salva a humanidade e que os anjos são seres espirituais enviados pelo Senhor para colaborar com ela. Dom Luiz ressaltou que o cristão deve sempre buscar a sintonia com Deus e que é possível aprender com cada um

dos arcanjos. “Junto com São Miguel, devemos gritar: ‘Quem como Deus?’”. São Gabriel trouxe o grande anúncio e é exemplo a todos para propagar boas notícias, que dão esperança: “Você também pode ser um arcanjo Gabriel, e ser portador de boas notícias, de não colocar as pessoas para baixo, mas levantá-las”. E, neste tempo de pandemia, pode-se recorrer a São Rafael, pedindo que interceda pela cura: “É um tempo oportuno para procurar ajudar as pessoas a se curar das diversas situações”. “Não podemos nos afastar uns dos outros, mas cooperar. Devemos cooperar para que tenhamos uma sociedade mais justa e fraterna”, exortou Dom Luiz, recordando que Deus sempre está ao lado da humanidade e que todos devem estar a serviço do próximo. Nesse senti-

Pascom do Santuário São Francisco

Pastoal Familiar

Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

[SÉ] No Mês da Bíblia, o Arsenal da Esperança realizou a 11ª Leitura Continuada da Palavra. Na noite de 28 de setembro, por meio do canal do YouTube do Arsenal, houve a leitura da Carta aos Gálatas. No total, 16 pessoas, a partir de diferentes pontos da casa, realizaram a leitura, de forma ritmada e com intercalação de momentos musicais e (por Arsenal da Esperança) de silêncio. [BRASILÂNDIA] No domingo, 3, véspera da memória litúrgica de São Francisco de Assis, a Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, organizou um momento de bênção dos animais. Foi realizada também uma campanha de arrecadação de ração destinada a ONGs que amparam animais abandonados. (por Pascom da Paróquia São Luís Gonzaga)

[BELÉM] No sábado, 2, a Pastoral Familiar da Região Episcopal Belém recebeu o médico Leandro Junior Lucca, PHD em Nefrologia, para uma palestra na Paróquia Santa Adélia, com o tema da abertura à vida. Ao final da palestra, Padre Jônatas Mariotto, Pároco, abençoou os kits de higiene que foram preparados pela Pastoral Familiar e distribuídos na Marcha pela Vida, que aconteceu no domingo, 3. (por Fernando Arthur)

[SÉ] Na manhã do domingo, 3, na Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda, Setor Bom Retiro, o Padre José Donizeti Coelho, Pároco, conferiu a primeira Eucaristia a nove crianças e jovens, que se prepararam por três anos para receber o sacramento. Ao final, houve agradecimentos aos pais, ao Padre e aos coordenadores paroquiais da Catequese: Cristina M. Bellinazzi e Moisés J. Bellinazzi. (por Jessica Tapia) Ruy Halasz

Fernando Arthur

do, o Bispo cumprimentou o Padre Júlio pelo permanente trabalho de acolhida durante a pandemia e por nunca estar longe das pessoas em situação de rua.

Ainda no dia 29, houve missas às 10h, 12h, 15h e às 20h, esta última antecedida de uma procissão com a imagem de São Miguel Arcanjo pelas ruas do bairro.

Secretários paroquiais participam de encontro no Centro Pastoral São José Na manhã da quinta-feira, 30, no Dia dos Secretários e das Secretárias, esses profissionais que atuam nas paróquiais da Região Episcopal Belém se reuniram no Centro Pastoral São José para participar da missa presidida por Dom Luiz Carlos Dias e concelebrada pelos Cônegos Marcelo Monge e José Miguel e o Padre Aroldo. Os secretários e secretárias da Região foram cumprimentados pelo Cônego Marcelo Monge, Ecônomo regional, bem como por Dom Luiz Carlos, que destacou o papel desses profissionais para a boa acolhida das pessoas nas paróquias. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém exortou as secretárias e secretários a sempre se apega[BRASILÂNDIA] Em 27 de setembro, os fiéis da Comunidade São Vicente de Paulo da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza, celebraram o dia do padroeiro, participando da missa presidida pelo Padre Aldo de Lima, Pároco. Na ocasião, refletiu-se sobre toda a caminhada do grupo que se estabeleceu no bairro da Vila Rica há mais de 40 anos e se engajou para angariar fundos para a compra do tão sonhado terreno para a construção do centro de acolhida e da capela para a comunidade. Ao fim da missa, aconteceu uma pequena carreata que se direcionou aos doentes e enfermos do entorno, assistidos pela Paróquia.

rem à leitura da Palavra de Deus no dia a dia, pediu que também evangelizassem no ambiente de trabalho e destacou a importância do bom atendimento na secretaria. Pediu, ainda, que estivessem sempre disponíveis e imbuídos no Espírito de Deus, colocando Jesus sempre no centro do trabalho. Por fim, fez menção aos secretários e secretárias e seus familiares que faleceram com a COVID-19. Ao final, Dom Luiz voltou a manifestar sua alegria pela realização deste encontro presencial, que não pôde ser realizado em 2020 em razão de se viver naquele momento o auge da pandemia de COVID-19. A missa foi concluída com a Oração da(o) Secretária(o), pedindo a intercessão de Nossa Senhora pelo trabalho. (FA) Arquivo paroquial

(por Pascom Nossa Senhora Aparecida)

[SÉ] Na tarde de 29 de setembro, a Comissão Arquidiocesana de Liturgia (CAL) reuniu-se presencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia de COVID-19. O encontro foi na Catedral da Sé. Na ocasião, houve um momento de estudos sobre os Lecionários e o Evangeliário, conduzido pelo Padre Helmo Cesar Faciolli, Assistente Eclesiástico da CAL, uma breve avaliação das atividades da comissão em 2020 e neste ano, e foi tratada a programação para 2022. Também se mencionou o sucesso alcançado com as lives das formações litúrgicas musicais sobre Quaresma, Tríduo Pascal e Pentecostes promovidas pela CAL e conduzidas por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Liturgia, e pelo Maestro Delphin Porto e Regiane Martinez, com média de 6 mil visualizações por live no canal do YouTube da Catedral. As próximas reuniões serão em 4 de novembro e 9 de dezembro. (por Ruy Halasz)

[SÉ] A 4ª edição da doação e entrega de marmitex para as famílias em situação de rua pela Pastoral do Menor da Paróquia Divino Espírito Santo, Setor Santa Cecília, aconteceu no sábado, 2, das 8h às 14h. [LAPA] A comunidade de fiéis da Paróquia Santa Terezinha, no Jardim Regina, Setor Pirituba, comemorou na sexta-feira, dia 1º, a memória litúrgica da padroeira.

[IPIRANGA] A festa da padroeira da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus foi celebrada na sexta-feira, dia 1º, com a realização de cinco missas e a distribuição de rosas. Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, participou da procissão e presidiu a última celebração do dia.

(por Benigno Naveira))

(por Karen Eufrosino)

(por Pastoral do Menor paroquial)


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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

Em ação de graças à Padroeira das Missões Luiz Felipe Tanko Gonçalves

CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ A festa da padroeira da Paróquia Santa Teresinha, Setor Pastoral Santa Cecília, foi realizada entre 22 de setembro e 1º de outubro. A missa do 9º dia da novena, em 30 de setembro, foi presidida por Dom Carlos Lema Garcia e concelebrada pelos Frades Everaldo Abril Pontes, OCD, Pároco; e Edinaldo da Silva, OCD, Vigário Paroquial. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé relatou que Santa Teresinha tinha o desejo de viver todas as vocações e se encantava com os mártires e com os missionários que saíam pelo mundo para fazer o bem. En-

Padre Reuberson Ferreira, MSC

controu sua vocação, sua alegria e seu lugar na Igreja, a partir da percepção de que a via é tão somente “o amor”, o amor missionário, conduzindo as pessoas nos caminhos que levam a Deus. Por isso, foi instituída como a Padro-

cia fixa, como, por exemplo, pessoas em situação de rua, o registro deve ser realizado no Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais do local onde se encontrar; II) Sendo o registrando menor de 12 anos, dispensa-se o requerimento escrito e o comparecimento das testemunhas desde que seja apresentada a DNV; III) Sendo menor de 3 anos, nascido de parto sem assistência de profissional da saúde ou parteira tradicional, a DNV será preenchida pelo Oficial de Registro e assinada pelo declarante, com comunicação ao Ministério Público; IV) A filiação poderá ser feita por meio de reconhecimento espontâneo dos genitores, independentemente do estado civil dos pais; V) Não havendo elementos para estabelecer a filiação de um ou outro genitor, o registro deverá ser lavrado, para esse genitor, sem a indicação de filiação; VI) Exigência de provas adicionais e suficientes, em caso de suspeita de falsidade da declaração, inclusas identidade, nacionalidade, idade, veracidade da declaração de residência. Caso conheça alguém sem o registro de nascimento, oriente para que o registro tardio seja feito diretamente no cartório. O registro é uma obrigação legal imposta aos pais e responsáveis. Além de indicar a existência, atribui o conjunto dos direitos decorrentes do nascimento com vida.

Da aparição às margens do Rio Paraíba até a consagração como padroeira do Brasil, a devoção a Nossa Senhora Aparecida percorreu um longo caminho histórico. Nessa grande caminhada de consolidação de devoção à Virgem de cor morena, a Igreja particular de São Paulo também auferiu sua própria contribuição. Ela consagrou todos os seus habitantes à Senhora de Aparecida. No ano de 1945, o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, à época Arcebispo de São Paulo, que mais tarde se tornaria o primeiro Arcebispo de Aparecida, quis consagrar a cidade de São Paulo e localidades circunvizinhas à Virgem que apareceu no Rio Paraíba. Decidiu, por isso, fazer com que a imagem de Nossa Senhora Aparecida peregrinasse, desde o atual Santuário Nacional até a capital paulista. Tratava-se da segunda vez que a imagem original saía do Santuário – a primeira foi à capital federal de então, Rio de Janeiro. O evento foi previamente preparado em todas as paróquias da Arquidiocese. Paradas e cantatas marianas foram promovidas. Bispos de diocese sufragâneas tomaram parte de tão insigne momento. Na noite do dia 14 de julho, uma verdadeira onda de fiéis peregrinando de diversos pontos da cidade marchou em direção à Catedral da Sé, que ficou aberta a noite inteira para vigília e visitação da imagem. Esse ato adentrou a história com o título de “A noite de Nossa Senhora”. No dia seguinte, domingo, foram realizadas missas. O Cardeal, logo nas primeiras horas do dia, pontificou solene liturgia eucarística para os fiéis, grande parte membros de organizações de operários, como Marcha Operária do Belém, Federação dos Círculos Operários e Federação das Ligas Católicas. Ao final, fez uma solene consagração de todos os habitantes da capital paulista e redondezas a Nossa Senhora Aparecida, bem como fez com que todos fizessem um juramento de fidelidade à Virgem Maria, no qual prometiam constância à Igreja e oposição aos inimigos da fé, aos males do mundo. Passados mais de 75 anos dessa consagração, ela ainda é emblemática. Esse fato porque, se naquele contexto o ideal da consagração era se opor aos males que afligiam o povo, hoje numa sociedade ainda marcada por grandes tragédias convém pedir à Virgem Maria, fiel discípula de Jesus, que interceda pela humanidade para que se empenhe num legítimo combate às misérias que saltam aos nossos olhos. Uma metrópole como São Paulo, atendendo ao seu chamado de consagrada à Virgem Maria, aquela mesma que surgiu em tons negros nas águas do Paraíba, não pode compactuar, desse modo, com uma cidade frígida, indiferente e racista. Igualmente, uma capital em que a população foi confiada à intercessão da Virgem Maria, que abençoou a população com fartura de alimentos naquela pesca milagrosa em Aparecida, não pode dormir tranquilamente sabendo que muitos dos seus ainda passam fome e frio. Enfim, consagrados à Virgem Maria, empenhemo-nos lealmente na construção de um mundo novo, uma São Paulo nova.

Crisleine Yamaji é advogada, doutora em Direito Civil e professora de Direito Privado. E-mail: direitosedeveresosaopaulo@gmail.com

Padre Reuberson Ferreira, MSC, é Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração e mestre e doutorando em Teologia pela PUC-SP.

eira das Missões, pois a essência das missões é o amor. Ao fim da celebração, Dom Carlos abençoou todas as rosas levadas pelos fiéis. Na memória litúrgica de Santa Teresinha, no dia 1º, aconteceram sete missas na Paróquia.

