Jornal Lampião - Edição 29

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ILUSTRAÇÃO POR BRUNO MINÉ


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LAMPIÃO

OPINIÃO

DEZEMBRO DE 2017

ARTE: JOÃO R. NEGROMONTE

EDITORIAL

ENTRE OLHARES

Filhos da rua Seres humanos são diretamente influenciados por um ambiente e um tipo de comportamento. Crescemos sob a ótica dos nossos pais, orientados a partir das suas crenças e escolhas. No entanto, ao longo da vida, esses princípios aprendidos na infância começam a ser interpretados de outras formas, partindo da concepção de que cada indivíduo tem a autonomia dos próprios gostos, atrelados aos seus objetivos e costumes. Essa construção pessoal que define o modo de viver e de agir de cada um é geralmente conhecida como personalidade. Já nas relações sociais aprendemos o significado de diversidade e o quanto ela é importante. Quando personalidades e ideologias diferentes se encontram, surge o espaço das críticas que, na maioria das vezes, vêm para expandir horizontes e evoluir o nosso modo de pensar e nos posicionar, bem como a nossa ideia de cultura. Eis que surge desse contato com o novo, o sentimento de pertencimento, uma sensação na qual símbolos e lugares expressam medos, valores, vícios, virtudes e aspirações. Pertencer a um espaço ou grupo leva a criatividade e o pensamento crítico a ultrapassarem as barreiras da censura, nos fortalece e faz com que a sociedade se identifique com nosso modo de viver ou, ao menos, respeite nossas escolhas. Quando ficamos à vontade para ser quem somos, as risadas ficam mais leves. Não é que os momentos de tristeza ou decepção acabem, entretanto, eles não excluem e nem são motivos de vergonha e podemos, assim, fazer nosso próprio uso do espaço público. Atualmente, no Brasil, mesmo que a passos lentos, caminhamos

para essa realidade. É uma pena que, em pleno século vinte e um, precisamos assumir que vivemos em um fascismo disfarçado de democracia. Nossos governantes mantêm as rédeas da população, determinando, mesmo que de forma indireta, a nossa forma de pensar e de se comportar, fazendo com que diversos grupos sociais, de gênero ou raça, sejam diariamente diminuídos, isolados e violentados por nossa sociedade predominantemente machista, preconceituosa e excludente. Temos a necessidade de ir para a rua, ocupar o espaço público, transmitir cultura e conhecimento, propor debates e discussões acaloradas, disseminar a arte e a música, tocar as pessoas, suas mentes e corações, sem que governo, instituição ou cidadão algum interfira no nosso direito de ir e vir. Sonhamos com um mundo em que os argumentos sejam as armas, o conforto e a salvação, que a educação seja valorizada e a informação seja veiculada sem qualquer tipo de censura, em defesa da liberdade de expressão e principalmente em prol do povo, pautada na veracidade dos fatos. Nesta edição de número vinte e nove do LAMPIÃO iremos abordar essa sensação de pertencimento e apropriação do espaço público, onde não se deve existir qualquer tipo de preconceito, abuso de poder ou uso da violência. Como alunos e futuros profissionais, queremos dar uma nova cara ao jornalismo, fazendo um produto dinâmico e prazeroso de ler. O nosso objetivo é dar voz a quem não tem, servindo à população de Mariana e Ouro Preto, afinal de contas, a Universidade não é o único lugar em que a diversidade deve prevalecer.

LAMPEJOS

OMBUDSMINHOS

O sistema de cotas ajuda a trazer mais democracia para a Universidade. Bruna Caetano, p. 3

O racismo, colorismo e preconceito são os causadores do maior índice de vitimas negras. Sidnéia Santos, p. 5 A gente tinha o porto seguro da gente que era o Bento. Maria das Graças Quintão, p. 6

LAMPIÃO

MONIQUE CAMPOS

Com o intuito de aprofundar as competências da leitura e escrita na Instituição Prisma de Ensino, renomeado como Colégio Flecha, a professora Sara Helena Quintino, 33 anos, criou a “Oficina da Escrita: Leitura e Produção Textual”. Os alunos do 8º ano do ensino fundamental, avaliaram e criticaram as edições passadas do LAMPIÃO, exercendo uma função próxima à de um ombudsman. Separamos alguns trechos: “O Jornalismo possui um papel social muito importante: trazer as informações sobre o mundo para a sociedade e ainda comentar aspectos da mesma. Em minha região, eu o percebo como uma forma mais imparcial de informação (tendo em vista os escândalos envolvendo outras mídias) no caso

do LAMPIÃO, como forma de incentivar os universitários a continuarem estudando e se esforçando.” “Após ler uns cinco ou seis exemplares do jornal on-line LAMPIÃO, eu me senti um pouco mais marianense, apesar de não ter experiências vividas nem em Ouro Preto nem em Mariana, já que sou de outra cidade de Minas, Passos, e já viajei por todo Brasil.” “O jornal LAMPIÃO, tem uma ótima fonte de informações sobre Mariana que circula livremente e abertamente. As temáticas são apresentadas de forma interessante, já que, normalmente são escritas por pessoas de outro estado que comentam vários assuntos sobre nossa cidade, com uma visão diferente dos jornais locais.”

