O São Paulo - 3362

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3362 | 9 a 13 de setembro de 2021

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‘Continuem firmes a espalhar o testemunho de Santa Teresa de Calcutá’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Odilo Pedro Scherer, padres concelebrantes, Irmãs Missionárias da Caridade e idosos por elas assistidos, em foto após missa na Paróquia Nossa Senhora da Penha, no sábado, 4

Com presença no Brasil desde 1979, a Congregacão das Missionárias da Caridade, fundada por Santa Teresa de Calcutá (19101997), tem uma de suas casas de missão no Jardim Peri, na zona Norte da capital paulista, auxiliando pastoralmente nos trabalhos da Paróquia Nossa Senhora da Penha. No sábado, 4, na véspera da memória litúrgica da Santa, o Cardeal Scherer presidiu

Editorial A leitura da Bíblia não deve estar dissociada do pertencimento à Igreja

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Encontro com o Pastor Centenário de Dom Paulo: em memória ao grande cidadão, Bispo e Pastor

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missa na Paróquia, com a participação das Irmãs Missionárias da Caridade e dos homens idosos e em situação de vulnerabilidade que são por elas atendidos regularmente, com a ajuda de voluntários e benfeitores. “Continuem firmes a espalhar o testemunho de Santa Teresa de Calcutá, para que ela seja conhecida, imitada por muitas pessoas em nosso meio”, exortou o Arcebispo Metro-

politano durante a missa, na qual também lembrou que a Santa amou os mais pobres, buscando lhes assegurar a dignidade humana, e dando testemunho verdadeiro da vida cristã: “Teresa de Calcutá foi uma mulher de Deus na oração, na penitência e na caridade. A Adoração, a leitura da Palavra de Deus e o silêncio contemplativo moviam suas ações”. Páginas 12 e 13

A Igreja vive e se alimenta constantemente da Palavra de Deus

67 anos de dedicação da Catedral da Sé são festejados com missa

Em setembro, a Igreja em todo o Brasil comemora o Mês da Bíblia. O livro mais lido do planeta e traduzido para cerca de 3 mil idiomas reúne as Sagradas Escrituras, presentes na vida dos cristãos, de modo especial na liturgia.

O Cardeal Scherer presidiu no domingo, 5, a Eucaristia pelo aniversário de dedicação da Catedral da Sé. Na homilia, o Arcebispo afirmou que a igrejamãe da Arquidiocese é um sinal visível da comunhão e unidade em torno de Cristo.

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Espiritualidade Peçamos a Deus a graça de saber ouvir e de falar nas horas certas

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Liturgia e Vida Sem o auxílio divino, o homem não pode distinguir qual é o maior bem

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2 | Encontro com o Pastor | 9 a 13 de setembro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

D

ias atrás, um jovem jornalista me perguntou sobre os motivos da comemoração do centenário do Cardeal Paulo Evaristo Arns. Achei que a pergunta poderia ser uma provocação, mas levei a questão pelo lado bom e achei que valia a pena responder, pois também podia ser uma busca sincera das razões para essa comemoração. Por quais motivos comemoramos o centenário de Dom Paulo? Ou o aniversário da dedicação da Catedral Metropolitana, como fizemos no dia 5 de setembro? Ou o aniversário da Proclamação da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro? Comemorar significa trazer à memória e recordar. Naturalmente, com características de festa, boas lembranças e algo mais. Não se fazem comemorações de fatos detestáveis. Se muito, deles se faz a lembrança para que isso sirva

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Comemorando como advertência, para que nunca mais aconteçam. Comemoramos o dia da Independência do Brasil como lembrança de um fato bom e importante para nosso país e o povo brasileiro. Ao mesmo tempo, tomamos consciência de que a independência não diz respeito apenas a circunstâncias e fatos do passado, mas é uma construção contínua, que envolve cada geração, a fim de que os objetivos e benefícios da independência cheguem a todos os brasileiros. Assim, constatamos que, quase 200 anos após a Proclamação da Independência, seus benefícios ainda não chegaram a grande parte dos brasileiros. Temos muito a fazer, também em nossos dias, para que isso aconteça. Há muito o que fazer para que a grande desigualdade social e econômica do Brasil seja superada; que os benefícios da educação, saúde, saneamento básico, trabalho, habitação e alimento diário cheguem a todos. A Independência do Brasil precisa se refletir numa convivência respeitosa, fraterna e solidária, em que violências, discriminações e ódios

sejam superados. A comemoração da Independência do Brasil é um chamado a olhar para o presente e o futuro, com a renovação do compromisso de trabalhar pelo bem do Brasil, considerado em sua enorme diversidade regional, social, cultural e humana. Um país verdadeiramente independente não abandona nem descarta nenhum de seus filhos. A comemoração do centenário do Cardeal Paulo Evaristo Arns, quinto arcebispo metropolitano de São Paulo, é um convite a fazer memória desse grande cidadão, Bispo e Pastor da Igreja, de sua personalidade marcante e os múltiplos aspectos de seu empenho no serviço à Igreja e à sociedade. É hora de lembrar, para não esquecer, o legado e as lições que Dom Paulo deixou. A Igreja faz história nos acontecimentos e pessoas que testemunham tempos e situações vividas por ela e pela comunidade humana e atitudes tomadas no desempenho de sua missão. Dom Paulo viveu num momento muito especial da vida da Igreja, logo após o Concílio Vaticano II, que procurou colocar em prática na sua ação pastoral. Mas também

viveu um tempo difícil na história do Brasil e não ficou indiferente diante da situação vivida pelo povo brasileiro, empenhando-se com coragem e esperança para a superação das agressões à dignidade humana e para o retorno à convivência democrática. Não há um tempo igual ao outro, embora possam existir muitas semelhanças. Fazer a memória de personalidades do passado serve para nos inspirar na construção do presente e na projeção do futuro. Uma construção boa requer bases sólidas. A base sólida da Igreja é sempre Jesus Cristo, a Palavra de Deus e o testemunho dos apóstolos. Mas ela também olha para as situações já vividas ao longo de dois milênios e para o testemunho dos seus grandes protagonistas, ao longo dessa história, perscrutando suas vidas e sua obra, para discernir sobre o presente e sobre decisões a tomar. Faço votos de que o centenário do nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, que vamos abrir solenemente no próximo dia 14 de setembro, ajude a Igreja e a sociedade a se confrontar com o testemunho e as lições que ele deixou.

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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Dom Odilo preside missa na 1ª festa patronal da Paróquia Santa Teresa de Calcutá Pascom da Paróquia Santa Tereza de Calcutá

Fernando Arthur

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na memória litúrgica da padroeira da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, Setor Pastoral São Mateus, no domingo, 5, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Eucaristia na igreja matriz, no bairro Terceira Divisão, tendo entre os concelebrantes o Padre Elson Lopes, Pároco. No começo da missa, o Pároco recordou o tema daquela celebração – “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas”, extraído de uma das falas de Santa Teresa de Calcutá, e o lema “Assim como eu vos amei, amai-vos”, do Evangelho segundo São João. Na sequência, o Arcebispo Metropolitano manifestou sua alegria em poder celebrar com a comunidade paroquial a primeira festa da padroeira da Paróquia criada em fevereiro deste ano. Na homilia, Dom Odilo exortou os fiéis a serem evangelizadores no território de abrangência da Paróquia e recordou que Santa Teresa de Calcutá sempre se envolveu nas causas dos mais pobres e cuidou das pessoas “descartadas”, doentes, idosos. Tais exemplos devem ser seguidos pelos fiéis desta comunidade paroquial, instalada na periferia da zona Leste da cidade.

Dom Odilo Pedro Scherer, padres concelebrantes e fiéis ao lado do nicho com a imagem de Santa Tereza de Calcutá, dia 15

“Sejamos testemunhas também nós do Evangelho de Jesus Cristo, que quando é acolhido e vivido faz bem para todos, pois dá esperança e traz vida melhor para todo o mundo e une a comunidade numa luta boa”, disse o Arcebispo Metropolitano. Ao fim da celebração, houve manifestações de gratidão do Cardeal Scherer e da comunidade paroquial

pela missa realizada e a festa da padroeira como um todo. O Arcebispo exortou que todos continuem firmes nas atividades evangelizadoras. “Apoiemos estas iniciativas, para que possam estar cheias de católicos que testemunhem a presença de Deus nestas áreas, ainda muito complicadas, onde falta tudo, mas que nunca falte Deus.”

PUC-SP realiza conferências comemorativas dos centenários de Dom Paulo e Paulo Freire REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Como parte das comemorações dos centenários de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, e do educador Paulo Freire (1921–1997), a Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) realizou a série de conferências comemorativas “Dois Paulos da PUC-SP – PUC-SP de dois Paulos”. Na quinta-feira, 2, a atividade foi em homenagem ao educador Paulo Frei-

re. A conferência on-line foi aberta pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grãochanceler da PUC-SP; e a Profª. Drª. Maria Amalia Pie Abib Andery, reitora da PUC-SP. Ao saudar os participantes, Dom Odilo comentou que Paulo Freire deixou marcas profundas na cultura e na educação brasileira: “Pessoalmente, não cheguei a conhecer Paulo Freire, mas tenho grande admiração por ele, por aquilo que li e dele ouvi, portanto alegro-me por essa sessão de homenagem a Paulo

Freire e o centenário de seu nascimento”, comentou. O Cardeal Scherer e a reitora também realizaram, na noite da quarta-feira, 8, a abertura da conferência “Dom Paulo Evaristo Arns e a PUC-SP – autonomia e compromisso social”. As duas conferências contaram com a participação de estudiosos sobre Dom Paulo e Paulo Freire, bem como de pessoas que conviveram próximos dos homenageados. A transmissão on-line dos dois eventos pode ser vista pelo YouTube da TV PUC: https://www.youtube.com/tvpuc.

Atos da Cúria POSSES CANÔNICAS: Em 01/08/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro de Jabaquara, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Daniel Aparecido de Campos, SCJ. Em 28/08/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Vila Brasilândia, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Aldenor Alves de Lima.


4 | Ponto de Vista | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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Editorial

Ler a Bíblia junto com a Igreja

U

ma acusação que ainda nos é frequentemente dirigida por alguns irmãos separados – e à qual convém responder logo no início deste Mês da Bíblia – é que a Igreja Católica supostamente proibiria seus fiéis de tomar contato direto com as Escrituras. Nada mais distante da verdade: o que a Igreja realmente ensina é que “é preciso que os fiéis tenham acesso patente à Sagrada Escritura” (constituição dogmática Dei Verbum, 22) – por isso mesmo, aliás, é que desde os primeiros séculos a tradição católica foi incorporando e difundindo traduções dos textos sagrados para as línguas mais faladas (a Septuaginta, que traduzia o Antigo Testamento do hebraico para o grego, e a famosa Vulgata de São Jerônimo, que vertia toda a Escritura para o latim, língua então mais acessível). Em nossos dias, esta preocupação se traduz no incentivo a “traduções aptas e fiéis nas várias línguas” modernas (Ibidem). Mais do que isso: a Igreja não ape-

nas recomenda aos padres e pregadores que “mantenham um contato íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo aturado”, para que assim possam “comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina” – antes, ela também “exorta com ardor e insistência todos os fiéis” à “leitura frequente das divinas Escrituras, porque ‘a ignorância das Escrituras é ignoraância de Cristo’” (Idem, 25). A própria participação na Santa Missa, por sinal, é uma excelente forma de ganhar intimidade com a Bíblia: as leituras da Liturgia nunca são escolhidas ao acaso – antes, elas são estruturadas em ciclos periódicos, para que os fiéis possam, ao cabo de dois ou três anos, percorrer todo o conteúdo dos Evangelhos e dos escritos apostólicos, e as principais partes do Antigo Testamento. Mas de onde vem, então, aquela noção tão amplamente difundida de que os católicos teriam ressalvas quan-

Os livros e o Cardeal

maneira temerária e audaz” (In Evangelium Iohannis, tract. 18,1). E o Papa Inocêncio III, na carta “Cum ex iniuncto”, enviada em 12 de julho de 1199 aos habitantes de Metz que haviam traduzido a Bíblia para o francês, escrevia que “o desejo de entender as divinas Escrituras e o zelo de exortar em conformidade com estas não merece repreensão, mas antes, recomendação; porém, estes leigos mostram-se dignos de repreensão, porque celebram pequenas reuniões ocultas, usurpam para si o ofício da pregação e zombam da simplicidade dos sacerdotes” (PL, 214, 695C-697A). Foi, afinal, o próprio Cristo quem “estabeleceu a alguns como apóstolos; a outros, profetas; a outros ainda, doutores” (cf. Ef 4,11) – de modo que ninguém deve arrogar para si próprio o direito de pregar. Amemos, então, as Escrituras; leiamo-las com assiduidade, dirigindo nosso coração a Deus – mas não abandonemos jamais a Mãe Igreja, que no-las deu de presente!

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

Padre Reuberson Ferreira, MSC Dom Paulo Evaristo Arns, de quem celebramos o centenário de nascimento neste mês, tem uma extensa coletânea de escritos. Ele, ao longo de sua vida, desde os anos do Centro Radiofônico Franciscano até quando se tornou Arcebispo Emérito de uma das maiores metrópoles da América Latina, publicou inúmeros artigos em jornais e revistas acadêmicas, concedeu entrevistas, redigiu livros, organizou traduções e grafou sua autobiografia. Seus textos foram vertidos para diversos idiomas, desde o italiano, passando pelo espanhol e pelo alemão até o maltês, vernáculo de um pequeno arquipélago no Mar Mediterrâneo, quiçá falado no sul da Itália ou por migrantes maltenses. Sua extensa obra literária, associada aos seus atos e posicionamentos, diz muito a respeito do Cardeal. Eles denunciam para onde se dirigia o olhar desse grande intelectual. Homem que verteu sobre si a humildade do hábito de São Francisco, mas que também se revestiu do espírito de muitos dos grandes intelectuais de sua ordem como, entre outros, São Boaventura (que, como Dom Paulo, frequentou a Sorbonne) ou o Doctor Apostolicus Lourenço de Brindisi. Foi um homem da academia, da Igreja e do povo. Na sua vasta produção, encon-

to à leitura da Bíblia? A resposta, aqui, é que nós, católicos, de fato, recomendamos certas cautelas ao nos aproximarmos do texto sagrado – pois, como alerta o próprio São Paulo, “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Cor 3,6). Lembremos também que o diabo foi capaz de tentar Nosso Senhor, invocando os próprios textos sagrados! A Bíblia, portanto, pode ser pedra de tropeço se usada sem o devido preparo: e a prova cabal disso se deu em nosso país alguns anos atrás, quando um autoproclamado “pastor” convenceu uma mulher casada a cometer adultério porque, segundo o pastor, Deus mandara a Oseias: “Adultera!” – quando na verdade o que estava escrito era “adúltera” (com acento)... Mil anos antes de Lutero promover seu cisma, Santo Agostinho já advertia que “as heresias nascem exatamente porque as Escrituras, que são boas, são entendidas de uma forma que não é boa – e então aquilo que nelas não é bem entendido é também propagado de

tram-se inúmeras traduções. Foi ele que verteu para a nossa língua textos como “Cartas de Santo Inácio de Antioquia”, “A Carta de São Clemente Romano” ou “Sacramentos e os mistérios”, de Santo Ambrósio. Também do bispo franciscano, quando ainda padre jovem, sob os albores do Vaticano II, do qual ele é um filho ilustre, uma das primeiras traduções para o português dos decretos Presbyterorum ordinis, Perfectae caritatis e Apostolicam actuositatem, e da Declaração Gravissimum educationis. Não faltou em sua produção a fi-

delidade a sua Família Franciscana. Entre outras, publicou “Olhando o mundo como São Francisco”, “Conversas com São Francisco”, “Dez caminhos para a perfeita alegria” ou “I Poveri e la pace prima di tutto”. São textos que revelam o modo como o Bispo, que foi formado nas fileiras dos filhos do povorello de Assis, contemplava seu, assim chamado, Pai Seráfico e seu sonho para o mundo. Dom Paulo Evaristo Arns era filho de Francisco, mas também filho da Igreja. Por essa razão, temáticas ligadas à Igreja despontam em seus

livros. Redigiu “Viver é participar”, no qual antecipava a ideia que mais tarde seria assumida pela Igreja de que a comunidade eclesial fosse pautada pela comunhão e participação. Escreveu, ainda, “O Evangelho: Incomoda? Inquieta? Interessa?”, versando sobre a questão da evangelização e repercutindo o sínodo de 1974. Advogou no opúsculo “Ministérios na Igreja” a renovação dos ministérios eclesiais. Enfim, a temática eclesiológica era uma constante de Dom Paulo. Por fim, não faltaram livros autobiográficos. Entre os quais podem-se citar “Da esperança à utopia” ou “Corintiano, graças a Deus”. O primeiro desvela a história de um filho de colonos, que por amor a Cristo e a São Francisco, se fez frade, bispo e defensor dos pobres. O segundo, um homem que, por amor ao clube, salvou a devoção a São Jorge. Afinal, não se poderia prejudicar a Inglaterra tampouco a nação corintiana. Enfim, vasta é a literatura do Cardeal já falecido. São mais de cinco dezenas de livros. Neste ano em que celebramos seu centenário, escolher e ler uma entre as várias obras se torna um especial caminho para conhecer e entender – e, por que não, se apaixonar? – pelo intelectual e pastor que foi Paulo Evaristo Arns. Padre Reuberson Ferreira, MSC, é pároco da Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração e mestre e doutorando em Teologia pela PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Belém Dom Luiz Carlos Dias ordena diácono na Paróquia Santo Emídio Fernando Arthur