Comportamento Registro de nascimento tardio Crisleine Yamaji Nas regiões da periferia da cidade, é comum encontrar mães cujos filhos não foram registrados no prazo legal. E essa situação parece ter aumentado durante a pandemia. O registro de nascimento é fundamental para atestar a vida da criança e atribuir direitos. Deve ser feito na maternidade ou, quando tardio, no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais mais próximo da residência da família. Esse registro é feito em livro próprio (o livro “A”) e dele se extrai a certidão de nascimento. Ambos, registro e primeira certidão, são gratuitos. A declaração de nascimento é dever dos pais e direito dos filhos; em regra, é feita na maternidade, por meio do funcionário do cartório presente, mas também deve ser feita em até 15 dias do nascimento, ampliado para 45 dias, na falta de um deles, ou para até 3 meses para lugares distantes mais de 30 quilômetros da sede do cartório. Na falta dos pais, parentes maiores mais próximos devem levar esse nascimento a registro. Muito se questiona sobre esse registro, mas as dificuldades, mais do que jurídicas, são burocráticas. Desde 2008, uma alteração legislativa na Lei de Registros Públicos permitiu ao Oficial de Registro analisar o requerimento do registro tardio e os documentos sem exigir a prévia autorização do juiz da Vara de Registros Públicos, exceto em caso de suspeita de falsidade da declaração. O primeiro entrave são os documentos. Para o registro tardio, são necessários: I) Requerimento escrito dirigi-

São Paulo: cidade consagrada à Virgem Aparecida!

do ao Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais do lugar de residência do interessado ou formulário fornecido pelo mesmo Oficial, assinado por duas testemunhas na presença do Oficial, devidamente qualificadas (nome completo, data de nascimento, nacionalidade, estado civil, profissão, residência, RG e CPF), contendo indicação de dia, mês, ano, local de nascimento e hora certa, se possível, sexo, prenome e sobrenome, naturalidade, profissão dos pais e residência atual e indicação de prenome e sobrenome de avós paternos e maternos, lançados no registro, se o parentesco decorrer da paternidade e maternidade reconhecidas, ou preposto expressamente autorizado, devidamente qualificadas; II) Declaração de Nascido Vivo (DNV): fornecida pela maternidade aos pais do recémnascido; III) Cédula de identidade dos pais, quando ambos comparecerem ao cartório, ou quando comparecer somente o pai ou a mãe, a comprovação de casamento ou união estável; IV) Comparecimento em conjunto com duas testemunhas; V) Comparecimento de responsável ou representante legal, em caso de mãe menor de 16 anos; VI) Fotografia e impressão digital, quando possível. O segundo entrave é a compreensão de exceções ou exigências adicionais à regra geral. Entre outras, pode-se citar: I) Em caso do nascimento de alguém sem moradia ou residên-


8 | Regiões Episcopais | 6 a 13 de outubro de 2021 |

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BRASILÂNDIA Paróquia no Morro Doce realiza 5ª edição da novena de São Miguel Arcanjo Rosana Ferreira

Ana Claudia Lucena

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Com o tema “São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate”, a Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Morro Doce, Setor Perus, realizou a 5ª edição da Novena de São Miguel Arcanjo. Durante a novena, padres e irmãos consagrados presidiram missas e celebrações da Palavra no altar do Rincão Vocacional Santo Aníbal, entre eles o Superior Provincial Rogacionista, Padre Geraldo Tadeu Furtado, RCJ. Nas celebrações foi pedida a intercessão do Santo, para que defendesse a humanidade da apostasia, maldições, forças espirituais do mal, enfermidades

físicas e emocionais, do ‘demônio nas redes sociais’, da destituição das famílias, dos vícios, da violência e do desemprego. Atendidos pelo Pároco, Padre João Inácio Rodrigues, RCJ, os fiéis também

tiveram a oportunidade de receber o sacramento da Reconciliação durante toda a novena. A realização da novena envolveu a participação dos fiéis das 15 comu-

nidades que compõem a Paróquia e dos devotos de São Miguel Arcanjo. Em todos os dias, houve bênçãos especiais aos fiéis e a venda de alimentos na cantina e de produtos religiosos. Toda a renda da festa será destinada às melhorias no Rincão Vocacional Santo Aníbal. A missa de encerramento ocorreu em 29 de setembro, presidida pelo Pároco, que enfatizou: “Os arcanjos de Deus são mensageiros do bem e da paz, lutaram contra o mal e o venceram, e com eles e por eles, realizamos hoje a missa de ação de graças, louvor e gratidão, para todos os que fizeram a novena presencial ou virtualmente e as quaresmas virtuais nas madrugadas”.

LAPA Dom José Benedito participa de encontro com secretários paroquiais Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na manhã da quinta-feira, 30 de setembro, na Cúria Regional, aconteceu a reunião das secretárias e secretários das paróquias da Região Episcopal Lapa. O encontro foi coordenado por Dom José Benedito Cardoso, com a participação do Padre Antonio Francisco Ribeiro,

Assistente Eclesiástico Regional da Pastoral das(os) Secretárias(os). Dom José iniciou cumprimentando a todas as secretárias e secretários pelo seu dia. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa falou sobre a importância dos serviços de atendimento e acolhida que realizam nas paróquias. Afirmou, também, que celebrar o Dia das(os) Secretárias(os) Paroquiais é reconhecer a

importância de um trabalho que exige o aprendizado pastoral e o atendimento personalizado e esforço pessoal de cada um(a). A Pastoral das(os) Secretárias(os) tem como objetivo criar um ambiente de comunhão, que ajude na comunicação em toda a Região. Os encontros, que têm ocorrido presencialmente, reúnem 35 secretárias(os) a cada dois meses, sem-

pre com um momento de espiritualidade, formação e partilha de experiências. Após o término da reunião, comemorando o Dia da(o) Secretária(o), realizou-se um almoço festivo, numa churrascaria do bairro, com a participação de todos, junto com Dom José e alguns padres, em sinal de gratidão pelo serviço de amor ao próximo que realizam todos os dias nos atendimentos paroquiais.

IPIRANGA Dom Ângelo enaltece o trabalho realizado em secretarias de paróquias Priscila Thomé Nuzzi

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

O dia 30 de setembro foi comemorado de maneira muito especial, com um encontro dos secretários e secretárias das diversas paróquias da Região Episcopal Ipiranga, que não se reuniam desde 2019 por causa da pandemia. O encontro, na data em que se comemora o Dia do Secretário e da Secretária, começou com um momento de oração e espiritualidade, no Salão Dehon, da Paróquia Santuário São Judas Tadeu, conduzido por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ. Depois, todos seguiram para a Capela São José, do Instituto Meninos de

São Judas Tadeu, em peregrinação, para participar da Santa Missa, presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga. No início da atividade, o Frei José Maria, Coordenador de Pastoral da Região Ipiranga, fez uma breve apresentação dos secretários, conforme os setores onde estão suas paróquias: Anchieta, Ipiranga, Vila Mariana, Cursino e Imigrantes. Segundo Dom Ângelo, essa foi uma importante ocasião para a retomada do encontro presencial dos secretários e secretárias da Região Ipiranga, num momento de confraternização e reflexão pelo Ano de São José. Este foi o tema do encontro, no qual o Bispo falou sobre a carta

Patris corde, “Com um coração de Pai”, do Papa Francisco, comparando o acolhimento da ternura de São José ao trabalho dos secretários paroquiais, no dia a dia das comunidades, tendo-o como modelo. “No trabalho do secretariado nas comunidades, há um cuidado, um zelo, para que ninguém se perca: por desatenção, falta de atendimento, falta de informações… É preciso que o povo de Deus encontre em nós a esperança, por meio de nossa dedicação no trabalho bem-feito. Somos discípulos missionários, pais e mães nas sombras, como foi São José no cuidado com a Sagrada Família de Nazaré. Nós, hoje, também cuidamos, para que nada fique desprotegido na casa de Deus.”

O Bispo finalizou o momento de reflexão agradecendo a vocação de cada um: “Agradeço a vocês, pessoas de fé, pelo compromisso com a Igreja, chamados a exercer com amor e profissionalismo o seu serviço. Numa ‘igreja em saída’, vocês são chamados a acolher as pessoas que nos procuram, com coração e mente, em suas necessidades, preocupações, desejos e necessidades, alegrias e sofrimentos. Em tudo e com todos, vocês são evangelizadores.” Ao fim da celebração, os secretários rezaram a “Oração do Ano de São José”, composta pelo Papa Francisco, e uma “Ave-Maria” pelo primeiro aniversário de episcopado de Dom Ângelo.

Maurício Lavado

Marta Gonçalves

[IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa no domingo, 3, na Paróquia Santa Ângela e São Serapião, Setor Pastoral Cursino, durante a qual 19 jovens e adultos receberam o Sacramento da Confirmação. Na mesma ocasião, a comunidade paroquial iniciou a novena em honra a Nossa Senhora Aparecida. (por Caroline Dupim)

[BRASILÂNDIA] Na memória litúrgica de Santa Teresinha, na sexta-feira, dia 1º, foi realizada a missa em louvor à padroeira da Capela de Santa Teresinha do Menino Jesus da Paróquia Nossa Senhora da Expectação, Setor Freguesia do Ó, presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, e concelebrada pelo Padre Carlos Ribeiro, Pároco. (por Marta Gonçalves)


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santana

Dom Jorge Pierozan celebra 2 anos de episcopado e aponta as prioridades pastorais para 2022 Edmilson Fernandes

Edmilson Fernandes

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Em 28 de setembro, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo na Região Santana, celebrou dois anos de ordenação episcopal. Nascido em Vanini, no Rio Grande do Sul, ele tem 57 anos. Já foi circense, conviveu com ciganos, é sargento da reserva do Exército Brasileiro e um gremista apaixonado. Desde 29 de setembro de 2019, Dom Jorge, que era conhecido como “Padre Rocha”, lidera as 66 paróquias e quase cem capelas da Região Santana. Com seu estilo simples e direto, superou as barreiras impostas pela pandemia e foi ao encontro das ovelhas nessa imensa área da zona Norte de São Paulo. Nesta entrevista à Pascom Regional, o Bispo aponta os desafios pastorais e reforça a mensagem de esperança para quem enfrenta o drama financeiro, emocional ou espiritual provocado pelos 20 meses de pandemia até aqui. Pascom Santana – Após ficar 22 anos como padre, o que mudou na sua vida após a nomeação como bispo? Dom Jorge Pierozan – Mudou tudo. Eu amava o meu trabalho como pároco. Trabalhei em duas paróquias. Fui nomeado bispo, perdi os amigos da convivência desses anos todos. Perdi até o apelido, “Padre Rocha”, que me acompanhou por 40 anos, desde os 15. Demorei a me acostumar. Eu tinha um funcionário na paróquia. Agora temos 14. São 133 padres, 34 diáconos permanentes e dois diáconos seminaristas. Foi duro no começo, porque ninguém se prepara para ser bispo. Por não ter uma paróquia, o bispo tem uma vida solitária? Quando vou celebrar em uma paróquia, no fim das missas, normalmente fico para cumprimentar as pessoas, tirar fotos. Esses momentos são muito importantes para mim. Fico disponível para conversar com quem quiser. Às vezes, é alguma reclamação, alguém que puxa a túnica, entrega uma cartinha. Muitas vezes, janto com as pessoas, quando o padre convida... Eu vou com alegria! Isso me põe um pouquinho em contato com o povo. A convivência com circenses e com ci-

Dom Jorge Pierozan, na missa de ação de graças pelos dois anos de ordenação episcopal, na Capela São José, da Cúria Regional de Santana

ganos o ajuda agora como bispo? Ajuda-me em tudo porque os conheço. Eles demoram uma semana para entender o que a gente quer ali, mas quando descobrem que é por amor a eles, vão na frente da bala para morrer no nosso lugar se for preciso. Demoram a dar confiança, mas quando confiam, é para a vida toda. E continuo fazendo a mesma coisa que fazia. Uma noite dessas, fui à Ponte do Piqueri com o Diácono Permanente Nilo Carvalho, a mulher e a filha, cuidar dos ciganos. Levamos chocolate e brinquedo para as crianças e cesta básica para todas as famílias. Faço isso sozinho também. Estou lutando para conseguir documentos para que todos os ciganos que vivem perto do Terminal Rodoviário do Tietê sejam vacinados. Na quinta-feira da semana passada, fui levar cesta básica ao Circo Mix, no Jaçanã. É um circo muito pequeno, muito pobre, está num lugar complicado. Eram 11 horas da noite e ‘quebrei a cara’. Estava fechado porque não teve espetáculo naquele dia. Aí, deixei as cestas lá na entrada. Quando voltei para tirar uma foto, estavam pegando e até se esconderam. Sou vice-presidente da Pastoral dos Nômades do Brasil. Estou procurando preencher uma lacuna que existe na Região. Por dever, por aquilo que vivi com eles. A maior parte do seu ministério coincidiu com a pandemia. Como o seu trabalho foi impactado pelas restrições? A Igreja Católica cumpriu, como poucas instituições neste País, a sua parte para o fim da pandemia ou para evitar a disseminação do vírus. Pagamos o preço por isso. Hoje, existem paróquias com muitas dificuldades financeiras, padres com risco de depressão... Durante o período mais Pascom paroquial

duro, eu ligava para alguns padres e diáconos. Para alguns, liguei só uma vez. Outros, cinco vezes. A gente tem que sentir quem está precisando de mais apoio. São seres humanos que também estão à mercê das fragilidades e precisam estar animados para conduzir o povo. Li uma vez que “o padre é aquele que cura a ferida quando ele mesmo está sangrando”. Isso também vale para o bispo. Às vezes, gostaria de estar junto com um irmão bispo, ir pescar, contar uns “causos”, mas a pandemia tirou isso. Depois de conhecer a realidade das 66 paróquias, quais são as suas prioridades para o próximo ano? A primeira é fortalecer a Pastoral Vocacional. Há padres findando as forças para continuar na paróquia e não temos quem colocar no lugar. A Arquidiocese deveria ordenar uns 20 padres por ano para dar conta da demanda, mas ordena apenas uns dois ou três. Qual o motivo? Acredito que um dos motivos seja essa diversidade de informação. A facilidade que o mundo oferece, de alguém que não tem mais projeto de longo prazo. Tudo é “o agora”. As relações são muito líquidas, muito diluídas. Há uma geração muito frágil. Crianças de 8 anos com depressão! Há muito suicídio na adolescência! A segunda prioridade é a Pastoral da Criança. E o terceiro desafio é melhorar a Catequese. O Papa Francisco elevou a função do catequista à de ministro. Precisamos valorizar e cuidar da formação dos agentes. Nas visitas às paróquias, o senhor adora tirar fotos para postar na internet... Na verdade, nem gosto de tirar fotos.

[BRASILÂNDIA] A Comunidade São Francisco de Assis da Paróquia Cristo Rei, Setor Perus, realizou um tríduo para festejar o padroeiro. O encerramento, no domingo, 3, foi com missa presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, que se aprofundou de forma muito autêntica no exemplo e vida de Francisco, patrono da ordem na qual dedicou sua vida e ministério presbiteral. Além das festividades próprias do padroeiro, a comunidade também comemora em 2021 seu jubileu de pérola, pelos 30 anos de criação. (por seminarista Gabriel Barroso)

É uma forma de me aproximar das pessoas. Quando tiram fotos comigo, as pessoas ficam à vontade; pedem uma bênção, comentam encontros anteriores... Há uma interação natural. O senhor acha que a Igreja usa bem as redes sociais? A pandemia obrigou as equipes da Pascom a encontrar formas de chegar ao povo de Deus. Mas é preciso melhorar. A tecnologia é um desafio, mas precisamos aproveitar essas ferramentas para atingir mais corações e mais fiéis. Qual a mensagem que o senhor deixaria às milhares de pessoas que perderam um ente querido ou que estão desesperadas porque não têm mais emprego nem renda? A pandemia fez estragos financeiros, emocionais, psicológicos e espirituais no povo de Deus. Levou gente querida. Levou gente muito mais jovem do que eu (57 anos); gente mais santa do que eu. Mas temos que agir como o tigre ferido na pata, que vai para a toca lambendo a ferida. Um dia, ele vai colocar a patinha pra fora da toca de novo; vai pisar, perceber que ainda dói, mas depois consegue ganhar as pradarias, sair correndo e voltar à vida de antes. Sejamos gratos a Deus por estar aqui. Sejamos gratos porque, por pura bondade, graça e misericórdia de Deus, nós permanecemos aqui. Ele deve ter um plano para nós. Tenhamos esperança. Um poeta escreveu uma vez que quanto mais densas as trevas da madrugada, mais se aproxima o amanhecer. Eu acho que nós vemos a curva já da meia-noite, uma da manhã, três da manhã... Depois começa a luz do amanhecer do novo dia. Então, confiemos nesse novo tempo que chegará para todos nós.

