Interativo. Um novo olhar sobre Cascavel. 2021. Edição 1.

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Artesãos da Feira do Teatro contam como sua renda diminuiu durante a pandemia.

Uma entrevista com perguntas que nunca foram feitas ao Dirceu Rosa.

Semeando ideais por meio da cultura. As cantigas no MST.

Hip Hop em Cascavel. Das ruas para o centro do palco.

Uma crônica sobre a cultura cascavelense da janela de um ônibus.

Harold Torres. Em cena há cinco décadas Prazer, Black Mamba. A arte drag que empodera.

Sebo do seu Paulinho: o lugar e o homem que guardam histórias.

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CARTA AO LEIT A cultura está em

todo lugar.

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adêmica a publicação ac comum é os o o m tiv co ra a te id In nd O do do ltura é compree os do quinto perío un de al s um lo pe de a s id A definição de cu to uz en prod tro Universitário ições e conhecim para esta Jornalismo do Cen ta portamentos, trad de os so op ur pr C a ss no prát ic as em social. A a di sc ip lin a de culturais es ra terminado grupo sõ pa es G pr ex FA I. as é mostrar rnalismo Impresso Jo de o edição produzida ism al rn Jo de Cascavel. sponsável: r e Jornalista re rnalismo do so Jo es de of o Pr rs cu do projeto i O Interativo é um e busca oporMatheus Bez Batt mo: Assis Gurgacz, qu rio itá rs urso de Jornalis o ve C ni ism U do al o r rn jo do Centr en do rd ão oo uç C riência de prod Camargo ano, a tunizar uma expe Ralph Willians de adêmico. A cada ac te en bi am or impresso em a que será ab Acadêmicos: do escolhe o tem río pe ns 4º ge do da a or rm ab tu e Reportagem: os trazer pautas em lh co es do en ós N ec . er of dado Ana Mar tinazzo grandes veículos, s no r ga lu m ria te que não l. Carol Pagung dade de Cascave nossa visão da ci Gabriel Porta , la sa em o ussã Gabrielle Lira , a partir da disc ão iç ed s hi re ra ei ito le im s pr r do Na João Vitor Maroc e de guiar o olha ad id ss ce s ne do a to ia os sentim a está em Larissa Corre cidade e como el Souza sobre a cultura da Maria Vitória de os lugares. Milena Griz os m uí rib s dist Paulo Rodrigues so de criação, nó es oc pr se da es ca e te Duran s para qu as entre os colega focar as funções e paut Diagramação: sunto escolhido e as o ar nd fu ro ap um pudesse André Almeida da. na sig de a ut pa na Bruna Giordani e ad id ss ce Gabriel Porta ita conforme a ne fe i fo s fa re , ta s ão da A divisão va a diagramaç José Chaulet igiu. Entre elas esta os xt te e a ic que o trabalho ex crôn Izení Teodoro de reportagem, an gr e da st de ão is uç ua prod virt Katiane Fermino óximas páginas pr s na rá ve cê que vo Larissa Correia ”. so es estes pr “jornal im Maria Cecília Pr gido, pois mos Samuel Laia o objetivo foi atin e qu l, ch Ramalho os ve m ca ita as C ed Acr ltural em Tacila Fabiane Es cu e ad id al ur pl s coxias tramos como há Vitoria Carniato suntos que vão da as os am nd fu da ro s já que ap até os ar tista ipal Sefrin Filho do Teatro Munic Charge: . ro at Te do ira Fe Mariana Luzan um fim início ao desenvolver do grande A experiência de como esse é uma o ex pl m co so es ramos projeto impr as edições, espe im óx pr s na e, opor tunidade resentar conteeparados para ap pr s ai m a nd ai r o da cidade esta etudo, nossa visã br so e, ad id al qu údos de de Cascavel. Souza. Maria Vitória de a edição. ª st Editora-chefe de


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OS TERMINAIS DA CULTURA A bordo de um ônibus, te convido para conhecer os caminhos da cultura de Cascavel.

Te apresento Cascavel: uma metrópole em construção. Já deve ter ouvido falar desta cidade, já passou no jornal, mas, por muitas vezes, não foi pelo motivo certo. Aqui temos o Show Rural, a Expovel, entre outros eventos tão ricos e importantes. E hoje, te convido a passear pela nossa Avenida Brasil, conhecendo os diversos “terminais culturais”. Gosta de hip hop? Vou te levar para um terminal que vai te impressionar. Cascavel tem muito para mostrar sobre esse ritmo. Prefere teatro? Temos também! Vamos te apresentar um ator que dedicou sua vida aos palcos. Já próximo ao famoso Trevo Cataratas, que está em reforma, há uma casa com aquelas lindas esculturas, lembra-se? Então, o dono desta casa é o autor destas obras: o senhor Dirceu Rosa.

Ele fez várias obras como o cartão postal de Cascavel, o famoso Dedão. A imagem de Nossa Senhora de Aparecida, na frente da Catedral. Vocês acreditam que foi utilizado mais de 50 toneladas de cimento nesta escultura? Após passarmos pela obra infindável de uma lenda urbana chamada: o Shopping Catuaí, ao lado do Lago Municipal, no centro, temos um ótimo lugar para os amantes da leitura: o sebo do Paulinho. Lá você vai encontrar uma variedade de gibis, discos e livros. Se quiserem levar uma lembrança deste nosso passeio, aqui há ótimas opções. Desviando um pouco da Avenida Brasil, entramos na rua do Teatro Municipal Sefrin Filho, que durante o ano traz várias atrações de shows, peças teatrais, inclusive o Festival de Dança, mas a arte não está presente só no palco.

