O São Paulo - 3360

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3360 | 25 a 31 de agosto de 2021

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Universidade Católica a serviço da construção do Reino de Deus na sociedade A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) completou 75 anos de fundação no domingo, 22. Criada em 1946, a instituição de ensino superior ligada à Arquidiocese de São Paulo recebeu o título de pontifícia em 1947, assumindo, assim, o compromisso de que suas atividades sejam regidas pelos princípios da doutrina católica e fiéis aos ensinamen-

Editorial Os leigos com uma atitude apostólica fazem que outros conheçam a Cristo

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Encontro com o Pastor As convicções da Igreja sobre o bem comum para toda a família humana

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tos da Igreja nas questões de fé e de moral. Na missa de ação de graças pelo jubileu, o Cardeal Odilo Pedro Scherer enfatizou que a PUC-SP “está no coração da Igreja e a serviço daquilo que é próprio da sua missão”. O Arcebispo e Grão-Chanceler recordou que a instituição contribui para a edificação do Reino de Deus a partir daquilo que lhe é inerente como universidade: “A PUC-SP não é

como um colégio, uma paróquia ou um mosteiro. É uma universidade, aberta à universalidade do pensamento, confrontos e ideias”. Durante as comemorações, Dom Odilo também destacou o trabalho pastoral e evangelizador da Paróquia Pessoal Universitária, cuja sede se localiza na igreja anexa a um dos campi da PUC-SP. Páginas 16 a 18

Com os leigos, a Igreja está em missão nas diferentes realidades

Restaurados, sinos da Igreja São José voltam a ressoar no Belém

O SÃO PAULO retrata o apostolado dos leigos, que transcende o âmbito interno da Igreja e deve ser vivido nas situações cotidianas da família e do trabalho, como já testemunharam santos e beatos e hoje o fazem muitos dos batizados.

Após passarem por manutenção, limpeza e modernização em seus sistemas e automatização, os sinos foram reinaugurados na quinta-feira, 19, após serem abençoados pelo Cardeal Scherer. O restauro foi patrocinado pelo Grupo Comolatti.

Páginas 11 a 14

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Espiritualidade Os riscos de viver a fé distante do que ensinam a Palavra de Deus e a Igreja

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Liturgia e Vida Com o coração, adoramos a Deus, bendizemos, intercedemos e perdoamos

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2 | Encontro com o Pastor | 25 a 31 de agosto de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

O

conceito de “bem comum” é abundante na Doutrina Social da Igreja, especialmente a partir da encíclica Mater et magistra, de São João XXIII (1961). Mas é na constituição pastoral Gaudium et spes (GS), sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II, que a noção de bem comum ganha um espaço central no ensino social da Igreja. Também em nossos dias, esse conceito continua atual e essencial para a compreensão das manifestações da Igreja no que se refere à convivência humana. A noção de bem comum pressupõe algumas questões de antropologia, caras às convicções da Igreja, que são expostas na introdução à Gaudium et spes, onde se trata do homem e de sua condição neste mundo (nºs 4-10). A pessoa humana, em qualquer parte e condição social, possui uma dignidade que não lhe é conferida por nenhuma lei ou governo, de forma externa, mas é inerente à sua natureza. Aspirar à realização da pró-

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Igreja e promoção do bem comum pria dignidade e dos direitos ligados a essa dignidade é próprio da pessoa humana, e a busca desse objetivo da existência, portanto, deve ser favorecida e não impedida. Na sua primeira parte, a Gaudium et spes trata da vocação do homem (11-45) e apresenta os pressupostos da antropologia cristã, baseada na Palavra de Deus e no Magistério da Igreja. A partir da maneira cristã de compreender a natureza do homem, sua vida, ação e convivência neste mundo, o Concílio trata do bem comum e de sua promoção. O ser humano não existe para viver sozinho, mas numa multiplicidade de relações recíprocas. Isso tem sua origem no desígnio providencial de Deus Criador, que dispôs que todos formassem uma só família e se tratassem mutuamente com espírito fraterno (GS, 24). E todos os seres humanos são chamados ao mesmo fim: o próprio Deus. Por isso, na comunidade humana, tudo deve contribuir para que todos alcancem esse fim supremo da vida. A natureza social do homem mostra que todos dependem uns dos outros e, no convívio social e na comunicação com os outros, pode

acontecer o aperfeiçoamento da pessoa humana e o desenvolvimento da própria sociedade. A pessoa humana está no centro de todas as instituições e, quando isso não acontece, ela acaba se tornando vítima das instituições. As relações sociais, em diversos graus, como a relação familiar, associativa e política, derivam da própria natureza social do homem. A interdependência de todos com todos aparece mais clara e compreensível em nossos dias, quase 60 anos depois do Concílio Vaticano II. Dessa interdependência decorre uma consequência importante: a promoção do bem comum, como necessidade e dever de todas as organizações sociais e políticas. Entende-se por bem comum “o conjunto daquelas condições de vida social que permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais completa e desembaraçada a própria perfeição” (GS, 26). O bem comum refere-se ao bem de todos, e não apenas de um grupo particular, ou de uma nação em particular, mas é o bem de toda a família humana. O Papa Francisco expressou essa noção de bem comum na encíclica Laudato

si’ por meio do conceito de “casa comum”: o planeta Terra, a natureza e o ambiente da vida são nossa “casa comum”, que abriga e beneficia a todos, requer que todos convivam de maneira fraterna e solidária e se sintam corresponsáveis por cuidar da casa comum. Ela representa um bem para todos os seres humanos, e sua promoção também é um dever para todos os seres humanos. A promoção do bem comum requer a consciência dos deveres e, também, dos direitos de cada um e de todo o gênero humano. Ao bem comum opõe-se a atitude individualista e egoísta, centrada apenas na preservação do bem particular, ou de um grupo, sem medir as consequências para o conjunto da família humana. Também é contrária ao bem comum a polarização política e ideológica, que leva ao fechamento e até à violência e destruição de quem pensa diversamente ou tem outra visão de mundo. A polarização acaba gerando atitudes agressivas e excludentes, em vez do favorecer a interação, a solidariedade e a fraternidade, que deveriam ser atitudes próprias nas relações da grande família humana.

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| 25 a 31 de agosto de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Capuchinhos celebram os 110 anos da Igreja Imaculada Conceição Paulo Henrique

POR CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Os 110 anos de da Igreja Imaculada Conceição, na Região Sé, foram celebrados na tarde do sábado, 21, com missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. Concelebraram Dom José Soares Filho, Bispo Emérito de Carolina (MA); Frei Nilton César Groppo, Pároco; os Freis José Moacyr Cadenassi e Alonso Aparecido Pires, Vigários Paroquiais; Frei Paulo Henrique Romero, Vigário Provincial e Pároco e Reitor da Basílica de Santo Antônio do Embaré, da Diocese de Santos (SP); Frei Mauricio José Silva dos Anjos, Animador Vocacional Provincial; Frei Ademir Andrade, da Província dos Capuchinhos do Ceará; e os Padres Alexandre Massariol, que auxilia no Hospital Santa Catarina de Alexandria, e Adiair Lopes da Silva, Capelão do Hospital Beneficência Portuguesa. Na homilia, Dom Odilo recordou que, ao longo da história, muitas cidades surgiram no entorno das igrejas, que são a presença de Deus junto ao povo. O Arcebispo destacou que a igreja é a casa do Pai que acolhe os filhos em suas aflições, escuta suas preces e perdoa seus pecados. “Como os passarinhos constroem seus ninhos para acolher seus filhotes, as-

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Patriarca Ecumênico de Constantinopla faz histórica visita à Ucrânia https://cutt.ly/YWw5Zav Papa: a liturgia em risco de ser marginalizada; deve-se retornar ao centro da fé https://cutt.ly/5Weqw1c

sim também é a igreja, nosso ninho onde não somos mais estrangeiros ou peregrinos, mas, sim, somos todos bem-vindos à casa do Pai e podemos ouvir a Palavra de Deus!”, exemplificou Dom Odilo.

História

Em 6 de julho de 1901, os superiores da Congregação do Frades Capuchinhos compraram um terreno na capital paulista a fim de construir um convento para estudos. A capela do convento foi inaugurada em 7 de dezembro de 1904, e a primeira Fraternidade foi formada no ano seguinte. A construção da igreja, anexa ao convento, Reprodução

teve início em 18 de abril de 1909 e a inauguração ocorreu em 20 de agosto de 1911. Naquele ano, a igreja recebeu a imagem da Imaculada Conceição, em madeira, doada pela senhora Helena Luchesi. Em 1912, o templo recebeu o altar-mor em estilo rococó, os dois púlpitos da antiga Sé de São Paulo. Em 1915, foi entronizada a Via-Sacra, com pinturas a óleo em tela, feitas pelo irmão redentorista Maximiliano Schmalz. Em 13 de novembro de 1939, a igreja foi elevada à categoria de matriz da Paróquia Imaculada Conceição, instalada no dia 3 de dezembro de 1939. (Com informações do site Imaculadasp.com.br)

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 09/08/2021, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro do Centro, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Frei Edvaldo Batista Soares, OFM, pelo período de 03(três) anos.

Religiosas são assassinadas no Sudão do Sul https://cutt.ly/7Ww69wt Reprodução

CNBB lança o texto-base da CF 2022, cujo tema é Educação https://cutt.ly/nWw6Xwp Equipe de animação no Brasil divulga vídeo com os fundamentos e fases da realização do Sínodo 2023 https://cutt.ly/9Ww6AUS Serviço de Escuta pretende retomar ações em 2022 na Arquidiocese https://cutt.ly/qWw6Rlq Igreja no Brasil realiza ações de solidariedade em prol do Haiti https://cutt.ly/jWw6ovb

Alysson Carvalho

Na sexta-feira, 20, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa no Seminário de Teologia Bom Pastor. Concelebraram os padres formadores e participaram os seminaristas desta casa de formação.

Reunião com os diáconos permanentes Na sexta-feira, 20, o Cardeal Scherer reuniu-se com os formadores da Escola Diaconal São José. Entre os assuntos tratados falou-se sobre a participação de sete candidatos ao diaconato permanente no curso propedêutico, que ocorre aos sábados pela manhã, na Cúria de Santana, com temas como a história do diaconato na Igreja. Falou-se, ainda, sobre a formação dos 28 alunos que cursam a faculdade de Teologia da PUC-SP, que hoje está com aulas remotas. Tratou-se, também, da celebração para as ordenações diaconais, inicialmente marcada para 11 de dezembro. (Com informações do Diácono Ailton Machado)


4 | Ponto de Vista | 25 a 31 de agosto de 2021 |

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Editorial

A vocação leiga à santidade

J

á nos aproximando do fim do mês em que rezamos especialmente pelas vocações, a Igreja nos propõe nesta semana que rezemos e meditemos sobre os leigos. Para entender com mais profundidade a grandeza do caminho de santidade que a Igreja propõe a seus filhos que abraçam a vida laical, é preciso, antes de tudo, desfazer uma confusão de palavras. É que leigo, em português, tem dois significados bem distintos: fora da Igreja, o termo significa “ignorante”, “privado de conhecimentos especializados” – daí dizer-se que se é leigo em Biologia, em Física, em Matemática etc. No contexto da Igreja Católica, por outro lado, leigo vem do latim laicus, e do grego laos, que significa “povo” – assim, leigos são “todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo [são] constituídos

em Povo de Deus” (constituição dogmática Lumen gentium, 31). Os leigos, portanto, não são cristãos “iletrados” ou “de segunda categoria” – antes, são membros do povo de Deus, a quem compete propriamente viver a vida cristã “nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência” (Ibidem). Esta característica secular da vocação laical os convida a não fugir do mundo, a enfrentar, com coragem e espírito cristão, as diversas realidades presentes na sociedade, “fora das sacristias”. Seja como secretários ou diretores, trabalhadores manuais ou escritores, engenheiros ou professores primários, os cristãos leigos são chamados a viver em plenitude todo esse panorama profissional, ordenando-o a Cristo. Mas o que significa, concretamente, essa ordenação a Cristo? Significa, antes de tudo, viver como imitadores de Cristo e filhos de Deus, assumindo as realidades terrenas como lugares con-

cretos onde a vida cristã floresce e é vivida, com espírito de caridade e dom de si; significa, ainda, assumir em meio ao mundo uma atitude apostólica, movida pelo desejo de que todos aqueles que encontramos, no trabalho, nas associações desportivas, nos institutos de educação, conheçam a Cristo e experimentem o amor de Deus; significa, também, exercer os ofícios terrenos com esmero e perfeição – não por um mero desejo de progresso profissional ou de êxito financeiro, mas por amor a Jesus, pela conversão dos pecadores e para alívio das almas necessitadas. Santa Teresinha do Menino Jesus, por exemplo, dizia que um gesto tão simples como recolher um lenço caído do chão – desde que seja feito com grande amor a Deus – pode retirar uma alma do Purgatório. Como é bonito, por exemplo, quando vemos o responsável altruísmo daquele empresário que busca conciliar o sustento da empresa com o bem-estar dos trabalhadores que lhe prestam ser-

viços e de suas famílias. Bons empresários cristãos geram mais empregos e menos moradores de rua. Ou, ainda, que edificante conhecermos aqueles advogados e juízes que não buscam tornar branco o que é preto ou vice-versa, mas, sim, cooperar para a realização da justiça. Que graças, enfim, não alcançam de Deus aqueles professores que não desejam inculcar em seus alunos visões de mundo distorcidas, mas, sim, o desejo apaixonado por tudo o que é bom, belo e verdadeiro! E assim o campo de atuação dos leigos se estende para além dos muros do convento ou das paredes da sacristia: empresários, advogados, professores, políticos, garçons e cozinheiros, pais e mães de família – lugares ao alcance dos leigos, e onde muitas vezes os padres não conseguem alcançar. Fazendo assim brilhar a luz do Evangelho diante dos homens (cf. Mt 5,16), os leigos fomentam muitas novas conversões. E, efetivamente, tornam-se sal da terra e luz para o mundo.

Opinião

‘Santo Súbito’: os 15 anos da Páscoa de Dom Luciano Arte: Sergio Ricciuto Conte

Padre Reuberson Ferreira, MSC “Santo Súbito!”. Gritava devotadamente uma multidão de fiéis no átrio da Catedral Metropolitana de São Paulo, durante os ritos fúnebres de Dom Luciano Mendes de Almeida. Era 27 de agosto de 2006, 15 anos atrás. A evocação era uma prece e um reconhecimento da grandeza daquele que, inspirado por Cristo, passou por este mundo fazendo o bem. Ele era alguém que consolidou a ideia, mais tarde expressa, de que “cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa a refletir, em um determinado momento da história, um aspecto do Evangelho” (Gaudete et exsultate, 19), mesmo que sua santidade ainda não seja aquela dos altares. Dom Luciano, de fato, em seu tempo, refletiu aspectos do Evangelho. Divisando sua história, contemplando seus atos e feitos, podese dizer que ele sempre buscou estar à altura de passagens icônicas da Palavra de Deus. Buscou testemunhar aquilo que Cristo falou sobre “anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). É impossível negar que, desde a esquecida Fazenda da Juta até os umbrais do Senado Federal, ele defendeu os frágeis. Criou obras sociais de grande impacto na Grande São Paulo e defendeu, durante a

redação da Constituição federal, os direitos dos povos indígenas. Contemplando um pouco mais sua vida, podemos ver que Dom Luciano consolidou, em muitas de suas ações, o explícito apelo do Senhor para que a paz fosse promovida (cf. Mt 5,9). Basta citar, no plano internacional, sua eleição para mediar a paz no Líbano ou, então, sua capacidade de pacificar ânimos

acirrados durante a quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, e lograr redigir o documento final. Observando com mais acuidade a vida do Bispo jesuíta, podemos dizer que viveu profundamente a dimensão do serviço (cf. Mt 20,28). Se clássica era sua frase: “Em que

posso ajudar?”, maior era sua disposição para servir. Quantas noites passou atendendo os pobres que lhe procuravam em sua casa. Quantas madrugadas, em horário avançado, visitava um irmão doente, e, com um cândido sorriso, justificava-se que era a única hora de que dispunha, mas que, sobretudo, queria fazer o bem àquele que precisava. Em síntese, pode-se dizer que Dom Luciano Mendes de Almeida viveu muitos aspectos do Evangelho, homem dos frágeis, do serviço e da paz! Mas, ainda, podemos dizer que ele era uma espécie rara de, assim chamamos, “homens-sementes” (Jo 13,8.23). Uma categoria singular de seguidores de Jesus Cristo que passam a vida fecundando o mundo, fecundando corações. Não raro, ouvem-se testemunhos de pessoas que, motivados pelo Bispo, dispuseram-se a servir o Reino, incluindo este que escreve o presente artigo, que teve uma única experiência pessoal com o religioso quando ele estava sendo velado na Catedral de São Paulo: entendeu, ao ouvir aquela evocação de “Santo Súbito”, que a santidade concreta está no servir, no amor aos frágeis e na pacificação da humanidade in nomine Jesu. Padre Reuberson Ferreira, MSC, é Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração , mestre e doutorando em Teologia pela PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 25 a 31 de agosto de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

LAPA Vocacionados da Arquidiocese têm encontro com Dom José Benedito Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na Paróquia São João Maria Vianney, na Água Branca, Setor Pastoral Lapa, aconteceu no sábado, 21, o encontro de 15 jovens e adultos vocacionados da Arquidiocese de São Paulo com Dom José Benedito Cardoso. Também participaram os Padres José Carlos dos Anjos, Promotor Vocacional da Arquidiocese, e Raimundo Rosimar Vieira da Silva, Pároco. O encontro foi iniciado com a missa presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, tendo os dois padres como concelebrantes. Também participou o músico Júlio Ribeiro de Maria. Na homilia, Dom José afirmou que o mês vocacional é momento oportuno para pensar o chamado à vocação, e, a partir daí, animar os demais membros da comunidade a este despertar vocacional.

