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ESPECIAL | THIAGO CÓSTACKZ
from Cultcom #7
THIAGO CÓSTACKZ
Cada artista é espelho e antena do seu tempo
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Artista plástico usa diferentes faces unidas para construir uma obra de arte total e democratozar a arte
_ POR RAISSA MARQUES
Foto Divulgação

URBANISMO, ELEMENTOS DO cotidiano, dramas e desejos, futurismo e um cenário pós-apocalíptico. É assim que o artista plástico Thiago Cóstackz descreve como podem ser interpretados os próprios trabalhos, da foto ao filme.
Ao começar a produzir arte, ele achava que apenas um único suporte artístico não resumiria a própria leitura do mundo atual. É com a mescla de cinema, música, performance, poesia, body art, literatura, escultura e fotografia que Cóstackz manifesta uma interpretação do mundo. “Cada artista é espelho e antena do seu tempo. Cada narrativa está conectada com o seu tempo”, filosofa o artista plástico.
Como referência, ele cita o termo “Gesamtkunstwerk”, do autor alemão Richard Wagner (1813-1883), que significa a união de todas as plataformas de arte para compor uma única obra. “Fui muito influenciado por esse pensamento. Além disso, também tenho influências da literatura, sobretudo a eslava, literatura do realismo fantástico, poesia, tradições e o que observo da sociedade”, explica o artista.
Com dois livros lançados, “Pássaro de Fogo”, que rendeu uma exposição na Livraria Cultura em 2017, e “Tupiland Goes To Greenland” (2019), Cóstacks esclarece que as obras fazem parte do mesmo universo e ajudam no entendimento das mostras. “É esse >

“Desde 1500”, performance desenvolvida por Thiago Cóstackz
turbilhão. Às vezes fica confuso para algumas pessoas [entenderem], por isso os livros são tão importantes, para guiar os observadores”, comenta.
Nascido em Natal, (RN), o artista teve uma criação humanista, que o tornou uma pessoa sensível e com olhares mais críticos voltados aos Direitos Humanos e causas ambientais. A conexão e a sensibilidade com a natureza vêm do seio familiar. Descendente do povo Potiguara e autodeclarado indígena, Cóstackz sempre esteve em contato com a cultura dos ancestrais. Sua bisavó, que era pajé, passou a ele todo o conhecimento sobre cerâmicas, alimentos e ervas pela tradição oral.
Os Potiguara lutaram contra a colonização. Na obra “Sky On Fire” (2019), Cóstackz retrata a força dessa etnia povo com um grafismo de guerra chamado “A Resistência Potiguara”. “É por meio dessas pinturas que evidencio o quanto minha origem é importante”.
Elementos como a metamorfose são constantes e característicos nos trabalhos de Cóstackz. Em “Traficado” (2019), ele se pinta como o pássaro “Periquito Cara Suja”, que tem as mãos humanas amarradas, e em “A Morte no Mar Negro” (2019) representa um animal híbrido com barbatanas de tubarão e corpo humano preso em tinta preta, referenciando as manchas de óleo nos mares e oceanos. “Nada em meu trabalho é uma coisa só, tudo tem referência”, esclarece.
“Desde 1500” (2019) é uma obra fotográfica que, para o artista, retrata o auto extermínio de maneira clara. “Não são franceses que estão vindo aqui fazer isso [exterminar povos indígenas do Brasil], somos nós brasileiros que estamos fazendo”, explica.
Cóstackz reconhece que se não usasse a projeção do trabalho e o próprio nome para as causas indígenas estaria renegando parte da vida. “Eu seria muito egoísta se negasse a minha origem, porque parte do que aprendi é parte dessa cultura ancestral. Se hoje faço escultura é porque esse povo ancestralmente passou de geração em geração esse saber”, comenta ele, que é contra a ideia que uma obra não pode ser refinada se ela for acessível. “Não

acredito que uma arte perde significado, o artista torna-se medíocre ou deixa de pesquisar se sua arte o deixa próximo das pessoas”, complementa.
Por ter o costume de visitar as escolas da periferia do estado de São Paulo, como as instituições públicas de Guarulhos, ele afirma que são, na maioria das vezes, os próprios alunos que solicitam as visitações. Na visão do artista, muitos desses estudantes nunca tiveram a oportunidade de visitar um museu, mas tem uma sensibilidade incrível ao observar uma obra de arte. “São adolescentes curiosos que estão desejando saber sobre o mundo. Eles têm vontade de usar seus talentos para mudar o mundo”, conta.
Com os retornos que recebe, Cóstackz diz que mesmo lisonjeado não leva os elogios para o lado pessoal e sim para a mensagem que o próprio trabalho quer trazer. “Sei que essa causa é muito importante. Democratizar a arte é uma questão muito relevante, a arte é muito relevante, e isso está como o centro dessa atenção e amor pelo trabalho que estamos fazendo”, conclui. c

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1. Imagem produzida para o livro “Tupiland Goes To Greenland” (2019)
2. Em “Traficado”, Cóstackz se tranforma em uma figura meio homem meio pássaro