Ao lado tem o Museu Histórico Celso Formighieri Sperança e a Feira do Teatro. Quem quiser descer nesta estação vai poder experimentar comida, arte e ouvir muitas histórias. Terminando nosso passeio, vou levar vocês para um encontro com um grupo de artistas drags. Cascavel tem várias opções na vida noturna, bares e restaurantes, mas isso é assunto para outra edição, aliás, outro passeio. Te vejo na próxima edição.

POR ANA MARTINAZZO Cascavelense iludida com o Shopping Catuaí, estudante de jornalismo na Unibier e estagiária nas aulas da FAG.

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"MAS ALÉM DO ARTESANATO, VOCÊ TRABALHA?" Artesãos da Feira do Teatro contam como sua renda diminuiu durante a pandemia

POR PAULO RODRIGUES Antes que você pergunte, não tem verduras lá! Mas pode ficar tranquilo que o pastel está garantido. A Feira do Teatro é um pouquinho diferente do que o cascavelense estava acostumado. Focada em produtos artesanais, ela foi criada para ser um ponto turístico e de promoção da cultura aqui em Cascavel e, desde 2018, vem ganhando espaço no gosto da população. As edições ocorrem todo domingo pela manhã. Os produtos variam de brinquedos manufaturados em madeira até bonecos de biscuit, passando pelo tradicional crochê. E lembra que falamos do pastel? O espaço conta com uma praça de alimentação com todos os pratos que você costuma ver em uma feira regular: pastéis, café, sanduíches, espetinhos e caldo de cana. Cleide Maciel é presidente da Governança da Feira do Teatro, um movimento criado pelos feirantes para representá-los junto ao poder público. Cleide explica que a organização do evento é atribuída a uma força conjunta: “Há uma junção de esforços intersetoriais, envolvendo as secretarias municipais de esporte e cultura, assistência social, comunicação, meio ambiente e desenvolvimento econômico”. A pandemia e a dificuldade do artesão Com a chegada da pandemia da COVID-19, a situação dos feirantes complicou-se. Fechada desde março de 2020, com breves momentos de

volta, apenas em abril de 2021, a feira voltou ao funcionamento regular. Com isso, você pode se perguntar como os feirantes conseguiram manter sua renda nesse período. A maioria dos feirantes possuem outros empregos durante a semana e acabam vendo na feira a possibilidade de uma renda extra. Um feirante, que preferiu não se identificar, aponta a vontade de abandonar a função e dedicar-se exclusivamente à sua renda principal: “Já era fraco antes, mas depois da pandemia piorou. As pessoas vêm pela comida e acabam não comprando artesanato. No último mês, houveram vários dias que saí daqui sem vender nada o domingo todo” conta. Por receio de se indispor com a organização, outro feirante, que não se identificou, fala que as entradas financeiras estão concentradas na praça de alimentação: “A grana tá lá, os food trucks que movimentam o pessoal, ele vêm para comer e as barracas que ficam mais perto da praça vendem mais” pontua. Sobre isso, Cleide Maciel afirma que não existe distinção entre os feirantes: “Todos estão submetidos ao Decreto Nº 14.020 de 02 de fevereiro de 2018, o qual dispõe sobre a criação da Feira do Teatro e regulamenta as atividades para sua realização”, explica. Fora o modelo de espaço de trabalho e a possibilidade de vender alimentos industrializados fabricados por terceiros para consumo no local, o decreto não muda as obrigações e direitos dos feirantes com relação a quem está nas barracas ou nos food trucks.

Enviamos para a prefeitura de Cascavel um pedido de informação sobre as taxas de evasão dos feirantes, público e rendimento da feira. Até o fechamento desta edição, não obtivemos resposta. Já a presidente da Governança acredita que a causa do baixo rendimento seja simplesmente efeito da pandemia: “Como Governança e principalmente como cidadãos, entendemos que todos estamos passando por um período de dificuldades financeiras, agravadas pela pandemia. Essas dificuldades já estavam presentes anteriormente, porém de uma forma mais branda. Por diversas ocasiões fomos obrigados a interromper nossas atividades por conta do perigo de contaminação pela COVID-19. E ainda não estamos livres. Acreditamos que a insatisfação não esteja restrita somente à Feira do Teatro. Está presente e perceptível em todos os setores comerciais, de forma global”, argumenta Cleide. O artesanato, assim como as reclamações, são muito parecidos e várias barracas se destinam à venda de produtos parecidos como o crochê, por exemplo. É difícil apontar um culpado para a falta de renda desses feirantes, dados sobre os investimentos na feira poderiam ajudar. Contudo, uma coisa é certa, embora esse organismo social que é a feira tenha falhas, ele ainda é fonte de renda e cultura para muitas pessoas e é importante que nós, cascavelenses, criemos o mesmo desejo pelo artesanato que temos pelo pastel com caldo de cana.

