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CAPA | FERNANDO ANITELLI
from Cultcom #7
FERNANDO ANITELLI EM BUSCA DA BATIDA PERFEITA
Em nova fase, líder de O Teatro Mágico aposta na essência para despertar o público com o projeto “Voz e Violão” e prepara o retorno da trupe catártica aos palcos
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_ POR GUSTAVO ADORNI

Fernado Anitelli durante apresentação no Teatro Adamastor, em Guarulhos
PRAÇAS E TEATROS LOTADOS, músicas que misturam poesia e crítica social, rostos pintados e acrobacias. Esse era o cenário dos shows de O Teatro Mágico, fundado pelo compositor e poeta Fernando Anitelli, em 2003. Depois de sete CDs, três DVDs e quatro músicas em trilhas sonoras de novelas, os integrantes decidiram parar a trupe em 2016 para trabalhar em projetos pessoais, o que levou Anitelli a uma proposta inusitada no ano seguinte.
A aposta do vocalista foi “Fernando Anitelli apresenta: O Teatro Mágico Voz e Violão”, com músicas já conhecidas do público em novo formato: um show sem as performances circenses e mais intimista, onde o contato com o público é valorizado. Segundo o compositor, a ideia foi retornar às origens das apresentações, como faziam em saraus no início da carreira. O público cobrava por mais momentos de voz e violão nos shows da trupe e, além de atendêlo, a turnê que tem rodado o país quer encontrar uma nova inspiração para a volta da banda, que será em breve.
O poeta afirma que, com essa nova fase, encontrou mais do que buscava. “O que é muito bacana é justamente isso: o pessoal conhecendo a música na sua essência, mostrando poesia, músicas de própria autoria durante o show, participando. Então, em meio a tudo isso, descobri um público criativo”, diz.
Repleto de caras e bocas do artista, o último show que aconteceu em março, no Teatro Adamastor, em Guarulhos, ainda contou com o envolvimento do público em pontuais críticas ao governo federal, com canções como “O Sol e a Peneira – Onde Sobra Intolerância, Falta Inteligência”, o que movimentou as emoções dos presentes no espetáculo.
O músico aproveitou o formato de apresentações para explicar o contexto em que algumas músicas foram criadas, e destaca os lançamentos de “Presente”, em homenagem aos professores, e “Palavra”, gravada depois de 20 anos escrita. “Toda vez que ela entrava no pacote do que vai entrar para o CD, na finalíssima: ‘ah, ela é lenta, vamos deixar as músicas mais para cima’, e entrava uma outra no lugar”, comenta Anitelli, revelando que a canção é uma
homenagem à musa dos poestas. “Acho que o poeta antes de tudo é apaixonado pelas palavras”, complementa.
As canções estão presentes no último show lançado pela trupe no canal oficial no YouTube. Anitelli não acredita mais no formato DVD para divulgação do trabalho. “As plataformas estão se esvaindo e intactas permanecem as poesias. A gente vai lançar um DVD youtubístico, porque não tem nem mais onde colocar o disco”, fala.
O poeta conta que existem outras canções “injustiçadas” compostas para O Teatro Mágico, mais simples e com caráter infantil, as quais ele pretende reunir para realizar o desejo de gravar um álbum para crianças. “Quero muito trabalhar com esse universo”, diz. A inspiração para esse novo mercado da música surgiu por conta do músico Antônio Filho. “Gosto muito dessa coisa de desenho, de brincar com a palavra como os saltimbancos, como Toquinho fez com a música ‘O Caderno’”.
Apesar dos sorrisos conquistados em quase 17 anos, a carreira de Anitelli e da trupe não foi apenas aplausos. Em >


A trupe de O Teatro Mágico completa
2013, o grupo foi convidado a participar da trilha sonora da novela “Flor do Caribe” (Globo) com a música “Canção da Terra (Sociedade do Espetáculo)” e que possui uma crítica social. Parte dos fãs da banda não concordaram com a exposição do grupo no canal de TV, e acusaram os músicos de “traidores”. “A gente foi para a novela porque um DVD nosso, também feito de maneira independente, chegou na casa de um dos diretores da produção”, conta.
Mesmo com a divulgação na TV dividindo o público, o músico revela que a essência do grupo permaneceu intacta. “Entramos pela porta da frente, num canal que vive essencialmente de futebol, novela e um jornalismo duvidoso”, comenta Anitelli. Apesar das críticas, muitos passaram a conhecer o grupo por causa da TV. “‘Canção da Terra’, há 10 anos, já era o hino dos movimentos campesinos no Brasil. Todo acampamento de MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] que você ia cantava ‘Canção da Terra’”.
Anitelli acredita ser importante ocupar todos os espaços culturais disponíveis. “Tem que pluralizar, tem que abrir o leque e foi isso que a gente fez. Então teve crítica, mas também teve muita gente que passou a nos conhecer por causa disso”, explica.
Ao longo dos anos, Anitelli e O Teatro Mágico levaram diferentes gerações aos shows. “O Teatro Mágico tem esse lugar que não tem um nicho específico, as famílias comparecem, é de 8 a 88. Isso é fabuloso”, diz. “O Teatro Mágico ainda encanta com sua arte”.
Novos atos
Por falar em inspirações, Anitelli revela que a trupe voltará com canções inéditas ainda este ano. “A essência já voltou. Já fizemos as canções. O álbum já está pronto. A trupe já está começando a ensaiar”, comenta.
Além da volta do grupo, Anitelli iniciou no YouTube o “Casa Palavra”, um programa de entrevistas com artistas que revelam suas inspirações para fazer arte. As primeiras edições contaram com o ator Ivan Parente, dublador do personagem Tião, em “O Rei Leão” (2019), e o compositor Gabriel Elias, responsável pela música “Anjo Protetor (Outono)” (2018).
Devido ao isolamento por causa da pandemia de coronavírus (Covid-19), o poeta tem feito lives matinais onde recebe convidados para um bate-papo, de cara limpa, além da “Experiência O Teatro Mágico”, com o rosto pintado, onde faz apresentações e interage com fãs ansiosos pelo retorno do conjunto. c

Bruno Faria Fotos