[SÉ] Na tarde de 30 de setembro, estiveram reunidos de forma on-line representantes da Rede Rua, Pastoral da Mulher Marginalizada, Missão Paz, Fraternidade o Caminho, Centro de Direitos Gaspar Garcia, Pastoral Afro, Paróquia São Gonçalo, Instituto Terra Trabalho e Cidadania (ITTC), Universidade Uninove, Pastoral do Mundo do Trabalho e o Núcleo Regional Sé da Caritas Arquidiocesana de São Paulo para organizar as atividades do “V Dia Mundial dos Pobres”, que acontecerá em 14 de novembro, no espaço conhecido como Quadra dos Bancários (Rua Tabatinguera, 192, Sé). A próxima reunião será no dia 10, às 13h. (por Núcleo Regional Sé da Caritas)


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Cor Unum promove ações de solidariedade em favor de migrantes e refugiadas Luciney Martins/O SÃO PAULO

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Voluntários da associação Cor Unum realizaram na manhã do sábado, 2, na Paróquia São Vito Mártir, no Brás, uma série de atividades nas áreas de assessoria jurídica, atendimento psicológico, dicas de planejamento e empreendedorismo que beneficiaram 11 refugiadas venezuelanas e duas angolanas. O atendimento personalizado proporcionou às participantes oportunidades de aprendizado, autoconhecimento e esperança, além de novos horizontes para empreender e garantir o sustento de suas famílias.

Um só coração

A associação Cor Unum foi criada em 2020, em meio à pandemia de COVID-19, na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, com o apoio dos Padres Michelino Roberto, Pároco, e Alessandro Enrico de Borbón, então Vigário Paroquial. Sensibilizados pela situação das pessoas frente à pandemia, em uma reunião pastoral, eles convidaram os paroquianos a se unirem em uma ação emergencial para ajudar os mais necessitados. Da união e engajamento da comunidade paroquial, surgiu o Cor Unum, com o intuito de unir, como o próprio nome diz, em um só coração, os paroquianos e ajudar os irmãos em situação de vulnerabilidade social. Em pouco mais de um ano, a entidade cresceu e, diante das necessidades, criaram-se várias frentes de atuação – ou braços, como chamam os organizadores –, com o objetivo de assegurar a dignidade integral e não somente uma assistência pontual. Os voluntários, que preferem não identificar seus nomes, mas serem conhecidos como os paroquianos da Nossa Senhora do Brasil, são unânimes em afirmar que a ação pastoral ampliou os horizontes de compreensão das necessidades do próximo e intensificou a prática da solidariedade e a dimensão da espiritualidade.

Autonomia financeira

Pensando na integralidade dos beneficiários, uma das ações do Cor Unum é a Mentoria/Finanças, com o intuito de proporcionar às pessoas atendidas um caminho de autonomia financeira. A iniciativa em parceria com o Espaço SEHR, do chef Rodney Neuri Carvalho, conhecido pelo apelido de Caco, numa extensão do Programa Cozinha Inclusão, tem ensinado refugiadas que vivem no Brasil a fazerem receitas simples e de baixo custo da culinária brasileira: brigadeiro, trufa, bolo de chocolate, de cenoura, pão de mel, torta de frango; numa proposta de “faça e venda”. “O objetivo é capacitar essas mulheres a uma autonomia. A Gastrono-

Voluntários do Cor Unum juntos com migrantes e refugiados atendidos na ação realizada no sábado, 2, na Paróquia São Vito Mártir, no Brás

mia é uma via que oferece possibilidades de empreendedorismo, uma vez que, aqui, ensinamos receitas populares, que estão no gosto do brasileiro e que podem ser vendidas em estabelecimentos, quiosques e carrinhos na rua ou sob encomenda”, ressaltou um dos voluntários. A primeira turma concluiu o curso de Confeitaria no fim de setembro, e cinco participantes produzem e vendem os bolos como fonte e complementação de renda. A venezuelana Betzy Jholyne Morão Rosa está no Brasil há dois anos. Foi uma das alunas do curso. Em seu país, trabalhava como policial. Em decorrência da crise econômica, ela afirmou que o salário não era suficiente para manter o básico e, assim, resolveu partir em busca de melhores condições de vida. “As pessoas gostam dos meus bolos, e já estou recebendo encomendas para festas e aniversários”, contou, salientando que já se inscreveu no próximo curso de Decoração de Bolos que será oferecido pela associação em novembro.

Assessoria jurídica

Outra ação é o Juris Cor, que conta com 27 advogados voluntários que auxiliam as entidades apoiadas em questões jurídicas e tem ajudado, sobretudo, refugiados e migrantes no Brasil a regularizar sua documentação para a permanência no País. Maria Gabriela Aparicio Perez, 19, é venezuelana e mãe de Santiago, de 2 anos. Ela veio ao País em busca de trabalho e para garantir o futuro do filho longe da violência e da fome. “Um dos motivos de estar aqui neste sábado é para regularizar a documenta-

ção de residência do meu filho. Conversei com a psicóloga e sou uma das alunas do curso de Confeitaria”, contou.

destacando que os sabores mais pedidos por seus clientes são os bolos de cenoura com cobertura de chocolate e o de laranja.

Em busca de direitos

Outras ações

Fifi Siala Poba é refugiada angolana. Em razão do desemprego e da pobreza em seu país, há cinco anos deixou tudo para recomeçar em outro continente. Veio com o esposo e quatro filhos. Dois nasceram no Brasil. A mais velha permaneceu na terra natal, por falta de dinheiro para a viagem. Fifi foi à ação do Cor Unum em busca de apoio jurídico, uma vez que a empresa em que trabalha em São Paulo, há dois meses tem atrasado seu salário e os benefícios. “O trabalho é a forma como sustento meus filhos e economizo para trazer a minha filha que ficou em Angola. Os atrasos me impedem de pôr a comida na mesa, de pagar o aluguel”, disse, segurando no colo a pequena Vivian, de 3 meses. “A associação estende as mãos, aponta caminhos e a esperança renasce”, ressaltou. Ela concluiu o curso com o chef Caco e aproveitou o atendimento psicológico “para falar sobre os sentimentos, a vida e as dificuldades.”

Celebrar as conquistas

Joselyn Del Valle Bameto Mujica é venezuelana. Está no Brasil há um ano e seis meses. Deixou seu país por causa da situação política e econômica. Lá estava desempregada. Veio com o marido e os filhos. “No curso, aprendi a fazer as delícias brasileiras. Hoje, vendo os bolos no ponto de ônibus perto de casa. Vim aqui confraternizar com minhas amigas essa conquista, que é muito importante para nós que estamos chegando ao novo País”, disse,

O Kitchen Cor é um dos braços da associação, pelo qual são produzidas marmitas, de segunda a quinta-feira, em uma cozinha industrial, bem como nas casas dos voluntários do Cor Unum. No Sandu Cor, as famílias se organizam em suas residências, locais onde preparam e depois distribuem sanduíches a quem precisa. A ação conta com a colaboração dos jovens da Paróquia, e, a cada dois domingos, os sanduíches são encaminhados à Aliança de Misericórdia e à Missão Belém. No Saúde Cor, há cerca de 80 profissionais da área da Saúde que doam seu tempo para atender, em projetos sociais, a população em situação de vulnerabilidade. O Kits Cor viabiliza a doação de kits de higiene e chinelos às pessoas internadas no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Há, ainda, a equipe do Eventos Cor e o Curadoria Cor, que planejam as ações a serem realizadas. Sobre o êxito e crescimento do projeto, os participantes afirmam que tudo é possível graças à ação do Espírito Santo, da colaboração dos paroquianos e fruto das orações. Inclusive, um dos braços é o Intercessão Cor, grupo que reza por aqueles que estão na missão e pelos que são beneficiados pela atuação dos voluntários.

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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Em defesa das duas vidas – Especial | 11

ANÁLISE

Na terra do descarte e da morte Francisco Borba Ribeiro Neto

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

São João Paulo II, na encíclica Evangelium vitae (EV, 21), mostrou que o problema do aborto residia não apenas num ato isolado, realizado num momento de desespero, mas numa visão de mundo que abarcava todas as relações sociais: a cultura da morte. Em nossa sociedade, analisava o Papa, quando o sentido de Deus foi perdido, também a percepção da dignidade da pessoa humana se viu obliterada. Em tese, nunca se valorizou tanto a dignidade e a universalidade da pessoa como em nossos tempos, mas a compreensão do que é ser pessoa foi reduzida. Só os que têm força para produzir, defender-se ou gozar a vida têm sua dignidade reconhecida. A criança ainda não nascida, o ancião no fim da vida, o paciente terminal, destituídos dessas capacidades, não têm a dignidade reconhecida. Com os avanços da biologia, não pode haver objeção ao fato de que, na concepção, quando os gametas masculino e feminino se unem, forma-se um novo ser humano, uma nova vida, inclu-

sive com um código genético diferente daquele de seus pais. O verdadeiro debate é sobre a dignidade daquele ser humano recém-formado. Os defensores “da vida” reconhecem já ali uma pessoa humana com plenos direitos. Os defensores “do direito de escolha” querem que aquele ser humano seja entendido apenas como um amontoado de novas células humanas, sem dignidade ou direitos, sujeito à escolha de outros. A cultura da morte é uma negação do princípio da dignidade universal e inviolável da pessoa humana. Só aqueles que são produtivos ou desejados têm sua dignidade reconhecida. Os frágeis e indesejados podem, segundo essa lógica, ser eliminados. Longe de qualquer discussão confessional, a constatação da universalidade dos direitos humanos exige que se reconheça que aquele nascituro já tem direito à vida. Uma plena compreensão do amor se torna impossível na cultura da morte. O amor atinge sua plenitude na doação gratuita de si a outro, algo que nunca poderá ser alcançado numa relação na qual se sujeita a vida do outro à sua vontade. Assim, a cultura da morte vai determiVatican Media

nando um modo de se relacionar com toda a realidade. Mesmo que usando uma palavra aparentemente menos forte, Francisco amplia nossa percepção da cultura da morte ao chamá-la de cultura do descarte, acenada na exortação apostólica Evangelli gaudium (EG, 53 e 195), explicadas nas encíclicas Laudato si’ (LS, 20-22 e 123) e Fratelli tutti (FT, 18-24). Numa época em que a sociedade se preocupa com o meio ambiente, quer evitar o desperdício e a geração de resíduos, o próprio ser humano passa a ser visto como um produto descartável, condenado ao esquecimento, à exclusão e à morte quando não interessa (LS, 120). Francisco mostra como a cultura da morte se torna mentalidade cotidiana, atitude frente a coisas e pessoas. Sem o reconhecimento da dignidade original à qual todo ser humano tem direito, não há limite claro entre o lícito e o ilícito. Nosso voluntarismo passa a ser o critério último para todas as coisas. A mesma sociedade que defende o meio ambiente é aquela que mais polui. A mesma sociedade que exalta os direitos humanos é aquela que deixa refugiados morrerem, crianças famintas, velhos solitários à mingua.

Como enfrentar tal situação? Denunciar o erro e defender uma legislação que proteja a vida são passos irrenunciáveis nesse enfrentamento (EV, 68). Contudo, é necessário mais. Já na Evangelium vitae (EV, 88-90), São João Paulo II exorta-nos a realizar obras de acolhida a grávidas em dificuldades, casais que necessitam de orientação, idosos etc. Bento XVI falava em superar o medo, com o reconhecimento da beleza da vida e a força da esperança. Francisco exorta a “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas [... com] força e ternura, luta e fecundidade, no meio de um modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à cultura do descarte” (FT, 188). Lembra, ainda, que “para muitos cristãos, este caminho de fraternidade tem também uma Mãe, chamada Maria. Ela recebeu junto à Cruz esta maternidade universal (cf. Jo 19,26) e cuida não só de Jesus, mas também do resto da sua descendência (cf. Ap 12,17). Com o poder do Ressuscitado, Ela quer dar à luz um mundo novo, onde todos sejamos irmãos, onde haja lugar para cada descartado das nossas sociedades, onde resplandeçam a justiça e a paz” (FT, 278).

O que diz o Papa Francisco sobre o aborto? Ao longo de seus mais de oito anos de pontificado, o Papa Francisco reiterou seu posicionamento contrário ao aborto em documentos, discursos e entrevistas. Veja algumas dessas declarações:

“Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e, no entanto, esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano”.

Exortação apostólica Evangelii gaudium, 213-214 (24/11/13)

“Nos dias de hoje, para a economia que se implantou no mundo, onde no centro se encontra o deus dinheiro e não a pessoa humana, o resto é ordenado a isso, e o que não faz parte desta ordem é descartado. Descartam-se os filhos que são a mais, que incomodam ou que não é oportuno que nasçam…”

Discurso à plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina (28/02/14)

“O aborto acrescenta-se à dor de muitas mulheres, que agora trazem dentro de si profundas feridas físicas e espirituais, depois de ter cedido às pressões de uma cultura secular que desvaloriza o dom de Deus da sexualidade e o direito à vida dos nascituros”.

Discurso aos bispos da conferência episcopal do Botswana, África do Sul e Suazilândia (25/04/14)

“O aborto não é um mal menor. É um crime. É eliminar uma pessoa para salvar outra. É aquilo que faz a máfia. É um crime, é um mal absoluto. […] O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar outra (na melhor das hipóteses!) ou para nossa comodidade”.