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A CULTURA É ARROZ E FEIJÃO NO MST Canções e manutenção da cultura perpetuam o movimento nas novas gerações

POR GABRIELLE LIRA "Arroz deu cacho e o feijão floriô” trecho da canção de Zé Pinto que leva por meio da harmonia do som a representatividade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A organização foi consolidada na cidade do Velho Oeste, a tão falada Cascavel, em janeiro de 1984 a partir de uma decisão tomada por vários movimentos regionais. De acordo com Daniel Rodrigues, responsável pelo Setor de Cultura do movimento de Cascavel, “por ser uma região com uma contradição enorme, deu-se a necessidade de consolidação de uma bandeira de luta, que daria sentido e unidade ao movimento”, salientou. Esse assunto muitas vezes acaba parando nas “más línguas, que sem entender como surgiu MST fazem falácias que sujam a imagem da unidade. Mas para aqueles que têm dúvidas, o assentamento rural representa o local ocupado e tomado (para moradia e trabalho) por pessoas que lutam pela reforma agrária. O objetivo do assentamento é

gerar condições de sobrevivência (por meio da agricultura) para as famílias. Sem Terrinha Os Sem Terrinha, um movimento dentro do movimento, voltado para crianças e adolescentes manifestaram-se na luta pela reforma agrária e direitos sociais como escola e educação. As crianças já integram o movimento e não há dúvidas de que têm sua própria voz se pedir o que carregam com eles a resposta será:“a vitória e nada mais”. Se ousa dizer que o movimento não terá sucesso, eles irão dizer na lata que:“a moda já pegou“, como na música “Vamos Sem Terrinha”. Para Rodrigues, a escola dos assentamentos e acampamentos são os principais locais para as crianças brincarem, confraternizarem e aprenderem mais sobre o movimento. “Educar para que a cabeça pense onde os pés pisam”,explica o diretor em entrevista, aseado na educação libertadora do filósofo Paulo Freire, visto que é importante que as crianças se identifiquem como pessoas que lutam pela terra, que são descendentes de camponeses.

“Porque a luta não para quando se conquista o chão”, mais um trecho da canção Floriô, que se encaixa na essência dos trabalhadores rurais. Dessa forma, o diretor destaca que “para isso acontecer a educação deve ser voltada à comunidade a qual pertencem, porque a disputa com o agronegócio pela hegemonia dos territórios é intensa. Visto que muitas vezes os jovens vão a cidade e aprendem outra cultura que não é a realidade deles, a realidade deles é a comunidade onde vivem com a família”.

Portanto, para os membros do MST as escolas têm papel fundamental na cultura, visto que sem elas seria difícil manter os membros. A cultura do movimento consiste na essência camponesa de produzir alimentos saudáveis, para buscar uma sociedade melhor e tornar as pessoas mais humanas com a agroecologia e preservação da natureza e meio ambiente, além da agricultura familiar. Além disso, qualquer pessoa pode entrar no movimento, “Pra poder fazer roçado e o Brasil se alimentar”, como canta Zé Pinto.

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UM GUARDADOR DE HISTÓRIAS POR MILENA GRIZZ Há 35 anos, o Sebo do Paulinho guarda as melhores histórias da cidade Se olhar no dicionário, o verbete gosto de Machado de Assis até “cultura” tem vários significados. José Mauro de Vasconcelos”, Expressar hábitos, costumes avisa. e características de um grupo pode ser o que mais define essa Ele mesmo se define como palavra. Todos esses significados alguém que valoriza muito podem ser guardados em coisas antigas, um saudosista. um livro, paradoxalmente, os “Gosto de ler - lógico. Não formação técnica livros guardam, também, as tenho culturas de diferentes povos. nenhuma, sou curioso, gosto Esse texto conta a história de de ler, simplesmente. Eu um guardador de livros que gostaria de ter a felicidade de guardam culturas. Porque ter lido um terço desses livros. literatura é isso: uma expressão Já estaria realizado. Mas eu sou um eterno leitor para da cultura do seu escritor. passar o tempo, na verdade”, Como pode um lugar tão apresenta-se. pequeno, tão escondido em uma viela no centro de Cascavel, Há 35 anos no mesmo lugar, guardar tantas histórias e na rua Jarlindo João Grando, universos? “A literatura é entre a Rua Duque de Caxias incrível”. É o que diz o dono de e a Avenida Carlos Gomes, uma sebos mais antigos desta Paulinho conta que, em cidade, o Sebo do Paulinho. tempos de lojas virtuais, não é “Literatura é um infinito, é um fácil manter um espaço físico. universo à parte” completa o Ele, inclusive, vende de forma dono deste lugar que vende on-line. universos. O vendedor começou com Lá tem quase todo tipo de uma lojinha que vendia de histórias, as paredes são tudo: bijuteria, cartões de abarrotadas de livros e discos. natal, lembrancinhas e gibis. Seu Paulinho apenas não Quando resolveu ter um sebo, trabalha com livros didáticos, primeiro vieram os livros, de direito e de informática, mas depois os discos e LPs. Há ainda há espaço para livros também moedas variadas em inglês, italiano, espanhol, e cachimbos para quem e francês, mesmo que tenha procurar. Os discos e LPs quase menos procura, o objetivo superam as vendas dos livros. é agradar todos os tipos de Embora não tenha umnúmero leitores. Segundo o proprietário, exato, as gravações em vinil o que predomina mesmo é a são muito procuradas por Literatura Brasileira, que é a colecionadores. Para Paulinho, favorita. “Ela é muito rica. Eu é quase um negócio à parte.