Jornal-laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) / Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) – Reitora: Profa. Dra. Cláudia Aparecida Marliére de Lima – Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Benedito Donadon Leal – Chefe de Departamento: Prof. Dr. André Quiroga Sandi – Presidenta do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Jan Alyne Barbosa Prado – Professores Responsáveis: Phellipy Jácome (reportagem e multimídia), Ana Carolina Lima Santos (fotografia), Dayane Barretos (planejamento visual) – Editor-chefe: Lucas Santos – Equipe de reportagem: Clara Lemos, Érica Rangel, Luciana Gontijo, Sandro Andrade, Sandro Aurélio – Equipe de fotografia: Fred Alves, Thais Silva – Equipe de arte: João Renato Negromonte, Júlia Rocha, Tati Marques – Multimídia: Anna Chaves – Monitoria: Fábio Souza, Laís Stefani, Tainara Torres – Colaboração: Bruno Miné, Janaina Oliveira, Laís Stefani, Larissa Helena, Monique Campos, Rayana Almeida, Tainara Torres – Agradecimento: Sara Helena Quintino, Instituto Prisma / Colégio Flecha, Jornal A Sirene – Tiragem: 3.000 exemplares – Endereço: Rua do Catete, nº 166, Centro, Mariana-MG. CEP: 35420-000

“As reportagens que mais me marcaram foram da edição Ano 6 - Nº22 - Março de 2016, intituladas “Ser Território” e “Nenhuma Voz é precisa, mas é precisa” que se referem à tragédia do desmoronamento da barragem e suas consequências, em busca de uma reflexão do ocorrido.” “Esse jornal é muito importante para a região de Mariana, pois as vezes se nota que são muito poucos jornais com caráter expositivo como o LAMPIÃO circulando entre os marianenses, esse jornal desenvolve um ótimo papel na sociedade dessa cidade, pois é um dos únicos que realmente indicam/expõem os fatos detalhadamente, por exemplo mostrando dados estatísticos, fontes confiáveis e uma estrutura de conteúdo e formatação textual, tanto em sua versão online quanto na offline.”

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DEZEMBRO DE 2017

LAMPIÃO

CIDADES

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ARTE: JOÃO R. NEGROMONTE

Tradicional feira em risco Prefeitura de Ouro Preto poderá ser obrigada a retirar artesãos do Largo de Coimbra. Motivo é um processo do Ministério Público, que alega irregularidades no local. Feirantes possuem o desejo de adequar e melhorar o espaço, tornando-o Patrimônio Imaterial THAÍS SILVA

Clara Lemos

A Feira de Pedra Sabão, localizada no Largo de Coimbra corre o risco de ser removida. O motivo é uma ação civil, aberta em 2004 pelo Ministério Público (MP), que está em fase de alegações finais. A acusação é de que um feirante teria construído uma barraca de caráter permanente, sem autorização do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Prefeitura de Ouro Preto responde por negligência quanto às alterações e, caso perca o processo, será obrigada a retirar todos os artesãos do local no prazo de 90 dias, com multa diária no valor de 10 salários mínimos em caso de descumprimento da ordem judicial. De acordo com laudo pericial, todas as barracas da feira são removíveis, mas haveria

dano visual que contrastaria com a beleza arquitetônica do local. Consta no documento que, para reparar esses danos, um estudo deveria ser feito para troca dos materiais das barracas. Em parecer, o Iphan afirma que nenhuma barraca da feira possui autorização para instalação. A Prefeitura, durante o processo, alega que a solução seria regularizar o uso do espaço público com o aval do Instituto. Segundo a Associação dos Expositores do Largo de Coimbra (Adelc), os artesãos não participaram das discussões e somente nas fases finais do processo souberam que poderiam ser deslocados, o que traria vários prejuízos para os trabalhadores. A feirante Joelma Guimarães, 34 anos, diz que: “em momento nenhum, nós, principais interessados, fomos consultados. Eles querem nos levar para um espaço que acreditam ser melhor para nós,

mas não nos perguntaram o que queremos”. No processo judicial, o MP afirma que os feirantes não ficariam desamparados, pois a antiga Santa Casa de Ouro Preto seria transformada em um espaço de concentração para atividades artesanais. As obras do Paço da Misericórdia, como também é conhecido, estavam previstas para acabar no fim de 2016, como mostra a edição 23 do LAMPIÃO, de julho daquele ano, na notícia “Falta pouco para o Paço”. Um ano e meio depois, o local continua sendo reformado pela Prefeitura em parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico de Ouro Preto (Adop). Segundo a colaboradora da Adelc, Karine Silva, 28, no plano de 2006 para captação de recursos para a construção do Paço apenas 18 boxes foram reservados para os feirantes, na área externa do prédio. Esse projeto, entre-