Conferência de imprensa no voo de regresso do México a Roma (17/02/16)

“Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai”. Carta apostólica Misericordia et misera (20/11/16)

“Por vezes ouvimos: ‘Vós, católicos, não aceitais o aborto, é o problema da vossa fé!’. Não: é um problema pré-religioso. Nada tem a ver com a fé. Ela vem sucessivamente, mas não tem nada a ver: trata-se de uma questão humana, de um problema pré-religioso”.

Discurso aos participantes no simpósio promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (25/05/2019)

Leia a lista completa em: https://tinyurl.com/yj2z9aow. Apuração: Fernando Geronazzo


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12 | Especial – Em defesa das duas vidas | 6 a 13 de outubro de 2021 |

Católicos caminham pelas ruas do centro de São Paulo contra o aborto e em defesa da vida da mulher gestante e do nascituro, durante edição 2021 da Marcha pela Vida, no domingo, dia 3

‘O direito à vida é intocável’

Afirmou o Cardeal Scherer, na missa com os participantes da Marcha pela Vida 2021 Fernando Geronazzo

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“Vida, sim! Aborto, não!” foi o apelo feito por católicos de diferentes idades nas ruas do centro da cidade de São Paulo, na manhã do domingo, 3, durante a edição de 2021 da Marcha pela Vida. Este ano, a manifestação popular realizada na capital paulista desde 2018 foi novamente de forma presencial, ao contrário da edição de 2020, que, devido às restrições da pandemia de COVID-19, aconteceu na modalidade virtual. A iniciativa reuniu na frente do Pateo do Collegio membros da Pastoral Familiar, comunidades e movimentos que atuam na promoção da vida humana. O evento também aconteceu no contexto da Semana Nacional da Vida, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre os dias 1º e 8, data em que é comemorado do Dia do Nascituro. Com balões e lenços azuis e brancos, o grupo seguiu em caminhada até a Praça da Sé, onde, diante da Catedral Metropo-

litana, foi instalada a representação inflável de um bebê gestado no útero materno, para chamar a atenção da sociedade de que o feto é uma vida humana e, por isso, tem assegurado o direito à vida. Durante a marcha, também houve uma ação solidária de distribuição de lanches e kits de higiene pessoal às pessoas em situação de rua do centro.

Dignidade humana

Em seguida, manifestantes participaram da missa na Catedral da Sé, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e concelebrada por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Coordenação Pastoral para a Vida e a Família. Na homilia, Dom Odilo enfatizou que a Marcha é uma expressão da valorização da vida por parte da Igreja, povo de Deus. Ele reforçou a firme posição da Igreja em defesa da dignidade da vida humana em todas as suas fases. O Cardeal recordou que há muitos grupos da sociedade que defendem o

aborto como se fosse um “direito”. “Tirar a vida de alguém é um direito? Ainda mais uma vida inocente, indefesa?”, questionou Dom Odilo, enfatizando a necessidade da tomada de consciência de que a vida humana é intocável. O Arcebispo sublinhou o empenho dos cristãos na valorização da vida humana não nascida e também após o nascimento, preocupando-se com sua saúde, educação, seu desenvolvimento e proteção.

Ameaças à vida não nascida

A coordenadora desta edição da Marcha pela Vida, Elaine Teixeira Cancian, explicou ao O SÃO PAULO que o principal objetivo da atividade é reafirmar o posicionamento dos católicos em defesa da vida humana, da concepção até a morte natural, manifestando-se contra qualquer tentativa de legalização do aborto. “São várias as ameaças existentes contra a vida daqueles que ainda não nasceram, como projetos de lei e discussões que, de alguma forma, facilitam a prática do aborto em nosso País”, afirmou a orga-

nizadora, acrescentando que, ao contrário do que aqueles que defendem a legalização do aborto argumentam, tal prática não protege a saúde da mulher gestante, uma vez que a interrupção voluntária da gravidez, além de causar o homicídio do bebê gestado, configura-se uma violência física e psicológica que deixa graves consequências para a vida da mulher. “Precisamos ressaltar a conscientização de que devemos proteger as duas vidas, da mãe e do bebê que está sendo gerado”, reforçou Elaine, recordando que existem inúmeras iniciativas, inclusive ligadas à Igreja, que buscam dar apoio e assistência às mulheres que passam gestações em crise, ou que foram vítimas de violências que resultaram em uma “gravidez indesejada”. “O aborto provocado é sempre um risco para a saúde da mulher”, enfatizou Elaine, chamando a atenção para as consequências físicas que podem decorrer dessa prática e dos inúmeros casos da chamada síndrome pós-aborto, que pode deixar sequelas psíquicas por toda a vida, inclusive acometendo homens.

Igreja e sociedade em defesa do nascituro Instituído em 1999, o Dia do Nascituro é uma iniciativa da CNBB, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o direito à vida daqueles que foram concebidos, mas ainda não nasceram. Há 14 anos, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei (PL) 478/2007, que dispõe sobre a criação do Estatuto do Nascituro, pelo qual se assegurará proteção integral ao ser humano concebido, mas ainda não nascido, reconhecendo sua dignidade e conferindo-lhe proteção jurídica. Ao todo, já foram protocolados 11 projetos sobre o Estatuto do Nascituro na Câmara dos Deputados. Des-

ses, sete tramitam em conjunto na casa legislativa. O mais recente é o PL 434/2021, que inclui novos dispositivos à parte processual. Esse texto, que atualmente aguarda apreciação na Comissão de Seguridade Social e Família, ressalta que “a personalidade civil do indivíduo humano começa com a concepção [...] O nascituro goza do direito à vida, à integridade física, à honra, à imagem e de todos os demais direitos da personalidade”.

O que diz a legislação

O artigo 2º do Código Civil afirma que “a personalidade civil da pessoa co-

meça a partir do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Além disso, a Constituição, em seu artigo 5º, aponta que o direito à vida é inviolável. O Código Penal, no capítulo que trata dos crimes contra a vida, nos artigos 124, 125, 126 e 127, criminaliza a prática do aborto. O art.128, porém, postula que não se deve punir o aborto praticado por médico quando este for realizado por não haver outro meio para salvar a vida da gestante ou se a gravidez resulta de um estupro. Semelhante decisão foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012,

para os casos de fetos diagnosticados com anencefalia. A legislação penal, contudo, não concede direito ao aborto nesses casos, mas apenas não pune seus autores quando realizados. Portanto, concretamente, embora seja popularmente chamado de “aborto legal”, a prática continua sendo tipificada como crime, mas não punível. A tentativa mais recente de legalização do aborto é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 422/2017, ainda em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), que propõe a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. (FG)


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Pastorais Familiar e da Criança se unem na defesa da vida A Semana Nacional da Vida foi aberta na Arquidiocese de São Paulo com um encontro on-line realizado pela Pastoral Familiar e pela Pastoral da Criança na sexta-feira, dia 1º. Com o título “Esperançar”, a live contou com a participação de agentes das duas pastorais e do Cardeal Odilo Pedro Scherer. Ao saudar os participantes, o Arcebispo Metropolitano afirmou que a Semana Nacional da Vida deve envolver todas as pessoas em um “grande mutirão de tomada de consciência”. “A agressão a uma forma de vida é agressão à vida como um todo... a vida humana não pode ser exposta a interesses terceiros, nunca pode ser vista como um meio para alcançar um objetivo, pois ela sempre é um objetivo em si mesma e, por isso, deve ser respeitada plenamente”, enfatizou o Cardeal. Referindo-se ao trabalho realizado pela Pastoral Familiar, o Arcebispo recordou que a família, como afirmou São João Paulo II, é o santuário da vida e, por essa ra-

zão, precisa ser valorizada, amparada e protegida conforme o plano de Deus para ela. Sobre a Pastoral da Criança, Dom Odilo sublinhou sua missão de cuidar da criança desde antes do nascimento, dando amparo e apoio às mulheres gestantes e acompanhando seus filhos na primeira infância: “Esse trabalho já ajudou tantas vidas e ajudou tantas crianças a viverem bem”.

Dados

A coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Criança, Irani Madalena de Sousa, ressaltou que a proteção do nascituro se manifesta também no cuidado para com as gestantes, que, em muitos casos, deixaram de buscar o acompanhamento médico pré-natal, o que aumenta o risco da gestação, seu bem-estar e o da criança, aumentando a mortalidade infantil e de gestantes. “Muitas gestações não chegam a termo pela falta desse acompanhamento”, alertou Irani. Nesse sentido, a pandemia pro-

vocou a paralisação da maioria das atividades presenciais essenciais da Pastoral da Criança, como as visitas às casas. Segundo os dados apresentados pela coordenadora, em 2019 a Pastoral da Criança atendia cerca de 7,8 mil crianças e gestantes; em 2020, esse número caiu para 5,8 mil e, este ano, até o momento, 3,2 mil. Os números também indicam uma queda na quantidade de agentes da Pastoral da Criança na Arquidiocese, que, dos 682 em 2019, este ano somam 307, principalmente devido ao fato de muitos líderes pertencerem ao grupo de risco para formas graves da COVID-19. “Precisamos defender a vida onde quer que ela seja ameaçada. Por isso, a Pastoral da Criança e a Pastoral Familiar têm um papel imprescindível”, ressaltou o Padre Jorge Bernardes, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Criança na Arquidiocese. A íntegra do encontro pode ser assistido pelo link: https://tinyurl.com/yfxcjzsm. (FG) Luciney Martins/O SÃO PAULO

Campanha ‘40 dias pela Vida’ acontece em São Paulo Redação

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Em sintonia com a Semana Nacional da Vida, acontece na capital paulista mais uma edição da campanha global “40 Dias pela Vida” (www.40daysforlife.com). Até 31 de outubro, católicos, em grupos, em família ou individualmente, se revezam em uma contínua vigília de jejum e oração em frente ao Hospital Pérola Byington, na Bela Vista, com o objetivo de conscientizar as comunidades locais sobre os malefícios do aborto. Atos como esse são realizados em diversas cidades do mundo, em locais próximos a hospitais ou centros médicos onde se realizam abortos, ainda que com respaldo legal para não punir quem os pratica. No Brasil, a campanha também ocorre no Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Brasília (DF). Desde que foi amplamente estruturada, em 2007, a campanha já ocorreu em mais de 800 cidades de 56 países, e permitiu que 17 mil vidas fossem salvas. Além disso, 206 trabalhadores pediram demissão de seus postos de trabalho em centros de aborto, e 107 destes locais foram fechados, uma vez que, ao longo dos 40 dias, também é feito um chamado ao arrependimento daqueles que trabalham em ambientes que praticam o aborto, bem como das instituições que financiam tais instalações. “É muito importante que todos se levantem e saiam às ruas contra este crime e também o façam para dar esperança de vida às mulheres que estão passando por uma crise na gravidez. E isso podemos fazer por meio dos ‘40 Dias pela Vida’”, afirmou a mexicana Lourdes Varela, coordenadora latino-americana dessa iniciativa global, em entrevista ao O SÃO PAULO, concedida em 2019. Lourdes relatou, na ocasião, que a campanha teve início após a frustração de um pequeno grupo, chamado Coalizão pela Vida, que percebeu que, apesar de todos os esforços voltados para informar a comunidade sobre o crime do aborto, essa prática continuava crescendo no Texas, Estados Unidos. “Um dia, essas quatro pessoas decidiram rezar e perguntar a Deus sobre o porquê disso, e o que Ele queria que fosse feito. Foi quando surgiu a ideia dos 40 dias, porque é um período bíblico de transformação”, relatou Lourdes. Em seguida, a iniciativa passou a acontecer em outras cidades, e, em 2007, de forma já organizada nacionalmente nos Estados Unidos. A partir de 2014, o movimento chegou ao México, em 2015 à Colômbia, Brasil e outros países.

Como participar

Cardeal Odilo Scherer abençoa gestante após missa que marcou o início da Semana Nacional da Vida na Arquidiocese

Em São Paulo, a vigília acontece diariamente, até 31 de outubro, das 9h às 19h. As pessoas podem participar indo até as proximidades do Hospital Pérola Byington e, de forma pacífica, interceder com oração e mobilização social e educativa. Podem, ainda, assumir um horário fixo semanal durante toda a campanha. Os organizadores também ressaltam que todos os católicos podem participar indiretamente, unindo-se em oração e jejum pela causa, conduzindo grupos de oração paroquiais, de famílias ou amigos para juntos peregrinarem até o local. Além disso, é possível colaborar por meio de doações para os voluntários. O canal de comunicação com a iniciativa é o perfil no Instagram: https://www.instagram.com/40diaspelavidasp.


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Na maioria dos países, a vida do nascituro está em risco josé ferreira filho

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Nações, regiões autônomas e territórios ao redor do globo possuem entendimentos diversos em relação à maneira como o aborto deve ser tratado, o que faz com que as consequências em relação à sua possível prática variem de um lugar para outro.

Um patamar de 970 milhões de mulheres, representando 59% daquelas em idade reprodutiva, vivem em países que permitem amplamente o aborto, enquanto 41% delas vivem em nações com leis que protegem o nascituro. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 mil mulheres morrem de aborto inseguro a cada ano e dezenas de milhares sofrem complicações de saúde significativas. A Igreja, no entanto, reafirma seu compromisso com a

vida e a dignidade humanas ao defender o direito do nascituro sob qualquer circunstância e idade gestacional. O mapa a seguir categoriza a situação do aborto, incluindo desde os locais que o tratam com severas restrições até aqueles que o aceitam com relativa liberalidade, a partir da leitura estrita da lei em vigor, de acordo com estatutos nacionais, regulamentos legais e decisões judiciais.