Além deles, ele também vende muitos CDs, que chegam de forma espontânea.“São um material barato no mercado, que as pessoas estão se desfazendo” conta Paulinho, incrédulo. Cercado de coisas usadas e velhas, o vendedor tem esses ítens como companheiros. Todo livro que chega até o sebo se torna um livro usado, mesmo que eles ainda esteja no plástico ou não tenha sido lido por ninguém. “Eu passo mais tempo aqui com eles do que na minha casa, então é um conforto espiritual. Sou um guardador de livros esperando os leitores”, determina.

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DANÇA, ESTILO E TALENTO DE SOBRA: É O HIP-HOP EM CASCAVEL!

Movimentos firmes, rápidos e sincronizados.É nas batidas do Hip Hop que jovens cascavelenses se expressam

POR ANDRÉ ALMEIDA,

dá aulas de Hip Hop no Teatro Municipal Sefrin Filho, de segunda à quinta-feira.

GABRIEL PORTA E KATIANE FERMINO

A cultura, a paixão e a admiração através de uma aula

IZENI TEODORO,

A arte do povo, das ruas, ou melhor: uma cultura de rua, que inspira e é capaz de formar caráter. O Hip Hop é atitude! A cultura de origem estadunidense está em todo lugar. Repare no Centro de Cascavel, com certeza você irá encontrar alguma parede grafitada ou alguém cheio de estilo trajando roupas largas. O que Everton Santos Xavier, Lucas Kovaleski e Fabiano “B-Boy Neguin" possuem em comum? Os três estão interligados pelo Hip Hop. Um é professor, o outro aluno, e o último é reconhecido internacionalmente, respectivamente. Mesmo em uma época difícil - de pandemia - momento onde a tecnologia prevalece com crianças, adolescentes e jovens. Os três seguem resilientes e não trocam o “flow” por nada. Um dos responsáveis por levar a cultura do Hip Hop e incentivar a prática entre os jovens da cidade é Everton Soares Xavier, mais conhecido como “Torto”. Everton

Depois de subir às escadas, cansado, eu encontrei a sala de danças onde são realizados os treinamentos. Fui muito bem recebido por todos. Cheguei em um momento de descontração do Everton e de um rapaz - de quem não lembro o nome. A pauta da “zoeira” era uma tatuagem que o jovem tinha feito. Um ambiente totalmente leve, que me fez ficar à vontade.

Lucas é um dos poucos sobreviventes do mundo tecnológico. Com o crescimento dos jogos online e das redes sociais, houve um empobrecimento na cultura do hip hop, afirma Everton. “Hoje, existem aulas de hip hop, balé e outras danças. Em todos os bairros de Cascavel, isso é oferecido de graça”.

Na cidade de Cascavel vemos muitos jovens que fazem sucesso no hip hop. Em uma conversa com o aluno Lucas Kovaleski, nós podemos observar que o futuro deste gênero está nas mãos dos nossos jovens de Cascavel. Lucas tem 17 anos e dança desde os 14. Ele fala um pouco sobre como Ao som de 50 Cent - Just a Lil Bit, iniciou toda essa paixão pelo hip acompanhei uma demonstração hop. de aula com Everton e um de seus alunos. O energético professor Me motivei a começar vendo sempre dita o ritmo das danças e pessoas na internet dançando incentiva as “minas” e os “manos”. e queria aquilo também. Não houve alguém em específico que Tirando fotos e “proseando” com me incentivou. Hoje, o hip hop Everton, logo, me impressionei com significa para mim a superação, de os passos de um menino. Perguntei provar para mim mesmo o quanto o nome do rapaz ao professor. sou capaz de ir além, através de “Esse é o nosso Tarzan” - fazendo esforço e prática” referência ao cabelo grande de Lucas Kovaleski, de 17 anos.

O aluno demonstra um carinho imenso pela dança e podemos

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dizer que será através disso e demais alunos praticando, que esse ritmo nunca perderá sua essência e espaço nos palcos da cidade.

gosta mais de jogos, de eletrônicos e a galera tá mais ligada nessa parte do que sair de casa e praticar uns exercícios” completa Everton.

Perguntamos ao dançarino qual era sua opinião sobre o ritmo breaking - que estreará nos Jogos Olímpicos de Paris2024, como modalidade olímpica, se isso pode dar uma visibilidade maior à cultura do hip hop. “Certamente, muitas pessoas irão conhecer e vai trazer mais respeito à modalidade, para deixar de ser vista como algo “de rua”, mas como um esporte”.

Em um passado não tão distante, a popularidade dos eventos culturais de hip hop em Cascavel era notória. Artistas de fora se apresentavam aqui e os eventos culturais tinham uma proporção enorme, afirma Everton. “Antigamente, tinha evento de batalha quase todo mês e tinha muita gente dançando. Para ter uma noção do tamanho, no último evento de dança, em 2019, havia grupos de Santa Catarina, São Paulo, Curitiba, que vinham competir aqui. Eu lembro que tinha um lugar aqui em Cascavel, chamava-se Casa da Cultura, ali no Morumbi, sexta e sábado era lotado de dançarinos e, todo mês, a gente fazia evento valendo dinheiro. Sempre tinha premiação. Hoje isso é raro. Acredito que a galera desanimou e o público diminuiu”, conta o professor.