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No sábado, 4, o Irmão Edvaldo Carneiro, SS.CC, foi ordenado diácono na Paróquia Santo Emídio, na Vila Prudente, pela imposição das mãos de Dom Luiz Carlos Dias. Nascido em Suzano (SP), em 15 de setembro de 1987, Edvaldo Carneiro cresceu em Ferraz de Vasconcelos (SP). Em 2013, ingressou na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria (SS.CC). Em 2016, fez o noviciado em Chaclacayo, no Peru, e em janeiro do ano seguinte professou os primeiros votos na Paróquia Santo Emídio. Fez o juniorato em Belo Horizonte (MG) e sua profissão perpétua ocorreu em 17 de janeiro de 2021, no Santuário da Saúde e da Paz, também na capital mineira. Em fevereiro, foi nomeado para atuação na comunidade paroquial na Vila Prudente. No começo da celebração, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém foi acolhido pelo Superior Provincial

da Congregação dos Sagrados Corações, Padre Osvânio Humberto Mariano, que também saudou os fiéis e os sacerdotes presentes. “Você hoje receberá o primeiro grau da Ordem e, ao recebê-la, começa a participar do sacerdócio de Cristo, que o habilita como Seu representante, a agir em Seu nome. É pura graça! Pois, pela imposição das mãos do Bispo que aqui está e a oração, será concedido a você o Espírito Santo para exercício do ministério sacerdotal como diaconia”, disse Dom Luiz Carlos na homilia. Dom Luiz Carlos também explicou que diaconia significa originalmente “aquele que serve à mesa” e lembrou que se trata de um ministério suscitado pelo Espírito Santo. Mencionou ainda São Lourenço, diácono e mártir, celebrado para recordar que o diácono tem de servir à comunidade e amparar os fiéis. Logo em seguida, o Bispo procedeu aos ritos próprios da ordenação, impondo as mãos sobre o Irmão Edvaldo, que, posteriormente, foi vestido com a estola

Facebook da Paróquia Santo Emídio

diaconal e dalmática pelo Irmão Antoniel Santos e pelo Padre Paulo Dekker. Por fim, foi cumprimentado e abraçado por sua mãe, Laura Carneiro. Ao fim da celebração, o Diácono Ed-

Arquivo paroquial

[BELÉM] No sábado, 4, em missa presidida na Paróquia Santa Adélia por Dom José Soares Filho, OFMCap, Bispo Emérito de Carolina (MA), 14 jovens e adultos receberam o sacramento da Crisma. Concelebrou o Padre Jonatas Mariotto, Pároco. Na homilia, ao se dirigir aos crismandos, o Bispo recordou-lhes de que são parte da Igreja e, assim, com seus talentos, devem se dedicar ao bem de todos. (por Fernando Arthur)

valdo fez uma breve retomada de sua caminhada vocacional, falou sobre a dimensão do serviço diaconal e agradeceu a seus colegas de congregação e a Dom Luiz Carlos Dias. [BELÉM] Em 29 de agosto, aconteceu uma missa vocacional na Paróquia São José do Maranhão, no encerramento do mês dedicado às vocações. A Eucaristia foi presidida pelo Padre José Carlos dos Anjos, Promotor Vocacional da Arquidiocese, e concelebrada pelo Padre Arlindo Teles, Pároco. Na homilia, Padre José Carlos convidou os jovens a refletirem sobre o chamado vocacional feito por Deus e o necessário discernimento para que bem cumpram uma vocação futura, seja como pais de família, seja como religiosos consagrados, seja como ministros ordenados. (Com informações do Padre Arlindo Teles)

Espiritualidade Saber ouvir e saber falar Dom Carlos Lema Garcia

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SÉ E VIGÁRIO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE

C

omo vemos no Evangelho do domingo passado, a maneira como Jesus realiza a cura do surdo-mudo é diferente das demais, porque não é imediata e instantânea, mas segue um pequeno procedimento. Primeiramente, Jesus levou o homem a um lugar à parte, colocou o dedo nos seus ouvidos e tocou sua língua com a saliva. Depois, elevou os olhos para o céu e disse: Effetha!, que significa: “Abre-te!”. E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e falava claramente. Ainda que a cura tenha resul-

tado das palavras de Cristo, o Senhor quis utilizar nesta ocasião, como aliás em outras, alguns elementos materiais visíveis, para dar a entender, de alguma maneira, a ação mais profunda que os sacramentos iriam efetuar nas almas. Vemos nessa cura uma imagem da ação de Deus nas almas: liberta dos pecados, abre o ouvido para escutar a Palavra divina, permite a língua proclamar a Boa-Nova. Todos nós, de certa maneira, precisamos receber a graça da cura da nossa surdez e da nossa incapacidade de falar, porque muitas vezes somos surdos e não escutamos os chamados de Deus, não entendemos as suas palavras, não percebemos que Deus nos fala de diversas maneiras: no silêncio do coração, na leitura de uma passagem bíblica, nos pedidos das pessoas etc. Muitas vezes, Deus nos fala por meio dos acontecimentos, das necessidades das pessoas, como, por exemplo, nos pede que terminemos nossas tarefas, porque há pessoas que dependem delas. Deus também está

falando algo conosco quando sentimos uma certa inquietação em nosso coração: não nos sentimos plenamente contentes e achamos que os culpados são os outros, quando isso não corresponde à verdade, mas não queremos aceitá-la. Há pessoas que desejariam escutar a voz de Deus, mas não o conseguem porque fogem do silêncio, porque andam o dia todo numa agitação contínua e Deus costuma falar no momento de recolhimento e não no meio do turbilhão de sons, de sentimentos, de sensações etc. Outro momento em que devemos abrir a nossa língua: quando nos aproximamos da Confissão, devemos falar tudo o que nos pesa no coração e ouvir os conselhos do sacerdote. Por outro lado, Deus nos dá o dom da palavra, como fez ao homem no Evangelho, e espera que a utilizemos para edificar as pessoas, para instruir dando bons conselhos e falar das coisas de Deus. Quando foi a última vez que você e eu falamos de Deus para alguém? Ficamos mudos e nos omitimos quando alguém

se comporta de maneira equivocada, e nós não dizemos nada. Ou quando as pessoas esperam de nós uma palavra de atenção, um retorno a seus pedidos legítimos, e não nos manifestamos. Não devemos permanecer calados quando a justiça e a caridade nos recomendam falar: os pais a seus filhos, ensinando-lhes desde pequenos as orações e os fundamentos da fé; aos amigos, quando surge uma ocasião oportuna, ou tomando iniciativa de conversar sobre alguma questão de atualidade relativa à fé cristã; aos estudantes, de tratar sobre temas de interesse para a formação humana de seus colegas, com quem passam muitas horas juntos. Há momentos em que se espera de nós uma palavra que consola: no falecimento de um familiar; na visita a um doente ou quando se comenta uma notícia caluniosa sobre uma pessoa ausente. São muitos os motivos para falar da beleza na nossa fé católica, da alegria de viver perto de Jesus Cristo Nosso Senhor, do amor materno de Nossa Mãe Maria Santíssima etc.


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115 jovens são crismados na Paróquia Pessoal dos Fiéis Latino-Americanos Pascom paroquial

CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na noite do sábado, 4, na Paróquia Territorial Nossa Senhora da Paz, Setor Catedral, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, conferiu o sacramento da Crisma a 115 crismandos de várias nacionalidades, entre brasileiros, paraguaios, bolivianos e angolanos da Paróquia Pessoal dos Fiéis Latino-Americanos.

Concelebraram o Padre Antenor João Dalla Vecchia, Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Paz; Padre Irmani Paulo Borsatto, Pároco da Paróquia Pessoal dos Fiéis Latino-Americanos; e o Padre Paolo Parise, Pároco da Paróquia Pessoal Italiana São Francisco de Assis e Santa Catarina de Sena, assistidos pelo Diácono seminarista Sales Conceição de Melo Nogueira, todos scalabrinianos.

Após o Padre Irmani pedir que os crismandos se levantassem, anunciando suas nacionalidades, Dom Carlos Lema deu início à homilia, dizendo que “muito se alegra em ver um grande grupo de crismandos de vários países, além dos brasileiros”. Depois, refletiu sobre a Solenidade de Pentecostes, que acontece 50 dias depois da Páscoa. Destacou que, para os judeus, no Antigo Testamento, esta festa tinha um sentido específico que era agradecer a Deus os frutos provenientes do campo, das colheitas. Então, reuniam-se em Jerusalém para celebrar Pentecostes de onde vinham, também, muitos judeus que moravam fora e ao redor da Terra Santa. Ele recordou que, de repente, aconteceu um fenômeno surpreendente: um vento impetuoso começou a soprar e chamas de fogo desceram do céu, repartiram-se e depositaram-se sobre a cabeça de cada um dos presentes. E todos ficaram cheios do Espírito Santo, começaram a falar em línguas e a proclamar as maravilhas de Deus. Assim como naquele dia, ressaltou o Bispo, “muitos de fora do Brasil estão reunidos aqui hoje para receber o sacramento da Crisma”. Dom Carlos destacou que a Crisma não é apenas uma exigência da Igreja, mas, sim, um sacramento de confirmação da fé no Batismo, é o recebimento do Espírito Santo.

Dom Carlos Lema confere sacramentos na Capela da Santa Casa de Misericórdia CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ Oito jovens e adultos, com idades entre 20 e 30 anos, receberam o sacramento da Crisma no domingo, 5, durante missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia na Capela Nossa Senhora da Misericórdia, da Santa [SANTANA] No domingo, 5, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na Capela Santo Expedito, que pertence à Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Setor Jaçanã. Concelebrou o Padre Luis Isidoro Molento, Pároco. (por Bianca Araujo)

Casa de Misericórdia de São Paulo. Os recém-crismados começaram a se preparar em 2019 para receber o sacramento por meio de encontros presenciais na própria capela, aos sábados. Com a pandemia, porém, desde março de 2020 as atividades passaram a ser realizadas quinzenalmente Simone Arruda

Sérgio Eduardo Henrichs Franco Fornari

de modo on-line. Além disso, eles recebiam a liturgia diária com a Leitura Orante, enviada pelo Padre Tiago Gurgel do Vale, Capelão da Santa Casa, e pelo Diácono Permanente João Carlos Fornari, cooperador da Capela. Nessa mesma missa, dois crismandos também foram batizados. [LAPA] Em 31 de agosto, na Paróquia Santo Alberto Magno, no Setor Pastoral Butantã, a Pastoral Social distribuiu 270 cestas básicas, 270 bandejas de ovos, roupas, calçados, um botijão de gás, além de 70kg de ração para cachorros e outros 10kg para gatos. (por Pascom paroquial)

[SANTANA] No domingo, 5, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa solene na festa do padroeiro na Capela Beato Cláudio Granzotto, que pertence à Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, Setor Pastoral Tucuruvi. O Beato é patrono dos escultores.

[LAPA] A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Lapa se reuniu de modo on-line, no dia 2. Participaram os coordenadores gerais Paulo Ramicelli e Maria Tiemi, e demais coordenadores e agentes dos setores. Na ocasião, Ramicelli enalteceu o trabalho dos agentes nas transmissões on-line das missas nas paróquias e das lives de Dom José Benedito Cardoso ao longo dessa pandemia. Houve ainda a entrega do projeto pastoral para o ano de 2022. por Pascom Regional) Reprodução

[SANTANA] No sábado, 4, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, o Diácono Permanente Franco Antônio Abelardo foi apresentado como Assistente Pastoral da Paróquia Rainha Santa Isabel, no Setor Casa Verde. (por Simone Arruda)

[SÉ] O vídeo do“Brasil, Terra de Santos”relata o que, em outubro de 2020, o Papa Francisco reconheceu: o martírio da Serva de Deus Isabel Cristina Campos, uma jovem de Barbacena (MG) que foi brutalmente assassinada ao resistir a uma tentativa de estupro. Os detalhes sobre a vida e as virtudes da jovem martirizada são explicados pelo Diácono Prado, Vice-postulador da causa de beatificação. A íntegra do conteúdo pode ser vista em: https://youtu.be/h1L_KZ7bynE. (por ‘Brasil, Terra de Santos’)

[BRASILÂNDIA] No domingo, 5, o Padre Genésio de Morais, Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, presidiu missa na Comunidade Nossa Senhora das Graças, durante a qual fez menção a três fatos relacionados ao mês de setembro: o Mês da Bíblia, o centenário do nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns e o cuidado com as árvores, em consonância com o Dia da Árvore, no dia 21. (por Marcos Rubens Ferreira)

27/10/2021 09/11/2021

(por Luciana Pinheiro)


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

brasilândia

Dom Carlos Silva preside missa pelos 100 anos da Legião de Maria Pascom da Paróquia Santa Cruz de Itaberaba

Eliana Lubianco

Dom Paulo Evaristo Arns: diálogo, compromisso, presença

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

PADRE JOSÉ ULISSES LEVA

O centenário do movimento Legião de Maria foi festejado na Região Brasilândia no domingo, 5, com missa realizada na Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, Setor Pastoral Freguesia do Ó. A celebração foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, e concelebrada pelo Padre Edemilson Gonzaga de Camargo, Pároco. Participaram legionários que atuam na Região Brasilândia. “Ser legionário é servir! Não para se colocar a serviço e ficar de braços cruzados; é preciso se colocar a serviço no caminho, a exemplo de Maria”, afirmou o Bispo Auxiliar da Arqui-

A Igreja e a sociedade lembram os 100 anos de nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, OFM, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998. O Cardeal da Esperança em Esperança nasceu em 14 de setembro de 1921. “Para simplificar, o que é a alma no corpo são no mundo os cristãos” (Carta a Diogneto, VI, 1). Belíssima passagem é esta pérola da Patrística. Dom Paulo Evaristo Arns e outros estudiosos da Igreja Primitiva, nos anos posteriores ao Concílio Ecumênico Vaticano II, presentearam-nos com notáveis e profundas pesquisas da Igreja Primeva. Inegável a atuação de Dom Paulo Evaristo Arns diante do seu tempo. Ele atuou magistralmente em todas as áreas na Igreja e na sociedade. Sangue imigrante alemão, nascido em Forquilhinha, interior catarinense. Filho de Gabriel Arns e Helena Steiner. Franciscano que estudou por longos anos na França. Versado em latim e grego. Profundo conhecer da Igreja Primitiva. Em 1952, defendeu sua tese intitulada: “A técnica do livro segundo São Jerônimo”. O objeto de sua pesquisa esteve centrado na técnica do livro, para tanto examina o papel de uma ferramenta, o objeto livro, como mediadora da comunicação humana. No século IV, período em que viveu São Jerônimo, conhecido na Patrística como Padre Latino, a técnica usada para escrever era o rolo, de difícil manuseio e pouca presença entre seus pares. São Jerônimo se serve do códex, instrumento capaz de chegar em maior número aos seus de sua época. Cardeal do diálogo, grande orador e patrólogo, ele sempre nos lembrava: “Gostaria de merecer a graça de alegrar-me convosco em tudo. Bem, por isso é que convém glorificar de toda a sorte a Jesus Cristo que vos tem glorificado, para que, reunidos em uma só submissão, sujeitos ao bispo e ao presbitério, vos santifiqueis em todas as coisas” (Santo Inácio de Antioquia aos Efésios, II, 2). Essa belíssima passagem da Igreja endereçada à Igreja em São Paulo é tradução de Dom Paulo Evaristo, que, como homem de cultura, legou suas pesquisas à posteridade; e, como pastor, viveu na Arquidiocese como abnegado bispo, amando seu presbitério e se disponibilizando a ele. Cardeal do compromisso. Recordo-me sempre da sua presença marcante. Ele sempre lembrava essa máxima: “Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, com a lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja” (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Esmirnenses, VIII, 1). Dom Paulo Evaristo sempre foi muito presente junto aos seus padres. Conhecia-os pelo nome e a todos dedicava carinho especial. Meses depois da minha ordenação presbiteral, aceitou com prontidão celebrar a Santa Missa por ocasião dos festejos dos 50 anos de ereção canônica da Paróquia São Paulo do Belém. Tempos difíceis para a comunidade. Ele, porém, nos confortou na esperança e nos animou para que reerguêssemos a comunidade na dinamicidade e crescimento na fé. Cardeal da presença. Dom Paulo Evaristo Arns marcou profundamente a Igreja em São Paulo, com as resoluções emanadas do Concílio Ecumênico Vaticano II. Procurou incentivar as proposições dos Documentos do Concílio nas comunidades, para que elas lessem, entendessem, vivessem e se sentissem como Igreja. Em 1998, Dom Paulo Evaristo tornou-se Emérito da Igreja em São Paulo. Depois da sua saída como Arcebispo e sua vida reclusa, sua presença ainda se fez sentir em nós. Mesmo com os quase cinco anos do seu falecimento, ele sempre será lembrado.

diocese na Região Brasilândia. A Legião de Maria é um movimento que se iniciou na Irlanda em 7 de setembro de 1921 e hoje está presente no mundo todo. Durante a mesma missa, houve o envio da imagem peregrina

de Nossa Senhora das Graças em missão à Comunidade Nossa Senhora da Alegria e São Paulo, da Paróquia Santa Rita de Cássia, no Morro Grande. A imagem estava no Setor Freguesia do Ó desde novembro de 2020.