Histórico de ocupação 1856

Mercado de Tropeiros

1940

1974

Cotas colorem universidades Sandro Aurélio

Sancionada em 2012, a “Lei de Cotas” proporcionou o acesso à Universidade Pública para pessoas que, sem este mecanismo, dificilmente estariam no Ensino Superior em nosso país. As cotas nas Universidades fazem parte de uma política muito maior, as chamadas Ações Afirmativas, que visam combater discriminações e aumentar a participação de grupos historicamente excluídos no ingresso à educação, saúde e emprego. No caso do sistema de cotas, ele funciona assim: a cada 100 vagas em Instituições Federais, 50 são destinadas exclusivamente para alunos oriundos de escola pública. As outras 50 são para ampla concorrência. Dentre as 50 vagas para cotistas, há subdivisões específicas para pretos, pardos e indígenas, e, a partir de 2015, também para pessoas com deficiência. Bruna Caetano, paulistana de 28 anos, teve sua realidade transformada ao entrar na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) pelo mecanismo das cotas raciais. A aluna de História também é membro do Coletivo Negro Braima Mané e minis-

tra aulas para jovens apenados. Ela nos conta sobre a mudança na sua vida ao entrar no Ensino Superior.

historiadora, quero muito trazer a nossa história. Estando aqui é que cumprimos com essa demanda.

COMO VOCÊ FICOU SABENDO DA EXISTÊNCIA DA POLÍTICA DE COTAS? Fiz um cursinho pré-vestibular comunitário na minha cidade, em São Paulo, e nesse cursinho já eram discutidos temas de questões raciais e sociais, até pelo caráter popular da instituição. Então foi lá que eu fiquei sabendo. Entrei na UFOP no segundo semestre de 2012.

O QUE VOCÊ FAZ PARA QUE MAIS PESSOAS TENHAM ESSA OPORTUNIDADE? No Presídio de Mariana nós damos aulas normalmente, mas quando chega perto do ENEM nós damos uma reforçada. Inclusive dois meninos que estavam no presídio foram aprovados para a UFOP. Tem essa forma que a gente age e também tem o boca-a-boca, que é onde informamos o que sabemos sobre cotas e tudo mais. Eu acho daora inclusive falar que é público, que não é pago, porque muitas pessoas acham que a faculdade é paga. E aí eu também vou explicando o sistema de acolhimento e permanência, que é possível receber bolsa e tal.

A POLÍTICA DE COTAS CUMPRE COM O OBJETIVO DE TORNAR A UNIVERSIDADE UM LUGAR MAIS DEMOCRÁTICO? Com certeza. Pensando nas cotas raciais, quando nós entramos, nós transformamos o espaço. Não adianta virem pessoas que nunca passaram por isso, quando estamos aqui, nós forçamos para que muitas coisas mudem. O sistema de cotas ajuda a trazer mais democracia para a Universidade. Por exemplo, quando existe um médico negro, ele vai trazer questões e demandas mais específicas do povo negro. Eu, como

COMO FUNCIONA O COLETIVO NEGRO BRAIMA MANÉ? Eu sou parte do primeiro boom de cotistas. E quando cheguei, as moitas [uma das moradias universitárias da UFOP em Mariana] ainda não eram socioeconômicas.

Mercado Municipal

Feira de Artesanato

Fonte: Associação dos Expositores do Largo de Coimbra: (ADELC)

Incerteza. Artesãos mantêm atividade apesar da dúvida sobre permanência da feirinha em frente à Igreja São Francisco de Assis

tanto, sofreu alterações. O secretário municipal de Turismo, Indústria e Comércio, Felipe Guerra, 34, diz que o novo plano será entregue até o dia 28 de fevereiro de 2018 e que nele constará quantos boxes serão destinados aos feirantes. Há 72 barracas na Feira de Pedra Sabão atualmente. Para impedir que a mudança de local seja feita, os artesãos pediram o registro da feirinha como Patrimônio Cultural Imaterial na categoria Lugar, que contou com mais de 16 mil assinaturas da população e foi aprovado com unanimidade na Câmara dos Vereadores de Ouro Preto. O projeto foi encaminhado ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (Compatri) para votação. A prática de artesanato de pedra-sabão é uma forte atividade cultural de Ouro Preto e do distrito de Santa Rita. A Feira possui uma ligação identitária e memorial em relação ao ofício, já que está lá há 40 anos, em frente à Igreja São Francisco de Assis, que possui obras desse material feitas por Aleijadinho. Há, entre os feirantes, o desejo de regulamentação do espaço público e readequação da Feira, estética e estruturalmente. O artesão José de Paula da Costa, 79, diz que: “tirar a gente daqui, só se a Igreja for junto.”