Após a missa, o Padre José Carlos apresentou os vocacionados ao Bispo, que os cumprimentou, procurou saber mais sobre cada um deles e pediu a Deus que os iluminasse no caminho vocacional. Na ocasião, a Pastoral da Comunicação (Pascom) Regional conversou com o Padre José Carlos dos Anjos. Ele afirmou que, apesar das dificuldades adicionais à promoção vocacional em razão da atual pandemia, muitos são os jovens que procuram o caminho de discernimento para a vida consagrada a Deus e que contam com o apoio de suas famílias para esta vocação. O Promotor Vocacional da Arquidiocese reforçou o convite a todos os irmãos para que escutassem no coração o chamado de Deus, seja para a vida religiosa e o ministério ordenado, seja para suas atividades de vocações já assumidas, como o caso dos pais e mães de família.

Benigno Naveira

Charles Vinicius, 21, está terminando o curso de Biomedicina e discernindo sobre a entrada no seminário. Ele falou a respei-

to do chamado de Deus em sua vida para a vocação ao sacerdócio, mostrando cada dia mais estar convicto dessa decisão.

Carlos Eduardo Alves dos Santos

Carlos Eduardo Alves dos Santos

[SANTANA] No domingo, 22, Dom Jorge Pierozan, celebrou o sacramento da Confirmação a 32 jovens durante missa na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Medeiros. Concelebrou o Padre Dalmir Oliveira dos Anjos, Pároco.

[SANTANA] No sábado, 21, em missa na Paróquia São Domingos Sávio, Setor Tremembé, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Confirmação a 23 adultos. Na ocasião, também foi abençoado pelo Bispo o novo Confessionário. Concelebrou o Padre (por Pascom São Domingos Sávio) Salvador Ruiz Armas, Pároco.

(por Coordenação Pascom Setor Medeiros)

Espiritualidade O que sai do coração Dom José Benedito Cardoso

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa

E

stamos bem próximos de comemorar os 50 anos do Mês da Bíblia no Brasil, tempo precioso em que os cristãos tiveram a oportunidade de conhecer melhor a Palavra, e, conhecendo-a, vivê-la com mais fidelidade. Tendo conhecimento de como a Igreja interpreta a Bíblia, evitaremos possíveis desvios, sobretudo de uma leitura fundamentalista, que pode abrir uma janela perigosa a iniciativas que vão na contramão do que a Palavra nos quer ensinar. Jesus se deparou com pessoas – fariseus e doutores da Lei – que “abandonaram os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens”. Eram exigentes quanto ao cumprimento de ritu-

ais de pureza exterior e tolerantes com as maldades que brotavam do coração. Vimos que Jesus abençoou cinco pães e dois peixes e alimentou uma multidão. Depois, ensinou que Ele é o Pão Vivo que desceu do céu. Agora, Ele se depara com um grupo de pessoas que implica com a maneira de comer os pães, ou seja, com a possível sujeira que deixa as mãos impuras. Uma preocupação exagerada com uma infinidade de pequenos ritos exteriores que, em não sendo observados, deixavam a pessoa impura. Diante de tais exigências, Jesus dá uma nova direção, um novo sentido para o que chamam de impureza: impuro não é o alimento que nutre o corpo, mas as maldades que brotam de dentro das pessoas e envenenam a convivência humana. O Papa Francisco insiste nisso, dizendo que corremos o risco de perder a alegria do Evangelho que “enche o coração e a vida inteira daquele que se encontra com Jesus”, tornando-nos pessoas com expressiva rigidez, exigentes quanto ao cumprimento de certas normas e rituais ligados a um passado que não tem mais sentido, perturbando a convivência das comunidades. Diante

disso, é preciso questionar que tipo de impureza está nas mãos de quem tem o pão: impura é a mão de quem jogou pão no lixo e não o repartiu, mão de quem conseguiu pão de modo desonesto, mão de quem conseguiu pão explorando as pessoas. São tantas as impurezas e, por isso, uma multidão que vive sem pão. O Salmo 14 tem uma bela orientação para colocar em prática a Palavra de Deus. O texto nos leva a pensar que os romeiros, chegando para as festas a Jerusalém, perguntam aos que estavam às portas do templo: “Quais as condições para que eu entre no templo nestes dias festivos?” Como resposta, nada de práticas rituais, mas um modo autêntico de conduzir a vida. Pode entrar no templo “quem caminha sem pecado e pratica a justiça, quem pensa a verdade no seu íntimo, não solta em calúnias sua língua, não prejudica o seu irmão, não cobre de insultos o seu vizinho, não dá valor ao homem ímpio, honra os que respeitam o Senhor, cumpre o que prometeu, não explora e não aceita suborno contra o inocente”. Não pediram nada para Deus, mas para o próximo, lembrando que a

verdadeira religião é criar relações de fraternidade, respeito e justiça entre as pessoas. É como se Deus estivesse falando: “Você quer ser meu hóspede, meu amigo? Acolha o outro, seja amigo dele e sirva-o quando ele precisar”. Esse ensinamento nós também encontramos nos escritos de São Tiago, que nos mostra que o mandamento de Deus não consiste em proibições, castigos, ritualismo, mas é como uma luz que se acende em nossas vidas para iluminar nossas decisões, possibilitando conduzir a vida de modo equilibrado, não sendo meros ouvintes, mas praticantes da Palavra. E, sendo assim, a religião pura e sem mancha é “assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não deixar se contaminar pelo mundo”. O certo é que o farisaísmo não acabou com os fariseus e ainda hoje continua armando ciladas, propondo um jeito de viver a fé que não corresponde ao que a Palavra e a Igreja nos ensinam. Façamos como a Virgem Maria, que guardou no coração a Palavra e gerou o mais belo fruto, seu Filho e nosso Salvador, Jesus de Nazaré.


6 | Regiões Episcopais | 25 a 31 de agosto de 2021 |

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BELÉM Dom Luiz Carlos preside missa na festa da Paróquia São Pio X e Santa Luzia Patrick Benito

Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Os fiéis da Paróquia São Pio X e Santa Luzia celebraram no sábado, 21, a festa patronal na memória litúrgica de São Pio X (José Sarto), que viveu entre 1835 e 1914. A missa das 17h foi presidida por Dom Luiz Carlos Dias e concelebrada pelo Padre Reginaldo Donatoni, Pároco. São Pio X, o Papa da Eucaristia, como também ficou conhecido, destacou-se pelo desejo e empenho em afirmar a fé católica diante do mundo que passava por tantas transformações. Muitas mudanças atingiam diretamente a fé e, por isso, escolheu como lema “Instaurare omnia in Christo (restaurar todas as coisas em Cristo). Era o início do século XX e o mundo já sentia os efeitos daquilo que seria a 1ª Guerra Mundial (1914[LAPA] No dia 16, foi comemorada a memória litúrgica do padroeiro da Paróquia Santo Estêvão Rei, Setor Pastoral Leopoldina. Houve missa presidida pelo Padre José de Assis Batista, Administrador Paroquial. [LAPA] A comunidade de fiéis da Paróquia Cristo Jovem, Setor Pastoral Lapa, comemorou na sexta-feira, 20, a memória litúrgica do padroeiro e os 38 anos de ordenação do Padre Euclides Eustáquio Martins de Castro, Pároco, em missa por ele presidida.

[LAPA] Em missa na Paróquia São João Batista, na Vila Ipojuca, Setor Pastoral Lapa, no sábado, 21, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, conferiu o sacramento da Crisma a nove jovens e adultos. Concelebrou o Padre Fabiano de Souza Pereira, Pároco, com a participação do Diácono André Iasz.

[SANTANA] Na sexta-feira 20, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na 7ª noite da novena da padroeira da Paróquia Santa Rosa de Lima, Setor Tremembé. Na ocasião, foi reinaugurado o mosaico de Santa Rosa de Lima. Concelebrou o Padre Roberto Fernando Lacerda, Pároco, assistido pelos Diáconos Permanentes Leandro P. Ribeiro e Pedro Domenico Bruno. (por Pascom Setor Tremembé) Arquivo paroquial

[SÉ] Em 17 de agosto, na Paróquia Nossa Senhora da Paz, Setor Pastoral Catedral, 14 pessoas que atuam com os migrantes pela Missão Paz, no bairro do Glicério, e no Serviço Pastoral do Migrante (SPM) participaram de uma reunião para se inteirar sobre o Documento do Caminho da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que no número 18 indica que “os migrantes são os novos pobres”. Em seguida, responderam às perguntas: “O que mais, nos magoa na realidade em que vivemos?”; “O que nos dá mais esperança?”; “E os cinco pontos mais presentes e os cinco mais ausentes em nosso trabalho”.

[IPIRANGA] Os católicos da Vila Liviero celebraram a festa do padroeiro da Paróquia São Bernardo de Claraval, Setor Pastoral Anchieta, na sexta-feira, 20, participando da missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Ipiranga. Concelebrou o Padre Edson Chagas Pacondes, Pároco.

(por Isabela Davies)

[IPIRANGA] O Terço dos Homens está de volta presencialmente na Paróquia São João Batista, Setor Pastoral Imigrantes. Na terceira semana do mês de agosto, foram comemorados os quatro anos de caminhada e graças alcançadas pela comunidade e pelas famílias. Durante a pandemia, o Terço aconteceu de modo on-line. Os encontros presenciais agora são às terças-feiras, às 20h, na matriz paroquial. (por Aloísio Meireles)

Maria Lene Alves Zuza Kreling

Eva Yu Bertani

[LAPA] Na manhã de domingo, 22, a comunidade de fiéis da Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz, Setor Pastoral Leopoldina, participou da missa solene da padroeira, presidida pelo Padre Élio Vigo, Pároco.

Arquivo paroquial

1918) e da perda dos valores cristãos na sociedade. A resposta de São Pio X se apoiou em reforçar e reformar muitos elementos internos da Igreja, favorecendo o seu vigor e identidade, de forma tal que a centralidade de Cristo se fizesse impor diante dos erros doutrinais do modernismo. Para isso, a vida pastoral da Igreja deveria ter como preocupação as próprias bases da fé. Aqui se explica o seu apreço pela liturgia e doutrina, o que o leva a preparar um catecismo, o Catecismo de São Pio X, como forma de facilitar o acesso à doutrina por parte do povo fiel. Tudo isso foi destacado por Dom Luiz Carlos na homilia. Durante os agradecimentos, o Pároco falou, ainda, da devoção da comunidade à copadroeira, Santa Luzia, e lembrou-se de todos os falecidos pela COVID-19, em especial dos que eram paroquianos daquela igreja.

[SÉ] No dia 15, a Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Pastoral Cerqueira César, realizou procissão em louvor a Nossa Senhora Achiropita pelas ruas do bairro da Bela Vista, conduzida pelo Pároco, Padre Antônio Sagrado Bogaz, PODP, e o Padre Edson Teixeira de Lima. Por onde passavam, os moradores das casas e prédios enfeitaram as janelas e sacadas com a tradicional toalha, enquanto outros a acolhiam nas calçadas à espera de uma bênção. Já perto da igreja matriz, foi cantada a “Ave Maria” e a procissão passou por um tapete de serragem, confeccionado pelos membros dos projetos sociais da Achiropita, pelo Centro Educacional Dom Orione e pelos jovens da comunidade. Depois, o Pároco deu a bênção a todos os voluntários da 95ª Festa de Nossa Senhora Achiropita e, em seguida, aconteceu a missa, com a coroação de Nossa Senhora. A festa continua até o dia 29. (Com informações da Pascom Achiropita)

(por Caroline Dupim) Beto Rocha e Fernando Antônio de Oliveira

[BRASILÂNDIA] No sábado, 21, e no domingo, 22, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missas na Paróquia Nossa Senhora das Graças, no Morro Doce, durante as quais conferiu o sacramento da Crisma a jovens. Concelebrou o Padre João Inácio Rodrigues. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia relatou a importância da marca do óleo na fronte dos crismandos, representando a vinda do Espírito Santo. A palavra cristão, que significa ungido com o óleo, carrega em si as mensagens mais belas e ricas da Bíblia. “Agora vocês são adultos na fé”, afirmou o Bispo. (por João Paulo Oliveira)


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Fé e Cidadania

lapa

Dom José iniciará visitas pastorais em setembro Luciney Martins/O SÃO PAULO

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

O clero atuante na Região Lapa esteve reunido, no dia 17, com Dom José Benedito Cardoso, no salão da Paróquia Nossa Senhora da Lapa. No início da reunião, foi feita uma avaliação dos resultados do encontro realizado pelo Conselho Regional de Pastoral e enumeradas as 19 propostas para retomada das atividades pastorais. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa apresentou a proposta de visita pastoral que iniciará em setembro, comparecendo a todas as paróquias da Região. A primeira delas será a Paróquia São José Operário. Dom José Benedito também deverá ir com o clero ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em data a ser marcada. No dia 30 deste mês, o Bispo se reunirá com todos os secretários da Região para um momento de espiritualidade, data em que se comemora o dia destes profissionais.

Comportamento A virtude da obediência na educação dos filhos Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Quero compartilhar com vocês uma preocupação muito grande em relação às confusões que hoje se fazem tão presentes na vida das famílias. Recentemente, recebi um conteúdo de uma profissional da Medicina infantil, que traz um conceito errôneo sobre a obediência. Aborda esse tema de modo muito superficial e sem levar em conta a realidade antropológica da criança – pessoa ainda inapta para a vida, que necessita do adulto para se manter, não somente fisicamente, mas também em todos os âmbitos de sua vida. Esse conteúdo somente evidencia a confusão em que nossa sociedade vive em relação aos valores e princípios que norteiam o crescimento saudável de nossos “filhotes”. Estamos vivendo uma imensa desordem na medida em que, apesar de sabermos pelas evidências (que são muitíssimas) que uma criança é incapaz de conduzir a própria vida, delegamos a ela a decisão sobre as coisas. O pior é que, por trás dessa atitude de delegar a decisão aos pequenos, existe a justificativa de não tolher a liberdade da criança ou de não a deixar submissa à vontade dos adultos, pois isso a tornaria, no futuro, submissa à vontade dos grupos que viesse a fazer parte ou mesmo do(a) namorado(a) que escolhesse. Ou seja, o senso comum está tomado pela ideia de que a obediência é um mal, pois, se ensinamos a criança a se submeter à vontade dos pais, ela aprenderá a ser sempre submissa. Que triste engano. Será possí-

vel acreditarmos que uma criança, do alto de sua fragilidade, uma vez que, entre todos os mamíferos, é a que vem ao mundo mais inacabada e necessitada de aprendizado, teria de onde tirar critérios para escolhas adequadas, senão da obediência aos pais? Os instintos infantis buscam prazer e conforto e nós, adultos formados, bem sabemos que esses, na maioria das vezes, não nos levam aos bens maiores. Vamos entender melhor a obediência e seu papel na formação dos filhos: a virtude da obediência não é a submissão cega de um escravo, mas, sim, a identificação de que alguém – que tem um conhecimento sobre a vida, que tem um vínculo forte com a criança e que está empenhado em manter sua vida e sua dignidade – indica um caminho seguro a ela, que ainda não tem condições de descobri-lo por si mesma. Se pensarmos bem, isso acontece com qualquer um de nós em algum momento da vida: submetemo-nos à autoridade de um especialista de saúde, à autoridade de um advogado que nos orienta sobre uma causa, de um sacerdote que nos indica uma ação adequada. Submetemo-nos porque identificamos no outro uma autoridade que nos leva a um bem que sozinhos não identificamos. A criança precisa de alguém que exerça essa autoridade sobre ela para protegê-la de seus impulsos imaturos, de suas escolhas imprudentes. Mas isso a tornará uma pessoa escrava da vontade alheia quando crescer? Certamente, não. Na verdade, o processo de formação da criança pressupõe um

crescimento contínuo. Os pais, no início da vida do pequeno, farão todas as escolhas por ele e indicarão o caminho seguro. Depois, conforme for crescendo, irá ganhando condições de exercer algumas escolhas, com supervisão e orientação dos pais, até que, ao final do caminho, já será capaz de escolhas prudentes e adequadas. Educar, como dizia Tomás Alvira, é ensinar a crescer, ou seja, um processo que não pode ser medido por um momento. Por meio da nossa autoridade de pais e da obediência dos filhos, vamos ajudando-os a formar critérios, identificar o bem e o mal, a verdade e a mentira, os bens que valem a pena, e vamos treinando a vontade deles, para que sejam capazes de não somente decidir, mas também agir em direção a um bem identificado. Senhores pais, é preciso que entendam que, se não fizerem isso, seus filhos se tornarão escravos do pior senhor que existe: seus próprios desejos e suas tendências naturais. A primeira e mais importante liberdade a ser conquistada é essa – a liberdade de suas tendências imaturas, pois somente um homem que se domina pode ser livre na relação com os outros. Pode decidir não se render às drogas mesmo que outros o façam, pode decidir terminar um namoro se identificar que os valores da outra pessoa são incompatíveis com os seus. Não temam exercer a autoridade de vocês: ela é um grande serviço para a vida de seus pequenos. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br e instagram: @sifuzaro.