Comportamento Encontros familiares Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Em época de pandemia, é muito importante pensarmos sobre o que estamos vivendo e o que estamos deixando como memória afetiva na vida dos nossos filhos. Já passamos de um ano e meio de restrições no convívio, de cuidados com os mais velhos, mais vulneráveis, além de muitas datas comemorativas importantes para a convivência familiar sendo deixadas de lado em nome da saúde física das pessoas. Sem dúvida, uma preocupação muito lícita e importante. No entanto, o que trago hoje para a nossa reflexão são as perdas que estamos promovendo com essa realidade. Para nós, adultos, um ano e meio de menos convívio, de restrições nos contatos físicos e manifestações afetivas tão próprias da nossa cultura, custa muito, mas, não muda tanto nossa biografia – temos experiência dessa realidade, temos memórias e uma bagagem de histórias de encontros familiares, trocas e aprendizagens. Se considerarmos, porém, as crianças, veremos que esse prejuízo se torna tanto maior quanto menor elas forem. Algumas, inclusive, nasceram nessa perspectiva do isolamento social e estão privadas de uma experiência fundamental na construção de sua personalidade, de seu sentido de pertença – algo que faz parte da estrutura da personalidade da pessoa. O convívio familiar mais extenso – com avós, tios, primos – é

precioso na biografia da pessoa. As histórias familiares compartilhadas pelos mais velhos, os hábitos da organização do encontro, a divisão das tarefas, as brincadeiras e passatempos que se organizam quase que de forma natural são um meio eficiente de transmissão de valores e de cultivo de virtudes. Para além disso, são um momento muito especial de identificação das origens: eu pertenço a este grupo, com estes valores, estes costumes e esta história. Toda pessoa tem sede de pertença. Temos muita alegria e conforto afetivo de nos sentirmos pertencentes a um grupo, especialmente quando se trata da nossa origem – fotos, histórias, conversas que deixam marcas. Essa é uma das características mais preciosas da família. Somos seres radicalmente sociais – fomos feitos para o convívio e precisamos ser formados para que esse convívio aconteça de modo equilibrado, feliz, frutuoso. Na família, temos a oportunidade de experimentar essa realidade e absorver experiências formativas. Claro que existem histórias de família nas quais esses encontros não deixaram memórias tão positivas, mas, mesmo assim, são formativas. É importante identificar a pertença, mesmo que essa não seja “bem-vista”, porque esse é um meio eficiente de promover mudanças. Nem sempre podemos mudar as pessoas que estão ao nosso redor; certamente, não poderemos mudar o passado delas e os motivos que as levaram a um convívio ruim. Podemos, porém, promover convívios diferentes,

podemos crescer e construir uma história familiar mais feliz para as próximas gerações. Não podemos esquecer: Deus, de todo mal, tira um bem. E nós, como seus filhos, podemos nos espelhar Nele e, com sua ajuda, fazer o mesmo. Preocupa-me a ideia de que, para toda uma geração que está em plena formação, o convívio mais intenso com a família estendida fique prejudicado e, o pior: que acatem como natural esse modo de viver, ou seja, que essa seja a realidade deles – não se sente falta do que nunca se teve. O relacionamento intergeracional é precioso e formativo. Precisamos garantir essa possibilidade se quisermos famílias bem constituídas, valores familiares garantidos e pessoas capazes de formar família no futuro. Diante das circunstâncias que se apresentam a cada momento, precisamos ser criativos, estabelecer alternativas saudáveis. Para isso, é preciso identificar o bem que queremos garantir e, daí sim, definir os meios para que aconteça da melhor maneira possível. Proteger-nos e proteger a saúde física daqueles que amamos é, sem dúvida, muito importante. Proteger a formação, os vínculos, as necessidades afetivas deles, porém, é tão fundamental quanto. Vamos pensar, criar e possibilitar essa rica experiência para nossos filhos – se não o fizermos, certamente nos arrependeremos. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Padre José Ulisses Leva é professor de História Eclesiástica da PUC-SP.


8 | Regiões Episcopais | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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lapa Dom José Benedito participa da inauguração de unidade móvel de atendimento aos ‘irmãos da rua’ Arquivo pessoal

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Inspirado no método “Ver, Julgar e Agir”, consagrado na Igreja Católica desde o Concílio Vaticano II, no dia 1º, Dom José Benedito Cardoso visitou um local conhecido como a “minicracolândia da Vila Leopoldina”, na zona Oeste da cidade. Além do Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, participaram da ação Tatiana Vieira, da Pastoral Fé e Política, e Antônio Geraldo de Sousa, coordenador do Núcleo da Caritas Arquidiocesana de São Paulo na Região Lapa, com o apoio do Fórum Social Leopoldina, do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), do Observatório Leopoldina e da Rede Leopoldina Solidária. A “minicracolândia da Vila Leopoldina” foi um dos primeiros locais escolhidos para a passagem do Centro de Promoção dos Direitos da População de

Rua, uma unidade móvel que percorrerá todos os pontos da cidade em que há concentração de pessoas em situação de rua. Trata-se de um serviço da Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, administrado pelo Sefras. Dom

José Benedito participou da inauguração do ônibus itinerante. Gabriela Masteguin, psicóloga do Sefras e responsável pelo ônibus, explicou os principais serviços oferecidos: assistência jurídica para documentação e canal de de-

núncia para os casos de violação de direitos dessa população. Durante a visita, houve um momento de diálogo entre Daniel Beltrão, Pastor da Igreja Batista Palavra Viva; Angelo Apro Junior e Alessandra Apro Montagner, do movimento social da Comunidade Nossa Senhora Aparecida e São Joaquim, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Leopoldina; e Déborah Mussato, da rede de doações Leopoldina Solidária. Também participou Neusa Carvalho, que vive no canteiro central da Avenida Gastão Vidigal, próximo ao portão 6 da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Dom José Benedito falou a todos os participantes sobre os esforços para que se implemente o “Movimento Lapa pelo Pacto pela Vida e pelo Brasil” e ressaltou ainda que agora se abre um importante diálogo com a sociedade sobre os desafios socioeconômicos dessa região da cidade.

Bispo faz visita pastoral à Paróquia São José Operário Arquivo paroquial

A Paróquia São José Operário, no Jardim Sarah, Setor Pastoral Rio Pequeno, recebeu a visita pastoral de Dom José Benedito Cardoso, entre os dias 3 e 5. Na tarde da sexta-feira, 3, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa foi recebido pelo Padre Leandro Calazans, Pároco. A primeira ação foi a visita aos enfermos. À noite, houve missa na Capela Santa Teresa D’Ávila. No sábado, 4, pela manhã, Dom José reuniu-se na igreja matriz com os participantes da Catequese infantil e com os catequistas. À tarde, visitou os enfermos da Comunidade Santa Mônica e Santo Agostinho, e à noite presidiu missa, com a participação dos jovens, na igreja matriz.

No domingo, 5, o Bispo celebrou a Eucaristia novamente na Capela Santa Teresa D’Ávila e visitou pessoas enfermas. À tarde, teve encontro com as lideranças paroquiais. Depois, participou da abertura do Mês da Bíblia e, por fim, presidiu missa na igreja matriz. Em conversa com a Pastoral da Comunicação (Pascom) regional, Dom José comentou que foram três dias muito intensos e que ficou satisfeito com a presença e participação de todas as pastorais, movimentos e a comunidade. “Espero que minha visita venha contribuir ainda mais para o crescimento da Paróquia São José Operário”, desejou. (BN)

Padre Paulo Santana é recordado em missas No domingo, 5, em diferentes paróquias da Região Lapa, foram celebradas missas pelo 7º dia do falecimento do Padre Paulo Francisco Santana Ribeiro, que foi encontrado morto, em 30 de agosto, em sua residência, aos 75 anos de idade, 47 dos quais como sacerdote.

Ele foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério Gethsêmani Anhanguera, com a presença de alguns padres, amigos e familiares. Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, realizou os ritos das exéquias. Uma das missas de 7º dia aconteceu

na Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Pastoral Butantã, presidida pelo Padre Antônio Francisco Ribeiro, Pároco, assistido pelo Diácono Antônio Geraldo de Souza. Padre Paulo Santana era Vigário Paroquial nesta Paróquia havia mais de um ano e celebrava algumas missas aos do-

mingos na matriz, na Área Pastoral São João Batista e na Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora. Durante a missa, o Pároco recordou que o Padre Paulo Santana era muito querido pelas comunidades da Região Lapa e pelos fiéis da Paróquia Santo Alberto Magno. (BN)

IPIRANGA Tereza Geribello

Projeto ‘Somos a Igreja do pão’ mobiliza a Paróquia Nossa Senhora Aparecida Teresa Geribello

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema, iniciou, em julho, o projeto chamado “Somos a Igreja do pão”, que tem como meta levar lanches às pessoas em situação de rua para que possam se alimentar. O projeto é liderado pelo Vigário Paroquial, Padre Rafael Araújo, SDS, e conta com o apoio do Pároco, Padre Samuel Cruz, SDS. A proposta é sempre envolver

cada vez mais a comunidade nesta ação caritativa em favor daqueles que mais precisam. A distribuição dos lanches é feita todo primeiro domingo de cada mês. Apenas em agosto, foram distribuídos cerca de 2 mil lanches. Os voluntários montam os kits durante a manhã do domingo e na hora do almoço saem para a distribuição, geralmente no centro de São Paulo. Interessados em colaborar com a atividade podem entrar em contato pelo telefone (11) 5052-4919 ou pelo Facebook (@aparecidamoema).


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Região Sé estrutura a formação de ministros extraordinários da Sagrada Comunhão Arquivo pessoal

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Até o fim de outubro, cada setor pastoral da Região Episcopal Sé deverá realizar ao menos três encontros de formação para candidatos a ministros extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística que forem indicados pelos párocos, administradores paroquiais e capelães ao Vigário Episcopal da Região, Dom Carlos Lema Garcia. Os nomes dos candidatos deverão ser apresentados pelos sacerdotes ao Bispo Auxiliar da Arquidiocese após os encontros, até 15 de novembro, para que, assim, ele decida nomeá-los ou não. Não há limite na quantidade de ministros extraordinários em cada comunidade paroquial. Cada paróquia ou capelania terá um coordenador e um vice, responsáveis pelos ministros extraordinários. Em 31 de agosto, em carta enviada ao clero atuante na Região Sé, Dom Carlos Lema e o Padre Helmo César Faccioli, Coordenador Regional dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, informaram que a nomeação destes ministros extraordinários terá duração até 15 de fevereiro de 2022 e será coletiva. A partir do referido mês, serão emitidas carteiras individuais. A duração do mandato será de três anos, encerrando-se em dezembro de 2024. Nos encontros formativos nos setores, serão abordadas as temáticas de fundamentação bíblica da Eucaristia; ensino da Igreja sobre a Eucaristia; o sacramento da Eucaristia; o ministério do ministro extraordinário da Sagrada Comunhão (e a pessoa do ministro e suas atribuições); o ministro e a Igreja em saída; o exercício

serção na vida de uma comunidade paroquial. “O mandato terá sempre a duração de três anos e poderá ser renovado. Após seis anos consecutivos de ministério, o ministro deverá exercer outro serviço para ampliar sua experiência pastoral e evangelizadora. Observará o período de três anos para voltar ao ministério da distribuição da Sagrada Comunhão”, consta no subsídio.

Espirtualidade e unidade com a Igreja

prático do ministério nas celebrações eucarísticas; e a visita aos enfermos.

O que faz o Ministro Extraordinário?

Em um subsídio elaborado pela Região Sé, a partir de documentos da Igreja sobre o tema, são detalhadas as atribuições dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística. Trata-se de um serviço à comunidade eclesial e não algo para a promoção ou destaque de quem exerce essa função: “Mais do que repartir a Sagrada Comunhão, é missão do(a) ministro(a) fomentar a comunhão na vida da comunidade eclesial, caso contrário se descaracteriza o significado da Eucaristia”. Entre as atribuições dos ministros extraordinários estão a de distribuir a Sagrada Comunhão na Santa Missa quando não há presbíteros e diáconos em número suficiente para tal; dirigir celebrações da Palavra quando há real impossibilidade de um ministro ordenado (bispo, padre) celebrar a Santa Missa – neste caso, porém, as hóstias já devem ter sido consagradas

Bruno Vicente

Pastoral do menor

[SANTANA] Em 31 de agosto, o Padre Fernando da Silva Moreira celebrou seus 25 anos de ordenação sacerdotal, em missa presidida na Paróquia Santa Rosa de Lima, no Jardim Tremembé. Concelebraram os Padres Roberto Fernando Lacerda, Pároco, e Eduardo Coelho, assistidos pelo Diácono Pedro Domenico Bruno. Também participaram fiéis de diversas paróquias em que o jubilando exerceu seu ministério, entre elas Nossa Senhora da Anunciação e São Sebastião, na Vila Guilherme; São Roque, no Imirim; São Francisco Xavier, no Jardim Japão, todas pertencentes à Região Episcopal Santana. Atualmente, Padre Fernando atua como Capelão do Hospital Sírio-Libanês.

[SÉ] Na tarde do sábado, 4, a coordenação da Pastoral do Menor da Paróquia do Divino Espírito Santo, Setor Santa Cecília, esteve reunida e contou com a participação da Irmã Josefa Ferreira de Medeiros, coordenadora regional da Pastoral; do Pároco, Padre Valmir Neres de Barros; da coordenadora da Pastoral do Menor na Paróquia, Márcia Terezinha Stefano Carmona, que é médica ginecologista; além das representantes da Pastoral do Menor na Região Sé: Carolina Carraro Dias, psicóloga que atua também na Pastoral na Paróquia Santa Cecília; e Sônia Maria Pereira, assistente social, vice-secretária da Pastoral na Região, colaborando na organização do mapeamento das famílias, crianças, adolescentes e jovens nas paróquias onde já foram implantadas a Pastoral do Menor.

(por Padre Roberto Fernando Lacerda)

(por Irmã Josefa Ferreira de Medeiros)

anteriormente por um presbítero; e levar a Sagrada Comunhão aos enfermos e impedidos por justa causa de ir ao templo para a celebração da Eucaristia. Conforme aponta o subsídio, “o ministro extraordinário da Sagrada Comunhão nunca substitui o ministro ordenado, portanto, sua função é de suplência”.

Requisitos

Na carta enviada ao clero, Dom Carlos Lema e Padre Helmo lembram que são condições básicas para o ministério que a pessoa tenha boa saúde física, disponibilidade em servir, não pretenda distribuir a Comunhão somente nas celebrações eucarísticas, esteja disponível para visitar os enfermos e pessoas impossibilitadas de se locomover, além de estar disposta a oferecer Catequese para crianças, jovens e adultos. No subsídio, há outros detalhamentos como: o candidato deve ter ao menos 25 anos de idade; já ter recebido os sacramentos do Batismo, Comunhão e Crisma; e ter ao menos três anos de in-

Ainda segundo o material formativo, o ministro extraordinário deve ter uma vida espiritual alimentada pela Palavra de Deus; participar constantemente do sacramento da Eucaristia, empenhando-se em aprofundar seu conhecimento sobre este sacramento; dar testemunho de vida – “ele deve testemunhar a pessoa de Jesus Cristo por meio de sua conduta humana e cristã”; construir sólida vida espiritual “que permita intimidade com Deus pela oração e meditação, sendo que essa espiritualidade desejada pelo ministro deve estar em sintonia com a espiritualidade proposta pela Igreja, nunca esquecendo que a espiritualidade cristã leva ao encontro com Deus, consigo mesmo e com o outro”. No subsídio, é lembrado ainda que o ministro extraordinário tem estreita ligação de comunhão com o pároco ou capelão, de modo que não atua por conta própria nem de modo paralelo ao sacerdote. “O ministro é o articulador da boa convivência na comunidade paroquial. Ele cria elos de comunhão e recorda permanentemente à comunidade, mediante testemunho e empenho da vida, que somente a comunhão é capaz de gerar vida nova e união entre as pessoas.” Pascom Santos Apóstolos

[BRASILÂNDIA] Em agosto, foi retomada a reza do Terço semanal na Paróquia Santos Apóstolos. Devido à pandemia, as mulheres estavam rezando apenas em suas casas. A atual reorganização e a retomada segura no espaço da matriz paroquial têm sido feitas com o cumprimento dos protocolos sanitários necessários. (por Pascom da Paróquia Santos Apóstolos) Alexandre José Motta

[SÉ] Na sexta-feira, 3, em missa no Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no bairro do Sumaré, Setor Pastoral Perdizes, Dom Carlos Lema Garcia conferiu o sacramento da Crisma a dois jovens e a cinco adultos. Concelebrou o Pároco, Frei Jair Roberto Pasquale, TOR. (por Centro de Pastoral da Região Sé)


10 | Papa Francisco | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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Francisco diz que jamais pensou em renunciar “Nunca passou pela minha cabeça renunciar”, disse o Papa Francisco, em entrevista à rádio espanhola COPE, veiculada no dia 1º. Comentando os boatos de que poderia terminar o seu pontificado após a recente cirurgia no intestino, ele brincou: “Não sei de onde tiraram isso. Sempre que um papa está doente, corre uma brisa ou um furacão de conclave”. Na conversa à rádio dos bispos da Espanha, além de falar de sua saúde e dizer que “um enfermeiro salvou sua vida” ao lhe recomendar que fizesse a cirurgia para tratar uma diverticulite, o Papa comentou vários aspectos de seu pontificado. Dentre eles, as reformas estruturais na Cúria Romana e o julgamento sobre suspeitas de corrupção que atualmente corre na Justiça do Vaticano. Francisco também explicou a perspectiva pastoral da questão litúrgica envolvendo a missa tridentina, dizendo que se trata apenas de impedir a instrumentalização ideológica de algo que já existia. Entre outros assuntos, também criticou a intervenção militar dos países do Ocidente, liderados pelos Estados Unidos, no Afeganistão, que resultou em 20 anos de ocupação e violência na região. (FD)

Hungria e Eslováquia esperam a chegada do Papa Filipe Domingues

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

“Serão dias de adoração e oração no coração da Europa”, descreveu o Papa Francisco sobre sua viagem à Hungria e à Eslováquia, que começa no domingo, 12. Após o Angelus, no dia 5, ele afirmou que, ali, pretende recordar a memória dos “confessores da fé que testemunharam naqueles lugares o Evangelho, entre hostilidades e perseguições”. O Congresso Eucarístico Internacional de Budapeste, na Hungria, começou no dia 5 e será concluído com uma missa presidida pelo Papa Francisco. Esta 52ª edição do evento

é, nas palavras do Cardeal Peter Erdő, Arcebispo de Esztergom-Budapeste e Primaz da Hungria, “um sinal de renascimento após mais de um ano de pandemia”. A passagem do Papa pela Hungria está limitada à missa do dia 12. Ele vai ficar apenas seis horas no país. Não vai visitar o centro de Budapeste nem outras cidades. É provável que tenha um breve encontro com autoridades locais na chegada, além de um encontro com os bispos e representantes de outras tradições cristãs e comunidades hebraicas da Hungria. Francisco parte, em seguida, para a Eslováquia, país do Leste Europeu de maioria católica que resistiu à perse-

guição dos tempos da União Soviética – cerca de 65% dos 5 milhões de habitantes. O país vive, no entanto, uma crescente secularização, e a expectativa dos líderes da Igreja local é de que a visita do Papa possa trazer novo vigor à fé dos cristãos eslovacos. Em Bratislava, capital da Eslováquia, o Papa encontrará as autoridades locais, além de bispos, religiosos, seminaristas e catequistas. Também presidirá uma liturgia em rito bizantino. Encontrará jovens, membros da comunidade Rom (popularmente conhecidos como “ciganos”) e da comunidade hebraica. A missa de conclusão da visita pastoral, na quarta-feira, 15, será no Santuário Nacional de Šaštin.