THAÍS SILVA

Orgulho. Bruna Caetano luta por renovação do espaço universitário

Com o tempo, foi entrando mais gente preta e mais gente periférica. Você se colocar como negro em uma sistema completamente elitista é complicado e pode gerar perseguições institucionais. Por exemplo, sempre questionei o porquê de não termos referências africanas e nem mesmo latinoamericanas. E eu sinto que existe um incômodo por parte de alguns professores, que não aceitam terem de estudar coisas que nunca estudaram. Aí nós criamos o coletivo para que pudéssemos nos

organizar enquanto grupo e não só pessoa física. Braima era um menino da Guiné-Bissau que fazia Economia na UFOP e morava nas moitas. Ele morreu afogado em uma cachoeira em Passagem. Quando nós chegamos aqui e percebemos uma bolha universitária, a gente quis sair disso. á demos palestras em várias escolas e também em comunidades de Mariana. Damos diversas oficinas sempre ligados a temas sociais, mas também abordamos outras temas como sexualidade, por exemplo.


LAMPIÃO

4 ESPECIAL

SETEMBRO DE 2017

ARTE: JÚLIA ROCHA

ILUSTRAÇÃO POR JANAÍNA OLIVEIRA

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O risco de ser assassinado é três vezes maior para jovens negros do que para brancos, segundo relatório de Homicídios na Adolescência no Brasil, da Unicef, que analisa dados de 2014. Quase 22 mil pessoas foram vítimas de policiais nos últimos oito anos. 76% delas são negras.

LUCIANA GONTIJO

A caminho do show dos Racionais Mc’s, em Ouro Preto, ocorrido em setembro deste ano, o carro em que estava o jardineiro Igor Mendes, 20, foi parado pela Polícia Militar (PM) no Morro da Forca. Ao receber comando para descer do automóvel, os passageiros declararam em depoimento à PM ter escutado barulho semelhante ao de bomba. Quando se deram conta, Igor havia sido atingido na cabeça por um tiro de fuzil. O agente responsável por efetuar o disparo alegou em testemunho ao Ministério Público que o jovem teria levantado objeto semelhante a um celular à cabeça, que foi confundido com uma arma. Somam-se 21.987 vítimas decorrentes de operações policiais no país nos últimos oito anos, com aumento de 94% entre 2009 e 2016 de acordo com o 11° Anuário Brasileiro de Segurança Pública. “Não acho que tenha mais negros na cadeia por cometerem mais crimes. Eles são mais vigiados. Os escravos foram à Guerra do Paraguai para ganhar a alforria, porém foram designados a subempregos. É uma transição que não foi feita”, defende a pró-reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Natália Lisbôa, 34. A diretora de Promoção da Igualdade Racial em Ouro Preto, Sidnéa Santos, 41, critica o ideário de uma democracia racial e argumenta que “em 1933, durante pleno processo de higienização da população brasileira, Gilberto Freyre nem de longe acertou ao falar de uma convivência pacífica entre as raças quando escreveu Casa Grande e Senzala”. Vários casos envolvem abordagens violentas, como sustenta a promotora de Justiça de Ouro Preto, Luíza Helena Trócilo Fonseca, 60. Há não muito tempo, um comerciante teve a casa invadida e foi assassinado por policiais após desacatá-los. Apesar dos agentes declararem legítima defesa, a promotora conta não ter achado necessária abordagem tão agressiva impulsionada por um desacato. Além disso, afirma ser comum haver queixas como perseguição policial, revistas constantes e agressão física durante as abordagens, especialmente em processos de flagrante. As investigações por violência policial em Ouro Preto param em determinado ponto. Isso ocorre majoritariamente por transferência, férias do agente ou falta do exame de corpo de delito, de acordo com Trócilo. Fatores como pressão psicológica e cobrança extrema, unidos ao desgaste físico