Lições da vitória talibã Francisco Borba Ribeiro Neto Assistimos estarrecidos à fulminante vitória talibã no Afeganistão, depois de 20 anos de presença norte-americana na região, com um investimento militar avaliado em 2 trilhões de dólares. Esse valor é mais de quatro vezes superior ao Produto Interno Bruto (PIB) estimado para o Afeganistão nestes anos todos! Uma série de erros, surpreendente na máquina de guerra mais poderosa do mundo, que são as Forças Armadas dos Estados Unidos, levou ao desfecho vergonhoso para uns e trágico para milhões. Desde a Guerra do Vietnã, pelo menos, militares de todo o mundo sabem das dificuldades de tropas regulares enfrentarem guerrilheiros em locais com difícil acesso e populações hostis, como era o caso do Afeganistão. Por outro lado, a ocupação militar e o apoio a líderes políticos locais sem respaldo popular também são estratégias de poder que não se mostram eficientes nos tempos atuais. Novamente se trata de uma constatação das várias guerras travadas no Oriente Médio nos últimos 30 anos, que têm deixado um longo rastro de terrorismo, genocídios e opressão. A Igreja, em sua sabedoria histórica, tem questionado o uso da violência e da força para garantir a paz. As condições para a chamada “guerra justa” (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI, 497-515) podem ser sumarizadas numa frase: só é justa a guerra que é inevitável. Geralmente, o próprio fato de se ter que justificar uma guerra já atesta que ela é injusta, pois poderia ser evitada. Já em seu discurso para o Dia Mundial da Paz de 2002, São João Paulo II alertava para o perigo de uma reação militar desproporcional ao terrorismo, que não criasse uma paz efetiva. Os Estados Unidos estavam ainda em choque com o atentado de 11 de setembro de 2001, mas a imprensa norte-americana identificou no discurso um claro alerta para o perigo do emprego excessivo da força no Afeganistão, que havia sido invadido para combater os terroristas da Al-Qaeda. “Desenvolvimento é o novo nome da paz”, concluía São Paulo VI, na encíclica Populorum progressio. O Afeganistão, porém, apesar de todo o investimento militar norte-americano e do avanço recente no reconhecimento dos direitos humanos, permanece um dos países com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que reflete a situação de renda, saúde e educação da população. Apesar de formalmente democrático, o governo afegão não contava com apoio popular. Nas últimas eleições, votaram apenas 1,8 milhão de habitantes, numa população de 39 milhões. A corrupção era reconhecidamente endêmica. O exército afegão, apesar de muito bem armado, não recebia suprimentos adequadamente e estava desmotivado. Rendeu-se a tropas mal equipadas, muito inferiores numericamente, mas fortemente motivadas. Seus modernos equipamentos e armas desfilam agora sob o controle talibã. O investimento armamentista norte-americano na região enriqueceu a indústria bélica dos Estados Unidos, mas agora serve aos seus inimigos. A vitória talibã mostra a todos nós que o bem comum não pode ser construído com a violência e alianças corruptas. O uso da força é sempre a última alternativa e, se absolutamente necessária, deve cessar assim que possível. Raiva e violência trazem mais raiva e violência, numa espiral que só pode ser estancada pelo perdão e o diálogo sincero. Muitos se aliam a corruptos para conseguir o poder ou se manter nele. Tais estratégias podem garantir ganhos pessoais, geralmente pouco lícitos, mas não o bem comum. O compromisso cristão – e de todas as pessoas de boa vontade – é com a política melhor, nas palavras do Papa Francisco na carta encíclica Fratelli tutti, nunca com a violência e a eliminação física ou moral do outro. Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.


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Santa Rosa de Lima: precursora da evangelização e da santidade no continente Arquivo paroquial

POR CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na manhã do domingo, 22, foi celebrada a festa da padroeira da Paróquia Santa Rosa de Lima, Setor Pastoral Perdizes, com missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, e concelebrada pelo Cônego Severino Martins da Silva Filho, Pároco; pelo Padre Wilson Pereira dos Santos, Vigário Paroquial; e pelo Padre Mário Koji Hatakeyama, da Diocese de Viena, na Áustria. No início da celebração, Dom Carlos Lema Garcia saudou a todos, em especial o Padre Mário, que nesta igreja recebeu os sacramentos do Batismo, primeira Comunhão e Crisma, e também foi catequista. “Uma paróquia vale pelos frutos das vocações que ela promove”, disse o Bispo.

Na homilia, Dom Carlos explicou que Santa Rosa de Lima foi a primeira santa canonizada das Américas e, portanto, é precursora da evangelização e da santidade nesse continente. Filha de espanhóis, ela se chamava Isabel Flores, até ser apelidada de Rosa por uma empregada de seus pais, que admirava sua beleza, dizendo que era tão bonita como uma rosa. Foi modelo de vida penitente e de oração e se manteve com serenidade em meio a dolorosas provações que sua família passou quando seu pai perdeu toda a fortuna, não se perturbando em ter que trabalhar como doméstica, pois “a graça é fruto da paciência” e o mais importante é viver em estado de amizade com Deus, em estado de graça. Ela consagrou-se a Deus na Ordem Dominicana e mudou seu nome para Rosa de Santa Maria, vivendo sua vocação e vida religiosa no quintal de

sua casa, na oração, na penitência, na caridade para com todos e especialmente com os negros e índios. Faleceu aos 31 anos, em 1617, e foi canonizada em 12 de abril de 1671 pelo Papa Clemente X. Falando sobre o Evangelho do dia, Dom Carlos destacou que na atualidade os homens querem um deus à altura da própria fé, escolhem a religião conforme aquilo que lhes agrade. Isso, porém, ressaltou o Bispo, não é aceitar a Deus e sua Igreja. Ele lembrou que é preciso acreditar na Eucaristia como remédio para as mazelas humanas, pois Jesus está presente no pão e vinho consagrados. Por essa razão, o cristão deve estar com a consciência tranquila para poder comungar. Do contrário, precisa se confessar antes de fazê-lo. O Bispo também lembrou que o tempo mínimo de jejum antes de receber a Eucaristia é de uma hora. Marcos R. Bastos Schmidel

BRASILÂNDIA Catequistas do Setor Dom Paulo Evaristo participam de missa com Dom Carlos Silva Padre Gilson Feliciano Ferreira

[BRASILÂNDIA] No dia 18, o neossacerdote Filipe Araujo, dos Padres de Schoenstatt, ordenado no dia 7 deste mês, presidiu missa pela primeira vez no Santuário Sião do Jaraguá, da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt, concelebrada pelos Padres Gustavo Hanna Crespo, José Fernando Bonini e Pedro Cabello, assistidos pelo Diácono Gabriel Oberle, com a participação do seminarista Lucas Botassio. Padre Filipe expressou alegria em sua primeira missa no Jaraguá e relacionou as leituras do dia ao chamado de Deus e à aliança como forma de expressar um ideal de vida. (por Sueli Vilarinho) Padre Orisvaldo Carvalho

Cônego José Renato Ferreira COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na tarde do sábado, 21, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missa na Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, Setor Dom Paulo Evaristo. Nessa celebração estavam presentes os coordenadores da Equipe Regional de Iniciação à Vida Cristã (IVC) e os párocos das sete paróquias deste Setor Inicialmente, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia agradeceu o trabalho dos catequistas e exortou-os a renovar o sim que deram à Igreja ao abraçarem este importante ministério. Destacou, ainda, que o ministério do Catequista nasce do envio missionário que o Senhor fez e faz a seus discípulos (“Ide”), e deve ser vivido olhando para o exemplo de Maria (“faça-se”), recomeçando sempre a partir dos desafios próprios de cada tempo. Dom Carlos entregou a carta apostó-

lica Antiquum ministerium, pela qual o Papa Francisco instituiu na Igreja o ministério do Catequista, acompanhada de um roteiro de celebração e de um pequeno Círio Pascal, em que consta a renovação de votos para este ministério a ser realizada em cada paróquia. No âmbito do processo de criação e organização regional das equipes pastorais de IVC, foi apresentada a equipe de coordenação do Setor Dom Paulo Evaristo, recentemente constituída e que atuará nas paróquias, tendo como objetivo a responsabilidade da animação catequética e garantia da articulação e comunhão com os vários níveis de organização desta pastoral na Igreja. No fim da celebração – que coincidiu com o dia da memória litúrgica de São Pio X, o Papa que permitiu o acesso das crianças à mesa da Eucarística –, Dom Carlos abençoou e fez o envio dos catequistas.

[BRASILÂNDIA] Na quinta-feira, 19, aconteceu a reunião mensal do clero atuante na Região Brasilândia com Dom Carlos Silva, OFMCap. Na ocasião, o Padre Jovanês Vitoriano refletiu sobre a vida do clero no âmbito da realidade da pandemia e como foi necessário que os padres se reinventassem. Além disso, ele abordou questões psicológicas do clero e a preocupação com a situação financeira nas paróquias por causa da pandemia de COVID-19. Foi reforçada a necessidade do maior cuidado com cada um para passar por este momento e que a Igreja e o Bispo estão ao lado de cada sacerdote. (por Padre Orisvaldo Carvalho) Karen Eufrosino

[IPIRANGA] No sábado, 21, em missa na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, Setor Pastoral Imigrantes, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, conferiu o sacramento da Crisma a oito adultos desta igreja e a uma jovem da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Setor Pastoral Vila Mariana. (por Karen Eufrosino)


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Após restauro, sinos da Igreja São José do Belém são reinaugurados Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Os sinos da igreja matriz da Paróquia São José do Belém, na zona Leste de São Paulo, voltaram a soar na noite da quinta-feira, 19. Datados de 1927, os oito sinos passaram por manutenção, limpeza e modernização do sistema de automação, realizadas pela Fábrica de Sinos de Piracicaba e patrocinadas pelo Grupo Comolatti. A bênção e reinauguração do campanário foram feitas pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, durante missa concelebrada por Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Belém, e por diversos padres, entre os quais o Pároco, Padre Marcelo Maróstica Quadro. A celebração contou com a presença do cônsul-geral da Itália em São Paulo, Filippo La Rosa, além de membros da família e do Grupo Comolatti. A celebração aconteceu no contexto das comemorações do jubileu de 125 anos da Paróquia, aberto no dia 14, com o rito de dedicação do novo altar e da matriz paroquial. O Cardeal Scherer destacou que as celebrações também acontecem durante o Ano de São José, instituído pelo Papa Francisco para comemorar os 150 anos da proclamação do pai adotivo de Jesus como patrono universal da Igreja.

CONVITE À ORAÇÃO

“Os sinos estão ligados à vida do povo de Deus, o seu som marca os tempos da oração, reúne as pessoas para realizar as ações litúrgicas, avisa os fiéis sobre acontecimentos mais sérios que podem significar aflição ou

Sergio e Ana Lucia Comolatti, com Cardeal Scherer, Dom Luiz Carlos e sacerdotes, após reinauguração de sinos da Igreja São José do Belém

alegria para esta porção da Igreja, nesta parte da cidade, ou para cada um dos fiéis”, afirmou o Arcebispo, na introdução do rito da bênção. Na homilia, Dom Odilo enfatizou que os sinos lembram que todos são chamados à oração e a dar graças a Deus nas diversas horas do dia, acompanhando o ritmo da oração da Igreja, conforme antiga tradição. “Que os sinos, ao tocarem, nos recordem do nosso louvor matinal, ao meio-dia, ao entardecer. Sempre com significados novos, podemos nos lembrar do que fizemos, do que nos propomos a fazer, de agradecer, até de pedir perdão. Mas por tudo louvar e engrandecer a Deus”, completou.

ORIGEM MILENAR

Inventado na China há cerca de 4,6 mil anos, o sino é um instrumento de percussão utilizado para comunicação, para marcar as horas e avisar os trabalhadores acerca do fim do turno de trabalho. Os sinos começaram a ser usados pelos cristãos por volta do século V, em mosteiros na região da Campânia, no sul

da Itália, vindo daí o nome “campana” como sinônimo de sino. Ao longo dos séculos, tornou-se o principal símbolo nas torres das igrejas, para chamar os fiéis para as missas ou anunciar um acontecimento importante da comunidade. “Na metrópole, em meio ao barulho de tantas vozes, temos que fazer o possível para que a presença da Igreja seja percebida na cidade. Nós estamos aqui”, afirmou o Cardeal Scherer, ao falar do valor simbólico dos sinos.

Patrocínio

Já virou uma tradição do Grupo Comolatti patrocinar o restauro de sinos de igrejas em São Paulo. “Nós realizávamos campanhas de arrecadação de alimentos e agasalhos na Paróquia São Januário [San Gennaro], que fica próxima da sede da nossa empresa. Certa vez, perguntei ao Pároco se a Paróquia precisava de mais alguma ajuda. Então, ele nos pediu patrocínio para os sinos da nova torre que estava sendo construída”, contou Sergio Comolatti, presidente do grupo empresarial. A partir daí, foram feitos os restauros dos sinos de outras paróquias. Em

13 anos, já foram 15 igrejas que tiveram seus sinos restaurados, entre as quais, as Paróquias São Vito, Bom Jesus do Brás, Nossa Senhora do Brasil, Nossa Senhora da Paz, São Cristóvão, além da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte e do Mosteiro de São Bento, no centro. Em 2010, foi restaurado o carrilhão de 61 sinos da Catedral da Sé, o maior da América Latina. Ao agradecer à família Comolatti a generosidade, Padre Marcelo entregou a Sergio e sua esposa, Ana Lucia Del Carlo Comolatti, uma imagem de São José, abençoada pelo Cardeal Scherer.

Sinal da presença de Deus

“Neste tempo em que as vozes se calam e as pessoas não conseguem ouvir umas às outras, os sinos ajudarão o povo a ouvir novamente a voz de Deus”, afirmou o Pároco, reforçando que a comunidade tem a missão de ser sempre um “sacramento”, isto é, sinal visível e sensível da presença de Deus no bairro. Após a reinauguração, os sinos agora soam três vezes por dia (às 9h, às 12h e às 18h) e, também, 15 minutos antes das missas.

Curso on-line sobre secretariado paroquial já tem mais de 800 inscritos Redação

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A Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo promovem, no mês de setembro, um curso de extensão sobre secretariado paroquial. Realizada na modalidade on-line, a formação oferecerá um aprofundamento pastoral e canônico sobre as atribui-

ções próprias dos secretários paroquiais, abordando as contribuições da psicologia pastoral para o atendimento na secretaria e as responsabilidades desses profissionais na gestão paroquial. O curso é voltado a sacerdotes, diáconos, seminaristas, atendentes, secretários paroquiais e colaboradores das cúrias. Segundo os organizadores, mais de 800 pessoas de todo o Brasil já se inscreveram. O curso será ministrado por Dom Edson José Oriolo dos Santos, Bispo de Leopoldina (MG), mestre em Filosofia

e autor de diversas publicações sobre Administração e Gestão Paroquial; Padre Donizete José Xavier, doutor em Teologia Fundamental; Padre Cícero Alves de França, mestre em Teologia da Espiritualidade; e Padre Everton Fernandes Moraes, doutor em Direito Canônico e Chanceler do Arcebispado de São Paulo. A abertura do curso será feita pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grão-Chanceler das instituições organizadoras.

Informações e inscrições

As aulas acontecerão nos dias 1º, 8, 15 e 22 de setembro, às 20h (horário de Brasília). O investimento para a realização completa do curso, incluindo a inscrição, é de R$ 20,00. As inscrições podem ser feitas até o dia 29 pelo site www.facdcsp.com.br. Outras informações pelo telefone (11) 2062-2236 ou pelo e-mail secretaria@facdcsp.com.br.


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Canção Nova ‘abraça São Paulo’ pela 15ª vez ‘Em Cristo somos mais que vencedores’ (Rm 8,37) foi o tema do tradicional evento de evangelização, realizado desta vez de modo on-line Daniel Gomes

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Não houve os abraços apertados, como ocorria até 2019, antes da pandemia de COVID-19, mas a 15ª edição do ‘Canção Nova Abraça São Paulo’ conseguiu unir virtualmente pessoas de diferentes pontos da capital paulista e do Brasil no sábado, 21, e domingo, 22, com shows musicais, pregações, reflexões, momentos de louvor e a celebração da missa, transmitidos pelo Sistema Canção Nova de Comunicação. Com o tema “Em Cristo somos mais que vencedores” (Rm 8,37), as atividades começaram na noite do sábado com o show “Mais que Vencedores”, com a participação de Ana Lúcia, Thiago Tomé, Irmã Ana Paula, Marília Melo, Júnior Alves, Nando Mendes, Dauana Sales, Jéssica Menino, Adriana Arydes e o Padre Adriano Zandoná. “Louvamos a Deus por esta 15ª edição do ‘Abraça São Paulo’, que ocorre de uma forma diferente da que gostaríamos. Queríamos estar com tanta gente, mas louvamos a Deus porque é a esperança que nos move. E este evento é para isso, para levar esperança a você que está em casa, que está desanimado. Já é vencedor todo aquele que em Cristo está”, afirmou Dauana Sales, cantora, compositora e missionária da Canção Nova desde 2013. A primeira edição do ‘Canção Nova Abraça São Paulo’ ocorreu em 2012, e a última, com participação presencial, em 2019, reuniu cerca de 10 mil pessoas no Ginásio do Ibirapuera.