Inspiração não falta, como ele mesmo citou que foi através da internet que se sentiu instigado para se aprofundar na dança e ainda cita alguns nomes bem conhecidos da cultura hip hop, como por exemplo, B-boy Luka, que é em quem este Lucas (Kovaleski) se espelha para alcançar seus objetivos. O cenário cultural da cidade Espalhados pela cidade, existem os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CCI (Centro de Convivência Intergeracional), uma praça CEU (Centro De Artes E Esportes Unificado), o Centro da Juventude e ainda há o Teatro Municipal Sefrin Filho, no centro da cidade. São várias opções para a população. “Por mais que sejam oferecidas danças e oficinas de todas as áreas da arte, a galera não se interessa, mas acredito que isso decaiu muito por conta das novas tecnologias. Hoje, o jovem

Everton Soares Xavier, professor de Hip Hop.

Os eventos, festivais e batalhas que transformam gerações Existem dois tipos de eventos em Cascavel: o particular e o público. O privado é realizado por algum grupo de dança regional, eles chamam um dançarino de renome para ser jurado e fazem o convite para os participantes. Nesse modelo de evento o que mais acontece são as batalhas de dança. A entrada é cobrada, tanto para assistir quanto para batalhar. Na cidade, esse tipo de evento costuma ter 60 a 90 pessoas, no máximo. O evento público, quem organiza é a Secretaria da Cultura e Esporte, com entrada franca, porém não há espaço só para o hip hop, mas para outros ritmos como, balé clássico, jazz, dança de salão e outras categorias. Tem duração média de uma semana, com destaque para os workshops, que contam com aulas dos jurados-convidados. No palco, a grande competição acontece, entre categorias, idades e escolas de dança. O público é variado, com cerca de 400 a 700 pessoas se apresentando. Escolas da região participam e pessoas renomadas estão ali para avaliar e premiar.

orgulho, ele se recorda de B-Boy Neguin e fala de outras grandes estrelas do cenário do hip hop de Cascavel. “Temos o B-Boy Neguin já foi campeão mundial em 2010 e está aqui direto. Ele é da cidade, já foi jurado no Festival de Dança de Cascavel e é uma grande referência do hip hop no mundo. Tem o Eliseu Correia, outro cara de renome, já fez alguns workshops aqui, deu aula na Alemanha, Itália, França. Ele está direto aqui, porque a família dele mora aqui. Teve uma bailarina do Faustão que já foi jurada em um festival de dança, Barbara Perbone. Tem outra cara que é de Cascavel e ele é muito foda, dá aula aqui e ainda, ganhou prêmios fora do Brasil, e está começando a ser reconhecido no Brasil inteiro; é o Wellington Santos, o “Tonton” e a Mayara Muller - que é esposa dele - Os dois, acredito que são os nomes mais fortes da cena do Hip Hop em Cascavel, me arrisco a dizer do Paraná, e no Brasil estão começando a ganhar notoriedade, eles tem um grupo de dança chamado Cascavel Dancers”. Recentemente o breaking - estilo de dança que, recentemente, foi integrado ao calendário olímpico. Everton vê com bons olhos, mas espera que todos recebam as mesmas oportunidades. “Acredito que tem o lado positivo e negativo. O positivo é a visibilidade, oportunidade para treinar, competir e disputar Jogos Olímpicos. Isso é fantástico. O problema é que muita gente da periferia não vai conseguir acessar esses espaços. Os poucos que vão são uma galera de estrutura financeira boa, Espero que as coisas aconteçam no Brasil do jeito que tem que ser, com oportunidades para todos!” re

Apesar de já ter tido “dias melhores”, Everton conta que muitos dançarinos de renome já estiveram aqui, ora sendo jurados, ora dando palestras ou se apresentando, aliás, com muito

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Registros em movimento.

Dos palcos de Cascavel ao mundo: Conheça o astro do break dance Pouco se comenta, mas Cascavel o interesse e comecei a praticar a é a terra de grandes talentos do cultura hip hop. Eu pratiquei todos hip hop, que figuram no cenário os elementos do gênero, mas o que mundial. Um deles, o mais eu mais me destaquei foi o breaking, conhecido: Fabiano Carvalho Lopes, devido a eu ter toda essa filosofia e conhecido como B-Boy Neguin. Foi conhecimento da capoeira”. nos festivais de dança da cidade, aos 13 anos, que aquele menino Desde a infância foi um menino da zona leste, todo “serelepe” voltado a aprender coisas novas mandou seus primeiros “breaks” que o inspiravam artisticamente. esbanjando todo o talento ao “Foram tempos difíceis devido ao nosso país não fornecer apoio. Eu público. vim de uma família super humilde, B-Boy Neguin, tem 33 anos e, que sempre apoiou a minha arte, financeiramente sempre desde os três, praticava capoeira, mas houve um obstáculo de viajar, ir mas foi aos 13 anos que o hip hop para outros estados para poder surgiu em sua vida, é o que ele conta em entrevista cedida ao competir, mas foi uma infância portal Breaking World. “Minha muito saudável, curti muito e ainda história começa em Cascavel, no curto. Hoje, estou com 33 anos, mas Paraná, eu comecei na capoeira eu ainda me sinto aquele moleque aos três anos de idade. E, depois de 13” relata o dançarino. de 10 anos praticando capoeira, me interessei em aprender uma cultura diferente, então, despertou

pequena para seu talento. Logo, ele se mudou para São Paulo, mas foi nos Estados Unidos que encontrou sua devida valorização. “Atualmente, eu moro em Nova Iorque, essa cidade sempre foi a minha base. Eu também, morei na Califórnia por um tempo. É um local onde as oportunidades estão aqui para tentar!”