Totalmente proibido A fim de salvar a vida da mãe A fim de preservar a saúde Fundamentos Socioeconômicos A pedido da gestante

Fonte: Reproductive Rights

Categoria I

Totalmente proibido As leis dos 24 países ou territórios desta categoria não permitem o aborto sob qualquer circunstância, inclusive quando a vida ou a saúde da mulher estão em risco. Ao todo, 90 milhões de mulheres (5% do total mundial) em idade reprodutiva vivem neles: Andorra Aruba Cisjordânia Congo (Brazaville) Curaçao Egito El Salvador Faixa de Gaza Filipinas Haiti Honduras Iraque Jamaica Laos Madagascar Malta Mauritânia Nicarágua Palau República Dominicana Senegal Serra Leoa Suriname Tonga

Categoria II

A fim de salvar a vida da mãe

As leis de 42 países desta categoria permitem o aborto quando a vida da mãe está em risco. Isso significa que 360

milhões (22%) das mulheres em idade reprodutiva vivem em locais em que o aborto é permitido a fim de salvar unicamente suas vidas. Afeganistão Antígua e Barbuda Bahrein Bangladesh Butão Brasil Brunei Chile Costa do Marfim Dominica Emirados Árabes Unidos Gabão Gâmbia Guatemala Iêmen Indonésia Ilhas Marshal Ilhas Salomão Irã Kiribati Líbano Líbia Malawi Máli México Mianmar Micronésia Nigéria Omã Panamá Papua Nova Guiné Paraguai Somália Sudão Sudão do Sul Sri Lanka Síria Tanzânia Timor Leste

Tuvalu Uganda Venezuela

Categoria III

A fim de preservar a saúde As leis dos 51 países desta categoria permitem o aborto com base em motivos de saúde ou terapêuticos. Um total de 211 milhões (13%) das mulheres em idade reprodutiva vivem neles. Angola Arábia Saudita Argélia Bahamas Benin Bolívia Botswana Burkina Faso Burundi Camarões Chade Colômbia Coreia do Sul Costa Rica Djibuti Equador Eritreia Esvatini (antiga Suazilândia) Gana Granada Guiné Guiné Equatorial Ilhas Comores Ilhas Maurício Ilhas São Cristóvão e Neves Israel Jordânia Kwait Lesoto

Libéria Liechtenstein Malásia Marrocos Mônaco Namíbia Nauru Níger Paquistão Peru Polônia Qatar Quênia República Centro-Africana República Dem. do Congo Samoa Santa Lúcia Seychelles Togo Trinidad e Tobago Vanuatu Zimbábue

Categoria IV

Fundamentos socioeconômicos

Critério presente em 13 países, essas leis são geralmente interpretadas liberalmente para permitir o aborto sob um ampla gama de circunstâncias. Ao todo, 616 milhões (37%) das mulheres em idade reprodutiva vivem nesses países. Barbados Belize Etiópia Fiji Finlândia Grã-Bretanha Hong Kong Índia

Japão Ruanda São Vicente e Granadinas Taiwan Zâmbia

Categoria V

A pedido da gestante Todos os 71 países desta categoria possuem limites gestacionais de 12 semanas para a realização do aborto, exceto quando indicado. Um total de 386 milhões (13%) das mulheres em idade reprodutiva vivem neles. África do Sul Albânia Alemanha Argentina Armênia Austrália Áustria Azerbaijão Belarus Bélgica Bósnia-Herzegovina Bulgária Cabo Verde Camboja Canadá Casaquistão China Chipre Coreia do Norte Croácia Cuba Dinamarca Eslováquia Eslovênia Espanha Estados Unidos Estônia França

Geórgia Grécia Guiana Guiana Francesa Guiné-Bissau Holanda Hungria Irlanda Irlanda do Norte Islândia Itália Kôsovo Letônia Lituânia Luxemburgo Macedônia do Norte Maldivas Moçambique Moldávia Mongólia Montenegro Nepal Nova Caledônia Nova Zelândia Noruega Porto Rico Portugal Quirguistão República Tcheca Romênia Rússia São Tomé e Príncipe Sérvia Singapura Suécia Suíça Tadjiquistão Tailândia Tunísia Turcomenistão Turquia Ucrânia Uruguai Uzbequistão Vietnã


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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Papa Francisco | 15

Líderes religiosos se unem a cientistas e pedem seriedade no combate à mudança climática Vatican Media

Às vésperas da COP26, membros das maiores religiões do mundo assinam apelo conjunto no Vaticano

Rumo à COP26

Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Quase 40 líderes representantes das maiores religiões se reuniram com cientistas no Vaticano para apresentar um apelo comum: que o mundo leve a sério o compromisso de zerar as emissões globais de carbono que provocam o aquecimento global. Liderado pelo Papa Francisco, o encontro “Fé e Ciência: Rumo à COP26” foi organizado pelas embaixadas do Reino Unido e da Itália na Santa Sé, na segunda-feira, 4. Entre os signatários do apelo estão líderes de diferentes tradições cristãs, além de muçulmanos sunitas e xiitas, judeus, hindus, sikhs, budistas, confucionistas, taoistas, zoroastristas e jainistas. Entre os mais conhecidos estavam o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, que é líder da Igreja Ortodoxa; o Arcebispo de Cantuária, Justin Wel-

rumo a energias mais limpas e um sistema financeiro responsável. “Gerações do futuro nunca nos perdoarão se perdermos a oportunidade de proteger nossa casa comum. Herdamos um jardim: não podemos deixar um deserto para nossos filhos”, afirma o texto.

by, da Igreja Anglicana; e o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb. “Não existem fronteiras e barreiras culturais, políticas ou sociais que possam nos isolar”, afirmou o Papa Francisco, em discurso entregue aos participantes do evento. “O encontro de hoje, que une tantas culturas e espiritualidades em um espírito de fraternidade, reforça a consciência de que somos membros da mesma família humana”, acrescentou. “Queremos nos empenhar para um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade.”

Apelo comum

O documento conjunto foi elaborado ao longo de meses de diálogo entre líde-

res religiosos e cientistas neste ano, e pede, primeiro, que as autoridades internacionais cumpram o compromisso de zerar as emissões de carbono “o mais rápido possível”, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (dos anos 1750 a 1850). Para que isso ocorra, aponta-se no documento que é preciso que os países desenvolvidos assumam uma maior parte da responsabilidade, pois são os principais emissores de gases estufa, e apoiem os países mais vulneráveis a conter os efeitos do aquecimento global. De acordo com a Santa Sé, o apelo pede que os governos também aumentem seus esforços de cooperação internacional para promover a transição energética

A expectativa dos participantes, ao assinar o documento conjunto, é de ter algum impacto na Conferência do Clima das Nações Unidas, de Glasgow, na Escócia, a COP26, que será realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro – na qual está previsto, inclusive, um discurso do Papa Francisco. O objetivo da COP26 é acelerar as metas traçadas no Acordo de Paris, em 2015. Além disso, os signatários manifestam a intenção de conscientizar os 84% da população mundial que se identifica como pessoas de fé. Segundo o presidente da COP26, o parlamentar britânico Alok Sharma, o apelo conjunto é “histórico”. Ele declarou que é preciso “ouvir todas as vozes daqueles mais afetados pelo aquecimento global. Espero que as pessoas de fé continuem sendo parte desse diálogo, conforme trabalhamos juntos para movimentar ações sobre o clima”.

Economia de Francisco: Regenerar e desenvolver após a COVID-19 Em mensagem aos participantes do segundo evento mundial “Economia de Francisco”, publicada no sábado, 2, o Papa Francisco disse que os últimos dois anos sob a pandemia da COVID-19 serviram para mostrar à humanidade que é preciso “regenerar

a economia”, tornando-a mais humana. “A qualidade do desenvolvimento dos povos e de toda a Terra depende sobretudo dos bens comuns”, afirmou. “Por isso, devemos buscar novos caminhos, de modo que a economia seja mais justa, sustentável e solidária, isto é, comum.

Precisamos de processos circulares”, e “não desperdiçar os recursos de nossa Terra”. Nas palavras do Papa, novas gerações de empreendedores e economistas podem compreender o “desenvolvimento integral”, que envolve todas as dimensões

da vida humana, e não apenas a material. Os eventos da “Economia de Francisco” reúnem profissionais de todo o mundo para debater temas econômicos sob o olhar da Doutrina Social da Igreja e os ensinamentos de São Francisco de Assis. (FD)


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‘Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Abençoai a nossa gente!’ Luciney Martins/O SÃO PAULO - out.2016

Há 90 anos, o País era consagrado à Virgem Maria; individualmente também é possível consagrar-se a ela, no firme propósito de seguir os desígnios de Deus Daniel Gomes

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Padroeira do Brasil desde 1931, Nossa Senhora da Conceição Aparecida mora no coração dos brasileiros desde quando a imagem foi achada no Rio Paraíba do Sul, em 1717. Para muitos, a devoção à “Mãe Aparecida” envolve consagrar a ela a própria vida, a fim de imitar as virtudes daquela que em tudo cumpriu a vontade de Deus. “Foi o próprio Cristo que na cruz nos deu Maria por mãe; por isso, todo batizado a acolhe e aprende dela a fazer tudo o que Jesus disser. Assim, está muito presente na tradição religiosa fazer a consagração de nossa vida a Nossa Senhora, principalmente no dia do Batismo, quando, após a consagração batismal, as crianças são também consagradas à proteção de Nossa Senhora. Consagrar-se a Nossa Senhora é confiar que, como bondosa mãe, ela cuidará de nós como cuidou de Jesus”, explica em vídeo formativo no Portal A12 o Padre Luiz Camilo Júnior, missionário Redentorista. Conforme aponta o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a primeira e fundamental consagração de todo o cristão é a batismal. “Incorporados à Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental que os consagra para o culto religioso cristão. O selo batismal capacita e compromete os cristãos a servir a Deus mediante uma participação viva na santa liturgia da Igreja e a exercer o seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz” (CIC, 1273). Assim, de modo algum a consagração a Maria se configura como um “deixar de lado” a consagração fundamental a Deus, mas, sim, colabora para que o fiel reforce os compromissos de fé de sua condição de batizado. “Ela nos pede: ‘Fazei o que Ele vos disser (Jo 2,5). Sim, Mãe, nós nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria”, afirmou o Papa Francisco, na missa que presidiu no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em julho de 2013.

A consagração proposta por São Luís Maria Grignion de Montfort

A consagração à Virgem Maria permeia toda a história da Igreja, mas foi proposta de modo detalhado por São

Luís Maria Grignion de Montfort (16731716) no “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” (TDV). A obra, cuja data estimada é o ano de 1712, tornou-se conhecida apenas em 1842, quando foram achados os seus manuscritos. No Tratado, o Santo aponta que “sendo Maria, entre todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, disso resulta que a devoção que melhor consagra e conforma uma alma a Nosso Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, à proporção que uma alma se consagrar mais a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo” (TDV, 120). No texto de introdução da versão do TDV traduzido para o português, publicado pela Paulus Editora, em 2017, o tradutor Tiago José Risi Leme aponta que no número 233 do Tratado, São Luís Maria exorta os que se consagraram a Nossa Senhora a renovarem esse propósito cotidianamente “por meio destas simples palavras: Totus tuus ego sum, et omnia mea tua sunt (Todo teu eu sou, e tudo o que possuo pertence a ti, ó amável Jesus, por Maria, tua santa Mãe)”. Assim, “trata-se, de fato, de uma consagração a Jesus por Maria, e não a Maria primordialmente [...] algo como uma atualização dos compromissos assumidos quando fomos batizados, por meio das práticas interiores e exteriores da consagração (cf. 115-116, 213, 257)”. Embora o TDV detalhe os passos para se consagrar a Maria, é recomendável que aqueles que desejam fazê-lo procurem o pároco da igreja em que participam para receber a devida orientação. Para todos os devotos marianos, porém, são válidas estas recomendações feitas por São João Paulo II, na homilia da missa de 4 de julho de 1980, que presidiu em Aparecida: “Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário”.

em 1904. No jubileu de prata da coroação, em 1929, os participantes do Congresso Mariano realizado em Aparecida decidiram pedir ao Papa Pio XI que ela fosse também proclamada Padroeira do Brasil, e ele assim o fez em 16 de julho de 1930: “Constituímos e declaramos a Beatíssima Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de Aparecida, Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. Concedemos isto para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e para aumentar cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus”. A solenidade na qual se oficializou o decreto papal ocorreu em 31 de maio de 1931, quando a imagem mariana pela primeira vez deixou o Santuário em Aparecida e foi levada ao Rio de Janeiro, então capital do País. As palavras de consagração foram proferidas pelo Cardeal Sebastião Leme, então Arcebispo do Rio de Janeiro: “Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente! (...) Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil em vós confia! Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama! Salve, Rainha!”.

Devoção

CCCDesde 1980, por força do decreto federal 6.802, o dia 12 de outubro é feriado nacional para o culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida. Tradicionalmente nessa data e em dias próximos, os devotos lotam o Santuário Nacional, muitos a partir de romarias, algumas feitas a pé. A movimentação no templo, porém, é intensa o ano todo. Antes da atual pandemia, cerca de 12 milhões de fiéis iam ao santuário mariano anualmente para participar das celebrações e venerar a imagem encontrada no Rio Paraíba do Sul em 1717, pelos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, que durante uma pescaria primeiramente tiraram das águas o corpo da imagem, e em seguida, a cabeça. Após os pedaços terem sido colocados dentro do barco, os três conseguiram encher suas redes com uma quantidade abundante de peixes. A primeira capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida seria construída apenas em 1740, sendo substituída por outros templos maiores ao longo das décadas para abrigar a crescente quantidade de devotos. A Basílica Velha foi inaugurada em 1888. Já a atual basílica teve a pedra fundamental abençoada em 1946 e obras iniciadas em 1955. Em 1980, o altar foi consagrado por São João Paulo II e, em 3 de outubro de 1982, aconteceu a transladação da imagem original da Basílica Velha para o novo templo, iniciando definitivamente as atividades religiosas na nova basílica. A festa da padroeira deste ano – que voltará a ser realizada com a participação presencial dos fiéis – começou no domingo, 3, e continua até o dia 12, com o tema “Com Maria, somos Povo de Deus, unido pela Aliança”. Além da basílica, missas estão sendo realizadas no Centro de Eventos Pe. Vitor Coelho de Almeida. A programação completa pode ser vista em www.A12.com/padroeira.

Arquivo/Arquidiocese do Rio de Janeiro

Rainha e Padroeira do Brasil Nossa Senhora Aparecida foi declarada Rainha do Brasil pelo Papa Pio X,

Solenidade de oficialização de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil em 1931


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Luciney Martins/O SÃO PAULO

PADROEIRAS MARIANAS NA AMÉRICA latina Nossa Senhora Aparecida, no Brasil; e Nossa Senhora de Guadalupe, no México e em toda a América Latina, são as padroeiras mais conhecidas do continente. Na maioria dos países latino-americanos, porém, os fiéis rendem ação de graças e pedem a intercessão de suas padroeiras marianas. Veja algumas a seguir:

Argentina

Nossa Senhora de Luján Devoção surgida em 1630, com a entronização de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em capela construída pelo português Antonio Farias de Sá à beira do Rio Luján.