aos quais são submetidos desde o treinamento e a sensação de impunidade, contribuem para que esses policiais levem alguns fatos para a vida pessoal, segundo Soldado Diogo* da Polícia Militar de Belo Horizonte, 29. “Por exemplo, o policial sempre prende o mesmo cara e ele nunca fica detido. Isso acaba gerando uma revolta, às vezes o policial dá um tapa desnecessário”. O pm alega que o desgaste psicológico ocorre durante todo o curso, além do militarismo demasiado, como exposição ao sol e à chuva durante o treinamento e alto rigor físico exigido. O fortalecimento das desigualdades pela antidemocracia racial Colorismo ou pigmentocracia são termos usados para tratar a vulnerabilidade social conforme níveis da pigmentação na pele. A insistência na tecla da igualdade acaba por limitar debates sobre o tema, dificultando o discernimento entre crimes que carregam fardo racial, como aponta guia da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2011 para tratar denúncias de discriminação étnico-racial. Em debate promovido pelo DizMariana, no bairro Cabanas, em Mariana, João* e Renato*, 18 e 21, ao serem questionados sobre a abordagem, respondem que são parados em qualquer lugar, além de “tomar geral” sem motivos. Destacam também que “o ruim da polícia é que cada vez que eles enquadram, é uma surra diferente. Pior que nunca pegam a gente com nada”. Entretanto, o comandante Winder Rodrigues Pinheiro, 54, do 52° Batalhão da Polícia Militar de Ouro Preto, informa que “com certeza não há racismo institucional na PM” e atribui aos infratores o fato da polícia brasi-

leira ser a que mais mata e morre no mundo. “Por nossa legislação ser muito permissiva, as pessoas reagem e enfrentam mais a polícia. Normalmente o policial não ataca, ele defende a integridade e a vida dele e de terceiros”. Além disso, o comandante reforça que as áreas de ocorrência não são permanentes, “porque o problema não é a comunidade, são algumas pessoas que estão lá e que, às vezes, causam problemas por um tempo, até que consiga prendê-lo em flagrante para que ele seja retirado daquele meio no tempo que durar a pena”. Segundo a promotora, as pessoas têm medo quando se trata de policiais e atribui a isso o fato de muitas denúncias não serem fei-

tas. Ademais, Trócilo alega que há sobrecarga de trabalho para a PM de Ouro Preto por causa de uma equipe incompleta da Polícia Civil (PC), que conta com apenas dois delegados para a região. “Aquela polícia que devia te dar segurança, está te deixando insegura. Eles (PC) só estão trabalhando com réu preso, tem inquéritos de dez anos ou mais. O policial militar não foi treinado para investigar, essa é uma atribuição exclusiva do delegado de polícia. Enquanto isso, a PM vem tomando funções que não são dela”, ressalta. Além disso, a diretora de Promoção da Igualdade Racial afirma que o estereótipo de um criminoso no Brasil, não é de uma pessoa

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Caiu uma sacola minha com alguns remédios, pedi para o policial ter cuidado porque eu tinha acabado de comprar, ele pisou em cima e disse ‘pode deixar’. Então, ele pegou os dois pacotes de fralda geriátrica que eu tinha comprado para minha avó, começou a bater nos pacotes e afirmou que iria abrir para ver o que tinha dentro. Eles ainda estavam lacrados, eu tirei a nota fiscal e mostrei. Aí falei que se tiver que me levar pra delegacia, pode levar! Por causa desse pacote, eu vou! J. S., 21.

FONTE: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA 2017


SETEMBRO DE 2017

LAMPIÃO

ESPECIAL

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ARTE: JÚLIA ROCHA

CHEGA DE MORTES E ˜ RACISTAS PRISOES

O MOVIMENTO MAES DE MAIO FOI CRIADO POR FAMILIARES DAS VITIMAS DE HOMICIDIOS COMETIDOS EM 2006 POR GRUPOS DE EXTERMINIO LIGADOS A POLICIA MILITAR NO ESTADO DE SAO PAULO. CENTENAS DE PESSOAS FORAM ASSASSINADAS NOS “CRIMES DE MAIO”, COMO FICARAM CONHECIDOS.

branca. “O racismo, colorismo e preconceito são os causadores do maior índice de vítimas negras”, destaca Santos. De acordo com o Guia de Enfrentamento ao Racismo Institucional realizado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, o racismo pode ser estrutural (quando há discriminação entre pessoas por crença de inferiorização racial negra) ou institucional (quando não há a mesma prestação de serviço e tratamento em decorrência do preconceito que já estava instaurado no indivíduo). Em Mariana, a Prefeitura firmou uma parceria com o Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA) e deu início ao projeto DizEnrola para integração do órgão público com a comunidade. As atividades variam entre capoeira, rap, hip hop, além de conversas para compreender as necessidades da região e tratar questões como racismo, preconceito e desigualdade que estão em maior evidência nas periferias. Segundo Douglas Sant’anna, 33, funcionário da Prefeitura e colaborador do projeto, “não existe política pública se a gente não entende o outro lado. Se for de maneira contrária, é impositiva e essa não é a função do programa”. O Instituto Igor Mendes está em processo de criação para estimular oficinas culturais e fortalecer a identidade do morro, reafirmando a importância social e humana em