Publicado o documento preparatório para a fase de consulta do Sínodo de 2023 redação

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A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos publicou, na terça-feira, 7, o Documento Preparatório e o vademecum que indica as diretrizes sobre as quais o caminho do Sínodo sobre a sinodalidade será orientado. O Sínodo será solenemente aberto nos dias 9 e 10 de outubro, em Roma, e em 17 de outubro nas dioceses; e concluído com a Assembleia dos Bispos no Vaticano em 2023. O Documento Preparatório pretende ser sobretudo “um instrumento” para facilitar a primeira fase de escuta e consulta do povo de Deus nas Igrejas particulares, que começará em outubro de 2021 e terminará em abril de 2022. Já o vademecum é concebido como “um manual” que oferece “apoio prático” aos referentes diocesanos para preparar o povo de Deus. Inclui orações on-line, exemplos de sínodos recentes, um glossário de termos para o processo sinodal. “Não um livro de regras”, mas, “um guia para

apoiar os esforços de cada Igreja local”. Na base das duas publicações, há uma questão fundamental: “Como é que este caminhar juntos se realiza hoje em diferentes níveis (do local ao universal) que permite à Igreja de anunciar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada? Quais passos o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal?”.

relações” com representantes de outras confissões, organizações da sociedade civil e movimentos populares. O documento dedica amplo espaço aos leigos. Reafirma que todos os batizados são “sujeitos ativos de evangelização” e que é fundamental que os pastores “não tenham medo de ouvir o rebanho”.

Processo eclesial

O texto preparatório propõe, então, perguntas para orientar a consulta do povo de Deus, começando com uma questão: Como se dá hoje o “caminhar juntos” em sua Igreja particular? Por isso, é preciso reexaminar as experiências da própria diocese a este respeito, levando em conta as relações internas da Diocese entre os fiéis, o clero e as paróquias, mas também entre os bispos, com as diversas formas de vida religiosa e consagrada, com as associações, os movimentos e as instituições como escolas, hospitais, universidades e organizações caritativas. Também devem ser consideradas as relações e iniciativas comuns com outras reli-

Para responder a esta pergunta, a Secretaria do Sínodo salienta a necessidade de “viver um processo eclesial participativo e inclusivo” que ofereça a cada um, de maneira particular àqueles que se encontram à margem, a oportunidade de se expressar e ser ouvido; em seguida, reconhecer e apreciar a variedade de carismas e examinar “como a responsabilidade e o poder são vividos na Igreja”. Em seguida, é solicitado a “credenciar a comunidade cristã como um sujeito credível e parceiro fiável” em percursos de diálogo, reconciliação, inclusão e participação. E também para “regenerar as

Caminhar juntos

giões e com o mundo da política, cultura, finanças, trabalho, sindicatos e minorias. Por fim, o documento ilustra dez núcleos temáticos sobre a “sinodalidade vivida” a serem explorados a fim de enriquecer a consulta. Estes incluem: refletir sobre quem faz parte do que chamamos de “nossa Igreja”; escutar os jovens, as mulheres, os consagrados, os descartados, os excluídos; considerar se um estilo autêntico de comunicação é promovido na comunidade, sem duplicidade; avaliar como a oração e a liturgia guiam o “caminhar juntos”; refletir sobre como a comunidade apoia os membros engajados em um serviço; repensar lugares e modos de diálogo nas dioceses, com dioceses vizinhas, com comunidades e movimentos religiosos, com instituições, com os não crentes. Também se questionar como é exercida a autoridade na Igreja particular, como as decisões são tomadas, que instrumentos são promovidos para a transparência e responsabilidade, qual a formação dos que têm posições de responsabilidade. Fonte: Vatican News


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Reportagem | 11

A Palavra de Deus está presente em toda a vida da Igreja Fernando Geronazzo

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Em setembro, a Igreja no Brasil comemora o Mês da Bíblia, que em 2021 celebra 50 anos. Instituído em 1971, na Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), esse mês temático ganhou ampla abrangência nacional por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa comemoração tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia na ação evangelizadora da Igreja no Brasil, criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação e facilitar o diálogo entre a Palavra, a pessoa e as comunidades. Nesta 50ª edição, o Mês da Bíblia no Brasil tem como tema a Carta de São Paulo aos Gálatas e o lema “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). A Bíblia Sagrada é o livro mais lido do planeta. Traduzida para cerca de 3 mil idiomas, estima-se que quase 4 bilhões de exemplares tenham sido vendidos em todo o mundo. De bolso, com capa dura, ilustrada, em braile, em áudio, on-line ou nos dispositivos digitais, a Bíblia está ao alcance de todos, nas mais variadas plataformas e com preços acessíveis. É fato que, em alguns países, como a China, a obra ainda seja proibida, sendo mantida clandestinamente pelos cristãos.

cia da leitura da Palavra de Deus é a Liturgia. Desde os primeiros séculos, os cristãos se reuniam para celebrar o mistério da fé tendo como referência a Sagrada Escritura. “Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada da Sagrada Escritura”, ressaltou o Papa Emérito Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Na missa, por exemplo, além da liturgia da Palavra propriamente dita, na qual são proclamadas as leituras bíblicas, explicadas pela homilia, as orações, pre-

agir em favor de todos os homens”, sublinha a Verbum Domini, tomando como referência a constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II.

gelhos das liturgias feriais são dispostos em um único ciclo que se repete todos os anos. “Se a pessoa participa de todas as missas dominicais durante três anos, vai Ano Litúrgico ler o conjunto dos Evangelhos. Já a pesAo longo do ciclo do Ano Litúrgico soa que participa da missa de segunda a vivido pela Igreja, os católicos perpassam sábado por dois anos, terá lido a Bíblia por praticamente toda a Sagrada Escriinteira”, explicou o Padre Boris Agustín tura. Para celebrar o mistério de Cristo Nef Ulloa, doutor em Teologia Bíblica presente na Palavra proclamada, as celepela Pontifícia Universidade Gregoriana brações dominicais foram divididas ao de Roma, professor e diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Aslongo de três anos litúrgicos, chamados sunção da PUC-SP, acrescentando que, de Ano A, Ano B e Ano C. na Liturgia, a Palavra de Deus é lida “no São, portanto, três ciclos de leituras âmbito de uma comunidade que ouve”. Luciney Martins/O SÃO PAULO A Palavra de Deus também tem um lugar privilegiado na Igreja por meio da oração do Ofício Divino, ou Liturgia das Horas, por meio do qual o cristão santifica o percurso do dia mediante a recitação de salmos, cânticos e outros textos bíblicos. Quando se reza todas as horas do Ofício, percorre-se, ao longo de uma semana, os 150 Salmos da Bíblia.

Tradição e Magistério

Ler, compreender e viver

A Bíblia, entretanto, não é um livro para simplesmente ter na biblioteca e ser consultada esporadicamente. Ela reúne as Sagradas Escrituras, a Palavra de Deus, pela qual é possível ter uma experiência real e concreta com o Deus vivo. Para isso, é preciso lê-la, meditá-la e vivê-la cotidianamente. Muitas pessoas afirmam ter dificuldade de ler e compreender as Escrituras, por não entender sua linguagem, símbolos e contextos. É por isso que a Igreja apresenta caminhos e métodos para auxiliar os fiéis a ter uma íntima relação com a Palavra de Deus. A Igreja Católica indica a seus fiéis que adquiram familiaridade com os textos da Bíblia por meio da leitura diária individual ou comunitária. Além disso, os cursos bíblicos, grupos de oração e círculos de leitura orante da Palavra são outros meios eficazes de aprofundamento dos ensinamentos da Bíblia.

Na Liturgia

No entanto, o lugar por excelên-

ces, antífonas, cantos e invocações têm como fonte, em sua maioria, as leituras bíblicas. “Mais ainda, deve-se afirmar que o próprio Cristo ‘está presente na sua palavra, pois é Ele quem fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura’. Com efeito, ‘a celebração litúrgica torna-se uma contínua, plena e eficaz proclamação da Palavra de Deus. Por isso, constantemente anunciada na Liturgia, a Palavra de Deus permanece viva e eficaz pela força do Espírito Santo, e manifesta aquele amor operante do Pai que não cessa jamais de

para as liturgias dos domingos (Evangelho e demais livros do Antigo e do Novo Testamento). No Ano A, é lido o Evangelho de Mateus; no Ano B, o Evangelho de Marcos; e, no Ano C, o Evangelho de Lucas. O Evangelho de João é reservado para ocasiões especiais, principalmente festas e solenidades. Já para os dias da semana, conhecidos como feriais, o Ano Litúrgico é dividido em ano par e ano ímpar, de modo que, especialmente no Tempo Comum, a primeira leitura e o Salmo se distribuem em dois ciclos que se alternam. Já os Evan-

A leitura bíblica na Liturgia também permite que a Palavra de Deus seja meditada na Igreja e com a Igreja. A constituição dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, reafirma que a leitura adequada das Sagradas Escrituras deve sempre ser feita à luz da Tradição e do Magistério da Igreja, levando em conta a coerência com as verdades da fé. “Nós não pegamos a Bíblia e vamos tirando conclusões e fazendo interpretações aleatórias segundo os nossos sentimentos e intuições”, enfatizou o Padre João Bechara Ventura, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Nesse aspecto, tem especial importância a homilia. Padre Boris recordou que, na exortação apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco dedica um bom espaço para falar da homilia e sobre o quanto é importante bem prepará-la. Nesse documento, o Pontífice afirma, ainda, que foi com a Palavra que Jesus conquistou o coração das pessoas e que os apóstolos “atraíram para o seio da Igreja todos os povos com a Palavra”. Diante dessas informações, pode-se considerar equivocada a afirmação feita por alguns membros de outras comunidades cristãs de que os católicos não dão o devido valor à Bíblia. Pelo contrário, a Palavra de Deus permeia toda a vida e missão da Igreja.


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Missionárias da Caridade mantêm as ações de Santa Teresa de Calcutá nas periferias existenciais Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em São Paulo, irmãs têm atuação no Jardim Peri, na zona Norte, e na Paróquia Nossa Senhora da Penha Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No sábado, 4, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora da Penha, no Jardim Peri, Região Episcopal Santana. Em meio à assembleia de fiéis, estavam cinco religiosas da Congregação das Missionárias da Caridade, fundada por Santa Teresa de Calcutá, e que na cidade de São Paulo tem uma comunidade de missão próxima à Paróquia. Idosos ali acolhidos, voluntários e benfeitores da instituição também estiveram na missa, assim como Marcílio Haddad Andrino, que, pela intercessão de Madre Teresa, recebeu a graça de uma cura, milagre que foi reconhecido pela Santa Sé para a canonização da religiosa em 2016. A Eucaristia foi concelebrada pelos Padres Juarez Murialdo Dalan, Pároco; e José Ferreira Filho, Secretário do Arcebispo Metropolitano, assistidos pelo Diácono Welton Tadeu Marcondes de Oliveira Santos.

PRESENÇA PROFÉTICA

Na homilia, o Arcebispo Metropolitano recordou o testemunho de Santa Teresa de Calcutá e seu grande amor aos pobres: “Santa Teresa de Calcutá amou de fato, com obras e não por meio de discursos, foi ao encontro das pessoas, inclinando-se para resgatar a dignidade das que estavam caídas”, afirmou, destacando que ela era uma mulher pobre em meio aos pobres. O Cardeal recordou que Santa Teresa dedicou sua vida aos desprovidos, aos quais acolhia, cuidava e, sobretudo, buscava devolver a dignidade a quem estava abandonado à margem da sociedade. Era, ainda, uma mulher orante: “Teresa de Calcutá foi uma mulher de Deus na oração, na penitência e na caridade. A Adoração, a leitura da Palavra

No Jardim Peri, Missionárias da Caridaade mantêm um abrigo para homens em vulnerabilidade social

de Deus, o silêncio contemplativo moviam suas ações”. Dom Odilo falou sobre a presença profética das religiosas da Congregação das Missionárias da Caridade, inseridas no bairro do Jardim Peri e na Paróquia. “As irmãs inseridas por carisma nas periferias são testemunhas do Evangelho de Cristo presente no cotidiano que transforma a vida de tantas pessoas, são sinais da presença do Cristo que ama e acolhe”, disse, ressaltando que o exemplo de fé e humildade é um “testemunho eloquente da proximidade de Deus que permanece vivo em nossos dias”.

‘MÃE DOS POBRES’

Agnes Bojaxhiu nasceu em Skopje, hoje capital da Macedônia do Norte, em 26 de agosto de 1910. Na adolescência, teve contato com os padres jesuítas missionários que viviam em missão na Índia,

os quais lhe contaram como era a ação missionária naquele país. Daí brotou a vontade de ser missionária. Aos 18 anos, Agnes sentiu o desejo de consagrar sua vida a Deus. Em 29 de setembro de 1928, ingressou na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, na Irlanda. Fez sua profissão religiosa em 24 de maio de 1931, quando adotou o nome Teresa, em homenagem a Santa Teresa de Lisieux, padroeira dos missionários. Em seguida, foi transferida para Calcutá (Índia), onde, por 17 anos, se dedicou ao ensino como professora. Em 1946, por ocasião de um retiro espiritual, Irmã Teresa foi a Darjeeling, onde viu de perto a realidade da pobreza. O apelo de doar-se em favor dos pobres era algo emergente em seu coração e, ao deparar-se com pessoas, entre elas crianças em situação de extrema pobreza, fome, doenças, a

implorar ajuda, tomou a firme decisão de se dedicar aos pobres. Conseguiu, em 1948, a licença para deixar as Irmãs de Loreto. Mantendo sua condição de religiosa, mudou-se para Calcutá, onde empenhou-se exclusivamente à sua nova missão, ajudando aos mais necessitados. Dedicada aos pobres, vivia também sua vida de forma humilde, somente com o básico. Na Eucaristia, buscava as forças para se manter fiel. Em 1979, foi homenageada com o Prêmio Nobel da Paz. Faleceu em 5 de setembro de 1997. Em 2002, o Vaticano reconheceu o primeiro milagre atribuído à intercessão de Madre Teresa: a cura de uma mulher de Bangladesh chamada Monika Besra, de 30 anos, que sofria de um tumor abdominal. Em 2008, o segundo milagre, do brasileiro Marcílio Haddad Andrino, de 35 anos, que sofria de múltiplos abscessos no cérebro e um quadro de hidrocefalia obstrutiva. Era um caso considerado crítico e sem resultados de melhora. A família começou a rezar, pedindo a intercessão de Madre Teresa; e, milagrosamente, Andrino recuperou a saúde. Foi beatificada em 19 de outubro de 2003, por São João Paulo II, e canonizada, em 2016, pelo Papa Francisco.

CONTEMPLATIVAS NO CORAÇÃO DO MUNDO

Em 1949, Madre Teresa escreveu as constituições das Missionárias da Caridade e, no dia 7 de outubro de 1950, a congregação foi aprovada pela Santa Sé, expandindo-se por toda a Índia e pelo mundo. Hoje, as Missionárias da Caridade somam mais de 5 mil religiosas. Irmã Lelia, coordenadora da comunidade das religiosas no Jardim Peri, é indiana. “Nós somos consagradas contemplativas no coração do mundo, porque rezamos o nosso trabalho. Realizamos uma ação social, e somos mulheres consagradas a Deus no mundo de hoje. Entregamos a nossa vida a Jesus, com uma renúncia total e a serviço dos pobres, tal como Jesus nos deu a sua vida na Eucaristia”, mencionou a Freira que conheceu a fundadora e conviveu com ela. A Irmã relatou ao O SÃO


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PAULO que a simplicidade e a caridade são elementos que compõem o cotidiano das missionárias, ancoradas na Divina Providência. “Pessoalmente, não possuímos nada. Não ganhamos dinheiro. Vivemos da caridade e para a caridade. Buscando a face de Deus em todas as coisas, em todas as pessoas, em todos os lugares, durante todo o tempo, esse é o verdadeiro sentido da contemplação”, disse a Religiosa, recordando que o sári indiano, roupa usada pelas irmãs, representa essa pobreza material, espiritual e a comunhão com os pobres. “Para nós, filhas de Madre Teresa de Calcutá, cada doente, cada corpo chagado, cada pobre representa a figura do próprio Cristo que vem ao nosso encontro e, como no Evangelho, ao estender a mão, estamos acolhendo Jesus que vem a nós”, disse, recordando a passagem bíblica de Mateus 25,35-45.

NO BRASIL

Santa Teresa de Calcutá veio ao Brasil em duas ocasiões: a primeira em julho de 1979, a Salvador (BA), onde fundou a primeira comunidade das Missionárias da Caridade no País. Na ocasião, conheceu Irmã Dulce dos Pobres. Retornou em 1982, ao Rio de Janeiro (RJ), com o mesmo objetivo da sua primeira vinda. Hoje, são 14 casas no Brasil: duas em São Paulo, três no Rio

de Janeiro, uma em Vitória (ES), três na Bahia, uma em Aracaju (SE), duas no Amazonas, uma em Brasília (DF) e, recentemente, uma em Roraima, para atuar em favor dos imigrantes venezuelanos. A São Paulo, as irmãs chegaram no ano de 1992, e foram acolhidas pelas Irmãs Maria Mãe dos Apóstolos, no bairro de Santa Teresinha. Os Padres da Congregação Missionários da Consolata ajudaram a encontrar um lugar apropriado. Foram, então, para o Jardim Peri, na zona Norte da capital, onde atuam inseridas na realidade local e paroquial. Ali, abriram um abrigo para homens e mulheres. Atualmente, as mulheres são acolhidas em Santos (SP), onde há outra comunidade.