Bolívia

Por que os católicos veneram a Mãe de Deus? Diferentemente do que alguns afirmam de maneira equivocada, os católicos não adoram Nossa Senhora ou os santos, por meio de suas imagens, mas os veneram. A Igreja Católica distingue três tipos de veneração: a latria (adoração devida somente a Deus), a dulia (honra destinada aos santos e anjos do céu) e a hiperdulia (honra especial dedicada à Virgem Maria). A constituição conciliar Lumen gentium (LG), de 1964, aponta que, como Mãe Santíssima de Deus, Nossa Senhora tomou parte nos mistérios de Cristo e, com razão, é venerada pela Igreja com culto singular que “difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e reta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho, por quem tudo existe (cf. Cl 1,15-16) e no qual ‘aprouve a Deus que residisse toda a plenitude’ (Cl 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos” (LG, 66). O documento conciliar indica, ainda, que a doutrina católica recomenda “a todos os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos santos. Aos teólogos e pregadores da Palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitarem com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus (...) E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes” (LG, 67). Na exortação apostólica Signum magnum (SM), São Paulo VI lembra que Maria exerce sobre os homens remidos a influência do exemplo, pois as “excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem” (SM, 3). Ainda de acordo com o Pontífice, “contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante no louvor do Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento da sua missão até ao holocausto de si própria, em plena comunhão de sentimentos com o seu Filho, que se imolava na Cruz para dar aos homens uma vida nova” (SM, 6). (DG)

Haiti

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Em 1882, o povo do Haiti rezou a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, pedindo que viesse em seu auxílio durante uma epidemia de varíola.

Honduras

Nossa Senhora de Copacabana A imagem esculpida pelo boliviano Francisco Tito Yupanqui foi entronizada em uma igreja local em 1583.

Nossa Senhora de Suyapa A pequenina imagem de Nossa Senhora da Conceição de Suyapa foi achada pelo jovem lavrador Alejandro Colindres e por um menino de 8 anos chamado Jorge Martinez.

Chile

Nicarágua

Nossa Senhora do Carmo de Maipú A veneração remonta ao ano de 1785, a uma imagem mariana encomendada pelo espanhol Martín de Lecuna.

Colômbia

Nossa Senhora de Chiquinquirá O nome está ligado à pintura conservada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá. A obra foi feita por Alonso de Narváez, com técnicas usadas pelos índios entre 1560 e 1562.

Costa Rica

Nossa Senhora dos Anjos A imagem de cor escura com um menino nos braços foi encontrada pela menina Joana Pereira na cidade de Cartago, em 2 de agosto de 1635.

Cuba

Nossa Senhora da Caridade do Cobre A imagem foi encontrada na Baía do Nipe, em 1615, por dois trabalhadores indígenas e um escravo africano que procuravam sal em um barco.

Equador

Nossa Senhora del Quiche Índios convertidos à fé cristã encomendaram uma estátua da Virgem por volta do ano de 1585.

Nossa Senhora la Puríssima A imagem mariana foi trazida da Espanha por Pedro Ahumada, irmão caçula de Santa Teresa de Ávila, que fora nomeado governador da província da Nicarágua.

Paraguai

Nossa Senhora de Caacupé No fim do século XVI, um índio convertido, escultor de profissão, escapou da perseguição de outros indígenas, escondendo-se atrás de um grosso tronco. Ele pediu a intercessão da Virgem Maria e em sinal de gratidão esculpiu a imagem mariana no mesmo tronco.

Peru

Nossa Senhora das Mercês Devoção levada ao país pelos padres mercedários nos tempos da chegada dos espanhóis ao atual território de Lima, na primeira metade do século XVI.

República Dominicana

Nossa Senhora de Altagracia Em 1502, já havia o culto a Nossa Senhora de Altagracia, cuja imagem pintada a óleo foi trazida da Espanha pelos irmãos Alfonso e Antonio Trejo.

Uruguai

Nossa Senhora da Paz Em 1682, durante uma guerra fratricida, alguns mercadores encontraram às margens do mar, numa arca abandonada, uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços.

Virgem dos Trinta e Três Em maio de 1823, sob o comando do general Juan Lavalleja, 33 soldados desfilaram diante do altar da Virgem de Luján del Pintado, na cidade de Florida, após terem chegado do Brasil. Na ocasião, renovaram o propósito de lutar até a morte pela liberdade do Uruguai.

Guatemala

Venezuela

El Salvador

Nossa Senhora do Rosário A devoção ao Rosário foi difundida na Guatemala pelos Missionários Dominicanos que ali fundaram a primeira Confraria do Rosário, em 1559.

Nossa Senhora de Coromoto Em 1652, a Virgem Maria apareceu aos indígenas de Coromoto. * Pesquisa: Flavio Rogério Lopes


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Os testes sobre a resposta vacinal contra a COVID-19 são mesmo necessários? Fernando Zhiminaicela/Pixabay

Disponíveis para serem feitos em farmácias, eles se popularizam entre aqueles que desejam se certificar que já têm resposta imunológica contra o coronavírus

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Papa: a educação compromete-nos a acolher o outro como ele é, sem julgar ninguém https://cutt.ly/8EXlXyP Arquivo

Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Após tomarem a 2ª dose da vacina contra a COVID-19, muitas pessoas que querem saber se estão efetivamente protegidas do coronavírus estão recorrendo a testes sorológicos em busca dessa resposta. No entanto, realizar esses exames para saber se o imunizante fez ou não efeito no organismo tem desencadeado ainda mais dúvidas, principalmente quando o resultado obtido é “não reagente”, o que tem levado algumas pessoas a julgar que a vacina não fez efeito. Esses testes são utilizados para auxiliar na detecção de anticorpos IgG (de longa permanência) e IgM (de curta permanência) específicos contra o SARS-CoV-2 em amostras de sangue/soro, os quais são produzidos pelo indivíduo após infecção ou vacinação. O que os testes indicam? Carmem Aparecida de Freitas Oliveira, biomédica e pesquisadora científica do Centro de Imunologia do Instituto Adolfo Lutz, que atua em pesquisas aplicadas em microbiologia e imunologia nas áreas de interesse do Laboratório de Saúde Pública, explica que o resultado de um teste sorológico vai indicar a presença ou a ausência de anticorpos no momento da coleta do sangue. “Alguns testes sorológicos para SARS-CoV-2 (realizados somente em laboratórios) permitem a dosagem quantitativa do anticorpo presente, de tal maneira que se um indivíduo for testado em intervalos frequentes (superior a 30 dias) e sempre com o mesmo kit diagnóstico, é possível avaliar se a quantidade de anticorpos está diminuindo ou aumentando ao longo do tempo”, diz Carmem, reforçando que somente os testes quantitativos permitem este tipo de avaliação. Carmem acrescenta que alguns testes sorológicos para COVID-19 podem, ainda, diferenciar anticorpos com perfil de neutralização, que detecta anticorpos com capacidades neutralizantes em ensaios substitutos. O resultado desses testes é apresentado em porcentagem, fornecendo uma medida indireta da capacidade funcional dos anticorpos em condições in vitro, ou seja, em ambiente controlado de um laboratório.

“Todavia, o conhecimento adquirido até o momento por meio de pesquisas em todo o mundo não permite dizer qual é a quantidade de anticorpos ou qual seria a taxa de neutralização necessária para proteger um indivíduo, vacinado ou não, contra infecção e reinfecção”, alerta a pesquisadora. Não se sabe também qual o tempo máximo que os anticorpos anti-SARS-CoV-2 continuam sendo detectáveis no soro/sangue após infecção ou vacinação. “Embora muitos estudos estejam sendo realizados, não se pode afirmar que a presença de anticorpos anti-SARS-CoV-2 no sangue/soro é garantia de imunidade protetora”, adverte. Outro ponto é que nenhum teste laboratorial oferece garantia de desempenho de 100%. “Desconheço teste sorológico que possua como característica de desempenho analítico 100% de sensibilidade (capacidade de detectar um caso positivo, quando ele está presente) e de especificidade (capacidade de excluir corretamente os casos negativos)”, afirma Carmem. Ela recomenda que todo resultado de teste laboratorial seja interpretado conjuntamente com avaliação clínica e dados epidemiológicos do paciente, pois “riscos de um resultado falsamente positivo ou negativo podem existir”. Resultado ‘não reagente’ Carmem esclarece que, na maioria das infecções agudas causadas por vírus, há um período conhecido como “janela imunológica”, que pode durar de 10 a 15 dias após a infecção, em que a quantidade produzida de anticorpos não é suficiente para ser detectada pelo teste sorológico. “Neste caso, o resultado ‘não reagente’ não exclui a possibilidade de resposta imunológica, sendo necessária uma nova avaliação após um período, geralmente de 30 dias”, destaca a pesquisadora, salientando que essa interpretação deve ser realizada por um médico, juntamente com a avaliação clínica. Carmem afirma desconhecer estatísticas a respeito dessas “respostas negativas” e, por isso, diz que não tem como avaliar

se elas poderiam estar sendo influenciadas pelos tipos de vacinas. “É preciso analisar cada caso: o tipo de vacina que foi utilizada; o intervalo entre a vacinação e a coleta da amostra; se a vacinação foi completa ou parcial; o tipo de teste sorológico que foi utilizado etc.” É preciso testar a proteção da vacina da COVID-19? “Não há recomendação, no momento, para que cada indivíduo realize teste para avaliar sua resposta imune pós-vacinação ou resposta contra variantes virais”, assegura Carmem. Por meio de Nota Técnica, publicada em março deste ano, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) frisou que não recomenda a realização de sorologia para avaliar resposta imunológica às vacinas contra a COVID-19. “A complexidade que envolve a proteção contra a doença torna desaconselhável a dosagem de anticorpos neutralizantes com o intuito de se estabelecer um correlato de proteção clínica, pois certamente não se avalia a proteção desenvolvida após vacinação apenas por testes laboratoriais in vitro por meio da dosagem de anticorpos neutralizantes”, diz a nota pela qual a SBIm também evidencia os resultados positivos da vacinação. Em artigo disponibilizado no site da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Martin Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), diz que “não há qualquer motivo, a priori, para acreditar que uma pessoa saudável não vá responder bem à vacina. As vacinas não são infalíveis, claro, mas a grande maioria das pessoas desenvolverá anticorpos e respostas celulares, ficando protegidas das formas graves da doença”. A vacinação em massa tem se mostrado a principal ação para conter a pandemia do coronavírus. De acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa, obtidos das secretarias estaduais da Saúde, em setembro faleceram no Brasil em decorrência da COVID-19 um total de 16.275 pessoas, cinco vezes menos que em

‘A pequena via’: o caminho de santidade ensinado por Santa Teresinha do Menino Jesus https://cutt.ly/wEXlTrc Relatório aponta impacto da pandemia na saúde mental de adolescentes https://cutt.ly/eEXldSY Dia Nacional do Idoso: conheça políticas públicas para essa população https://cutt.ly/yEXlcV5 Com projeto ‘Pequenos Chef’s’, Pastoral do Menor retoma encontros presenciais https://cutt.ly/yEXkCy9 Pontifícia Academia para a vida do Vaticano realiza assembleia anual https://cutt.ly/PEXZymR

abril, o mês mais letal da pandemia, com 82.401 vítimas. Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, 1.828 municípios brasileiros não tiveram registros de novos óbitos pela COVID-19 no mês passado e 1.123 cidades não registraram novos casos da doença. A pasta informa, ainda, que, no começo de outubro, cerca de 93% da população adulta já havia sido vacinada com a 1ª dose da vacina e mais de 57% estava completamente imunizada.


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É missão de todos nós! Luciney Martins/O SÃO PAULO - jul.2018

Missionária por natureza, a Igreja Católica conta com os batizados para conduzir os povos à fé, à verdadeira liberdade e à paz de Cristo Daniel Gomes

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Em outubro, a Igreja celebra o Mês das Missões, durante o qual recorda sua identidade missionária. Este ano, com o tema “Jesus Cristo é missão” e o lema “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4,20), a proposta é ressaltar que todo cristão é discípulo e missionário e deve viver unido ao Senhor “nas coisas mais cotidianas, no trabalho, nos encontros, nas ocupações diárias, nas casualidades de cada dia”, conforme afirmou o Papa Francisco, em uma videomensagem com a intenção de oração para este mês. O Pontífice afirma que fazer missão não é proselitismo, mas sim “encontro entre as pessoas, no testemunho de homens e mulheres que dizem: ‘Eu conheço Jesus, gostaria que tu também O conhecesses’”. Na mensagem para o Dia Mundial das Missões, a ser celebrado em 24 de outubro, Francisco lembra que, diante do aumento das situações de sofrimento, solidão, pobreza e injustiça que muitos experimentaram nesta pandemia, “há urgente necessidade de missionários da esperança” e que “tudo aquilo que o Senhor nos tem concedido deve ser multiplicado, doando-o gratuitamente aos outros. Como os apóstolos que viram, ouviram e tocaram a salvação de Jesus (cf. 1Jo 1,1-4), também nós, hoje, podemos tocar a carne sofredora e gloriosa de Cristo na história de cada dia e encontrar coragem para partilhar com todos um destino de esperança, esse traço indubitável que provém do fato de saber que estamos acompanhados do Senhor. Como cristãos, não podemos reservar o Senhor para nós mesmos: a missão evangelizadora da Igreja exprime o seu valor integral e público na transformação do mundo e na salvaguarda da criação”.

A Igreja é missionária

O Catecismo da Igreja Católica aponta que a Igreja peregrina é, por sua natureza, mis-

sionária, “pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai. E o fim último da missão não é outro senão fazer os homens participarem da comunhão que existe entre o Pai e o Filho em seu Espírito de amor” (CIC, §850). Cumprindo seu mandato missionário, a Igreja – conforme se lê no §849 do Catecismo – “esforça-se para anunciar o Evangelho a todos os homens. ‘Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos’ (Mt 28,19-20)”. No decreto Ad gentes (AG), sobre a atividade missionária da Igreja, publicado em 1965, São Paulo VI indica que a missão da Igreja consiste em conduzir todos os homens ou povos “à fé, liberdade e paz de Cristo, não só pelo exemplo de vida e pela pregação, mas também pelos sacramentos e pelos demais meios da graça, de tal forma que lhes fique bem aberto o caminho livre e seguro para participarem plenamente no mistério de Cristo” (AG, 5). Para que se cumpra a missão a ela confiada, a Igreja conta com todos os batizados: “Cristo confiou aos apóstolos e a seus sucessores o múnus de ensinar, de santificar e de governar em seu nome e por seu poder. Os leigos, por sua vez, participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo. Finalmente, em ambas as categorias [hierarquia e leigos] há fiéis que, pela profissão dos conselhos evangélicos, se consagram, em seu modo especial, a Deus e servem à missão salvífica da Igreja” (CIC, §873).