Assim, Fabiano desenvolveu suas habilidades, mas Cascavel ficou

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Aroldo não, Harold!

A história do precursor do teatro moderno nos palcos cascavelenses

POR LARISSA CORREIA., Sete décadas, cinco delas dedicadas ao teatro e uma vida inteira dedicada à arte. Se não fosse assim, não saberia outra forma de existir. Nascido em União da Vitória, no sudeste do Paraná, Aroldo Félix Brizola Torres, teve destino diferente dos irmãos que moravam no interior. Foi criado em São Paulo, uma oportunidade e tanto para quem nasceu artista. Sua primeira paixão foi a música. Aos 3 anos de idade já tinha sua bela voz ouvida pela comunidade União-Vitoriense, através das ondas da Rádio União, mas não por muito tempo. Aos cinco anos, partiu com seus maiores entusiastas (sua mãe e seu padrasto), rumo a um dos grandes pólos culturais do país: São Paulo. Ali, no distrito de Belenzinho, fascinado ao assistir sua madrinha atuando nos palcos, se apaixonou de novo e, desde então, decidiu estudar e se dedicar ao teatro. Fez cursos com artistas renomados como: Claudio Corrêa e Castro, Mirian Muniz, Emílio Fontana, entre outros grandes nomes da dramaturgia brasileira. Após anos de trabalho e um incidente em São Paulo que o fez querer dar uma pausa na carreira e mudar de cenário, decidiu visitar o irmão que morava no oeste do Paraná. Então, desembarcou em Cascavel, no ano de 1976.

Mal sabia ele que teria ainda mais trabalho o aguardando por aqui. Encontrou no cenário da época o “Tio Zico” (na certidão de nascimento Arthur Valença). Um artista que “mambembava” nos palcos cascavelenses com espetáculos de influência circense. Aroldo -agora, rebatizado de Harold Torres, trouxe então o teatro moderno e junto a Marlene Querubim, outra entusiasta do teatro e Abel Moreschi (que trabalhava com o Tio Zico), formaram o GETEC (Grupo de Teatro de Cascavel). Determinados a encontrar outros talentos escondidos pela cidade, produziram a peça “Dividido em Dois”, que, ironicamente, juntava duas peças: “Uma consulta de Arthur Azevedo” de Marlene Querubim e Abel Moreschi e “O Desespero” autoria de João Ginko, retratando o fatídico incêndio de Dráuzio e Joelma, dois edifícios de São Paulo, um dos motivos que o trouxe a terras paranaenses e fora também a última peça estrelada por Harold em São Paulo. Como ainda não existia teatro por aqui, se apresentaram em um pequeno espaço de eventos do Colégio Wilson Joffre. Aroldo/Harold, adotado por Cascavel, recebeu o título de cidadão cascavelense. Iniciava então sua jornada, junto a Marlene e Abel, para desenvolver o trabalho teatral na cultura local com apoio do poder público. Buscando despertar maior interesse da população, trouxeram uma peça do circuito nacional, estrelada por Glória Menezes e Tarcísio Meira, o espetáculo “Tudo Bem Ano Que Vem”, apresentada

no extinto Cine Avenida. A partir daí, com apoio do comércio e da prefeitura, realizaram no Ginásio de Esportes Ciro Nardi, o primeiro Seminário de Teatro de Cascavel. Mesmo sem muita divulgação, contaram com 35 artistas. Deste grupo, alguns foram selecionados para desenvolver no GETEC o teatro infantil que ainda não existia, outros formaram novos grupos para continuar atuando. Enquanto um centro cultural não era construído, conquistaram um mini auditório na antiga Fecivel (atual Unioeste – Universidade Estadual do Paraná). Como ainda havia pouco interesse do público local, foram participar dos festivais de Londrina e Maringá, além de realizar algumas apresentações nas igrejas em alguns bairros de Cascavel. Torres recebeu um convite para participar do Festival de Teatro de Lages, no Colégio Diocesano, organizado pelo Frei Ghunter. Um festival feito pelas escolas municipais de Lages que já estava em sua 25° edição, tamanho era o sucesso. Ele gostou tanto do que viu por lá que decidiu criar aqui o Festival de Teatro Estudantil. Convidou as escolas, que poderiam escolher qual texto gostariam de produzir, a direção deveria ser feita por um dos professores e todos receberiam três dias de orientação. Para valorizar e fortalecer ainda mais o movimento convidou a atriz Sura Berditchevsky, que estava em evidência com a novela global “Marrom Glacê”. Ela passou três dias assistindo as apresentações dos grupos locais. Os artistas começaram então a preparação para o festival, nascia assim o FETAC (Festival Estudantil de Teatro Amador de Cascavel). Este foi o embrião de muitos projetos dos quais Torres foi o precursor, e que originaram o Festival de Teatro de Cascavel. A arte e a cultura muito têm muito a agradecer ao filho adotado, que nos adotou e não mediu esforços na construção de tantos espetáculos. Mesmo em meio a tantos desafios, seu legado permanece sendo construído. Aos 72 anos, Harold continua vivendo seu grande amor longe dos holofotes. E quem quiser ver com os próprios olhos antes que se fechem as cortinas, basta ir ao Teatro Municipal de Cascavel, onde está em cartaz a peça “Na Casa da Sogra”, sob sua direção todas as quinta-feiras às 20h.