Homenagem ao Monsenhor Jonas Abib

O show de sábado ocorreu em homenagem aos 50 anos do Batismo no Espírito Santo do Monsenhor Jonas Abib,

fundador da Comunidade Canção Nova. No livro “Reinflama o carisma”, Monsenhor Jonas conta que em 2 de novembro de 1971, durante um retiro conduzido pelo Padre Haroldo J. Rahm, SJ, soube mais sobre a Renovação Carismática Católica (RCC) e foi “batizado no Espírito”. “Padre Haroldo impôs as mãos sobre nós no fim da missa, sem nada de especial. Apenas impôs as mãos para que recebêssemos o derramamento do Espírito Santo. Eu o desejei do fundo do meu coração. Não senti nada de novo naquela hora, não aconteceu nada de especial. Naquela noite, porém, tudo começou a mudar na minha vida a partir da minha

de adoração ao Santíssimo, com os Padres João Gualberto e Marcelo Rossi, e uma edição especial do programa “Discípulos e Missionários”, atração da TV Canção Nova, que vai ao ar aos domingos, às 13h15, com a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. “Este é um evento missionário também e, sobretudo, feito por leigos. Que Deus abençoe a todos, para que o ‘Abraça São Paulo’ traga muitos frutos e que este povo de Deus, de batizados, se sinta realmente agraciado e ouvido, e na missão da Igreja sempre mais”, afirmou Dom Odilo. Canção Nova

Padre Adriano Zandoná preside a missa na 15ª edição do ‘Canção Nova Abraça São Paulo’

oração. Comecei a rezar como nunca havia rezado antes. Não tinha sido, ainda, uma oração em línguas. Tudo começou a mudar. Até mesmo o arrependimento dos meus pecados do dia a dia, os ‘pecadinhos’ que carregamos conosco! Eu sentia um arrependimento muito grande diante de tudo o que era pecado. Tinha necessidade de perdão e ia me confessar. Depois disso, tudo mudou na minha vida e ainda continua a mudar, graças a Deus”, relata o Monsenhor no livro.

Igreja: povo enviado em missão

Entre as atividades do ‘Canção Nova Abraça São Paulo’, houve um momento

O Arcebispo Metropolitano lembrou que, no 4º domingo de agosto, a Igreja recorda o apostolado dos leigos na Igreja, destacando que todos os batizados são discípulos missionários, sendo, assim, parte integrante da Igreja, que não pode ser reduzida às responsabilidades dos clérigos. “A Igreja é a comunidade convocada pela graça de Deus, pela redenção, pelo Evangelho, por todo o bem de Deus que nos é dado, a partir do Batismo, a partir da fé e da acolhida do Evangelho. A Igreja é este povo todo enviado em missão – ‘Vós sois minhas testemunhas’. Todos são testemunhas, mas não da mesma maneira. O Espírito

Santo está presente na Igreja para dar um dom a cada um, para que manifeste a sua missão, o seu testemunho. Essa visão ainda precisa ser muito trabalhada, para que todos os batizados se sintam, de fato, parte da Igreja”, enfatizou.

Confiança em Deus

Ao longo das demais atividades do ‘Canção Nova Abraça São Paulo’ no domingo, foi destacado que o cristão deve confiar em Deus, independentemente das adversidades. “Hoje, Deus quer abraçar a sua história, essa realidade que você está dizendo pra você mesmo ‘não tem mais jeito’, mas tem, em nome do poder do Espírito, tudo que o Espírito toca, Ele torna livre, porque onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”, disse na oração da manhã a Irmã Ana Paula, das Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo. Na homilia da missa de encerramento, o Padre Adriano Zandoná destacou que o Senhor tem um olhar de atenção com cada pessoa: “Jesus não mima, Ele educa, pois quem mima estraga; já quem educa forma. Quem educa até desagrada, mas para fazer a pessoa crescer”. O Sacerdote afirmou, ainda, que diante das adversidades da vida é preciso manter a fé, “confiando em Deus, carregando a nossa cruz por amor a Deus”, além de se esvaziar da própria razão para acolher a vontade divina, ainda que sem entender inicialmente: “É preciso ter humildade, disposição, esvaziamento da alma para seguir a Deus”. Ao fim da missa, o jornalista Rodrigo Luiz Santos, responsável pela missão da Canção Nova em São Paulo, agradeceu a todos os que se empenharam diretamente na realização do evento, aos muitos missionários de diferentes partes do País que se mantiveram em oração pelo bom êxito do ‘Abraça São Paulo’ e ao apoio do Cardeal Scherer às atividades da Comunidade Canção Nova na Arquidiocese, sobre as quais há informações em https://blog.cancaonova.com/saopaulo ou pelas redes sociais (@cancaonovasp).

Você Pergunta Qual a diferença entre frade e padre? Padre Cido Pereira

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A pergunta é da Marli Amorim Guedes, do bairro da Penha. Minha irmã, ao longo da história da Igreja, muitos homens e mulheres fundaram famílias religiosas. Essas famílias, conforme a sua constituição, receberam o nome de ordem ou de congregação e vivem de

acordo com regras ou constituições que norteiam suas vidas em comum. As congregações têm um superior que cuida dos seus membros para que vivam com amor o carisma que moveu o fundador. Já nas ordens religiosas, os membros vivem em família, em conventos, sob a orientação de um “abade”, que quer dizer “pai”. Os membros se chamam uns

aos outros de “frei” (seguido do nome), que quer dizer “irmão”. Nas congregações ou ordens femininas, as mulheres são chamadas de “freiras” ou de “irmãs”, duas palavras que se equivalem, que têm o mesmo sentido. Agora vamos à sua pergunta. Os padres vivem no meio do povo, e a palavra padre que dizer “pai”. Eles estão à frente das paróquias ou comunidades. Uma pa-

róquia é uma família formada por muitas famílias. À frente das paróquias, os padres exercem o tríplice ministério do Cristo: sacerdote, mestre e pastor. E chegamos à resposta para sua pergunta. Nem todo frade é padre, mas aqueles frades que são padres continuam a ser chamados de freis (antes do seu nome). Espero que você tenha entendido, minha irmã!


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Os cristãos leigos são corresponsáveis pela missão da Igreja no mundo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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No Brasil, a Igreja dedica o 4º domingo de agosto à vocação e missão dos cristãos leigos. Do 1,2 bilhão de católicos no mundo, a maioria maciça é daqueles que são chamados a anunciar o Evangelho na vida cotidiana da sociedade, nos seus mais variados âmbitos: a família, a escola, a universidade, o trabalho, a política e a vida social. Esses são os cristãos leigos. A palavra leigo (em grego laïkós e em latim laicus) deriva da palavra grega laós, que quer dizer “povo”. Embora o senso comum tenha reduzido o significado desse termo para se referir a alguém que não tenha conhecimento sobre determinado assunto, na vida da Igreja, leigo se refere a uma vocação, isto é, a um modo de corresponder concretamente ao chamado universal de Deus à santidade. O registro mais antigo do uso da palavra leigo é da carta de São Clemente Romano aos Coríntios, no ano de 95. A partir do século II, essa expressão passou a ser mais frequente na literatura cristã. No século III, Tertuliano afirmou que “é dos leigos que provém a hierarquia da Igreja, que devem ser puros, como os membros do clero e obedecer às mesmas leis que estes”.

Vocação batismal

A constituição dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, define os leigos como todos os cristãos, com exceção dos membros da ordem sacra ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, que, “incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em povo de Deus e feitos participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”. Na exor t aç ão ap ostólic a Christifideles laici (1988), São João Paulo II salientou que, em virtude da comum dignidade batismal, o fiel leigo é corresponsável, com os ministros ordenados e com os religiosos e as religiosas, pela missão da Igreja. Possui, contudo, uma modalidade que o distingue e lhe é peculiar: a índole secular, apontada pelo Concílio Vaticano II.

Transformação da sociedade

O documento “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo”, da

Nas atividades da família e do trabalho, leigos são chamados a testemunhar os valores cristãos

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicado em 2016, ressalta que “os cristãos leigos são chamados a ser os olhos, os ouvidos, as mãos, a boca, o coração de Cristo na Igreja e no mundo”. Sobre esse aspecto, o Papa Francisco alertou, na exortação apostólica Evangelii gaudium (2013), para o risco de o compromisso laical não ser refletido na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico, limitando-se, muitas vezes, às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade.

Expressões

Ao longo dos séculos, foram várias as formas por meio das quais os leigos se organizaram para realizar sua missão no âmbito interno da Igreja a partir de uma determinada espiritualidade: confrarias, ordens terceiras, associações, pastorais movimentos e novas comunidades. Uma forte expressão laical foi a Ação Católica, fundada pelo Papa Pio XI em 1929. Trata-se de um conjunto de movimentos por meio dos quais os leigos se organizavam segundo suas áreas de atuação no mundo, para o fortalecimento da fé e motivados pelos princípios da Doutrina Social da Igreja. Da Ação Católica, nasceram inúmeros movimentos e pastorais que possuem grande incidência na atualidade. No início do século XX, também surgiram inúmeras associações e uniões de leigos de diferentes categorias, como as uniões católicas de imprensa, juristas, médicos, professores, entre outras. Essas expressões têm ganhado novo impulso nos últimos anos, como é o caso da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp), fundada em 2012. Também podem ser citadas organizações como a Congregação Mariana, Legião de Maria, Apostolado da Oração, Mãe Rainha, Cursilho de Cristandade, Encontro de Casais com Cristo

e os movimentos como Focolares, Equipes de Nossa Senhora, Comunhão e Libertação, Renovação Carismática Católica e muitos outros.

Vaticano II

Após o Concílio Vaticano II, surgiram diversas associações públicas ou privadas de fiéis (novas comunidades), por meio das quais os leigos se associam e se vinculam formalmente a um grupo ou comunidade, segundo os diferentes estados de vida, a partir de uma espiritualidade específica, podendo, inclusive, abraçar o celibato apostólico e permanecer atuando como profissionais no meio da sociedade. No âmbito paroquial, entre os inúmeros serviços realizados pelos leigos, existem aqueles que possuem um caráter ministerial e, por isso, são instituídos oficialmente pela Igreja. São o ministério extraordinário da Sagrada Comunhão, os ministérios dos leitores, acólitos, e, mais recentemente, o serviço de catequista também se tornou um ministério instituído da Igreja.

Sujeito eclesial

Ao mesmo tempo, o texto do episcopado recorda que o cristão leigo é o verdadeiro “sujeito eclesial”, vivendo fielmente sua condição de filho de Deus na fé, aberto ao diálogo, à colaboração e à “corresponsabilidade com os pastores”. O texto também reforça: “Não é preciso ‘sair’ da Igreja para ‘ir’ ao mundo, como não é preciso ‘sair’ do mundo para ‘entrar’ e ‘viver’ na Igreja”. Sobre esse aspecto, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, tem afirmado reiteradas vezes que a vida e a missão da Igreja precisam ser assumidas por todos os batizados, “superando uma ideia que ainda não está superada, de que a Igreja não é uma organização do clero na qual os fiéis leigos são os beneficiários, os assistidos por essa Igreja”.


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‘Vós sois o sal da terra e a luz do mundo’ (Mt 5,13-14) “Novas situações, tanto eclesiais quanto sociais, econômicas, políticas e culturais, reclamam hoje, com uma força toda particular, a ação dos fiéis leigos. Se o desinteresse foi sempre inaceitável, o tempo presente torna-o ainda mais culpável. Não é lícito a

ninguém ficar inativo”, escreve São João Paulo II, na exortação apostólica Christifideles laici. Em todo o tempo, a Igreja ressoa o chamado de Jesus aos cristãos para que sejam “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5,13-14). O SÃO PAULO ouviu profissionais

‘Utilizo a Ciência Econômica para servir o próximo’ Arquivo pessoal

de diferentes atividades para saber: De que maneira, na sua área de atuação, o senhor (a senhora) tem exercido concretamente o apostolado leigo? O pertencimento à comunidade eclesial o(a) tem ajudado a viver essa missão de que modo?

‘Vivo o apostolado nas pautas que defendo’ Câmara dos Deputados

Ana Carolina Fernandes Alves, economista e educadora financeira

Enrico Misasi, deputado federal por São Paulo O apostolado é, na minha visão, a comunicação de algo que nos aconteceu, de uma realidade que nos alcançou. Sem mérito da nossa parte, encontramos o Cristo vivo hoje, aqui e agora, e esse encontro começou a produzir em nós uma nova consciência e uma nova vida. O apostolado se resume a testemunhar o impacto desse acontecimento em nós. Alegria, esperança, abertura ao real, caridade são alguns dos seus frutos. Vivo o apostolado leigo tentando reconhecer, em cada momento, a presença de Cristo – e então segui-Lo, amá-Lo. Como deputado federal, esse empenho tem uma expressão mais evidente nas pautas que defendo: a vida, a família, a dignidade da pessoa humana, a justiça. Mas há, sobretudo, uma dimensão prática e cotidiana do apostolado – mais exigente, contudo –, que é simplesmente estar nas realidades

do mundo como cristão, isto é, procurando amar as pessoas como Cristo nos amou, com seus defeitos, misérias e erros. É essa a presença que fecunda, que fermenta, que salga. Nos últimos tempos, tenho feito uma experiência significativa no movimento Comunhão e Libertação, fundado por Dom Luigi Giussani. Com a companhia que aí encontrei, aprendi a ter certa ternura pelo drama de todos os homens, especialmente daqueles que não têm fé. Passei a enxergar com clareza que todos temos o mesmo coração, desejoso de Bem, de Verdade, de Beleza. Todos estamos, portanto, na mesma busca incessante, e isso me une aos meus irmãos. O apostolado, a partir daí, torna-se um caminho a ser trilhado junto com cada um que a Providência coloca em nossa vida.

Em um primeiro momento, parece ser difícil que um economista possa exercer, de maneira concreta, o apostolado leigo, e foi um desafio para mim desde quando entrei na graduação. Sempre fui muito atuante em minha paróquia (São Francisco de Assis, localizada na cidade de Cascavel, no oeste do Paraná) e me perguntava o que poderia utilizar da Ciência Econômica para servir o próximo. No segundo ano do curso, comecei a me interessar por Educação Financeira e entrei num projeto de extensão nessa área. Por isso, ao chegar ao meu último ano, resolvi fazer a minha monografia de conclusão de curso seguindo esta temática. Durante as conversas com a minha orientadora sobre o público para aplicarmos a minha pesquisa, ela sugeriu: “Você não frequenta o grupo de jovens na sua Igreja? Por que não fazer o estudo com eles?”. Aceitei a proposta e iniciei a minha primeira pesquisa com jovens católicos. Depois disso, não ia mais parar. A partir dos resultados que obtive na minha graduação, nasceu a Educação Financeira para a Vida (EFV), uma pastoral social que une Finanças, Economia e Espiritualidade, principalmente a franciscana e a inaciana, que são a nossa base. Em sintonia com as diretrizes e documentos da Igreja, e por meio da inspiração da vida dos santos, ensinamos finanças sob o prisma da espiritualidade. Além da minha trajetória na Igreja, a vida dos santos e santas sempre me motivou. Sou devota de Santo Antônio e ele é a minha principal inspiração. Ao mesmo tempo um grande intelectual e protetor dos pobres, o exemplo de Antônio demonstra a importância de usar o conhecimento para ajudar o próximo. Aos 18 anos, conheci os Jesuítas e a história de Santo Inácio de Loyola, então descobri a espiritualidade inaciana e os exercícios espirituais, pelos quais sou apaixonada. Com Inácio, aprendi que poderia encontrar Deus em tudo e no meu cotidiano.

‘Busco o desapego de tudo o que pode me sufocar e que me faz perder o sagrado’ Arquivo pessoal

Ana Angélica Bulcão Portela Lindoso, médica, com atuação no Instituto de Infectologia Emílio Ribas

Meu trabalho é muito desgastante, me coloca sempre na presença de pessoas doentes, com problemas, pobreza e vulnerabilidade. Mesmo os colegas estão sempre carregados de queixas e negatividades, insatisfeitos. Tento me preservar, manter minha mente com menos queixas possíveis. Acredito muito na misericórdia divina, assim tento não julgar ninguém, tento entender que há uma história por trás de nossas dificuldades e que somos pecadores. Tento ter empatia para não prejudicar ninguém e ajudar no que posso, independentemente da condição, e não me furto a resolver o que está ao meu alcance profissional. No âmbito deste mundo em que vivo, sobressaem aqueles com desejos de pequenos poderes, que os protegem. Não os culpo, mas os vejo apenas com compai-

xão. Ajudo o próximo na medida do possível, sempre faço doações: se vejo alguém na porta de uma padaria ou supermercado e percebo que necessita de comida, contribuo de algum modo, porque fome e sede ninguém deveria passar. Hoje, no meu dia a dia, procuro melhorar minha espiritualidade, busco o desapego de tudo o que pode me sufocar e que me faz perder o sagrado. Eu sempre me apoio em Nossa Senhora, no Terço e em Santa Teresinha. Isso me ajuda a manter a lucidez e a suportar minha travessia. Participo das missas do Pateo do Collegio aos domingos porque gosto muito das homilias do Padre Contieri, que são atuais e me fazem pensar nas minhas atitudes e como posso evoluir por mim mesma.


