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CINEMA | FESTIVAL ‘É TUDO VERDADE

‘É Tudo Verdade’ no virtual

Importante mostra internacional celebra 25 anos com exibição de séries e documentários, dessa vez via streaming, devido à pandemia de coronavírius (Covid-19)

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_ POR ALEX DINARTE

A CONSOLIDAÇÃO DO Festival Internacional de Documentários “É Tudo Verdade”, que completa 25 anos, vai além da exibição anual para inserir a cultura da produção de documentários e formar público espectador. Para o jornalista, criador e diretor da mostra, Amir Labaki, a receita da estabilidade do evento tem alguns pilares. “A nobreza e a originalidade do cinema não-ficcional, a produção brasileira de documentários em primeiro plano e a promoção das retrospectivas pioneiras para manter público, crítica e realizadores sempre atualizados” diz ele, sobre o evento, que já levou aos espectadores obras de Andrés Di Tella, Frederick Wiseman, Jorgen Leth e Marina Goldovskaya.

O surto de coronavírus adiou a comemoração dos 25 anos, mas não interrompeu o festival. A primeira parte da mostra está disponível no etudoverdade.com.br. “O evento já tinha desenvolvido ciclos que ocorreriam exclusivamente online, como ‘A Situação Cinema’, com cinco títulos, e ‘As Diretoras no É Tudo Verdade’, com dez produções”, explica Labaki. “Diante da brutal realidade da pandemia e com excepcional apoio dos mesmos parceiros [Itaú Cultural, Spcine e Canal Brasil], ampliamos para mais de 64 horas de programação gratuita no ambiente virtual”, complementa.

A etapa seguinte do ‘É Tudo Verdade’ será realizada no segundo semestre. “Será a vez das mostras competitivas, projeções especiais e seminários. Está programada para ocorrer entre 24 de setembro e 4 de outubro”, diz Labaki.

O jornalista demonstra preocupação com a situação pandêmica e acredita na retomada da produção por meio desta temática. “Não houve muito tempo para refletir sobre qual será o impacto específico. Mas é certo que, no campo da produção, haverá uma primeira onda de filmes com diários domésticos e performances caseiras, assim como dramáticas”, projeta. O organizador também cobra atenção do poder público. “Tomara que exista sensibilidade dos agentes públicos e da iniciativa privada em prol tanto da retomada da produção de documentários como do reerguimento do fundamental circuito

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1. Cena da série documental “Herança da Coruja” (1989) 2. Cena de “Maltido - O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (2000)

de salas de cinema”, completa.

Com espaço cada vez maior nas plataformas de distribuição de conteúdo audiovisual na internet, as séries também ganharam lugar na 25ª edição do “É Tudo Verdade”, como é o caso da “Herança da Coruja” (1989). “As séries documentais não são algo inédito, mas a importância do formato seriado ficcional no streaming começa a abrir um novo território para a narrativa nãoficcional”, analisa Labaki.

A indicação do documentário brasileiro “Democracia em Vertigem” (2019), da diretora Petra Costa, ao Oscar, é um marco para a produção do segmento. Com visão crítica, Labaki analisou a escolha da Academia. “É um dos grandes símbolos do círculo virtuoso cumprido pelo documentário nacional nas duas últimas décadas”, realça. Embora não tenha vencido, o jornalista exalta a representatividade e as demais vitórias da obra. “Felizmente foram vários, como as honrosas premiações nos festivais mundo afora, de Cannes a Amsterdã, e as retrospectivas internacionais de igual relevo. Não foi um fato isolado, embora extraordinário”, complementa.

Segundo o crítico Thiago Mendes, especialista em cinema pela Belas Artes, é fundamental ressaltar a representatividade do festival para a produção cinematográfica nacional. “O ‘É Tudo Verdade’ aborda discussões mais profundas sobre diversos temas pertinentes à nossa época e ao nosso entorno, além de revelar novos talentos da cinematografia e dar fôlego aos documentaristas já consagrados” comenta. “O evento também é uma vitrine para exibir novidades, pois muitos nem sempre dispõem de espaço para a distribuição das obras”, aponta.

Segundo Mendes, o contexto documental e a ficção estão bem próximos. “Há uma linha tênue entre os dois, pois toda ficção guarda um grau documental e todo documentário retém algo ficcional, seja na montagem ou na encenação”, aponta Mendes, que cita como exemplo o filme “Nanook, o Esquimó” (1922), nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que o gênero se desenvolvia na Rússia. c

Assista os documentários do festival ‘É Tudo Verdade’ *

“Herança da Coruja” (1989)

O diretor francês Chris Maker, discute o legado cultural e político da Grécia Clássica em 13 episódios

“Maldito - O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (2000)

No filme de André Barcinski e Ivan Finotti, uma a homenagem ao criador de Zé do Caixão

“Já Visto Jamais Visto” (2014)

A obra ganha forma ao contemplar o trabalho de memórias do diretor Andrea Tonacci (1944-2016)

“Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos” (1999)

O filme traz biografias reais ou ficcionais de personagens discutem a banalização da vida

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