Ouro Preto, como descreve Nayara Mendes, 21, irmã do jovem assassinado. “Tem um rapaz que minha mãe tá ajudando que já teve envolvimento com o crime e agora está tentando ressocializar. Quando ele era criança, o pai agrediu a mãe e acabou agredindo ele também, que acabou desenvolvendo um problema mental. Além de ser o mais novo de muitos irmãos, então só comia se sobrasse. Quando minha madrinha perguntou o que ele tinha vontade de comer, ele chorou. Eu o conheço desde sempre mas julgava por não entender pelo que ele tinha passado. Meu irmão vivia dizendo para a gente não julgar por não saber e só ali entendi: o inferno era na casa dele. Aprendi pela dor e não posso esperar passar para deixar isso pra lá”.

* Nomes fictícios para preservar a identidade das fontes

PARA DENÚNCIAS

DISQUE 181 sigilo absoluto

7.554 PESSOAS PERDERAM SUAS VIDAS ~

~

~ EM INTERVENCOES POLICIAIS, DENTRO E FORA DE SERVICO, ENTRE 2015 E 2016.

FONTE: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA 2017


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lampião

cultura

Arte: tati marques

dezembro de 2017

rayana almeida/umami

Encontros e recomeços na Feira Noturna de Mariana Com dificuldades de adaptação na sede, atingidos pelo rompimento da barragem buscam, no evento, um novo espaço de pertencimento

Érica rangel

Érica Rangel

Música, gastronomia e entretenimento: uma junção que vem dando certo nas noites de quintafeira na Praça do Ferroviários, em Mariana. Inaugurada em 6 de julho de 2017, a Feira Noturna, idealizada pela Comissão dos Atingidos, é um projeto de sociabilização dos exmoradores do distrito de Bento Rodrigues com a sede do município. A iniciativa, financiada por verbas administradas pela Arquidiocese de Mariana, possibilitou a transformação do lugar em um espaço de reencontros e de novas conexões. Uma das frequentadoras mais assíduas da Feira Noturna é Maria das Graças Quintão, 60 anos, ex-moradora do Bento. Para ela, o evento serve para manter vivo o vínculo com os amigos e é uma de suas poucas alegrias. Isso porque após ter seus laços sociais afetados pelo rompimento da barragem da Samarco, o único lugar para onde sai na sede da cidade, além da missa para o pessoal do Bento, é a feira, onde sabe que poderá rever muitos dos antigos vizinhos. Ela conta que vai à praça para matar as saudades, conversar e, com isso, diminuir um pouco a distância com os companheiros. “A gente morava todo mundo pertinho, era uma família. Aqui tudo é longe, lá em Bento a gente chegava na praça e encontrava todo mundo e aqui ficou muito difícil”, alega. Agora, o cotidiano de Maria é bem diferente do vivido há dois anos. O apartamento em que reside à Rua Bom Jesus é o oposto de sua casa no antigo distrito, que tinha o quintal cheio de árvores frutíferas. Ela acorda cedo para iniciar a jornada de trabalho na Policlínica de Mariana, onde é recepcionista. Sai de casa por volta das 7h da manhã e volta após as 17h. “Todos os dias da semana são assim”, afirma. Antes da tragédia, Maria morou por um período na sede de Mariana para trabalhar. Devido à baixa circulação de ônibus com destino ao distrito nos sábados, quando não conseguia carona, ela fazia o percurso para Bento a pé. A satisfação de estar em casa, como ela mesma afirma, compensava todo esforço. “Me pergunta se alguma vez eu fiz o percurso de lá pra cá a pé? Jamais!

Antes, tudo que a gente do Bento tinha que fazer, era em Mariana. Mas era um lugar onde a gente vinha e voltava. A gente tinha o porto seguro da gente que era o Bento.” A gente morava todo mundo pertinho, era uma família” Maria das Graças

Entre as muitas pessoas que tiveram suas rotinas drasticamente alteradas pelo maior desastre socioambiental do país também está Maria Félix de Souza, 69, agricultora no antigo distrito. Dona Maria, como é mais conhecida, faz da feira um caminho para lutar contra a depressão, desenvolvida após a tragédia. Para ela, a Praça dos Ferroviários é um ponto de encontro entre amigos. Agora, obrigada a morar na sede do município, ela diz sentir-se isolada. No Bento, plantava e ajudava na produção da geleia de pimenta biquinho e, por isso, estava diariamente com muitos de seus companheiros que realizavam a mesma atividade. Hoje, ao contrário de todos os dias em que acordava cedo para preparar a terra e plantar, Dona Maria sai de casa apenas para praticar atividade física e também para cuidar de uma horta comunitária criada para os moradores do Bento. A horta funciona em um espaço alugado pela Fundação Renova para que os atingidos possam plantar verduras e legumes para consumo familiar. Segundo Maria Félix, apenas dez famílias cultivam nesse espaço, localizado no bairro Colina. É necessário, a cada morador da sede, reconhecer o atingido como o marianense que é, e não revitimizá-lo ou hostilizá-lo” Karine do Nascimento