Os caminhos da missão

Conforme aponta o Catecismo, o es-

forço missionário “começa pelo anúncio do Evangelho aos povos e aos grupos que ainda não creem em Cristo; prossegue no estabelecimento de comunidades cristãs que sejam ‘sinais da presença de Deus no mundo’ e na fundação de Igrejas locais; encaminha um processo de inculturação para encarnar o Evangelho nas culturas dos povos; e não deixará de conhecer também fracassos” (CIC, §854). Nessas missões Ad gentes (alémfronteiras), a Igreja envia missionários ordenados, consagrados ou leigos com a tarefa “de pregar o Evangelho e de implantar a mesma Igreja entre os povos ou grupos que ainda não creem em Cristo... O fim próprio desta atividade missionária é a evangelização e a implantação da Igreja nos povos ou grupos em que ainda não está radicada” (AG, 6). E a missão não chega ao fim quando uma comunidade eclesial é iniciada, uma vez que – conforme se lê neste mesmo ponto do decreto – ainda há “o dever de continuar pregando o Evangelho a todos aqueles que ainda tenham ficado de fora. Há de se considerar também que as comunidades em que a Igreja vive, não raras vezes e por variadas causas, mudam radicalmente, de maneira a poderem daí advir condições de todo novas”. A Igreja particular, portanto, tem uma missão ad intra, que é a de olhar para seu entorno mais próximo, tendo a consciência de que “foi também enviada aos habitantes do mesmo território que não creem em Cristo, a fim de ser, pelo testemunho da vida de cada um dos fiéis e de toda a comunidade, um sinal a mostrar-lhes Cristo” (AG, 20). Na encíclica Redemptoris missio (RM), publicada em 1990, São João Paulo II afirma que “sem a missão ad gentes, a própria dimensão missionária da Igreja ficaria privada do seu significado fun-

damental e do seu exemplo de atuação” (RM, 34), mas que a comunidade deve também ser missionária em sua realidade mais próxima: “As Igrejas de antiga tradição cristã, por exemplo, preocupadas com a dramática tarefa da nova evangelização, estão mais conscientes de que não podem ser missionárias dos não cristãos de outros países e continentes se não se preocuparem seriamente com os não cristãos da própria casa: a atividade missionária ad intra é sinal de autenticidade e de estímulo para realizar a outra ad extra, e vice-versa”.

Renovação missionária

O Documento de Aparecida (DAp), publicado em 2007, chama a Igreja na América Latina a um processo de conversão pastoral e renovação missionária, algo que na Arquidiocese de São Paulo tem sido refletido de modo mais intenso desde 2018 com o 1º sínodo arquidiocesano – “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”. No DAp é apontado que nenhuma comunidade eclesial deve se isentar de participar dos “processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DAp, 365). Ressalta-se, também, que todos os batizados “são chamados a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral” (DAp, 366), a qual exigirá que em todas as comunidades “se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim, será possível que ‘o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como uma mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária” (DAp, 370).


20 | Pelo Brasil | 6 a 13 de outubro de 2021 |

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Missa solene marca as comemorações dos 150 anos do Apostolado da Oração Diocese de Jundiaí

REDAÇÃO

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A Rede Mundial de Oração do Papa, o Apostolado da Oração, celebrou os 150 anos de fundação no Brasil, com uma missa realizada na Paróquia Nossa Senhora da Candelária, em Itu (SP). A celebração foi presidida por Dom Vicente Costa, Bispo de Jundiaí (SP), tendo entre os concelebrantes os Padres Eliomar Ribeiro, SJ, Diretor Nacional do Apostolado, e Francisco Carlos Caseiro Rossi, que, além de Pároco dessa igreja, é Reitor do Santuário Nacional do Sagrado Coração de Jesus. Fundado em Itu pelo Padre Bartolomeu Taddei, no dia 1º de outubro de 1871, o Apostolado da Oração, além da missão de rezar pelas necessidades da Igreja e do mundo, e difundir a devoção

Associados do Apostolado da Oração participam de missa em paróquia na Diocese de Jundiaí

ao Sagrado Coração de Jesus, é testemunho de perseverança e religiosidade, seguindo as orientações do Papa. Na homilia, Dom Vicente anunciou que está em tramitação a abertura do

processo para a beatificação e canonização do Padre Bartolomeu Taddei. Após a missa, em procissão, os membros do Apostolado seguiram até o Santuário Nacional do Sagrado Coração de

Jesus, onde surgiu o Apostolado da Oração. Neste local, o Coral Vozes de Itu e a Schola Cantorum entoaram solenemente o Te Deum, seguido de oração em favor da beatificação do Padre Bartolomeu. Por ocasião dos 150 anos do Apostolado no Brasil, o Papa Francisco enviou uma carta a todos os associados, agradecendo-lhes “o testemunho de rezar incessantemente pela Santa Igreja e pelas necessidades da humanidade”. Francisco afirma que este “serviço apostólico é fundamental, pois o coração da missão da Igreja é a oração”. O Pontífice ainda pediu: “Continuemos unidos ao Coração de Jesus e à Virgem Maria para vencermos os desafios da vida e espalharmos a alegria e a esperança do Evangelho onde nos encontrarmos”. Fontes: Diocese de Jundiaí e Vatican News

‘Igrejinha da Pampulha’ é elevada a santuário arquidiocesano em Belo Horizonte (MG) Em missa presidida pelo Arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, na segunda-feira, 4, foi oficializada a elevação da Capela Curial São Francisco de Assis, popularmente conhecida como “Igrejinha da Pampulha”, a santuário arquidiocesano. Durante a missa, o Arcebispo Me-

tropolitano, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), explicou que a capela, edificada nos anos 1940, a partir dos traços mundialmente reconhecidos de Oscar Niemeyer (1907-2012), ampliará ainda mais a sua programação pastoral, acolhendo peregrinos, uma vez que se torna um san-

tuário. Padre Ednei Almeida Costa, Reitor do Santuário, comunicou aos fiéis que as missas, antes celebradas somente aos domingos, agora serão diárias e se intensificarão as celebrações de batizados e outros sacramentos. O Arcebispo explicou que os santuários congregam fiéis de longe e de perto:

“São também referência na evangelização a partir da cultura e do compromisso com os mais pobres. O Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis reúne essas características, acolhendo visitantes de diferentes cidades e países”, comentou. Fontes: Arquidiocese de Belo Horizonte e jornal Estado de Minas

Falta de saneamento básico faz Brasil gastar R$ 108 milhões com hospitalizações Um estudo do Instituto Trata Brasil, divulgado na terça-feira, 5, com base em dados do ano de 2019, aponta que já antes da pandemia de COVID-19 a falta de condições ideais de saneamento básico no País sobrecarregava o sistema de saúde com 273.403 internações por doenças de veiculação hídrica. A incidência foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes, gerando gastos

de R$ 108 milhões, segundo o DataSUS. De acordo com o estudo “Saneamento e doenças de veiculação hídrica – ano base 2019”, as internações causadas pela falta de saneamento se distribuem pelo território nacional, refletindo as condições sanitárias de cada região. O Trata Brasil aponta que a ausência dessa infraestrutura é mais evidente no Norte, onde somente 12% da

população possui coleta de esgotos. Já o Sudeste tem os melhores indicadores, com 79,2% da população com coleta de esgotos, porém com apenas 55,5% do esgoto gerado sendo tratado e 61,7 mil internações. O dado positivo é que, de 2010 a 2019, o País registrou uma significativa queda em relação às internações por doenças de veiculação hídrica, saindo 603,6 mil

casos para 273,4 mil. No entanto, houve um acréscimo de quase 30 mil internações de 2018 para 2019. Na avaliação do Trata Brasil, mesmo distante do ideal, a expansão do saneamento trouxe ganhos à saúde, sobretudo com o aumento das áreas de cobertura com água tratada e coleta de esgoto ao longo dos anos. Fonte: Trata Brasil


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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Reportagem/Fé e Vida | 21

Instituto oferece atendimento gratuito sobre questões previdenciárias Kaique Silva

Localizado no Jabaquara, zona Sul da cidade, entidade realiza, em média, 350 atendimentos semanais Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Às quintas-feiras, das 14h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h, a sede do Instituto de Orientação Previdenciária (IOPrev), no Jabaquara, fica lotada de pessoas que buscam orientações sobre seus direitos em questões previdenciárias. Os serviços prestados pela entidade são relativos à aposentadoria por idade, tempo de contribuição ou invalidez; auxílio-doença; pensão por morte; salário-maternidade; avaliação e encaminhamento para benefícios assistenciais – Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) para idoso ou para pessoa com deficiência; baixa ou inscrição do Microempreendedor Individual (MEI); regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) na Receita Federal; encaminhamento de pedidos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); avaliação de processos judiciais, além de esclarecimentos sobre a Emenda Constitucional nº 103/2019, que estabeleceu novos parâmetros ao sistema de previdência social.

Atender e servir

“Nossa missão é atender a todos, para que seus direitos sejam garantidos. A parte burocrática no Brasil e, de modo especial em tempos pandêmicos, dificultou o acesso aos mais pobres na busca de seus subsídios sociais”, ressaltou o idealizador da iniciativa, Arnaldo Faria de Sá, advogado, contabilista e professor. Atualmente vereador em São Paulo, ele defende a retomada e ampliação do atendimento nas agências do INSS: “Há uma demanda de processos previdenciários que se acumula; enquanto isso não se resolve, continuamos com a missão de pleitear os direitos sem burocracia”. O instituto, que atua há 35 anos, conta com advogados voluntários, espe-

amenizar as carências da família. É um salário mínimo, mas vai fazer a diferença no orçamento mensal”, disse a viúva, que perdeu o esposo, vítima da COVID-19. Josivaldo Clementino da Silva é o advogado voluntário que atendeu Cleusa e encaminhou o processo da aposentadoria. “É gratificante ver que o trabalho realizado traz resultados. Lutar pela garantia dos direitos do cidadão é meu dever como profissional e cidadão”, afirmou. Ana Maria, 42, foi à entidade em busca de orientação sobre seu pedido de afastamento por auxílio-doença. Tentou com a ajuda dos filhos fazer o cadastro no site do INSS, mas não conseguiu: “Preciso dar entrada no benefício, pois estou impossibilitada, por problemas de saúde, de continuar trabalhando na empresa”, disse a auxiliar de serviços gerais.

Direito previdenciário

Advogados voluntários durante orientações gratuitas, realizadas ás quintas-feiras e aos sábados

cializados no assunto. A divulgação da iniciativa, que por semana atende gratuitamente cerca de 350 pessoas, é feita pelas redes sociais e “boca a boca”, entre aqueles que são atendidos. Os atendimentos, que seguem todos os atuais protocolos para se evitar a disseminação do coronavírus, ocorrem por ordem de chegada, com explicações detalhadas e didáticas sobre os direitos de cada pessoa e o posterior encaminhamento dos documentos do beneficiário à agência responsável.

Garantia de direitos

Cleusa Benetti de Macedo, 61, chegou cedo ao IOPrev. Ela aguardava ansiosa o

resultado e a documentação da aprovação da sua aposentadoria. Quando completou 60 anos, em agosto de 2020, em meio à pandemia, ficou sem saber como proceder frente às dificuldades no serviço remoto do INSS. No início de setembro deste ano, por indicação de um amigo, conheceu o instituto. Lá, recebeu orientação e, também, agilizou todo o processo de encaminhamento da documentação e requerimento do benefício. “Agora, depois de um ano de espera, estou aposentada. Consegui graças ao IOPrev, que viabilizou o trâmite do benefício”, disse, emocionada e agradecida. “A aposentadoria vem em boa hora e vai

A Emenda Constitucional nº 103/2019 – também conhecida como Reforma da Previdência –, aprovada pelo Congresso Nacional, trouxe mudanças significativas para os brasileiros, conforme explicou à reportagem Fábio Faria de Sá, contabilista e diretor do IOPrev. “Essa emenda criou uma série de regras de transição que impactam diretamente a vida dos beneficiários. Isso acabou gerando insegurança e dúvidas; por exemplo, a nova idade mínima para se aposentar, que para as mulheres passou a ser 62 anos e para os homens, 65. Além da idade, o segurado deverá ter implementado o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis ao benefício, no caso dos homens 20 anos e para as mulheres 15 anos de contribuição”, detalhou.

Saiba mais sobre o IOPrev

Endereço: Avenida Engenheiro George Corbisier, 1.127, Jabaquara Telefone: (11) 5015-0500 Atendimento: às quintas-feiras, das 14h às 17h; e aos sábados, das 9h às 12h

Você Pergunta O que significa a mulher grávida e o dragão no livro do Apocalipse? Padre Cido Pereira

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A Terezinha, de Carapicuíba (SP), está com a seguinte dúvida: “Quem é a mulher grávida pronta para dar à luz e o que significa o dragão que está ao seu lado?”. Terezinha, o livro do Apocalipse é

chamado também de livro da Revelação. Revelar significa tirar o véu. Por isso, o autor, São João Evangelista, por meio de um estilo todo simbólico, quer falar do novo céu e da nova terra com a segunda vinda de Cristo e, com isso, animar os cristãos à perseverança na fé. Sempre é bom lembrar que o contexto em que o livro foi escrito era de

perseguição dos discípulos de Cristo. Na mulher grávida perseguida por um dragão, o autor do livro vê a Igreja presente no mundo inteiro, dando à luz o Cristo e sendo perseguida pelo dragão da maldade. Nesta mulher também pode ser vista a própria Virgem Maria, que gerou o Cristo e O ofereceu ao mundo.