AÇÃO MISSIONÁRIA

Os trabalhos das irmãs variam de acordo com as necessidades do local: em algumas casas, assistem moradores em situação de rua; em outras, mantêm creches, abrigos para mulheres ou portadores de HIV, abrigos para idosos e pessoas em situação de rua. No Jardim Peri, a comunidade é composta por cinco irmãs: Lelia e Chrissy, ambas indianas; Rosine, angolana; Paulina, mexicana; e Bonaventura, brasileira. No local, as religiosas dirigem um abrigo no qual, no momento, estão acolhidos 15 homens. A atuação pastoral se estende às visitas às famílias, grupos de Catequese, distribuição de cestas básicas e marmitas. “Todos os dias, as pessoas do bairro se dirigem ao convento para buscar pão. Recebemos a doação de uma boa quantidade de pães e os distribuímos para saciar a fome de quem bate à nossa porta”, explicou Irmã Lelia. Zenaide Aragão, 51, é moradora do bairro e está desempregada. “As irmãs são anjos que Deus coloca em nossas vidas

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para nos auxiliar nos momentos difíceis. Aqui, nesta casa abençoada, muitas famílias encontram o alimento físico e espiritual”, disse, referindo-se às doações de mantimentos e à evangelização. “Somos acolhidos com amor, chegamos tristes e saímos com renovada esperança”, contou.

NA PARÓQUIA

Na Paróquia Nossa Senhora da Penha, a atuação das Missionárias da Caridade é colaborativa, em sintonia com as ações sociais. A igreja está inserida na realidade da periferia, permeada pela violência, pobreza e desemprego. O Pároco destacou a importância da presença das irmãs na dimensão social paroquial. “Estamos inseridos em uma região de extrema pobreza, e a presença feminina consagrada, com o carisma e espiritualidade próprias de servir aos vulneráveis é sinal de despojamento, testemunho de caridade, de confiança na Providência e de amor aos pobres”, afirmou. Maria Aparecida Fernandes Silva, 63, é paroquiana e destacou a intensa atuação pastoral das freiras que vão ao encontro do povo sofredor. “As irmãs andam pelas ruas em resgate daqueles que estão abandonados, elas acolhem a todos: crianças, jovens, adultos, idosos. A vocação das irmãs se externa em sua capacidade de amar sem distinção”, destacou. As restrições em virtude da pandemia não interromperam o serviço da caridade realizado na Paróquia, que por meio das pastorais e de voluntários faz a distribuição diária de marmitas em frente à igreja e a doação de roupas e cestas básicas para as cerca de 160 famílias já cadastradas e outras que passaram a ser atendidas emergencialmente. Padre Juarez destacou que, devido à

grande situação de pobreza no entorno, as doações continuam a chegar para atender a todos os que os procuram, graças à Divina Providência e à solidariedade de voluntários e benfeitores que acreditam nos projetos sociais da igreja e das religiosas.

EXEMPLO A SER SEGUIDO

No fim da celebração, o Cardeal Scherer incentivou as religiosas a manter a missão com os pobres: “Continuem firmes a espalhar o testemunho de Santa Teresa de Calcutá, para que ela seja conhecida e imitada por muitas pessoas em nosso meio”. As religiosas são unânimes em afirmar que a fundadora é um exemplo a ser seguido em suas virtudes e ações ao próximo. “Tive a oportunidade de conhecer a Madre e conviver com ela, que em sua santidade emanava o amor e a presença do próprio Cristo. Quero em minha consagração poder levar o amor de Deus para quem vem aqui na porta, ou está na rua, ou a quem encontrar”, disse, emocionada, Irmã Rosine. Marcilio Haddad Andrino, 48, engenheiro, falou à reportagem que recebeu dois milagres da Santa. “Sou duplamente abençoado: Madre Teresa me curou dos abscessos no cérebro e, o segundo milagre é que, pela lógica da Medicina, eu não poderia ter filhos, porém hoje sou pai da Mariana, do Murilo e da Marcela”, disse. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Irmãs Missionárias da Caridade e pessoas em situação de vulnerabilidade por elas acolhidas participam de missa presidida pelo Cardeal Scherer na Paróquia Nossa Senhora da Penham dia 4


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Acolher a dor do irmão salva vidas Divulgação/setembroamarelo.com

cotidianas e o cultivo de uma crença religiosa ou espiritual. “Participar de uma comunidade de fé reforça os laços afetivos e sociais. No nosso caso, como cristãos, o hábito de rezar diariamente, de meditar a Palavra de Deus, de alimentar uma relação com Deus, ajuda a pessoa a encontrar um sentido sobrenatural para a vida e, consequentemente, aprender a lidar com a dor”, salientou Padre Licio. Por outro lado, lidar com a dor não significa negar sua existência ou subestimá-la. “A pessoa que sofre precisa ser ouvida e se sentir acolhida, por menor que seja a causa daquilo que a faz sofrer. É por isso que a campanha Setembro Amarelo tem como lema ‘Falar é a melhor solução’”, reforçou o Sacerdote, sublinhando que “a dor não expressa perdura até que a pessoa não a suporte mais”. Nesse sentido, serviços de escuta, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), e, no âmbito eclesial, as pastorais da escuta e da acolhida, são essenciais na prevenção ao suicídio. Além disso, Padre Licio reforçou a missão importante dos sacerdotes, por meio da direção espiritual e da Confissão, oferecendo escuta, aconselhamento e sendo mediadores entre aqueles que sofrem e a misericórdia de Deus, sem prescindir, claro, do encaminhamento ao devido acompanhamento profissional, sempre que necessário.

Fernando Geronazzo

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O mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio. De acordo com um relatório divulgado em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil, sendo a terceira maior causa de morte de adolescentes e jovens na faixa dos 13 aos 29 anos no País. De acordo com a entidade, 96,8% das pessoas que cometem suicídio têm um transtorno mental diagnosticável.

FENÔMENO COMPLEXO

“Quando se fala de suicídio, normalmente vêm à tona perguntas como: ‘Por que ele fez isso?’; ‘O que estava tão ruim na vida dele que o motivou a tomar esta decisão?’; ‘Como não pudemos perceber que ele estava sofrendo tanto?’; ‘Mas tudo parecia tão bom na vida dele...’. Essas dúvidas surgem porque, na visão leiga, comportamentos suicidas são compreendidos como um fenômeno motivado apenas pelo ambiente e por questões socioculturais”, destaca a médica psiquiatra Doris Hupfeld Moreno, coordenadora do Ambulatório Integrado de Bipolares (AIBIP) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, e uma das autoras de um dossiê sobre o suicídio publicado em 2019 pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). O psicólogo norte-americano Edwin Schneidman, um dos principais especialistas em suicídio e criador de um centro de prevenção nos Estados Unidos, afirma que a pessoa que fala ou pensa em suicídio não quer, de fato, pôr fim à sua vida, mas acabar com a sua dor. Por isso, a busca de profissionais de saúde mental (psiquiatras e psicoterapeutas) e serviços públicos como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), por exemplo, tem um papel fundamental no combate a esse mal. Segundo o Ministério da Saúde, nos municípios onde existe o Caps, o índice de suicídios é reduzido em 14%.

ALGUNS SINAIS DE COMPORTAMENTO SUICIDA

NA FAMÍLIA

Padre Licio Araújo Vale, sacerdote da Diocese de São Miguel Paulista e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio, é autor do livro “Mente suicida – Respostas aos porquês silenciados”, que acaba de ser lançado pela Paulinas Editora. O Sacerdote ressaltou que o suicídio é um assunto considerado tabu, mas precisa ser abordado nas famílias, escolas e igrejas. Ele insiste no papel fundamental das famílias na prevenção ao suicídio, sobretudo na educação das crianças para aprenderem a lidar com as dores e frustrações da vida. “A vida é cheia de alegrias e satisfa-

ções, mas também é repleta de dores. Se perdermos a capacidade de educar os filhos para esses limites, na primeira grande frustração na adolescência, associada ao impulso próprio dessa fase da vida, podem pensar na possibilidade do suicídio”, frisou o Padre, lembrando o elevado índice de suicídios nessa faixa etária.

A FÉ

Ainda segundo a OMS, em um estudo intitulado “Prevenir o suicídio – um imperativo global”, entre os principais elementos que ajudam na prevenção a suicídios estão o cultivo de relações pessoais sólidas, um estilo de vida e de enfrentamento positivo das situações

udanças marcantes de comM portamento ou hábitos Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança Isolamento social Interesse por sites e/ou redes sociais sobre suicídio Automutilação e/ou práticas autodestrutivas Na adolescência: comportamentos típicos dessa fase, como agressividade, irritabilidade e impulsividade podem camuflar um quadro depressivo Em idosos: diminuição ou ausência de cuidados com o corpo, isolamento social e doenças crônicas (Fontes: Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio e Ministério da Saúde)

O que diz a Doutrina da Igreja sobre o suicídio? O suicídio sempre foi visto pela Igreja como um grave pecado, uma vez que contraria a inclinação natural do ser humano de conservar e perpetuar a própria vida e, consequentemente, viola o quinto mandamento da Lei de Deus (“Não matar”). Com o desenvolvimento científico a respeito das razões que desencadeiam tal comportamento, a compreensão da Igreja sobre o assunto passou a considerar a complexidade desse tema. Tanto que, em uma declaração

sobre a eutanásia, publicada em 1980, a Congregação para a Doutrina da Fé reafirmou que o suicídio é tão inaceitável quanto o homicídio, contudo, reconhece que, “por vezes, como se sabe, intervenham condições psicológicas que podem atenuar ou mesmo suprimir por completo a responsabilidade”. Também o Catecismo da Igreja Católica, promulgado em 1992, reafirma a gravidade do suicídio e, ao mesmo tempo, reconhece que “perturbações psíquicas graves, a

angústia ou o temor grave de uma provação, de um sofrimento, da tortura, são circunstâncias que podem diminuir a responsabilidade do suicida” (CIC, 2282). O Catecismo enfatiza, ainda, que não se deve perder a esperança da salvação daqueles que se mataram. “Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida” (CIC, 2283). (FG)


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Um problema à mesa: a alta do preço dos alimentos Beth Rosengard/Pixabay

Intempéries climáticas, maior demanda do mercado externo e aumentos nos custos de produção elevam o valor dos itens das refeições dos brasileiros e fazem famílias mudar hábitos Daniel Gomes

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Nos últimos meses, o casal Márcio André de Oliveira, 49, e Angélica, 32, pais de um menino de 11 anos e de uma menina de 6, tem percebido que a renda da família já não permite encher o carrinho de compras na ida aos “mercadinhos” próximos de onde vivem, na Vila Ré, na zona Leste da capital paulista. “Teve muito aumento no preço do óleo, da carne, um pouco no feijão, no arroz, mas estes dois até que abaixou um pouco o preço agora. Deixamos de comprar carne bovina, e temos comido mais ovo e frango, que fazemos de vários jeitos: em filé, ao molho, cozido, pois a criançada gosta muito. Comprar carne bovina mesmo só quando consigo mais horas extras”, conta Oliveira, que é o motorista de ônibus e o único com trabalho fixo remunerado. Ele afirma, ainda, que tem ido às feiras livres perto do horário do término, para aproveitar os valores mais baratos da “xepa”. Do outro lado da cidade, no Jardim Maracanã, na zona Noroeste, Alberto dos Anjos, 39, operador de áudio, e a esposa, Karina Souza, 36, operadora de telemarketing, também precisaram mudar hábitos alimentares. “Reduzimos a compra de carne vermelha devido ao alto preço e estamos alternando com frango e carne suína”, afirma dos Anjos. Diante do aumento no preço dos alimentos, muitos consumidores têm feito como esses casais, conforme detalha Márcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras): “O primeiro movimento do consumidor é o de trocar de marcas, por isso os supermercados estão oferecendo mais marcas de um mesmo produto, com mais opções de preços. Outro movimento é o de trocar as proteínas. Quando o consumidor compara o preço da carne bovina com o do frango, da carne suína com o dos ovos, ele faz a substituição da proteína”.

Impacto no bolso

Em 25 de agosto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo 15 (IPCA15) – prévia da inflação oficial (IPCA) – acelerou a 0,89% em agosto. A alta dos alimentos e bebidas foi de 1,02% no mês, liderada pelo aumento nos preços

do milho (+84%) e da soja (+79%), conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). “Há uma escalada da inflação que se reflete nos preços dos produtos. No caso dos alimentos, as maiores pressões resultam da valorização das commodities e das geadas de julho, que afetaram principalmente a oferta de hortifrútis. Além disso, já é possível observar a influência do aumento das tarifas de energia elétrica com a adoção da bandeira vermelha, o que impacta toda a cadeia produtiva e se reflete na ponta do consumo”, analisa Diego Pereira, economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Márcio Milan lembra que a alta no preço dos alimentos não tem ocorrido apenas no Brasil e que há grande demanda do mercado externo: “Os governos injetaram dinheiro na economia com auxílio financeiro às famílias, e isso aqueceu o consumo. Outro movimento que identificamos é que os países que compravam do Brasil passaram a comprar ainda mais, procurando pelas commodities e por outros produtos que antes não exportávamos tanto, como foi o caso do arroz e dos ovos”.

Perspectivas e alternativas

do tomate (16,06%), frango em pedaços (4,48%), frutas (2,07%) e leite longa vida (2,07%). O aumento no preço dos alimentos também foi verificado pelo indicador cesta Abras mercado, aferido nos 35 produtos mais consumidos em 325 unidades supermercadistas de diferentes regiões do País. No comparativo entre junho e julho, a alta foi de 0,98% e, em relação ao ano anterior, o aumento foi de 23,1%. Entre um mês e outro, as maiores elevações foram nos preços do tomate (22,88%), margarina (5,64%), queijo prato (4,93%), café (4,65%), extrato de tomate (4,49%) e açúcar (3,94%). De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em julho houve aumento no custo médio dos itens que compõem a cesta básica em 15 capitais brasileiras, e as famílias que sobrevivem com um salário mínimo comprometeram mais da metade da renda com alimentação.

Tão caro, por quê?

Especialistas ouvidos pelo O SÃO PAULO apontaram para uma conjunção de fatores que explica a alta no preço de alimentos. “Quando se soma a atual crise hídrica, as chuvas inesperadas em alguns

locais nos últimos meses e o aumento constante do combustível, o preço dos itens vai aumentar. Além disso, há o preço mais alto da energia elétrica, pois alguns destes itens alimentícios precisam ser conservados [em temperaturas adequadas]. Esse somatório faz com que o produtor e o vendedor final não tenham alternativa que não seja a de aumentar os preços”, detalha Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em Economia pela FGV-SP e professor na FEA-USP e na PUC-SP. O vice-presidente da Abras comenta que o aumento no preço dos combustíveis e da energia elétrica não têm um impacto imediato no valor final dos produtos nos supermercados, uma vez que muitos dos itens comercializados são os que já estavam em estoque. “Um fator que tem elevado o preço dos itens é o aumento dos valores das commodities que são usadas para a produção das proteínas animais, como é o caso do milho e da soja. Elas servem de insumos para a carne bovina, suína, das aves e dos ovos”, explica Milan. Em geral, as commodities – a “matéria-prima” de cadeia produtiva (o milho, por exemplo, é o alimento do gado leiteiro e de corte) – são cotadas em dólar. De abril de 2020 a abril deste ano, foram registradas significativas altas no preço

Na avaliação de Alves dos Santos, embora seja um tema controverso, deveria haver no País uma politica de controle dos estoques de alimentos. “Se há uma boa política de administração do estoque e de preços mínimos, até para que se garanta uma renda mínima ao produtor rural, é possível administrar melhor as variações que são normais nas atividades agrícolas. No entanto, para administrar estoque é preciso ter capital disponível, e quem faz isso é o Estado, por meio de uma política pública que garanta a oferta estável de alimentos”, afirma. Alves dos Santos aponta que, em outros países, como nos Estados Unidos, a atividade agrícola é de algum modo subsidiada, a fim de que haja garantias para a alimentação da população. “Oferta estável de alimentos a preços adequados foi o que levou, por exemplo, à criação da União Europeia. Boa parte do orçamento da União Europeia é gasta com política agrícola”, observou, indicando haver a expectativa de queda no preço dos alimentos a partir de outubro, caso não ocorram novos reajustes nos valores do combustível e da energia elétrica nem a intensificação da crise hídrica. Já Diego Pereira avalia que o preço internacional das commodities, principalmente milho e soja, “pressionará toda a cadeia produtiva até meados de outubro, quando a entrega das safras para a China será concluída. Isso poderá proporcionar um pouco de alívio para o preço interno, mas o movimento de demanda do mercado chinês continuará pressionando os preços de todas as commodities no Brasil nos próximos dois anos”.


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Dia da Pátria: ‘A independência deve ser um bem para todos os brasileiros’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Na terça-feira, 7, data em que foram comemorados os 199 anos da Independência do Brasil, os católicos foram convidados a rezar pelo País, como aconteceu na Catedral da Sé, onde foi celebrada a missa pela Pátria e pelo povo brasileiro. Essa celebração, presidida pelo Padre Antônio Genivaldo Cordeiro de Oliveira, Vigário Paroquial das paróquias São Joaquim e Santo Eduardo, é prevista pela liturgia da Igreja, entre as missas para diversas circunstâncias. Na homilia, o Sacerdote partiu do trecho da primeira leitura (Cl 2,6-15), na qual São Paulo alerta a comunidade para o risco de aderir a falsas filosofias e doutrinas, “baseando-se em tradição humana e remontando às forças elementares do mundo, sem se fundamentar em Cristo”. No mesmo texto, o Apóstolo enfatiza que “Cristo é a Cabeça de todas as forças e de todos os poderes”. “Essa consciência é essencial para nós neste dia. Que a fé que nós professamos nos ajude a crescer na unidade”, exortou o Padre. O Evangelho do dia (Lc 6,12-19) mostra que os discípulos chamados para tomar parte na missão do Senhor foram escolhidos por Cristo após muita oração e, mesmo assim, não foram isentos de erros. “Que também aqueles que têm uma missão à frente de uma comunidade ou pelo bem comum do nosso povo tenham a consciência de que precisamos ser sinais da unidade e da concórdia”, disse o Sacerdote, chamando a atenção para a oração litúrgica dessa missa, e que se pede a Deus para que acolha “as súplicas que fazemos pela nossa pátria, para que

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Cardeal Scherer: ‘Na ida à igreja, encontramos a família de Deus’ https://cutt.ly/TWHfIWc Dom Paulo é homenageado em calendário de entidade científica https://cutt.ly/NWHfMxG

Fiel reza em missa pela Pátria e pelo povo brasileiro, celebrada na Catedral da Sé, dia 7

sejam consolidadas a concórdia e a justiça pela sabedoria dos governantes e pela honestidade do povo, trazendo-nos paz e prosperidade”. Por fim, Padre Antônio pediu que as pessoas mais atingidas por tantos males encontrem a cura em Jesus Cristo, a fortaleza na comunidade de fé e o amparo nas instituições da sociedade.