Na Feira Noturna, ela se reúne com os amigos próximo à barraca da Sandra que, em Bento Rodrigues, era proprietária de um bar famoso por suas coxinhas. Esse continua sendo uma referência para os antigos moradores do distrito, pois assim como acontecia após as missas, continuam se encontrando, só que agora na barraca da feira.

Para a empresária do ramo alimentício, Sandra Tomirdes Quintão, 45, a praça é mais do que um lugar de encontro com os amigos. É também um local para refazer a clientela e fidelizar novos fregueses. Com a mudança repentina para a sede do município, ela busca superar os desafios e tem feito sucesso entre as muitas barracas montadas na Feira Noturna. A praça tornou-se o novo ambiente da família marianense. O empresário Márcio Dias, 47, afirma que a cidade precisava de um local como esse. Segundo ele, o “Jardim”, outro espaço muito frequentado pelos habitantes, está saturado e, por isso, a feira transformou-se em um lugar prazeroso para curtir com a família. O lugar escolhido para possibilitar a construção, realização da Feira Noturna e a interação entre sede e distritos foi uma decisão acertada. Entretanto, esse processo não foi fácil, como afirma Karine do Nascimento, 39, funcionária do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e uma das organizadoras do evento. “É necessário, a cada morador da sede, reconhecer o atingido como o marianense que é, e não revitimizá-lo ou hostilizá-lo.” Milton Manoel de Sena, 62, também organizador do projeto, defende que o propósito da feira é apoiar todo o marianense sem distinção de direta ou indiretamente atingido pela tragédia, pois como ele mesmo afirma: “Mariana foi toda atingida”. Ele ressalta que ações similares são necessárias para equilibrar a economia local e apoiar as famílias. Segundo o Pe. Geraldo Martins Dias, 53, coordenador Arquidiocesano de Pastoral, não há urgência em esgotar os recursos doados aos atingidos, já que a instituição espera apoiar futuros projetos quando eles já estiverem nas novas comunidades. Apesar de todas as ações realizadas na busca de uma melhor interação entre distrito e sede, o sentimento de pertencimento que fica na fala de cada ex-morador de Bento é oscilante. O reconhecimento da Feira Noturna como espaço de sociabilização vem sempre acompanhado de comparação e de saudade. É latente a espera pelo “Novo Bento”, o lugar que será, para cada um, realmente deles.

Saudade. Longe da Feira, Maria das Graças sente mais falta do Bento fred alves

Refúgio. Horta é uma alternativa para distração de Maria Félix


dezembro de 2017

lampião

ensaio

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Arte: tati marques

Marcas que Foto e Texto: Larissa Helena e Tainara Torres*

Dois anos após o maior desastre socioambiental do Brasil, seus rastros, restos e ruínas teimam em fazer parte do que eram quartos, salas e memórias dos sobreviventes. A lama que invadiu bagunça, afeta e muda. Na travessia do cotidiano, se fazem presentes os vestígios de um crime em que a injustiça e a angústia permanecem. *Repórteres a serviço do Jornal A Sirene