Então, o livro do Apocalipse, todo cheio de simbolismo, é um livro profético? Sim! Porque fala dos novos tempos que se aproximam. Também é um livro que mostra o que viverão no novo tempo os que perseverarem na fé. Está claro isso na forma como termina o livro, com uma linda invocação: “Vem, Senhor Jesus”.


22 | Reportagem | 6 a 13 de outubro de 2021 |

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Medo excessivo de voltar às atividades de antes? É hora de buscar ajuda! evita qualquer possibilidade de contato com as demais. “O medo não é só o de sair de casa, mas também de não querer se socializar de modo algum, de evitar estar em um ambiente com outras pessoas, enfim, de preferir ficar isolado, não querer receber ninguém em casa também. Além disso, quando se cogita a possibilidade de sair de casa, essa pessoa fica bastante ansio-

Comportamento conhecido como ‘Síndrome da Cabana’ tem sido relatado neste período de volta à rotina presencial

relacionar. Para estes, a atual situação não é vista como um problema, mas como algo positivo que legitimou aquilo que essa pessoa anteriormente sentia, pois ela apenas se socializava por necessidade de pertencer a uma sociedade, não porque gostasse de se relacionar. Por isso, quando a pessoa se pergunta o que ela está evitando efetivamente, uma série de pistas apa-

Daniel Gomes

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Sinais

Coelho afirma que o primeiro sinal de que alguém possa ter um quadro de “Síndrome da Cabana” é o de que a pessoa

A escuta é a melhor colaboração de familiares e amigos

Mohamed Hassan/Pixabay

Com o avanço da vacinação contra a COVID-19 no Brasil, muitas atividades sociais interrompidas ou limitadas na fase mais aguda da pandemia estão sendo retomadas, como, por exemplo, a ida dos estudantes às escolas, o trabalho presencial, as consultas médicas de rotina e as missas sem limitação na quantidade de fiéis. No entanto, tem sido crescente o relato de pessoas que apresentam um medo excessivo de sair do ambiente em que permaneceram durante o isolamento social ou de ter qualquer tipo de socialização no local onde vivem, ainda que sejam assegurados todos os protocolos recomendados para se evitar o contágio com o coronavírus. Esse receio mais extremo de ressocialização é conhecido como “Síndrome da Cabana” ou “Síndrome da Caverna”. Seus primeiros registros datam de 1900, e reportam que caçadores norte-americanos que ficavam isolados em cabanas por longos períodos durante o inverno, ao retornarem à sociedade, tinham dificuldades em manter o mesmo nível de interação social que realizavam anteriormente. “Esse conceito voltou a ser usado agora por causa da pandemia e o período longo de isolamento. Trata-se de uma ansiedade ou angústia que se dá quando alguém pensa em se encontrar com outras pessoas, pensa na socialização”, explicou, ao O SÃO PAULO, Ronaldo Coelho, psicólogo e psicanalista.

‘O quanto isto o tira da vida?’. Se essa postura tira coisas importantes da sua vida, acabará por tirar tanto que uma hora a própria vida pode começar a perder o sentido. É fundamental que a pessoa não chegue a este ponto. Em qualquer nível de dificuldade de socialização, a terapia pode ajudar, mas, quando se percebe que a vida está muito limitada, aí está o ‘termômetro’ que aponta que é preciso se cuidar, buscar ajuda profissional”, afirma. A partir de sua experiência clínica, Coelho relata que a “Síndrome da Cabana” tem sido mais comum em pessoas que estão nos grupos de risco para a COVID-19, naquelas que têm alguma complicação por causa da doença, em seus familiares e naquelas que já tinham dificuldades para a socialização antes mesmo da pandemia e canalizaram isso para o medo de se contagiar com o coronavírus.

sa, preocupada e até tem uma reação agressiva”, detalha. O psicanalista destaca que essa síndrome não é considerada uma doença, mas um comportamento que pode ocorrer com algumas pessoas que por um longo período permaneceram em isolamento e que temem que qualquer tipo de contato social, ainda que com as devidas medidas de proteção já conhecidas, as coloque em risco de contágio.

O que fazer?

De acordo com Coelho, não há um passo a passo para o tratamento da síndrome. A primeira atitude, porém, é fazer com que a pessoa reconheça seu verdadeiro medo. “Para muitos, o que pode ter acontecido é que a pandemia se tornou uma oportunidade de não precisar se

recem, mas isso é muito singular, são razões próprias”, explica. Coelho afirma que o caminho que será adotado pelo psicólogo ou o psicanalista é o de ajudar a pessoa a refletir sobre as razões dessa insegurança para se relacionar com as demais, sendo, assim, fundamental que diante dos sinais da síndrome se procure orientação médica especializada.

Quando é hora de buscar ajuda?

O “termômetro” sobre o momento em que é preciso buscar a ajuda de um psicólogo ou de um psicanalista está em perceber o quanto esta angústia ou receio limita as ações na vida de uma pessoa. “Algumas podem até entender que a socialização não faz falta, mas é preciso que façam o seguinte questionamento:

Aos amigos e parentes de alguém que esteja com sinais da “Síndrome da Cabana”, o psicanalista assegura que a melhor ajuda que podem dar é ter uma postura compreensiva e de escuta a essa pessoa, sem impor soluções. “Quando nos colocamos como alguém que procura entender antes de julgar ou de dar um conselho, tudo fica mais fácil, o canal de comunicação se abre. Assim, um familiar ou amigo que tenha uma preocupação verdadeira com essa pessoa deve procurar entender o que está acontecendo, perguntar primeiro antes de falar qualquer coisa”, ressalta Coelho. O psicanalista lembra ainda que o ideal é se colocar ao dispor dessa pessoa dentro daquilo que ela achar que possa ser uma efetiva contribuição. “Isso faz com que ela perceba que não está sozinha, que se precisar haverá alguém para ajudá-la. A partir desse momento, pode-se pensar junto com ela se não é o caso de procurar um analista, um psicólogo, que vai ajudar a facilitar esse percurso”, conclui, enfatizando ser indispensável a orientação médica especializada nesses casos.


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| 6 a 13 de outubro de 2021 | Geral/Fé e Vida | 23

O que as crianças podem ensinar sobre Jesus e o Reino de Deus? Fernando Geronazzo

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No dia 12, comemora-se o Dia da Criança, data que, muito mais que o acento comercial dos presentes, é ocasião para refletir sobre o valor da infância, seus direitos, proteção e cuidado. As crianças são apresentadas por Jesus Cristo como modelo a ser imitado na busca pela vida eterna, quando afirma: “Digo-lhes a verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele” (Lc 18,17). Essa afirmação de Jesus foi uma das motivações que levaram Jair Militão da Silva a escrever o livro “Sobre Jesus e o Reino de Deus: O que podemos aprender com as crianças”, publicado pela Companhia Ilimitada, em 2017. Pedagogo, mestre em Filosofia, doutor e livre-docente em Educação, além de avô de quatro netos, Silva, que é católico, teve muito contato e diálogo com estudiosos do desenvolvimento infantil em ambientes acadêmicos, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Academia Paulista de Educação (APE). No entanto, ele sentia a motivação de encontrar uma forma de “anunciar a Boa-Notícia da vida eterna” para esses intelectuais a partir do objeto de estudo e reflexão próprio de sua área. Então, o pedagogo buscou identificar nas crianças elementos que ajudam a compreender o convite feito por Cristo e enumerou algumas características.

Aberta a apreender

A primeira constatação do autor é que a criança depende totalmente dos adultos para sobreviver, e está aberta para deles aprender. “Nós não nos damos conta do quanto dependemos de Deus. Nós não nos damos a própria vida, o ar que respiramos... Penso que Jesus quis nos dizer que também temos um Pai provedor, previdente, que cuida de nós. Somos filhos de Deus. Com essa identidade, muda muito a visão que podemos ter da realidade: não ter medo, mas esperança e certeza de que Alguém cuida de nós.” Outra característica marcante das crianças é que elas sempre confiam em quem lhes ensina e comparam o que lhes ensina com a sua experiência pessoal. “É muito conhecido por

pais e mães o diálogo a seguir reproduzido de situações concretas: ‘Filho, põe a blusa, pois está frio!’. ‘Mas mãe, eu não estou com frio!’, ou ainda, ‘Come um pouco mais para não ficar com fome mais tarde!’. ‘Não, obrigado, pois já estou satisfeito!’”, exemplificou o autor, destacando que o bom educador convida, sempre que isso for possível, o educando a avaliar, com base em sua própria experiência, aquilo que lhe propõe. “Assim, o educando é também sujeito de sua própria educação”, completou.

persistência não é motivada pela própria força, mas confia no convencimento de que o adulto pode atendê-las. Essa pode ser uma boa referência para a maneira como se dirigir a Deus Pai em oração. “Aqui, mais uma vez, torna-se interessante ouvir o que diz Jesus: ‘Até agora, nada pedistes em meu nome, pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa’” (Jo 16,24), comentou Silva. As crianças também ensinam quando, por exemplo, pedem sempre para ver de novo o mesmo filSinceridade me ou para repetir a brincadeira de Os adultos também podem que mais gostam. De acordo com o aprender que as crianças sempre se autor, isso mostra que elas parecem expressam com sinceridade, que, estar mais voltadas para a contemplação, para o usufruir da beleza que lhes apresenta Luciney Martins/O SÃO PAULO o filme ou a brincadeira. “Aprender a admirar, contemplar, poderá levar a nós, adultos, a um novo olhar sobre a realidade, acalmando nosso ser e recuperando nossas energias”, observou.

Fé, esperança e caridade

em muitos ambientes adultos, pode ser considerada inadequada. Contudo, devem ser vistas como uma qualidade. “Os manuais de lógica dizem que ‘verdade moral é a compatibilidade do que se diz com o que se pensa’. Diante disso, Jesus disse: ‘Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do maligno’ (Mt 5,37)”, observou. O pedagogo também destacou que a criança, quando sofre, não esconde seu sofrimento e pede ajuda, se fazendo notar o mais possível. “Muitas vezes, os adultos não se dão conta de que realmente a criança sofre e não a atendem. Todavia, sempre se deve levar em conta o pedido de atenção da criança”, disse.

Persistência

De igual modo, as crianças persistem em seus objetivos. Sobre isso, Silva sublinhou que essa

O livro mostra, ainda, que, ao observar os pequenos, é possível também aprender muito sobre as virtude da fé, esperança e caridade. “A criança vive com fé no adulto, com esperança de que será atendida e responde com gestos de caridade quando se sente amada... É aberta para um presente vivido na ação e na contemplação e para um futuro possível”, afirmou Silva. A última característica que o autor recordou é que a criança não é perfeita, mas sempre boa. “Como ser humano, está disponível para manifestar comportamentos solidários ou egoístas. Todavia, é sempre aberta à bondade”. Por fim, Silva ressaltou que manter uma identidade de criança, no sentido explicitado por Jesus, pede a existência de um ambiente humano que possa ser frequentado pela pessoa de modo a garantir e manter uma identidade capaz de se contrapor aos exageros das organizações burocráticas. O autor conclui sua reflexão com uma frase do escritor indiano Rabindranath Tagore (18611941): “Cada criança que nasce é uma prova de que Deus ainda não perdeu as esperanças em relação à humanidade”.

Liturgia e Vida 28º Domingo do Tempo Comum 10 de outubro de 2021

O ‘Jovem Rico’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Após dizer que é preciso acolher o Reino de Deus como uma criança, Jesus se encontrou com um “Jovem Rico” (Mc 10,17-30), que, correndo, ajoelhou-se diante Dele. O entusiasmo é característico dos jovens. Quando se sentem atraídos por Deus, não têm vergonha de manifestá-lo exteriormente; têm até necessidade de se distinguir pela fé e pela piedade. Ajoelhar-se, adorar, fazer vigílias, jejuns, apostolado, ajudar os necessitados, defender a fé, lutar contra injustiças e comprometer-se são aspirações que nascem espontaneamente quando o dom da fé se encontra com o caráter generoso de um jovem. O demônio sabe disso e, por meio da infiltração na educação, direciona a generosidade combativa dos jovens para causas más, como o aborto, o marxismo e a ideologia de gênero. O rapaz, então, chamou Jesus de “Bom Mestre”. Algo Nele o atraíra: as palavras, a firmeza diante dos opositores, a força ao pregar à multidão, a sinceridade desconcertante, a influência sobre as massas… Os jovens são atraídos pela beleza, pela coragem e pela atitude decidida. Ao contrário do que se pensa, não se satisfazem com o prazer! Este somente os esvazia e entristece… Ao invés, a juventude é feita para a beleza e para o heroísmo. O hedonismo não é a sua aspiração profunda, mas sim uma etapa de sua degradação. O “Jovem Rico” quer ir além de um entretenimento banal ou vulgar: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?”. Quem sabe esperava, como é próprio da juventude, que Cristo lhe desse uma resposta fantástica ou uma solução imediata. Jesus, porém, respondeu com algo mais do que sabido: “Guarda os Mandamentos” (Mt 19,17)! Com isso, reafirmou o valor perene dos Dez Mandamentos e a necessidade de segui-los para sermos salvos. “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude”… Vendo que era um bom garoto, embora movido por um ideal imaturo de perfeição, “Jesus olhou para ele com amor”. O mesmo olhar que se voltara para João e André e que se fixara sobre Mateus no telônio, deteve-se sobre ele e pediu-lhe o mesmo que pedira aos Apóstolos: “Vende o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”. Porém, neste caso, o entusiasmo cedeu à veleidade. O heroísmo não superou o desejo de prazer. O conforto ofuscou a estética atraente do Mestre de Nazaré… E o jovem não se fez “como criança”! Assim, “ao ouvir isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”. Um jovem apegado aos bens, à vaidade ou ao prazer é sempre um jovem triste. Ainda que tenha beleza, saúde e um bonito sorriso, por dentro é miserável. Para se converter, precisará de muitas dores, perdas e purificações nesta vida. Por isso, Jesus constata: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”. Para entrar lá, todos nós teremos de “deixar tudo”, ao menos ao morrer. Passando pela “porta estreita”, deixaremos para trás bens, pessoas, saúde, trabalho, o mundo e até o nosso corpo, na esperança de receber a vida eterna, a ressurreição e o próprio Deus, nosso Tesouro.


24 | Publicidade | 6 a 13 de outubro de 2021 |

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