TCC Andressa Anhaia Benites

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p. 28) diz que “para o vendedor de tecidos, era a primeira consagração – o que significava, automaticamente, que já não era mais vendedor de tecidos. Agora era artista.” Logo após, João foi a Santo André comunicar aos pais a nova profissão. Obviamente, foi um escândalo. Para os Rubinato, acostumados ao trabalho bruto, braçal, ser artista não era trabalho. De acordo com Campos Jr (2004),

Seu Fernando Rubinato podia ser turrão, mas o comentário apenas refletia o pensamento da sociedade paulistana e brasileira da época. Artista, na década de 30, era sinônimo de vagabundo, fosse ele palhaço mambembe ou poeta parnasiano. Cantor de rádio, então, nem se falava. (CAMPOS JR, 2004, p. 29)

O que João não contava era com a pouca aceitação de suas interpretações no rádio, mesmo cantando os melhores sambas cariocas. Como suas apresentações não empolgaram, acabou sendo despedido da rádio. Ao menos, nas poucas semanas como cantor na Cruzeiro do Sul acabaram lhe rendendo alguns contatos, como Jorge Amaral, que trabalhava na Rádio São Paulo. João conseguiu um teste, cantou várias músicas e, ao final, Jorge Amaral lhe de uma resposta: “Sua voz é boa pra acompanhar defunto”. Diante da negativa de Amaral, João refletiu se seria verdade mesmo que ele não teria vocação pra cantor. Mesmo depois da situação embaraçosa por qual passou, João não desistiu de ser cantor de rádio. Vagas haviam aos montes, mas João não conseguia nenhuma delas. João, depois de terem lhe fechado tantas portas e sem admitir a falta de voz, chegou à conclusão de que o problema residia em seu nome de ascendência italiana. “Onde já se viu um sambista chamado João Rubinato?” Ele decidiu que era preciso adotar um nome artístico, um pseudônimo. Mas qual? No bar, João Rubinato pensava muito, mas não conseguia achar um nome que combinasse com samba. Foi então que seu amigo, Adoniran Alves, sugeriu que usasse seu nome. Pronto: o nome já tinha, mas e o sobrenome? João então lembrou de um cantor e compositor de quem era fã, Luiz Barbosa e, assim, compôs o nome. Campos Jr (2004, p.32), diz que “concebida no bar, gestada rapidamente em solução alcoólica, nascia a figura de Adoniran Barbosa”. Contudo, o novo nome nada fez mudar em relação à dificuldade que Adoniran tinha em fazer sucesso como cantor de rádio em São Paulo. Fazia algumas apresentações em algumas emissoras, compôs alguns sambas, mas nada que lhe rendesse muito. Foi no início de 1935 que a maré de azar de Adoniran começou a mudar: a Rádio São Paulo precisava de gente para cantar marchinhas na transmissão de carnaval daquele ano. Precisavam de pelo menos


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