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‘Aprendi que a missão do policial pode levá-lo até Deus ou a perder sua alma’ Arquivo pessoal

Luiz Eduardo Pesce de Arruda, Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo Nasci em Araras (SP) e fui criado em um lar católico. Fui coroinha na igreja matriz. Mais tarde, frequentei o Santuário Salesiano do Coração de Jesus, onde me tornei amigo do Padre João Modesti, um erudito. Sempre quis dedicar minha vida ao próximo. Pensei inicialmente em ser padre, mas orientado pelo Padre Jorge, Diretor do seminário Canossiano, percebi que aquela não era minha missão. Ele dizia: “O leigo vivencia Cristo na família e no trabalho”. Decidi ser policial militar, contra a von-

tade de minha mãe. Fiquei 36 anos no serviço ativo da PM. Ela se tornaria uma grande fã de minha missão. Tive muitos embates. Pessoas que prendi me procuraram depois para que eu as ajudasse a arrumar trabalho. Aprendi que o policial é o primeiro defensor dos direitos humanos, pois atende os mais vulneráveis, aqueles para quem ninguém tem um olhar fraterno. É uma profissão nobre e difícil. Já tive que enfrentar pessoas de classe alta para salvar a vida de moradores de rua. Vivi momentos dramáticos, falei com famílias destroçadas, perdi amigos, mas ajudei a salvar vidas. Pessoas agonizaram em meus braços e pude constatar que, na hora da morte, elas nem se lembram de bens materiais. A felicidade vem da paz de espírito. A missão me ensinou a amar a paz, a partilhar com pessoas muito diferentes de mim – indígenas, judeus e muçulmanos, ciganos, travestis e prostitutas. Cada uma delas me ensinou algo que me enriqueceu. Aprendi que a missão do policial pode levá-lo até Deus ou a perder sua alma, a partir do livre-arbítrio. Creio na parábola dos talentos e no veredito do Justo Juiz. Hoje, frequento a Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Vila Carolina, onde o Padre Edemilson de Camargo me acolheu e onde o Padre Reinaldo Torres é meu amigo. Agradeço a Deus por ser católico e viver cada momento com alegria, ao lado de minha família, dos meus colegas de trabalho da PM e da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego], onde atuo hoje, da universidade e da comunidade.

‘Todas as minhas boas ações, com a graça de Deus, são apostólicas, das pequenas às grandes’ Arquivo pessoal

Maria Inês Migliaccio, professora universitária licenciada, mestra em Comunicação e Doutora em Filosofia Por vocação e gratuidade divinas, “não faço” apostolado, mas sou apóstola, ou seja, por este dom sobrenatural, todas as minhas boas ações, com a graça de Deus, são apostólicas, das pequenas às grandes. Aliás, como sabemos, tudo é grande quando se vive por amor. Consciente disso, batalho para oferecer pequenos sacrifícios diários por meus parentes, amigos e colegas. Por exemplo, a pontualidade, o sorri-

so, a amabilidade, o serviço da casa, a participação nos sacramentos, com destaque à Santa Missa. Entretanto, sem dúvida nenhuma, o foco apostólico essencial está atualmente na docência universitária, honrando a formação que tive a oportunidade de receber. Depois de ter trabalhado para grandes veículos de comunicação, em diferentes cargos jornalísticos e empresariais, dedico-me à educação no âmbito latino-americano. Durante toda a carreira, tenho enfrentado muitos obstáculos por defender os valores cristãos. Passei por grandes sofrimentos e angústias que só me reafirmam na verdade identificadora com Cristo. Também percebo que Deus se serve desta purificação para que muitas pessoas se aproximem Dele. Tenho a imensa alegria de ter acompanhado muitas vocações ao Opus Dei, esta instituição da Igreja Católica para a qual ouvi o chamado de Deus na minha adolescência. Percebi que esse era o meu Caminho, pela profunda alegria que sentia na vida em família na Obra, nos momentos de oração junto ao Sacrário e no desejo de dirigir atividades sociais. Com o tempo, fui aprendendo, pelos meios de formação católica oferecidos nesta instituição, a estudar melhor, a fazer do trabalho meu eixo de santificação, a lutar por adquirir as virtudes e assim ser feliz, na medida em que é possível nesta vida, e irradiar esta felicidade ao meu redor com a fé e a esperança de um dia alcançarmos o Amor Infinito no Céu.

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‘Buscamos servir ao Senhor com nossos poucos talentos, mas confiantes na misericórdia de Deus’ Arquivo pessoal

Edivan Mota, diretor do Instituto de Estudos Avançados em Educação e membro da Sociedade Thomas More A Sociedade Thomas More é uma entidade de leigos que buscam servir a Cristo e à Igreja numa área em que a presença eclesial se faz urgente, que é a vida pública, notadamente na construção de políticas públicas na área da educação. A nossa atuação de leigos é essencial para que o Evangelho se faça realidade e a Igreja esteja presente na esfera pública. Não é uma tarefa fácil, haja vista que a política é tida como uma atividade para pessoas pouco preocupadas com o bem comum. Todavia, o Papa Francisco nos diz que é por meio da política que se pode vivenciar, de forma mais ampla, aquela caridade desejada por Nosso Senhor. Não é fácil fazer apostolado numa atividade em que os que têm algum envolvimento são malvistos. No entanto, Jesus fez novas todas as coisas. Nesta esperança que eu, em particular, e a Sociedade Thomas More como entidade, buscamos servir ao Senhor com nossos poucos talentos, mas confiantes na misericórdia de Deus.

‘Trazer os princípios para não haver persuasão mentirosa é um grande desafio!’ Arquivo pessoal

Ana Carolina Santos Cruz, formada em Relações Públicas, atua como gerente de Marketing Digital Viver ao estilo de Jesus é um grande desafio, ainda mais quando vivemos em uma cidade movimentada e com tantas opções culturais e de ocupação. E dessa mesma forma acontece na minha área de atuação. Hoje, trabalho com marketing digital, e trazer os princípios para não haver persuasão mentirosa é um grande desafio! Muitas vezes, a internet proporciona falsas promessas, justamente para que haja a venda do produto. Muitas pessoas prometem demais e, na hora da entrega, o comprador fica na mão. Graças à minha consistência em movimentos da Igreja e pastorais, como a Pastoral da Comunicação da Paróquia São Geraldo de Perdizes, posso exercer o meu papel de leiga com consistência, de maneira a procurar seguir os princípios e estilo de Jesus na sociedade e, principalmente, no meu trabalho! É uma luta constante e um caminho árduo.


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As lições dos que viveram as virtudes cristãs no dia a dia Daniel Gomes

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Os leigos, exercendo os ofícios que lhes são próprios no cotidiano, podem favorecer “a santificação do

mundo a partir de dentro, como o fermento, e, deste modo, manifestar Cristo aos outros, antes de tudo pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade”, aponta a constituição

dogmática Lumen gentium (LG, 31). Ao longo da história, muitos leigos viveram cotidianamente as virtudes cristãs e alguns deles alcançaram o reconhecimento da Igreja como santos e beatos.

O apostolado leigo no cotidiano do trabalho Assim como seus predecessores, o Papa Francisco já recebeu em audiência muitos representantes de categorias profissionais e lhes falou sobre como testemunhar a vida cristã no exercício de suas funções na sociedade. Leia a seguir, alguns dos discursos do Pontífice.

Às pessoas com cargos públicos Fotos: Divulgação

Sois chamados a pôr à disposição o vosso profissionalismo e a vossa humanidade, os vossos conhecimentos e a vossa prudência, sem desânimos nem pessimismos, contudo conscientes de que não vos deveis confrontar com assuntos abstratos, mas com o rosto concreto de homens e mulheres, com os seus respectivos problemas e esperanças. (Aos prefeitos de várias cidades da Itália – 06/02/2015)

Aos magistrados

Beato Pier Giorgio Frassati: Ele fez da caridade a sua razão de existir, alimentada diariamente pela Eucaristia e a vivência da Palavra de Deus. Com 17 anos, ingressou na Sociedade de São Vicente de Paulo, dedicando seu tempo aos doentes e necessitados. Seu estilo de vida foi sempre questionado pelo pai, Alfredo Frassati. Pier Giorgio morreu em 4 de julho de 1925, aos 24 anos, e para a surpresa de seus familiares, muitos dos que ele ajudava foram ao seu enterro. Foi a partir dos testemunhos que ouviu sobre o filho que Alfredo passou a ter uma vida alicerçada na espiritualidade cristã e nas obras de misericórdia. Pier Giorgio Frassati foi beatificado por São João Paulo II em 1990.

Beata Guadalupe Ortiz de Landázuri: Ela transmitia otimismo por seu sorriso, era compreensiva com o próximo e constantemente estava em adoração diante do Santíssimo. Nascida em Madri, na Espanha, em 1916, formou-se em Ciências Químicas. Em 1944, encontrou-se pela primeira vez com o fundador do Opus Dei, São Josemaría Escrivá. Em 1950, a pedido dele, Guadalupe mudou-se para o México, onde fundou uma residência universitária para jovens, na qual lhes abria horizontes para o serviço à Igreja e à sociedade. Voltou a Roma em 1956 para colaborar com a administração do Opus Dei. Com uma cardiopatia, regressou à Espanha. Morreu em 16 de julho de 1975 e foi beatificada em maio de 2019.

Beato Antônio Frederico Ozanam: As precárias condições de vida dos mais pobres de Paris nos anos 1830 inquietavam o coração deste jovem que chegara de Lyon, também na França. De família católica, uniu-se a jovens que professavam a fé cristã e, em 1833, com o desejo de “abraçar o mundo numa rede de caridade”, foi um dos fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo, para visitas às famílias carentes e cultivo da espiritualidade cristã. Faleceu em 8 de setembro de 1853, aos 40 anos, e foi beatificado em 1997 por São João Paulo II.

O vosso compromisso na apuração da realidade dos fatos, mesmo se for dificultado pela quantidade de trabalho que vos é confiada, seja, contudo, sempre pontual, referido com exatidão, baseado num estudo aprofundado e num esforço contínuo de atualização. Ele saberá servir-se do diálogo com os diversos saberes extrajurídicos, a fim de compreender melhor as mudanças em curso na sociedade e na vida das pessoas. (À Associação Nacional de Magistrados da Itália – 09/02/2019)

Aos professores, educadores e dirigentes de escolas

Numa sociedade que tem dificuldade de encontrar pontos de referência, é necessário que os jovens encontrem na escola uma referência positiva. E ela só pode sê-lo ou tornar-se tal se no interior houver professores capazes de dar um sentido à escola, ao estudo e à cultura, sem reduzir tudo unicamente à transmissão de conhecimentos técnicos, mas apostando na construção de uma relação educativa com cada um dos estudantes. (À União Católica Italiana de Professores, Dirigentes, Educadores e Formadores – 14/03/2015)

Aos empresários

A empresa e o gabinete dos dirigentes das empresas podem tornar-se lugares de santificação, mediante o compromisso de cada um de construir relações fraternas entre empresários, dirigentes e trabalhadores, favorecendo a corresponsabilidade e a colaboração no interesse comum. É decisivo ter uma atenção especial pela qualidade da vida laboral dos funcionários, que são o recurso mais precioso de uma empresa; em particular, para favorecer a harmonização entre trabalho e família. (À União Cristã de Empresários Dirigentes – 31/10/2015)

Beato Rosario Livatino: “Que Deus esteja comigo e me ajude a respeitar o juramento e a me comportar como a educação que os meus pais me deram exige”. Esta frase foi encontrada nos arquivos pessoais do juiz italiano Rosario Livatino. Em sua carreira, combateu a corrupção de modo implacável. Ele foi assassinado pela máfia siciliana em 21 de setembro de 1990, aos 38 anos, e conta-se que perdoou aos assassinos antes de morrer. Declarado “mártir do ódio à fé”, foi beatificado em maio deste ano.

São José Moscati: Desde que recebeu a primeira Comunhão aos 8 anos, ele comungava quase que diariamente. Formado em Medicina, tornou-se famoso por seus diagnósticos precisos, que atribuía à prática da oração e participação nos sacramentos. Por décadas, atuou em um hospital com pacientes considerados incuráveis e atendia gratuitamente pessoas mais pobres em seu consultório. Em 12 de abril de 1927, faleceu em Nápoles, na Itália, após um ataque cardíaco. Foi beatificado por São Paulo VI em 1975 e canonizado em 1987 por São João Paulo II.

Aos profissionais da área da saúde

Beato Carlo Acutis: Em sua curta vida, difundiu a fé católica por meio da internet e um dos sites que criou foi para divulgar os milagres eucarísticos em diferentes lugares. Ele frequentava a missa diariamente e era comum vê-lo por longo tempo em oração diante do sacrário. Carlo Acutis morreu aos 15 anos, em 2006, em decorrência de uma leucemia. Foi beatificado em outubro de 2020. O site com os milagres eucarísticos catalogados pode ser visto neste link: https://cutt.ly/YQ0fQ5Z.

[A doença] é sempre a condição de uma pessoa, o doente, e é com esta visão inteiramente humana que os médicos são chamados a relacionar-se com o doente: considerando, portanto, a sua singularidade como pessoa que tem uma doença, e não apenas o caso de qual doença sofre essa pessoa [...] Com esta atitude, podemos e devemos rejeitar a tentação – também induzida por alterações legislativas – de utilizar a Medicina para apoiar uma eventual vontade que o doente tenha de morrer, prestando assistência ao suicídio ou causando diretamente a sua morte mediante a eutanásia. (À Federação Nacional da Ordem dos Médicos Cirurgiões e Dentistas da Itália – 20/09/2019)


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O adeus ao Padre Gilson, pai e irmão dos sofredores da rua Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes e Fernando Geronazzo

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Na manhã do domingo, 22, os arredores da Capela Nossa Senhora Aparecida, na comunidade carente da Rua Nelson Cruz, no Belenzinho, ficaram tomados de pessoas. Os motoristas que passavam diminuíam a velocidade, curiosos para entender o que bloqueava o trânsito daquela via. Na lateral, algumas carroças de material reciclável se enfileiravam. Eram os irmãos de rua que, bastante emocionados, vieram se despedir do seu “paizão”. Assim eles chamavam o Padre Gilson Frank dos Reis, que não resistiu às complicações da COVID-19 e faleceu no sábado, 21, aos 45 anos. Ordenado sacerdote em 2016, Padre Gilson era incardinado no clero da Arquidiocese de São Paulo e membro da Missão Belém, associação de fiéis que realiza um trabalho pastoral voltado à população em situação de rua e com dependência química.

Em missão

Ao choro das pessoas em situação de rua, uniam-se seus irmãos da Missão Belém, sacerdotes e demais fiéis. Irmã Cacilda da Silva Leste, cofundadora da comunidade, relatou que, em julho, Padre Gilson quis organizar uma missão na região conhecida como Cracolândia e na Praça da Sé, ambas no centro da cidade, onde a concentração da população em situação de rua e com dependência química havia aumentado com a pandemia. “Ele sabia que, pelo seu porte físico, teria complicação se contraísse a COVID-19, mas, mesmo assim, foi algumas vezes durante a pandemia para essa missão de rua. O Gilson era apaixonado pelos irmãos, pelos pobres da rua. Ele contou que a situação estava muito triste, encontrando muita gente doente. Mesmo assim, ele e os irmãos das nossas casas foram com paciência, com amor, com dedicação, como ele disse, brincando, ‘saquear o inferno’”, recordou a missionária, em alusão ao fato de que, durante a missão, conseguiram resgatar muitas pessoas que viviam em condições comparáveis àquelas da total ausência de Deus. “Padre Gilson entendia que

a vida não era dele, mas dos pobres. Ele viveu essa missão com muito amor, com muito ardor. Ele dizia que a rua é um lugar muito triste, mas Jesus não se esquiva, está lá na rua e espera a nossa ida, espera que sejamos instrumento de resgate... Ele voltou muito feliz dessa missão. Viveu com plenitude essa entrega... Ele tinha confiança e disposição de entrega a Deus únicas”, completou Irmã Cacilda.

Sentiu na pele

Padre Gianpietro Carraro, Fundador da Missão Belém, enfatizou que o Padre Gilson se identificava com os sofredores da rua também porque, um dia, foi resgatado daquela condição. “Padre Gilson conheceu a vida de rua, dos vícios, aquela que todo mundo sabe, mas encontrou a Deus. Teve um dia em que se ajoelhou, prostrou-se e pediu a Deus que entrasse na vida dele e o Senhor fez dele um padre. Portanto, o Padre Gilson é o emblema, o símbolo da Missão Belém, daquilo que Deus faz quando a gente se abre”, afirmou o Fundador. Aos 11 anos, após a separação dos pais, Gilson tragou um cigarro pela primeira vez, e, na adolescência, foi usuário de outras drogas. “O crack foi a devastação da minha vida e da minha família: roubei coisas de casa, morei na rua, na Cracolândia, até que um dia alguém passou, bateu nas minhas costas e falou ‘olha, Jesus te ama’. Foi quando tive força de me levantar e procurar ajuda”, contou ao O SÃO PAULO em uma entrevista concedida em 2013. Durante nove meses, no ano de 1998, Gilson permaneceu em uma clínica de recuperação de dependentes químicos no Rio Grande do Sul. De volta a São Paulo, conseguiu emprego, tornou-se noivo, in-

gressou em atividades da Igreja e foi um dos fundadores de um grupo que ajudava na recuperação de jovens drogados.