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TEM DEDO DELE AÍ! POR CAROL PAGUNG “Se faço uma peça sem dedo não consigo vender de jeito nenhum, porque ninguém quer”, relata o escultor Dirceu Rosa Do dedão de Cascavel até a Nossa Senhora Aparecida em frente à Catedral no centro da cidade. Tudo “tem dedo dele”, literalmente. Estamos falando do renomado artista e escultor Cascavelense, Dirceu Rosa. Apaixonado por arte desde a infância, ele começou a se dedicar mais à área aos 15 anos, quando uma professora de artes pediu para que fizessem um desenho livre com tinta guache, que fez se destacar dos demais alunos da turma. Sempre empenhado e esforçado, começou a fazer as capas dos trabalhos que eram entregues pelos alunos do magistério, naquela época conhecidos como normalistas. A partir daí, fez disso uma profissão e ganhou os primeiros trocados. Algum tempo depois, abriu uma oficina de letreiros onde fazia placas e as famosas (hoje, quase extintas) chamadas de parachoque de caminhão. Além disso, em Cianorte, cidade onde morava na época, existiam dois cinemas e Dirceu começou a pintar os cartazes para os filmes. “Não ganhava muito dinheiro, mas me deu muita prática, pois a cada semana era uma pintura diferente”, relembra. Escultura ou pintura Dirceu conta que, durante uma feira em Maringá onde estavam expostos vários trabalhos, as obras de um escultor lhe chamaram a atenção. “A madeira sempre fez parte da minha família, meu pai era

carpinteiro então eu sempre tive contato com o martelo, o serrote e tudo mais”, relata Dirceu. Depois daquele dia, quando chegou em casa pensou em fazer um experimento e começou a fazer algumas esculturas e entalhes que depois figuraram em suas exposições. O escultor lembra que a primeira obra nesse estilo foi um jangadeiro, que ficava no lago em frente a casa onde morava com os pais. “Mas, com o tempo, descobri que meu negócio eram as formas e não as cores”, conta. Paixão pelo que faz Quando perguntado sobre gostar do que faz, Dirceu Rosa faz questão de ressaltar: “Se você faz aquilo que gosta, a sua vida se torna mais fácil, você progride mais”, afirma. Ele conta que sempre teve apoio não só da família, mas também de professores, autoridades e até locutores de rádio, que buscavam oportunidades para que Dirceu expusesse os trabalhos por todo Brasil. Em 1974, Dirceu veio a Cascavel para participar de uma exposição. O evento foi um sucesso e, vislumbrando o celeiro de oportunidades na cidade, resolveu ficar por aqui. No ano seguinte, quando saiu de Cianorte com destino à Cascavel, já estava decidido “Queria morar na avenida ou na BR”, conta ele, que acabou descobrindo o lote perfeito para sediar seus sonhos.

Hoje, Dirceu tem orgulho de mostrar o começo de tudo. Nem dá para acreditar que uma casa no meio de uma pastagem, com estradas de chão e longe de tudo. E agora, está praticamente no Centro de Cascavel. Ele lembra que antes tinha que ir ao centro fazer compras e hoje ele está no Centro da cidade. Juntas a área externa e interna da casa onde mora contam com mais de 170 esculturas à disposição de turistas, visitantes e estudantes e da população em geral. “Consegui aproveitar as oportunidades que a vida me deu. O ‘cavalo’ passou e eu montei’”, destaca o escultor sobre o nome e o patrimônio que conquistou. Sem dúvida alguma, quando perguntado sobre uma de suas obras mais admiradas ou ainda a que mais lhe representa, Dirceu não hesita em dizer que é a Nossa Senhora. Foram cinco meses de trabalho com quatro ajudantes. “Uma obra que me realizou em todos os sentidos”, relata. O maior desafio nessa área, segundo o escultor, é manterse na arte. Agradar ao cliente, fazer aquilo que é bonito. Não quer dizer que toda arte deve ser bonita, mas de acordo com Dirceu “Você precisa fazer obras das quais as pessoas gostem e comprem”. E a arte sacra foi um caminho que ele encontrou para se manter. Dirceu sempre teve a opinião formada sobre expor no exterior e é firme ao dizer “você tem que ser

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bom e tentar ser o melhor onde você vive!”. Ele conta que fazer uma exposição é um processo trabalhoso mas, quando faz, sempre traz novidades. “Tenho propósito de que, quem sair de casa para ver minha exposição, vai se sentir gratificado”, ressalta. Rosa tem orgulho em dizer que todas as exposições feitas até hoje foram o maior sucesso. Ao todo, foram cerca de 3 mil obras feitas e Dirceu sempre faz questão de registrar tudo em fotos e álbuns grandes para guardar e mostrar como parte de seu acervo. Dirceu Rosa nunca estudou arte, “Sempre digo que Nossa Senhora mas sempre viajou muito e em Cascavel é o local mais visitou diversas exposições para fotografado, mas o Dedão é o buscar inspiração. Ele conta que é mais comentado. Alguns gostam, algo como escrever uma música: outros criticam, mas sempre envolve situações, momentos e alguém fala sobre ele”, relata o acontecimentos. Às vezes com escultor. um esboço, mas geralmente vai direto pra madeira e começa a O que significa? Um por todos esculpir. e todos por um. Os dedinhos simbolizam a população Tá, mas e o dedo? cascavelense que, juntos, trabalham para formar o todo: o Essa pergunta não poderia faltar, Dedão, que representa Cascavel. não é? O escultor conta que na época em que fazia os cartazes Parar? Nem pensar! no cinema não gostava de fazer as mãos, por isso procurava Atualmente Dirceu não fabrica esconder ou nem fazê-las. Mas mais nada por encomenda. com o tempo este conceito foi “Chega um ponto que a gente diz tomando outras formas. “Eu ‘chega, agora vou fazer aquilo acabei descobrindo que elas não que eu crio, não o que os outros precisavam ser bem feitinhas me pedem’” e ainda completa para terem valor”, relata. E aí “Não adianta dizer, ‘eu tenho o elas começaram a aparecer mais dom!’ As coisas não caem do céu, e mais até que virou a marca registrada.