Dando como exemplo o contexto da atual pandemia de COVID-19, o Cardeal reforçou que, quando cada cidadão realiza bem a sua parte, o bem comum de todos os brasileiros é zelado. De igual modo, sublinhou que a prática da honestidade, da justiça e da solidariedade garantem a independência de uma nação.

Dom Odilo: ‘Dia do Brasil’

Referindo-se às manifestações favoráveis e contrárias ao governo em diversas partes do Brasil, Dom Odilo lamentou a “manipulação ideológica” de muitos protestos, que apenas acentua a atual polarização política e criam divisões. “Esse é um dia do Brasil!”, enfatizou o Purpurado, reforçando que as manifestações devem buscar o melhor para o presente e para o futuro do País. “Para nós, cristãos, que temos fé em Deus e esperança, também é importante que rezemos pelo Brasil”, recomendou o Arcebispo, que, por fim, pediu a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, pelo povo brasileiro e por seus governantes.

Durante o programa “Encontro com o Pastor” daquela data, na rádio 9 de Julho, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, convidou os ouvintes a uma reflexão sobre o significado da independência do Brasil. “A independência do Brasil deve significar um bem para todos os brasileiros, não apenas para algumas categorias de pessoas”, afirmou o Arcebispo de São Paulo, ressaltando que a independência é sempre uma construção, uma tarefa de todo o povo, que zela por ela por meio do exercício da sua cidadania, em especial pelo voto, e por seu interesse pelo bem comum e pela mútua colaboração.

Francisco: o Batismo confere igual dignidade a todos os cristãos https://cutt.ly/FWHhx7R Vatican Media

Manifestações

A surdez do coração é pior que a surdez física, diz o Papa no Angelus https://cutt.ly/HWHhOng Uma semana de encontro e diálogo sobre a construção da paz na Colômbia https://cutt.ly/5WHhBpr Com pandemia, menos refugiados se matriculam para estudos https://cutt.ly/eWHlI0T


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Pelo Brasil | 17

Manifestações pró e contra o governo Bolsonaro acontecem em todo o País Daniel Gomes

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Na comemoração dos 199 anos da Independência do Brasil, na terça-feira, 7, atos pró e contra o governo Bolsonaro aconteceram em todo o País. De modo geral, foram manifestações pacíficas, com pontuais ocorrências que demandaram a atuação de forças policiais e não houve registros de confronto entre os manifestantes. Em Brasília (DF), os atos a favor do governo ocorreram na Esplanada dos Ministérios. Entre as pautas principais estiveram a defesa do voto impresso – medida rejeitada recentemente pelo Congresso Nacional – e críticas à atuação do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos manifestantes pedia a intervenção militar no País, com a manutenção de Bolsonaro como chefe do Poder Executivo. Em seu discurso aos apoiadores, o presidente da República assegurou que governa conforme os limites da

Constituição federal e que não aceitará ingerência dos demais poderes. “Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou ‘pede pra sair’.” Atos em favor do governo Bolsonaro aconteceram em diferentes cidades do Brasil, e chamaram a atenção pela grande concentração de pessoas, especialmente na capital fluminense, ocupando boa parte da orla de Copacabana, e em São Paulo, onde cerca de 125 mil pessoas se espalharam por 14 quarteirões da Avenida Paulista, conforme informações da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Ao discursar na Avenida Paulista, Bolsonaro fez críticas mais enérgicas ao STF, endereçadas especialmente aos ministros Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e Alexandre de Moraes. Em 20 de agosto, o presidente da República protocolou no Senado um pedido de impeachment contra Mo-

raes. Antes, no dia 4, o ministro determinou a inclusão de Bolsonaro no inquérito que apura a divulgação de fake news contra a urna eletrônica e o sistema eleitoral. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá”, disse Bolsonaro, assegurando, porém, que não quer uma briga entre os poderes da República. Na quarta-feira, 8, o ministro Luiz Fux, presidente do STF, disse que a suprema corte não aceitará ameaças à sua independência para exercer as funções que lhe são próprias. Ele também avaliou que “ofender a honra dos ministros, incitar a população a propagar discursos de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas e ilícitas”.

Atos contrários ao presidente

Em cerca de 200 cidades brasileiras ocorreram, também no dia 7, atos que

pediam o impeachment de Bolsonaro, com manifestações de indignação pelo crescente número de pessoas passando fome e desempregadas no País, além de críticas ao governo federal pela gestão da pandemia. De acordo com os organizadores, em todo o Brasil 300 mil pessoas foram às ruas nos atos contra o governo Bolsonaro, alguns dos quais também participantes do Grito dos Excluídos, organizado por pastorais e movimentos da Igreja Católica, e que este ano teve como tema “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!”. Os manifestantes se concentraram no Vale do Anhangabaú. Eram cerca de 15 mil, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, mas os organizadores do ato, entre os quais as centrais sindicais, partidos políticos e movimentos sociais, falam em 50 mil pessoas. Fontes: Agência Brasil, G1, Folha de São Paulo e Rede Brasil Atual

CNBB lança texto-base da Campanha para a Evangelização 2021 A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na segunda-feira, 6, o texto-base e o cartaz da Campanha para a Evangelização 2021. Neste ano, uma expressão de envio missionário “Ide, sem medo, para servir”, proferida pelo Papa Francisco na homilia de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, no Brasil, é usada como o grande tema motivador da campanha. A iniciativa tem como um de seus grandes objetivos “despertar os fiéis para o compromisso evangelizador e para a corresponsabilidade pelo sustento das atividades pastorais e evangelizadoras da Igreja no Brasil”. Iniciada em 21 de novembro, a campanha conta com uma colaboração que repercute em cada comunidade por

CNBB

meio de um gesto concreto: a coleta para a Evangelização, realizada todos os anos no 3º Domingo do Advento, que, em 2021, será no fim de semana dos dias 11 e 12 de dezembro. Despertando o compromisso evangelizador em cada fiel e promovendo

uma coleta em âmbito nacional, a Campanha para a Evangelização destina os seus recursos para a dinamização e manutenção dos 19 regionais da CNBB, visando à execução das atividades evangelizadoras. Em muitos regionais existem atividades missionárias além-fronteiras,

com apoio a diversas pastorais, serviços, organismos e movimentos. “A Evangelização precisa contar com a generosidade de muitos que ajudem com os bens que possuem e ofereçam a força do apoio fraterno que anima e renova a vida comunitária. Trata-se de mobilizar a Solidariedade na Evangelização. No entanto, a Campanha para a Evangelização não se resume só à coleta de recursos: a oração, o envolvimento e o acompanhamento das iniciativas evangelizadoras da Igreja são de suma importância. É viver a alegria de ser Igreja missionária em saída, a serviço do Evangelho da vida!”, detalhou o Padre Patriky Samuel Batista, Secretário-executivo de Campanhas da CNBB. (DG) Fonte: CNBB

Uso indevido de remédio que combate acne pode ser danoso à saúde A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) divulgou um alerta para o uso indevido de remédios com isotretinoína, como o medicamento popularmente vendido com o nome Roacutan, que é recomendado para a redução de acne na pele. O medicamento está sendo aplicado

com o suposto intuito de afinar o nariz e tem ganhado popularidade, mas a SBD alerta que não há qualquer evidência de que o produto tenha esse efeito nos pacientes. Somente no caso de uma doença chamada rinofima, espécie de outra patologia denominada rosácea, pode ocorrer a redução do nariz como efeito

de uma redução das glândulas sebáceas. Contudo, isso não significa que ocorrerá em outras situações. Além disso, a aplicação do medicamento sem acompanhamento pode resultar em efeitos adversos, provocando a elevação dos níveis de colesterol no sangue e consequências da-

nosas sobre o fígado. “Essa medicação tem efeito particular em mulheres em idade fértil. Se elas engravidarem usando a medicação, há risco de 30% de o bebê nascer com malformação congênita”, ressalta o médico da SBD, Moysés Lemos. (DG) Fonte: Agência Brasil


18 | Reportagem | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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No ônibus adaptado, o banho solidário às pessoas em situação de rua Ores

Projetos no Rio de Janeiro e em São Paulo oferecem – além dos serviços de higiene –, atendimento médico e social, corte de cabelo, doação de roupas e alimentação a pessoas em situação de vulnerabilidade social

BANHEIROS E LAVANDERIAS

Em São Paulo, o projeto “Ação Vidas no Centro” é uma iniciativa da prefeitura, que oferece banheiros, banhos e lavanderias a pessoas em situação de rua e, desde seu início, em abril de 2020, realizou mais de 1,5 milhão de atendimentos. O projeto oferece pias com água potável, lavanderias equipadas com máquinas de lavar e secar roupas e banheiros que oferecem banho. Ao chegar aos postos de atendimento, espalhados pela cidade, a pessoa recebe um kit com sabonete e toalha para tomar banho; nas lavanderias, sabão e acesso às máquinas de lavar e secar.

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na Ilha do Governador, na zona Norte do Rio de Janeiro, o projeto Banho da Cidadania, liderado pela ONG Organização de Reintegração e Estímulo à Socialização (Ores), fundada em 2016, proporciona às pessoas em situação de rua um pouco de dignidade por meio do banho, corte de cabelo, doação de roupas, atendimento médico e social. Em 2020, a entidade ampliou sua frente de atuação e comprou um ônibus, retirou todos os bancos e adaptou o espaço interno, criando quatro cabines com chuveiro, maca médica, sala de atendimento e pia. As iniciativas da Ores já beneficiaram mais de 50 mil pessoas na capital fluminense. A proposta da entidade é, além de oferecer o básico, retirar as pessoas das ruas, reinseri-las em suas famílias e incentivar a profissionalização.

ÔNIBUS ITINERANTE

Ricardo Machado Tavares, 55, empresário e idealizador da ONG Ores e do Banho da Cidadania, acredita que quem está à margem da sociedade, se estiver limpo e bem vestido tem mais possibilidades de arrumar um emprego e, automaticamente, sair das ruas. A missão do projeto é proporcionar ao morador de rua o direito a um banho de chuveiro digno, com todo o suporte higiênico necessário. “Quando comprei o ônibus, foi a realização de um sonho, consegui expandir as ações aos que mais precisam de uma mão estendida em determinado momento da vida. Muitos estão nas ruas por causa do crescente desemprego e da inflação dos aluguéis; outros, pelo vício das drogas”, afirmou Tavares.

BANHO DA CIDADANIA

“Com a ação do Banho, devolvemos à população em situação de rua um pouco de dignidade. Com a unidade móvel, o ônibus, ofere-

da Cidadania, que, muito mais que um simples ato de higiene, possibilitou novas oportunidades e reinserção no mercado de trabalho.

Estações da Ação Vidas no Centro

Banhos e sanitários Praça da Sé (com lavanderia) Praça da República (com lavanderia) Parque Dom Pedro II Largo do Paissandu – acesso pela Avenida Rio Branco. Funcionamento: todos os dias, das 7h às 19h.

UNIDADE MÓVEL

cemos uma estrutura completa com itens básicos de higiene e, sobretudo, dignidade e esperança”, disse o idealizador, pontuando que a proposta da entidade é retirar as pessoas das ruas, por meio do banho e, sobretudo, da ressocialização e do incentivo à profissionalização. Em um único dia, o projeto atende, em média, 130 pessoas com os banhos solidários. O ônibus circula pelos bairros da capital fluminense, entre eles, Copacabana, Largo da Carioca, Méier, Penha. A meta é abranger todas as regiões da cidade.

FAZER O BEM

Além dos banhos, a ONG Ores distribui marmitas e cestas básicas a 200 famílias cadastradas, e barracas. “Com as ações, não queremos incentivar a estada nas ruas, mas amenizar a situação de quem não tem um teto”, disse Tavares, afirmando que foram mais de 5 mil marmitex doadas durante a pandemia. Em paralelo a essas iniciativas, a ONG atua com um módulo de banho, uma estrutura móvel montada sobre chassi de um automóvel, que circula às terças e quintasfeiras em parceria com o Projeto Ruas. “Mais do que atender à necessidade pontual, nosso intuito é resgatar essas pessoas da invisibilidade das ruas para a visibilida-

de da sociedade e um recomeço digno”, afirmou o idealizador, feliz ao falar dos resultados positivos das ações que promovem oportunidades.

SORRISOS DE FELICIDADE

Renato, 33, ficou desempregado e, devido a conflitos familiares, foi viver na rua. Ele encontrou na ONG Ores um suporte para enfrentar as dificuldades no período em que permaneceu nas ruas do Rio de Janeiro. “Vinha aqui no ônibus tomar banho, escovar os dentes, cortar o cabelo e, graças a essa oportunidade básica e por meio das capacitações, consegui um emprego na área de serviços gerais, aluguei uma quitinete. Hoje, tenho uma cama para dormir, um chuveiro e sou grato por essa ONG que me despertou para a vida e resgatou minha dignidade”, disse Renato. Fabio destacou que seu ponto de esperança era o ônibus da Ores. “Foram muitos banhos nesse ônibus. Foi uma passagem pela rua, hoje tenho um teto, um trabalho e comprei uma moto”, disse, agradecido pelo atendimento que o fez acreditar em seus sonhos. Ambos imprimem no rosto sorrisos de felicidade e gratidão ao projeto Banho

Também em São Paulo foi inaugurada uma unidade móvel, que utiliza um ônibus como estrutura física. O equipamento atenderá de forma itinerante em regiões com maior concentração de pessoas em situação de rua. Giulia Pereira Patitucci, coordenadora de políticas públicas para pessoas em situação de rua da Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), pontuou que os projetos desenvolvidos em âmbito municipal visam a proporcionar dignidade às pessoas em situação de vulnerabilidade. “O público-alvo será atendido na unidade móvel por uma equipe multidisciplinar composta de coordenadora, educadora, advogada e assistente social, com experiência no atendimento de pessoas em situação de rua. Os profissionais farão o atendimento direto e, também, a busca ativa para ofertar escuta e assistência”, disse a coordenadora. Após identificar a necessidade da pessoa atendida, a equipe a encaminha para os serviços públicos mais adequados às suas necessidades, explicando como eles funcionam e como podem ser acessados. A unidade móvel atua em três frentes: articulação das políticas públicas para as pessoas em situação de rua; atendimento e acolhimento qualificado; e ações educativas.


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Reportagem | 19

Trabalhador informal deve planejar gastos e manter reserva de emergência Especialistas financeiros dão dicas para organizar as finanças pessoais e orientam sobre as opções de investimentos

Cottonbro/Pexels

Ira Romão

ESPECIAL PARA O SAO PAULO

No Brasil, quase 2 milhões de pessoas passaram a trabalhar por conta própria entre maio de 2020 e os 12 meses seguintes, enquanto se registrou 1,3 milhão a menos de carteiras assinadas no mesmo período. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de julho. Para os que estão no trabalho informal, realidade de muitos que atuam de forma autônoma, ter um planejamento financeiro é indispensável, incluindo a previsão de uma reserva de emergência, que pode ser usada para cobrir gastos inesperados como um vazamento em casa, um problema de saúde e até custear por um período as contas da família em caso de uma demissão. Fabio Gallo Garcia, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e ex-docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), reforça que é preciso criar o hábito de guardar dinheiro. “Por exemplo, fazer regime e ir a uma academia são hábitos de sacrifício. Guardar dinheiro também. E por que se faz isso? Porque, quando você cria objetivos de vida e começa a guardar seu ‘dinheirinho’, percebe o que isso lhe traz de bem.” Garcia enfatiza que, independentemente do poder econômico, é extremamente importante planejar os gastos e que, mesmo em uma situação de crise, organizar é a palavra de ordem para todos. “Para você ter maior bem-estar, é indicado planejar-se financeiramente, estrutu-

rar sua vida financeira para viver com o que ganha de forma melhor”, assinala o professor. “Planejar significa estabelecer seus objetivos de vida, objetivos financeiros e organizar um orçamento dentro disso.” Como guardar dinheiro tendo uma renda variável? O Brasil tem atualmente 14,4 milhões de desempregados. De acordo com a Pnad Contínua, no trimestre finalizado em maio, a taxa de informalidade no mercado de trabalho subiu para 40% na população ocupada. Diante desse cenário, Garcia sugere que o planejamento dos gastos familiares, sobretudo do trabalhador informal que tem renda variável, siga o método que ele apelidou de “orçamento de guerra”, que separa as despesas em grupos “ABCD”. Sendo “A” de alimentar; “B” de básico; “C” de contornável e “D” de desnecessário. No “A”, deve ser anotado gastos com a alimentação básica: arroz, feijão, óleo etc.;

o “B”, as contas fixas: aluguel, água N e luz; No “C”, gastos que trazem conforto, mas que podem ser cortados: TV a cabo, academia e banda larga; No “D”, gastos que você se pergunta por que está gastando e se precisa deles, como assinatura de algum aplicativo que não usa. Garcia afirma que após fazer essa separação, sobram basicamente itens no ABC. “Em situações como essa, você começa depois a cortar coisas do contornável (C) e criar algum grau de poupança (reserva), que no primeiro momento deve ser para emergência.” Quanto dinheiro deve ser guardado? Administrador de empresas e especialista em gestão financeira, Marcelo Segredo aconselha que seja reservado no mínimo 10% do faturamento/renda para as emergências. “O ideal seria 30%, que assim cria uma margem de reserva financeira estratégica de uma forma mais acelerada, em um espaço de tempo muito menor. [Diante do cenário atual] porém, a maioria não vai conseguir 30%. Por isso, damos essa média, de no mínimo 10%, todo mês”, esclarece. O que fazer com a reserva de emergência? É preciso lembrar que a reserva de emergência é um dinheiro que a pessoa pode precisar acessar a qualquer momento. No entanto, os especialistas ouvidos pelo O SÃO PAULO orientam que ele não pode ficar parado, guardado “embaixo do colchão”. O ideal é fazer um investimento desse recurso de modo planejado para que renda e se multiplique. A seguir, há algumas das opções de investimentos comentadas pelos especialistas e que podem contribuir para quem deseja manter uma reserva de emergência.