Vocação

Por meio de colegas da Comunidade Servos de Resgate, que também se dedica à evangelização de moradores em situação de rua, conheceu o Padre Gianpietro Carraro, que em 2005 fundaria a Missão Belém. “Quando comecei essa caminhada com um acompanhamento mais sério, com uma espiritualidade mais forte, entendi que aquilo que procurei, desde os meus 11 anos de idade nas drogas, encontrei somente em Deus”, relatou. Gilson deixou tudo para trás para seguir a vida missionária, ajudando outros a se libertarem do vício. “Toda vez que posso, falo da minha experiência de vida e que Deus está tirando um homem que era da Cracolândia e levando para trás do altar para ser padre. Procuro sempre enfatizar isso porque não somos diferentes: se isso aconteceu na minha vida, outros irmãos podem conseguir, porque um homem que tem objetivo chega aonde Deus quer”, contou à reportagem à época. Na entrevista de 2013, ele recordou que de sua própria experiência e das situações que vivenciara de pessoas que deixaram as drogas após o encontro com Deus, nutria algumas certezas: “A Palavra de Deus diz que a fé é o firme fundamento de acreditar em tudo aquilo que a gente não vê, mas a fé também é o alicerce de quem quer caminhar com Deus. Aquele que não tem fé e não acredita morre, acaba se perdendo”.

Esperança

Durante a missa de corpo presente, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Belém,

uniu-se à tristeza dos missionários e do povo pela “perda irreparável” desse Sacerdote, mas convidou os fiéis a olharem para o Círio Pascal aceso ao lado do caixão, que simboliza a luz eterna do Ressuscitado. “Nosso irmão vive. Passou desta vida para a eternidade, e essa é a grande esperança que deve, de fato, lançar o consolo aos nossos corações”, afirmou o Bispo. Dom Odilo também esteve no velório e rezou junto ao corpo do Sacerdote que havia ordenado em 2016. Inclusive, o corpo do Padre foi revestido com os paramentos sacerdotais usados no dia de sua ordenação. “Perdemos o Padre Gilson, que trabalhava com os pobres, com os moradores de rua, que os ajudava para que pudessem sair dessa, melhorar a vida, e, estando com eles, acabou contraindo COVID-19 e não conseguiu superá-la. Que Deus acolha e recompense o Padre Gilson e que seu exemplo mova a muitos a também fazerem o bem, as obras de misericórdia em relação a todo tipo de pessoa que necessita”, manifestou Dom Odilo, horas mais tarde, durante o seu programa semanal “Diálogos de Fé”, transmitido pela rádio 9 de Julho e pelas mídias digitais. Ainda durante o velório, Irmã Cacilda afirmou que, nas últimas folhas que conseguiu escrever em seu Diário Espiritual, já debilitado, Padre Gilson registrou seu desejo de ajudar Jesus a ser alimentado. “Ele escreveu com dificuldade que se oferecia nas mãos de Jesus para que, de alguma forma, Cristo também o tornasse alimento para a comunidade, para os pobres, para todos. E ele conseguiu cumprir e viver isso”, disse a missionária. A missa de 7º dia de falecimento será no sábado, 28, às 10h, na Catedral da Sé, presidida pelo Cardeal Scherer.


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PUC-SP: 75 anos a serviço da missão da Igreja Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) completou 75 anos de fundação no domingo, 22. Para marcar o jubileu, foi programada uma série de eventos religiosos e acadêmicos, abertos com uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, na sexta-feira, 20. A Eucaristia reuniu professores, alunos, administradores e colaboradores da instituição, na Paróquia Imaculado Coração de Maria, também conhecida como Capela da PUC, anexa ao campus Perdizes, na zona Oeste da capital.

EDIFICAÇÃO DO REINO DE DEUS

Na homilia, Dom Odilo ressaltou que, como universidade pontifícia, a PUC-SP está ligada ao Papa e, portanto, “está no coração da Igreja e a serviço daquilo que é próprio da sua missão”. O Arcebispo, que também é Grão-Chanceler da instituição, acrescentou que a PUC-SP contribui para a edificação do Reino de Deus a partir daquilo que lhe é próprio como universidade. “A PUC-SP não é como um colégio, uma paróquia ou um mosteiro. É uma universidade, aberta à universalidade do pensamento, confrontos e ideias”, afirmou. “Como comunidade acadêmica, a PUC-SP é sinal da sociedade que desejamos, com valores altos da busca da convivência. É sinal de esperança e de paz”, sublinhou o Cardeal, reforçando que todos os que fazem parte da Universidade – estudantes, docentes, administradores e demais profissionais – são chamados a fazer a sua parte para que a PUC-SP realize sua missão.

HISTÓRIA

Fundada em 22 de agosto de 1946, e mantida pela Fundação São Paulo, a PUC-SP surgiu da união da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, criada em 1908, e da Faculdade Paulista de Direito. Em 1947, o Papa Pio XII concedeu à Universidade católica o título de pontifícia, de modo que em seus estatutos há o compromisso de que suas atividades sejam regidas pelos princípios da doutrina católica e fiéis aos ensinamentos da Igreja nas questões de fé e de moral.

“No cumprimento de sua missão, a PUC-SP orienta-se, fundamentalmente, pelos princípios da doutrina católica. Dentro desse espírito, assegura a liberdade de investigação, de ensino e de manifestação de pensamento, objetivando sempre a realização de sua função social, considerada a natureza e o interesse público de suas atividades”, descreve a missão da Universidade. Em 1969, a instituição criou o primeiro curso organizado de pós-graduação do País. Em 1971, surgiu o Ciclo Básico de Ciências Humanas, que valorizava como indissociáveis o ensino, a pesquisa e a extensão. Em 1973, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Enfermagem de Sorocaba, ambas fundadas em 1951 e pioneiras como faculdades da área da Saúde fora do eixo das grandes capitais, foram incorporadas à PUC-SP, criando o campus Sorocaba.

PERSEGUIDA

Nesse período, o Brasil vivia sob o regime militar. A PUC-SP, então, contratou professores que haviam deixado as instituições públicas em que trabalhavam, aposentados compulsoriamente pela ditadura. Passaram a fazer parte dos quadros da instituição intelectuais como Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Bento Prado Jr., José Arthur Giannotti, entre outros. A Universidade Católica também sediou eventos acadêmicos e estudantis que denunciavam a violação de direitos fundamentais da população. Isso resultou, inclusive, na invasão do campus Monte Alegre por militares, que prenderam professores, alunos e funcionários.

EXPANSÃO

A partir dos anos 1980, a graduação e a pós-graduação cresceram em número de cursos e alunos; a Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae), criada em 1983, também ampliou suas atividades; a pesquisa (mestrados, doutorados e iniciação científica) seguiu o mesmo caminho. Às áreas de reconhecida excelência e tradição se juntaram outras, inovadoras: Gerontologia; Relações Internacionais; Comunicação e Artes do Corpo; Multimeios, Tecnologia e Mídias Digitais; Engenharia Biomédica; Gestão Ambiental; Ciências Econômicas, com ênfase em Comércio Internacional – a primeira graduação do País nessa área; Arte: história, crítica e curadoria; e Conservação e Restauro. A Universidade também passou a apostar nos cursos tecnológicos superiores. Foram criados novos campi – Marques de Paranaguá, Santana, Barueri e Ipiranga –, além de unidades suplementares, que marcaram a expansão da PUC-SP para outras regiões da cidade e do estado de São Paulo. Entre os ex-alunos da PUC-SP, destacam-se figuras notáveis da sociedade brasileira, como o ex-presidente da República, Michel Temer; o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin; o procurador-geral da República, Augusto Aras; o educador Paulo Freire; o jornalista Carlos Alberto di Franco; o empresário e exministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan; o ex-governador de São Paulo, André Franco Montoro, e muitos outros.


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Católica e pontifícia

Reitora Maria Amalia com Dom Odilo, Grão-chanceler

RECONHECIMENTO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, a reitora da PUC-SP, Maria Amalia Pie Abib Andery, afirmou que a instituição chega aos 75 anos reconhecida e respeitada, nacional e internacionalmente. “Hoje, a PUC-SP tem contatos e interações com universidades do mundo afora. É reconhecida pela qualidade da formação dos estudantes, por seu corpo docente, pela produção de conhecimento e por seu impacto social”, destacou Maria Amalia. A reitora enfatizou o caráter comunitário da instituição que, além de formar profissionais, atua diretamente na sociedade por meio da sua estrutura de serviços, como o hospital universitário em Sorocaba, onde 80% dos atendimentos são realizados pelo Serviço Único de Saúde (SUS), incluindo a clínica psicológica e serviços sociais e jurídicos, entre outros. Além disso, o espaço da Universidade acolhe seminários, eventos culturais, acadêmicos e religiosos, sem contar os centros de pesquisa das várias áreas do saber, que oferecem dados e estudos sobre assuntos de interesse da sociedade. Um exemplo disso foi a atuação da Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais (Cedepe), no desenvolvimento da metodologia da pesquisa de campo da realidade religiosa e pastoral das paróquias durante o sínodo arquidiocesano de São Paulo, em 2018.

O título de pontifícia é concedido pela Santa Sé a algumas universidades confessionais católicas, como sinal de um mais estreito vínculo com a Igreja Católica. Este título se dá geralmente pela tradição acadêmica e o trabalho realizado em conformidade com os valores e com a doutrina da Igreja. Esse reconhecimento só pode ser outorgado pela Congregação para a Educação Católica, organismo da Cúria Romana que atua, em nome do Papa, como uma espécie de “ministério da educação” da Santa Sé. Também recebem esse título as universidades e faculdades eclesiásticas, aquelas instituições de ensino superior que concedem títulos acadêmicos reconhecidos pela Igreja nas áreas da Teologia, Sagradas Escrituras, Filosofia e Direito Canônico.

TRADIÇÃO

Portanto, nem toda pontifícia universidade católica confere títulos eclesiásticos, mas tem em sua natureza e identidade o estreito vínculo com a instituição católica, que, inclusive, a mantém. De igual modo, nem toda universidade católica possui o título de pontifícia. As universidades pontifícias mais antigas do mundo são a Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, fundada em 1222, e a Pontifícia Universidade Gregoriana, fundada em 1551. A relação da Igreja Católica com as universidades está na origem dessas instituições, que nasceram como extensões dos colé-

gios episcopais da Idade Média, nos quais os jovens estudantes aprendiam o domínio das artes e das ciências humanas. A universidade mais antiga em funcionamento é a de Bolonha, na Itália, fundada em 1088.

que escreveu o patrono da Fiuc, São John Henry Newman: “A Igreja não tem medo do conhecimento, mas purifica tudo, não sufoca elemento algum da nossa natureza, mas cultiva tudo”.

DESENVOLVER MENTES E CORAÇÕES

Durante o encontro com diretores e representantes da comunidade acadêmica da PUC-SP, em 2018, o Cardeal Giuseppe Versaldi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, reforçou que a relação entre a Igreja e as universidades católicas não diminui a autonomia dessas instituições de ensino do ponto de vista acadêmico e científico. O Cardeal Versaldi ressaltou, ainda, a complementaridade entre a fé a razão. “A fé sem a razão pode cair no sentimentalismo, no subjetivismo, na emotividade. A razão sem a luz da fé corre o risco de se autolimitar, de não ver além daquilo que ela conhece sem compreender aquilo que ainda é obscuro, mas que possui uma realidade que o coração humano intui”, acrescentou. “Que desta Universidade católica possam sair leigos empenhados no campo político e social, que não esqueçam aquilo que aprenderam para não se deixar levar pela mentalidade do mundo. Que sejam capazes de ir na contracorrente em meio à indiferença”, disse o Prefeito, acrescentando que aqueles que se formam nas universidades católicas devem, como devedores da formação recebida, empenhar-se na transformação da sociedade. (FG)

Durante um discurso aos membros da Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc), em 2019, o Papa Francisco ressaltou que, com a abertura universal da qual deriva o seu nome, universitas, as universidades católicas devem ser “o lugar onde as soluções para o progresso civil e cultural das pessoas e da humanidade, marcadas pela solidariedade, seja perseguido com constância e profissionalismo, considerando o que é contingente sem perder de vista o que tem um valor mais geral”. O Pontífice também sublinhou o papel dessas instituições na formação de líderes e salientou a necessidade de desenvolver não só a mente, mas também o “coração”, a consciência e as habilidades práticas do estudante. “O saber científico e teórico deve se amalgamar com a sensibilidade do estudioso e pesquisador, a fim de que os frutos do estudo não sejam adquiridos em sentido autorreferencial, apenas para afirmar a própria posição profissional, mas sejam projetados em sentido relacional e social”, disse. Por fim, Francisco afirmou que o caminho que a Igreja, e com ela os intelectuais católicos, deve percorrer, é sintetizado pelo

FÉ E RAZÃO

PUC-SP/ACI

COMPROMISSO COM O SABER

Maria Amalia também sublinhou o compromisso da Igreja Católica com a educação, recordando que as primeiras universidades nasceram no ambiente eclesiástico. “A Igreja Católica sempre esteve comprometida com a formação de consciências por meio do conhecimento, do incentivo à pesquisa e à produção científica oferecidos não apenas à sua comunidade, mas ao mundo”, afirmou a reitora, recordando as centenas de milhares de alunos e professores que passaram pela PUC-SP durante estes 75 anos e que deram e dão sua contribuição para construir uma sociedade melhor. “A PUC-SP forma consciências, cidadãos, pessoas comprometidas com o bem comum”, acrescentou a reitora, docente da Universidade desde 1978. Reproduzindo o slogan famoso entre estudantes e professores da instituição, Maria Amalia garantiu: “Eu tenho muito orgulho de ser PUC-SP”.

Fundada em 22 de agosto de 1946, a PUC-SP tem o título de pontifícia desde 1947, com o histórico de formar líderes


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Roseane Welter

Especial para O SÃO PAULO

No domingo, 22, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na Paróquia Imaculado Coração de Maria, sede e matriz da Paróquia Universitária de São Paulo e da Paróquia Territorial do Coração Imaculado de Maria, anexa ao campus Perdizes, na zona Oeste da capital. A Eucaristia foi concelebrada pelos Padres Valeriano dos Santos Costa, Pároco; Bruno Raphael da Cunha Dobicz, Jucilei Lima da Silva e José Ferreira Filho, Secretário do Arcebispo.

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Uma paróquia com a missão de anunciar o Evangelho na universidade

MOTIVOS PARA CELEBRAR

No início da celebração, o Pároco agradeceu a presença do Cardeal e recordou três motivos para render graças: os 75 anos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fundada em 22 de agosto de 1946; a Catequese Dominical, iniciativa própria com a colaboração da pesquisadora Wilma Steagall de Tommaso, um marco na pandemia, que já ultrapassou a quinquagésima edição; e a comunidade sacerdotal que se formou na Paróquia com a chegada dos Padres Bruno, da Diocese de Umuarama (PR), e Jucilei, da Diocese de Bom Jesus do Gurgueia (PI), que

Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, preside missa na Paróquia Universitária, anexa ao campus Perdizes da PUC-SP, na zona Oeste, no domingo, 22

vieram para cursar a pós-graduação na PUC-SP e vão colaborar na comunidade paroquial.

DINÂMICA PASTORAL

Dom Odilo ressaltou que a Paróquia Pessoal Universitária tem como “missão estar presente no espaço universitário para dar assistência aos estudantes, professores e funcionários e, portanto, ser sinal da presença de Deus

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e da Igreja, no cultivo da fé e dos valores do Evangelho”. Padre Valeriano explicou que a “dinâmica paroquial empenha ações de evangelização e construção da vivência da fé, a partir da ação pastoral, da celebração da Eucaristia e dos sacramentos”. Wilma Steagall de Tommaso é doutora em Ciências da Religião e paroquiana. Ela ressaltou que a Paróquia é dinâmica em suas atividades evangelizadoras e em ações concretas. “São desenvolvidas atividades voltadas ao resgate de pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio da doação de cestas básicas e outros itens básicos à vida humana”, disse, pontuando, ainda, que a comunidade paroquial auxilia na manutenção de três creches. “A Catequese Dominical, on-line, no YouTube (Evangelizando pela Arte), é uma forma de chegar às pessoas por intermédio da arte sacra e litúrgica. Os encontros visam a apresentar o significado de ser cristão, os valores dos sacramentos e da Palavra de Deus como forma de ensinar a fé mediante a arte e a cultura”, pontuou.

PARÓQUIA PESSOAL E TERRITORIAL

A Capela da PUC, como é conhecida, está inserida no contexto de Paróquia Pessoal, pois está voltada à assistência pastoral de um grupo de pessoas (fiéis) circunscritas a uma determinada realidade – no caso, a universidade –, aos universitários. E abrange sua extensão a Paróquia Territorial, pois está inserida no território adjacente à PUC. A Igreja do Coração Imaculado de

Maria é sede e matriz da Paróquia Universitária de São Paulo, criada em 30 de abril de 1965, e a Paróquia Territorial do Coração Imaculado de Maria foi erigida em 21 de agosto de 1967.

PASTORAL UNIVERSITÁRIA

O objetivo da Pastoral é a ação evangelizadora, com o intuito de auxiliar a comunidade universitária a articular de maneira adequada sua vida acadêmica, pessoal e social com a fé. Para isso, anima, dinamiza e desperta a vivência da fé e a convivência fraterna entre os membros da comunidade universitária. Padre Rodrigo Pires Vilela é o Coordenador da Pastoral Universitária da PUC-SP. Ele enfatizou que a Pastoral está presente em todos os campi da PUC com ações como formação para a iniciação à vida cristã, serviço de orientação espiritual para o corpo acadêmico, promoção da cultura evangelizadora dentro da Universidade, atuação em comissões, atendimento pessoal e atividades de responsabilidade social. “A ação pastoral na Pontifícia Universidade tem o papel de ser presença cristã para promover e articular a vida cristã neste ambiente”, afirmou, destacando ainda que a Pastoral Universitária é uma pastoral de fronteiras, não tem cunho de pastoral paroquial, “a proposta é viver em constante diálogo com o universo acadêmico, atendendo às demandas individuais dos estudantes, que envolvem muitas vezes questões existenciais, culturais, espirituais e, às vezes, somente uma busca de fraternidade no ambiente acadêmico”, ressaltou o Coordenador.