8 patrimônio

lampião

Arte: tati marques

dezembro de 2017

laís stefani

Sandro Andrade

Longe dos gabinetes e papéis timbrados, os sinos estão mais altos do que bandeiras em mastro e presentes nas grandes solenidades. Símbolo não oficial do Estado, eles nos remetem às terras mineiras com seus sons que anunciam o passar das horas, o alerta para desastres, a morte e o chamado para missa e procissões. Mas quem são os responsáveis que se arriscam em torres para badalar este ícone visual e sonoro de Minas Gerais? O ofício de sineiro foi registrado em 2009 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Por receio de ver esse dom se perder no tempo, tramita no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a criação do Inventário Nacional de Referências Culturais do Toque dos Sinos, que também contempla Ouro Preto, onde a atividade encontra dificuldades para prosseguir. “O problema maior e que requer medidas é a diminuição do número de sineiros ativos. Isso causa medo que, num futuro próximo, esse ofício torne-se somente uma memória da cidade”, alerta João Guilherme Lino da Silva, 31 anos, e que há três é sineiro. A redução é constatada pela própria categoria. “Há uns 10 anos, quando comecei, éramos em torno de 60 sineiros, hoje somos 20. Isso contando com os que raramente aparecem para tocar”, assegura Matheus Araújo Marques, 25. Escadarias perigosas, sinos rachados e falta de permissão para tocar são empecilhos constantes, apontados por Thiago Neves, que exerce o ofício desde os 12 anos. “Eu era coroinha no Pilar e, assim como a maioria das crianças, por curiosidade me interessei a subir nas torres com o pessoal das antigas e aprendi”, ressaltando que hoje, aos 21, se sente realizado com o que faz. Dos poucos representantes que deram continuidade à tradição de família, Arthur Ramos, 21, é presidente da Associação dos Sineiros de Ouro Preto (Asop) e toca desde os 11. “Meu pai e tios eram sineiros no Pilar e despertaram em mim o desejo de ser. Faço pelo amor que tenho ao ofício, que cresce mais a cada vez que toco”, relata. Indispensáveis para a paisagem sonora ouro-pretana, os sineiros produzem melodias que fazem parte do cotidiano de quem mora

ou simplesmente passa pela cidade. “Eles anunciam não só as horas do tempo, mas também a exortação e promoção da fé através das badaladas; sendo agentes que promovem a cultura e religiosidade local”, constata o seminarista Leonardo Sérgio Carvalho, 23. O pertencimento como representante cultural de Ouro Preto está presente na figura do Sr. Jovelino Teodoro da Silva, 75, sacristão na Igreja do Carmo e o mais antigo em atividade. “Toco desde os 7 de idade e hoje é satisfatório ver, de cima da torre, muitas pessoas paradas para filmar nosso trabalho. Muitas delas nos aguardam descer para tirar fotos, parabenizar e fazer perguntas”, destaca com orgulho. O Mestre dos Mestres Os sineiros ouro-pretanos têm na saudosa lista dos “Mestres”, categoria dos já falecidos, o nome de Amador Gomes, personalidade que fez história e tornou-se referência para gerações em seu ofício. Nascido em 1925, no distrito de Santa Rita de Ouro Preto, Amador mudou-se com a família para a sede do município dez anos depois, indo morar na casa que hoje abriga o Museu do Oratório, ao lado da Igreja do Carmo. Aprendeu os artifícios das torres e seus sinos com os tios, Pedro e Geraldo Gomes, ambos sacristãos. Dos nove filhos, nenhum seguiu a carreira de sineiro. Ainda assim, guardam lembranças da do pai, como declara um deles, José Tomaz Gomes, 62. “Eu trabalho com restauração de casas e sempre o pessoal toca no nome dele e conta suas histórias e o comprometimento que tinha com o que fazia”. Tomaz ressalta que “a rapaziada sempre vinha pedir dicas a ele, que as dava com alegria e detalhes. Mesmo daqui de casa, quando ele ouvia que o ritmo do toque estava errado, resmungava”. Na ativa somente até os anos 1960, Amador Gomes tornou-se famoso não só pela memória que guardava os toques e pela maestria com que criava novos, mas também por sua participação em momentos marcantes na história do Brasil. Ele foi o responsável por badalar o sino na morte de Tancredo Neves em 1985, nos 250 anos de nascimento do escultor Aleijadinho, em 1987, e nos 200 anos da morte de Tiradentes, em 1992.

Ofício. Desde criança, Thiago Neves é sineiro na Basílica de Nossa Senhora do Pilar

Momentos únicos embalados pelo sino da Igreja do Padre Faria que, segundo Dom Francisco Barroso Filho, 89, “é modesto quanto ao seu tamanho, mas sonoro e o mais importante”. O bispo emérito refere-se à campana fabricada com bronze e ouro em 1750, a mesma que Amador, a pedido do então presidente Juscelino Kubitschek, levou de Ouro Preto para dobrar na Praça dos Três Poderes durante a inauguração de Brasília. “Sem o sineiro, não existe sino; mas sem o sino, ainda assim existirá o sineiro. Amador

Gomes, mesmo falecido há 16 anos, continua sendo um nome que engrandece a cultura local”, afirma Zaqueu Astoni, 36, secretário de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto. Em 2001, os sinos tiniram em luto na despedida de Amador, falecido aos 75 anos. O legado do “Mestre dos Mestres” permanece presente e, em sua homenagem, foi aprovada a Lei nº 1.055, de 16 de outubro de 2017, criando o Dia Municipal dos Sineiros, a ser celebrado anualmente em 13 de outubro, data de seu nascimento. laís stefani

Parceria. Respeito e cumplicidade marcam a relação entre homem e metal; sineiros sempre afagam o sino antes de iniciar as execuções de toques e repiques no alto das torres


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