Poupança: É a opção mais popular. Uma conta bancária, sem taxa e fácil de aplicar. Sem tributação, não tem incidência de imposto de renda (IR) e tem liquidez total, ou seja, é possível ter o dinheiro à disposição quando precisar/solicitar. O rendimento é baixo, apenas 0,3% ao mês e é calculado pela Taxa Selic. “Ao investir na caderneta de poupança, você não ficará milionário, mas pelo menos vai preservar um pouco do seu dinheiro”, diz o professor Garcia. CDB (Certificado de Depósito Bancário): Ao aplicar o dinheiro no banco, a rentabilidade oferecida depende da instituição financeira, do prazo, entre outras situações. Geralmente, quanto maior a duração da aplicação, maior a valorização oferecida pelo banco. Tem liquidez imediata. Não tem taxa, porém tem incidência de IR. “Você tende a ganhar um pouquinho mais do que com a caderneta de poupança, principalmente se você aceitar deixar o dinheiro guardado por algum tempo”, explica o professor. Tesouro Direto: Títulos públicos que podem ser comprados por pessoas físicas a partir de R$ 35. Há títulos com diferentes rentabilidades. Podem ser adquiridos por meio dos bancos ou corretoras de investimentos. Há liquidez imediata, mas o ideal é mexer após um ano, para melhor rendimento. “Sugiro investir em duas frentes: 30% no CDB, do qual é possível sacar a qualquer momento; e 70% no Tesouro Direto atrelado ao IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo], que é o índice da inflação. Assim, rende os juros do Tesouro mais a inflação”, elucida Segredo. Ele finaliza reforçando que a gestão financeira é fundamental. “Você tem que ter certeza de tudo que gasta e onde gasta. Se abrir um MEI [Microempreendedor Individual], tem que ter uma planilha de controle para sua casa e outra para sua empresa; do contrário, mistura-se tudo e nunca vai sobrar dinheiro pra nada.”

Você Pergunta Na reza do Rosário, quando rezar a Salve-Rainha ou a Ladainha de Nossa Senhora? Padre Cido Pereira

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A Lourdes Oliveira, de Guarulhos (SP), envia a seguinte pergunta: “Quando rezamos o Rosário, os quatro mistérios, devemos rezar a Salve-Rainha em todos ou pode ser apenas a Ladainha de Nossa Senhora no final?”. Lourdes, como você sabe, a palavra rosário significa “um buquê de rosas”. O Rosário, portanto, é um buquê de rosas, de orações, que oferecemos a Nossa Senhora. O Rosário pode ser chamado tam-

bém de “Bíblia dos pobres”, porque em cada dezena de Ave-Marias há um Pai-Nosso. Nós contemplamos os mistérios de nossa fé, da anunciação a Maria à coroação dela no céu, do nascimento de Jesus à sua Ascensão ao céu. Quando grande parte da população era analfabeta, e poucos podiam ler a Bíblia e orar os 150 salmos, as 150 Ave-Marias e os 15 mistérios da fé se tornaram a prece dos simples. Durante séculos, o Rosário foi rezado inteiro diariamente ou apenas um Terço das 150 Ave-Marias. Vem daí a palavra Terço, isto é, um terço do Rosário.

São João Paulo II, porém, aumentou mais cinco mistérios (os luminosos), em que contemplamos a vida pública de Jesus. Hoje, então, o Rosário consta da contemplação dos mistérios gozosos (anunciação do anjo, visita de Maria a Santa Isabel, nascimento de Jesus, apresentação do menino Jesus no templo e encontro do menino Jesus entre os doutores), dos mistérios luminosos (Batismo de Jesus, bodas de Caná, anúncio do Reino, Transfiguração de Jesus e instituição da Eucaristia), dos mistérios dolorosos (oração no Horto das Oliveiras, flagelação de Jesus, coroação de espinhos,

o caminho do calvário e crucifixão e morte de Jesus) e os mistérios gloriosos (Ressurreição de Jesus, Ascensão, Pentecostes, assunção de Maria e coroação de Maria no céu). Quem reza somente uma quarta parte do rosário, que continuamos chamando de Terço, embora agora seja um quarto, termina com a Salve-Rainha e a Ladainha de Nossa Senhora. Quando, porém, se reza o Rosário inteiro, podese deixar a Salve-Rainha para o final de tudo. E ore sempre, Lourdes. E não se esqueça de mim. Fique com Deus.


20 | Reportagem | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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Comite Paralimpico Brasileiro

O BRASIL EM TÓQUIO Em sua melhor campanha em uma paralimpíada, o Brasil conquistou 72 pódios, sendo 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes. A relação a seguir apresenta, por primeiro, os nomes dos que obtiveram mais de uma conquista e depois, aqueles que obtiveram uma medalha.

MULTIMEDALHISTAS 5 pódios arol Santiago, natação: ouro nos 50m e 100m livre e no C 100m peito; prata no revezamento 4x100m livre 49 pontos; e bronze 100m costas

4 pódios abriel Bandeira, natação: ouro nos 100m borboleta; prata G nos 200m livre e nos 200m medley e bronze no revezamento 4x100m livre misto S14

3 pódios

José Carlos Chagas, bronze na bocha BC1, conquistou umas das 72 medalhas do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio

Paralímpicos ‘quebraram recordes, aqueceram os corações e abriram mentes’ Daniel Gomes

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Em meio à pandemia de COVID-19, sem o público nas arquibancadas das arenas esportivas e com muitos protocolos para evitar a disseminação do coronavírus, a realização da 16ª edição dos Jogos Paralímpicos foi desafiadora, mas entrou para a história pelo empenho dos atletas em alcançar a excelência em seus desempenhos. “Em 12 dias mágicos, os atletas deram ao mundo confiança, alegria e esperança. Quebraram recordes, aqueceram os corações, abriram mentes. É importante ressaltar que os atletas mudaram vidas. No Japão, existe uma bela filosofia antiga chamada Kintsugi. Significa ‘abraçar as imperfeições que todos nós temos, não para escondê-las, mas para celebrá-las’”, afirmou, na cerimônia de encerramento, o brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). Ao longo dos Jogos, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), foi lançada a campanha #WeThe15, que busca a conscientização global contra as discriminações que ainda sofrem as pessoas com deficiência e o apoio às suas lutas por inclusão, acessibilidade e dignidade. “Estamos em uma encruzilhada determinante para o nosso planeta. Nenhuma máscara pode cobrir suas falhas. À medida que o reconstruímos e o tornamos melhor, 15% da população mundial não pode ficar para trás. Devemos ver além dos atletas que tiveram um desempenho tão bom

aqui e enxergar o 1,2 bilhão de pessoas com deficiência. Eles podem e querem ser cidadãos ativos em um mundo inclusivo”, ressaltou Parsons.

Campanha histórica

A delegação brasileira alcançou seu melhor desempenho em uma edição paralímpica: foram 72 medalhas, igual quantidade à dos Jogos Rio 2016, mas com recorde em conquistas de ouro, 22 ao todo (leia mais no box), o que fez com que o Brasil fosse o 7º colocado entre as 86 nações que conquistaram ao menos uma medalha em Tóquio. “O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) celebra, além da maior campanha de todos os tempos, o atingimento de todas as metas, como a de participação de mulheres, participação de atletas jovens, participação de atletas de classes baixas [atletas com as deficiências mais severas]”, ressaltou, em coletiva de imprensa, Mizael Conrado, presidente do CPB. Conrado afirmou, ainda, que os bons resultados também são fruto do programa Bolsa Atleta, iniciado em 2005, que permite a manutenção financeira dos atletas de alto rendimento, além de aporte aos novos talentos de diferentes modalidades. Apenas neste ciclo paralímpico, o total investido diretamente nos integrantes da delegação brasileira que estiveram em Tóquio foi de R$ 75 milhões.

Nem sorte, nem superação: muito trabalho

Ao longo dos Jogos, muitos medalhistas ressaltaram que é

preciso que a sociedade brasileira seja mais inclusiva e levantaram voz contra o capacitismo, ideia que parte do pressuposto de que a pessoa com deficiência é menos capaz que as outras, de modo que todos os seus feitos, inclusive no campo esportivo, seriam fruto de superação de suas “naturais limitações” por não ter um “corpo perfeito”. “Tudo que eu conquistei no esporte foi com muita dedicação e perseverança. Criei um nome. Creio que posso ser um influenciador positivo. Sou exemplo para muitas pessoas, inclusive as sem deficiência. Quero passar a mensagem ‘Sorria para a vida’. Que em um futuro, a gente pare com o bullying e o preconceito. Temos que entender que somos diferentes, sim, mas iguais em capacidade”, declarou o nadador Daniel Dias, que em Tóquio conquistou três medalhas de bronze e encerrou a carreira com 27 pódios na história das paralimpíadas. Aos 56 anos, Elisabeth Gomes foi medalhista de ouro no lançamento de disco F53 no atletismo. Ela lembrou que o resultado foi fruto de intensos treinamentos: “O trabalho foi árduo desde 2016. Veio a pandemia e não paramos, nós nos reinventamos com treinamentos remotos. Montei uma academia em casa, comprei a aparelhagem que faltava para que isso não pudesse atrapalhar o nosso sonhado Tóquio 2021. E hoje estamos aqui para escrever essa história. Eu acreditei e fui atrás dos meus objetivos. Eu repeti muito esse movimento, então estava segura do que ia fazer. Em nenhum momento foi sorte. Foi treino”.

abriel Geraldo, natação: ouro nos 200m livre e 50m costas e G prata nos 100m costa S2 Wendell Belarmino, natação: ouro nos 50m livre S11; prata no revezamento 4x100m livre 49 pontos e bronze nos 100m borboleta S11 Talisson Glock, natação: ouro nos 400m S6 e bronze nos 100m livre e no revezamento misto 4x50m livre 20 pontos Daniel Dias, natação: bronze nos 200m e 100m livre S5 e no revezamento 4x50m livre 20 pontos

2 pódios eltsin Jaques, atletismo: ouro nos 1.500m e 5.000m livre T11 Y Alessandro da Silva, atletismo: ouro no lançamento de disco e prata no arremesso de peso F11 Petrúcio Ferreira, atletismo: ouro nos 100m e bronze nos 400m livre T47 Thalita Simplício, atletismo: prata nos 200m e 400m livre T11 Cecília Araújo, natação: prata nos 50m livre S8 e no revezamento misto 4x100m livre 49 pontos Bruna Alexandre, tênis de mesa: prata no simples classe 10 e bronze com a equipe feminina nas classes 9 e 10 João Victor Teixeira, atletismo: bronze no lançamento de disco e arremesso de peso F37

DEMAIS CONQUISTAS Ouro

utebol de 5 F Goalball masculino Atletismo: Claudiney Batista (lançamento de disco F56), Wallace Santos (arremesso de peso F55), Elisabeth Gomes (lançamento de disco F53) e Silvânia Costa (salto em distância T11) Canoagem: Fernando Rufino (200m VL2) Judô: Alana Maldonado (até 70kg) Halterofilismo: Mariana D’Andrea (até 73kg) Taekwondo: Nathan Torquato (até 61kg K44)

Prata tletismo: Vinicius Rodrigues (100m T63), Thomaz Moraes A (400m T47), Alex Pires (maratona T46), Marco Aurélio (arremesso de peso F57), Raissa Machado (lançamento de dardo F56) e Marivana Oliveira (arremesso de peso F35). Canoagem: Luis Carlos Cardoso (200m caiaque KL1) e Giovane Vieira (200m VL3) Hipismo: Rodolpho Riskalla (adestramento grau IV) Taekwondo: Débora Menezes (+ 58kg) Esgrima em cadeira de rodas: Jovane Guissone (espada categoria B) Natação: revezamento misto 4x100 livre 49 pontos (com Wendel Belarmino, Douglas Matera, Lucilene da Silva Sousa e Carol Santiago)

Bronze ôlei sentado feminino V Atletismo: Washington Junior (100m T47), Ricardo Gomes (200m T37), Cícero Valdiran (lançamento de dardo F57), Mateus Evangelista (salto em distância T37), Thiago Paulino (arremesso de peso F57), Jerusa Geber (200m T11), Jardênia Felix (400m T20) e Julyana da Silva (lançamento de disco F57) Bocha: José Carlos Chagas (BC1) e Maciel Santos (BC2) Judô: Meg Emmerich (+70kg) e Lúcia Araújo (até 57kg) Remo: Renê Campos Pereira (single skiff PR1) Natação: Phelipe Rodrigues (50m livre), Beatriz Carneiro (100m peito); Mariana Ribeiro (100m livre S9), Revezamento misto 4x100 livre S14 (com Gabriel Bandeira, Ana Karolina de Oliveira, Débora Carneiro e Felipe Vila Real) e Revezamento misto 4x50m livre 20 pontos (com Daniel Dias, Talisson Glock, Joana Neves e Patrícia Pereira) Tênis de mesa: Cátia Oliveira (simples classes 1 e 2) e Equipe feminina nas classes 9 e 10 (com Daniele Rauen, Bruna Alexandre e Jennyfer Parinos) Taekwondo: Silvana Fernandes (até 58kg K44)


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Pelo Mundo | 21

Coreia do Sul

Panamá

Sul-coreanos celebram a descoberta das relíquias dos seus primeiros mártires

Arcebispo conclama a população a combater a corrupção no país

Vatican Media

O Arcebispo do Panamá, Dom José Domingo Ulloa, fez um apelo enérgico aos panamenhos para que enfrentem e resolvam o “grande problema” da corrupção que aflige o país e a sociedade, e isso, disse ele, acontece sobretudo em saber escolher seus governantes. “A corrupção é um problema real e, no momento, o grande problema é que temos uma sociedade corrupta, esta é a verdade”, disse Dom José à imprensa após presidir a celebração eucarística no dia 29 de agosto. “Por isso, acredito que somos chamados a escolher quem nos representa, para que ninguém reclame”, disse o Prelado.

ESCÂNDALOS

Santa Missa de beatificação de Paul Yun Ji-Chung e 123 companheiros na Porta de Gwanghwamun (Seul, 16 de agosto de 2014)

JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

Os restos mortais descobertos em março durante as reformas de uma área católica no condado de Wanju, nos arredores de Jeonju, na Coreia do Sul, após passarem por exames de DNA, foram identificados como sendo relíquias de três dos mais antigos mártires católicos da Coreia.

EVENTO NOTÁVEL

Após a confirmação, o Bispo de Jeonju, Dom John Kim Son-tae, destacou que “esta descoberta é verdadeiramente um evento notável e monumental. Isso porque nossa Igreja, que

cresceu com base no sangue dos mártires, finalmente encontrou os restos daqueles que ocupam o primeiro lugar na nossa história de martírio”. Os beatos Paulo Yun Ji-Chung, Jaime Kwon Sang-yeon e Francisco Yun Ji-Heon foram torturados e executados durante a dinastia Choson, que permaneceu durante 500 anos no poder. O Cristianismo chegou à Coreia por volta do século XVIII, após estudiosos coreanos viajarem até a China e se encontrarem com missionários católicos, retornando para o seu país de origem para propagar a fé.

RELÍQUIAS AUTÊNTICAS

“É a vontade de Deus nos per-

mitir ver os restos dos primeiros mártires para que possamos imitar sua espiritualidade. O mundo em que vivemos está se afundando na escuridão… Por muito tempo, nossa sociedade priorizou o dinheiro e o individualismo no lugar de Deus e da solidariedade”, afirmou Dom John. De acordo com o Prelado, o processo canônico de estudos dos restos mortais dos mártires foi concluído em agosto. As relíquias dos três beatos mártires realmente são autênticas. O Bispo afirmou ter esperança de que a reflexão sobre a “espiritualidade do martírio possa renovar a humanidade e os tempos de hoje”.

O apelo do Arcebispo panamenho ocorre após uma série de escândalos ligados a supostos atos de corrupção, que vieram à tona na mídia local durante a pandemia de COVID-19. Alguns deles levaram à demissão de funcionários da área da Saúde devido a conflito de interesses. No entanto, o fenômeno da corrupção no Panamá não é recente: um levantamento da empresa de pesquisa espanhola GAD3, realizada a pedido do jornal panamenho La Prensa, publicada em maio passado, constatou que 71,1% dos entrevistados vinculam o atual governo de Laurentino Cortizo à corrupção, enquanto 15,8% são indiferentes. Durante anos, o Panamá foi abalado por escândalos de corrupção, com uma resposta judicial, em muitos casos, descrita em uníssono como impunidade e uma desigualdade social que não diminui, apesar do crescimento econômico que marcou o país na última década. Para o Arcebispo, esta situação “não é mais do que um reflexo do que infelizmente somos como sociedade, uma sociedade corrupta, que depois se queixa de alguns corruptos, mas na qual ninguém dá o primeiro passo para transformá-la”.