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Amparo Maternal: 82 anos de acolhida e amor a gestantes, puérperas e bebês Desde 1939, a entidade oferece abrigo e garante proteção integral a grávidas em situação de risco. O atendimento se estende no período pós-parto e aos recém-nascidos de até 6 meses Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Administradores, colaboradores e voluntários do Amparo Maternal, bem como as mães acolhidas com seus bebês, reuniram-se na sexta-feira, 20, em ação de graças pelos 82 anos de fundação da instituição. Esse espaço tem por missão acolher a gestante de forma integral e humanizada, prestando assistência à saúde materno-infantil, conforme lembrou o Padre Jorge Bernardes, Assessor Eclesiástico da Associação Amparo Maternal, na missa que presidiu na ocasião, concelebrada pelo Frei Henrique Moretto, da Ordem de Santo Agostinho. Padre Jorge lembrou, ainda, que o Amparo tem o compromisso de ser referência no atendimento, contribuindo com a reinserção da mulher na sociedade.

HISTÓRIA

O Amparo Maternal foi fundado em 20 de agosto de 1939 pela Madre Franciscana Marie Domineuc, pelo médico obstetra Álvaro Guimarães Filho e por Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, então Arcebispo de São Paulo. A instituição surgiu para abrigar as grávidas. A ideia dos idealizadores era a de que nenhuma parturiente na cidade deveria ficar sem um local adequado para dar à luz. À época, eram comuns o abandono e a exclusão de mães solteiras por suas famílias. Sensibilizados, a Madre, o Arcebispo e o doutor iniciaram o trabalho, alugando casas onde as gestantes ficavam até ter o bebê e conseguir recursos para sua sobrevivência. O lema era “nunca recusar ninguém”. Em 1945, a entidade conseguiu, na Câmara Municipal, autorização para o início das obras das instalações do Amparo Maternal na Rua Loefgren, na Vila Clementino, zona Sul da capital paulista. A princípio, o local não previa maternidade, somente um aloja-

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em cada nova mulher que chega ao Centro de Acolhida, a cada nova política estabelecida em favor de gestantes, mães e filhos desamparados, a cada novo doador e parceiro que, de forma gratuita, abraça a causa e generosamente contribui com a manutenção dessa obra, cujo nome traduz sua vocação: amparar as mães e seus filhos, na garantia da vida e dignidade”, disse o Padre.

PRONTAS PARA SERVIR

Maria Ilse Moreno Piquera, 82, nasceu no mesmo ano do Amparo Maternal e há 42 anos é voluntária na entidade. Auxiliar as mães acolhidas e promover o bazar beneficente é missão das voluntárias que atuam na sede. “O Amparo é minha segunda casa. Doar minha vida em prol da instituição Gestantes e puéperas com seus bebês participam da missa pelos 82 anos do Amparo Maternal, dia 20 é uma missão de amor. Sou mãe e, como mãe, acolher as mães aqui atendidas é algo Associação Amparo Maternal, em parceque remete à experiência de Maria, que mento social, com salas de aula e cursos abraça Santa Isabel, um encontro de mães ria com a Secretaria Municipal de Assisprofissionalizantes, no qual as mães poderiam morar nos quartos e cuidar de seus tência e Desenvolvimento Social, permaque se unem na busca de um mundo mais nece sob a gestão do Centro de Acolhida filhos. justo e solidário”, disse. para Gestantes, Mães e Bebês. Com o aumento de gestantes recusaSilvana Nartes Gavião, 58, é voluntária das pelos hospitais de São Paulo, porém, Paula Lorenna Alves Pirolo e Emerson há 18 anos. Ela destacou que o Amparo foi necessário estruturar a área hospitalar, José Pirolo, fundadores da Associação Caé um local de esperança e renovação da tólica Missionários da Redenção, foram que fez do Amparo Maternal a única envida: “Unidas somos mais fortes, e contidade existente no Brasil e na América tribuir diariamente com essas mulheres eleitos para a presidência e diretoria financeira da Associação Amparo Maternal. Latina que, além da maternidade, oferecia acolhidas, cada uma com sua história de “Assumimos a coordenação do Centro alojamento para as gestantes. vida, é uma maneira de agradecer a Deus de Acolhida de forma interina, para o pe​ o dom da vida aqui gerada. A vida renasce ESTRUTURAÇÃO ríodo de 15 de julho a 15 de setembro de em cada mulher e em cada bebê”, afirmou. Em 1974, a Congregação das Irmãs 2021, para dar continuidade à missão dos MÃES ACOLHIDAS Vicentinas de Gysegem assumiu a gestão fundadores e coordenar a gestão da entidade que transforma vidas”, disse Paula A associação disponibiliza 50 vagas e da Associação Amparo Maternal, sob a Lorenna, recordando ainda que o Ampatem possibilidade de expansão para receliderança da Irmã Anita Gomes, que permaneceu por 40 anos, contribuindo para ro acolhe mulheres, gestantes que sofreber até 80 mulheres gestantes e mães com ram violência física, sexual e psicológica, o crescimento e permanente estruturação seus bebês. Atualmente, estão acolhidas 19 mulheres em situação de rua, usuárias de das atividades voltadas à assistência social. mães, 19 bebês e cinco gestantes. substâncias psicoativas (SPAs) e refugiaEm 1978, iniciou-se a construção de Talita Simões da Silva, 21, é mãe do das de outros países. um novo prédio, no mesmo terreno, para Jonas Lucas, de 3 anos, e da Luara, de 2 Egle Moura, representante da Subpreseparar a maternidade do alojamento someses. Os filhos nasceram na instituição. cial. A obra foi concluída em 1983, sede do feitura da Vila Mariana, destacou que os “Estou pela segunda vez no Amparo Centro de Acolhida para Gestantes, Mães encaminhamentos para os atendimentos Maternal, meus dois filhos nasceram aqui. e Bebês, com acesso pela Rua Napoleão de no Amparo Maternal são realizados por O Amparo é um divisor na minha vida. Barros, 1.035. meio de solicitações feitas em uma das Eu estava imersa nas drogas, engravidei e, Em 1985, consolidou-se o apoio de unidades do Centro de Referência Espepara o bem dos bebês, minha mãe me encializado em Assistência Social (Creas). caminhou à instituição. Aqui meus filhos voluntárias que, além de se mobilizarem “Os pedidos de atendimento são feitos nasceram saudáveis. Gratidão é o que defiem prol do bazar beneficente, auxiliam as ne a minha experiência nesta casa de amor em uma das unidades do Creas, onde a mães e os recém-nascidos no alojamento e vida”, disse a jovem, segurando no colo a equipe faz a avaliação e encaminhamensocial. Em 2007, passou a haver o apoio to”, disse, recordando ainda que a área de pequena Luara. administrativo da Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC). abrangência da instituição é municipal. Sara, 23, nasceu em Angola e está no Brasil há três meses, em busca de melhoNOVA GESTÃO RESSIGNIFICAR A AÇÃO res condições de vida. Na gravidez, ali Em 2021, encerrou-se a parceria com Padre Jorge destacou que entre as ações ela encontrou apoio e amparo. “Como é a Congregação das Irmãs de Santa Catarida Igreja na instituição, além da celebração gratificante saber que alguém olha para na. A partir de agora, a gestão do Hospital da Santa Missa, está o compromisso de você com amor e resgata a sua dignidade”, disse a jovem, no sexto mês da sua Amparo Maternal é responsabilidade da mostrar à sociedade o valor da maternidade e o sentido da vida como dom de Deus. primeira gestação, à espera, com amor, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), enquanto a “O legado dos fundadores se perpetua da filha Pérsia.


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COVID-19: a vacinação avança, porém todos os cuidados devem ser mantidos Embora as estatísticas demonstrem que um quarto da população mundial já foi completamente imunizada, a alta incidência de mortes pela doença indica que a prevenção e o cuidado ainda são essenciais JOSÉ FERREIRA FILHO

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Depois de 20 meses do aparecimento do primeiro caso de COVID-19, em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, da rápida disseminação da doença na Europa já no início do ano passado, e do primeiro infectado oficialmente reportado no Brasil – um homem de São Paulo, de 61 anos, que havia regressado de uma viagem à Itália, em fevereiro de 2020 –, o mundo inteiro entrou numa corrida sobre-humana para tentar conter o avanço do vírus e estancar o número de mortes. O empenho pelo desenvolvimento de uma vacina contra uma doença global, com alto grau de propagação e letalidade, no mais curto espaço de tempo possível, uniu governos, organizações e pesquisadores. Assim, em 8 de dezembro de 2020, exatamente um ano após o aparecimento do vírus, Margaret Keenan, prestes a completar 91 anos na época, do Reino Unido, foi a primeira pessoa a receber o imunizante contra a COVID-19. De lá para cá, cada país adotou uma política de enfrentamento à pandemia, sendo a cobertura vacinal o principal instrumento de combate à doença, condição tida como consenso em toda a comunidade internacional, algo que, embora com grande atraso, também se confirmou no Brasil.

NÚMEROS

Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia já provocou ao menos 4,42 milhões de mortes em todo o mundo. O número real de vítimas da COVID-19, no entanto, pode ser até três vezes maior, passando dos 13 milhões de óbitos. A estimativa da instituição leva em conta a subnotificação de casos, principalmente em regiões com pouca testagem.

Desde o início da pandemia, mais de 211 milhões de pessoas contraíram a doença, sendo os Estados Unidos o país com o maior número de vítimas (629 mil), seguido pelo Brasil (575 mil), Índia (435 mil) e México (253 mil). Entre os países mais afetados, o Peru registra a maior taxa de mortalidade, com 600 mortes a cada 100 mil habitantes, seguido da Hungria (311), Bósnia-Herzegovina (296), República Tcheca (284), Macedônia do Norte (271) e Brasil (270). Até domingo, 22, somente 24,4% da população mundial havia sido completamente imunizada contra a COVID-19, de acordo com dados do Our World in Data. Com o avanço da vacinação em mas-

DEMOGRAFIA

de (SUS). A exceção é o estado do Rio de Janeiro, que apresenta aumento no indicador pela terceira semana consecutiva, voltando a atingir o patamar de 70%, o que não ocorria desde meados de junho. Ainda de acordo com o boletim, embora a taxa de mortalidade geral do Brasil tenha diminuído 0,9% por dia, os maiores índices desse indicador foram verificados em estados do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás), além do Paraná, Rio de Janeiro e Roraima. A taxa de incidência de casos de COVID-19 foi reduzida em 1,5% por dia em todo o País. Ainda assim, a prevalência dessa condição foi observada nos estados do Centro-Oeste (Mato Grosso e Tumisu

Com a ampliação da cobertura vacinal para as faixas mais jovens, o processo de rejuvenescimento da pandemia no Brasil foi revertido. Novamente as internações hospitalares, ocupações de leitos de UTI e óbitos voltaram a se concentrar na população idosa, que apresenta maior vulnerabilidade entre os grupos por faixas etárias. “Com relação aos óbitos, a mudança é mais dramática: há novamente uma concentração das mortes nas idades mais longevas, com completa reversão da transição da idade ocorrida nos meses anteriores”, observam os pesquisadores. A investigação alerta agora para uma redução importante da proporção de internações nas faixas etárias de 50 a 59 anos e de 40 a 49 anos, grupos com maior cobertura vacinal entre a população adulta. Por outro lado, a proporção relativa das faixas etárias de idosos, que vinha caindo progressivamente, passou a aumentar.

IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

sa da população no Brasil, O SÃO PAULO traz um retrato das tendências que se desenham no horizonte acerca da realidade em relação ao coronavírus no País.

Goiás, e no Distrito Federal), Sul (Paraná e Santa Catarina) e alguns estados do Norte (Roraima e Tocantins).

panorama nacional

O estudo aponta também duas tendências preocupantes: por um lado, permanece alta a circulação do vírus, o que é demonstrado pela positividade dos testes (RT-PCR). “Este cenário preocupa ao considerarmos que a transmissão permanece alta e a variante Delta se encontra em circulação em vários municípios, com potencial de se disseminar”, observam os cientistas. O cenário epidemiológico do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, concentra vários casos identificados de COVID-19 em decorrência da variante Delta, além de sinalizar para o aumento da incidência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Também apresentam indícios de incidência dessa síndrome, em decorrência da COVID-19, ao longo das últimas seis semanas, o Rio Grande do Norte, Bahia e Paraná.

Fundada há 121 anos e vinculada ao Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é uma instituição nacional de pesquisa e desenvolvimento em ciências biológicas, responsável pela produção da vacina AstraZeneca contra a COVID-19 no País e um dos órgãos de monitoramento da situação da doença no território brasileiro. Segundo o seu mais recente boletim semanal, intitulado Boletim do Observatório COVID-19 Fiocruz, divulgado na quinta-feira, 19, é confirmada, pela oitava semana consecutiva, a redução do número de casos, internações e óbitos no Brasil. No decorrer das últimas semanas, houve um alívio relativo nos hospitais, com a redução das taxas de ocupação de leitos de UTI COVID-19 para adultos no Sistema Único de Saú-

TENDÊNCIAS

A análise defende a importância da aceleração da vacinação, do uso de máscaras e do distanciamento físico. “Há também uma retomada da circulação de pessoas nas ruas, próxima ao padrão anterior à pandemia, devido a uma sensação artificial de que a pandemia acabou, contribuindo para um relaxamento das medidas de prevenção por parte das pessoas e gestores”, afirmam os pesquisadores do Observatório. “Além da variante Delta, a retomada de crescimento de casos é reflexo de dois processos simultâneos. Sete meses após a aplicação da primeira vacina no País, entre a população adulta (18 anos ou mais), somente 32,2% recebeu o esquema vacinal completo; 41,2% da população recebeu a primeira dose, mas ainda precisa receber a segunda; e, quase 30% da população de pelo menos 18 anos ainda não foi vacinada. Há um progresso lento da cobertura vacinal”, afirmam. Segundo o boletim, diante deste quadro, é importante adaptar os serviços de saúde para a nova fase da pandemia no País, intensificando as ações de vigilância, testagem e rastreamento de contatos. É fundamental ainda reforçar ações de atenção primária à saúde, capazes de identificar casos que necessitem de cuidados intensivos, o que possibilita também a interrupção das cadeias de transmissão.


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| 25 a 31 de agosto de 2021 | Papa Francisco | 21

A encarnação de Deus ‘escandaliza’ o mundo Filipe Domingues

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Ao se apresentar como “pão vivo que desceu dos céus”, Jesus causou “grande escândalo” entre seus discípulos, disse o Papa Francisco em sua reflexão no domingo, 22, na oração do Angelus. Comentando o Evangelho segundo São João (6,60-69), o Papa recordou que Cristo se mostra como “o pão da vida” e que é Ele mesmo, com seu corpo e sangue, o caminho da salvação. Francisco disse que, ainda hoje, essa revelação de Jesus, a sua encarnação, “causa grande escândalo”, pois “Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é a sua própria carne. Que para entrar em comunhão com Deus, antes de observar as leis e satisfazer os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação concreta e real com Ele”, afirmou o Pontífice. Após o milagre da multiplicação dos pães e peixes, muitos seguiam Jesus porque buscavam saciar a própria fome. E muitos deixaram de segui-lo quando Cristo explica

que não é esse o tipo de alimento que Ele proverá, conforme o relato bíblico. Quando perguntou aos doze apóstolos se também eles desistiriam de segui-lo, Pedro respondeu: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna”. Seguir a Cristo, continuou Francisco, é reconhecer o mistério da encarnação, e enxergá-lo também nos “irmãos que encontramos na estrada da vida”. Na Eucaristia, continuou o Santo Padre, Cristo nos permite experimentar esse encontro. E por isso, muitas vezes, o sacramento é mal compreendido: “Qual o sentido de se ajoelhar diante de um pedaço de pão?”. Mas este é, justamente, “o dom da vida de Cristo, na sua carne e no seu sangue”. Declarou o Papa Francisco: “Deus se fez carne e sangue. Abaixou-se até se tornar homem como nós, humilhou-se até carregar sobre si os nossos sofrimentos e o nosso pecado, e nos pede para buscá-lo, entretanto, não fora da vida e da história, mas na relação com Cristo e com os irmãos. Esta é a estrada para o encontro com Deus”. (FD)

Vatican Media

Vacinar-se é um ‘ato de amor’, diz o Papa O Papa Francisco trouxe uma dose de reforço para a campanha global de vacinação contra a COVID-19. Em vídeo publicado no dia 18, ele insistiu que “vacinar-se é um ato de amor”, sinalizando que todas as pessoas que têm acesso à vacinação devem fazê-lo. “É um modo simples, mas profundo, de promover o bem comum e de cuidarmos uns dos outros”, declarou. Na mensagem, o Pontífice disse ainda que as vacinas “trazem esperança para acabar com a pandemia”. E repetiu seu pedido às autoridades, dizendo ser preciso que as vacinas “fiquem disponíveis para todos”. Ele comparou o gesto de se

vacinar a um “grão de areia”, um pequeno “gesto de amor”, que, quando unido ao dos outros, se torna enorme. O vídeo foi feito para uma campanha em parceria com o Ad Council, uma ONG norte-americana que produz e distribui publicidade para iniciativas filantrópicas, do governo e sem fins lucrativos. Também participaram da campanha bispos da América Latina, entre eles o Arcebispo Emérito de São Paulo, Cardeal Cláudio Hummes. Ele chamou de “heroicos” os esforços dos profissionais da ciência e da saúde no desenvolvimento das vacinas contra a COVID-19. E declarou:

vacinar-se é “uma opção de amor a todos, principalmente aos mais vulneráveis”. O Cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chávez, Bispo Auxiliar de San Salvador, disse no vídeo com o Papa que a decisão de se vacinar “afeta aos demais” e, portanto, é “um ato de amor para toda a comunidade”. O Cardeal Carlos Aguiar Retes, do México, ressaltou o apoio dos bispos da América Latina à vacinação “para todos” no continente. O Cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, Arcebispo de Tegucigalpa, em Honduras, disse que, embora tenhamos muito o que aprender sobre o coronavírus, já sabemos que “as vacinas autoriza-

das dão resultado” e são chave essencial para sair desta crise sanitária. Também Dom José Horacio Gómez, Arcebispo de Los Angeles e presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, recordou que “a força da fé” nos permite enfrentar a pandemia, mas também é preciso “assegurar que as vacinas estejam disponíveis para todos”. O Arcebispo peruano Dom Miguel Cabrejos, Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), também sinalizou no vídeo que os bispos das Américas e do Caribe estão determinados a “promover e apoiar a vacinação” de todas as pessoas. (FD)


22 | Pelo Mundo | 25 a 31 de agosto de 2021 |

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Peru

Dinamarca

Jornada Nacional da Juventude conclama jovens peruanos a serem profetas JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

“Jovens, levantem-se! Vocês são os profetas do bicentenário” é o lema da primeira Jornada Nacional da Juventude, que o Peru celebrará de 19 a 21 de novembro. O evento é dedicado às comemorações do 200º aniversário da independência do país, ocorrido no dia 28 de julho. Segundo a comunicação da Conferência Episcopal do país, a jornada está sendo organizada pela Comissão Episcopal para a Juventude e os Leigos, presidida por Dom Alfredo Vizcarra, Bispo do Vicariato de Jaén, com o objetivo de “evidenciar a importância da juventude do país à luz do bicentenário da independência”.