você precisa se aperfeiçoar sempre”. Dirceu conta que sempre está na ativa “Se tem encomenda ou não eu trabalho do mesmo jeito pois sei que tudo que eu puser a mão um dia vai ter valor”, destaca. E falando nisso, os cascavelenses podem se preparar para mais um incrível trabalho na cidade, que promete se tornar o novo ponto turístico do município. O que, como e quando? Não posso contar! Mas já adianto que serão 12 esculturas para encher os olhos de quem passar pelo local.

“Hoje, se faço uma peça sem dedo não consigo vender de jeito nenhum, porque ninguém quer”. Por isso, a mensagem de todas as obras é passada através das mãos e dos dedos. “Não é o rosto ou a expressão corporal e sim as mãos e os dedos”, destaca Dirceu. Ah e sobre o Dedão? Vamos lá... Em 1997, Dirceu fez uma exposição que tinha o Dedão como uma das obras, mas, não tinha lugar para colocar tudo depois que terminasse o evento. Entrou em contato com as secretarias da época e resolveu colocar naquele local estratégico já previamente calculado: o calçadão da Avenida Brasil.

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SE EXPRESSAR E SER ACEITO

O desafio diário de uma Drag Queen em Cascavel. Como Black Mamba, Luan é muitas vezes mais Luan

POR JOÃO VITOR MAROCHI É por meio de roupas estonteantes, esculpidas pelas próprias mãos, e maquiagens perfeitas que Black Mamba ganha vida. O nome é inspirado na cobra característica da África Subsaariana e, segundo o próprio, representa muito a personalidade de Luan: “Ela só ataca quando é atacada”. Apesar de poder ser chamada por um pseudônimo, Black Mamba é a expressão mais genuína de Luan. É por meio da arte drag que ele resgata sua ancestralidade moçambicana e expressa toda a plenitude de seu ser. Entretanto nunca foi simples ser quem ele realmente queria ser. Quando entrou em contato com a cultura de Drag Queen, Luan encontrou muitas dificuldades na hora de se montar. As roupas eram caríssimas e as maquiagens existentes no mercado não eram adequadas. “Maquiagem não foi feita para a pele negra. Para conseguir produtos que funcionassem na minha pele eu sempre precisei gastar muito dinheiro” Apesar de tudo, a vontade de se expressar era muito mais forte e de algum jeito ou de outro ele

encontrava maneiras de reviver Black Mamba sempre que podia. Um problema existente na cidade de Cascavel sempre o preocupou na hora de se expressar: o conservadorismo. Com uma forte influência de valores tradicionais, os cidadãos cascavelenses não pareciam tão receptivos para a cultura da qual Luan faz parte: “Nós frequentamos apenas lugares que abrem as portas para a cultura drag”explica Lucan. “Nós temos esperança de que nos acolham em outros ambientes, porque nós sempre tentamos ocupar espaços e muitas vezes somos barrados” completa.

Apesar do uso das redes sociais ter acarretado em um desenvolvimento profissional e ter contribuído para uma boa visibilidade, a esperança de Luan é que o futuro reserve mais oportunidades e mais apoio para as drag queens de Cascavel: “Sempre foi muito difícil. Sempre fomos nós da comunidade drag que corremos atrás da Prefeitura, por exemplo. Pensando no futuro, a gente não tem certeza de nada. Só continua na luta e com esperança que as coisas melhorem”

O pouco espaço que havia, foi ainda mais reduzido na pandemia, além de deixar muitas drags, que já não recebiam por suas apresentações e recebiam por seu trabalho como DJs, sem uma renda. Nessa situação pandêmica, Luan aderiu completamente às mídias sociais. Em isolamento, incrementou as habilidades de confecção de roupas e da criação de maquiagens. Os resultados podem ser vistos no Instagram próprio da Black Mamba, que conta com um acervo de imagens de seus trabalhos e mais de 3 mil seguidores.

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NINGUÉM "ASSISTIU" A CINEMATECA POR MARIANA LUZAN

No dia 29 de julho de 2021, um dos galpões da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, pegou fogo. Nesse incêndio, obras do cineasta Glauber Rocha, parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, com cópias de filmes brasileiros e estrangeiros, parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade, equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial, entre outros arquivos de vídeo e equipamentos, foram reduzidos a fragmentos chamuscados. Um país que deixa sua cultura ser consumida pelo fogo está transformando sua identidade em meras cinzas.

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