GOVERNO

No dia 31 de agosto, o presidente do Panamá, Laurentino Cortizo, declarou o combate à corrupção em seu governo, que, reiterou, promove a transparência na gestão pública. “Não vou tolerar nenhum ato de corrupção. As denúncias relacionadas foram feitas em colaboração com as autoridades investigadoras”, disse Cortizo, que assumiu o cargo em julho de 2019 por um mandato de cinco anos. Fonte: Agência Fides

Fonte: Gaudium Press

Estados Unidos Juristas mantêm em vigor lei que protege bebês contra a prática do aborto A Suprema Corte dos Estados Unidos rejeitou pedido de bloquear a lei de “batimentos cardíacos” do Texas, a mais radical restrição ao aborto aprovada no país desde a liberação da prática em 1973. Numa votação de cinco votos contra quatro, a Suprema Corte não derrubou a lei, que entrou em vigor no dia 1º de setembro. A lei proíbe o aborto assim que os batimentos cardíacos do bebê são detectados, o que pode acontecer já nas primeiras seis semanas de gravidez.

Para a maioria dos juízes, a argumentação dos promotores do aborto não era suficientemente sólida para a revogação da lei. Eles afirmaram que “os promotores que temos agora diante de nós levantaram sérias perguntas a respeito da constitucionalidade da lei do Texas em questão. Mas sua aplicação também apresenta questões de procedimento complexas e inovadoras sobre as quais eles não argumentaram”.

VITÓRIA PRÓ-VIDA

A maioria do tribunal destacou que a constitucionalidade da lei em si não estava sendo julgada, mas, sim, sua isenção. “Em particular, esta ordem não se baseia em nenhuma conclusão sobre a constitucionalidade da lei, e de nenhuma maneira limita outras impugnações processuais adequadas à legislação texana, inclusive nos

“O Texas é o primeiro estado que protege com sucesso os mais vulneráveis entre nós, que são as crianças não nascidas, ao proibir o aborto uma vez que se detectam os batimentos cardíacos”, declarou Chelsey Youman, diretora estadual do grupo pró-vida Human Coalition Action, em relação à decisão do Supremo Tribunal.

ISENÇÃO DA LEI

tribunais estaduais do Texas”, sentenciou o tribunal. Os grupos pró-aborto que pediam a revogação da lei, representados pelo Centro de Direitos Reprodutivos, não conseguiram bloquear a lei nos tribunais inferiores. Por esse motivo eles recorreram ao Supremo Tribunal.

PUNIÇÃO AOS ABORTISTAS

A lei do Texas permite que cidadãos comuns processem os que pratiquem ou colaborem com abortos ilegais, incluindo os que prestam ajuda financeira. A lei permite indenizações de pelo menos 10 mil dólares em julgamentos bem-sucedidos. “Os seres humanos são dignos de proteção em todas as fases do seu desenvolvimento, e a importância de um ser humano em crescimento no útero não pode ser arruinada em boa consciência”, disse Chelsey. Fonte: ACI Digital


22 | Geral | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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‘Somos as pedras vivas da Igreja que tem como fundamento Jesus Cristo’ Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Afirmou o Cardeal Odilo Scherer, na missa pelo 67º aniversário de dedicação da Catedral da Sé Fernando Geronazzo

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu no domingo, 5, a missa solene pelos 67 anos da dedicação da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, a Catedral da Sé. A data é comemorada como solenidade litúrgica na própria Catedral e como festa em toda a Arquidiocese. Igreja-mãe da Arquidiocese, a Catedral é o templo onde está a cátedra do Arcebispo, ou a sede (sé), de onde ele ensina e pastoreia a porção do povo de Deus que lhe é confiada em uma Igreja particular. “A dedicação de um templo nos recorda daquilo que somos: a Igreja de Cristo […]. Nossa Catedral é também um sinal visível de nossa comunhão e unidade em torno de Cristo e da igreja congregada em torno do bispo e seus padres”, salientou o Arcebispo de São Paulo, no início da celebração.

Morada de Deus

Na homilia, o Arcebispo meditou a partir das leituras bíblicas que ressaltam a presença de Deus no meio da humanidade e do significado das igrejas e templos construídos nas comunidades. Na primeira leitura (1Rs 8,2223.27-30), após a construção do Templo de Jerusalém, Salomão faz a seguinte oração, na qual reconhece a grandeza de Deus e indaga: “Será que Deus pode realmente morar sobre a terra?”. O Cardeal enfatizou que, ao construir casas dedicadas a Deus no meio de suas casas, o povo manifesta: “Deus tem lugar no meio de nós… Queremos que Ele habite de maneira estável nesta cidade. Que sua presença ilumine, oriente, conforte a nossa vida e nos mostre sempre o caminho a seguir, as escolhas a fazer”, disse. “Deus quis ter morada entre nós. Ele quis estar no meio dos filhos dos homens… Isso não significa que Deus não seja infinitamente grande. Mas, de tão grande que é, também se faz pequeno, próximo, para escutar

Caredeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, preside missa solene por ocasião dos 67 anos de dedicação da Catedral da Sé

nossas orações, súplicas, louvores, pedidos de perdão”, afirmou Dom Odilo, destacando, ainda, que Jesus, ao se encarnar e se fazer homem, se tornou templo de Deus no meio da humanidade.

Jerusalém celeste

Já a segunda leitura (Ap 21,1-5a) traz

um anúncio profético da “nova Jerusalém”, morada de Deus, imagem da Igreja na realização plena da salvação. “Quando nos reunimos no templo, como agora, anunciamos profeticamente que caminhamos para a Igreja celeste”, frisou o Arcebispo, lamentando que as igrejas, muitas vezes, são identificadas como lugares onde se buscam benefícios imediatos e não os bens eternos.

Pedras vivas

No Evangelho (Mt 16,13-19), Jesus afirma que edifica a sua Igreja sobre a fé professada por Pedro, de que Jesus é o Filho de Deus. Dom Odilo ressaltou que o fundamento da Igreja é o próprio Cristo, enquanto os apóstolos são as colunas que a sustentam. “A Igreja viva, de fato, somos nós, dedicados, consagrados a Deus no nosso Batismo”, reforçou o Arcebispo, recordando que, como afirmou São Paulo, os cristãos são as “pedras vivas” que edificam o templo espiritual que tem como base sólida Jesus Cristo. Nesse sentido, o Cardeal Scherer exortou os fiéis a permanecerem unidos ao sucessor de Pedro, o Papa Francisco, e aos sucessores dos apóstolos, os bispos, para, assim, estarem unidos a Cristo.

História

Inaugurada em 25 de janeiro de 1954, por ocasião das comemorações do IV centenário de fundação da cidade de São Paulo, a Catedral da Sé começou a ser construída em 1912 e foi idealizada para substituir a antiga Igreja da Sé, de 1612, bastante deteriorada pelo tempo. A nova Sé foi dedicada somente em setembro daquele ano, durante o I Congresso Nacional da Padroeira do Brasil,

realizado entre São Paulo e Aparecida. A dedicação foi feita pelo Cardeal Adeodato Givanni Piazza, que veio como enviado pontifício para o Congresso da Padroeira.

Projeto e restauro

A Catedral passou pelas mãos de muitos engenheiros e arquitetos, mas o principal foi o engenheiro alemão Maximiliano Hehl, que acompanhou a construção por apenas três anos, pois morreu em 1916. O estilo neogótico da Catedral é considerado peculiar, com seu aspecto eclético em estilos arquitetônicos. Fechada durante três anos (19992002), a Catedral da Sé passou por um restauro, no qual foram concluídos os 14 torreões, previstos no projeto original.

Vida pastoral

O Cura da Catedral, Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, manifestou em seu nome e no do seu auxiliar, Padre Helmo Cesar Faccioli, a gratidão a todos os colaboradores e benfeitores que ajudam a manter a missão evangelizadora da Sé de São Paulo. Ao falar da vida pastoral da igrejamãe da Arquidiocese, o Cura destacou que, mensalmente, circulam na Catedral cerca de 35 mil pessoas. Dessas, 10 mil participam das missas e 900 são atendidas em Confissão. Além disso, uma média de 1,9 mil acompanham as liturgias pelas mídias digitais. O templo conta com 150 dizimistas e também é responsável pela distribuição mensal de 150kg de alimentos e 800 peças de roupas para os pobres. Leia a reportagem completa em: https://tinyurl.com/yhaptaup.


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| 9 a 13 de setembro de 2021 | Geral/Fé e Vida | 23

A missão dos secretários paroquiais é tema de curso on-line Fernando Geronazzo

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A Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo iniciaram, no dia 1º, um curso de extensão sobre secretariado paroquial. Realizado na modalidade on-line, o curso conta com a participação de mais de 1,6 mil inscritos de todo o Brasil, interessados no aprofundamento pastoral e canônico sobre as atribuições próprias dos secretários paroquiais, abordando as contribuições da Psicologia Pastoral para o atendimento na secretaria e as responsabilidades desses profissionais na gestão paroquial.

Colaboração importante

Ao abrir o curso, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grão-Chanceler das instituições organizadoras, ressaltou que o número de inscritos demonstra a importância do tema e o interesse na formação técnica e pastoral dos atendentes paroquiais. Dom Odilo agradeceu a todos os secretários o serviço profissional e pastoral prestado. “É uma colaboração importante, um serviço à Igreja, ao povo de Deus”, enfatizou. O Arcebispo reforçou que o curso não pretende interferir nas orientações específicas dadas em cada diocese ou instituto eclesiástico, mas abordar aspectos gerais que dizem respeito a essa missão. “Vocês são a vitrine da Igreja. O primeiro contato que, em geral, as pessoas têm com a instituição eclesiástica é com aqueles que estão nas secretarias paroquiais, nas cúrias,

recebendo as pessoas, dando informações, atendendo naquilo que lhes compete”, enfatizou o Cardeal, lembrando que a primeira impressão dessa acolhida marca profundamente a relação das pessoas com a Igreja.

Serviço pastoral

O Arcebispo salientou que, além dos aspectos humanos relacionados ao bom atendimento ao público, há uma dimensão teológica e pastoral, uma vez que esse serviço lida diretamente com questões referentes à vida de fé das pessoas, como a busca dos sacramentos, orientação espiritual e catequética, em síntese, o acesso às questões essenciais da vida eclesial. Nesse sentido, Dom Odilo reforçou a importância de esses agentes terem uma boa compreensão do que é a Igreja e do serviço que ela presta. “Por isso, o trabalho de vocês [secretários] deve ser animado por uma profunda fé e um profundo amor à Igreja, que se expressam pelo amor às pessoas, que se traduz, naturalmente, nas várias atitudes necessárias nesse primeiro contato com o público”, recomendou o Cardeal. Para bem realizar o trabalho de secretariado paroquial, Dom Odilo destacou a necessidade de um preparo técnico, com noções da legislação canônica e diretrizes pastorais referentes, por exemplo, aos sacramentos do Matrimônio e do Batismo, à Catequese, assim como questões de ordem administrativa e organizacional. Outro aspecto ressaltado pelo Arcebispo é a necessidade de se ter uma noção clara das competências dos secretários paroquiais. “Portanto, é preciso ser secretários eficientes, mas não ir além daquilo que lhes compete”, disse, sublinhando que existem tarefas que são de competência exclusiva dos

sacerdotes ou ministros por eles delegados, e que, portanto, não podem ser realizadas pelos secretários.

Atendimento e acolhida

A primeira aula foi ministrada pelo Padre Cícero Alves de França, mestre em Teologia da Espiritualidade pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, que tratou das contribuições da Psicologia Pastoral para o atendimento na secretaria paroquial. O Sacerdote explicou que esse ramo da Psicologia, que estuda os processos psicológicos inerentes às situações pastorais, não pode ser confundido com a Psicoterapia, pois “a Psicologia Pastoral tem como elemento último a sua vocação cristã”, considera-se a pessoa em referência a Deus. A partir dos fundamentos dessa área do saber, o professor enfatizou que a secretaria paroquial não é apenas um “escritório para resolução de situações burocráticas”, mas o lugar onde se lida com pessoas. Ele indicou, ainda, a necessidade da preparação interior do secretário, assim como a organização do ambiente externo para acolher bem as pessoas, seguido da escuta e devida atenção.

Próximas aulas

O curso se estende até o fim do mês, e terá aulas com Dom Edson José Oriolo dos Santos, Bispo de Leopoldina (MG), mestre em Filosofia e autor de diversas publicações sobre Administração e Gestão Paroquial; Padre Donizete José Xavier, doutor em Teologia Fundamental e Diretor Adjunto da Faculdade de Teologia da PUC-SP; e Padre Everton Fernandes Moraes, doutor em Direito Canônico e Chanceler do Arcebispado de São Paulo. Para outras informações, acesse: www.facdcsp.com.br. Reprodução da internet

Liturgia e Vida 24º Domingo do Tempo Comum 12 de setembro de2021

‘Não pensas como Deus e sim como os homens’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA São Pedro foi o primeiro discípulo a professar que Jesus é o Cristo salvador: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Ele possuía já o dom da fé, concedida diretamente pelo Pai celestial (cf. Mt 16,17). Ainda não tinha prudência sobrenatural, contudo, pois pensava “como os homens” e não “como Deus”. Após a confissão de fé, ao saber que Jesus “devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, e devia ser morto”, indignou-se e repreendeu o Mestre (cf. Mc 8,31s). Não compreendia que a Cruz seria um bem e a fonte da salvação. A prudência é a virtude que dispõe a alma para discernir, em cada circunstância, o verdadeiro bem e os meios necessários para alcançá-lo. Quando é vivificada pela fé e pela graça, ela nos leva a “pensar como Deus”: a reconhecer o Senhor como o sumo Bem a ser desejado, e a tomar decisões de acordo com sua vontade. Esta prudência sobrenatural “é o amor que sabe bem discernir entre as coisas que nos ajudam e as coisas que nos impedem de nos encaminharmos para Deus” (Santo Agostinho). Quando não é iluminada pela graça, porém, a prudência fica restrita aos limites da razão humana e tende a excluir Deus de seu critério. Então, a “prudência” humana se torna carnal, mundana e mesmo diabólica, pois “a prudência da carne é a morte” (Rm 8,6). Privada da luz sobrenatural, a inteligência do homem se ensoberbece e nos leva a desejar - até mesmo com boa intenção - aquilo que se opõe aos desígnios e à sabedoria do Criador. Por isso, Jesus repreendeu Pedro com força: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus e sim como os homens” (Mc 8,33). A razão humana é capaz de chegar até certo ponto… Sem o auxílio sobrenatural, não pode distinguir, em todas as situações, qual é o maior bem, “o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso” (Fl 4,8). Sobretudo quando se trata dos mistérios de Deus e seus planos, padecemos de uma enorme cegueira! Afinal, “é o Senhor quem dá a Sabedoria, e de sua boca procedem conhecimento e prudência” (Pr 2,6). Para adquirir a prudência, precisamos da luz que vem da Palavra de Deus, da oração e dos sacramentos; é necessário o dom do Espírito Santo do conselho. A verdadeira prudência nos faz enxergar que nossa missão não é apenas terrena e que a união eterna com Deus é verdadeiro bem a ser buscado por cada homem. Ela nos faz ver que o meio para isso é a observância dos Mandamentos, em particular do amor a Deus e ao próximo. Ela permite compreender que o amor inclui a oração, a humildade, o esquecimento de si, a pobreza em espírito, a castidade, o sacrifício, a dor e, por vezes, a doação da própria vida em favor do outro. Sabemos que “é em Deus que está a sabedoria e a força: Ele tem o conselho e a inteligência” (Jó 12,13)! Somente Ele permite compreender que a sabedoria é a “linguagem da cruz, loucura para os que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18). Peçamos-Lhe a verdadeira prudência!


24 | Geral | 9 a 13 de setembro de 2021 |

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Arquidiocese dará início às comemorações do centenário de nascimento de Dom Paulo Nos meses seguintes estão previstas mais ações comemorativas, entre as quais um curso on-line sobre a atuação de Dom Paulo, um dia a ele dedicado durante a Semana Teológica da Faculdade de Teologia

Redação

osaopaulo@uol.com.br

Na terça-feira, 14, data em que Dom Paulo Evaristo Arns completaria 100 anos de vida, a Arquidiocese de São Paulo dará início às comemorações do centenário de nascimento do “Cardeal da Esperança”, como também era conhecido o Arcebispo que esteve à frente da Igreja em São Paulo entre 1970 e 1998. Ele morreu aos 95 anos, em 14 de dezembro de 2016. A abertura oficial será com uma solene celebração eucarística na Catedral da Sé, nesta data, às 10h, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. “Como Arcebispo, Dom Paulo procurou renovar a vida da Igreja e dinamizar o trabalho pastoral na Arquidiocese, atendendo às circunstâncias e necessidades da cidade de São Paulo, que crescia vertiginosamente e carecia de atenção especial às imensas periferias. Arns procurou traduzir em novas práticas organizativas e pastorais as orientações do Concílio Vaticano II no que se refere à participação do povo na vida e na missão da Igreja. Dedicou atenção especial aos pobres e desvalidos, estimulando o surgimento de numerosas obras voltadas à promoção da caridade e da dignidade humana”, recorda Dom Odilo. “Não deve ficar em segundo plano a figura de Dom Paulo como bispo e pastor dedicado à Igreja. Ele amava seu rebanho e tinha alegria em estar com o povo. Promoveu a evangelização e a organização pastoral, a formação do clero e dos religiosos, incentivou o protagonismo dos leigos para ocuparem com coragem seu lugar na Igreja e na sociedade. Dom Paulo queria a liturgia celebrada com esmero e dignidade, a Palavra de Deus anunciada com dedicação e fervor e que o Evangelho de Cristo fosse força e transformação para uma sociedade melhor”, prossegue o Cardeal Scherer.

Além da missa de abertura, outras atividades estão programadas para celebrar o centenário de Dom Paulo. No próprio dia 14, às 20h, será realizada a live “Paulo, Profeta e Pastor”, transmitida pelas plataformas digitais da Arquidiocese.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Eventos comemorativos

da PUC-SP, em outubro; eventos sobre o papel do “Cardeal da Esperança” para a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso e uma exposição fotográfica na Basílica Menor de Sant’Ana, a partir de 28 de outubro.

Dom Paulo também será homenageado em sessões especiais no Senado, no dia 13 deste mês, às 10h; e na Câmara Federal, nessa mesma data, às 14h; e na Câmara Municipal, no dia 20, às 14h.


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