PREPARAÇÃO

Desde o início de 2021, muitos grupos de trabalho foram formados, cada um dedicado aos vários aspectos do evento: liturgia, espiritualidade e comunicação, entre outros. O logotipo do evento é composto por três grandes letras “JNJ”, iniciais de “Jornada Nacional de la Juventud” (Jornada Nacional da Juventude), pintadas com cores brilhantes e vivas, para indicar a alegria e o espírito de celebração que anima o encontro. O hino e a oração do evento, por outro lado, foram escolhidos por meio de um concurso entre artistas católicos, sendo que ambas as composições vencedoras se referem à figura de San-

Padre missionário é exemplo de perseverança e serve a fiéis do mundo inteiro

ta Rosa de Lima, leiga morta aos 31 anos de idade e cuja festa litúrgica é celebrada em 23 de agosto, padroeira do Peru e primeira santa do continente americano.

ATIVIDADES

Segundo Álvaro Salazar, secretário executivo da Comissão Episcopal, foram organizadas atividades mensais cujo objetivo é permitir aos participantes preparar o coração e o espírito para a reflexão sobre a realidade em que vivem. “A Jornada da Juventude deve, então, permitir-nos descobrir o que os jovens peruanos desejam para o futuro do país em vista do bicentenário”, concluiu. Fontes: Agência Fides e Vatican News

Paquistão Cristãos lutam contra a falta de direitos individuais e imposição da fé islâmica Cada vez mais recorrentes no Paquistão e sob a negligência do governo local, os sequestros de meninas de minorias religiosas – sobretudo as cristãs –, seguidos de abuso sexual, conversão forçada ao Islamismo e casamentos arranjados contra a sua vontade já somam mais de 25 casos este ano e preocupam a Igreja e outras entidades. Diante desta situação, os sacerdotes católicos da Comissão Nacional de Justiça e Paz da Conferência Episcopal do país indicaram que as conversões forçadas são o maior desafio que a Igreja Católica no Paquistão enfrenta. “A maioria dos casos é de meninas cristãs de Punjab e se tornou um problema diário. Seus pais temem por seu futuro”, disse Nasir Saeed, diretor do Centro de Acordos e Ajuda Legal (CLAAS, na sigla em inglês) do Reino Unido, uma instituição de caridade cristã dedicada a ajudar cristãos perseguidos no Paquistão. Saeed observou que é frustrante que “o governo e as agências de segurança pública, aqueles que estão no poder, estejam cientes da situação, mas fechem os olhos”. “O sistema judicial de influência islâmica também se tornou uma rede de segurança para pedófilos e estupradores que aproveitam as boas ações inerentes à fé islâmica para justificar suas mentes criminosas”, enfatizou.

UCA News

“Além dos fiéis dinamarqueses, meus paroquianos vêm de praticamente todo o mundo: Vietnã, Japão, Filipinas, Índia, Sri Lanka, Malásia, Nigéria, Burundi, Somália, Iraque, Líbano, Polônia, Espanha, Itália, Inglaterra, Noruega, Lituânia, Brasil, Colômbia, México, Equador, Estados Unidos... Posso dizer que a minha igreja é católica!”, afirma o Padre Samuele Lando, 42, sacerdote que há anos cumpre sua missão na Dinamarca. Italiano, Padre Samuele tem um irmão que também é sacerdote, Padre Matteo, Paróco da ilha de Djerba, na Tunísia.

MINORIA

Atualmente, Padre Samuele é Pároco da Paróquia de São Canuto Lavard, localizada na cidade de Kongens Lyngby, ao norte de Copenhague. “O território da minha Paróquia compreende mais ou menos cinco municípios, o que representa cerca de 200 mil habitantes, dos quais 2,6 mil são católicos”, explica o Sacerdote. Na Dinamarca, há cerca de 5,8 milhões de habitantes, dos quais 51 mil são católicos, uma pequena porção ante a maioria luterana do país. “Perto da igreja existe uma escola primária católica que tem 220 alunos, sendo que 60 deles são católicos. No território paroquial, existem também dois conventos de freiras, Beneditinas e do Preciosíssimo Sangue, dois monges beneditinos idosos, que vivem com as monjas beneditinas, o seminário diocesano, onde fui formado, e a igreja onde se reúne a comunidade caldeia.”

PANDEMIA

INICIATIVAS

A Comissão Parlamentar de Proteção às Minorias contra as Conversões Forçadas apresentou um projeto de lei, pedindo que a mudança de religião de pessoas maduras só fosse aceita após comparecimento ao juiz. Pela proposta, o formulário de inscrição para mudança de religião deve incluir dados pessoais, religião atual e o motivo de conversão. Além disso, o comitê sugeriu conduzir uma entrevista adicional nos primeiros sete dias após o recebimento do pedido e pediu que desse ao juiz o poder de conceder à pessoa 90 dias para comparar as religiões e retornar com sua decisão após esse período.

“A Igreja desempenha um papel crucial ao transmitir educação moral às nossas filhas. É nossa plataforma mais importante. Sessões de formação de fé são necessárias para mulheres, pois a proporção de tais casos é maior na comunidade cristã. Por último, todos conhecem o papel de um ministro das minorias no Paquistão, tanto em nível federal quanto provincial”, afirmou Ejaz Alam Augustine, ministro dos Direitos Humanos e das Minorias, cujo órgão prepara um documento a respeito de como lidar com a questão das conversões forçadas. (JFF)

A Dinamarca também experimentou o bloqueio causado pela pandemia. “Quando a pandemia se agravou, em março de 2020, eu era pároco havia pouco mais de seis meses em Ringsted, em uma pequena igreja no centro de Sjælland, a ilha onde fica Copenhague. Tivemos que fechar a Paróquia e, de repente, não era mais possível encontrar ou visitar as pessoas”, lembra o Padre Samuele. O Sacerdote, porém, não desanimou porque “ajudado por alguns paroquianos, tendo alguma inspiração do Cardeal Van Tuan quando ele estava na prisão, comecei então a escrever uma homilia diariamente sobre o Evangelho da missa do dia, que era então colocado na página da Paróquia na internet, para não perdermos totalmente o contato entre nós”. Um exemplo de perseverança que sempre acompanha Padre Samuele: “Todos os dias, a maior tentação é abandonar tudo e sair da Dinamarca. Por isso, penso que continuar a evangelizar nestas terras significa, antes de tudo, pedir ao Senhor, constantemente, a graça de não perder a esperança”. (JFF)

Fonte: UCA News

Fonte: Agência Fides

PAPEL DA IGREJA


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| 25 a 31 de agosto de 2021 | Reportagem/Fé e Vida | 23

Paralímpicos mostram ao mundo ‘o que pode realizar uma alma forte, apesar dos obstáculos’ International Paralympic Committee

Ao término da 1ª edição dos Jogos Paralímpicos em Roma, 1960, São João XXIII enalteceu os esportistas com deficiência. Neste mês, eles voltarão a encantar o mundo na paralimpíada de Tóquio

Atletas participam da cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, dia 24

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

A 16ª edição dos Jogos Paralímpicos, iniciada na terça-feira, 24, em Tóquio, no Japão, reúne, até 5 de setembro, mais de 4,4 mil paradesportistas, de 160 países, entre os quais 253 brasileiros. Antes que a primeira disputa das 22 modalidades acontecesse, uma das razões primordiais dos Jogos foi destacada na cerimônia de abertura: a luta permanente para assegurar a dignidade das pessoas com deficiência. Atualmente, cerca de 15% da população mundial – 1,2 bilhão de pessoas – tem algum tipo de deficiência e, ao longo dos Jogos, a campanha #WeThe15 buscará a conscientização global contra as discriminações que ainda sofrem e suas lutas por inclusão, acessibilidade e dignidade em todos os âmbitos de vida.

Superação das limitações

A busca da dignidade da condição de vida das pessoas com deficiência está nas origens dos Jogos Paralímpicos. Tão logo teve início a 2ª Guerra Mundial, em 1939, o governo britânico decidiu se preparar para uma quantidade maior de soldados que retornariam das batalhas com ferimentos graves. Por isso, foi organizada em Stoke Mandeville, na Inglaterra, uma ala hospitalar especializada em lesões de medula. A partir de 1944, com a guerra ainda em curso, essa ala passou a ser dirigida pelo judeu alemão Ludwig Guttman, que, além das tradicionais técnicas de Fisioterapia, passou a usar objetos esportivos para aprimorar as condições de saúde e de autoestima dos pacientes e desenvolveu novos modelos de cadeiras de rodas. Em 1948, quando os Jogos Olímpicos voltaram a ser disputados após a 2ª Guerra Mundial, Ludwig Guttman foi convidado a organizar competições demonstrativas de arco e flecha e basquete em cadeira de rodas com seus pacientes, para que se inserissem no contexto do maior evento esportivo do planeta. Surgiam, assim, os Jogos de Stoke Mandeville, que se repetiriam nos anos seguintes, com a participação de pessoas de outras nações.

Com o aumento do número de atletas e países, os Jogos de Stoke Mandeville se tornaram a Olimpíada dos Portadores de Deficiência, tempos depois renomeada de Jogos Paralímpicos. A 1ª edição aconteceu entre 18 e 25 de setembro de 1960, em Roma. No Vaticano, nos anos de 1905 e 1908, atletas com deficiência participaram de competições inclusivas, promovidas por São Pio X.

força interior

No encerramento dos Jogos Paralímpicos de 1960, São João XXIII recebeu em audiência, no Pátio São Dâmaso, uma delegação dos organizadores e de paradesportistas. “A limitação de suas capacidades físicas não assustou os seus corações e vocês tomaram parte, nestes últimos dias, com um ânimo admirável, de uma série de disputas, cuja realização parecia totalmente impossível. Desse modo, vocês deram um grande exemplo que gostamos de apontar, porque pode ser útil a todos: mostraram o que pode realizar uma alma forte, apesar dos obstáculos – aparentemente insuperáveis – que o corpo se opõe. Longe de se deixar abater pelas provas, vocês as dominaram e, com um sereno otimismo, enfrentaram as competições esportivas, à primeira vista reservadas somente a homens com pleno vigor”, declarou o Pontífice, que revelou ter se emocionado com o que viu ao longo das competições. São João XXIII também disse que naqueles atletas podia enxergar concretamente o poder da força interior, uma virtude necessária especialmente aos cristãos para o seu apostolado evangelizador. Por fim, o Papa pediu aos atletas que nas lutas diárias para alcançar a vida eterna tivessem o mesmo empenho demonstrado nas disputas esportivas. “Pertençam aos violentos que ‘arrebentam o Reino dos céus’ com a aplicação em fazer o seu corpo dócil aos impulsos do espírito, e sua alma obediente à inspiração da graça”, disse, afirmando ainda estar feliz por poder “confiar a Deus estes filhos sofridos,

porém corajosos e alegres, sobre os quais não pode deixar de se inclinar com muito particular afeto o coração do Pai que está nos céus”.

‘Cada um consegue oferecer o melhor de si’

Em outubro de 2014, o Papa Francisco recebeu em audiência no Vaticano membros do Comitê Paralímpico Italiano e destacou o papel agregador das práticas esportivas. “O esporte promove contatos e relações com pessoas que provêm de culturas e ambientes diversos, habitua-nos a viver aceitando as diferenças, a fazer delas uma ocasião preciosa de enriquecimento recíproco e de descoberta. O esporte torna-se, sobretudo, uma oportunidade valiosa para que nos reconheçamos irmãos a caminho, para favorecer a cultura da inclusão e rejeitar a cultura do descartável.” Segundo Francisco, essa perspectiva esportiva é vivida ainda de modo mais intenso pelos paradesportistas, “porque a deficiência física que vocês experimentaram em seu corpo, mediante a prática esportiva e o sadio espírito de competição, transforma-se numa mensagem de encorajamento para quantos vivem situações análogas à de vocês e torna-se um convite a empenhar todas as energias para realizar coisas boas juntos, superando as barreiras que podemos encontrar ao nosso redor e, antes de tudo, dentro de nós”. Na ocasião, o Pontífice comentou, ainda, que o testemunho dos atletas paralímpicos era um grande sinal de esperança à humanidade, “uma prova do fato de que em cada pessoa existe um potencial que às vezes nem imaginamos, que só pode ser desenvolvido com a confiança e a solidariedade. Deus Pai é o primeiro a saber disso! Deus conhece perfeitamente os seus corações: sabe tudo. Ele conhece-nos melhor do que todos, e olha-nos com confiança, amanos como somos, mas faz-nos crescer segundo aquilo que nos podemos tornar. Assim, no seu esforço por um esporte sem barreiras, por um mundo sem excluídos, vocês nunca estão sozinhos! Deus, nosso Pai, está convosco!”.

Liturgia e Vida 22º Domingo do Tempo Comum 29 de agosto de 2021

Um coração para Deus PADRE JOÃO BECHARA VENTURA O coração, em sentido bíblico, não é só um órgão nobre, pois não somos apenas matéria. Tampouco se reduz à sede dos “sentimentos”. O coração é, por assim dizer, o lugar no qual a vida física se une à espiritual, o corpo à alma e o homem a Deus. É o centro da personalidade, para onde confluem os afetos, pensamentos, vontade e intenções. Por isso, Deus mandounos amá-Lo “com todo o coração” (Dt 6,5) e prometeu: “Escreverei a minha lei em seus corações” (Jr 31,33). Jesus repreendia os fariseus porque as suas diligentes ações e orações não concordavam com o coração. Aparentemente, nutriam grande zelo e temor a Deus; contudo, suas práticas eram movidas por corações que, em vez de amor e humildade, palpitavam orgulho, avareza e hipocrisia. O Senhor os comparou a sepulcros caiados: belos por fora mas, nas intenções e pensamentos, repletos de ossos e podridão. Se o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração (cf. 1Sm 16,7)! Por isso, Jesus lamentou: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mc 7,6). Que essa advertência não valha para nós! Ao orarmos, é preciso que, apesar das normais distrações, haja concordância entre os lábios, os pensamentos e o coração. A própria oração, aliás, tem o poder de modelar nosso coração à Palavra e à vontade de Deus. Rezamos com as palmas das mãos postas junto ao tórax para que o Senhor estreite nossas mãos entre as suas e nos fale diretamente ao coração. Batemos no peito para repreender o coração inconstante e pecador. Oramos de braços abertos para escancarar o coração à vontade divina. Fazemos o sinal da cruz para que o coração seja selado, protegido e penetrado pela Santíssima Trindade. Nosso Senhor ensina que “é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21s). Afinal, a soberba e o orgulho – raiz de todo pecado – encontram-se, tal como o joio em meio ao trigo, semeados no campo do coração humano. É daí que nascem o consentimento e a escolha do mal. Na Confissão, além de nos perdoar os pecados, Deus também purifica – com o Sangue de Jesus – nosso pobre coração. Cumpre-se o que pedimos no Salmo: “Criai em mim um coração que seja puro, saime de novo um espírito decidido!” (Sl 51,12). É igualmente do coração, porém, que vem todo o bem! Ele pode conferir um sentido sobrenatural – de amor – até às menores ações de nossa vida. Ele é como um altar, de onde oferecemos a Deus nosso sacrifício de louvor. Com o coração, adoramos a Deus, bendizemos, intercedemos e perdoamos ao próximo. E, ainda que estivéssemos impossibilitados de agir e de nos mover, se pudéssemos dirigir, do fundo do coração, um único ato de amor a Deus e a um irmão, faríamos uma grande coisa, pois Deus “não despreza um coração contrito e humilhado” (Sl 51,19). Peçamos ao Senhor que nos dê um coração semelhante ao Seu, repleto de pureza e amor.


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